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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DO PEDAGOGO NO PROCESSO DE
INLCUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE
TRABALHO
Por: Veronica Narciso Legentil
Orientador
Prof. Marcelo Saldanha
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DO PEDAGOGO NO PROCESSO DE
INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE
TRABALHO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Pedagogia Empresarial
Por: Veronica Narciso Legentil
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, a minha mãe, minha família,
meus amigos, a instituição Andef.
4
DEDICATÓRIA
A minha mãe pela educação que me deu,
pela forma como me criou.
5
RESUMO
Esta pesquisa acadêmica traz uma reflexão sobre o profissional de pedagogia
atuando em um ambiente empresarial como mediador no processo de inclusão da pessoa
com deficiência no mercado de trabalho. O atual estudo busca compreender como pode
o pedagogo, através de seus conhecimentos e atuação, intervir neste processo de
inclusão.
O trabalho aqui apresentado contém informações necessárias sobre a pessoa com
deficiência, sua trajetória através dos tempos, a legislação brasileira que ampara esta
parcela da população desmistificando rótulos e preconceitos atribuídos a estes, bem
como, percebe, ser o pedagogo, o profissional capacitado, de olhar sensível, que tem na
educação o seu objeto de atuação, e maneira eficaz de humanizar uma sociedade,
trazendo reflexões fundamentadas em valores humanos e morais essenciais para a uma
sociedade inclusiva, tendo a percepção da influência do meio social sobre o
desenvolvimento dos indivíduos, destacando o respeito pelo outro, e suas
individualidades.
Palavras-chave: inclusão, pedagogia, mercado de trabalho, educação, pessoa com deficiência
.
6
METODOLOGIA
Foi utilizado o método da pesquisa indireta acessando leis, decretos, portarias e
outros documentos que tratam dos direitos da pessoa com deficiência, porque se faz
necessário conhecer o papel do Estado com relação à pessoa com deficiência na
sociedade. Buscando conhecer características da população com deficiência, e
compreender as razões de sua exclusão do mercado de trabalho. Entender o papel do
pedagogo nas empresas e sugerir qual pode e deve ser a sua contribuição para a inclusão
desta parcela da população no mercado de trabalho. Consultando autores que defendem
a atuação da pedagogia para além do espaço escolar, compreendendo que o papel do
pedagogo é, acima de qualquer outro, o de humanizar a sociedade, estudando
causas/consequências e buscando soluções para determinados conflitos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
CAPÍTULO I - A Pessoa com Deficiência através da História 12
CAPÍTULO II - A Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho 28
CAPÍTULO III – O Papel do Pedagogo das Empresas no Processo de Inclusão
da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho 43
CONCLUSÃO 56
ANEXOS 58
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 67
ÍNDICE 70
FOLHA DE AVALIAÇÃO 71
8
INTRODUÇÃO
O presente estudo justifica-se pela necessidade de explicitar a
importância do pedagogo, tendo em vista suas competências e conhecimentos
para a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, por ser
este profissional capacitado a lidar com diferentes conflitos e com os
interesses diversos que norteiam as relações interpessoais.
Este estudo é importante, pois pretende mostrar que o trabalho do
pedagogo vai além do espaço escolar, que seus saberes podem auxiliar as
empresas no processo de inclusão. Seu papel é o de identificar e minimizar os
motivos que constituem obstáculos para a inclusão
Pensar neste trabalho do pedagogo significa levar ao conhecimento da
sociedade, a importância de oferecer oportunidades às pessoas com
deficiências para que mostrem sua capacidade e seu potencial de trabalho,
como qualquer outra pessoa, tendo respeitadas suas limitações.
A falta de sensibilidade nas relações humanas e o desconhecimento
das qualidades e dos direitos da pessoa com deficiência podem interferir
diretamente em seu processo de inclusão no mercado de trabalho.
Neste momento em que muito se fala sobre a inclusão social, torna-se
imperiosa a atuação efetiva do pedagogo para que a sociedade possa evoluir
de um modelo individualista para um modelo coletivo onde o diferente seja
respeitado.
A preocupação com o tema “Inclusão no mercado de trabalho da
pessoa com deficiência” é recente e necessária. A preocupação é recente,
apesar de ser longa a trajetória de exclusão percorrida pela humanidade. A
preocupação é necessária porque, independentemente de sua condição física,
de sua condição social, de sua cor, de sua raça, de seu credo, todos os seres
humanos têm direito ao trabalho, todos têm direito a pertencer à sociedade.
São impactantes as implicações da exclusão social na vida das pessoas
com deficiência. Até mesmo na educação evidencia-se tal situação. É
9
essencial que a prática pedagógica seja feita com qualidade, eficiência e
comprometimento. É fundamental que o exercício da pedagogia seja realizado,
em qualquer ambiente, de forma a auxiliar na minimização das dificuldades
decorrentes no processo de inclusão.
Faz-se necessário promover uma reestruturação no processo de
contratação das pessoas com deficiências, na valorização de suas
qualificações, no reconhecimento de suas habilidades, respeitando-se suas
limitações, para que possa, então, ocorrer, de fato, a inclusão das pessoas
com deficiência.
O primeiro capítulo deste trabalho trata da trajetória da pessoa com
deficiência através da história no Brasil e no mundo. As culturas dos povos
acerca desta parcela da população, o papel do Estado, a criação das primeiras
instituições voltadas às pessoas com deficiência, até chegarmos aos dias
atuais.
O segundo capítulo discorre sobre a pessoa com deficiência no
mercado de trabalho, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, a
Constituição Federal, a Lei de Cotas e o impacto ocasionado por essas leis na
inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. O desafio que é
para a pessoa com deficiência se qualificar profissionalmente sem
oportunidades e condições mínimas de acesso aos meios de transportes
públicos.
O último capítulo trata da importância do pedagogo nas empresas neste
processo de inclusão social, suas habilidades, áreas de conhecimentos, sua
capacidade através de seu ato educativo de humanizar o homem, tendo a
educação como sua principal aliada neste processo.
Vale ressaltar que o pedagogo é o investigador de situações
conflituosas. Ele tem um papel fundamental, de conscientizar gestores e
demais funcionários acerca da necessidade de contratação de pessoas com
deficiência de forma digna, considerando suas limitações e habilidades.
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CAPÍTULO I
A PESSOA COM DEFICIÊNCIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA
Devido às mudanças ocorridas na sociedade, as pessoas com
deficiência vêm alcançando através da mídia, de leis, decretos, e outros meios,
alguns direitos antes inimagináveis.
Durante décadas as pessoas com deficiências, quando não eram
sacrificadas, ou mesmo ignoradas, eram cuidadas de forma paternalista ou
assistencialista.
Conforme observa Silva:
“Se buscarmos nos arquivos de nossa História, poderemos surpreendermo-nos com normas ou decretos que chegaram a abordar os problemas de pessoas com defeitos físicos. Se formos pesquisar as atividades de organizações de épocas remotas em diferentes cidades (principalmente entre os séculos XVI e XVIII), certamente acharemos referências várias a “aleijados”, “enjeitados”, “mancos”, “cegos”, “surdos-mudos” e outros mais. No entanto, assim como na velha Europa, a quase totalidade das informações sobre a pessoa defeituosa está diluída em comentários relacionados aos doentes e pobres de um modo geral, como era usual em todas as demais partes do mundo. [...]. Os mais afortunados que nasciam em “berço de ouro” ou pelo menos remediado, certamente passaram o resto de seus dias atrás dos portões e das cercas vivas das suas grandes mansões, ou então, escondidos, voluntária ou involuntariamente, nas casas de campo ou nas fazendas de suas famílias”. (CD – A Epopéia Ignorada – 2008, sem página).
Para muitas pessoas com deficiência, o acesso à educação era tido
como algo impossível, pois, acreditava-se que estas eram incapazes de
socializar-se com o meio a sua volta. A pessoa com deficiência tornava-se por
maioria das vezes um fardo aos seus familiares, que, por vergonha de terem
11
em suas famílias, uma pessoa considerada inválida, as escondia em suas
casas, dando a estes tratamentos por vezes subumanos.
Para entender melhor quem é a pessoa com deficiência faz-se
necessário um breve histórico desta parte da população no decorrer da
história.
1.1 – A pessoa com deficiência na história mundial
Se pensarmos na qualidade de vida obtida nos primórdios da
história, podemos hipoteticamente imaginar situações sobre como seria a vida
da pessoa com deficiência, uma vez que, não havia saneamento básico,
hábitos de higiene, pavimentação de ruas, transportes adequados, as
habitações eram em pedras, cavernas. Como estes sobreviveriam às situações
enfrentadas, tendo em sua deficiência, a limitadora de funções básicas e
primordiais para sua sobrevivência?
Não há dados concretos que apontem causas definitivas para o
surgimento da deficiência na história, entretanto, podemos supor que acidentes
como manuseio de alguns equipamentos, como armamentos de guerra, a
própria guerra que, quando não levava o indivíduo à morte, poderia causar
fraturas que, com a medicina rudimentar levasse a amputações de partes do
corpo, à mobilidade reduzida por atrofias de membros decorrentes destes
acidentes, as doenças ou ainda, simplesmente o nascimento de uma criança
com deficiência. Todas essas hipóteses apontam para a existência da pessoa
com deficiência através da história.
O Tratamento dado a certas enfermidades ou deficiências pouco tinha
de medicina, as curas eram feitas através de magias e curandeirismos,
conforme Silva (2008, sem página):
“A própria trepanação - ou seja, a abertura de um orifício em alguma parte do crânio - indica uma crença primitiva quase que demonológica ou maligna de origem desconhecida de certos males físicos ou mentais. No
12
entanto, o tratamento dos feiticeiros ou mágicos daquelas épocas incluía, além de cerimoniais com evidente simbologia, providências de natureza objetiva, muitas vezes hoje utilizadas em tratamentos de urgência ou tratamento médico regular, como o calor, o frio, a sangria, os banhos, a sucção, dentre muitos outros meios que apenas podemos imaginar”. (CD – A Epopéia Ignorada,).
.
Por meio de filmes e documentários temos informação do tratamento
dado à pessoa com deficiência, em Roma, Esparta, por exemplo, que tinha por
cultura a eliminação da criança com deficiência física. Silva (2008) afirma que
outros povos de diversas culturas também tinham seus procedimentos quanto
às pessoas com deficiência. “(...) essas mesmas pessoas são destruídas
também de formas variadas, incluindo-se desde o abandono à própria sorte em
ambientes agrestes e perigosos, até a morte violenta, a morte por inanição ou
o próprio banimento” (Silva, 2008, sem página).
Silva (2008) também indica a existência de certos povos que adotavam
atitudes de amparo e cuidado com as pessoas com deficiência, como os Aona
que, segundo o autor, reside ainda hoje à beira do lago salgado de Rudolf, no
Quênia, numa ilha conhecida como Elmolo. Este povo, que tinha como um dos
meios de sobrevivência a pesca, cria que os cegos podiam se comunicar
diretamente com o mundo sobrenatural, com os espíritos que viviam no fundo
do lago, assim poderia indicar a localidade dos peixes. Então, estes cegos
eram levados à pescaria com os outros homens.
Outro exemplo de tratamento dado às pessoas com deficiência ao longo
da história é o do povo Chiricoa, que habitava nas florestas colombianas e
mudavam-se com grande facilidade. Em suas mudanças abandonavam as
pessoas idosas ou com alguma deficiência. Eles carregavam somente o que
fosse necessário à sobrevivência do grupo, e tais pessoas poderiam
comprometer a sobrevivência de todo o grupo.
É possível de acordo com Silva (2008) citar ainda o exemplo do povo
Esquimó, que deixava as pessoas idosas e com deficiências em locais de fácil
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acesso aos ursos brancos para serem devoradas, pois acreditavam serem
estes, animais sagrados e por isso tinham que mantê-los alimentados. E sua
pele também servia como agasalho para a tribo quando mortos.
Para a maioria dos povos, o extermínio da pessoa com deficiência era a
melhor solução encontrada.
Através das técnicas egípcias de conservação dos corpos, foi possível
aos pesquisadores ter acesso a corpos com marcas de feridas graves, fraturas
no esqueleto dentre outras. Materiais que facilitaram o estudo de causas, bem
como, o conhecimento da medicina egípcia e sua cultura.
No Egito Antigo, acreditava-se que as deficiências físicas, mentais e
doenças graves eram provenientes de maus espíritos, pecados cometidos em
outras vidas ou demônios. A única maneira de reverter tais situações seria
então através dos poderes divinos concedidos aos médicos dos deuses (esses
deuses eram o Faraó e seus descendentes), estes desenvolviam formas de
alcançar o desejado em relação a estas pessoas, poderiam fazer isto através
de exorcismos, poções mágicas, cirurgias, encantamentos etc.
Conforme Silva (2008) “Existem alguns papiros que são excelentes
referências quanto à arte médica egípcia e quanto à forma como ela cuidava
de alguns problemas incapacitantes.” (sem página).
Um tipo de deficiência visto com bons olhos na cultura egípcia antiga era
o nanismo. Os egípcios das classes nobres compravam pessoas com essa
deficiência por alto preço, fazendo-as de seus dançarinos, ou como cuidadores
de seus animais de estimação.
O deus Bés era representado na figura de um anão, este era o deus dos
jogos, das danças, das lutas e era usado como amuleto contra o mal, por
causa de sua feiura.
Silva (2008, sem página) afirma ainda
“Afrescos existentes nas paredes e outros recantos dos
túmulos por vezes magníficos e algumas estatuetas
sugerem-nos que havia um elevado número de anões no
Egito. Eles são em geral representados com fidelidade:
corpos musculosos, um pouco gordos, membros curtos,
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cabeças grandes, pernas por vezes arqueadas e muitas
vezes corcundas”. (CD – A Epopéia Ignorada)
Na cultura do povo hebreu, a discriminação com relação àqueles que tinham algum tipo de deficiência era amparada por suas leis, conforme descrição bíblica no livro vetero-testamentário de Levítico (livro das leis e normas daquele povo):
“Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus. Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, Ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado. Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do SENHOR; defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus. Ele comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do santo. Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porquanto defeito há nele, para que não profane os meus santuários; porque eu sou o SENHOR que os santifico”. (Bíblia Sagrada,capítulo 21, versículos de 16 a 23).
O livro do Êxodo (Bíblia Sagrada, capítulo 21, versículos de 24 a 27),
também traz registro de algumas causas de deficiências no meio do povo,
“Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por
queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe. E quando alguém ferir o olho do
seu servo, ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu
olho”. A própria lei, de certa forma, estimulava ou criava situações que levariam
algumas pessoas à deficiência.
As ferozes batalhas travadas entre o povo hebreu e outras nações
também deixavam marcas físicas em seus generais, soldados, combatentes de
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uma maneira geral, onde estava em jogo a liberdade do povo ou a escravidão
à nação vencedora.
A legislação hebraica era extremamente severa quanto a alguns erros,
pecados cometidos pelo povo. O livro bíblico de Deuteronômio no capítulo
vinte e cinco traz em sua narrativa um dos exemplos de castigos impostos e
que levava a pessoa a aquisição de uma deficiência física:
“Se se levantar alguma pendência entre dois homens e um começar renhir com o outro, e a mulher de um querendo livrar seu marido da mão do mais forte, estender a mão e lhe pegar pelas partes vergonhosas, cortar-lhe-ás a mão, e não te moverás de compaixão alguma por ela" (Bíblia Sagrada, livro Deuteronômio, versículos 11 e 12).
Avançando nesta pesquisa histórica, chegamos aos tempos bíblicos de
Jesus, em que são narradas diversas passagens a respeito da existência de
pessoas com deficiência, sua forma de vida, o tratamento dado pela sociedade
a esta parcela da população. Essas pessoas eram mal vistas, pois acreditava-
se que as pessoas que tinham algum tipo de deficiência era devido a algum
pecado cometido por estes ou por seus antepassados, logo, não eram digno
de estar entre as pessoas não deficientes. Interessante relato é dado por
Lucas, o médico, que narra o episódio de uma mulher que estava doente havia
18 anos – “E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de
enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo
algum endireitar-se”. (Bíblia Sagrada, livro de Lucas, versículo 11).
O Novo Testamento Bíblico está repleto de passagens diversas que
tratam do tema da pessoa com deficiência e Jesus, que curava a maioria
delas, em algumas dessas curas, enquanto o povo insistia na existência de
pecados às pessoas com deficiências, Jesus, as curava, chamando aquele
mal, apenas de enfermidade, retirando todo o aspecto religioso e demais
crendices do povo, como Lucas mesmo termina sua narrativa a respeito da
mulher curvada citada anteriormente neste trabalho. “E, vendo-a Jesus,
chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher estás livre da tua enfermidade”. Há nesta
16
passagem dois aspectos fundamentais, 1º - o episódio é narrado por um
médico, ou seja, alguém acostumado a lidar com pessoas doentes, 2º é
possível acreditar que, Jesus desejava mostrar àquelas pessoas que qualquer
um poderia nascer ou adquirir uma deficiência ao longo da vida, e que essas
pessoas com deficiências mereciam por parte da sociedade da época um
tratamento mais digno, que não deveriam ser tratadas como escórias daquela
sociedade.
Progredindo neste aspecto histórico da pessoa com deficiência,
passemos a abordar o tema no Brasil.
De acordo com Lopes (1980), os primeiros fatores básicos da
motivação humana são o hedonismo e o idealismo. O primeiro explica que o
homem não ama a dor e o desconforto, mas o prazer e o conforto. Eis aí a
razão dos conselhos acerca de como tornar agradáveis as condições e o
ambiente de trabalho, a fim de que aquele fator seja satisfeito, resultando no
aumento da motivação.
1.2 – A pessoa com deficiência no Brasil
A história do Brasil sempre foi transmitida aos brasileiros, como uma
espécie de Conto de Fadas ou algo semelhante. Em que seus personagens
são tidos como verdadeiros mártires, heróis, com quadros que relatam sua
história de uma maneira tão gloriosa e perfeita que compete aos historiadores
a grande e difícil tarefa de, através dos tempos, desvendarem os verdadeiros
mistérios que norteiam a história de nosso país. Quanto mais aos relatos
escritos, dados concretos referentes às pessoas com deficiências no início de
nossa trajetória.
Não é possível falar da história do Brasil sem mencionar os índios,
habitantes naturais desta terra, de seus hábitos, costumes e cultura.
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Historiadores e antropólogos através de seus estudos observaram que
cada tribo indígena possuía sua crença e seus rituais religiosos, mas todos
acreditavam no poder da natureza, sua influência em suas vidas no cotidiano.
Esses historiadores descobriram ainda certas peculiaridades das tribos
indígenas brasileiras, onde algumas delas adotavam certos comportamentos
quando nascia alguma criança com algum tipo de deformidade, conforme
descrito por Figueira (2008):
“Em muitos relatos de historiadores e antropólogos, estão registradas várias práticas de exclusão entre os índios. Quando nascia uma criança com deformidades físicas era imediatamente rejeitada, acreditando-se que traria alguma maldição para a tribo, ou coisas dessa natureza. Uma das formas de se livrar delas era abandonar os recém-nascidos nas matas, ou atirá-las de montanhas e, nas mais radicais atitudes, até sacrificá-las em chamados rituais de purificação”. (FIGUEIRA, 2008, p. 22)
Além de acreditarem que tal criança poderia trazer algum tipo de
maldição à tribo, havia ainda a argumentação, de que a pessoa com alguma
deficiência sofreria muito ao longo de sua vida, ou ainda que, aquele sacrifício
visava o bem da coletividade.
Por conhecimento histórico, aprendemos que os índios brasileiros viviam
da pesca e da caça e que habitavam nas florestas. Pelas atividades que
exerciam e por lutarem com tribos rivais, é possível deduzir que alguns destes
índios adultos tenham adquirido algum tipo de deficiência através de doenças,
ferimentos de guerra, acidentes com suas lanças de pesca e caça, causando
talvez amputações de membros do corpo. Mesmo em pequeno número o
relato do missionário europeu Jean de Léry, citado por Figueira, demonstra a
existência de índios com deficiências em terras brasileiras. “Não são maiores,
nem mais gordos que os europeus; são, porém, mais fortes, mais robustos,
mais entroncados, mais bem dispostos e menos sujeitos a moléstias, havendo
entre eles muito poucos coxos, disformes, aleijados ou doentios”. (Léry APUD
FIGUEIRA p. 25)
18
Torna-se imperioso observar que a atribuição á divindade sobre males e
deficiências diversas faze parte da cultura mundial e o Brasil também está
incluído neste panorama. Em nosso país, por serem os índios os primeiros
habitantes deste território, é provável que crendices e feiticismo tenham sido
amplamente divulgados e aplicados as tribos por eles. Grandes adoradores da
natureza, eles criam que tais males eram enviados pelos deuses da natureza
como um castigo.
Progredindo pela história, nesta cultura de exclusão da pessoa com
deficiência, podemos ainda citar a “Roda dos Expostos”, que no Brasil exerceu
atividade entre os anos de 1726 a 1950, nela eram postas as crianças
enjeitadas por suas famílias, seja por uma gravidez de uma relação
extraconjugal, seja pelo fato da criança possuir alguma deficiência, o que
poderia ocasionar às famílias de classes mais nobres, comentários maldosos
da sociedade, ou mesmo abalar o status da família em questão por ter em seu
seio uma pessoa considerada inválida para os padrões da época.
Figueira (2008) “Todas as manhãs podiam ser encontradas, nas ruas da
cidade, corpos de recém-nascidos deixados á própria sorte por seus pais, e
que acabavam mutilados por cães e porcos” (P. 36).
Com o advento da escravidão, a chegada dos escravos vindos da África
nos navios negreiros, superlotados e em condições subumanas, indica
possíveis causas de deficiências. O tratamento recebido por estes por parte de
seus senhores, no caso de escravos “fujões” eram castigos que dependendo
da pena aplicada poderia produzir feridas, mortes ou mutilações de partes dos
membros do corpo. Esses castigos eram autorizados pelo governo do Brasil,
conforme descrito no Alvará de 3 de Março de 1741 do rei D. João V sobre as
punições aplicáveis aos escravos achados em quilombos:
[...] ei por bem que a todos os negros que forem achados em quilombos, estando neles voluntariamente, se lhes ponha com fogo uma marca em uma espádua coma letra “F”, que para este efeito haverá nas câmaras; e se, quando for executar esta pena, for achado já com a mesma marca, se lhe cortará uma orelha.
19
(Apudd FIGUEIRA 2008, p. 45)
No Brasil durante os séculos XVI a XIX, através de relatos de nossa
história, conforme visto anteriormente, as mutilações, amputações eram
comuns, devido a acidentes, maus tratos, cirurgias mal sucedidas, golpes
violentos, o envio de soldados às guerras.
Somente a partir deste período, o Brasil passa dar um pouco de atenção
a essas pessoas com deficiências, entretanto, essa atenção estava voltada
primeiramente aos mutilados de guerra. O Brasil, passou a investir em
hospitais – escolas que atendessem e recuperassem tais pessoas, dando
assistência ainda aos operários de fábricas acidentados, foi criado pelo
governo brasileiro o INAR – Instituto Nacional de Reabilitação através do
Decreto 27.083 de 21 de dezembro de 1956, entretanto, por falta de
investimento foi instinto em 1968. Outros institutos e órgãos foram criados
ainda, visando o atendimento às pessoas com deficiência, como o Imperial
Instituto dos Meninos Cegos (1854) e o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos
(1856). A criação destes institutos, entretanto, tinha como objetivo principal dar
assistência de forma paternalista, pois funcionavam como asilos, uma vez que
tais crianças eram abandonadas por suas famílias e não tinham onde abrigar-
se.
No Brasil, as pessoas tidas como diferentes eram excluídas, e
internadas nos asilos que foi um marco da exclusão social. Após o período
conhecido como asilismo, outro tipo de tratamento dado às pessoas com
deficiência, se destacou no país, o assistencialismo, em que esta parcela da
população era reconhecida por suas necessidades, entretanto, estigmatizada
por suas dificuldades e impossibilidades. Piedade e proteção eram palavras
associadas às pessoas com deficiência.
No Brasil República com o Decreto-lei nº 7.870, de 15 de outubro de
1927, tornou-se obrigatório que crianças com deficiência física e mental
frequentassem escolas do ensino primário para crianças de 7 aos 14 anos, o
que poderia ser estendido até os 16 anos, caso esta não houvesse concluído o
ensino primário até os 14 anos.
20
Com tantas pessoas com algum tipo de deficiência, não apenas no
Brasil, mas, no mundo inteiro, chegou-se a conclusão que alguma providência
deveria ser tomada para o atendimento que dignificasse a pessoa com
deficiência, então, no ano de 1975 foi proclamada pela Assembléia Geral da
ONU a “Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, e, 1981 foi aprovado
como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes. A partir de então, não só a
sociedade em geral passou a perceber e respeitar a pessoa com deficiência,
como principalmente a pessoa com deficiência começou a ter consciência de si
própria, passando então a organizarem-se em grupos, associações etc.
“1981 poderá deixar o marco nos anais da história, assim como também poderá passar despercebido por uma grande parte da população mundial (...). Todos nossos anseios, problemas, recalques, talentos serão dissecados (...) sim todos vão querer conhecer este mundo ignorado(...) tendo em vista o que somos, podemos perfeitamente dizer o que queremos não só neste ano mas dele para a frente.” (ARAUJO & JAINES, 1981 P; 22 apudd FIGUEIRA, 2008 p.120)
O ano de 1981 foi o marco da mudança nos conceitos que a sociedade
tinha a respeito da pessoa com deficiência. Foi nesta época que teve início
uma vasta campanha de conscientização sobre a potencialidade dessas
pessoas, passou-se então a divulgar fotos de edificações, transportes públicos
que impediam a livre locomoção da pessoa com deficiência pelo país. Então,
sem medo ou vergonha de expor suas limitações, as pessoas com deficiências
unidas por associações, instituições diversas no Brasil deram início a sua luta
de causa.
Segundo o CENSO 2010, cerca de 24,5% da população brasileira são
PPD´s (pessoa portadora de deficiência), cerca de 45 milhões de pessoas. O
Brasil é um dos campeões em acidentes de trânsito e trabalho, bem como,
possui um alto índice de violência urbana.
Conforme GIL (2001) “As causas das deficiências são muito
abrangentes. Esta abrangência é particularmente acentuada no caso do Brasil,
que é afetado por dois grupos de causas: um decorrente e característico dos
21
países em desenvolvimento e, outro, típico das metrópoles do primeiro
mundo”. (p.15)
1.3 – Definições atribuídas às pessoas com deficiência ao longo da história
O Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 define
deficiência como toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o
desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser
humano.
Definir a pessoa com deficiência é algo muito complicado, talvez
impossível, por justamente tratar-se de pessoa, o que se pode fazer é definir
termos técnicos e/ou populares para suas limitações.
Além do aspecto histórico referente à pessoa com deficiência, podemos
ainda estudar sobre as definições, termos atribuídos a estes, ao longo dos
anos. Temos conhecimento de diversos termos populares, por vezes, injustos,
rotulando essas pessoas. Tais como “excepcional, aleijado, ceguinho, doente,
coitadinho, inválido” e outros mais. Ao rotular uma pessoa, a probabilidade de
limitar a pessoa aquele rótulo é imensa. A partir de então, os julgamentos a
respeito da competência, capacidade, inteligência daquela pessoa passam a
ser questionados, às vezes por falta de conhecimento com relação ao outro,
outras vezes, por preconceito. Recordo-me de que, quando era criança e
minha mãe levava-me aos lugares públicos era comum pessoas que não
tinham deficiência se aproximarem de mim, e as perguntas eram sempre as
mesmas, “quantos anos você tem?”, “você estuda?”. Quando eu respondia as
perguntas sobre minha escolaridade, afirmando que eu estudava, era nítida a
expressão de espanto e admiração das pessoas, pois a maioria delas
associava uma deficiência física motora, que era o meu caso, a alguma
deficiência mental. E justamente pela falta de conhecimento os rótulos vão
sendo aplicados ainda hoje às pessoas com deficiência.
Ribas (2003), diz: “As palavras são expressões verbais criadas a partir
de uma imagem que a nossa mente constrói.” (p.7). Ele ilustra de forma bem
22
simples o significado da frase citada anteriormente. “(...) digamos que você
tenha pensado em alguém que não era deficiente, se acidentou num desastre
de automóvel, foi para a cadeira de rodas, se tornou, portanto, um deficiente
físico e que se recusa a sair de casa. (p.8).
E assim, seguimos definindo pessoas, ao invés de definirmos suas
limitações.
Vejamos então algumas dessas definições, termos, rótulos.
A Organização das Nações Unidas – ONU, lançou mundialmente o
termo “pessoas deficientes” aprovando em sua Assembléia Geral a Declaração
dos Direitos das Pessoas Deficientes, em 9 de dezembro de 1975, definindo
em seu artigo I: “O termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa
incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de
uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência
congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais.” Este foi o primeiro
passo dado na tentativa de valorizar a pessoa com deficiência. SASSAKI
(2002), em seu artigo “Terminologia Sobre Deficiência na era da Inclusão”
dispõe de alguns termos atribuídos a essas pessoas ao longo dos anos:
Época Termos e Significados Valor da pessoa
Romances, nomes de instituições, leis, mídia e outros meios mencionavam “os inválidos”. Exemplos: “A reabilitação profissional visa a proporcionar aos beneficiários inválidos ...” (Decreto federal nº 60.501, de 14/3/67, dando nova redação ao Decreto nº 48.959-A, de 19/9/60).
“os inválidos”. O termo significava “indivíduos sem valor”. Em pleno século 20, ainda se utilizava este termo, embora já sem nenhum sentido pejorativo. Outro exemplo: “Inválidos insatisfeitos com lei relativa aos ambulantes” (Diário Popular, 21/4/76).
Aquele que tinha deficiência era tido como socialmente inútil, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem valor profissional. Outros exemplos: “Servidor inválido pode voltar” (Folha de S. Paulo, 20/7/82). “Os cegos e o inválido” (IstoÉ, 7/7/99).
Século 20 até ± 1960. “Derivativo para incapacitados” (Shopping News, Coluna Radioamadorismo, 1973).
“os incapacitados”. O termo significava, de início, “indivíduos sem capacidade” e, mais tarde, evoluiu e passou a
Foi um avanço da sociedade reconhecer que a pessoa com deficiência poderia ter capacidade residual, mesmo que reduzida. Mas, ao mesmo
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“Escolas para crianças incapazes” (Shopping News, 13/12/64). Após a I e a II Guerras Mundiais, a mídia usava o termo assim: “A guerra produziu incapacitados”, “Os incapacitados agora exigem reabilitação física”.
significar “indivíduos com capacidade residual”. Durante várias décadas, era comum o uso deste termo para designar pessoas com deficiência de qualquer idade. Uma variação foi o termo “os incapazes”, que significava “indivíduos que não são capazes” de fazer algumas coisas por causa da deficiência que tinham.
tempo, considerava-se que a deficiência, qualquer que fosse o tipo, eliminava ou reduzia a capacidade da pessoa em todos os aspectos: físico, psicológico, social, profissional etc.
De ± 1960 até ± 1980. “Crianças defeituosas na Grã- Bretanha tem educação especial” (Shopping News, 31/8/65). No final da década de 50, foi fundada a Associação de Assistência à Criança Defeituosa – AACD (hoje denominada Associação de Assistência à Criança Deficiente). Na década de 50 surgiram as primeiras unidades da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - Apae.
“os defeituosos”. O termo significava “indivíduos com deformidade” (principalmente física). “os deficientes”. Este termo significava “indivíduos com deficiência” física, intelectual, auditiva, visual ou múltipla, que os levava a executar as funções básicas de vida (andar, sentar-se, correr, escrever, tomar banho etc.) de uma forma diferente daquela como as pessoas sem deficiência faziam. E isto começou a ser aceito pela sociedade. “os excepcionais”. O termo significava “indivíduos com deficiência intelectual”.
A sociedade passou a utilizar estes três termos, que focalizam as deficiências em si sem reforçarem o que as pessoas não conseguiam fazer como a maioria. Simultaneamente, difundia-se o movimento em defesa dos direitos das pessoas superdotadas (expressão substituída por “pessoas com altas habilidades” ou “pessoas com indícios de altas habilidades”). O movimento mostrou que o termo “os excepcionais” não poderia referir-se exclusivamente aos que tinham deficiência intelectual, pois as pessoas com superdotação também são excepcionais por estarem na outra ponta da curva da inteligência humana.
De 1981 até ± 1987. Por pressão das organizações de pessoas com deficiência, a ONU deu o nome de “Ano Internacional das Pessoas Deficientes” ao ano de 1981. E o mundo achou
“pessoas deficientes”. Pela primeira vez em todo o mundo, o substantivo “deficientes” (como em “os deficientes”) passou a ser utilizado como adjetivo, sendo-lhe acrescentado o
Foi atribuído o valor “pessoas” àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direitos e dignidade à maioria dos membros de qualquer sociedade ou país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou em
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difícil começar a dizer ou escrever “pessoas deficientes”. O impacto desta terminologia foi profundo e ajudou a melhorar a imagem destas pessoas.
substantivo “pessoas”. A partir de 1981, nunca mais se utilizou a palavra “indivíduos” para se referir às pessoas com deficiência.
1980 a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades, mostrando que estas três dimensões existem simultaneamente em cada pessoa com deficiência.
De ± 1988 até ± 1993. Alguns líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram o termo “pessoa deficiente” alegando que ele sinaliza que a pessoa inteira é deficiente, o que era inaceitável para eles.
“pessoas portadoras de deficiência”. Termo que, utilizado somente em países de língua portuguesa, foi proposto para substituir o termo “pessoas deficientes”. Pela lei do menor esforço, logo reduziram este termo para “portadores de deficiência”.
O “portar uma deficiência” passou a ser um valor agregado à pessoa. A deficiência passou a ser um detalhe da pessoa. O termo foi adotado nas Constituições federal e estaduais e em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluir o termo em seus nomes oficiais.
De ± 1990 até hoje. O art. 5°da Resolução CNE/CEB n°2, de 11/9/01, explica que as necessidades especiais decorrem de três situações, uma das quais envolvendo dificuldades vinculadas a deficiências e dificuldades não-vinculadas a uma causa orgânica.
“pessoas com necessidades especiais”. O termo surgiu primeiramente para substituir “deficiência” por “necessidades especiais”. Daí a expressão “portadores de necessidades especiais”. Depois, esse termo passou a ter significado próprio sem substituir o nome “pessoas com deficiência”.
De início, “necessidades especiais” representava apenas um novo termo. Depois, com a vigência da Resolução n° 2, “necessidades especiais” passou a ser um valor agregado tanto à pessoa com deficiência quanto a outras pessoas.
Mesma época acima. Surgiram expressões como “crianças especiais”, “alunos especiais”, “pacientes especiais” e assim por diante numa tentativa de amenizar a contundência da palavra “deficientes”.
“pessoas especiais”. O termo apareceu como uma forma reduzida da expressão “pessoas com necessidades especiais”, constituindo um eufemismo dificilmente aceitável para designar um segmento populacional.
O adjetivo “especiais” permanece como uma simples palavra, sem agregar valor diferenciado às pessoas com deficiência. O “especial” não é qualificativo exclusivo das pessoas que têm deficiência, pois ele se aplica a qualquer pessoa.
Em junho de 1994. A Declaração de Salamanca preconiza a
“pessoas com deficiência” e pessoas sem deficiência, quando tiverem
O valor agregado às pessoas é o de elas fazerem parte do grande segmento dos
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educação inclusiva para todos, tenham ou não uma deficiência
necessidades educacionais especiais e se encontrarem segregadas, têm o direito de fazer parte das escolas inclusivas e da sociedade inclusiva.
excluídos que, com o seu poder pessoal, exigem sua inclusão em todos os aspectos da vida da sociedade. Trata-se do empoderamento.
Em maio de 2002. O Frei Betto escreveu no jornal O Estado de S.Paulo um artigo em que propõe o termo “portadores de direitos especiais” e a sigla PODE. Alega o proponente que o substantivo “deficiente” e o adjetivo “deficiente” encerram o significado de falha ou imperfeição enquanto que a sigla PODE exprime capacidade. O artigo, ou parte dele, foi reproduzido em revistas especializadas em assuntos de deficiência.
“portadores de direitos especiais”. O termo e a sigla apresentam problemas que inviabilizam a sua adoção em substituição a qualquer outro termo para designar pessoas que têm deficiência. O termo “portadores” já vem sendo questionado por sua alusão a “carregadores”, pessoas que “portam” (levam) uma deficiência. O termo “direitos especiais” é contraditório porque as pessoas com deficiência exigem equiparação de direitos e não direitos especiais. E mesmo que defendessem direitos especiais, o nome “portadores de direitos especiais” não poderia ser exclusivo das pessoas com deficiência, pois qualquer outro grupo vulnerável pode reivindicar direitos especiais.
Não há valor a ser agregado com a adoção deste termo, por motivos expostos na coluna ao lado e nesta. A sigla PODE, apesar de lembrar “capacidade”, apresenta problemas de uso: 1) Imaginem a mídia e outros autores escrevendo ou falando assim: “Os Podes de Osasco terão audiência com o Prefeito...”, “A Pode Maria de Souza manifestou-se a favor ...”, “A sugestão de José Maurício, que é um Pode, pode ser aprovada hoje ...” 2) Pelas normas brasileiras de ortografia, a sigla PODE precisa ser grafada “Pode”. Norma: Toda sigla com mais de 3 letras, pronunciada como uma palavra, deve ser grafada em caixa baixa com exceção da letra inicial.
De ± 1990 até hoje e além. A década de 90 e a primeira década do século 21 e do Terceiro Milênio estão sendo marcadas por eventos mundiais, liderados por organizações de pessoas com deficiência. A relação de documentos produzidos nesses eventos pode ser vista no final deste artigo.
“pessoas com deficiência” passa a ser o termo preferido por um número cada vez maior de adeptos, boa parte dos quais é constituída por pessoas com deficiência que, no maior evento (“Encontrão”) das organizações de pessoas com deficiência, realizado no Recife em 2000,
Os valores agregados às pessoas com deficiência são: 1) o do empoderamento (uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle da situação de cada um) e 2) o da responsabilidade de contribuir com seus talentos para mudar a sociedade rumo à inclusão de todas as pessoas, com ou sem
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conclamaram o público a adotar este termo. Elas esclareceram que não são “portadoras de deficiência” e que não querem ser chamadas com tal nome.
deficiência.
O Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, cita
particularidades que caracterizam a pessoa com deficiência, conforme o artigo
4º “É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas
seguintes categorias:
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;
II - deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz;
III - deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;
IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas,(...) V - deficiência múltipla – associação de duas ou mais deficiências.
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A pessoa com deficiência apresenta limitações físicas, cognitivas,
sensórias, entretanto, cabe ressaltar que, nenhuma das definições acima
mencionadas pode limitar o potencial e habilidades dessas pessoas.
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CAPÍTULO II
A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE
TRABALHO
O mercado de trabalho vive grandes mudanças, parte dessas mudanças
está atribuída à globalização mundial, que requer trabalhadores com um novo
perfil, mais dinâmico, que acompanhe os avanços tecnológicos dentre outras
características. Esse novo trabalhador precisa de formação cada vez mais
específica para o desempenho da função a ser exercida.
E, partindo deste ponto é possível perceber o quanto a pessoa com
deficiência está excluída da possibilidade de concorrer em igualdade de
condições às oportunidades de empregos oferecidas pelo mercado de
trabalho. Essa exclusão é devida as dificuldades encontradas por essas
pessoas em se profissionalizar. Grande parte das pessoas com deficiência
atua no mercado de trabalho informal, através de associações ou como
vendedores ambulantes.
O governo não investe de maneira eficaz a fim de possibilitar a esta
parcela da população o direito a escolha para se profissionalizar.
Historicamente o poder público no Brasil tinha como políticas públicas para
PcD´s a promoção políticas assistencialistas, concedendo aposentadoria por
invalidez a essas pessoas, quando deveria oferecer oportunidades para que
estas pudessem optar sobre seu futuro.
Na atualidade o que se pode perceber é uma tentativa do poder publico
de reparar os danos causados a esta parcela da população durante muitos
anos. Uma dessas tentativas foi o lançamento do Plano “Viver sem Limites”,
por meio do Decreto 7.612, de 27 de novembro de 2011, onde o Governo
Federal ressalta o compromisso do Brasil com as prerrogativas da Convenção
sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, da ONU, ratificada pelo Brasil
com equivalência de emenda constitucional.
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Este Plano é uma proposta para que a Convenção aconteça por meio
de articulação de políticas governamentais de acesso à educação, inclusão
social, saúde e acessibilidade.
Entretanto, o que se nota de forma bem nítida é que a baixa
escolaridade e a falta de oportunidades para capacitação profissional, Dificulta
ainda mais pessoa com deficiência na busca de sua inclusão na sociedade.
Além disso, ela enfrenta ainda obstáculos nos meios de transportes públicos
para sua livre locomoção, as barreiras, principalmente as arquitetônicas
tornam-se um dos grandes problemas para a locomoção da pessoa com
deficiência e consequente exclusão da sociedade. Há ainda o preconceito por
parte daqueles, que, por desconhecerem o potencial e capacidade da pessoa
com deficiência o descrimina, colaborando, assim, com essa exclusão.
Com a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, outros
documentos, decretos, leis e estatutos foram elaborados visando à dignidade
da pessoa com deficiência.
No Brasil, tal princípio fundamental é garantido por meio da Constituição
Federativa da República do Brasil de 1988.
A Lei de Cotas é outro meio legal que visa à inclusão da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho através da reserva de vagas. E Esses dois
documentos dão abertura a este capítulo.
2.1 – A Constituição Federal
Desde a sua independência o Brasil teve sete constituições (1824, 1891,
1934, 1937, 1946, 1967 e 1988), entretanto, somente com a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 a pessoa com deficiência passou a ter
seus direitos garantidos. Nossa Carta Magna tem como princípio fundamental
a dignidade da pessoa humana, e este princípio encontra-se repetido diversas
vezes na Constituição Federal, que prima por uma sociedade justa, sem
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preconceitos de raça, sexo ou quaisquer outras formas de discriminação, ou
seja, todos são iguais perante a lei:
Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. Art. 7º: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem á melhoria de sua condição social: (...) XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. (...) Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II. Cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência
A Constituição Federal ainda determina reserva de vagas em cargos
públicos por meio de concursos para pessoas com deficiência:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerão aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definir os critérios de sua admissão.
Também é assegurado pela Constituição Federal o direito à habilitação
e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à
vida comunitária, além da adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso
público e dos veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
adequado às pessoas com deficiência. Conforme artigos em destaque abaixo:
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Art. 203: A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...) V - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; (...) Art.227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (...) § 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado ás pessoas portadoras de deficiência.
É de fácil percepção que os princípios fundamentais relacionados à
pessoa com deficiência são novos no Brasil, considerando a data de
promulgação da Constituição Federal, ou seja, 1988.
Nossa Carta Magna serviu de base para criação de leis, decretos,
estatutos que visam garantias e direitos à pessoa com deficiência.
Dentre essas leis podemos citar a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de
1989, que dispõe sobre política nacional para integração da pessoa com
deficiência:
Art. 2, parágrafo único, III-d: “Ao Poder Público e seus órgãos cabem assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive os direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem estar pessoal, social e econômico.” (...)
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III – Na área da formação profissional e do trabalho: “Adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de trabalho em favor das pessoas portadoras de deficiência nas entidades da Administração Pública e do setor privado e regulamente a organização de oficinas e congêneres integrados ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das pessoas portadoras de deficiência.
Em alguns países as leis são elaboradas apenas para assegurar um
costume de um povo, para o caso de alguém ser lesado, tal lei garante então,
seu direito. No Brasil, especificamente, ocorre o contrário, as leis são
elaboradas, decretos regulamentam as leis para obrigar as pessoas a respeitar
os direitos dos outros.
O que se pretende com essas leis é garantir a cidadania, a inclusão da
pessoa com deficiência na sociedade brasileira, tendo todos os seus direitos
respeitados. A pessoa com deficiência não quer receber da sociedade um
tratamento privilegiado, mas sim, diferenciado, que se reconheça sua
potencialidade e respeitem-se suas limitações. Quando são negados a uma
pessoa seus direitos e garantias fundamentais, há discriminação.
De acordo Ciszewski (2005)
“Em nossa sociedade, há um estigma em torno da
deficiência e que está essencialmente ligado ao problema
geral da exclusão. Excluir é retirar o indivíduo do convívio
social, separar, rejeitar, por fugir aos padrões até então
tidos como “normais”, não dando àquele o direito de
exercer dignamente seu direito de cidadania político e
social”. (p.57)
Incluir e Inserir são palavras que norteiam a questão da pessoa com
deficiência e a sociedade. Porém, elas possuem significados distintos. Em
pesquisa realizada em dicionários , foi possível obter os seguintes significados
para a palavra inserir:
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1- Inserir = Introduzir, fazer entrar; colocar no meio de outros: inserir
uma folha num livro; inserir uma cláusula num tratado.
2- Inserir = Cravar, fazer entrar, introduzir: Inseri um enxerto na
planta. Intercalar, introduzir: Inserir termos explicativos na oração. Publicar.
Consignar, entranhar-se, fixar-se, implantar (...).
E alguns significados para a palavra incluir:
1 - Compreender, abranger: incluo-te na lista de meus convidados. Envolver, implicar (...).
2 – (...) introduzir: Incluir um capítulo num drama. Abranger,
compreender. Conter em si; envolver, implicar (...).
Compreendo que ao tratar o tema igualdade e dignidade às pessoas
com deficiência, o termo mais apropriado a ser utilizado deve ser incluir
(inclusão). Entendo que “Incluir” relaciona-se a fazer parte, a interagir, a
comunidade, ou seja, a participação em comum de indivíduos que vivem em
comum ou têm os mesmos interesses e ideais políticos dentre outros.
Inserir uma pessoa com deficiência na sociedade, através da escola ou
do mercado de trabalho, não significa incluí-la. É notória que, o que ocorre na
atualidade é exatamente a “inserção” desta parcela da população com relação
à sociedade, pois a pessoa com deficiência para tentar incluir-se, ela adapta-
se à sociedade, com todas as barreiras impostas, arquitetônicas, transportes
públicos inadequados, o desrespeito por parte de algumas pessoas não
deficientes com relação às vagas nos estacionamentos, aos assentos
reservados nos coletivos, ao preconceito (Fig. 2 e 3). Na realidade, para que a
inclusão aconteça, a sociedade deve adaptar-se às necessidades da pessoa
com deficiência. Visando auxiliar esta adaptação foi elaborada a Lei nº 8.213,
de 24 de julho de 1991, conhecida como a Lei de Cotas, a qual é tratada a
seguir.
2.2 – A Lei de Cotas
A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social, entretanto, seu artigo 93 determina a reserva
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legal de cargos, que foi amplamente divulgado e ocasionou a esta lei a alcunha
de a Lei de Cotas.
A cota de reserva de vagas depende do número de empregados que
uma empresa tem em seu quadro. Podendo variar de 2% a 5%. A lei
estabelece que o empregado com deficiência deve ser contratado como
qualquer outro funcionário da empresa:
Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados
está obrigada a preencher de 2% dois por cento) a 5%
(cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários
reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência,
habilitadas, na seguinte proporção:
I - até 200 empregados.................................................2%;
II - de 201 a 500............................................................3%;
III - de 501 a 1.000........................................................4%;
IV - de 1.001 em diante. ...............................................5%.
Esta mesma lei que dispõe sobre a reserva de vagas para pessoas com
deficiência também estabelece multa para as empresas que descumprirem o
estabelecido. Conforme explicam Andrea Schwarz e Jaques Haber (2009):
“A mesma Lei nº 8.213/91 que prevê a cota calcula a sanção e a multa a serem aplicadas no caso do não cumprimento, em seu artigo 133. O valor é calculado, conforme estabelece a Portaria nº 1.199/2003, publicada no Diário Oficial da União de 30 de outubro de 2003, pela multiplicação do número de trabalhadores com deficiência ou reabilitados que deixaram de ser contratados pelo valor mínimo legal, acrescido de percentual variável, conforme se vê abaixo: I.para empresas com cem a 200 empregados, acréscimo de zero a 20%; II. para empresas com 201 a 500 empregados, acréscimo de 20 a 30%;
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III. para empresas com 501 a 1.000 empregados, acréscimo de 30 a 40%; IV. para empresas com mais de 1.000 empregados, acréscimo de 40 a 50%”. (p. 73).
Entretanto, associações, organizações não governamentais e institutos
que trabalham com e para a inclusão da pessoa com deficiência no mercado
de trabalho, lutam para que as pequenas e médias empresas também sejam
incluídas na Lei de Cotas. De acordo com o Instituto Brasileiro dos Direitos da
Pessoa com Deficiência - IBDD, em publicação de seu Boletim Informativo
edição nº 168, de 27 de julho de 2011 - os pequenos e médios empresários
são os maiores empregadores do Brasil.
Outro aspecto a ser destacado sobre a Lei de Cotas pelo IBDD refere-se
à contratação de pessoas que possuem deficiências leves. De acordo com a
superintendente do IBDD, Teresa Costa d'Amaral, - “as empresas não
contratam cadeirantes, cegos, surdos e deficientes intelectuais, a grande
maioria das empresas só contrata pessoas com deficiência leve”.
Dados da Relação Anual de Informações Sociais - Rais, em 2007
indicavam a existência de 30.036 empresas que se ajustaram a Lei de Cotas e,
apresentavam potencial para empregar mais de 1,2 milhão de pessoas com
deficiência de acordo com seu perfil profissional. Entretanto este alvo não foi
alcançado e está longe de o ser. De acordo os dados de 2008, somente 323,2
mil pessoas com deficiência estavam ativas no mercado formal de trabalho.
Outrossim, houve recuo desse número apresentado em relação ao verificado
no ano de 2007, em que foram declarados 348,8 mil postos de trabalhos que
empregavam trabalhadores com deficiência. A percentagem em relação ao
total de empregos no Brasil, no entanto, manteve-se em 1%.
Por meio das informações da Rais, é possível traçar o perfil do
trabalhador no mercado de trabalho formal, como escolaridade, sexo, cor, raça
dentre outros aspectos. O levantamento feito através do CENSO 2010 indica
que a participação das PcD´s no mercado de trabalho ainda é baixa quando
comparada com as pessoas sem deficiência. Do total de 86,4 milhões de
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pessoas empregadas somente 20 milhões eram pessoas com Deficiência.,
23,6% do total.
O CENSO 2010 aponta que neste ano existiam no Brasil 45 623 910,
pessoas com algum tipo de deficiência, ou seja, 23,9% da população.
Com o objetivo de atender, de oferecer garantias de empregabilidade à
PcD, uma parcela tão alta da população, foi criada em 24 de julho de 1991 a
Lei de Cotas – Lei 8.213.
A Lei de Cotas além de estabelecer um percentual de pessoas com
deficiência a ser contratados, ela prevê ainda que, no caso de dispensa de um
empregado com deficiência, a empresa deve contratar obrigatoriamente um
substituto em condições semelhantes, ou seja, aquele cargo somente poderá
ser preenchido por outra pessoa com deficiência em condições de exercer as
funções estabelecidas pelo cargo. Conforme o parágrafo 1º do artigo 93 da Lei
de Cotas: “a dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao
final de contrato por prazo determinado de mais de noventa dias e, a
imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a
contratação de substituto de condição semelhante.” Este parágrafo quer evitar
que a empresa demita o empregado após a contratação, apenas para cumprir
a Lei 8.213/1991.
A referida Lei divide as deficiências da seguinte forma: física, auditiva,
visual, intelectual e múltipla. Assim, fica esclarecido que esta lei não trata
apenas das deficiências físicas como supõem alguns.
Para fins do cumprimento da citada lei, são consideradas deficiências
aquelas descritas no Decreto n.o 5.296, de 2 de dezembro de 2001, assim
caracterizadas:
Deficiência Física Caracteriza-se a deficiência física pela alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento permanente da função física, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. Deficiência Auditiva A deficiência auditiva é caracterizada pela perda bilateral, parcial ou total de 41 decibéis (dB) ou mais, aferida por
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audiograma nas freqüências de 500Hz , 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Deficiência Visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor a 0,05° no melhor olho, com a melhor correção óptica; - baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3° e 0,05° no melhor olho, com a melhor correção óptica; ou os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor a 60°; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. Deficiência Intelectual A deficiência intelectual é definida pelo funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestações antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas. As áreas em que podem acontecer as limitações são: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho. Síndrome de Down Alteração genética cromossômica do par 21 que acarreta características físicas marcantes e implicações tanto para o desenvolvimento fisiológico quanto para a aprendizagem. Deficiência Múltipla A deficiência múltipla caracteriza-se pela associação de duas ou mais deficiências primárias (intelectual, visual, auditiva e/ou física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa.
Em 1995 em seminário promovido pela Organização das Nações
Unidas, foi alterado o termo deficiência mental por deficiência intelectual, no
intuito de discernir as diferenças da doença mental, que se trata de um quadro
psiquiátrico. (Fig. 4)
2.3 – A falta de qualificação/oportunidades
Um dos grandes desafios para a inclusão profissional da pessoa com
deficiência é a falta de qualificação, e vinculadas a este fator, estão às
oportunidades que lhes são negadas pela sociedade por meio de transportes
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públicos inadequados, equipamentos de cursos não adaptados dentre outras
dificuldades encontradas.
A pessoa com deficiência foi, ou ainda está submetida a um estado de
segregação e de exclusão que amplia ainda mais as dificuldades daqueles que
já possuem suas limitações como consequência de suas deficiências.
Algumas empresas alegam ser difícil o preenchimento das vagas
reservadas às pessoas com deficiências pela Lei de Cotas, por estas não se
adequarem ao perfil profissional exigido pela empresa. Argumentam sobre a
falta de qualificação destas pessoas para o exercício da função. As pessoas
com deficiência mais capacitadas profissionalmente para o mercado de
trabalho, nos dias atuais, são aquelas que sofreram algum tipo de acidente
adquirindo assim uma deficiência já na fase adulta da vida, estas pessoas em
sua maioria já estavam incluídas no mercado de trabalho, ou já possuíam
algum tipo de especialização profissional, o que, após uma reabilitação, facilita
sua inclusão no mercado de trabalho. Para aqueles que nasceram com algum
tipo de deficiência, principalmente, as mais graves, a capacitação profissional
torna-se muito difícil, pois a primeira barreira encontrada por estes, tem início
na fase escolar, na falta de adaptação da estrutura das escolas, falta de
profissionais capacitados ao trabalho com a criança com deficiência, além da
não elaboração de um projeto pedagógico específico para atender as
necessidades daquelas crianças, bem como ressaltar suas
qualidades/capacidades. Os que se adéquam as escolas, mais tarde
enfrentarão outras barreiras para adquirir capacitação profissional.
Outras empresas preocupadas no cumprimento da lei decidiram então
capacitar as pessoas com deficiência de acordo com as funções que os cargos
oferecidos demandam. A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e
Mobilidade Reduzida – “SMPED, na Cidade de São Paulo criou em 2009, o
Programa Piloto de Capacitação Profissional e Inclusão de Pessoas com
Deficiência no Setor Bancário”, este Programa foi desenvolvido pela Federação
Brasileira de Bancos - FEBRABAN, em parceria com a Prefeitura da Cidade de
São Paulo, por meio das Secretarias da Pessoa com Deficiência e Mobilidade
Reduzida e do Trabalho e outras entidades não governamentais.
39
Com o objetivo de promover a equidade e igualdade de oportunidades
no mercado de trabalho bancário para as pessoas com deficiência, este
Programa contribuiu ainda para o aperfeiçoamento das instituições, bem como
para a construção de uma sociedade mais inclusiva. Aproximadamente 500
pessoas com deficiências participaram do Programa. Para os alunos do
Programa de Capacitação Profissional desenvolvido pela FEBRABAN com
idades entre 18 e 35 anos, está era a primeira oportunidade de capacitação
profissional e emprego oferecido.
O Programa ofereceu aos alunos participantes aprimoramento
educacional aos que possuíam ensino médio completo; supletivo aos que não
concluíram esta escolaridade e posteriormente um curso de qualificação
voltado para o mercado bancário. Com iniciativas como esta, quebra-se um
padrão de comportamento comum em parte de empresas de grande porte, que
deixam de cumprir a Lei de Cotas sob a alegação de que as pessoas com
deficiência não estão qualificadas para o trabalho. “Uma lei existe para ser
cumprida, mas quando se acredita na causa, deixa de ser uma obrigação”,
afirmou Norete Cristina, coordenadora do projeto da Embratel semelhante ao
programa desenvolvido pela FEBRABAN para a inclusão da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho. Projetos como estes reafirmam o que diz a
Constituição Federal em seu artigo 5º que trata dos Direitos e Deveres
individuais e coletivos que estabelece: “Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza (...)”. E a Declaração dos Direitos das Pessoas
Deficientes, de 9 de dezembro de 1975, conforme descrito em seu artigo 7º:
“As pessoas portadoras de deficiência têm direito à
segurança econômica e social e a um nível de vida
decente e, de acordo com suas capacidades, a obter e
manter um emprego ou desenvolver atividades úteis,
produtivas e remuneradas e a participar de sindicatos”.
40
Para a maioria das pessoas, o trabalho não é apenas uma fonte de
renda para sua sobrevivência, mas também se confunde com a própria
integridade social, em que o cidadão que está desempregado, sente-se inútil.
Para as pessoas com deficiência torna-se ainda mais difícil a conquista de um
emprego, pois, são vítimas da falta de conhecimento e de preconceito por
parte daqueles que não tem uma deficiência e desconhecem suas
potencialidades.
A inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho faz com
que se sintam realizadas profissionalmente, interiormente, por serem
reconhecidas como pertencentes a uma sociedade, por sentirem-se úteis e
produtivas.
É importante ressaltar que a maior parte da população com algum tipo
de deficiência no Brasil, encontra-se nas classes sociais menos favorecidas o
que dificulta ainda mais sua inclusão na vida social da sociedade a qual está
inserida.
2.4 – A dificuldade de locomoção
Acessibilidade, segundo a Norma Brasileira n.o 9050/2004, da
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, o termo refere-se a:
“possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a
utilização com segurança e autonomia, de edificações, espaços, mobiliários,
vias públicas, equipamentos urbanos e transporte coletivo”.
A falta de acessibilidade leva ao impedimento. O impedimento é uma
situação desvantajosa para um determinado indivíduo, em consequência de
uma deficiência ou de uma incapacidade, que limite ou impeça o desempenho
de um papel que é natural aos que não apresentam limitação, em função de
idade, sexo, e fatores sociais e culturais.
O primeiro direito da pessoa com deficiência a ser respeitado quanto à
acessibilidade refere-se à escola. O Poder Público deve garantir o acesso á
41
educação para todos, conforme descrito em nossa Constituição Federal,
garantindo atendimento educacional especializado às crianças com
Necessidades Educacionais Especiais. Uma escola não pode alegar falta de
preparo para não receber uma criança que necessite de atenção educacional
especial.
Devido à falta de acessibilidade algumas barreiras se impõem diante da
pessoa com deficiência como as barreiras físicas e arquitetônicas, tecnológicas
e sociais por exemplo.
A Constituição Federal dispõe sobre normas de construção dos
logradouros e edifícios públicos como já visto anteriormente.
A garantia de acessibilidade envolve também o transporte público, para
uso seguro e autônomo dos serviços de transporte coletivo terrestre,
aquaviário e aéreo, que abrange, além dos veículos, terminais, estações,
pontos de parada e vias principais de acesso. Isso é de responsabilidade dos
municípios (transporte coletivo municipal), dos estados (intermunicipal e
metropolitano) e do governo federal (interestadual e internacional).
O acesso ao transporte público é asseguro pela Lei Federal n.o 10.048,
de 8 de novembro de 2000, que prevê adaptações necessárias que facilitem o
acesso à pessoa com deficiência a esses meios de transportes. Entretanto, é
notório que poucos são os coletivos que dispõem de adaptação. O
atendimento prioritário nos transportes públicos não é respeitado. Exemplo do
descumprimento da Lei n.o 10.048/2000 pode ser constatado na empresa
Barcas/SA por diversas experiências vividas por mim autora deste trabalho,
que faz uso deste transporte aquaviário diariamente, em que as pessoas com
deficiência não tem prioridade ao acesso a embarcação com segurança como
dispõe a lei, estes embarcam enquanto os usuários da empresa estão
deixando o interior da embarcação, o que pode ocasionar uma queda e mesmo
pisoteamento, tendo em vista o grande número de pessoas que também
utilizam este transporte. Uma pessoa cega não tem autonomia para embarcar,
bem como não a tem um cadeirante, sempre dependendo de auxílio de
outrem.
42
Nos transportes rodoviários há ainda a não capacitação de motoristas e
cobradores para manuseio do equipamento das rampas elevatórias que
deveriam facilitar o acesso da pessoa com deficiência, por vezes, este acesso
torna-se tão moroso que leva o cadeirante ao constrangimento, por tornar-se
alvo de diversos olhares inquisidores de outros passageiros do coletivo,
fazendo com que em alguns casos, o cadeirante desista de embarcar naquele
coletivo. (Fig. 5 e 6)
Além desses fatores a pessoa com deficiência que deseja uma
formação acadêmica e profissional deve ainda conviver com a falta de
sensibilidade de algumas pessoas não deficientes, que desrespeitam a reserva
de assentos nos transportes coletivos, que se recusam a ceder os lugares
reservados a quem de direito, colocando-as em riscos maiores, pois precisam
equilibrar-se em pé durante todo o percurso feito pelo coletivo, expondo-se.
Há ainda que se falar nas barreiras arquitetônicas, grande e grave
problema enfrentado pelas pessoas com deficiências. Essas barreiras não
apenas dificultam o acesso dessa parcela da população ao mercado de
trabalho, mas também, a diversos locais públicos. Nada mais humilhante para
a pessoa com deficiência que ter sua vida limitada à sua casa, a sua cidade,
sem possibilidade de locomoção por portas giratórias ou estreitas, balcões e
bilheterias altas, catracas nas entradas das casas de espetáculos, banheiros
não adaptados, sinais de trânsito sem emissão sonora, que dificulta a travessia
de uma pessoa cega. Isso apenas para citar algumas barreiras que impedem a
pessoa com deficiência de exercer seu direito de ir e vir. (Fig. 7 - 10).
O Brasil é um dos países que mais tem leis que amparam a pessoa com
deficiência, isso foi uma grande conquista, entretanto, é um dos países que
mais desrespeita os direitos da pessoa com deficiência.
É preciso investir em programas de conscientização da sociedade, é
preciso investir na educação.
Para que a inclusão da pessoa com deficiência aconteça é preciso
desenvolver políticas públicas que visem a aplicabilidade da lei. É preciso que
a sociedade entenda que uma limitação física, auditiva, motora, intelectual
apenas limita uma pessoa, mas não a aniquila como ser humano.
43
CAPÍTULO III
O PAPEL DO PEDAGOGO NAS EMPRESAS NO
PROCESSO DE INCLUSÃO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
Para tratar a importância do trabalho do pedagogo na inclusão da
pessoa com deficiência no mercado de trabalho, faz-se imperioso saber um
pouco mais sobre este profissional, suas habilidades, áreas de conhecimento,
objeto de estudo e outras questões que envolvam o pedagogo neste processo.
A palavra Pedagogia tem origem na Grécia antiga, paidós (criança) e
agogé (condução). Chamava-se pedagogo o servo ou escravo que conduzia e
acompanhava as crianças. O próprio termo significa aquele que conduz a
criança. Com o tempo, o pedagogo, que começou como simples condutor ou
guardião da criança, acabou por se transformar, em Roma, num Preceptor
(mestre encarregado da educação no lar).
No século XVIII surge, pela primeira vez, no Dicionário da Língua
Francesa, o vocábulo pedagogia, como Ciência da Educação.
Hoje o pedagogo é o especialista em pedagogia, a Ciência e a Arte da
Educação. É especialista em Educação, na sua ação educativa em qualquer
ambiente.
3.1 – O pedagogo e a inclusão social
Como já dito anteriormente a pessoa com deficiência enfrenta
dificuldades diversas, como arquitetônicas, transportes públicos, e muitos
outros para se integrar ao mercado de trabalho e a sociedade, entretanto cabe
ressaltar que estes não são os únicos obstáculos enfrentados por essas
pessoas. Há um problema maior e bem difícil de ser superado, o preconceito, a
44
ignorância daqueles que desconhecem a pessoa com deficiência. Estes, não
só dificultam a entrada desta parcela da população no mercado de trabalho,
como também impedem o crescimento profissional daqueles que já estão
inseridos neste.
Funcionários, gestores por desconhecerem características de
determinadas deficiências, julgam essas pessoas, limitando seu poder de
atuação no desempenho de sua função, desmotivando assim, este
profissional. Que prejudica então a si próprio e também a produtividade no
serviço.
Para evitar este ambiente desmotivador, entra a figura do profissional de
pedagogia, que mercê de seus conhecimentos, pode atuar como um mediador
nesses conflitos relacionados não somente a inclusão da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho, mas também sobre sua potencialidade e
capacidade. O pedagogo tem um papel fundamental nas empresas,
conscientizando os gestores e os funcionários que não apresentam deficiência,
acerca de suas reais necessidades, mitos e verdades sobre estas pessoas
(anexo). Cabe ao pedagogo através da realização de trabalhos que envolvam
os gestores promover uma reestruturação no processo de contratação das
pessoas com deficiência, na valorização de suas qualificações, no
reconhecimento de suas habilidades, para que possa, então, ocorrer, de fato, a
inclusão, independentemente de quais sejam essas deficiências,
harmonizando o ambiente entre todos os funcionários.
Não há profissional mais capacitado e habilitado a humanizar o homem,
que o pedagogo, haja vista, sua formação, e o ideal desta profissão. Ribeiro
(2010) Acrescenta ainda que:
O papel de mediação exercido pelo pedagogo torna-se
primordial na prevenção dos conflitos. Embora o conflito
seja inerente às relações humanas, há de se ter o
cuidado para trabalhar intelectualmente sobre o que
reúne e o que separa, desenvolvendo-se formas de
lucidez que permitam uma maior clareza sobre os “reais”
45
desafios do conflito que surge. Esta postura permite que
se tenha uma visão menos emocional da realidade de
modo que se “desdramatizem” os conflitos e seus
efeitos(...) o pedagogo poderá discernir melhor as
necessidades (...) planejando cada atividade com clareza,
identificando o que, de fato, constituí-se em prioridade. (p.
38)
É papel do pedagogo ainda identificar e minimizar os motivos que
constituem obstáculos para a inclusão. Sem o conhecimento daquilo que
causa a exclusão entre as pessoas com deficiências e as que não têm, o
trabalho do pedagogo não pode ser realizado de maneira eficaz. Para isso o
pedagogo deve investir em conhecer este ambiente, conversando
primeiramente com os gestores, tomando ciência de suas dúvidas,
necessidades, como ele vê o profissional com deficiência em seu setor de
trabalho; entrevistando os funcionários que não tem deficiência, procurando
saber sobre seus conhecimentos a respeito destas, suas necessidades, sua
convivência com este profissional, e por fim, ouvir a pessoa com deficiência
para obter informações sobre sua deficiência, como é seu relacionamento com
os colegas de trabalho, se já sofreu algum tipo de preconceito dentre outras
questões.
Consciente da problemática, o pedagogo poderá então, investir em
estratégias para trabalhar esses conflitos, apresentar opções, ideias, projetos
que visem à satisfação coletiva das pessoas.
A inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho pode,
sim, ocorrer de forma eficaz, bastando para isso que se tenha como aliada a
Pedagogia, um conjunto de conhecimentos que torna possível, nas relações
interpessoais, uma atuação mediadora de saberes e modos de ação.
O pedagogo como investigador tem consciência que a educação não é
imutável, sabe que ela está relacionada ao seu caráter social determinado,
como valores, modos de trabalho, poder político e econômico, e que sendo a
46
educação seu objeto de estudo, tem o conhecimento que somente através
desta é possível mudar um ambiente.
Devido a sua educação intencional a prática do pedagogo deve estar
atualizada, pois, este deve ter a percepção da influência do meio social sobre o
desenvolvimento dos indivíduos. A educação é inerente à construção do
homem, e durante o processo de construção do homem que é interminável, é
que se torna possível a conscientização da importância da inclusão social, haja
vista, o respeito pelo outro, pelo diferente. Conforme PLANCHARD (1975)
educar é conduzir de um estado para outro. A consequência da educação está
no desenvolvimento individual do sujeito, nas relações sociais, políticas,
culturais etc.
O pedagogo atua em um campo de estudos específicos relacionados às
práticas educativas, Libâneo (2010) sugere que a sociedade em suas
diferentes áreas necessita de saberes e modos de ação sobre hábitos,
crenças, atitudes, levando assim à prática pedagógica. O referido autor
enaltece a importância do pedagogo, como fundamental para que ocorram
mudanças nos ambientes de atuação deste profissional:
A meu ver, a pedagogia, ocupa- se de fato, dos processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas antes disso, ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimento sobre problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa, implicando objetivos sociopolíticos a partir dos quais se estabelecem formas organizativas e metodológicas da ação educativa. Nesse entendimento, o fenômeno educativo apresenta-se como expressão de interesses sociais em conflito na sociedade. É por isso que a Pedagogia expressa finalidades sociopolíticas, ou seja, uma direção explícita da ação educativa. (p.29-30)
Uma das ações pedagógicas essenciais que diz respeito à prática
social, é a atuação do pedagogo na intervenção do desenvolvimento do
homem, seus grupos e suas relações, ou seja, ela atua no individual e coletivo,
47
com o propósito de realizar transformações nas relações do homem dentro de
um contexto, buscando a humanização desse espaço.
Ainda de acordo com Libâneo (2010):
A Pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de ação. (p 32)
Para Libâneo (2010) a pedagogia constitui-se um diferencial no
processo de inclusão, pois possui características essenciais que busca uma
humanização na construção das relações interpessoais, seja em que ambiente
for, tendo uma intencionalidade educativa:
A pedagogia ocupa-se da educação intencional. Como tal, investiga os fatores que contribuem para a construção do ser humano como membro de uma determinada sociedade, e os processos e meios dessa formação. Os resultados obtidos dessa investigação servem de orientação da ação educativa, determinam princípios e formas de atuação, (...). (p 33)
A pedagogia constituí-se diferencial em qualquer ambiente que esteja
inserida, pois, possui características essenciais que busca uma humanização
na construção das relações interpessoais. O pedagogo é um educador. Para
que a educação aconteça não há um lugar específico, conforme descreve
Brandão (2007):
Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor (...) Em mundos diversos a educação existe diferente (...) Existe a educação de cada categoria de sujeitos (...) A educação participa do processo de produção de crenças e idéias, de qualificações e especialidades (...) bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedade. E esta é a sua força (...) sua missão é transformar sujeitos e
48
mundos em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros (...). A educação existe sob tantas formas e é praticada em situações tão diferentes, que algumas vezes parece ser invisível, a não ser nos lugares onde pendura uma placa na porta com o seu nome. (p. 9-16)
No panorama capitalista e individualista em que vive o mercado de
trabalho, onde se valoriza muito mais o “fazer” profissional do que o
profissional propriamente dito faz-se necessária a presença do pedagogo nas
empresas, por ter este profissional, habilidades na prática educativa,
capacidade de não somente coordenar, mas, trabalhar em equipe, visando o
crescimento coletivo no espaço empresarial, que pode através de seus atos
educativos inerentes ao pedagogo, intervir na relação de influência entre as
pessoas como educador, levando o homem a avaliar suas escolhas, valores,
seus compromissos éticos, indiferente ao fato de terem uma deficiência ou
não. O pedagogo em sua busca por um ambiente de trabalho mais igualitário,
conduz todos os funcionários, independente de seus cargos hierárquicos a
reconhecerem-se como pessoas, como percebedores de si mesmos e dos
outros.
3.2 – Processos de recrutamento e seleção que atendam a
capacidade profissional e limitações da pessoa com
deficiência
Visando o cumprimento da Lei de Cotas as empresas precisam incluir
em seu quadro de funcionários pessoas com deficiência. Muitas vezes, a lógica
corporativa entende que apenas atingir o número de funcionários estabelecido
pela cota, é o suficiente. Entretanto, não basta apenas contratar para incluir,
faz-se necessário, observar alguns desafios envolvidos neste processo de
inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.
Ao oferecer e divulgar uma vaga a ser preenchida por uma pessoa com
deficiência deve ser considerado alguns aspectos importantes, como o ramo
49
de atividade, áreas de atuação, função a ser exercida, estrutura arquitetônica,
cultura interna, conscientização da liderança.
Outro fator a ser observado no processo de recrutamento e seleção da
pessoa com eficiência é a baixa escolaridade, segundo dados apontados pela
pesquisa População com Deficiência no Brasil – Fatos e Percepções,
realizada, em 2006, pela Agência de Marketing para atender à Federação
Brasileira de Bancos (FEBRABAN), indica que 78,7% dos brasileiros com
deficiência possuem até sete anos de estudo. Reconhecendo esta falta de
escolaridade e consequente pouca qualificação profissional, as empresas após
a contratação devem oferecer treinamentos especializados de capacitação
para seus funcionários com deficiências.
De acordo com Ribeiro (2010):
Ao se pensarem as pessoas como foco organizacional principal, o desafio a enfrentar diz respeito a que estas nem sempre estão acostumadas/preparadas para mudanças e inovações. O dilema a enfrentar é propiciar um contexto de maior liberdade/autonomia para que as pessoas possam sentir-se melhor no ambiente de trabalho, ao mesmo tempo, em que as prepara para assumir esse novo papel. (p. 41)
A empresa deve cumprir a lei, entretanto precisa contratar profissionais
com deficiências que atendam as especificidades das funções. Porém, como
mencionado há um fator complicador neste processo de inclusão, a falta de
escolaridade da maioria dessas pessoas. Neste momento antes mesmo de dar
início ao processo de contratação é preciso que se faça um levantamento
prévio das atividades a serem exercidas, nos cargos oferecidos, se a empresa
oferece estrutura arquitetônica para receber uma pessoa com deficiência,
dentre outras questões. Neste momento a figura do pedagogo torna-se
fundamental, pois compreende que somado a ação de recrutar e selecionar
essas pessoas deverá atuar em conjunto com a alta liderança da empresa e
diversos departamentos para desenvolver um programa institucional com um
50
plano de inclusão através de um conjunto de ações que impliquem não
somente o setor de gestão de pessoas, mas todos os departamentos da
empresa. Este trabalho visa à igualdade entre todos os funcionários, sem
qualquer tipo de discriminação.
Schwarz e Haber (2009):
É preciso ter sempre em mente que o princípio a ser adotado é o da não discriminação durante todo o processo de contratação. A Organização Internacional do Trabalho - OIT afirma que essa atitude garante o máximo de benefícios ao próprio empregador na medida em que oferece igualdade de oportunidades tanto para os candidatos com deficiência quanto para os sem deficiência. (p.123)
Entendendo que no primeiro momento de contratação da pessoa com
deficiência foi realizado um levantamento prévio sobre ramo de atividade da
empresa, áreas de atuação dentre outros pontos a serem observados, este
segundo momento de recrutamento e a seleção do candidato com alguma
limitação física, intelectual ou sensorial são etapas fundamentais de todo
programa de inclusão, uma vez que as escolhas bem sucedidas acarretam a
contratação de colaboradores que estão aptos ao cargo, mas que também se
encaixam na cultura da empresa. Reconhecendo a empresa escassez de
pessoas com deficiência bem preparadas profissionalmente, e a pouca
escolaridade da maioria, o processo de recrutamento e seleção deve estar
focado nas competências e habilidades do candidato e não em sua deficiência.
Porém, para que isto aconteça, o programa de inclusão desenvolvido
pelo pedagogo com os líderes da empresa deve cumprir suas funções, dentre
elas, apontar as condições de acessibilidade física e tecnológica da empresa,
bem como as especificidades das funções dos cargos. A partir deste ponto,
não só o pedagogo, mas os demais gestores da área de Recursos Humanos
poderão orientar a contratação da pessoa com deficiência de acordo com as
condições atuais da empresa, bem como planejar as próximas alterações
necessárias para que se alcance gradativamente a inclusão.
51
É importante ressaltar que no processo de recrutamento e seleção, o
pedagogo deve atentar a empresa que o foco deve ser a pessoa e não sua
deficiência. O pedagogo deve através de seu trabalho conscientizar a alta
liderança da empresa que uma deficiência não faz uma pessoa mais ou menos
competente que um profissional que não tenha uma deficiência.
3.3 – Conscientização das pessoas sem deficiências com
relação ao potencial das pessoas com deficiência
A inclusão de forma sustentável das pessoas com deficiência no
mercado de trabalho não se resume ao processo de recrutamento e seleção,
mas em oferecer oportunidades de trabalho adequadas, respeitando-se a
diversidade e limitações. Garantindo a este profissional a possibilidade de
crescimento na empresa.
Quando se seleciona uma pessoa com deficiência para um determinado
cargo respeitando seu currículo e formação, quando se enxerga este
profissional como qualquer outro na empresa, a sua avaliação por parte dos
gestores será justa, pois este desempenhará suas funções de acordo com
seus conhecimentos e habilidades profissionais.
A melhor maneira de fazer com que uma pessoa sinta-se bem no
ambiente de trabalho, é através da boa convivência com seus colegas, bem
como, a percepção de que o desenvolvimento de sua função demonstra sua
competência e reconhecimento da evolução de seu trabalho.
É comum as empresas contratarem pessoas com deficiências no intuito
de cumprir a lei de cotas, quando isto ocorre, com o passar do tempo, o
funcionário com deficiência torna-se desmotivado, por não exercer uma função
adequada a sua deficiência e por não ter sua formação profissional valorizada.
É comum também, gestores não delegarem função de responsabilidade aos
funcionários com deficiência por desconhecerem ou duvidarem de sua
capacidade. E um funcionário desmotivado acarreta prejuízos à empresa, pois
não produz. O mercado de trabalho traz exemplos de pessoas com deficiência
que por sentirem-se desvalorizadas, pediram demissão de seus empregos ou
52
entraram em licenças médicas por desenvolverem quadro depressivo. São
surdos que se demitem por não haver em algumas empresas intérpretes de
LIBRAS, o que dificulta a comunicação e o inter-relacionamento entre todos os
funcionários, cegos que não encontram equipamentos adequados a sua
deficiência, ficando por vezes na ociosidade, cadeirantes que encontram como
única adaptação nas empresas rampas de acesso, faltando portas largas,
banheiros adaptados.
Ribeiro (2010) ressalta que “O elemento humano nas organizações não
se restringe a um colaborador, mas, alguém com sentimentos, percepções,
opiniões próprias. Da motivação desses aspectos, depende a satisfação dos
profissionais dentro da empresa”. (p.42)
Visando essa desmotivação, principalmente com relação à pessoa com
deficiência, o pedagogo através de uma postura não coercitiva poderá
desenvolver um planejamento de conscientização dos gestores e demais
funcionários elaborando estratégias para divulgação dos valores e capacidades
dessas pessoas.
Para aqueles funcionários com deficiência que receberão das empresas
curso de capacitação profissional é preciso atenção do pedagogo e
profissionais da área de Recursos Humanos sobre alguns aspectos ao se
planejar um curso específico a este público, deve ser considerado o contexto
de vida dessas pessoas, tendo em vista possuírem parâmetros diferentes, sua
realidade e história pessoal também deverão ser observados no momento de
oferecer uma oportunidade através de novos conhecimentos e habilidades. Por
isso, o pedagogo, como responsável por este processo deverá atentar as
alterações na metodologia, inserção de conteúdos e mudanças no percurso.
3.4 – As adaptações nas empresas e a mediação do pedagogo
A acessibilidade é fator decisivo de uma empresa que possui em seu
quadro funcional ou deseja possuir uma pessoa com deficiência.
53
É certo que o pedagogo não é um especialista da arquitetura ou
engenharia, entretanto, através de seu ato educativo, do caráter humanizador,
o pedagogo, constituí-se elemento fundamental para mobilizar gestores, setor
financeiro e a alta liderança para implantar as alterações arquitetônicas,
tecnológicas e demais alterações que garantam o acesso e mobilidade dos
funcionários com deficiência, bem como, garantir o exercício da função sem
obstáculos que o limitem. (Fig. 11-16)
Para Schwarz e Haber (2009):
As empresas devem considerar as condições de acessibilidade do ambiente de trabalho nos aspectos ergonômicos, estrutural, de comunicação e tecnológico necessários ao tipo de deficiência física, auditiva, intelectual e visual dos colaboradores admitidos, dando-lhes condições de mobilidade, favorecendo sua autonomia e assegurando sua participação no ambiente de trabalho. (p. 187)
O pedagogo auxiliando os gestores a suprir sua falta de conhecimento a
respeito das pessoas com deficiência deve utilizar estratégias como
instrumentos de inclusão.
Uma maneira de demonstrar a necessidade de adaptação dos espaços
no ambiente de trabalho seria a promoção de uma dinâmica entre gestores e
demais funcionários sem deficiência onde pudessem ter a oportunidade de
experimentar algumas limitações que passa a pessoa com deficiência quando
não encontra acessibilidade em determinados locais.
A proposta então seria dispor de cadeiras de rodas, bengalas
canadenenses, muletas, vendas para os olhos, andadores, fones para limitar a
audição. Com esses equipamentos distribuídos entre os participantes, estes
devem movimentar-se pela empresa em locais diferentes de suas
acomodações habituais, percebendo assim, por experiência, a sensação de
impotência vivida pela pessoa com deficiência quando não há acessibilidade.
54
Este trabalho desenvolvido pelo pedagogo auxiliado pela equipe de
recursos humanos não apenas sensibiliza para a necessidade do outro, como
também agrega valores a vida dos participantes.
O desafio do pedagogo é fazer com que este mundo corporativo, faça
um esforço e saia de sua zona de conforto para alterar dinâmicas pré-
estabelecidas pela cultura interna das empresas. Pois, este processo de
inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, é muito complexo.
Investir em ajudas técnicas para a adequação dos postos de trabalho, é
compensar uma ou mais limitações funcionais, físicas, motoras etc.
Schwarz e Haber (2009) entendem que:
As principais dificuldades de uma pessoa com deficiência estão relacionadas à mobilidade e locomoção. Adequar a estrutura física e arquitetônica com adaptações que facilitem o ir e vir e o uso seguro de todos os ambientes da empresa pelo deficiente (sic) promoverá sua participação nas atividades e o cumprimento das funções profissionais. (p. 190)
A postura do pedagogo como educador, neste contexto, sempre estará
voltada ao seu caráter formador. Para Paulo Freire (1996) “homes e mulheres,
seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de
intervir. De escolher, de romper (...)” (p. 33)
Assim como Paulo Freire valorizava a história pessoal de cada um, suas
experiências, seus universos. O pedagogo comprometido com a inclusão da
pessoa com deficiência neste ambiente empresarial, também deve considerar
suas individualidades e cultura interna das empresas. O pedagogo dever
reconhecer-se como aquele que não transfere conhecimentos, mas que educa,
que forma e transforma ambientes. Confirmando o pensamento Freiniano que
diz que: “(...) ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para a sua própria produção ou sua construção.” (p. 47)
O pedagogo é o profissional sensível as mudanças, conhecedor de que
a melhor forma de aprendizagem se dá através do convívio entre as
diferenças, que através de sua prática educativa, com caráter de
intencionalidade, pode atuar de forma a promover mudanças em ambientes,
55
concordando com Libâneo (2010): “A aprendizagem é um processo interativo
em que sujeitos constroem seus conhecimentos através da sua interação com
o meio, numa inter-relação constante entre fatos internos e externos”. (p.77)
A inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho precisa
ser vista como uma conquista e não como uma concessão ou favor vindo do
governo, ou das empresas. As pessoas precisam conhecer entender e
compreender saber sobre a pessoa com deficiência.
As implicações da exclusão social na vida da pessoa com deficiência
são impactantes. A preocupação com a inclusão da pessoa com deficiência no
mercado de trabalho é algo real e necessário. É o pedagogo, o profissional
qualificado e capacitado a lidar com os diferentes conflitos e interesses
diversos que norteiam as relações interpessoais que envolvem este tema,
através do exercício de sua profissão pode o pedagogo auxiliar na minimização
das dificuldades decorrentes do processo de inclusão fundamentada em
valores humanos e pautada em reflexões morais, ainda deixadas de lado pela
sociedade atual.
56
CONCLUSÃO
Através do estudo apresentado foi possível perceber que houve um
grande avanço na questão da visão da sociedade com relação à pessoa com
deficiência, o tratamento recebido por estes ao longo da história. A criação de
Decretos, leis e estatutos garantindo seus direitos. Entretanto, a prática da
inclusão está longe de ser a estabelecida pelas leis, ainda há muito que fazer
para que a pessoa com deficiência sinta-se integrante da sociedade na qual
está inserida. O mercado de trabalho é o exemplo mais forte da exclusão,
sempre requerendo funcionários capacitados, qualificados. Pessoas com
deficiências são contratadas sem nenhum levantamento prévio dos cargos e
funções a serem exercidos por estes, são inseridos no mercado de trabalho
por força da lei que obrigam empresários e órgãos públicos a terem uma
reserva de vagas destinadas a esta parcela da população, assim, suas
habilidades e competências são ignoradas, suas limitações desrespeitadas,
ocasionando frustração em ambas as partes, ou seja, tanto do empregador
quanto do empregado.
O título: “A importância do pedagogo no processo de inclusão da pessoa
com deficiência no mercado de trabalho” é uma proposta que tem a intenção
de comprovar que o pedagogo possui habilidades, um olhar sensível, que pode
conscientizar gestores, empresários a investirem em adaptações tecnológicas,
ergonômicas, nas estruturas dos prédios para melhor adaptação da pessoa
com deficiência no mercado de trabalho, podendo assim desenvolver melhor,
de maneira eficaz seu trabalho, sendo produtivo para a empresa e a si próprio,
e tornar o ambiente não só empresarial, mas, as pessoas de maneira geral, em
cidadãos melhores.
Este trabalho traz informações importantes que podem contribuir para o
rompimento do padrão de exclusão e limitações impostas por uma sociedade
ignorante e preconceituosa para com a pessoa com deficiência.
Finalizo minha pesquisa acadêmica certa de que, como uma pessoa
com deficiência que sou que viveu experiências diversas em processos de
recrutamento e seleção para a inclusão no mercado de trabalho, enxerga no
pedagogo o investigador, que sabe que a educação não é imutável, que ela
está relacionada ao seu caráter social determinado, como valores, poder
político etc. Pode através de uma atuação mediadora de saberes e modos de
ação promover a educação intencional, tendo a percepção da influência do
meio social sobre o desenvolvimento dos indivíduos, tornando possível a
conscientização da importância da inclusão social, destacando o respeito pelo
outro, suas individualidades.
58
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Figura 1 Ilustra uma guerra e seus sobreviventes – possível causa
para deficiências em tempos remotos
Anexo 2 >> Figuras 2 e 3 - Desrespeito às pessoas com Deficiência; Anexo 3 >> Figura 4 – Símbolos das Deficiências Anexo 4 >> Figuras 5 e 6 – Transporte Público e a PcD Anexo 5 >> Figuras de 7 a 10 – Barreiras Arquitetônicas Anexo 6 >> Figuras 11 a 16 – Derrubando Obstáculos Para a Inclusão
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ANEXO 1
Ilustração de uma guerra e seus sobreviventes – possível causa para deficiências em
tempos remotos
60
ANEXO 2
Desrespeito Á Pessoa Com Deficiência
61
ANEXO 3 Símbolos das Deficiências
Símbolo da deficiência Intelectual
Símbolo da Paralisia Cerebral
Símbolo Universal da Acessibilidade
Símbolo da Cegueira
Símbolo da Surdez
62
ANEXO 4
Transporte Público e a PcD
63
ANEXO 5
Barreiras Arquitetônicas
64
ANEXO 6
Derrubando Obstáculos Para a Inclusão
Figura 11 – Teclado reposicionado para adaptação com pé
Figura 12 – Aste fixada na cabeça para digitação
65
Figura 13 – Estabilizador de punho e adutor de polegar
Figura 14 – Máscara de Teclado
66
Adaptador para lápis e canetas
Figura 15 - Para que a inclusão da pessoa com deficiência audit iva aconteça no mercado de trabalho, énecessário um curs o de Libras aos demais funcionários e gestores da empresa, que des eja a inclusão.
67
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BÍBLIA. Português. Bíblia de Referência Thompson: com versículos em cadeia temática. Tradução de João Ferreira de Almeida. Derfield, Flórida – E.U.A: Editora Vida, 1992. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? 33 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. (Coleção Primeiros Passos) BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado Federal, 1988. ______. Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000. Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 9 nov. 2000. ______. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF. 21 dez. 1999. ______. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF. 25 out. 1989. ______. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF. 25 jul. 1991.
CISZEWSKI, Ana Claudia Vieira de Oliveira. O Trabalho da Pessoa com Deficiência. São Paulo: LTr, 2005. FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos. A Ação de Recursos humanos e a Inclusão de Pessoas com Deficiência. São Paulo: FEBRABAN, 2006. (Coleção FEBRABAN de Inclusão Social) FIGUEIRA, Emílio. Caminhando em Silêncio: uma introdução à trajetória das pessoas com deficiência na história do Brasil. 2.ed. São Paulo: Giz Editora, 2009. FILHO, Teófilo Alves Galvão; DAMASCENO, Luciana Lopes. Tecnologias Assistivas para a Autonomia do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais. Inclusão – Revista da Educação Especial. Brasília: Secretaria de Educação Especial, Ano 2, nº2, 2006. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. (Coleção Leitura) GIL, Marta. O que as Empresas Podem Fazer pela Inclusão das Pessoas com Deficiência. São Paulo: Instituto Ethos, 2002. HOLANDA, Aurélio Buarque. Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 8 ed. São Paulo: Positivo Editora, 2010. JUNIOR, Roberto Bolonhini. Portadores de Necessidades Especiais: as principais prerrogativas dos portadores de necessidades especiais e a legislação brasileira. São Paulo: Arx, 2004. LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos Para Quê?. 12.ed. São Paulo: Cortez Editora, 2010. LONDRES. Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. Resolução aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 9 de dezembro de 1975. NAMBU, Tais Suemi. Construindo um Mercado de Trabalho Inclusivo: guia prático para profissionais de recursos humanos. 18.ed. Brasília: CORDE, 2003.
69
PÚBLIO, Rafael Abílio ET al. Sem Barreiras: inclusão profissional de pessoas com deficiências. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. PLANCHARD, Émile. A Pedagogia Contemporânea. Coimbra: Coimbra Editora, 1975. RIBEIRO, Amélia Escotto do Amaral. Pedagogia Empresarial: atuação do pedagogo na empresa. 6.ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. ______. Temas Atuais em Pedagogia Empresarial: aprender para ser competitivo. 3.ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. SCHWARZ, Andrea; HABER, Jaques. Cotas: como vencer os desafios da contratação de pessoas com deficiência. São Paulo: ISocial, 2009. SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia Sobre Deficiência na era da Inclusão. Revista Nacional de Reabilitação, ano 5, n 24. São Paulo, 2002. SAVIANI, Dermeval. A Pedagogia no Brasil: História e Teoria. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. (Coleção Memória da Educação) SILVA, Otto Marques da. Epopéia Ignorada. São Paulo: Editora Faster, 2008. CD-ROM. RIBAS, João B. Cintra. O que São Pessoas Deficientes?. 8. Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003. (Coleção Primeiros Passos)
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A PESSOA COM DEFICIÊNCIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA 10
1.1 – A Pessoa com Deficiência na história Mundial 11
1.2 – A Pessoa com Deficiência no Brasil 16
1.3 – Definições atribuídas às pessoas com deficiência ao longo da história
21
CAPÍTULO II
A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO 28
2.1 – A Constituição Federal 29
2.2 – A Lei de Cotas 33
2.3 – A Falta de Qualificação/Oportunidades 38
2.4 – A Dificuldade de Locomoção 40
CAPÍTULO III
O PAPEL DO PEDAGOGO NAS EMPRESAS NO PROCESSO DE INCLUSÃO
DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 43
3.1 – O Pedagogo e a Inclusão Social 43
3.2 – Processos de Recrutamento e Seleção que atendam a capacidade
profissional e limitações das pessoas com deficiência 48
3.3 – Conscientização das pessoas sem deficiência com relação ao potencial
das pessoas com deficiência 51
3.4 – As Adaptações nas empresas e a mediação do pedagogo 52
71
CONCLUSÃO 56
ANEXOS 58
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 67
ÍNDICE 70
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