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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
O CÉREBRO E A ANSIEDADE NA ALFABETIZAÇÃO
Cynthia dos Santos Marques
ORIENTADOR: Prof. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro 2017
DOCUMENTO P
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EITO A
UTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Cynthia dos Santos Marques
ANSIEDADE E ALFABETIZAÇÃO
Rio de Janeiro 2017
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Domingos e Vera Lúcia, minha
base, minha força maior!
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais, Domingos e Vera Lúcia,
que sempre me incentivaram a continuar
buscando maiores informações sobre a minha
área de atuação.
5
RESUMO
Este resumo tem por objetivo apresentar como
acontece a aprendizagem nos seres humanos e como, o
cérebro atua durante o processo de alfabetização,
principalmente quando sofre a influência da ansiedade
nesse período.
O processo de aquisição da leitura e escrita é
complexo e permite fazer uma reflexão de como isso ocorre
no cérebro, pois isso compreende um conjunto de várias
adaptações do sistema nervoso.
Ao longo desse período, surgem dificuldades de
aprendizagem que dificultam a aquisição da leitura e escrita
e que necessitam de atenção por parte dos profissionais
que atuam ao lado da criança.
A emoção é fator fundamental para a cognição e
aprendizagem; por conseguinte, a ansiedade ocorre
associada ao medo, a frustração e angústia. É preciso
entender como o cérebro age e reage durante essa fase,
para que a escola seja capaz de reverter esse quadro
negativo, criado no emocional do aluno.
Palavras- chave: alfabetização – cérebro –
aprendizagem – ansiedade
6
METODOLOGIA
O presente estudo tem como objetivo a reflexão
sobre a influência da ansiedade nas crianças, durante o
período de Alfabetização; a importância de entender como
os seres humanos aprendem; as dificuldades de
aprendizagem em leitura e escrita, desenvolvidas pelos
alunos e encontradas durante esse processo e, como a
escola pode, atualmente, através da Neurociência
Pedagógica, minimizar essas questões.
O referido trabalho foi realizado através de uma
abordagem qualitativa, a partir de pesquisas bibliográficas
de alguns autores conhecidos como Marta Relvas Pires,
Antônio Damásio, Gilda Rizzo, Magda Soares, Lou de
Olivier e outros, tomando como referência a produção
teórica desses estudiosos de Psicologia, Pedagogia e
Neurociência; pesquisas nas mais variadas mídias e
internet também foram feitas, visando como resultado
entender como o processo de alfabetização se concretiza e
como o cérebro atua durante a aquisição dessa
aprendizagem, sobre a influência da ansiedade.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I: Aprendizagem 10
1.1 – A construção da Aprendizagem 1.2 – Concepções acerca das dificuldades de aprendizagem
CAPÍTULO II: A Alfabetização 18
2.1 – Alfabetização e Letramento 2.1 – As dificuldades no processo de Leitura e Escrita
CAPÍTULO III: Os processos cognitivos relacionados à Ansiedade no
período da Alfabetização 27
3.1 – Escola, um “estimulador neural”
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA 35
ÍNDICE 36
8
INTRODUÇÃO
É fato que as dificuldades de aprendizagem, não possuem uma só
causa ou fator desencadeante e, em conseqüência, tem vários tipos e
características. As dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita devem
ser consideradas como formas do fracasso escolar em geral.
É possível que a razão pela qual as crianças se esforçam pouco em
suas tarefas seja as dúvidas que têm sobre suas habilidades. Muitas crianças
com dificuldades de aprendizagem apresentam frustrações e baixas
expectativas de realização, desenvolvendo uma baixa auto-estima. Como
conseqüência, produzem uma redução da motivação, gerando sentimentos
negativos sobre si mesmos.
A natureza da dificuldade, tanto na leitura, quanto na escrita, ocorre a
partir de uma interação entre os fatores sociais, educacionais e individuais.
Cabe mencionar dois aspectos distintos: as importantes diferenças individuais
que facilitam a aquisição de certas matérias e, as diferenças na capacidade
para responder emocionalmente a situações de esforço e de tensão.
A questão da alfabetização e suas dificuldades é extremamente
complexa. A aprendizagem da leitura e da escrita é uma atividade muito
aguardada e desejada, e os distúrbios nessa aquisição necessitam ser
considerados dentro de uma abordagem psicopedagógica mais abrangente.
Conforme RELVAS (2015),
“A criança quando vai à escola geralmente é um misto de alegria e ansiedade.”
Ansiedade esta, que pode causar uma angústia ou, até mesmo, uma
fobia escolar. Talvez existam crianças muito ansiosas, que consigam
apresentar um rendimento inferior ao esperado, como o de ter grandes
dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita.
No primeiro capítulo, abordou-se a construção da aprendizagem e as
dificuldades durante sua aquisição.
No segundo capítulo, encontra-se a conceituação e a diferenciação
quanto ao processo de leitura e escrita.
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No terceiro capítulo, são apresentadas fundamentações teóricas
referentes à ansiedade, sendo considerados os processos cognitivos e a
relação direta entre ansiedade e o processo de alfabetização.
No quarto e último capítulo, aborda-se a importância da neurociência
pedagógica no processo de aprendizagem. A influência de um ambiente rico
em estímulos, principalmente durante o processo de alfabetização, favorece a
consolidação da aprendizagem, permitindo ao indivíduo construir os
comportamentos necessários para sua sobrevivência.
10
CAPÍTULO I
APRENDIZAGEM
A Aprendizagem é um complexo processo pelo qual o indivíduo adquire
saberes, conhecimentos, valores, comportamentos e habilidades através de
experiências, de ensinamentos e do estudo. O cérebro aprende por tentativa e
erro, aprende-se na medida em que experimenta-se e faz-se novas
associações. Nas áreas de Psicologia e Pedagogia existem inúmeras teorias
sobre a aprendizagem que a definem de diferentes formas e que buscam fazer
do processo de aprender algo mais eficaz e eficiente.
Segundo CAMPOS (2016):
“A aprendizagem é o processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do
ambiente, ativando sinapses e tornando-as mais claras, formando, desse modo,
circuitos que processam as informações e com capacidade de armazenamento
molecular.”
Tudo o que acontece na vida, de uma forma ou de outra, pode agregar
algum conhecimento e nesse sentido constituir-se em aprendizagem, pois
esses acontecimentos constituem-se de experiências que, através de
observações, na medida em que aumenta-se o grau de conhecimento,
permitem fazer relações cognitivas cada vez mais ricas e complexas.
Em geral, a aprendizagem sempre apresenta uma mudança na
conduta de uma pessoa, uma nova percepção. Consistindo sempre numa nova
informação adquirida e que vem a somar no seu processo cognitivo.
1.1. Construção da Aprendizagem
Durante muito tempo o foco da educação esteve voltado para o ensino
mecânico e direcionado a um grupo homogêneo de alunos, sem dar a devida
atenção à especificidade, individualidade e a forma com que cada um aprende.
As informações eram transmitidas pelo professor, em que os alunos as
recebiam e aceitavam sem qualquer questionamento; porém, essas
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informações eram perdidas, sem ser assimiladas, uma vez que os alunos não
conseguiam relacioná-las às vivências ou conhecimentos anteriores.
O teórico Alexandre Luria, como tantos outros teóricos, não acreditava
na ideia do aluno ser uma tábula rasa, como Jonh Locke acreditava que todos
os sujeitos eram.
“Quando uma criança entra na escola, ela não é uma tabula rasa que possa ser
moldada pelo professor segundo a forma que ele preferir.” (LURIA, 1929, P.101)
Dessa forma, o meio no qual o sujeito está inserido o influencia; ou
seja, ao entrar no mundo escolar, já possui suas ideias e até mesmo uma
escrita formada.
De acordo com RELVAS (2014),
“Para que ocorra a aprendizagem, o aluno depende de alguns fatores, como
interesse, estímulo e principalmente atenção.”
Os fatores que mais influenciam no aprendizado são: EXPERIÊNCIA
(ter muitas vivências, explorar diversos materiais, locais, interagir com diversas
pessoas de diferentes contextos), PRÁTICA (métodos adequados para cada
indivíduo), dedicar a ATENÇÃO (para aquilo que se está fazendo, não há como
fazer duas coisas ao mesmo tempo, pois nosso foco fica alternando) e o
principal é a MOTIVAÇÃO (se o indivíduo não tiver interesse, poderá até
praticar, mas o resultado não será tão eficiente).
Todos os alunos são capazes de aprender, mas aprendem de maneiras
diferentes. O processo de aprendizagem não acontece da mesma forma em
cada indivíduo, pois cada um tem seu ritmo e suas habilidades. Por isso, é
importante a utilização de diversos métodos de ensino, de acordo com a
necessidade individual de cada um. A aprendizagem ocorre em momentos e
em etapas diferentes, dependendo dos estímulos utilizados.
Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre uma ou
mais pessoas; o desenvolvimento é pensado como um processo, onde estão
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presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida pela
sociedade em que vivem e as relações sociais que permitem a aprendizagem.
É a aprendizagem se torna um fator de desenvolvimento da criança.
Ninguém produz nada como espectador passivo, pois aprender é um
desafio pessoal e intransferível, que resulta na mudança de um comportamento
por meio da experiência, da aquisição de conhecimentos e da capacidade de
armazenar as informações obtidas (memória).
A Aprendizagem é um complexo processo pelo qual o cérebro reage
aos estímulos do ambiente, e ativa suas sinapses (ligações entre os neurônios
por onde passam os estímulos), tornando-as mais fortes e rápidas.
A cada estímulo, cada repetição de comportamento, torna-se
consolidado, pelas memórias de curto e longo prazo, onde as informações, que
guardadas em regiões apropriadas, serão resgatadas para novos
aprendizados.
O cérebro e suas regiões, lobos, sulcos, etc. ;possuem cada um sua
função e importância no processo da aprendizagem, onde cada área necessita
e interage com o desempenho na consolidação das memórias, com o sistema
límbico, responsável pelas emoções, possibilitando desvendar os mistérios
que envolvem o cérebro.
A Aprendizagem pode ser Motora, Cognitiva ou Afetiva (Emocional). A
emoção interfere no processo de retenção das informações; para isso, é
preciso motivação para aprender, ter um objetivo, um foco (concentração
produzida pela mente).
O cérebro se modifica em contato com o meio durante toda a vida e
existem fatores influenciadores da aprendizagem, como: Sensação (impressão
a partir dos órgãos dos sentidos), Percepção (é uma interpretação da realidade
e cada indivíduo tem a sua, dependendo da vida de cada um), Atenção
(precede a percepção, pois é um componente básico para o indivíduo
perceber), Memorização (é a influência de experiências anteriores do indivíduo
em relação às situações) e Motivação (significado que a informação recebida
tem para cada um).
Segundo REBELLO (2016):
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“Pensar em aprendizagem é vislumbrar que tal conceito tem início no período
gestacional e ocorrerá ao longo de nossas vidas.”
Ou seja, pensar em aprendizagem é compreender que esse processo
acontece de forma natural e que todos os dias ocorrem diversos aprendizados,
a partir das experiências e vivências individuais.
Para Ausubel (1918- 2008), a aprendizagem precisa ser significativa; ou
seja, os conhecimentos prévios dos alunos precisam ser valorizados, para que
possam construir estruturas mentais, como meio para descobrir e redescobrir
outros conhecimentos, acontecendo assim, uma aprendizagem prazerosa e
realmente eficaz para o indivíduo.
Nutrir essas células nervosas com informações diversificadas (visual,
tátil e etc) eleva a capacidade de fazer mais conexões no cérebro, aumentando
a agilidade da mente e, portanto, a capacidade de aprender.
1.2. Concepções acerca das dificuldades de aprendizagem
Quando se pensa em dificuldades de aprendizagem, vem a mente
uma incapacidade que o indivíduo apresenta para realizar uma
determinada tarefa. Alguns estudiosos enfatizam os aspectos afetivos,
outros os aspectos perceptivos e, uma grande maioria, justifica essa
dificuldade como uma imaturidade funcional do sistema nervoso. A
verdade, é que não existe uma única causa que determine uma
dificuldade de aprendizagem, é uma conjugação de fatores.
É necessário focar em três pontos distintos: escola, alunos e
família, pois um não funciona sem o outro. A parceria entre eles, é
fundamental para o bom desenvolvimento do aluno no ambiente escolar.
Muitas famílias criam grandes expectativas em relação ao resultado
acadêmico de seus filhos, buscando sempre boas notas. Quando esse
resultado, tão esperado, não é atingido, essas famílias nem sempre são
capazes de perceber que existe uma dificuldade de aprendizagem; quase
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sempre, esse aluno é rotulado como indisciplinado, teimoso, preguiçoso e
desatento.
Todo trabalho escolar de uma criança deve ser investigado
precocemente, pois a identificação de qualquer dificuldade de
aprendizagem por parte desse aluno, será muito importante para atendê-
lo melhor e de maneira correta, respeitando seu ritmo, mas oferecendo-
lhe oportunidades adequadas para suas necessidades.
Ainda hoje, a aquisição do conteúdo é mais importante do que
qualquer outra especificidade ou habilidade que os alunos tenham a
apresentar. Dessa forma, surgem com freqüência alunos, que em sua
vida social criam mecanismos de defesa para amenizar sua dificuldade de
aprendizagem. Tornam-se indisciplinados e desinteressados pelas
questões escolares. Com isso, passam a ser também, excluídos do meio
social em que vivem, se isolando cada vez mais no mundo da imaginação
e construindo um mundo só deles.
Alguns professores não se reconhecem no sucesso ou no
“fracasso” de seus alunos, pois acreditam que o bom aluno é fruto
unicamente de um bom suporte familiar e de atributos pessoais. Tal
pensamento, leva o professor a ter uma baixa expectativa sobre os alunos
com dificuldades de aprendizagem, sendo extremamente pessimistas,
criticando e pouco interagindo com esses mesmos alunos. O diferente, o
que não aprende na mesma velocidade e ritmo, causa inquietação. Como
resultado, o professor nomeia, diagnostica e rotula esse aluno.
Cada aluno aprende de forma diferente porque cada pessoa é
única e com múltiplos talentos. Dessa forma, qualquer pessoa é capaz de
aprender, possuindo um tempo e um ritmo específicos. É preciso saber
valorizar, entender e respeitar as diferenças existentes. Não estamos
criando máquinas e toda dificuldade, por maior que seja, pode ser
superada. O segredo está no modo como essas questões são
trabalhadas.
De acordo com Relvas (2014)
“No olhar neurocientífico, os atrasados não existem.”
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Aprender é algo único e deve-se valorizar todas as potencialidades
dos alunos, trabalhando com a Paciência Pedagógica, observando que
cada pessoa possui momentos diferentes de aprendizagem.
Levando em consideração, “a capacidade do sistema nervoso central
em modificar sua organização estrutural própria e de funcionamento em resposta
a condições mutantes, aprendizados e a estímulos repetidos.” (FERREIRA,
2009, P.56), é possível perceber que todas as pessoas possuem a
possibilidade de aprender, pois o cérebro humano desenvolve a
capacidade de obter novas informações, ampliando e ativando novas
sinapses, tornando o cérebro cada vez mais ativo.
Atualmente já se sabe, por meio dos resultados das pesquisas
científicas, que embora o cérebro seja incapaz de se regenerar ele possui
uma capacidade de se reorganizar, ou seja, de se adaptar, de modificar o
processamento das informações e que essa capacidade de modificação e
rearranjo das redes neuronais, formam novas sinapses. Assim, múltiplas
possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis, pois o
cérebro é altamente maleável e com os estímulos adequados, pode-se
modificar a estrutura cerebral, desenvolvendo habilidades.
Segundo HOUZEL (2007):
“O que nós sabemos, no entanto, é que mesmo que o cérebro não consiga reconstruir o tecido afetado, o tecido que ele perdeu, ele é capaz de usar
o que sobrou e modificar a maneira como essas regiões restantes do cérebro são usadas. A reorganização funcional do cérebro acontece quando existe
demanda, quando nós insistimos em resolvermos um problema.”
A aprendizagem modifica o sistema nervoso central, e isso, faz
pensar em plasticidade cerebral, que é um processo adaptativo dando ao
indivíduo possibilidades de aprender, mesmo frente às novas situações
ambientais. O Ideal é que desde a infância haja uma grande estimulação
da aprendizagem, onde as informações devem atender ao interesse de
quem as procura.
A descoberta da Neuroplasticidade ou Plasticidade Cerebral, fez
perceber a capacidade plástica do cérebro, da sua maleabilidade em se
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adpatar às experiências, havendo uma conexão neural ampla. O cérebro
das crianças apresenta uma neuroplasticidade mais intensa; porém, o do
adulto também apresenta essa plasticidade, criando novas e corretas
conexões para que ele possa aprender a cada dia mais.
De acordo com RELVAS (2014):
“A plasticidade cerebral é a capacidade que o cérebro tem em se
remodelar em função das experiências do sujeito, reformulando suas conexões
em função das necessidades e dos fatores do meio ambiente.”
Dessa forma, a neuroplasticidade cerebral nunca cessa, pois está
sempre realizando novas conexões, fazendo com que o cérebro
reformule, reorganize e remodele suas conexões, em função das
necessidades e dos fatores do meio ambiente.
As dificuldades de aprendizagem não significam um transtorno de
aprendizagem e não tem origem apenas na criança, podendo ocorrer por
problemas na escola, como: dificuldades com a metodologia utilizada pelo
grande número de alunos ou por problemas com os professores.
Frequentemente, alunos que apresentam sintomas relativos a problemas
de atenção, ansiedade ou agitação desenvolvem os problemas por causa
de algum conflito pessoal e não, por razões de mal funcionamento
fisiológico.
Diante de muitos comportamentos, considerados inadequados pela
escola, os professores estão realizando diagnósticos, como uma forma de
esclarecimento aos pais, dos motivos que levam os alunos a não
aprenderem em sala de aula. Dessa forma, encaminham as crianças para
diversos profissionais da área médica. Com alguma frequência, a escola
interpreta as dificuldades de aprendizagem como uma conseqüência de
um distúrbio orgânico; com isso, a escola se isenta das
responsabilidades, que lhe são cabíveis, e, ainda rotulam essas crianças
como possuidoras de problemas em sua aprendizagem.
17
CAPÍTULO II
A ALFABETIZAÇÃO
Através das descobertas neurocientíficas, cada vez mais os
conhecimentos vão se aprimorando e, dessa forma, contribuindo para o
processo de aprendizagem.
Muito antes de começar a falar, a criança já está apta a utilizar o olhar, a
expressão facial e o gesto para se comunicar com os outros. Apresenta
também, capacidade para discriminar os sons da fala. A aprendizagem da
linguagem se baseia no conhecimento adquirido em relação a objetos, ações e
etc. É o resultado direto da interação entre as capacidades biológicas inatas e
a estimulação externa e vai evoluindo, de acordo com a progressão do
desenvolvimento neuropsicomotor.
No desenvolvimento da linguagem, duas fases podem ser descritas: a
pré-linguística, que são verbalizados apenas fonemas (sem palavras) e que
persiste até os 11-12 anos; e logo depois, a fase lingüística, momento em que
a criança começa a falar palavras isoladas, mas sem compreensão. Este
processo é contínuo e ocorre de forma seqüencial.
O processo de aquisição da linguagem envolve o desenvolvimento de
quatro sistemas: o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da
linguagem num contexto social; o fonológico, que envolve a percepção e a
produção de sons para formar as palavras; o semântico, que respeita as
palavras e os seus significados; e o gramatical, que compreende as regras
sintáticas, combinando palavras em frases compreensíveis.
Segundo RELVAS (2015):
”Aprender a ler e a escrever perpassa pela compreensão humana. A aquisição
desse sistema de comunicação humana é extremamente complexa e envolve todas as
áreas cerebrais, para que se desenvolvam.”
18
Alfabetizar consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como
código de comunicação. É um processo no qual o indivíduo constrói a
capacidade de ler, compreender, escrever textos e operar números.
O aluno precisa encontrar os usos sociais da leitura e da escrita, pois a
alfabetização envolve também, o desenvolvimento de novas formas de
compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral.
A alfabetização de um indivíduo promove a sua socialização, já que
possibilita trocas com outros indivíduos e acesso a bens culturais. A
alfabetização é um fator propulsor para o desenvolvimento da sociedade como
um todo.
Segundo RIZZO (2005):
“O alfabeto atual, que nos permite escrever qualquer palavra conhecida, é o
resultado de longos anos de história da escrita do homem decorrente de sua
necessidade de registrar fatos, ideias e pensamentos.”
Esse processo se iniciou com a pintura das cavernas no período
paleolítico; transformando-se depois, na pictografia (registro de ideias por
desenhos copiados da natureza com realismo); ampliou-se com o
aperfeiçoamento dos desenhos, resultando na criação dos fonogramas (sinais
que representam os sons da língua falada).
O ensino do alfabeto deu origem ao termo ALFABETIZAR. Saber
escrever era sinal de status, e somente classes privilegiadas tinham acesso a
esse conhecimento. No Brasil, esse processo chegou com os padres jesuístas
e se difundiu de Norte a Sul do país, desde o início de sua história.
2.1. Alfabetização e Letramento
De acordo com RELVAS (2014):
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“O processo de aprendizagem é acompanhado por sentimentos, envolvendo o
domínio de conhecimento na forma de fatos, figuras e pensamentos. A emoção ativa a
atenção (o componente primário e mais vital de qualquer ato de aprendizagem ou
processamento da informação), que depois desencadeia a memória de curto prazo e
longo prazo e, eventualmente, torna o processo de aprendizagem possível. Para se ter
aprendizagem, é preciso que ocorra excitação emocional.”
Letrar é mais do que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um
contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do
aluno. Já não basta aprender a ler e a escrever, é necessário mais que isso
para ir além da alfabetização funcional (pessoas que foram alfabetizadas, mas
não sabem fazer o uso da leitura e da escrita).
Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa
“literacy” (considerada como letrado). O letramento,seria o sentido ampliado da
alfabetização. Um indivíduo alfabetizado não é, necessariamente, um indivíduo
letrado.
Uma criança é capaz de começar a falar logo após o seu nascimento,
devido ao seu contato direto com adultos. Porém, para aprender a ler é preciso
uma inclusão social e uma escolarização formal.
Alfabetizado é aquela pessoa que sabe ler e escrever; letrado é aquele
que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas
sociais da leitura e da escrita. O aluno precisa saber fazer uso e envolver-se
nas atividades de leitura e escrita.
Para SOARES (2003):
“É preciso compreender, inserir-se, avaliar,apreciar a escrita e a leitura.
Para entrar no universo do letramento, o aluno precisa apropriar-se do
hábito da leitura, de buscar um jornal, um livro e com esse contato direto com a
leitura, apropriar-se do sistema de escrita.
20
Segundo RELVAS (2014):
“Os conhecimentos são construídos por meio da ação e da interação.
Aprendemos quando nos envolvemos ativamente no processo de produção do
conhecimento...”
Ainda existem pessoas que se preocupam com alfabetização sem se
preocupar com o contexto social em que os alunos estão inseridos. Um ponto
importante para o letramento é perceber que é possível alfabetizar letrando. É
permitir que os alunos vivenciem a prática social da leitura. O conhecimento
das letras é apenas um meio para o letramento, que é o uso social da leitura e
da escrita.
De acordo com SOARES (2003):
“Não adianta simplesmente letrar quem não tem o que ler nem o que escrever.
Precisamos dar as possibilidades de letramento. Isso é importante, inclusive, para a
criação do sentimento de cidadania nos alunos”.
Cada professor é responsável pelo letramento em sua área de atuação,
é um trabalho em conjunto de todas as disciplinas. Para formar cidadãos
atuantes, é preciso conhecer a importância da informação. Essa inclusão
começa muito antes da alfabetização, quando a criança começa a interagir
socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social. O letramento
é cultural, por isso muitas crianças já chegam à escola com o conhecimento
alcançado de maneira informal absorvido no seu cotidiano.
Ao conhecer a importância do letramento, deixa-se de exercitar o
aprendizado automático e repetitivo, baseado na descontextualização.
2.2. As dificuldades no processo de leitura e escrita
Basicamente as dificuldades de leitura e escrita são apresentadas em
função de uma situação orgânica ou psicológica que envolve a memorização, o
armazenamento de informações por parte da criança.
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Como destacou RELVAS (2015):
“É na sala de aula que o professor realiza suas tarefas cognitivas com seus
aprendentes, mas também “escuta” seus parceiros e, por conseguinte, surgem laços
que poderão afetar todas as partes envolvidas na aprendizagem.”
Pode-se considerar as dificuldades de aprendizagem em leitura e
escrita, relacionadas às causas pedagógicas, ou seja, quando técnicas,
métodos e ações educacionais não são condizentes com o potencial de cada
aluno. Esse quadro vai se acumulando e o aluno fica sem adquirir os
conhecimentos básicos, onde sem eles, não é possível acompanhar as
atividades e os conteúdos escolares, pois a sequência didática já se perdeu
durante esse caminho e, sozinhos, esses alunos não são capazes de fazer o
resgate e o acompanhamento desses saberes.
Para RELVAS (2015):
“A boa leitura e a escrita dependem de bons olhos, bons ouvidos, bom cérebro
e boa cultura.”
Ao longo dos anos, com o estudo do cérebro humano, constatou-se que
a aprendizagem da leitura e escrita, depende do amadurecimento
neurofisiológico das células, assim como seu lado emocional e social. Os seres
humanos aprendem três tipos de sistemas verbais: o auditivo, o visual e o
escrito.
A aquisição da leitura compreende um conjunto de adaptações do
sistema nervoso, pois todo esse processo acontece no cérebro por vários
caminhos sensoriais, que transmitem informações ao sistema nervoso. Tudo
isso depende, também, de estímulos externos.
A leitura é o processo mediante o qual se compreende a linguagem
escrita. Assim como o ouvir e o falar, ler e escrever são atividades de
comunicação. A leitura é essencial na vida de qualquer indivíduo que busca
conhecimento e informação necessários para a compreensão e interpretação
de textos da realidade a qual está inserido e por torná-lo um cidadão
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consciente dos seus direitos e deveres. A leitura tem o poder de despertar,
refletir, criticar e proporcionar saberes.
As dificuldades podem caracterizar-se pela dificuldade de aprendizagem
em algum módulo da leitura, que podem ser: perceptivo (extração da
informação), léxico (conceito associado à unidade lingüística) e e sintático
(estrutura gramatical).
A dificuldade mais conhecida e que vem repercutindo na atualidade é a
Dislexia. Nesse sentido, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), conceitua
como: “Causa genética e hereditária, é um transtorno ou distúrbio neurofuncional, ou
seja, o funcionamento cerebral depende da ativação integrada e simultânea de
diversas redes neuronais para decodificar as informações, no caso, as letras do
alfabeto. Quando isso não acontece adequadamente, há uma desordem no caminho
das informações, dificultando o processo da decodificação das letras, o que pode,
muitas vezes, acarretar o comprometimento da escrita.”
Observa-se uma freqüência, quase que normal, da Dislexia, durante a
aprendizagem da leitura e da escrita. Analisando a origem do grego dis –
dificuldade e lexia – linguagem, entende-se que a dislexia seja uma dificuldade
na aquisição da linguagem.
Levando-se em conta que léxico significa, o conjunto das palavras
usadas em uma língua e/ou idioma, o termo disléxico deve definir o indivíduo
desprovido de capacidade na aquisição desse conjunto de palavras.
Segundo OLIVIER (2011):
“A dislexia é um distúrbio que independe de causas intelectuais, emocionais ou
culturais. Apresenta dificuldade acentuada no processo de leitura e de escrita.”
Pode apresentar também, alterações nos hemisférios cerebrais, fazendo
sobressair o hemisfério direito (da criatividade) em detrimento do esquerdo (do
raciocínio lógico), mas isso não pode ser considerado como uma verdade
única.
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Stanislas Dehane, conta que seu filho de 5 anos ao iniciar a escrita,
começou escrevendo seu nome da direita para a esquerda; fato que lhe causou
grande ansiedade pela preocupação que o menino estivesse apresentando um
quadro de dislexia. A partir desse momento, iniciou suas pesquisas em torno
da letra espelhada.
Para DAHENE (2012):
“Todas passam pelas mesmas dificuldades em discriminar as letras ou
palavras de sua imagem de espelho. [...] Trata-se aí de um comportamento
estritamente normal, que se manifesta em todas as culturas...”
Dehane descobriu, que para os ancestrais, esse espelhamento era uma
função de sobrevivência, pois durante uma ataque, um animal visto pelo lado
direito, poderia ser identificado também, pelo lado esquerdo. Ou seja, o cérebro
pode identificar um tigre, por exemplo, do lado direito, mesmo estando do lado
esquerdo. A simetria do sistema nervoso, em conservação durante a
aprendizagem, apresenta a possibilidade de codificar o objeto no espaço,
independente da sua posição direita/ esquerda.
Com isso, DAHENE (2012) diz:
“Para a aprendizagem da leitura e escrita a criança precisa ultrapassar este
estágio do espelhamento e “desprender” a generalização por simetria, enfim entender
que letras como “d” e “b”, são letras diferentes.”
Os circuitos visuais da criança, possuem uma propriedade para a leitura,
pois simetrizam os objetos. Essa é a razão pela qual todas elas cometem erros
no início de sua aprendizagem, de leitura e de escrita, pois espelham letras. Já
a distinção entre direita e esquerda, começa na via visual dorsal, onde a
criança aprende a traçar os contornos das letras, percebendo a diferença entre
eles. Com o passar do tempo, essa aprendizagem motora é transferida para a
via visual ventral, que reconhece os objetos; dessa forma, a simetria não
acontece mais e a criança adquire conhecimentos visuais sobre a escrita
normal.
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O processo da linguagem é bastante complexo e envolve uma rede de
neurônios distribuída entre diferentes regiões cerebrais. A área cortical dos
seres humanos é bastante extensa e torna-se a responsável por analisar
informações que recebemos, permitindo pensar, conhecer, comunicar e decidir.
A partir do século XIX, a humanidade tomou conhecimento da existência de
duas regiões no cérebro; regiões essas, parte do córtex cerebral.
A primeira fica localizada no lobo frontal do hemisfério esquerdo, e é
conhecida como a área de Broca. Nome este, recebido, após a publicação de
um artigo, pelo médico francês Pierre Paul Broca (1824-1880), com pesquisas
realizadas em pacientes com comprometimento na linguagem, causadas por
lesões no lobo frontal do hemisfério esquerdo. Para verbalizar um pensamento,
é ativada uma representação interna do assunto, que é canalizada para essa
área, na parte inferior do lobo frontal e convertida numa ativação neuronal
necessários à produção da fala. Também estão envolvidas na linguagem áreas
de controle motor e as responsáveis pela memória.
A segunda localiza-se na junção dos lobos temporal e pariental, também
do lado esquerdo e está relacionada com a compreensão da linguagem. Carl
Wernicke (1848-1905),, neurologista alemão, descobriu uma área no lobo
temporal esquerdo,eu reconhece o padrão de sinais auditivos e interpreta-os
até obter pensamentos. Wernicke percebeu, que em caso de lesão nessa área,
causaria um prejuízo na linguagem. O indivíduo seria incapaz de reconhecer
palavras, mesmo que estivesse com a audição inalterada. Após algumas
pesquisas, descobriu-se que essa área fazia conexão com a área de Broca, na
produção e compreensão da fala.
Acredita-se que o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem
em cerca de 90% da população; entretanto, o hemisfério direito participa do
processamento.
O processo de aquisição da linguagem escrita, assim como o da
linguagem oral, envolve diversas regiões cerebrais, entre elas a área parieto-
occipital. Nessa região, o córtex visual primário é o responsável pelo
processamento dos símbolos gráficos, e as áreas do lobo parietal são
25
responsáveis pelas questões visuo-espaciais da grafia. Essas informações
processadas são reconhecidas e decodificadas na área de Wernicke,
responsável pela compreensão da linguagem, e a expressão da linguagem
escrita necessita da ativação do córtex motor primário e da área de Broca. Para
todo este processo ocorrer, é importante que as fibras de associação estejam
intactas.
Alterações nos processos perceptivos da leitura ou nos processos
psicolingüísticos (lexicais, visuais, fonológicos, sintáticos ou semânticos)
podem acarretas dificuldades de leitura e, por conseqüência, dificuldades na
escrita.
É preciso estimular a descoberta e a lógica de seu pensamento na
construção de palavras e textos e na representação de fonemas; oferecer
oportunidades para a escrita leitura espontâneas; explorar constantemente as
diversas funções da escrita (não apenas produção textual mas também cartas
e bilhetes); e explicitar as diferenças entre língua falada e língua escrita. É
fundamental que a criança tenha adequada consciência de que a fala e a
escrita são formas diferentes de expressão da linguagem.
Todas as atividades de estimulação da linguagem escrita devem ser
realizadas de forma lúdica, através de jogos e brincadeiras, para que a criança
sinta prazer em ler e escrever. A leitura de pequenas histórias infantis, a
estimulação de jogos de rimas, que ajudem na consciência fonológica, jogos
com letras e desenhos para a criança ter contato com a forma escrita, leitura de
rótulos e propagandas, fazem toda a diferença durante a aprendizagem.
Não se deve obrigar uma criança a ler um livro, e sim fazê-la ter vontade
de ler e conhecer esse universo, da maneira mais prazerosa possível.
26
CAPÍTULO III
OS PROCESSOS COGNITIVOS RELACIONADOS À
ANSIEDADE NO PERÍODO DA ALFABETIZAÇÃO
Segundo Cury (2013):
“Vivemos numa sociedade urgente, rápida e ansiosa. Nunca as pessoas
tiveram uma mente tão agitada e estressada.”
A complexidade atual da civilização, a rapidez das mudanças e
perdas de valores criam novos conflitos e ansiedade para os indivíduos. Pode-
se perceber que o conceito de ansiedade ainda parece não ter sido
compreendido em sua totalidade, pois apresentam diferentes enfoques, como:
um processo passageiro; uma característica permanente de personalidade e
outras, como traços duradouros da personalidade.
Ansiedade é uma característica biológica do ser humano, que
antecede momentos de perigo, real ou imaginário. Atualmente, a ansiedade é
considerada o mal do século.
De acordo com RELVAS (2014):
“Tudo indica que a aprendizagem está intimamente ligada à afetividade, ao
desejo.”
Atribuir o afeto como suporte ao aprendizado infantil já não é
nenhuma novidade. Piaget, Vygotsky e Wallon já possuíam suas teorias sobre
afetividade/aprendizado e sua importância. Ao passar dos anos, novas teorias,
baseadas no afeto, surgiram, como a Teoria das Inteligências Múltiplas, de
Howard Gardner e a Inteligência Emocional, Daniel Goleman.
Segundo CURY (2000):
27
“A memória não é apenas o armazém de informações e experiências, mas
uma “função psicológica” que deve ser usada como base para a arte de pensar, para a
criatividade e destaca sua importância na formação da inteligência.”
A capacidade de armazenamento de dados, ocorre através da rede
neural, sem a qual, não haverá memória, ou seja, não acontecerá a
aprendizagem.
A memória apresenta uma grande relação com a emoção, pois o
que determina a qualidade da memória é a emoção, é ela que “fixa” na
memória os registros a fatos novos e informações gerando novas emoções
pensamentos. Nesse processo de memória associada a emoção, tem-se como
resultado o aprendizado.
Os estímulos entram pelos receptores sensoriais, passam pelo
hipotálamo, amígdalas (sistema límbico) e caminham para as glândulas. Após
esse processo, retornam para o sistema límbico, vindo do hipotálamo,
aumentando o feedback negativo, a ansiedade.
Durante o processo de alfabetização, quando a criança apresenta
grande expectativa e não é capaz de atingir seus próprios anseios, ela pode
desencadear uma ansiedade, que leve até mesmo a síndrome do pânico,
fazendo com que ele “trave” durante este processo.
O medo é químico e surge dos circuitos cerebrais. Ao sentir-se
ameaçado, o indivíduo acelera o seu metabolismo. Seu corpo lança uma
corrente de hormônios aceleradores da freqüência cardíaca. Dessa forma, o
coração bate mais rápido e mais forte. Não se pode conter uma emoção,
apenas controlá-la ou filtrá-la.
A afetividade constitui o alicerce sobre o qual se constrói o
conhecimento racional. Crianças portadoras de bloqueios afetivos apresentam
também inibições intelectuais, insegurança, falta de interesse pelo mundo
exterior e ansiedade.
Cada criança tem o seu tempo para aprender a ler e escrever. É
preciso perceber seu interesse pelo universo das letras. Estar pronto para a
alfabetização depende do desenvolvimento motor e cognitivo. A orientação
temporal e espacial, conceitos como grosso e fino, em cima e embaixo, largo e
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estreito, são adquiridos antes da leitura e da escrita. Esse desenvolvimento não
depende apenas da maturidade, mas também de estímulos e da interação com
outras pessoas.
A habilidade de segurar um lápis, exige maturação do sistema
nervoso central, mas é algo ensinado. Escrever passa por etapas que
começam com o desenho, depois com a noção da existência das letras e de
suas funções na escrita, até atingir a compreensão de que a escrita representa
os sons da língua.
Esse desenvolvimento normalmente ocorre associado à evolução da
leitura.Inúmeros fatores podem interferir no sucesso da alfabetização, um deles
é ansiedade causada pela aceleração durante esse processo, sem que o
indivíduo esteja pronto.
Na perspectiva de Wallon, sem o vínculo afetivo não há
aprendizagem, já que aprender é um investimento que o indivíduo empreende
e estabelece com seus educadores. A dimensão afetiva é tão importante
quanto a inteligência. Wallon alega que as trocas relacionais da criança com os
outros são essenciais para o seu desenvolvimento.
3.1. Escola, um “estimulador neural”
De acordo com RELVAS (2015):
“O papel educacional deve estar centrado na formação do ser pensante, crítico
e transformador, que desenvolva a capacidade de lidar com os problemas
educacionais e sociais, evitando-se, desta forma, o “empobrecimento da espécie
humana”.”
Ao aprender, as conexões neurais se modificam; com isso, se a
aprendizagem ocorrer em um ambiente que desperte o interesse, que seja
motivador, esse processo acontecerá de maneira significativa para o educando.
O aprendizado acontece muito antes dos alunos freqüentarem uma
educação formal, a escola. Elas aprendem vivenciando situações no dia a dia,
ou seja, é necessário que vivenciem e experimentem sensações concretas. Por
29
meio da percepção, a criança organiza e interpreta o que vivencia. A percepção
é produto das experiências vivenciadas pelos estímulos sensoriais.
Através dos órgãos sensoriais, percebem os estímulos externos,
acontecendo então, a transmissão para o cérebro, através de correntes
elétricas. O processo de aprendizagem ocorre de maneira crescente.
A cognição pode ser entendida como um processo mental de obtenção
de conhecimento por meio dos cinco sentidos, da percepção, da memória,
raciocínio, imaginação e linguagem. A cognição é como o cérebro percebe ou
lembra das informações recebidas. Também é um processo de adaptação ao
meio, considerando as informações já registradas na memória.
De acordo com CAMPOS (2016):
“A motivação e o desempenho escolar se relacionam de uma forma
diretamente proporcional, isto é, quanto mais motivada a criança estiver, melhor será o
seu desempenho e vice-versa. Tudo isso favorece a motivação doa alunos, tornando o
aprendizado mais divertido, e isto possibilita o desenvolvimento de habilidades e
competências como argumentação, criatividade, raciocínio lógico, abstração, dedução
e formulação de hipóteses, que permitem que o aluno trabalhe no seu ritmo, e esse
processo auxilia o desenvolvimento cognitivo da criança.”
A emoção positiva melhora o interesse e a concentração dos alunos;
porém, os educadores precisam saber trabalhar com as emoções, chamadas
negativas, como: medo, vergonha e ansiedade.
É fundamental que o profissional de Educação faça um trabalho
investigativo para descobrir quais as causas da falta de afetividade em sala de
aula, seja ela de forma agressiva, timidez ou ansiedade. O aluno tem facilidade
em aprender, mas não consegue controlar suas emoções. Esse descompasso
gera as dificuldades no aprendizado.
A aprendizagem depende da biologia, da organização e da estrutura
do sistema nervoso para acontecer. Conhecer essas características, fará com
que o professor entenda porque algumas estratégias que utiliza, funcionam ou
não. É importante que os educadores conheçam as estruturas cerebrais para
que consigam adaptar as aulas e as metodologias.
30
Sem a devida atenção aos conteúdos, o aluno não será capaz de
ativar o centro de memória do cérebro, pois o sistema nervoso precisa estar
direcionado à experiência. Se o professor não conseguir ter a atenção do
aluno, as redes neurais não serão ativadas e ele não vai memorizar e nem
armazenar informações. É o estímulo que a criança recebe do meio que fará
com que ela adquira hábitos,atitudes e valores.
É preciso pensar em todos os alunos como seres que estão em
processo de crescimento e que vivenciam a aprendizagem, mesmo com suas
diferenças individuais.
Segundo RELVAS (2014):
“Aprender significa mudar de comportamento, por isso a informação para
ser processada precisa ter coerência para o aluno.”
Um indivíduo poder ter um ou vários estilos de aprendizagem. Deve-
se levar em consideração que os alunos apresentam diferentes formas de
aprender e, cabe a escola, descobrir o estilo de cada aluno.
As intervenções pedagógicas modificam as conexões cerebrais na
plasticidade da aprendizagem cognitiva e emocional, ou seja, o cérebro pode
ser modificado pelas intervenções pedagógicas, pois sabe-se que a
aprendizagem ocorre com a neuroplasticidade ou plasticidade cerebral.
Quando inseridos em sala de aula, esses estímulos resultam na
chamada aprendizagem significativa, tornando o processo mais prazeroso para
o aluno.
Reconhecer que todo o corpo do aluno e toda sua configuração
psicobiológica estão presentes no processo de aprendizagem, fará com que a
escola seja capaz de encontrar estratégias de ensino, diminuindo as
dificuldades de aprendizagem e a insegurança doa alunos, existentes nesse
processo.
Manter a auto-estima elevada dos alunos, é fundamental para o
sucesso do processo ensino-aprendizagem e, principalmente, da alfabetização.
A pessoa que possui uma auto-estima positiva sente-se em condições de
enfrentar os desafios apresentados durante o processo ensino-aprendizagem.
31
Evitar cobranças em excesso, faz com que cada criança siga sua
aprendizagem de maneira a seguir seu próprio ritmo neural.
De acordo com TEIXEIRA (2016, p.79), para as teorias
motivacionais, estimulação pode se referir ao ato de incentivar, impulsionar
alguém para uma ação que vai lhe gerar alegria ou ganho.
Um dos possíveis mediadores de um processo ensino-aprendizagem
voltado para uma aprendizagem efetiva, seria a atividade lúdica, como jogos e
brincadeiras. Diversos jogos e/ou brincadeiras estão diretamente voltados para
o desenvolvimento dos diferentes tipos de linguagem, como a mímica e a fala.
Por ser uma comunicação e expressão, verbal ou não verbal, a linguagem
torna-se uma possibilidade de interação social. A atividade lúdica contribui para
o desenvolvimento da linguagem.
Na alfabetização, a participação em brincadeiras e/ou jogos, é papel
fundamental para a aquisição da leitura e da escrita, pois é uma oportunidade
dos alunos conhecerem novas palavras e assim, desenvolverem um
vocabulário mais amplo.
Ao mesmo tempo, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras, que
enriquecem as possibilidades de comunicação e expressão, permitem um
maior desenvolvimento na socialização das crianças.
Segundo RELVAS (2012):
“O professor, ao estabelecer as estratégias de ensino em relação ao seu
conteúdo em seus planejamentos, deve se sensibilizar que as turmas constituem em
uma biologia cerebral, tal qual uma verdadeira ecologia cognitiva. Afinal, funcionam
em movimentos ininterruptos de transformações intrínsecas e extrínsecas. É preciso
que o professor perceba que, neurofisiologicamente, os alunos estão com os sistemas
dos sentidos biológicos muito estimulados e, por conseguinte, existe um movimento de
conexões nervosas que nunca estancam.”
É função do professor e da escola, ajudar seus alunos a
descobrirem e perceberem sua individualidade, intensificando suas habilidades
e competências, que facilitem sua aprendizagem, tornando o aluno ativo
durante esse processo.
32
Segundo REBELLO (2016):
“O educador precisa se colocar como mediador das aprendizagens.”
O professor precisa conhecer o funcionamento do cérebro e suas
ações cognitivas, para saber o que esperar, como resultado, após o
lançamento de um conteúdo e/ou atividade proposta. A aprendizagem é
produto da modificabilidade após a mediação do educador em sala de aula. O
professor é o colaborador desse processo de ensino-aprendizagem.
O cérebro humano possui cerca de cem bilhões de neurônios, que
se comunicam com outros milhares, fazendo com que ocorra as conexões
neurais. Dessa forma, a aprendizagem, é obtida por meio de estimulação das
sinapses e a intervenção pedagógica, pode ou não, fortalecer essa
aprendizagem.
A estrutura cerebral apresenta crescimento considerável, nos
primeiros anos de vida dos seres humanos, pois é uma fase decisiva para o
bom desenvolvimento do cérebro. Quando ocorrem prejuízos no
desenvolvimento nessa idade, podem ser irremediáveis, comprometendo as
aprendizagens futuras e dificultando o desenvolvimento da pessoa.
O cognitivo e a afetividade estão entrelaçados em todos os
momentos da vida. A escola deve buscar desenvolver o aluno, integralmente,
valorizando todos os aspectos: motor, afetivo, social e cognitivo.
A escola deve oferecer uma grande variedade de experimentações e
vivências para seus alunos, principalmente no período de alfabetização, onde
as crianças estão ávidas por novos conhecimentos e oportunidades, sempre
respeitando as particularidades de cada um.
33
CONCLUSÃO
O processo de alfabetização inicia-se muito antes do ingresso
na educação formal, na escola. Ele desenvolve-se através do contato com o
meio externo e das experiências vivenciadas e experimentadas pelas crianças O cérebro reage aos estímulos recebidos pelo meio, dessa
forma, acontece a aprendizagem. Entender como esse processo funciona, é
fundamental para que o professor, as famílias e os próprios alunos, sejam
capazes de intervir de maneira correta, objetiva e eficaz, observando como a
aquisição dos conhecimentos e a retenção das informações, ocorrem no
cérebro humano.
O aprendizado escolar requer prontidão emocional,
pedagógica, neurobiológica e cognitiva. O meio social em que vivem, também
influenciam na qualidade do aprendizado.
Educar é uma tarefa desafiadora, pois ensinar acarreta
compreender que é preciso fazer uma intervenção social e externa. Ensinar e
formar cidadãos representa uma grande responsabilidade por parte da escola e
dos educadores envolvidos nesse processo.
As crianças são seres biopsicossociais, dessa forma, deve-
se levar em consideração que, mesmo que genética e biologicamente
limitados, pode-se mudar as condições emocionais e do ambiente de
aprendizagem.
Criar em sala de aula um ambiente favorável e estimulador
para a aprendizagem, torna possível a redução da insegurança, do medo e da
ansiedade, existentes nessa fase de alfabetização, oportunizando a criação de
um vínculo afetivo e emocional, importantes para que as crianças sejam
capazes de desenvolverem a atenção, a memória e a retenção das
informações adquiridas.
34
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Geraldo Peçanha. Dificuldades de Aprendizagem em Leitura e Escrita/ Geraldo Peçanha de Almeida; 3ª ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. CURY, Augusto. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado: como e por que a humanidade adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos/ Augusto Cury 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014 DAMÁSIO, Antônio. O erro de Descartes:emoção, razão e o cérebro humano/ Antônio R. Damásio; 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. DEHANE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a capacidade da leitura; Porto Alegre: Penso, 2012. DELDUQUE, Marilza. Neurociência na sala de aula: uma abordagem neurobiológica/organização Marilza Delduque; Rio de Janeiro: Wak editora, 2016. HOUZEL, Suzana. O cérebro nosso de cada dia/Suzana Herculano Houzel.São Paulo: Vieira Lent editora, 2007. KAUFMAN, Ana Maria. Escola, leitura e produção de textos/ Ana Maria Kaufman e Maria Elena Rodriguez; Porto Alegra: Artmed, 1995. OLIVIER, Lou. Distúrbios de aprendizagem de comportamento/Lou de
Olivier. 6ª ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2011.
PIAGET, Jean. Relações entre a afetividade e a inteligência no desenvolvimento mental da criança/ Jean Piaget; Rio de Janeiro: Wak editora, 2014. RAPPAPORT, Clara Regina. Psicologia do desenvolvimento/Clara Regina Rappaport, Wagner da Rocha Fiori, Cláudia Davis; São Paulo: EPU, 1981. RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica/Marta Relvas
Pires; Rio de Janeiro: Wak editora, 2012.
___________________. Que cérebro é esse que chegou à escola? As
bases neurocientíficas da aprendizagem/Carolina Relvas Chaves...[et
al];Marta Pires Relvas (organizadora). 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak Editora,
2014.
35
____________________. Sob o comando do cérebro: entenda como a
Neurociência está no seu dia a dia/Marta Relvas Pires; Rio de Janeiro: Wak
editora, 2014.
RIZZO, Gilda. Alfabetização natural/Gilda Rizzo. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2005.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento/Magda Becker Soares; São
Paulo: Contexto editora, 2003.
VALLE, Luiza Elena. Cérebro e aprendizagem: um jeito diferente de
viver/Luiza Elena L. Ribeiro do Valle. 5ª ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2014.
36
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Aprendizagem 10
1.1. A construção da aprendizagem 10
1.2. Concepções acerca das dificuldades de aprendizagem 13
CAPÍTULO II
A Alfabetização 18
2.1. Alfabetização e letramento 19
2.2. As dificuldades no processo de leitura e escrita 21
CAPÍTULO III
Os processos cognitivos relacionados à Ansiedade no período de
alfabetização 26
3.1. Escola, um “estimulador neural” 29
CONCLUSÃO 34 BIBLIOGRAFIA 35
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