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VI Encontro Regional de Ensino de Biologia da Regional 2 RJ/ES CEFET/RJ, 2012
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EM BUSCA DE UMA PRÁXIS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA:
CONTRIBUIÇÕES DE ALGUNS PESQUISADORES DO BRASIL
Bárbara de Castro Dias,
IFRJ,
barbara.dcd@gmail.com
Alexandre Maia do Bomfim,
IFRJ,
alexmab@uol.com.br
O CONTEXTO DA PESQUISA
Antes da introdução, relacionada a pesquisa acadêmica propriamente dita, faz-se
necessário uma breve caracterização do contexto de desenvolvimento desta proposta de
pesquisa acadêmica, que será desenvolvida como projeto de mestrado do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências, do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ).
Com esta pesquisa pretendemos propor uma retomada da própria trajetória da
educação ambiental no Brasil, em direção aos seus conflitos, campos de disputa e
divergências, baseada em leituras e releituras de suas práticas e teorias. A forma de fazê-lo
será a partir de um levantamento bibliográfico dentro da perspectiva da educação ambiental
crítica, realizando um contraponto com a educação ambiental conservadora. Contaremos
também com entrevistas não diretivas com alguns dos pesquisadores desta vertente crítica, da
educação ambiental no Brasil para uma construção mais sólida de uma práxis dentro desta
vertente.
INTRODUÇÃO
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O conhecimento dirige a prática; no entanto, a prática aumenta o conhecimento (Thomas Fuller)
Guimarães (2007) classifica em duas as vertentes dentro da educação ambiental, a
educação ambiental tradicional (por vezes chamada também de conservadora), que segundo o
mesmo autor defini-se por ser a corrente hegemônica, possuir uma visão mecanicista e
utilitarista da ciência, simplifica os fenômenos complexos da realidade, além de não poder ou
não querer revelar as relações de poder que estruturam a sociedade atual (luta de classes,
relações de gênero, identidade, minorias étnicas e cultuais, relação norte-sul).
Na concepção de Guimarães (2007), esta educação ambiental tradicional, não tem
potencial de alavancar as mudanças necessárias para a superação da atual crise
socioambiental. Ele define então a educação ambiental crítica como contra-hegemônica e
interdisciplinar, que se apropria da teoria da complexidade para análise da crise
socioambiental, além de desvelar as relações de dominação que constituem a atual sociedade.
Sendo esta então, uma proposta que pode e deve fazer um contraponto em relação ao que vem
sendo realizado como o que identificamos como sendo a educação ambiental conservadora.
Desta forma, a educação ambiental crítica traz dentro de sua práxis uma perspectiva de
transformação social, pois em sua análise expõe as causas e não apenas as consequências dos
atuais problemas socioambientais Essa perspectiva crítica não se vale de análises
reducionistas, descortina tendências ideológicas do sistema dominante, visa uma crítica ao
próprio sistema e não apenas aos seus efeitos como, por exemplo, a degradação
socioambiental.
Segundo Guimarães (2007) a proposta de uma educação ambiental crítica, está há pelo
menos 20 anos estruturando sua teoria e prática, com o objetivo de questionar a educação
ambiental conservadora, pouco emancipatória e que vem sendo realizada nas escolas. Em
geral a educação ambiental conservadora é a hegemônica, possui uma visão mecanicista da
ciência, simplifica e reduz a complexidade dos problemas socioambientais e é pautada em
ações comportamentalista, individualizantes e mitigadoras.
De acordo com Loureiro et al (2009) a educação ambiental atualmente, passa por um
momento em que se evidenciam convergências e divergências entre vertentes mais
conservadoras e as mais críticas. Segundo os mesmos autores, esse pode ser um momento
propício para um amadurecimento teórico, metodológico e prático desta temática ambiental.
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A proposta crítica possui como proposta evidenciar “as relações de poder e dominação
que engendram as sociedades contemporâneas, para que, na compreensão/ação política do
processo de constituição da realidade socioambiental, se estabeleça o fazer pedagógico que se
pretende com a educação ambiental” (GUIMARÃES, 2000, p.82).
Um movimento de construção deste fazer pedagógico dentro da proposta crítica, foi
iniciado por Dias e Bomfim (2011) a partir de uma relação entre teoria e a prática, a práxis,
que Freire (1996) define como “a teoria do fazer”, sendo esta a ação-reflexão e reflexão-ação
simultâneas. De acordo com Bomfim (2008) a práxis é “aquilo que incessantemente pretende
fazer a relação teoria e prática, que não somente aceita este movimento, como o estimula e
que busca o novo” (BOMFIM, 2008, p.5).
Em busca de uma “teoria do fazer” da educação ambiental crítica, visamos aprofundar
o campo de discussão com a contribuição das ciências sociais, a partir da teoria crítica
marxista, buscando a re-construção dos discursos relacionados à questão ambiental. Segundo
Mészáros (2011), o sistema do capital utiliza a questão ecológica como condição de controle
social, para nós, esse controle social é evidente nas ações conservadoras de educação
ambiental, desenvolvidas nas escolas.
O nosso objetivo com esta pesquisa acadêmica é a evidenciar quais elementos que
compõe a práxis na educação ambiental, que se propõe crítica. Nossa hipótese de trabalho é
que, teoria e prática, dentro desta proposta, são ainda pouco conhecidas e por esse motivo a
educação ambiental crítica é pouco desenvolvida ou mesmo pouco. Além da busca da práxis,
temos como objetivo maior, proporcionar reflexões sobre como vem se constituindo este
campo da educação ambiental crítica no ensino de ciências no Brasil.
OBJETIVOS GERAIS
Construir a partir de pesquisa bibliográfica e através de entrevistas aos principais
pesquisadores da educação ambiental crítica no Brasil, uma base teórica e prática, desta
vertente em educação ambiental.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Construir uma base teórico-prática relacionada à educação ambiental crítica;
- Escrever um livro com uma síntese das principais pistas de ação-reflexão a proposta
de trabalho em uma educação ambiental crítica;
- Apresentar esse livro a professores da educação básica.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A educação ambiental crítica é tipicamente brasileira, surge da educação popular de
Paulo Freire e da pedagogia crítica, que tem seu ponto de partida na teoria crítica marxista e
neomarxista de interpretação da realidade social. Associa também discussões trazidas pela
ecologia política que insere a dimensão social nas questões ambientais, passando essas a
serem trabalhadas como questões socioambientais.
Desta forma, o referencial teórico que nos dará sustentação, em relação às relações
destrutivas que impõe o sistema do capital sobre o ambiente é o pensamento marxista.
Apoiaremo-nos em autores que vem trabalhando a crítica marxista ao sistema do capital.
Segundo Mészáros “o problema da ecologia é real já há algum tempo, ainda que
evidentemente, por razões inerentes à necessidade do crescimento capitalista, poucos tenham
dado alguma atenção a ele” (2011, p. 988). Desta forma, pretendemos evidenciar que o
“modus operandi” do sistema do capital, está diretamente relacionado aos pretéritos e atuais
problemas socioambientais.
Além da crítica marxista, utilizaremos como suporte a nossa reflexão, autores que
relacionam à crítica marxista a exploração da natureza ao aviltamento dos trabalhadores,
como resultado de uma lógica predatória, das grandes indústrias e da agricultura capitalista.
Propõe Lowy (2005), que inclusive essa relação direta entre a exploração dos proletários e da
natureza possa gerar uma articulação positiva entre a luta de classe e a luta em defesa do
ambiente. Para esse autor é impossível imaginar uma educação ambiental crítica que não
tenha incorporado em seu discurso a crítica marxista da economia e da destruição ambiental,
levada pela acumulação de capital.
Dentro desta perspectiva, Chesnais e Serfati (2003) também defendem um
posicionamento anti-capitalista para a educação ambiental “é impossível dissociar as
destruições ambientais e ecológicas das agressões desfechadas contra as condições de vida
dos proletários urbanos e rurais e de suas famílias” (p, 43).
Como fundamentação teórica, dentro do âmbito da educação ambiental crítica, nossa
discussão dentro da dimensão da educação, norteados pela crítica marxista e pela crítica
marxista relacionada a exploração da natureza, pretenderemos evidenciar que a tendência
crítica, transformadora e emancipatória de educação ambiental, de acordo com Lima (2003) e
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Loureiro (2004), é caracterizada como possuidora de atitude reflexiva diante dos desafios que
nos impõe o sistema do capital.
Lima (2011) ao pesquisar a educação ambiental no Brasil, a partir de sua formação,
identidades e desafios evidencia que uma das “características centrais da educação ambiental
no Brasil está na significativa relação que entrelaça os problemas ambientais e sociais” (p.
35), ambos tem sua origem no modelo de sociedade e desenvolvimento adotado.
METODOLOGIA
A pesquisa visa à reconstrução dos elementos que compõe o campo teórico-prático da
educação ambiental crítica, será baseada em coleta de dados indireta, a partir de pesquisa
bibliográfica e documentação direta, a partir de entrevistas (LAKATOS; MARCONI, 1992).
A pesquisa bibliográfica será referenciada na teoria crítico marxista e na proposta da
educação ambiental crítica.
A documentação direta será realizada através de entrevistas a alguns pesquisadores da
educação ambiental crítica no Brasil. Inicialmente serão selecionados três pesquisadores, cujo
critério, é a relevância na produção teórica dentro deste campo crítico da educação ambiental:
Philippe Pomier Layrargues, Carlos Frederico Bernardo Loureiro e Mauro Guimarães.
Através do método bola de neve (SILVANO, 2001), cada um desses três
pesquisadores pré-selecionados indicará outros pesquisadores relevantes, para a construção
teórica e prática da práxis em a educação ambiental crítica. Os próximos entrevistados
repetirão o mesmo procedimento, e assim pretendemos entrevistar uma média de 15
pesquisadores na área. O contato solicitando a concessão das entrevistas será estabelecido
previamente por e-mail.
As entrevistas seguirão um tema pré-definido sobre práxis em educação ambiental
crítica, norteado por uma pergunta chave “quais os elementos da práxis de uma EA que se
propõe crítica?”. Visando combinar essa pergunta inicialmente aberta com outras perguntas
(em anexo) a entrevista seguirá um padrão semi-estruturado (BONI; QUARESMA, 2005),
para que o entrevistado tenha a possibilidade de discorrer com mais detalhes sobre o tema
proposto. As entrevistas serão gravadas em áudio, visando um registro, mediante autorização
dos participantes. Após a entrevista será realizada a transcrição da entrevista.
O procedimento de análise das entrevistas será realizado através da Análise de
Conteúdo, que segundo definição de Bardin, (2009) consta de um:
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“conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p. 44).
Pretendemos com a utilização deste método, compor uma análise das entrevistas que
tenha um rigor, proporcionando uma leitura científica sem, no entanto, deixar de evidenciar os
principais elementos apontados pelos pesquisadores que são essenciais na práxis de uma
educação ambiental que se propõe crítica. Pretendemos “por em evidência a respiração de
uma entrevista não diretiva” (Bardin, 2009, p.3), através de um conjunto de técnicas de
análises dessas comunicações, que irão partir de uma pré-análise, passando por uma
exploração do material, tratamento dos resultados, inferência e interpretação final.
Após essa análise das entrevistas pautadas no método da Análise de Conteúdo,
pretendemos a partir das inferências reunir os principais elementos apontados pelos
pesquisadores da educação ambiental crítica, e elaborar um livro com uma síntese das
principais pistas de ação-reflexão a proposta de trabalho em uma EA-Crítica.
Este livro será apresentado aos professores da educação básica, de maneira impressa
e/ou através de versões em arquivo digital (PDF). Ressaltamos a importância da apresentação
nos dois formatos, a primeira pela materialidade e uso direto para quem não tem acesso a
internet, a segunda pela natureza de fácil distribuição em rede, ampliando o alcance aqueles
que usam a internet.
REFERÊNCIAS
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BOMFIM, A. M. Trabalho, Meio Ambiente e Educação: apontamentos à Educação
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ENDIPE. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2008. p. 1-14.
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Ciências Sociais. Revista em Tese Vol. 2, nº 1, janeiro-julho/2005 p. 68-80 disponível em:
<http://www.emtese.ufsc.br/3_art5.pdf> acessado em Outubro de 2011.
CHESNAIS, F.; SERFATI, C. “Ecologia” e condições físicas de reprodução social: alguns
fios condutores marxistas. Crítica Marxista. n° 16. São Paulo: Editora Boitempo, 2003.
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DIAS, B.C.; BOMFIM, A.M. A “TEORIA DO FAZER” EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CRÍTICA: uma reflexão construída em contraposição à Educação Ambiental
Conservadora. VIII Enpec. Anais. Campinas: Abrapec, 2011 (no prelo).
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo.
Ed.Paz e Terra (coleção leitura), 1996.
GUIMARÃES, M. Educação ambiental: no consenso um debate? Campinas, Papirus,
2000.
___________ . A formação de educadores ambientais. Campinas, SP: Papirus (Coleção
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LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A.M. Metodologia do trabalho científico:
procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e
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LIMA, G. F. C. . O Discurso da Sustentabilidade e suas Implicações para a Educação.
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LOUREIRO, C. F. B. .Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo:
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LÖWY, M. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2005.
MÉSZÁROS, I.. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução Paulo
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SILVANO, R.A.M. Etnoecologia e história natural de peixes no atlântico (Ilha dos
Búzios, Brasil) e pacífico (Moreton Bay, Austrália). Tese (doutorado) -Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2001.190p.
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ANEXO 1 – Pergunta chave da entrevista “quais os elementos da práxis de uma EA que se
propõe crítica?”
Subperguntas:
1) Em relação a educação ambiental conservadora, o que uma educação ambiental que se
propõe crítica, pode contribuir com as reflexões socioambientais?
2) Quais seriam os principais elementos para a construção de uma práxis (teoria e prática) em
educação ambiental crítica?
3) Você poderia apontar algumas práticas que podem desenvolvidas dentro da perspectiva de
uma educação ambiental crítica?
4) Conte-nos sobre algumas experiências reais dentro do âmbito da perspectiva crítica da
educação ambiental, que você realizou/encontrou em seu trabalho.
5) Considerações finais, para o pesquisador fechar sua entrevista da maneira que achar mais
adequada.
6) Aponte outro pesquisador para ser entrevistado, visando a construção de um campo teórico
e prático dentro da educação ambiental crítica.
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