espetaculo de vc
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Escola SESC de Ensino Mdio
um produto
Espetculo
de voc
Raquel Catunda Pereira
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Raquel Catunda Pereira (CE)
SESC | Servio Social do Comrcio
Escola SESC de Ensino Mdio
Assessoria de Cultura
Rio de Janeiro, setembro, 2011
Espetculo
de voc
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PUBLICAO
Assessoria de Divulgao e Promoo/DG
CHRISTIANE CAETANO
Superviso editorial
JANE MUNIZ
Pj c
AnA CristinA PereirA HAnnAH23
Reviso
CLARISSA PENNA
P ca
CELSO MENDONA
Escola SESC de Ensino Mdio
Assessoria de Cultura
Av. Ayrton Senna, 5677 - Jacarepagu
Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22775-004
tf: (21) 3214-7404
www.escolasesc.com.br
www.teatroescolasesc.worpress.com
Impresso em setembro de 2011.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610
de 19/02/1998. Nenhuma parte desta publicao poder
ser reproduzida sem autorizao prvia por escrito da
Escola SESC de Ensino Mdio, sejam quais forem os meios
e mdias empregados: eletrnicos, impressos, mecnicos,
fc, aa a .
Pereira, Raquel Catunda.
Espetculo de voc / Raquel Catunda Pereira. Rio de Janeiro :
Escola SESC de Ensino Mdio, Assessoria de Cultura, 2011.
44 p. ; 11x17 cm.
Texto selecionado no 1. Concurso Jovens Dramaturgos, 2011.
1. Teatro - Brasil. I. Escola SESC de Ensino Mdio. II. Ttulo.
CDD 792
SESC | Servio Social do Comrcio
PRESIDNCIA DO CONSELHO NACIONAL
ANTONIO OLIVEIRA SANTOS
Departamento Nacional
Direo-Geral
MAron eMile AbiAbib
ESCOLA SESC DE ENSINO MDIO
Diretora
CLAUDIA FADEL
Assessor de Cultura
SIDNEI CRUZ
Programao e Produo Cultural
VIVIANE DA SOLEDADETAHIBA MELINA CHAVES
Palco e Iluminao
JOS MRIO TAMAS
ALBERTO TIMB
Contrarregra
CARLOS ALBERTO ARTIGOS
Ac
JORGE LUIZ DA CONCEIO
Ama lcaMARIANA PENTEADO
WAGNER BETTERO
Estagirios
CAMilA reis Artes
CAroline AlCiones Produo Cultural
CsAr Augusto Comunicao Social
JuliAnA turAno Produo Cultural
tHiAgo sArdeMberg Teatro
Wilson Jnior Produo Cultural
Camareira Teatral/Copeira
ANA CRISTINA DOS SANTOS
ADRIANA LAPA DOS SANTOS
Paca e
eliAne CArMo Teatro
gustAvo Henrique Teatro
Primeira reviso dos textos
CAROLINE ALCIONES
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com imensa satisfao que a Escola SESC de Ensino
Mdio e a Assessoria de Cultura abrem espao para novos
talentos da dramaturgia.
O estmulo a jovens talentos brasileiros tem sido objeto
constante de nossas aes. Nesse sentido, o I Concurso Jovens
Dramaturgosrevelou, e agora apresenta ao grande pblico, a
riqueza da expresso literria brasileira no mbito das Artes
Cnicas.
Esta bela coletnea revigora a crena no potencial da nossa
dramaturgia de sintonizar o imaginrio coletivo e de rein-
ventar-se cotidianamente.
um grande presente para todos ns.
Claudia Fadel
Diretora da Escola SESC de Ensino Mdio
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DRAMATURGIA,JUVENTUDE,
DIREITOSCULTURAIS E
DESENVOLVIMENTOCULTURAL
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A publicao dos cinco textos selecionados no I Concurso
Jovens Dramaturgos o incio de um programa que tem como
objetivo estimular jovens criadores brasileiros no s naslinguagens das Artes Cnicas, mas em todas as reas de artes
e cultura.
O concurso incentiva a escrita dramtica entre jovens de 15 a
20 anos e proporciona ao jovem dramaturgo a oportunidade
de desenvolver sua vocao literria ao oferecer ferramen-
tas que lhe auxiliem em sua orientao profissional. Aes
complementares so realizadas, como ciclos de leituras en-
cenadas dos textos selecionados e um encontro-residncia
entre os autores premiados e representantes da nova gerao
de dramaturgos brasileiros.
Dessa forma, entendemos que compomos um campo de
fora, colaborao e desenvolvimento em torno da drama-
turgia, acompanhando os elos de uma cadeia criativa que
engloba criao, leitura pblica, intercmbio e publicao,
indo um pouco adiante do simples concurso e seleo de
textos e autores. Na verdade, estamos em consonncia com
uma poltica de direitos culturais extenso dos direitos
humanos que so resumidos em um trio de direitos essen-
ciais: o direito participao da vida cultural, das conquistas
cientficas e tecnolgicas e o direito moral e material pro-
priedade intelectual.
Sidnei CruzAssessor de Cultura da Escola SESC de Ensino Mdio
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A ESCUTAFALA PORQUE
ELA NO PASSIVA
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Na pea Espetculo de voc, de Raquel Catunda Pereira, h
uma indicao na rubrica inicial do texto que o narrador de-
ver estar vestido de forma atemporal. Sabe-se pouco sobreo personagem para alm das suas vestimentas, que buscam
certa neutralidade. Ao longo do texto os demais persona-
gens se apresentam como tipos sociais: meninozinho, mu-
lher, senhora, soldado, menino de rua, moa negra... No en-
tanto, essa diferenciao dos tipos e sexos dos atores no dindcios de que na pea as vozes dos personagens coincidem
com uma noo de voz ligada a um corpo, a um sujeito e a
uma interioridade.
O teatro proposto pela autora no se baseia em uma drama-
turgia focada na psicologizao dos personagens. Em
Espet-culo de vocparece que o objetivo no delinear psicologica-
mente um personagem (tanto que se sabe pouco sobre cada
um), mas lanar mo da simbologia que cada tipo possui so-
cialmente para dar conta de algumas reivindicaes.
Ainda que na maioria das vezes a expectativa dos au-tores em relao aos atores seja a fala, no caso de Raquel
Catunda Pereira, est implcita na construo de seu texto a
necessidade de que a fala seja ao. A partir dessa pre-
missa, o que a autora parece esperar desse espetculo
principalmente a ao do pblico, na medida em que seestabelece uma separao entre ns(os atores), que esto no
palco, e vocs (o pblico), que esto na plateia. Entretanto,
o que parece problemtico a maneira como a construo
do texto enfatiza o entendimento de que os personagens,
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ao falar, esto agindo em prol do seu discurso, enquanto o
pblico que escuta est passivamente ouvindo. H uma fra-
gilidade nessa comunicao, na medida em que a autora pa-rece acreditar que o pblico, enquanto ouve, est passivo em
relao aos acontecimentos e s falas apresentadas. Parece
que o seu entendimento sobre recepo teatral est direta-
mente relacionado com a noo de que o posicionamento
do pblico est, necessariamente, atrelado ao agir, mas nonecessariamente.
H um trabalho com a construo do texto em que as falas
so dirigidas para os espectadores que so tambm ouvintes.
A construo do texto se d sempre em relao aos especta-
dores, assumidamente presentes durante todo o espetculo,a ponto de se tornarem mais um personagem.
No primeiro momento, a pea inicia com a ntida separao
entre ns (o narrador e o meninozinho) e eles (o pblico
seres humanos e animais pensantes). O ttulo Espetculo de
vocratifica essa relao entre o espetculo e o pblico emque voc o pblico e o espetculo ao mesmo tempo. Os
personagens acreditam poder escolher algum dos lados, na
medida em que essa separao entre palco e plateia, ns e
vocs, se acirra. A atribuio do adjetivo pensante ao pbli-
co um deboche que se justifica com todo o dilogo entreo narrador e o meninozinho. Essa crtica ao ser humano me
parece estar totalmente respaldada na dicotomia entre o
pensar e o agir. Dessa forma dicotmica se estabelece uma
relao com o pblico.
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A utilizao do pronome ns, mesmo que implicitamente,
causa uma tenso entre o eue o tu, pronomes que indicam,
respectivamente, quem fala e com quem se fala. O uso dessadimenso pronominal construdo para criar a separao
entre o pblico e os atores. Segundo Benveniste, toda lo-
cuo pressupe um ouvinte, toda alocuo pressupe o
pronome eue o tue toda expresso vocal uma alocuo,
logo, ela necessariamente uma estrutura dialgica.Em Espetculo de voco desejo da ao atribuda fala e
escuta to presente que parece, inclusive, borrar as dimen-
ses de autor e diretor, na medida em que Raquel Catunda
Pereira, ao escrever, tambm d todas as dimenses da cons-
truo cnica; material, espacial e sonoramente. Ao ler o tex-to, a impresso que se tem que a autora quer transformar as
suas palavras em ao, pois acredita que assim ir modificar
a condio do ser humano. Na sua escrita, rapidamente se
entende por que a autora escolhe a dramaturgia como forma
de escrita, pois no teatro possvel transformar a escrita emao fsica. No entanto, preciso sempre ter em mente o que
Roland Barthes insiste em afirmar: necessrio repetir que
a escuta fala . Barthes tenta chamar a ateno para a impor-
tncia de perceber a escuta como o estabelecimento de uma
relao a escuta fala porque ela no passiva. Logo, o p-
blico pode ser to ativo quanto os atores-atuadores.
Viviane da Soledade
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RAQUEL CATUNDA PEREIRA nasceu em setembro de1990, em Fortaleza, Cear. Ainda criana j ousava escrever peque-
nos romances e poemas aprimorando seu talento no romance Hist-
ria entre mundos, contemplado pela Secretaria de Cultura do Estado
do Cear, em 2010, com o Prmio Rachel de Queiroz. Em 2011, foi
paa p A l Ca cm eca Ca
Cmpa. v, p xca a ap paa ca m -dos os gneros literrios, romances, contos, crnicas, poesias e peas
teatrais. Atualmente estudante de Letras da Universidade Federal do
Cear. Est envolvida em movimentos pela Emancipao Humana e
cm aa a Pmaca, aa a ma cm mm
a a cm ca i Pmaca Ca, iPC.
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ESPETCULO
DE VOC
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PERSONAGENS:Narrador
Meninozinho
Soldado
Mulher
Senhora
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16 CENA 1Um homem, vestido de forma um tanto atemporal,
usando cartola, palet, acessrios modernos e brilhan-
tes, dentre outros componentes que no possibilitam
enquadr-lo em um estilo de poca, comea a declamar
a seguinte fala no espao do palco posterior cortina,
pois ela ainda se mantm fechada. O homem anda com
diiculdade, apoiando-se em uma bengala.
NARRADOR A arte imita a vida ou a vida imita a
arte? Oscar Wilde dizia que a vida imita a arte mui-
to mais do que a arte imita a vida. Em A potica,
Aristteles diz que no ocio do poeta narrar o
que aconteceu; , sim, o de representar o que pode-
ria acontecer, quer dizer: o que possvel segundo a
verossimilhana e a necessidade. Muito tempo de-
pois, Picasso diz que A arte no a verdade. A arte
uma mentira que permite que nos aproximemos da
verdade, ao menos da verdade que podemos discer-
nir. (Pausa. Relete um pouco, depois conclui:) O que
h, ento, de imitao, verossimilhana e verdade na
arte? O que belo harmonioso e proporcional. O
que harmonioso e proporcional verdadeiro, e o
que ao mesmo tempo belo e verdadeiro , por con-
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17seguinte, agradvel e bom, airma Tzvetan Todorov.
Mas os acontecimentos a seguir sero julgados por
vs. Talvez, no sejam to belos, harmoniosos, pro-
porcionais ou verdadeiros. Se ser bom ou agradvel
(tom de deboche), se arte, verossimilhana ou imi-
tao, eu no sei. (Pausa.) Mas, de certo, faz parte do
espetculo de voc. (Aponta para a plateia enquan-
to diz. Sai em seguida, mas volta e convida a plateia,
fazendo gesto com a mo:) Vamos? (As cortinas se
abrem. Ele d as costas e caminha para a coxia.)
CENA 2
No primeiro toque do sino, os atores, que at ento es-
tavam camulados na plateia, se erguem, usando uma
mscara. As mscaras femininas sero todas iguais e
marcaro as feies do ideal de beleza da mulher de
forma caricatural; o mesmo ocorrer com as mscaras
masculinas. Com o segundo toque do sino, eles giram
90 graus em direo ao corredor de sada. Apenas de-
pois do terceiro toque eles iro caminhar em direo
ao placo. Iniciar-se- uma msica instrumental bem
ritmada. O caminhar dos atores mascarados tambm
ser bastante exagerado. As mulheres tero um rebola-
do artiicial e os homens uma postura exageradamente
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18mscula. Chegando ao palco, eles se posicionaro em
uma ila na qual todos estaro visveis e de frente para
a plateia. A msica cessar abruptamente. Alguns se-
gundos depois, e ao mesmo tempo, eles arrancaro a
mscara segurando-a com a mo direita. Em vez de
exibir sua face nua, tero por baixo da primeira uma
segunda mscara, mas, dessa vez, sero todas iguais e
de feies sombrias e tristes, o entorno de seus olhos
lembrar o de zumbis. Os atores ainda icam ali para-
dos por um instante. Novamente a msica se inicia e
eles caminham para a coxia com um andar robtico e
disciplinado. O volume da msica vai baixando e inicia-
-se o quadro.
CENA 3: SERES HUMANOS, ANIMAIS PENSANTES
A luz do palco est suave. Pela coxia esquerda, o Nar-
rador puxa o Meninozinho pelo brao para entrar em
cena.
NARRADOR Vou te apresentar agora a espcie mais
estranha e contraditria da natureza. (Aponta para a
plateia enquanto caminham.)
MENINOZINHO Quem so? (Olha para a plateia, ad-
mirado.)
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19NARRADOR Os seres humanos!
MENINOZINHO E o que os difere dos outros ani-mais?
NARRADOR So racionais. (Senta na ponta do palco,
ainda olhando para a plateia. Volta o olhar rapida-
mente para o Meninozinho e completa.) Eles pensam!
(Volta a observar a plateia.)
MENINOZINHO Decidi! (Sorri.) Quero ser um deles!
(Olha novamente para a plateia.) Onde esto seus jo-
vens? (Procura.)
NARRADOR Foram ao estdio.
MENINOZINHO E o que eles fazem l? (Volta o olhar
para o Narrador.)
NARRADOR Gritam, xingam, brigam. (Enquanto res-
ponde, no deixa de olhar a plateia.)
MENINOZINHO Por que eles gritam?
NARRADOR Para que os escutem.
MENINOZINHO E quem eles xingam?
NARRADOR O juiz, os jogadores, o outro time...
MENINOZINHO E com quem eles brigam?
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20NARRADOR Com os outros jovens.
MENINOZINHO E depois? (Mantm o olhar ixo eapreensivo no Narrador, que mantm a serenidade.)
NARRADOR Depois o qu? (Olha para o Meninozinho.)
MENINOZINHO O que eles fazem depois?
NARRADOR Voltam para casa e esperam outro
jogo. (Olha novamente para frente.)
MENINOZINHO Quantos so?
NARRADOR So muitos.
MENINOZINHO Mas no so todos?!
NARRADOR No!
Pausa. Os dois olham para frente como se observassemanimais em um zoolgico.
MENINOZINHO E onde esto os outros?
NARRADOR Esto assistindo TV.
MENINOZINHO E o que eles veem na TV?
NARRADOR Veem vidas.
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21MENINOZINHO Por qu? (Olha para o Narrador.)
NARRADOR Veem vidas porque no podem viv-las.
MENINOZINHO Por que no vivem? (Olha para a
plateia.)
NARRADOR Porque esto ocupados vendo TV.
MENINOZINHO Mas e depois? (Olha para o Narra-
dor.)
NARRADOR Depois eles dormem, acordam, traba-
lham e veem TV.
(Pausa.)
MENINOZINHO (Olha para a plateia, depois para o
Narrador, depois para a plateia.) Faz sentido dormir,
acordar, mas... (Olha para o Narrador ixamente.) Porque trabalham?
NARRADOR Para ganhar dinheiro. (Mantm a sere-
nidade, mas agora com tom mais desanimado.)
No decorrer da conversa, embora o Meninozinho esteja
itando-o nos olhos, ele continua observando a plateia
sem sobressaltos.
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22MENINOZINHO Para que dinheiro?
NARRADOR Para comprar.
MENINOZINHO Comprar o qu?
NARRADOR O mais comum comida. Eles com-
pram todo dia!
MENINOZINHO E depois que comem?
NARRADOR Trabalham.
MENINOZINHO (abismado) Mais? Por qu?
NARRADOR Para ter mais dinheiro.
MENINOZINHO (estranhando) Pra comprar mais
comida?
NARRADOR No! (Olha para o menino.) Outras coi-
sas.
MENINOZINHO Mas e depois que eles tm tudo?
NARRADOR Eles nunca tm tudo! (Olha novamente
para a plateia.)
MENINOZINHO E todas essas coisas que eles tm
so importantes?
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23NARRADOR No! (Olha para o menino.) So s coi-
sas. (Olha para a plateia desanimado.)
O menino para, relete, volta o olhar para a plateia,
relete um tanto mais e pergunta agoniado:
MENINOZINHO E que horas eles pensam?
NARRADOR No pensam!
MENINOZINHO Mas no isso que os difere dos
outros animais?
O Narrador d de ombros. Silncio. Os dois continuam
a observar a plateia.
NARRADOR So s animais.
MENINOZINHO So estranhos e contraditrios!
(Decepcionado, vira-se de costas para a plateia e cru-za os braos.) Ainal (descruza), para que eles vivem?
NARRADOR Para trabalhar, ganhar dinheiro,
comer, comprar, ver TV, trabalhar, vestir, usar, tra-
balhar, comer, ver TV, trabalhar e morrer.
MENINOZINHO Mas quando eles se encontram,
no concluem que estranho viver assim?
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24O Narrador olha para a plateia como se esperasse
alguma reao deles.
NARRADOR No! (Respira fundo e conclui com tom
de decepo.) No percebem nada.
MENINOZINHO No pensam! (Aponta para a plateia
indignado.)
Vira-se de costas novamente e parece escutar rudos,
ento completa:
MENINOZINHO Mas... Ainal, o que eles falam?
NARRADOR Eles repetem!
MENINOZINHO O qu? (Olha para o Narrador.)
NARRADOR O que escutam na TV.
MENINOZINHO E os que falam na TV no avisam
que eles vivem de forma estranha?
NARRADOR No! Pois se eles no fossem estranhos
no veriam TV.
MENINOZINHO Ento... O que eles falam na TV?
NARRADOR Falam das coisas. Que bom ter coisas,
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25que s quem tem coisas que legal, que eles tm
que ter coisas, se no no sero coisa alguma. (Vai se
levantando enquanto fala.)
MENINOZINHO E o que acontece com quem no
tem coisas? (Levanta tambm.)
NARRADOR Tem que conseguir! (Vai saindo, mos-
trando desinteresse em icar.)
MENINOZINHO E por que o outro tem?
NARRADOR Porque ele trabalhou, comprou, agora
dele.
MENINOZINHO E no de todo mundo? (Julgando
absurdo.)
NARRADOR No, s de quem comprou.
MENINOZINHO At a comida?
NARRADOR A comida tambm.
MENINOZINHO Mas no d para viver sem comida.
Veja! (Aponta para a plateia com empolgao.) Temcomida para todo mundo! (Esboa um sorriso.)
O Narrador puxa o menino pelo brao, levemente, e o
olha nos olhos.
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26NARRADOR Mas no de todo mundo!
MENINOZINHO Tem algo errado... (Diz entristecido.)
NARRADOR T tudo errado! (Diz exaltado.)
MENINOZINHO E eles ainda se dizem racionais! (Se
exalta tambm.) Por que eles no gritam, xingam, bri-
gam?
NARRADOR Porque no esto no estdio. (Volta a
falar desanimado.)
MENINOZINHO (Fora um pasmo sorriso.) Mas isso
no mais importante na rua do que no estdio?
NARRADOR , mas eles esto ocupados. (Tenta ir
saindo novamente.)
MENINOZINHO O que eles esto fazendo? (Cruza os
braos e tenta encontrar a resposta na plateia.)
NARRADOR Esto vendo TV!
MENINOZINHO Todos eles? (Procura.)
NARRADOR No! (Olha para trs, na direo do me-
nino, e completa.) Os outros esto trabalhando!
O menino olha triste e inconformado para a plateia.
Depois completa.
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27MENINOZINHO No quero mais ser um deles! Eles
no tm ao, no vivem e no pensam!
Eles saem cabisbaixos em direo coxia esquerda e a
luz, paulatinamente, vai se reduzindo.
MENINOZINHO Eles poderiam fazer tudo.
NARRADOR Mas no queriam.
MENINOZINHO Ainda no querem.
NARRADOR Mas ainda podem!
Os dois saem de cena, mas, em poucos instantes, inicia-
-se a msica (uma segunda, tambm instrumental, mas
que sugere trapalhadas). O Meninozinho retorna, vai
ao centro do palco e sorri. Em seguida, com malcia,
anda na ponta dos ps em direo coxia direita. O
Narrador coloca a cabea para fora da coxia como se
procurasse pelo Meninozinho; no o encontrando, sorri
e caminha em direo coxia oposta, a mesma em que
outrora o Meninozinho entrara. As luzes se apagam
completamente.
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28CENA 4: ORQUESTRA DO LER, LER, LER
Um foco de luz, paulatinamente, se acende no centro do
palco e revela uma moa negra lavando roupa e can-
tarolando ler, ler... (msica tema da escravido). Ela
usa um vestido pobre que lembra o de uma escrava. Em
seguida, outro foco de luz se abre em um extremo do
palco, nele aparece um agricultor de aparncia humil-
de que, segurando uma enxada, aparenta capinar. Ele
canta a mesma msica da outra moa, mas no ritmo
mais conveniente ao seu gesto. Em outro extremo, apa-
rece um homem bem vestido (usa um palet e segura
uma maleta). Ele canta a mesma cano, porm em um
ritmo um tanto mais descontrado. Do outro lado, apa-
rece uma criana de rua (traje caracterstico e segu-
rando um pote com moedas). Batendo o pote no cho,
torna possvel ouvir o barulho das moedas, ela canta
a mesma cano, mas demonstra indisposio. Com
toda a orquestra formada, a luz geral do palco se acen-
de e todos os personagens passam a andar em crcu-
los, sem deixar de cantarolar. Eles trocam entre si seusobjetos e, medida que isso acontece, a interpretao
caracterstica para cada objeto toma o seu receptor. A
ciranda ica cada vez mais rpida e a velocidade das
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29canes tambm. Os personagens comeam a demons-
trar exausto. A luz se apaga, silncio absoluto.
CENA 5: A ESPERANA DE PAZ
Um homem vestido de soldado posiciona-se no centro
do palco. Em seu discurso, ele aparenta uma perturba-
o comum aos que retornam de uma guerra.
SOLDADO Ele era sempre o primeiro a chegar. Antes
de pensarmos em nos organizar para lutar, ele j esta-
va l, unindo a todos. E, aproveitando-se dessa unio,
ele nos incitava. Proferia frases fortes de signiicados
um tanto prepotentes. Transmitia irmeza. Seu ar so-
berano, lder nato, nos dava a base de sustentao ne-
cessria para a guerra. Estvamos coniantes. Estva-
mos prontos. Quando o confronto com o inimigo era
inevitvel, quando sem dvida no havia outra sada
a no ser lutar, eu olhava para o lado (o faz), para o
outro (o faz) e, em nenhum canto, ele se encontrava
(procura, preocupado). Para onde fora? (Entristece--se, mas logo se agita.) Antes que eu pudesse reletir
sobre tal indagao, o calor da batalha me trazia de
volta ao confronto. E l eu no estava s. Muitos lu-
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30tavam ao meu lado. Somente ele, o grande incitador,
(mostra-se relexivo), ele, como sempre, sumira.
Ao fundo, a msica Adis Nonio, de Piazzola, vai au-
mentando, forando o soldado a falar cada vez mais alto.
SOLDADO Quando inalmente eu podia voltar a
respirar aliviado e o suor do meu corpo j perdia sua
liquidez, ao longe o avistava. Vinha correndo como
se nada tivesse acontecido. E como se tudo estivesse
bem, seu imenso sorriso logo contagiava o aguerri-
do grupo. Ento, era s festa (demonstra uma insana
felicidade). E ningum nunca se perguntava onde ele
estava no momento mais crtico. Talvez estivssemos
com medo (exibe uma face sombria). O mesmo medo
que tnhamos antes de sua chegada. Aquele medo que
ele fazia desaparecer com suas confortantes inspira-
es que talvez nem fossem suicientes para conven-
cer o seu prprio orador. Talvez seja ele um grande
blefador. No pode nem mesmo airmar-se por si s,
ento foge. (Mostra-se cada vez mais louco.) Ir-se-ia,
mas voltaria. Na vitria ou na derrota, ele sempre vol-
tava trazendo consigo o seu to contagiante sorriso.
A msica se encerra abruptamente e leva consigo o
sorriso caricato do soldado. O silncio toma conta da
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31cena por mais alguns instantes. A luz do palco, paulati-
namente, vai diminuindo.
SOLDADO Mas dessa vez ele no voltou. Na verda-
de, ningum sabe o exato momento em que partiu,
mas sabem que ele no voltar. A fora que ele nos
trazia antes da batalha se foi. O conforto de depois
tambm. E no foi ele que nos tirou. Fomos ns que
o expulsamos de nossas vidas. (Violentamente, faz
gestos de quem arranca algo de seu prprio peito e
grita ensandecido.) Onde estar por esses tempos a
esperana de paz?
Breu total.
CENA 6: O TOTEMUma luz bem fraca acende no corredor abaixo do pal-
co. L aparece uma mulher vestida como uma carocha
de igreja. Ela se ajoelha de costas para a plateia e de
frente para o palco. O Meninozinho entra na cena e ica
curioso, observando a mulher.
MULHER Vinde a ns, vinde a ns... (Repete inces-
santemente aumentando sua euforia.)
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32MENINOZINHO Quem? Quem vem? Quem vir?
A mulher no para de falar.
MULHER Vinde a mim, vinde a mim...
Meninozinho se ajoelha ao lado dela e tenta enxergar
para onde ela olha, mas logo desiste de tentar ver e,
sorrateiramente, sai de cena. A mulher continua a fa-
zer seu louvor, mas vai baixando o volume at tornar
suas palavras inaudveis. Quando o Meninozinho apa-
rece no canto do palco, notrio que ele esconde um
segredo entre as mos (acende-se um pequeno e fracofoco de luz acima dele). Aos poucos, revela que segura
uma cdula. Olha para ela com bastante curiosidade
e a esconde principalmente da mulher que continua
rezando. Ele tenta vestir, comer e abraar o papel
dinheiro, mas no ica muito contente com seus
resultados.
MULHER Vende a ns, vende a ns, vende a ns...
(Repete alto.)
O Meninozinho a olha espantado e chega mais perto dela.
MULHER Vende a mim, vende a mim, vende a mim...
(Fervorosamente.)
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33O menino se assusta, larga a cdula no cho e corre
para fora de cena. As luzes se apagam.
CENA 7: GREVE GERAL
Uma senhora senta no centro do palco, perto da beira-
da. Ela tira de sua bolsa uma caneta e a segura perto da
boca de forma a lembrar um microfone.
SENHORA Greve geral! Quem no tem dinheiro exi-
ge trabalho. Quem tem trabalho exige aumento. E no
acaba a, h semanas o mundo inteiro parou para exi-
gir uma atitude de seus representantes polticos. No
Brasil, a coisa no foi diferente. Muito pelo contrrio,
as pessoas esto to determinadas a fazer greve que
ningum mais trabalha. Um verdadeiro caos! Dessa
vez, at as instituies de sade pararam, acarretan-
do mortes a todo instante por falta de assistncia m-
dica. At empresas particulares entraram na jogada
para negociar apoio estadual e protecionismo. Os pro-
fessores, nem se fala. Foram os primeiros a comear
a paralisao, ainal, eles fazem isso todo ano (fala de
lado, quase como um cochicho), observao eufemista
quanto frequncia (volta a narrar como reprter). A
novidade que, dessa vez, at mesmo alunos entra-
ram em greve, esto exigindo professores! Um caos
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34total! (Tira da bolsa um estojo de canetas e as derruba
no cho.) Sem transporte, visto que os motoristas de
nibus no poderiam icar de fora, a cidade inteira pa-
rou. At mesmo aqueles que queriam continuar sua
rotina foram impedidos, pois no havia como chegar
a nenhum lugar. Por conta disso, o centro tambm
fechou suas portas. Como no havia compradores,
abrir as portas do comrcio s traria mais prejuzo.
Um caos total! Neste momento, uma multido en-
sandecida est reunida em frente ao Planalto Central
ameaando invadi-lo, caso uma atitude imediata no
seja tomada pelo Governo Federal. (Procura na bolsa
alguma coisa para representar o governo. Franze a
testa, mas depois parece achar algo e sorri, colocando
um pouco ao lado das canetas um lixo qualquer). Que-
remos um piso salarial! (Voz de multido, pegando
em algumas canetas.), gritavam alguns (voz natural).Queremos aumento! (Voz de multido, pega um pou-
co mais), gritavam outros tantos (voz natural). Que-
remos, queremos, queremos... (voz de multido, em-
purra todas as canetas para um s canto). Era o coro
principal (voz natural, procura na bolsa mais algumacoisa e pega um lixo um pouquinho menor). Depois de
alguns dias de manifestao, a multido foi surpreen-
dida com a presena do presidente da Repblica que,
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35um pouco exausto e impaciente, pegou o microfone
principal usado pelos revoltosos e disse, em tom de
ironia (ela pe o lixinho em cima de sua cabea e pega
o microfone mudando agora sua voz para representar
a do presidente). Queremos, queremos, queremos...
Concluindo: vocs querem dinheiro! (Tira o lixo e
volta a falar com voz normal.) O povo hesitou em
concordar. Suas exigncias pareciam ser bem mais
importantes e maiores, mas depois de algum tempo
reletindo, concluram que, basicamente, dinheiro re-
solveria todos os problemas. (Volta a falar como presi-
dente, usando novamente o lixinho na cabea.) Direta
ou indiretamente, vocs querem dinheiro! (tira o li-
xinho e prossegue com seu tom natural), completou o
presidente. A multido se manifestou positivamente
com aplausos e sons indescritveis (faz esses baru-
lhos, em seguida vira presidente novamente) Pois notem dinheiro! (voz normal). O presidente se retirou
com a mesma agilidade que havia entrado minutos
atrs. (Joga o lixinho perto da bolsa.) O povo estava
empalidecido. Por alguns segundos, o silncio reinou
sobre aquele recinto, mas logo foi interrompido poruma confuso de vozes. At que um grevista tomou
o microfone fazendo o presidente parar no meio de
seu trajeto. (Pega o lixinho de novo e o gira, fazendo
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36meno a uma pessoa, olhando para trs. Coloca o mi-
crofone (caneta) na boca do grevista). Como no tem
dinheiro? (volta ao seu tom normal). E, novamente, o
silncio reina no recinto. Todos ali aguardavam uma
resposta, no mnimo apaziguadora, do presidente da
Repblica, que, logo em seguida, tomou o microfone
ainda nas mos do grevista e disse (coloca o lixinho
em sua cabea e fala como presidente): No tem di-
nheiro! simples! No tem! No tem salrio, no tem
aumento, no tem nem emprego! No tem! Acabou!
(voz normal). As vaias foram gerais. A imprensa, que
ainda gozava de seus ltimos suspiros, transmitiu
ao pas inteiro aquelas to frias e sinceras palavras
sadas diretamente da boca da maior autoridade do
pas. (Exibe, caricaturalmente, em sua face a possvel
expresso das pessoas que assistiam a cena. Segue fa-
lando com voz de presidente.) Podem vaiar, gritar,apedrejar, at depor o presidente se vocs quiserem!
No vai adiantar de nada! No tem jeito! Acabou! Eu
posso mandar fazer mais papel. Papel! o que ! Pa-
pel o que vocs querem? Mas os advirto de que s
um pedao de papel sem valor algum. No s umacrise cclica e passageira. o colapso geral do siste-
ma. Eu nada posso fazer por vocs. Na verdade, agora
que no tenho mais nem o que administrar, posso at
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37me unir a vocs para fazer exigncias. Mas a quem?
Eu vos pergunto. No tem jeito! Daqui o sistema no
passa. Para o capitalismo funcionar preciso capital.
Dinheiro! E no tem dinheiro! Sem dinheiro ningum
compra. Se ningum compra, no tem pra que produ-
zir. E se no tem pra que produzir, no tem trabalho.
simples! lgico! Sem trabalho, no h mercado-
ria, sem mercadoria, no h o que vender. E se no
vende: no tem dinheiro! um ciclo. Se quebrar aqui,
quebra ali. Da, quebra tudo! Acabou. (Volta ao seu
tom normal, mas muito triste.) Frente a tal realidade,
as pessoas se mostraram desamparadas e sem pers-
pectiva. O silncio, ento, tomou conta do lugar. No
s daquele lugar. Reiro-me, agora, a todo o planeta.
(Derruba no palco tudo o que tem na bolsa, acendem-se
tambm as luzes da plateia.) Pessoas do mundo todo,
que h pouco cobravam respostas, se depararam comuma realidade mais cruel do que podiam imaginar. A
falta de respostas. A falta de ao. E, principalmente,
a falta de um futuro. No me reiro a algo distante.
Falo do prximo passo: ir para onde? Para qu? Com
que objetivo? O que dizer? O que fazer? At ento, ahistria daquelas pessoas se resumia a um cotidiano
criado no por eles, mas por um sistema econmico.
(Pausa.) Economia? Que signiicado tem essa palavra
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38agora? Sem dinheiro, sem governo, sem ter o que ad-
ministrar, ou algum para recorrer. Eles no tinham
mais nada. Tudo estava um caos: as escolas, as ruas,
as lojas, o lar. Tudo entrara em colapso. Eles no po-
diam fazer nada. No tinham nada. Pois tudo, agora,
era nada. Nada! o que sempre foi, mas perceber isso
assim j tarde.
O Meninozinho entra em cena e segura a caneta perto
da boca.
SENHORA Frente a to trgica constatao,
algum, no meio da multido esttica, ainda con-
seguira cuspir em palavras o que todos ali tinham
vontade de dizer. Mas, desiludidos com a possibili-
dade de uma resposta contundente, calavam-se.
MENINOZINHO No somos mais nada? ramos al-guma coisa? Ser que podemos ser, quem sabe agora,
seres humanos de verdade?
SENHORA O silncio se manteve. E o presidente
sentou ali mesmo, no cho, e logo foi acompanhado
por outros tantos. (Todos os atores saem da coxia e
sentam no palco.) E o mundo parou, tornando-se
agora uma igura esttica, nitidamente oposta ao
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39retrato de minutos atrs. Todos respiravam pro-
fundamente. Tentavam no enlouquecer. E foi entre
suspiros que, ainda com o microfone na mo, o Me-
ninozinho replicou aquela enigmtica pergunta com
uma airmao que, de to vaga, parecia ser o comeo
para respond-la.
MENINOZINHO Agora podemos pensar! (Senta-se
de frente para a plateia.)
FIM
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COMISSO
JULGADORA
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411 Fase
CAROLINE ALCIONESFormada pelo curso de Letras Portugus/Ingls da
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atuou como estagi-
ria no projeto Peridicos Literriosda Fundao Biblio-
teca Nacional (FBN). Na FBN, desenvolveu projeto
prprio sobre caricatura. Atualmente cursa o bacha-
relado de Produo Cultural da Federal Fluminense(UFF) e a licenciatura da UFRJ e integra, como esta-
giria, a equipe da Assessoria de Cultura do Teatro
Escola SESC.
ELIANE CARMOAo longo de trs anos participou da Cia. Eletrone de
Teatro, na qual desenvolveu trabalhos como Sonho de
uma noite de vero, de Shakespeare, apresentado no
FESTA! de 2010, e Morte e vida severina, de Joo Cabral
de Melo Neto. Alm disso, foi monitora de direo te-
atral, auxiliando na montagem das peas Despertar da
primavera, de Frank Wedekind, eCapites da areia, de
Jorge Amado. Atualmente est estudando na Casa das
Artes de Laranjeiras (CAL).
GUSTAVO HENRIQUE C.WANDERLEYEstudante do curso de Artes Cnicas (Licenciatura)
da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(Unirio), e ex-aluno da Escola SESC de Ensino Mdio,
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42integra atualmente a equipe da Assessoria de Cultura
da Escola como praticante egresso. Encenou as peas
Jogos na hora da sesta(2008), O despertar da primavera
(2009/2010) e o O pastelo e a torta (2010) em montagens
escolares.
THIAGO SARDENBERG
Bacharel em cinema, ator e escritor, aos 16 anos publi-cou o romance No abismo da paixo. Escreveu, atuou
e produziu o musical e monlogo cmicoSai de mim,
Julie Andrews!, dirigido por Rubens Lima Junior.
Atualmente cursa Licenciatura em Artes Cnicas
na Universidade Federal do Estado do Rio de Janei-
ro (Unirio). estagirio de teatro na Assessoria de
Cultura do Teatro Escola SESC.
2 Fase
CLAUDIA SAMPAIO
Jornalista, mestre em Literatura Brasileira (Uerj-Fa-perj) e doutoranda em Teoria da Literatura (UFRJ-
-CNPQ/Capes), com a tese Dilogos, afetos e pensamen-
to lrico: a poesia de Ceclia Meireles. pesquisadora das
reas de linguagem, teoria da literatura e poesia desde
2006. Trabalhou em jornal, rdio, televiso, internet ecinema. Tem experincia em redao, roteiro, edio
de textos, investigao e preparao de livros. Seus
textos podem ser lidos na revista Educao Pblica:
www.educacaopublica.rj.gov.br.
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43IEDA MAGRIGraduada em Letras Portugus/Literaturas (2002),
mestre em Teoria da Literatura (2005) pela Universi-
dade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutora em
Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). editora da revista Anjos do Picadei-
roe em 2007 lanou o livro de fico Tinha uma coisa
aqui(7 Letras).
SIDNEI CRUZDramaturgo e diretor teatral (Unirio), MBA em Ges-
to Cultural (Ucam) e mestre em Bens Culturais e
Projetos Sociais (FGV-RJ), publicou Palco Giratrio:uma difuso caleidoscpica das artes cnicas (Dantes Edi-
tora), onde sintetiza os dez anos do projeto que criou
e coordenou de 1998 a 2007, quando atuava no Depar-
tamento Nacional do SESC. Desde 2008 Assessor
de Cultura da Escola SESC de Ensino Mdio, onde
desenvolve projetos de arte e cultura voltados para o
desenvolvimento cultural local. Suas mais recentes
montagens so: Onde voc estava quando eu acordei?
(2008), Relicrio(instalao cnica com o Bando Filho-
tes de Leo 2009/2010) e O samba carioca de Wilson
Baptista (musical brasileiro, de Rodrigo Alzuguir e
Claudia Ventura 2010/2011).
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44TAHIBA MELINA CHAVESBacharel em Interpretao Teatral pela Universidade
de Braslia (UnB), cursou especializao em Terapia
atravs do Movimento. assessora tcnica de Progra-
mao e Produo Cultural da Assessoria de Cultura
da Escola SESC de Ensino Mdio.
VIVIANE DA SOLEDADECursou Profissionalizao de Ator na Casa das Artesde Laranjeiras (CAL), formou-se em Teoria do Teatro
pela Unirio e ps-graduanda em Arte e Cultura pela
Universidade Candido Mendes (Ucam). Em 2006,
ministrou aulas de interpretao teatral para adoles-centes e adultos por meio do projetoJovem trabalhador
social, realizado pelo Governo do Estado. Atualmente
trabalha na concepo e realizao da programao do
espao cultural Teatro Escola SESC.
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