estudo socioambiental criação de resex em marapanim pa · figura 19 - mapa de hidrografia do...
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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSEVAÇÃO DA BIODIVERSID ADE
ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE CRIAÇÃO DE RESERVA EXTRATIVISTA
MARINHA NO MUNICÍPIO DE MARAPANIM, ESTADO DO PARÁ
Abril de 2014
LISTA DE SIGLAS
ACS Agentes de Saúde Comunitários CAUREM Central de Associações de Usuários das Reservas Extrativistas
marinhas DAP Declaração de Aptidão EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado
do Pará EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária GEDAE Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas GEPEM Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” sobre Mulher e
Gênero IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade IDESP Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do
Estado do Pará. INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IMPEC Instituto Marapaniense de Preservação e Cultura ITERPA Instituto de Terras do Pará MMA Ministério do Meio Ambiente MP Ministério Público ONG Organizações não governamentais PFNM Produtos Florestais Não Madeireiros RESEX Reserva Extrativista STR Sindicato dos Trabalhadores Rurais SAGRI Secretaria Estadual de Agricultura SEAP Secretaria Estadual da Pesca SEMA Secretaria Estadual de Meio Ambiente SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente SiBCS Sistema Brasileiro de Classificação de Solos UC Unidade de Conservação UFPa Universidade Federal do Pará UNEP-WCMC
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Mapa da área percorrida e comunidades visitadas no município de Marapanim-PA
14
Figura 2 - Aspectos das moradias nas comunidades visitadas 17 Figura 2 a- Aspectos das moradias nas comunidades visitadas 18 Figura 3 - Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades e comunidades polos na construção dos Diagramas de Venn, no município de Marapanim-PA.
35
Figura 4 - Número de espécies animais por categoria taxonômica citadas pelos moradores das comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
37
Figura 5- Croqui dos currais utilizados pelas comunidades visitadas 40 Figura 6 - Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores e marisqueiros 41 Figura 7 - Imagens de apetrechos utilizados para extração de mariscos| 45 Figura 8 – Aspectos da pesca e mariscagem em Marapanim-PA 46 Figura 9 - Famílias botânicas com maior número de espécies citadas pelos moradores entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA
49
Figura 10a - Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Tamaruteua
52
Figura 10b- Aspectos da oficina e mapeamento em Tamaruteua 53 Figura11a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da do polo Vista Alegre
54
Figura 11b- Aspecto da oficina e mapeamento no polo Vista Alegre 55 Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Camará 56 Figura 12b- Aspectos da oficina no polo Camará 57 Figura 13a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Marudá 58 Figura 13b- Aspecto as oficina no polo Marudá 59 Figura 14 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Araticum-Miri.
60
Figura 14b- Aspectos da oficina no polo Araticum-Miri 61 Figura 15 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Guarajubal
62
Figura 15b- Aspecto da oficina na comunidade Guarajubal 63 Figura 16 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Juçateua
64
Figura 16 b - Aspectos da oficina na comunidade Juçateua 65 Figura 17- Aspectos das Praias em Marapanim 72 Figura 18- Mapa de potencial turístico do município de Marapanim-PA 74 Figura 19 - Mapa de hidrografia do município de Marapanim-PA 78 Figura 20 - Mapa de elevação do município de Marapanim-PA 79 Figura 21 - Mapa de geologia do município de Marapanim-PA. 82 Figura 22- Mapa de geomorfologia do município de Marapanim-PA. 83 Figura 23 - Mapa de pedologia do município de Marapanim-PA 86 Figura 24 - Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Marapanim-PA.
89
Figura 25- Aspectos dos ambientes da área visitada. 92 Figura 25 a- Aspectos dos impactos na vegetação na região visitada 93
LISTA DE TABELA
Tabela 1 - Faixa etária dos entrevistados no município de Marapanim-PA 15 Tabela 2 – Esgotamento sanitário nas residências das comunidades visitadas
19
Tabela 3- Atividades declaradas pelos entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
24
Tabela 4 - Área das classes do mapa de Elevação em metros. 79 Tabela 5 - Área das classes do mapa de geologia 80 Tabela 6 - Unidades de Tempo Geológico 80 Tabela 7 - Área das classes do mapa de geomorfologia 81 Tabela 8 - Área das classes do mapa de solo 84 Tabela 9- Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra 89
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Número de famílias das comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
11
Quadro 2 - Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e agricultura entre os entrevistados no município de Marapanim-PA.
26
Quadro 3 - Diagrama de Venn da comunidade Tamaruteua 28 Quadro 4 - - Diagrama de Venn do polo Vista Alegre 29 Quadro 5 – Diagrama de Venn do polo Camará 30 Quadro 6 - Diagrama de Venn do polo Marudá 31 Quadro 7- Diagrama de Venn do polo Araticum-Miri 32 Quadro 8- Diagrama de Venn da comunidade Guarajubal 33 Quadro 9 - Diagrama de Venn da comunidade Juçateua 34 Quadro 10 Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
42
Quadro 11- Principais espécies de mariscos citadas pelas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
44
SUMÁRIO
1- Introdução 7 2 - Metodologia e área percorrida 9 3 - Resultados 12 3.1 - Identificação e caracterização da população tradicional envolvida na área proposta para criação de Resex e de outros usuários da área.
12
3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos naturais pela população tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos
36
3.3 - Identificação e caracterização de possíveis comunidades indígenas ou quilombolas presentes na área.
66
3.4 - Identificação de grupos sociais que poderão interferir (de forma positiva ou negativa) no processo de criação da unidade, bem como suas preocupações e interesses.
66
3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais relevantes, com oportunidade para uso público.
71
3.6 - Análise do impacto econômico da criação da unidade de conservação 75 3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em implementação nas áreas indicadas.
77
3.8 - Levantamento de dados secundários do meio Físico. 77 3.9 - Levantamento de dados secundários do meio biótico 90 3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades 96 4 - Referências 97
6
1-INTRODUÇÃO
O presente documento técnico tem por objetivo apresentar os principais elementos
que definiram a proposta de criação de Reserva Extrativista Marinha, no município de
Marapanim. Os dados obtidos de levantamentos secundários sobre a região foram
analisados, assim como os documentos recebidos referentes ao processo de criação da
Resex Marinha. Foi realizada, na Colônia de Pescadores de Marapanim, em 13 de abril
de 2013, uma reunião que teve como objetivos apresentar a equipe de pesquisa e discutir
com representantes do Comitê de Lideranças dos Povos Pesqueiros de Marapanim,
doravante Comitê, a logística e as atividades que seriam realizadas nos pólos e
comunidades. O Comitê, liderado por Luiz Gutemberg, é uma organização de voluntários
que estão participando e discutindo a criação da unidade de conservação no município,
desde 2005.
Participaram da reunião 13 representantes do Comitê, a equipe de pesquisa deste
diagnóstico, a secretária municipal de meio ambiente, o representante do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de outros interessados na
questão. Nessa reunião, o representante do ICMBio, na pessoa do Sr. Willian Fernandes
palestrou sobre as unidades de conservação, especificamente Reservas Extrativistas
(Resex), e as competências dos principais envolvidos na criação e gestão desta categoria
de unidade de conservação. Foi ainda realizado um exercício, entre os participantes, de
entendimento e mitigação de dúvidas sobre a reserva extrativista, sua criação e gestão.
Os integrantes do Comitê ficaram com a incumbência de contribuírem para
organização das oficinas e dos levantamentos em suas comunidades, especificamente
em Camará, Araticum-Miri, Guarajubal, Marudá e Juçateua.
As atividades de campo corresponderam a visitas às comunidades citadas no
Laudo de Vistoria Técnica, especificamente àquelas localizadas ao norte do município e
que utilizam os recursos pesqueiros. Nesses polos e comunidades mais isoladas foram
realizadas as oficinas. Os estudos etnobiológicos focaram os modos de vida dos
moradores e principalmente destes que praticam a pesca na região. Conversas informais
e entrevistas com pessoas chave, além de observação direta nos permitiram realizar os
diagnósticos e a caracterização socioambiental desses moradores.
Na região a criação de uma unidade de conservação é alvo de disputa de poder
institucional e organizacional entre líderes comunitários e organizações não
governamentais locais. Para a maioria dos moradores, a criação da unidade está
diretamente relacionada com a chegada de benefícios como casas e fomentos para a
pesca.
7
Nas comunidades visitadas, onde havia a presença de representantes do Comitê,
estes auxiliaram na mobilização dos moradores para participarem da oficina. Os Agentes
de Saúde Comunitária (ACS) contribuíram para o levantamento de informações,
principalmente sobre o número de famílias das comunidades e aspectos sociais. É
marcante a ausência da Colônia de Pescadores como representação de classe, assim
como associações comunitárias strictu sensu, a exceção das comunidades Crispim,
Marudá, Camará e Vista Alegre.
No município, a solicitação para a criação de uma unidade de conservação ocorreu
a partir do incentivo gerado com a chegada dos benefícios à Resex Mãe Grande Curuçá,
além da necessidade de reconhecimento dos territórios de pesca. O processo de
solicitação de criação da unidade iniciado em 2006, possui vários abaixo-assinados dos
moradores das comunidades pesqueiras encaminhados pelo grupo de voluntários que
formam o Comitê.
Os moradores e representantes de organizações da sociedade civil e de órgãos
públicos desconhecem os objetivos de uma reserva extrativista e quais os deveres e
direitos de seus moradores. A Colônia de Pescadores, embora apóie o grupo que forma o
Comitê, é pouco representativa quanto se trata de discutir a criação da Resex. O IBAMA
é citado principalmente no que tange ao período do defeso do caranguejo. A fiscalização
na região pesqueira é solicitada pelos moradores e tida como de fundamental importância
devido à invasão de “barcos de fora”. Os conflitos relacionados à pesca estão presentes
no município, sobretudo quanto à doação de área para atracadouro de barcos de
reboque pela prefeitura, na comunidade de Vista Alegre. Segundo os pescadores esses
barcos destroem o mangue, os currais, e “espantam os peixes”, pois navegam dentro do
rio Cajutuba em velocidade excessiva. Além disso, há frotas de barcos que chegam do
Nordeste e navegam em áreas próximas à costa quando deveriam estar em alto mar
competindo com a pesca artesanal.
Os resultados do diagnóstico caracterizam uma população que vive da pesca e da
mariscagem; que conhece a área e o ambiente de onde retiram os recursos necessários
à reprodução social das famílias. A pesca artesanal é praticada na região, assim como a
pesca de camarão e “tiração” e “cata” de caranguejo. O turismo é uma das principais
atividades econômicas do município, no entanto não tem planejamento ou geração de
benefícios aos moradores locais.
O principal ecossistema da região visitada, o manguezal, está ameaçado pela
excessiva ação antrópica para a “tiração” e comercialização de caranguejos, para a
retirada da madeira nativa usada para a produção de currais e lenha, além da
especulação imobiliária impulsionada pelo turismo.
8
Este documento está organizado em uma introdução, metodologia adotada seguido
dos resultados e referências bibliográficas. A introdução trata de um breve relato das
atividades realizadas. Nos itens que compõem os resultados estão descritas as
caracterizações gerais dos moradores das comunidades visitadas e seus modos de vida.
Alguns subitens foram gerados a partir das especificações encontradas nas comunidades
visitadas.
2 - METODOLOGIA e ÁREA PERCORRIDA
A metodologia descrita no Plano de Trabalho e adotada para a realização deste
diagnóstico sofreu algumas alterações decorrentes da realidade encontrada na região de
estudo. Assim, as estratégias para o levantamento de dados do diagnóstico e da
caracterização da população no município de Marapanim envolveram duas etapas
básicas. Primeiramente foram selecionados dados secundários disponíveis em bancos de
dados e publicações científicas, artigos, dissertações e teses. A segunda etapa
correspondeu à coleta de dados primários realizados no período de 13 a 22 de abril de
2013. Foram aplicados questionários, realizadas entrevistas semiestruturadas junto aos
moradores, observação direta durante as visitas as comunidades e conversas informais
com alguns moradores e ACS. Entrevistas com base em um roteiro predeterminado
foram realizadas junto aos representantes de instituições governamentais e não
governamentais que atuam na área contemplando suas ações exercidas na região, suas
visões e entendimentos sobre a proposta de criação de uma unidade de conservação na
categoria de uso sustentável.
Vinte e sete atores sociais considerados chave foram amostrados nas comunidades
visitadas e entrevistados em profundidade. Os entrevistados representam pescadores
artesanais; curralistas e marisqueiros incluídos neste grupo caranguejeiros, pescadores
de camarão, tiradores de sururu e outros moluscos.
As entrevistas com duração média de 3 horas buscou levantar informações sobre a
identificação da família, suas formas de organização social, uso da terra, sua
dependência dos recursos naturais disponíveis no ambiente, os conhecimentos que
detêm de sua área, e se sabem o que é uma reserva extrativista e o que esperam caso
esta seja criada.
A técnica de listagem livre foi utilizada para coleta de dados etnobiológicos. Trata-
se de uma ferramenta eficiente para indicar quais itens pertencem ao domínio cultural,
referem-se a um grupo de palavras organizadas, conceitos ou sentenças. Trabalhou-se
ainda com a identificação e ocorrência das espécies animais na área, utilizando pranchas
com imagens e fotos de animais (mamíferos, aves, peixes, répteis e crustáceos).
9
Para a identificação taxonômica da fauna e da flora citadas pelos entrevistados
utilizou-se de referências bibliográficas específicas da região e consultas ao herbário do
Museu Paraense Emílio Goeldi com fotos para identificação vegetal e a coleção
faunística, além de consultas a taxonomistas.
Segundo o Laudo de Vistoria Técnica que compõe o processo de criação da
unidade de conservação, as comunidades solicitantes estão organizadas em polos. Desta
forma, a lista de comunidades e seus respectivos polos foi organizada de acordo com a
atual divisão, segundo o representante do Comitê: (1) Polo Vista Alegre, composto pelas
comunidades Vista Alegre, Tamaruteua e Itauaçu sendo as duas últimas localizadas na
Ilha Dom Pedro; (2) Polo Camará, incluindo as comunidades Camará Crispim e
Bacuriteua; (3) Polo Marudá formado pelas comunidades Marudá (e seus ”bairros-
comunidade”), Cafezal e Recreio; (4) Polo Araticum-Miri, incluindo as comunidades de
Livramento, Porto Alegre, Araticum-Miri e Araticum (comunidade desativada, a área foi
comprada e transformada em um balneário); (5) Polo Sede formado pelas comunidades
Guarajubal, e Juçateua (Quadro 1).
Cabe destacar que no Distrito de Marudá foram realizadas visitas aos bairros-
comunidades (áreas de moradias tratadas como bairros pela prefeitura e denominadas
de comunidade pelos moradores) e a oficina foi realizada no Centro Comunitário de
Marudá. Já nos polos Vista Alegre e Sede foram realizadas oficinas nas comunidades
isoladas, entre elas Tamaruteua, Guarajubal e Juçateua, respectivamente.
Nos demais polos, a realização da oficina não enfrentou problemas de divulgação
ou de participação uma vez que os moradores das comunidades circunvizinhas tinham
acesso às comunidades polo e quando necessário, foi providenciado transporte e
alimentação para os moradores.
A chegada da equipe nas comunidades foi previamente agendada pelos
representantes do Comitê local, além de lideranças e moradores interessados na criação
da unidade de conservação. O envolvimento e apoio de representantes do Comitê, que
se considera membro do Movimento Pró-Resex1 no município, foi importante para a
realização das atividades previstas e a chegada da equipe nas comunidades.
1 Movimento Pró-Resex- grupo formado na região do Salgado Paraense para incentivar a
criação das unidades de conservação na área. Atualmente foi substituído pela Central de Associações de Usuários das Reservas Extrativistas Marinhas (CAUREM).
10
Quadro 1- Número de famílias das comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
Em todas as oficinas a estratégia utilizada foi de apresentação dos objetivos desse
estudo, esclarecimentos sobre o que são reservas extrativistas e o processo de criação
dessa categoria de unidade de conservação. Além disso, foram realizados exercícios
participativos e em grupo que gerassem dados e informações complementares as obtidas
por meio da aplicação dos questionários. Os exercícios aplicados foram: o Diagrama de
Venn, a Matriz Histoecológica e Mapeamento das Áreas de Uso.
As oficinas seguiram a seguinte programação: apresentação dos objetivos do
estudo, as atividades a serem realizadas nas comunidades, explicação e convite para
formação de grupos para realização dos exercícios. Após a apresentação do método dos
exercícios, os grupos se formaram aleatoriamente. Os resultados de cada grupo foram
apresentados a plenária para serem debatidos e mitigar as dúvidas.
Os dados quantitativos foram organizados para análise usando o aplicativo
Microsoft Excel 2007. As análises foram realizadas por meio de métodos da estatística
descritiva, com auxílio de representações gráficas e tabelas.
11
3 - RESULTADOS
Os resultados serão apresentados sendo acrescentados, nos itens respectivos, os
produtos obtidos em campo e os resultantes da pesquisa secundária.
3.1-Identificação e caracterização da população tra dicional envolvida na área
proposta para criação da Resex e de outros usuários da área.
A população identificada na área percorrida tem como principal característica as
atividades de pesca e de coleta de mariscos. As atividades agrícolas são praticamente
inexistentes. Apenas no distrito de Marudá e na comunidade de Vista Alegre há
moradores que praticam a agricultura onde é inexpressiva a comercialização da
produção. Nas demais comunidades quando há cultivo agrícola, este é para a
subsistência. A atividade de pesca envolve moradores de todas as comunidades
visitadas.
A atividade de pesca é diferenciada nas áreas onde estão localizadas as
comunidades. Nos polos Vista Alegre e Camará, além da pesca artesanal é forte a pesca
de camarão. Em Camará a pescaria de curral predomina entre os pescadores. Em
Crispim a pesca é feita na praia com as redes denominadas de rabiadeira. Este petrecho
é utilizado também pelos moradores de Bacuriteua e Retiro. Nas comunidades mais
distantes do oceano é a “tiração” de caranguejo a atividade predominante. Em Marudá a
pesca artesanal e a prestação de serviços para o turismo predominam. O grude é
comercializado por todos os pescadores.
As áreas de campos nativos que ocorrem na região da Ilha Dom Pedro e próximo
às comunidades de Camará, Crispim e Bacuriteua são utilizadas para a extração de
frutos, de palha e da caça. Nas áreas remanescentes de matas retiram a madeira para
construção das casas, folhas das palmeiras para confecção dos cofos, bambus para
confecção de currais e armadilhas para pesca como os muzuás2. No setor industrial
existem duas fábricas de gelo: uma está localizada na sede municipal, outra na
comunidade de Vista Alegre.
As comunidades visitadas, em geral apóiam a criação da unidade de conservação.
Muito desse apoio provém dos impactos sociais e ambientais gerados pela criação da
Reserva Extrativista Mãe Grande Curuçá e da Reserva Extrativista Maracanã, unidades
de conservação vizinhas do município de Marapanim. Além disso, há que se considerar o
trabalho realizado pelo grupo de voluntários que forma o Comitê principalmente no
2 Muzuá- Armadilha confeccionada de bambu e utilizada para a pesca nos rios próximos ao mangue.
12
período de 2006 a 2009 com intensa divulgação em programas de rádio local e ações
junto ao Ministério Público (MP) para a proteção ambiental no município.
As comunidades visitadas estão localizadas na porção norte do município e
limitadas a oeste pelo rio Cajutuba, ao norte pelo oceano Atlântico, a oeste pelo rio
Marapanim e ao sul pelo rio Juçateua. O acesso às comunidades dá-se pela estrada
asfaltada, a PA-138, pelas estradas vicinais que não possuem asfalto e pelos rios
Cajutuba e Camará e Marapanim (Figura 1).
13
Figura 1- Mapa da área percorrida e a localização das comunidades visitadas no
município de Marapanim-PA.
14
Características gerais
A idade dos entrevistados variou entre 29 e 82 anos o que proporciona uma média
de 52 anos de idade. O maior percentual de idade dos entrevistados ficou situado entre
41 e 60 anos (55,6%), seguido dos que possuem entre 20 e 40 anos (22,2%) (Tabela 1).
Os dados apresentados mostram que há uma população em idade considerada como
produtiva e também em vias de solicitação de aposentadoria identificada entre os
pescadores e marisqueiros nas comunidades visitadas.
Os entrevistados residem em média na mesma comunidade a cerca de 35 anos.
Apenas 40% deles declararam que nasceram e vivem na mesma comunidade até então.
Os demais migraram para Marapanim de municípios próximos como Magalhães Barata,
Castanhal e Belém ou de outros estados como, por exemplo, o Maranhão.
Tabela 1- Faixa etária dos entrevistados nas comunidades visitadas no município
de Marapanim-PA.
Faixa etária (anos) Nº de moradores Percentual (%)
20-40 6 22,2
41-60 15 55,6
61-80 5 18,5
Acima de 80 1 3,7
Total 27 100
Fonte: Dados da pesquisa
Em geral o crescimento populacional das comunidades está relacionado ao forte
apelo turístico do município. Há casamentos de moradores locais com migrantes e
veranistas formando novas famílias que se estabelecem na região e mantém as
atividades locais. A mobilidade entre as comunidades ocorre motivada pela dinâmica do
turismo local. Os moradores relataram que muitas famílias de outras comunidades
chegam para trabalhar durante o período de verão, quando o turismo é uma atividade
rentável, e se estabelecem na comunidade. Ao serem questionados sobre a intenção de
mudar para outro lugar, apenas um morador afirmou desejar sair de sua comunidade e a
justificativa para tal está relacionada com a educação dos filhos. Os demais entrevistados
afirmaram que não desejam sair de sua comunidade.
Características das residências
As residências estão construídas de alvenaria, madeira e barro (pau a pique)
(Figuras 2 e 2a). Todas as residências possuem energia elétrica e em Tamaruteua foi
15
desenvolvido, no ano de 1999, um projeto pelo Grupo de Estudos e Desenvolvimento de
Alternativas Energéticas (GEDAE) da Universidade Federal do Pará (UFPa). O projeto
intitulado Sistema Híbrido Solar-Eólico-Diesel para Eletrificação da comunidade de
Tamaruteua atendia a 47 famílias para captação de energia solar, eólica e diesel
(Barbosa et.al, 2004). Atualmente o projeto está em processo de revitalização e a energia
chega somente via gerador a diesel que funciona das 18:00 as 23:00hs. O óleo é
fornecido pela prefeitura. Cada morador tem um relógio de contagem de energia em sua
residência que é medida com o uso de um cartão magnético. O valor do cartão
corresponde ao gasto de energia de cada residência.
As casas construídas de alvenaria são maioria nas comunidades de Vista Alegre e
Marudá e possuem sala, quartos, cozinha e sanitários internos. Nos quintais os
moradores mantêm o fogão à lenha, o jirau e em algumas casas um pequeno depósito
para guardar o material de pesca. Nas comunidades de Tamaruteua, Itauaçú e
Guarajubal há predominância de casas construídas de madeira e barro, cobertas com
telhas de barro, de amianto ou de palha. A cozinha e o sanitário estão localizados nos
quintais, assim como os espaços para guarda de materiais de trabalho, como redes de
pesca e material para a mariscagem e para a lavoura. Em todas as comunidades há
moradores investindo na construção de casas de alvenaria.
Em geral as comunidades estão formadas ao redor das igrejas e dos portos ou
trapiches e praças. Há portos e rampas tanto públicos quanto privados para
desembarque e armazenamento de pescado em Vista Alegre, Itauaçu, Tamaruteua e
Porto Alegre. Nas comunidades praianas o desembarque é realizado nas praias, como
em Tamaruteua, Camará, Crispim e Recreio.
Em todas as comunidades há escolas até a 4ª série e nas comunidades polos,
escolas que oferecem ensino fundamental completo e ensino médio. Nas comunidades
há igrejas católicas e evangélicas. Os ramais de acesso às comunidades não são
asfaltados, exceto para Crispim e Marudá. Em Marudá, o acesso aos bairros comunidade
é por via não asfaltada ou com o asfalto já deteriorado. Observou-se ainda, que as vias
de acesso e circulação na sede do município estão em péssimas condições de tráfego.
18
Saneamento e serviços de saúde
O acesso à água nas comunidades visitadas é via sistema comunitário simplificado
formado por um conjunto de caixas d’água que fazem a distribuição para 100% das
residências em todas as comunidades, exceto em Tamaruteua e Itauaçú. Nessas últimas
comunidades a água é retirada de poço coletivo. O sistema de distribuição da água é
mantido pela prefeitura, que paga aos funcionários para fazer a manutenção das bombas
e do poço que abastece a caixa d’água. O custo para manutenção e recebimento de
água para cada morador varia nas comunidades entre R$8,00 a R$15,00 mensais.
A água para consumo recebe algum tipo de tratamento. Cerca de 40,7% dos
moradores declararam que filtram a água da torneira para beber, outros 18,5% coam,
apenas 7% adicionam cloro, e 14,8% não realizam nenhum tratamento.
O uso da fossa séptica predomina em apenas 3,7% das residências dos
entrevistados e 44,4% afirmaram possuir fossas negras (Tabela 2). Ausência de
sanitários ocorre principalmente nas comunidades mais distantes da sede municipal,
correspondendo a 3,7% dos entrevistados. A água utilizada na cozinha interna a casa e
nos quintais, onde são mantidos cozinhas e jiraus3, é escoada diretamente em valas
cavadas no solo e conduzidas para o quintal a céu aberto.
Tabela 2. Esgotamento sanitário nas residências dos entrevistados no município de
Marapanim-PA.
Saneamento Nº de citações Percentual (%)
Fossa negra 12 44,4
Fossa séptica 1 3,7
Céu aberto 13 48,1
Inexistência de banheiro 1 3,7
Total 27 100
Fonte: dados da pesquisa
O recolhimento público do lixo doméstico ocorre nas comunidades de Vista Alegre,
Marudá e Araticum-Miri, com frequência de duas ou três vezes por semana, ou
quinzenalmente. Nas demais comunidades 44,4% declararam queimar o lixo e outros
18% informaram utilizam os restos de lixo como adubo. Cabe destacar que nos bairros
onde há coleta pública do lixo, alguns moradores também afirmaram que queimam o lixo
3 Jirau- espécie de grade de varas ou tábuas sobre esteios fixados no chão que serve para
lavar louças ou roupas, e ainda guardar materiais de trabalho.
19
quando há acúmulo ou ausência de recolhimento. No município não há iniciativas para a
coleta seletiva ou reciclagem de lixo.
Quanto aos serviços de saúde pública, as campanhas de vacinação atendem aos
moradores. Na ocasião da elaboração deste estudo a equipe de vacinação pública estava
atuando nas comunidades. Embora não haja presença de Agentes de Saúde
Comunitários em todas as comunidades, estes atendem as comunidades próximas como
no caso da comunidade de Tamaruteua, que é assistida pelos ACS das comunidades de
Itauaçú. Em Crispim e Retiro os moradores são assistidos pelo ACS de Bacuriteua. No
caso de comunidades maiores como Marudá, os ACS são distribuídos por regiões ou
“bairros”. Os ACS têm como missão o cadastramento das famílias para acompanhamento
de biometria, e vacinação para atender ao programa Bolsa Família, além da prevenção e
encaminhamento de doentes para o hospital da sede municipal.
As principais doenças citadas pelos entrevistados foram gripe e diarréia. A malária
ocorreu na região no ano de 2005 e atualmente, segundo os agentes de saúde, está
controlada.
Fontes de renda
A pesca artesanal e de curral, a “tiração” e a “cata” de caranguejos, a pesca de
camarão e a coleta de sururu foram citadas como as principais atividades de geração de
renda para as comunidades visitadas. A atividade agrícola foi citada por apenas dois
moradores que também pescam e é praticada para consumo da família. Cabe ressaltar
que apenas um entrevistado citou a atividade turística como sua fonte de renda,
destacando o ramo de serviços, nesse caso de restaurante.
O principal recurso cultivado é a mandioca e a macaxeira (Manihot esculenta,
Crantz). As comunidades próximas as áreas de campo coletam bacuri (Platonia insignis)
e outras frutas nativas como caju (Anacardium sp) e tucumã (Astrocaryum sp).
É também fonte geradora de renda para algumas familiais, mas sem grande
expressão, a pesca do siri (Callinects sp), a coleta do mexilhão (Mytella sp.), do sururu
(Mytella falcata), do sarnambi (Lucina pectinatae) e do turu (Teredo sp).
A pesca artesanal é realizada em barcos de até 3 toneladas e os principais portos
estão situados na sede do município (rio Marapanim e rio Cajutuba) e nas comunidades
de Vista Alegre, Camará e Marudá.
Há comercialização do grude, principalmente em Tamaruteua e Camará, onde há
compradores nas comunidades. Nas demais comunidades o grude é comercializado nos
portos ou para os patrões da pesca. O grude é comercializado preferencialmente depois
de beneficiado (quando a bexiga natatória é limpa e seca) e segundo um comprador “o
preço é estimulado pelo dólar, e são os compradores de Belém que dizem o preço”. O
20
grude de peixes como a pescada, gurijuba, uritinga e corvina “são os que têm mercado”.
Além do grude a “aba" dos tubarões (nadadeira dorsal) tem valor de mercado na região.
Pela “aba” de tubarão os patrões pagavam até R$700,00/kg “mas isso era há
quatro anos, agora o IBAMA proibiu e fechou o mercado” (IN 014-MPA/MMA, 2012)
Na ocasião deste estudo, o valor pago pelo quilo do grude da pescada amarela era
de R$470,00; para o quilo do grude de gurijuba R$100,00; o de corvina R$120,00 e o de
uritinga R$30,00. Segundo alguns compradores de grude nas comunidades “o valor
máximo comercializado chega a 40 kg de grude vendido por temporada de pesca”.
A pesca artesanal em barcos de tonelagem é realizada por meio do aviamento ou
em “pesca de companheiros” quando, um pescador usa o barco de outras pessoas.
Na pescaria de aviamento o dono do barco é quem “avia a despesa” e os barcos,
dependendo dos pesqueiros disponíveis podem permanecer nas proximidades das croas
ou em alto mar por até uma semana. O aviamento consiste em o dono do barco manter
as “despesas” para a viagem, estando incluídas nesta: o combustível, a alimentação, o
gelo e muitas vezes os petrechos de pesca. No retorno da pescaria, após a
comercialização da produção, são diminuídos do total obtido os valores da “despesa”. O
restante é dividido entre o dono do barco que fica “com uma parte e meia“ e os
pescadores. Segundo um dos pescadores entrevistados “a pesca hoje é loteria”,
referindo-se à dificuldade de ter sucesso na pescaria, devido à invasão de “barcos de
grandes empresas que arrastam muito perto daqui”.
A pesca de companheiros refere-se ao uso de uma canoa com motor rabeta de
outrem e as atividades de pesca serem feitas em conjunto sem, no entanto, ser realizado
pagamento e o produto obtido é divido de forma igualitária.
A pesca de camarões pode ser realizada em duplas ou individualmente. Os
pescadores permanecem nas camaroeiras (abrigos construídos próximo às margens do
rio e no mangue) durante o período de pescaria, que pode ser de até uma semana. A
produção é salgada nos abrigos e pode ser comercializada diariamente, se o patrão for
buscar, ou semanalmente, quando o pescador deixa a camaroeira e comercializa seu
produto nos portos.
A “tiração” e a “cata” de caranguejos são praticadas nas comunidades de
Guarajubal e Araticum-Miri, principalmente. Em geral, a produção de caranguejo é
comercializada pela unidade ao preço de R$1,00. Há compradores na comunidade e
marreteiros “de fora” que já tem “seu freguês4”. Há tiradores de caranguejos que os
4 Freguês- denominação local para o tirador ou catador que tem patrão fixo para compra de sua produção.
21
comercializam na estrada de acesso ao município. Os animais podem ser
comercializados individualmente ou em cambadas com até 12 unidades.
A “catação” ou “catador de polpa ou massa” refere-se ao trabalhador local que retira
a carne do caranguejo para ser comercializada. Essa atividade foi observada ao longo da
estrada de acesso a Guarajubal. O grupo que trabalhava na atividade não permitiu ser
fotografado. No entanto, concordou que fizéssemos observações da atividade. A “cata”
consiste em uma atividade que envolve a família, principalmente as mulheres e os
idosos. O patrão entrega os caranguejos já pré-cozidos em sacas, cada saca pode conter
até 200 crustáceos. A atividade é realizada ao ar livre, próximo da residência ou nas
cozinhas abertas. A catadora quebra o caranguejo sobre uma pequena tábua de madeira
utilizando um pedaço de madeira próprio, retira as patas e as pinças maiores. A pinça
maior ou “unha” tem seu exoesqueleto quebrado e é armazenada separadamente da
massa que compõem o abdômen do crustáceo. Em geral a massa é retirada da casca
com as mãos e unhas do extrator e depositadas em uma bacia plástica. Não há
higienização do local ou dos instrumentos para armazenamento da polpa. O catador
ganha R$3,00 por kg de massa produzida. As pinças maiores ou unhas são
comercializadas em embalagens plásticas de 1,5kg ao preço de R$22,00.
Se o catador for também tirador de caranguejo, ele utiliza a mão de obra familiar
para fazer a “cata” da massa. O quilo da massa ou polpa é comercializado para o
marreteiro por R$15,00 no inverno e R$12,00 no verão.
Alguns catadores afirmaram que 200 unidades de caranguejos podem produzir até
6 kg de massa. Informações obtidas junto a família de tiradores e catadores, o grupo
afirmou que pode produzir no inverno entre 8 a 10kg de polpa/semana e no verão a
produção é de cerca de 10 a 15kg/semana.
Segundo Machado (2007), que estudou as catadoras de caranguejos em
Guarajubal “o caranguejo é relevante economicamente para a vila de Guarajubal devido à
produção e comercialização de sua massa, garantindo obtenção de renda para os
moradores, principalmente para um grande número de mulheres dessa localidade”. Ainda
segundo a autora, a catação de caranguejo foi introduzida no local há aproximadamente
17 anos, através de um senhor conhecido como “Paulo Sarará”. E, pelo que foi relatado
por uma catadora, as pessoas de Guarajubal sempre cataram caranguejo, todavia
somente para o próprio consumo. Essa situação foi alterada com a vinda do Sr. Paulo,
quando a “catação” passou a ser feita com fins comerciais, com a instalação de uma
“fábrica” para “catação” e embalagem da polpa. Atualmente, não há organização da
produção e a “fábrica” de polpa de caranguejo já não existe.
22
A pesca de camarão é ativa na região dos rios Cajutuba e Camará. É comum
encontrar nas áreas onde há formação de praias ou pontas de terra, pequenas
construções suspensas em palafitas, que formam as camaroeiras (espécie de cabana
para abrigo dos pescadores). Estas cabanas são utilizadas pelos pescadores de camarão
da região e de fora, é local de trabalho para o beneficiamento e salga dos crustáceos
para a comercialização. As camaroeiras, segundo um dos pescadores “não tem dono,
mas tem patrão. Os pescadores podem utilizar as existentes, mas sabendo que tem que
vender para o comprador daquela área”. Eles permanecem no abrigo por até 2 semanas,
e fazem a pesca do camarão com o uso de puçás e tarrafas. O camarão é comercializado
por kg e classificado de acordo com a espécie e o tamanho. O preço é dado pelo
marreteiro e pode chegar até R$20,00 para o camarão branco graúdo.
A extração do sarnambi (Lucina pectinatambi) ocorre nas comunidades onde há
formação de rochas e pedras próximas às praias como em Camará, Porto Alegre e
Marudá. A coleta é realizada pelas mulheres durante a maré baixa e segundo algumas
extratoras, “esse trabalho pode durar pode durar até 3 horas”. As mulheres caminham
pelas áreas de praias, sobre as pedras e com o auxílio de uma espécie de anchinho de
jardim ou gancho reviram e cavam as pedras em busca dos moluscos. Os animais
capturados são depositados em um balde ou em um paneiro. Para ser comercializado o
animal deve ser limpo e cozido. Para tanto, lavam as conchas, cozinham, e quando
abertas elas retiram o molusco, que é novamente lavado, ensacado e congelado para ser
comercializado. O sarnambi na região de Camará, uma das principais áreas de produção,
é comercializado por R$10,00/kg. Segundo uma das extratoras “sarnambi contém muita
areia, quando a maré vem enchendo, o sarnambi abre e espirra a areia, por isso precisa
ser lavado em quatro águas”.
A coleta do turu é mais praticada pelos moradores das comunidades de Juçateua e
Guarajubal, onde ocorre à comercialização nas demais comunidades o turu é utilizado
para consumo.
Entre os entrevistados, 77% declararam exercer múltiplas atividades. A pesca
artesanal, a “tiração” e a “cata” de caranguejos, a pesca de camarão e coleta de sururu e
sarnambi concentram 70% das atividades praticadas (Tabela 3). Apenas seis moradores
entrevistados declararam viver somente da pesca. A pesca é realizada em barcos de
tonelagem que chegam ao mar aberto, em canoas a remo ou motores rabeta, que
transitam na maré, nos rios e igarapés locais.
Na região, os serviços da pesca artesanal e do turismo são responsáveis pela
contratação de mão-de-obra. Os demais, que incluem a “tiração” e cata de caranguejo e
pesca de camarão utilizam a mão de obra familiar.
23
Nas comunidades que exercem a agricultura, como em Bacuriteua, Vista Alegre,
Livramento, Araticum-Miri e Porto Alegre predominam o cultivo da mandioca (Manihot
sculenta, Crantz), com até duas tarefas (50mx50m) de áreas plantadas. O uso de
maquinários está sendo introduzido em Vista Alegre. Nas demais comunidades o preparo
da terra é realizado na forma tradicional de corte e queima. Os roçados são destinados à
subsistência das famílias. O cultivo de frutíferas ocorre, em geral, nas proximidades das
casas. A manga (Mangifera indica), o coco (Cocos nucifera), o tucumã (Astrocarym sp) e
citros em geral são os mais comuns
Tabela 3 - Atividades declaradas pelos entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
Atividade declarada Nº de citações Percentual (%)
Agricultura 3 3.7
Pesca 21 26.2
“Tiração” de caranguejo 17 21.2
“Cata” de caranguejo 8 10
Pesca de camarão 10 12.5
Mexilhão 2 2.5
Sururu 5 6.2
Turu 2 2.5
Comércio 3 3.7
Serviços (turismo, pedreiro, diarista) 3 3.7
Diarista (capina) 2 2.5
Marreteiro 3 3.7
Aposentado 1 1.2 Total 80 100
Fonte: dados da pesquisa
A renda média declarada pelos entrevistados foi de R$860,00. Desses 18,5%
afirmaram receber, em média, menos de um salário mínimo por mês com as atividades
produtivas; 26% declararam receber um salário mínimo; 33,3% declaram obter até dois
salários mínimos e 22% afirmaram receber acima de cinco salários mínimos com suas
atividades de produção. Todos os entrevistados declararam receber algum tipo de
benefício. Entre os citados estão: bolsa família e a aposentadoria.
O extrativismo vegetal, embora não tenha sido declarado pelos entrevistados como
fonte geradora de renda, ocorre na região motivada pelo turismo, sobretudo para a
produção de artesanatos. Esta atividade está presente nas comunidades de Vista Alegre,
Crispim, Camará e Marudá. Há ainda a coleta de frutos para comercialização in natura ou
beneficiado sob forma de polpa, como o bacuri (Platonia insignis) e o muruci (Byrsonima
crassifólia) comuns nas áreas de campo.
24
Os artesãos utilizam as sementes de ajiru ou agiru ou ainda ajuru (Chysobalanus
icaco), de açaí (Euterpe sp), de muruci, além de cipós e cascas para produção de
bijuterias e outros artefatos. Nas comunidades citadas acima há artesãos que vivem de
seus produtos e são reconhecidos pelos moradores locais.
Não foi observada a ocorrência de produção de cofos para a comercialização. Em
geral os pescadores e tiradores de caranguejo utilizam paneiros (comprados de fora) e
sacas respectivamente para o transporte da produção.
Nas comunidades de Livramento e Porto Alegre há extração e comercialização de
pedras. Segundo um dos extrativistas, as piçarreiras da região (local onde há acúmulo de
pedras) estão localizadas na estrada de acesso à Vista Alegre, nas proximidades de
Novo Horizonte, na estrada para a comunidade de Porto Alegre e em Araticum-Miri.
Segundo um dos entrevistados “tirar pedra é trabalho bom, é diferente dos outros, o
quebrador de pedra vai e volta a hora que quer, mas é puxado, exige força, mas é bom,
dá dinheiro rápido”. A atividade consiste em buscar áreas de acúmulo de pedras e com o
uso de uma marreta, limpar o terreno e quebrar as pedras e organizá-las em montes de
aproximadamente 1m². Essa porção, quando formados, são chamadas de “lotes”. Cada
extrator ou quebrador tem seu lote e o marca com uma placa ou galho. Os compradores
pagam a vista, no local da retirada, ou deixam uma anotação e o extrator se dirige à loja
de materiais de construção (estâncias) para a retirada do dinheiro. O valor pago, na
ocasião deste diagnóstico, era de R$30,00 pelo m² de pedras. Um trabalhador pode
retirar até 10m²/semana.
Divisão social do trabalho e relações de gênero
A divisão social do trabalho entre os gêneros é percebida e diferenciada nas
comunidades visitadas. As atividades de pesca estão nas mãos dos homens e a
participação feminina se restringe, muitas vezes, ao reconhecimento de serem
“ajudantes”. As mulheres participam de algumas despescas (retirada dos peixes do
curral) e pescarias nas proximidades da comunidade ou nas beiras dos rios, consertam
as redes e malhadeiras, mas não saem para a pesca em alto mar.
Das atividades reconhecidas como feminina estão a coleta de sururus e sarnambis,
e a “cata” da massa de caranguejo. A comercialização da produção é feita por elas
mesmas. Algumas estão associadas à Colônia de Pescadores, mas em geral se
associam ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), mesmo sem possuírem roçados,
para garantir a aposentadoria e os benefícios sociais. A presença feminina está ainda nas
atividades dos roçados (Quadro 2).
25
Quadro 2- Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e agricultura entre os entrevistados no município de Marapanim-PA.
Ambiente institucional e organizacional
Mais de 80% cento dos entrevistados afirmaram fazer parte de alguma organização
social, e os outros 14% declaram não participar. Dentre as organizações a Colônia de
Pescadores Z-06 foi a mais citada (74%), seguida do STR com 7%. Apenas um morador
declarou participar somente de sua associação comunitária. O tempo médio de filiação na
Colônia dos Pescadores é de 20 anos. A organização social é reconhecida pelos
pescadores como entidade de classe, mas é pouco atuante.
A exceção das comunidades de Camará, Marudá, Crispim, Vista Alegre,
Livramento, Araticum-Miri e Juçateua nas demais comunidades as organizações sociais
não existem. Nessas há a presença dos coordenadores da igreja ou lideranças isoladas,
que em passado recente participaram de alguma organização social local.
Em Juçateua há ainda um Clube de Mães, que está desativado, mas foi lembrado
na oficina como importante para a comunidade no seu período de atuação, quando
desenvolvia atividades produtivas. A Associação Comunitária de Juçateua atua com
assistência aos moradores ajudando em casos de doenças e no controle e distribuição da
água. Em Camará é o presidente da Associação quem faz contato com a prefeitura para
26
ações na comunidade é reconhecido pelos moradores e seu cargo é vitalício. Ele também
é responsável pela liberação de áreas para uso local e para construção de casas de
veranistas
Em Marudá há um Centro Comunitário que funciona também como escola e o
acesso aos moradores é dificultado pela ausência de atuação da diretoria atual. Há ainda
associações de bairros independentes da associação central, como por exemplo, em Sol
da Manhã, bairro-comunidade que possui projeto agrícola financiado pelo programa
estadual denominado de Pará Rural. A associação de Livramento está relacionada com
as atividades agrícolas, mas no momento deste estudo, estava desativada. Em Araticum-
Miri há a Associação Comunitária Desportiva de Araticum-Miri que foi criada para articular
os campeonatos de futebol, mas atualmente está desativada. A Associação de
Moradores de Crispim existe há mais de 20 anos, possui sede própria e está sendo
reativada. Houve eleições recentemente e a principal ação da atual diretoria é recuperar
a adimplência da organização social. É a Associação que controla a distribuição da água
na comunidade.
Políticas públicas e Diagrama de Venn
Utilizando a definição de Peters (1986, apud Souza, 2006), “política pública é a
soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e
que influenciam a vida dos cidadãos”. Dessa forma, por meio dos exercícios do Diagrama
de Venn5 foi possível perceber quais as demandas de políticas públicas e quais
instituições “representam” a decisão e a implementação das políticas públicas almejadas
pelos moradores em Marapanim. Ressalta-se que as semelhanças entre os diagramas
apresentados pelas comunidades partícipes caracterizam e reflete o momento atual
político vivenciado pelos moradores das comunidades frente às recentes eleições
municipais. Cabe destacar que durante este exercício houve algumas intervenções de
Organizações Não Governamentais (ONG) locais, ora tecendo esclarecimentos de suas
atividades e ora buscando reconhecimento por parte dos moradores. Ao grupo da ONG
foi solicitado que não interviesse, a fim de que pudéssemos diagnosticar a realidade
local.
As igrejas estão presentes em todos os diagramas, assim como algumas
associações comunitárias. Serviços como segurança pública, educação e saúde foram
também considerados importantes e necessários para os moradores.
5 Para este exercício o tamanho e a cor dos círculos foram as referências utilizadas para o
grau de importância dado, pelos moradores, à instituição/órgão proposto. A distância dos círculos em relação às comunidades refere-se à presença e ação ou não da instituição na área.
27
A seguir são apresentados os quadros formados pelos grupos durante as oficinas
(Quadros 3.4, 5, 6, 7,8 e 9) e (Figura 3).
Quadro 3- Diagrama de Venn da comunidade Tamaruteua.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
Nesta comunidade apenas as organizações locais e políticas públicas, como o
bolsa família foram consideradas de grande importância. Observa-se que o grupo
considerou todas as instituições e políticas como de média importância e distantes da
comunidade. Esta classificação se reflete no distanciamento e isolamento que a
comunidade vive da sede municipal.
A questão da segurança pública foi citada pelo grupo como de fundamental
importância para a comunidade, sobretudo para o combate ao tráfico de drogas e a
prostituição, uma vez que a região é considerada por pescadores como área de abrigo
marítimo. Durante a oficina buscou-se, por meio do atual representante do Comitê,
reativar as representações locais para que a comunidade tenha representantes no
Comitê. Em Tamaruteua há uma mobilidade social intensa, devido às dificuldades com
educação e obtenção de água. A comunidade é abastecida por dois poços e não há água
encanada. A água não é de qualidade e os poços secam no verão.
28
O ICMBio e o IBAMA foram citados como instituições distantes da comunidade.
Para eles, é necessária a presença dos Institutos para que haja maior fiscalização na
região pesqueira.
Quadro 4 - Diagrama de Venn da comunidade Vista Alegre e Itauaçu.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
A oficina nesta comunidade foi a que teve o menor número de participantes.
Embora houvesse representantes do Comitê na comunidade, percebeu-se uma
dificuldade de comunicação e de representatividade local para a mobilização dos
moradores. O grupo que participou da oficina representava interesses locais municipais,
uma vez que o atual secretário de agricultura do município é “filho” da comunidade. É na
região de Vista Alegre que está o foco de atuação da prefeitura para incentivos agrícolas,
motivando a revitalização da Associação de Agricultores da comunidade. Vista Alegre é
considerada quase um distrito de Marapanim. Para os participantes “a agricultura deverá
ser uma alavanca na região, aqui se pode produzir de tudo e aqui já foi uma área de
produção, tudo saia daqui” referindo-se a produtividade das terras. Para o grupo a “pesca
já não está produtiva”. Há conflitos entre pescadores artesanais e pescadores de
camarão, devido ao uso de redes e puçás com malhas muito pequenas.
Destaca-se que devido à participação de grupos com outros interesses as questões
sociais como educação, segurança pública e outros serviços não foram destacados. No
29
entanto, em conversas informais realizadas com moradores, estes afirmaram que na
região é necessária a fiscalização ambiental. Em Vista Alegre foi recentemente instalado
um atracadouro para empresas de reboques, que segundo os moradores “foram retirados
de Vigia devido aos estragos causados no ambiente”.
Quadro 5- Diagrama de Venn do polo Camará, formado pelas comunidades
Bacuriteua e Crispim.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
Nesse polo, a oficina foi realizada na escola. Participaram moradores de Crispim,
Bacuriteua e Camará. Observa-se que a associação comunitária foi considerada de
média importância e nem tão próxima as comunidades, que as comunidades se
percebem distantes dos serviços e políticas públicas, embora tenha representante na
Câmara dos Vereadores. Cabe destacar que na apresentação do grupo, foi solicitada que
o círculo que representa a Câmara fosse distanciado das comunidades devido à ausência
de ações comunitárias. O turismo, ainda que expresso como de média importância, foi
considerado pelo grupo como oportunidade de desenvolvimento para a região.
O IBAMA e outras instituições ligadas ao meio ambiente foram inseridos distantes
das comunidades, mas consideradas de grande importância. No caso da universidade, o
grupo comentou que “vem muitos pesquisadores nessa região, mas nunca deixam os
resultados ou trazem respostas para os moradores”. Na ocasião, foi citado por um
morador, a recente visita á área de técnicos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente
30
(SEMA) que, segundo ele, estavam realizando levantamentos para a criação de uma
reserva parque na região da Ilha Dom Pedro.
Quadro 6- Diagrama de Venn do polo Marudá, formado pelos bairros comunidades
Cafezal, Recreio, Sossego e Sol da Manhã.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
O grupo destacou as ações e presença do governo federal, assim como as igrejas,
e as ações do Instituto Paraense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) como
de grande importância e presentes nas comunidades. Nesse polo, em que estão
concentradas as principais ações de turismo do estado, observa-se que este serviço,
embora reconhecido como de grande importância, não foi inserido como próximo aos
comunitários. Organizações de apoio aos moradores como a Colônia de Pescadores e o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, segundo o grupo “eles são de grande importância
porque é feito para a gente, mas atualmente não estão participando ou trazendo
benefícios para os moradores”. Durante a apresentação do grupo houve um debate sobre
a disposição no quadro dos círculos referentes à Colônia dos Pescadores e o Sindicato.
Foi proposto que houvesse inversão do posicionamento dos círculos, uma vez que foi
defendida a presença da Colônia de Pescadores nas comunidades. Nesse grupo aparece
31
a universidade, e novamente o grupo manifestou a ausência de respostas para os locais
sobre as pesquisas realizadas.
A prefeitura foi considerada importante e distante do polo segundo o grupo “eles só
aprecem na época da eleição e depois somem, não cumprem as promessas”.
Quadro 7-Diagrama de Venn do polo Araticum-Miri, formado pelas comunidades
Livramento, Porto Alegre e Araticum-Miri.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
O grupo considerou todas as instituições e políticas públicas de grande importância.
Destacou as Igrejas e a política do Programa Bolsa Família como próximo da
comunidade e as ações atuais para o saneamento básico que estão sendo implantadas
nas comunidades. A ausência de segurança pública foi debatida na plenária e questões
como tráfico de drogas e roubos nas residências foram acentuadas. As associações
comunitárias foram consideradas importantes, mas sem atuação nas comunidades,
assim como as entidades de classe que representam os pescadores e os agricultores.
Destaca-se que a oficina neste polo foi articulada pelo representante do Comitê, que por
sua vez também atua na coordenação da igreja.
Os moradores destacaram que há nas comunidades ausência de incentivos que
permitem aos jovens ter profissão e atuação depois dos estudos, mesmo coma a política
32
de incentivos existentes. As questões ambientais também foram motivo de debate na
oficina deste polo, sobretudo pelos conflitos existentes entre pescadores de camarão e
pescadores artesanais pelo uso do puçá pelos primeiros. O grupo afirmou que “ não tem
fiscalização, por isso o IBAMA e o Meio Ambiente estão distantes”
Quadro 8- Diagrama de Venn da comunidade Guarajubal.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
A comunidade, embora próxima da sede municipal, se apresentou como
“abandonada pelas autoridades”. A partir do comentário inicial o grupo, este destacou
que “todas as políticas estão ausentes daqui, já fizemos reunião com as autoridades e
denúncias na Colônia de Pescadores e ninguém aprece aqui”, referindo-se às
necessidades e demandas da comunidade para questões que envolvem a segurança
pública, o ambiente e a fiscalização para a ”tiração” de caranguejos. Segundo o grupo ”há
muitos compradores de massa e polpa e com isso aumentou o número de pessoas que
vão ao mangue”. Afirmaram ainda que “as pessoas não estão respeitando o tamanho do
caranguejo e tiram de todos os tamanhos e também as fêmeas”. Observa-se que as
instituições ligadas ao meio ambiente estão distantes da comunidade.
Destacaram a presença de pesquisadores da Universidade Federal do Pará na
comunidade e questionados sobre o resultado da pesquisa, afirmaram que “esses
deixaram seu livro aqui na comunidade”. O grupo apontou ainda que há necessidade de
33
atividades que devem ser desenvolvidas com os jovens “por que eles se metem com as
drogas”.
Quadro 9 - Diagrama de Venn da comunidade Juçateua.
Legenda:
pouca importância média importância grande importância
O destaque na apresentação do grupo foi a importância e a presença na
comunidade da Associação Comunitária. Para eles ”a associação atua muito bem,
controla o abastecimento de água e promove a limpeza das ruas”. Quanto as demais
instituições e políticas públicas inseridas no quadro, para o grupo “a comunidade precisa
de tudo isso, mas não tem atenção”
A câmara dos vereadores e a colônia de pescadores foram consideradas de média
importância e ambas distantes da comunidade. As secretarias municipais, a prefeitura e a
EMATER apresentadas como de grande importância para a comunidade, mas segundo o
grupo em sua apresentação “essas instituições estão distantes, não adianta mandar
pedidos eles não respondem ou aparecem aqui”.
34
A segurança pública foi categorizada como de grande importância devido à forte
presença de tráfico de drogas na região e ataques de piratas aos pescadores.
Figura 3 - Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades e comunidades polos
na construção dos Diagramas de Venn, no município de Marapanim-PA.
35
3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos na turais pela população
tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos.
Os países de alta biodiversidade, como o Brasil ou outros países tropicais,
apresentam diversificadas características físicas, climáticas e biológicas que
abrigam variadas formas de vida e ecossistemas. Através de estudos ecológicos
junto às comunidades, as pessoas se conscientizam sobre o prejuízo da perda de
biodiversidade, o valor da etnobiologia e a importância da conservação e do
desenvolvimento sustentável para as presentes e futuras gerações.
Os recursos da biodiversidade são fundamentais para o desenvolvimento
econômico, social e cultural das sociedades humanas. Segundo Alves et al.(2008 a), os
modos como os recursos naturais são utilizados pelas populações humanas são
extremamente relevantes para definição de estratégias conservacionistas.
Os estudos com comunidades e ambiente levam em conta dois principais
componentes inter-relacionados e interdependentes: as situações práticas de vida
da comunidade estudada, atentando para a cultura e tradição locais e a utilização
sustentável dos recursos naturais locais (Pandey et al, 1998).
Uma das abordagens científicas para estudar a relação do homem com a natureza
é a etnobiologia, que é uma ciência interdisciplinar derivada da antropologia cognitiva e
de áreas das ciências biológicas, como a ecologia (Begossi,1993). O estudo
etnobiológico investiga, analisa e sistematiza o rico e detalhado conhecimento das
populações e pode apresentar resultados de pesquisa que aperfeiçoem utilização de
recursos naturais como a pesca artesanal, onde os peixes compõem um grupo animal de
grande diversidade biológica e importante recurso alimentar (Begossi et al, 2002). Além
disso, os estudos etnobiológicos possibilitam a incorporação de critérios de etnomanejo
(Diegues1995) na determinação das políticas públicas do território marinho.
Os moradores entrevistados por meio dos questionários e conversas informais das
comunidades visitadas no município de Marapanim reconhecem uma série de paisagens,
animais e plantas que ocorrem na região e em alguns casos, estes recursos biológicos
têm valor utilitário.
36
Uso da fauna
Os entrevistados citaram 243 animais (218 vertebrados e 25 invertebrados) que
ocorrem na área. Os animas citados pertencem a 8 categorias taxonômicas distintas. As
categorias com maior número de espécies citadas foram: aves, peixes, mamíferos e
répteis (Figura 4)
0 10 20 30 40 50 60 70 80
aves
peixes
mamiferos
reptéis
anfíbios
crustáceos
insetos
moluscos
Ca
teg
ori
as
taxo
nô
mic
as
Nº de citações
Figura 4- Número de espécies animais por categoria taxonômica citadas pelos
moradores das comunidades visitadas no município de Marapanim -PA.
Dos 243 animais citados, 72 foram aves, isto ocorre devido à variedade desses
animais na região em função dos diferentes ecossistemas de mangue, mar, terra firme e
campo. Dentre os animais que apresentaram o maior número de citações foram
Eudocimus ruber (guará, 20); Tringa flavipes (maçarico, 17); Dasyprocta leporina (cutia,
21); Armadillidium sp (tatu,18), macaco prego (Cebus apella,18); gó (Macrodon
ancylodon, 21); e camaleão (Iguana sp, 19).
O uso alimentar de animais engloba, além da pesca, a fauna terrestre nativa obtida
com a caça e com animais de criação doméstica como galinhas, porcos, patos e outras
aves. Constatou-se a existência de uma conexão utilitária da fauna na região, sendo o
uso alimentar o mais representativo, uma vez que 90% das espécies de peixes citadas,
20% das espécies de mamíferos, 10% das espécies de répteis e 12,3% das espécies de
aves foram associadas a esse tipo de uso.
Dentre os animais citados pelos entrevistados o Leopardus wiedii (gato maracajá);
Trichechus manatus (peixe-boi marinho), a Pteronura brasiliensis (ariranha) e o Pristis
perotteti (espadarte) constam na Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de
Extinção (IBAMA, 2003). Além desses, estão ainda citados o Epinephelus itajara (mero),
o Sphyrna tiburo (cação) que constam na Lista de Espécies da Flora e da Fauna
Ameaçadas no Estado do Pará (SEMA, s/d).
37
A caça é praticada na região para consumo e venda principalmente na comunidade
Juçateua. Os moradores entrevistados nas demais comunidades afirmaram que “aqui a
caça já está rara, mas quando aparece pegamos para comer”. Mais de 80% dos
moradores entrevistados afirmaram que não praticam a atividade. No entanto, 60% deles
afirmaram que há caçadores em sua comunidade e que consomem caça. A paca e o tatu
são os animais preferidos dos caçadores que usam diversas estratégias de caça, entre
elas o moitá, o bufete (espécie de arma artesanal), a baladeira ou a isca. Segundo os
moradores, os caçadores de fora que chegam à região tem sua origem na sede municipal
de Marapanim, Belém e Castanhal. As principais áreas utilizadas para a prática da caça é
na região da comunidade de Juçateua, onde o kg da carne de paca é comercializado por
R$12,00 e do tatu chega a R$15,00. Além da caça, o consumo de proteínas advém das
atividades de pesca e da mariscada.
A pesca e a mariscada
A atividade pesqueira faz parte das mais antigas tradições dos habitantes do litoral
amazônico, que mantiveram sua riqueza cultural nas formas de exploração dos recursos
naturais, mesmo com a introdução das transformações socioculturais impostas pelo
desenvolvimento econômico na região (Veríssimo, 1970 e Maneschy, 1993, Isaac 2006).
Em Marapanim, existem os pescadores artesanais (os que possuem barcos de
tonelagem), os pescadores ribeirinhos (os que pescam em canoas e próximo as marés);
os marisqueiros (extraem os crustáceos); os pescadores de camarão e curralistas
(pescadores que utilizam esse apetrecho6 para sua atividade).
Pescadores artesanais podem ser definidos como aqueles que, na captura e
desembarque de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhos e/ou
utilizam mão-de-obra familiar ou não assalariada, explorando ambientes ecológicos
localizados próximos à costa, pois a embarcação e aparelhagem utilizadas para tal
possuem pouca autonomia. A captura da pesca artesanal é feita através de técnicas
de reduzido rendimento relativo e sua produção é total ou parcialmente destinada ao
mercado (Diegues, 1973).
Os pescadores artesanais mantêm contato direto com o ambiente natural e, assim,
possuem um corpo de conhecimento acerca da classificação, história natural,
comportamento, biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem
(Silvano, 1997).
6 Petrechos de pesca/fishing gear– ou apetrecho, é qualquer instrumento utilizado para a
prática de pesca.
38
A atividade de pesca artesanal é fortemente praticada nas comunidades visitadas
no município de Marapanim, com exceção das comunidade de Guarajubal (os moradores
se dedicam a “tiração” de caranguejos) e Juçateua (os moradores praticam a pesca
ribeirinha em sua maioria). A pesca artesanal é praticada ao longo do ano. Nas
comunidades como: Vista Alegre, Marudá, Porto Alegre, Crispim e Araticum-Miri a
comercialização com os barcos pesqueiros é constante, principalmente em Marudá e
Marapanim onde há o mercado municipal e maior fluxo turístico. Nas demais, a
comercialização dos produtos da pesca é feita com os marreteiros nas comunidades.
Estes têm a incumbência de comprar o produto e despachá-los para a sede municipal.
As técnicas de pesca são repassadas por gerações e o aprendizado se inicia com
os filhos acompanhando seus pais, muitas vezes, a partir dos 8 anos de idade. A
pescaria é uma atividade masculina, mas há as mulheres que a praticam. Quando
questionados com quem o senhor aprendeu a pescar? Muitos dos entrevistados
afirmaram que “já nasci praticando a pescaria, desde pequeno ia com meu pai e tios para
o mar.”.
Os principais apetrechos utilizados para a pescaria em Marapanim são as redes, as
malhadeiras e o espinhel, para os que vão para alto mar. A pesca de linha, de tarrafa, de
puçá, de curral ou com o uso do muzuá são para os que pescam nas marés, nos rios e
nos igarapés e mangues. A rede rabiadeira é utilizada nas praias e sua prática se limita a
região da comunidade de Crispim e arredores (Figura 6).
Os currais são utilizados ao longo das margens do rio Cajutuba e na foz do rio
Camará quando estão instalados nas croas formadas. Os currais possuem diversos
formatos e nominações e estão relacionados com o local a serem instalados.
Para a confecção dos currais, os pescadores utilizam bambu (Bambusa sp) e varas
de cumatê (Myrcia atramentifera), caipé (não identificado, envireira (não identificada) , e
abiurana (Pouteria sp) extraídas das áreas de capoeiras. Para os pescadores que
confeccionam os currais” tem muito segredo fazer curral, eu aprendi com meu pai e já
ensino pra outro”. Segundo os pescadores “já não se encontra cipó por aqui, acabou.
Então usamos fio telefônico para amarrar as varas e o bambu e construir as paredes”.
Na região de Araticum-Miri um curral custa R$1.000,00, e são cerca de 20 dias de
trabalho para fazer um curral de enfia ou caçoeira. A diária para o artesão sai por
R$30,00 e o trabalho dura o dia todo. Segundo os pescadores um curral pode durar até
um ano desde que haja manutenção.
Na região foram citados três tipos de currais, a saber: (1) o curral de cacuri ou
meia-lua, utilizado na beira do mangue ou praia; (2) o curral de enfia ou caçoeira que é
fixado nas margens dos rios e mangues e a parte aberta fica voltada para a foz de um
39
canal para o peixe ir direto para o depósito. É utilizado tanto em canais de igarapés como
nos rios e são instalados nas duas margens um ao lado do outro. No espaço do curral
denominado de depósito tem um pequeno espaço chamado de cacuri que é onde peixe
fica preso; (3) o cacuri de coração, que fica localizado nas margens do mangue ou praia
(Figura 5). A despesca do curral ocorre de 12 em 12 horas de acordo com a maré.
Com os currais instalados nos canais dos rios e mangues podem capturar espécies
como: tainha (Mugil sp.), gó(Macradon ancylodun), bodó ou carataí (Pseudauchenipterus
sp) bagres (Hexanematichthys couma) e camurim (Centropomus spp);. Se estiverem
instalados na área marítima (croas) capturam arraia, xaréu (Carans spp), gó e dourada
(Branchyplatystoma sp)
Figura 5 – Croqui dos currais utilizados nas comunidades visitadas no município de
Marapanim-PA.
40
Figura 6- Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores e marisqueiros no
município de Marapanim-PA.
41
Segundo os entrevistados as espécies de peixe mais importantes para a geração de
renda são: a pescada amarela (Cynoscion acoupa), o camurim (Centropomus spp), a
dourada (Branchyplatystoma sp), pescada gó (Macradon ancylodun), a tainha (Mugil sp),
e a curvina (Cynoscion microlepidotus), todos comercializados com preços variando entre
R$5,00/kg a R$12,00/kg. (Quadro 10).
O pescado na região é comercializado fresco ou salgado. O pescado é
comercializado nos mercados municipais (sede e Marudá) e o preço é ditado pelo
mercado Ver-o-Peso em Belém.
Quadro 10- Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades
visitadas no município de Marapanim-PA.
OBS: Os dados referem-se às respostas obtidas dos entrevistados em campo.
A mariscada
A coleta de crustáceos e moluscos são atividades geradoras de renda e ocorre em
todas as comunidades visitadas. A extração e a pescaria podem ser realizadas em
grupos ou isoladamente. As pescarias em grupo envolvem a mão de obra familiar.
Os crustáceos explorados pelos marisqueiros são o caranguejo (Ucides cordatus),
o camarão branco (Litopeneaeus schmitti), e o siri (Callinectes sp). Os pertencentes ao
grupo de moluscos estão o sarnambi (Lucina pectinatae), o mexilhão (Mytella sp.), o
sururu. (Mytella falcata), e em menor escala os turus (Teredo sp), A ostra (Crassostrea
sp) quando ocorre é extraída apenas para consumo (Quadro 11).
Os produtos da mariscada têm preço no mercado local e regional. Para a pesca do
camarão o apetrecho utilizado é o puçá. Os principais ambientes de coleta do camarão
são os rios e o mar. Os entrevistados citaram quatro etnoespécies de camarão que são
encontrados na região: o camarão branco (Litopeneaeus schmitti); o camarão rosa
42
(Farfantepeneaus sp), o camarão piticaia (Penaeus Schimitii.) e o camarão cascudo
(Sicyonia dorsalis). Os camarões são comercializados salgados e pré-cozidos e os
preços variam em função do tamanho e da safra.
Os sarnambis e sururus podem ser comercializados nas conchas (sujos) ou já
limpos e pré-cozidos quando tem valor agregado em seus preços de venda.
Os pescadores de camarões podem ficar nas áreas de pesca por até duas
semanas. Essas áreas são denominadas localmente de camaroeiras. A principal
camaroeira está localizada no rio Cajutuba, próximo a ilha das garças e segundo um dos
pescadores pertence a um morador de Marapanim, também a Colônia de Pescadores
possui camaroeiras na região dos rios. Os compradores (marreteiros) de camarões os
adquirem diretamente nas áreas de pesca ou compram dos pescadores nas
comunidades. O preço é determinado pelos marreteiros. Na ocasião deste estudo, o
preço do camarão branco in natura estava em R$5,00/kg e o salgado R$15,00/kg pagos
à vista e em dinheiro. O crustáceo é mais comercializado nas comunidades de
Tamaruteua, Vista Alegre, Itauaçú e Araticum-Miri.
Muitos marisqueiros denunciaram que os mexilhões estão quase extintos na região
de Marapanim. Segundo eles a “predação” ocorreu porque os barcos de coleta
atracavam sobre a área dos mexilhões e muitos “faziam fogo para cozinhá-los e
despejavam a água quente sobre os mantos, matando os que ficavam e assim foi
acabando”. Atualmente os mexilhões são encontrados nas comunidades de Camará,
Crispim e Araticum-Miri.
Os caranguejos são coletados principalmente na comunidade de Guarajubal
durante o ano todo, sendo o verão o período de maior intensidade de extração. Segundo
um dos marisqueiros “o caranguejo está mais inteligente que menino da escola, tá
esperto, foge e se esconde no buraco ao lado”, referindo-se à dificuldade em capturá-los.
A coleta é diária e os crustáceos são retirados de suas tocas com o auxilio de um “anzol”
(vara de 1,5m com um gancho confeccionado de “vergalhão” em formato de anzol,
amarrado em uma das extremidades) “no bater do anzol reconheço se a toca é de macho
ou de fêmea”. Os marisqueiros saem para o mangue em canoas e quando a maré está
baixando, caminham pelo mangue em busca das tocas. Essas são reconhecidas,
segundo um dos entrevistados, pelo rastro e pelo tamanho do “buraco”. O anzol é
introduzido na toca e o crustáceo é “puxado devagar para não esbagalhar” (Figuras 7 e 8)
Os caranguejos são armazenados em sacas ou cofos e comercializados à unidade
com o preço de R$1,00 em Guarajubal. Na comunidade de Juçateua “o comprador de
fora” paga R$0,50 a unidade ou a R$50,00 o cento. Além do caranguejo in natura, há
ainda a comercialização da polpa ou massa.
43
Em Marapanim não foram identificadas áreas de instalação de aqüicultura.
Segundo lideranças comunitárias algumas iniciativas foram discutidas na região como a
criação de ostras no rio Cajutuba e de mexilhão na comunidade de Recreio, no entanto
estas não foram alavancadas. O motivo segundo as lideranças está na ausência de união
nas comunidades e apoio e compromisso dos governantes nos investimentos.
Quadro 11- Principais espécies de mariscos citadas pelas comunidades visitadas
no município de Marapanim-PA.
44
Figura 7- Imagens de apetrechos utilizados para a extração de mariscos no
município de Marapanim -PA.
46
Organização social da pesca
A pesca no município de Marapanim está desorganizada, sem representação de
classe e centrada na Colônia de Pescadores-Z06. Nas visitas as comunidades foram
citadas outras organizações ligadas à pesca, entre as quais: Associação de Pescadores
de Camarão, Associação de Pescadores de Marudá, Associação de Pescadores de
Marapanim e Associação de Caranguejeiros (em projeto). No entanto, não foram
localizados representantes ou lideranças responsáveis pelas organizações.
A Colônia de Pescadores tem sede própria e está em processo de reestruturação e
organização dos pescadores locais. Tem como bandeira de luta o reconhecimento do
seguro defeso para os pescadores e caranguejeiros da região.
Conflitos da pesca
O principal conflito na região está diretamente ligado a “invasão” de barcos de
pesca industrial na área da pesca artesanal. Em todas as comunidades essa temática foi
citada. Em Vista Alegre os pescadores entrevistados citaram a presença de rebocadores
que tem abrigo na comunidade. Para eles os barcos rebocadores não poderiam navegar
no rio Cajutuba “pois destroem o mangue, currais e ameaçam a produção pesqueira”.
Para os marisqueiros as áreas de mangue e pedras “não tem dono e todos podem
utilizar para coleta de seus produtos”.
As áreas de pesca de camarões onde estão construídas as camaroeiras são livres
para pesca, mas não para a instalação nos abrigos. Segundo os pescadores “uma vez
instalados, estes devem vender sua produção para os patrões locais”.
A outra situação que gera conflitos segundo os pescadores, é o uso de puçás por
pescadores de camarão. Os pescadores alegam que os puçás “matam os peixes
pequenos que nascem nas praias e vem crescer nas cabeceiras e mangues”. Além disso,
os pescadores denunciaram ameaças e assaltos que sofrem causados pelos piratas aos
pescadores em alto mar. Foram citados ainda, conflitos de pesca com pescadores do
município de Magalhães Barata por territórios pesqueiros no rio Marapanim.
Segundo os estudos realizados por Bordalo e Abreu (2010) nas comunidades de
Guarajubal e Vista Alegre há uma a necessidade premente em analisar o território e a
gestão dos recursos naturais relacionados à pesca sob a perspectiva geográfica centrada
no desenvolvimento das comunidades pesqueiras a partir de suas representações
espaciais. Segundo os autores, o ordenamento territorial da atividade da pesca por essas
comunidades é, em princípio, um mecanismo de regulação (e controle) da exploração
pesqueira com base em suas vivências nascida da experiência própria de vida, particular
a cada uma dessas comunidades. Os autores afirmam ainda, que não há
47
necessariamente mecanismos institucionais (ou arranjos institucionais) que respondam
por suas ações, no que se refere ao uso do meio aquático. Ressaltam a importância do
ordenamento dos territórios de pesca no Estado.
Uso da flora
O uso dos recursos naturais que compõem a flora na região amazônica é manejado
pelas populações de forma diferenciada, considerando a biodiversidade local e sua
cultura. Assim, a relação homem x planta deve ser enfocada sob o ponto de vista sócio-
cultural de grupos humanos com as características de populações tradicionais.
Na região há formações vegetais de mangue, restingas e as capoeiras, que são
utilizadas das mais variadas formas, com registros de espécies madeireiras de valor
econômico empregadas na construção de casas e produção de lenha; espécies frutíferas,
e medicinais; espécies para artesanatos e espécies com potencial resinífero (Shanley et
al., 1998; Rios et al. 2001;Alvino et al., 2005).
As capoeiras, também, desempenham importante papel ecológico pelo acúmulo de
biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e
manutenção da biodiversidade (Pereira e Vieira, 2000).
A vegetação de restinga7 ocorre na região da comunidade de Crispim e foi
estudada por Neto, et al (2000). Segundo os autores, que analisaram as áreas restritas a
vegetação herbácea, foram encontradas 19 espécies pertencentes a 10 famílias
botânicas, entre cipós, ervas e arbustos.
Furtado et al (1978), estudaram o uso terapêutico de plantas pela população local
em Marapanim, especificamente Camará, relacionando com ambiente, cultura e hábitos
tradicionais. Bastos (1995) estudou o uso de vegetação da restinga e do mangue pelas
famílias de pescadores de Camará, Bacuriteua e Marudá. A autora constatou o uso da
vegetação local pelos moradores para construção, alimentação e remédios.
Os moradores entrevistados em Marapanim reconheceram 72 tipos de plantas
entre árvores, palmeiras, ervas e cipós, distribuídas em 34 famílias botânicas. Em relação
à distribuição do número de espécies por famílias, sete famílias botânicas se destacaram,
a saber: Rhizophora, Combretaceae, Acanthaceae, Anacardiaceae, Cluseaseae
Arecaceae e Sapotaceae (Figura 9).
7 Restinga - ecossistema adjacente ao oceano, ocorrendo em planícies arenosas de origem
quaternária.
48
0
5
10
15
20
25
Rhizopho
race
ae
Combreta
ceae
Acanth
aceae
Clusia
ceae
Anaca
rdiace
ae
Areca
ceae
Sapot
acea
e
Apocy
nace
ae.
Meli
acea
e
Myr
tace
ae
Mor
aceae
Rutace
ae
Famílias botânicas
Nº
de c
itaçõ
es
Figura 9- Famílias botânicas com maior número de espécies citadas pelos moradores
entrevistados nas comunidades visitadas no município de Marapanim-PA.
A maior parte das plantas citadas está nas áreas de terra firme utilizadas pelos
moradores da região. As plantas com maior número de citações foram as espécies que
compõem a vegetação do mangue e estas são utilizadas como alimento, remédio e para
a construção.
Na região das comunidades visitadas o mangue constitui a principal fonte de
recursos. As espécies do mangue são utilizadas para a construção de casas, cercas,
curral entre outros usos. Das espécies do mangue a Rizhophora mangle (mangueiro) é a
que tem seu uso mais difundido pela população, citada por mais de 90% dos moradores
entrevistados.
Além das espécies do mangue foram citadas o Platonia insignis (bacuri, 16) e as
espécies de palmeiras como o Astrocaryum sp (tucumã, 11) e o Cocos nucifera (coco,
12), e frutíferas como o caju (Anacardium orcidentale), a manga (Mangifera indica) e o
limão (Citrus limonium), sendo as duas últimas introduzidas na região.
Cabe destacar que as folhas das palmeiras como o inajá (Maximiliana Maripa
Aublet Drudesem) e o tucumã antes utilizados para a confecção dos cestos, como os
paneiros, atualmente estão em desuso, sendo suas folhas substituídas por fibras
plásticas. Segundo os moradores a substituição dá-se porque “paneiros de plástico são
mais resistentes e duráveis” Os paneiros plásticos são comercializados por R$15,00 a
unidade.
Dentre as espécies mais citadas e reconhecidas como introduzidas estão o
Bambusa vulgaris var (bambu), que, segundo um dos entrevistas, chegou a região em
1943, trazida pelo Sr. Janguinho, e plantada inicialmente em Araticum-Miri. O açaí
(Euterpe sp) e o coqueiro também foram citados como espécies introduzidas.
49
As modalidades de uso mais freqüentes foram: alimentar (42 espécies) e para uso
nas construções dos currais (14 espécies). Segundo os entrevistados as espécies que
estão fortemente ameaçadas (desaparecendo) são as espécies madeireiras e entre elas
o Bumelia nigra (miri) e o bacuri. Os motivos citados para o desaparecimento das árvores
“é o desmatamento exagerado”, ou ainda “aqui não tem fiscalização e as pessoas fazem
o que querem, destroem as áreas de mata pra morar e pra fazer carvão”. As espécies
que foram citadas como “as que já desapareceram da região” estão o Tabebuia ssp (pau
d’arco) e a Verônica officinalis (verônica).
A lenha e o carvão são produzidos das espécies vegetais retiradas principalmente
do mangue e da mata. O carvão é produzido nas caieiras e para consumo. As espécies
de vegetais mais citadas para produção de carvão são o tinteiro (Laguncularia racemosa
Gaertn), a siribeira (Avicennia shaueriana), o mangueiro e o bacuri.
Os moradores citaram 28 espécies vegetais utilizadas na região para construção.
As mais citadas foram: o tinteiro, o mangueiro e o miri, além do bacuri e da piquiarana
(Caryocar microcarpum). As espécies vegetais são retiradas do mangue, das matas e
capoeiras próximas e são utilizadas principalmente para construção de esteio para os
currais, de “ pernas mancas” para construção de casas e cercas. Nenhuma das espécies
citadas está na Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção
(MMA) ou na Lista de Espécies da Flora ameaçadas de Extinção do Estado do Pará
(SEMA).
A técnica de uso da terra para a roça é a derruba e queima. E o uso de maquinário
está sendo introduzido em Vista Alegre. A mandioca é o principal produto cultivado. Nas
comunidades visitadas, apenas em Bacuriteua, Vista Alegre e Livramento os moradores
declararam praticar a agricultura.
As principais variedades de manivas citadas foram: achada, inha e torrão para
produção de farinha e as macaxeiras. Cultivam ainda arroz e milho. As áreas de plantio
são pequenas, não ultrapassam de quatro tarefas, e a produção está voltada para o
consumo. As manivas, para cultivo, são compradas por R$8,00 a saca.
Segundo os moradores de Bacuriteua uma tarefa (50mx50m) de área plantada
pode produzir até 10 sacas de farinha. Na região eles não nomeiam das manivas. Além
dos roçados eles coletam e vendem bacuris. A safra vai de fevereiro a março e
promovem no mês de maio o Festival do Bacuri.
Em Araticum-Mirim os moradores preparam da macaxeira a mandiocaba uma
bebida que é fermentada e denominada de “manicuera”. A bebida é utilizada para a
celebração no “dia de iluminação” (finados) e consumida com arroz.
50
Áreas de uso dos recursos naturais
Mapas
Os mapeamentos participativos vêm sendo utilizados como ferramenta
metodológica para incentivar a discussão acerca dos recursos naturais e uso do território
vivenciado por populações tradicionais e indígenas, visto que poderão contribuir para a
gestão ambiental.
Os conhecimentos tradicionais ambientais foram abordados a partir do universo das
etnociências com especial ênfase na etnoecologia. Esses conhecimentos que emergiram
no processo de construção dos mapas de uso pelos moradores das comunidades
visitadas nos permitem compreender melhor as relações de seus autores com o meio em
que vivem, e possibilitar a participação destes na tomada de decisão para a conservação
da biodiversidade local.
Os mapas das áreas de uso dos recursos naturais foram construídos de forma
coletiva durante as oficinas realizadas nas comunidades.
Os mapas base eram imagens de satélite, onde estavam indicadas as
comunidades, a estrada, a sede municipal, assim como os limites das demais unidades
de conservação da região. Antes de os moradores apontarem de onde e quais recursos
são retirados, foram nomeados por eles os principais elementos geográficos.
Vale ressaltar que ao grupo foi “apresentada” a imagem de satélite após breve
explanação sobre as representações dos espaços relacionando as cores ao ambiente.
Logo, foram reconhecidos os espaços aquáticos e a partir desses espaços começaram a
delinear os demais elementos, como as estradas secundárias, as áreas de campo, as
áreas de praia, de croas, o manguezal e os principais pontos de coleta dos recursos
naturais.
Os mapas das áreas de uso foram construídos por participantes das comunidades
e quando as oficinas ocorreram nas comunidades polo os moradores das comunidades
adjacentes participaram (Figuras 10a e 10 b; 11a e 11b;12 a e 12b;13 a e 13b;14 a e14b;
15a e 15b e 16 a e 16b).
51
Figura 10a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade de
Tamaruteua.
Tamaruteua é a comunidade mais distante da sede municipal. Está localizada nas
margens do igarapé do Breu, que tem suas cabeceiras no campo do mesmo nome.
Segundo seus moradores cerca de 30 anos o mar avançou sobre a área ocupada e a
comunidade se transferiu para o igarapé. O acesso é somente de barco pelo mar ou pelo
rio Cajutuba. Essa comunidade fornece abrigo para os barcos de pesca artesanal,
principalmente os do município de Vigia.
A pesca artesanal, a “tiração” de caranguejos e a pesca de camarão são as
principais atividades da comunidade. A “tiração” de caranguejos ocorre em todo o
mangue. Os moradores utilizam a área do campo para coleta de frutos (bacuri, caju e
muruci) e de palha de inajá. Utilizam as áreas de praias, onde há construção de ranchos
de pesca (cabana construída de madeira e palha e utilizada como abrigo durante o
período de pescaria). Os currais estão disponibilizados próximos da comunidade, ao
longo da foz do rio Cajutuba e na área do município de Curuçá. A pesca artesanal é
praticada na costa norte e em direção ao arquipélago do Marajó. Segundo os pescadores
é nessa região que se encontram os melhores “pesqueiros”. O farol Sacaiteua além de
ser ponto de referência para os pescadores localiza a comunidade para abrigo e
comércio de produtos.
53
Figura11a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Vista Alegre e
Itauaçú.
A pesca artesanal é a principal atividade na comunidade de Vista Alegre que possui
porto e fábrica de gelo. A pesca de camarão é a atividade mais importante para os
moradores de Itauaçu. Os pescadores artesanais navegam até o arquipélago do Marajó e
para região de Algodoal. Coletam, nas áreas de croas e praias sementes de andiroba que
chegam com a maré. A pesca de curral é realizada ao longo do rio Cajutuba e nas áreas
de praias da foz do Marapanim, além dos currais há também o uso de redes rabiadeira.
Utilizam a área de campo da Ilha Dom Pedro de onde retiram frutos (ajiru, bacuri e
muruci), breu e madeira. O caranguejo e o turu são extraídos das áreas do mangue ao
longo dos rios Cajutuba e Camará. Os roçados se distribuem ao longo da estrada.
A pesca em canoas ocorre ao longo do rio Cajutuba até as proximidades da sede
municipal. Os pescadores utilizam ainda a pescaria de redes próxima à região
denominada de costeiro, que segundo os pescadores “é onde quebra a maresia”
55
Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais do polo Camará, formado
pelas comunidades de Bacuriteua, Camará e Crispim.
As comunidades do polo Camará utilizam as áreas de campo e restinga, além dos
mangues e praias. O turismo é uma atividade geradora de renda, principalmente na
comunidade de Crispim. Bacuriteua é a comunidade onde os moradores estabelecem
roçados. A extração de caranguejos é realizada nas áreas de mangue do rio Camará e
igarapés ao longo do rio Marapanim. Pescadores se instalam em barracas de pescaria
nas praias ao norte da Ilha Dom Pedro. É na foz do rio Camará que os currais estão
instalados. Nas praias de Crispim a pesca é de rabiadeira. A pesca artesanal é praticada
na área costeira e navegam até o arquipélago do Marajó e região de Bragança. Dos
campos e restingas retiram frutos (ajiru, caju, abiurana e muruci), além do mel e de
orquídeas. A madeira é retirada das áreas de mata próximas aos campos. É nas
cabeceiras dos igarapés que fazem a pesca do camarão. O siri é pescado em toda a
região e o turu nas áreas de mangue. Deslocam-se a pé ou de canoas para as regiões de
mangue. Os pescadores sobem o rio Marapanim para a pesca de redes ao longo das
croas.
57
Figura 13a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do polo
Marudá, formado pelos bairros comunidades de Recreio, Sossego, Sol da Manhã,
Cafezal.
O Distrito de Marudá é o principal ponto turístico da região. O acesso é facilitado
por estradas asfaltadas. Os moradores locais têm suas atividades concentradas no
período de verão, quando aumenta o fluxo turístico para a região. Praticam a pesca
artesanal e suas áreas de pesca se concentram no arquipélago do Marajó, na região de
Algodoal e no rio Marapanim. Pescam nas áreas das unidades de conservação vizinhas
de onde também retiram madeira para os currais. Dos mangues retiram os turus e os
caranguejos. Praticam a caça e os roçados estão concentrados na área da comunidade
Sol da Manhã. Os moradores coletam bacuris nas áreas próximas da mata que circunda
os manguezais. O ajiru é coletado das restingas próximas das praias. Em Recreio e ao
longo da estrada de acesso a Marudá estão as casas dos veranistas que se misturam
com as pousadas e hotéis. O camarão é pescado tanto nas praias quanto nas cabeceiras
dos igarapés. Extraem sarnambis das áreas de praias e denominam a região da foz do
rio Marapanim de Barra de Marudá.
59
Figura 14 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do
polo Araticum-Miri, formado pelas comunidades Livramento, Porto Alegre e Araticum-Miri.
Nas comunidades do polo Araticum-Miri a pesca artesanal e do camarão foram as
atividades declaradas como mais importantes. Além das atividades extrativas, os
moradores de Araticum-Miri prestam serviços para turistas no período de verão. O
incremento de infraestrutura como serviços de distribuição de água e energia gerou
crescimento da atividade turística na região de Araticum-Miri. Há invasões em áreas
próximas da comunidade para construção de casas e pequenos condomínios. A região
foi muito explorada para a extração de cipó, que era comercializado em Belém e utilizado
para a construção de currais. Atualmente a extração está restrita para muitos pescadores
o “cipó já acabou, levaram tudo”. Em Porto Alegre a pesca artesanal e a extração mineral
são atividades geradoras de renda. Os moradores caçam nas áreas de matas
remanescentes. Sobem o rio Marapanim para a pesca de malhadeira e navegam para o
arquipélago do Marajó e Algodoal. Os currais estão nas praias e croas. E das cabeceiras
dos igarapés retiram o sururu. Os moradores de Livramento fazem roças nas áreas de
terra-firme, e também exploram as piçarreiras da região.
61
Figura 15 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade Guarajubal.
Os moradores de Guarajubal concentram suas atividades de geração de renda por
meio da extração dos recursos naturais na região do rio Marapanim. Estão próximos à
sede municipal, e o acesso à comunidade é por meio de barcos ou estrada de chão
Vivem da pesca artesanal e da “tiração” e “cata” de caranguejos. Os currais estão nas
margens do rio Marapanim, e os moradores utilizam a região do rio Messay em
Magalhães Barata para a caça de patos, extração de caranguejos e pesca. Alguns
moradores têm roçados próximos à estrada de acesso à comunidade. A pesca artesanal
é realizada nos pesqueiros do arquipélago do Marajó e nas praias ao norte da Ilha Dom
Pedro e Algodoal para os que não possuem barcos de tonelagem.
Durante o mapeamento o grupo fez referência à situação dos caranguejeiros que
não dispõem de apoio para sua manutenção. E segundo eles é importante que sejam
incluídos no recebimento do seguro defeso, pois vivem apenas do caranguejo no período
do verão.
63
Figura 16 a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais da comunidade de
Juçateua.
A comunidade de Juçateua está localizada na região das cabeceiras do rio
Cajutuba. O acesso é por estrada de chão. Ao longo da estrada existem áreas privadas,
de fazendas de plantio de coco. A pesca artesanal e de malhadeira é praticada na região
do costeiro e os barcos de tonelagem navegam para o arquipélago do Marajó e para
região de Algodoal.
Os currais estão na região do rio Caratateua e Cajutuba. A pesca do camarão é
realizada nos rios do município de Curuçá na região da Resex Mãe Grande Curuçá e
segundo eles “não tem conflito a gente pode entrar na reserva deles”. Possuem roçados
ao longo da estrada em áreas de terra firme e coletam o bacuri nas regiões de mata e
áreas abertas. Segundo o grupo “o bacuri hoje é vendável, muitas pessoas da
comunidade ganham dinheiro com o bacuri, ninguém cultiva o bacuri é natureza que
fornece”. Coletam frutos e caçam nas áreas de matas próximas à estrada. Para os
moradores “o mangue está acabando porque tem gente demais mexendo”. Extraem o
sururu das proximidades do porto, onde tem pedras. A madeira é retirada das áreas
privadas e do igarapé do cravo.
Os caranguejos e siris são retirados do mangue e pescados nas margens dos rios
respectivamente.
65
3.3- Identificação e caracterização de possíveis co munidades indígenas ou
quilombolas presentes na área.
Não foram localizados, nas áreas visitadas no município de Marapani, registros de
populações indígenas ou de reivindicações de reconhecimento deste grupo étnico. O
mesmo para territórios quilombolas. Segundo algumas lideranças há comunidades no sul
do município que estão se declarando quilombolas. Em consulta ao Instituto de Terras do
Pará (Iterpa) e INCRA não foram encontradas informações sobre a ocorrência de
Territórios Quilombolas na região.
3.4- Identificação de grupos sociais que poderão in terferir no processo de
criação da unidade, bem como suas preocupações e in teresses.
Os principais grupos sociais identificados na sede do município são as
organizações de classe, como a Colônia de Pescadores, o STTR, as associações
comunitárias voltadas à produção e Organizações não governamentais, que tenham
atuação no município e da perspectiva governamental as secretarias municipais. No
âmbito das comunidades, as associações existentes foram descritas no item organização
social deste diagnóstico.
A colônia de pescadores tem sede própria e está localizada no centro da sede
municipal. Em entrevista com seu presidente e a secretária estes afirmaram que a
organização possui cerca de 1.000 sócios e não souberam precisar quantos estão
adimplentes. Informaram ainda que há uma procura por parte dos pescadores para se
filiarem a organização e isto se deve a luta pelo recebimento do seguro defeso. Além
disso, há a necessidade da “carta sindical”, documento que dá direito ao pescador de
participar do Projeto Minha Casa, Minha Vida e ter acesso ao financiamento.
A colônia de pescadores está em fase de reestruturação e de legalização de sua
documentação junto à Secretaria Estadual de Pesca. Este procedimento é necessário
para a legalização e reconhecimento da entidade junto aos órgãos do Estado e da União.
Segundo a secretária estão havendo mudanças nos formulários de registro do pescador,
que serão cadastrados via digital. Atualmente a colônia não desenvolve ou possui
projetos.
Quanto à criação da reserva extrativista, o presidente disse ser a favor, mas não
soube explicar porque. Afirmou que apóia o “pessoal do Comitê e o Gutenberg, pois é ele
quem leva essa proposta”.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais tem sede no centro da cidade de
Marapanim. A organização foi criada em 1 de julho de 1973 e serve para acolher os
sócios que trabalham com área de roçado. Tem por missão realizar palestras sobre os
66
benefícios oferecidos aos moradores (auxílio funeral, dentista, oculista, consulta médica,
auxilio maternidade e encaminhamento de documentação para a aposentadoria).
Atendem a 56 comunidades e possuem 3.000 sócios com apenas 150 adimplentes junto
à organização.
Atuam em conjunto com a EMATER na assistência técnica e pesquisas na área e
a Secretaria Estadual de Agricultura distribui sementes de feijão e milho para as pessoas
que realizam cadastros de pedidos para receber as sementes. O sindicato atua em
parceria com PRONAF, Banco do Brasil e Banco da Amazônia, fazendo o cadastro de
sócios das comunidades para solicitação de financiamentos.
Na sede do STR funciona a Secretaria de Políticas Sociais, que ajusta a
documentação necessária para aposentadoria dos agricultores encaminhando-os para o
INSS e demais benefícios como: salário maternidade, auxílio doença e realização de
perícias. Além disso, efetuam o cadastro Declaração de Aptidão (DAP) e emitem a
certidão negativa.
Quanto à criação da reserva extrativista no município, o representante
entrevistado afirmou que “não estou a par da situação, pois não estava presente no dia
da reunião que houve aqui no sindicato com o Sr. Luís Gutenberg”.
A ONG, Instituto Marapaniense de Preservação e Cultura (IMPEC) foi criada em
janeiro de 2007, e segundo seu diretor, Sebastião Junior, motivada pela mortalidade de
peixes, especificamente o xaréu (Caranx hippos), que ocorreu na comunidade de
Araticum-Miri. Houve a formação de um grupo de pessoas ligadas ao meio ambiente e ao
extrativismo.
A missão da organização é de preservar o meio ambiente e a cultura da região. O
IMPEC possui CNJ e está regularizado junto aos órgãos competentes. Antes de
elaborarem projetos a organização e seus dirigentes e filiados participaram de eventos,
fóruns e conferencias sobre o meio ambiente. Realizaram durante o período ações
pontuais no município como a limpeza das estradas. Atualmente estão desenvolvendo
projetos e cursos de educação ambiental, e cinema direcionado à juventude local e à
agenda 21 nas escolas. Receberam recursos por “emenda de bancada”, destinados a
apoiar a prefeitura, uma vez que o município está inadimplente.
Para o IMPEC, a criação da reserva extrativista é a modalidade de unidade de
conservação que condiz com a realidade local e a organização não governamental tem
como “posicionamento atual buscar ferramentas para garantir a criação da Resex no
município”.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA), é coordenada pela Sra Sheila
Renata da Silva do Carmo e foi criada por meio de lei municipal de meio ambiente que
67
visa atender a demanda das problemáticas ambientais. A SEMMA de Marapanim tem
como objetivos: Planejar, formular, coordenar e executar ações que visam a proteção,
recuperação e conservação da qualidade ambiental; estimular o desenvolvimento de
estudos de pesquisa para produção de conhecimento e difusão da consciência ambiental.
Fundada em 2009 pelo prefeito Municipal de Marapanim, a Câmara Municipal de
Marapanim instituiu uma lei que alterou a estrutura da administração pública para
incorporar a secretaria de meio ambiente, criando o Conselho Municipal de Meio
Ambiente. A secretaria está se reestruturando para se descentralizar da SEMA estadual e
adquirir recursos por meio das licenças e das multas. Enquanto isso os projetos estão
limitados ao orçamento municipal e aos editais lançados por instituições públicas e
particulares. Como projeto imediato a SEMMA está atuando com a introdução da coleta
seletiva de lixo no Município. Além desse, a secretaria tem elaborado campanhas como
“adote um jardim, amigos do igarapé” (projeto de revitalização dos igarapés) e palestras
com temas ambientais e oficinas de reciclagem.
Dentre as atividades realizadas nas comunidades estão o recebimento de
denúncias de pesca com timbó, ”nesta época do ano tem muitas denúncias dessa
prática”; e a liberação de autorização para o corte de árvore para os moradores.
Possuem parceria com a secretaria estadual de agricultura. A Sagri doa muda de
plantas nativas florestais e frutíferas para recuperação de áreas degradadas
principalmente em cabeceiras, roças e igarapés.
Quanto à criação da unidade de conservação no município a secretária afirmou que
tinha a informação de que “que havia um pedido, mas não que o processo estava em
andamento”.
A Secretaria de Turismo e Cultura foi criada em 1997 pelo professor Osmundo
Eduardo da Silva Naiff e tem como objetivo organizar o município para o desenvolvimento
do turismo. Procura elaborar leis para desenvolver o Plano do Turismo. Ainda não há um
Plano de Turismo para as comunidades.
O estado do Pará está dividido em seis polos turísticos e Marapanim está no polo
Amazônia Atlântica, são 39 municípios; Marapanim está entre os 23 prioritários. A
Secretaria de Turismo não pode ficar separada da Secretaria de Meio Ambiente. As duas
precisam trabalhar juntas.
O projeto da secretaria envolve a funcionalidade do Plano do Turismo com a
realização de documentário sobre a cultura e atrativos turísticos do município. Na cidade
as festas de santos e carimbó são as únicas. O festival de carimbó é promovido pela
Associação dos Agentes Multiplicadores do Turismo.
68
No que se refere à criação da unidade de conservação o representante afirmou que
“não sei nada a respeito da Resex.”
A Secretaria Municipal de Agricultura atua nas 54 comunidades, levando incentivos
ao plantio de mandioca e hortaliças e preparo de área mecanizada (novo formato de
agricultura familiar, dentro dos padrões tecnológicos, tais como adubação, espaçamento,
qualidade da produção e análise de solo). Atuam em parceria com o STR e a EMATER.
Além dessas, possuem parceria com a escola Agrotécnica de Castanhal, onde
pretendem realizar cursos para criação de peixes em cativeiro. A proposta é que os
pescados possam ser distribuídos na merenda escolar.
Quanto à criação da unidade de conservação, o secretário, que acompanhou
algumas oficinas nas comunidades, declarou que “sente-se feliz em apoiar no que for
preciso, pois isso será um modelo novo para o município. E com isso, devemos apoiar
isto que será um novo modelo de vida para a população”.
Percepção sobre a Resex pelos moradores
As informações obtidas das entrevistas e conversas com os moradores das
comunidades visitadas permitiu uma análise da percepção destes sobre criação de uma
reserva extrativista no município.
Questionados se sabem o que é uma Reserva Extrativista, os entrevistados
responderam que “serve pra proteger o mangue e áreas de pesca e serve pra preservar
pros filhos e netos terem”; “entende que é uma área para proteção, para preservar os
peixes, os caranguejos e o manguezal”. Os que relacionaram sua resposta positiva com
proteção de espaços responderam que a Resex é para “proteger a área de pesca“ e
“pessoas que plantam e que colhem na comunidade”. Quatro pessoas não responderam
a questão.
Quanto ao quesito ser a favor, contra, ou ainda não se importar com a criação da
unidade de conservação, apenas dois não responderam e os demais se pronunciaram a
favor da criação da Resex.
Para 73% dos entrevistados a criação da Resex está diretamente ligada com a
chegada de benefícios às comunidades, dois não souberam responder e 19% não
responderam. Entre os benefícios citados, mais de 70% deles estão ligados a questões
ambientais que gerem proteção aos recursos pesqueiros, entre os quais: “Porque estarei
perto da floresta, isso é vida, a minha área não é desmatada”; “protege o caranguejo”; e
“tendo uma reserva e preservando, vamos ter vistorias e desta forma não vai haver mais
bagunça. Teremos fiscais”. Os demais benefícios estão relacionados à geração de
empregos e benfeitorias para as comunidades.
69
Quanto aos ganhos que a criação da reserva extrativista promoverá para as
famílias, 80% afirmaram que esta trará ganhos e três não souberam responder. Apenas
um afirmou que não haverá ganhos com a criação da unidade. Entre os ganhos citados
estão: atividades turísticas com melhor infraestrutura, geração de emprego para os filhos
e obtenção de criadouros para camarão e peixes.
Para 27% dos moradores entrevistados que afirmaram saber para que serve uma
reserva extrativista, dois não souberam explicar e os demais que responderam afirmaram
que a Resex “serve pra proteger o mangue e áreas de pesca”, ”preservar e zelar pela
natureza”.
A atividade de pesca e da caça, para 15 entrevistados, deveria ser permitida dentro
da área da Resex, e destes, duas pessoas sugeriram que é errado dar permissão de
caçar na área. Para 7 deles é errado pescar e caçar na área da unidade de conservação.
Os demais não souberam responder.
Apenas dois entrevistados afirmaram saber qual o órgão do governo que cuida das
reservas extrativistas, um respondeu que é o ICMBio, e outro citou o IBAMA. Os demais,
24 moradores entrevistados responderam não conhecer o órgão governamental
responsável pelas Resex.
Indagados sobre o que se disponibilizaria a fazer em prol da unidade de
conservação, os entrevistados afirmaram que poderiam: contribuir ajudando o que fosse
necessário fazer, apoiar as melhorias ou ainda zelar, não deixar ninguém invadir, ajudar a
reflorestar as áreas que foram derrubadas, ajudar a divulgar para as outras comunidades,
Afirmaram também que: criaria uma associação pra armazenar massa de caranguejo e
mexilhão, construir patrimônios como trapiche e posto de saúde. Oito entrevistados não
souberam responder
Em relação às atividades e ações que o governo deveria implantar na área, seis
propuseram que “o governo deveria manter e fiscalizar a área”; quatro relacionaram as
ações do governo com a legalização do seguro defeso para pescadores e caranguejeiros,
quatro com ações voltadas ao desenvolvimento das comunidades e infraestrutura como,
por exemplo, “ter como ajudar melhor; como a população aqui que não tem renda”; e
doze não souberam ou não responderam.
É possível afirmar que os moradores do município de Marapanim estão cientes e
partícipes do processo de criação da unidade de conservação. No entanto, não está
cristalizada a relação da criação da unidade de conservação com as questões
ambientais que afetam o seu modo de vida.
70
3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais r elevantes, com oportunidade
para uso público.
Localizada na região litorânea do Estado do Pará, a cidade de Marapanim situa-se
a 122 km de distância de Belém, capital do Estado. O acesso a Marapanim a partir de
Belém se dá através da Rodovia BR-316, até o Município de Castanhal, a partir deste
ponto, através das Rodovias PA-136 e PA-138. O município possui inúmeros atrativos
naturais: praias, mangues, lagos, dunas, ilhas oceânicas, rios, igarapés, ninhais de
pássaros e aves, frutas da época e frutos do mar.
Por estar localizada numa região litorânea, um dos principais atrativos turísticos de
Marapanim são as praias oceânicas. Dentre elas destacam-se as seguintes praias:
Marudá, Santa Maria, Crispim e Camará.
A praia de Marudá é a mais urbanizada, com cerca de 1200 metros de extensão é a
praia que tem a melhor infraestrutura na região, como energia elétrica, telefones
residenciais e públicos fixos, telefonia celular, correios, farmácia, posto de saúde,
abastecimento de água, rede hoteleira mais confortável, sistema de transportes, etc.
A praia de Santa Maria é uma pequena praia localizada na estrada de acesso à
Marudá, na comunidade de Recreio. Sua importância turística, além da praia, é o Festival
do Caju. É uma praia de difícil acesso e frequentada por moradores locais e os que
possuem casas de veraneio na comunidade (Figura 17).
A praia do Crispim, situada na comunidade de mesmo nome é considerada a mais
linda a extensa praia de mar próxima de Belém. Sua extensão é de cerca de 16 km Ela é
muito frequentada, principalmente aos domingos e feriados e no período de verão
quando sua população aumenta em mais de 150%.
A praia de Camará é uma praia situada na comunidade de pescadores. Ela é
frequentada por veranistas e compradores de pescado
Na região oceânica do município, na ilha Dom Pedro, a diversidade de
ecossistemas (mangue, campo e praias) são atrativos naturais da região. Entre as praias
estão as Sauá, Sacaiteua, Ajiruteua, Dom Pedro, Clarão, do Inferno. Além dos
manguezais, dunas, lagos, ninhais de pássaros e aves selvagens e rios de água doce.
71
a- Praias Crispim
b-Praia Camará
c-Praia Marudá
d-Praia Recreio
e- Praia Sauá
f- Praia do Inferno
Figura 17- Aspecto das praias no município de Marapanim-PA
72
Toda a Região do Salgado Ocidental (Municípios de Curuçá, Marapanim e
Maracanã) é constituída por manguezais, lagos e dunas que circundam as praias. Os
manguezais, além de berçário para peixes, são habitat de espécies como mexilhões,
camarões, ostras, turus, caranguejos e de muitas outras que dependem deste
ecossistema para sua sobrevivência Essa região também possui lagos de água doce,
que proporcionam belezas cênicas. Pode-se destacar o Lago da Bacia (Camará), o Lago
das Garças (Crispim), o Lago da Pirapema (Marudá), dentre outros. Acompanhando as
praias encontram-se muitas dunas recobertas por vegetação característica, onde são
encontradas frutas típicas como ajirus, caju-açus, etc.
Em Marapanim, os balneários em rios e igarapés proporcionam espaços de lazer e
belezas cênicas. Na região visitada, os balneários do Igarapé de Bacuriteua e do
Araticum-Açu são os mais importantes.
Fazem parte dos atrativos do município as atividades culturais, religiosas e
gastronômicas. Na sede municipal há construções históricas, o município é conhecido
como a Terra do Carimbó. O município reivindica a condição de berço do Carimbó, por
conta dos relatos orais que atravessaram gerações e informam o surgimento desse ritmo
ancestral no século XIX na localidade de Maranhãozinho. São dezenas de mestres,
músicos, dançarinos, aprendizes e brincantes dessa manifestação, o que garantiu a
Marapanim a condição de “Capital do Carimbó”. Na região visitada, o principal grupo de
carimbó está sediado na comunidade de Porto Alegre.
A principal festa religiosa ocorre em agosto com o círio de Nossa Senhora das
Vitórias. A festa organizada pela igreja católica é tradicional e ocorre há 108 anos.
A culinária do município está fundamentada nos frutos do mar como peixes,
camarões, mexilhões, caranguejos, ostras, e o turu (considerado exótico). Na
comunidade de Vista Alegre ocorre Festival do Marisco. Os frutos nativos são
considerados atrativos para a gastronomia e os principais são: cupuaçu, bacuri, ajiru,
murici, taperebá, pupunha, tucumã.
Com base nas informações descritas acima, foi elaborado um mapa de turismo
potencial da área abordada por este estudo, que é apresentado na figura 18.
74
Áreas culturais
Toda a região do Salgado Paraense foi inicialmente ocupada por populações
indígenas, que segundo os estudos arqueológicos e paleontológicos, em torno de 5.500
anos AP. Os poucos assentamentos existentes entre as baías de Marapanim e do Caeté
indicam uma dispersão destes grupos por toda a área do Salgado (Távora, et al 2010)..
Desde os anos de 1876 estudos registram os calcários ricamente fossilíferos, sendo 21
desses sítios localizados no estado do Pará. No entanto, nas comunidades visitadas, os
moradores quando questionados, afirmaram desconhecer informações ou registros de
áreas culturais onde poderia haver sítios arqueológicos ou formação de sambaquis e
semelhantes.
3.6 - Análise do impacto econômico da criação da un idade de conservação
Em 2011 o Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Centro para
Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (UNEP-WCMC) desenvolveram o estudo Contribuição das Unidades de
Conservação Brasileiras para a Economia Nacional.
Segundo Medeiros et al (2011), autores do estudo supra citado, as unidades de
conservação cumprem uma série de funções cujos benefícios são usufruídos por grande
parte da população brasileira – inclusive por setores econômicos em contínuo
crescimento, sem que se dêem conta disso. Os autores citam como principais exemplos:
a qualidade e a quantidade da água que compõe os reservatórios de usinas hidrelétricas;
o turismo que dinamiza a economia de muitos dos municípios do país só é possível pela
proteção de paisagens proporcionada pela presença de unidades de conservação. Além
do desenvolvimento de fármacos e cosméticos consumidos cotidianamente, em muitos
casos utilizam espécies protegidas por unidades de conservação. Sem contar com o
papel das unidades de conservação para os serviços ambientais, como a mitigação dos
efeitos da emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa decorrentes da degradação
de ecossistemas naturais.
Ainda neste estudo, os autores comentam que por se tratar de produtos e serviços
em geral de natureza pública, prestados de forma difusa, o valor e o pagamento por
esses serviços não são percebidos nem pagos pelos usuários. Ou seja, o papel das
unidades de conservação não é facilmente “internalizado” na economia nacional.
Em se utilizando os itens analisados pelo estudo acima referido, buscou-se
identificar quais aspectos podem ser considerados na região em questão que poderão
gerar impactos econômicos com a criação da unidade de conservação na categoria de
reserva extrativista.
75
Desta forma, a região em questão poderá gerar impactos econômicos com a
conservação da biodiversidade no que tange a: (i) serviços ambientais evitando emissão
de CO2 pela conservação das florestas de mangue, conservação e manutenção das
cabeceiras dos rios que abastecem os mangues; (ii) ICMS Ecológico que, repassado ao
município pela existência de unidade de conservação em seu território, poderá gerar
novos empregos e melhorias para a eficiência de serviços públicos; (iii) visitação pública
uma vez que a região oferece áreas de praias e campos e restingas nativos, além das
áreas de observação de aves aquáticas.
As atividades produtivas nas unidades de conservação de uso sustentável podem
receber investimentos para desenvolver sua capacidade produtiva. Por exemplo, na
comunidade Sol da Manhã, há um grupo de moradores que criaram uma associação para
o cultivo de hortaliças e legumes orgânicos com investimento do Pará Rural. A que se
considerar ainda o Plano Turístico, no qual o município está inserido como prioritário.
Incentivo e capacitação aos proprietários de pousadas e restaurantes para o
atendimento e geração de serviços para os veranistas.
Atividades de manejo devem ser incentivadas visando mitigar os impactos à cadeia
trófica como, por exemplo, os causados pela pesca de camarão, que utiliza puçás com
malhas pequenas, ocasionado a morte de alevinos. A pesca artesanal pode gerar renda
se houver incentivos para uma produção organizada e com agregação de valor ao
produto.
Também poderá ser viável a manutenção dos campos nativos e das áreas de mata
onde estão as florestas de bacuri, fruto nativo e com valor de mercado. Assim como
obtenção de valor aos produtos do artesanato.
Em 2011, o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Estado
do Pará (IDESP) publicou os resultados dos estudos sobre os produtos florestais não
madeireiros (PFNM) e seus potenciais para na região de Integração do Guamá, no qual o
município de Marapanim está inserido. A Região de Integração Guamá demonstrou que a
economia gerada pelos 31 produtos florestais não madeireiros estudados, é considerável,
pois a renda gerada, no ano de 2009, atingiu valor maior de R$119 milhões (Mattos et al,
2011). No entanto, o município de Marapanim não se destaca na produção de nenhum
produto florestal não madeireiro. A cidade é abastecida por municípios vizinhos e tem
destaque apenas no circuito comercial.
Dessa forma, investimentos nos setores que realizam serviços para o turismo e no
beneficiamento e/ou transformação de produtos da pesca são necessários. Associados a
estes, investimentos em infraestrutura e organização social devem ser considerados.
76
3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os
usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em
implementação nas áreas indicadas.
Na região estudada não se localizou projetos ou estudos para o uso alternativo do
solo pelo Estado ou pela União, além do Porto do Espadarte no município de Curuá que
poderá afetar os recursos pesqueiros na região do Salgado como um todo.
Cabe ressaltar que há uma proposta sendo desenvolvida pela Secretaria Estadual
de Meio Ambiente para a criação de uma unidade de conservação de proteção integral
na região da Ilha Dom Pedro. O documento intitulado “Estudo Técnico para Criação de
UC de Proteção Integral Ilha Dom Pedro no Município de Marapanim”, produzido em
2011, destaca o ecossistema de mangue e as praias, isola as comunidades de
Tamaruteua e Itauaçu do acesso aos recursos naturais e propõe uma unidade de
conservação com 13.843ha. O estudo que investigou a situação fundiária dessa região
específica aponta que a área em questão, segundo o SPU, “por se tratar de uma ilha
costeira e se encontrar localizada em zona onde se faça sentir a influencia das marés, a
União detêm domínio diferenciado sob várias tipologias de áreas...”8 A proposta de
criação de uma unidade de conservação estadual de proteção integral no município está
inserida no Anexo III da Lei 6.745, de 6 de maio de 2005, que institui o Macrozoneamento
Ecolológico-Econômico do Estado do Pará.
Ressalta-se que este estudo confunde os moradores locais quanto a sua situação
de permanência na região e no entendimento sobre o processo de criação de uma
unidade de conservação federal.
3.8 - Levantamento de dados secundários do Meio Fís ico
Marapanim, pertence à região Bragantina, possui clima do tipo Ami, com
pluviosidade anual variando de 2.200 a 2.800 mm por ano, e temperatura média de 25ºC
Os solos da região são predominantemente de baixa fertilidade.
Hidrologia
O rio Marapanim atravessa o município de Marapanim de norte a sul (Figura 19),
servindo como limite natural entre Marapanim e os municípios de São Francisco do Pará
(ao sul) e Magalhães Barata (a leste). Outros rios com destaque no município, rio Maú,
8 O acesso ao documento foi possível durante a oficina em Camará, quando um dos
moradores e estudante de gestão ambiental possuía uma cópia. Na SEMA não foi possível acesso ao documento.
77
que atravessa o município de leste a oeste e serve de limite natural entre Marapanim e os
Municípios de Terra Alta e Curuçá (oeste), e rio Mearim.
No que se refere à hidrografia pode-se destacar ainda o rio Cajutuba e o Furo do
Camará, ambos localizados ao norte do município. O município de Marapanim é banhado
ao norte pelo Oceano Atlântico.
Figura 19 – Mapa de hidrografia do município de Marapanim-PA. Elaborado com base em
PARÁ-SEMA (s.d.).
Em Marapanim, assim como os demais municípios litorâneos próximos (Magalhães
Barata e São Caetano de Odivelas), possuem baixos valores de elevação, variando de
próximo a zero (2,0m – nível do mar) a no máximo 61 metros (Figura 20). Estratificando-
se a elevação em classes com intervalos de 10 metros, sete no total, verifica-se que
aproximadamente 75% do município possui elevação de até de 30 metros (Tabela 4). As
elevações mais baixas encontram-se na região norte (litorânea), e ao longo dos rios
78
Marapanim e Maú, enquanto que as mais altas situam-se ao sul, sobretudo ao sul do rio
Maú.
Figura 20 – Mapa de elevação do município de Marapaínm-PA. O mapa de
elevação foi elaborado com base nos dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission),
organizados por Weber, Hasenack e Ferreira (2004).
Tabela 4 – Área das classes do mapa de Elevação em metros.
Elevação (m) Área (km²) Percentual
02 - 10 120,63 15,10 11 - 20 246,62 30,88 21 - 30 233,00 29,17 31 - 40 135,34 16,95 41 - 50 57,72 7,23 51 - 60 5,33 0,67 61 0,02 0,00
Total 798,66 100
79
Geologia
Os terrenos do município de Marapanim são recentes na escala do tempo
geológico (menos de 23 milhões de anos). O município possui terrenos da Época
Mioceno (terrenos mais antigos), da Época Pleistoceno (53,61%) estes nem tão antigos e
nem tão recentes, mas predominam no município. A segunda época em importância, o
Holoceno (23,32%), é a mais recente na escala de tempo geológico. Os terrenos mais
antigos, Época Mioceno, representam 19,54% da área do município (Tabelas 5 e 6 e
figura 21).
Tabela 5 – Área das classes do mapa de geologia
Tabela 3 – Unidades de Tempo Geológico.
ÉON ERA PERÍODO ÉPOCA INÍCIO1
Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Quaternário) Holoceno 0,0114
Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Quaternário) Pleistoceno 1,8060
Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Terciário) Mioceno 23,03 1 Em milhões de anos antes do presente.Fonte: Adaptado de WIKIPÉDIA (s.d.1).
O Holoceno é caracterizado por: Coluviões Holocênicos; Aluviões Holocênicos;
Depósitos de Pântanos e Mangues Holocênicos; e Depósitos Marinhos Litorâneos. Os
Coluviões Holocênicos são formados por partículas angulares e ligeiramente
arredondadas, comumente de cor vermelha, contendo fragmentos de rocha e sedimentos
finos a grossos. Localizam-se basicamente no alto curso do rio Marapanim.
Os Aluviões Holocênicos são depósitos grossos a conglometáticos de residuais de
canais, arenosos de barra em pontal e pelíticos de transbordamento, e incluem depósitos
fluviolacustres e eólicos. Ocorrem basicamente no trecho intermediário do rio Marapanim.
Os Depósitos de Pântanos e Mangues são constituídos por sedimentos
predominantemente pelíticos, argilo-siltosos, com muita matéria orgânica, restos de
madeira e conchas, em ambiente fluviomarinho e/ou litorâneo. Menos expressivos são os
Classes Área (km2) Percentual
Água 27,79 3,54
Holoceno 183,26 23,32
Pleistoceno 421,37 53,61
Mioceno 153,59 19,54
80
Depósitos Marinhos Litorâneos, que são os depósitos arenosos de praias e restingas
atuais da área amazônica, compostos por areias bem classificadas, inconsolidadas, de
granulação fina a média e contendo restos de animais. Os Depósitos de Pântanos e
Mangues bem como os Depósitos Marinhos Litorâneos ocorrem no norte do município
(IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).
O Pleistoceno é caracterizado por uma cobertura detrito-laterítica que apresenta as
seguintes características: sedimentos argilo-arenosos amarelados, caoliníticos, alóctones
e autóctones, parcial a totalmente pedogenizados, gerados por processos alúvio-coluviais
(IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).
O Mioceno é composto basicamente pelo Grupo Barreiras. Os sedimentos
englobados no Grupo Barreiras ocorrem em vários trechos da região costeira do Brasil,
desde o Amapá até o Rio de Janeiro, sendo sua denominação derivada das falésias onde
estão expostos nos relevos tabulares da costa. O Grupo Barreira é formado por arenitos,
siltitos, argilitos e conglomerados de cores variegadas, com níveis concrecionários ("grés
do Pará") e caulínicos, depositados em ambiente predominantemente continental por
sistemas fluvial, fluviolacustre e de leques aluviais (IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).
Geomorfologia
A geomorfologia do município de Marapanim encontra-se compartimentada em três
classes: Planície, Pediplano e Tabuleiro (tabela 7 e figura 22). Os Tabuleiros cobrem a
maior parte do território (66,2); a Planície é a segunda classe em importância (22,9%); o
Pediplano, por fim, é a classe de menor área (7,4%).
Tabela 7 - Área das classes do mapa de geomorfologia.
Classes Área (km2) Percentual
Água 27,79 3,54
Planície 179,97 22,90
Pediplano 57,91 7,37
Tabuleiro 520,34 66,20
Total 786,02 100
81
Figura 21 – Mapa de geologia do município de Marapanim-PA.
Os Tabuleiros e os Pediplanos situam-se no Domínio das Bacias Sedimentares e
Coberturas Inconsolidadas, que representam as áreas que num passado geológico foram
áreas de deposição, mas atualmente sofrem processos erosivos. As Planícies situam-se
no Domínio dos Depósitos Sedimentares Inconsolidados (IBGE, s.d.2).
Os Tabuleiros são resultantes de um Modelado de Dissecação preferencialmente
nos de diferencial tabulares, resultando num conjunto de formas de relevo de topos
tabulares, conformando feições de rampas suavemente inclinadas e de lombadas,
esculpidas em rochas sedimentares. São em geral definidas por vales rasos,
apresentando vertentes de baixa a média declividade. Resultam da instauração de
processos de dissecação atuando sobre a superfície de aplainamento (IBGE, 2008b).
Os Pediplanos são superfícies erosivas resultantes do processo de pediplanação,
que significa o aplainamento do relevo por recuo paralelo das vertentes (Casseti, 2005).
Os Pediplanos são superfícies de aplainamento elaboradas durante fases sucessivas de
82
retomada de erosão, sem, no entanto, perder as características de aplainamento, cujos
processos geram sistemas de planos inclinados, às vezes levemente côncavos. Pode
apresentar cobertura detrítica e/ou encouraçametos, indicando remanejamentos
sucessivos (IBGE, 2008b). As áreas de “terra firme” rodeadas por áreas de mangue, que
são comumente denominadas de “ilhas”, são, em geral, Pediplanos.
Figura 22 – Mapa de geomorfologia do município de Marapanim-PA.
A Planície é resultante de um Modelado de Acumulação. Ela é uma área plana
resultante da combinação de processos de acumulação fluvial e marinha, sujeita ou não a
inundações periódicas, podendo comportar canais fluviais, manguezais, cordões
arenosos e lagunas. Ocorre nas baixadas litorâneas, próximo às embocaduras fluviais
83
(IBGE, 2008b). Nesta classe encontram-se tanto as planícies flúviomarinhas (áreas de
mangue) quanto às planícies marinhas (praias).
Solos
No município de Marapanim são encontrados quatro tipos principais de solos
(IBGE, s.d.3 e IBGE 2008c). Os mais comuns são Latossolo Amarelo Distrófico e o
Gleissolo Sálico Sódico. A área coberta por essas duas classes de solo representam
cerca de 90% do município (Latossolo Amarelo Distrófico 72,0% e Gleissolo Sálico
Sódico 17,7%). Com menor importância em termos de área aparecem o Neossolo
Quartzarênico Órtico e o Neossolo Flúvico Distrófico, representando 0,4% e 6,6% do
território do município, respectivamente (Tabela 8 e Figura 23).
Tabela 8 – Área das classes do mapa de solo
Classes do Mapa de Pedologia Área (km²) Percentual
Água 26,86 3,42
Gleissolo Sálico Sódico 138,80 17,66
Neossolo Quartzarênico Órtico 2,71 0,35
Neossolo Flúvico Distrófico 51,47 6,55
Latossolo Amarelo Distrófico 565,99 72,02
Total 785,84 100
Os Latossolos são solos de intemperização intensa, sendo definidos pelo Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) pela presença de horizonte diagnóstico
latossólico e características gerais como: argilas com predominância de óxidos de ferro,
alumínio, silício e titânio, argilas de baixa atividade (baixa capacidade de troca catiônica –
CTC9), fortemente ácidos e baixa saturação de bases (EMBRAPA, 1999; Santos e Zaroni,
s.d.1).
Os Latossolos apresentam normalmente baixa fertilidade, exceto quando originados
de rochas mais ricas em minerais essenciais às plantas, acidez e teor de alumínio
elevados. Possuem boas condições físicas para o uso agrícola, associadas a uma boa
permeabilidade por serem solos bem estruturados e muito porosos. São solos de maior
ocorrência no Brasil. Estão distribuídos sobre amplas e antigas superfícies de erosão:
9 O cátion é um íon com carga positiva. Nesta categoria enquadram-se os metais, os elementos alcalinos e os elementos alcalinoterrosos. Um dos cátion mais comuns é o sódio. Este forma compostos iónicos (sais) quando combinado com ânions (íons de carga negativa) (WIKIPÉDIA, s.d.2).
84
tabuleiros, chapadas, planaltos, terraços fluviais, estando associados normalmente aos
relevos planos e suaves ondulados (Santos e Zaroni, s.d.1).
Devido às boas condições físicas e aos relevos mais suaves, os Latossolos
apresentam alto potencial para o uso agrícola. São largamente utilizados com produção
de grãos: soja, milho, arroz entre outros. Suas limitações estão mais relacionadas à baixa
fertilidade verificada na maioria dos Latossolos e baixa retenção de umidade, quando de
texturas mais grosseiras e em climas mais secos. O manejo dos Latossolos requer, de
um modo geral, a adoção de correção de acidez, adubação e, nos climas mais secos, de
irrigação em função da exigência da cultura. São normalmente resistentes aos processos
erosivos, devido às boas condições físicas. No entanto, verifica-se que o uso intensivo de
mecanização tem ocasionado a compactação destes solos, tornando-os mais suscetíveis
à erosão (Santos e Zaroni, s.d.1). O SiBCS classificam os Latossolos segundo nível
categórico (subordens), basicamente em função da matiz (cor) do solo, nas seguintes
classes: Latossolos Brunos; Latossolos Amarelos; Latossolos Vermelhos; Latossolos
Vermelho-Amarelos (EMBRAPA, 1999).
Segundo Santos, Zaroni e Almeida (s.d.1), os Latossolos Amarelos são solos
desenvolvidos de materiais argilosos ou areno-argilosos sedimentares da formação
Barreiras na região litorânea do Brasil ou nos baixos platôs da região amazônica
relacionados à Formação Alter-do-Chão, podendo também ocorrer fora destes
ambientes, quando atenderem aos requisitos de cor definidos pelo SiBCS. A cor
amarelada é uniforme em profundidade, o mesmo ocorrendo com o teor de argila. A
textura mais comum é a argilosa ou muito argilosa. Outro aspecto de campo refere-se à
elevada coesão dos agregados estruturais (solos coesos).
Os Latossolos Amarelos podem ser classificados no terceiro nível categórico do
SiBCS em: Acriférricos; Ácricos; Alumínicos; Distroférricos; Distrocoesos; Distróficos;
e/ou Eutróficos. Os Latossolos Amarelos Distróficos apresentam como característica uma
baixa saturação por bases (V < 50%) na maior parte dos primeiros 100cm do horizonte B.
Ou seja, uma baixa fertilidade natural (EMBRAPA, 2009).
Os Gleissolos encontram-se permanente ou periodicamente saturados por água,
salvo se artificialmente drenados. A água permanece estagnada internamente ou a
saturação é por fluxo lateral no solo. São definidos pelo SiBCS como solos hidromórficos,
constituídos por material mineral, que apresentam horizonte glei (horizonte diagnóstioco),
que pode ser um horizonte subsuperficial (C, B ou E) ou superficial A.
O horizonte superficial apresenta cores desde cinzentas até pretas, espessura
normalmente entre 10 e 50 cm e teores médios a altos de carbono orgânico. Estes solos
comumente desenvolvem-se em sedimentos recentes nas proximidades dos cursos
85
d’água e em materiais colúvio-aluviais sujeitos a condições de hidromorfia (ambientes de
influência de água), podendo formar-se também em áreas de relevo plano de terraços
fluviais, lacustres ou marinhos, como também em materiais residuais em áreas abaciadas
e depressões. São solos que ocorrem sob vegetação hidrófila ou higrófila herbácea,
arbustiva ou arbórea e apresentam baixa fertilidade natural (distróficos), podendo
também apresentar problemas com acidez (pH muito baixo) e teores elevados de
alumínio, de sódio (salinos) e de enxofre (tiomórficos) (Santos e Zaroni, s.d.2).
Figura23- Mapa de pedologia do município de Marapanim-PA.
Com relação às características físicas, são mal ou muito mal drenados, em
condições naturais. A proximidade com os rios limita o uso agrícola desta classe de
solos, sendo, também, área indicada para preservação das matas ciliares. No entanto,
áreas fora da proteção ambiental apresentam potencial ao uso agrícola, desde que não
apresentem teores elevados de alumínio, de sódio e de enxofre. Segundo o SiBCS, os
86
Gleissolos são classificados no segundo nível categórico em: Tiomórficos, Sálicos;
Melânicos; e/ou Háplicos (EMBRAPA, 1999). Os Geissolos Sálicos geralmente ocorrem
em relevo plano de várzea e esporadicamente em terraços, associados aos mangues e
baixos cursos de rios, por isso normalmente apresentam gleização. O solo fica
descoberto nos locais onde a concentração de sais é elevada. Praticamente, não
apresenta potencialidades agrícolas.
A concentração de sais solúveis no solo é alta e a dessalinização é difícil e cara,
sendo indicados para preservação ambiental. Os Gleissolos Sálicos podem ser
classificados no terceiro nível categórico do SiBCS como Sódicos ou Órticos (EMBRAPA,
1999; IBGE, 2007). Nos Gleissolos Sálicos Sódicos, o elevado teor de sódio causa
toxidez à maioria das plantas, afetando o seu crescimento, pois inibe a adsorção de
cálcio e magnésio, elementos vitais ao seu desenvolvimento. Causa, também, a
dispersão das argilas (Santos, Zaroni e Almeida, s.d.2).
Os Neossolos apresentam predomínio de características herdadas do material
originário, sendo definido pelo SiBCS como solos pouco evoluídos e sem a presença de
horizonte diagnóstico. Os Neossolos podem apresentar alta (eutróficos) ou baixa
(distróficos) saturação por bases, acidez e altos teores de alumínio e de sódio. Variam de
solos rasos até profundos e de baixa a alta permeabilidade (EMBRAPA, 1999; Santos e
Zaroni, s.d.3; Santos et al., 2012).
Em áreas mais planas, os Neossolos, principalmente os de maior fertilidade natural
(eutróficos) e de maior profundidade, apresentam potencial para o uso agrícola. Os solos
de baixa fertilidade natural (distróficos) e mais ácidos são mais dependentes do uso de
adubação e de calagem para correção da acidez. Os Neossolos de textura arenosa
(areia) apresentam restrição causada pela baixa retenção de umidade (Santos e Zaroni,
s.d.3).
Os Neossolos abrangem diversos ambientes climáticos, associados desde áreas de
relevos muito movimentados (ondulados a montanhosos) até as áreas planas, sob a
influência do lençol freático. Quanto ao material de origem, variam desde sedimentos
aluviais até materiais provenientes da decomposição de rochas do cristalino (pré-
cambriano). O uso destes solos deve ser restringido quando estiverem próximos aos
cursos d´água, por ser área de preservação das matas ciliares. Já em ambientes de
relevos com mais declives. Os Neossolos são classificados no segundo nível categórico
do SiBCS em: Litólicos; Flúvicos; Regolíticos; e/ou Quartzarênicos. Os Neossolos
Flúvicos ocorrem próximos de rios ou drenagens em relevo plano, sendo evidentes as
camadas de solo depositadas, que se diferenciam pela cor e textura. Há risco de
inundação, que pode ser frequente ou muito frequente. São muito variáveis quanto à
87
textura e outras propriedades físicas, mas são considerados de grande potencialidade
agrícola, quando eutróficos (EMBRAPA, 1999; Santos, Zaroni e Almeida, s.d.3).
Os Neossolos Quartzarênicos ocorrem em relevo plano ou suave ondulado,
apresenta textura arenosa ao longo do perfil e cor amarelada uniforme abaixo do
horizonte A, que é ligeiramente escuro. Considerando-se o relevo de ocorrência, o
processo erosivo não é alto, porém, deve-se precaver com a erosão devido à textura ser
essencialmente arenosa. Por serem profundos, não existe limitação física para o
desenvolvimento radicular em profundidade, mas a presença de caráter álico ou do
caráter distrófico limita o desenvolvimento radicular em profundidade, agravado devido a
reduzida quantidade de água disponível (textura essencialmente arenosa). Os teores de
matéria orgânica, fósforo e micronutrientes são muito baixos. A lixiviação de nitrato é
intensa devido à textura essencialmente arenosa. Solos mais apropriados para
reflorestamento. Os Neossolos Quartzarênicos podem ser classificados no terceiro nível
categórico do SiBCS como Hidromórficos ou Órticos. Os Órticos não apresentam
restrição ao uso e manejo (Almeida, Zaroni e Santos, s.d.). No mapa de pedologia do
município verifica-se que os Neossolos Quartzarênicos Órticos correspondem aos
cordões arenosos das praias.
Cobertura vegetal
O mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Marapanim para o ano
de 2008 foi elaborado com base nos dados do Projeto TerraClass, que teve como
objetivo realizar a qualificação, a partir de imagens orbitais, das áreas já desflorestadas
da Amazônia Legal, resultando na elaboração de um mapa digital que descreve a
situação do uso e da cobertura da terra no ano de 2008 (EMBRAPA e INPE, 2011).
Em Marapanim a classe de cobertura predominante é a Floresta (áreas com
fisionomia florestal, principalmente áreas de mangue), cobrindo 38,1% da área do
município, ficando a classe Agropecuária em segundo lugar, representando 31,4% do
município. A terceira classe em importância é a Vegetação Secundária, que inclui as
capoeiras (porte arbóreo) e as juquiras (porte arbóreo/arbustivo), respondendo por 16,8%
da área do município. As classes Campos e Área Urbana respondem por 5,5% e 9,9%,
respectivamente da área do município (Tabela 9 e Figura 24).
Tabela 6 – Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra.
Classes de Cobertura Vegetal e Uso da Terra Área (km²) Percentual Água 49,24 6,20 Campos 43,60 5,49 Floresta 302,35 38,09 Vegetação Secundária 132,98 16,75
88
Agropecuária 248,86 31,35 Área Urbana 6,96 0,88 Nuvem e/ou Sombra da nuvem 9,76 1,23 Total 793,74 100,00
Figura 24 - Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Marapanim-PA
89
3.9 - Levantamento de dados secundários do meio bió tico.
Especificamente sobre a área visitada, há referências bibliográficas que destacam o
meio biótico como um todo. Dentre os estudos ocorridos na região predominam os
realizados com a pesca (antropologia e sociologia), e com a flora especificamente o
mangue (ver banco de dissertações e tese UFPA e artigos do Boletim do Museu
Paraense Emílio Goeldi). Além desses, utilizou-se as informações obtidas dos
questionários e conversas informais com entrevistados e moradores (ver item 3.2 deste
relatório).
O Nordeste do Estado do Pará caracteriza-se por apresentar uma diversidade em
relação a sua morfologia e sua vegetação, em especial na zona costeira, na qual as
áreas estuarinas se destacam por apresentar uma cobertura vegetal com predomínio de
mangues seguidos de campos alagados e restingas.
No município o manguezal é o ecossistema dominante, contínuo, localizado,
principalmente, na foz dos rios e áreas contiguas, bordejando a baía de Marapanim,
geralmente ocupando os bancos lamosos (Senna, et.al, 2011). As restingas, com registro
atual de 420 espécies (Bastos, 2003), apresentam uma gama diversificada de
comunidades vegetais. Segundo essas autoras, a formação vegetal guarda forte
correlação com os processos geológicos e geomorfológicos, estabelecidas em substrato
arenoso, entre o oceano e o continente. Para Senna (2011) as demais formações
vegetais, ai incluídas: savanas, florestas paludosas e capoeiras, sofrem indiretamente a
influencia marinha, devido à proximidade com o mar.
Prost et al (2001) realizou estudos na região de Marapanim e São Caetano de
Odivelas e segundo eles por localizar-se em região quente e úmida, numa costa baixa
recortada por estuários, planície lamosa, de macromarés e gradiente suave, possui rica
rede de drenagem, além de estar em contato direto com o oceano Atlântico, situação que
permite condições ecológicas adequadas para a formação de extensos manguezais.
A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os
grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses ambientes,
como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo
menos, uma fase do ciclo de vida.
Poucos são os estudos na região que abordam a estrutura da vegetação e,
segundo Sales et al (2009), dados desta natureza são importantes, pois a região sofre o
aumento da exploração pesqueira e turística, que começa a fazer pressão sobre os
recursos naturais da região. Em seus estudos o grupo levantou dados sobre a estrutura
da vegetação de mangue na região da foz rio Cajutuba. Em suas conclusões avaliou que
90
a salinidade é um dos principais fatores que determinam a estrutura dos bosques de
mangue.
A vegetação da área costeira é rica em recursos utilizáveis pela população local..
Porém, o que se observa no momento, é que esta vegetação, por estar localizada
próxima de praias, encontra-se susceptível à destruição.
A paisagem destes ambientes atrai o turismo sem planejamento, a especulação
imobiliária e a abertura de estradas, o que leva à devastação dos manguezais e das
restingas. O aterramento, a retirada de madeiras e extração de areia das dunas para fins
de construção civil, podem causar a desestabilização no movimento migratório e como
conseqüência interferir nos ecossistemas que constituem a paisagem litorânea.
A vegetação de restinga possui espécies de tipos arbóreos e predomínio dos cipós,
arbustos e ervas. Dentre as espécies mais comuns estão o Chrysobalanus icaco L.,(ajirú)
Sporobolus pugens (capim-da-praia), que forma um denso tapete graminoso; Anacardium
occidentale L. (caju); Byrsonima crassifólia (L.) Kunth.e muruci-do-mato. A vegetação das
restingas é explorada pelos moradores locais por meio da coleta de frutos para o
consumo e pelo uso medicinal.
Os recursos do mangue são explorados comercialmente pelas comunidades locais
por meio da “tiração” de caranguejos, extração de mel e retirada de madeira para a
construção de canoas, currais e lenha. Os estuários com a vegetação predominante de
mangue são considerados os sistemas mais produtivos, em termos de produção primária
e formação de substâncias orgânicas ricas em energia, permitindo a fixação de carbono
no ambiente (Pereira, 2002).
A vegetação do campo natural inundável é característica de terrenos baixos, com
cotas inferiores a 5 m, planos, e sujeitos à influência de canais fluviais e águas pluviais
que nas épocas mais chuvosas causam inundações sazonais e alagamentos que duram
vários meses (França, 2003). Estas baixadas recobertas por campos não sofrem
influência direta de marés.
A vegetação secundária é resultante da alteração da floresta ombrófila densa de
terra firme e sua regeneração posterior, o que ocorre por meio de sucessivas
intervenções antropogênicas. Muitas são as espécies aproveitáveis pela população, que
retira das “capoeiras” madeira, gêneros fitoterápicos e práticas de agricultura familiar para
o plantio de cultivos temporários como mandioca, milho, hortaliças e legumes.
As espécies mais freqüentes nas áreas de mata, segundo Sales et al (2009) são:
Parahancomia amapa (amapá) e o Simarouba amara (marupá) e núcleos de palmeiras,
principalmente tucumã (Astrocarium vulgari), inajá (Maximiliana maripa.),e mitiri (Mauritia
Flexuosa).
92
A vegetação encontra-se mais impactada nas proximidades das estradas de acesso
às áreas turísticas e nas estradas e vicinais nas áreas onde ocorre a exploração mineral.
O acesso à Vista Alegre é marcado por grandes áreas de desmate para implantação de
espaços agrícolas com uso de maquinário.
Nenhuma das espécies vegetais mais utilizadas citada pelos entrevistados está na
lista de espécies da flora ameaçadas do Pará, (SEMA,2006).
Figura 25 a- Aspectos de impactos na vegetação na região visitada.
93
Segundo Maneschy (1993; 2003) a atividade pesqueira faz parte das mais antigas
tradições dos habitantes do litoral amazônico. Estes habitantes mantiveram sua riqueza
cultural nas formas de exploração dos recursos naturais, mesmo com a introdução das
transformações socioculturais impostas pelo desenvolvimento econômico na região.
Os manguezais assim como as florestas tropicais úmidas encontram-se sob
ameaça. No entanto, os mangues não têm recebido atenção necessária, no que se refere
à conservação deste ecossistema. Os manguezais e o ambiente estuarino mantêm um
ciclo de exportação de material orgânico em decomposição e nutrientes para as águas do
mar, que favorecem a região para a produção pesqueira.
A região costeira e de plataforma continental do estado do Pará possui uma grande
diversidade e abundância de organismos aquáticos, muitos dos quais podem ou já são
explotadas comercialmente pela atividade pesqueira. Contudo, o conhecimento e
dimensionamento dessa biota e de seu potencial extrativo são ainda muito deficientes,
sendo a região norte a menos conhecida de todo o litoral marinho do Brasil.
A diversidade de peixes, crustáceos e mariscos é rica, de importância econômica
local e regional. A lista de espécies identificadas para a região estudada chega a mais de
50 espécies de peixes, 12 de crustáceos e 5 de moluscos.
As aves são as espécies mais abundantes tanto no número de citações dos
moradores que responderam ao questionário, quanto à visualização in locu. É possível
observá-las em vôos nas áreas próximas às comunidades e percorrendo os rios Cajutuba
e Camará nas proximidades do mangue.
Dentre as espécies de aves encontradas na área de estudo, duas são citadas em
listas oficiais de espécies ameaçadas: o guará (Eudocimus ruber) aparece como
“ameaçada” na lista da portaria do IBAMA n° 1522/89 , sendo também citada no anexo II
da lista do CITES, com grande risco de se tornar ameaçada se as ameaças não forem
controladas. Esta ave é ameaçada pela caça e pela coleta de ovos, ambos com objetivo
de alimentação humana. Outra ave que é encontrada na região e caçada para
alimentação é o maçarico (Numenius sp), capturado principalmente antes do início da
migração para a América do Norte, pois nesta fase esta ave está no auge do acúmulo de
gordura para a migração.
Os répteis podem ser observados nos quintais como os lagartos e camaleões
(Iguana sp). Foi citada a ocorrência de jacarés e tejus nas áreas de mangue.
Os moradores citaram ocorrer na região 46 mamíferos. As cutias e os tatus foram
os mais citados. Segundo Fernandes&Andrade (2003), a presença de muitas espécies de
mamíferos nos manguezais parece ser determinada pelo seu ciclo de vida, que por
94
muitas vezes inclui a utilização paralela dos recursos disponíveis nos ecossistemas
contíguos.
Segundo o MMA (2007) no litoral do Pará há a ocorrência de botos (Sotalia
guianensis e S. fluviatilis) em áreas indicadas para criação de unidades de conservação
com prioridade variando de Alta a Extremamente Alta.
Ainda no que se refere aos mamíferos marinhos, os moradores citaram a
ocorrência de peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus). O peixe-boi amazônico
consta na lista de espécies ameaçadas do estado do Pará, e sua categoria foi definida
como “em perigo”. A IUCN definiu seu status como “vulnerável”, mesmo status indicado
pelo MMA (2008).
Quanto à ocorrência de espécies endêmicas na região, os moradores entrevistados
ao serem questionados: “Existe algum animal que você só tenha visto nesta região e que
você nunca viu em outro lugar?” O espadarte foi o mais citado entre os entrevistados e
moradores.
Dentre as espécies animais que já não ocorrem na região, os moradores citaram os
veados e o porco do mato entre os mamíferos; e os peixes da família Serranidae (Xiphias
Gladius- espadarte) e Carcarrhinidae (meros) e Bothidae (Paralichthys sp ,linguados) ;
dos répteis, os jabotis foram os mais citados. A causa do desaparecimento, segundo
eles, está no desmatamento e porque foram consumidos em excesso.
95
3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades
Conforme já descrito na metodologia, foram realizadas oficinas nas comunidades e
comunidades polo identificadas de acordo com o Laudo de Vistoria Técnica e dentro da
área prevista para a criação da unidade de conservação. Desta forma, as oficinas
ocorreram em Tamaruteua, Vista Alegre, Camará, Marudá, Araticum-Miri, Guarajubal e
Juçateua.
As reuniões foram organizadas com o apoio de lideranças locais e quando
presentes representantes do Comitê nas comunidades. As oficinas foram realizadas nos
locais e horários determinados pela comunidade. Moradores das comunidades
adjacentes às comunidades polo foram convidados e quando necessário foi
providenciado transporte, dessa forma as atividades foram integradas.
Em todas as oficinas foi proposto e aceito como dinâmica o esclarecimento das
atividades da equipe e a realização de atividades em grupos para coleta de dados.
Dentre as atividades foram realizadas o mapeamento das áreas de uso dos recursos
naturais, o Diagrama de Venn e a Matriz Histoecológica.
A dinâmica da oficina, contou ainda com uma “seção” de abertura com
apresentação das lideranças do Comitê, que fizeram uma retrospectiva do processo de
criação da unidade de conservação no município. Buscou-se sanar as dúvidas existentes
quanto ao processo de criação da unidade de conservação e ao modo de vida de
moradores e usuários de uma Resex Marinha. As dúvidas dos moradores se detiveram,
em geral, nos temas direcionados à legislação ambiental e ao seguro defeso; o que se
pode ou não pode fazer dentro de uma Resex; e, sobre os benefícios advindos com a
criação da unidade para os moradores, como o bolsa verde.
Em todas as oficinas houve presença de homens e mulheres que participaram e
deram opiniões. O número de participantes variou entre as oficinas (ver anexo). Em todas
as oficinas foi marcante a disputa de poder entre o IMPEC e membros do Comitê. Os
pescadores denunciaram as invasões que ocorrem na região e a insegurança em alto
mar.
96
4- REFERÊNCIAS
ALMEIDA, E.P.C; ZARONI, M.J.; SANTOS, H.G. Neossolo Quartzarênicos. In: Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)/Agência Embrapa de Informação
Tecnológica (ageitec). Solos Tropicais. Brasília: EMBRAPA/ageitec. s.d. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/solos_tropicais/arvore/CONT000gn230xho
02wx5ok0liq1mqtarta66.html>. Acesso em: 20 mar. 2013.
ALVES RRN, VIEIRA WLS, SANTANA GG (2008) Reptiles used in traditional folk
medicine: conservation implications. Biodiv. Cons. 17: 2037-2049.
BARBOSA, C.F. de O.; PINHO. J.T.; PEREIRA, E.J.da S. et all- Situação da geração
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