evocação de silêncios - ferreira gullar
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Evocação de
Silêncios
Ferreira Gullar
O silêncio habitava o corredor de entrada de uma meia morada
na rua das Hortas
o silêncio era frio no chão de ladrilhos
e branco de cal nas paredes altas
enquanto lá fora
o sol escaldava
Para além da porta na sala nos quartos o silêncio cheirava
àquela família
e na cristaleira (onde a luz se excedia)
cintilava extremo:
quase
se
partia
Mas era macio nas folhas caladas
do quintal vazio
e
negro no poço negro
que tudo sugava: vozes luzes
tatalar de asa
o que circulava no quintal da casa
O mesmo silêncio voava em zoada
nas copas nas palmas
por sobre telhados até uma caldeira que enferrujava na areia da praia do Jenipapeiro
e ali se deitava: uma nesga dágua
um susto no chão
fragmento talvez de água primeira
água brasileira
Era também açúcar o silêncio
dentro do depósito (na quitanda
de tarde)
o cheiro queimando sob a tampa
no escuro
energia solar
que vendíamos
aos quilos
Que rumor era esse ? barulho
que de tão oculto só o olfato o escuta ?
que silêncio era esse
tão gritado de vozes (todas elas) queimadas em fogo alto ? (na usina)
alarido das tardes das manhãs agora em tumulto dentro do açúcar
um estampido
(um clarão)
se se abre a tampa.
FORMATAÇÃO:
Mima (Wilma) Badan
mimabadan@yahoo.com.br
MÚSICA: The sound of silence
(Simon e Garfunkel)
Execução: 101 Strings
(Repasse com os devidos créditos)
BLOG:
www.mimabadan.blogspot.com
OUTROS PPSs:
www.slideshare.net/mimabadan
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