excelentíssimo senhor doutor juiz de direito da 1ª … · atribuições legais, com fundamento...
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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública da
Comarca de Londrina, Estado do Paraná.
Distribuição por prevenção dos autos n° 0045693-
61.2011.8.16.0014, de medida cautelar de busca e
apreensão, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de
Londrina.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,
por seus Promotores de Justiça que ao final subscrevem, em exercício na
Promotoria Especializada de Proteção ao Patrimônio Público, no uso de suas
atribuições legais, com fundamento nas disposições contidas nos artigos 129, inciso
III, da Constituição da República, art. 120, inciso III, da Constituição do Estado do
Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art. 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, e
na Lei n.º 8.429/92, vêm, respeitosamente, diante da presença de Vossa Excelência,
propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, contra
1. ROBERTO DIAS SIENA, brasileiro, casado, portador
da cédula de identidade RG nº. 4.427.651, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas
– CPF sob o nº. 623.960.999-49, filho de Edison Siena e Dirce Moura Siena, nascido
no dia 16/06/1969, residente e domiciliado na Rua Evaristo Camargo, nº. 1101,
Tamarana-Pr;
2
2. CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, brasileiro, casado,
secretário de finanças do Município de Tamarana-Pr, portador da cédula de
identidade RG nº. 3614988-4/Pr e inscrito no CPF sob o n° 522.617.009-20, filho de
Sebastião Catai e Laura Mariuson Catai, nascido no dia 05/08/1964, residente e
domiciliado na Rua Rio Branco, nº. 72, Tamarana-Pr;
3. ALDO BOARETTO NETTO brasileiro, Secretário de
administração e serviços públicos do Município de Tamarana, inscrito no CPF de nº
7.140.512.795-53 e no Título de Eleitor sob o nº 00.138.963.106-80, residente e
domiciliado na Rua Demétrio C. Siqueira, 756, CEP 86125-000, Tamarana-PR;
4. JOÃO VITOR RUTHES DIAS, brasileiro, servidor
público, pregoeiro do Município de Tamarana-Pr, portador do Título de Eleitor n°
00.890.467.106-47, inscrito no CPF n° 054.439.939-09, filho de Eliane Aparecida
Ruthes Dias, nascido no dia 23/06/1986, residente e domiciliado na Rua Prof.
Ivonete Cintra Alcântara, 55, Centro, CEP 86.125-000, Tamarana-Pr;
5. MARIA ROSE SOARES, brasileira, servidora pública,
auditora de controle interno e integrante da comissão de licitações do Município de
Tamarana, portadora do Título de eleitor nº 00.441.655.206-80, inscrita no CPF nº
535.503.079-34, filha de Maria de Lima Soares, nascida no dia 14/08/1969,
residente e domiciliada na Av. Guilherme de Almeida, 1615, Parque Ouro branco,
CEP 86042-000, Londrina-PR
6. SAULO RIBEIRO RODRIGUES, brasileiro, casado,
servidor público, contador do Município de Tamarana, portador do RG nº. 4486263-
8, filho de Miguel Pinto Ribeiro e de Salvadilha Rodrigues Ribeiro, residente e
domiciliado na Rua João Ribeiro, nº. 315, Jd. Coliseu, Londrina-Pr;
7. DIONE CORDEIRO DA SILVA, brasileiro, servidor
público do Município de Tamarana, portador do RG 1.298.303/MS, inscrita no CPF
007.279.281-71, podendo ser encontrado na Sede da Prefeitura Municipal de
Tamarana, Rua Izaltino José Silvestre, nº 643, CEP 86.125-000, Tamarana-PR;
8. MARCIO ANTÔNIO SOTTA SANTANA, brasileiro,
servidor público, membro da comissão de licitações do Município de Tamarana,
portador do título de eleitor nº 00.702.614.106-55, inscrito no CPF nº 047.654.489-
3
08, nascido em 24/07/1984, filho de Gislei Aparecida Santana, residente e
domiciliado na Rua José Fabiano, 110, Centro, CEP 86125-000, Tamarana-PR.
9. ARMANDO DA SILVA SOUZA, brasileiro, membro da
comissão de licitações do Município de Tamarana, portador do título de eleitor
00.135.081.006-55, inscrito no CPF 515.245.629-04, nascido em 02/03/1965, filho
de Marlene da Silva Souza, residente e domiciliado na Rua Alcides Gomes de
Siqueira, nº 6, Conjunto Seb Moura Tresse, CEP 86.125-000, Tamarana-PR;
10. VALDECIR AMADOR ALMERON, brasileiro, membro
da comissão de licitações e da equipe de apoio aos pregões do Município de
Tamarana, portador do título de eleitor 00.722.923.106-80, inscrito no CPF nº
028.850.099-77, filho de Margaria Amador Almeron, residente e domiciliado na Rua
Erenilda Maria de Jesus, nº 308, Jd. Piazentin, CEP 86043-220, Londrina-PR;
11. LEONILDO LOPES, brasileiro, portador do RG
5.237.099-0/PR, inscrito no CPF 014.530.469-84, residente e domiciliado na Avenida
Eloi Nogueira Silva, 126, Distrito de Lerroville, CEP 86.123-000, Londrina-PR;
12. GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA,
brasileiro, inscrito no CPF n° 993.577.129-68, filho de Wanda Maria Castro Silva,
nascido no dia 22/02/1972, residente e domiciliado na Rua Evaristo Camargo, 842,
Centro, Tamarana-Pr;
13. JUHAD WEHBE AL CHAAR, brasileiro, empresário,
inscrito no CPF n° 030.637.309-20, filho de Iracema de Oliveira Al Chaar, nascido no
dia 03/07/1972, residente e domiciliado na Rua Evaristo Camargo, nº 856, Centro,
Tamarana – Pr ou Rua da Lapa, nº. 99, térreo, Pq. Bela Vista, Londrina-PR;
14. REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, brasileiro, inscrito
no CPF n° 053.463.659-40, filho de Gilda Aparecida de Souza, nascido no dia
24/02/1987, residente e domiciliado na Rua João Domingues Gonçalves, nº 891,
Tamarana – Pr;
15. JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, brasileiro, casado,
inscrito no CPF nº 480.356.029-34, nascido em 15/08/1963, residente e domiciliado
na Av. Portugal, 370, Jardim Igapó, CEP 86046-010, Londrina-PR
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16. MAYARA ARANDA MANO, brasileira, portadora do
Título de eleitor nº 00.969.445.306-63, inscrita no CPF n° 064.245.059-54, nascida
em 02/03/1990, filha de Tania Cristina Coelho Aaranda Mano, residente e
domiciliada na Rua Cambará, 589, apto 301, Centro, CEP 86010-530, Londrina-PR
17. MARCELO CARLOS MANO, brasileiro, portador do
Título de Eleitor nº 00.969.445.306-63, inscrito no CPF n° 688.602.779-49, nascido
em 12/03/1968, filho de Vera Terezinha Tomazoni Mano, residente e domiciliado na
Avenida Portugal, 346, JD. Igapó, CEP 86046-010, Londrina-PR
18. TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, brasileira,
casada, portadora do Título de Eleitor nº 00.139.865.806-98, inscrita no CPF n°
834.373.559-53, nascida em 27/07/1968, filha de Maria Coelho Aranda, residente e
domiciliada na Avenida Portugal, 346, Jd. Igapó, CEP 86046-010, Londrina-PR;
19. DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA,
brasileira, portadora do Título de Eleitor nº 00.968.878.006-04, inscrita no CPF n°
084.802.779-55, nascida em 20/08/1991, filha de Maria Eugênia de Oliveira,
residente e domiciliada na Rua Demetrio Carneiro Siqueira, 1160, Centro, CEP
86125-000, Tamarana-PR;
20. SILMARA CRISTINA FERRONI, brasileira, inscrita no
CPF n° 038.545.049-42, residente e domiciliada na Rua Evaristo Camargo, 843,
Centro, CEP 86.125-000, Tamarana-Pr;
21. LOURENÇO DA SILVA, brasileiro, solteiro, inscrito no
CPF n° 722.560.529-15, residente e domiciliado na Rua Arlindo Pereira Araújo, 200,
Centro, CEP 86.125-000, Tamarana-Pr;
22. GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n° 07.178.565/0001-02,
sito no Assentamento Água da Prata S/N, Tamarana-Pr;
23. CHAAR & SOUZA LTDA., pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ 08.574.354/0001-51, sito no Qd. 02, Lote 01, Parque
Industrial, Tamarana-Pr;
5
24. JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA. (antiga Al
Chaar & Macedo Transportes Ltda.), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no
CNPJ 07.176.494/0001-09, sito à Rua Arlindo Pereira Araújo, 543, Tamarana-Pr;
25. M.C.A. TRANSPORTES LTDA., pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ n° 05.867.292/0001-88, sito à Av. Portugal, 370,
Jardim Igapó, CEP 86.046-010, Londrina-Pr;
26. MCM TRANSPORTES LTDA., pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ n° 03.652.851/0001-07, sito à Rua Ancião Vicente
Sutil de Oliveira, 435, Centro, CEP 86.125-000, Tamarana-Pr;
27. D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n° 11.490.922/0001-40, sito à Rua
Nelson Ribeiro Mercer, 29, Conj. Enes Barbosa, CEP 86.125-000, Tamarana-Pr;
28. SILMARA CRISTINA FERRONI – ME, pessoa jurídica
de direito privado, inscrito no CNPJ n° 14.857.406/0001-08, sito à Rua Arnaldo
Ruthes, 08, Conj. Manoel Batista Vieira, CEP 86.125-000, Tamarana-Pr;
29. L DA SILVA TRANSPORTES, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ 07.686.418/0001-43, sito à Est. Rio Branco a
Igrejinha S/N Sitio Novo Horizonte, Assentamento Mundo Novo, CEP 86.125-000,
Tamarana-Pr;
Pelos fatos e fundamentos jurídicos que a seguir passa a
expor:
I. DA PREVENÇÃO
Antes de adentrar o mérito da ação, insta evidenciar que
já tramita nesse douto Juízo a ação cautelar de busca e apreensão nº 0045693-
61.2011.8.16.0014, proposta por este órgão do Ministério Público, distribuída à 1ª
6
Vara da Fazenda Pública de Londrina1, e que apresenta objeto coincidente ao
contido na presente demanda – esquema de corrupção em curso no âmbito da
administração direta do Município de Tamarana que estaria beneficiando um grupo
de empresas e seus representantes legais.
Consoante se infere dos autos da ação cautelar, proposta
em desfavor dos ora Requeridos acima nominados, entre outros, a finalidade era
obter suporte probatório que embasa a propositura da presente ação civil pública de
improbidade (art. 17, §6º, LIA), o que de fato ocorreu, já que os documentos
apreendidos comprovaram as denúncias de corrupção e desvios de recursos
públicos então noticiadas pela vereadora Luzia Suzukawa2.
Resta claro, portanto, que há identidade de objeto entre a
Ação Cautelar nº. 0045693-61.2011.8.16.0014 e a presente Ação Civil Pública.
Consoante o art. 2°, parágrafo único, da Lei 7.347/85 e do
art. 17, §5°, da Lei 8.429/92, a propositura da ação cautelar “prevenirá a jurisdição
do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto”.
Nesses termos, o Ministério Público pugna pela
distribuição do feito por prevenção ao Juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública de
Londrina, na forma prescrita no art. 17 da Lei 8.429/92.
II. DO OBJETO DA AÇÃO
Destina-se a presente ação a proteger o patrimônio
público e a assegurar a observância dos princípios que regem a Administração
Pública mediante a obtenção de provimento judicial condenatório dos agentes
públicos e particulares anteriormente nominados, em razão da prática de atos de
1 DOC. 1 – Cópia da Cautelar de Busca e apreensão, autos n° 0045693-61.2011.8.16.0014, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina. 2 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa.
7
improbidade administrativa na contratação de serviços de transporte de pessoas
pelo Município de Tamarana (PR), efetivada através de certames licitatórios
fraudulentos destinados a favorecer determinadas empresas administradas por
pessoas ligadas, à época, ao então prefeito do município.
III. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Após as investigações realizadas por esta Promotoria de
Justiça, no âmbito do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000137-33, apurou-se a
existência de um grandioso esquema de corrupção (fraudes em licitações; desvios
de recursos públicos, etc.) atuante na Prefeitura de Tamarana, que tinha por objetivo
beneficiar indevidamente determinadas empresas e agentes públicos.
Parte desse esquema ilícito envolve as empresas
GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE,
SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES, utilizadas
por seus sócios – todos pessoas de confiança do então prefeito – ora requeridos
GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO
ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, e SILMARA CRISTINA FERRONI, como importante instrumento destinado a fraudar procedimentos
licitatórios a fim de legitimar o recebimento de recursos públicos da ordem de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro
reais e dezessete centavos)4 dos cofres públicos do Município de Tamarana, em
decorrência de adjudicações de objetos de processos licitatórios viciados.
3 DOC. 3 – Cópia do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000137-3. 4 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
8
Estes fatos consubstanciam atos de improbidade
Administrativa que causam prejuízo ao erário e violam os princípios que regem a
administração pública, notadamente porque os requeridos, ROBERTO DIAS SIENA,
Prefeito Municipal de Tamarana, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, Secretário de
Finanças; ALDO BOARETTO NETTO, Secretário de Administração; JOÃO VITOR
RUTHES DIAS5, Diretor do Departamento de Licitações; MARIA ROSE SOARES,
Auditora de Controle Interno do Departamento de Licitações; e SAULO RIBEIRO RODRIGUES6, contador do município; e, por fim, MARCIO ANTÔNIO SOTTA SANTANA7, DIONE CORDEIRO DA SILVA8, ARMANDO DA SILVA SOUZA9, VALDECIR AMADOR ALMERON10 e LEONILDO LOPES11, membros da comissão
permanente de licitações; cada qual no seu âmbito de atribuições incumbia-lhes
fiscalizar a lisura dos procedimentos licitatórios, todavia, ao revés, permitiam e eram
coniventes com os atos ilícitos engendrados pelo grupo.
Por esta razão, propõe-se a presente Ação Civil Pública,
com o propósito de:
5 Atuou como Pregoeiro (Portarias nº 58/2006, 02/2007, 01/2009, 03/2010) , como membro da comissão permanente de licitação (Portarias nº 01/2007, 70/2008, 02/2009, 01/2011 e 01/2012) e na equipe de apoio ao Pregão (Portarias nº 02/2011 e 02/2012). Atuou como Pregoeiro nos Pregões 3/2006, 2/2007, 01/2009, 03/2010. Atuou na Comissão permanente de licitação no Pregão nº 2/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, e 13/2010. Atuou na comissão permanente de licitação e na equipe de apoio aos Pregões nº 36/2011 e 06/2012. (DOC. 10 – Portarias de nomeação); 6 Fazia indicação dos recursos e assinava como testemunha dos contratos. Membro da comissão permanente de licitação (Portarias nº 01/2007, 70/2008, 02/2009, 04/2010, 01/2011, 01/2012) e da equipe de apoio ao Pregão (Portria nº 58/2006, 02/2007, 01/2008, 01/2009, 03/2010, 02/2011, 02/2012). Atuou na comissão de licitação e na equipe de apoio aos Pregões nº 02/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011, 36/2011 e 06/2012, e na equipe de apoio ao Pregão nº 03/2006. (DOC. 10 – Portarias de nomeação); 7 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria nº 01/2012) e da equipe de apoio ao pregão (Portaria nº 02/2012) ; Atuou na licitação modalidade Pregão Presencial nº 06/2012 (DOC. 10 – Portarias de nomeação); 8 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria n. 02/2009, 04/2010, 01/2011 e 01/2012), da equipe de apoio ao Pregão (Portarias nº 01/2009, 03/2010) e como Pregoeiro (Portaria nº 02/2011 e 02/2012); Atuou na equipe de apoio aos Pregões nº 3/2009, 21/2009, 39/2009 e 13/2010, e como Pregoeiro nos Pregões nº 06/2011, 36/2011 e 06/2012 (DOC. 10 – Portarias de nomeação) 9 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria n. 03/2005 e 01/2006); Atuou nas licitações modalidade Carta Convite nº 6, 8, 11, 12, 16, 17, 18, 20, 22, 23, de 2005, nas Cartas Convites 4, ,6 ,9 ,10, 14, 15, 16, 18, 20, 36, de 2006, e na comissão de licitação do Pregão nº 03/2006 . (DOC 14 – Portarias de nomeação). 10 Membro da comissão permanente de licitações (Portaria n. 03/2005, 01/2006 e 01/2007) e da equipe de apoio ao Pregão (Portarias nº 58/2006 e 02/2007); Atuou na comissão de licitação modalidade Carta Convite nº 6, 8, 11, 12, 16, 17, 18, 20, 22, 23, de 2005, nas Cartas Convites 4, ,6 ,9 ,10, 14, 15, 16, 18, 20, 36, de 2006, e na comissão de licitação e na equipe de apoio dos Pregões nº 03/2006 e 02/2007. (DOC. 10 – Portarias de nomeação); 11 Pregoeiro do Município de Tamarana (Portaria nº 01/2008). Atuou como pregoeiro no Pregão nº 44/2008. (DOC. 10 – Portarias de nomeação);
9
- Assegurar o resultado útil do processo mediante a
decretação liminar da indisponibilidade dos bens dos Requeridos, no montante
necessário para garantir o ressarcimento integral dos danos ao erário Municipal, até
o trânsito em julgado da sentença condenatória;
- Impor as sanções do art. 12, II e III da Lei 8429/92, em
decorrência da prática de Atos de Improbidade Administrativa previstos no artigo 10
e 11 do referido diploma, com base na disposição contida no artigo 37, §5º, da
Constituição da República.
IV. DOS FATOS
IV. 1. DO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO
Luzia Suzukawa, então vereadora do Município de
Tamarana12, prestou declarações à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público,
ocasião em que descreveu, detalhadamente, a existência de um esquema de corrupção orquestrado e dirigido pelo Prefeito BETO SIENA e seus asseclas.
No curso das investigações, o Setor de Auditoria do
Ministério Público constatou uma organização de empresas, conectadas por seus
representantes legais a agentes públicos municipais, além de um expressivo
aumento patrimonial do Prefeito BETO SIENA, absolutamente incompatível com os
vencimentos auferidos como chefe do Executivo Municipal.
À vista dos fortes indícios de fraude e de enriquecimento
ilícito de agentes públicos lotados na Prefeitura de Tamarana, esta Promotoria de
Justiça formulou pedido de busca e apreensão13, requerendo a apreensão de todos
os procedimentos administrativos (licitações e/ou quaisquer contratações diretas) em 12 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa 13 DOC. 1 – Cópia da Cautelar de Busca e apreensão, autos n° 0045693-61.2011.8.16.0014, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina.
10
tramitação ou arquivados na Prefeitura Municipal de Tamarana, em que figurassem
como participantes quaisquer dos investigados (sócios das empresas ou agentes
públicos), assim como a apreensão de equipamentos eletrônicos relacionados aos
fatos investigados14.
Deferido o pedido cautelar pelo Juízo da 1ª Vara da
Fazenda Pública, inúmeros documentos, físicos e eletrônicos, foram apreendidos,
quer na Prefeitura do Município de Tamarana, quer na residência de alguns dos
Requeridos15.
O setor de Auditoria, após minuciosa análise dos
documentos apreendidos, apontou inúmeras ilicitudes que, analisadas
sistematicamente, desvendou a existência de uma organização criminosa, tendo o
então prefeito BETO SIENA, como operacionalizador de fraudes em inúmeros
procedimentos licitatórios, valendo-se, para cumprir tal mister, de agentes públicos e
de terceiros, pessoas físicas e jurídicas.
O esquema de corrupção orquestrado pela referida
organização criminosa, pode ser dividido em quatro frentes de atuação, segundo os
objetos de prestações de serviço respectivo, a saber:
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS, envolvendo
as empresas Gustavo Sebastião, Chaar, JWC, MCM,
MCA, D. R de Carmargo, Silmara ME e L. da Silva;
ALIMENTOS, envolvendo as empresas Tajima e
Walmar;
ROÇADA E LIMPEZA DE BUEIROS, envolvendo
as empresas M.M. Serviços de Terraplanagem Ltda, e
L.R.;
14 Discos, pen drive, computadores, notebooks, netbooks, ou quaisquer dispositivos que servem para acessar dados eletrônicos, agendas e documentos. 15 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão
11
SAÚDE, envolvendo a OSCIP Organização Beija
Flor;
Para visualizar melhor o esquema de corrupção e as empresas que atuavam em cada modalidade de prestação de serviços, tem-se o seguinte fluxograma:
TRANSPORTE PASSAGEIROS
GRUPO 1
CHAAR & SOUZAJWC
GUSTAVO SEBASTIÃO
GRUPO 2
MCMMCA
GRUPO 3
SILMARAD.R. DE CAMARGO
CHAAR & SOUZAJWC
GUSTAVO SEBASTIÃOMCMMCA
SILMARAD.R. DE CAMARGO
L DA SILVA
ROÇADA E LIMPEZA DE BUEIROS
M.M. Serviços de Terraplanagem Ltda.
LR – Prestadora de Serviços SS Ltda.
ALIMENTOS
Tajima Walmar
12
Com o propósito de, a um só tempo, facilitar a
compreensão dos fatos investigados por esta Promotoria de Justiça, assim como
otimizar a respectiva apreciação por esse respeitável juízo, serão propostas 4
(quatro) ações civis públicas, destinadas à responsabilização dos Requeridos,
agentes públicos e terceiros, pela prática de Atos de Improbidade Administrativa
encartados na Lei n.º 8.429/92.
IV. 2. DAS FRAUDES AOS PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS DOS TRANSPORTES – EXISTÊNCIA
DE VÍNCULO SUBJETIVO ENTRE OS CONCORRENTES LICITANTES – SIMULAÇÃO DE CONCORRÊNCIA – RODÍZIO LICITATÓRIO – FAVORECIMENTO INDEVIDO POR PARTE DE AGENTES PÚBLICOS – LESÃO AO ERÁRIO
Por intermédio das investigações promovidas no Inquérito
Civil Público nº MPPR-0078.11.000137-316, instaurado com base nas declarações da
vereadora Luzia Harue Suzukawa17, apurou-se que, ao longo dos anos de 2005 a
2011, os agentes públicos requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE
SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e
16 DOC. 3 – Cópia do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000137-3 17 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa
SAÚDE
OSCIP BEIJA FLOR
13
VALDECIR AMADOR ALMERON em concurso com os empresários GUSTAVO
SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI, e
LOURENÇO DA SILVA, engendraram esquema ilícito que utilizava as contratações
de transportes realizadas pelo Município de Tamarana como instrumento para
satisfação de interesses particulares em desfavor do Município de Tamarana.
De acordo com a vereadora Luzia Harue Suzukawa18, o
esquema ilícito era operado pelo núcleo político, encabeçado pelo Prefeito BETO
SIENA e os agentes municipais acima nominados, em conjunto com o núcleo
operacional, integrado pelos requeridos empresários e suas respectivas empresas, o
qual se desenvolvia da seguinte maneira:
“(...) que segundo comentários algumas das empresas favorecidas
em licitações pertencem ao senhor Juhad Wehbe Al Chaar; que as
empresas de Juhad tem sido vencedoras das licitações de transporte
escolar; que há comentários que além das empresas em seu nome
Juhad mantém outras empresas em nome de terceiros, inclusive
funcionários de Juhad; que a maioria das empresas constituídas por
Juhad surgiu após a assunção de Roberto Siena como prefeito (...)”
“(...) a declarante recebeu informações a respeito de supostas
ilegalidades nas licitações de transporte de ônibus no município de
Tamarana; que tais licitações estariam favorecendo determinadas
empresas, sendo algumas delas constituídas por um mesmo
proprietário, com a respectiva utilização de supostas empresas
concorrentes, empresas estas tidas como “laranjas”, que o prefeito
Roberto Dias Siena favorece estes empresários, enriquecendo
ilicitamente; (...) que dentre as empresas ligadas ao prefeito e
supostamente favorecidas em licitações do município de Tamarana
pode citar JWC, Gustavo Sebastião da Silva, pertencente a pessoa
conhecida por Galego, pessoa esta de confiança do prefeito; (...)”.
18 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa
14
“(...) a declarante recebeu, na condição de vereadora, a informação
de um munícipe sobre supostas irregularidades na contratação de
serviços da empresa MM Terraplanagem e da ONG Beija-Flor; que
tem conhecimento que Reginaldo André de Souza é funcionário de
Juhad, com atribuições diversas (compra peças de veículos e
ônibus); dirige veículos de Juhad; que Juhad foi sócio de Mário Cezar
Fabiano, na empresa de ônibus; que, atualmente, Mário Cézar é
sócio de Juhad na empresa Norte Sul Terraplanagem; que se
comenta que Reginaldo, conhecido como “chocolate”, é o “grande
laranja de Juhad;”.
A partir do cumprimento do mandado19 de busca e
apreensão de documentos realizada pelo GAECO, núcleo LONDRINA, na sede da
Prefeitura de Tamarana, e das informações prestadas pelo Tribunal de Contas do
Estado do Paraná (Protocolo de cooperação MPPR e TCE-PR), o Setor de Auditoria
do Ministério Público do Estado do Paraná constatou uma série de ilicitudes nos
procedimentos licitatórios em que participaram as empresas CHAAR & SOUZA LTDA, JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA,
MCM TRANSPORTES LTDA, D. R. DE CAMARGO E SILVA LTDA, SILMARA CRISTINA FERRONI ME, GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA e L DA SILVA TRANSPORTES LTDA.
Sob o comando sistêmico do então Prefeito BETO SIENA, o esquema de enriquecimento ilícito e de dilapidação dos cofres públicos de
Tamarana instrumentalizava-se por intermédio de agrupamentos econômicos formados entre as empresas CHAAR & SOUZA LTDA e JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA; entre as empresas M.C.A. TRANSPORTES LTDA, MCM TRANSPORTES LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES
19 Cumpre ressaltar que durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão na sede da Prefeitura de Tamarana, em 21/07/2011, somente foram encontrados documentos relativos aos procedimentos licitatórios de Dispensa n. 08/2009, Pregão n. 03/2009, Pregão n. 21/2009, Pregão n. 39/2009, Pregão n. 13/2010, Dispensa n. 24/2011 e Pregão n. 36/2011, sendo que a análise dos demais processos administrativos ocorreu exclusivamente com base informações prestadas Tribunal de Contas do Estado do Paraná (Protocolo de cooperação MPPR e TCE-PR). Ademais, como puderam demonstrar os documentos apreendidos, constatou-se que para dificultar uma possível análise ou fiscalização da legalidade nos procedimentos licitatórios em que as empresas REQUERIDAS sagraram-se “vencedoras” em desconformidade com a Lei, os referidos processos administrativos eram arquivados na Prefeitura de forma dispersa, sem autuação e sem numeração, em total desconformidade à regra contida no artigo 38, da Lei 8.666/93. (DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão).
15
LTDA; entre as empresas D. R. DE CAMARGO E SILVA LTDA e SILMARA
CRISTINA FERRONI ME; e, finalmente, entre as empresas JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO SILVA TRANSPORTES LTDA, as
quais eram constituídas por parentes e/ou sócios, que participavam de forma
alternada ou em rodízio nos processos licitatórios do Município de Tamarana, com
vistas a acobertar o favorecimento do grupo e dificultar a possível constatação da
concorrência simulada engendrada pela organização criminosa de BETO SIENA nas
contratações dos serviços de transportes, como se detalhará a seguir.
As empresas CHAAR & SOUZA LTDA e JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA e MCM TRANSPORTES LTDA, D. R. DE CAMARGO E SILVA LTDA, SILMARA CRISTINA
FERRONI ME, GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA e L DA SILVA TRANSPORTES LTDA, constituíram um verdadeiro “rodízio licitatório” no
Município de Tamarana, em que determinada empresa de certo grupo, após
concerto prévio, passava a participar de certames de maneira que a vencedora
fosse sempre uma sociedade diferente, mas sempre pertencente ao grupo
mancomunado.
É o que corroboram as declarações prestadas pela vereadora LUZIA HARUE SUZUKAWA20:
“a declarante recebeu informações a respeito de supostas ilegalidades nas licitações de transporte de ônibus no município de Tamarana; que tais licitações estariam favorecendo determinadas empresas, sendo algumas delas constituídas por um mesmo proprietário, com a respectiva utilização de supostas empresas concorrentes, empresas estas tidas como “laranjas”,
que o prefeito Roberto Dias Siena favorece estes empresários, enriquecendo ilicitamente; (...) que dentre as empresas ligadas ao prefeito e supostamente favorecidas em licitações do município de
Tamarana pode citar JWC, Gustavo Sebastião da Silva, pertencente a pessoa conhecida por Galego, pessoa esta de
confiança do prefeito; (...)” (grifou-se).
20 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa.
16
Para a consecução de seus propósitos ilícitos, os
empresários Requeridos contavam com a necessária colaboração da comissão de
licitação da Prefeitura de Tamarana, designada sistematicamente pelo Prefeito
BETO SIENA21, composta pelos agentes servidores requeridos SAULO RIBEIRO RODRIGUES, DIONE CORDEIRO, MÁRCIO ANTÔNIO SOTTA SANTANA, pelo
Ex-Secretário de Finanças do Município CLEUDEMIR CATAI, e a auxílio do Ex-
Secretário de Administração ALDO BOARETTO NETTO, da Auditora de Controle
Interno MARIA ROSE SOARES, e do Pregoeiro JOÃO VITOR RUTHES DIAS,
todos conluiados na organização criminosa dirigida pelo prefeito BETO SIENA.
Neste vértice, para possibilitar uma melhor compreensão
da dimensão do esquema, a Auditoria do Ministério Público, no Relatório 090/201222,
elaborou um quadro sinóptico contendo a relação de todas as empresas
participantes dos processos de licitação do Município de Tamarana, destinados à
contratação de pessoa jurídica para prestação de serviços de transporte de
passageiros, entre os anos de 2005 a 201223.
De efeito, constatou-se que as empresas REQUERIDAS
não passavam de agrupamentos econômicos constituídos para a consecução dos
propósitos ilícitos do Prefeito BETO SIENA e dos demais REQUERIDOS, que,
atuando conjuntamente e sempre com absoluta e necessária participação dos
pregoeiros e da comissão de licitação, causaram prejuízos ao erário de Tamarana
da ordem de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)24, correspondente ao total de
recursos públicos repassados pelo Município de Tamarana às empresas contratadas
entre os anos de 2005 a 2011.
Para permitir que uma ou algumas das empresas
REQUERIDAS se sagrassem vencedoras das licitações de transportes, os
representantes legais das empresas requeridas (que na maioria das vezes eram
parentes entre si) arquitetaram um sistema de agrupamento econômico e
revezamento de participação das empresas nos processos licitatórios de que 21 DOC. 6 – Termo de declarações de Saulo Ribeiro Rodrigues. 22 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público. 23 Vide quadro 3 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4). 24 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
17
participavam, para simular a existência de uma lícita concorrência nas licitações e
impedir ou dificultar a constatação de ilicitudes, como será demonstrado logo a
baixo.
Visando facilitar a compreensão do funcionamento do
esquema ímprobo sistematicamente gerido pelo prefeito BETO SIENA,
individualizar-se-ão, a seguir, os grupos econômicos e as respectivas empresas que
o constituíam (registre-se: estas pessoas jurídicas, embora estejam diretamente
ligadas por um vínculo societário ou de parentesco, formam, sistematicamente, um
conglomerado econômico voltado à consecução de um fim comum: fraudarem
certames licitatórios, por intermédio do sistema de revezamento de participações de
certames licitatórios, e/ou divisão de lotes de um mesmo pregão presencial):
1º) CHAAR & SOUZA E JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS.
A partir do levantamento de informações acerca dos
sócios-proprietários das empresas JWC COMÉRCIOS E SERVIÇOS LTDA e CHAR & SOUZA LTDA25, que participaram nas licitações promovidas pelo Município de
Tamarana para contratação de pessoa jurídica para prestar serviços de Transporte
de passageiros, constatou-se que essas empresas tinham como sócios-proprietários
os requeridos JUAHD WEHBE AL CHAAR e REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA,
como demonstra o quadro a seguir:
Nome da Empresa e CNPJ
Objeto Social Dados dos Sócios
Endereço dos Sócios
Chaar & Souza Ltda. CNPJ
08.574.354/0001-51
Data de abertura: 05/01/2007 Situação
Transporte rodoviário de carga, exceto
produtos perigosos e mudanças,
intermunicipal, interestadual e internacional;
transporte rodoviário coletivo de
Juhad Wehbe Al
Chaar (CPF
030.637.309-20)
Rua Lima, 19 Térreo PQ Guanabara
CEP 86.050-160 –
Londrina/PR
25 Vide quadro 3 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4)
18
Cadastral: 05/01/2007
passageiros, com itinerário
fixo, interestadual; comércio sob
consignação de veículos automotores; aluguel de máquinas
e equipamentos agrícolas sem
operador
Endereço: Qd. 02 Lote 01 Parque
Industrial de Tamarana/PR
Reginaldo André de
Souza (CPF
053.463.659-40)
Rua Otacílio Rochedo, 141
Térreo – Centro
CEP 86.125-000 –
Tamarana/PR
Nome da Empresa e CNPJ
Objeto Social Dados dos Sócios
Endereço dos Sócios
JWC Comércio e Serviços Ltda. (antes: Al Chaar
& Macedo Transportes
Ltda.) (CNPJ
07.176.494/0001-09)
Data de abertura: 17/01/2005 Situação
Cadastral: 17/01/2005
Serviços de manutenção e
reparação mecânica de veículos
automotores; comércio a varejo de peças e acessórios novos para veículos automotores; outros
transportes rodoviários de
passageiros não especificados anteriormente;
locação de automóveis sem
condutor
Juhad Wehbe Al
Chaar (CPF
030.637.309-20)
Rua Lima, 19 Térreo PQ Guanabara
CEP 86.050-160 –
Londrina/PR
Endereço: Rua Arlindo Pereira
Araújo, 543 Tamarana/PR
Reginaldo André de
Souza (CPF
053.463.659-40)
Rua Otacílio Rochedo, 141
Térreo – Centro
CEP 86.125-000 –
Tamarana/PR
19
Conforme declarações prestadas pela vereadora LUZIA
HARUE SUZUKAWA26, esse agrupamento econômico existente entre as duas
empresas CHAAR & SOUZA e JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, era dirigido
por JUHAD WEHBE AL CHAAR, o qual utilizava o requerido REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA como “laranja”, já que se constituiu uma segunda pessoa jurídica
simplesmente para estabelecer um revezamento entre as empresas a serem
contratadas pelo Município de Tamarana, com o propósito de acobertar o esquema ilícito mantido pelo Prefeito BETO SIENA na Prefeitura de Tamarana:
“a declarante recebeu, na condição de vereadora, a informação de
um munícipe sobre supostas irregularidades na contratação de serviços da empresa MM Terraplanagem e da ONG Beija-Flor; que tem conhecimento que Reginaldo André de Souza é funcionário de Juhad, com atribuições diversas (compra peças de
veículos e ônibus); dirige veículos de Juhad; que Juhad foi sócio de Mário Cezar Fabiano, na empresa de ônibus; que, atualmente, Mário
Cézar é sócio de Juhad na empresa Norte Sul Terraplanagem; que
se comenta que Reginaldo, conhecido como “chocolate”, é o
“grande laranja de Juhad; (...) que dentre as empresas ligadas ao prefeito e supostamente favorecidas em licitações do município de
Tamarana pode citar JWC, Gustavo Sebastião da Silva, pertencente a pessoa conhecida por Galego, pessoa esta de
confiança do prefeito; (...)” (grifou-se).
Registre-se, outrossim, que as provas testemunhais27
coligidas nesta investigação evidenciam que REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, na
verdade, é funcionário de JUHAB AL CHAAR, o que apenas reforça sua utilização
como mero laranja do esquema engendrado pela organização criminosa que BETO SIENA montou para fraudar processos licitatórios e desviar dinheiro dos cofres
públicos.
26 DOC. 2 – Termo de declarações de vereadora Luzia Harue Suzukawa. 27 DOC. 7 – Termo de declarações de Noel Araujo Correia: “que o declarante conhece Reinaldo, conhecido em Tamarana por Chocolate; que Chocolate trabalha com Johad; que Chocolate desempenha várias atividades para Johad, sendo motorista, compra peças para os ônibus e máquinas (retroescavadeira, etc); que, a propósito, na data de ontem (18/12/12), o declarante viu Chocolate dirigindo a blaser preta de propriedade de Johad”.
20
Nesse esteio, o Setor de Auditoria do Ministério Público
elaborou quadros sinópticos28 indicando os processos licitatórios do Município de
Tamarana, para contratação de prestador de serviço de transporte de passageiro, de
que a as empresas CHAAR & SOUZA LTDA e JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS
participaram, adotando o modo de operação já descrito:
Licitação Mod. / Nº
Participantes da licitação vencida por Chaar &
Souza Ltda. Vencedores
Pregão 13/2010
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 2 lotes);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 3 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 6 lotes)
Pregão 36/2011
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 2 lotes);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 2 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 9 lotes)
Licitação Mod. / Nº
Participantes da licitação vencida por JWC
COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
Vencedor
Convite Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
28 Vide pág.14-18 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC.4)
21
6/2005 Adalberto Luiz Carneiro;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
Transportes Ltda.)
Convite
18/2005
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Convite
20/2005
Cleide Ferreira Bueno ME.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Convite
22/2005
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Adalberto Luiz Carneiro;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Convite
23/2005
L&S Transporte Escolar Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Adalberto Luiz Carneiro;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Convite
4/2006
Seber e Barroso Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Convite Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
22
16/2006 Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
Transportes Ltda.)
Convite
18/2006
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Convite
20/2006
L&S Transporte Escolar Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Pregão
3/2006
M.C.A. Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.;
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
Pregão 2/2007
MCM Transportes Ltda.; L&S Transporte Escolar
Ltda.; Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.; Seber e Barroso
Transportes Ltda.; L da Silva Transportes; Gustavo Sebastião da
MCM Transportes Ltda.: (venceu 8 lotes);
L&S Transporte Escolar Ltda.: (venceu 1 lote);
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.(venceu 1 lote);
Seber e Barroso Transportes Ltda.: (venceu 1 lote);
L da Silva Transportes (venceu 1 lote); Gustavo Sebastião da Silva
Transportes Ltda.: (venceu 6 lotes);
23
Silva Transportes Ltda.; JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC Comércio e Serviços Ltda. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.): (venceu 4 lotes);
Pregão 3/2009
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
MCM Transportes Ltda. (venceu 5 lotes);
JWC Comércio e Serviços Ltda. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.): (venceu 4 lotes);
L da Silva Transportes: (venceu 2 lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 7 lotes)
Pregão
39/2009
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA.
JWC COMERCIO E SERVIÇOS LTDA. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.)
2º) SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE.
A partir de investigações levadas a efeito no Inquérito
Civil, o Setor de Auditoria do Ministério Público constatou a existência de outro
conglomerado econômico ilícito, constituído entre as empresas SILMARA CRISTINA FERRONI-ME e D.R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTES, de propriedade das
requeridas SILMARA CRISTINA FERRONI e DANIELA RODRIGUES CAMARGO SILVA, respectivamente, que, não obstante serem cunhadas e, portanto, impedidas
de participarem no mesmo processo licitatório, sagraram-se vencedoras,
concomitantemente, no Pregão nº 06/2012 do Município de Tamarana, para
prestação de serviços de transporte de passageiros.
Ademais, verificou-se que a requerida SILMARA CRISTINA FERRONI, sócia-proprietária da empresa SILMARA CRISTINA FERRONI ME, licenciou o veículo VW/GOL, cor prata, ano 1996, RENAVAM n°
657100161, placas CIU-1180, e o registrou na Rua Nelso Ribeiro Mercer, 29,
Tamarana/PR, mesmo endereço cadastrado na Receita Federal como sendo do
domicílio da empresa D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE LTDA, cuja sócia
proprietária é a requerida DANIELA RODRIGUES CAMARGO SILVA, corroborando
24
a constatação de que essas empresas não passavam de um mesmo agrupamento
econômico ilícito, que participava mediante um esquema de rodízio nos
procedimentos licitatórios do Município de Tamarana29.
Ilustra-se o esquema a seguir, para melhor compreensão:
Assim, como já demonstrado, embora constituídas sob
um mesmo grupo ilícito, haja vista que as suas respectivas sócias eram parentes, as
empresas D.R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTES e SILMARA CRISTINA
FERRONI ME sagraram-se vencedoras concomitantemente no Pregão nº 06/2012,
cujo objeto era a contratação de empresa para efetuar transporte de alunos e
professores no Município de Tamarana no período de Fevereiro/2012 à
Dezembro/201230:
29 DOC. 8 – Informação nº 072/2012, da Auditoria do Ministério Público. 30 Quadro sinóptico das empresas que participaram no Pregão nº 06/2012 encontra-se na pag. 11, do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4)
SILMARA CRISTINA FERRONI - ME
SÓCIOS
SILMARA CRISTINA FERRONI
VEÍCULO LICENCIADO Rua Nelso Ribeiro Mercer,
29, CEP 86.125-000, Tamarana/PR
D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE
SÓCIO
DANIELA RODRIGUES CAMARGO SILVA
Endereço da empresa:Rua Nelso Ribeiro Mercer, 29,
CEP 86.125-000, Tamarana/PR
25
Licitação Mod. / Nº
Participantes da licitação vencida por Gustavo Sebastião
da Silva Transportes Ltda. Vencedor
Pregão 06/2012
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Silmara Cristina Ferroni – ME;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 1 lote);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 3 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Silmara Cristina Ferroni – ME : (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 7 lotes)
3º) M.C.A TRANSPORTES LTDA e MCM TRANSPORTES LTDA.
O terceiro agrupamento ilícito compreendia as empresas
M.C.A TRANSPORTES LTDA e MCM TRANSPORTES LTDA, que embora
constituídas por parentes (pais e filha), participaram concomitantemente e frustraram
a concorrência e a isonomia no Pregão nº 02/200731, impedindo a escolha da
proposta mais vantajosa para a Administração Pública.
Nesse vértice, apurou-se que a empresa M.C.A
TRANSPORTES32, tinha como um de seus sócios a requerida MAYARA ARANDA MANO e JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA; MAYARA, por seu turno, filha de
MARCELO CARLOS MANO e TANIA CRISTINA COELHO ARANDA33, respectivos
sócios-proprietários da empresa MCM TRANSPORTES LTDA; TANIA ARANDA, por seu turno, era irmã de JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, como demonstra o
esquema seguir: 31 Quadro sinóptico das empresas que participaram no Pregão nº 02/2007 encontra-se na pag. 10, do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4). 32 Vide quadro 3 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4). 33 DOC. 9 - Informação nº 070/2012, da Auditoria do Ministério Público.
26
O quadro sinóptico evidencia, portanto, que inexistiu
procedimento de concorrência entre as empresas MCA e MCM TRANSPORTES no
Pregão 02/2007 do Município de Tamarana, haja vista que o requerido MARCELO
CARLOS MANO participou no referido procedimento licitatório na condição
conflitante de sócio da MCM TRANSPORTES e de pai de MAYARA ARANDA MANO, sócia da M.C.A TRANSPORTES; somado ao fato de TANIA CRISTINA COELHO ARANDA ser irmã de JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA e participarem
concomitantemente, cada qual com sua respectiva empresa, no referido certame
licitatório.
Assim, segue quadro sinóptico da Auditoria do Ministério
Público, referente ao Pregão 02/200734, demonstrando a participação concomitante
das empresas no referido certame.
34 Quadro sinóptico das empresas que participaram no Pregão nº 02/2007 encontra-se na pag. 10, do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
M.C.A. TRANSPORTES LTDA
SÓCIOS
JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA
IRMÃO DE TANIA CRISTINA COELHO
ARANDA.
MAYARA ARANDA MANO
FILHA DE MARCELO CARLOS MANO e TANIA CRISTINA
COELHO ARANDA
MCM TRANSPORTES LTDA
SÓCIOS
MARCELO CARLOS MANO
TANIA CRISTINA COELHO ARANDA
27
Licitação Mod. / Nº
Participantes da licitação vencida por L da Silva
Transportes Vencedor
Pregão 2/2007
MCM Transportes Ltda.;
L&S Transporte Escolar Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.;
Seber e Barroso Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes; Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda.: (venceu 8 lotes);
L&S Transporte Escolar Ltda.: (venceu 1 lote);
JWC Comércio e Serviços Ltda. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.): (venceu 4 lotes); Waldomiro Corrente Transportes
Ltda.(venceu 1 lote); Seber e Barroso Transportes Ltda.:
(venceu 1 lote); L da Silva Transportes (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 6 lotes)
Ademais, averiguou-se que entre os anos de 2006 a
2012, as empresas MCM TRANSPORTES LTDA e MCA TRANSPORTES LTDA
constituíram um verdadeiro "rodízio licitatório" no Município de Tamarana,
participando sempre de forma alternada nos procedimentos licitatórios destinados à
contratação de prestador de serviço de transporte de passageiros, como
demonstram os seguintes quadros sinópticos elaborados pela Auditoria do Ministério
Público35:
Licitação Mod. / Nº
Participantes da licitação vencida por Gustavo Sebastião
da Silva Transportes Ltda. Vencedor
Pregão 3/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.: (venceu 1 lote);
M.C.A. Transportes Ltda.: (venceu 5
35 Quadros sinópticos extraídos das pág. 9-11, do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público, (DOC. 4).
28
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 1 lote)
Pregão 2/2007
MCM Transportes Ltda.; L&S Transporte Escolar
Ltda.; JWC Comércio e Serviços
Ltda.; Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.; Seber e Barroso
Transportes Ltda.; L da Silva Transportes;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda.: (venceu 8 lotes);
L&S Transporte Escolar Ltda.: (venceu 1 lote);
JWC Comércio e Serviços Ltda. (antes denominada Al Chaar &
Macedo Transportes Ltda.): (venceu 4 lotes);
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.(venceu 1 lote);
Seber e Barroso Transportes Ltda.: (venceu 1 lote);
L da Silva Transportes (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 6 lotes)
Pregão 44/2008
MCM Transportes Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 8 lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.:
(venceu 6 lotes)
Pregão 3/2009
MCM Transportes Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
L da Silva Transportes;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 5 lotes);
JWC Comércio e Serviços Ltda.: (venceu 4 lotes);
L da Silva Transportes: (venceu 2 lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 7 lotes)
Pregão 21/2009
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
29
Pregão 13/2010
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 2 lotes);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 3 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 6 lotes)
Pregão 36/2011
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 2 lotes);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 2 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 9 lotes)
Pregão 06/2012
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Silmara Cristina Ferroni – ME;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 1 lote);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 3 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Silmara Cristina Ferroni – ME : (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 7 lotes)
4º) MCM TRANSPORTES LTDA/ MCA TRANSPORTES LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA
30
Outro agrupamento econômico ilícito que cumpriu papel
decisivo no esquema de dilapidação dos cofres públicos de Tamarana foi
estabelecido estrategicamente pelas empresas MCM / MCA TRANSPORTES LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA.
Da análise dos documentos públicos que compõem os
processos licitatórios apreendidos na sede da Prefeitura de Tamarana36, averiguou-
se que no Pregão nº 13/201037, as empresas MCM TRANSPORTES LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA apresentaram certidão
de regularidade fiscal da Receita Estadual no dia 25/01/10, emitidas online nos mesmos dias e horários 15:44:39 e 15:45:2738, respectivamente; e certidões de Regularidade do FGTS, emitidas online no dia 25/01/2010, às 16:04:49 e às
16:05:49, respectivamente, demonstrando que, na verdade, existia somente um
representante responsável pela preparação das propostas de preços e documentos
para representação das duas empresas nos processos licitatórios do Município de
Tamarana. São, conforme já enfatizado, empresas coirmãs, verdadeira unidade de
esforços para fraudar o erário municipal de Tamarana.
Registre-se que a empresa MCM TRANSPORTES LTDA. integrava conglomerado econômico ilícito junto à empresa M.C.A. TRANSPORTES,
como já explanado, sendo possível inferir, portanto, a existência de um grande grupo
econômico composto pelas empresas GUSTAVO SEBASTIÃO SILVA
TRANSPORTES e MCM TRANSPORTES/MCA TRANSPORTES LTDA, que
somadas receberam milhões de reais dos cofres públicos de Tamarana.
Nesse norte, mediante concerto prévio, as empresas
MCM e MCA TRANSPORTES participaram, mediante combinação de preços e
revezamento, em praticamente todas as licitações do Município de Tamarana que a
empresa GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA sagrou-se
36 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão 37 DOC. 5.3 – Cópias dos documentos apreendidos na Prefeitura de Tamarana referentes ao Pregão nº 13/2010 38 DOC. 8 – Informação nº 072/2012, da Auditoria do Ministério Público.
31
vencedora, para prestar serviços de transporte de passageiros, como demonstra o
quadro elaborado pelo Auditor Ministerial39:
Licitação Mod. / Nº Participantes da licitação
vencida por Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Vencedor
Convite 8/2005
Cleide Ferreira Bueno ME;
Adalberto Luiz Carneiro;
M.C.A. Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 11/2005
Cleide Ferreira Bueno ME;
M.C.A. Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 12/2005
Cleide Ferreira Bueno ME;
Adalberto Luiz Carneiro;
M.C.A. Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 13/2005
Cleide Ferreira Bueno ME;
Adalberto Luiz Carneiro;
MCM Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
39 Quadros sinópticos extraídos das pág. 9-11, do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público, (DOC. 4).
32
Convite 16/2005
Cleide Ferreira Bueno ME;
MCM Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 17/2005
Cleide Ferreira Bueno ME;
MCM Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 6/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 9/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 10/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 14/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
33
Convite 15/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Convite 36/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Pregão 3/2006
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
JWC Comércio e Serviços Ltda.: (venceu 1 lote);
M.C.A. Transportes Ltda.: (venceu 5 lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 1 lote)
Pregão 2/2007
MCM Transportes Ltda.; L&S Transporte Escolar Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
M.C.A. Transportes Ltda.; Seber e Barroso Transportes
Ltda.; L da Silva Transportes;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda.: (venceu 8 lotes);
L&S Transporte Escolar Ltda.: (venceu 1 lote);
JWC Comércio e Serviços Ltda. (antes denominada Al Chaar & Macedo
Transportes Ltda.): (venceu 4 lotes); Waldomiro Corrente Transportes
Ltda.(venceu 1 lote); Seber e Barroso Transportes Ltda.:
(venceu 1 lote); L da Silva Transportes (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 6 lotes)
Pregão 44/2008
MCM Transportes Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
Waldomiro Corrente Transportes Ltda.;
Gustavo Sebastião da Silva
MCM Transportes Ltda. (venceu 8 lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.:
(venceu 6 lotes)
34
Transportes Ltda.
Pregão 3/2009
MCM Transportes Ltda.;
JWC Comércio e Serviços Ltda.;
L da Silva Transportes;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 5 lotes);
JWC Comércio e Serviços Ltda.: (venceu 4 lotes);
L da Silva Transportes: (venceu 2 lotes);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.: (venceu 7 lotes)
Pregão 21/2009
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
Pregão 13/2010
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 2 lotes);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 3 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 6 lotes)
Pregão 36/2011
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 2 lotes);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 2 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 9 lotes)
35
Pregão 06/2012
MCM Transportes Ltda.;
L da Silva Transportes;
Chaar & Souza Ltda.;
D. R. De Camargo Silva Transporte;
Silmara Cristina Ferroni – ME;
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda.
MCM Transportes Ltda. (venceu 3 lotes);
L da Silva Transportes (venceu 1 lote);
Chaar & Souza Ltda. (venceu 3 lotes);
D. R. De Camargo Silva Transporte (venceu 1 lote);
Silmara Cristina Ferroni – ME : (venceu 1 lote);
Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda. (venceu 7 lotes)
5º) JWC COMÉRCIO E TRANSPORTES LTDA/CHAAR & SOUZA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA LTDA.
Reforçando a situação da existência de diversos
agrupamentos ilícitos (aglutinados, frise-se, pelo esforço e interesse comum: fraudar
processos licitatórios, mediante combinação de preços e revezamento), a Auditoria
do Ministério Público averiguou que as empresas JWC COMÉRCIO E TRANSPORTES LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA foram criadas em datas consecutivas, nos dias 17/01/2005 e 18/01/200540,
respectivamente, cujo período correspondia ao primeiro mês do mandato do Prefeito Municipal BETO SIENA, grande orquestrador da organização criminosa (registre-se
que a empresa JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA é coirmã da empresa
CHAAR & SOUZA LTDA, pois, como já demonstrado, ambas tinham como sócios-
proprietários os requeridos JUHAD WEHBE AL CHAAR e REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA).
Com efeito, segundo declarações prestadas por NOEL
ARAÚJO CORREIA41 nesta Promotoria de Justiça, o requerido GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, mais conhecido pelo apelido de GALEGO,
40 Vide quadro 3 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4). 41 DOC. 7 – Termo de declarações de Noel Araujo Correia.
36
sócio proprietário da GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA, é
amigo íntimo de JUHAD AL CHAAR e ambos fazem parte do grupo político do
Prefeito BETO SIENA, tanto é que trabalharam como cabos eleitorais de SIENA nas
eleições municipais de Tamarana.
Cumpre ressaltar que não foi por coincidência que as
empresas JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA e GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA foram criadas em dias consecutivos e exatamente no
primeiro mês do mandato do Prefeito ROBERTO DIAS SIENA, haja vista que os
fatos aqui já narrados demonstram suficientemente que essas empresas foram
criadas simplesmente para servirem de instrumento para fraudar as licitações do
Município de Tamarana.
Nesse esteio, conclui-se pela existência de outro grande
agrupamento ilícito, estabelecido entre as empresas JWC COMÉRCIO/CHAAR & SOUZA (repisa-se: cujos sócios são AL CHAAR e REGINALDO SOUZA) e a
empresa GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA, cujo sócio
administrador é o requerido GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, que,
mediante concerto prévio, participaram, por intermédio de combinação de preços,
revezamento e rodízio, em diversos certames do Município de Tamarana, de
maneira que a vencedora sempre fosse uma sociedade diferente, mas sempre
pertencente ao grupo mancomunado, como esquematizado nos quadros de
participação das empresas que integram o Relatório nº 90/201242, do Setor de
Auditoria do Ministério Público.
IV. 3. DA CONCORRÊNCIA SIMULADA
42 Quadro de empresas participantes das licitações vencidas por Gustavo Sebastião da Silva Transportes Ltda – fls. 9-10 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4); Quadro de empresas participantes das licitações vencidas por por Chaar & Souza Ltda – fls. 14-15 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4); Quadro de empresas participantes das licitações vencidas por Jwc Comércio e Serviços Ltda – fls. 16-18 do Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
37
A partir das constatações levantadas pelo Setor de
Auditoria do Ministério Público43, infere-se que inexistia disputa ou mesmo
concorrência nos pregões licitatórios do Município de Tamarana de que participavam
as empresas JWC COMÉRCIOS E SERVIÇOS LTDA, CHAAR & SOUZA LTDA, M.C.A TRANSPORTES LTDA, MCM TRANSPORTES LTDA, SILMARA CRISTINA
FERRONI ME, D.R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES e L DA SILVA TRANSPORTES, mas sim
uma efetiva associação ilícita entre seus respectivos sócios-proprietários, sob o
comando de BETO SIENA e com a necessária intervenção ilícita dos agentes
públicos requeridos, integrantes da comissão de licitação e pregoeiros, para
causarem lesão ao erário e violar os princípios que regem a administração pública.
Esse esquema ilícito foi muito bem apreendido pelo
Auditor do Ministério Público44, ao constatar a absoluta impossibilidade do pregoeiro
registrar os lances supostamente ofertados pelos concorrentes nos certames
licitatórios num prazo tão exíguo de tempo para cada lote, como se deu nos Pregão
nº 13/201045, realizado no Município de Tamarana de que as empresas requeridas
participaram.
Consoante as declarações prestadas pelo requerido e
integrante da comissão de licitação do Município de Tamarana, SAULO RIBEIRO RODRIGUES46, os pregões licitatórios na Prefeitura se davam no sistema BETAH,
seguindo a seguinte ordem (segundo sua exata declaração):
- primeiramente, o pregoeiro recebia as propostas dos licitantes, e realizava a respectiva classificação, pelo critério de menor preço;
43 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público. 44 DOC. 8 – Informação nº 072/2012, da Auditoria do Ministério Público. 45 DOC. 5.3 – Cópias dos documentos apreendidos na Prefeitura de Tamarana referentes ao Pregão nº 13/2010. 46 DOC. 6 – Termo de declarações de Saulo Ribeiro Rodrigues: que a comissão de licitação analisa se os sócios licitantes podem participar do certame, analisando, também , além dos documentos exigidos pela Lei de licitação, eventual ligação que possuam entre eles, com o propósito de evitar fraudes; que, em seguida, abre-se as propostas dos valores, sendo então, classificada pelo leiloeiro a menor proposta; que, a partir da menor proposta, o leiloeiro chamada cada empresa, por meio de seu representante legal, para que cubra ou não a menor oferta; que cada oferta é imediatamente lançada pelo pregoeiro no sistema BETAH, realizada pela empresa PETRUS; que, via de regra, toda esta burocracia demora em torno de uma ou duas horas, tempo este necessário para que o pregoeiro consigne os lance no sistema e, após o registro de todos os lances formulados pelos empresários, é impressa a ata e o histórico dos lances; [...]; que melhor explicando, o próprio sistema consigna, imediatamente após ser registrado pelo pregoeiro o valor do lance, o horário em que foi lançado; que este horário pode ser observado por intermédio do histórico de lances.
38
- em seguida e após descortinar a melhor oferta, o pregoeiro
chamava, cada empresário, para que cobrisse ou não a menor oferta, cujas propostas eram, incontinenti, lançadas imediatamente no sistema BETAH;
- após consignar todas as ofertas apresentadas pelo licitante, o pregoeiro imprimia a ata, em que constava o histórico das ofertas, assim como o respectivo horário dos lances respectivos;
- que todo esse procedimento poderia levar em torno de uma ou duas horas para ser realizado.
Em total contrassenso com a situação descrita por
SAULO RIBEIRO RODRIGUES, a Auditoria do Ministério Público constatou que
tanto no Pregão Presencial nº 03/200947, registrado em sistema eletrônico, de que
participaram as empresas JWC, L DA SILVA TRANSPORTES, GUSTAVO SEBASTIÃO e MCM TRANSPORTES, como no Pregão Presencial nº 13/201048,
registrado em sistema eletrônico, de que participaram as empresas L DA SILVA, D. R. DE CAMARGO, MCM, CHAAR & SOUZA e GUSTAVO SEBASTIÃO, os lances
de preços existentes em cada lote na suposta “concorrência” foram registrados num
lapso temporal absurdamente curto, de forma que cada lote dos pregões foi
encerrado com o tempo médio inferior a um minuto, demonstrando de forma
inequívoca que era fictícia a concorrência nos procedimentos licitatórios do
Município de Tamarana49.
Registre-se que durante a busca e apreensão na sede da
Prefeitura de Tamarana, foi encontrada apenas pequena parte dos documentos50
referentes aos procedimentos licitatórios de que as empresas REQUERIDAS
participaram, todos dispersados e sem autuação, o que faz presumir, até prova ao
contrário, de que também inexistia qualquer concorrência nos demais processos
47 DOC. 5.1 – Cópias dos documentos apreendidos na Prefeitura de Tamarana referentes ao Pregão nº 03/2009. 48 DOC. 5.3 – Cópias dos documentos apreendidos na Prefeitura de Tamarana referentes ao Pregão nº 13/2010. 49 DOC. 8 – Informação nº 072/2012, da Auditoria do Ministério Público. 50 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão.
39
licitatórios não encontrados (cujas análises deram-se com base em informações
prestadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná – Acordo de Cooperação)
O que existia, na realidade, era um grande esquema
ilícito: de um lado, um grupo de empresas interligadas, que prestavam colaboração
recíproca e ajuda mútua, para obterem, de forma revezada, vantagem indevida; de
outro, uma organização criminosa incrustada na Administração Pública Municipal,
que tinha o chefe do Executivo BETO SIENA como o grande idealizador e pessoa
responsável para distribuir as tarefas de seus comandados, em vários setores da
Administração Pública que possibilitasse, ao grupo criminoso, desvios de dinheiro
dos cofres públicos municipais (conforme registrado: setores da saúde; transporte;
terraplanagem e alimentação, que ensejaram quatro ações civis públicas).
Infere-se, portanto, que os representantes legais das
empresas “coirmãs”, uniram seus propósitos e convergiram suas ações para
acertarem os preços que deveriam ser consignados pelos Pregoeiros JOÃO VITOR RUTHES e MARCIO ANTÔNIO SOTTA SANTANA, de modo que, por intermédio do
sistema de revezamento, cada qual se sagrava vencedor do certame licitatório por
eles previamente estabelecido.
A toda evidência, a absoluta exiguidade dos prazos
registrados no programa do setor de licitação do Município de Tamarana, demonstra
que, na verdade nunca houve concorrência entre os licitantes, mas apenas um
simulacro de certame licitatório, totalmente nulo e imprestável.
Portanto, os fatos descritos demonstram que o esquema
ímprobo orquestrado pelo Prefeito BETO SIENA dilapidou os cofres públicos do
Município de Tamarana em R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)51 devendo o erário
ser ressarcido e os REQUERIDOS condenados às sanções previstas no Art. 12, da
Lei 8.4229/92, pela prática de atos de Improbidade Administrativa.
51 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
40
V. DO DIREITO
A Constituição Federal em vigor, no seu artigo 37, ‘caput’,
estabelece diversos princípios a serem observados na esfera da Administração
Pública, dando especial atenção, em seu parágrafo 4º, aos atos de improbidade
administrativa, preceituando:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão
dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade
dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
A prática de atos de improbidade administrativa viola
preceitos constitucionais e legais que regem o setor público, implicando em atos
viciados de ilegalidade e imoralidade (abrangendo, portanto, os princípios da
supremacia do interesse público, da impessoalidade, da razoabilidade, da
legalidade, etc), acarretando, conforme o caso, sanções de natureza e severidade
distintas, na forma estabelecida pela Lei n° 8.429/92.
Conforme exposto, os agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES,
ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, praticaram atos
incompatíveis com os cargos públicos que ocuparam (prefeito, secretários e
servidores municipais), frustrando a competitividade e a igualdade nos processos
licitatórios Carta Convites nº 6/2005, 8/2005, 11/2005, 12/2005, 16/2005, 17/2005, 18/2005, 20/2005, 22/2005,23/2005 , 4/2006, 6/2060, 9/2006, 10/2006, 14/2006,
41
15/2006, 16/2006, 18/2006, 20/2006, 36/2006 e nos Pregões 3/2006, 2/2007,
44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011, 36/2011, 06/201252, em que
figuraram como vencedoras as empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA.,
D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES, acarretando, com isso, prejuízo ao erário no valor
de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)53 e na violação os princípios constitucionais
regentes da administração pública.
Ao proceder dessa maneira, os citados agentes públicos
incorreram não só em ilícitos penais (fraude em licitação) e em infrações disciplinares graves (desvios funcionais), como também em atos de improbidade administrativa (arts. 10 e 11, ambos da Lei n.º 8.429/92), que causaram lesão ao
erário e atentaram contra os princípios da Administração Pública, especialmente os
da legalidade, isonomia, impessoalidade, moralidade e probidade administrativa (art.
37, caput, da Constituição Federal c/c art. 3.º, caput, da Lei n.º 8.666/93).
De outra parte, os citados particulares GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO,
MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA, ao se ajustarem entre si e aos agentes públicos antes
referidos, para instituir verdadeiro esquema de combinação de preços e de "rodízio
licitatório", – passando a participar de certames de maneira que a vencedora fosse
sempre uma sociedade diferente, mas sempre pertencente ao grupo mancomunado
– perpetraram ato de improbidade administrativa que causou lesão ao erário, porque
as disposições da Lei de Improbidade Administrativa também “são aplicáveis, no
que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
52 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público 53 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4)
42
para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta” (art. 3.º da Lei n.º 8.429/92).
A materialização de tais desvios funcionais e legais se
expressa nos documentos acostados, especialmente os termos de depoimento, o
relatório de auditoria e as cópias dos procedimentos licitatórios, que seguem
anexos54: Pregão n. 03/2006, 02/2007, 44/2008/ 03/2009, 21/2009, 13/2010, 36/2011
e 06/2012, e aqueles cujas informações foram obtidas a partir de elementos
prestados pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná (acordo de Cooperação
MPPR)
V. 1. DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSARAM LESÃO AO ERÁRIO DO MUNICÍPIO DE TAMARANA
Conforme consta do Inquérito Civil Público n.º MPPR-
0078.11.000137-355, os requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ
CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, com a participação decisiva dos particulares
GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA, frustraram a competitividade e a igualdade
entre os licitantes dos processos licitatórios referidos acima em que, no período de
2005 a 2011, figuraram como vencedoras as empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E
SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA.,
54 DOC. 5 – Documentos apreendidos no cumprimento do Mandado de Busca e Apreensão. 55 DOC. 3 – Cópia do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000137-3.
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D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES.
Tudo se operacionalizou em razão da conduta dos
requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, que permitiram que empresas com vínculo subjetivo entre os
sócios, de forma alternada ou “em rodízio”, sempre se sagrassem vencedoras dos
processos licitatórios realizados, em prejuízo ao R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete
centavos)56, o que não teria ocorrido se esses agentes públicos tivessem cumprido
com o dever de ofício de verificar e coibir a fraude absolutamente manifesta.
O mínimo que se poderia esperar do agente público
honesto, diante da conduta predatória de determinado grupo econômico que tenta
dominar os procedimentos de compra do município, era que inabilitassem as
empresas conluiadas, a fim de garantir a observância do princípio constitucional da
isonomia e selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração, assegurando
assim a prevalência do interesse público sobre o particular.
Assim sendo, os agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO
SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, ao omitirem,
dolosamente, a prática de ato que estavam obrigados a praticar, por dever de ofício
como funcionários públicos que eram, frustrarem a licitude dos processos licitatórios
referidos acima, concorrendo para que recursos públicos oriundos de procedimentos
nulos se incorporassem ao patrimônio das empresas requeridas, conduta adequada
às hipóteses descritas no art. 10, incisos I e II, da Lei 8.429/92, ex vi legis:
56 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
44
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão
ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje
perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao
patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei; (...)
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo
indevidamente;
O Superior Tribunal de Justiça – STJ outrora já teve a
oportunidade de identificar a prática de rodízio licitatório, nos termos da seguinte
ementa:
PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. CARACTERIZAÇÃO. 1. São pelo menos duas as causas de pedir da presente ação civil
pública por improbidade administrativa: (a) superfaturamento da
proposta eleita como a mais vantajosa em licitação e (b)
impossibilidade de realização de subcontratação na execução do
contrato administrativo por vedação editalícia e contratual.
2. A origem entendeu pela inocorrência de superfaturamento à luz do
fato de que a licitação do tipo "menor preço", selecionando a proposta
necessariamente mais vantajosa, jamais poderia autorizar situação
de dano ao erário, afastando, por isto, a conduta alegadamente
enquadrável no art. 10 da Lei n. 8.429/92.
3. Entretanto, não se discutiu acerca de (i) possível acordo de preço entre as empresas licitantes (inclusive, nenhuma palavra foi dita sobre a caracterização da conhecida prática de "rodízio licitatório", em que determinado grupo de empresas de certo ramo, após concerto prévio, passa a participar de certames de maneira que a vencedora seja sempre uma sociedade diferente, mas sempre pertencente ao grupo mancomunado), ou de (ii)
suposta impossibilidade de subcontratação no caso concreto, o que,
em tese, autorizaria a configuração de improbidade administrativa em
razão, respectivamente, dos arts. 10 e 11 da Lei n. 8.429/92.
45
4. Considerando que nada foi dito sobre eventual conluio entre as empresas licitantes e sobre previsões do edital e do próprio contrato
administrativo, bem como que a conclusão no sentido de que havia
vedações editalícia e contratual importaria em reversão do
provimento judicial recorrido, mas é fortemente dependente de
incursão em aspectos fático-probatórios, é de se entender
configurada a ofensa ao art. 535 do CPC.
5. Note-se que este conjunto de fatores impede o enfrentamento da
ofensa aos arts. 72 da Lei n. 8.666/93 e 11 da Lei n. 8.429/92 por
esta Corte Superior, seja por ausência de prequestionamento, seja
por incidência de sua Súmula n. 7, ficando evidente a negativa de
prestação jurisdicional na espécie, impedindo o acesso da parte
recorrente a instância especial.
6. Recurso especial provido, determinando o retorno dos autos à
origem a fim de que sejam reapreciadas as razões dos aclaratórios lá
opostos (petição de fls. 969/983, e-STJ).
(REsp 826.956/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 14/09/2010, DJe 06/10/2010)
Por outro lado, os empresários GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO
CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA
concorreram, dolosamente, na prática dos atos de improbidade administrativa
desses agentes públicos, pois obviamente sabiam da vinculação subjetiva entre as
empresas participantes do “rodízio”, além disso foram os maiores beneficiados com
o repasse dos R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)57 angariados dos cofres públicos
em decorrência das adjudicações dos objetos dos processos licitatórios fraudados
vencidos por suas empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA
57 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
46
TRANSPORTES., através da quebra do sigilo das propostas e prévio ajuste entre os
concorrentes para frustrar a competição.
Ademais, os requeridos tem sua responsabilidade
constituída não só pelo fato de terem sido beneficiários do ato de improbidade, uma
vez que mediante a realização da licitação irregular receberam recursos públicos,
como também pela circunstância de terem concorrido para a prática dos atos
administrativos inválidos, já que a atuação do agrupamento econômico estabelecido
e orquestrado sob a coordenação (domínio do fato) do então Prefeito BETO SIENA,
foi indispensável para a concretização dos propósitos ilícitos estabelecidos pela
organização.
Assim sendo, a conduta dos requeridos GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO
ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA restam plenamente subsumidas à hipótese legal descrita no
art. 10, inciso VIII, da Lei 8.429/92.
O Superior Tribunal de Justiça também possui decisão
condenatória de agentes ímprobos em caso similar onde às empresas licitantes
possuíam representantes em comum:
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FRAUDE A PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. CARACTERIZAÇÃO. SANÇÕES APLICADAS.
DESPROPORCIONALIDADE VISÍVEL A PARTIR DA SIMPLES
COMPARAÇÃO DE APENAMENTOS. AGENTE PÚBLICO VS.
PARTICULAR. APLICAÇÃO DO ART. 12, P. ÚNICO, LEI 8.249/92.
1. No caso concreto, tem-se hipótese de simulacro de procedimento licitatório, realizada na modalidade convite. A simulação de concorrência foi inferida a partir da existência de provas nos autos no sentido de que o Presidente de uma das empresas licitantes é responsável técnico pela outra, não tendo sido resguardado o sigilo das propostas. Os agentes públicos
47
envolvidos, pelo que se lê do acórdão recorrido, foram arrolados como réus na ação civil pública por improbidade administrativa por saberem do vínculo entre as empresas e terem engendrado a fraude perpetrada. Isso o que consta do acórdão às fls. 1.191/1.194 (e-STJ). 2. As argumentações recursais, em grande parte, realmente revelam
que o recorrente pretende verdadeira revisão de fatos e provas.
Trechos do recurso especial.
3. No entanto, um excerto chama a atenção: "O fato de figurar como
representante da CETIL e RCET não implica em conhecer a proposta
de ambas as empresa, [...] Como se percebe, impossível o recorrente
ter conhecimento de todas as licitações em que participam suas
empresas, sendo impossível tomar conhecimento de todos os
certames licitatórios".
4. Essa é uma linha argumentativa que o STJ pode (e deve) enfrentar
em especial, porque o recorrente não pretende controverter uma
premissa de fato lançada pela origem; ao contrário, o recorrente a
reafirma, mas aponta que o mero figurar como representante comum
não é suficiente para caracterizar improbidade administrativa. Um
fundamento jurídico, pois.
5. Diferente daquilo em que se baseia o recorrente, esse não foi o
único fato que levou a instância ordinária a asseverar sua
responsabilidade por improbidade administrativa.
6. Há um conjunto de fatores bem retratados no acórdão alvo do recurso que leva a concluir pela fraude à licitação, com participação de todos os arrolados como réus na inicial: (i) a utilização de convite, modalidade de licitação tipicamente dada à prática de fraudes, já que os licitantes podem ser diretamente convocados pela Administração; (ii) as empresas licitantes possuem um representante em comum; e (iii) há provas nos autos de que o ex-Prefeito determinou a provocação de um procedimento licitatório apenas para "legitimar" a contratação com a empresa de que o recorrente é Presidente. 7. Quer dizer: não foi a mera participação no quadro societário de ambas as empresas licitantes que levou a concluir pela participação do recorrente na fraude. 8. O magistrado precisa ter a sensibilidade de saber que, salvo nos
casos de puerilidade extrema, não haverá demonstração cabal das
circunstâncias objetivas e subjetivas ensejadoras que cercam o ato
de improbidade, e sim um conjunto de indícios que possibilitará um
48
convencimento neste sentido. E o conjunto dos autos é forte o
suficiente para manter as conclusões do acórdão recorrido no que
tange à configuração da conduta ímproba.
9. Tradicionalmente, esta Corte Superior manifesta-se pela
impossibilidade de retificação das penalidades aplicadas porque o
juízo de proporcionalidade envolve, normalmente, a necessidade de
contato com os fatos, o que é vedado aos magistrados do STJ por
sua Súmula n. 7.
10. Entretanto, é evidente a desproporcionalidade no caso concreto: é
que a conduta do agente privado não pode ser punida com mesma ou
maior intensidade do que a conduta do agente público que assumiu
tal qualidade por ter sido eleito pelo povo - enfim, uma verdadeira
traição ao mandato, à confiança que lhe é depositada.
11. A suspensão de direitos políticos para o recorrente é medida
demasiada. Também demasiada a fixação de multa civil em quase
R$5.000,00 (cinco mil reais), devendo a quantia ser reduzida para
R$2.500,00 (dois mil e quinhentos reais). Permanece o ressarcimento
em razão da própria conduta: utilização de procedimento licitatório
para implementação de fraude com vistas a garantir enriquecimento
patrimonial, com prejuízo ao erário.
12. Recurso especial parcialmente provido, apenas para excluir a
sanção de suspensão dos direitos políticos em face do recorrente e
reduzir-lhe a multa civil para R$2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).
(REsp 1245954/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, Rel. p/ Acórdão
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 21/06/2012, DJe 17/09/2012)
Por outro lado, o dano ao erário, na espécie, é presumido, já que decorre da absoluta impossibilidade de se constatar se,
concretamente, a Administração Pública obteria uma proposta mais vantajosa, se
não houvesse a fraude dos certames licitatórios praticadas pelos requeridos, em
decorrência da violação ao caráter competitivo da licitação, em razão do conluio
estabelecido entre as empresas concorrentes.
De efeito, a frustração da licitude de uma licitação pública
consubstancia dano presumido ao erário, o que torna absolutamente desnecessária
a comprovação de dano efetivo à Administração Pública.
49
De fato, os requeridos, ao violarem o caráter competitivo
do certame licitatório, alijarem terceiros da participação da licitação pública, o que
inviabilizou que a Administração Pública obtenha a proposta mais vantajosa, em
inegável prejuízo ao erário Municipal.
Registre-se que o legislador ordinário estabeleceu, nos
incisos do art. 10 da Lei n.º 8429/92, uma série de comportamentos ímprobos que,
uma vez praticados, presumem-se (jure et de jure), como danosos à Administração
Pública.
Note-se que esta presunção absoluta de dano decorre da
natureza das coisas, exatamente porque seria impossível incumbir ao Ministério
Público, no manejo de ações civis públicas, o ônus de comprovar o dano efetivo ao
erário nas hipóteses de frustração da licitude do certame licitatório.
Nada mais exato. As empresas licitantes, ao
estabelecerem conluio entre si, com alternância de vencedores nos procedimentos
licitatórios instaurados pela Administração Pública de Tamarana, torna impossível
aferir, de fato, qual seria a proposta mais vantajosa ao Poder Público, se houvesse a
competição, inerente à licitação pública.
É induvidoso que a violação do caráter competitivo, em
decorrência do vinculo subjetivo estabelecido entre as empresas concorrentes,
reduz a participação de concorrentes, o que materializa dano ao erário, cuja
dimensão, entretanto, não pode ser mensurada. A presunção do dano, tal como
admitido pela Lei de Improbidade Administrativa, compatibiliza-se com a natureza da
matéria.
Desta impossibilidade de mensurar os danos efetivamente
ocasionados resulta uma consequência inarredável: os agentes públicos devem ser
condenados a pagar à Administração Pública o valor contratado (cuja contratação
adveio, por óbvio, da licitação fraudada), em solidariedade com os particulares que
contribuíram, na espécie, para concretização do ato de Improbidade Administrativa,
nos termos art. 59, parágrafo único, da Lei de Licitações.
Pontifique-se que a orientação ora preconizada encontra-
se expressamente albergada pela legislação vigente, ao dispor no art. 21 da Lei de
50
Improbidade Administrativa que “A aplicação das sanções previstas nesta lei
independe da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público” (art. 21, inciso I da
Lei n.º 8429/92).
Wallace Paiva Martins Júnior, de igual sorte, admite a
presunção do dano no âmbito do art. 10 da Lei n. 8429/92:
“Em alguns atos de improbidade administrativa
(notadamente os do art. 10, mas não exclusivamente), o
ressarcimento do dano é obrigatório em face da lesão
patrimonial, que pode ser presumida ex vi legis ou
demandar prova de sua efetiva ocorrência”. Entende-se
que, nos casos do art. 10, a lesividade dos atos arrolados é presumida, tal e qual ocorre com as situações descritas
no art. 4º da Lei n. 4.717/65, porque a lei já indica os
casos de lesão ao patrimônio público”.58
O eminente Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco
Aurélio de Mello, já se pronunciou no sentido de que a violação ao princípio da
legalidade consubstancia ato lesivo ao erário. Neste sentido, consigne:
“Ação Popular. Procedência. Pressupostos. Na maioria das
vezes a lesividade ao erário público decorre da própria
ilegalidade do ato praticado. Assim o é quando se dá a
contratação, por Município, de serviços que poderiam ser
prestados por servidores, sem a feitura de licitação e sem que
o ato administrativo tenha sido precedido da necessária
justificativa”. (STF; RE 160.381⁄SP; Rel. Min. Marco Aurélio,
Segunda Turma; Decisão 29⁄03⁄1994).
Nesse vértice, o prejuízo ao erário, na espécie (acordo de
preço entre as empresas licitantes, rodízio licitatório, violação do sigilo das
propostas, concorrência simulada), gerou a lesividade apta a ensejar a invalidação 58 Probidade Administrativa, São Paulo: Saraiva, 2001, p. 270.
51
de todos os certames licitatórios e o dever de ressarcimento ao erário, na medida
em que o Poder Público deixou de, em razão das condutas dos Requeridos,
contratar a melhor proposta (frise-se: em razão do rodízio licitatório e consequente
simulação da concorrência da licitação, houve verdadeiro direcionamento da
contratação).
Ora, evidente que, segundo as regras ordinárias de
experiência (ainda mais levando em conta tratar-se, na espécie, de administradores
públicos), o direcionamento de licitações, por meio de concerto prévio, levará à
contratação de propostas evidentemente superfaturadas (salvo nos casos em que
não existem outras partes capazes de oferecerem os mesmos produtos e/ou
serviços).
Dessa forma, milita em favor da necessidade de
procedimento licitatório precedente à contratação a presunção de que, na sua
ausência ou fraude, a proposta contratada nunca será a economicamente mais
viável e menos dispendiosa, daí porque o prejuízo ao erário é notório e, como tal, legalmente presumido juris et de jure.
Despicienda, pois, a necessidade de prova do efetivo
prejuízo porque, constatado que houve burla a Lei de Licitações, o prejuízo é
inerente à conduta ímproba, pouco importando se os serviços contratados foram ou
não prestados.
No sentido do dano ao erário in re ipsa e da devolução
integral dos recursos públicos obtidos a partir de licitações fraudulentas, ainda que o
serviço licitado tenha sido prestado, são precedentes da Corte Especial, ex vi:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 535
DO CPC. INOCORRÊNCIA. FRACIONAMENTO DE OBJETO PARA PROVOCAR DISPENSA. PREJUÍZO AO ERÁRIO IN RE IPSA. ART. 334, INC. I, DO CPC. FATO NOTÓRIO SEGUNDO REGRAS ORDINÁRIAS DE EXPERIÊNCIA. INQUÉRITO CIVIL. VALOR
PROBATÓRIO RELATIVO. CARGA PROBATÓRIA DE PROVA
DOCUMENTAL. AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS OBTIDOS
52
NA FASE PRÉ-JUDICIAL NÃO QUESTIONADA. SUFICIÊNCIA DOS
ELEMENTOS PROBANTES.
1. Trata-se, na origem, de ação civil pública para provocar a
declaração de nulidade de contrato administrativo, com conseqüente
reparação de danos, em razão de ter havido fracionamento de objeto
licitado com o objetivo de permitir a dispensa de licitação.
2. O acórdão recorrido entendeu que a irregularidade estava provada,
mas que não haveria como se anular o contrato para garantir o
ressarcimento, uma vez que não existiria, nos autos, prova de efetivo
prejuízo ao erário. Além disso, a origem fundamentou descartou a
caracterização de prejuízos por ter havido prestação do serviço
contratado.
3. Nas razões recursais, sustenta a parte recorrente ter havido
violação aos arts. 535 do Código de Processo Civil (CPC) - porque o
acórdão seria omisso -, 4º, inc. III, "a", da Lei n. 4.717/65, 2º do
Decreto-lei n. 2.300/86 e 159 do Código Civil de 1916 - ao argumento
de que a violação ao procedimento licitatório, embora não possa
configurar improbidade administrativa na espécie, por questões
referente a direito intertemporal (não havia a Lei n. 8.429/92), é
motivo que enseja a nulidade do ato e o conseqüente ressarcimento
ao erário - e 333 e 372 do CPC - ao fundamento de que a instrução
da causa com o inquérito civil, tratando-se de provas produzidas em
fase pré-judicial, é suficiente para demonstrar as irregularidades.
4. Inicialmente, não viola o artigo 535 do CPC, tampouco nega
prestação jurisdicional, acórdão que, mesmo sem ter examinado
individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido,
adota fundamentação suficiente para decidir de modo integral a
controvérsia, conforme ocorreu no caso em exame.
5. No mais, é de se assentar que o prejuízo ao erário, na espécie
(fracionamento de objeto licitado, com ilegalidade da dispensa de
procedimento licitatório), que geraria a lesividade apta a ensejar a
nulidade e o ressarcimento ao erário, é in re ipsa, na medida em que
o Poder Público deixa de, por condutas de administradores, contratar
a melhor proposta (no caso, em razão do fracionamento e
conseqüente não-realização da licitação, houve verdadeiro
direcionamento da contratação).
6. Além disto, conforme o art. 334, incs. I e IV, independem de prova
os fatos notórios.
7. Ora, evidente que, segundo as regras ordinárias de experiência
(ainda mais levando em conta tratar-se, na espécie, de
53
administradores públicos), o direcionamento de licitações, por meio
de fracionamento do objeto e dispensa indevida de procedimento de
seleção (conforme reconhecido pela origem), levará à contratação de
propostas eventualmente superfaturadas (salvo nos casos em que
não existem outras partes capazes de oferecerem os mesmos
produtos e/ou serviços).
8. Não fosse isto bastante, toda a sistemática legal colocada na Lei n.
8.666/93 e no Decreto-lei n. 2.300/86 baseia-se na presunção de que
a obediência aos seus ditames garantirá a escolha da melhor
proposta em ambiente de igualdade de condições.
9. Dessa forma, milita em favor da necessidade de procedimento
licitatório precedente à contratação a presunção de que, na sua
ausência, a proposta contratada não será a economicamente mais
viável e menos dispendiosa, daí porque o prejuízo ao erário é notório.
Precedente: REsp 1.190.189/SP, de minha relatoria, Segunda Turma,
DJe 10.9.2010.
10. Despicienda, pois, a necessidade de prova do efetivo prejuízo porque, constatado, ainda que por meio de inquérito civil, que houve indevido fracionamento de objeto e dispensa de licitação injustificada (novamente: essas foram as conclusões da origem após análise dos autos), o prejuízo é inerente à conduta. Afinal,
não haveria sentido no esforço de provocar o fracionamento para
dispensar a licitação se fosse possível, desde sempre, mesmo sem
ele, oferecer a melhor proposta, pois o peso da ilicitude da conduta,
peso este que deve ser conhecido por quem se pretende
administrador, faz concluir que os envolvidos iriam aderir à legalidade
se esta fosse viável aos seus propósitos.
11. Por fim, o inquérito civil possui eficácia probatória relativa para
fins de instrução da ação civil pública. Contudo, no caso em tela, em
que a prova da irregularidade da dispensa de licitação é feita pela
juntada de notas de empenho diversas, dando conta da prestação de
serviço único, com claro fracionamento do objeto, documentos estes
levantados em inquérito civil, não há como condicionar a veracidade
da informação à produção da prova em juízo, porque tais
documentos não tiveram sua autenticidade contestada pela parte
interessada, sendo certo que, trazidos aos autos apenas em juízo,
não teriam seu conteúdo alterado.
12. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1280321/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 06/03/2012, DJe 09/03/2012)
54
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA A
DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. ESPECIAL. VIA
INADEQUADA. LICITAÇÕES. PROCEDIMENTO DE CONVITE DIRECIONADO, SEM PUBLICIDADE. PREJUÍZO AO ERÁRIO IN RE IPSA. ART. 334, INCS. I E IV, DO CPC. FATO NOTÓRIO
SEGUNDO REGRAS DE EXPERIÊNCIA ORDINÁRIAS E SOBRE O
QUAL MILITA PRESUNÇÃO LEGAL.
1. O Superior Tribunal de Justiça não tem a missão constitucional de
interpretar dispositivos da Lei Maior, cabendo tal dever ao Supremo
Tribunal Federal, motivo pelo qual não se pode conhecer da dita
ofensa ao art. 5º, inc. LXXIII, da Constituição da República vigente.
Precedentes.
2. O prejuízo ao erário, na espécie (irregularidade em procedimento licitatório), que geraria a lesividade apta a ensejar a ação popular é in re ipsa, na medida em que o Poder Público deixa de, por condutas de administradores, contratar a melhor proposta (no caso, em razão da ausência de publicidade, houve direcionamento da licitação na modalidade convite a três empresas específicas). 3. Além disto, conforme o art. 334, incs. I e IV, independem de prova
os fatos notórios e aqueles em razão dos quais militam presunções
legais ou de veracidade.
4. Evidente que, segundo as regras de experiência ordinárias (ainda mais levando em conta tratar-se, na espécie, de administradores públicos), o direcionamento de licitações, sem a devida publicidade, levará à contratação de propostas eventualmente superfaturadas (salvo nos casos em que não
existem outras partes capazes de oferecerem os mesmos produtos
e/ou serviços). 5. Não fosse isto bastante, toda a sistemática legal colocada na Lei n. 8.666/93 baseia-se na presunção de que a obediência aos seus ditames garantirá a escolha da melhor proposta em ambiente de igualdade de condições. 6. Desta forma, milita em favor da necessidade de publicidade precedente à contratação mediante convite (que se alcança mediante, por exemplo, a fixação da cópia do instrumento convocatório em locais públicos) a presunção de que, na sua ausência, a proposta contratada não será a economicamente
55
mais viável e menos dispendiosa, daí porque o prejuízo ao erário é notório. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não
provido. (REsp 1.190.189/SP, MINISTRO MAURO CAMPBELL
MARQUES, Segunda Turma, DJe 10.9.2010)
Não bastasse, toda a sistemática legal colocada na Lei n.
8.666/93 e no Decreto-lei n. 2.300/86 baseia-se na presunção de que a obediência
aos seus ditames é o único meio que garantirá a escolha da melhor proposta em
ambiente de igualdade de condições.
V. 2. DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATENTARAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Conforme exaustivamente demonstrado, os réus
ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, ao
permitiram que os particulares GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO
SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA, simulassem a
concorrência em dezenas de procedimentos de contratação do Município de
Tamarana de 2005 a 201159, fizeram tabula rasa do mandamento constitucional da
obrigatoriedade da licitação, violando assim, o regime constitucional administrativo,
encampado especialmente pelos princípios da legalidade, isonomia, impessoalidade,
finalidade, moralidade, probidade administrativa, interesse público e eficiência (art.
37, caput, da Constituição Federal).
59 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público.
56
A existência de vínculo subjetivo entre os concorrentes
também afronta escancaradamente o § 3º do art. 3º da Lei Federal 8.666 de 1993,
determinante de que o sigilo quanto ao conteúdo das propostas deverá ser
observado até o momento de abertura das mesmas:
Art. 3º - A licitação destina-se a garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa
para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com
os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. (...)
§ 3º. A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura.
Marcelo Figueiredo, ao comentar a disposição contida art.
11 da Lei n.º 8.429/92, expõe60 que:
“Contudo, forçoso reconhecer que a atividade administrativa não é
senhora dos interesses públicos, no sentido de poder dispor dos
mesmos a seu talante e alvedrio. Age de acordo com a “finalidade da
lei”, com os princípios retores do ordenamento, expressos e implícito.
A administração atua, age, como instrumento de realização do ideário
constitucional, norma jurídica superior do sistema jurídico brasileiro.
Assim, o agente público deve atender aos interesses públicos, ao
bem-estar da comunidade. Sob o rótulo “desvio de poder”, “desvio de
finalidade”, “ausência de motivos”, revelam-se todas as formas de
condutas contrárias ao Direito, prejudiciais ao administrado e
violadoras, às vezes, da própria Constituição. Há, em síntese,
comportamento ilegal ou ilegítimo. A norma em foco autoriza a
pesquisa do ato administrativo a fim de revelar se o mesmo está
íntegro ou, ao contrário, apenas aparentemente atende à lei, se os
60 3 In “Probidade Administrativa”, Malheiros Editores, pág. 62.
57
motivos e seu objeto têm relação com o interesse público, se houve
algum uso ou abuso do administrador, se a finalidade foi atendida de
acordo com o sistema jurídico; e assim por diante. O mesmo se diga
com relação ao regulamento. No Brasil, ato inferior à lei, nada
podendo inovar. Executa a vontade legal. Assim, o agente não pode
invocá-lo, interpretá-lo, dando-lhe elastério não previsto nos limites
legais, conduta, aliás, muito comum.”
Na espécie, é irrefutável a ligação existente entre as
empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES.
Tinha-se, portanto, formalmente varias empresas que, na
realidade, integravam um mesmo grupo, todas elas participando de um simulacro de
licitação, já que, cada integrante, detinha o controle das propostas ofertadas pelo
seu concorrente. O certame licitatório, portanto, nunca existiu, senão uma
concorrência fictícia61.
A fraude perpetrada, escancarada, representa verdadeiro
escárnio aos princípios da administração pública, aos munícipes e, também, ao
próprio Poder Judiciário e ao Ministério Público, titulares do poder-dever de fiscalizar
o cumprimento do regime jurídico administrativo.
Os agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA,
CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, eram os responsáveis por
salvaguardar os princípios da administração pública, logo ao admitirem a operação
do malicioso esquema de rodízio licitatório instituído pelos particulares GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO,
61 DOC. 8 – Informação nº 072/2012, da Auditoria do Ministério Público.
58
MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA
RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA, praticaram comportamentos imorais, ilegais e pessoalistas,
devidamente tipificados no art. 11, incisos I, II e III, da Lei 8.429/92:
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra
os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que
viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso
daquele previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das
atribuições e que deva permanecer em segredo;
Em decorrência da prática dessas infrações legais, deve
ser imposta cumulativamente aos requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA,
SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, e aos particulares GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA, as sanções descritas no art. 12, II e III, da Lei 8.429/92 que
prevê:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas previstas na legislação específica, está o responsável
pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
(...)
59
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos
bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer
esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público
ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver,
perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a
cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três
anos.
Nesse sentido, a melhor jurisprudência pátria já firmou
entendimento, in integrum:
Apelação cível. Ação civil pública. Lei de Improbidade Administrativa.
Pretensão do autor de reconhecimento de fraude em licitação, na
modalidade “carta convite”, para a contratação de advogado pelo
Município. Preliminares de inaplicabilidade da Lei nº 8.429/92 aos
“agentes políticos”, de carência da ação por ilegitimidade ativa e
passiva, de nulidade por cerceamento de defesa que ficam rejeitadas.
Precedentes. Sentença bem motivada, não se caracterizando
negativa de prestação jurisdicional. Precedentes. Imprescritibilidade
da ação. Certame licitatório que não obedeceu à necessidade de sigilo das propostas, violando-se os princípios da impessoalidade e da competitividade (artigos 3º e 43, parágrafos 1º e 2º da Lei nº 8.666/93). Conjunto probatório dos autos que revela
o direcionamento do certame, não infirmado pela defesa.
Caracterização dos atos de improbidade descritos nos artigos 10,
inciso VIII, da Lei nº 8.429/92. Dolo exigido para a configuração de
improbidade administrativa refletido na vontade consciente de aderir à
conduta descrita no tipo, produzindo os resultados vedados pela
norma jurídica. Precedentes. Destinação de dinheiro público para
60
pagamento de serviços em decorrência de contratação ilegal. Necessidade de adequação das reprimendas em observância dos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Recurso de Maria
Aparecida Mazzaro e José Antônio Pátaro Lopez provido
integralmente. Demais recursos providos em parte. (TJSP. Apelação
nº 9102555-98.2007.8.26.0000, 8ª Câmara de Direito Público, Relator
Desembargador Osni de Souza, v.u., j. 29/02/12).
Por fim, embora a lesão ao erário esteja plenamente
configurada, ainda que assim não fosse, importa consignar que as sanções previstas
no art. 12, III, da Lei de Improbidade, descritas no início deste item, independem da
efetiva ocorrência do dano ao patrimônio público, nos termos do art. 21, inciso I, da
Lei n.º 8.429/92. Neste sentido leciona Maria Sílvia Zanella Di Pietro62:
“É exatamente o que ocorre ou pode ocorrer com os atos de
improbidade previstos no art. 11, por atentado aos princípios da
Administração Pública. A autoridade pode, por exemplo, praticar ato visando a fim proibido em lei ou diverso daquele previsto na regra de competência (inciso I do art. 11); esse ato pode não resultar em qualquer prejuízo para o patrimônio público, mas ainda assim constituir ato de improbidade, porque fere o patrimônio moral da instituição, que abrange as idéias de honestidade, boa-fé, lealdade, imparcialidade. (...). Quanto a esse
aspecto, muito precisa é a lição de Marcelo Figueiredo (1997:101),
quando ensina: “Entendemos que se pretendeu afirmar que a lei pune
não somente o dano material à administração, como também
qualquer sorte de lesão ou violação à moralidade administrativa,
havendo ou não prejuízo no sentido econômico. De fato, pretende a
lei, em seu conjunto, punir os agentes ímprobos, vedar
comportamentos e práticas usuais de ‘corrupção’ (sentido leigo).”
Acerca da questão, vejamos manifestações da
jurisprudência:
62 4 In “Direito Administrativo”, Ed. Atlas, 16ª edição, págs. 687/688.
61
“ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ATO DE
IMPROBIDADE – LICITAÇÃO - IRREGULARIDADE -
CONTRATAÇÃO DE SERVIÇO SEM OBSERVÂNCIA DAS NORMAS
ADMINISTRATIVAS PERTINENTES - LEI 8.429/92 - IMPOSIÇÃO DE
PENA 1. Para a configuração do ato de improbidade não se exige que tenha havido dano ou prejuízo material, restando alcançados os danos imateriais. [...] 3. Constatação de que as irregularidades
foram cometidas para anular a concorrência e levar a uma
modalidade inadequada de licitação. Configuração objetiva do ato de
improbidade, independentemente de dolo ou culpa. 4. Correta a imputação da pena de perda de direitos políticos, a teor do art. 12, III da Lei 8.429/92. [...]. (STJ, 2.ª Turma, RESP 287728/SP –
2000/0118835-6, Relatora: Ministra ELIANA CALMON, DJU de
29/11/2004, p. 272).
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
CONTRA CHEFE DO PODER EXECUTIVOMUNICIPAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. UTILIZAÇÃO DE FRASES DE
CAMPANHA ELEITORAL NO EXERCÍCIO DO MANDATO.
ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 267, IV, DO CPC, REPELIDA.
OFENSA AOS PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. INTERPRETAÇÃO
DO ART. 11 DA LEI 8.429/92. LESÃO AO ERÁRIO PÚBLICO. PRESCINDIBILIDADE. INFRINGÊNCIA DO ART. 12 DA LEI 8.429/92 NÃO CONFIGURADA. SANÇÕES ADEQUADAMENTE APLICADAS. PRESERVAÇÃO DO POSICIONAMENTO DO
JULGADO DE SEGUNDO GRAU. [...]
2. A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial
como, também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas restabelecer a legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade administrativa a par de ver observados os princípios gerais da administração. Essa ação constitui, portanto,
meio adequado para resguardar o patrimônio público, buscando o
ressarcimento do dano provocado ao erário, tendo o Ministério
Público legitimidade para propô-la. Precedentes. [...] 3. A violação de princípio é o mais grave atentado cometido contra a Administração Pública porque é a completa e subversiva maneira frontal de ofender as bases orgânicas do complexo administrativo. A inobservância dos princípios acarreta
responsabilidade, pois o art. 11 da Lei 8.429/92 censura 'condutas
62
que não implicam necessariamente locupletamento de caráter
financeiro ou material' (Wallace Paiva Martins Júnior, 'Probidade
Administrativa', Ed. Saraiva, 2ª ed., 2002). 4. O que deve inspirar o
administrador público é a vontade de fazer justiça para os cidadãos,
sendo eficiente para com a própria administração. O cumprimento
dos princípios administrativos, além de se constituir um dever do
administrador, apresenta-se como um direito subjetivo de cada
cidadão. Não satisfaz mais às aspirações da Nação a atuação do
Estado de modo compatível apenas com a mera ordem legal, exige-
se muito mais: necessário se torna que a gestão da coisa pública
obedeça a determinados princípios que conduzam à valorização da
dignidade humana, ao respeito à cidadania e à construção de uma
sociedade justa e solidária. 5. A elevação da dignidade do princípio
da moralidade administrativa ao patamar constitucional, embora
desnecessária, porque no fundo o Estado possui uma só
personalidade, que é a moral, consubstancia uma conquista da
Nação que, incessantemente, por todos os seus segmentos, estava a
exigir uma providência mais eficaz contra a prática de atos dos
agentes públicos violadores desse preceito maior. 6. A tutela específica do art. 11 da Lei 8.429/92 é dirigida às bases axiológicas e éticas da Administração, realçando o aspecto da proteção de valores imateriais integrantes de seu acervo com a censura do dano moral. Para a caracterização dessa espécie de improbidade dispensa-se o prejuízo material na medida em que censurado é o prejuízo moral. A corroborar esse entendimento, o
teor do inciso III do art. 12 da lei em comento, que dispõe sobre as
penas aplicáveis, sendo muito claro ao consignar, 'na hipótese do art.
11, ressarcimento integral do dano, se houver...' (sem grifo no
original). O objetivo maior é a proteção dos valores éticos e morais da estrutura administrativa brasileira, independentemente da ocorrência de efetiva lesão ao erário no seu aspecto material. 7. A infringência do art. 12 da Lei
8.429/92 não se perfaz. As sanções aplicadas não foram
desproporcionais, estando adequadas a um critério de razoabilidade
e condizentes com os patamares estipulados para o tipo de ato
acoimado de ímprobo. [...] (STJ, 1.ª Turma, REsp 695718/SP –
2004/0147109-3, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, DJU de
12/09/2005, p. 234).
63
“(...) Apontou o réu que a Lei n.º 8.429/92 padece de deficiências,
dentre as quais o art. 11, que dá margem à possibilidade de excessos
de interpretação. Disse que os atos dos quais é acusado o
demandado quando muito ensejariam sua punição em processo
disciplinar e não as duríssimas penas da lei da improbidade. – O vício
apontado seria verdadeiro se permitida uma interpretação literal do
mencionado dispositivo. Com efeito, a interpretação literal levaria a
absurdos e excessos, porquanto todo o ato de agente público
contrário à legislação configuraria ato de improbidade administrativa. -
No entanto, no caso sob exame, cuidam-se de atos praticados por agente público no exercício de sua função atentatórios à moralidade administrativa. [...] – A denominada Lei da Improbidade
Administrativa não cuida de delitos, as descrições dos artigos 9º, 10 e
11 não se configuram em tipos penais, tratando de emitir conceitos
jurídicos indeterminados. Tampouco as penas cominadas possuem
natureza delitual. A suspensão de direitos públicos, a perda da função
pública, dentre outras sanções, na esfera penal, na maioria das
vezes, são meras conseqüências da condenação penal, penas
acessórias, não se configurando em penas autônomas. No entanto, os atos de improbidade, na forma elencada pela Lei 8.429/92, devem ser punidos independentemente da ocorrência de dano ao erário (art. 21, I). [...] - É que a prova produzida na esfera penal, que pode ser aproveitada, como restou explicitado, demonstra a conduta ímproba do requerido. - Os fatos constatados além de consubstanciarem-se em ofensa aos princípios que regem a atividade administrativa, trouxeram o dano ao serviço público, impedindo a produção de provas na esfera policial, ou seja, a conduta detém o necessário potencial ofensivo para configurar o ato de improbidade. - O ato praticado constitui ilícito penal. Dessa forma, se atingiu o grau de delito, certamente configura a improbidade administrativa. [...] - E no processo penal esta prova foi robusta e submetida ao contraditório, restando demonstrada a presença do comportamento consciente do agente público no sentido de praticar ato que importou em violação de seus deveres. – A conduta do apelante foi movida por um objetivo deliberado, consubstanciando-se em ato fruto da desonestidade, intolerável no serviço público. (TRF da 4.ª Região, 3.ª Turma, AC
200270020051840, Relatora: Desembargadora Federal VÂNIA HACK
DE ALMEIDA, DJU de 26/07/2006, p. 754).”
64
Com efeito, necessária se faz a condenação dos
requeridos nas sanções do art. 12, incisos II e III, da Lei n.º 8.429/92, de forma
cumulativa, pois incorreram em flagrante desrespeito aos mais caros princípios da
Administração Pública, sobretudo os da legalidade, impessoalidade e moralidade
administrativa, causando não só lesão ao erário, mas também grave lesão ao
patrimônio moral do município (principalmente à imagem e a reputação e
confiabilidade dos procedimentos de compra do Município de Tamarana/PR).
VI. DA INVALIDAÇÃO DOS PROCESSOS LICITATÓRIOS Cartas Convites nº 6/2005, 8/2005, 11/2005, 12/2005, 16/2005, 17/2005, 18/2005, 20/2005, 22/2005,23/2005 , 4/2006, 6/2060, 9/2006, 10/2006,
14/2006, 15/2006, 16/2006, 18/2006, 20/2006, 36/2006 e nos Pregões 3/2006, 2/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011, 36/2011, 06/2012.
Não restam dúvidas que os requeridos sabiam do vínculo
entre as empresas; não resguardaram, portanto, o caráter competitivo do certame, o
que consubstancia improbidade administrativa, que causou lesão ao erário e violou
os princípios regentes da atividade administrativa. Os agentes públicos agindo em
concurso com terceiros, praticaram atos de improbidade administrativa que
favoreceram pessoas físicas e jurídicas, em detrimento do erário do Município de
Tamarana/PR.
Com efeito, os contratos celebrados com as empresas
GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA
LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES, a partir de
procedimentos ilícitos onde não foi garantida a igualdade e a competitividade entre
os licitantes, são nulos de pleno direito.
65
As licitações nº 6/2005, 8/2005, 11/2005, 12/2005,
16/2005, 17/2005, 18/2005, 20/2005, 22/2005,23/2005 , 4/2006, 6/2006, 9/2006, 10/2006, 14/2006, 15/2006, 16/2006, 18/2006, 20/2006, 36/2006 e nos Pregões 3/2006, 2/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011, 36/2011, 06/201263, assim como todos os pagamentos realizados em favor destas empresas,
no valor global de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)64, devem ser
invalidados pelo Poder Judiciário, com a correspondente condenação solidária dos
requeridos na reparação integral do dano causado ao erário.
Registre-se, a propósito, a lição de Fábio Osório Medina
ao preconizar a declaração de nulidade do ato administrativo fruto de improbidade:
“A improbidade administrativa, de fato, uma vez reconhecida, há de
ensejar, como regra, a nulidade absoluta do ato administrativo, com
efeitos ex tunc e demais consectários legais, dada a natureza
significante e grave de ilicitude. Nesse caso, fala-se na improbidade
em qualquer de suas modalidades: enriquecimento ilícito, dano ao
erário ou violação aos princípios”65 .
Conforme já salientado, os pagamentos efetuados em
favor dessas empresas implicaram em prejuízo financeiro à Administração,
caracterizando ato de improbidade que causa lesão ao erário. Consequentemente,
não restando dúvidas acerca da invalidade destes atos que autorizaram e resultaram
nos pagamentos, o patrimônio Municipal de Tamarana deve ser recomposto ao
status quo ante:
“Como consequência da infração às normas vigentes, ter-se-á a
nulidade do ato, o qual será insuscetível de produzir efeitos jurídicos
63 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público 64 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4) 65 OSÓRIO MEDINA, Fábio. Improbidade administrativa: observações sobre a lei 8.429-92, 2 ed. ampl. e atual., Porto Alegre: Síntese, 1998, p. 132.
66
válidos. Tem-se, assim, que qualquer diminuição do patrimônio
público advinda de ato inválido será ilícita, pois “quod nullum est,
nullum producit effectum”, culminando em caracterizar o dano e o
dever de ressarcir”66.
Ressalta-se que a declaração de nulidade, com efeito
retroativo (ex tunc), dos atos administrativos e respectivos pagamentos exigirá a
devolução aos cofres públicos de todo o valor pago às referidas empresas
requeridas.
Registre-se que estas empresas, por intermédio de seus
representantes legais, participaram ativamente no aperfeiçoamento de atos ilegais,
razão pela qual deverão devolver o que receberam indevidamente dos cofres
públicos.
Com efeito, a documentação acostada aos autos
evidencia que os procedimentos nº 6/2005, 8/2005, 11/2005, 12/2005, 16/2005, 17/2005, 18/2005, 20/2005, 22/2005,23/2005 , 4/2006, 6/2006, 9/2006, 10/2006, 14/2006, 15/2006, 16/2006, 18/2006, 20/2006, 36/2006 e os Pregões 3/2006,
2/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011, 36/2011, 06/201267,
foram fraudados, exatamente porque não foi observada a igualdade entre os
licitantes, bem como, os procedimentos legais indispensáveis à validade do
procedimento, exatamente porque inexistiu, de fato, concorrência entre os licitantes,
em decorrência do vínculo subjetivo entre os sócios das empresas supostamente
concorrentes.
A vinculação subjetiva entre as empresas e a simulação
da concorrência é irrefutável; assim, todos aqueles que concorreram para a prática
do ato de improbidade, agentes públicos e particulares sócios dessas empresas,
devem ser condenados, solidariamente, a recompor o patrimônio público lesado,
exatamente porque concorreram para a sua consumação, sendo, portanto,
consequência lógica a nulidade de todos os atos administrativos praticados a partir
66 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa; 3 ed. Lúmen Juris, RJ, pág 261. 67 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público.
67
do procedimento licitatório fraudado, nos termos da disposição contida no artigo 59
da Lei 8.666/93.
“Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera
retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele,
ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já
produzidos.
Paragrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever
de indenizar o contrato pelo que este houver executado até a data em
que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente
comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a
responsabilidade de quem lhe eu causa”
Na hipótese, o ressarcimento de tudo que foi gasto pelo
Município de Tamarana, não lhe importará enriquecimento ilícito, já que tal ente
público foi lesado quando os agentes públicos lhe subtraíram a oportunidade de
obtenção da proposta mais vantajosa, por meio de processo licitatório regular, e
contribuíram para o enriquecimento ilícito das empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E
SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES, controlada pelos requeridos GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA, mediante a obtenção de vantagens patrimoniais indevidas.
Assim, não impor a todos aqueles que contribuíram para a
prática dos atos ímprobos descritos nesta ação, a obrigação de devolução dos
valores recebidos ilegalmente, implica permitir que se beneficiem da própria torpeza,
o que é inadmissível no ordenamento jurídico vigente.
A propósito, anote-se a doutrina de Emerson Garcia e
Rogério Pacheco Alves:
68
“ Tratando-se de contratado que tenha agido com má-fé em coluio
com o agente público, praticando o ato em dissonância da lei e
visando ao benefício próprio em detrimento do interesse público, terá
ele a obrigação de restituir tudo o que recebeu em virtude do
contrato. Em um primeiro plano, vislumbra-se que a nulidade do
contrato não resultou unicamente de um comportamento da
administração, já que o contratado também concorrera para a prática
do ato. Identificando o dolo do contratado e ainda que tenha ele
cumprido sua parte na avenca e a administração se beneficiado
desta, nao fará jus a qualquer indenização, sendo esta, a teor do art.
59 da Lei nº 8.666/93, a sanção pelo ilícito que praticara. Assim, por
força de lei, tanto a ação exclusiva do contratado, como o obrar
concorrente, excluem o dever de indenizar. É clara a Lei nº 8.666/93
ao estatuir as regras e os princípios que devem reger o procedimento
licitatório e a celebração dos contratos administrativos, nao sendo
dado ao contratado que compactuou com a ilicitude alegar o
desconhecimento da lei, sendo este um relevante indício de
consubstanciação da má-fé. Deve-se acrescer, ainda, o princípio de
que a ninguém é dado beneficiar-se com sua própria torpeza.
Tratando-se de ato ilegal e tendo o contratado concorrido para a sua
prática, nada poderá auferir com a sua desonestidade, tendo o dever
de restituir o patrimônio público ao status quo, terminando por arcar
com o prejuízo que advirá do não-pagamento da prestação que
eventualmente cumprira ou com a restituição do que efetivamente
recebera. No que concerne a um possível enriquecimento ilícito do
Poder Público, é inevitável a constatação de que o acolhimento deste
entendimento acabaria por tornar legítimo o constante
descumprimento dos princípios da legalidade e da moralidade,
fazendo com que sejam sistematicamente suscitados os possíveis
benefícios auferidos pelo ente público, o que relegaria a infrigência
dos vetores básicos da probidade a plano secundário. Identificada a
má-fé do contratado, nao haverá que se falar em enriquecimento
ilícito do Poder Público, já que se viu injustamente espoliado. Estando
demonstrado que o contratado concorrera para o aperfeiçoamento do
ato ilícito que gerou o enriquecimento de outrem, como seria possível
sustentar a justiça de eventual recomposição patrimonial? Preserva-
69
se-iam a moralidade e a equidade premiando-se a perspicácia do
contratado de má-fé”68.
Enfatize-se, outrossim, que as contratações das
empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES em flagrante
afronta à legislação vigente, importa na nulidade dos referidos atos jurídicos,
consoante expressa previsão da Lei 4.717/65, que define os paradigmas de
invalidade do ato administrativo no Direito Positivo do Brasil.
Neste sentido, anote-se:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades
mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...)
e) desvio de finalidade.
Conforme enfatizado, os agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON ao favorecerem
os requeridos GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA,
MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI, LOURENÇO DA SILVA e suas empresas, nas contratações
com o Município de Tamarana, praticaram, indisfarçavelmente, ato diverso daquele
previsto na regra de competência administrativa (desvio de poder ou finalidade), pois
incumbe ao agente público a realização de atos administrativos com vistas à
68 GARCIA, E. E ALVES, R. Pacheco. Improbidade Administrativa – 2ºed. Rio de janeiro, 2004. p. 475/477.
70
satisfação de interesses públicos e não pessoais, tornando estes atos incompatíveis
com a Constituição Federal e com os princípios jurídico-administrativos dela
decorrentes, autorizando a sua invalidação pelo Poder Judiciário.
O desvio de poder materializa-se no descompasso entre a
finalidade da regra discricionária (possibilidade de contratação de serviços com
terceiros, conforme estabelece a Constituição Federal e a Lei de Licitações) frente à
providência concretamente eleita pelo Administrador no exercício de sua regra de
competência (favorecimento de terceiros com evidente quebra da impessoalidade e
do resguardo dos interesses do Município de Londrina, causando prejuízos ao ente
público).
Registre-se, neste sentido, o magistério de Hely Lopes
Meirelles:
“E a finalidade terá sempre um objetivo certo e inafastável de
qualquer ato administrativo: o interesse público. Todo ato que se
apartar desse objetivo sujeitar-se-á a invalidação por desvio de finalidade, que a nossa lei da ação popular conceituou como “fim
diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente na regra de
competência do agente (Lei nº 4.717/65, art. 2º, parágrafo único, “e”)”
(Direito Administrativo Brasileiro, 19 ed., Malheiros, p. 86)
Incumbe ao administrador público executar sua
correspondente atividade pública, tendo por escopo atingir o fim visado pela
norma, não desvirtuando a “ratio legis” do diploma legal. Nesse esteio, sendo
inaceitável a ocorrência de favoritismos na utilização de recursos públicos.
José Cretela Júnior, por sua vez, leciona:
“Elemento integrante e indispensável do ato administrativo, erige-se o
fim ou finalidade como a bússola que assina o caminho certo da
Administração. Desvirtuado o fim, desnatura-se o ato, eiva-o de vício
71
inconvalidável, configura-se o denominado desvio de fim, desvio
dfinalidade ou desvio de poder.”69
Os procedimentos administrativos que se pretendem
invalidar, porque eivados de vício irreparável, violam os ditames legais e acarretam
prejuízo aos cofres públicos, legitimando e exigindo o exercício do controle judicial
do ato administrativo de forma a fazer prevalecer os princípios jurídicos
expressamente consagrados na Constituição Federal, sobretudo da Legalidade,
Moralidade e Impessoalidade.
Portanto, nos termos do art. 7º, § 6º, c/c arts. 49 e 59 da
Lei de Licitação, das disposições contidas na Lei 4.717/65 e na Lei 8.429/92, há que
se declarar inválidos os procedimentos Cartas Convites nº 6/2005, 8/2005, 11/2005, 12/2005, 16/2005, 17/2005, 18/2005, 20/2005, 22/2005,23/2005 , 4/2006, 6/2006, 9/2006, 10/2006, 14/2006, 15/2006, 16/2006, 18/2006, 20/2006, 36/2006 e nos Pregões 3/2006, 2/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011,
36/2011, 06/201270, assim como os contratos e pagamentos deles decorrentes
efetuados em favor das empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES, que resultaram nos pagamentos em favor destas
no valor atualizado de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)71, exigindo-se a
devolução aos cofres públicos de todo esse valor que lhes foi pago, declarando-se a
responsabilidade solidária dos réus agentes públicos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO SOUTO
SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, juntamente com os particulares
GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, 69 CRETELA Júnior, Jóse. Tratado de Direito Administrativo. Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 210. 70 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público 71 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
72
REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA
ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA.
VII. DOS DANOS MORAIS DIFUSOS
Saliente-se que além dos danos materiais sofridos, os
comportamentos ímprobos dos requeridos macularam a imagem da Administração
Pública Municipal, com inegável repercussão negativa perante toda a sociedade.
A moralidade na Administração é uma conquista da
sociedade e do processo democrático que vai sendo construídos paulatinamente,
logo evidentemente acontecimentos dessa magnitude contribuem para a
desmoralização do ente público.
Os requeridos agentes públicos, agindo em concurso com
os terceiros, afrontaram os deveres de honestidade, legalidade e lealdade ao
Município de Tamarana, traindo a confiança que lhes foi depositada pelos
munícipes, para representar os seus interesses. Os atos de improbidade
administrativa praticados pelos requeridos comprometeram não só escolha da
proposta mais vantajosa para a administração, mas a imagem do Município de
Tamarana.
A superposição dos interesses pessoais e escusos dos
requeridos em detrimento dos interesses coletivos causa reflexos negativos à moral
do Município de Tamarana, que precisa ser compensado.
A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso X,
deixa explícita a possibilidade de indenização pelos danos morais:
73
Art.5º. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação.
A possibilidade de indenização por danos morais difusos
também está garantida pela Lei da Ação Civil Pública quando estabeleceu em seu
artigo 1º:
“Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da
ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e
patrimoniais causados (...)”.
Ao tratar do tema, Emerson Garcia esclarece que “a Lei
nº 8.429/92 não se destina unicamente à proteção do erário, concebido este como o
patrimônio econômico dos sujeitos passivos dos atos de improbidade, devendo
alcançar, igualmente, o patrimônio público em sua acepção mais ampla, incluindo o
patrimônio moral”72.
Prossegue o autor esclarecendo que o dano moral,
nesses casos, “será experimentado pelo próprio patrimônio público, concebido este
como o conjunto de direitos e deveres pertencentes, em última ratio, à coletividade”.
A condenação por danos morais tem como finalidade
repor o status quo ante do ente lesado, além de conferir uma resposta ao legítimo
titular do bem jurídico (patrimônio público, material e moral) afetado (povo),
sobretudo no que diz respeito ao direito da coletividade de exigir dos
administradores uma conduta proba e compatível com os princípios que regem a
administração pública.
Desta forma, impõe-se que além dos prejuízos materiais
causados ao ente público, os REQUERIDOS, bem como as sociedades empresárias
GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., 72 Garcia, Emerson e Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, p. 444/445, 3ª ed. Livraria e Editora Lumen Juris LTDA. 2006.
74
MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE,
SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES sejam
condenados a indenizar a Administração Pública pelos danos morais causados à
sua imagem, no igual ao valor dos danos materiais sofridos, ou outro que vier a ser
arbitrado por esse respeitável juízo.
VIII. DA MEDIDA CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS DO ÍMPROBO
Nos termos do art. 37, § 4.º, da Carta Magna, “os atos de
improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.
Objetivando tutelar de forma eficiente o patrimônio
público, a Lei n.º 8.429/92 impõe:
“Art. 7.º Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio
público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade
administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério
Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste
artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do
dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento
ilícito.
(...)
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a Comissão
representará ao Ministério Público ou à Procuradoria do órgão para
que requeira ao Juízo competente a decretação do seqüestro dos
bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou
causado dano ao patrimônio público.
(...)
§ 2.º Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o
bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas
75
pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados
internacionais.”
A respeito do cabimento da medida liminar ora pleiteada,
cumpre trazer à colação os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça,
in verbis:
“A indisponibilidade de bens na ação civil pública por ato de
improbidade, pode ser requerida na própria ação, independentemente
de ação cautelar autônoma”. (STJ, REsp nº 469.366/PR, Segunda
Turma, Relatora Ministra ELIANA CALMON, DJ de 02/06/2003, p.
285)
PROCESSUAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA (L. 8.429/92) - ARRESTO DE BENS - MEDIDA
CAUTELAR - ADOÇÃO NOS AUTOS DO PROCESSO PRINCIPAL -
L. 7.347/85, ART. 12.
1. O Ministério Público tem legitimidade para o exercício de ação civil
pública (L. 7.347/85), visando reparação de danos ao erário causados
por atos de improbidade administrativa tipificados na Lei 8.429/92. 2.
A teor da Lei 7.347/85 (art. 12), o arresto de bens pertencentes a
pessoas acusadas de improbidade, pode ser ordenado nos autos do
processo principal. (STJ, REsp 199.478/MG, Ministro HUMBERTO
GOMES DE BARROS, Primeira Turma, DJ de 08/05/2000, p. 61)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
INDISPONIBILIDADE DE BENS. LEI 8429/92. LIMINAR. “FUMUS
BONI JURIS” E “PERICULUM IN MORA” CONFIGURADOS.
NULIDADE DO ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA. (...)
2. Evidenciadas a relevância do pedido de indisponibilidade dos bens
do recorrente e o perigo de lesão irreparável ou de difícil reparação,
devido à escassez dos referidos bens, não havia como negar-se a
liminar pleiteada. 3. Recurso especial conhecido, porém, improvido.”
Não é outro o entendimento do Egrégio Tribunal de
Justiça do Paraná, o qual pode ser retratado através dos seguintes arestos:
76
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE
RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. DECISÃO AGRAVADA QUE CONCEDE A
LIMINAR DE QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO E DE
INDISPONIBILIDADE DE BENS DOS REQUERIDOS, LIMITADA AO
VALOR DO DANO AO ERÁRIO, BEM COMO DE AFASTAMENTO
DO AGRAVANTE DO EXERCÍCIO DO CARGO PARA O QUAL FOI
NOMEADO, EM DECORRÊNCIA DE SUA APROVAÇÃO EM
CONCURSO APARENTEMENTE FRAUDADO.PRETENSÃO DE
REFORMA DA DECISÃO AGRAVADA. ALEGAÇÃO DE OFENSA À
ORDEM DIPOSTA NOS §§ 7.º E 8.º DO ARTIGO 17 DA LEI 8429/92.
INOCORRÊNCIA. INDISPONIBILIDADE DE BENS QUE TRATA DE
PROVIDÊNCIA CAUTELAR OBRIGATÓRIA DO JULGADOR,
QUANDO VERIFICADOS RAZOÁVEIS ELEMENTOS
CONFIGURADORES DA LESÃO E OS REQUISITOS PARA SUA
CONCESSÃO. LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS QUE
SE FUNDAMENTOU NOS REQUISITOS INDISPENSÁVEIS PARA A
SUA CONCESSÃO. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS ACERCA
DA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE, CONSUBSTANCIADO
NA FRAUDE DE CONCURSO PÚBLICO, COM A PARTICIPAÇÃO
DO AGRAVANTE, QUE IMPLICARAM EM INFRINGÊNCIA AOS
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E EM PREJUÍZO AO
ERÁRIO. PERICULUM IN MORA DEMONSTRADO. RECEIO DE
QUE OS BENS SEJAM DESVIADOS, DIFICULTANDO EVENTUAL
RESSARCIMENTO. PRECEDENTES DO STJ.PEDIDO DE
LIMITAÇÃO DA INDISPONIBILIDADE DE BENS.DECISÃO
AGRAVADA QUE LIMITOU A INDISPONIBILIDADE AO VALOR
APONTADO NA INICIAL.CUMPRIMENTO DA ORDEM QUE,
CONTUDO, SE DEU FORA DESSA LIMITAÇÃO, COM O BLOQUEIO
DE TODOS OS BENS DO AGRAVANTE. LIMITAÇÃO QUE DEVE
SER OBSERVADA, OPORTUNIZANDO-SE AO AGRAVANTE A
INDICAÇÃO DE BENS QUE VENHAM A SATISFAZER A CAUTELA
JUDICIAL, NOS TERMOS PROPOSTOS NAS CONTRARRAZÕES
AO RECURSO APRESENTADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
AGRAVADO.RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO.
(TJPR - 4ª C.Cível - AI 846205-7 - Bocaiúva do Sul - Rel.: Maria
Aparecida Blanco de Lima - Unânime - J. 23.10.2012)
77
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CÍVIL PÚBLICA DE
RESSARCIMENTO DE DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO
PÚBLICO - LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS - 1.
CONSTRIÇÃO QUE RECAIU EM PARTE EM CONTA POUPANÇA
COM DEPÓSITO EM VALOR INFERIOR AO LIMITE DE 40
SALÁRIOS MÍNIMOS, NOS TERMOS DO DISPOSTO NO ARTIGO
649, INCISO X DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - NECESSIDADE
DE REFORMA DA DECISÃO SINGULAR NESTE PARTICULAR - 2.
ALEGADA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS A
CONCESSÃO DA REFERIDA LIMINAR - NÃO VERIFICADO -
INDÍCIOS ROBUSTOS DA EXISTÊNCIA DE ATOS ÍMPROBOS -
PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA -
APROVAÇÃO DE CONTAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS QUE
NÃO IMPEDE A PUNIÇÃO DE ATOS DE IMPROBIDADE,
CONFORME ESTABELECE O ARTIGO 21 DA LEI N.º 8429/92 -
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.1. A decisão interlocutória
que determinou a indisponibilidade de bens do agravante merece
reparo, apenas no que tange ao bloqueio dos valores depositados na
caderneta de poupança do mesmo até o valor de R$24.880,00 (vinte
e quatro mil oitocentos e oitenta reais), ou seja, 40 salários mínimos.
Afinal, o artigo 649, inciso X, do CPC, estabelece ser absolutamente
impenhoráveis os depósitos em caderneta de poupança até o referido
limite.2. As decisões dos Tribunais de Contas não vinculam a atuação
do sujeito ativo da ação civil de improbidade administrativa, posto que
são meramente opinativas e limitadas aos aspectos de fiscalização
contábil, orçamentária e fiscal.
(TJPR - 4ª C.Cível - AI 924343-0 - Castro - Rel.: Regina Afonso
Portes - Unânime - J. 16.10.2012)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LIMINAR DE
INDISPONIBILIDADE DE BENS. IMPOSSIBILIDADE DE
CONCESSÃO. REQUISITO DO ART. 7º DA LEI 8429/92.
NECESSIDADE DE EFETIVO PREJUÍZO AO ERÁRIO. FUMUS
BONI IURIS NÃO DEMONSTRADO. INDISPONIBILIDADE
REVOGADA. RECURSO PROVIDO. O art. 7º da Lei de Improbidade
exige como requisito para concessão da indisponibilidade
comprovação de efetivo prejuízo ao erário, e considerando que nos
autos não houve de plano tal demonstração de dano ao patrimônio
público, não há possibilidade de se conceder a liminar em Ação de
78
Improbidade para indisponibilidade de bens¸ ante ausência de fumus
boni iuris.
(TJPR - 5ª C.Cível - AI 789970-1 - Manoel Ribas - Rel.: Edison de
Oliveira Macedo Filho - Unânime - J. 18.09.2012)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LIMINAR DE
INDISPONIBILIDADE DE BENS. DESNECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO.
PERICULUM IN MORA IMPLÍCITO NA NORMA DO ART. 7º DA LEI
8429/92. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE LIMINAR
PRESENTES. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 5ª C.Cível - AI 826826-0 - Paranavaí - Rel.: Edison de
Oliveira Macedo Filho - Unânime - J. 18.09.2012)
No caso concreto, está amplamente demonstrada a
coexistência de provas sobre a responsabilidade dos requeridos e a existência de
efetivo dano ao Erário.
A caracterização da responsabilidade dos requeridos
encontra respaldo na farta prova documental produzida durante o curso da
investigação realizada por esta Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público
(Inquérito Civil Público n.º MPPR-0078.11.000137-373), que foi pormenorizadamente
apresentada no curso desta petição inicial.
A leitura atenta da narrativa, confrontada com as provas
produzidas, não deixa margem para dúvidas em relação à responsabilidade dos
requeridos GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA,
MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA FERRONI e LOURENÇO DA SILVA pela prática de Atos de Improbidade
Administrativa que causou lesão ao erário (art. 10, caput, incisos II, e VIII, da Lei n.º
8429/92)), e violou os princípios que regem a Administração Pública (art. 11, caput,
e inciso I, da Lei n.º 8429/92).
73 DOC. 3 – Cópia do Inquérito Civil nº MPPR-0078.11.000137-3.
79
O segundo requisito obrigatório encontra-se materializado
no dano patrimonial e moral causado ao Erário Municipal (in casu, o prejuízo aos
cofres públicos através da frustração da seleção da proposta mais vantajosa e a
mácula causada pelos atos de corrupção à boa imagem e ao respeito que gozam a
administração municipal no seio da sociedade local).
Esses requisitos são, segundo abalizada doutrina,
absolutamente suficientes para se decretar a indisponibilidade dos bens dos
requeridos, no montante necessário para ressarcimento do erário Municipal,
independentemente de comprovação específica do animus dos agentes públicos e
terceiros em dissipar o patrimônio. Neste sentido, anote:
“De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente
de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de
vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade
perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem
percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade
prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas hipóteses nas quais o
próprio legislador dispensa a demonstração do perigo do dano. Deste
modo, em vista da redação imperativa adotada pela Constituição
Federal (art. 37, § 4º) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7),
cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor
jurisprudência”74.
Seria um convite à impunidade exigir a comprovação de
que os requeridos planejam dilapidar seus respectivos patrimônios para a
decretação da medida. Tratar-se-ia, sem qualquer dúvida, de uma prova diabólica,
porque de inviável produção.
Aliás, o legislador, com o objetivo de tutelar o patrimônio
público da maneira mais efetiva, não estabeleceu qualquer exigência quanto a
necessidade de se demonstrar, concretamente, situação de dilapidação de
74 Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, Improbidade administrativa, 2ª ed. rev. e ampl., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 830.
80
patrimônio como antecedente necessário ao deferimento da medida de
indisponibilidade de bens.
Observe que o legislador, quando pretendeu estabelecer
rígidos requisitos para o deferimento de medida cautelar de afastamento de agente
público, nos termos do art. 20, parágrafo único, da Lei n.º 8.429/92, o fez
expressamente.
Na espécie, inexiste vácuo legislativo ou omissão legal;
há, ao contrário, o delineamento das hipóteses ensejadoras da indisponibilidade de
bens, ou seja, a existência de fundado indício de reponsabilidade dos agentes
públicos ou de terceiros, relativamente à medida de indisponibilidade almejada nesta
ação.
A liminar de indisponibilidade de bens constitui, desta
forma, medida fundamental para o sucesso prático dos objetivos almejados nesta
ação civil pública, pela prática de Atos de Improbidade Administrativa.
E mais! Conforme estabelece o art. 12, incisos II e III, da
Lei n.º 8.429/92, uma das consequências da condenação pela prática dos atos de
improbidade administrativa previstos nos arts. 10 e 11 é justamente o ressarcimento
integral do dano (material e/ou moral) causado ao Erário.
O instrumento fornecido pela lei para que a função
jurisdicional seja eficiente, fator inafastável para sua credibilidade no meio social, é a
indisponibilidade dos bens dos requeridos, no montante necessário para ressarcir o
dano, material e moral.
Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS.
ART. 7º DA LEI 8.429/1992. VIOLAÇÃO CONFIGURADA. ACÓRDÃO
ASSENTADO EM FUNDAMENTO JURÍDICO EQUIVOCADO.
AFASTAMENTO CAUTELAR DO CARGO. SÚMULA 7/STJ.
1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública ajuizada contra Deputados
Estaduais e servidores da Assembléia Legislativa de Mato Grosso,
81
aos quais são imputados atos de improbidade administrativa por
fraude a licitação, além de desvio e apropriação indevida de recursos
públicos por emissão e pagamento de cheques para empresas
inexistentes e irregulares.
2. No Agravo de Instrumento, ficou registrado que estão em curso
mais de sessenta Ações Civis Públicas contra os ora recorridos por
supostos atos reiterados de improbidade administrativa, que no total
ultrapassam a vultosa quantia de R$ 97.000.000,00 (noventa e sete
milhões de reais) – o caso dos autos envolve dano de R$
3.028.426,63 (três milhões, vinte e oito mil, quatrocentos e vinte e
seis reais e sessenta e três centavos) decorrentes de pagamentos
feitos à empresa Comercial Celeste de Papéis e Serviços Ltda.
3. A instância ordinária indeferiu o pedido de decretação de
indisponibilidade dos bens, ao fundamento de que o Parquet não os
individualizou nem comprovou a existência de atos concretos de
dilapidação patrimonial pelos réus.
4. Cabe reconhecer a violação do art. 7º da Lei 8.429/1992 in casu,
tendo em vista o fundamento jurídico equivocado do acórdão
recorrido.
5. A decretação da indisponibilidade, que não se confunde com o seqüestro, prescinde de individualização dos bens pelo Parquet. A exegese do art. 7º da Lei 8.429/1992, conferida pela jurisprudência do STJ, é de que a indisponibilidade pode alcançar tantos bens quantos forem necessários a garantir as conseqüências financeiras da prática de improbidade, mesmo os adquiridos anteriormente à conduta ilícita. 6. Desarrazoado aguardar a realização de atos concretos tendentes à dilapidação do patrimônio, sob pena de esvaziar o escopo da medida. Precedentes do STJ. 7. Admite-se a indisponibilidade dos bens em caso de forte prova indiciária de responsabilidade dos réus na consecução do ato ímprobo que cause enriquecimento ilícito ou dano ao Erário, estando o periculum in mora implícito no próprio comando legal. Precedentes do STJ. 8. Hipótese em que, considerando a natureza gravíssima dos atos de improbidade administrativa imputados aos réus e os elevados valores financeiros envolvidos, a indisponibilidade dos bens deve ser declarada de imediato pelo STJ.
82
9. O art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/1992 prevê a viabilidade de
afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, quando a medida
se fizer necessária à instrução processual. A alteração do
entendimento do Tribunal a quo, de que não ficou demonstrada tal
necessidade, demanda reexame dos elementos fático-probatórios
dos autos, o que esbarra no óbice da Súmula 7/STJ.
10. Friso que a impossibilidade da conclusão lançada no acórdão
recorrido não proíbe que o pedido de afastamento seja
eventualmente renovado nos autos com base em novos elementos
que comprovem o cabimento da medida.
11. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
parcialmente provido para determinar a indisponibilidade dos bens
dos recorridos.
(REsp 1177290/MT, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 01/07/2010)
Deve-se levar em consideração que os responsáveis pela
prática de improbidade administrativa costumam, uma vez notificados, dilapidar e/ou
pulverizar seu patrimônio de forma a dificultar, quiçá impossibilitar, a reparação dos
prejuízos causados ao Erário. Assim, a indisponibilidade de bens dos requeridos,
suficientes para o integral ressarcimento ao patrimônio público municipal, é medida
que se impõe in limine litis.
IX – DO PEDIDO
Circunscrito ao exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ requer a Vossa Excelência:
Preliminarmente, seja conhecida a prevenção desta Ação
de Improbidade Administrativa, com a Cautelar de Busca e Apreensão nº. 0045693-
61.2011.8.16.001475, em trâmite nesse Juízo;
75 DOC. 1 – Cópia da Cautelar de Busca e apreensão, autos n° 0045693-61.2011.8.16.0014, em trâmite na 1ª Vara de Fazenda Pública de Londrina.
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1) Com fundamento do disposto no Provimento nº 223 de
20/01/2012, da Corregedoria-geral de Justiça do Estado do Paraná, seções
2.21.3.4.3146 e seguintes, em razão da impossibilidade de digitalização de
documentos, requer seja arquivado o DVD contendo arquivos digitais referentes aos
procedimentos de Licitação e Pregões Presenciais, objeto desta ação;
2) Notificação dos requeridos para ofertarem
manifestação escrita e, recebida a inicial, sua citação para contestarem a presente
ação, nos termos do art. 17, §§ 7.º e 9.º, da Lei n.º 8.429/9214, sob pena de, em não
o fazendo, sofrerem a aplicação dos efeitos da revelia;
3) Notificação da MUNICÍPIO DE TAMARANA, na pessoa
de seu representante legal, o prefeito municipal ou procurador para, querendo,
intervir no feito na qualidade de assistente litisconsorcial ativo, com base no art. 54
do Código de Processo Civil;
4) Decretação liminar da indisponibilidade de bens
pertencentes aos requeridos para englobar o valor de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)76 – valor total das licitações fraudulentas, para fins de garantir o
ressarcimento dos danos causados ao Município de Tamarana, bem como o
pagamento de multa civil e dos danos morais, tudo conforme preceituam os arts. 7.º,
parágrafo único, e 12, incisos I e III, da Lei n.º 8.429/92. Para tanto, requer:
4.a) a expedição de ofício aos Oficiais Registradores de
Imóveis de Londrina e Tamarana, solicitando seja determinado que noticiem a
existência de bens em nome dos réus e o cumprimento da medida ora pleiteada,
efetuando-se todas as averbações e registros necessários, com posterior
comunicação a esse Juízo;
4.b) a expedição de ofício ao Cartório Distribuição Judicial
da Comarca de Londrina, solicitando certidões dos feitos distribuídos em nome dos
réus;
76 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4)
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4.c) a expedição de ofício ao Banco Central para que
determine às Instituições Bancárias que informem os saldos bancários, bloqueando
as aplicações e investimentos de titularidade dos réus, disponibilizando-os a esse
Juízo;
4.d) a expedição de ofício à Junta Comercial do Estados
do Paraná para que noticiem a existência de ações, quotas ou participações
societárias de qualquer natureza em nome dos réus, proibindo-a de registrar
quaisquer alienações destas; e
4.e) a expedição de ofício aos Departamentos de Trânsito
do Estado do Paraná, a fim de que seja levantada a relação de veículos em nome
dos réus, bem assim para que não procedam à transferência de veículos de suas
propriedades.
5) Por fim, evidenciada a prática de atos ímprobos
descritos nos arts. 10, caput, incisos II e VIII, c/c e 11, caput, e inciso I, ambos da Lei
n.º 8.429/92, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, nos
termos do art. 12, incisos II e III:
5.a) a condenação dos requeridos ROBERTO DIAS SIENA, CLEUDEMIR JOSÉ CATAI, ALDO BOARETTO NETTO, JOÃO VITOR RUTHES DIAS, MARIA ROSE SOARES, DIONE CORDEIRO DA SILVA, MARCIO
SOUTO SANTANA, SAULO RIBEIRO RODRIGUES, LEONILDO LOPES, ARMANDO DA SILVA SOUZA e VALDECIR AMADOR ALMERON, agentes
públicos, pela prática dos atos de Improbidade Administrativa previstos no art. 10 e
11, todos da Lei de Improbidade Administrativa;
5.b) a condenação das pessoas jurídicas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES, e das pessoas físicas
GUSTAVO SEBASTIÃO CARDOSO DA SILVA, JUHAD WEHBE AL CHAAR, REGINALDO ANDRÉ DE SOUZA, JOSÉ LUIZ COELHO ARANDA, MAYARA ARANDA MANO, MARCELO CARLOS MANO, TANIA CRISTINA COELHO
85
ARANDA, DANIELA RODRIGUES DE CAMARGO SILVA, SILMARA CRISTINA
FERRONI, e LOURENÇO DA SILVA, que contribuíram para a concretização dos
atos de Improbidade Administrativa, com fundamento no art. 10 e 11, c/c art. 3º,
todos da Lei de Improbidade Administrativa;
5.c) a condenação dos requeridos ao ressarcimento
integral do dano material, no valor de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)77, causado
ao erário do Município de Tamarana;
5.d) o pagamento de indenização pelos danos morais
(correspondente ao dano material, ou a ser fixado por esse respeitável juízo)
causados ao Município de Tamarana;
5.e) a suspensão dos direitos políticos dos réus pelo
período de 8 (oito) a 10 (dez) anos;
5.f) a condenação de todos os réus ao pagamento de
multa civil de até 100 (cem) vezes percebida pelo agente;
5.g) a proibição dos réus contratarem com o Poder
Público ou receberem incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda
que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios majoritários, pelo prazo
de 10 (dez) anos;
5.h) a notificação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
para que determine aos Tribunais Regionais Eleitorais de todo o país que procedam
às averbações necessárias nos respectivos registros perante os Cartórios Eleitorais,
com vistas a dar efetividade à suspensão dos direitos políticos dos réus;
5.i) a comunicação ao Ministério do Planejamento para
fazer constar do seu banco de dados a proibição dos réus contratarem diretamente
ou por meio de interposta pessoa, seja jurídica ou física, com o Poder Púbico, e
receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios;
77 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
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5.j) a comunicação ao Ministério da Fazenda para fazer
constar do seu banco de dados a proibição dos réus contratarem, diretamente ou
por meio de interposta pessoa, seja jurídica ou física, com o Poder Público, e
receberem benefício ou incentivos fiscais ou creditícios;
5.l) a condenação dos réus nos ônus da sucumbência;
6) a decretação de Invalidade de todos os procedimentos
licitatórios Carta Convites nº 6/2005, 8/2005, 11/2005, 12/2005, 16/2005, 17/2005, 18/2005, 20/2005, 22/2005,23/2005 , 4/2006, 6/2006, 9/2006, 10/2006, 14/2006,
15/2006, 16/2006, 18/2006, 20/2006, 36/2006 e dos Pregões 3/2006, 2/2007, 44/2008, 3/2009, 21/2009, 39/2009, 13/2010, 06/2011, 36/2011, 06/201278 e dos
atos deles decorrentes, em que se sagraram vencedor as empresas GUSTAVO SEBASTIÃO DA SILVA TRANSPORTES LTDA., CHAAR & SOUZA LTDA., JWC
COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA, M.C.A. TRANSPORTES LTDA., MCM TRANSPORTES LTDA., D. R. DE CAMARGO SILVA TRANSPORTE, SILMARA CRISTINA FERRONI – ME e L DA SILVA TRANSPORTES;
7) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova
admitidos em direito, inclusive depoimento pessoal dos réus, oitiva de testemunhas,
além de eventuais perícias e juntada de documentos.
Diante da natureza da ação, para efeitos fiscais, dá-se à
causa o valor de R$ 7.670.274,17 (sete milhões seiscentos e setenta mil duzentos e setenta e quatro reais e dezessete centavos)79.
Londrina, 15 de janeiro de 2013.
Leila Schimiti Voltarelli Renato de Lima Castro
Promotora de Justiça Promotor de Justiça
78 DOC. 4 - Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público. 79 Valor atualizado até 12/12/2012, conforme Relatório nº 090/2012, da Auditoria do Ministério Público (DOC. 4).
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