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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS
VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE PARANAGUÁ – ESTADO DO PARANÁ
“(...) quanto ao valor da multa, levou-se em conta, além da condição financeira da empresa autuada, a/ gravidade do dano ambiental, que prejudicou severamente, além da biodiversidade do local, a pesca, o veraneio e o turismo por vários meses. Lembremos que o dano ocorreu em novembro, poucos dias antes do verão, e que o turismo e a pesca são as principais fontes de geração de renda das comunidades atingidas. (...) Por fim observo que não há mais instâncias administrativas e que a multa ainda não foi recolhida. Assim, determino o recolhimento integral da multa em 05 (cinco) dias, a contar do recebimento desta, sob pena de execução judicial.” (Ofício nº 384, de 18 de agosto de 2008, assinado pelo então Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, LINDESLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES, e dirigido à empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., em que informou a manutenção da multa administrativa de R$ 50.000.000,00 - cinqüenta milhões de reais) e o esgotamento das vias administrativas para discussão da multa)
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ, por seu Promotor de Justiça infra-assinado, com base nos artigos 37, §
4º, e 129, inciso III, da Constituição da República; na Lei Federal nº 8.429/92 (Lei
de Improbidade Administrativa); e no art. 2º, inciso II, 3º, 5º caput, todos, da Lei
Federal nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), vem, respeitosamente, junto a
Vossa Excelência, ajuizar
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
POR
ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
- c o n t r a -
LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES,
brasileiro, Deputado Estadual, RG 2.032.039-7/PR, CPF 355.024.019-87, residente
na rua Reinoldo Ihlenfeldt, nº 81, bairro Santa Cândida, CEP 82.640-260,
município de Curitiba/PR;
2
VÍTOR HUGO RIBEIRO BURKO, brasileiro, portador
do CPF n 467.579.539-00 e do R.G. nº 19.353.834, filho de Maria do Rocio Ribeiro
Burko e de Vitório Burko, residente na rua Almirante Tamandaré, 2045, apto. 301,
bairro Juvevê, Curitiba/PR, CEP 80.040-110;
THEO BOTELHO MARÉS DE SOUZA, brasileiro,
filho de Maria Dirce Botelho Marés e de Carlos Frederico Marés de Souza Filho,
RG 6.039.431-9/PR, CPF 022.326.439-30, residente e domiciliado à rua General
Aristides Athayde Junior, n. 350, bairro Bigorrilho, município de Curitiba/PR;
CATTALINI TERMINAIS MARÍTIMOS LTDA.,
pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 75.633.560/0001-82, a
ser citada no endereço na rua Coronel Santa Rita, nº 2677, bairro Rocio,
Paranaguá/PR, pelos fundamentos de fato e de direito que se passa a expor:
1. DO OBJETO DOS PEDIDOS FINAIS
A presente ação tem por objeto final a cominação de
sanções políticas e civis aos requeridos, em razão da prática de atos de
improbidade administrativa que causaram elevadíssimos prejuízos ao erário e
enriquecimento ilícito de terceitos, assim como atentaram contra os princípios da
Administração Pública, especialmente os princípios da legalidade, moralidade e
impessoalidade.
Sinteticamente, a improbidade administrativa apurada
nestes autos tem origem nas seguintes e essenciais situações de ilicitude:
a) violação ao devido processo administrativo, por
meio da revisão da decisão administrativa, que já havia sido atingida pela
preclusão, e, consequentemente, “renúncia” indevida e deliberada de cobrança da
empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. de verba pública
destinada à finalidade ambiental no quantum de R$ 45.000.000,00 (quarenta e
cinco milhões de reais) (quantia não atualizada moneteriamente).
3
b) violação ao devido processo administrativo, por
meio da aplicação intempestiva e preclusa da conversão da multa administrativa,
já reduzida a R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), para a construção do
aquário marinho de Paranaguá.
c) violação ao devido processo administrativo, por meio
da aplicação da conversão da multa administrativa, já reduzida a R$ 5.000.000,00
(cinco milhões de reais), para a construção do aquário marinho de Paranaguá, sem
a indispensável prévia reparação integral dos danos ambientais oriundos da
explosão do navio “Vicuña”.
d) afronta à obrigatoriedade legal do procedimento
licitatório, pois o valor utilizado para a construção do aquário marinho,
supostamente R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), foi descontado do valor da
multa administrativa, havendo, assim, verdadeira disposição do patrimônio
público para a execução de obra pública, sem a devida submissão à lei de
licitações.
2. DOS FATOS
Conforme instrução do Laudo Técnico multidisplinar
emitido pelo IBAMA e IAP (fls. 168-284):
“(...) O acidente ocorreu às 19:45 h do dia 15 de novembro de
2004, decorrente de duas explosões a bordo do Navio Vicuña, atracado no píer da empresa
Cattalini Terminais Marítimos, na cidade de Paranaguá/PR, em operação de descarga de
metanol. (...) Causou a liberação de 4.079,233 toneladas de metanol, que queimaram,
evaporaram ou diluíram-se nas águas da Baía de Paranaguá, causando efeitos imediatos e
severos, porém de curto prazo, sobre o ambiente. (...) Em decorrência da explosão houve
rompimento dos tanques de óleo no navio, resultando em vazamentos de óleo bunker, óleo
diesel e óleos lubrificantes, num total aproximado de 291.000 litros, causando impactosde
curto prazo, além de impactos de médio e longo prazo, ainda a serem dimensionados e
avaliados, sobre os diversos ambientais do Complexo Estuarino de Paranaguá e da faixa
4
costeira do litoral paranaense.”
Conforme atestado no comunicado realizado pelo
Instituto Ambiental do Paraná ao CONAMA (Conselho Nacional do Meio
Ambiente), a referida explosão causou, em síntese:
“(...) Área de costa atingida: (...) Área de costa atingida
pelo óleo, 170 Km ou 15% do total. Em relação ao tipo de costa e ao nível de contaminação,
podemos resumir da seguinte maneira: a) Manguezais e marisma: atingidos no total de
67,48 Km de costa, sendo 37,65 Km em nível baixo de contaminação, 24,35 Km em nível
médio e 5,48 Km em nível alto. b) Praias arenosas: atingidos no total 86,63 Km de costa,
sendo 64,19 Km em nível baixo de contaminação, 12,73 Km em nível médio e 9,71 Km em
nível alto. c) Costões rochosos: atingidos no total 13,81 Km de costa, sendo 6,09 Km em
nível baixo de contaminação, 3,60 Km em nível médio e 4,12 Km em nível alto. (..)
Unidades de Conservação atingidas: Federais: Estação Ecológica de Guaraqueçaba,
Parque Nacional do Superagui e Área de Proteção Ambiental Federal de Guaraqueçaba.
Estaduais: Estação Ecológica da Ilha do Mel, Parque Estadual da Ilha do Mel e Área de
Proteção Ambiental de Guaraqueçaba. Reserva Indígena Guarani, localizada nas Ilhas da
Cotinga e Rasa da Cotinga. (...)”. (fls. 542-544)
Em decorrência do referido acidente, foram
instaurados pelo Instituto Ambiental do Paranã (IAP) vários processos
administrativos com a finalidade de impor sanções administrativas aos
responsáveis pelo referido acidente.
Um dos processos instaurados recebeu o n. 8.631.970-5,
IAP/ERLT (fls. 165 e seguintes), instaurado no dia 21.07.2004 contra a empresa
CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., com base no auto de infração
ambiental nº 28263 por “causar poluição por lançamento de óleos diversos (combustível,
lubrificantes, bunker), na baía de Paranaguá, atingindo unidades de conservação federal e
estadual, praias, costões e manguezais – causando danos a fauna e flora em decorrência da
explosão do navio Vicuña – conforme laudo técnico”. (fl. 167)
5
No referido processo foi aplicada à empresa
CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. multa no valor de R$
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) (fl. 167).
O processo administrativo foi instruído, dentre outros
documentos, com laudo técnico (fls. 168-284), relatório de autuação (fls. 285) e
clipping de notícias sobre o acidente (fls. 289-304).
A empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
LTDA. apresentou defesa administrativa às fls. 305-441.
O Instituto Ambiental do Paraná, por meio do então
Coordenador Estadual de Acidentes Ambientais (Eng. Cláudio D’Oliveira),
apresentou resposta às alegações de defesa colacionadas pela empresa Cattalini,
consignando especialmente que: “(...) Contra a empresa Cattalini foi lavrado o Auto nº
307028-D pelo IBAMA, com aplicação de multa diária no valor de R$ 250.000,00 que
deveria persistir até que as empresas, de fato, empregassem seus recursos na contenção e
reparação do dano. A sansão imposta vigorou por 3 dias, quanto então a empresa passou a
realizar trabalhos destinados a promover a reparação do dano, ou seja, somente depois que
houve a aplicação da punição pelo Órgão Ambiental. O fato mencionado demonstra
que a participação e a atuação da empresa Cattalini no acidente não foi tão
espontânea assim, conforme pretende demonstrar. Ressalta-se que ao pesquisar o
conteúdo das Atas das Reuniões realizadas durante desenvolvimento dos trabalhos de
reparação dos danos decorrentes do acidente, é possível verificar seguidos
desentendimentos entre a atuada e a Seguradora P & I Club, motivados por questões
financeiras referentes à recuperação dos danos. (...) Além das determinações legais ora
reportadas, não se pode omitir o fato de que houve morosidade da empresa em
adotar providências solicitadas pelos Órgãos Ambientais, fato este que ensejou a
aplicação de penalidades contra si. (...)” (grifos nossos) (fls. 461-471)
Em parecer técnico-jurídico juntado às fls. 473-478, a
Procuradora Jurídica do IAP, Sra. Ednéia Ribeiro Alkaim e o Engenheiro do IAP,
6
Sr. Ennio Santos Filho, manifestaram-se sobre a defesa apresentada pela requerida
CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. e opinaram pela subsistência do
Auto de Infração Ambiental, com notificação da empresa para pagamento da
multa, sob pena de inscrição em dívida ativa:
“(...) Assim sendo, opinamos pela subsistência do AIA, com
a conseqüente notificação a empresa autuada para que recolha os valores da multa, sob
pena de inscrição em dívida ativa e posterior execução fiscal. Além disso a empresa deve
sanar imediatamente a questão técnica posta, sob pena de sofrer nova autuação. (fl. 478)
O Departamento de Fiscalização Ambiental opinou
pela manutenção da infração e consequente cobrança integral da multa
administrativa aplicada (fl. 566).
No dia 10.10.2006, o Diretor de Controle de Recursos
Ambientais, Sr. Harry Luiz Avila Teles, decidiu pela subsistência do auto de
infração ambiental n. 28263/86319705, informando que caso não seja realizado o
pagamento, deverá ser providenciada a inscrição da multa em Dívida Ativa (fl.
566)
No mesmo dia 10.10.2006, o Departamento de
Fiscalização Ambiental expediu o Ofício IAP/DIRAM/DDI/03922/2005 à
empresa requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., com a
comunicação de que o auto de infração ambiental foi julgado subsistente, que a
multa original aplicada foi mantida, e que esta deveria ser recolhida até o dia
14.11.2006, no valor de R$ 57.473.710,66, resutado do acréscimo de juros de 1% ao
mês. (fl. 567)
No entanto, a notificação da empresa Cattalini para
fins de pagamento espontâneo da multa (em valores atualizados à época,
alcançava o importe superior a cinquenta e sete milhões de reais, ou apresentação
de recurso administrativo, foi apenas emitida na data de 17 de março de 2008. (fl
7
575)
No dia 12 de março de 2008, a empresa CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. ingressou com pedido de reconsideração da
decisão administrativa (fls. 577-586) e, ainda, no dia 1º de abril de 2008, com
recurso administrativo à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. (fls. 608-736)
O então assessor jurídico da SEMA/PR, o requerido
THEO BOTELHO MARÉS DE SOUZA, emitiu, no dia 18 de abril de 2008,
parecer para o improvimento do recurso administrativo manejado pela referida
empresa e para recomendar a subsistência do auto de infração, devendo a autuada
efetuar o recolhimento da multa integral, sob pena de inscrição em dívida ativa.
Nesse parecer, consignou expressamente a extrema gravidade dos danos
ambientais produzidos e a adequação do valor da multa em R$ 50.000.000,00
(cinquenta milhões de reais): “(...) A empresa Cattalini Terminais Marítimos Ltda. é
uma empresa extraordinariamente grande, com capital social de trinta milhões de reais.
Fica claro, com a amplitude do dano ambiental que o fato causou e levando em conta a
situação econômica da empresa autuada, que a multa aplicada é sensata e atende aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. (...)”. (fls. 738-747)
No dia 12.05.2008, o requerido LINDISLEY DA SILVA
RASCA RODRIGUES, na qualidade de Secretário de Estado do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, julgou “improcedente o recurso interposto”, determinando a
subsistência do auto de infração ambiental e a manutenção da multa em seu valor
integral. (fl. 749).
No dia 11.06.2008, o Diretor da DIRAM/IAP,
determinou fosse oficiado à empresa requerida para recolhimento do valor
integral da multa, sob pena de inscrição em dívida ativa (fl. 751), expedindo
notificação à fl. 752.
No dia 13 de agosto de 2008, a empresa CATTALINI
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TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. ingressou com novo recurso na Secretaria
Estadual do Meio Ambiente (SEMA/PR), em que pugnou o seu encaminhamento
ao CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente. (fls. 754-804)
Por sua vez, o Secretário de Estado do Meio Ambiente
e Recursos Hídricos, o requerido LINDESLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES
não recebeu o recurso e, por meio do ofício nº 384, de 18 de agosto de 2008,
informou à citada empresa que: “(...) quanto ao valor da multa, levou-se em
conta, além da condição financeira da empresa autuada, a gravidade do dano
ambiental, que prejudicou severamente, além da biodiversidade do local, a pesca,
o veraneio e o turismo por vários meses. Lembremos que o dano ocorreu em
novembro, poucos dias antes do verão, e que o turismo e a pesca são as principais
fontes de geração de renda das comunidades atingidas. (...) Por fim observo que
não há mais instâncias administrativas e que a multa ainda não foi recolhida.
Assim, determino o recolhimento integral da multa em 05 (cinco) dias, a contar do
recebimento desta, sob pena de execução judicial.” (fls. 806-807) (grifos nossos)
No dia 23.09.2008, a empresa CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. dirige à Secretaria Estadual do Meio
Ambiente novo pleito de reconsideração, sob os argumentos de que “por
liberalidade contribuiu com ações de combate à poluição causada pelo acidente (...)”
(grifos nossos), e de que foram concluídos os trabalhos de limpeza e retirada de
resíduos das áreas atingidas, e pugnou a suspensão da exigibilidade da multa e
sua redução em 90% (noventa por cento), com fulcro no artigo 60 do Decreto
Federal nº 3.179/99 e na Instrução Normativa do IBAMA nº 079/2005. (fls. 810-
812)
No dia 01.10.2008, o então Secretário de Estado, ora
requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES, acostou a seguinte
promoção, contrariando todos os fundamentos que basearam a atuação do órgão
público ambiental e da própria SEMA até aquele momento: “Ao Dr. THEO.
Considerando que pela primeira vez a empresa reconhece a multa. Considerando que o
9
dano foi recuperado no local do acidente. Considerando que se existe dano, ele está em local
diverso que não no do acidente, Determino a análise do presente processo para acolher o
pagamento da multa em espécie ou em investimento no nosso litoral e (...) (ilegível) (...) no
percentual que a lei preceitua.” (fl. 818)
No dia 14.10.2008, o ora requerido THEO BOTELHO
MARÉS DE SOUZA, que havia, 6 (seis) meses antes, expressamente, emitido
parecer em que defendeu que a aplicação da multa de R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais) à empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. era
sensata e atendia aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
inclusive levando em consideração à capacidade econômica da empresa, lançou
novo parecer sugerindo a diminuição da multa de R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais) para R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais):
“(...) No presente procedimento, há que se reconhecer que a
empresa Cattalini possui uma política de prevenção e proteção ao meio ambiente. (...)
considerando que o valor da multa ultrapassa o faturamento anual da empresa,
considerando que se trata de empresa paranaense, que contribui para o crescimento do
Estado e sua cidadania, que não possui máculas em relação à passivos ambientais, com
políticas de prevenção e proteção ambiental, sugiro a redução da multa para R$
5.000.000,00, podendo este valor ser convertido em investimento em projetos para
melhorar a qualidade do litoral paranaense.” (fls. 819-824)
Apresenta-se no mínimo inusitado, nesse particular e
independente das ilegalidades abordadas nos itens seguintes, os requeridos
LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES e THEO BOTELHO MARÉS DE
SOUZA afirmarem que a empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
LTDA. possui uma política de prevenção e proteção ao meio ambiente e sem
antecedentes em infrações ambientais, ao passo que é notório o conhecimento de
processos instaurados em face da aludida empresa em razão do manejo e
transporte de produtos tóxicos sem licença ambiental, inclusive com a ocorrência
de vazamentos de materiais tóxicos, aproximadamente no ano de 1999, no bairro
10
do Rocio, em Paranaguá, e outros vazamentos de produtos mais recentemente
(2006 e 2008) (fls. 909-913).
Em adição a isto, é também de conhecimento do IAP e
da SEMA/PR, eis que consta do próprio processo administrativo que tramitou
nesses órgãos (fl. 195), que a empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
LTDA. foi autuada pelo IBAMA, na data de 17.11.2004 (auto de infração
ambiental nº 307028), por deixar de adotar as medidas exigidas de contenção de
controle e regeneração dos produtos vazados do Navio Vicuña, no acidente do fia
15.11.04, conforme acordado em reunião realizada nos dias 16 e 17 de novembro
de 2004, com os órgãos ambientais, IAP e IBAMA, coordenada pela Defesa Civil
do Paraná, medidas estas não cumpridas que colocaram em risco o meio ambiente
de forma grave, bem como colocar em risco a saúde e bem estar da população dos
Municípios de Paranaguá, Antonina, Guaraqueçaba e Pontal do Paraná.
No dia 27.08.2008, com base no referido parecer, o
então Secretário de Estado, ora requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA
RODRIGUES acatou a sugestão emitida pelo requerido THEO BOTELHO
MARÉS DE SOUZA, reduziu o valor da multa para R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais) e determinou o encaminhamento da deliberação ao Instituto
Ambiental do Paraná para “as providências pertinentes visando a celebração de Termo
de Compromisso, com o fornecimento de projeto ambiental, devidamente avaliado, para a
empresa autuada proceder sua execução” (fl. 825)
Ressalta-se que o requerido LINDISLEY DA SILVA
RASCA RODRIGUES determinou1, para a celebração do termo de compromisso,
a aplicação do Decreto Federal nº 6.514/2008.
Foi juntado o “Termo de Parceria”, assinado, em duas
vias, pelos requeridos LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES (então
1 “(...) Todos os ajuste da execução do projeto ambiental deverão estar presentes no Termo de Compromisso a ser celebrado com a empresa, na forma dos arts. 139 e 140 do Decreto 6.514/2008. (...)”
11
Secretário Estadual do Meio Ambiente), VITOR HUGO RIBEIRO BURKO (então
Diretor Presidente do Instituto Ambiental do Paraná – IAP), e representantes,
respectivamente, da empresa requerida CATTALINI TERMINAIS MARÍTIMOS
LTDA. e do Município de Paranaguá, sendo que um dos termos está sem data e o
outro consta como data a seguinte expressão: “? de julho de 2009” (fls. 840-847). O
referido Termo de Parceria possui o seguinte objeto, constante de sua cláusula
primeira:
“(...) CLÁUSULA PRIMEIRA – DO OBJETO
A presente parceria tem por objeto a implementação e
execução da obra – Aquário Marinho de Paranaguá, com a finalidade de propiciar
alternativas de lazer para população local e para os turistas que frequentam o litoral
paranaense, bem como para a preservação das espécies marinhas do litoral paranaense.
PARÁGRAFO ÚNICO – A obra será executada pela
empresa CATTALINI TERMINAIS MARÍTIMOS LTDA, com os recursos da
conversão da multa ambiental – AIA nº 28263, sob protocolo SID nº 8.631.970-5, objeto
do Termo de Compromisso celebrado com a SEMA/IAP. (...)” (fl. 840)
Merece destaque a cláusula sétima do termo de
compromisso (fls. 844-847), que prevê que a empresa CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA. perde o direito de recorrer administrativamente, ao passo
que o próprio Secretário Estadual do Meio Ambiente, o requerido LINDISLEY
DA SILVA RASCA RODRIGUES já havia consignado expressamente o
esgotamento das vias administrativas para interposição de recurso.
Chamou a atenção, ainda, a constatação, no site do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE)2, do registro de doação de recursos para a
campanha eleitoral do requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES,
então candidato a Deputado Estadual no Estado do Paraná, na quantia de R$
2 www.tse.jus.br.
12
20.000,00 (vinte mil reais), realizada pela empresa requerida CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., na data de 20 de agosto de 2010.
Da só narrativa dos fatos acima descritos, já saltam aos
olhos a prática de atos de improbidade administrativa, com altíssima lesividade
ao patrimônio público.
Desse modo, o Minsitério Público passará a analisar
articuladamente as inúmeras ilegalidades praticadas com a finalidade evidente de
beneficiar a empresa requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA.
em altíssimo prejuízo ao erário.
3. DOS FUNDAMENTOS JURIDÍCOS
3.1. DA VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO
ADMINISTRATIVO - PRECLUSÃO DA DECISÃO
QUE APLICOU A SANÇÃO ADMINISTRATIVA.
O trâmite do processo administrativo de aplicação da
sanção adminitrativa em referência finalizou na data de 12.05.2008, quando o
requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES, na qualidade de
Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, julgou improcedente
o recurso administrativo interposto pela empresa CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA. e determinou a subsistência do auto de infração ambiental e
a manutenção da multa em seu valor integral. (fl. 749).
Veja-se que o próprio requerido LINDISLEY DA
SILVA RASCA RODRIGUES admitiu que estava preclusa, a partir da data de
12.05.2008, qualquer discussão, no âmbito administrativo, sobre a aplicação da
sanção administrativa em comento (multa de cinquenta milhões de reais), eis que,
diante de novo recurso interposto pela empresa CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA., o requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA
RODRIGUES não recebeu esse novo recurso e, por meio do ofício nº 384, de 18 de
13
agosto de 2008, informou à citada empresa que: “(...) não há mais instâncias
administrativas e que a multa ainda não foi recolhida. Assim, determino o
recolhimento integral da multa em 05 (cinco) dias, a contar do recebimento desta,
sob pena de execução judicial.” (fls. 806-807) (grifos nossos)
No entanto, mesmo esgotados ou inexistentes os
recursos contra a decisão administrativa, o que a tornou estável e impassível de
modificação pela Administração, o requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA
RODRIGUES decidiu, em afronta ao instituto da preclusão administrativa, rever
a decisão que determinava a subsistência do auto de infração ambiental e a
manutenção da multa em seu valor integral.
Importante observar que o requerido THEO
BOTELHO MARÉS DE SOUZA, em depoimento prestado na Procuradoria da
República, admitiu que “o parecer foi pela minoração da multa e não foi baseado na
redução prevista no art. 60 do decreto 3179/99, mas sim para uma revisão do valor
aplicado (...)” (fl. 77), o que corrobora que se tratou de uma afrontosa lesão ao
instituto da preclusão administrativa.
HELY LOPES MEIRELLES leciona que a preclusão da
decisão administrativa impede que a própria Administração se retrate ou a
modifique de alguma forma após exauridos os meios de impugnação
administrativa:
“Realmente, o que ocorre nas decisões administrativas finais
é, apenas, preclusão administrativa, ou a irretratabilidade do ato perante a própria
Administração. É sua imodificabilidade na via administrativa, para estabilidade das
relações entre as partes. Por isso, não atinge nem afeta situações ou direitos de terceiros,
mas permanece imodificável perante a Administração e o administrado destinatário da
decisão interna do Poder Público. (…) Essa imodificabilidade não é efeito da coisa julgada
administrativa, mas é conseqüência da preclusão das vias de impugnação interna (recursos
administrativos) dos atos decisórios da própria Administração. Exauridos os meios de
14
impugnação administrativa, torna-se irretratável, administrativamente”.
Ainda no tema da preclusão administrativa, ADA
PELEGRINI GRINOVER adiciona importante esclarecimento para afastar
eventual alegação da prerrogativa da Administração em rever os seus próprios
atos nos casos legalmente autorizados:
“Nem se diga que o princípio da revisão, pela Administração,
de seus próprios atos, por conveniência e oportunidade, autorizaria a Administração a
rever as decisões já cobertas pela preclusão, fora dos casos expressamente previstos. Não
pode o órgão da Administração, após a preclusão administrativa, rever suas
decisões. Isso vulneraria o próprio processo administrativo, que fixa um
procedimento a ser rigorosamente observado e desmoralizaria as decisões finais
da própria Administração.”3 (grifos nossos)
Traz-se à baila, ainda, o autorizado magistério
doutrinário de SÉRGIO FERRAZ e ADILSON ABREU DALLARI sobre a
preclusão no processo administrativo:
“Parece-nos hoje inadmissível qualquer tentativa de rejeição
à ideia de preclusão – e incidente para todos os personagens envolvidos - no processo
administrativo, em razão da consagração constitucional de existência desse (e, pois, de seu
conceito), no mesmo tope do processo judicial, como instrumento de defesa de direitos e
interesses. Em suma, a "processualização" da atividade administrativa implica
um tratamento sério, de boa-fé, responsável e equânime, o que não se perfaz sem a
aceitação da ideia uniforme de preclusão.”4 (grifos nossos)
Verifica-se, assim, que, independentemente das
múltiplas outras ilegalidades expostas a seguir, a revisão da decisão
3 GRINOVER, Ada Pellegrini. A atividade administrativa em face do sistema constitucional. Osasco-SP: Edifieo, 2010. 64 p. 4 Processo Administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 2001, p. 42.
15
administrativa, que já havia sido atingida pela preclusão, lesa frontalmente, por
si só, os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade e moralidade.
Isto sem adentrarmos, ainda, na constatação de que houve “renúncia” indevida e
deliberada de cobrança da empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
LTDA. de verba pública destinada à finalidade ambiental no quantum de R$
45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de reais) (quantia não atualizada
monetariamente).
3.2. DA ILEGALIDADE DA CONVERSÃO DA
MULTA ADMINISTRATIVA -
INTEMPESTIVIDADE/PRECLUSÃO DE SUA
APLICAÇÃO.
Vimos que, no dia 27.08.2008, o requerido LINDISLEY
DA SILVA RASCA RODRIGUES acatou a sugestão do requerido THEO
BOTELHO MARÉS DE SOUZA e, em claro desrespeito ao instituto da preclusão
administrativa, alterou a fixação da multa administrativa aplicada à requerida
CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. de R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais) para R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) e determinou o
encaminhamento da deliberação ao Instituto Ambiental do Paraná para “as
providências pertinentes visando a celebração de Termo de Compromisso, com o
fornecimento de projeto ambiental, devidamente avaliado, para a empresa autuada proceder
sua execução” (fl. 825)
Assim, o beneficiamento ilegal da empresa requerida
CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., que já havia ocorrido uma vez
por meio da indevida revisão de decisão administrativa preclusa e da “renúncia”
da cobrança de ao menos R$ 45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de reais) em
prol do erário público, acontece novamente, já que não houve a exigência de
imediato recolhimento da multa administrativa reduzida, qual seja a quantia de
R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), devidamente atualizada, ao Fundo
16
Estadual do Meio Ambiente, conforme previsão do artigo 2º, inciso III, da Lei
Estadual nº 12.945/20005, e sim a aplicação ilegal do instituto da conversão da
multa administrativa para a construção de um aquário marinho.
Deve-se observar que o requerido LINDISLEY DA
SILVA RASCA RODRIGUES determinou, para a celebração do termo de
compromisso, a aplicação do Decreto Federal nº 6.514/2008, que dispõe sobre as
infrações e sanções administrativas ao meio ambiente e o processo administrativo
de apuração destas infrações:
“(...) Todos os ajuste da execução do projeto ambiental
deverão estar presentes no Termo de Compromisso a ser celebrado com a empresa, na forma
dos arts. 139 e 140 do Decreto 6.514/2008. (...)”. (fl. 825)
O Decreto Federal nº 6.514/2008 prevê, em seu artigo
139, a faculdade6 da autoridade ambiental em converter a multa simples aplicada
em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio
ambiente, nas hipóteses e de acordo com os requisitos existentes nos disposivos
legais subsequentes.
No entanto, um destes requisitos é a expressa vedação
da conversão de multa após o julgamento do auto de infração ambiental. O artigo
142 do Decreto Federal nº 6514/2008 estatui que a oportunidade processual do
infrator para requerer a conversão da multa é a data final para a apresentação da
defesa administrativa:
“Art. 142. O autuado poderá requerer a conversão de
multa de que trata esta Seção por ocasião da apresentação da defesa.” (grifos
5 Art. 2º - Constituem recursos do Fundo Estadual do Meio Ambiente - FEMA: (...) III - produto das multas administrativas e sanções judiciais por infrações às normas ambientais, bem como os valores decorrentes de condenações em ações civis públicas disciplinadas pela Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985, relativas a questões ambientais; 6 Art. 145. (...) § 1º A decisão sobre o pedido de conversão é discricionária, podendo a administração, em decisão motivada, deferir ou não o pedido formulado, observado o que dispõe o
17
nossos)
Corroborando a existência de prazo preclusivo para
requerimento de conversão de multa, o artigo 145 do mesmo diploma legal prevê
que:
“Por ocasião do julgamento da defesa, a autoridade
julgadora deverá, numa única decisão, julgar o auto de infração e o pedido de
conversão da multa.” (grifos nossos)
CURT TRENNEPOHL, em seu livro que trata
especificamente dos comentários ao Decreto Federal nº 6.514/2008, aborda o
dispositivo em referência e afirma que:
“o requerimento da conversão de multa deverá ser
protocolado por ocasião da apresentação da defesa, portanto no prazo de vinte
dias após a ciência da autuação. Temos, assim, que qualquer processo em
tramitação em que não tenha sido requerida a conversão neste prazo, o pedido
deve ser indeferido de plano, por intempestivo.” 7 (grifos nossos)
Primeiro, deve-se ressaltar que a previsão legal de um
prazo máximo para a aplicação desse instituto da conversão da multa pelo órgão
público ambiental competente é um requisito de natureza objetiva e que, portanto,
a sua observância não se submete à conveniência e oportunidade do órgão público
ambiental.
Segundo, essa previsão legal não se trata de mera
formalidade, pois traz consigo a necessidade de atendimento concomitante de
diversos requisitos, dentre eles a renúncia ao direito de recorrer
administrativamente (artigo 146, § 1º, do Decreto nº 6.514/2008) e o
art. 141. 7 TRENNEOHL, Curt. Infrações contra o Meio Ambiente- Multas, Sanções e Processo Administrativo. 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2009. p. 459.
18
reconhecimento do infrator a respeito de sua responsabilidade pelo dano
ambiental. Tanto é assim que a Instrução Normativa IBAMA, nº 14/2009, prevê,
no âmbito do termo de compromisso decorrente da conversão da multa, que:
“Art. 82 Além das cláusulas obrigatórias, os termos de
compromisso deverão conter as seguintes cláusulas: I - renúncia ao direito de recorrer
administrativamente; II - confissão de autoria, materialidade e extensão do dano; III -
renúncia a eventuais prazos prescricionais.”
Terceiro, admitir a aplicação do instituto da conversão
de multa após o referido prazo legal denota absoluto descaso em relação ao
próprio processo de responsabilização administrativa, já que importa na
concessão ilegal e imoral de benefício indevido a determinados infratores
“escolhidos” pelos representantes dos órgãos públicos ambientais, ao passo que
diversos outros infratores ambientais que tiveram os seus autos de infração
ambiental julgados e esgotadas a vias administrativas para a sua impugnação, ou
efetuaram a quitação das multas ou foram compelidos ao seu pagamento por
meio de ações judiciais de execução.
Quarto, admitir a aplicação do instituto da conversão
de multa após o referido prazo legal denota absoluto descaso em relação ao
próprio processo de responsabilização administrativa, pois também significa
evidente estímulo ilegal aos infratores em optar pelo caminho da conversão em
multa simples tão somente após esgotados os meios administrativos para o
questionamento desta multa.
Assim, resta claro que os princípios da administração
pública foram, no caso em tela, deliberadamente violados, em especial os
princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade.
3.3. DA ILEGALIDADE DA CONVERSÃO DA
MULTA ADMINISTRATIVA - AUSÊNCIA DE
PRÉVIA REPARAÇÃO E/OU INDENIZAÇÃO
19
PELOS DANOS AMBIENTAIS ORIUNDOS DA
EXPLOSÃO DO NAVIO “VICUÑA”.
Além da flagrante ilegalidade da revisão de decisão
administrativa já preclusa e da celebração de termo de compromisso de conversão
de multa ambiental de modo intempestivo, verifica-se que o Decreto Federal nº
6.514/2008 e a Portaria do IAP nº 211/2008 vedam a aludida conversão de multa
na hipótese de ausência de prévia reparação e/ou indenização pelos danos
ambientais promovidos, quando esta reparação e/ou indenização se apresentam
possíveis.
O Decreto Federal nº 6.514/2008 estatui, em seu artigo
142, que “autuado poderá requerer a conversão de multa de que trata esta Seção por
ocasião da apresentação da defesa” e, em seu artigo 143, § 2º, que “independentemente
do valor da multa aplicada, fica o autuado obrigado a reparar integralmente o dano que
tenha causado”.
A Portaria do IAP nº 211/2008, por sua vez, ao
colacionar o conceito de conversão de multa, em seu artigo 2º, inciso III, diz que é
a “transformação da multa pecuniária em prestação de serviços e/ou promoção de
capacitação de servidores do IAP e/ou de instituições conveniadas, de atividades
de pesquisas científicas, licenciamento, fiscalização e monitoramento ambiental,
quando não for possível a recuperação ou a indenização ambiental, podendo o
serviço ser executado de forma direta ou indireta, mediante o custeio de projetos ambientais
e/ou conforme plano de aplicação aprovado pela Câmara de Avaliação de Projetos e Planos
de Aplicação de Conversão de Multa”. (grifos nossos)
Nesta mesma toada, a referida Portaria corrobora, para
a conversão de multa administrativa, a obrigatoriedade da reparação do dano
ambiental quando há comprovação técnica de sua possibilidade, ou da
20
compensação ambiental, em seus artigos 11 e 128:
“Art. 11. A reparação do dano ambiental é obrigatória
para fins de autorizar a conversão de multa administrativa em serviços de
preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, e será exigida sempre
que tecnicamente comprovada a possibilidade de sua realização pelo IAP.
Art. 12. A compensação ambiental será exigida do
interessado, para fins de conversão de multa administrativa em serviços de
preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente quando tecnicamente
comprovada pelo IAP a impossibilidade da recuperação do dano ambiental ou do
ambiente degradado, podendo ser realizada em local diverso da ocorrência do dano
ambiental ou do ambiente degradado.”
A Resolução nº 65/2008 do Conselho Estadual do Meio
Ambiente do Paraná (CEMA/PR), por sua vez, define termo de compromisso, em
seu artigo 1º, inciso XII, como o “instrumento pelo qual o causador de infração
administrativa ambiental compromete-se a adotar medidas específicas determinadas pelo
órgão ambiental de forma a reparar e fazer cessar os danos causados ao meio
ambiente”. (grifos nossos)
O que se verifica, no entanto, é que os danos
ambientais promovidos a partir da explosão do navio Vicunã, e que são de grande
monta e complexidade, ainda não foram, até a presente data, devidamente
reparados e/ou indenizados pelos responsáveis, tanto que tramita na subseção
judiciária da Justiça Federal de Paranaguá a ação civil pública nº
8 Art. 11. A reparação do dano ambiental é obrigatória para fins de autorizar a conversão de multa administrativa em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, e será exigida sempre que tecnicamente comprovada a possibilidade de sua realização pelo IAP. Art. 12. A compensação ambiental será exigida do interessado, para fins de conversão de multa administrativa em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente quando tecnicamente comprovada pelo IAP a impossibilidade da recuperação do dano ambiental ou do ambiente degradado, podendo ser realizada em local diverso da ocorrência do dano ambiental ou do ambiente degradado.
21
2005.70.08.000973-6, que busca, além da limpeza e recuperação da Baía de
Paranaguá e dos ecossistemas adjacentes, a indenização pelos danos ambientais
causados.
Nesse particular, cumpre ressaltar que, recentemente,
na data de 26 de setembro de 2012, em relação aos referidos autos de ação civil
pública, realizou-se audiência de tentativa de conciliação no Juízo Federal da
subseção judiciária de Paranaguá, com a participação, dentre outros, da empresa
requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. e do Instituto
Ambiental do Paraná, tendo sido deliberado que:
“(...) 2. O IAP e o IBAMA comprometem-se a apresentar, no
prazo de 180 (cento e oitenta) dias, um estudo sobre a área ambiental descrita na inicial,
consistente em um diagnóstico com vistas a eventual elaboração de um Plano de
Recuperação da Área Degradada pelo evento noticiado na inicial, apurando as eventuais
medidas a serem adotadas para implementar a recuperação da área degradada pelo acidente
descrito na inicial, caso seja necessário. (...)” (fls. 914-919)
Isto demonstra, mais uma vez, que ainda não houve a
reperação integral do dano ambiental, com a total reconstituição dos bens lesados
e indenização e compensação pelos danos ambientais causados.
Interessante observar que o próprio termo de
compromisso de conversão da multa administrativa celebrado entre o Instituto
Ambiental do Paraná, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e a empresa
requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. reconhece que há
dano ambiental a ser recuperado:
“(...) CLÁUSULA SEXTA – DO INADIMPLEMENTO
O não cumprimento parcial ou integral das obrigações
assumidas na cláusula quarta sujeitará o COMPROMISSÁRIO ao pagamento de multa
no valor de R$ 5.000.000,00 (milhões de rais), sem prejuízo do pagamento da multa
22
administrativa originalmente imposta pelo auto de infração lavrado e da recuperação do
dano ambiental causado.(...)” (grifos nossos). (fls...)
Veja-se, ainda, que o relatório emitido pelo Instituto
Ambiental do Paraná, na data de 10 de novembro de 2006 (fls. 920-939), referente
ao monitoramento das áreas afetadas por hidrocarbonetos provenientes do
acidente com o navio Vicuña, apontava a persistência da situação de
contaminação de mangues e ecossistemas marinhos:
“Ilha da Cotinga (...) Situação atual: sendo constatado a
permanência de óleo no ambiente, com uma camada de 5 a 10 cm no solo. (...) O óleo
atingiu as raízes dos mangues, acumulando-se na forma de placas entre a vegetação, e
sobre o tronco e raízes. A principal área atingida foi a praia de areia, entre marés, onde
grande quantidade de óleo se infiltrou no sedimento. (...) Situação atual: Verificou-se
grande quantidade de placas de piche acumuladas nas áreas de manguezal, sendo que
devido à ação da maré as mesmas estão se depreendendo em pequenas pelotas, sendo
depositadas na praia. (...)
Ilha das Peças (...) O óleo atingiu mangues e marismas,
acumulando-se na forma de placas entre a vegetação, e sobre troncos e raízes. Em alguns
pontos isolados ocorreu um alto grau de contaminação (...) Situação atual: Constatou-se a
existência de placas de piche no meio dos marismas e entre o manguezal em
desenvolvimento, com grande volume se desprendendo e sendo depositado nas praias. (...)
Uma camada de óleio recobriu a maior parte das piçarras existentes ao longo da praia. (...)
3. CONCLUSÃO
Conforme o registro efetuado através de material fotográfico
e das constatações “in loco”, podemos dizer que a permanência de hidrocarboneto é um
fato real nas áreas cujo grau de contaminação foi alto. Nos ambientes frágeis
(marismas e mangue) onde não ocorreu nenhum tipo de intervenção, verificamos áreas
de marismas mortos e fato igual ocorrendo com árvores de mangue, a presença de
placas e pelotas de piche que se desprendem dessas áreas causam não só poluição
23
visual, como também transtornos aos usuários dessas áreas, entretanto nas áreas de
marismas que sofreram poda e lavagem constatou-se recuperação significativa. No ponto 3-
A considerado o mais impactado, no qual desenvolvia-se atividade de limpeza com lavagem
e teve seus trabalhos encerrados em 11/07/2005 por determinação do representante da
Seguradora do P&I, podemos fazer um comparativo e constatação, pois as áreas que
sofreram intervenção encontram-se totlamente limpas sem poluição visual e
principalmente já habitadas por diversos organismos inerentes ao meio; todavia, as outras
que apenas sofreram limpeza superficial sem remoção de pedras e até aquelas que não
sofreram nenhum tipo de lavagem (ficando no aguardo da ação de limpeza natural através
das marés de sizígia), constatou-se a presença razoável de óleo viscoso sob seixos e
praias arenosas, áreas que são fontes crônicas de contaminação ao ambiente, pois
é visível o desprendimento de óleo e a permanência de filmes sobre a água.
Concluímos que as áreas onde foram constatadas placas e
pelotas de piche poderiam sofrer ação de limpeza manual sem agressão ao meio, já o Ponto
3-A deverá ser monitorado semestralmente para fins de avaliação do tempo de permanência
do hidrocarboneto no meio ambiente, atividades de limpeza não são mais indicadas, pois
devido a situação atual, óleo sob uma camada de 5 a 10 cm no solo, qualquer ação nesse
momento seria prejudicial, infelizmente essa área servirá como fonte de estudo,
preparando-nos para futuras ações que por ventura venham ocorrer.” (fls. 920-939)
O que facilmente se verifica, a partir da análise do
referido relatório técnico (que, diga-se de passagem, é o ultimo relatório emitido
pelo IAP sobre o aludido evento danoso), é a ocorrência de um mero trabalho de
limpeza das áreas afetadas e contaminadas, com o intuito de mitigar as
consequências desastrosas dos danos ambientais promovidos. Em outras palavras,
não há como se confundir os trabalhos emergenciais de limpeza e contenção da
poluição com a noção de reparação do dano ambiental, consubstanciada pela
reconstituição dos bens lesados E pela indenização/compensação.
Ora, de modo inconcebível e flagrantemente lesivo à
legislação ambiental e à probidade administrativa, o citado termo de compromisso
24
de conversão de multa foi celebrado, nada obstante a reparação do dano
ambiental nunca tenha sido promovida até a presente data.
Nessa toada, importante destacar que o dano ambiental
possui caráter complexo e dinâmico e não deve ser visto sob um enfoque
simplificado, mas sim multidisciplinar, de modo a se abordar os seus efeitos e
conseqüências no ambiente em sua totalidade (inclusive sociais) e a se contemplar
os aspectos espaciais e temporais, pois a degradação ambiental pode ter efeitos
acumulativos. Adicionando-se a isto, a reparação integral do dano ambiental
decorre de comando da Constituição Federal de 1988, da legislação ambiental
infraconstitucional e dos princípios do direito ambiental, e deve contemplar não
somente a obrigação de reconstituição do bem lesado, mas também obrigação de
indenização, sob pena de não cumprimento de sua função constitucional de
preservação ambiental e responsabilização dos seus infratores. Álvaro Luiz Valery
Mirra argumenta que “se os lucros visados e obtidos pelo empreendedor não são
limitados, porque razão a reparação dos danos por ele causados seria, com transferência
definitiva de parte dos prejuízos e dos custos de recomposição à sociedade?”9
Repita-se: a reparação integral de graves danos
ambientais causados à flora, à fauna, aos recursos hídricos, ao ecossistema
marinho, unidades de conservação e outros, não pode ser resumida ou
identificada com meros trabalhos de contenção e minimização da contaminação
promovida.
Independentemente das ilegalidades apontadas nos
itens 3.1 e 3.2 o que por si só fulminam de nulidade a revisão da decisão
administrativa e a celebração de termo de conversão de multa administrativa, vê-
se que, em relação aos gravíssimos danos ambientais promovidos por ocasião da
explosão do navio Vicuña, a assunção da obrigação, pelo infrator, no caso a
empresa requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., de
9 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação Civil Pública e reparação do dano ao meio ambiente. São
25
reparação integral do dano ambiental, trata-se de pressuposto indispensável
para o exercício da faculdade de conversão de multa administrativa ambiental
em serviços de preservação, melhoria e recuperação de qualidade ambiental.
Contudo, esse pressuposto indispensável também não foi observado, o que reitera
a ilegalidade e imoralidade da pretensa composição celebrada pelas partes.
Verifica-se, ademais, que o IAP e a SEMA/PR, durante
todo o trâmite do procedimento administrativo de autuação da empresa Cattalini,
defendeu o dever legal de cobrança integral do valor de cinquenta milhões de
reais pela multa aplicada. Mais do que isso, conforme já foi demonstrado, a
própria Procuradoria Jurídica do Instituto Ambiental do Paraná defendeu a
IMPOSSIBILIDADE de celebração de termo de compromisso com redução de
multa em relação ao mesmo evento e aos mesmos danos ambientais ora
discutidos, em pleito formulado pela empresa Synteko Produtos Químicos S/A10,
também autuada em razão do mesmo evento (danos ambientais decorrentes da
explosão do navio Vicuña):
“(...) no tocante a lavratura de termo de compromisso
nos moldes que o requerente pleiteia, é impossível de ser realizada. A aplicação do
artigo 60, parágrafo 3º do Decreto Federal nº 3.179/99, pode ser feita quanto o
evento danoso é passível de ser revertido ou minimizado os seus efeitos, o que por
evidente não é o caso em discussão. Dessa maneira opinamos novamente pela
manutenção do AIA em sua íntegra e salientamos que esses pedidos de
esclarecimentos têm o único condão de atrasar os trâmites administrativos
relativos ao processo de autuação.” (grifos nossos) (fls. 154-155)
Isto demonstra, por mais uma vez, a quão escancarada
é a afronta aos princípios da administração pública pelos requeridos, notadamente
ao princípio da impessoalidade.
Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 296. 10 AIA Nº 55907 – Protocolo do IAP nº 8.632.146-7;
26
3.4. DA ILEGALIDADE E IMORALIDADE DA
CONVERSÃO DA MULTA ADMINISTRATIVA EM
BENS NOS MOLDES EFETUADOS PELOS
REQUERIDOS. DO DESRESPEITO À LEI DE
LICITAÇÕES (LEI Nº 8.666/93).
Outra ilegalidade presente e indubitável – cuja
conclusão se chega com uma singela análise dos fatos acima expostos – é o
desrespeito à Lei de licitações (Lei nº 8.666/93) e o conseqüente enriquecimento
ilícito de terceiros.
Como é cediço, “as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública” (art. 37, XXI,
da Constituição da República e art. 2º, caput, da Lei nº 8.666/93), cujo objetivo é
“garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta
mais vantajosa para a Administração” (art. 3º da Lei 8.666/93).
Assim, a regra para as obras, serviços, compras e
alienações da Administração é a realização de procedimento licitatório, que só não
deve ocorrer nos casos devidamente especificados em lei própria. O Instituto
Ambiental do Paraná e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, como órgãos da
administração, estão perfeitamente sujeitos a tais regras (art. 1º, § único, da Lei nº
8.666/93).
Não obstante isso, os requeridos LINDISLEY DA
SILVA RASCA RODRIGUES e VITOR HUGO RIBEIRO BURKO, na condição
de Secretário Estadual do Meio Ambiente e Diretor-Presidente do Instituto
Ambiental do Paraná, respectivamente, celebraram termo de compromisso de
conversão de multa administrativa com a empresa CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA., com a previsão de que esta, com o dinheiro da aludida
multa (dinheiro público), custearia a construção do aquário marinho em
Paranaguá. Despiciendo dizer que a circunstância na qual foi este bem construído
27
e obtido não consta da lei como exceção à regra de obrigatoriedade da licitação.
Aliás, sempre é bom ressaltar, o procedimento adotado pelos requeridos
LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES e VITOR HUGO RIBEIRO
BURKO subverte o iter legalmente previsto.
A obra do aquário marinho foi realizada pela empresa
requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. na forma de dação em
pagamento. Nela, “a ação de dar tem a função de extinguir a obrigação, que devia ser
cumprida por outra prestação, que não é a que se constitui pela dação” (Vocabulário
Jurídico, vol. II, D. I, De Plácido e Silva, editora Forense, 2ª edição, p. 1). Assim, o
valor utilizado para a construção do aquário marinho, supostamente R$
5.000.000,00 (cinco milhões de reais), foi descontado do valor da multa, havendo,
assim, verdadeira disposição do patrimônio público para a execução de obra
pública, sem a devida submissão a procedimento licitatório.
É fácil perceber a burla à obrigatoriedade de licitação
quando consideramos que, conquanto a obra pública do aquário marinho na qual
foi convertida a multa tenha sido aparentemente custeada com dinheiro da
empresa infratora, ou seja dinheiro particular da requerida CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., foi o erário que verdadeiramente arcou com
seu custo. Ao valor desembolsado pelos infratores correspondeu a extinção do
débito pecuniário consubstanciado na referida multa administrativa. Assim, foi o
valor da multa (dinheiro público) que, em última instância, financiou a construção
do aquário marinho.
Desta forma, a conversão da referida multa
administrativa de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) em bens e serviços “sob a
forma de dação em pagamento” decorrente da celebração de “Termo de Compromisso”
entre a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Instituto Ambiental do Paraná e a
empresa requerida CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. para que
esta, com esse valor que integra o erário público, contratasse e pagasse empresas
28
para a construção do aquário marinho de Paranaguá, importou em patente afronta
à obrigatoriedade legal do procedimento licitatório.
De um lado, fere a isonomia das
empreiteiras/prestadoras de serviços, substituída pela escolha arbitrária destas.
De outro, permite que as obras públicas sejam contratadas por valor superior ao
que se poderia obter em processo licitatório – afinal, o valor da obra pública do
aquário marinho foi descontado do total que seria pago a título de multa
administrativa.
Novamente CURT TRENNEPOHL, ao tratar do
instituto da conversão da multa administrativa prevista no Decreto Federal nº
6.514/2008, alerta o indispensável respeito à lei das licitações:
“(...) É uma visão distorcida achar possível que o
autuado aplique diretamente parte dos recursos da multa em programas ou
projetos desenvolvidos por entes públicos, pois os valores despendidos a qualquer
título com essas atividades devem seguir a lei das licitações e contratações da
administração pública. O Decreto nº 6.514/08 não revogou as disposições da Lei
nº 8.666/93 e é esta última que estabelece as formas possíveis de aquisição de bens
ou contratação de serviços.
Por outro lado, pretender que os valores devidos aos
órgãos públicos em razão da aplicação de sanções pecuniárias sejam pagos
diretamente pelo autuado/devedor na aquisição de bens ou serviços de interesse
da administração, para execução de seus projetos ou atividades, parece-nos
caracterizar grave afronta às normas específicas que regem a matéria.
Quanto à manutenção de espaços públicos que tenham
por objetivo a preservação do meio ambiente manifesta-se a mesma
impossibilidade jurídica em razão da Lei nº 8.666/93, que exige a mensuração dos
custos, o prévio empenho da despesa, a concorrência entre os interessados em
executar o serviço, a contratação na forma estabelecida e todas as demais
29
exigências que se apresenta.
Note-se que após o julgamento final da autuação, as
multas administrativas passam a ser exigíveis, mediante os mecanismos de
cobrança postos à disposição da Administração, o que sujeita os recursos
financeiros auferíveis ao mesmo tratamento que os recursos públicos em geral.
(...)
Digamos, apenas para finalizar a argumentação, que
determinado órgão ambiental pretende desenvolver um programa de educação
ambiental móvel, para o qual necessita adquirir um veículo especial, um micro-
ônibus, dotado de equipamentos audiovisuais e outros instrumentos de
comunicação. Se fosse adquirir o referido veículo com recursos públicos,
certamente precisaria seguir toda a tramitação e as cautelas da Lei nº 8.666/93.
Transformando a multa pecuniária num serviço ambiental, o autuado adquiriria
o veículo acima citado, com todos os equipamentos e teria, em contrapartida,
reduzido o valor despendido do seu débito com o órgão ambiental,
No entanto, por não estar o autuado sujeito às regras
da licitação, não seria obrigado a exigir os certificados de regularidade fiscal,
trabalhista e social do vendedor, nem a promover a publicidade da intenção de
comprar, assim como a nenhuma outra exigência prevista para o órgão público.
Isto nos parece, clara e inequivocamente, uma fraude contra o instituto da
licitação e da contratação pela administração pública.” 11 (grifos nossos)
4. DOS ATOS DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA
4.1. DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE CAUSAM
PREJUÍZO AO ERÁRIO (art. 10, caput e incisos I e
11 TRENNEOHL, Curt. Infrações contra o Meio Ambiente- Multas, Sanções e Processo Administrativo. 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2009. p. 457-458 .
30
VII, da Lei n. 8.429/92).
A Constituição República impõe a todas as pessoas que
compõem a administração pública a submissão aos “princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” (CF, art. 37, caput).
Do princípio da legalidade e da moralidade decorre,
também, o princípio da probidade administrativa, que tem o seguinte sentido,
conforme lição de Wallace Paiva Martins Júnior, verbis:
“A adoção do princípio da probidade administrativa no
ordenamento jurídico valoriza a implementação prática do princípio da moralidade
administrativa, conferindo à Nação, ao Estado, ao povo, enfim, um direito público
subjetivo a uma Administração Pública proba e honesta (e a ter agentes públicos com essas
mesmas qualidades), através de meios e instrumentos preventivos e repressivos (ou
sancionadores) da improbidade administrativa. O princípio da probidade administrativa
colabora para o direito administrativo na diminuição da insindicabilidade do ato
administrativo discricionário, para o estabelecimento de uma Administração Pública mais
eficiente, na medida em que se dirige à consecução da noção de bem e melhor administrar
(da escolha dos meios mais adequados, coerentes e proporcionais para a satisfação de seus
fins e alcance do interesse público).”12
Em atendimento ao princípio da probidade
administrativa, o legislador infraconstitucional editou a Lei n. 8.429/92 (Lei da
Improbidade Administrativa) que tipificou os atos de improbidade
administrativa, dividindo-os em: a) atos de improbidade administrativa que
importam enriquecimento ilícito (art. 9º); b) atos de improbidade administrativa
que causam prejuízo ao erário (art. 10º); e c) atos de improbidade administrativa
que atentam contra os princípios da administração pública (art. 11º).
12 JÚNIOR, Wallace Paiva Martins. Probidade Administrativa. 2ª ed., págs. 100/101.
31
Na espécie, o requerido LINDISLEY DA SILVA
RASCA RODRIGUES, na qualidade de Secretário Estadual do Meio Ambiente,
por ação e omissão, praticou atos ilegais que ensejaram a perda patrimonial ao
erário e o enriquecimento ilícito de terceiros. Por ação, em razão de
indevidamente rever decisão administrativa já preclusa para reduzir o valor da
multa administrativa aplicada à empresa CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA. de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) para R$
5.000.000,00 (cinco milhões de reais), bem como em virtude de conceder à referida
empresa o benefício da conversão da multa administrativa em absoluta afronta
à legislação ambiental, e, por fim, por burlar a exigência legal de procedimento
de licitação para a contratação de obra com dinheiro público. Por omissão, em
razão de ter deixado de adotar as providências necessárias para a inscrição em
dívida ativa da quantia de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), fixado
em decisão que não mais comportava recurso ou discussão no âmbito
administrativo, e em relação à qual a empresa CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA. já havia sido notificada para pagamento por meio do citado
ofício nº 384, de 18 de agosto de 200813. A perda patrimonial ao erário se mostrou
evidente, pois se não fosse a conduta do requerido LINDISLEY DA SILVA
RASCA RODRIGUES, teria sido procedida a inscrição em dívida ativa de R$
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais – valor não atualizado), e teria ocorrido
o pagamento voluntário pela empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
LTDA. ou a propositura de ação de execução fiscal, tendo como destino dos
valores o Fundo Estadual do Meio Ambiente. A perda patrimonial se apresentou
pela segunda vez, em razão da ilegal conversão de multa administrativa e,
portanto, o não recolhimento da multa de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais –
valor não atualizado) ao Fundo Estadual do Meio Ambiente. Por fim, a perda
patrimonial se apresentou pela terceira vez, eis que houve a destinação de
13 “(...) Por fim observo que não há mais instâncias administrativas e que a multa ainda não foi recolhida. Assim, determino o recolhimento integral da multa em 05 (cinco) dias, a contar do recebimento desta, sob pena de execução judicial.” (fls. 806-807)
32
dinheiro público para a construção de obra pública sem a realização de
procedimento licitatório.
Consequentemente, parelelamente ao enriquecimento
ilícito da(s) empresas contratadas para o projeto e execução da obra do aquário
marinho de Paranaguá, já que houve burla à obrigatoriedade de licitação, o
enriquecimento ilícito da empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
LTDA. também se fez presente, uma vez que esta empresa, que deveria efetuar o
pagamento de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais – valor não
atualizado) em favor do Fundo Estadual do Meio Ambiente ou embargar a ação
de execução fiscal que já deveria ter sido proposta, comprometeu-se a custear a
construção de um aquário marinho no valor máximo de R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais).
Assim, perfeitamente subsumida está a conduta do
requerido LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES nos atos de
improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário, previstos pelo art. 10,
caput e incisos I e VII, da Lei de Improbidade Administrativa:
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa
que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei; (...)
VII – conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou
33
dispensá-lo indevidamente; (...)
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro
se enriqueça ilicitamente; (...)”
O requerido THEO BOTELHO MARÉS DE SOUZA,
no exercício da função de assessor jurídico da SEMA/PR, concorreu para a prática
dos aludidos atos de improbidade administrativa, nos termos do artigo 3º da Lei
nº 8.429/92, por meio do relevante auxílio prestado ao requerido LINDISLEY DA
SILVA RASCA RODRIGUES para a indevida revisão de decisão administrativa
já preclusa e para a celebração ilegal de termo de compromisso de conversão da
multa administrativa. Ressalta-se que o requerido THEO BOTELHO MARÉS DE
SOUZA não somente alterou radicalmente o teor do seu parecer jurídico anterior,
emitido 6 (seis) meses antes, em que havia defendido que a aplicação da multa de
R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) à empresa CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. era sensata e atendia aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, inclusive levando em consideração à
capacidade econômica da empresa, como lançou informações enganosas, tais
como a de que a citada empresa “não possui máculas em relação à passivos ambientais”
(fl. 824). Veja-se que, em relação ao requerido THEO BOTELHO MARÉS DE
SOUZA, não se imputa a prática de ato de improbidade administrativa em
virtude da emissão de um parecer de caráter opinativo, mas sim em razão da sua
significativa contribuição intencional para a indevida revisão de decisão
administrativa preclusa com o propósito de beneficiar a empresa CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA..
Por sua vez, o requerido VITOR HUGO RIBEIRO
BURKO, na qualidade de então Diretor Presidente do Instituto Ambiental do
Paraná, por ação e omissão, também praticou atos ilegais que ensejaram a perda
patrimonial ao erário e o enriquecimento ilícito de terceiros. Por ação, em virtude
de conceder à referida empresa o benefício da conversão da multa
34
administrativa em absoluta afronta à legislação ambiental, e por burlar a
exigência legal de procedimento de licitação para a contratação de obra com
dinheiro público. Por omissão, em razão de ter deixado de adotar as providências
necessárias para a inscrição em dívida ativa da quantia de R$ 50.000.000,00
(cinquenta milhões de reais), fixado em decisão que não mais comportava recurso
ou discussão no âmbito administrativo, e em relação à qual a empresa
CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. já havia sido notificada para
pagamento por meio do citado ofício nº 384, de 18 de agosto de 200814.
Nesse ponto, houve uma adesão do requerido VITOR
HUGO RIBEIRO BURKO à conduta do requerido LINDISLEY DA SILVA
RASCA RODRIGUES, eis que aquele se manteve inerte diante da flagrante
ilegalidade e imoralidade da revisão da decisão administrativa preclusa e, em
conjunção de vontades com este, aplicou indevidamente o instituto da conversão
da multa administrativa e, ainda, participou da burla à lei de licitações. A perda
patrimonial ao erário se mostrou evidente, pois se não fosse essa apontada adesão,
teria sido procedida a inscrição em dívida ativa de R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais – valor não atualizado), e teria ocorrido o pagamento voluntário
pela empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. ou a propositura
de ação de execução fiscal, tendo como destino dos valores o Fundo Estadual do
Meio Ambiente. A perda patrimonial se apresentou pela segunda vez, em razão
da ilegal conversão de multa administrativa, da qual foi da mesma forma
proponente o requerido VITOR HUGO RIBEIRO BURKO e, portanto, o não
recolhimento da multa de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais – valor não
atualizado) ao Fundo Estadual do Meio Ambiente, agravado pelo fato de ter sido
desrespeitada a exigência de procedimento licitatório. Consequentemente, o
enriquecimento ilícito da empresa CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS
14 “(...) Por fim observo que não há mais instâncias administrativas e que a multa ainda não foi recolhida. Assim, determino o recolhimento integral da multa em 05 (cinco) dias, a contar do recebimento desta, sob pena de execução judicial.” (fls. 806-807)
35
LTDA. também se fez presente, uma vez que esta empresa, que deveria efetuar o
pagamento de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais – valor não
atualizado) em favor do Fundo Estadual do Meio Ambiente ou embargar a ação
de execução fiscal que já deveria ter sido proposta, comprometeu-se a custear a
construção de um aquário marinho no valor máximo de R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais).
Como se pode verificar, restou perfeitamente
caracterizado o ato de improbidade administrativa que importa prejuízo ao erário,
estando presentes todos os requisitos para sua configuração.
Com relação à empresa requerida CATTALINI
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. é de se aplicar ao caso o art. 3º da Lei de
Improbidade Administrativa, verbis:
“Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a
prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.”
Sobre o referido dispositivo, veja-se a lição de
MARINO PAZZAGLINI FILHO, verbis:
“Indução é o ato de instigar, sugerir, estimular,
incentivar agente público a praticar ou omitir ato de ofício caracterizador de
improbidade administrativa. O concurso é atividade de auxílio, de participação
material na execução por agente público de ato de improbidade administrativo.
Auferir benefício é tirar proveito patrimonial, direto ou indireto, de ato ímprobo
cometido por agente público, seja ajustado previamente com este, seja em
associação ilícita, agindo, nesse caso, o terceiro, de má-fé, ciente da improbidade
cometida, dela se locupletando.”15 (grifou-se)
15 PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa Comentada. p. 25.
36
Diante desses fatos, é que restou devidamente
caracterizado o ato de improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário,
nos termos do art. 10, caput e incisos I e VII, da Lei de Improbidade
Administrativa16.
4.2. PEDIDOS SUCESSIVOS: DOS ATOS DE
IMPROBIDADE QUE ATENTAM CONTRA OS
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (art.
11, da Lei n. 8.429/92).
Como segundo pedido sucessivo, caso não se entenda
configurados os atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao
erário (art. 10º), requer-se – a título de cautela - a condenação de todos os
requeridos pela prática de atos de improbidade administrativa que atentam contra
os princípios da administração pública (art. 11º), posto que certamente tais atos
configuram violação aos princípios da legalidade, da moralidade e da
impessoalidade17.
Desse modo, pode-se concluir que as condutas dos
requeridos LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES, THEO BOTELHO
MARÉS DE SOUZA, VITOR HUGO RIBEIRO BURKO e CATTALINI
16 Normalmente quando um agente público facilita que empresas enriqueçam ilicitamente, recebe o agente público parte desses valores, pois, como se sabe, normalmente ninguém desvia verba pública para beneficiar terceiro sem qualquer interesse financeiro próprio. Entretanto, a prova desse pagamento é dificílima, sendo que o pagamento é normalmente feito em espécie e sem a possibilidade de fazer-se qualquer meio de prova nesse sentido. Justamente por isso, por não ter sido possível até o momento a prova desse pagamento ao então Secretário Estadual do Meio Ambiente e ao então Diretor Presidente do Instituto Ambiental do Paraná, é que deixamos de imputar as condutas do art. 9º da Lei de Improbidade Administrativa. 17 O princípio da impessoalidade, na apreciação de Wolgran Junqueira Ferreira, “obriga a administração pública a que pratique seus atos não em benefício desta ou daquela pessoa, desta ou daquela empresa. (...) A atividade administrativa deve ser destinada a todos os administrados, dirigida aos cidadãos em geral, sem a determinação de pessoa ou discriminação de qualquer natureza. É o que impõe ao Poder Público este princípio. Com ele quer se quebrar o velho costume de atendimento do administrado em razão de seu prestígio ou porque a ele o agente público deve alguma obrigação". (in: Princípios da Administração Pública - Legalidade - Impessoalidade - Moralidade - Publicidade - Art. 37 - Constituição Federal, Edipro, 1996, p. 53).
37
TERMINAIS MARTÍMOS LTDA., além de configurarem atos de improbidade
administrativa que importam prejuízo ao erário (LIA, art. 10º), caracterizam,
também, ato de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da
administração pública (LIA, art. 11).
4.3. DAS SANÇÕES DECORRENTES DA PRÁTICA
DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
A Constituição da República ao consagrar o princípio
da probidade administrativa e a Lei n. 8.429/92 ao tipificar as condutas
consideradas como ímprobas, não poderia deixar de cominar sanções para a
prática dos atos de improbidade administrativa.
O parágrafo quarto, do art. 37, da Constituição Federal
prevê as seguintes sanções, verbis:
“Art. 37 (...) § 4º - Os atos de improbidade
administrativa, importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível".
Já a Lei n. 8.429/92, prevê em seu art. 12, inciso II, as
seguintes penas para os agentes que praticarem ato de improbidade
administrativa que importem dano ao erário, verbis:
“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e
administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações:
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor
do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
38
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco
anos;”
Desse modo, devem ser aplicadas aos requeridos
LINDISLEY DA SILVA RASCA RODRIGUES, THEO BOTELHO MARÉS DE
SOUZA, VITOR HUGO RIBEIRO BURKO e CATTALINI TERMINAIS
MARTÍMOS LTDA. as sanções acima descritas, vez que praticaram atos de
improbidade administrativa que importam prejuízo ao erário. E como pedido
sucessivo, a aplicação das sanções do inciso III, do art. 12 da Lei de Improbidade
Administrativa.
5. DOS PEDIDOS.
Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do
Estado do Paraná, requer:
a) a autuação da presente petição inicial e dos
documentos que a instruem (Procedimento Preparatório nº MPPR-0103.12.000093-
2), bem como o seu recebimento e processamento segundo o rito estabelecido na
Lei n. 8.429/92;
b) a notificação dos requeridos, nos endereço constante
desta petição inicial, para oferecer manifestação escrita, nos termos do art. 17, § 7o,
da Lei 8.429/92. Requer-se seja determinada a notificação dos requeridos pelo
correio (CPC, art. 221 e 222, caput), com Aviso de Recebimento de Mão Própria;
c) seja dada prioridade na tramitação da presente Ação
Civil Pública tendo em conta o interesse público na solução do presente litígio,
afixando-se tarjeta nesse sentido no rosto dos autos, sob o argumento de que, à luz
da melhor hermenêutica, sob a perspectiva de um juízo de proporcionalidade
(artigo 5°, LV, da CRFB), o interesse social subjacente à tutela coletiva de proteção
ao patrimônio público deve prevalecer frente aos outros interesses individuais
39
levados à apreciação e conhecimento deste Juízo, forte no princípio da máxima
prioridade jurisdicional da tutela jurisdicional coletiva e no poder geral de cautela do
magistrado.18;
d) após a resposta dos requeridos, seja recebida a
inicial e procedendo-se a citação deles para integrarem o pólo passivo da relação
jurídico-processual, dando-lhes oportunidade para, se quiserem, apresentarem
resposta, no prazo legal, sob pena de revelia, devendo constar do mandado a
advertência do artigo 285, segunda parte, do Código de Processo Civil;
e) a produção de todas as provas necessárias à
demonstração do alegado, dentre elas o depoimento pessoal dos requeridos, oitiva
de testemunhas cujo rol será oportunamente apresentado, além da juntada de
novos documentos que se fizerem necessários;
f) a condenação dos requeridos LINDISLEY DA
SILVA RASCA RODRIGUES, THEO BOTELHO MARÉS DE SOUZA, VITOR
HUGO RIBEIRO BURKO e CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. nas
penas compatíveis previstas no artigo 12, inciso II, da Lei nº 8.429/92, em razão da
prática de ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário, descrito
no artigo 10, caput e incisos I, II, VIII e XII da mesma lei, consistentes em: f1)
ressarcimento integral e solidário do dano causado ao patrimônio público (R$
50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), acrescido de juros e correção
monetária até a data do efetivo pagamento; f2) perda da função pública; f3)
suspensão de seus direitos políticos, pelo prazo de oito anos; f4) pagamento de
multa civil, em solidariedade, de até duas vezes o valor do dano causado ao
18 “Portanto, sempre existirá interesse social na tutela jurisdictional coletiva, razão pela qual, valendo-se da regra interpretativa do sopesamento, conclui-se que os processos coletivos devem ser analisados com a máxima prioridade, até porque o interesse social prevalece sobre o individual. O princípio da máxima prioridade da tutela jurisdicional coletiva é conseqüência dessa supremacia do interesse social sobre o individual, e também decorre do artigo 5°, §1°, da CF, que determina a aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais. O Poder Judiciário, assim como os operadores do direito, deve atuar para priorizar a tramitação e o julgamento do processo coletivo” (GREGÓRIO ASSAGRA DE ALMEIDA - “in” Direito
40
erário, mencionado no item “f1”; f5) proibição de contratar (inclusive convênios)
com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócia majoritária, pelo prazo de cinco anos.
g) sucessivamente, caso não seja acolhidos os pedidos
itens anteriores, requer-se a condenação dos requeridos LINDISLEY DA SILVA
RASCA RODRIGUES, THEO BOTELHO MARÉS DE SOUZA, VITOR HUGO
RIBEIRO BURKO e CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. nas sanções
compatíveiss previstas no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade
Administrativa, cominada para os atos que atentam contra os princípios da
administração pública (LIA, art. 11), consistentes em: g1) ressarcimento integral e
solidário do dano causado ao patrimônio público (R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais), acrescido de juros e correção monetária até a data do efetivo
pagamento; g2) perda da função pública; g3) suspensão de seus direitos políticos,
pelo prazo de cinco anos; g4) pagamento de multa civil, em solidariedade, de até
cem vezes o valor de suas remunerações na Administração Pública; g5) proibição
de contratar (inclusive convênios) com o Poder Público ou de receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócia majoritária, pelo prazo de três
anos.
h) a condenação dos requeridos LINDISLEY DA
SILVA RASCA RODRIGUES, THEO BOTELHO MARÉS DE SOUZA, VITOR
HUGO RIBEIRO BURKO e CATTALINI TERMINAIS MARTÍMOS LTDA. às
custas processuais, honorários advocatícios e demais verbas de sucumbência;
i) observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art. 27 do
Código de Processo Civil quanto aos atos processuais requeridos pelo Ministério
Público;
Processual Coletivo Brasileiro - Editora Saraiva, 2003)
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