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MARCELO MENA
2
MARCELO LEMES MENA
AS AVENTURAS DE JORGE
NA BUSCA DOS IMORTAIS
ISBN: 978-85-912042-1-2
1° edição
São Paulo
Edição do autor
2013
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
3
DEDICATÓRIA
Dedico este livro as minhas filhas e esposa.
MARCELO MENA
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela oportunidade de escrever a continuação
do livro, aos meus alunos e amigos que tanto aguardaram por
esta obra.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
5
Índice
Uma Nova Viagem..........................................................................06
Jorge e o Sobrenatural....................................................................37
Viajem ao Egito.............................................................................62
Um Roubo Estranho......................................................................85
Sequestrados ................................................................................98
Os Atanasianos...........................................................................123
Conhecendo os Céus .................................................................138
Voltando pro Cairo....................................................................174
Encontrando as Chaves.............................................................184
Terra Santa...............................................................................208
Tesouro de Salomão.................................................................226
Voltando pra Casa....................................................................254
A Verdade.................................................................................270
Consertando a Máquina............................................................308
Ana e Pedro..............................................................................320
Decifrando a Caixa do Cetro...................................................327
Terra de Akmelon....................................................................334
MARCELO MENA
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AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS
IMORTAIS
Capítulo 1
Uma Nova Viagem
A máquina começou a fazer um barulho forte e logo uma luz
começou a brilhar, e podíamos sentir a máquina se
movimentando, a luz era intensa, os relógios marcavam uma
contagem regressiva, estava chacoalhando bastante, era bem
diferente de quando viajamos pra terra do Harmes, parece que
estava levando mais tempo para parar, então a luz começou
aumentar bem mais forte, já não dava pra ficar com os olhos
abertos, e aos poucos a intensidade da luz foi diminuindo e o
barulho da máquina foi parando, e podíamos ver que tudo estava
escuro, não dava pra enxergar nada ao redor.
- Vocês estão bem? – Perguntou o senhor Simon!
- Sim, eu estou e você, Sandra?
- Estou bem, onde estamos? – Respondeu Sandra se soltando do
cinto!
- É isso que vamos ver, parece que chegamos algum lugar de
noite. – Falou o senhor Simon todo empolgado.
- E agora, vamos sair? – Perguntei.
- Primeiro, vou ligar os faróis que instalamos e vamos ver o que
temos aqui fora.
Assim que o senhor Simon ligou as luzes, foi incrível podíamos
ver algumas vegetações ao redor e algo se movimentou ao nosso
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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lado e quando olhamos para ver o que era, levantou, batendo as
asas.
- O que era aquilo? – Gritou Sandra me agarrando pelo braço.
- Calma, era apenas uma coruja. Onde será que estamos senhor
Simon?
- Pelos cálculos do computador estamos no ano de 162 antes de
Cristo.
- Então não viajamos milhões de anos?
- Pelo jeito não, Sandra!
- Ah! Pensei que ia ver dinossauros. – Falou Sandra com um
olhar decepcionada.
- Graças a Deus! Eu não estava a fim de passar sufoco
novamente. Podemos sair da máquina e dar uma olhada por aí,
senhor Simon?
- Só vou pedir pra vocês tomarem cuidado, e temos que ficar
todos juntos, pois não sabemos o que podemos encontrar.
Saímos da máquina e andamos um pouco, a luz da máquina
iluminava bem o lugar, e percebemos que estávamos em cima
de uma montanha, e podíamos ver sinais de fogo bem ao longe e
espalhado, mas não conseguíamos perceber o que era, pois
estava escuro.
- Olha, Jorge! Lá embaixo, parece ser cavalos caídos no chão.
- Estão mortos, Senhor Simon?
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- Acredito que sim, estamos no fim de uma batalha, pode ver
que tem alguns homens caídos e com flechas cravadas no corpo.
- Não estou gostando daqui. Houve alguma batalha nesta época?
- Que eu me lembre, a única batalha que houve nesta época foi à
libertação dos Macabeus, e isto ocorreu próximo a Jerusalém!
- E que batalha é essa?
- Essa batalha, Jorge, foi iniciada com o sacerdote Matatias e
seus filhos em busca de libertação do povo Judeu, onde queriam
voltar à prática religiosa e sair da idolatria imposta pelos
helenistas.
- Eu não quero saber quem é Matatias e nem helenista e só tenho
uma certeza, senhor Simon.
- E qual é, Jorge?
- Que temos de sair daqui o mais rápido possível, se aqueles
homens estão mortos, provavelmente quem os matou estão por
aí também.
- É, Jorge, acho que você tem razão. Vamos voltar pra máquina
e retornar. Cadê a Sandra?
- Sandra? Ela estava bem aqui.
- Ela sumiu, Jorge. Vamos ter que procurá-la!
Nesta hora, começamos a olhar ao redor e havia muitas pedras
ficava difícil achá-la, começamos a gritar então ela respondeu
por detrás de uma pedra, e corremos até lá, ao chegarmos vimos
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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a Sandra paralisada e bem na sua frente havia um homem
deitado no chão com duas flechas na barriga.
- Sandra, porque você se afastou de nós? – Perguntei.
- É que escutei um barulho e achei que fosse outra coruja, então
vim olhar e vi este homem. Será que está morto?
- Sei lá, vamos embora que não quero levar nenhuma flechada!
- Espere, Jorge, o homem está se mexendo!
Nesta hora, o senhor Simon segurou a cabeça do homem que
abriu os olhos e agarrando a roupa do senhor Simon, começou a
falar uma língua que nunca tinha ouvido na minha vida, e ele
tirou de uma bolsa de couro um rolo de pergaminho amarrado e
entregou para o senhor Simon, e nesta hora o homem deu seu
ultimo suspiro.
- Ele morreu, senhor Simon? – Perguntou Sandra quase que
chorando.
- Sim, Sandra, não tinha mais o que fazer! – Disse o Senhor
Simon, olhando para o pergaminho.
- E o que é este pergaminho? O senhor entendeu o que ele
falou?
- Um pouco, Jorge, ele falava grego e pelo que entendi era pra
esconder ou guardar este pergaminho dos inimigos de Deus,
pois levará ao dinheiro de Salomão.
- Dinheiro de Salomão? Será algum mapa? E onde o senhor vai
guardar isto? Ele não vai interferir na história ou no tempo?
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- Calma, Jorge. Eu acredito que não iremos interferir no tempo
ou na história, pois tudo já aconteceu, e não podemos mudar
nada.
- Isto é papo de cientista louco. E agora o que vamos fazer com
o morto? Vamos deixá-lo aqui?
- Sandra, não podemos mais perder tempo aqui. Podemos estar
correndo perigo, temos que voltar para a máquina e retornar.
Acho que o melhor lugar para guardar este documento será no
futuro, e poderemos decifrar e entender o que é isto! – Falou o
senhor Simon.
- Senhor Simon, há pessoas vindo pra cá!
- Aonde, Jorge?
- Olha lá para trás!
- Vamos correr até a máquina.
Nesta hora, a Sandra saiu em disparada, parecia uma atleta
tentando alcançar o primeiro lugar. Os homens que vinham em
nossa direção pareciam um grupo de caçadores falando àquela
língua que não dava pra entender nada, eles estavam com lanças
e espadas que brilhavam com o aparecimento do sol. Corremos
até a máquina. Para a idade do Simon até que ele correu muito
rápido, os homens então pararam assustados, não sei se por ver
um velho correr tão rápido ou pela máquina, pois acredito que
nunca tinham visto algo tão luminoso. E nem preciso dizer que
fui o último a chegar à máquina.
- Vamos entrem! Acho que eles querem o pergaminho! – Disse
a Sandra já colocando o cinto de segurança.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Será que viram o homem te entregando o pergaminho?
- Talvez eles sejam os inimigos de Deus, Jorge!
- Eles não estão com uma cara muito boa! – Falei.
- Então devolve pra eles, senhor Simon!
- Não posso, Sandra. O homem me pediu pra guardar, eles
podem ser os inimigos!
- Eles eram os inimigos só daquele homem, agora pelo jeito
viraram nossos inimigos também, mas acho melhor discutirmos
isso lá na sua casa senhor Simon!
- Boa ideia, Jorge!
Entramos na máquina e os homens ficaram falando mais baixo,
e um deles estava com arco e flecha e se aproximou um pouco
mais.
- Senhor Simon, o vidro aguenta flechada? – Perguntei.
- O vidro é resistente, mas a lataria talvez venha furar! –
Respondeu o senhor Simon, fechando a porta.
- Liga logo essa máquina e vamos embora, pelo amor de Deus!
- Vou ligá-la, Sandra!
Neste momento ouvi uma flecha bater no vidro, e a máquina
começou fazer barulho, alguns homens correram de medo, mas
o que estava com o arco continuou flechando a máquina, então
começou a iluminar tudo e a vibrar bastante, um barulho forte
começou a fazer debaixo do painel, um cheiro forte de
queimado começou a subir. A Sandra segurou a minha mão com
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força e começou a chorar, mas em pouco instantes estávamos de
volta na sala do senhor Simon.
- Puxa foi por pouco. Parece que a máquina foi danificada. –
Falou o senhor Simon.
- Nunca mais quero viajar com vocês, esse negócio dá medo,
pensei que ia morrer!
- Eu te avisei, Sandra!
- Calma gente! Isto foi apenas um acidente! Nem eu esperava
cair no meio de uma batalha! – O senhor Simon falou isto já
com um extintor de incêndio na mão.
- Ainda bem que chegamos vivos! – Falei.
- Verdade, Jorge! – Disse Sandra com os olhos ainda molhados
de chorar.
Saímos da máquina e vimos que algumas flechas perfuraram a
lataria e atingiram as placas internas.
- E agora, senhor Simon, vai ter conserto?
- Vou ter que verificar, Jorge, tentar consertar de novo!
- Não acredito que vocês vão viajar de novo, essa viagem pra
mim valeu, por isso não me convide mais!
- Mas foi você mesmo que se convidou, Sandra!
- Eu sei, mas mesmo assim, não quero mais!
- Sem problemas. – Respondi.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- E o pergaminho, senhor Simon. Podemos ver? – Perguntei por
que estava curioso pra saber o que tinha.
Então, o senhor Simon abriu o rolo, que tinha aproximadamente
um metro de comprimento, sobre uma mesa e estava cheio de
escrita estranha.
- Que língua é esta, Senhor Simon?
- Parece ser Sírio antigo, Jorge.
- E o senhor entende?
- Não, Sandra, mas tenho um amigo que poderá nos ajudar, vou
tirar cópias e mandar pra ele.
- Parece ter um mapa desenhado aqui no final, senhor Simon!
- Deixe-me ver. Sim, parece um mapa.
- Mas de onde será?
- Não sei ao certo, Jorge, a escrita é muito diferente, nunca vi
algo parecido.
- Jorge, me leva pra casa, quero beber um chá e me acalmar! –
Falou a Sandra, já pegando sua bolsa.
- Senhor Simon, nós vamos indo, depois nos falamos.
- Certo, Jorge, enquanto isso, vou ligar pra este amigo meu e ver
o que ele consegue descobrir.
- Até mais, senhor Simon, desculpe atrapalhar a viajem! – Falou
Sandra, ainda tremendo.
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- Que isso, se não fosse por você, não teríamos achado aquele
homem e o pergaminho!
- Não sei se foi uma boa coisa, mas não quero mais viajar!
- Calma, Sandra. Acho que vai demorar pra viajarmos
novamente, a máquina ficou bem danificada.
Saímos da casa do senhor Simon e fomos caminhando até a casa
da Sandra.
- Olha, Jorge, o que será aquele pergaminho?
- Não sei, mas estou vendo que o senhor Simon vai até o fim do
mundo pra descobrir!
- Ele é bem curioso, não é?
- Ele é um cientista, o pior é que ainda vai sobrar pra mim!
- É muito perigoso viajar no tempo, Jorge. Melhor você não ir
mais, pois vou ficar preocupada.
- Que isso, não precisa se preocupar, a gente toma cuidado.
- Vi mesmo o cuidado que vocês têm. Levamos flechadas e, já
pensou se a máquina pifa naquele lugar!
- Graças a Deus não pifou, Sandra, e conseguimos voltar.
- Poderíamos ter morrido! – disse Sandra
- Como morreríamos se não tínhamos nascido?
- Ai, Jorge, pare com este papo de louco, eu estava bem viva lá!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Eu sei, Sandra, só estou brincando, você já pode ficar mais
calma.
Chegamos à casa da Sandra, ela me abraçou e me beijou.
Acredito que ela devia estar muito nervosa pelo que passamos,
pois ainda continuava tremendo.
- A gente se vê mais tarde, Jorge?
- É claro, Sandra, não consigo ficar longe de você.
- Eu te amo, Jorge.
- Também te amo, Sandra. Vamos ao cinema mais tarde?
- Sim, faz tempo que não vamos, passo na sua casa então, lá
pelas dezoito horas.
- Está certo, te espero então.
Fui para minha casa, no caminho encontrei meu pai com sua
Brasília setenta e oito, comprada há alguns meses. Ele estava
mexendo no motor. Me esqueci de dizer que meu pai fechou a
eletrônica e acabou montando uma cozinha pra minha mãe,
afinal, as encomendas de doces aumentaram tanto que tiveram
de contratar duas funcionárias pra ajudar. Resumindo, meu pai
virou entregador de doces e comprou este carro de um amigo,
para ajudar na entrega, o problema é que o lucro dos doces
acaba indo todo para o conserto dele. Meu tio Fred fica rindo
do meu pai dizendo que o problema é o nome do carro, pois
Brasília é símbolo de corrupção e por isso leva todo o dinheiro
do meu pai!
- Oi, pai, deu problema de novo?
MARCELO MENA
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- Agora foi o carburador, mas já consegui consertar. Sua mãe
está te procurando, parece que precisa entregar um doce pra sua
tia!
- Já sei. É desejo, não é?
- Depois que sua tia ficou grávida, ela só pensa em comer!
- É verdade.
Entrei em casa e desci na cozinha, onde, antigamente, era a
eletrônica do meu pai. Encontrei a Valdete, (ela com a Tânia
ajudam minha mãe na cozinha), ela é uma solteirona de uns
quarenta anos e vive me cantando, dizendo que quer me
namorar. A Sandra morre de ciúmes dela. A Tânia já é casada e
tem um filho de cinco anos, no final de semana ela o leva junto,
ele gosta de ficar com meu pai e o velho fica todo cheio. Até já o
levou para passear no zoológico, às vezes até eu sinto um pouco
de ciúmes.
- Oi, gatão! Qualquer hora eu vou te agarrar e dar uns beijos! –
Disse a Valdete, me encarando.
- Quero ver, Valdete, a namorada dele te pega na paulada!
- Que nada, Tânia! Já falei que se ela bobear, eu caso com o
Jorge!
- Valdete, qualquer hora você vai me colocar em situação ruim
com a Sandra! – Falei.
- Isso pode ser tratado como assédio sexual na minha empresa,
Valdete! – Disse minha mãe.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Me desculpa, Maria. A gente se fala depois do expediente, não
é, Jorge?
- Larga do meu pé, Valdete, eu amo a Sandra, e com ela quero
viver até o fim da minha vida.
- É isso aí, Jorge! Amor tem que ser até o fim. Não liga pra
Valdete, ela já arrumou um admirador!
- Verdade? E quem é? – Perguntei pra Tânia.
- Sabe o Antônio do bar?
- Aquele que anda movido a álcool?
- Este mesmo. Ontem, ele deu pra ela uma flor murcha, assim
que fomos embora do serviço!
- Ai fica quieta, Tânia. Deus me livre, ele deve ter roubado
aquela flor do cemitério!
- Jorge, deixa essas meninas discutirem sobre namorados,
preciso que vá à casa de sua tia e leve esse doce de maracujá
com feijão pra ela!
- O que? Maracujá com feijão, mãe?
- Ela me pediu, pois está com desejo!
- Mãe, qualquer hora a vigilância sanitária vai proibir a senhora
de fazer doces!
- Pare Jorge, a sua tia acabou dando novas ideias pra doces,
experimente esse pra você ver!
MARCELO MENA
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- Eu prefiro levar pra tia, sei que ela vai comer e não estou nem
um pouco tentado a comer este doce.
Então, peguei os doces e levei pra minha tia, meu pai já havia
saído com o carro pra fazer entrega. A nossa vida melhorou
bastante, minha mãe não precisa mais trabalhar como diarista,
pois agora tem seu próprio negócio. Meu pai se sente muito útil,
até anda fazendo um curso, à noite, de administração, pois
segundo ele precisa muito saber administrar os negócios da
minha mãe. Quem viu como era meu pai e o vê hoje, quanta
diferença!
Cheguei à casa dos meus tios e meu tio Fred estava do lado de
fora, sentado no banco de carro que fica na parte de fora da
oficina.
- Oi, tio, pensando na vida?
- Ruela, vou falar uma coisa, quando você casar e a sua esposa
resolver ficar grávida, fale pra ela que você prefere adotar uma
criança, pois já vem pronto e não tem todo o trabalho da
gravidez!
- Como assim, tio?
- Jorge, a sua tia é outra pessoa. Não posso chegar perto dela
que já me manda ir tomar banho, pois fica enjoada com o cheiro
de graxa. Fora isso, tenho, às vezes, que sair de madrugada pra
comprar melancia, broto de mandioca, casca de canela e etc.
- O senhor está triste com isto?
- Claro que não, Ruela, estou super feliz, só estou dizendo que é
sofrido, mas a gente aguenta, ainda mais sabendo da novidade.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Que novidade, tio?
- Sua tia vai ter gêmeos, e será um casal!
- E já sabe que nome colocar?
- Ainda não, mas a sua tia já está fazendo pesquisa de campo,
até cogitou a ideia de Jorge e Sandra, imagine!
- Seriam belos nomes!
- Imagine, o meu filho com nome de Ruela!
- No fundo o senhor sabe que é um nome bonito!
- Vai levar a encomenda da sua tia, seu Ruela!
Entrei na casa da minha tia e ela estava próximo da pia na
cozinha, com um enorme barrigão!
- Oi, Jorge. Tudo bem, filho?
- Sim, tia, que barrigão, hein?
- Você viu que lindo, Jorge. E vai ser um casal!
- É, o tio me falou, eu trouxe o doce da senhora!
- Que bom, não via a hora de experimentar!
Ela sentou-se à mesa, pegou a sacola da minha mão e começou a
comer com gosto, era até bonito de ver, e logo meu tio entrou.
- E ai, querida, já está comendo doce de novo?
- Esse é aquele doce que você não encontrou, a Maria fez pra
mim!
MARCELO MENA
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- O doce de feijão e maracujá?
- Este mesmo, o Jorge me trouxe!
- Cada sabor que você inventa! – Respondeu meu tio.
- Quer experimentar? Está uma delícia! Mas não chega perto,
com este cheiro de graxa! – Falou a minha tia, tampando o nariz
com os dedos!
- Vai, Ruela, me passa um pedaço!
- Não chama o menino de Ruela, se a gente colocar o nome de
Jorge no nosso filho, você vai chamá-lo de Ruela também?
- Claro que não, querida, o Ruela sempre vai ser ele, o nosso
filho pode ser Jorge e não vai dar confusão, mas ainda prefiro
André e Lúcia.
Meu tio começou a comer o doce, fez uma careta, mas não
parou de comer.
- Olha até que é bom esse doce! – Falou o meu tio, pegando
mais um pedaço.
- Não falei pra você? Quer um pedaço, Jorge?
- Não obrigado, tia. Tio, o senhor já ouviu falar da guerra dos
Macabeus?
- Sim, Ruela! O que você quer saber? E porque esse interesse?
- É que o senhor Simon, comentou sobre esta guerra, que foi
aproximadamente no ano 162 a.C.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Então deixe sua tia aí comendo o doce e vamos pra sala
conversar!
- Isto, Jorge, conversa com o seu tio na sala, assim esse cheiro
de graxa fica por lá! E não se esqueça de forrar o sofá Fred, pra
não impregnar o cheiro.
- Está vendo, Jorge, mulher grávida é complicada. E sua mãe
ainda fica atendendo os desejos dela, se bem que o docinho
ficou bom!
- Minha mãe tem mãos abençoadas!
- Verdade, mas me diga, o quer saber? – Perguntou o meu tio,
colocando um plástico na poltrona.
- Queria saber como foi essa guerra.
- Essa história está na bíblia católica, no livro dos Macabeus.
- E porque não está nas bíblias evangélicas?
- Por ser um livro histórico, não inspirado e por ter algumas
contradições!
- Entendi, mas me conta sobre esta história.
- A história narra a luta da família Macabeus, contra os gregos,
que queriam acabar com adoração a Deus. Esta guerra fez com
que os judeus criassem a independência, isto até que os romanos
dominassem tudo, a guerra foi terrível, muita gente foi morta,
mas tem algo que não é contado.
- Imagino essa gente morta, mas o que não é contado?
MARCELO MENA
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- Dizem que a guerra realmente aconteceu: o rei Antíoco ficou
sabendo que havia um grupo de pessoas chamado de
Atanasianos, que guardava um mapa onde se encontravam os
tesouros de Salomão. Estes tesouros deixariam um homem
muito rico e ainda poderia se utilizar algumas invenções
tecnológicas de Salomão. Esse grupo estava escondido em
Jerusalém e era preciso entrar na cidade, para poder encontrá-
los.
- Mas o que aconteceu?
- Conta-se que o grupo de Atanasianos foi atacado, então um
soldado de confiança, na hora da guerra, pegou o mapa e fugiu
para a montanha mais alta. Diz a lenda, que este soldado foi
ferido e na hora da sua morte entregou o mapa para três homens
de roupas estranhas, que desapareceram diante dos olhos deles,
numa espécie de carruagem de luz. E o mapa foi perdido para
sempre!
- Eles acharam que a Sandra era homem, por causa do cabelo
curto? Que história, tio!
- Também acho, mas o que a Sandra tem haver com tudo isto?
Estou te contando a história e você fica pensando no cabelo da
sua namorada?
- E que acabei pensando nela.– Respondi, tentando disfarçar o
meu fora!
- Isto já não é amor, é doença.
- Desculpa, tio, acabei pensando alto, mas continue!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Então, você vai prestar atenção, seu Ruela? Ou vai ficar
sonhando?
- Pode falar, estou prestando atenção!
- Tudo isto é lenda, a verdade é que os judeus sofreram nesta
guerra pra defender a adoração a Deus.
- O que era o grupo de Atanasianos?
- Na realidade, o nome quer dizer: “Os Imortais”, em grego!
- E eles eram imortais?
- Claro que não, mas eles defendiam algumas ideias de que
poderiam ser imortais!
- Entendi, e quem o senhor acha que levou o mapa?
- Pode ser apenas uma história inventada, pra ninguém mais
procurar o mapa!
- Certo! Preciso contar esta história pro senhor Simon, mas
agora tenho que ir, pois vou levar a Sandra no cinema, depois a
gente conversa mais, tio!
- Por falar nisto, como está o trabalho com o velho do chapéu?
- É muito bom, aprendo bastante com o senhor Simon, ele agora
está me ensinando um pouco de eletrônica e tecnologia espacial!
- Você está fazendo muita falta aqui na oficina, não tenho
ninguém para tirar sarro!
- Se quiser, posso vir no final de semana te ajudar!
MARCELO MENA
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- Tá maluco! E quem quer trabalhar no final de semana? O final
de semana é para descanso, Ruela, e ainda tenho que cuidar da
igreja.
- É verdade. Assim que eu tiver uma folguinha, passo aqui pra te
ajudar tio.
- Está bem!
- Mas tenho que ir embora. Obrigado pelos esclarecimentos, tio.
Tchau, tia, até mais!
- Vai com Deus, filho! – Respondeu ela, ainda comendo doce.
- Tchau, tio, e até mais!
- Vai pela sombra, seu Ruela!
Saí da casa dos meus tios pensando na história dos Macabeus e
dos Atanasianos. Só de saber que o senhor Simon poderia estar
com um mapa do tesouro, isto me deixava empolgado e com
muita vontade de avisá-lo. Então corri até a minha casa, tentei
ligar pra ele, mas ninguém atendeu, ele devia ter saído. Então
subi no meu quarto, para me arrumar e ir ao cinema.
- Filho, a Sandra acabou de chegar e está te esperando. – Disse
minha mãe gritando.
- Já estou descendo, mãe.
Comecei descer as escadas e vi a Sandra experimentando alguns
doces da minha mãe.
- E ai, como está o doce, Sandra?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Está uma delícia, dona Maria, a senhora sabe mesmo fazer
doce.
- Pode deixar, no casamento de vocês dois, eu vou fazer o bolo.
– Falou minha mãe sorrindo e me olhando.
- Vai ficar uma delícia! – A Sandra falou, de olhos fechados,
tentando saborear o doce.
- Ei, mãe, não faz nem oito meses que a gente namora e a
senhora já tá falando do bolo de casamento?
- No meu tempo, a gente namorava no máximo uns três meses e
depois já marcava o casamento!
- No seu tempo, Maria das Dores, hoje é diferente, a gente
precisa se conhecer melhor e depois pensar em casar! – Falei pra
minha mãe!
- Acho que vocês já se combinam tanto, porque esperar mais
ainda?
- E onde vamos morar, mãe?
- O seu tio Fred e a sua tia Fábia já me falaram que quando você
marcar o casamento, eles vão dar a casa que eles têm no bairro e
que está no momento alugada, pra vocês de presente de
casamento.
- A tia do Jorge falou mesmo isso, mas achei que era
brincadeira! – Sandra falou, com os olhos arregalados.
- É, Sandra, vocês ganharão uma casa.
MARCELO MENA
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- Ei, dá pra parar as duas, desse jeito amanhã estou casado! E
não esqueçam que eu ainda vou precisar comprar os móveis e
outras coisas!
- Com o salário que você está ganhando, trabalhando com o
senhor Simon, dá muito bem pra economizar e comprar o que
falta. E você Sandra, já pense no seu enxoval! – Minha mãe
continuou falando, toda empolgada.
- O meu enxoval já está quase pronto, meu pai e minha mãe já
compraram bastante coisa e me deram de presente, eles também
não veem a hora da gente se casar!
- Meu Deus! Vamos embora, Sandra, senão a gente vai perder o
filme.
- Até mais, dona Maria.
- Vão com Deus, meus filhos.
Saímos de casa caminhando e a Sandra me olhava sorrindo sem
parar.
- Porque você está me olhando deste jeito?
- Ai seu bobo, você sabe onde fica a casa que a gente vai
ganhar?
- Sei.
- É perto do caminho do cinema?
- É sim.
- Você me mostra onde é? Estou curiosa!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
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- Deixa pra outro dia. A gente nem sabe ainda se realmente eles
vão nos dar a casa!
- Eles já falaram com sua mãe, e quando sua tia fala, ela não
volta atrás.
- Está bem, mas não fique tão empolgada, você pode não gostar
da casa.
- É claro que vou gostar, porque não gostaria?
- Ela fica perto da casa da Valdete.
- Aquela mulher mora perto?
- Não tão perto, mas na mesma rua.
- Não tem problema, Jorge, pois já vou estar casada com o meu
amor.
E assim, a Sandra foi o caminho todo fazendo planos de como
seria o nosso casamento e quantos filhos teríamos. No caminho,
encontramos o Antônio do bar, ele usa uma calça jeans que
muito tempo não vê um sabão, seus sapatos, um de cada cor.
Usa um paletó bem velho, é barbudo e tem cabelos bem
compridos. Uma vez, ele teve o cabelo cortado e a barba
aparada, tomou banho e teve roupas novas, e isso aconteceu no
dia em que a igreja Caminho do Céu, fez o “Dia da Mudança”.
É um evento promovido pela igreja, onde todas as pessoas tem a
oportunidade de mostrar seus talentos para ajudar assim as
pessoas carentes. Neste dia tem advogado, cabeleireiro,
massagista, médicos, psicólogos, todos trabalhando pra ajudar
a quem precisa. Essa foi uma ideia do meu tio, que hoje
MARCELO MENA
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pastoreia a igreja, e deu tão certo que todo mês agora tem o
“Dia da Mudança”.
- Jorge, olha o Antônio! – Disse a Sandra, tentando se esconder
do Antônio do bar.
- Estou vendo, e pelo jeito quer conversar!
- Oi, Borges, tudo bem?
Outro detalhe, ele sempre confunde o meu nome, por Borges,
mas como já me cansei de tentar explicar que meu nome é
Jorge, então atendo assim mesmo.
- Oi, seu Antônio, o que faz por aqui?
- Vim trazer a minha namorada em casa! – Respondeu ele, todo
romântico.
- Quem? – Perguntei como quem não sabia de nada.
- Ai Borges, é a Valdete! Eu dei uma flor pra ela e começamos a
namorar, ela ainda reluta, mas ainda vou me casar com ela.
- Olha, seu Antônio, o senhor precisa mudar de vida, precisa
parar de beber, quem sabe ela realmente se apaixona pelo
senhor.
- Eu tento Borges, mas não consigo, é mais forte que eu!
- O senhor se lembra do pai da Sandra? Hoje é um homem
completamente curado!
- É verdade, quando ele ainda ia no bar, sempre me pagava uma
bebida. Agora ele anda todo arrumado, vai pra igreja, estes dia
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
29
ele me encontrou e falou que se eu quisesse ele me ajudava a
sair desta vida.
- Então, seu Antônio, Deus está te dando uma oportunidade,
procura o pai da Sandra e ele vai te ajudar, e assim que o senhor
mudar, garanto que a Valdete vai se apaixonar pelo senhor!
- Seu pai vai estar lá, Cassandra? – Disse ele.
Outro pequeno detalhe, é que ele chama a Sandra de
Cassandra, ela fica muito nervosa!
- Meu nome é Sandra, seu Antônio! E meu pai vai estar em casa
sim, pode ir que ele atende o senhor e com certeza vai ajuda-lo a
largar este vício!
- Ok, eu vou indo então, até mais!
- Até mais, seu Antônio!
- O que será que aconteceu pra ele viver deste jeito, Jorge?
- Dizem que foi uma decepção com a família. Os pais morreram
em um acidente de carro porque estavam bêbados, e ele teve que
viver com um tio, que era muito ruim. Então ele fugiu de casa.
A partir daí começou a beber e a viver nas ruas, não tem casa e
vive pedindo esmolas.
- Que dó! Meu pai pode ajuda-lo, garanto que vai leva-lo na
clínica onde ele se recuperava.
- Fale pro seu pai, que se acaso precisar de ajuda financeira, ele
pode falar com o meu tio, pois a igreja pode ajudar nisto
também.
MARCELO MENA
30
- Legal! Depois que seu tio assumiu a igreja como pastor, a
igreja mudou completamente, ela faz uma verdadeira obra
social.
- O meu tio pegou a igreja num maior problema, por causa do
pastor Nilson, você se lembra?
- Claro! Foi por causa dele que meu pai passou a beber.
- Então meu tio começou a utilizar todo o dinheiro arrecadado
nas ofertas, para obra social e ajuda missionária, pode ver que,
no fundo da igreja ele sempre coloca o relatório do que a igreja
contribuiu e onde está sendo gasto.
- Eu vi mesmo, no ultimo culto. As pessoas realmente estão
ofertando com o coração!
- Ele diz que, cada um deve contribuir com o que sentir no
coração. E depois ele mostra onde está sendo gasto as ofertas,
com isto houve um aumento das ofertas e tem ajudado muita
gente.
- É muito lindo ver as pessoas sendo ajudadas, tanto
espiritualmente, quanto materialmente.
- Bem, chegamos, Sandra, esta é a casa.
A casa tem uma grade na frente e um belo jardim, com um pé de
limão, é toda pintada de rosa com detalhes em branco e possui
uma varanda na parte de cima.
- Jorge, a casa é linda! É mais bonita do que eu imaginava. Tem
alguém morando nela?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
31
- Tem sim, é o irmão da minha tia que mora ai. Ele é super
bacana. É casado e está construindo uma mansão no bairro da
Cruz alta.
- E, se ele tiver que sair desta casa, vai poder entrar na que está
construindo?
- Calma, Sandra, não vamos casar hoje.
- Eu sei, seu bobo. Só estava perguntando.
- A minha tia Fábia, me disse que ele só está nesta casa pra
poder terminar a outra, mas que ele logo vai mudar. Já está na
hora do filme, vamos.
- Seus tios vão nos dar um presentão.
Depois do cinema levei a Sandra embora, comentei com ela
sobre o que o meu tio tinha falado, sobre a lenda dos
Atanasianos.
- Jorge, então quer dizer que o pergaminho fala onde estão os
tesouros de Salomão?
- Acredito que sim, mas ainda preciso falar com o senhor
Simon.
- Será que ele vai querer descobrir este tesouro?
- Não sei, Sandra. O mais incrível é a lenda falar de nós três,
numa carruagem de luz.
- Cada vez mais fico com a cabeça doendo, tentando entender
estas coisas Jorge. Vamos falar de outra coisa.
MARCELO MENA
32
Então ela rapidinho mudou de assunto e não parou mais de falar
da casa. Chegamos à casa dela e nos despedimos. Fui embora e,
na minha casa, encontrei o senhor Simon, na sala tomando um
café e comendo bolo que minha mãe havia preparado. Meu pai
estava sentado na sua poltrona, com uma cara meio séria.
- Boa Noite, senhor Simon.
- Boa noite, Jorge, eu não sei como você é magro deste jeito,
pois não consigo parar de comer este bolo delicioso! Sua mãe é
uma ótima cozinheira!
- Jorge, sente-se aqui, precisamos conversar!
- Certo pai. O que houve?
Minha mãe também puxou uma cadeira e sentou-se próximo de
meu pai, enquanto isso o senhor Simon levava a boca mais um
pedaço de bolo.
- O senhor Simon veio aqui para te convidar a ir com ele numa
viagem de alguns dias, fora do país. – Comentou o meu pai.
- Como assim, fora do país? – Perguntei.
- Sim, Jorge, sabe aquele pergaminho que encontramos? – Falou
o senhor Simon.
- Sim, sei. Até preciso conversar com o senhor, pois descobri
algumas coisas com o meu tio sobre isso.
- Então Jorge, eu tirei uma cópia de um pedaço do pergaminho e
enviei ao meu amigo, arqueólogo, que está no Egito. Não deu
cinco minutos, ele me ligou e disse que este pergaminho é algo
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
33
fantástico, me explicou do que se tratava. Então, me pediu que
fosse até ele, para podermos examinar, juntos, o mapa.
E eu, vim aqui para te convidar a ir comigo para o Egito e
passarmos alguns dias por lá. Assim, você já vai poder ver como
são feitas as escavações e como trabalha um arqueólogo. Seus
pais acharam que será uma oportunidade de você aprender
bastante e vai te ajudar na sua carreira profissional!
- Nossa, será demais! Ainda bem que estou de férias da escola,
mas e a Sandra?
- Não sei se poderei leva-la, Jorge! Mas converse com ela,
depois você me fala. Daqui a três dias estaremos partindo!
- Onde vocês arrumaram este pergaminho? – Perguntou o meu
pai todo curioso.
- Uma pessoa me passou, antes de falecer, seu Chico!
- E o que é pergaminho? – Perguntou minha mãe, sem entender
nada.
- É um material feito de couro de animal, que se utilizava pra
escrever antigamente, e estes pergaminhos chegavam a durar
milênios, dona Maria!
- Entendi. É bem antigo então?
- Sim, mãe, é bem antigo.
- Olha, senhor Simon, será a primeira vez que o Jorge fará uma
viagem longa.
- É, mãe, vamos dizer que sim.
MARCELO MENA
34
Dei uma piscada com o olho pra o senhor Simon, que sorriu e
levou mais um pedaço de bolo à boca.
- E você, não tem medo de viajar de avião, Jorge?
- Claro que não, pai, acredito que é mais seguro do que outros
meios de transporte, não é, senhor Simon?
- É, vamos dizer que sim. Desculpe atrapalhar vocês, mas está
na hora e tenho que ir.
- É cedo, senhor Simon! O senhor sempre será bem vindo aqui.
- Obrigado, seu Chico! Tenho que ir mesmo, preciso ainda
consertar um equipamento!
- Então leva alguns pedaços de bolo, para comer mais tarde!
- Não sei se vai durar até mais tarde, mãe.
- Verdade, Jorge, este bolo está uma delícia!
Saímos do lado de fora da casa e o senhor Simon, com uma
sacola, levando os pedaços de bolo.
- Senhor Simon, o senhor acredita que há uma lenda, sobre três
pessoas, que sumiram com o pergaminho do tesouro de
Salomão?
- Sim, Jorge, este meu amigo comentou sobre isto, e ainda falou
sobre os Atanasianos. Ele está no Egito e está atrás dos
Atanasianos há muito tempo, ele acredita que agora, com este
pergaminho, conseguirá encontra-los.
- Estes Atanasianos, se diziam imortais, não é isso?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
35
- Sim, Jorge. Este meu amigo sempre defendeu a tese de que os
imortais existem e estão no nosso mundo, ainda.
- Mas quem são eles? E são mesmo imortais?
- Este meu amigo, seu nome é Joseph Cicley, tem uma tese de
que os Atanasianos estão no nosso mundo, há mais de três mil
anos, mas ele não me deu mais detalhes, por isso precisamos
encontra-lo e saberemos mais sobre este assunto!
- Isto eu nunca tinha ouvido. Imagine haver pessoas que não
podem morrer. Isto é loucura!
- Também acho, mas só saberemos quando conversarmos com
ele!
- Se bem que, existe um grupo de pessoas que não morrem,
senhor Simon!
- Quem é este grupo, Jorge?
- Os anões!
- Quem falou isto?
- O senhor já foi a um enterro de anão?
- Claro que não!
- Então, eu também não! Então podemos concluir que, eles não
morrem, portanto, são imortais!
- Que absurdo, Jorge! Só porque nunca fui num enterro de anão,
então são imortais?
- Vai saber, não é? Vai que eles são imortais.
MARCELO MENA
36
- Piadinha sem graça, esta a tua. Toda vez que você fica
nervoso, vem com uma piada.
- É que, ficar longe da Sandra, vai ser ruim!
- Então, vamos fazer o seguinte, converse com ela e veja se ela
pode ir, mas teremos que viajar na classe econômica.
Abracei o senhor Simon, ele ficou todo cheio.
- Obrigado, senhor Simon, a Sandra vai poder nos ajudar.
- Assim espero. E que não faça o que fez na última viagem, em
que tivemos que procura-la.
- Mas, se não fosse ela, o senhor não teria o pergaminho.
- É, está certo. Pode chegar mais tarde amanhã no laboratório e
depois a gente se fala.
O senhor Simon saiu acertando o chapéu e se apoiando na sua
bengala. Ele agora está com uma bengala nova, essa tem na sua
ponta a cabeça de um tigre dourado, segundo ele custou muito
caro.
Só de Imaginar que agora a Sandra poderia ir, me deixou muito
feliz. Não via a hora de conversar com ela sobre viajarmos
juntos.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
37
Capítulo 2
Jorge e o Sobrenatural
Ao acordar pela manhã, percebi um alvoroço dentro de casa,
parecia que havia muita gente ali. Ao descer as escadas, percebi
que a Valdete estava conversando com minha mãe, muito triste.
Meu pai estava todo pensativo, no canto da sala. A Tânia, com
cara de choro.
- O que aconteceu, gente? – Perguntei.
- Você não vai acreditar, Jorge. Ontem à noite, alguns homens
pegaram o Antônio do bar e lhe deram uma surra. Agora, ele
está no hospital em coma. Os médicos não deram muita
esperança, pois ele teve hemorragia interna e acho que foi tudo
culpa minha, pois ele foi até a minha casa me perturbando, então
briguei com ele.
- Mas onde foi isso Valdete? Pois eu e a Sandra encontramos
com ele antes de ir ao cinema, ainda conversamos um pouco, ele
nos disse que ia conversar com o pai da Sandra, para se internar.
Ele queria ficar bom pra te pedir em namoro.
Nesta hora, a Valdete chorou mais ainda e minha mãe tentava
consolá-la.
- Já falei, este bairro está começou a ficar violento desde que
abriram aquela lanchonete na esquina do mercado. Pra mim, ali
não vende só lanche, devem estar vendendo drogas também.
Vocês podem ver, só chegam pessoas que nunca vimos no
bairro. Ontem mesmo, conversando com o Luís da farmácia, ele
disse que já foi assaltado duas vezes este mês. E você, Jorge,
MARCELO MENA
38
tome cuidado por onde anda à noite. Hoje, foi o Antônio, mas
amanhã pode ser qualquer um.
- E o que vamos fazer, pai?
- Já avisei seu tio e ele está vindo pra cá, pois como agora ele é
o pastor da igreja, deve ir visita-lo e quem sabe, ver no que pode
ajudar.
- Que dó do seu Antônio, ontem ele saiu todo feliz e que ia pedir
ajuda pra sair da bebedeira!
Nesta hora, meus tios chegaram de carro e pararam em casa.
- Bom dia, pessoal, tudo bem com vocês?
- Oi Fred, graças a Deus tudo bem, você vai ao hospital?
- Sim, Maria. Vou levar o Ruela comigo!
- O que? Eu, no hospital? Que vou fazer lá, tio?
- Calma, Jorge! Falei pro seu tio, que depois do encontro que
você teve com Jesus, coisas sobrenaturais começaram a
acontecer, você ajudou o senhor Simon, o assassino foi parar na
cadeia, ajudou o pai da Sandra, e ainda orou por mim e fiquei
grávida! – Disse minha tia.
- Eu sei tia, mas isso era o que tinha que ser feito. Agora, Jesus
não falou nada e não sei como vou poder ajudar.
- Meu filho, fica em paz, vá com seu tio e lá você pode orar pelo
Antônio, Deus pode restabelecer a sua saúde! – Falou minha
mãe, me abraçando.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
39
- Está bem, mas eu não garanto nada. Eu não sou nenhum
milagreiro!
- Ruela, larga mão de drama e vamos orar pelo Antônio do bar.
Você vai junto, Chico?
- Não vou poder ir, tenho que entregar algumas encomendas da
Maria, já estou atrasado.
- Maria de Deus, esta noite sonhei que você fazia uns doces de
brigadeiro com tomate seco! – Minha tia falou, puxando minha
mãe para a cozinha.
-Meu Deus, Fábia, já vai começar com esses desejos?
- Deixa ela, Fred. Venha, Fábia. Você pode me ajudar com este
doce e quem sabe venha ser um sucesso!
As mulheres entraram para a cozinha e a Tânia ainda consolava
a Valdete. Sabe, agora acredito que ela tenha uma quedinha pelo
Antônio do bar.
- Então vamos, Ruela.
- Deixa eu me arrumar primeiro, tio.
Saí de casa e meu tio já estava no carro, conversando no celular.
Então, quando entrei, percebi que ele conversava com o
delegado Euclides.
- Você parece uma noiva pra sair. – Disse meu tio.
- Tinha que me arrumar né, tio. Não podia ir de qualquer jeito.
MARCELO MENA
40
- É verdade, do jeito que você estava, iam achar que tinha sido
atropelado por um trem, e te socorreriam na hora, com aquele
cabelo todo levantado!
- Eu tinha acabado de acordar, né!
- Percebi. A Sandra já te viu levantando da cama?
- Claro que não né, tio!
- É bom nunca ver. Deixe esta surpresa pra depois do
casamento, assim ela não vai poder te largar mais.
- Estou morrendo de rir.
- Puxa! Acordou de mau humor hoje?
- Não é, tio, as pessoas acham que porque um dia eu orei e
alguns fatos aconteceram, eu tenho que ficar orando por tudo
agora!
- Ei, calma ai, profeta revoltado! Você sabe muito bem que
Deus te ouve, e as pessoas sentem muita necessidade de Deus.
Quando veem que existe alguém que possui um dom, elas
tentam se aproximar com a esperança de serem atendidas. Por
isso, não rejeite isto. Saiba levar e tenha paciência, ajude as
pessoas, seu Ruela. Assim você estará ajudando a tornar o
mundo um pouco melhor.
- Está certo. Mas e aí, o senhor estava conversando com o
delegado?
- Sim, ele me disse que tem uma gang no bairro que está
atacando os mendigos e bêbados.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
41
- E o delegado já conseguiu prender alguém?
- Pior que ainda não, pois ele conseguiu algumas filmagens e os
marginais usavam máscaras. Mas vai tentar achar alguma pista.
- Como podem bater em alguém indefeso e deixa-lo quase
morto?!
- Foi muita sorte do Antônio ter sobrevivido, pois dois
mendigos, que eles pegaram, morreram no caminho do hospital.
- Que horror, tio.
- Por isso te falei, você pode ajudar a melhorar um pouco este
mundo.
- Mas é difícil. A violência cresce a cada dia, é uma tristeza.
- Pense bem, Ruela, como não deve estar o coração de Deus
olhando este mundo? Se nós já ficamos tristes, imagine Deus?
Chegamos ao hospital e fiquei na recepção. Havia muita gente
doente e ferida. Meu tio foi entrando e apresentou um
documento pedindo pra falar com o responsável do hospital. Ele
pode entrar sem problemas nos hospitais, pois ele já é conhecido
por visitar os doentes e orar por eles. Mas eu não pude entrar,
devido o seu Antônio estar na UTI. Não demorou muito, meu tio
voltou e veio falar comigo.
- Jorge, você terá que esperar aqui. Tenho que falar com o
doutor Elias e ver se ele te autoriza entrar.
- Sem problema, tio. Eu espero aqui.
MARCELO MENA
42
Na minha frente, havia uma senhora chorando e nos seus braços
uma criança imóvel. Parecia estar desmaiada. Alguns
enfermeiros pegaram a criança e levaram para um quarto. A mãe
ficou chorando, alguns tentavam consolá-la, mas ela se batia, até
que a levaram para uma sala, ao lado da recepção.
- Oi, Jorge.
Olhei, ao meu lado estava um homem de branco (que deduzi ser
um enfermeiro), seus sapatos estavam brilhando, seu rosto não
me parecia estranho, mas eu não me lembrava de quem era.
- Me desculpe, senhor. Mas eu não me lembro do senhor!
- Eu sou Gabriel, você não me conhece, mas sou muito amigo
do seu grande amigo!
- Do meu amigo? Que amigo?
- Não tenho muito tempo, mas você vai se lembrar dele. Foi ele
quem me pediu pra te dizer que hoje precisa fazer algo
importante, e não deve ter medo. Tudo acontece por intermédio
dele, seu compromisso será ajudar o Antônio e aquele bebê que
você estava olhando. Pois ele viu o teu sentimento por eles,
venha comigo.
- Espere, não estou entendendo nada. Preciso esperar meu tio.
- Seu tio não vai conseguir fazer com que você entre, por isso,
venha comigo.
O homem me pegou pela mão e entramos pela porta que dá
acesso aos quartos. Parecia que ninguém se incomodava com a
gente. Este Gabriel parecia ser alguém importante dentro do
hospital. Logo, ele abriu uma porta, onde estava um médico e
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
43
duas enfermeiras. Na cama, estava uma criança toda branca, e
eles desligavam os equipamentos sobre ela.
- Por favor, vamos sair, pois não há mais nada pra fazer. – Disse
o médico.
O médico saiu da sala e com ele uma enfermeira, enquanto a
outra ainda arrumava um carrinho cheio de peças de metais.
- É a sua vez, Jorge! Aproveite que a enfermeira não está
olhando. – Falou Gabriel, me empurrando ao lado da cama.
- Como assim? A criança pelo jeito morreu.
- Você já imaginou a dor desta mãe, quando souber deste fato?
- Sim, vai ser terrível. – Respondi.
- Você pode mudar isto! – Disse Gabriel, me empurrando de
novo.
- Como assim? Quem sou eu? Já sei, você deve ser amigo do
Anselmo, o pai da Sandra. Ele deve ter te contado sobre o que
aconteceu no meu encontro com Jesus, mas eu não posso fazer
nenhum milagre! Desculpe-me, seu Gabriel.
- Você realmente não pode fazer nada, se Deus não quiser. Mas
ele me mandou aqui pra que você entenda que pode ajudar as
pessoas!
- E o que você acha que devo fazer?
- Põe a tua mão sobre a criança e ore a Deus por ela.
- Se eu fizer isso, você me deixa voltar pra recepção?
MARCELO MENA
44
- Sim. Faça isso e pode voltar.
Fui até onde estava aquela criança, pus a minha mão sobre sua
testa (estava bem gelada). A enfermeira parecia nem me ver,
então eu fechei os olhos e falei:
- Jesus, o Senhor sabe que não tenho nenhum poder, mas me
ajude agora, estou orando em favor desta criança. Não sei o seu
nome, nem sei do que ela morreu. Sua mãe está muito triste e
desesperada, por favor, dá vida novamente a esta criança!
Amém.
Nesta hora, a enfermeira estava me olhando. Procurei o Gabriel
e não o vi. Com certeza saiu correndo da sala e me deixou
sozinho ali.
- O que você faz aqui, moleque! Aqui é proibido entrar! –
Gritou a enfermeira.
- Mas é que o Gabriel me trouxe, acho que ele é doutor ou
alguma coisa, foi ele quem me pediu para orar por esta criança.
- Tá maluco?! Não tem ninguém que trabalhe aqui com este
nome, esta criança faleceu há alguns minutos e teve uma parada
cardíaca. Ela já tinha um problema no coração. Vou chamar os
seguranças, você vai parar na cadeia!
- Calma, senhora, eu vou sair!
Quando ela me pegava pelo braço e me levava para o lado de
fora, escutamos o som de um respiro forte e a criança começou a
chorar.
- O que é isto? A criança está viva? Meu Deus! – Falou a
enfermeira me largando e correndo para o lado da criança.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
45
Nesta hora, a enfermeira pegou o estetoscópio do seu pescoço e
começou a ouvir o coração da criança. Logo, apertou um botão
que parecia uma campainha, em poucos segundos a sala estava
cheia de enfermeiros e médicos. Aproveitei para sair de
mansinho da sala e quando estava no corredor, vi o seu Antônio
e o meu tio num quarto, e entrei.
- Jorge, o que você está fazendo aqui? O médico não permitiu a
sua entrada.
- Eu sei, tio, mas aconteceu algo estranho. Depois te conto.
- Então, já que está aqui, ore pelo Antônio. Os médicos disseram
que ele está muito mal e não sabem quando vai sair do coma.
- Mas, tio, ore o senhor por ele.
- Jorge, você pode começar que eu termino!
- Está bem.
Meu tio segurou a minha mão e colocou-a sobre a do Antônio, e
comecei a orar:
- Jesus, estou aqui de novo. Por favor, ajude o seu Antônio a sair
desta situação e faça com que ele venha se curar também da
bebedeira.
E meu tio continuou:
- Sim, Jesus, atenda a oração do Jorge, pois confiamos na Tua
palavra, acreditamos na cura e no restabelecimento deste
homem. É o que pedimos, em teu nome. Amém.
Nesta hora, percebi o seu Antônio abrir os olhos, me olhando.
MARCELO MENA
46
- Borges, você aqui? Onde estou? Não vão dizer que fui
atropelado de novo?!
- Calma, seu Antônio, vou chamar o médico.
Meu tio saiu no corredor, encontrou o primeiro homem de
branco que viu e o chamou para atender o seu Antônio.
- O que este menino faz aqui? – Reclamou o médico.
- Vocês não podem ficar aqui. Venham comigo! – Chamou a
enfermeira.
- Está bem, estamos indo. – Retrucou o meu tio.
- Até mais, seu Antônio.
- Até mais, Borges. Depois a gente se fala.
Saímos da sala e fomos até a recepção. Meu tio parou pra beber
um copo d’água e depois fomos até o carro.
- Bem, agora me conte, Jorge, como você foi parar lá dentro?
- Encontrei um homem que se chamava Gabriel, acredito que ele
seja amigo do Anselmo, o pai da Sandra. Porque ele sabia o meu
nome, me disse pra entrar com ele e que eu deveria ajudar as
pessoas. Entramos numa sala onde tinha uma criança morta e ele
me pediu que orasse a Deus, e orei pela criança.
- E o que aconteceu, Jorge?
- A criança começou a chorar, a enfermeira ficou brava comigo
por estar naquela sala e o bendito Gabriel fugiu sem deixar
vestígios. Acho que ficou com medo de ser pego. Foi então que
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
47
os médicos vieram ver a criança, escapei da enfermeira e
encontrei o senhor, no quarto do seu Antônio.
- Espera aí! Você conhecia este homem, Jorge?
- Não!
- E como você sabia que ele era amigo do Anselmo?
- Ele me disse que era amigo de um grande amigo meu.
- Jorge, você quer me dizer que este homem te colocou lá dentro
e através da tua oração a criança ressuscitou?
- Sim, tio. Acho que a criança não devia estar totalmente morta e
acabou despertando com a oração.
- Acho esta história meio estranha, Jorge. Será que era um anjo?
- Pare, tio. Ele não me parecia anjo, usava um sapato mocassim.
- Falei pra você, seu Ruela. Você tem um dom de Deus.
- Não conte pra ninguém tio, senão, vai ficar difícil pra mim.
Vão ficar achando que sou curandeiro.
- Sim, claro. Não vou contar nada, somente ore a Deus e peça
para que ele te oriente no que deve fazer.
- Obrigado, tio. Tem como o senhor me deixar na casa da
Sandra?
- Claro, mas hoje você não vai trabalhar com o Simon?
- Sim, eu vou, mas preciso passar na casa da Sandra pra saber se
ela vai poder viajar comigo pro Egito!
MARCELO MENA
48
- O que? Pro Egito? Depois sou eu que faço piada sem graça.
- É verdade, tio, vamos com o senhor Simon, ele vai bancar
tudo.
- Pronto. Agora, o velho do chapéu ganhou dois netos caros.
- Que isso, tio. Vai ser muito legal viajar pro Egito.
- E quando vocês vão?
- Pelo que o senhor Simon disse é daqui a dois dias.
- Que legal, não se esqueçam de trazer umas lembranças de lá
pra nós. E por falar nisto, vou te arrumar um dinheiro pra levar,
assim não ficará totalmente à custa do senhor Simon.
- Obrigado, tio.
Espero que ele não fale nada mesmo pra ninguém do que
aconteceu. Cheguei à casa da Sandra e meu tio seguiu pra minha
casa. Então apertei a campainha e a Sandra veio me atender.
- Oi, meu amor.
- Oi, Sandra.
- Não foi trabalhar hoje?
- Eu fui com meu tio no hospital pra visitar o Antônio do bar.
Ele levou uma surra, ontem à noite, de um grupo de marginais.
- Verdade? Por isso ele não apareceu aqui pra falar com meu
pai. Achei que ele tinha desistido. E como ele está?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
49
- Os médicos não deram muita esperança, ele estava em coma,
mas meu tio fez uma oração e ele acordou.
- Ai que dó, por que fizeram isso com ele?
- O delegado disse que é um grupo de pessoas que andam por aí
batendo nos mendigos.
- Ai Jorge, que coisa horrível!
- Mas vim aqui antes de ir pra casa do senhor Simon, pois
preciso te fazer um convite.
- Convite?
- Sabe aquele pergaminho? Então, o senhor Simon mandou para
o amigo dele uma cópia e ele o convidou para ir ao Egito, pois
se trata de um mapa dos tesouros do rei Salomão. Ele nos
convidou pra irmos juntos, com ele. Já que estamos de férias da
escola. Ele vai pagar tudo.
- Você está Brincado? – Disse Sandra, meio desconfiada!
- Não é brincadeira, é sério.
- E quando ele vai viajar?
- Daqui a dois dias.
- Ai meu Deus! Não vai ter perigo, vai?
- Claro que não, Sandra, vamos ajudar um arqueólogo a
encontrar os tesouros de Salomão.
MARCELO MENA
50
- Eu não sei, aquele homem lá do passado pediu pra ele guardar
o pergaminho e agora o senhor Simon quer descobrir o tesouro?
Acho que vai dar problema.
- Imagine, Sandra! Aquele homem queria salvar o pergaminho
dos inimigos de Deus e isso foi lá no passado.
- Mas vai que eles ainda continuam procurando.
- Quantas gerações já não passaram, acho que aqueles inimigos
já desapareceram.
- Olha, vou perguntar pra minha mãe e pro meu pai, depois eu te
ligo. Você vai estar na casa do senhor Simon?
- Estou indo pra lá agora.
- Está bem, depois te ligo então, te amo.
- Também te amo.
Despedi-me da Sandra e fui até a casa do senhor Simon. Ao
chegar lá, ele estava sentado em sua cadeira e com um livro na
mão.
- Oi, senhor Simon, lendo um pouco?
- Estava pesquisando sobre este pergaminho. O interessante é
que os Atanasianos sempre aparecem na história, são como uma
sociedade secreta. Buscam este pergaminho há séculos.
- A Sandra acha que não devemos ir atrás disso, pois tem medo
que os inimigos de Deus ainda estejam procurando o mesmo
pergaminho.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
51
- Se eles estiverem procurando, o melhor seria entregarmos aos
Atanasianos.
- E como vamos descobrir quem são eles?
- Não sei, Jorge, por isso precisamos ir ao Egito e conversar com
meu amigo, talvez ele saiba quem são eles. E a Sandra, vai?
- Ela disse que iria conversar com os pais e ligaria aqui pra dar a
resposta.
- Então, enquanto esperamos, vamos começar a consertar a
máquina, retirar as flechas e reparar o que estiver danificado.
Assim, passamos a tarde consertando a máquina. Ela estava com
flechas cravadas na lataria e tinha sofrido grandes estragos.
Algumas peças teriam que ser substituídas. O senhor Simon já
tinha separado algumas, acho que a próxima viagem ao passado
demoraria um pouco.
- Pelo jeito vai demorar pra ficar pronta, não é, senhor Simon?
- É, o estrago foi feio, tivemos a sorte de não sermos atingidos!
- Verdade mesmo.
- Estou vendo que você está meio preocupado, Jorge, o que
houve?
- É que estou intrigado com algumas coisas que aconteceram
esta manhã comigo.
- E o que foi?
- Fui com meu tio visitar o Antônio do bar, pois o homem levou
uma surra de uns marginais.
MARCELO MENA
52
- Fiquei sabendo desta história lá no mercado da dona Zenaide!
- Como sempre, o mercado da dona Zenaide é o meio de notícia
mais rápido do mundo, ganha até da internet.
- Sim, Jorge. Lá a gente sabe de tudo o que acontece. Mas
continue.
- Então, enquanto esperava meu tio acertar a minha entrada na
UTI, um homem todo de branco, que parecia médico, me pediu
para entrar e orar por uma criança que havia morrido. Ele disse
que meu compromisso era ajudar a criança e o Antônio, o nome
dele era Gabriel.
- E você orou por eles?
- Sim, a criança voltou e o seu Antônio saiu do coma. O Gabriel
desapareceu e meu tio acha que era um anjo.
- Olha, Jorge, é possível que você tenha visto realmente um
anjo, já que o milagre aconteceu como ele disse.
- Eu sei, mas o problema é que as pessoas acham que sou
milagreiro.
- Essa é boa, milagreiro? Jorge, desde aquele dia em que
falamos com a Grande Sabedoria, muita coisa mudou em nossa
vida, acredito que recebemos um dom, pra ajudar as pessoas.
- Como assim, Senhor Simon?
- Quando voltamos da terra do Harmes, aqui tudo se resolveu,
ou seja, conseguimos melhorar a vida das pessoas, não foi?
- Sim, isto é verdade.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
53
- Então devemos continuar assim, ajudando a quem precisar.
Seja na oração, no auxílio financeiro, ou mesmo orientando
sobre as Escrituras Sagradas.
- Por isso o senhor está dando aula na igreja?
- Comecei a dar aula e tenho ajudado muita gente a sair da
ignorância religiosa.
- E o que devo fazer?
- Faça o que você sentir no coração. Quando precisarem de
você, ajude com alegria, não com tristeza. Você acha que Deus
daria um dom pra que fique triste e magoado?
- Entendi, mas, e se as pessoas acharem que sou curandeiro?
- Mostre pra elas que você é apenas um homem tentando fazer a
vontade de Deus, e quem faz o milagre é Deus, não você.
- Entendi, mas ainda acho que vai ser difícil esse negócio.
- E quem falou que vai ser fácil? Você lembra, o príncipe
Lúcifer não está contente com a gente.
- Nem fale neste calça-curta!
Nesta hora, o telefone tocou e o senhor Simon atendeu, era o pai
da Sandra querendo saber sobre o convite. Só ouvia o senhor
Simon concordando. O que será que eles estavam falando? Será
que a Sandra vai poder ir? Assim ficaram uns dez minutos no
telefone, pelo jeito até mudaram o assunto e começaram a falar
do curso da igreja. Até que ele desligou.
- E aí, senhor Simon, a Sandra vai?
MARCELO MENA
54
- Infelizmente não vai poder ir Jorge, o pai dela me pediu mil
desculpas, mas acha muito complicado a filha viajar com apenas
dois homens. Ela tem compromisso com a mãe na produção de
artesanatos e por isso não irá conosco. Eu lhe disse que não
haveria problema, e que realmente ele estava certo, não ficaria
bem ela conosco. Você já pensou, onde ela iria dormir? Teria
que ficar num quarto de hotel sozinha.
- É verdade, não tinha pensado nisto. Tudo bem, eu ligo do
Egito pra ela.
- E por falar na viagem, é melhor você arrumar sua mala.
- Bem, acho que minha mãe vai querer arrumar.
- Fale pra ela fazer um bolo pra comermos no caminho.
- O senhor gostou mesmo do bolo, hein?!
- Sua mãe é uma ótima doceira.
- Vou falar pra ela.
- Se você quiser ir embora agora, pode ir. Não temos mais o que
fazer na máquina, terei de esperar algumas peças chegarem, vou
avisar seu pai para que receba as peças pra mim no correio.
- Com certeza ele recebe pro senhor. Deixa que aviso ele.
- Obrigado, Jorge. Até mais.
- Tchau, senhor Simon!
Saí da casa do senhor Simon e encontrei o Nando andando de
bicicleta, quando me viu veio na minha direção.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
55
- E aí, meu amigo Jorge. Como estão as coisas?
- Tudo bem, Nando. E com você?
- Estou passeando de bike, já que estou de férias da escola.
Ainda está namorando a Sandra?
- Claro. E você, tem visto a Helen?
- Cara, aquela menina sumiu do mapa depois que ficou grávida
do Anderson. Você se lembra dele? O carinha rico da escola.
- Sim, fiquei sabendo. E você não estava namorando a Larissa?
- Que nada, ela ficou comigo uns dois dias depois me chutou. E
você pelo jeito vai casar com a Sandra.
- Se Deus quiser.
- Você teve sorte. O que está fazendo da vida? Está trabalhando?
- Estou trabalhando com o senhor Simon.
- E o que este velho faz da vida? Pra mim era um velho
aposentado.
- Ele é um cientista e tem um laboratório, onde faz algumas
experiências.
- Então você virou ajudante de um cientista maluco. He he!
- Quase isto. Ele é um bom cientista.
- E como ele arranja dinheiro?
MARCELO MENA
56
- Ele patenteou algumas invenções e vendeu pra algumas
empresas.
- Quer dizer que já inventou alguma coisa útil?
- Sim, Nando. Ele conseguiu montar um circuito eletrônico,
onde é possível analisar como está a qualidade da água e,
quando ligada com outras máquinas, regula a quantidade
necessária de produtos químicos para melhorá-la.
- É Jorge, aprenda com ele. Assim, vê se inventa algo pra tornar
a nota de dez em cem, com isso vamos ficar ricos!
- Nando, você não tem jeito mesmo. E o que está fazendo?
- Eu estou numa parada com uns amigos. Estamos tentando abrir
uma loja.
- E que loja seria?
- Qualquer uma, se não tiver segurança ou câmeras, a gente abre
e leva o que tiver!
- Você é maluco? Isso é roubo.
- É uma piada, Jorge.
- Só você mesmo, Nando.
- Me deixa ir, ainda vou passar lá na casa do Pedro, ver se ainda
tem alguns perfumes, pois minha mãe está precisando.
- Com certeza tem, ele fez uma compra esses dias com a dona
Rute, porque conversei com ele semana passada.
- Então beleza, Jorge. Até mais.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
57
Ele saiu rápido com a bicicleta, quase atropelando uma senhora
que estava na calçada. Ela reclamou e ele ainda saiu rindo. Esse
Nando não toma jeito mesmo.
Quando cheguei não havia ninguém em casa. Acredito que meu
pai tinha saído com minha mãe para fazer entregas de doces. A
cozinha estava toda arrumada, pelo jeito tinha terminado o
expediente. Aproveitei e liguei pra Sandra.
- Oi, Sandra. Tudo bem?
- Estou meio triste, pois vou ter que ficar longe de você.
- O senhor Simon me falou que seu pai não deixou.
- De certa forma ele tem razão, Jorge. Ficaria complicado pra
mim.
- Bom, pelo menos poderemos namorar por telefone.
Assim, ficamos no telefone por um bom tempo e não vimos a
hora passar. Quando ouvi o barulho da Brasília, me despedi da
Sandra, pois se meu pai me pega namorando no telefone me dá
uma bronca tremenda. Fui para meu quarto e minha mãe veio
falar comigo.
- Está dormindo, filho?
- Não, mãe. Estou cassando algumas roupas pra separar pra
viagem!
- Pode deixar que eu arrumo a mala pra você. O senhor Simon já
nos avisou que por lá é muito calor de dia e a noite esfria
bastante, então, terá que levar bastante agasalho.
MARCELO MENA
58
- Oh, dona Maria, não me vá fazer carregar um monte de mala.
- Você tem que pensar, Jorge. Lá, eu não vou poder lavar suas
roupas, você terá que dar um jeito sozinho.
- Está bem, mãe.
E assim ela começou a mexer no guarda roupa e tirou muita
coisa de lá de dentro que já não usava mais.
- Jorge, você tem roupa aqui de quando você tinha uns dez anos.
- Sim, mãe. Faz um tempinho que não arrumo o meu guarda
roupa.
- Tempinho? Deve fazer uns sete anos. Vou separar tudo e fazer
doação, enquanto preparo sua mala.
Assim, fiquei conversando com minha mãe, enquanto ela
arrumava as roupas. Fazia um bom tempo que a gente não
conversava, pois ela é uma mulher batalhadora. Não para
nunca. Férias, nem pensar. Diz que férias são pra quem tem
tempo, e realmente ela nunca tem tempo pra descansar. Meu pai
passou pelo meu quarto, como estávamos conversando não quis
atrapalhar e foi dormir. Cada roupa que ela pegava sempre se
lembrava de algum detalhe ou de alguma história que passamos,
quando pegou a minha medalha de honra ao mérito por ter
ganhado uma corrida na escola, ela chorou.
- Que foi, mãe?
Ela pegou a medalha na mão e colocou no meu pescoço.
- Lembrei-me deste dia. Como foi sofrido, você se lembra?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
59
- Eu devia ter uns doze anos.
- Sim, seu pai não queria que você participasse desta corrida,
pois achava que tudo isto era coisa do diabo. Me proibiu em te
levar, se eu fizesse isso ele me entregaria na igreja e eu seria
excluída por incentivar meu filho a participar de competições
demoníacas.
- Mas não fiquei sabendo disto, mãe.
- Sim, fiz de tudo pro seu pai não saber da data que era, pois
quando você entrou pela porta todo animado, dizendo que tinha
sido escolhido pra participar da corrida, e seus olhos brilhavam,
resolvi que iria fazer de tudo pra que você participasse, pois não
acreditava que uma corrida fosse coisa do diabo.
- Verdade? Por isso você não queria que eu contasse?
- Você queria contar pra ele, e não deixei. Naquela idade, você
não entenderia o fanatismo religioso do seu pai.
- E você me falou pra deixar quieto e seria um segredo nosso.
- Foi mesmo.
- No dia, a senhora não pode ir, não é?
- Você que pensa. Eu estava lá. Acha que perderia a corrida do
meu filho?
- Mas não te vi.
- Claro que não, fiquei escondida pra ninguém me ver. Vai que
alguém me visse e contasse pro seu pai.
MARCELO MENA
60
- Eu subi pra receber a medalha e achei que só os pais da Sandra
me viram naquele dia.
- Eu me lembro que o diretor da escola te chamou de pernas de
vento, por você ser muito rápido, lembra?
- Mãe, eu não acredito que a senhora estava lá e nem vi.
- Foi lindo ver você correr, ultrapassando todo mundo e ainda
ganhar a corrida. Eu fiquei feliz em ver que meu bebê havia
crescido e agora estava correndo com as próprias pernas.
Ela me abraçou e não consegui resistir, começamos a chorar. De
repente, meu pai entrou pela porta e nos olhou.
- Escutei tudo o que vocês conversaram.
- Pai, eu pensei que estava dormindo.
- Como vou dormir com duas pessoas que não param de falar?
- Me desculpe, Chico. É que estávamos relembrando algumas
histórias.
- De forma nenhuma, eu é que tenho que pedir desculpas pra
vocês. Eu fui muito ignorante e fanático pela religião e vocês
sofreram comigo, me perdoem.
- Claro, pai.
- Oh, Chico. Não é sua culpa, pois não conhecia a verdade.
- E graças ao Jorge, pude ver a realidade, e estou aprendendo
muito com o senhor Simon, aos domingos na igreja.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
61
- Seu Chico, venha aqui então e vamos nos abraçar, pois graças
a Jesus, nossa família é outra.
Assim, nos abraçamos e ainda conversamos mais um pouco
antes de dormir, pois já era de madrugada quando fomos nos
deitar. Agora, podia me deitar feliz, saber que meu pai era outra
pessoa.
MARCELO MENA
62
Capítulo 3
Viajem ao Egito
- Jorge, acorde.
- Mãe, ainda é cedo.
- Eu sei, filho. Mas, o senhor Simon chegou e diz que vai ter que
viajar ainda hoje.
- Como é? Hoje? Mas, por quê?
- Você só vai saber se descer e falar com ele.
- Já vou descer, mãe!
Assim que desci, percebi que era bem cedo, pois ainda as
funcionárias da minha mãe não haviam chegado. O senhor
Simon estava tomando café na cozinha com o meu pai.
- Bom dia, Jorge. Desculpe-me te fazer levantar tão cedo.
- Que isso, Simon, o Jorge ama acordar bem cedo, não é, Jorge?
- O senhor está de brincadeira, não é, pai?
Os dois riram, algumas migalhas de bolo voaram da boca do
senhor Simon.
- Sabe Jorge, nós vamos ter que viajar ainda hoje para o Egito.
- E por que esta pressa?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
63
- É que meu amigo pediu urgência, pois parece que ele
encontrou algo escrito no manuscrito e precisa do original
urgente. Segundo ele, há mais coisas do que imaginava.
- Que coisa, que horas iremos?
- Só estou te esperando, o nosso voo sai daqui a duas horas.
- E como iremos até o aeroporto?
- Seu tio vai nos levar até lá.
- Então, Jorge, corre se arrumar que o senhor Simon tem pressa.
- Está bem, pai. Ainda bem que minha mãe arrumou as malas
ontem.
Subi me trocar e minha mãe ainda estava arrumando algumas
coisas dentro da mala. Não demorou muito e meu tio chegou pra
nos levar ao aeroporto. Minha mãe me abraçou forte e me deu
várias recomendações de como deveria me comportar e
obedecer ao senhor Simon. Parecia o dia em que ela me levou
pra escola infantil.
- Mãe, e a Sandra? Não vou me despedir dela?
- Calma. Quando o senhor Simon nos falou da pressa liguei pra
mãe dela e avisei, elas devem de estar chegando.
- Mãe, como vou sobreviver sem a senhora? De tudo a senhora
lembra.
- Isso você fala agora, depois que casar vai esquecer-se de mim.
- Claro que não.
MARCELO MENA
64
- Quero só ver.
Quando descemos com as malas, havia uma multidão na sala,
acho que nunca havia ficado tão lotada deste jeito, até a Zenaide
do mercado estava lá, querendo saber pra onde estávamos indo.
A Sandra correu e pulou no meu pescoço e me beijou. Nesta
hora, todo mundo bateu palma, nós dois ficamos sem graça e o
povo riu.
- Bem, já que os pombinhos se beijaram, o melhor a fazer é uma
oração pra que Deus guarde o senhor Simon e o Jorge nesta
viajem e que possam retornar desta aventura com muita alegria e
presentes pra gente, vocês não acham?
- É verdade, Fred. Mas depois, precisamos deixar os pombinhos
um pouco a sós, pra que possam se despedir direito.
- Está é a Fábia sempre defendendo o amor.
- Mas é claro, Valdete. Os dois foram pegos de surpresa e nem
puderam conversar. Agora, toda esta multidão olhando pros
dois, até eu ficaria envergonhada.
Todos deram as mãos e começaram a orar por nós nesta viajem,
a Sandra apertava a minha mão com força e a minha mãe do
outro lado também. Estava vendo que iriam ficar roxas se a
oração demorasse um pouco mais. Assim, quando terminou todo
mundo começou a nos abraçar, o pai da Sandra me abraçou e
falou no meu ouvido:
- Que Deus te guarde nesta viajem, Jorge. Saiba que vou sentir
muito a sua falta, principalmente das nossas conversas todos os
dias. – Disse o pai da Sandra.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
65
É verdade, sempre que vou à casa da Sandra pra namorarmos,
o pai dela me puxa pra conversa e ficamos horas conversando.
Às vezes, a Sandra fica brava com ele dizendo que até parece
que é ele que namora comigo. A hora que a Valdete veio me
abraçar, a Sandra entrou na frente e ela vendo que não tinha
como me abraçar estendeu a mão e me cumprimentou. Saiu
rindo do jeito da Sandra.
- Que mulher folgada, querendo abraçar o meu amor.
- Deixa de ciúmes, Sandra.
- Não são ciúmes, é cuidado.
Meu tio Fred me abraçou e colocou algo no meu bolso.
- Juízo por lá, hein, seu ruela.
- Vou ter sim, tio. O que é isto que o senhor colocou no meu
bolso?
- É um cartão de crédito internacional, para o que você precisar
por lá. Tome cuidado. Não me vá perder, ou gastar de mais.
- Mas tio, não precisa.
- Precisa sim, e me faz favor de trazer presente, se não vou ficar
muito chateada com você! – Falou minha tia me puxando e me
abraçando.
- Está bem, tia. Muito obrigado.
Assim, todos foram saindo da casa e indo para o lado de fora.
Começou a juntar mais gente na rua, pois pensavam que havia
acontecido alguma coisa. Dona Clara, a vizinha de frente, ficou
MARCELO MENA
66
brava ao saber que a Zenaide estava lá e soube antes dela, o fato
da viajem. Minha tia aproveitou e me puxou pelo braço junto
com a Sandra, para dentro da casa.
- Agora vocês podem se despedir mais tranquilo aqui dentro e
eu ficarei na porta pra ninguém entrar. Mas, vamos rápido, não
quero que seu tio vá correndo para o aeroporto.
- Obrigado, tia.
- Vai, vamos logo.
A Sandra então me abraçou e nos beijamos. Ficava pensando na
saudade que sentiria dela, pois desde pequenos a gente não se
separa, crescemos na mesma rua, nós estudamos na mesma
escola infantil e acho que era a primeira vez em toda a nossa
vida que ficaríamos tanto tempo separados.
- Ai, Jorge. Como vou ficar sem você?
- A gente vai se falar por telefone. Assim que conseguirmos um
telefone lá, eu te ligo.
- Que nada, seu bobo. Olha aqui.
- O que é isto? Dois celulares novinhos? Você comprou?
- Que nada, meu pai comprou pra nós, assim a gente poderá
conversar sem problemas.
- Que legal, Sandra.
- Não se preocupe que já gravei os números na memória, assim,
se você quiser ligar pra mim, é só discar o numero um.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
67
- Entendi, meu número um. Eu te amo e vou sentir muita a sua
falta.
Nesta hora, minha tia abriu a porta, balançando a cabeça e
apontando para o relógio.
- Vamos, meninos, está na hora.
- Está bem, tia.
Entramos no carro e meu tio logo saiu, vi a Sandra abraçando a
minha mãe e as duas chorando.
- É Jorge, acabei de ver que você é muito querido aqui na rua.
- Que nada, senhor Simon. Esse pessoal estava era fazendo cena,
é só virarmos ali na esquina, o senhor vai ouvir alguns rojões de
alegria. Faz dezessete anos que esse povo quer ter um pouco de
paz nesta rua, porque o Jorge sempre foi um tormento, tanto
pros vizinhos, como para os parentes.
- Verdade, Jorge?
- Meu tio está brincando, senhor Simon. Sempre fui um bom
menino.
Na hora que viramos a esquina, não demorou muito, começamos
ouvir alguns rojões e bastante gente gritando viva. Nesta hora
realmente me assustei.
- Jorge, você está ouvindo os rojões?
- O pior que estou, senhor Simon.
Meu tio chorava de rir no volante, ele até parou o carro de tanto
rir.
MARCELO MENA
68
- O povo está festejando por eu ir embora e o senhor fica rindo,
tio?
- É que esta foi demais, nunca havia planejado algo tão preciso!
– Ele falou, enxugando as lágrimas.
- Como assim? – Falou o senhor Simon sem entender nada.
- Eu paguei pra uns moleques gritarem e soltarem os rojões.
Assim, a hora que eu passasse eles iriam fazer a festa, pois eu
queria te zoar. Mas o senhor Simon puxou o assunto e deu tão
certo, acabou saindo melhor do que eu esperava.
- Quer dizer que você planejou tudo isto?
- Me desculpe, senhor Simon, mas não podia deixar passar esta.
- Olha, Fred, você me surpreende com estas coisas. Bem
pensado!
- O senhor ainda apoia, senhor Simon?
- Mas vamos ser sincero, foi bem engraçado, Jorge! – Disse meu
tio, ligando o carro novamente.
Assim, os dois ficaram rindo e já que não tinha outro jeito,
comecei a rir também. Fomos conversando no caminho sobre
vários assuntos, meu tio e o senhor Simon, discutiram várias
vezes sobre assuntos bíblicos, assim, logo chegamos ao
aeroporto e meu tio se despediu. Fizemos tudo o que foi preciso
para encaminhar as malas e confesso que era a primeira vez
que viajava de avião, mas não estava com medo.
- E aí, Jorge, está preocupado em voar de avião?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
69
- Que nada, senhor Simon. Pra quem já viajou na sua máquina,
avião é fichinha.
- Minha máquina é bem mais segura.
- É mesmo, deu pra ver na ultima viajem.
- Realmente, nesta ultima viajem não esperava por flecha.
- Então, senhor Simon, como o avião voa bem alto, e flecha não
chega lá, estaremos mais seguros.
- É engraçado. Você, quando fica nervoso, gosta de fazer piada.
- O senhor acha que demora muito a viajem daqui até lá?
- Serão aproximadamente treze horas de voo.
- Meu Deus, tudo isto?
- Vamos chegar bem à noite, mas meu amigo estará no
aeroporto pra nos receber.
- E por falar nele, como é o nome dele mesmo?
- O nome dele é Joseph Cicley.
- E o senhor trouxe o pergaminho?
- Claro, carrego junto comigo.
- Vai ser uma emoção conhecer outro país. E por falar nisto, que
língua eles falam?
- No Egito se fala o Árabe, mas não se preocupe usaremos o
inglês.
MARCELO MENA
70
- O senhor fala inglês?
- Sim, e você, Jorge?
- Fiz curso de dois anos que meu tio pagou, mas nunca coloquei
em prática.
- Que bom. Assim, você vai usar bastante por lá.
Entramos no avião e havia muita gente diferente, tinha alguns
que falavam o que parecia árabe. Sentamos na poltrona e o
senhor Simon me deixou sentar na janela. Era bem legal. Na
nossa frente sentou um casal, conversavam muito sobre a festa
de casamento, pelo jeito haviam se casado há pouco tempo. O
rapaz foi colocar uma de suas malas no bagageiro e acabou
derrubando sobre o senhor Simon, o homem pediu mil desculpas
e assim começaram a conversar.
- Meu nome é Flávio e ela é minha esposa Samanta, a gente se
casou há três dias e estamos indo em lua de mel para o Egito.
- Muito prazer, Flávio, o meu nome é Simon e este é meu amigo
Jorge. Estamos indo ao Egito para estudos.
- O senhor é arqueólogo?
- Não. Sou cientista tecnológico, mas temos muita curiosidade
no Egito.
- Nós dois estamos muito emocionados é a primeira vez que
viajamos de avião, ainda mais fora do país.
- É a minha primeira vez também. – Falei para o Flávio.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
71
- Que legal. É bom conhecer novos amigos, assim nos sentimos
um pouco mais seguros, pois estar num país diferente, sem
conhecer ninguém é difícil. – Disse ele, apertando minha mão.
- É verdade, mas lá vocês não terão problemas, só tem que ficar
atento para não serem enganados, pois sempre tem alguém para
tirar vantagem dos outros, sempre é bom ficar no hotel e
somente sair com indicações do próprio hotel. – Falou o senhor
Simon.
- Então não é a primeira vez que o senhor viaja para o Egito? –
Disse o Flávio, tentando se acomodar na poltrona.
- Na realidade já é quarta vez que viajo para o Egito. – Disse o
senhor Simon, colocando sua bengala entre as poltronas.
- Nós vamos ficar no hotel Quéops, o senhor sabe onde fica? –
Finalmente, Samanta falou meio tímida.
- Não lembro ao certo, pois existem muitos por lá! – Respondeu
o senhor Simon.
- O hotel nos avisou que haverá uma pessoa nos esperando pra
nos levar. – Flávio falou, colocando o seu braço sobre o ombro
de Samanta e os dois se abraçaram.
- Não se preocupem, o hotel cuida de tudo pra vocês. – Falou o
senhor Simon.
Nesta hora ouvimos nas caixas de som do avião que era pra
todos se sentarem e apertar o cinto, pois o avião já iria levantar
voo.
- Quer dizer que o senhor já viajou pro Egito?
MARCELO MENA
72
- Sim, Jorge. A última vez foi com o Joseph, pois precisávamos
participar de uma palestra sobre escavações no Egito. Foi
quando Joseph largou tudo e ficou por lá. Ele amava
arqueologia e desde esta época não o vejo.
- Quanto tempo faz, senhor Simon?
- Já está fazendo oito anos. Me lembro dos passeios nas
pirâmides, aprendemos muito sobre arqueologia. Este casal vai
se divertir muito, tem muitos lugares pra visitar.
- E o senhor acha que eles vão ter tempo pra isso?
- Ai, Jorge, é claro que vão ter tempo, eles não vão ficar o tempo
todo no hotel, não é?!
- Sei lá, são casados novos. E por falar em hotel, onde vamos
ficar?
- Bem, o Joseph nos convidou pra ficar na casa dele, assim fica
mais econômico.
O avião levantou voo. Na viagem, o senhor Simon foi ao
banheiro várias vezes. Reclamava que o banheiro era muito
apertado. O casal foi a viagem inteira se beijando e abraçando,
só paravam quando iam comer alguma coisa, e por falar nisto, a
comida era horrível.
- Jorge, você experimentou esse frango? – Falou o senhor
Simon, cuspindo dentro de um saquinho de papel.
- Sim, está horrível. Parece que o frango sofreu pra morrer.
- Como assim, Jorge?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
73
- A carne pra estar assim é porque correram atrás,
desesperadamente, do frango e o bichinho sofreu suado, pra
depois o matarem.
- Essa é boa. Só você mesmo pra pensar nesta história, Jorge.
Mas, pensando bem, vou ficar só com o doce.
- Eu também, não sabia que a comida de avião era ruim assim.
- É que estamos na classe econômica.
- E o pior, senhor Simon, é que não dá pra jogar pela janela.
- Verdade.
O casal virou para trás e disse:
- Vocês também estão achando ruim a comida?
- Está terrível! – Respondi.
- Vamos evitar comer neste avião. – Falou Flávio.
- Sim, é bom evitar, mas o que você faz da vida? Perguntou o
senhor Simon, comendo um pedaço do doce.
- Sou consultor de vendas e a Samanta é professora.
- Desculpe atrapalhar a conversa, mas será que ainda falta muito
pra chegar, senhor Simon?
- É, Jorge, ainda faltam nove horas.
- Então acho que vou tirar um cochilo, senhor Simon.
MARCELO MENA
74
- Tudo bem, Jorge. Pode descansar você acordou bem cedo, não
é?
O senhor Simon continuou conversando com o Flávio e a sua
esposa, que ainda insistia em comer aquele frango horrível.
Assim, acabei fechando os olhos e não vi mais nada. De repente
acordei com uma barulheira dentro do avião, olhei do lado o
senhor Simon não estava, nem o Flávio no banco da frente. Sua
esposa estava no corredor olhando pra frente.
- O que está acontecendo? – Perguntei.
- Parece que um homem está passando mal e caiu no corredor. –
Disse ela, como que desesperada.
Olhei e vi que tinha um homem caído no chão, o senhor Simon e
o Flávio seguravam a cabeça do homem. Alguns seguravam os
braços e tentavam fazer uma massagem, fui até mais perto para
ver. O rosto do homem estava roxo, parecia não respirar,
algumas aeromoças estavam entrando em desespero. Uma
senhora gorda gritou bem alto:
- Não tem nenhum médico a bordo?
- Calma, senhora. Estamos tentando localizar. – Respondeu a
aeromoça, toda pálida.
Aproximei pra conversar com o senhor Simon, sobre como
poderia ajudar, mas de repente o avião balançou por inteiro.
Alguns caíram no chão e outros sobre os bancos, o senhor
Simon e o Flávio caíram para trás, e por incrível que pareça,
caí em cima do homem que estava morrendo. Bati com a minha
cabeça no seu estômago. Nesta hora, o homem deu uma tossida
tão forte que voou um pedaço de osso de frango, que chegou a
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
75
fincar no teto do avião, logo o homem voltou a respirar. Uma
aeromoça gritou:
- Graças a Deus, ele voltou respirar.
- Obrigado, garoto. Você me salvou! – Falou o homem, com
uma voz ofegante.
- Foi sem querer que caí em cima do senhor.
- Se não fosse você cair, estaria morto agora. Como é seu nome,
garoto?
- É Jorge.
- Muito obrigado, Jorge. Nunca vou me esquecer do seu nome.
O homem levantou com um pouco de dificuldade, me abraçou e
todos bateram palmas. Então, todos voltaram pro seus lugares e
alguns diziam que o frango estava tão ruim que quase matou o
homem.
- É Jorge, começo acreditar que realmente você tem um dom. –
Falou o senhor Simon, batendo nas minhas costas.
- Como assim?
- Você acabou de salvar a vida daquele homem, acho que mais
alguns minutos, ele não conseguiria sobreviver.
- Foi coincidência, senhor Simon.
- Jorge, eu não acredito em coincidência e sim providência
divina, pois te vi voando dentro do avião e caindo de cabeça na
barriga do homem!
MARCELO MENA
76
- A minha sorte que o homem estava lá e amorteceu a minha
queda. Se não, eu tinha estourado a cabeça no chão, senhor
Simon.
- O importante que deu tudo certo. – Disse o Flávio, também
batendo nas minhas costas.
Nesta hora, chegou um homem com uma aeromoça dizendo que
ele era médico e perguntando onde estava o homem desmaiado.
Todos começaram a rir, o Flávio virou para o homem e disse:
- Um pouco tarde agora, meu senhor. O homem já está bem.
- O que aconteceu? – Perguntou o médico.
- Vamos dizer que houve um milagre. – Disse o senhor Simon
me olhando e rindo.
Chegamos ao aeroporto do Egito e era de madrugada, havia
poucas pessoas, então fomos pegar nossas malas e saímos pela a
porta principal do aeroporto. Não havia ninguém nos esperando,
então, nos sentamos próximo a um bebedouro. O lugar era bem
bonito, cheio de cores.
- Era pro Joseph estar aqui. – Falou o senhor Simon, meio
preocupado.
- Ele deve ter se atrasado.
- Estranho, Jorge, pois ele é bem sistemático com o horário, ele
nunca atrasa. Vamos esperar um pouco.
- O senhor não tem o telefone dele?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
77
- Tenho, acho que vou ligar pra ele daquele telefone ali. –
Apontando pra um telefone público.
- Usa o meu celular. É só ligar a bateria e depois vou ligar pra
Sandra e minha mãe.
O senhor Simon pegou o meu celular e se afastou pra ligar.
Estava um pouco frio o lugar. Toda vez que abriam a porta
automática dava pra sentir um vento gelado entrando. Víamos
algumas pessoas passando. Pensei que ia encontrar muita gente
com roupas estranhas, camelos andando pela rua, mas não vi
nada disso. Era como se estivéssemos numa cidade bem
desenvolvida, as ruas estavam com muitos carros e muitas lojas
fechadas. Enquanto eu olhava algumas lojas, o senhor Simon
começou a falar em inglês e o que entendi foi mais ou menos
isso:
- Alô, Joseph? Quem? Polícia Egípcia? Como assim? Sou amigo
dele e vim do Brasil para ficar na casa dele, estou no aeroporto
de Cairo e estou o aguardando. Meu nome é Simon e estou com
meu amigo Jorge. Está bem, estaremos esperando.
- O que foi, senhor Simon?
- Não entendi direito, parece que houve alguma coisa com o
Joseph e o celular dele estava com a polícia. Agora estão vindo
aqui pra falar conosco.
- O que será que aconteceu?
- Não sei, Jorge, mas algo ruim deve de ter acontecido com ele.
Vamos aguardar.
- Agora vou ligar pra Sandra e pra minha mãe.
MARCELO MENA
78
- Não comente nada sobre isso. Pra elas não ficarem
preocupadas diga que estamos aguardando no aeroporto.
- Está bem. Vou ligar. Está chamando. Alô?
- Oi, Jorge. Já chegaram? Como foi de viagem?
- Oi, Sandra. Acabamos de chegar, foi muito boa, só a comida
do avião é que era horrível.
- Estou morrendo de saudades. – Disse a Sandra, com voz de
choro.
- Também estou com muitas saudades, pena você não estar aqui,
você ia amar ver as lojas de roupas que tem por aqui.
- Verdade? Vê se tira foto com o celular e me manda.
- Pode deixar, mas vou ter que desligar, pois preciso ligar pra
minha mãe.
- Não precisa, ela está aqui do meu lado.
- Ela está na sua casa?
- Que nada, eu é que estou na sua casa. Ficamos aqui a convite
de sua mãe até esperar você ligar, mais um pouco tinha virado
uma bola, pois sua mãe não para de dar as coisas pra gente
comer.
- Isso é normal dela, Sandra.
- Mas vou passar pra ela, só um minuto.
- Oi, Filho. Tudo bem por ai?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
79
- Graças a Deus, mãe. E a senhora e o pai?
- Agora estamos tranquilos, sabendo que vocês chegaram. E
como é o lugar aí?
- Muito bonito, tem muitas lojas. Estamos morrendo de fome.
- Mas não comeram no avião?
- A comida era horrível, se eu fosse a senhora iria lá ao
aeroporto e oferecia seus serviços pra eles. Quem sabe assim
melhoraria a alimentação e a senhora teria que aumentar a
empresa.
- Boa ideia, Jorge. Quem sabe dá certo. Mas vou parar por aqui,
pra não ficar caro. Qualquer coisa me liga, filho.
- Pode deixar, mãe.
- Vou passar pra Sandra de novo.
- Você é o amor da minha vida, Jorge.
- E você da minha, Sandra. Mas, vou ter que desligar, assim que
eu puder te ligo de novo.
- Está bem, um beijão.
Desliguei o telefone e percebi que o senhor Simon estava muito
nervoso.
- Fique calmo, senhor Simon. Vai dar tudo certo.
- Estou preocupado com meu amigo.
MARCELO MENA
80
Nesta hora, o Flávio e a Samanta se aproximaram da gente e
perceberam o nervosismo do senhor Simon.
- Algum problema, seu Simon?
- É que nosso amigo está atrasado.
- A pessoa que vinha buscar vocês? – Perguntou Flávio,
colocando as malas no chão.
- Isso. – Respondi.
- Olha, não precisa se preocupar Flávio, a gente vai esperar e
qualquer coisa a gente vai pra um hotel. – Falou o senhor
Simon, tentando não demonstrar nervosismo.
- Qualquer coisa, fica com o número do meu telefone e se acaso
precisar, é só ligar. Se for o caso, vocês ficam no mesmo hotel
que a gente e pode deixar que eu pago. – Falou Flávio.
- Agradeço a boa vontade de vocês, mas não se preocupem,
aproveitem a lua de mel de vocês! – Disse o senhor Simon.
- Então nós vamos indo, qualquer coisa me liga! – Disse Flávio,
pegando as malas e abraçando a Samanta.
- Até mais. Boa lua de mel pra vocês! – Falei.
Os dois saíram conversando sobre nós e logo pegaram o carro
do hotel que já os aguardava.
- Este casal é muito legal, senhor Simon.
- Também achei, Jorge. Quem iria querer pagar um hotel pra
nós, sem nos conhecer?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
81
Nesta hora entraram dois homens engravatados, vieram em
nossa direção e falaram uma língua muito esquisita. Não
entendemos nada.
- Vocês não falam inglês?
- Sim, falamos. Vocês são os dois brasileiros que eram amigos
do professor Joseph? – Falou um homem careca e de gravata
vermelha.
- Sim, somos nós. – Respondeu o senhor Simon.
- Por favor, nos sigam até a delegacia. Precisamos conversar. –
Falou o outro rapaz de gravata cinza florida e com um sapato de
bico fino.
- Mas o que aconteceu? – Perguntou o senhor Simon.
- Não podemos falar agora, somente na delegacia tudo será
esclarecido. – Falou o careca.
Então, entramos em um carro preto com os vidros escuros e
fomos até a delegacia. A rua era bem iluminada. Passamos
próximo a uma praça bem grande e entramos em uma rua bem
estreita, não demorou muito chegamos até a delegacia. Fomos
levados para uma sala grande com algumas poltronas. Lá havia
uma garrafa de suco e algumas bolachas.
- E agora, senhor Simon? – Perguntei.
- Não sei, Jorge. Temos que esperar pra ver o que querem e
saber o que aconteceu.
- Será que podemos comer estas bolachas?
MARCELO MENA
82
- Não sei, Jorge.
- Vou pegar uma, estou com muita fome.
Quando peguei a bolacha e estava levando a boca, um homem
alto entrou com uma pasta na mão. Fiquei sem saber se
continuava a levar na boca ou deixava no prato.
- Podem comer, fiquem à vontade, é pra vocês mesmo.
- Obrigado, estamos morrendo de fome. – Falei.
- A comida do avião é horrível, não é? Vocês comeram o
frango? – Falou o homem.
- Como o senhor sabe? – Perguntei pra ele.
- É que um dos passageiros veio até a delegacia prestar queixa,
pois parece que um homem quase morreu por causa do frango.
- É verdade! – Falei com a boca cheia de bolacha.
- Bem, meu nome é Zaid. Sou responsável por este distrito.
Desculpe-nos os transtornos, mas é que precisamos fazer
algumas perguntas antes de liberar vocês.
- Sim, sem problemas. Mas preciso saber sobre o meu amigo
Joseph. – Falou o senhor Simon meio nervoso.
- Não te falaram o que aconteceu? – Perguntou Zaid.
- Ninguém nos falou nada até agora. – Disse o senhor Simon.
- É que o professor Joseph foi morto hoje ao meio dia e seu
apartamento foi todo revirado. Estamos achando que foi roubo
seguido de morte. – Disse Zaid.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
83
- Não acredito, o meu amigo foi morto? E como o mataram?
- Sinto muito pela perda. Ainda não saiu o laudo do legista, mas
parece que foram dois tiros. – Zaid falou, tentando ser legal com
o senhor Simon.
- Ele nunca fez mal a ninguém. – Falou o senhor Simon,
Chorando.
- O professor era um homem querido aqui, tanto na faculdade,
onde ele dava palestras sobre suas descobertas, como com a
equipe de escavações. – Disse Zaid.
- E vocês tem ideia de quem fez isto? – Perguntei.
- Não ainda, mas estamos investigando. Agora posso fazer
algumas perguntas?– Perguntou Zaid.
- Sim, claro! – Falou o senhor Simon.
Assim, Zaid começou a fazer perguntas pro senhor Simon sobre
como o conhecia, quando se falaram. Só sei que a conversa
levou mais ou menos uma hora e meia, pois esta situação era
bem triste, acredito que o senhor Simon ficou bem chocado com
a morte de seu amigo.
- Bem, Simon, acredito que terminamos por aqui. O senhor tem
algum lugar pra ficar? Perguntou Zaid, colocando seus papeis
em uma pasta.
- Iríamos ficar na casa do Joseph, mas agora ficamos sem saber
o que fazer, nós vamos precisar de um hotel.
- Então vamos fazer o seguinte: vou levar vocês pra um hotel
aqui perto. Pode deixar que a delegacia paga a diária de vocês
MARCELO MENA
84
até amanhã, depois é por conta de vocês. Até quando o senhor
pretende ficar?
- Bem, a minha ideia era uns trintas dias, mas agora não sei
mais.
- Daqui a quatro dias vamos liberar o corpo para o enterro, mas
universidade já está providenciando tudo. Então, meus
sentimentos pelo seu amigo e tenha uma boa estadia no Cairo.
Qualquer informação, ou algo que queira falar, é só nos ligar. –
Disse Zaid, abrindo a porta para sairmos acompanhado pelos
dois policiais.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
85
Capítulo 4
Um Roubo Estranho
Passamos a noite no hotel indicado pela polícia, que não era lá
grande coisa. Era um pequeno quarto com banheiro e uma
televisão, que só falava em árabe. Tínhamos direito ao café da
manhã e almoço. O senhor Simon ficou calado um bom tempo,
não quis incomodá-lo, pois sabia que ele estava triste com a
morte de seu amigo. Logo pela manhã, eu estava um pouco
cansado, devido o fuso horário.
- E agora, senhor Simon? O que vamos fazer?
- Andei pensando sobre tudo isto, Jorge. Acho que devemos ir
embora após o enterro, pois não conseguiremos decifrar o mapa
sem meu amigo. Então, enquanto esperamos o enterro, pensei
em passar pelas pirâmides pra você conhecer, alguns outros
lugares turísticos e depois partiremos.
- Sinto muito pela morte de seu amigo.
- Eu sei, Jorge, foi uma tristeza e atrapalhou todo o nosso plano.
Mas vamos descer, nos alimentar e conhecer um pouco o Egito.
Chegamos ao restaurante do hotel e havia bastantes frutas e pães
para comer. A mesa era bem farta e não havia muita gente.
- Jorge, experimente este café. – Disse o senhor Simon, pegando
uma xícara de café de uma máquina e me dando para beber.
- Puxa, é muito forte e gostoso.
- Esse café é brasileiro, percebeu a diferença?
MARCELO MENA
86
- Brasileiro? É bem diferente do nosso café.
- Aqui chega o melhor café do Brasil, o nosso país fica com o de
pior qualidade, Jorge.
- Que coisa. Então, a gente bebe o pior, enquanto o melhor da
nossa terra é mandado pra outros países.
- Pra você ver como o Brasil é complicado.
Pegamos alguns pães e nos sentamos em uma mesa próxima à
janela que dava para a rua.
- Este pão parece com o que minha mãe faz, está uma delícia,
senhor Simon.
- Verdade, Jorge.
Enquanto estávamos comendo, entrou um homem bem vestido,
sentou-se próximo a nossa mesa e ficava nos olhando.
- Senhor Simon, está vendo aquele homem?
- Sim. Vi, ele não para de olhar para nós.
- O que será que ele quer?
- Pode ser que seja da polícia. Está nos observando para ver o
que iremos fazer, Jorge!
- Por que, senhor Simon?
- Eles estão investigando a morte do meu amigo. Como viemos
de outro país, justamente quando ele morre, parece meio
suspeito, você não acha?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
87
- É, até pode ser. O pior é que ele está vindo até aqui.
O homem estava com uma calça social cinza e uma camisa
listrada. Usava óculos na ponta do nariz e tinha um cabelo bem
liso, caído sobre a testa.
- Com licença. Vocês são brasileiros? – Perguntou ele.
- Sim. – Respondeu o senhor Simon.
- Vocês eram amigos do Joseph? – Falou ele, pegando um
pedaço de pão da nossa mesa.
- Sim, por quê? – Perguntou o senhor Simon, não gostando
muito do que ele fez.
- Graças a Deus são vocês. Posso me sentar aqui? – Perguntou
ele, já arrastando a cadeira e se sentando.
- Sim, mas, quem é você? – Perguntou o senhor Simon.
- Meu nome é Khar, fui aluno do senhor Joseph e estava
trabalhando com ele. Ele me contou que vocês estavam
chegando do Brasil, trazendo um pergaminho.
- Sim, mas por que está falando tão baixo? – Perguntei.
- É que estou com medo, foi por causa deste pergaminho que
Joseph morreu.
- Como assim? Explique! – Disse o senhor Simon, encarando o
Khar.
- Ele recebeu uma parte da cópia do pergaminho e ficou muito
empolgado. Comentou comigo que este pergaminho era o que
ele tanto procurava, pois com ele seria possível descobrir sobre
MARCELO MENA
88
os atanasianos e os tesouros de Salomão. Mas ele não contou só
para mim, ele comentou com algumas pessoas da universidade
que ajudavam a financiar as suas escavações e após isso, um
grupo de pessoas o cercaram numa noite, após a saída da
universidade, e pediram que ele entregasse o pergaminho. Ele
disse que não poderia, pois não estava com ele, deram, então,
um prazo para entregar, que foi ontem.
- Porque ele não procurou a polícia?
- Não podia, ele disse que tinha sempre alguém o seguindo em
qualquer lugar que fosse. Se ele denunciasse, seria morto.
Acredito que foram eles que mataram o professor Joseph.
- Então vamos até a polícia e você conta esta história para o
delegado. – Falou o senhor Simon se levantando da mesa.
- Não, por favor! Se sente. Eu não quero me envolver, posso ser
morto também! – Disse o Khar, olhando dos lados e puxando o
senhor Simon para se sentar.
- Então porque está aqui nos contando tudo isto? – Perguntei.
- É que ontem, o professor Joseph me encontrou na
Universidade, pela manhã, e me chamou dentro de uma sala de
aula. Me disse que estava correndo perigo de vida, por causa do
pergaminho, e que precisava avisar vocês. Mas não poderia, pois
o telefone dele estava grampeado, portanto, me pediu que fosse
até o aeroporto receber vocês.
- E porque você não foi? – Perguntou o senhor Simon com a voz
meio brava.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
89
- Eu fui. Mas quando cheguei, a polícia já estava lá, então fiquei
esperando até que trouxeram vocês pra este hotel. Não quis
incomodar vocês na madrugada, por isso vim agora, de manhã.
- Sim, e onde Joseph queria que nos levasse? – Perguntou o
senhor Simon.
- Na realidade ele só me pediu pra que encontrasse vocês no
aeroporto e entregasse esta chave. Recomendou que fosse até a
estação férrea, onde estiveram alguns anos atrás. Ele disse que
saberia onde é. – Falou Khar, colocando a chave sobre a mesa.
- Sei sim. – Respondeu o senhor Simon, pegando a chave.
- Então está bem, vou embora e não quero nem saber mais sobre
este assunto. Terminei a minha missão, que prometi ao
professor. Boa sorte pra vocês.
O homem saiu correndo sem olhar pra trás, pegou o carro e saiu
que nem louco.
- Que história maluca, senhor Simon. Será que é verdade tudo
isto?
- Não sei, Jorge. Vamos até a estação e veremos o que tem lá.
- E esta chave, pra que serve?
- A última vez que estivemos aqui, possuíamos algumas
mochilas e não tínhamos onde deixar. Então, nos informaram
que poderíamos deixar na estação de trem. Lá havia vários
armários, onde fazíamos um cadastro e pegávamos uma chave
pra guardar nossas coisas.
- Será que ele deixou alguma coisa lá, senhor Simon?
MARCELO MENA
90
- É possível. Mas só vamos descobrir se formos até lá.
- E se as pessoas, que seguiam o Joseph, estiverem lá? Pode ser
que o tenham seguido e estão esperando alguém ir até lá.
- Só tem um jeito de descobrir.
- Como, senhor Simon?
- Indo até lá, Jorge.
- Não gosto quando o senhor fala assim. Bem que a Sandra disse
que os inimigos de Deus poderiam estar à procura deste
pergaminho. A gente vai acabar morrendo por causa deste
bendito pergaminho!
- Calma. Ninguém vai matar a gente na estação de trem, lá é
superlotado de pessoas.
- Neste caso, eles podem nos pegar, levar para outro lugar e nos
matar! Pode ver, quem pega este pergaminho acaba morrendo.
- Como assim, Jorge?
- O homem, há dois mil anos atrás, morreu com flechas na
barriga por causa deste pergaminho. Seu amigo, agora, morreu
com tiros por causa disto. O melhor é irmos embora e deixar
esta história de pergaminho como está.
- Então vamos fazer o seguinte: iremos até lá, veremos o que o
meu amigo deixou e vemos se encontramos os atanasianos, para
devolvermos o pergaminho.
- Que loucura! Então vai à busca dos imortais? Nem sabemos se
eles existem.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
91
- Você não ouviu o rapaz dizendo que este pergaminho
conseguirá descobrir sobre os atanasianos e os tesouros de
Salomão?
- Não quero nem saber mais sobre tesouros. Mas sei que o
senhor não vai sossegar até descobrir, não é?
- Jorge, veja quanta coisa podemos descobrir, será uma
aventura!
- Está bem, já que não vou conseguir mudar sua opinião, então
vamos.
Assim, pegamos um táxi e fomos até a estação de trem que o
senhor Simon conhecia. Realmente, havia uma multidão de
gente.
- Jorge, acho que ele escolheu esta estação, pois quem o
estivesse seguindo não conseguiria ver o que ele estaria fazendo.
Seria um ótimo lugar pra despistar alguém.
- Está certo. Vamos encontrar o armário.
Chegamos numa sala enorme e havia vários armários com
numeração.
- Qual o número, senhor Simon?
- 1350, Jorge.
- Estamos, ainda, no número 144!
- Vamos seguir por aqui, Jorge.
Eram muitos armários, pareciam infinitos.
MARCELO MENA
92
- Achei, Jorge. Venha!
Ele abriu o armário e havia uma pequena maleta. Do lado de
fora, um papel colado.
- O que está escrito, senhor Simon?
- Está dizendo para sairmos rápido daqui e só abrirmos a maleta
num lugar mais tranquilo.
- Estou indo.
- Calma, espera, Jorge!
- Vamos seguir tranquilos, sem dar sinal de que estamos
nervosos.
- Não estou nervoso, senhor Simon!
- Não está?
- Estou é morrendo de medo.
- Vamos sair andando normalmente, Jorge.
Saímos da estação e voltamos para o hotel.
- Olha, senhor Simon, naquela estação de trem, parecia que todo
mundo ficava olhando para nós. Pra mim, todos eram os
inimigos de Deus.
- Fique tranquilo, Jorge. Ninguém sabe que temos o
pergaminho. Quando chegarmos ao nosso quarto, a gente saberá
o que fazer.
- Está bem.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
93
Quando abrimos a porta do quarto, todas as coisas estavam
reviradas, parecia que havia passado um furacão, todas as
roupas estavam jogadas, as malas reviradas, os armários todos
abertos, uma situação realmente difícil.
- O que aconteceu, senhor Simon?
- Alguém entrou aqui e revirou nossas coisas!
- E agora, chamamos a polícia?
- Não podemos. Caso contrário, teríamos que falar sobre o
pergaminho.
- O que vamos fazer?
- Vou ligar para o gerente do hotel.
Assim que o senhor Simon ligou, o gerente chegou rapidinho.
Foi logo pedindo desculpas pelo fato e perguntou se queríamos
que chamasse a polícia.
- Não precisa chamar a polícia, pois não roubaram nada de
valor. Só queremos mudar de quarto, é possível? – Perguntou o
senhor Simon.
- Sim, vou pedir pra levarem as suas coisas para o andar de cima
e tentar descobrir se foi alguém daqui. Temos câmeras e
veremos quem foi. – Disse o gerente, todo nervoso.
Subimos para outro quarto e este era mais chique. Tinha até ar
condicionado. Levou um bom tempo arrumar tudo de volta.
- Senhor Simon, e o pergaminho? Não estava nas suas coisas?
MARCELO MENA
94
- Claro que não, Jorge. Está dentro de uma bolsa que carrego por
dentro da minha roupa.
- Ufa! Imagine se tivessem roubado.
- Graças a Deus não levaram nada.
- Espera um pouco.
- O que foi, Jorge?
- Roubaram minhas cuecas!
- O que? Suas cuecas? Hahahahaha! Pare de brincadeira, Jorge!
- É sério, não estão aqui.
- E porque levariam suas cuecas?
- Acho que foi algum pervertido.
- Espera aí, quando viemos da viagem do Harmes, você tinha
uma cueca de couro de animal, não tinha?
- Sim, aquela que a gente amarra com aqueles laços de couro.
- E você trouxe?
- Claro! Ela é bem confortável, melhor do que essas que a gente
usa.
- Então está explicado!
- Por quê?
- Aquela cueca aberta parece um pergaminho, talvez, levaram
achando ser isto.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
95
- Cretinos! Fiquei sem cuecas agora. Era só o que me faltava.
- Não se preocupe. Depois a gente compra nas lojas lá embaixo.
- Mas nunca vou ter outra igual àquela de couro.
- Está bem, vamos abrir a maleta pra ver o que tem, Jorge.
- Vamos!
Ao abrir a maleta, havia algumas notas de dinheiro e um
envelope branco. O senhor Simon foi logo abrindo.
- Veja, Jorge! É uma carta do Joseph.
- Leia, senhor Simon.
- Aqui Diz:
Bem, meu caro amigo, Simon. Se você estiver lendo esta carta é
porque provavelmente já estarei morto, mas não se preocupe,
pois posso dizer que já estava preparado para este
acontecimento. Sei que terminei a minha carreira na Terra,
trabalhei muito na busca de materiais arqueológicos, para cada
vez mais poder comprovar o que na bíblia está escrito. Meu
ultimo achado foi um vaso de alabastro. Acreditamos ser da
época de Cristo e está no museu de Londres. Se você passar por
lá, verá o meu ultimo achado. Então, devo estar agora
aproveitando das delícias do paraíso, pois vivi e morri tendo
Jesus como meu melhor amigo e mestre.
Bem, Simon, o assunto agora é de extrema importância. Pois,
daquela cópia do pergaminho, que você me enviou, consegui
traduzir alguns trechos que falam dos atanasianos e dos tesouros
de Salomão. Portanto, resolvi pedir ajuda aos meus
MARCELO MENA
96
patrocinadores, que são da Universidade e, logicamente, ficaram
empolgados com esta cópia do pergaminho. Mas só a cópia não
era suficiente, pois precisávamos de todo o pergaminho para
tentar desvendar a localização dos tesouros de Salomão. Por isso
pedi para que viesse para o Egito. O que eu não sabia era que
um dos meus patrocinadores estava envolvido com o senhor
Muled. Este homem é um ladrão de túmulos, aqui no Egito, e é
procurado pela polícia. Como tem muito dinheiro, consegue
comprar muita gente, até policiais. Você deve tomar muito
cuidado com ele, pois é inescrupuloso e assassino. Simon, não
confie em ninguém.
Muled queria que eu entregasse o pergaminho para ele, ou
então, iria me matar. Tentei falar que não o tinha comigo, mas
ele me deu um prazo de vinte quatro horas. Como sabia que
você estava vindo, não podia arriscar a tua vida também. Por
isso, preparei esta maleta com esta carta, para que não permita
que Muled tome posse deste pergaminho. Então, com o dinheiro
que deixei, quero que você vá até Alexandria e procure pelo
professor Bryan Sand. O endereço dele está dentro do envelope.
Ele poderá desvendar o pergaminho e ajudará no que for
possível. Já havia falado com ele, antes de tudo isto acontecer,
portanto, não perca tempo com nada. Saia do Egito o mais
rápido possível, antes que Muled saiba sobre você e o
pergaminho.
Você sabe a importância que existe na descoberta dos tesouros
de Salomão. Poderemos desvendar muitos mistérios que existem
sobre o passado, então, não desista Simon. Vá até o fim.
Tenha uma boa sorte. Deus te guarde em tudo. Um forte abraço
e até a eternidade, Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
97
- E agora, senhor Simon?
- Arrume as malas e vamos embora para Alexandria.
- E se esse tal de Muled nos encontrar?
- Por isso precisamos sair daqui, urgente. Ele já sabe que
estamos aqui.
- Então vamos embora! Mas lembre-se que ainda precisamos
comprar cuecas.
- Está certo, Jorge. Em Alexandria a gente compra.
Saímos do hotel o mais rápido possível, fomos até a estação de
trem e, depois de algumas horas, descemos na cidade de
Alexandria. Já era bem tarde da noite, mas conseguimos
encontrar um hotel para ficar.
- É, Jorge, vamos descansar. Amanhã bem cedo precisamos
encontrar o Bryan Sand. Foi ótimo virmos à noite, assim, fica
difícil alguém nos seguir.
- É, mas ainda acho que devíamos ir embora.
- Sim, Jorge, mas é que a descoberta dos tesouros de Salomão é
de extrema importância. Agora, só esse professor poderá nos
ajudar, já que nós não conseguimos decifrar o que está escrito.
- Amanhã preciso de cueca, lembra?
- Sim, Jorge. Aqui em Alexandria tem bastantes lojas.
MARCELO MENA
98
Capítulo 5
Sequestrados
Acordei com o sol batendo na janela, olhei para a cama do
senhor Simon e já estava toda arrumada. Ele não estava no
quarto, então levantei e fui olhar pela janela. Havia muita gente
na rua, a cidade era bela e estávamos de frente para uma praia
muito linda. Assim, enquanto eu admirava o local, o senhor
Simon entrou com algumas sacolas nas mãos.
- Bom dia, dorminhoco!
- Bom dia, senhor Simon. Aonde o senhor foi?
- Fui comprar alguma coisa pra nós comermos e já comprei as
suas cuecas. Infelizmente não tem iguais às do Brasil, por isso,
você terá que se adaptar.
Peguei a sacola e dentro havia alguns calções.
- Estas cuecas parecem do tempo do meu avô!
- Você se adapta, Jorge. Tem mais uma coisa.
- Qual é?
- O chuveiro só tem água fria. Aproveite que a água é só até às
dez horas, depois, só amanhã.
Saí correndo para tomar banho. Realmente, a água era
congelante. Saí do banho tremendo e batendo os dentes. O
senhor Simon ficava rindo. Comemos algumas frutas e pães,
depois saímos em busca do professor. As ruas eram bem
estreitas, com vários prédios altos. Podíamos ver vários turistas
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
99
passeando pelas ruas, por causa de suas roupas coloridas.
Muitos deles eram americanos.
- Jorge, este é o prédio. Vamos entrar!
- O senhor já conhecia este lugar?
- Sim. Da última vez que estive aqui foi apenas para conhecer o
museu.
Chegamos à portaria e havia um homem gordo, fumando um
tipo de cachimbo muito estranho, o cheiro era insuportável. O
pior era que só falava em árabe. Então o senhor Simon mostrou
o nome e ele apontou para o número. Era o quarto trinta e dois,
ficava no terceiro andar. Ele balançava a mão para que fôssemos
ao quarto, pois, pelo que gesticulava parecia que o telefone
estava quebrado. Logo depois, voltou para o seu cachimbo e
ficou assistindo uma pequena televisão.
- O senhor viu que homem estranho?
- E o pior é que só fala em árabe, Jorge.
- Esse professor pelo jeito deve ganhar muito pouco, pois este
prédio está em situação precária.
- Tem razão, Jorge. Por onde a gente olha tem sujeira e até
parece que vi um rato correndo no corredor.
Quando chegamos ao quarto trinta e dois, a campainha estava
arrebentada. O senhor Simon bateu na porta. Demorou um
pouco, até que um homem baixo e magro abriu a porta. Estava
bem vestido e possuía um enorme bigode (chegava a tampar
parte de sua boca). Nos atendeu falando em árabe.
MARCELO MENA
100
- O senhor não fala inglês? – Perguntou o senhor Simon.
O homem mexeu a cabeça, como quem não entendeu nada.
- E agora, senhor Simon? Como vamos falar com ele?
Então alguém gritou de lá de dentro.
- Vocês falam português? De onde vieram?
Então um homem, todo de terno, apareceu na porta. Possuía
uma careca igual a do senhor Simon e tentava falar o português,
mas acabava trocando as palavras.
- Somos do Brasil. Éramos amigos do Joseph Cicley! – Disse o
senhor Simon, cumprimentando o homem.
- Fiz tempo que não ouvia essa íngua. Eu sou Bryan e aprendi com Joseph, mas não reparem que posso trocar algumas paraiva.
- São palavras! – Falei.
- Isso. Entrem. – Disse o Bryan, nos puxando para dentro do
apartamento.
O apartamento era pequeno, não possuía móveis, havia vasos
quebrados, cerâmicas e alguns metais espalhados por todo o
lugar. Parecia um museu bem sujo. O cheiro era terrível.
Acredito que alguma múmia estava guardada em algum lugar. O
homem de bigode falou com o Bryan e se retirou.
- Estamos atrapalhando? – Perguntou o senhor Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
101
- Nom. Este é como vizinho que me ajuda na sujeira de peças que
encontramos. – Falou Bryan, tentando achar algum banco pra
sentarmos.
- Você quer dizer: limpeza? – Perguntou o senhor Simon,
empurrando um vaso com as mãos, para não bater com o pé.
- Isso. Ele me ajuda quando peças de escavações! Fiquei sabendo do Joseph.
Ontem, alguém Universidade me ligou. – Bryan falou nos apontando
um banco para sentarmos.
- Viemos aqui a pedido de Joseph, pois precisamos de ajuda
com o pergaminho. – Falou o senhor Simon, abrindo seu casaco.
- Espero um tempo! O pergaminho é dos atanasianos? – Perguntou
Bryan, com empolgação.
- É este mesmo! – Falei.
- No fale mais, venham aqui.
Ele nos levou num lugar que era pra ser um quarto, onde havia
várias peças de barro e vasos quebrados. Essa sala era toda
isolada com isopor e havia um ar-condicionado ligado.
Entramos e ele fechou a porta. O cheiro era pior.
- Melhor conversarmos aqui. Paredes têm orelhas! – Bryan falou, ligando
o ar condicionado, que fez um barulho muito forte.
- Ouvidos! – Disse o senhor Simon, o corrigindo.
- Isso. Você estar com pergaminho? – Bryan falou como uma criança
querendo um doce.
- Sim, está aqui! – Falou o senhor Simon, levantando a camisa.
MARCELO MENA
102
Na sua barriga havia um cinto, onde estava o pergaminho. Ele o
entregou para o Bryan. O homem parecia ter encontrado um
mapa do tesouro, estava tremendo.
- Esse pergaminho é incrível, ele tem mais de três mil anos e está tão
conservado, parece que foi como você diz? Feio? – Perguntou Bryan.
- Acho que você quer dizer Feito? – Perguntei.
- Isso, menino! Feito Ontem! – Disse Bryan, retirando algumas peças
de cima de uma mesa e desenrolando o pergaminho.
- Escrito Sírio antigo! – Falou Bryan.
- Você consegue entender? – Perguntou o senhor Simon todo
feliz, segurando uma das pontas do pergaminho.
- Sim, mas só pedaço, parte deste lado como diz? Estar em Código! – Falou
Bryan, coçando a sua careca.
- Está em código? – Perguntou o senhor Simon.
- Sim, parte mapa tudo código! – Disse Bryan.
- Você quer dizer, Bryan, que isto aqui não é sírio e sim um
código dos atanasianos? – Perguntou o senhor Simon,
apontando para um texto do pergaminho.
- Isso, Simon, tudo código! – Falou Bryan desconsolado.
- Então tente ler o que está escrito em Sírio antigo. – Falou o
senhor Simon, apontando de novo para o mapa do pergaminho.
- Senhor Simon, o senhor acredita que vamos entender? O
homem mal fala português.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
103
- Não tem nenhum outro, Jorge, que faça a leitura. Ele é o único
que consegue. Por favor, leia para nós, Bryan.
- Ok! Aqui dizer: documento Importante, pertencer atanasianos, se encontrado, devolve dono!
- Entendi. Devemos devolver aos Atanasianos. Estou falando
isto desde o início, não é, senhor Simon?
- E como vamos devolver, Jorge? – Falou o senhor Simon, meio
que, decepcionado.
- Onde eles estão? Tem algum endereço, Bryan? – Perguntei.
- Tem telefone, serve? – Disse Bryan, rindo.
- Tem telefone? Como assim? – Perguntei.
- Eu brincar com você, Jorge! Brasileiros humor bom.– Bryan falou, rindo
sem parar.
- Agora deu, mais um pra me tirar.
- Essa foi muito boa, Jorge! – Falou o senhor Simon, rindo
também.
- O senhor sempre gosta quando riem de mim.
- Foi brincadeira dele, Jorge. Vamos ver o que mais tem no
pergaminho.
- Aqui dizer: devolve no lugar Kabret. Tem mapa pequeno. Muito antigo,
onde será? Perguntou Bryan, tentando ler o pergaminho.
- Espera aí, Bryan. Kabret é onde o rei Dario marcou os seus
feitos, então, fica próximo ao canal de Suez.
MARCELO MENA
104
- Verdade. Lembro, Simon. Já trabalhei lá por perto, eu ter mapa novo.
Bryan abriu um armário no fundo da sala e pegou um mapa do
Egito. Comparou com o pequeno mapa que estava no
pergaminho e eram bem parecidos. Existia um símbolo no
mapa, onde seria o local para encontrar os atanasianos.
- Ver bem, é este lugar. – Disse Bryan, dando uns pulos de alegria.
- Qual o nome da cidade hoje? – Perguntou o senhor Simon.
- Porto de Said, Simon. Aqui diz: atanasianos consegue código.
- É Isso. Temos que acha-los Bryan! – Falou o senhor Simon, já
enrolando o pergaminho.
- Ei, espera um pouco, Senhor Simon! Este mapa foi escrito há
uns dois mil anos atrás, vocês acham que eles vão estar por lá
ainda?
- Tem razão, Jorge, mas é possível que isso tenha passado de
geração em geração, de pai pra filho. Talvez, ainda haja alguém
por lá, na esperança deste pergaminho voltar. Parece loucura,
mas só saberemos se formos até lá.
- Eu ver este síbolo. – Falou Bryan, coçando a careca.
- É símbolo, Bryan! – Eu o corrigi.
- Como assim, Bryan? Você já viu o símbolo dos Atanasianos?
- Isso, Simon! Eu já ver em algum lugar. – Falou Bryan, procurando
em alguns livros que estavam numa estante.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
105
O símbolo dos Atanasianos era a letra grega, Alfa, bem grande,
dentro havia, como se fosse, uma ave e por fora muitos cachos
de uva.
- Espera! Eu lembrar deste síbolo!
- É símbolo, Bryan! – Falei.
- Isso! Isso!
Ele foi e puxou um baú. Começou a tirar vários livros e revistas
de dentro, até que, pegou uma revista bem antiga. Começou
abrir e gritar.
- Aqui! Aqui!
Era um prédio, onde estava o símbolo colado na porta. Estava
tudo em árabe.
- Onde é isto, Bryan? – Perguntou o senhor Simon, pegando a
revista e comparando com o pergaminho.
- É perto no porto de Said, chegar lá! – Falou Bryan, pegando uma jaqueta.
- Aqui na foto da revista parece ser um prédio. O que será que
fazem lá, Bryan? – Perguntei.
- É uma plantação de papel! – Disse Bryan.
- Plantação? – Perguntei.
- Acho que deve ser alguma fábrica de papel, Jorge?
- Isso! Faz notícia! – Falou Bryan.
- Então é uma gráfica? – Perguntei.
MARCELO MENA
106
- Não, aquele de todo dia. – Ele disse.
- Jornal, Bryan? – Perguntou o senhor Simon.
- Isso!
- Provavelmente deve ser uma empresa de jornal, Jorge.
- Entendi. Mas, se for uma coincidência o símbolo do jornal ser
igual ao dos atanasianos?
- Só vamos saber quando chegarmos lá. – Falou o senhor Simon.
- Ir ao calo embaixo. – Disse Bryan, pegando uma chave na
escrivaninha de madeira.
- Que calo? – Perguntei.
- Meu calo, vrum. – Ele disse.
- Acho que ele quer dizer carro, Jorge?
- Isso! Certo!
- Tem hora que é difícil entender esse Bryan, senhor Simon.
- Pelo menos conseguimos entender o pergaminho, agora
sabemos como achar os atanasianos.
- Isso é verdade, então vamos até lá, senhor Simon.
Quando saímos daquele quarto, havia dois homens armados na
sala, nos esperando. Com eles, estava aquele homem de bigode.
Começaram a falar em árabe e não entendíamos nada.
- O que será que eles querem, Senhor Simon?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
107
- Acredito que eles são capangas do Muled e querem o
pergaminho. Pelo jeito, esse de bigode, o vizinho do Bryan, foi
quem chamou.
O Bryan começou a falar com eles, mas não havia diálogo.
Arrancaram da mão do senhor Simon o pergaminho e deram
tapa no rosto do Bryan. Nos colocaram pra fora do apartamento,
empurrando para irmos juntos. Descemos as escadas e passamos
pelo porteiro, que fez como se não estivesse vendo nada. Era
como dizia a carta de Joseph, eles compram as pessoas
facilmente. Saímos e fomos obrigados a entrar num furgão
preto. O do bigode foi na parte de traz com a gente, segurando
uma arma.
- Bryan, o que está acontecendo? – Perguntou o senhor Simon.
- Estamos, Simon, como diz? Embriagados!
- Sendo sequestrados, Bryan?
- Isso, Simon. Por pergaminho.
- E por que estão nos levando junto? – Perguntei.
- Querer traduzir, garoto.
- Entendi, Bryan! Então, tudo é por causa do pergaminho.
- Pelo jeito, vamos voltar para o Cairo, encontrar com o Muled,
Jorge!
- Será que são eles que mataram o Joseph, senhor Simon?
- Parece que sim, Jorge!
MARCELO MENA
108
- Agora estamos perdidos. Tudo por causa desta “Taturana de
rosto”!
- Fique calmo, Jorge, ele pode não gostar!
- E o senhor acha que ele entende alguma coisa?
Olhei bem na cara do homem de bigode e falei:
- Você é um besta de boca aberta e acho bom você fechar ela,
para não engolir esta taturana que está no seu rosto. Você vai
queimar no fogo do inferno seu traidor. Você enganou o Bryan
esse tempo todo, taturana de rosto!
- O que ser tarurana?
- É Taturana, Bryan! – Falou o senhor Simon.
- O que ser isso? – Perguntou Bryan.
- São aquelas lagartas que viram borboleta. – Respondi.
O Bryan começou a rir sem parar. Os homens, dentro do furgão,
não entendiam nada, pois como pode uma pessoa ser
sequestrada e ficar rindo. Acho que era isso que pensavam. Cada
vez que ele olhava o homem de bigode, começava a rir. Assim,
fomos levados de volta pro Cairo. Quando chegamos, fomos
levados pra dentro de uma casa gigantesca. Havia várias estátuas
brancas nos jardins, várias árvores (algumas eram enormes), a
casa era toda feita de pedra. Na entrada, imitava o coliseu de
Roma. Possuía uma infinidade de câmeras instaladas por todo o
lugar. Então, o carro parou no fundo da casa. Fomos levados
para uma sala enorme, tinha vários objetos antigos, o que
parecia ser de um colecionador de artes e nas paredes, somente
quadros de paisagens. Nos colocaram sentados em algumas
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
109
poltronas bem confortáveis. Os homens que nos trouxeram
ficaram um em cada porta, de vigia, olhando para nós. O cara de
taturana entrou por uma porta, acredito que foi chamar alguém.
- Você sabe onde estamos, Bryan? – Perguntou o senhor Simon.
- Nunca estar aqui!
- Senhor Simon, o senhor viu quanto objetos antigos?
- Vi sim, Jorge. Parece que realmente estamos na casa de Muled.
- E o que vai acontecer conosco?
- Não sei, Jorge. Estou preocupado.
Nesta hora, o meu celular começou a tocar, vi que era a Sandra,
mas antes que eu pudesse atender, um dos capangas de Muled
tomou da minha mão e desligou. Logo, um homem gordo, com
uma roupa árabe entrou, fumando um charuto e começou a falar
em inglês.
- Desculpem o mau jeito que vocês vieram pra cá. Meus homens
não possuem muita educação. Quero que vocês fiquem à
vontade.
Ele foi, pegou o celular do capanga e me devolveu.
- Devia ser alguém importante, meu jovem. Pode ligar pra essa
pessoa. Acredito que não teremos problema por aqui, certo?
- Sim, senhor. Mas eu ligo depois. – Respondi.
- Bem, gostariam de beber alguma coisa? Já pedi pra prepararem
um almoço pra vocês. – Disse o homem gordo, se sentando
numa enorme cadeira confortável dourada.
MARCELO MENA
110
- Olha, muito obrigado, mas não sabemos quem é o senhor e o
que quer de nós. – Disse o senhor Simon.
- Meu nome é Muled Hamsh, sou um grande amante da arte
antiga e vocês possuem algo que estou à procura faz muito
tempo. Meu amigo, Joseph, havia me dito que vocês viriam e
trariam para mim, pois estou disposto a dar um grande valor por
este pergaminho.
- O senhor nos desculpe, mas não era bem isso que Joseph
queria, e o pergaminho não está à venda. – Falou o senhor
Simon, meio bravo.
- Joseph está morto! Foi morto durante um assalto, isto foi muito
terrível, estamos vivendo num mundo violento e complicado.
Por isso, você não tem como saber o que ele queria ou deixava
de querer. – Disse Muled, ironicamente.
- Olha, seu Muled. Nós não queremos problemas. Deixe a gente
sair e não vamos chamar a polícia! – Falou o senhor Simon, já
se levantando pra sair.
- Polícia? Por que a polícia? Vocês são meus convidados,
ninguém está forçando vocês ficarem. Se quiserem, podem ir
embora! – Falou Muled, acenando pra um dos seus capangas.
O capanga chegou próximo do senhor Simon e o forçou a sentar
novamente na poltrona.
- Então está bem seu Muled, por favor, devolva pra nós o
pergaminho e iremos embora. – Falou o senhor Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
111
- Bem, acho que você não entendeu, velhote. Eu comprei o
pergaminho e vou dar trezentos mil dólares por ele. – Disse
Muled, tirando um cheque do bolso.
- Mas nós não estamos vendendo o pergaminho. – Disse o
senhor Simon.
- Está bem, Velhote. Eu pago um bom preço pelo pergaminho
escrito, o outro vocês podem levar, aquele que vocês perderam
no hotel! – Podem buscar o outro pergaminho. – Disse Muled.
Nesta hora, Muled levantou a mão e outro dos seus capangas
saiu. Em alguns segundos, o cara veio com a minha cueca, do
tempo do Harmes, e colocou sobre uma mesa de vidro à nossa
frente.
- Você invadiu nosso hotel pra roubar o pergaminho?
- Cuidado com as palavras, garoto. Acho bom entender o que eu
quero, pois a criminalidade está muito alta neste bairro. Pode ser
que amanhã haja mais um funeral! Deu pra entender?
- Sim. Você está me ameaçando? – Perguntei.
- Entenda como quiser! Vou dar trezentos mil dólares pelo
pergaminho e pode levar esse que não tem nada escrito, só essa
mancha amarela.
- Já lhe disse que não está à venda e mesmo assim por mais que
você queira, nunca irá traduzi-lo. – Falou o senhor Simon.
- Por isso Bryan está aqui, seu idiota! Eu sei que ele é o único a
traduzir. Então, vamos deixar bem claro: Você e seu neto vão
pegar o dinheiro e irão embora do nosso país. O Bryan ficará
trabalhando pra mim e me ajudando no que for preciso. Pois,
MARCELO MENA
112
com este mapa, serei um homem poderoso e imortal. – Muled
falou, rindo bem alto.
Bryan estava totalmente assustado. Então, Muled começou a
falar em árabe com o Bryan e os dois pareciam discutir.
- Jorge, estamos num grande dilema. Não sei o que fazer. Se não
aceitarmos o dinheiro pelo pergaminho, iremos morrer.
- Eu tive uma ideia, senhor Simon. Pegaremos o dinheiro,
vamos para o porto Said e tentaremos encontrar os Atanasianos.
Eles são os únicos que podem traduzir o pergaminho.
- Boa ideia, Jorge. Se conseguirmos avisá-los, eles podem não
traduzir e tudo se encerra.
Nesta hora o Muled virou para nós, com uma cara não muito
boa.
- Mudança de planos! Conversei com o Bryan e este
incompetente não consegue interpretar os códigos do mapa, mas
disse que os atanasianos conseguem desvendar este mistério.
- Verdade mesmo, sem eles é impossível decifrar o mapa, então,
tudo acaba aqui, Muled! – Disse o senhor Simon.
- Os atanasianos sempre foram uma lenda, ninguém nunca os
viu, ou tem qualquer prova sobre eles, mas o Bryan diz que no
pergaminho mostra onde eles estão. – Disse Muled.
- Mas este Bryan é um boca aberta mesmo, tinha que falar?
- Jorge, fique calmo, estamos todos sobre pressão.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
113
- Já resolvi o que vou fazer: vou deixar o velho comigo aqui e
vocês dois irão até os Atanasianos. O prazo será de dois dias,
descubram como traduzir o mapa, e se demorarem, ou não
voltarem, o velho vai ter um encontro com Deus. Entenderam? –
Disse Muled, acenando pros capangas.
- Você está dizendo que vamos ter que ir atrás dos atanasianos,
que nem sabemos se existem e em dois dias eu tenho que
descobrir como traduzir, e se não conseguir, você irá matar o
senhor Simon?
- Garoto esperto! – Falou Muled, coçando sua barriga.
- Mas se os Atanasianos não existirem? – Perguntei.
- Acho melhor você torcer pra que existam, ou ficará sem seu
vovô! – Falou Muled, com uma cara de sarcasmo.
- Por que você não manda um de seus homens buscarem, ao
invés de mandar um garoto? – Perguntou o senhor Simon.
- Na realidade, os meus homens poderão ir até a divisa, pois do
outro lado eu já tenho problemas demais. – Respondeu Muled.
- Ah, então você pode ser preso do outro lado, mas aqui você já
comprou a polícia.
- Olha, Garoto, vamos dizer que eu ajudo nas finanças locais.
- Que absurdo! – Falei.
- Absurdo é você ficar perdendo tempo. Até parece que não
gosta do seu avô. – Falou Muled, dando mais um sinal para que
os capangas segurassem o senhor Simon.
MARCELO MENA
114
- E agora, senhor Simon?
- Jorge, faça o seguinte: pegue o primeiro voo para o Brasil e
deixe que eu me vire por aqui. Quero que você se salve.
- O senhor está maluco? Eles vão te matar!
- Talvez não, Jorge. Não se preocupe comigo vá embora e salve
a tua vida.
Nesta hora, alguns homens levaram o senhor Simon para outra
sala, Muled ficou me olhando estranho e a sua fisionomia
começou a mudar de repente.
- É garoto, você não se lembra de mim? – Muled falou, com
uma voz grossa.
Ele se aproximou e seus olhos estavam bem vermelhos.
- Nunca te vi, Muled. Está maluco?
- É, já faz alguns milhões de anos.
- Como assim? Não estou entendendo nada.
Ele virou para os homens e pediu que tirassem o Bryan, então
ele se sentou na sua cadeira e me fez sinal pra eu me sentar. O
cara de taturana ficou próximo da porta, por onde Bryan saiu, e
o Muled ficou me encarando.
- Você esteve no meu reino, alguns milhões de anos, onde eu era
um príncipe famoso, mas por causa da Grande Sabedoria fui
abandonado neste planeta, isto melhora tua memória?
- Lúcifer? Como pode?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
115
- Vejo que se lembrou de mim. Estou usando o corpo deste
capacho. Vocês humanos são tão frágeis que eu posso esmagar
com uma só mão.
- O que você quer aqui? Vá embora seu calça-curta.
- Tenha respeito comigo, garoto! Estou preparando tudo para
meu novo reino, vou dominar tudo e acabarei com vocês que
adoram este Deus. Eu vou ser o deus de vocês!
- Mas você não muda mesmo, né? Já foi um fiasco no passado,
ainda quer ser dominador?
- Cala-te! Com os tesouros de Salomão, poderei adquirir mais
poder e conseguirei dominar todo o mundo.
- Jesus nunca permitirá.
- Esse Jesus já os abandonou, tudo aqui é meu! Olhe os
noticiários: violência, drogas, corrupção, morte, guerra e etc. Ele
cansou dos homens.
- Então é você está fazendo tudo isto no mundo?
- Olha, posso te dizer sem nenhuma dúvida, uma boa parte sou
eu mesmo. Tenho dado uma forcinha, mas o ser humano,
sozinho, é capaz de fazer coisas terríveis e sem a minha ajuda.
- Mas eu não tenho medo de você, seu calça-curta!
- Não entendo porque me chamar de calça-curta, por um acaso
estou de bermuda?
MARCELO MENA
116
- É que você vive na lama da desgraça, e pra andar na lama tem
que arriar as calças, seu besta! Mas fique sabendo que Jesus
sempre está comigo e tem me ajudado.
Olhe pros lados, garoto idiota! Cadê ele? Está vendo? Nem ele
pode te ajudar.
- Posso não vê-lo, mas sinto em meu coração.
- Acho bacana essa coisa que a maioria dos que estão na igreja
falam: “está no meu coração”! Vivem mentindo, enganando,
roubando e falando mal dos outros, igual a tua mãe.
- O que tem a minha mãe?
- Hum, ficou preocupado? Você acha que ela é cristã? É só
fachada, eu bem sei a quem ela tem servido. É a mim!
- Não vou cair no seu papo. Você pode ter milhões de anos de
conhecimento sobre o ser humano e sabe como enganá-los, mas
eu tenho comigo a Grande Sabedoria! E sei a quem sirvo. Não
pense que vou te ajudar a achar os tesouros de Salomão.
- Vai me ajudar sim, ou aquele idiota do Simon morre!
- Que droga!
- Está vendo? consegui fazer você me servir!
- Jamais. Eu sirvo a Cristo e só obedeço a Ele. Meu Deus me
ajuda agora, por favor!
Dobrei os meus joelhos e comecei a pedir a Deus para me
ajudar. Nesta hora, Muled se aproximou de mim.
- Deixa de ser bobo, garoto. Ele não vai te atender. Levante daí!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
117
Quando ele colocou a mão sobre mim, vi um faixo de luz
invadir a sala e houve um grande estouro. Com isto, Muled caiu
de um lado e o cara de taturana veio correndo socorrer.
- O que houve comigo? Estou meio tonto, você tentou me
golpear, garoto?
- É você, Muled? Conseguiu voltar?
- É logico que sou eu? Voltar de onde, seu idiota?
- É que você estava possesso pelo diabo!
- Que diabo? Você está falando do grande espírito que às vezes
baixa em mim. Na realidade, ele foi um príncipe no passado e
hoje ele me ajuda a ser poderoso. Você o tirou de mim, seu
idiota? – Disse Muled, tentando se levantar com ajuda do cara
de taturana.
- Ele não presta, é mentiroso, Muled.
- Pare de falar do meu mestre, e pare de me perturbar. Vá com o
Bryan fazer o que tem que fazer, ou acabo com seu vovô. –
Disse Muled, se apoiando na poltrona.
O cara de taturana me pegou pelo braço e me levou até o Bryan,
que estava sentado, comendo algumas coisas.
- É melhor você embeber isto, e, assim, depois procurar os Atanasios.
- Olha, Bryan, é comer, não embeber. Não querendo ofender,
mas, você podia ter ficado quieto sobre os atanasianos.
- Eu saber. Não mintira!
MARCELO MENA
118
- Está bem, vai. O seu português é terrível, não sei como vamos
fazer pra chegar até os Atanasianos.
Assim, comi algumas frutas e bebi bastante água. Dois homens
ficavam nos observando. Meu coração estava angustiado pelo
senhor Simon, pois ele decidia tudo, agora, não sabia como ia
fazer. Ficava mais preocupado em saber que Lúcifer estava de
volta, isso me deixava mais apreensivo. O que teria nos tesouros
de Salomão que Lúcifer queria? Então, após a refeição, o cara
de taturana nos fez gesto pra segui-lo, assim, voltamos para o
furgão preto e fomos levados até uma estação de trem, onde nos
deixaram com um pouco de dinheiro.
- Você sabe onde estamos, Bryan?
- Sim, aqui é trem!
- Cara, se você não fala! Já pensei que pelos trilhos iriam vir
alguns barcos.
- Não! Barco no mar.
- Vai ser difícil a gente se comunicar.
- Jorge, tudo certo!
Um trem parou na estação e o cara de taturana nos fez entrar.
Havia uma placa que dizia: Porto Said. Então, deduzi que aquele
trem nos levaria até a cidade dos atanasianos. O cara de taturana
ficou na plataforma com os outros homens e ficamos sozinhos
no trem. Em pouco tempo estávamos seguindo viajem.
- E agora, Bryan, tem alguma ideia?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
119
Ele puxou um papel e uma caneta do bolso, começou a escrever
e a desenhar. Ficou calado por um bom tempo.
Fiquei olhando pela janela e tudo passava pela minha cabeça.
Lembrei-me da viajem onde conhecemos o Harmes e o calça-
curta, de como era bom ter o senhor Simon como amigo e ficava
pensando em como ele estaria lá na casa daquele Muled.
Imagine se a Sandra estivesse com a gente. Meu Deus a Sandra!
Precisava ligar pra ela. Disquei o número um, logo começou a
chamar.
- Alô, Sandra! Tudo bem?
- Oi, meu amor. Estava preocupada com você. Não me atendeu.
- É que a gente estava numa reunião importante.
- Verdade? Desculpa, Jorge, eu não sabia.
- Que isso. Você não tinha como saber.
- E aí? Já viu muita coisa interessante?
- E como, Sandra. Tem tanta coisa por aqui.
- Bem que eu gostaria de estar com vocês.
- É, você ia ficar bem espantada.
- E as pirâmides, Jorge, são bem grandes mesmo?
- Você acredita que ainda não fomos ver?
- Não acredito! Imagine ir pro Egito e não ver as pirâmides.
MARCELO MENA
120
- Verdade. Mas acredito que iremos ver, uma hora ou outra
vamos até lá!
- Você está comendo bem?
- Já está parecendo minha mãe.
- Estou perguntando, porque sei que ela vai me perguntar.
- Com certeza, vai mesmo!
- Você parece que está meio triste, Jorge! Aconteceu alguma
coisa?
- Estou bem, mas é que estou com muita saudade de você.
- Ai, meu amor. Eu também estou com muitas saudades. Você
fica querendo me agradar falando assim, mas sei que você está
amando conhecer outro país, conhecer coisas antigas. Acredito
que está se divertindo.
- Nem sabe como estou me divertindo, Sandra! Tenho que
desligar agora, pois estamos num trem, para chegar numa outra
cidade.
- Está vendo? Fica só viajando e diz que está com saudades.
- Eu te amo, Sandra! Manda um abraço para os meus pais e
meus tios.
- Pode deixar. Também amo você. Fica com Deus.
- Amém.
Quando desliguei, Bryan estava me olhando, acredito que ficou
prestando atenção na minha conversa.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
121
- Família, Jorge?
- Sim, era minha namorada.
- Jorge alegre ter família?
- Sim, sou muito feliz, Bryan. O senhor Simon também é como
um pai pra mim. E você, não tem família?
- Família morrer guerra aqui!
- Meus sentimentos. Não sabia. Você não tem ninguém?
- Eu estar sozinho, vinte anos.
- Nunca casou?
- Sim. Moça comigo dois anos.
- Você foi casado dois anos?
- Isso.
- E onde está tua esposa?
- Morreu de doença ruim!
- Doença ruim? Câncer?
- Isso!
- Puxa, deve ser difícil ficar sozinho.
- Eu sempre sozinho.
O trem parou numa estação e alguns passageiros começaram a
descer. Então, Bryan ficou de pé.
MARCELO MENA
122
- Vamos descer?
- Não você fica e acha os Atanasianos, Jorge! Fazer mapa!
- Como assim, Bryan? Você não vai comigo?
- Simon parente seu! Eu não ter!
- Mas pensei que você ia me ajudar.
- Não querer morrer, ir pra longe!
- Não posso fazer isso sozinho, Bryan.
- Desculpa, mas, quero vida!
Nesta hora ele tirou o dinheiro que lhe foi dado e me passou.
Junto estava o papel que ele escreveu, ele desceu e saiu
correndo, sem olhar pra trás. Que homem estranho, me deixou
sozinho. As portas do trem se fecharam e segui viajem. Abri o
papel e nele estava escrito tudo que eu deveria fazer. Tirando as
palavras erradas, até que dava para entender. Assim, segui até a
cidade de Porto Said.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
123
Capítulo 6
Os Atanasianos
Quando desci na estação, dois homens se aproximaram e
começaram a falar em árabe comigo, então, gesticulei com as
mãos que não estava entendendo. Um dos homens puxou uma
faca e apontou pra minha barriga. Entendi que era um assalto. O
outro enfiou as mãos no meu bolso, pegaram o dinheiro, o meu
celular, e saíram correndo. Pelo menos, deixaram o mapa do
Bryan. Fiquei sem saber o que fazer. A gente pensa que a coisa
está ruim, mas acaba ficando pior. Pensei em procurar um
policial, mas lembrei do senhor Simon. Ele estava preso e seria
difícil explicar tudo. Muled poderia matar o senhor Simon.
Resolvi sair da estação e fui caminhando pela calçada. A cidade
estava com grande movimento. Havia muitas pessoas, muitos
carros passando pela rua e muitas lojas. No mapa do Bryan, ele
escreveu que precisava pegar um táxi e mostrar para o
motorista o nome em árabe do lugar. Como poderia pegar um
táxi sem dinheiro? Encontrei uma praça, resolvi sentar e me
acalmar, pois eu estava entrando em pânico.
- Meu Deus, estou numa situação difícil e não sei o que fazer.
Dá alguma ideia!
Senti um cheiro de café, o aroma era delicioso, nunca havia
sentido um aroma tão gostoso assim. Percebi que vinha do
outro lado da praça, onde havia uma cafeteria. Nem dinheiro
pra um café eu tinha, então, me aproximei e fiquei sentado de
frente com a cafeteria esperando por algum milagre. De
repente, parou um táxi em frente ao local, e um homem, de
paletó bege e com uma pequena pasta na mão, desceu do carro e
MARCELO MENA
124
sentou-se numa mesa. Pediu um café, então, me olhou e se
levantou vindo em minha direção.
- Com licença, garoto. O seu nome é Jorge? Não é você que
estava no avião? – Perguntou o homem.
- Me desculpe, senhor, eu te conheço?
- Sou o homem que quase morreu com um osso de frango e você
me salvou.
- Me desculpe não te reconhecer, pois naquela hora o senhor
estava meio roxo.
- É verdade, mas o que você faz aqui, garoto?
- Como é o seu nome mesmo?
- Perdão, mas, não me apresentei no avião. Também, nem
conseguia falar direito. Meu nome é Francisco.
- Olha, seu Francisco, eu precisava ir neste endereço, mas acabei
de ser assaltado na estação ferroviária, perdi o dinheiro e fiquei
sem saber o que fazer.
- Opa! Então chegou o momento de te pagar o favor que me fez.
- Imagine, se o senhor puder me ajudar serei muito grato, pois
fiquei aqui nesta praça esperando por um milagre.
- Então suas orações foram ouvidas, eu estava fazendo uma
venda aqui perto e iria pegar uma carona pra voltar ao aeroporto,
mas por coincidência esqueci um documento no escritório, e
enquanto fui pegar, perdi a carona. Então, resolvi pegar um táxi
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
125
e quando passei nesta praça senti o cheiro de café, resolvi parar
e experimentar.
- Foi por Deus, seu Francisco.
- Quer tomar um café? Vamos lá, depois te levo no endereço
que você precisa. – Disse o Francisco, pegando sua pasta.
- Muito obrigado. O senhor não sabe como estou grato pela tua
ajuda.
- Que isso, Jorge. Só estou retribuindo o favor.
Posso dizer que realmente foi um milagre ter encontrado o seu
Francisco. Assim, tomamos um café (realmente, era muito
saboroso) e após o café fomos caminhando pela calçada.
- Jorge, você está com o endereço?
- Está aqui. – Falei, lhe passando o papel.
Ele pegou e começou a ler o nome do lugar!
- Parece que este lugar é uma gráfica de um Jornal famoso aqui.
- Isto mesmo. Você conhece, seu Francisco?
- Já passei por perto uma vez, quando estive aqui há uns dois
anos atrás.
Fomos em direção de uma praça, onde havia alguns carros de
táxi. O Francisco falou com o motorista do táxi e seguimos
viajem.
- O senhor fala árabe?
MARCELO MENA
126
- Falo um pouco. Foi graças a este idioma que consegui este
emprego, Jorge.
- E o senhor vende o que?
- Vendo software de computador.
- Que legal. E, dá muito dinheiro?
- Dinheiro até que me rende um pouco, mas o mais legal são as
viagens pagas pela empresa. Posso dizer que conheço uma boa
parte do mundo.
- O senhor tem família?
- Sim. Tenho uma esposa e dois filhos que ficaram no Brasil.
- Então o senhor os vê muito pouco?
- Quando eles eram pequenos eu trazia comigo em algumas
viagens, agora eles estão casados e cada um cuida de sua vida.
- E a tua esposa?
- Ela ama viajar comigo, mas desta vez não deu, pois meu
primeiro netinho tinha acabado de nascer, e ela não quis perder
nenhum momento com o neto.
- Que bacana, meus parabéns, seu Francisco.
- Obrigado, Jorge. Se Deus quiser, até o fim do ano eu me
aposento. Vou virar um vovô coruja e ensinar a criançada
aprontar, pois você sabe que o pai educa e vô deseduca, não é?
- Verdade. Meu pai sempre fala isso.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
127
- Por falar no seu pai, ele não estava viajando com você?
- Não. Aquele era o Simon, ele é meu amigo, mas posso dizer
que é como um pai pra mim.
- E onde ele está, Jorge?
- Ele teve que ficar no Cairo.
- Depois daqui você vai encontrá-lo?
- Essa é a minha esperança, seu Francisco.
- Como assim, esperança?
- Modo de dizer.
Assim ficamos conversando um bom tempo, até que paramos de
frente com um prédio enorme.
- Acho que chegamos, Jorge. Você vai ficar bem? Tem algum
conhecido por aí?
- Acredito que tudo vai dar certo, o senhor não precisa se
preocupar, daqui eu me viro.
- Está bem, mas fique com meu cartão. Qualquer coisa me liga.
- Obrigado, seu Francisco! Quando eu voltar para o Brasil, vou
te convidar pra conhecer minha família.
- Vou esperar o convite. Se cuida, garoto!
- Pode deixar.
MARCELO MENA
128
Desci do táxi e vi na porta do prédio o símbolo dos atanasianos.
Tinha uma fachada toda escrita em árabe, então, entrei e logo vi
uma recepcionista na entrada. Ela logo foi falando em árabe, e
perguntei se ela falava inglês.
- Oh! Sim! – Ela me respondeu com um olhar de dúvida.
- Que bom. Eu estou procurando os atanasianos.
- Oh! Sim!
- Você está me entendendo?
- Oh! Sim!
- Tem alguém que fala inglês aqui?
- Oh! Sim!
Ela me fez um gesto pra sentar, percebi que ela não estava me
entendendo. Sentei numa poltrona e fiquei aguardando. Nas
paredes havia muitas fotos antigas e também de algumas
máquinas que pareciam gráficas. Em um dos quadros pareciam
os quatro elementos da terra e na frente de cada elemento escrito
em hebraico e inglês. Fiquei um bom tempo analisando aquele
quadro, logo depois de uma meia hora apareceu uma senhora de
cabelos lisos e bem grisalhos, veio em minha direção.
- É você que fala inglês? – Perguntou ela, me olhando.
- Sim, senhora.
- De que país você é?
- Sou do Brasil.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
129
- Então fale em português.
- A senhora me entende?
- Eu sei falar português. Morei muitos anos em Portugal, e já fui
muitas vezes ao Brasil.
- Que legal, assim fica mais fácil.
-Como é o seu nome?
- Eu sou Jorge.
- Muito prazer em te conhecer. Meu nome é Afsana. Diga-me, o
que deseja?
- Estou procurando os Atanasianos, ou como são conhecidos: Os
imortais.
- Imortais? Você está de brincadeira, garoto?
- É uma longa história, preciso achá-los, para que possam me
ajudar.
- Você ficou maluco? Eles não existem.
- Como assim? Aqui não é o lugar dos atanasianos?
- Menino, aqui é um Jornal. O nome do Jornal é Atanásius.
Atanásius foi o nosso fundador. Você deve ter se enganado.
- Não pode ser, vocês possuem o mesmo símbolo do
pergaminho.
- O que? Que Pergaminho?
MARCELO MENA
130
- Um antigo pergaminho que fala dos imortais. É por isso que
estou aqui.
- Cadê o pergaminho? Está com você?
- Não está comigo. Eu preciso dos imortais para ler o
pergaminho e salvar o meu amigo.
- Menino, você é igual uns malucos que aparecem por aqui.
Acham que descobrem coisas antigas e vêm aqui para que a
gente faça anúncio da descoberta.
- Não estou aqui pra fazer anúncio de descoberta. Eu preciso
falar com os imortais.
- Menino, você está drogado? Não existem imortais. A não ser
que você tenha encontrado alguma múmia andando.
Nesta hora me deu vontade de dizer que ela era a múmia. Mas,
um homem, de terno cinza com riscas e uma gravata bem
vermelha, começou a falar em árabe com a mulher. Ela, então,
mexia os braços e me apontava.
- Olha, Jorge, este aqui é o senhor Khalida. Ele queria saber o
que estava acontecendo e disse que você estava procurando os
imortais, então ele quer conversar com você. – Disse Afsana.
- E quem é ele?
- Ele é o dono do jornal. Venha comigo.
Ela me deu sinal para acompanhá-la, e enquanto ela conversava
em árabe com ele, eu os seguia. Entramos em um elevador e
subimos ao quarto andar. O elevador era todo de vidro, a gente
conseguia ver as pessoas e tudo o que acontecia do lado de fora.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
131
Dava pra ver uma praça enorme, cheia de lojas, que ficavam em
frente ao prédio. Descemos do elevador numa sala enorme.
Tinha várias prateleiras, cheias de livros, revistas e jornais. O
senhor Khalida sentou-se numa poltrona enorme (parecia que ia
sumir dentro dela) e Afsana me apontou um banco de madeira,
que entendi que era pra sentar. Ela então voltou para o elevador
e fiquei com ele ali me olhando. Então, ele começou a falar em
inglês:
- Seu nome é Joshe?
- Não. Meu nome é Jorge.
- Foi o que eu disse, Joshe.
- Senhor Khalida, preste atenção é Joorrggee, entendeu?
- Sim. É Joosshhee.
Percebi que ele teria dificuldade de falar meu nome (como o
Antônio do bar), e que ia perder muito tempo até que ele
aprendesse meu nome. Então, deixei que falasse desta forma
mesmo.
- É isso aí.
- Você veio procurar os atanasianos?
- Sim, você os conhece?
- Joshe, há muitos anos que ouço falar sobre eles.
O homem se levantou, foi até uma prateleira e retirou um grande
livro grosso, com uma capa, que parecia de madeira, e trouxe.
Colocou sobre uma pequena mesa, no centro desta sala.
MARCELO MENA
132
- Venha aqui ver.
Levantei e fui até esta mesa, ele assoprava cada página que
virava, pois estava toda empoeirada.
- Olhe isto aqui.
Notei que o livro, na realidade, era um álbum de fotos bem
antigo e possuía desenhos.
- Esse aqui foi o senhor Atanásius, meu avô.
Apontava para uma foto, onde estava um senhor, todo vestido de
caçador, com uma espingarda. Debaixo de um dos seus pés
havia um animal morto, o que parecia ser um leão.
- Ele era caçador?
- Sim. Ele viajou o mundo todo, seu sonho sempre foi achar o
pergaminho dos tesouros de Salomão.
- E como ele sabia do pergaminho?
- Meu avô sempre falava deste pergaminho, pois ele dizia que
tinha como decifrar através de outro. Este possuía os códigos, os
quais, ele chamava de sagrado.
- Então ele era um dos atanasianos?
- Sim, ele sempre dizia isso. Ele comentava que seus
antepassados, foram os guardiões deste pergaminho. Segundo
ele, o próprio rei Salomão havia escolhido essa família como
guardiã. E, assim foi, por muitos anos, até que conseguiram
perder o pergaminho.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
133
- Entendi. Então o outro pergaminho era passado de pai para
filho?
- Sim, por isso eram chamados de Atanasianos. Foi o nome dado
à nossa família por Salomão, pois estes tesouros deveriam ser
mantidos em segredo, por todo tempo, se tornando imortal. Na
dúvida, deveriam seguir o Eclipse.
- Que eclipse?
- O meu avô dizia que era pra segurança, Quando tivesse que
tomar uma decisão, sempre deveriam seguir o eclipse.
- E o que isso quer dizer? Quais são os tesouros? Pra que
servem?
- Eu não sei, Joshe. Só sei que meu avô gastou toda sua vida em
busca deste pergaminho. Quando estava no leito de morte, eu
ainda era criança, ele passou o pequeno pergaminho para o meu
pai e disse que era necessário que ele continuasse na busca pelos
tesouros de Salomão, pois o tempo estava chegando.
- E seu pai foi atrás do pergaminho e do tesouro?
- Meu pai começou a busca, mas sofreu um acidente de avião,
morrendo ele e mais alguns parentes que o ajudavam nisto.
- E o pergaminho?
- Minha mãe ficou transtornada com a morte de meu pai. Me
lembro que ela pegou o pergaminho, que ficava guardado no
cofre, e ateou fogo. Me disse que nunca mais ninguém morreria
por causa desta maldição.
- Como assim, pegou fogo? Que maldição?
MARCELO MENA
134
- Minha mãe dizia que esta busca matou muitos dos nossos
familiares, isto acabaria ali. Faz muitos anos.
- Então não existe mais o pergaminho?
- O original não existe mais, minha mãe destruiu. Agora me
diga, Joshe, como sabia da história deste pergaminho?
- É uma longa história, seu Khalida, mas, vamos dizer que meu
amigo ganhou de uma pessoa que ele não conhecia e pediu para
guardar. Um arqueólogo, aqui do Egito, conseguiu decifrar
alguns trechos que diziam para procurarmos os Atanasianos.
- Então vocês têm o primeiro pergaminho?
- Sim, só que Muled nos encontrou e ficou com o pergaminho.
- Você está falando do ladrão de túmulos? O pior bandido do
Egito?
- Acho que deve ser ele!
- Ele é terrível. Neste jornal, noticiamos várias mortes de
pessoas que ele mandou matar. Aqui, ele é procurado até pela
Interpol.
- Esse é o problema. Ele prendeu meu amigo e me mandou
procurar este segundo pergaminho. Se voltar sem ele, matará
meu amigo.
- Chame a polícia.
- A polícia também está envolvida, se ele souber da denúncia,
meu amigo morre.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
135
- É como dizia minha mãe, este pergaminho é uma maldição,
quem se envolve com ele só tem tragédia.
- E agora? Não existe mais o pergaminho com os códigos?
- Espera um pouco.
Ele começou a folhear o álbum e chegou numa página cheia de
desenho. Ali mostrava dois homens com dois pergaminhos.
- Está vendo estes homens no desenho, Joshe?
- Sim, o que tem?
- Este dois homens foram ancestrais do meu avô e aqui
deixaram este desenho. Este álbum foi feito para colocar todos
os eventos da família Atanasianos, e você pode notar que foi
feita mais uma cópia do pergaminho. Um foi passado para meu
avô, o que minha mãe destruiu, a cópia ficou com este homem.
- Sim, mas onde posso encontrar este homem, seu Khalida?
- Já não sei dizer.
- Mas não é um de seus parentes?
- Sim, mas este desenho foi feito há quase seiscentos anos atrás,
Joshe. Nem sei quem é este homem.
- Você pode me ajudar a encontrá-lo?
- Não posso, Joshe. Fiz uma promessa à minha mãe, nunca iria
atrás deste pergaminho, ou dos tesouros. Agora, vejo que ainda
continua amaldiçoado.
- E o que faço agora, seu Khalida?
MARCELO MENA
136
- Se fosse você voltaria para o seu país e nunca mais falaria
deste pergaminho.
- E meu amigo?
- De uma forma ou de outra ele irá morrer, pois Muled nunca
deixa ninguém vivo para contar as histórias. Se você voltar,
também morrerá. Por isso, vá embora enquanto há tempo.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou um pacote, e colocou na
minha mão, e parecia dinheiro.
- Isto daí é pra você, tente ir embora.
- Mas não posso viajar.
- A decisão é sua, Joshe. Por favor, vou pedir que você saia
deste prédio. Nunca diga a ninguém que esteve aqui. Não quero
nem saber desta história. Se alguém me perguntar sobre você,
vou dizer que não te conheço.
- Você é o único que pode me ajudar, seu Khalida!
- Contei tudo que sabia, vá embora o mais rápido possível, não
quero me envolver neste assunto com o Muled.
Ele foi me empurrando até o elevador e apertou o botão do
térreo. Assim, fui descendo até sair na sala da recepção do
prédio. Então vi que Afsana estava atendendo um homem, com
uma enorme mochila, bem na entrada do prédio. O homem
falava muito alto e em árabe. Fui caminhando até a porta da
entrada para sair e do lado de fora dava pra ver que estava
ventando muito. Resolvi beber um pouco d’água em um
bebedouro, que ficava próximo da porta, e, como havia duas
pessoas na fila, fiquei esperando um pouco e pensando no que
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
137
poderia fazer. Estava com vontade de voltar pra casa, mas não
poderia deixar o senhor Simon. Assim, fiquei esperando a
oportunidade de beber um copo d’água, olhando pela janela e
vendo que tudo na cidade corria normalmente, e sem qualquer
problema, enquanto dentro de minha cabeça passavam vários
pensamentos do que fazer.
MARCELO MENA
138
Capítulo 7
Conhecendo os Céus
Enquanto eu bebia água, uma porta, que ficava próximo ao
bebedouro, se abriu e alguém me chamou dando sinal com a
mão para ir até lá, acenava que deveria ser rápido, mas não
conseguia ver o rosto de quem era. Então, me aproximei e esta
pessoa me puxou pelo braço, me colocou do lado de dentro e
fechou a porta. Olhei para a pessoa que estava ali, mas não
conseguia vê-lo, estava escuro. A pessoa então falou:
- Tudo bem, Jorge? – Aquela voz não me era estranha.
- Você me conhece? – Perguntei.
Como não conseguia ver o seu rosto, baixei minha cabeça vi os
seus sapatos, também não era estranho. Então aos poucos o
lugar foi iluminando e vi que era um homem todo vestido de
branco. A gente estava dentro de uma sala bem pequena e só
tinha aquela porta, não tinha nenhuma janela.
- Não se lembra? Sou Gabriel.
- Espera aí, você é aquele homem que me colocou dentro do
hospital e fugiu?
- Sim, mas não fique bravo, apenas fiz o que me mandaram.
- Como chegou aqui? Estava me seguindo? Quem é Você?
- Calma. Tudo será explicado. Eu vou abrir a porta e você me
segue.
- E porque deveria te seguir de novo?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
139
- Você quer saber onde está pergaminho com os códigos?
- Sim, como você sabe disto?
- Como você faz perguntas. Venha e me siga!
Ele abriu a porta e entramos novamente na recepção. Então,
segui o Gabriel, mas agora parecia que estávamos em outro
prédio. Já não havia uma recepcionista, na realidade, não havia
mais nada dentro do prédio, nem pessoas, nem móveis, nem
quadro nas paredes e tudo era pintado de branco. Até o Gabriel
chegava a ficar mais brilhante.
- Venha, Jorge.
- Onde está todo mundo? Cadê os móveis e aquela mulher, a
Afsana?
- Venha comigo, vamos pegar o elevador.
Entrei no elevador com ele, o elevador parecia ser mais
moderno agora. Conseguia ver as casas, os prédios e a praça.
Era estranho, pois parecia que estávamos no último andar do
prédio, pois tudo lá em baixo era pequeno.
- Como estamos vendo os prédios de cima, se estamos no térreo,
Gabriel?
- Jorge, Jorge. Quantas perguntas. Bem que me falaram, você é
muito falador.
- Quem falou de mim?
O Gabriel me olhava e balançava a cabeça, então o elevador
começou a subir.
MARCELO MENA
140
- Você não tem medo de altura, Jorge?
- Até agora eu não tinha, mas se já estamos no alto pra onde ele
vai subir?
O Gabriel ficava me olhando. Começamos a subir muito rápido,
tudo do lado de fora passava rápido, pude ver um avião
passando bem próximo de nós e logo estávamos acima dele.
- Esse avião não está voando muito baixo?
- Na realidade somos nós que estamos subindo mais alto.
- Como assim? Quantos andares têm este prédio?
- Já não estamos no prédio, Jorge.
- Não estamos no prédio? Onde estamos, Gabriel?
- O elevador só está voando, Jorge.
- Está só voando?
- Isso mesmo, Jorge.
- Eu não acredito! Devo estar sonhando e achando que estou no
filme, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Você deve ser o
Willy Wonka, e eu o Charlie.
- Você não é o Jorge?
- Estou falando do filme. Você nunca assistiu?
- Não tenho tempo para isto.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
141
- Você trabalha no quê? Onde estamos indo? Quando vou
acordar?
- Você não para de fazer perguntas, Jorge. Logo vou te
esclarecer tudo. Como vocês dizem: Aprecie a viagem.
Parecia loucura, mas a gente estava acima das nuvens. O
elevador parecia uma cápsula, voando no céu.
- Posso te fazer só mais uma pergunta?
- Já está perguntando.
- Pra onde estamos indo, Gabriel?
- Bem, Jorge, meu compromisso é levar você até a Grande
Sabedoria.
- Como assim? A Grande Sabedoria? Você está falando de
Jesus?
- Sim, Jorge. Você irá falar com Ele.
- Vou falar com Ele? Por quê?
- Você não quer saber onde está a cópia do segundo
pergaminho, dos códigos?
- Sim, eu quero.
- Então ele vai dizer onde está.
- Que legal. Faz tempo que não falo com Ele, sei que vai me
ajudar a salvar o Simon. Mas, espera aí, Ele está no céu?
- Isso mesmo, Jorge.
MARCELO MENA
142
- Então você é um anjo? Com certeza devo estar sonhando.
- Olhe para lá agora, poucos humanos têm este privilégio de ver.
Olhei do lado de fora e vi que estávamos no espaço. Tinha
muitas estrelas. Tudo aquilo era, pra mim, algo fantástico. Aos
poucos, estávamos nos afastando da Terra, e como é bonita,
toda azul. Passamos bem próximo da estação espacial
internacional, logo, passamos próximo da lua, como ela é cheia
de buracos. Assim, tudo ficava mais longe, e podíamos ver
outras constelações.
- Que planeta é aquele?
- Aquele é Júpiter.
- Agora, vamos sair desta Via Láctea. Quero te mostrar aquela
outra constelação, Jorge.
Começamos a nos aproximar de um planeta, me pareceu um
pouco menor que a Terra, mas também bem azul. O sol era um
pouco mais fraco que o nosso, e ao redor deste planeta havia três
luas.
- Que planeta é este?
- Este planeta é chamado de Terra-B.
- Porque Terra-B?
- Ele tem as mesmas características da Terra, mas é um pouco
diferente em alguns pontos.
- E, existem extraterrestres ali?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
143
- Agora não posso te dizer, mas, a Grande Sabedoria falou que
numa próxima viagem você irá conhecer toda a história deste
planeta.
- Que viagem? Quando será?
- Isso eu já não sei, Jorge.
Cada vez minha cabeça ficava mais confusa. Continuamos a
subir com o elevador.
- Olhe para cima, Jorge.
Ao olhar pra cima do elevador, verifiquei que estávamos indo
em direção a uma parede formada por espelhos.
- Aquilo é espelho?
- Sim. O final do universo é todo formado por espelhos, e, não é
infinito, como alguns homens pensam, ele é finito, e termina
com esta parede de espelhos. Você nunca leu no livro de Jó?
- Como assim, no livro de Jó?
- Quando você voltar, procure na Bíblia. Jó, capítulo trinta e
sete, verso número dezoito, onde diz que os céus são firmados
por espelhos.
- Nunca li.
- O livro de Jó é um livro científico, mas poucos sabem disso.
Melhor você se segurar, porque agora vamos atravessar esta
parede de espelho.
- Vai quebrar tudo?
MARCELO MENA
144
- Não. No mundo espiritual só entra o que é espírito, a matéria
não pode passar.
- Então vou morrer?
- Não. Seu corpo apenas ficará aguardando sua alma voltar.
- E qual a diferença, Gabriel? Pois, quando morro a minha alma
se separa do corpo.
- Fique calmo. Vai dar tudo certo!
Quando estava próximo de bater nesta enorme parede de
espelho, fechei os olhos. Senti um grande arrepio por todo o
meu corpo, um frio enorme em minha barriga. Então, abri os
olhos e estávamos num lugar lindo, todo branco. O piso era
como se fosse de vidro, bem limpo. Ao olhar o Gabriel, ele
estava resplandecendo uma luz forte. Agora, ele estava muito
mais alto e possuía duas asas enormes. Quando olhei para minha
roupa, estava com uma veste branca, bem longa. Minhas roupas
normais haviam desaparecido. O elevador parecia ter ficado
maior, pois Gabriel ainda cabia dentro dele.
- Olhe, Jorge. Lá na frente, onde está aquele trono.
Havia um enorme trono todo dourado e cheio de pedras
preciosas que irradiava muita luz. Mas, não conseguia visualizar
quem estava sentado, havia vários anjos como Gabriel. Se
aproximavam do trono e logo desciam por um portão enorme,
todo dourado.
- Estes são os anjos, Jorge.
- Os anjos?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
145
- Sim. Nós fomos criados há milhões de anos.
- E o que eles estão fazendo aqui?
- Estamos no primeiro céu, Jorge, onde todos os anjos que estão
na Terra vêm para comunicar a Deus tudo que ocorre e receber
ordens para o trabalho que irão fazer.
- Então, todos os anjos que estão na Terra, ajudando as pessoas,
vêm aqui prestar conta e voltam pra continuar o serviço?
- É isso aí. Você entende rápido.
Olhei e vi uma grande porta dourada, era muito linda e estava
fechada. Possuía algumas coisas escritas numa outra língua, não
consegui decifrar. Dois anjos ao lado com espadas que pareciam
chamas de fogo e iluminava toda a porta.
- O que é aquela porta, do outro lado do trono, que tem dois
anjos com espadas?
- Aquele é o portal que leva para o segundo céu. Somente anjos
com patentes maiores podem entrar, os demais têm que ficar
aqui.
- Eles não podem passar por ali? Quer dizer que existem anjos
superiores a estes? Por que precisa de guardas ali?
- Sim. Através daquele portal passam anjos levando os salvos
que morrem na terra. Infelizmente tivemos um pequeno
incidente há alguns milhões de anos atrás, onde Lúcifer tentou
subir todos os céus.
- Sim, me lembro.
MARCELO MENA
146
- Como você se lembra, se sua raça nem era nascida?
- Vamos dizer que sei desta história.
- Certo. Então, a partir daí, Deus colocou anjos da guarda
fechando estes portais, para que ele não tente subir? Mas ele
ainda vem aqui?
- Sim. Toda vez que quer fazer algum mal na Terra, ou com
alguém, ele vem pedir a permissão de Deus.
- Que coisa! Então o calça-curta ainda vem perturbar aqui
também?
- Calça-curta?
- É o outro nome dele.
- É você que inventa, Jorge?
- Não fui eu, mas a gente chama assim.
- Entendi.
- Então quer dizer que aquela é a porta que leva ao paraíso?
- Ainda não. Aquela porta leva para o segundo céu.
- E o que é o segundo céu?
- Vamos subir mais um pouco. Pra isso devemos descer do
elevador, iremos caminhando.
Nesta hora, a porta se abriu e Gabriel desceu, me puxando pelo
braço. Ao pisar o chão, não senti frio, pois eu estava descalço. O
lugar era fofo, parecia que estava caminhando por cima de uma
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
147
lã bem macia, chegava a dar uma sensação boa. O cheiro era
gostoso, nunca senti um cheiro suave como aquele. Neste
instante, foi como da primeira vez, senti um arrepio e frio na
minha barriga.
- Pronto, Jorge! Estamos na porta do segundo céu.
Quando olhei, a gente estava de frente com o portal, onde tinha
os dois anjos. Um deles abriu a porta e nos deixou entrar.
- Da próxima vez, tem como me avisar, Gabriel? Pois é muito
rápido, sinto um arrepio enorme e um frio na barriga.
- Sim, te avisarei.
À frente, vi que estávamos num campo bem verdejante. Para
trás de nós, o anjo fechou a porta novamente. Aquele lugar era
lindo, tinha algumas pequenas flores que nunca tinha visto. O
céu era sempre bem azul e logo depois de algumas árvores podia
ver outro portal, como o primeiro, também guardado por anjos.
- Onde estamos, Gabriel?
- Aqui é o segundo céu, também chamado Seio de Abraão.
- E cadê o povo? Não é aqui que vêm todos os que morrem
salvos?
- Não. Aqui foi um lugar temporário criado por Deus, para que
todos os que acreditaram na promessa de salvação viessem para
cá, esperando a salvação.
- Explique melhor, não entendi nada.
- Venha comigo.
MARCELO MENA
148
Caminhamos um pouco e o lugar tinha um cheiro maravilhoso.
Havia uma brisa refrescante que nos envolvia por completo e
nos dava uma paz e alegria. Era um lugar contagiante, não dava
vontade de sair dali.
- Neste lugar, vinham todos os que morreram antes de Jesus
morrer na cruz do calvário. Porque a salvação vem somente por
ele.
- Então, no caso, Moisés veio para este lugar antes de Cristo?
- Isto. Aqui vieram todos os que acreditaram na promessa da
salvação.
- Agora entendi. E para onde foram?
- Após a morte de Cristo, eles foram levados para o Paraíso.
Como está escrito no livro de Efésios, capítulo quatro e
versículo oito: - Por isso foi dito: Subindo ao alto, levou cativo o
cativeiro.
- E porque não ficaram aqui?
- Venha comigo.
Gabriel me pegou pela mão e me levou para o outro lado do
Seio de Abraão, foi num piscar de olhos.
- Que coisa! Já te falei pra me avisar quando for fazer estes
movimentos.
- Eu avisei. Falei: venha comigo. Lembra?
- Então está bem. Quando for me levar de novo, me avise bem
antes.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
149
- Está bem. Olhe lá para baixo, Jorge.
Estávamos à beira de um precipício. Lá em baixo, havia uma
grande escuridão e podíamos ver, como se fossem chamas,
subindo de lá. Formas de pessoas se movimentavam em meio a
estas chamas. O cheiro era terrível, havia um portal aberto,
onde, de lá, caiam muitas pessoas que acabavam mergulhando
naquelas chamas. Havia muitos gritos e gemidos.
- Que lugar é este, Gabriel?
- Aqui é o Hades. As pessoas que morrem na terra e que
praticaram coisas ruins, fazendo maldades ou mesmo sem
acreditar em Cristo, vêm parar neste lugar.
- Então é o inferno?
- Não ainda. Aqui é um lugar temporário também, eles ficam no
tormento até chegar o juízo final, aonde, após o julgamento, irão
para o inferno.
- É como está escrito na Bíblia, da história de Lázaro e o rico?
- Sim! Está escrito no livro de Lucas, capítulo dezesseis e verso
dezenove.
- Este lugar é horrível, Gabriel!
- Por isso, todos que estavam no seio de Abraão foram tirados,
para que não ficassem vendo estes, serem atormentados.
Comecei ouvir o grito de desespero daquelas pessoas, era
realmente assustador ficar ali. Meu coração parecia doer de
tristeza, o lugar era escuro e fedido.
MARCELO MENA
150
- Podemos ir embora daqui, Gabriel?
- Claro, Jorge! Vamos voltar. Se prepare que vai ser rápido de
novo.
Mal ele acabou de falar, já estávamos novamente próximo ao
outro portal, senti arrepio novamente.
- Você fez de novo, muito rápido! Você tem que avisar e dar um
tempo, pra que eu possa me preparar.
- Você não disse que era pra te avisar? Não falou nada de tempo.
- Quando for fazer isso novamente, me dê alguns segundos pra
entender.
- Entendi. Agora, vamos para o terceiro céu.
Nesta hora, outro anjo abriu o portal e nos deixou entrar,
fechando a porta. Assim que passamos, vi uma luz maravilhosa.
Esta luz parecia até tocar uma música linda, nunca tinha ouvido
algo tão maravilhoso. Olhei do lado e percebi que até o Gabriel
estava gostando daquele lugar.
- Aqui, Jorge, é o Paraíso!
O lugar era muito melhor que o seio de Abraão, havia uma
vegetação rasteira e várias flores que pareciam cantar. Era
cheiroso e um frescor tomava conta do ambiente. Tinha muita
gente de branco, alguns sentados, outros em rodas conversando,
alguns em pé andando e conversando. Todos tinham um rosto
feliz e estavam alegres. O céu era de um azul, nunca visto, e,
também tinha outro portal com anjos.
- É aqui que os salvos ficam, Gabriel?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
151
- Sim. É neste lugar, Jorge.
- É maravilhoso!
- Eu gosto muito de estar aqui também, Jorge.
Gabriel me pegou pela mão e foi me levando. Algumas pessoas,
que ali estavam, começaram a me olhar e sorrir.
- Aonde vamos?
- Preciso te mostrar uma pessoa. Ela quer te conhecer.
- E quem é ela?
- Você verá, Jorge.
O lugar era muito lindo, não há nada na terra que a gente possa
comparar. Os meus pés pareciam estar pisando em algo tão
macio que não tem como comparar. Neste momento, Gabriel
parou e ele deu sinal para uma pessoa chegar até onde
estávamos.
- Jorge, quero que você conheça o Humberto.
Então me virei e este Humberto me abraçou com muita alegria.
- Faz tempo que queria te conhecer, Jorge. – Humberto falou,
com uma voz cheia de alegria.
- Como você me conhece? – Perguntei.
- Fui um grande amigo de seu pai. Eu vim para este lugar logo
que você nasceu. Sempre fiquei esperando te ver novamente.
Agora você está crescido, que privilégio Jesus me concedeu.
MARCELO MENA
152
- E como está sua família lá na Terra? – Perguntou ele, me
olhando nos olhos. - Está tudo bem. – Respondi.
- E a sua mãe? – Perguntou ele, olhando pro Gabriel.
- Está bem, também. – Respondi.
- Humberto, agora chega. Preciso levar Jorge para conhecer
outras pessoas. É melhor se despedir. – Falou Gabriel, com uma
voz meio forte.
Novamente aquele homem me abraçou, sua face não me era
estranha, parecia com alguém que eu conhecia.
- Boa sorte, Jorge. Eu só quero que você saiba que sempre te
amei. – Falou Humberto, emocionado.
Mais uma vez me abraçou. Então, Gabriel me pegou pela mão e
saímos dali. Humberto me acenava com a mão. Com toda
sinceridade, não entendi nada.
- Gabriel, quem era aquele homem? Por que ele demonstrou
tanto amor por mim?
- Jorge, eu recebi ordens pra te levar até ele, pois o seu desejo
era te conhecer, já que em vida, na Terra, não conseguiu. Ele
pediu a Deus e assim foi concedido.
- Achei tudo meio estranho.
- Algumas coisas você não compreende, mas, com o passar do
tempo, tudo se esclarece.
Gabriel parou um instante, e, apontando para um lugar mais alto
disse:
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
153
- Está vendo aqueles homens conversando?
- Sim.
Estavam sobre um monte, três homens de roupas bem claras.
Conversavam bem descontraídos, pareciam velhos amigos.
- Aqueles são Pedro, Moisés e Samuel.
- Meu Deus! Você está falando do apóstolo, o Moisés do Mar
Vermelho e o profeta da Bíblia?
- Sim, Jorge, são eles.
- Não parecem nem um pouco com o que eu imaginava. Vamos
ir até lá?
- Não, Jorge. Você precisa rever mais um amigo seu. Depois
iremos subir mais um céu.
- E quem é?
- Vamos lá, vou te mostrar.
Ele me levou muito rápido voando por aquele lugar. Havia
muita gente, alguns olhavam para nós e acenavam. Paramos
num lugar mais alto e alguns vieram nos encontrar e começaram
a me abraçar. Quando olhei, vi o Harmes.
- Ei, Jorge. Quanto tempo! – Gritou Harmes, correndo.
- Harmes? – Perguntei.
Ele me abraçou forte.
MARCELO MENA
154
- Você ainda continua magrinho, hein, rapaz? – Harmes
começou a bater em minha barriga.
- O que você faz aqui? – Perguntei.
- Lembra a última vez que nos vimos? – Perguntou Harmes.
- Sim. Estávamos para voltar à nossa terra. Você e o Clin foram
para a caverna, junto com a Grande Sabedoria. – Respondi pra
ele, enquanto mais pessoas se aproximavam.
- O nosso mundo estava desabando por causa de Lúcifer, então,
quando chegamos à caverna, todos ficaram felizes de ver a
Grande Sabedoria. Ele pediu que todos nós fechássemos os
olhos. Quando abrimos, estávamos no que vocês chamam de
seio de Abraão, depois nos trouxe para cá e aqui estamos. –
Disse Harmes, todo empolgado.
- O Clin está aqui também? – Perguntei pra ele.
Foi só falar no Clin que ele veio e me abraçou muito forte.
- Não falei que a gente ainda ia se encontrar, Jorge? – Falou
Clin, todo alegre.
Ainda bem que não cuspiu no meu pé, como da última vez que
nos conhecemos.
- Verdade, Clin. – Respondi, batendo em seu ombro.
- Vamos, Jorge. Precisamos subir. – Falou Gabriel, me pegando
pela mão.
- Mas aqui é tão maravilhoso, nem dá vontade de sair Gabriel, e
estas pessoas são meus amigos.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
155
- Eu sei, mas é necessário ir, Jorge. – Falou Gabriel, me
puxando novamente.
- Pessoal, foi bom rever vocês.
- Jorge, manda um abraço pro Simon. Diga que estamos
esperando ele aqui.
- Pode deixar, Harmes, espero que eu consiga encontrá-lo e
salvá-lo.
- Eu sei que você é um garoto corajoso. Já enfrentou até o
Xenton! – Falou Harmes, imitando o Xenton.
- Valeu, Harmes! Até mais, Clin!
Gabriel me puxou e saímos voando. Ele me levou novamente
até o próximo portal.
- Nem acredito que encontrei o Harmes. Dá vontade de ficar pra
sempre aqui.
- Eu sei, Jorge. Mas, lembre-se que aqui também é temporário.
- Como assim, temporário?
- Neste céu, ficam os salvos, aguardando o arrebatamento. Após
o arrebatamento, irão para o próximo céu, o qual te mostrarei.
Venha!
Após entrarmos pelo portal, chegamos ao outro céu. O lugar era
como o paraíso, estava cheio de mesas, era impossível contá-las.
Todas eram revestidas de ouro, com várias cadeiras de ouro.
Sobre estas mesas havia coroas de ouro, umas diferentes da
outra, algumas estavam cheias de pedras preciosas e outras com
MARCELO MENA
156
apenas algumas pedras. O lugar estava totalmente vazio, havia
vários anjos trabalhando nas coroas, outros, nas mesas.
- Aqui, Jorge, é o quarto céu.
- Mas só tem anjos, Gabriel?
- Eles estão trabalhando para deixar tudo pronto. Olhe lá na
frente.
Havia uma mesa diferente de todas as outras, nesta mesa, um
grande trono cheio de pedras e metais preciosos.
- Aquele é o trono preparado pra Jesus.
- Que lugar é este?
- Aqui é o quarto céu, aonde virão todos os salvos após o
arrebatamento da igreja. Aqui irão ganhar o seu galardão e
receber a sua patente.
- Como assim, galardão e patente?
- Galardão é o prêmio pelo que fizeram na Terra, a patente é a
posição que irão adquirir pelo esforço realizado de não negar a
fé.
- Então é por isso que algumas coroas são bem recheadas de
pedras preciosas e outras não?
- Isto mesmo. Cada pedra tem um valor e uma característica,
para uma nova função.
- Função?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
157
- Vocês estão sendo preparados na Terra, para terem uma nova
função e trabalho no futuro.
- E qual vai ser este trabalho?
- Só no futuro você saberá. Quer ver sua coroa, Jorge?
- Melhor não.
- Por quê? – Perguntou Gabriel, sem entender.
- Ainda preciso enchê-la de pedras.
- Entendi, Jorge.
- E porque está cheio de mesas?
- É aonde será servido o grande banquete.
- É aqui que Jesus vai servir um banquete?
- Isto mesmo, Jorge. O banquete que todos estão esperando.
- E você sabe qual será o cardápio, Gabriel?
- Você não sabe, Jorge?
- Não.
- Você nunca leu o livro de provérbios? – Perguntou Gabriel não
acreditando.
- Só alguns trechos. E lá fala deste grande banquete?
- Sim, em provérbios, capítulo nove. Quando você voltar
procure ler e entenda o que é o banquete. Agora, vamos subir
para o próximo céu.
MARCELO MENA
158
- Cada vez fico com mais dúvida.
- Eu sei, Jorge. Mas, as escrituras falam sobre tudo isto que você
está vendo, por isso procure ler um pouco mais.
- Entendi. Tenho que ler mais a bíblia.
- Sim, Jorge, tudo está escrito.
De novo, ele me pegou pelo braço e fomos até o outro portal.
Logo, os anjos abriram e entramos para o outro céu. O lugar era
muito mais lindo que os outros, possuía muito mais cor, havia
anjos de diferentes tipos voando por cima de nossas cabeças. O
brilho era muito intenso e havia uma paz inigualável naquele
lugar. Ao longe parecia correr um rio, mas era diferente de
qualquer coisa que tinha visto, não consigo descrever isto, pois é
muito maravilhoso.
- Não existem palavras do seu vocabulário para entender este
lugar não é, Jorge?
- Nunca vi nada parecido. Que lugar é este?
- Aqui é o quinto céu, onde vai ocorrer o maior casamento de
todas as criações.
- Casamento? De quem?
- De Jesus e a sua noiva, a Igreja!
- Você quer dizer as bodas do Cordeiro?
- Sim. Será neste lugar, Jorge.
- E o que vai acontecer, Gabriel?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
159
- Aqui haverá algo extraordinário. O noivo e a noiva estarão
juntos para todo o sempre e não haverá impedimento. Agora, é
necessário subir mais um céu.
Novamente, chegamos num outro lugar e este era muito
silencioso. Não havia cânticos, ou algo parecido. O ambiente era
de paz, muita paz. Ao longe, vi um templo enorme de ouro e
brilhantes, as portas estavam fechadas.
- Aqui, Jorge, é o sexto céu.
- E o que tem naquele templo, Gabriel?
- Ali está guardada a Arca do Conserto.
- Aquela Arca, construída por Moisés, onde Deus falava com o
povo?
- Isso mesmo, Jorge. O bom é que você conhece algumas
histórias bíblicas, não é?
- Sim, Gabriel. Sei que é muito pouco, mas já li algumas
histórias. Mas, por que a arca está aqui? Você não me disse que
aqui só entra o que é espiritual? A Arca era feita de madeira e
revestida de ouro, dentro tinha o maná, as tábuas da lei e a vara
de Arão? Isto não é matéria?
- Sim, Jorge. Deus a trouxe pra cá, pois no futuro ela será
utilizada. Ela está aí dentro, como se estivesse em uma cápsula,
capaz de mantê-la no mundo espiritual e lá dentro é o sétimo
céu. O apóstolo João teve o privilégio de vê-la por alguns
segundos. Houve trovões, relâmpagos, terremotos e saraivas que
ecoaram por todos os céus, depois, fechou novamente. É só você
ler apocalipse, capítulo onze e verso dezenove.
MARCELO MENA
160
- Então quer dizer que a matéria sofre rejeição no espiritual, pois
não pertence a este lugar?
- Isto mesmo. Por isso está dentro deste templo.
- Podemos entrar pra ver, Gabriel?
- Você já quer demais. Ninguém nunca entrou ali. Isto será
privilégio de alguns vencedores, dos salvos. Quem sabe se você
vencer alcançará este privilégio, pois estando lá dentro fará parte
da perfeição, por isto é o sétimo céu.
- Deus me ajude que eu consiga.
Chegamos ao outro portal. Entramos num outro lugar, onde
havia uma quantidade de anjos imensurável, um louvor era
entoado sem cessar.
- E aqui, que céu é este?
- Este é o oitavo céu, onde ficam todos os adoradores de Deus. É
neste lugar que ficam os Serafins e louvam a Deus,
constantemente. Faça o seguinte, feche os seus olhos. Escute e
sinta o louvor.
Fechei os meus olhos, comecei a ouvir os cânticos, era
maravilhoso. Podia sentir a voz ecoar dentro de minha mente,
sem abrir os olhos. Enxergava uma luz muito clara e era como
se estivesse voando. Sentia um amor muito grande dentro do
meu coração. Aos poucos, parecia entrar num lugar muito mais
lindo do que já tinha visto. Ao longe, podia ver que alguém
olhava para mim e sorria, mas não consegui ver o seu rosto, a
luz era muito forte.
- Jorge, pode abrir os olhos. – Falou Gabriel, me puxando.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
161
Abri os olhos e estava no oitavo céu ainda. Os louvores
ecoavam por todos os céus.
- Que coisa linda. Para onde fui, Gabriel?
- Quando você fechou os olhos pôde sentir a presença de Deus
neste lugar e você estava quase voando. Acredito que quase o
viu.
- Sim. Era como se Ele estivesse me olhando e sorrindo.
- Ele está neste lugar também, você quase alcançou o último
céu. Mas, não é permitido ainda.
- Como assim, Gabriel?
- Ver o Pai será o maior privilégio de todos os santos, isto
acontecerá num breve futuro.
- Então ele está no ultimo céu?
- Sim. Onde fica toda a Trindade, Jorge.
- Vamos continuar até chegar lá?
- Aqui pra você é o fim da nossa viajem, Jorge. Não podemos
passar deste céu. Daqui pra frente é somente quem tem uma
patente maior, ou o privilégio de chegar até o ultimo céu.
- E, quantos céus existem? Gostaria de saber.
- Venha comigo, irei te mostrar!
Ele me levou até o portal de ouro, os dois anjos o saudaram e
abriram a porta.
MARCELO MENA
162
- É o seguinte, Jorge, você não pode entrar, mas poderá dar uma
olhada na parede direita, lá haverá um mapa de todos os céus.
Então coloquei a cabeça por dentro deste portal. Gabriel ficava
me segurando, me impedindo de entrar. Pude ver um mapa
descrito com algumas palavras que não conseguia entender,
mas pude contar e vi que o ultimo céu marcava número doze.
Quando olhei à frente, uma luz muito forte tomou conta do
ambiente e não conseguia enxergar mais nada, então, Gabriel
me puxou.
- São doze os céus, Gabriel?
- Isso mesmo, Jorge! Lá existe o nono céu, que é o lugar dos
Querubins, depois no décimo o lugar dos Arcanjos e no décimo
primeiro o lugar dos Anjos Superiores, também conhecido como
Anjos da Guarda e por último o lugar Santo, Santo e Santo.
Existem coisas lá nestes céus que nenhum homem sabe, mas um
dia saberão.
- Que pena não poder subir mais.
- Entendo. Também gostaria, mas não é permitido. Venha,
Jorge, preciso te levar até aquela porta.
Virei de lado e vi uma porta, como se fosse de madeira, toda
trabalhada, com uma maçaneta de ouro.
- E o que tem naquela porta, Gabriel?
- Você tem que entrar por ela. Ficarei aqui te esperando voltar.
- E o que tem lá dentro?
- Sempre perguntando. Entre e veja!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
163
- Está bem.
Abri a porta e fui entrando. Gabriel, vendo que entrei, fechou a
porta. Vi que estava dentro de uma sala enorme. Havia uma
pequena cadeira e uma mesa. Ao me aproximar, vi que tinha um
bilhete em cima da mesa, lá estava escrito: “Meu querido amigo,
abra a gaveta da mesa e retire o pergaminho que lá se encontra,
depois, guarde o pergaminho em algum lugar seguro, espere
sentado nesta cadeira”. Então, abri a gaveta e vi o pergaminho.
Neles estavam todos os códigos que era preciso pra revelar o
outro pergaminho. Fiquei muito alegre e enrolei o pergaminho.
Comecei a procurar um bolso para guardar o pergaminho, mas
aquela roupa não tinha bolso. Então, voltei até a porta e abri. Vi
que Gabriel estava ali esperando.
- Pronto, Jorge?
- Ainda não, é que tinha um bilhete me pedindo pra guardar este
pergaminho num lugar seguro. Só que, infelizmente, esta roupa
não tem bolso, você tem algum bolso nesta sua roupa?
- E porque eu teria um bolso?
- Sei lá. De repente pra guardar algum documento.
- Que documento, Jorge?
- Vai que vocês tem que ter algum RG de anjo.
- Não tenho bolso e nem RG.
- Então, faz um favor pra mim, fica segurando aí o pergaminho
até eu voltar. Existe algum lugar mais seguro que as mãos de um
anjo?
MARCELO MENA
164
- Vai, Jorge, me dá este pergaminho.
Entrei novamente na sala. Gabriel já tinha fechado a porta
novamente. Sentei na cadeira e esperei pra ver o que
aconteceria. Ainda era possível ouvir o louvor dos serafins
naquela sala. Então, pensei em fechar os olhos, como fiz
anteriormente. Senti a música novamente e algo maravilhoso
começou acontecer no meu ser. Logo pude ver aquela luz forte e
perceber alguém me olhando e sorrindo. Aos poucos, comecei
ver a face, como se fosse de uma pessoa, logo este rosto não me
era estranho e falou comigo:
- Oi, Jorge.
Quando abri os olhos, era a Grande Sabedoria que estava a
minha frente, sorrindo pra mim.
- Jesus?
- Quanto tempo, Jorge. Venha, me dê um abraço! – Ele disse,
abrindo os braços e me chamando.
Corri e saltei em seus braços. Como era maravilhoso sentir Jesus
me abraçando de novo, podia sentir uma alegria muito forte no
meu coração.
- Faz tempo que a gente não conversa, Jesus.
- Sim, faz muito tempo, Jorge. Mas você se afastou de mim e
não quis mais conversar.
- Eu? Como poderia conversar se não apareceu mais?
- Não significa, que por não me ver estou longe, Jorge. Sempre
estou bem perto.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
165
- E como vou conversar com o senhor?
- A oração é a nossa conversa. Sempre que você ora, estou
ouvindo. Mas, quando quero falar, você termina a oração e diz
amém. Nunca deixa tempo pra eu falar, acaba que, sua oração
vira um monólogo, só você fala. Então, deixe um tempinho pra
eu poder falar também.
- Me perdoa, Jesus. Nem imaginava que o Senhor queria falar
comigo.
- É o que todo mundo pensa. Acreditam que estou tão longe. Às
vezes, pensam que sou surdo e gritam, mas mal sabem que estou
tão perto, e que nem precisa falar, pois já sei o que querem.
- Vou começar orar diferente agora.
- Por isso gosto de você, Jorge. A sua sinceridade vem do
coração, não apenas dos lábios. Diga-me, como foi conhecer os
céus?
- Foi maravilhoso. Nunca vi, nem senti tanta coisa maravilhosa.
- Obrigado por esta oportunidade, Jesus.
- Você parece ter crescido um pouco, desde a última vez.
- Só se for dos lados, pois na altura não cresci quase nada.
- Jorge, seu senso de humor ainda está ótimo.
- Gabriel deve estar se divertindo com você.
- Não sei não. Ele é meio sério, não é muito de brincadeira.
- Mas é um ótimo anjo. Por isso vocês se diferem deles.
MARCELO MENA
166
- Já sei, nós somos mais divertidos que eles?
- Quase isso, Jorge. É que vocês têm sentimentos. Você é
semelhante a mim, por isso são especiais. Mas estou vendo que
está aflito por causa do Simon.
- É que, aquele Muled disse que vai matá-lo se não levar o
pergaminho com os códigos. Por isso estou aflito.
- Você foi corajoso. Enfrentou todas as dificuldades, sem temer,
e chegou até aqui por amar o Simon.
- Ele é um grande amigo. Me ajudou numa hora difícil. Não
posso deixar o Muled machucá-lo.
- Então você consegue ver como me sinto quando vejo o
inimigo tentando acabar com as pessoas que amo, Jorge?
- Sim, Senhor. Sei que o inimigo tem feito estragos na Terra,
tem prejudicado muitos dos teus servos. Quando isso terá fim?
- Em breve, Jorge! Falta pouco tempo, logo tudo isso irá findar.
Saiba que o Simon está constantemente orando por você, para
que eu possa te guardar e te abençoar.
- Então ele está bem?
- Sim. Ele está um pouco triste, mas está bem.
- Agora, vou poder voltar e soltá-lo, pois já tenho o pergaminho.
- Você está vendo? Através de um pergaminho, pequeno, com
alguns códigos, poderá libertá-lo.
- Com estes códigos o Muled vai soltá-lo, não é mesmo?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
167
- Na terra também é assim, Jorge. A minha Palavra, que veio de
vários pergaminhos, pode libertar muita gente das mãos do
inimigo e trazer a salvação do pecado. Se você não levar o
pergaminho o Simon poderá morrer. Da mesma forma,
acontecerá com as pessoas que não receberem a minha Palavra.
Alguns não querem mais levar esta Palavra aos que estão presos
nas amarras do mundo, em que o inimigo os prende. Muitos
estão sendo condenados à perdição por falta desta mensagem.
- Entendi, Senhor. Se não levarmos a Palavra à humanidade,
todos irão para o inferno, sem a salvação. Eu vi como era o
Hades, imagino como será no inferno. Vou fazer a minha parte,
me desculpa se não entendi quando tive que orar pela criança no
hospital e pelo Antônio.
- Sim, Jorge. Você tem a Verdade. Leve-a para todos.
- Sim, Jesus. Gostaria de falar também sobre Aquele Muled, que
está sendo usado pelo calça-curta. Ele não sabe o que está
fazendo, acredita que se conseguir o tesouro de Salomão, irá se
tornar poderoso.
- Jorge, os Atanasianos eram um grupo de homens separados
por Salomão. Eles tentaram impedir a descoberta destes
tesouros, e, o pergaminho, era o único meio. Foi quando vocês
pegaram, naquela última viajem. Após a perda deste, já não
houve mais motivo, ou vontade para continuarem. Isto fez com
que a busca pelo tesouro terminasse, há muitos anos atrás.
- Quais são os tesouros de Salomão?
- Vai perder a emoção se eu contar. Você não acha, Jorge?
- Acho que o Senhor poderia me dar uma dica.
MARCELO MENA
168
- Jorge, Jorge. Como é curioso. Espere pra ver!
- E se Muled Conseguir os tesouros? O que vai acontecer?
- Vá junto com ele e descubra os tesouros de Salomão. Na hora,
você saberá o que fazer. Estarei lá com vocês.
- Como assim? O Senhor quer que a gente vá, junto, achar?
- Sim, Jorge. Será uma aventura incrível, e você poderá aprender
muito.
- Cada dia eu me surpreendo. Enquanto alguns acham que te
servir é uma coisa monótona, eu fico pensando nas aventuras
que já passei desde que te conheci.
- Agora me diga, Jorge, é ruim? Quer desistir?
- Jamais, Senhor! Só depois de conhecer estes céus, eu quero ser
vencedor e alcançar tudo isto.
- Muito bem. Agora, me responda. Se você descobrisse, que
tudo aquilo que acha que é verdade, fosse mentira. O que faria?
- Não entendi. Como a verdade poderia ser mentira, Jesus?
- Imagine um aluno, estudando com um professor, descobre que
o seu professor nunca foi um professor de verdade. Se você
fosse o aluno, o que faria?
- Eu me sentiria muito chateado, pois fui enganado.
- E como ficaria você e o professor? Ainda teriam a mesma
amizade?
- Não estou entendendo. É a respeito do Simon?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
169
- Não, Jorge. É só um exemplo.
- Acho que eu não voltaria mais a falar com este professor.
- Mesmo sabendo que muitos ensinos dele foram verdade e te
ajudaram muito?
- Não sei dizer o que faria, Jesus. Porque tudo isto?
- Porque, mesmo descobrindo alguma mentira, Jorge, às vezes,
precisamos analisar todo o contexto, descobrir algumas verdades
ali contidas, para que possa se apegar, e, nunca permitir que uma
mentira estrague tudo o que foi construído durante uma vida.
- Jesus, suas palavras estão difíceis de entender.
- Você pode não entender agora, mas entenderá em breve.
Quando você voltar pra sua casa, vá à loja M&D Modas, do seu
bairro. Você conhece?
- Sim. Aquela loja, chique, de roupas.
- Isso Mesmo. Vá lá e compre aquele tênis que você queria, já
que o seu ainda é o da última viajem, e está terrível.
- Eu sei, Jesus, mas não tenho dinheiro.
- Não se preocupe. Apenas confie em mim, faça o que estou lhe
pedindo.
- Eu queria mesmo aquele tênis novo.
- E você vai ter, mas pense nisso que te falei.
- Vou pensar.
MARCELO MENA
170
- Agora, Gabriel vai te levar de volta. Ajude Muled a conseguir
os tesouros de Salomão.
Então, Jesus me abraçou novamente e me levou até a porta. Ao
abrir a porta, Gabriel estava esperando por mim. Quando virei
pra falar com Jesus, ele não estava mais.
- Pronto? Podemos ir, Jorge?
- Acho que sim, Gabriel. Vamos voltar.
Voltamos por todos os portais até chegar ao elevador. Então,
entrei e Gabriel ficou do lado de fora.
- Você não vem, Gabriel?
- Meu trabalho termina aqui. Bom retorno, Jorge.
- Obrigado, Gabriel. Você foi muito legal.
- Até a próxima, Jorge.
A porta do elevador se fechou. Num piscar de olhos, já estava de
novo na Terra. O elevador estava com todas as luzes apagadas.
Pelo vidro, pude ver muita gente do lado de fora do prédio.
Havia carros de polícia e bombeiros. Comecei a sentir um cheiro
forte de queimado e entrou muita fumaça dentro do elevador,
estava me sufocando. Tentei abrir a porta, mas estava trancada.
Parecia ter um incêndio no prédio, então, comecei a gritar e a
bater na porta.
- Me ajudem! Socorro!
Em alguns minutos, o elevador estava totalmente tomado pela
fumaça e já estava difícil respirar. Ouvi um barulho na porta do
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
171
elevador, alguém falava em árabe. De repente, pude ver a porta
se abrindo devagar. Um bombeiro conseguiu entrar, me viu e
gritou bem alto. Então, outros vieram até onde estávamos. Ele
me retirou do elevador, e a sala de recepção estava totalmente
tomada por fumaça. Havia chamas em alguns lugares, muita
gente morta e, até, pedaços de corpos espalhados, foi uma cena
horrível.
- O que houve aqui? – Perguntei ao bombeiro.
O bombeiro me colocou numa máscara de oxigênio e me
carregou para o lado de fora. Algumas ambulâncias ajudavam
quem estava ferido. Havia muita sujeira e pedaços do prédio do
lado de fora, era como se tivesse explodido uma bomba. Fui
colocado numa maca e levado pra dentro de uma ambulância,
que já estava com mais três pessoas machucadas.
- Alguém aqui fala inglês? – Perguntei.
Uma enfermeira da ambulância me respondeu.
- O que você quer saber, jovem?
- O que aconteceu lá dentro do prédio?
- Pelo que todos estão falando, foi um homem bomba, e você
teve sorte de estar dentro do elevador. Impediu de ser atingido
por estilhaços da bomba. – Falou a enfermeira, colocando um
curativo na perna de um rapaz.
- Meu Deus! E agora? O que vai acontecer comigo? – Perguntei
pra ela.
MARCELO MENA
172
- Agora, como vocês têm ferimentos mais leves, levaremos até o
hospital do Cairo, pois o de Port Said está lotado de tanta gente
ferida. – Ela respondeu, fechando a porta da ambulância.
Saímos com a ambulância em toda velocidade para o hospital.
Havia uma moça de cabelos longos que chorava muito e estava
com os lábios feridos. Um enfermeiro a ajudava a estancar o
sangue. Também tinha outro rapaz, com o braço bem
machucado, ele mesmo segurava um pano sobre sua ferida. Eu
era o que não tinha nada, somente um pouco de intoxicação por
causa da fumaça, era obrigado a ficar segurando aquela máscara
de oxigênio no meu rosto. Comecei a pensar que tudo não tinha
passado de um sonho. Pensei que, por causa da explosão, eu
tinha desmaiado e sonhado com tudo aquilo, dos céus. E o
pergaminho? Acabei deixando com o Gabriel, então, minha ida
até lá tinha sido em vão, agora, estava voltando sem ter nada.
Coitado do senhor Simon! O que vou fazer agora? Seria tudo
sonho mesmo?
De repente o homem do braço machucado começou a me
apontar e a falar em árabe. Eu não entendia nada. A enfermeira
olhou pra mim e também começou a apontar.
- Menino, caiu algo do seu bolso. Vai perder seu documento e
acabará ficando num situação ruim.
Coloquei a mão no meu bolso, mas minha carteira estava no
lugar, então, olhei ao lado, no chão, e vi o rolo de pergaminho
ainda amarrado com uma fita. Abri para ver, e era o pergaminho
que tinha deixado com o Gabriel. Havia um papelzinho escrito:
“Veja se não perde. Agora, está em suas mãos. Assinado,
Gabriel”.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
173
Então tudo era real. Meu Deus! Agora estou indo para o Cairo
e lá ficará fácil pra chegar. Obrigado, Meu Deus.
MARCELO MENA
174
Capítulo 8
Voltando pro Cairo
Chegamos ao hospital e já estava escurecendo. Descemos,
então, vários médicos e enfermeiros vieram nos atender.
Examinaram-me, e vi o médico conversando com a enfermeira.
Ela veio em minha direção sorrindo.
- Jovem, como é o seu nome mesmo?
- Meu nome é Jorge.
- Qual é o seu país?
- Sou do Brasil!
- Brasil? Que legal! Conhece Ronaldo?
- Minha senhora, tem tantos Ronaldos no Brasil.
- E todos jogam futebol? – Perguntou ela, com olhar espantado.
- Ah, entendi. Você fala do Ronaldo, o jogador?
- Sim! Ele mesmo.
- Não o conheço pessoalmente.
- Que pena, ele jogava muito futebol. – Ela falou, tentando fazer
uma embaixadinha com um papel amassado.
- Eu sei. Mas, mudando de assunto, posso ir embora?
- O médico disse que você pode ir, mas tem alguém que pode te
buscar? Algum parente? Ou amigo?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
175
- Pensando bem, eu acho que sei quem pode me buscar. A
senhora já ouviu falar do Muled, um colecionador?
- O ladrão de túmulos? Essa pessoa é muito perigosa. Você o
conhece? – A enfermeira falou assustada, se afastando de mim.
- Vamos dizer que sim. Se você tiver como arrumar um telefone,
e uma lista telefônica, quem sabe a gente consiga achar o
número, garanto que ele vai querer me buscar. – Falei pra ela.
Ela saiu, foi até o balcão, chamou o segurança e ficou um bom
tempo falando com ele. Ela saiu do hospital sem falar comigo,
como se estivesse vendo algo terrível em mim. Acredito que por
ser o Muled um bandido, pensou que eu seria também. Então, o
segurança veio em minha direção, me pegou pelo braço e me
colocou na calçada, do lado de fora do hospital. Percebi que já
não era bem aceito naquele lugar. Já estava escuro e esfriando,
olhei e vi um ponto de táxi logo à frente, pensei em perguntar se
alguns deles sabiam onde era a residência do Muled. Estavam
três motoristas sentados conversando.
- Algum de vocês sabe inglês? – Perguntei.
Os três olharam e mexeram a cabeça, ignorando o que eu falava.
Então, percebi que seria inútil tentar me comunicar com eles.
Continuei andando pela calçada, não sabia nem que direção
tomar, quando ouvi uma sirene atrás de mim. Era a enfermeira
da ambulância. O motorista da ambulância parou, e ela, na
janela, começou a falar:
- Jorge! É este seu nome, não é?
- Sim. - Você trabalha pro Muled, jovem?
MARCELO MENA
176
- Não, senhora! Eu tenho, vamos dizer, alguns assuntos com ele.
- Como você o conheceu?
- Olha, é uma história longa e complicada.
- Você sabe que ele é perigoso. Nós já socorremos muita gente
que sofreu com ele. Então, porque você não volta pro seu país e
fica em paz?
- Na realidade, estou indo pra lá para salvar um amigo que ele
sequestrou.
- Entendi. E você acha que sozinho vai resolver a situação?
- Eu preciso tentar, já que a polícia não poderá me ajudar.
- Sei. Neste caso nem a polícia vai te ajudar mesmo.
- Eu sei disto. A senhora sabe como faço pra chegar à casa dele?
- Você tem dinheiro aí?
- Estou sem nenhum. Espera aí, eu tenho o que o senhor Khalida
me deu, é este aqui.
Passei o pacote de dinheiro pra ela. Ela começou a olhar as
notas e balançar a cabeça.
- Isto aqui não é dinheiro do nosso país. É do seu país? Aqui não
vale nada.
- Como assim? Não é do meu país também. Então, por que será
que o Khalida me deu este dinheiro?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
177
- Você deve procurar algum colecionador, parece ser dinheiro
antigo. Não tem problema, já sei o que vou fazer.
Ela desceu do carro, fez sinal pra um taxista que se aproximou
dela e começaram a conversar. Então, ele saiu correndo e foi
buscar o carro.
- Ele vai te levar e deixar na rua da casa do Muled.
- Mas como vou pagar, moça?
- Eu disse pra ele que você é amigo do Ronaldo, o jogador, e
que, quando chegar ao Brasil, vai mandar uma camiseta
autografada pra ele.
- É sério?
- Ou é assim, ou vai ter que andar uns quarenta quilômetros.
- Está certo! Eu dou um jeito depois. Muito obrigado! Você foi
muito bacana. Qual é o teu nome?
- Meu nome é Isis. Quando voltar ao Brasil me manda um
postal.
Então, ela me entregou um cartão, com o endereço dela. Assim,
ela entrou na ambulância e saiu. O táxi chegou e o homem me
fez sinal para entrar. Na mesma hora, ele pegou um papel, me
entregou e falava alguma coisa que dava entender: Ronaldo.
Olhei e estava tudo escrito em árabe, mas parecia ser o endereço
dele, para mandar a camiseta. Ele, então, ligou o rádio e só
tocava música árabe. Às vezes ele falava alguma coisa comigo,
talvez perguntando sobre o que eu achava da música, então, ele
ria e mudava a estação, assim fomos. Passou alguns minutos e
comecei a reconhecer a rua. Vi que já estávamos na rua certa,
MARCELO MENA
178
então, ele parou o carro. Assim que desci, ele saiu do carro, me
abraçou e falou alguma coisa sobre o Brasil. Acho que ele
queria dizer que amava o Brasil, não estava bem certo sobre
isso. Ele entrou no carro e saiu acenando. Andei mais alguns
minutos e cheguei em frente ao portão do Muled. Era um portão
enorme de ferro. O muro todo era bem alto e ainda possuía uma
cerca por cima. As câmeras de segurança viraram em minha
direção e algo no interfone falou, mas não entendi nada. Em
poucos segundos, vieram dois seguranças que me deram sinal
para entrar, fui seguindo eles. Eu nem acreditava que estava
naquele lugar de novo. Bem, depois que tudo que havia passado
não via a hora de encontrar o senhor Simon. Entramos pela
cozinha e Muled estava sentado à mesa comendo. Parecia um
elefante carnívoro.
- Pensei que não conseguiria, garoto. Cadê seu amigo?
- O Bryan? Ele me largou sozinho e ainda por cima fui
assaltado.
- Este país está ficando perigoso, é difícil de confiar nas pessoas.
Se o Bryan fugiu, vou mandar alguém ir atrás dele.
- Estas horas ele deve estar em outro país. Ele não é bobo.
- Pelo menos conseguiu os códigos, garoto? Achou os
atanasianos?
- Sim, consegui.
- Então me passa!
- Primeiro, cadê meu amigo Simon?
- Sei. Querendo negociar? Sou um homem de palavra.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
179
Ele deu sinal, com uma coxa de frango na mão, para o
segurança, que saiu rápido da cozinha e foi para a sala.
- Vamos, garoto, sente e coma alguma coisa. Não quero ver
ninguém dizer que foi maltratado na minha casa.
Uma senhora, de boa aparência, veio, colocou um prato e
começou a me servir. Ela me olhava e sorria. Parecia ser uma
boa pessoa, mas, infelizmente, trabalhava pro Muled.
Realmente, não ia rejeitar aquela janta, pois estava morrendo
de fome, não havia comido nada até àquela hora.
- Garoto, você subiu no meu conceito, pois, além de ficar
sozinho, ainda conseguiu o código e voltou antes do dia
marcado.
- Não estou preocupado com o que o senhor acha de mim, eu só
fiz isto pelo meu amigo.
Nesta hora, senhor Simon entrou pela porta, junto com o cara de
taturana. Ele veio em minha direção e nos abraçamos.
- Por que você não foi embora, Jorge? – Perguntou o senhor
Simon, com cara de cansado.
- Nunca ia te deixar, senhor Simon. Você é como um pai pra
mim.
- Obrigado, Jorge. Mas você se arriscou de mais vindo aqui de
novo.
- Ei, dá pra parar de momento família aí? Cadê os códigos? Já te
entreguei o velho.
MARCELO MENA
180
Tirei o pergaminho do meu bolso e entreguei pro Muled. Ele
abriu e começou a olhar. O cara de taturana foi do seu lado e
começaram a conversar em árabe.
- Cadê o Bryan, Jorge? – Perguntou o senhor Simon.
- Aquele doido me largou no trem e foi embora.
- Ele te abandonou? Que covarde! Mas quem vai traduzir?
Precisamos sair daqui e irmos embora. Já entregamos o que ele
queria.
- Senhor Simon, nós vamos ter que ajudá-lo a encontrar os
tesouros de Salomão.
- Como assim, Jorge? Este Muled é perigoso, ele pode querer
nos matar assim que encontrarmos o tesouro, e o pior, como
vamos traduzir o mapa?
- Encontrei a Grande Sabedoria, Ele me disse que precisamos
encontrar o tesouro, e tudo vai dar certo.
- A Grande Sabedoria? Onde você encontrou?
- É uma longa história, depois te conto.
O cara de Taturana trouxe para o Muled o pergaminho que tinha
o mapa. Os dois tentaram entender o que tinha ali com os
códigos. Discutiram bastante, até que Muled ficou nervoso.
- Como vou traduzir isto sem o Bryan?
- Posso dar uma olhada? – Perguntou o senhor Simon.
-Você acha que consegue, velhote? – Com um olhar de
desconfiado, Muled entregou o pergaminho.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
181
- Vou tentar.
Eles, então, colocaram os pergaminhos na mesa, o senhor Simon
pediu uma lâmpada para iluminar melhor. Enquanto ele tentava
entender os pergaminhos, comecei a comer, e que comida
deliciosa aquela senhora sabia fazer. Depois de algumas horas,
o senhor Simon conseguiu entender o pergaminho.
- Entendi agora! Estes códigos mostram as palavras do Sírio
antigo para o grego, e vice-versa. Com isto, consigo ler o que
está no Sírio antigo.
- Muito bem! Agora vocês ainda continuam como meus
convidados. Estude este pergaminho, amanhã iremos ao
encontro deste tesouro. Eu vou me retirar para descansar,
depois, Riane e Tatuhãna levarão vocês para seus aposentos.
Espero que não tentem escapar.
- Nós o ajudaremos, com a condição de nos permitir voltar para
nosso país depois que tudo isso acabar.
- Claro, Velhote. E, se conseguirem me ajudar a achar este
tesouro, eu vou recompensá-los.
Ele, então, saiu da cozinha, acompanhado dos seguranças. O
pior de tudo é que o cara de taturana se chama Tatuhãna. Depois
de ouvir isto, comecei a rir sem parar.
- Jorge, porque está rindo?
- O bigodão ali, se chama Tatuhãna.
- Engano seu, Jorge.
- Engano?
MARCELO MENA
182
- Tatuhãna é aquela senhora. O dele é Riane.
- Ai, que dó dela. Agora entendi o porquê do bigodão.
- O que tem a haver o bigode, Jorge?
- Ele se olha no espelho pela manhã, vê aquela taturana no rosto
e diz: - Eu sou Homem, me chamo Riane, mas sou homem.
- Jorge, pare de rir. Assim, eles vão ficar desconfiados!
- Não consigo. Esse cara é muito engaçado.
Pelo jeito, o baixinho não gostou da minha risada, ele começou
a falar em árabe e deu sinal pra sairmos. A Tatuhãna foi à frente
e nos mostrou o nosso quarto. O quarto era enorme, tinha camas
muito grandes e cheias de almofadas. Parecia que estávamos
num filme de Ali babá, tudo no estilo árabe, um tapete enorme,
que parecia mais um colchão do que um tapete. As janelas
tinham grade e havia um pequeno banheiro no fundo do quarto.
Assim que entramos, fecharam a porta e trancaram pelo lado de
fora.
- E agora, senhor Simon?
- Agora, quero que me conte tudo o que aconteceu com você.
Então, comecei a contar para o senhor Simon tudo o que
aconteceu, como conheci Gabriel, os céus e tudo mais. Logo
fomos nos deitar. Ficava pensando se a Sandra estava tentando
me ligar, já que agora estava sem celular, isto me doía o
coração.
- Jorge, amanhã, a gente vê se consegue uma oportunidade de
ligar para o Brasil, e você conversa com sua família.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
183
- Obrigado, senhor Simon.
- Sabe o que mais está me intrigando, Jorge?
- O que?
- Por que Lúcifer está usando Muled pra descobrir este tesouro?
Será que tem alguma coisa que ele queira? O que será, Jorge?
- Não sei, senhor Simon, mas acredito que logo a gente saberá.
- Você tem razão. Boa noite, Jorge.
- Boa noite.
MARCELO MENA
184
Capítulo 9
Encontrando as Chaves
Logo pela manhã, a senhora Tatuhãna entrou no quarto, colocou
nosso café sobre uma pequena mesa e se retirou rápido. Então,
percebi que o senhor Simon já estava acordado. Sobre a sua
cama estavam os pergaminhos e ele não parava de analisá-los.
- Bom dia, Jorge.
- Bom dia, senhor Simon. Pelo jeito, acordou cedo pra estudar?
- Preciso estar por dentro de tudo, para não cometermos nenhum
erro. Não sabemos o que Muled pode fazer. Aproveite que a
Tatuhãna já trouxe o nosso café.
- Estou morrendo de fome! O senhor já descobriu onde está o
tesouro?
- Se entendi o que está aqui, precisamos encontrar três chaves
antigas, cada uma se encontra em um lugar. Como já faz muito
tempo, não sei se conseguiremos encontrá-las, pois pode ser que
tenha se perdido, o lugar, os nomes são muito antigos.
- Entendi. E o que estas chaves fazem?
- Com estas chaves, teremos que ir para o sul do Egito e lá
encontrar a porta sagrada.
- Meu Deus! Pelo jeito, vamos ter que viajar muito.
- Provavelmente, Jorge. Os nomes aqui são antigos e precisamos
desvendar onde seriam estes lugares hoje.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
185
Nesta hora, alguém abriu a porta e Muled entrou no quarto. Ele
estava vestido com roupa de safari e um chapéu em sua mão.
Pelo jeito, fazia muito tempo que não vestia aquela roupa,
estava bem apertada e a cinta, mal conseguia segurar toda
aquela banha.
- Meus amigos, vocês têm, apenas, cinco minutos, pois o carro
já esta pronto. Agora, me diga aonde vamos, Simon.
- Segundo o pergaminho, precisamos encontrar três chaves. A
primeira se encontra na pirâmide do faraó Khufu, você sabe qual
é, Muled?
- Esta é a pirâmide Quéops. Você acha que ainda vamos
encontrar esta chave por lá? Já foi revirada tanto por dentro,
como por fora. Essa chave já deve ter sido encontrada.
- Segundo o pergaminho, Muled, existe um lugar dentro dela,
que é secreto. É preciso usar alguns códigos para abri-la.
- Hum, então, a nossa primeira viajem é Quéops. Se arrumem
que já iremos.
Muled saiu e o senhor Simon ficou pensativo, olhando o
pergaminho.
- Algum problema, senhor Simon?
- Não sei ao certo, Jorge. Isto pode ser perigoso, pois, aqui há
um sinal, como se fosse representando morte, mas não consigo
entender.
- Estou vendo que ir à pirâmide de Khufu vai dar muita
“Khunfusão”!
MARCELO MENA
186
- Só você, Jorge, pra me fazer rir.
Nos arrumamos e partimos para as pirâmides. Fomos com o
carro de Muled, era bem confortável. Os carros dos seguranças
seguiam um na frente, e outro atrás. A paisagem era desértica,
só víamos estrada e areia. Algumas vezes, víamos pessoas
andando com camelos e alguns turistas de carro, ou de ônibus.
Não demorou muito, logo chegamos às pirâmides. Nunca tinha
visto algo tão fantástico, eram pedras enormes colocadas umas
sobre as outras. Como estava ventando muito forte, tínhamos
que cobrir o rosto com um pano, pois era muita areia e se
déssemos bobeira elas enchiam os nossos olhos. A pirâmide
Quéops é uma das maiores. Havia uma pequena porta para
entrar, mas estava proibida a entrada de visitantes.
- Como vamos fazer para entrar, senhor Simon?
- Boa pergunta, Jorge. Tem um segurança proibindo a entrada.
- Não se preocupem. Mandei fechar para que tivéssemos a
liberdade de procurar a chave sem turistas.
- Você mandou, Muled? Você pode mandar aqui?
- É, garoto, sou uma pessoa muito respeitada por aqui.
- Não sei bem se é respeito, acredito mais em medo e covardia.
- Cuidado com o que fala, garoto. Posso me arrepender do que
prometi.
- Jorge! Se controle e não ofenda o Muled.
- Isso mesmo, Jorge. Ouça o seu avô Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
187
Muled entrou na pirâmide com dois seguranças atrás, entramos
após eles. Dentro da pirâmide havia um salão enorme e algumas
escadarias, uma que subia, outra que ia para baixo da pirâmide.
O lugar era meio escuro e tinha pouca iluminação.
- E agora, senhor Simon? – Perguntei.
- Segundo o pergaminho, devemos descer mais esta outra
escada. Acho melhor você ficar aqui, Jorge. Deixa que vou até
lá.
- O garoto vai junto, Riane também. – Disse Muled, meio bravo.
- Tanto segurança e ele vai mandar este cara de taturana.
- Vamos fazer o que ele manda, Jorge. – Falou o senhor Simon,
já descendo uma das escadas.
Descemos as escadas que parecia não ter fim. Até que,
chegamos numa sala pequena e não havia nada ali, apenas uma
pequena abertura na pedra.
- Pra que serve aquele buraco ali? – Perguntei para o senhor
Simon.
- Aquilo, Jorge, é um duto de ar que sai na parte de cima da
pirâmide. Serve para não faltar ar neste lugar.
O senhor Simon abriu os pergaminhos sobre uma pedra e
começou a analisar a sala e as pedras que ali havia. Então,
parou, olhando uma grande, no canto da sala.
- Acho que é esta pedra, Jorge. Me ajude a empurrar! – Falou o
senhor Simon, tentando arrastar a pedra.
MARCELO MENA
188
- O senhor viu o tamanho dela? Deve pesar uma tonelada.
- Eu sei, Jorge, mas precisamos arrastá-la, pois em baixo dela
deve estar o que procuramos.
O senhor Simon deu sinal para o Riane, que entendeu o que
queríamos e começou a nos ajudar. Bem devagar, conseguimos
arrastar esta pedra do lugar.
- O senhor deve ter se enganado, não tem nada aqui.
- Engano seu, Jorge. Me dê o pergaminho.
Então, o senhor Simon limpou o piso com a mão. Entre as
pedras, que serviam de piso, uma possuía um pequeno desenho.
- Olhe, Jorge. É o desenho dos Atanasianos!
- Sim, é o mesmo símbolo! Mas, e agora?
- Olhe o pergaminho, ele tem alguns sinais que mostram como
devemos apertar esta pedra.
O senhor Simon apertou com a mão os símbolos da pedra que
estava no piso. Ouvimos um estalo, e assim, cada aperto que ele
dava fazia barulho. O símbolo, que ele apertava, afundava no
chão, e, no estralo voltava na posição.
- Não aconteceu nada, senhor Simon.
- Acho que errei a sequência, Jorge. Vou tentar de novo!
Então o senhor Simon começou, novamente, apertar a pedra e
mais estalos dava. Até que, deu um estalo bem forte e apedra se
deslocou para cima. Com um pouco de dificuldade, o senhor
Simon conseguiu retirar a pedra. Era um buraco meio fundo, ele
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
189
colocou a mão dentro, chegando até seu ombro, e retirou um
pedaço de couro, enrolado e amarrado. Ao abrir, havia uma
chave pequena que parecia ser de ouro. O seu formato era muito
estranho, parecia mais uma haste, com alguns dentes.
- Conseguimos, Jorge! Olha, que maravilha!
Nesta hora, o cara de taturana pegou a chave e subiu pelas
escadas.
- Que cara chato, nem me deixou pegar a chave, senhor Simon.
- Vamos sair daqui também, Jorge!
Nesta hora, começamos ouvir um barulho estranho vindo do
buraco, de onde o senhor Simon retirou a chave.
- O que será isso? – Perguntei assustado.
- Não faço ideia, Jorge!
- Tenta tampar de volta.
- Me ajuda aqui, Jorge!
Tentamos colocar a pedra que tinha o símbolo dos Atanasianos,
no lugar, mas foi em vão, ela acabou caindo dentro do buraco.
- O buraco aumentou de tamanho?
- Parece que sim, Jorge. Melhor sairmos daqui!
Pegamos os pergaminhos e começamos a subir as escadas. De
repente, a escada começou vibrar, os degraus começaram
desaparecer e virou um escorregador. Acabamos caindo e
escorregando pra dentro da sala novamente.
MARCELO MENA
190
- O que está acontecendo, senhor Simon?
- Lembra que eu te disse que havia um símbolo de morte no
pergaminho?
- Sim! Será que vamos morrer? E do quê?
- Não sei, Jorge. Não consegui decifrar o que estava escrito após
o símbolo!
- Ai que maravilha! Vamos morrer e nem sabemos do que!
O barulho começou aumentar mais dentro da sala. Tentamos
subir a antiga escada, mas era muito escorregadia. Então,
começamos a gritar pro Muled, para que nos socorresse,
ninguém respondia.
- Não acredito que Muled foi embora e nos deixou.
- Impossível, Jorge! Estamos com o pergaminho, ele precisa
dele.
Nesta hora, de dentro do buraco, começaram a sair muitos
escorpiões, não paravam de sair, era um maior que o outro.
- Senhor Simon, é escorpião, e está enchendo a sala!
- Jorge, tire a sua camisa, rápido!
- O quê? Por quê? Já estamos numa sala sem poder sair, ficando
lotada de escorpiões e ainda quer que eu fique sem camisa? O
senhor endoidou?
- Rápido, Jorge! Depois te explico.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
191
Nesta hora, tirei a camisa. O senhor Simon pegou a sua bengala,
enrolou minha camisa nela e acendeu fogo com um isqueiro.
Assim, começou a balançar de um lado para o outro. Com isto,
os escorpiões não se aproximavam de nós.
- Que ideia brilhante, senhor Simon!
- Obrigado, Jorge. Mas, procure subir esta rampa e chamar o
Muled, porque a hora que sua camisa terminar de queimar, vai
precisar de mais algum pano, e quem sabe será a sua calça.
- Deus me livre! MULEEEEDDDD!
Nesta hora, caiu uma corda, próximo da porta.
- Segurem nesta corda, vamos puxar! – Gritou Muled.
Segurei na corda e o senhor Simon deixou o pano, pegando
fogo, bem na entrada da porta. Com isto, os escorpiões não se
aproximavam (a sala estava infestada e não parava de aumentar
o número de escorpiões). Assim, subimos rapidamente pela
rampa e chegamos onde Muled estava.
- O que houve lá embaixo? – Perguntou Muled.
- De onde tiramos a chave, está saindo escorpiões! – Disse o
senhor Simon para o Muled.
- Senhor Simon!
- Fale, Jorge.
- O fogo apagou e os escorpiões estão subindo a rampa.
O lugar todo estava sendo tomado por eles.
MARCELO MENA
192
- Vamos sair daqui o mais rápido possível! – Disse Muled, já
correndo.
Nesta hora, saímos todos, correndo, entramos nos carros, e
fomos embora daquele lugar. O senhor Simon pegou o
pergaminho e com ele no colo apontava, me olhando.
- Olhe, Jorge! Então, este símbolo representa o escorpião.
- Agora o senhor entendeu? Estou arrepiado até agora, só de
lembrar. Tem outra coisa que quero saber.
- E o que é, Jorge?
- Vou ficar sem camisa até achar este tesouro?
- Verdade, Jorge, mas eu tinha que pensar em alguma coisa pra
queimar naquela hora. É melhor você, sem camisa, do que eu
que já estou velho.
Nesta hora, Muled jogou uma sacola onde eu estava.
- Veja se serve esta camisa. É do meu sobrinho, ele comprou faz
alguns dias e acabou esquecendo no carro. Ninguém vai querer
ficar olhando este teu “corpo atlético”. Mas, me diga garoto, lá
no Brasil você passa fome? – Muled falou e ficou rindo.
- Muito engraçado, Muled, só não vou falar nada porque o
senhor me emprestou esta camisa.
Muled estava sentado no banco da frente e, ainda rindo,
começou a analisar a chave que havíamos encontrado. A camisa
era bem colorida, ficou um pouco grande, mas dava pra usar.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
193
- Ficou bem em você, Jorge. – Disse o senhor Simon com uma
cara de que estava com vontade de rir.
- Fiquei parecendo um havaiano.
- Verdade mesmo, Jorge!
- Tudo bem! Pelo menos agora estou mais confortável. Me diga,
senhor Simon, esta chave deve valer muito dinheiro, não é?
- Sim, Jorge. Deve valer muito dinheiro, mas ainda faltam duas
chaves. Pelo pergaminho, ainda temos que ir à África
Meridional, precisamente em Moçambique, encontrar a árvore
do rio Limpopo.
- Sei onde fica. Vamos até o aeroporto. Iremos com o meu
helicóptero, será muito mais rápido. – Falou Muled, se virando
todo pra nos ver.
- E o que é esta árvore do rio Limpopo, senhor Simon?
- É uma árvore milenar que misteriosamente tem esculpida no
seu tronco, vários animais. Até hoje, ninguém sabe quem
esculpiu. Eu nunca vi pessoalmente, já vi na internet, algumas
fotos. É interessante. O pergaminho indica que nesta árvore está
a nossa outra chave.
- E tem mais algum símbolo de morte?
- Aqui, Jorge, tem outro símbolo estranho, mas não consigo
identificar. Teremos que tomar muito cuidado. – Falou o senhor
Simon com o pergaminho aberto no seu colo.
- E porque tem que ser tão perigoso? Não era mais fácil fazer
que nem os piratas, antigamente, achar uma ilha deserta, enterrar
MARCELO MENA
194
um baú, colocar uma cruz desenhada no chão e fazer um mapa?
Simples!
- Sim, Jorge, mas acredito que Salomão não queria que ninguém
descobrisse os tesouros, pois deve possuir algo que seja
perigoso, ou muito poderoso.
- Esse Salomão só complica as coisas, se não queria que
descobrisse, por que fez um mapa? Era mais fácil ter enterrado
num lugar que só ele soubesse e quando morresse, o segredo
morreria com ele, ninguém descobriria.
- Bem pensado, Jorge. Mas pode ser que seja necessário
encontrar. Talvez ele tenha deixado desta forma, para que a
pessoa certa o encontrasse.
- Ah, tá! O gordo do Muled?
- O que foi, garoto? Perguntou Muled, quando ouviu o seu
nome.
- Nada, Muled, eu só queria agradecer pela camisa.
- Está vendo, garoto, não sou tão mal quanto você pensa.
- Sim, Claro! Vamos acreditar, não é?
- Uma coisa é certa, Jorge, só descobriremos o que é este
símbolo, quando chegarmos lá e encontrarmos a outra chave. –
Disse o senhor Simon, coçando sua careca.
Assim, fomos até o aeroporto. Quando chegamos, o senhor
Simon pediu para Muled se tinha como fazer uma ligação para o
Brasil, mas Muled negou e prometeu nos dar um telefone
quando tudo isto acabasse. Fiquei meio preocupado com tantas
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
195
promessas do Muled, achei que ele andava tramando algo
contra nós, pra quando tudo isto terminasse. Infelizmente,
tivemos que seguir em frente, e achar o tesouro. Entramos no
helicóptero e Riane não pôde ir, Muled lhe disse algo ao ouvido
que ele saiu e pegou o carro. Então, fomos de viagem até
Moçambique. Olhando por cima, a África era maravilhosa, um
lugar lindo.
- Sabe, Jorge, a África é um dos países que mais tem achado
arqueológico.
- Verdade? Será que aqui foi à terra do Harmes?
- Pode até ser, Jorge.
- Quem é Harmes?
- Foi um amigo nosso, Muled.
Descemos num lugar próximo a um rio. A vegetação estava bem
alta, então, fomos caminhando. Ao longe, podíamos ver algumas
pessoas que pareciam ser de alguma tribo. Estavam com roupas
coloridas e algumas com varas nas mãos. Havia muitas crianças,
que ficaram nos olhando de longe. Parece que nunca tinham
visto um helicóptero.
- Vamos depressa, antes que as autoridades deste lugar
cheguem. – Falou Muled, descendo rápido um pequeno
barranco.
Bem abaixo de nós, havia uma árvore gigantesca, seu tronco era
enorme e possuía vários animais esculpidos nela.
- Esta é a árvore, senhor Simon?
MARCELO MENA
196
- Sim, Jorge! Veja quantos animais esculpidos.
Os animais foram feitos com uma perfeição incrível, até
pequenos detalhes nas expressões dos macacos. O senhor Simon
abriu os pergaminhos e começou a olhar a árvore.
-Bem, Jorge, aqui diz que devemos procurar o leão.
- Do outro lado, senhor Simon. – Disse Muled, apontando pra
árvore.
Nos aproximamos do leão e era muito perfeito. Parecia até que
era de verdade e algo o havia transformado em madeira. Então,
o senhor Simon apertou um dos seus dentes e deu um estalo
forte.
- Vai começar tudo de novo! Daqui a pouco vai sair escorpião!
- Fique calmo, Jorge. Agora, preciso achar o caranguejo.
- Está neste tronco, Simon! – Disse Muled todo empolgado por
achar o caranguejo.
- Obrigado, Muled! – Respondeu o senhor Simon, carregando os
pergaminhos.
Então, o senhor Simon puxou uma das pernas do caranguejo e
novamente outro estalo forte.
- Agora, precisamos achar a serpente.
Enquanto o senhor Simon procurava a serpente, percebi que as
pessoas estavam se aproximando do outro lado da margem do
rio.
- Senhor Simon!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
197
- Que foi, Jorge?
- Tem um monte de gente nos olhando com cara brava, e estão
com lanças nas mãos.
Um dos que estavam ali (parecia ser um dos chefes) começou a
gritar e falar alto uma língua que nunca ouvi. Então, Muled
chamou um dos seus seguranças que retirou uma arma e deu
dois tiros para o alto. Foi uma correria que não ficou nenhum
pra contar história.
- Esses ignorantes acham que podem querer alguma coisa aqui.
Pode continuar, Simon! – Falou Muled revoltado.
- Acho que eles queriam nos avisar sobre algo. – Falei para o
Muled.
- Que nada, moleque! Este povo é muito primitivo, qualquer
coisa acham que é um deus. – Muled falou, tentando se apoiar
na árvore.
- Sei não, Muled. Eles devem saber de alguma coisa.
- Estes primitivos não sabem de nada. – Agora, Muled tentando
se sentar em uma das raízes, se abanava por causa do calor que
estava aumentando.
Enquanto eu discutia com Muled, o senhor Simon achou a
serpente e começou a procurar algo em torno dela.
- O que o senhor está procurando? – Perguntei.
- O símbolo dos Atanasianos, Jorge!
MARCELO MENA
198
Começamos a procurar e olhei dentro da boca da serpente. Lá
dentro, havia algo bem pequeno, o que parecia ser o símbolo dos
Atanasianos.
- Senhor Simon, olhe aqui dentro!
- Parece que é o símbolo. Que coisa linda! É bem pequeno, deve
ter sido difícil esculpir aí dentro. – Disse o senhor Simon,
colocando seu pequeno óculos, para enxergar dentro da boca da
serpente.
Ele pegou uma caneta do seu bolso e tentou tocar no símbolo,
mas era curto e não alcançava. Então, ele pegou um galho que
estava no chão e empurrou o símbolo para dentro. Nesta hora,
houve um estalo bem forte que chegou a balançar até o topo da
árvore. Alguns pássaros levantaram voo e os animais pareciam
se mexer em toda árvore. Neste momento, as pessoas da tribo
começaram se aproximar novamente, bem devagar, com muito
medo.
- E agora, o que acontece? – Perguntei.
- Aqui no pergaminho diz que devemos ir até o casal de
babuínos. – Respondeu o senhor Simon, olhando os animais da
parte de cima da árvore.
Encontramos o casal de babuínos e um deles abriu a boca.
- Jorge, você é jovem. Suba nos galhos e enfie a mão dentro da
boca daquele macaco, veja o que tem lá dentro.
Então, subi. Enquanto subia, o pessoal do outro lado começou a
gritar e acenar com a mão. O segurança atirou para o alto de
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
199
novo, eles agora não saíram correndo, continuavam gritando,
como se algo fosse acontecer.
- Acho que eles não querem que eu mexa na boca do macaco,
Senhor Simon.
- Estranho, Jorge. O que será que eles querem?
- Vai logo, garoto! Pegue esta chave! – Gritou Muled, tentando
levantar todo seu peso.
Coloquei a minha mão por dentro da boca do macaco e havia
algo macio lá dentro ao puxar era um pedaço de couro
amarrado. Então, joguei para o senhor Simon que abriu e viu
que tinha uma chave semelhante à outra.
- Desça daí, Jorge!
- Estou descendo.
Fui descendo rápido e o pessoal do outro lado ficou em silêncio
absoluto. Quando terminei de descer houve outro estalo e a
árvore balançou novamente. Começamos ouvir um estranho
som, como se fosse chacoalho, não parecia nem um pouco com
os dos escorpiões e alguns minutos parou. De repente, do outro
lado do rio houve uma gritaria e correria, não ficou nem um
indivíduo pra contar história.
- Porque será que correram?
- Não sei, Jorge, mas é melhor sairmos daqui, rápido! – Falou o
senhor Simon preocupado.
- Eu quero esta chave, Simon! – Falou Muled, arrancando as
chaves do senhor Simon.
MARCELO MENA
200
Ele ficou admirando a chave, era como se tivesse dado um doce
a uma criança.
- Vamos sair daqui e ir embora, Muled! – Falou o senhor Simon.
- Claro! Vamos pro Helicóptero. – Respondeu Muled,
guardando a chave no seu bolso.
Quando subimos o barranco, em direção ao helicóptero, vi que
no céu havia uma nuvem escura se aproximando rapidamente.
- Será que vai chover, senhor Simon?
- Acho que isto não é nuvem de chuva, Jorge!
- Não é chuva?
- Agora entendi o símbolo, Jorge!
- Como assim?
- Aquilo não é nuvem de chuva, são vespas e estão vindo pra cá!
- E agora? Vai dar tempo de chegar ao helicóptero, senhor
Simon?
Nesta hora, o helicóptero já havia levantado voo e estava
subindo.
- Vejam, o piloto se assustou e está indo embora! – Disse o
senhor Simon.
- Como pode ser? – Perguntei.
- Vou matar este cara! Covarde! – Falou Muled, sendo puxado
pelo segurança.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
201
Em poucos segundos o helicóptero foi tomado pelas vespas e
derrubado no chão.
- Acho que o senhor não vai mais precisar matar o piloto,
Muled. – Falei.
- Venha, Jorge! Tive uma ideia, vamos entrar no rio. Peguem
aqueles caniços e utilizem pra respirar. – Disse o senhor Simon,
descendo novamente o barranco e indo para dentro do rio.
Então, entramos rio e começamos a respirar com os caniços. Era
horrível, parecia que não vencia puxar o ar e soltar. Dava
vontade de subir e respirar do lado de fora, mas era impossível.
Ainda dava pra ouvir o zoar das vespas, assim, ficamos alguns
minutos, até que elas se foram. Então, saímos da água. Um dos
homens do Muled estava com o rosto todo inchado, ele devia ter
colocado a cabeça do lado de fora e as vespas lhe pegaram.
- Essa foi por pouco. E agora?
- Sinceramente não sei, Jorge!
- Vamos descer este rio. Logo chegaremos ao povoado mais
próximo e lá conseguiremos um telefone, ou rádio, para que
venham nos buscar. – Falou Muled, tentando sair do rio.
Assim, andamos muito. Parecia não ter fim, e, mesmo de longe,
dava pra ver a fumaça do helicóptero.
- Senhor Simon, será que aquela tribo conseguiu se livrar das
vespas?
- Não sei, Jorge! Espero que eles tenham conseguido.
MARCELO MENA
202
Depois de muito andar, os meus pés estavam doendo. O senhor
Simon parecia poder andar mais uns vinte quilômetros, não
reclamava de nada, já o Muled, estava toda hora parando e o
segurança o apoiava a cada tropeço. Logo mais à frente, vimos
algumas casas de madeira com telhado de palha. O segurança
saiu correndo e foi na frente, até estas casas. Não demorou
muito, algumas pessoas, vestidas com roupas de couro e
sandálias saíram e foram ao nosso encontro. Falavam muito alto
e não entendíamos nada. Então, nos levaram para dentro de uma
destas casas e, nos prepararam um banquete com muita carne e
verdura. Quando fui beber o suco, senhor Simon segurou a
minha mão.
- Não beba isto, Jorge.
- Por quê? Estou com sede.
- Eu sei, mas esta bebida possui algum tipo de alucinógeno.
- Como o senhor sabe?
- Olha o Muled, a primeira coisa que ele fez foi beber e veja
como está.
O Muled estava sem camisa, e toda a sua banha descia sobre a
sua calça. Ele havia se levantado e, dançando, cantava uma
música em árabe. Foi a pior visão que tive desde que
começamos esta viagem. Quando ele parava, suas banhas ainda
se mexiam que nem gelatina. Alguns dos homens, que vieram
nos buscar, riam sem parar e tentavam imitar o Muled.
- Que coisa mais ridícula, senhor Simon.
- Por isso, não beba!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
203
- Sim, senhor! Não quero dar vexame.
Não demorou muito, Muled caiu no chão e começou a roncar. O
segurança tentou levantá-lo, mas não conseguiu. Então, fui e
tentei ajudar, mas ele era muito pesado. Logo, um dos que
ficaram rindo veio nos ajudar. O colocamos sobre uma esteira
que trouxeram. Assim, ficamos naquela tribo algumas horas, até
que apareceram alguns jipes de safari e nos levaram até a cidade
mais próxima, dela, voltamos para casa de Muled. E, nem
preciso mencionar que Muled foi desmaiado a viajem toda.
Quando chegamos, nos colocaram de volta ao nosso quarto e
nos trancaram novamente.
- Quanta coisa aconteceu hoje.
- Nem me fale, Jorge. O pior acredito que será amanhã.
- Como assim? O que o senhor descobriu?
- Amanhã teremos que ir à Terra santa.
- Jerusalém?
- Isto mesmo. Pelo pergaminho, a terceira chave está no templo
de Salomão.
- O templo não existe mais. Como vamos fazer?
- Uma parte do templo ainda está de pé.
- Sério? Que parte seria?
- É o muro das lamentações.
- Vamos ter que ir para Jerusalém. Sempre tive vontade de
conhecer. Mas porque o senhor disse que será a pior parte?
MARCELO MENA
204
- Aqui no pergaminho tem algo que não consigo decifrar, esta é
a minha preocupação. Já tivemos escorpiões e vespas, agora o
que será que virá? Ainda tem o problema da guerra que existe
por lá.
- Não quero nem ver. E tem outro problema, a minha família
deve estar preocupada.
- Tem razão, Jorge, mas o que vamos fazer?
- Não temos nenhum telefone.
Nesta hora, a porta se abriu e Tatuhanã entrou com algumas
coisas para comer. Abriu uma estante que estava com cadeado,
e, dentro, havia uma pequena televisão. Ela, então, ligou e saiu
do quarto.
- Acho que ela quer que a gente assista a TV.
- Agora não posso, Jorge, preciso entender este pergaminho.
- Senhor Simon, acho melhor o senhor dar uma olhada neste
noticiário. Eles falam árabe, mas tem legenda em inglês.
- Eu sei, Jorge, mas estou ocupado!
- Está falando sobre a pirâmide.
- Como assim?
O senhor Simon virou para a TV e ficou assistindo. Estavam
falando sobre uma praga de escorpiões que havia surgido
naquela manhã. As autoridades estavam tentando dedetizar tudo,
pois eles acreditavam que por muitos anos estes insetos se
multiplicaram em baixo da pirâmide, e, devido um terremoto, de
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
205
baixa intensidade, haviam saído de seu ninho. Muitos estavam
acreditando na maldição da múmia Khufu, pois, numa inscrição,
dentro da pirâmide, dizia que se ele fosse perturbado do seu
sono, haveria escorpiões, vespas e tempestades de poeira. E,
logo, o repórter mostrava uma nuvem de vespas vindo em
direção à pirâmide. As autoridades pediam que ninguém saísse
de casa e mantivesse tudo fechado, para evitar as vespas, e, que
eles fariam de tudo para matar estes insetos. Numa outra
reportagem mostravam alguns homens com lança chamas,
tentando matar as vespas.
- Você viu, senhor Simon?
- Estou espantado com tudo isto. As vespas foram até a
pirâmide. Agora estou começando a entender, Jorge!
- A entender o que?
- Veja bem. Aqui mostra a pirâmide, o desenho, que se refere ao
escorpião, e aquele símbolo das vespas. Juntando cada símbolo,
veremos a localização de onde está o tesouro. Vou te mostrar.
Pegue aquele papel e o lápis.
Então, o senhor Simon começou a desenhar e olhar o
pergaminho. Depois de algum tempo, saiu um desenho que
parecia uma montanha.
- Olhe, Jorge! Consegui!
- E o que é isso?
- Esta é a localização do tesouro. Após encontrarmos a terceira
chave, iremos até esta montanha e encontraremos este tesouro.
- Sim, mas onde fica isso?
MARCELO MENA
206
- Não tenho certeza, acho que já vi esta montanha, não me
lembro de onde!
- Agora ficou fácil, mas tem outra coisa que o senhor esqueceu.
- O que é, Jorge?
- A tempestade de areia.
- Tem razão, não se encaixa com a montanha. Espera um pouco!
De onde vem areia mesmo?
- Do mar?
- Não, Jorge! Pense, onde encontramos muita areia e onde
ocorre tempestade de areia?
- No deserto?
- Isso! Agora sei de onde é esta montanha.
- Onde, senhor Simon?
- É o monte Sinai. O antigo nome aqui é Suassipaniz veja o
desenho. Agora me lembro. Este monte fica no deserto.
- O senhor quer dizer que devemos ir ao muro das lamentações,
pegar a terceira chave e depois ir ao monte Sinai encontrar o
tesouro?
- Isto mesmo. Está fácil!
- Quem ouve o senhor falando, até imagina que é fácil, mas na
hora, sempre acontece algo errado.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
207
Enquanto o senhor Simon ficava entretido com o desenho e o
pergaminho, comecei a comer alguns doces que a Tatuhãna
havia deixado. Logo mais, fomos nos deitar.
MARCELO MENA
208
Capítulo 10
Terra Santa
Logo pela manhã bem cedo, fomos acordados pelo Riane, que
apontava para o relógio da parede e gesticulava, acredito que era
pra nos apressar. Então, ele desceu e deixou um segurança na
porta.
- Acho que ele está com pressa, Jorge.
- Percebi que o taturana tá nervoso, até o bigode dele treme.
- Vamos nos aprontar e descer rápido.
Outro rapaz veio até o nosso quarto e, falando com o segurança,
colocou as nossas malas sobre uma cômoda, no canto do quarto.
- Trouxeram nossas malas, senhor Simon?
- Acho que sim. Devem ter pego lá no hotel, Jorge.
- Essa turma deve de ter roubado do hotel.
- O mais importante é que estamos com nossas coisas de volta,
Jorge.
- Deixa ver se está aqui o cartão de crédito do meu tio, assim,
numa oportunidade, podemos comprar alguma coisa e fazer uma
ligação.
Comecei a verificar minhas calças e encontrei o cartão. Então,
me lembrei do dinheiro que recebi do Khalida, no prédio dos
Atanasianos. Encontrei e levei para o senhor Simon.
- Olhe aqui, senhor Simon, o dinheiro que o Khalida me deu.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
209
- O Atanasiano?
- Ele mesmo. Acabei deixando dentro da minha calça, mas
parece que não tem valor.
- Porque será que ele te daria um monte de dinheiro sem valor?
- Sei lá. Vai ver ele queria me fazer de bobo.
Coloquei o cartão e o dinheiro no meu bolso, e assim, fomos
acompanhando o segurança até a cozinha. Lá dentro, o Muled
estava com uma cara horrível, parecia estar de ressaca.
- Estou com uma dor de cabeça horrível! Me diga aonde iremos
agora, Simon.
- Precisamos ir ao muro das lamentações.
- O quê? Você deve estar brincando!
- É sério! A terceira chave está lá, depois precisamos ir ao
monte Sinai.
- É a busca pelo tesouro ou uma peregrinação à Terra Santa? –
Falou Muled, batendo com as mãos sobre a mesa.
- O pergaminho está indicando estes lugares. – Mostrou o
senhor Simon com o pergaminho na mão, apontando com o
dedo.
- O problema vai ser entrar em Jerusalém. Lá não sou muito
bem vindo, mas já sei o que vamos fazer: o Riane levará vocês
até o muro das lamentações, e, conseguindo a terceira chave
vocês voltam e vão para o monte Sinai. Darei um jeito de
esperar por vocês lá no monte Sinai. Não tentem escapar ou
MARCELO MENA
210
fazer qualquer bobagem, senão Riane terá que tomar atitudes
drásticas, vocês me entenderam?
- Sim, Muled! – Respondeu o senhor Simon.
Saímos da casa. Novamente, fomos de avião até Jerusalém.
Nunca imaginei estar na terra onde Jesus viveu, pena não poder
conhecer os lugares, pois a pressa de Riane me dava nos nervos.
Sempre indo rápido pelas ruas e se desviando dos guardas de
Israel, ele, muitas vezes, gesticulava com as mãos para irmos
mais rápido. Havia muito movimento no local e as ruas eram
estreitas e cheias de lojas.
- Senhor Simon, será que podemos dar uma parada e comprar
algum celular?
- Jorge, não sei não, pois o problema de ter vindo com o Riane é
que ele não fala inglês, como vamos fazer isto?
- Deixa comigo!
Paramos, então, Riane começou a tremer o bigode, fiz um gesto
pra ele de que precisava ir ao banheiro, dei sinal de que eu
entraria naquela loja e veria se teria algum banheiro. Ele, talvez,
não tenha entendido muita coisa, mas falou em árabe, segurou o
Simon pelo braço e me deu sinal que entrasse. Entendi que, se
demorasse, algo aconteceria com o senhor Simon.
- Jorge, tome cuidado!
- Pode deixar, volto logo, senhor Simon!
Entrei na loja e tinha muita coisa lá dentro, vendia de tudo que
se possa imaginar, mal dava pra passar pelo corredor. Foi
quando cheguei ao balcão e perguntei se possuía algum celular.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
211
- Você é brasileiro? – Perguntou um homem de camiseta branca,
sentado em um pequeno banco de madeira.
- Sim! Como você descobriu?
- Pelo seu sotaque! Meu nome é Armando, também sou
brasileiro e moro aqui há mais de quinze anos.
Aquele homem se levantou, devia de ter mais de dois metros de
altura. Ele saiu do balcão, veio na minha direção e me abraçou
bem forte.
- Não é sempre que a gente vê brasileiro na minha loja! Eu
precisava te dar um abraço, mas, me diga: o que precisa?
- Perdi meu celular, gostaria de comprar outro, para poder ligar
pra minha casa no Brasil.
- Tenho um aqui que tem um ótimo preço. O único problema é
que para fazer o cadastro vai levar mais ou menos uma hora,
pois aqui em Israel é muito complicado, as operadoras são
controladas, devido aos atentados que ocorrem. Você tem tempo
pra se cadastrar?
- Estou com muita pressa, não vou ter tempo pra isso!
- Então já sei, use o meu telefone e ligue, deixe os teus parentes
tranquilos e depois te cobro só a ligação.
- Beleza! E onde está o telefone?
- Entre por aquela porta, lá no fundo você vai ver o telefone na
parede. Fique a vontade!
MARCELO MENA
212
Entrei, e havia um corredor grande com muita caixa, encontrei o
telefone e fiz a ligação.
- Alô, mãe?
- Jorge, é você? Graças a Deus! Estávamos todos preocupados,
seu telefone está dando fora de área, já faz dias que não temos
notícias tuas. O que aconteceu?
- Calma, dona Maria! Está tudo bem. Acabei perdendo o celular,
por isso não pude ligar. Na casa onde estamos não tem telefone,
então, vim numa loja pra comprar outro telefone, mas aqui é
difícil.
- Está tudo bem por aí?
- Sim, mãe, tudo tranquilo. Estamos viajando. Hoje, estou em
Jerusalém.
- Que bom que está tudo bem, filho! Seu pai vai ficar feliz em
saber que você está em Jerusalém.
- E a Sandra, mãe?
- Ela está aqui do meu lado, desesperada pra falar com você. Só
um minuto.
- Seu chato! Só agora você liga? Estávamos todos preocupados.
Você fica passeando e nem liga!
- Calma, meu amor! Eu perdi o celular.
- Ligasse de um telefone público.
- Eu sei, Sandra. Me desculpe, mas só agora consegui achar um
telefone pra ligar.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
213
- Tudo bem! Já te perdoei. Me diga, como está o passeio?
- Aqui está tudo bem. Agora, estamos em Jerusalém, mas pode
ficar sossegada, assim que eu puder ligo de novo, agora tenho
que desligar.
- Como assim? Fica o maior tempão sem falar com a gente e já
tem que desligar?
- Depois, com mais tempo, a gente se fala, mas saiba que amo
você. Manda um abração bem forte pra todos, logo a gente
retorna.
- Está bem. Amo você também. Não demore pra ligar de novo.
Desliguei o telefone e voltei ao balcão. Armando me olhou
assustado, e Riane estava com uma arma apontada para o senhor
Simon, dentro da loja. Então, disfarcei puxando o zíper da calça
e falei:
- Ei, calma aí já saí, taturana.
- Vocês vieram me assaltar? Assalta outra loja, eu também sou
brasileiro! – Disse Armando todo nervoso.
- Não se preocupe, Armando! Não viemos assaltar, é que esse
taturana é nervoso, não aguenta esperar. Já estamos saindo.
Quanto fica minha ligação?
- Nada! Ficou de graça. – Falou Armando, querendo que
saíssemos o mais rápido da loja.
- Obrigado! – Falei para o Armando.
MARCELO MENA
214
Saímos da loja e seguimos pelo caminho. Riane continuava com
pressa.
- Quase que ele te pega lá, Jorge! – Disse o senhor Simon.
- Foi por pouco, mas, graças a Deus, consegui falar com o
pessoal e deixei-os mais tranquilizados.
- Que bom, Jorge. Foi por pouco, agora, podemos seguir para o
muro.
Ao chegarmos no muro, estava todo fechado, só podíamos
entrar por uma porta, com um detector de metais. Eu e o senhor
Simon passamos sem problemas, mas o Riane acabou se
complicando. Ele tinha um arsenal de armas nos bolsos, acabou
sendo barrado e preso.
- Agora ele se complicou. – Falei.
- Vamos seguir em frente, Jorge! Se misture com a multidão
para os guardas não perceberem que estamos com ele. Olha, siga
por aquele corredor, vamos tentar encontrar a terceira chave!
- E depois, como vamos voltar sem o Riane?
- Depois a gente resolve, Jorge. Vamos, primeiramente, achar a
chave.
O muro era muito alto, tinha pedras gigantes. Elas foram
colocadas umas sobre as outras, com tamanha precisão, que
pareciam grandes tijolos. Havia muita gente naquele lugar.
Alguns judeus, vestidos de preto, se mexiam inteiro, pareciam
bater a cabeça no muro. Eles faziam suas orações, enquanto
outros, principalmente turistas, colocavam pequenos pedaços de
papéis nas brechas do muro. Nós tivemos que colocar um
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
215
chapeuzinho, que tem por nome de kipá. Nos aproximamos do
muro.
- E agora, senhor Simon, o que temos que fazer?
- Bem, me ajuda a olhar, pois é pra existir cinco pedras de
mesmo tamanho e muito parecidas.
Olhando para o muro, era difícil discernir quais eram iguais,
pois uma era totalmente diferente da outra.
- Veja, Jorge! Acho que descobri quais são!
- O senhor conseguiu? Onde?
- Dá uma olhada. Naquela direção.
Olhei, e, do lado direito, de onde estávamos, havia uma pedra
grande só que dividida em cinco pedaços iguais. Ainda bem que
estava do lado masculino, pois o muro é divido: homens de um
lado e mulheres do outro. O senhor Simon se aproximou e como
havia um homem orando naquele muro, ficamos esperando ele
sair e foi rápido, pois o homem ficou olhando desconfiado pra
nós e saiu.
- Acho que o senhor o assustou!
- É que fiquei olhando e prestando atenção na oração dele,
então, ele se sentiu incomodado. Veja Jorge!
- O que senhor Simon?
- Aqui está o sinal dos atanasianos, mas está quase se apagando.
Segure o pergaminho pra que eu possa ver a ordem correta das
pedras.
MARCELO MENA
216
- Entre os vãos está cheio de papéis, senhor Simon!
- Espero que não atrapalhe.
Assim, o senhor Simon começou a apertar as pedras e não
ouvimos nenhum barulho.
- Não fez nada, senhor Simon.
- Estranho. Me deixe tentar de novo!
- Nada, senhor Simon! Será que está certo? Tenta empurrar a
pedra com mais força.
- Vou tentar de novo, Jorge!
O senhor Simon empurrou a primeira pedra, ela se movimentou
para dentro, uns três centímetros, deu um estralo forte e assim
ele continuou apertando as outras. Quando empurrou a última
pedra, houve um estralo tão forte que tremeu o muro todo. Nesta
hora, todos que estavam orando se assustaram, olhando para o
muro e se afastando.
- E agora?
- Vamos esperar, Jorge.
Não deu um minuto, o muro todo começou a balançar e
movimentar as pedras. Alguns pedaços de pedra se soltaram da
parte de cima e começaram a cair. Muita gente saiu correndo
com medo. De repente, houve um estralo tão forte que parecia
que tudo ia desabar. Uma das cinco pedras se soltou, caindo no
chão, se despedaçando. Alguns soldados começaram a gritar e
pedir que as pessoas se retirassem. Então, neste instante, o
senhor Simon enfiou o braço por dentro do muro e conseguiu
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
217
retirar um rolo de pergaminho com a chave dentro (igual às
outras) e nos retiramos. Neste momento, houve, como se fosse,
um terremoto que movimentou todo o lugar. Muitas pessoas
gritavam desesperadas e corriam por todos os lados, então,
corremos e saímos do lado de fora. Ficamos próximo a uma
lanchonete e tudo ficou calmo, logo todos voltaram ao normal.
- Conseguimos, Jorge! Agora, precisamos ver como iremos
fazer pra chegar ao monte Sinai.
- O senhor não acha que ainda está faltando algo?
- O que seria, Jorge?
- A tempestade de areia.
- Acho que essa tempestade era só um símbolo para irmos ao
deserto.
Neste instante, um alarme começou a soar na cidade toda.
- O que é isso, senhor Simon?
- Acho que é algum tipo de alerta.
Todos começaram a entrar nos lugares mais próximos. Casas e
lojas começaram a se fechar. Havia uma correria de gente por
todos os lados. Então, um senhor bem velho, com roupas velhas,
bem barbudo, nos deu um sinal com a mão para que o
acompanhássemos.
- E agora, senhor Simon, quem será este homem?
- Não sei, Jorge, mas não temos outra escolha, vamos atrás dele.
MARCELO MENA
218
Corremos atrás deste velho e o alcançamos, então, ele nos olhou
e apontou para uma montanha. Vimos uma nuvem marrom se
aproximando da cidade, era a tempestade de areia que vinha
com muita velocidade. Continuamos seguindo aquele velho e,
no caminho, a tempestade nos alcançou. Era horrível não
enxergávamos nada. A poeira entrava nos nossos olhos e nariz.
O homem, então, segurou na minha mão e eu na do senhor
Simon pra não nos perdermos. Chegamos a uma porta, onde ele
abriu com uma chave que parecia ser muito antiga. Lá dentro,
podíamos respirar normalmente. A minha garganta estava
totalmente seca, dava pra sentir as pedrinhas nos dentes, o
senhor Simon tentava tirar areia de uma das orelhas.
- Que horrível esta tempestade, Jorge, veio muito rápido.
- Ainda bem que este homem nos ajudou!
A casa era bem pequena, com poucos móveis e tinha algumas
cadeiras espalhadas. O homem veio com um vaso de barro,
cheio de água dentro, e dois copos pequenos. Beber esta água
foi algo muito bom para tirar o gosto de areia da boca.
- Vocês iam acabar morrendo nesta tempestade! – Disse o velho.
- O senhor fala inglês?
- Sim, garoto! Neste lugar temos que falar várias línguas para
sobreviver.
- Meu nome é Simon, muito obrigado por nos ajudar!
- Eu me chamo Akiba. Sei que você foi o culpado desta
tempestade de Areia.
- O que você quer dizer? – Perguntou o senhor Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
219
- Simples, vi que vocês retiraram a chave atanasiana do muro e
após isto veio a tempestade. Ela vai durar algumas horas. –
Falou Akiba, retirando aqueles panos velhos de cima dele.
- Me desculpe, seu Akiba, mas como sabe da chave atanasiana?
– Perguntou o senhor Simon.
- Eu sou um Atanasiano!
- E como o senhor pode provar isto? – Perguntei.
- Muito simples, garoto!
Ele levantou a manga de sua camisa, e, no seu braço direito
havia uma marca com o símbolo dos Atanasianos.
- Eu sou um dos descendentes. Minha função era esperar quem
buscaria a chave do muro.
- E como você sabe sobre a chave? Pois, para encontrá-la,
precisava do pergaminho e dos códigos. – Perguntou o senhor
Simon.
- O último guardião do pergaminho somente lembrava que uma
das chaves estava no muro, e como o pergaminho havia
desaparecido, foi escalado um grupo para ficar de guarda e não
permitir que a chave fosse levada.
- Então você vai nos impedir de achar o tesouro de Salomão? –
Perguntei.
- E como é o seu nome, garoto? – Perguntou Akiba, me olhando
bem sério.
- Eu sou, Jorge!
MARCELO MENA
220
- Muito bem, Jorge! Eu acreditava que ninguém nunca iria
aparecer para retirar esta chave, desde meus cinquenta anos de
idade estou ali. Só fiquei porque meu pai me fez prometer que
ficaria no seu lugar. Ele havia passado por guerra, tempestade,
doença e sempre ficou aguardando, então, ele me elegeu como
um atanasiano e me colocou em seu lugar. A partir dali fiquei
esperando por vocês. Tenho que impedi-los de achar este
tesouro, pois existem coisas ali, que se cair em mãos erradas,
pode fazer o mundo entrar num colapso!
- Você sabe o que é o tesouro? – Perguntei.
- Nem imagino o que é! Só sei que é algo perigoso. – Disse
Akiba, se sentando em uma das cadeiras.
- Mas precisamos achar o tesouro! – falou o senhor Simon.
- Só existe uma condição para prosseguirem.
- E o que seria Akiba? – Perguntei.
- É necessário que vocês tenham sido escolhidos por um
atanasiano e tenham em mãos os títulos de valor. O que acho
muito difícil você possuir, pois estes títulos eram feitos de
papiro antigo e carimbados como nota. Além disso, estes títulos
foram dados à uma família Atanasiana há mais ou menos uns
seiscentos anos atrás. Somente eles poderiam ter acesso a este
tesouro.
- Sem querer ofender, mas, como você pretende nos impedir?
Pois somos dois e você somente um e, ainda, é um pouco velho
para tentar nos impedir! – Falei, olhando bem sério.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
221
- Você tem toda razão, garoto. Por isso coloquei veneno na água
que beberam. Vai fazer efeito em mais alguns minutos, por isso,
estou sentado esperando.
- Espera aí! Você nos envenenou? Vamos morrer? – Perguntei
desesperado.
- Sim! A não ser que tenham os títulos. – Disse Akiba no maior
sossego.
- Que títulos? Como vou saber o que é isso? – Perguntei.
- Estes títulos são pequenos papiros, que foram divididos em
partes pelos atanasianos, quem tiver a posse destes títulos
poderá obter a quarta chave.
- Quarta chave? Não eram três? – Perguntou o senhor Simon.
- Como o senhor ainda pensa em chave, sabendo que vai
morrer?
- Calma, Jorge! Ainda temos alguns minutos, não é, Akiba?
- Sim, se vocês tiverem os títulos não morrerão! E pra terem
estes títulos, algum atanasiano teria que ter passado. Ninguém te
entregou nada? – Disse Akiba
- Eu não tenho nada, mas, espera aí! Jorge, você não recebeu
alguma coisa do atanasiano? – Perguntou o senhor Simon, se
virando pra mim.
-O descendente dos Atanasianos, que encontrei, estava
morrendo de medo, porque dizia haver alguma maldição no
pergaminho. Ele me deu este dinheiro aqui.
MARCELO MENA
222
Nesta hora, o senhor Akiba pegou o dinheiro de minha mão e
começou a admirar.
- São eles, os títulos! Que coisa linda! Isto tem mais de
seiscentos anos. Como está conservado!
- O negócio aí pode até estar conservado, mas tem como você
resolver o nosso problema e nos conservar com vida, já que
você tem os títulos?
- Sim, claro, peguem aqui estes comprimidos e engulam, rápido!
Ele retirou de dentro de sua roupa dois comprimidos verdes e
nos entregou. Mais que depressa, pegamos os comprimidos e
engolimos muito rápido. Senti um gelo dentro da minha barriga.
- É só isso o antídoto, Akiba?
- Que antídoto, Simon?
- O que você nos deu!
- Ah! Isto era bala de hortelã. Não tem antídoto. – Falou Akiba,
rindo.
- Como assim, vamos morrer? – Perguntei desesperado.
- Claro que não, eu não coloquei veneno nenhum na água. Só fiz
isso pra vocês pensarem, assim, iriam querer trocar a chave pelo
antídoto, que os impediria de encontrarem o tesouro. – Falou
Akiba, rindo.
- Muito inteligente! – Falou o senhor Simon.
- Inteligente? A gente fica aqui, achando que vai morrer, e o
senhor ainda chama o Akiba de inteligente?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
223
- Ele usou de sabedoria, Jorge, para nos impedir, pois na força
física ele não conseguiria.
- Só de pensar que ia morrer me deu dor na barriga.
- Me diga, Akiba, qual é a quarta chave? Se o pergaminho fala
de três chaves. – Disse o senhor Simon.
- Deixe-me ver o pergaminho! – Falou Akiba.
O senhor Simon abriu o pergaminho sobre uma pequena mesa e
o Akiba começou a olhar deslumbrado pelo pergaminho.
- Olha que lindo! Achei que nunca veria isto. Ainda bem que
terminei aqui a minha espera, meu filho não precisará continuar
esta tarefa. – Akiba falou aliviado.
- Você tem um filho que iria continuar esta tarefa? – Perguntei.
- Não tive tempo de ter filhos! Estava imaginando como passaria
isso à frente. Teria que arrumar uma esposa e ter um filho com
ela e ensiná-lo! – Akiba falou, sem tirar os olhos do
pergaminho.
- E, quantos anos o senhor tem?
- Tenho noventa e cinco anos, Jorge.
- E o senhor acha que vai dar tempo de fazer tudo isto ainda?
- Sim! Já arrumei uma noiva, ela tem setenta e dois anos.
- Vocês acham que ainda conseguem ter filhos?
- Claro que não! Poderíamos adotar uma criança e ela seria o
nosso filho, não de carne, e nem de sangue, mas do coração.
MARCELO MENA
224
- Você fará uma coisa boa, adotando uma criança. – Disse o
senhor Simon.
- Aqui tem muitas crianças que perderam os pais na guerra e
ficaram órfãs. Quero ter a oportunidade de cuidar de pelo menos
uma. Mas, vamos analisar o pergaminho. Veja aqui, a terceira
chave.
- Sim, estou vendo e fala do muro! – Disse o senhor Simon,
tentando entender o pergaminho.
- E este símbolo aqui. Está vendo?
- Sim, Akiba, mas não sei dizer o que é.
- Este é o símbolo do título.
Então, Akiba pegou o que nós achávamos que era o dinheiro
antigo e espalhou sobre o pergaminho. Começou a juntá-los
como se fosse um quebra cabeça, formando o desenho do monte
Sinai e o lugar onde deveriam ser colocadas as três chaves.
- Veja isto, Simon! Não é lindo? – Disse Akiba muito alegre.
- Entendi agora! Com os títulos e o pergaminho conseguimos
achar a localização de onde colocar as três chaves, por isto os
títulos eram a quarta chave. Sem eles, não saberíamos onde
colocá-las!
- Muito bem, Simon, mas agora é por conta de vocês. Cuidado,
este tesouro não pode cair em mãos erradas. – Falou Akiba.
- Você não vem conosco? – Perguntei para Akiba.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
225
- Se eu fosse mais jovem, até gostaria garoto, mas agora, é por
conta de vocês.
- Entendi! Podemos ir agora? – Perguntei.
- Sim! Agora estou livre do meu compromisso, vou atrás de
minha noiva para planejarmos o nosso casamento e adotarmos o
nosso filho.
O senhor Simon recolheu os títulos e os pergaminhos, enquanto
isto, o Akiba nos abriu a porta. A cidade toda estava com muita
areia, ainda era sufocante, mas o pior já havia passado, então,
continuamos caminhando e tirando informações pra chegarmos
ao monte Sinai. Logo, pegamos um ônibus e seguimos viagem.
MARCELO MENA
226
Capítulo 11
Tesouro de Salomão
Algumas horas depois, conseguimos chegar próximo ao monte
Sinai. Realmente, o lugar é um deserto, tem muita areia, pedras,
existem algumas barracas. As barracas são feitas de madeira,
onde o pessoal vende alguns produtos, e, como sempre, existem
muito soldados, por todos os lados, muita gente andando e
alguns camelos, carregados de sacolas e bolsas, principalmente
de turistas.
- E agora, senhor Simon, será que vamos encontrar o Muled?
- Não sei, Jorge, mas vamos nos aproximar do monte, quem
sabe ele esteja por perto.
- O que será que tem nestes tesouros?
-Isto também está me preocupando, Jorge! Pois foi tanto
trabalho pra chegar aqui, deve ser algo muito importante.
Passamos por uma rua de terra e chegamos próximo a uma casa,
ao pé do monte. Lá havia uma grande palmeira e nos sentamos
embaixo dela. Ficamos aguardando, mas, não demorou muito,
um dos seguranças do Muled se aproximou de nós e deu sinal
para que o seguíssemos.
- Estava tão bom debaixo da palmeira!
- Realmente, Jorge, este lugar é muito quente e seco.
- Uma coisa é verdade, senhor Simon, esta viajem para o Egito
nos deu mais aventura que a máquina do tempo!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
227
- Tem razão, Jorge, temos que ficar espertos com o Muled e,
dependendo do que encontrarmos por lá, teremos que impedi-lo.
- E como vamos fazer isto?
- Não sei ainda, Jorge! Só sei que não devemos deixá-lo com os
tesouros.
- O senhor está me deixando mais nervoso, o homem é cheio de
seguranças.
- Só não podemos nos distrair por nada, Jorge!
- Entendi, senhor Simon.
Andamos contornando o monte, até chegarmos próximo a um
carro com vidros escuros. Quando nos aproximamos, Muled
saiu do carro com um chapéu enorme e de óculos escuros.
- Cadê o Riane? – Perguntou Muled bravo.
- Ele foi preso, lá no muro das lamentações, pois tentou passar
pelo detector de metais com armas. – Explicou o senhor Simon.
- Não acredito, é um idiota mesmo! Agora, a polícia vai
interrogá-lo. Espero que não abra o bico de onde estou, pois
aqui não sou muito bem vindo. – Disse Muled.
- Você faz muitas amizades por onde passa, não é, Muled? –
Perguntei.
- Garoto, não zombe de mim, se quiser voltar vivo pra sua casa!
– Muled respondeu, vindo pra cima de mim.
- Calma, Muled! Jorge vai parar de fazer piadas. – Falou o
senhor Simon, segurando-o.
MARCELO MENA
228
- Vamos encontrar este tesouro logo. Para onde devemos ir? –
Falou Muled, olhando para o senhor Simon.
- Temos que encontrar uma caverna que se encontra quase no
topo da montanha. – Falou o senhor Simon, mostrando no
pergaminho.
- Acho que sei qual é a caverna! – Falou Muled.
- Você sabe onde fica, Muled? – Perguntei.
- Sim. É a caverna chamada: Retiro de Elias. Fica bem acima
daqui, vamos ter que subir as escadas. – Disse ele, dando sinais
aos seguranças para segui-los.
- Que caverna é esta? – Perguntei para o senhor Simon.
- Acredito que seja a caverna onde o profeta Elias se escondeu
de Jezabel, Jorge!
- Sei, já li esta passagem na Bíblia.
Então, começamos a subir, pois o monte Sinai tem degraus até a
parte de cima do monte, para ficar mais fácil dos peregrinos
subirem. Muled, a cada dois degraus, parava para tomar fôlego.
- Senhor Simon, o senhor não tem a sensação de que já esteve
neste local?
- Sim, tenho esta impressão. Espera um pouco! Olhe pra aquele
lado, Jorge!
Eu me virei e vi uma planície. Ao longe, um grande amontoado
de terra. Foi como se tivesse sido transportado no tempo, me
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
229
lembrei de quando subimos o monte para falar com a Grande
Sabedoria, na terra do Harmes.
- Senhor Simon, aqui é a montanha da Grande Sabedoria.
- Isto mesmo, Jorge!
- Mas ela parece menor do que era.
- O tempo a deve ter desgastado.
- Então, senhor Simon, quer dizer que estamos de volta no
mesmo lugar da primeira viajem?
- Sim, Jorge! O monte encantado.
- Vocês podem me explicar do que estão falando? – Muled falou
como se estivesse sem ar, balançando seu chapéu para se
refrescar.
- Estamos apenas conversando e falando deste belo lugar! –
Respondeu o senhor Simon.
- Nem pensem em planejar algo contra mim, como fizeram com
Riane, pois tenho homens em todo lugar! – Disse Muled.
- Olha, Muled, não temos nada haver com Riane, ele mesmo se
complicou, apenas queremos achar o tesouro e ir embora. –
Falou o senhor Simon.
- Então, continue subindo, Simon! Não vamos mais perder
tempo. - Falou Muled.
- E somos nós que estamos atrasando? – Perguntei.
MARCELO MENA
230
- Garoto, você está me provocando demais! – Falou Muled, me
olhando bravo.
- Jorge, vamos subir! Pare de provocar o Muled! – Disse o
senhor Simon, me puxando pra ficar longe do Muled.
Continuamos subindo, até chegarmos ao lugar indicado no
pergaminho. Ainda bem que não ficava no topo, senão, nunca
teríamos chegado lá, pois Muled ia muito devagar, atrasando
todo mundo. O lugar tinha um espaço grande, com várias
pedras. As pessoas ali paravam para tomar fôlego e descansar,
para depois seguir, subindo as escadas até em cima da
montanha. Numa pequena parte, da parede da montanha, havia
uma abertura, não muito grande, e entramos ali.
- E agora, senhor Simon? – Perguntei.
- Bem, agora preciso abrir o pergaminho, colocar os títulos em
cima e ver se consigo localizar as frestas para colocarmos as
chaves, Jorge.
O senhor Simon colocou o pergaminho sobre o piso da caverna,
apoiando os quatro cantos do pergaminho com algumas pedras e
montando os títulos, como fez Akiba.
- Jorge, me passe o pergaminho com os códigos agora. Muled,
me passe as chaves.
Muled retirou do bolso as duas chaves, e o senhor Simon as
colocou sobre os títulos. Alguns curiosos chegavam à porta da
caverna, mas os seguranças fizeram correr, mostrando as armas.
- Vamos, Simon!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
231
- Calma, Muled, me deixa entender os pergaminhos! Aqui diz
que a luz, dentro da caverna indicará, mas que luz será esta?
- Seria o sol?
- Pode ser, Jorge. Acho que em alguma parte do dia, a luz do sol
bate dentro da caverna e mostra os lugares das chaves.
- Agora já é tarde, senhor Simon! O sol não vai bater mais, a não
ser que a gente espere até amanhã.
- Nem pensar, garoto! Precisamos fazer isto agora! – Falou
Muled, acho que, preocupado em ter que descer e subir de novo
as escadas.
- Então, como o senhor vai fazer para o sol entrar aqui? –
Perguntei.
- Vamos usar um espelho e refletir a luz aqui dentro. –
Respondeu Muled.
- Ótima ideia, Muled. Onde, por acaso, vamos achar um
espelho? – Perguntou o senhor Simon.
- Tenho um pequeno comigo!
Muled retirou sua carteira e de dentro um pequeno espelho. Era
todo banhado a ouro em sua lateral.
- E pra que você usa um espelho de bolso? – Perguntei.
- Este foi meu primeiro artefato antigo que roubei. Me dá muita
sorte! – Falou, segurando o espelho com todo o cuidado.
- O que você acha, senhor Simon? Vai dar certo?
MARCELO MENA
232
- Vamos tentar, antes que o sol se ponha de vez! Preciso, Jorge,
que você vá até onde está sol, do lado de fora, e tente refletir a
luz dentro da caverna.
- Não! Este garoto não vai com meu espelho lá fora, ele pode
trazer má sorte pra mim. Vou mandar um dos meus seguranças.
Ele, então, falou em árabe com um segurança, que saiu e foi do
lado de fora com o espelho. De lá, começou a iluminar uma
pequena parte da caverna.
- Muled, pede pra ele abaixar um pouco, e, tente ir passando o
reflexo em toda a parede da caverna. – Disse o senhor Simon.
Conforme o reflexo batia na parede da caverna, parecia que ela
era toda de brilhante, e, numa parte, apareceu o símbolo dos
Atanasianos, quase que apagado.
- Aqui, senhor Simon! Veja!
- Isso mesmo, Jorge! Mande-o voltar com a luz, Muled! Peça
pra ele parar aqui.
O símbolo apareceu bem nítido, à nossa frente. Logo abaixo
havia três pequenos buracos.
- Vamos, Jorge, me passe as chaves!
- Espera um pouco, senhor Simon. Será que não vamos ter
nenhuma surpresa, como escorpiões, vespas e tempestade?
- Aqui não diz nada, Jorge, vamos ter que colocar as chaves pra
ver.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
233
Nesta hora, houve um vento muito forte e gelado que passou do
lado de fora, levantando uma grande quantidade de poeira que
acabou enchendo os olhos do segurança, que estava com o
espelho. Ao coçar o olho, acabou o derrubando no chão e
quebrando. Muled ficou olhando em silêncio, acho que ficou
chocado com a imagem do seu espelho no chão, moído. O
segurança não pensou duas vezes e saiu correndo, nos largou ali.
Acredito que ficou com medo do Muled mandar matá-lo.
- E agora, senhor Simon?
- Me passe as chaves, Jorge, antes que eu perca os buracos.
Entreguei as chaves. O senhor Simon colocou todas em seus
lugares e não tinha como inverter, cada uma cabia em seu
respectivo buraco. O mais estranho é que Muled continuava
olhando pra fora, em silêncio. O outro segurança ficou do seu
lado, esperando receber alguma ordem, e nada.
- Senhor Simon, eu acho que Muled está em choque!
- Vamos virar a chave e ver o que acontece.
Ele começou a virar primeira chave e escutamos um estralo, na
segunda, dois estralos e na terceira, o estralo foi tão forte que
chegou tremer a caverna. Começamos ouvir um barulho, como
de engrenagens, por dentro da caverna e parou, fazendo silêncio.
Nesta hora, Muled estava nos olhando e ainda em silêncio.
- Senhor Simon!
- Fale, Jorge!
- Tem algo estranho acontecendo com o piso, está tremendo!
MARCELO MENA
234
- Como assim, Jorge?
Antes de eu responder qualquer coisa, o piso da caverna se abriu
e fomos caindo, como se estivesse em um escorregador. Parecia
que essa descida não acabava mais. Nas laterais, eram somente
rochas e o segurança do Muled gritava como um doido. A minha
preocupação era o Muled por último, no escorregador. Se
tivesse uma parede, no final do escorregador, seríamos
achatados e, em pouco tempo. Para alívio nosso, caímos em um
lago escuro e gelado. Por pouco, o Muled não cai sobre mim.
- Jorge, você está bem?
- Eu estou bem, e o senhor?
- Venha pra mais perto de mim. Vamos nadando até
encontramos algum lugar para nos apoiar.
- Está muito escuro este lugar, senhor Simon!
De repente, vi um fogo e era o senhor Simon, com um isqueiro.
Já dava pra ver que, logo em frente, tinha um lugar mais raso.
Assim, com a luz do isqueiro, conseguimos chegar ao outro lado
daquela caverna e podíamos sair daquele lago gelado. Muled e o
segurança também vieram, mas Muled ainda estava em silêncio.
- Onde será que estamos?
- Parece que descemos para dentro da montanha, Jorge!
- Olha, senhor Simon, tem uma passagem logo ali à frente.
- Precisamos de algo pra queimar, Jorge, antes que acabe o
isqueiro.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
235
- Me parece que tem algo ali na frente, como um galho.
Corri à frente e peguei, caído ao chão, um pedaço de madeira,
então, o acendemos e já melhorou a iluminação.
- Olhe, senhor Simon, o pergaminho e os títulos caíram no lago
e estão afundando!
- Agora, não precisamos mais deles! Eles mostravam como
chegar, mas não falava nada de como sair.
- Muito bom! Agora quero ver como sair daqui.
- Acredito que vamos achar a saída, Jorge.
- E se não tiver?
- Vamos ter que ser otimistas, Jorge!
Chegamos até a passagem. Era um corredor estreito, mas
comprido, aberto dentro da rocha (mal cabia uma pessoa).
Então, o segurança pegou a tocha do senhor Simon e foi à
frente, Muled parecia emperrar no corredor. Teve uma hora que
ele ficou travado, foi quando Muled resolveu falar.
- Vamos, me ajudem! Estou sem sorte, aquele idiota foi quebrar
meu amuleto.
- Vamos, Jorge! Ajude a empurrar o Muled, senão, vamos ficar
aqui o resto da vida.
Começamos a empurrar o Muled, até que conseguiu sair. Aos
poucos, começamos ouvir, como se fosse um rio, correndo.
Continuamos a caminhada e chegamos num salão enorme. Tudo
em volta era pedra. O segurança já havia achado alguns outros
MARCELO MENA
236
galhos e ateou fogo ali mesmo. Tudo começou a aparecer. Havia
várias estátuas de pessoas, vestidas com roupas compridas, tudo
feito em pedra. Eram lindas, com muito musgo em volta delas e,
mais a frente, um rio, fazendo um enorme barulho. Interessante
é que o rio saia da parede de pedra, com uma correnteza muito
forte, jogando água e formando uma névoa. Ela molhava tudo ao
redor, seguia uma caneleta escavada, muito larga, e voltava a
entrar na parede do outro lado. Um prédio enorme com uma
escadaria, que parecia um templo, ficava depois desse rio. Na
entrada, dois leões enormes, com aproximadamente três metros
de altura, e uma porta de bronze, toda esverdeada, fechada. De
onde estávamos não tinha nenhuma ponte para atravessarmos.
- Olhe, Jorge, é uma réplica do Templo de Salomão! Tem uma
placa escrita na porta, mas não dá pra ler. Precisamos ir até lá e
verificar.
- E como vamos fazer isto? Ir nadando é complicado, pois a
correnteza é muito forte.
- Tem razão, Jorge! Lá fora é um deserto, então, este rio deve
estar abaixo do nível da terra e deve sair no Mar Vermelho, isto
tudo no subsolo. Se entrarmos neste rio, e formos sugados,
vamos acabar morrendo afogados.
- Estou falando, perdi a minha sorte. Vamos acabar morrendo
aqui, e não tem nenhuma saída!
- Fique calmo, Muled! Acredito que, lá dentro deste templo,
haja alguma forma de sair.
- E como vamos chegar lá, senhor Simon?
- Tive uma ideia, Jorge, mas vou precisar da ajuda de todos.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
237
- O que o senhor quer fazer?
- Estão vendo aquela estátua, próxima ao rio?
- Sim!
- Então, vamos nos juntar e tentar derrubá-la, pois, como ela é
maior que a largura do rio, poderá servir de ponte para nós!
- Acho que ela deve ter uns vinte metros de altura e muito
pesada, senhor Simon!
- Temos que tentar, Jorge. Por isso, vou precisar da ajuda de
todos!
- Ok! Então, vamos lá!
A estátua era de um homem com uma espada na mão, devia ser
um guerreiro, mas o interessante é que ele olhava para a abertura
de onde passamos.
- Senhor Simon! Porque esta estátua está olhando pra a abertura
de onde viemos?
- Não sei, Jorge! Mas vamos tentar derrubá-la!
Ela era enorme e pesada. Por mais que tentássemos, não se
mexia nem um centímetro.
- Vai ser impossível! A estátua é muito pesada! – Reclamou
Muled.
- A minha ideia não foi boa.
- Espera um pouco, senhor Simon!
MARCELO MENA
238
- O que foi, Jorge?
- A espada dele é solta, está só encaixada! Se eu conseguir subir
e retirar a espada, podemos utilizá-la como uma alavanca.
- Boa ideia, Jorge! Veja se consegue subir, mas tome cuidado
pra não cair!
Comecei a subir na estátua, era muito escorregadia, e o
segurança subiu junto, me apoiava com sua mão. Uma hora,
escorreguei e acabei pisando em sua cabeça. Ele não falou nada.
Cheguei ao braço da estátua, me arrastando sentado até chegar à
sua mão. Comecei a empurrar a espada, era muito pesada, devia
de ser feita de bronze. Fui aos poucos empurrando e puxando, e
foi saindo, acho que nunca suei tanto na minha vida. Aquela
sala, dentro da caverna, era abafada, ainda bem que a água do
rio refrigerava um pouco o local.
- Senhor Simon! Não vou conseguir segurar a espada. Vou ter
que jogá-la no chão.
- Faça isso! Vamos tentar impedir de ela cair no rio.
Quando derrubei a espada, fez um barulhão enorme no chão e,
por pouco, não caiu no rio. A sorte que o senhor Simon e o
segurança apoiaram com um pedaço de galho.
- Essa foi por pouco! – Disse o senhor Simon.
O segurança sorriu e começou a falar alguma coisa em árabe.
Não entendemos nada.
- O que ele disse Muled? – Perguntei.
- Não interessa! Vamos logo derrubar esta estátua.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
239
Colocamos a espada em uma fresta que havia no pé da estátua,
com uma pedra fizemos apoio e começamos a empurrar. O
segurança apoiou a estátua com mais duas pedras embaixo dela.
Na próxima levantada, ela deitou, caindo com a cabeça do outro
lado do rio, formando uma ponte. A sua outra mão caiu dentro
do rio, fazendo com que a água espirrasse para o lado da
fogueira, apagando o fogo. Tudo ficou escuro novamente.
- E agora, senhor Simon?
- A madeira molhou, não tem como reutilizá-la. Vamos subir na
estátua e seguiremos com o isqueiro, quem sabe, do outro lado
podemos encontrar alguma coisa pra queimar.
Assim fizemos. Muled, por duas vezes, quase caiu no rio, mas
conseguiu chegar do outro lado.
- Estou mesmo sem minha sorte! Quase escorreguei pra dentro
do rio.
- Olha, Muled, se realmente o senhor não tivesse sorte, teria
caído.
-Você não entende nada de amuleto da sorte!
- Jorge, deixe Muled. Venha, vamos subir a escadaria.
Começamos a subir, e a estátua parecia ter sido feita de
mármore, era muito linda. Ao pisar em um dos degraus o senhor
Simon quase caiu.
- O piso se mexeu, Jorge!
- Como assim?
MARCELO MENA
240
- Ele afundou quando pisei. É como se acionasse alguma coisa.
Nesta hora, começamos ouvir um barulho do outro lado, mas
não conseguíamos ver.
- O que será que acionou?
- Não sei, Jorge, vamos continuar.
Muled e o segurança, mais do que depressa, subiram as escadas
com medo do que poderia acontecer. Eles nos passaram e
chegaram à frente do templo.
- Olhe, senhor Simon, tem dois vasos enormes aqui, próximos
aos leões. Estão lacrados. O que será?
- Não sei, Jorge. Deixe-me ver o que diz esta placa aqui na
porta. Está escrito em grego antigo!
- E o que diz?
- Está dizendo que devemos derramar os azeites nos pés dos
leões, depois acender o fogo na boca deles.
- Então tem azeite nestes frascos, senhor Simon!
- Acho que servirá pra iluminar o local. Vamos derramar no pé
do leão.
Quebramos a tampa e levantamos o vaso. Derramamos o azeite
no pé dos dois leões, então, o senhor Simon colocou o isqueiro
aceso dentro da boca do leão. Ela se acendeu e começou a
iluminar o local, aos poucos, outros pontos do templo. Tudo
começou a acender e o ambiente ficou iluminado. Agora,
podíamos ver todo o local bem claro. Para a nossa surpresa a
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
241
passagem por onde passamos estava lacrada. Quando o senhor
Simon pisou no degrau, acionou alguma coisa que fechou a
passagem, nos deixando presos naquele local.
- Agora estamos presos, pois nem por aonde viemos poderemos
voltar. Estou falando, estou sem sorte mesmo!
- Vamos entrar neste templo e ver o que tem lá dentro. Quem
sabe nos indica uma saída, Muled!
- É, senhor Simon, o Muled ainda está pensando no seu amuleto.
- Verdade, Jorge, mas me ajuda a tirar esta tranca.
A tranca era feita de bronze e travava a porta. Com muita
dificuldade, conseguimos tirar. Ao abrir as portas, elas rangeram
demais (acho que fazia muito tempo que não se abria). Lá
dentro, era um salão enorme. Nas paredes daquele salão, havia
chifres, apontando para o céu e acendendo, automaticamente,
fogo nas pontas, iluminando o salão. Logo a frente, havia um
trono, todo trabalhado. Não havia mais nada naquele salão. O
piso era feito de mármore branco e preto, parecendo um jogo de
xadrez.
- Isto é o tesouro de Salomão? Só um trono de mármore
trabalhado?
- Calma. Olhe pras paredes, Jorge!
- Estão cheias de inscrições? Que língua é essa?
- É a mesma do pergaminho.
- E o que diz? Está falando de coisas que aconteceram no
passado.
MARCELO MENA
242
- Na época de Salomão?
- Não sei, Jorge, deixa ver se consigo ler.
Nesta hora, Muled e o segurança começavam a olhar por todos
os lugares, tentando achar algum tesouro.
- Jorge, isto é incrível! Está falando do início de todo o planeta e
a primeira geração criada. Salomão descobriu algo, dentro do
Egito, e resolveu escrever nestas paredes. Tudo que descobriu e
fez, acreditava ser um dos maiores tesouros: O conhecimento
humano.
- Como assim? As paredes são os tesouros?
- Espera, Jorge, ainda tem mais.
- Têm mesmo, as paredes estão completamente cheias de
inscrições.
- É que ele escreveu em várias línguas. Todas as paredes tem a
mesma história, só que em várias línguas, que na época
existiam.
- E o que mais fala?
- Aqui diz assim:
Nestas paredes estão os maiores segredos de todos os tempos.
Eu, Salomão, filho de Davi e servo de Jeová, resolvi aqui deixar
escrito tudo que aconteceu e tudo que descobri dentro das
pirâmides do Egito. Após me casar com a filha de Faraó, passei
a ter mais acesso aos arquivos secretos das pirâmides. Como não
havia quem revelasse os segredos, Faraó prometeu que se eu
conseguisse descobrir, com minha sabedoria, os segredos ali
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
243
contidos, ele mesmo conquistaria a cidade de Gezer, passaria
estas terras à sua filha e o meu reino começaria a crescer. Assim,
passei algum tempo lendo e descobrindo o que existia ali. Com
ajuda de Azarias, Zabude, e outros sábios do Egito, passamos a
escrever nestas paredes o que conseguimos revelar. Segue a
revelação:
Numa época bem remota à nossa, bem antes do nosso ancestral
Adão, Deus fez o nosso planeta, astros e outros planetas, que
agora não vemos mais. Ele criou um lindo território com
homens fortes e sábios, juntamente, criaturas angelicais que
tinham formas diferentes das humanas, algumas, tinham a
semelhança de homens com corpos de cavalos e asas. Eram tão
amáveis que todos viviam pacificamente. Em pouco tempo,
construíram grandes civilizações e se modernizaram de tal
forma, que nunca haverá tanta tecnologia. Conseguiam viajar a
outros planetas, criando e habitando em distâncias nunca
conhecidas por homens atuais. Eles criaram uma porta de
passagem entre estes mundos, e, tudo Deus, assim, permitia que
fizessem, pois havia uma verdadeira comunhão entre eles e
Deus. Até que, um dia, um desses seres angelicais, chamado
Nabadom, percebeu que os homens estavam crescendo,
Formando civilizações em outros planetas, enquanto sua espécie
estava se tornando em menor número. Então, resolveu se rebelar
e formar um grande grupo. Com isto, iniciou-se uma verdadeira
guerra. Os homens, também se achando melhores, se
corromperam nesta guerra. Houve uma batalha neste planeta,
como nunca houve, ou haverá. Então, Nabadom conseguiu criar
um cetro de poder, que vinha de uma pedra desconhecida no
universo. Era capaz de controlar a natureza, fazendo com que
pessoas feridas, ou mesmo mortas, retomassem a vida. Fazia
cair fogo do céu, conseguia controlar a mente dos homens,
MARCELO MENA
244
tornando-os seus escravos, e ainda fazer com que estátuas de
pedra tivessem vida. Então, usando deste poder, conseguiu
destruir todos os homens da Terra. Não contente com isto, ainda
viajou por outros planetas, destruindo tudo o que os homens
fizeram. Assim, os homens que restaram formaram um exército
no planeta, chamado Terra-b e resolveram acabar com a tirania
de Nabadom. Como sabiam que seu poder vinha do cetro, pois
com ele conseguia reviver seus soldados após uma batalha,
criaram uma armadilha e conseguiram separar o cetro dele.
Assim, o destruíram. Todo o planeta Terra estava devastado e
sem vida. Então, perceberam que seria impossível refazer todo
planeta. Resolveram permanecer no planeta Terra-b e lá viver.
Mas o que eles acreditavam ter acabado virou contra eles, pois,
um dia, alguém pegou o cetro e acabou sendo dominado pelo
mesmo mal. Começou, novamente, a guerra neste planeta.
Depois de muitas batalhas, conseguiram o cetro e impediram
que outro o tocasse. Assim, o lacraram dentro de uma caixa de
metal e enviaram ao planeta Terra. Colocaram dentro das
pirâmides, que aqui foram construídas para manter esta caixa
com cetro em segurança, pois, o planeta Terra estava sem vida e
gases tóxicos tomavam conta de todo o planeta. Logo,
acreditavam que ninguém mais teria o cetro novamente, por
várias gerações. O povo da Terra-b, temendo que algum dia essa
caixa fosse aberta novamente, resolveram destruir todos os
portais de passagem para o seu planeta, ficando isolados e
seguros de qualquer outro que os quisesse dominar. Assim, este
segredo ficou guardado nas pirâmides por milhões de anos, até
que a vida voltou a existir na Terra. Depois de muito tempo,
estudando a língua do povo da Terra-b, acabei descobrindo onde
estava o cetro e resolvi usá-lo. Acreditava que por ter uma
grande sabedoria, conseguiria controlá-lo e assim fiz. Descobri
que este cetro, realmente, tinha grande poder. Conseguia
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
245
controlar até os demônios, que eram obrigados a fazerem o que
eu queria. Fora isto, até às estátuas de pedra e de metal era
possível dar vida por algum tempo. Todos ao meu redor me
temiam. Foi quando percebi que estava sendo dominado por este
cetro, e para impedir que este mal crescesse em mim, resolvi
escondê-lo e mantê-lo afastado de todos. Construí este local e
escondi sob o trono de mármore. Deixei o grupo dos atanasianos
para que cuidasse de tudo e mantivesse longe do ser humano.
Agora, o cetro está lacrado numa caixa de metal. Para abri-la
terá que desvendar o código existente. Somente um sábio poderá
fazê-lo. Se tentar tirá-la deste local tudo isto irá desabar e terão
pouco tempo para sair.
- Que loucura, senhor Simon!
- É, Jorge, por isto Lúcifer quer tanto este cetro. No livro de
Apocalipse, capítulo treze, está escrito que ele fará grandes
sinais, até fogo vai fazer descer do céu e, ainda, uma imagem de
pedra terá vida!
- Então, se ele pegar este cetro, o apocalipse começará?
Nesta hora, Muled já havia arrastado o trono. Começou a fazer
um barulho estranho naquele templo, abriu um buraco no piso e
uma caixa, toda dourada, saiu levantada por uma pedra. Então,
Muled a tomou e tentou abri-la.
- Muled, não faça isso! Se Lúcifer pegar este cetro tudo estará
perdido.
- Quem são vocês para me impedirem, com este cetro não
precisarei mais de Lúcifer e terei todo o poder. – Muled queria
de toda a forma abrir a caixa.
MARCELO MENA
246
A caixa possuía quatro letras, algumas, em forma de
engrenagens. Acredito que era como um código de cofre.
- Pare, Muled, vai destruir todo este lugar.
- Droga! A caixa está lacrada, mas vou levá-la e descobrir como
decifrá-la.
Ele, então, falou em árabe com o segurança que nos apontou
uma arma. Saíram do templo, fechando a porta com a tranca e
ficamos dentro dele.
- O que vamos fazer, senhor Simon?
- Vamos procurar outro lugar pra sair.
Olhamos tudo por dentro do templo, mas não havia mais
nenhuma saída. Várias vezes, vi o senhor Simon tentando
empurrar a porta.
- É, Jorge, não tem como sair.
Nesta hora, todo o lugar começou a tremer e partes do teto
começaram a cair. Tentamos nos esconder debaixo de uma
coluna e tudo parecia vir abaixo. Uma parte da parede desabou
pela lateral e conseguimos descer para o lado de fora. Ainda
estava iluminado, e uma parte do azeite escorria levando fogo
próximo a canaleta do rio. Quando vimos, o rio havia secado.
Não tinha mais água correndo, era como se alguma coisa tivesse
fechado a passagem. Muled e o segurança deviam ter corrido
pela canaleta do rio.
- Vamos seguir a canaleta do rio, Jorge. Vamos sair deste lugar.
- Mas e o cetro de poder que está com o Muled?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
247
- Vamos sair primeiro, depois a gente vê o que faz.
O lugar não parava de tremer e pedras começaram a cair sobre
aquele templo. Tudo estava, realmente, vindo abaixo. Corremos
pela canaleta e entramos em um túnel. Cada vez, ficava mais
escura, não sei como Muled conseguiu correr por dentro. Ainda
bem que o senhor Simon tinha o isqueiro. Chegamos num lugar
que se dividia em três partes. O barulho atrás de nós estava
aumentando muito, parecia que a água estava voltando com toda
força.
- E agora? Acho que o rio está voltando. Pra que lado é a saída?
- Não sei dizer, Jorge, só sei que a água está chegando.
Olhei do lado direito e vi, desenhado, algo na parede da rocha.
- Senhor Simon, ilumine aqui, por favor!
- Sim! O que tem aí? Parece ser um desenho de um eclipse.
- É isto! O Khalida me disse que, na dúvida, seguisse o eclipse.
- Então, vamos por aqui!
Nesta hora, entramos por este corredor e uma grande pedra caiu
na entrada, impedindo de voltarmos.
- Agora não temos mais escolha, é por aqui mesmo, Jorge! A
rocha tampou a abertura, isto vai fazer com que a água não
entre!
- Olhe por baixo da rocha, está vertendo água, senhor Simon!
- Então, vamos correr pra frente!
MARCELO MENA
248
Começamos a correr e já não ouvíamos o barulho da água
correndo. Fomos caminhando um bom tempo, até que acabou o
isqueiro do senhor Simon.
- É sempre assim, quando você pensa que a coisa está ruim,
pode esperar, logo vem o pior.
- Vamos devagar e apalpando para não termos surpresas, Jorge!
- É isso que me incomoda, andar sem ver nada!
Fomos andando e várias vezes parávamos para descansar. Uma
pequena porção de água corria pelos nossos pés.
- Bem, pelo menos não vamos ficar com sede.
- Isto é verdade, Jorge! Vamos continuar, espero que haja
alguma saída.
Andamos muito e parecia não ter fim. Aos poucos, as paredes
foram diminuindo e logo tínhamos que andar agachados.
- É, Jorge, acho que vou ter que concordar com você, está
ficando cada vez pior, as minhas costas estão ardendo.
- O senhor está ouvindo?
- O que, Jorge?
- Parece ser barulho de mar.
- Sim, estou ouvindo. Acho que este túnel deve desembocar no
mar vermelho.
- Então, vamos! Finalmente, uma esperança!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
249
Continuamos, e logo, podíamos ver uma luz no fim do túnel. Ao
longe dava pra ver que as ondas batiam na saída, nem
acreditava.
- Onde será que vamos sair?
- Espero que não tenhamos que nadar, pois estou muito cansado,
Jorge!
Chegamos à saída do túnel, e, à nossa frente, havia um mar. De
onde estávamos, as ondas batiam com muita força.
- Jorge, nós vamos ter que pular no mar, pois acredito que por
ser maré baixa, a água não chega até aqui, mas se demorarmos,
ela vai entrar e vai encher esse túnel de água.
- O senhor não quer descansar um pouco?
- Acho que não teremos tempo. Tente colocar a cabeça para o
lado de fora e veja se consegue ver alguma praia, ou algo
parecido.
Aproveitei que a onda tinha se afastado e vi que onde estávamos
era cheio de pedras. Daria pra subir e seguir por cima das
pedras, pois, mais à frente teria uma pequena parte de areia.
Enquanto olhava, uma onda veio forte e me jogou para dentro.
- Você está bem, Jorge?
- Sim, só com o ouvido um pouco cheio de água.
- A maré está subindo, precisamos sair logo.
MARCELO MENA
250
- Acho que dá pra gente se apoiar na saída deste túnel e subir
por cima, sem precisar pular na água. Vamos andando por cima
das rochas até chegar à praia, logo à frente.
- Então, vamos nos sincronizar com a onda. Quando ela recuar,
a gente sobe!
- Teremos que ir um de cada vez. Primeiro vai o senhor!
- Então eu vou, Jorge!
Na primeira recuada das ondas, o senhor Simon subiu as rochas
com certa dificuldade, mas conseguiu, antes de ser atingido por
uma onda forte. Então, assim que tive oportunidade também
subi. As pedras eram escorregadias, mas deu pra me apoiar e
subir um pouco mais alto. Já de cima das pedras, dava pra ver
uma pequena praia.
- Vamos, Jorge, chegar até aquela praia e descansar um pouco.
- Vamos, mas cuidado pro senhor não cair.
- Pode deixar, Jorge, estou cansado, mas dá pra ir.
Depois de alguns minutos, chegamos à praia. Era um lugar bem
sossegado, não havia ninguém. Nos sentamos próximo à
algumas palmeiras.
- Onde será que estamos?
- Acredito que é um dos dois braços do mar vermelho. Se
subirmos naquela direção, quem sabe, exista alguém que nos
ajude. – Ele apontou para um caminho que havia entre as pedras
e a areia.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
251
- E como vamos fazer, sem dinheiro?
- Você ainda está com o cartão do seu tio?
- Verdade! Está aqui comigo.
- Espero que tenha crédito pra pagarmos um ônibus e voltarmos.
- E vamos voltar pra onde?
- Pra casa do Muled.
- O senhor está maluco? Aquele gordo vai querer nos matar! Se
é que ainda está vivo. Será que conseguiram sair?
- Precisamos voltar lá e pegarmos nossas coisas, depois, tentar
pegar o cetro dele. Se Lúcifer souber que ele está com o cetro,
irá possuí-lo e esconder em qualquer outro lugar até decifrá-lo.
- E se pegarmos, o que vamos fazer?
- Isto a gente pensa depois, Jorge!
- O senhor disse que Lúcifer vai usar isto no apocalipse?
- Sim. Segundo o livro do Apocalipse, o anticristo vai ter um
grande poder dominador. Irá escravizar a população, sofrerá de
uma doença incurável e Lúcifer o fará ter saúde. Ainda, criarão
um ídolo de adoração que terá vida e fará com que muitos sejam
mortos.
- Isto é o que o cetro de poder faz?
- Isto mesmo, Jorge! Então, acredito que Jesus já nos fez
encontrar o cetro para que se cumpra o que está escrito no
apocalipse.
MARCELO MENA
252
- Quer dizer que Lúcifer vai conseguir decifrar o código?
- Provavelmente, mas não sabemos quando, nem onde.
- Isto poderá levar séculos ou pode ser hoje, não é, senhor
Simon?
- Não sei, Jorge! Por isto, vamos tentar encontrar o cetro pra que
haja mais tempo.
- E de que vai adiantar ter mais tempo, se ele vai conseguir de
qualquer forma?
- Com mais tempo, existe muito mais chance de mais pessoas
crerem em Jesus e serem salvas, antes do fim.
- Entendi!
- Então, vamos!
Começamos a nossa caminhada e andamos um pouco, logo
encontramos uma estrada.
- E agora, pra que lado vai?
- Não faço a mínima ideia, Jorge!
Ao longe, se aproximou uma caminhonete branca, bem velha e
soltando muita fumaça. Então, demos sinal para parar e o
senhor, que estava dirigindo, usava um turbante na cabeça, e
falando árabe, nos deus sinal para subir na carroceria. Subimos e
tinha umas três cabras amarradas ali. O cheiro era terrível, mas
pelo menos não teríamos que andar. Assim fomos, até
chegarmos em uma cidade pequena. Como era bom ver a
civilização novamente. Logo, a nossa carona parou e descemos.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
253
Fomos agradecer, mas o homem não queria assunto, apenas nos
deu sinal para irmos embora.
- E agora, senhor Simon?
- Veja! Ali tem um hotel, quem sabe alguém fale inglês e nos
ajude.
- Vamos lá!
Chegando lá, fomos atendidos por um rapaz da recepção, que
também era fã do Ronaldinho, e conseguiu um micro-ônibus pra
nos levar até o canal de Suez. De lá, poderíamos pegar uma
condução até o Cairo, e não precisaríamos pagar nada, com a
única condição de mandar uma camiseta autografada do
Ronaldinho.
- Já estou devendo duas camisetas autografadas!
- É, Jorge, pelo menos vamos voltar!
Esta viajem foi a única oportunidade que tivemos para dormir.
Alguns turistas se assustavam com o ronco do senhor Simon,
mas não era pra menos, ele devia de estar muito cansado. Assim
que chegamos ao Cairo, era de madrugada, estávamos exaustos.
Graças ao cartão do meu tio, conseguimos pagar um hotel e ali
passamos o resto da madrugada.
MARCELO MENA
254
Capítulo 12
Voltando pra Casa
Acordei pela manhã com o barulho dos hóspedes, que estavam
saindo e conversando bem alto.
- Acordou, Jorge?
- Meu Deus, parece que levei uma surra, senhor Simon! Estou
com o corpo todo dolorido.
- E você só tem dezessete anos! Imagine como estou. Pelo
menos, conseguimos chegar vivos.
- Nem me fale. Vamos ter que ir à casa do Muled?
- Vamos sim. Temos que tentar. Antes, tome café e coma pão.
Você deve estar faminto.
Depois do café, pegamos um táxi até a casa do Muled e
apertamos o interfone da entrada. Antes de alguém falar
qualquer coisa o portão se abriu.
- Estranho, já abriu o portão.
- Vamos, Jorge! Que Deus nos guarde.
Fomos entrando e um segurança apareceu na entrada da porta e
fez sinal para seguirmos. Chegando numa sala enorme,
Tatuhãna estava sentada numa poltrona com um lenço nas mãos.
Seu rosto era de alguém que estivera chorando e o segurança
nos apontou o sofá para sentarmos.
- Que bom! Vocês voltaram vivos. – Disse Tatuhãna.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
255
- Você fala inglês? – Falou senhor Simon com olhar assustado.
- Sou a esposa do Muled.
Essa eu não esperava. A Tatuhãna era esposa do Muled, aquele
homem tratava a mulher como escrava, nunca iria imaginar.
- Então, Tatuhãna, gostaríamos de falar com ele. – Falou o
senhor Simon se acertando na poltrona.
- Vocês não ficaram sabendo? Não estavam junto com ele? –
Disse Tatuhãna, nos olhando admirada.
- Estávamos junto com ele, mas nos abandonou numa caverna e
saiu correndo com o seu segurança. – Falou o senhor Simon.
- Isto era costume dele. Toda vez que queria algo, fazia de tudo
pra conseguir, não importava o que fosse. – Disse Tatuhãna,
limpando o nariz com o lenço.
- E o que aconteceu? – Perguntei.
- Ele apareceu morto, junto com o segurança na praia de Abu
Galum. Os dois se afogaram, e junto ao corpo de Muled tinha
uma caixa metálica antiga. Os dois estavam pra ser trazidos pra
cá, para prepararmos o funeral deles, mas no meio do caminho o
segurança voltou à vida, dentro de carro funerário em que
viajavam pra cá. Arrancou a porta do carro e saiu correndo pela
estrada e ninguém conseguiu segurá-lo.
- Como assim? Ele não estava morto? E a caixa metálica? –
Perguntava o senhor Simon espantado.
- A caixa tinha sido levada a um posto da polícia, próximo onde
eles foram encontrados, pois como se tratava de um material
MARCELO MENA
256
antigo, ficou lá para ser analisado. Se fosse importante seria
levado para o museu, mas aconteceu outra coisa estranha. –
Disse Tatuhãna olhando diretamente ao senhor Simon.
- Que coisa? – Perguntei.
- Disseram que o segurança do Muled, que fugiu do carro
funerário, foi até o posto policial e conseguiu pegar esta caixa
antiga de volta. Os policiais tentaram impedi-lo, mas não
conseguiram. Houve até tiros e ele foi baleado diversas vezes,
mas não parou, conseguiu levantar um soldado com uma só mão
e jogá-lo longe, então saiu de lá correndo com a caixa.
- E alguém sabe onde ele está agora? – Perguntou o senhor
Simon.
- Ligaram um pouco antes de vocês chegarem, dizendo que o
encontraram morto, próximo a divisa de Israel. – Respondeu
Tatuhãna com um olhar de quem não sabia explicar.
- E a caixa? – Perguntei.
- Acreditam que algum ladrão tenha pego. Até agora, está
desaparecida. – Falou Tatuhãna com olhar de que não sabia
como tudo aquilo havia acontecido.
- Minha senhora, meus sentimentos pela morte de seu esposo. –
Disse o senhor Simon, segurando na mão de Tatuhãna.
- Pelo menos, agora vou ter um pouco mais de sossego. Não vai
mais aparecer polícia por aqui, questionando morte ou roubo
que Muled tenha praticado. – Disse ela.
- Entendo, mas precisamos pegar nossas coisas e partirmos para
o Brasil!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
257
- Sim! Fiquem à vontade, podem subir no quarto e pegar suas
coisas. Eu sei que Muled prometeu dar uma parte do tesouro, se
fosse encontrado, não foi?
- Desculpe, Dona Tatuhãna, mas ele era bem mentiroso. Não
dava pra acreditar nele. – Respondi.
- Eu sei, menino. Ele nunca cumpria suas promessas, por isso
abandonou vocês por lá. Ainda bem que ele gostou de você, pois
se parece muito com o nosso filho que morreu há alguns anos,
de uma doença rara. Acredito que por isto não matou vocês
antes. – Novamente, ela limpou o nariz em um lenço.
- Graças a Deus! – Falei.
- Podem subir. Fiquem à vontade. – Disse Tatuhãna.
Então, subimos para o quarto e começamos a arrumar as malas.
- Senhor Simon, que história maluca é essa do morto vivo?
- Provavelmente ele foi possesso por Lúcifer, que foi buscar o
cetro, Jorge.
- Mas ele pode tomar conta de um corpo morto?
- Olha, Jorge, é meio que difícil dizer, mas acredito que ele não
devia estar totalmente morto. Após os tiros, o corpo acabou
falecendo e ele deve ter tomado o corpo de outra pessoa e
levado à caixa para Jerusalém.
- Mas porque Jerusalém?
- É considerada a cidade de Deus, e é lá que ele quer conseguir o
seu domínio mundial.
MARCELO MENA
258
- Será que ainda tem chance dele não conseguir abrir?
- Sim! Salomão era muito sábio. Talvez, leve algum tempo pra
ele decifrar os códigos da caixa. O difícil é saber que ele pode
abrir esta caixa a qualquer momento. Não temos mais condições
de encontrá-la.
- Vamos partir mesmo, senhor Simon?
- Vamos, Jorge, já passamos muita coisa ruim por aqui e
acredito que foi da vontade de Deus que isto acontecesse.
- Entendi. Tudo tem que se cumprir, não é?
- Sim, Jorge! Por isto não conseguiremos encontrar a caixa.
-Por falar em ruim, como será que eles se afogaram?
- Eles devem ter pegado alguma das outras saídas, mas o rio os
alcançou e acabaram se afogando, indo parar no lado oposto ao
nosso.
- Deve ter sido uma morte horrível, que pena deles.
- É, Jorge, infelizmente receberam por aquilo que fizeram.
Nesta hora, entrou no quarto a Tatuhãna com duas bolsas nas
mãos.
- Por favor, quero que vocês aceitem estes presentes, pra tentar
pagar pelo prejuízo que Muled fez com vocês. – Disse ela,
colocando as bolsas no chão.
- Não precisa se desculpar. A senhora não tem culpa. –
Respondeu senhor Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
259
- Eu sei, mas peguem estes presentes. Não é roubada, esta é uma
das minhas coleções, que comprei com meu salário. Recebam
como forma de perdão. – Ela falava, olhando para o senhor
Simon.
- A senhora não tem culpa pelos atos de seu esposo. – Disse ele.
- Eu sei, mas é um presente que quero dar a vocês, por favor,
recebam. Será uma honra pra mim. – Ela falava com uma voz
mais suave, olhando pro senhor Simon.
- Está bem! A gente recebe, muito obrigado! – Respondi,
segurando as duas malas que estavam bem pesadas.
- A partir de hoje vou ligar para alguns museus e
colecionadores. Devolverei aquilo que Muled roubou. – Disse
Tatuhãna.
O senhor Simon a abraçou e ela chorou bastante. Depois, saímos
da casa e ela mandou um carro nos levar até o aeroporto. Me
parecia que estava havendo certo clima entre Tatuhãna e o
senhor Simon.
- Tomara que Tatuhãna fique bem.
- Bem que o senhor podia casar com ela. Agora ela é milionária
e é viúva.
- Cada bobagem, Jorge!
- Não sei, mas acho que o senhor tem uma quedinha por ela.
- Pare, Jorge, a moça acabou de ficar viúva.
- Eu sei, mas quem morreu foi o Muled, não ela.
MARCELO MENA
260
- Me nego a falar qualquer coisa sobre isto!
- Tudo bem, mas nem quer saber se ela te achava interessante?
- Como você ia saber?
- Se interessou em saber, não é?
- Fique quieto, Jorge! Pare com isso!
- Tudo bem. É que acho que nós trocamos de sacola e devo ter
pegado a sua.
- Por quê?
- A minha tem uma carta endereçada ao Simon e no remetente
está escrito: Tatuhãna.
- Você está me zoando?
- Não estou. Quer ver?
- Me deixa ver.
Passei pra ele a carta. Enquanto esperávamos o voo, ele ficou
lendo e sorrindo. Então, fui e aproveitei pra ligar pra casa.
- Alô!
- Mãe?
- Jorge?
- Sou eu mãe, tudo bem por aí?
- Morrendo de saudades! Como vocês estão? Comeram?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
261
- Calma, dona Maria! Só estou ligando pra avisar que estamos
voltando.
- Verdade? E quando chegam?
- O nosso voo sai daqui alguns minutos, mãe.
- Ai que bom, filho! Vamos esperar vocês.
- A Sandra está aí? Não está, mas pode deixar que aviso ela.
- Está bem, mãe! Logo a gente chega. Vou lá buscar as malas
pra irmos, pois já chamou o nosso voo.
- Vai lá! Boa viajem, meu filho. Nós te amamos.
- Também te amo. Fica com Deus.
Desliguei o telefone e o senhor Simon estava saindo de um
telefone público.
- Vamos, Jorge! Já chamou para embarque.
- E aí, cadê a carta?
- A carta é minha, e particular!
- Hummm! Sei. Já entendi.
- Ela apenas contou que sofreu muito com o Muled, pois quando
se tornou uma cristã, ele resolveu colocá-la como sua
empregada, enquanto fazia festas com outras mulheres na sua
casa. Então, ela disse, na carta, que gostou de nós e quando nos
conheceu queria muito ter amizade, pois sabia que éramos
cristãos também. Ela sentia muita paz enquanto estávamos por
MARCELO MENA
262
lá, então, ela deseja continuar tendo uma amizade conosco.
Depois disto, liguei e conversei um pouco com ela!
- Uma amizade com a gente?
- Sim! Só isso!
- Está bem. Eu nunca vi o senhor com este sorrisinho.
- Estou feliz por podermos voltar pra casa.
- Sim, claro! Voltar pra casa apaixonado!
- Jorge, pare com isto. É apenas amizade.
- Sim, eu vou parar, mas que está apaixonado, está!
- Não vou falar mais nada. Você está muito engraçadinho!
Pegamos o voo e voltamos para casa. Vou ser sincero não via a
hora de voltar pra casa. Nós dois dormimos na viajem. Uma
hora, fui acordado pela aeromoça.
- Meu Jovem, desculpe incomodar.
- Oi! O que houve?
- Tem um senhor sentado ali na frente, ele me pediu pra te
chamar e pediu pro senhor ir até lá, pois ele precisa conversar.
- Quem é ele?
- Me desculpe, não perguntei o nome, mas ele me disse que você
o conhece.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
263
Levantei a cabeça para ver por cima do banco, só vi uma mão
acenando e me chamando.
- Está bem, muito obrigado. Já vou até lá.
Olhei para o senhor Simon para avisá-lo, mas ele estava
roncando, então, não quis incomodá-lo.
Pode ser que seja o casal que encontramos na ida ao Egito.
Fui até ele.
- O senhor me chamou?
- Sim, Jorge, senta aqui pra conversarmos.
- O senhor sabe o meu nome?
Ele retirava uma revista do banco, liberando o lugar, mas como
ele estava de cabeça baixa, não dava pra ver quem era. Foi
quando ele virou e olhou para mim. Jamais esqueço aquele
rosto.
- Jesus? É o Senhor mesmo?
- Sim, Jorge! Sou Eu mesmo.
- Mas o que faz neste voo?
- Você acha estranho estar dentro de um avião?
- Sim! Porque se eu disser que vi o senhor no avião, as pessoas
vão achar que iremos cair.
MARCELO MENA
264
- Ai, Jorge! Você me surpreende com cada coisa. Mas, estou
aqui pra gente conversar um pouco. Me diga, Jorge, como foi a
busca pelo tesouro de Salomão?
- Horrível, Jesus! Além de passar por várias situações terríveis,
quase morremos!
- Eu sei, mas se saíram muito bem.
- O pior foi ter perdido o cetro de ouro.
- Sim, aquele cetro foi algo terrível no passado.
- Não se preocupe, Lúcifer vai ter muito trabalho para decifrá-lo.
- E ele vai conseguir?
- Sim! Um dia, ele irá descobrir e vai levantar o anticristo.
- E porque o Senhor vai permitir tudo isso?
- É necessário que o homem tenha a oportunidade de escolha,
pois como seria Livre arbítrio, se não pudesse escolher?
- Entendo. Precisamos ter os dois lados. E de onde veio aquele
cetro?
- Uma das primeiras civilizações da Terra, onde o mundo que
você conhece era totalmente diferente. Já havia alguns seres que
se tornaram malignos e eles conseguiram fabricar aquele cetro.
Com ele, se consegue atrair tudo que é maldade, tanto da pessoa
que o segura, como pra quem é apontada, abrindo portas para
que os demônios ajam.
- Mas uma pessoa justa e inocente pode ser corrompida por este
cetro?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
265
- Se a pessoa for justa, sincera e temente a Deus jamais será
possuída, ou dominada. Mas, infelizmente, o ego humano é
complicado e pode se corromper. Com este cetro, Lúcifer irá
lutar contra a igreja no futuro, pois ele dominará muitos povos,
mas a pessoa que ainda confiar em Deus, ele não conseguirá
dominar. Pra resolver esta situação vai perseguir e matar todos
os que se disserem Cristãos.
- Isto será terrível!
- Eu sei, por isto mandei meu servo João escrever as cartas do
apocalipse às igrejas, para que aproveitem a porta da graça,
enquanto estiver aberta, e subam no arrebatamento. Não quero
ver ninguém sofrer, mas como existe a escolha, alguns não
querem aproveitar a oportunidade e vão ficar. Após o
arrebatamento, irão se arrepender, e aí, passarão pelo
sofrimento.
- Entendi!
- Eu vim aqui apenas para confortar o seu coração e do Simon,
para que não se preocupem com o cetro. Era necessário que isto
acontecesse e vocês acabaram fazendo parte do meu plano
divino, através dos séculos.
- Olha, sou muito grato por ter sido escolhido, mas da próxima
vez, pode ser um pouco mais leve, sem muitos perigos?
- Você, Jorge, é muito hilário! Fica querendo algo mais
tranquilo, mas ama as aventuras que passa com o Simon. Não é
verdade?
MARCELO MENA
266
- Isso realmente é verdade, aprendo muito com ele. O senhor
Simon vai ficar feliz em saber que você está aqui, posso chamá-
lo?
- Não precisa, já conversei com ele.
- Sério? E quando foi isto?
- Foi antes de te acordar. Passamos um bom tempo conversando,
e sabe, Jorge, ele te ama muito, como se fosse o filho dele. Você
acabou tirando este homem da solidão que vivia e fê-lo viver
novamente. Você está de parabéns.
- Vindo do Senhor, eu fico muito grato!
- Sabe, Jorge. Existem, no mundo, muitos com o mesmo
problema, na solidão. Às vezes, estão entre muitos amigos e
familiares, mas completamente ilhados e sozinhos, precisando
de um Jorge para vencer esta batalha. Alguns conhecem a
verdade, mas estão tão acostumados com o conforto que não
possuem coragem de ajudar os outros, vivem preocupados só
consigo mesmo e sem dar a mão de ajuda. Posso dizer que
também são solitários. O homem foi feito para viver em
companhia de outros, nunca sozinho.
- E o que podemos fazer para melhorar?
- Só isso, Jorge, apenas querer fazer, já é o início para a pessoa
vencer, depois precisa entrar em ação. Por isso, continue sempre
fazendo o que você tem de melhor.
- Sim, eu vou fazer.
- Fica na minha paz. Até a próxima oportunidade, Jorge!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
267
- Como assim?
Nesta hora, Jesus sorriu me abraçando e uma luz muito forte
começou a brilhar. Era tão intensa que meus olhos começaram a
arder, então, os fechei e quando abri o avião já tinha pousado. O
senhor Simon ainda dormia e eu estava do seu lado. Tudo
parecia ter sido um sonho, novamente.
- Senhor Simon, chegamos!
- Oi, Jorge. Já chegamos?
- Sim, graças a Deus!
- Vamos lá, porque esta viajem parece que passou muito rápido.
- Tem razão, senhor Simon, nós dois dormimos e nem vimos
nada.
- Tive um sonho maravilhoso, você nem sabe quem me acordou
no avião, Jorge.
- Sei sim, por um acaso foi a Grande Sabedoria?
- Como você sabe?
- Sonhei com Ele também. Me disse que já tinha conversado
com o senhor.
- Olha, Jorge, em toda minha vida de cristão, nunca tive tanta
comunhão com Ele, como estou tendo agora, depois de conhecê-
lo pessoalmente.
- Isto é verdade. É maravilhoso!
- Você pode contar comigo para o que precisar, Jorge.
MARCELO MENA
268
- Sim, senhor Simon, agradeço muito.
Descemos do avião, e após pegarmos as bagagens, saímos.
Estava todo mundo esperando, do lado de fora, a nossa chegada.
A minha tia, com um barrigão enorme, sentada numa poltrona,
comendo o que parecia ser um doce e meu tio, do seu lado.
Minha mãe e a Sandra estavam de pé, olhando pra multidão
saindo e meu pai pegando água. Assim que Sandra me viu,
correu e se agarrou no meu pescoço, me beijando. Todos vieram
nos cumprimentar e meu tio já foi pegando as malas com o meu
pai.
- Que saudades, Jorge! – Falou Sandra agarrada no meu
pescoço.
- Eu também estava, Sandra!
- Você e o Simon parecem que emagreceram! – Disse minha
mãe, nos olhando da cabeça aos pés.
- Foi muita caminhada a pé, mãe.
- Vocês não comeram direito por lá? Ainda bem que preparei
um banquete em casa.
- Agradeço, dona Maria. Realmente, o Jorge e eu perdemos
muito peso. A comida de lá é bem diferente da sua. – Disse o
senhor Simon.
- Olha, Simon, pode ficar tranquilo que em poucos dias vocês se
recuperam, pois se depender da Maria, amanhã mesmo já estão
bem gordinhos. – Explicou a minha tia
- Enquanto a gente esperava vocês, ela já deixou um cartão da
doceria nesta empresa de avião. – Concluiu o meu tio.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
269
- Seria bom mesmo que eles aceitassem pegar os doces da
minha mãe, pois a comida e o doce dessa empresa são horríveis!
– Respondi.
Assim, fomos conversando, matando a saudade. Nos dividimos
nos carros do meu pai e do meu tio para voltarmos. Chegamos
em casa, realmente, minha mãe tinha feito um belo de um
banquete, tinha de tudo, desde frango assado, até pão doce. O
senhor Simon comeu que não aguentava mais, enquanto todos
ficaram por ali, contava sobre o que passamos no Egito. É
lógico que não comentamos sobre tudo, só comentamos sobre
os pontos turísticos e outras histórias que vivemos. Então, a
Sandra me chamou à parte e sentamos na sala para
conversarmos sozinhos.
- Jorge, me fale o que realmente aconteceu, pois o Simon só está
falando de como eram as pirâmides e a Terra santa, mas eu sei
que tem mais coisas por trás. – Sandra falou bem baixo no meu
ouvido.
- Realmente, Sandra, contarei desde o início que chegamos lá e
o que aconteceu.
Contei toda a história pra Sandra. Ela, às vezes, ficava
admirada, assustada. Uma hora, até chorou e ficou muito
emocionada com tudo. Quando terminamos, o dia já estava
amanhecendo e cada um foi pra sua casa, tentar descansar um
pouco. Meu tio levou a Sandra e o senhor Simon embora, eu
também fui tentar descansar um pouco e me adaptar com o
novo fuso horário.
MARCELO MENA
270
Capítulo 13
A Verdade
Levantei, já era hora do almoço, sentia o cheiro de carne assada
na cozinha. Fui até lá e vi minha mãe toda atarefada com as
coisas.
- Dormiu bem, filho? – Perguntou minha mãe, segurando uma
panela com água fervendo.
- Graças a Deus, dona Maria!
- Já estou terminando de arrumar a mesa e logo você pode
almoçar.
- A senhora vai trabalhar hoje?
- Não. Hoje dei folga pra Valdete e a Tânia, pois ontem
adiantamos tudo pra irmos buscar vocês, sabia que a conversa ia
varar a madrugada.
- E o pai?
- Ele teve que fazer as entregas, mas logo ele chega pra almoçar,
você pode comer.
- Que saudades desta comida temperada. Diga, mãe, como
ficaram as coisas por aqui?
- Bem, você ficou sabendo do Antônio do bar?
- Não, o que aconteceu?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
271
- Logo depois que vocês viajaram, ele saiu do hospital com uma
ótima melhora e o pai da Sandra o encaminhou para a clínica e
está se recuperando muito bem.
- Que legal fico feliz que tenha melhorado!
- Agora, tem alguém que não deixou de visitá-lo um dia sequer.
- Quem foi?
- A Valdete! Ela tem ajudado, dando remédio, trocando os
curativos. Não sei não estes dois.
- Vai ver que a Valdete está apaixonada.
- Com certeza está, filho!
- Estes dias, aconteceu algo interessante na igreja. Apareceu
uma senhora e pediu para o seu tio a deixar falar. Ela havia
levado sua filha pequena ao hospital, pois estava muito doente, e
quando chegou lá, sua filha havia morrido. Os médicos disseram
que não tinha mais o que fazer, e graças a um jovem da nossa
igreja, que orou por ela, a menina voltou à vida.
- Verdade? Como ela sabia que era da igreja?
- Uma enfermeira disse que já tinha visto o jovem, que esteve no
quarto com a menina, e ele era da nossa igreja.
- E a igreja sabe quem é o jovem?
- O seu tio deve saber, mas ele disse que é melhor não revelar,
pois o jovem não quer que fique falando.
- Que bom, a família desta mulher deve estar feliz.
MARCELO MENA
272
- Agora, eles fazem parte da igreja e estão ajudando nos
trabalhos sociais. Não vêm a hora de conhecer o jovem para
agradecer.
- Que bom! O tio deve estar feliz.
- E como está feliz.
- Mãe, vou à casa da Sandra!
- Sei, já vai namorar. Não volte tarde.
- Pode deixar, mãe. Vou dar uma olhada nas minhas coisas e
guardar as roupas.
- Não se preocupe, deixa que guardo as suas roupas.
- Está bem, mas antes de guardar, preciso dar uma olhada nas
coisas que trouxemos.
Subi no quarto e resolvi abrir a sacola que havíamos ganhado da
Tatuhãna. Quando vi, estava com bastantes peças de
antiguidade, entre elas, um relógio de bolso, bem antigo, e que
estava funcionando, era feito todo de ouro. Tinha, também, um
pequeno prato de porcelana, que pertencia a uma dinastia
chinesa antiga. Uma pequena bolsa guardava algumas moedas
romanas e um bracelete de ouro. Desci e dei o prato de
porcelana de presente pra minha mãe, ela ficou muito feliz e
colocou dentro de uma prateleira de vidro, para ficar a mostra.
- Vai ficar lindo aqui, você não acha, Jorge?
- Sim. Ficou legal, mãe!
- Este é o presente do melhor filho do mundo!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
273
- Não exagera, dona Maria. Já vou indo!
- Vai com Deus.
Fui para casa da Sandra. Quando cheguei, o irmão dela veio me
atender.
- Oi, Jorge!
- Fala, Sandro, tudo bem?
- Agora, graças a Deus estamos muito bem, pois ninguém mais
aguentava a Sandra chorando e dizendo que estava com
saudades de você.
- Imagino. A Sandra está aí?
- Está! Entre.
Alguém lá de dentro da casa gritou:
- Quem é que está aí, Sandro?
- É a múmia da lagartixa que veio do Egito, Mãe!
A Sandra veio correndo ao meu encontro. Ela deu uma tapa nas
costas do Sandro, só deu pra ouvir o belo de um estralo.
- Ai, Sandra! Dói! – Disse ele, colocando as mãos nas costas.
- Isso é pra você parar de chamar o meu namorado de lagartixa!
- O dia que ele engordar, eu paro de chamá-lo de lagartixa e
chamo de lagarto gordo, ok?
MARCELO MENA
274
- Seu bobo. Vou chamar a sua namorada de lombriga. – Gritou a
Sandra, me abraçando.
- Quero ver você chamá-la de lombriga! – Disse o Sandro, se
afastando com medo de levar mais um supetão.
- Só não chamo porque ela é minha amiga.
- Sandra, pare de brigar! – Falei pra ela.
- Isso, Jorge, bota juízo nesta garota chorona. – Respondeu
Sandro, correndo.
Ele entrou e a mãe da Sandra, a Nandinha, veio me abraçar.
- Liga pra eles não, Jorge, irmãos são assim mesmo, o dia todo
brigando, mas não vive um longe do outro.
- Que nada, eu sei que eles se amam.
- Ele é um chato, fica chamando o Jorge de lagartixa, e eu não
gosto, mãe.
- Ele fala isso, pois sabe que te provoca, Sandra. Me fale, Jorge,
foi boa a viajem?
- Sim, foi muito boa, Nandinha.
- Mãe, o Jorge e eu vamos sair pra passear.
- Está vendo, Jorge, tem ciúmes até de mim, não deixa nem a
gente conversar.
- Claro que não, mãe. É que faz tempo que a gente não sai.
Depois que a gente voltar, ele te conta sobre a viajem.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
275
- Está bem, Sandra. Depois a gente conversa, Jorge.
- Até mais, Nandinha. – Respondi.
Percebi que Nandinha voltou resmungando pra dentro da casa.
- Você podia ter me deixado contar sobre a viagem.
- Ela ia ficar te alugando um montão, depois você fala. É que eu
consegui uma coisa que vai te deixar feliz.
- O que?
- Sabe as camisetas que você disse que ficou devendo pros
egípcios?
- Sei, as autografadas pelo Ronaldinho.
- Eu consegui!
- Como conseguiu?
- Meu pai tem um amigo que é funcionário em um dos sítios do
Ronaldinho. Falei pra ele, e assim ligou para o homem, e me
disse que amanhã envia pelo correio as camisetas autografadas.
- E quanto vai ficar?
- Não vai custar nada. Ele está mandando pro meu pai como um
favor pelo que fez por ele quando estava desempregado.
- Que Maravilha, Sandra!
- Assim, você paga o que prometeu lá no Egito.
- Valeu mesmo, Sandra!
MARCELO MENA
276
- Agora, nós vamos tomar um sorvete.
- Vamos, mas antes, quero te dar um presente que trouxe do
Egito.
- E o que é?
- Isto aqui! - Coloquei a mão no bolso, tirei a pulseira de ouro e
entreguei.
A Sandra colocou no pulso, ficou admirando, me abraçou e me
beijou muito.
- Que lindo, Jorge! Deve ter custado uma fortuna.
- Vamos dizer que ganhei de presente.
- A mulher taturana?
- Não, Sandra, é Tatuhãna.
- Não importa! Amei. Espera, vou mostrar pra minha mãe e
depois a gente vai tomar sorvete. – Disse Sandra, correndo para
dentro da casa.
A mãe da Sandra ficou admirada. Sandro saiu na porta e disse:
- Você quer acabar comigo, não é, Lagartixa?
- Eu? Por quê?
- A Sandra vai mostrar pra minha namorada e ela vai me
infernizar pra comprar uma pulseira de ouro pra ela. – Falou
Sandro com uma cara fechada.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
277
Sandra deixou a pulseira pra mãe guardar e veio correndo toda
feliz.
- A Marina vai querer uma. Quero ver você trabalhando,
fazendo hora extra pra pagar, Sandro! – Falou a Sandra fazendo
careta para o Sandro.
- Vocês dois são uns chatos! Está vendo mãe o que fazem
comigo?
A Nandinha apenas ria. Saímos pra sorveteria.
- Você ficou sabendo do Nando, Jorge?
- Não. O que aconteceu?
- Ele foi preso com mais cinco garotos.
- Não acredito, Sandra. Por quê?
- Ele pertencia à gangue que batia nos bêbados e mendigos.
- Meu Deus! Não acredito nisto. Não é possível, como
descobriram?
- No dia que eles pegaram o Antônio do Bar, havia uma casa
com câmera que acabou gravando tudo. O pior que todos os
garotos são de classe média.
- Sandra, que absurdo!
- O Nando sempre foi descabeçado, Jorge!
- Eu sei, mas nem imaginava isso dele. Vou ter que ir falar com
ele.
MARCELO MENA
278
- Ele é um bandido! Quase matou o Antônio do Bar.
- Eu sei, Sandra, mas preciso ver o que ele fala sobre isto. Eu
não consigo acreditar.
- Não sei, Jorge! Depois você pensa nisto, agora vamos tomar
um belo sorvete.
- Ok, Sandra.
Depois de tomarmos sorvete, saímos e passamos em frente à
loja M&D Modas. Me lembrei do que Jesus tinha dito.
- Sandra, vamos comigo ali, naquela loja.
- E o que você vai fazer lá?
- Vou comprar aquele tênis, que eu tanto queria.
- E você tem dinheiro?
- Tenho uns trocados aqui comigo.
- Mas será que dá pra comprar, Jorge?
- Vamos lá ver pelo menos o preço.
- Vamos, quem sabe você pode parcelar.
Entramos na loja e estava bem arrumada. Havia várias
prateleiras de roupas e sapatos, também tinha uma área só de
esportes. No fundo da loja, havia um balcão com as duas
proprietárias. Só percebi isto, porque os demais funcionários
usavam uniformes.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
279
- Jorge, olha o tênis ali! Está em promoção, cinquenta por cento
de desconto! – Falou Sandra, indo na direção à prateleira.
- Foi por isso que Jesus me mandou vir nesta loja.
- Como que é, Jorge? Jesus te mandou vir na loja comprar um
tênis?
- Sim! Tudo por causa da promoção.
- Você acha que por causa da promoção ele te mandaria aqui?
- Ele queria que eu economizasse.
- Sei não, Jorge. Tudo bem que Jesus quer o nosso bem, mas pra
comprar um tênis em promoção? Acho que esta história está
meio estranha.
- E qual outro motivo seria?
- Sei lá, só estou achando estranho.
Nisto, uma vendedora, que usava o uniforme da loja, se
aproximou.
- Desejam alguma coisa? – Perguntou ela, nos olhando.
- Aquele tênis, eu gostaria de experimentar. – Respondi.
- Sim, claro! Está em promoção. Qual seria o número? – Falou a
vendedora, olhando para os meus pés.
- Pode trazer o quarenta e um.
- Podem se sentar ali. Já volto!
MARCELO MENA
280
Nos sentamos num banco, de frente para um espelho grande,
que ia do chão até a parte do teto, dava pra ver tudo o que
acontecia na loja. Pelo espelho, vi que tinha uma senhora
limpando a loja, que também possuía o mesmo uniforme. Com
um espanador ela tirava o pó das prateleiras e dos produtos. A
Sandra ficava se olhando no espelho sem parar.
- Eu sabia que esta calça não ficava muito bem em mim. – Disse
a Sandra, puxando a sua calça e se olhando no espelho.
- Como assim, Sandra?
- Olhe, a calça fica torta na parte de trás.
- Imagine, Sandra. Está perfeito!
- Homem não entende de roupa mesmo.
Nesta hora, percebi que a mulher que estava tirando pó, não
parava de olhar pra nós.
- Sandra.
- O que foi?
- Está vendo aquela senhora?
- Sim, o que tem?
- Ela não para de olhar pra nós, acho que pensa que nos
conhece.
- Espera aí, Jorge, aquela é a Rosa. Ela trabalhou com minha
mãe uns dias no artesanato.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
281
- Então deve ser por isto que está nos olhando. Vamos
cumprimentá-la?
- Claro, Jorge!
Fomos até onde a mulher estava e ela virou de costas, como se
estivesse fazendo algo na prateleira.
- Oi, dona Rosa, tudo bem?
Ela virou e ficou me olhando. Estava meio pálida e tremendo.
- Oi, Sandra. Esse menino é o...
- É o Jorge, meu namorado!
Estendi a mão para cumprimentá-la, mas ela abaixou o rosto,
começou a chorar e saiu rápido, empurrando a Sandra. Foi até o
fundo da loja, abrindo uma porta. Algumas moças, que estavam
no caminho, tentaram falar com ela, mas não conseguiram.
- O que deu nela, Sandra?
- Eu sei lá, Jorge!
- Será que ela está passando mal?
Nesta hora, a dona da loja veio em nossa direção, era uma jovem
de cabelos longos e lisos.
- Posso saber o que aconteceu aqui? – Falou a moça, nos
olhando brava e com as mãos na cintura.
- Nada. Só viemos falar com ela, pois já trabalhou pra minha
mãe, mas, de repente, perguntou o nome do meu namorado e
saiu correndo. – Respondeu a Sandra.
MARCELO MENA
282
- E como é o nome de vocês? – Perguntou a moça.
- O meu é Sandra, o dele é Jorge!
- Jorge?
- Isto! Por quê? – Perguntei.
- Meu nome é Délia Isis, por favor, venham comigo até o meu
escritório.
No caminho, Sandra me olhou, balançando os ombros sem
entender. A moça, que foi buscar o meu tênis, apareceu e a
Délia deu sinal com a mão, então, ela deixou a caixa sobre o
balcão e foi atender outro cliente. Passamos as portas do fundo e
entramos numa outra sala. Lá, outra jovem, sentada, de cabelos
curtos, estava no telefone, quando nos viu entrar terminou logo a
conversa e desligou o aparelho.
- Esta é minha irmã e sócia da loja, o nome dela é Mariza.
- Muito prazer, meu nome é Sandra e este é o Jorge.
- Muito prazer. O que foi Délia?
- A Rosa passou mal e está no refeitório, tomando uma água
com açúcar por causa deste Jorge. – Falou a Délia, me
apontando.
- Ele é o Jorge? – Falou a Mariza, ficando de pé, com um baita
barrigão de grávida que estava.
- Sim, pelo jeito é ele. – Délia respondeu, puxando uma cadeira
para nós.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
283
- Espera um pouco, o que está acontecendo, vocês me
conhecem? – Perguntei.
- Nós não podemos falar. Espere até a Rosa chegar. Respondeu
Mariza.
As duas ficavam me olhando e um silêncio tomava conta da
sala. Então, a porta se abriu e a Rosa entrou. Com os olhos
inchados de tanto chorar, se sentou numa cadeira. A Délia
chegou perto da Rosa e disse:
- Olha, Rosa, hoje você tem uma grande oportunidade, não era o
que você pedia a Deus?
- Sim, Délia, mas não posso falar.
- Falar o quê? A senhora me conhece? – Perguntei.
Ela virou o olhar e ficou olhando pra janela, chorando. A Mariza
se levantou e disse:
- Olha, Rosa, você fez uma promessa, não foi?
- Sim. Eu não posso falar. – Disse Rosa, curvando a cabeça.
- Tudo bem. Você não precisa falar, deixa que eu mesma digo. –
Mariza foi empurrando a cadeira.
- Não. – Rosa falou, segurando a Mariza.
- Assim, você não quebra a sua promessa. Você tem certeza que
é ele? – Disse Mariza.
- Sim, é ele mesmo, mas deixe-os ir embora e tudo volta ao
normal como estava. – Rosa falou, chorando.
MARCELO MENA
284
- Não, senhora. Deixa de sofrer, mulher. É o seguinte, Jorge,
esta mulher ela é sua mãe. – Falou Mariza.
- Como é? Está ficando maluca? A minha mãe se chama Maria
das Dores! – Respondi bravo.
- Essa é sua mãe adotiva. – Falou Délia.
- Pare! Eu tenho a certidão do meu nascimento. – Respondi.
- A dona Rosa vai esclarecer o assunto. – Falou Mariza
- Vocês devem estar confundindo a pessoa! – Falei.
A dona Rosa olhou pra mim e a Sandra segurou forte a minha
mão.
- Jorge, sente aí e me deixa esclarecer o assunto. – Rosa falou,
segurando no meu ombro.
- Não tem assunto! Eu sou filho da dona Maria, ela é minha
mãe. – Respondi, tirando a sua mão do meu ombro.
- Fique calmo, Jorge! Vamos esperar pra ouvir.
- Sandra, esta mulher é maluca.
- Bem, dona Rosa, a Mariza e eu vamos sair e deixar vocês
conversarem. Qualquer coisa, estaremos do lado de fora. – Disse
Délia, puxando a Mariza.
Sentei, sendo puxado pela Sandra, e ficamos ali pra ouvir o que
ela tinha pra falar. A Délia e a Mariza saíram da sala.
- A história começa há mais ou menos uns dezessete anos atrás.
Meu marido Humberto e eu estávamos passando uma grande
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
285
dificuldade, ele estava desempregado e eu estava grávida, só não
passamos fome, por causa de ajuda de alguns vizinhos. Meu
marido resolveu que deveríamos voltar ao nosso Estado, pois lá
ele tinha família, que poderia nos ajudar. Quando conheci o
Humberto, tinha acabado de perder minha mãe e não tinha mais
família, então, a nossa esperança seria viajarmos pra lá.
Quando ela falou do Humberto, minha alma gelou, pois me
lembrei do Humberto que conheci no paraíso, mas acreditei ser
coincidência.
- Então, Humberto tinha aqui um grande amigo chamado Chico,
que trabalhava numa eletrônica e frequentava uma igreja
chamada: Caminho dos Céus. Ele nos daria o dinheiro pra esta
viajem. O problema era que não poderia viajar grávida, então,
teríamos que esperar mais alguns dias. Perdemos a casa, onde
morávamos, e fomos ficar num cômodo emprestado de uma
vizinha, foi então que você nasceu.
- Eu não sou seu filho, Rosa!
- Espera, Jorge! Vamos ouvir a história. – Disse Sandra.
- Eu sei que é difícil, Jorge, mas você vai entender tudo no final.
- Então, como estava falando, você nasceu e meu marido te
pegou nos braços, foi muita emoção pra nós, mas logo no outro
dia, ele teria que viajar para preparar as coisas e encontrar a
família. Assim, fiquei sozinha, esperando o seu retorno. Depois
de dois dias, recebi a notícia de que o ônibus em que ele viajava
se perdeu na estrada, capotando e matando muitas pessoas,
inclusive ele. Fiquei sozinha com uma criança recém-nascida,
sem ter o que fazer. Foi então que o Chico e a Maria me
procuraram e se ofereceram para cuidar do bebê. Assim, eu
MARCELO MENA
286
poderia voltar a trabalhar e refazer a minha vida, mas que
deveria me esquecer do bebê, pois como eles não tinham filhos,
o tratariam como seu e eu nunca mais poderia vê-lo. Jamais
deveria contar sobre isto. Na situação que eu estava não sabia o
que fazer. Até a minha vizinha, que sedia o quarto, pediu que
saísse, para ela poder reformar e alugar. Então, como não tinha
mais o que fazer, deixei o bebê com eles e me deram um bom
dinheiro para refazer minha vida. Saí daqui e fui morar em outra
cidade, lá comecei de novo, mas ficava em meu peito uma dor
imensa, pois queria revê-lo e de tê-lo de volta. Foi quando, há
oito anos, voltei e aluguei uma casa, próximo da mãe da Sandra
e trabalhei com ela no início. Sempre te via indo pra escola, com
os colegas, ao lado da Sandra e sempre tive vontade de te contar
tudo, mas você tinha uma família feliz e não podia estragar tudo
isso. Comecei a ter depressão e passei muito mal. Foi quando
conheci estas duas irmãs, que me ajudaram muito. Hoje, estou
tendo a oportunidade de falar de algo que está há mais de
dezessete anos guardado: Sou sua mãe, Jorge!
- A senhora está maluca! Não sou seu filho.
Naquela hora, saí daquele lugar correndo. Minha cabeça estava
uma confusão, já não sabia o que fazer. Acabei deixando a
Sandra e fui pra minha casa, queria saber toda a verdade.
Lembrava-me dos momentos com minha mãe, quando pequeno.
Aquela mulher, falando ser minha mãe, me causava enjoo. Eu
estava muito nervoso, queria chegar em minha casa pra que
minha mãe dissesse que tudo era mentira. Cheguei em casa,
minha tia Fábia e meu tio Fred estavam na sala conversando
com meu pai, enquanto minha mãe estava na cozinha. Entrei e
fui direto pra onde ela estava.
- Mãe, fale que é mentira daquela mulher.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
287
- O que foi, Jorge? Que mulher? Porque está tão pálido,
aconteceu alguma coisa?
Comecei a chorar, todos vieram pra cozinha, meu tio Fred me
abraçou.
- O que aconteceu, Jorge? – Perguntou ele.
- Eu estava com a Sandra na loja de tênis. Lá, tinha uma mulher
com o nome de Rosa e ela me disse que não sou seu filho, e que
sou filho dela.
Minha mãe se sentou com as mãos na cabeça, meu pai fechou a
cara e falou:
- Jorge, esta mulher é maluca, de onde ela tirou isto?
- Esta é boa, Ruela, arrumou uma maluca de mãe?
- Pare, Fred, o menino está assustado! - Disse minha tia.
- Ela disse que conhece vocês e que há dezessete anos me
entregou.
- Essa mulher está querendo confundir a sua cabeça e destruir
nossa família. – Disse o meu pai, batendo com a mão na mesa.
Minha mãe me olhou nos olhos, e me lembrei de quando queria
me repreender ou me ensinar, sempre fazia isto. Ela, então,
bateu na mesa e disse:
- Chega, Chico! O Jorge tem que saber a verdade.
- Não, Maria! Isso vai estragar tudo que construímos. – Disse o
meu pai.
MARCELO MENA
288
- Devíamos ter contado tudo a ele, agora ficou sabendo da pior
forma. – Falou minha mãe, me abraçando.
- Ela prometeu não contar nada! – Meu pai falou, se sentando
numa cadeira.
- Como assim, mãe, é verdade esta história?
Meu tio se levantou, olhou pra minha tia Fábia e disse:
- Bem que desconfiei. Lembra, Fábia, sempre te disse que
achava que o Jorge não era filho do Chico, pois era branquinho
demais.
- Como assim, tio?
- Ficamos sabendo que sua mãe tinha tido um bebê, pois como
morávamos longe daqui, nos víamos cada três anos. Nem
imaginava que você não era filho deles. Eles nunca falaram
nada.
- Jorge, fique calmo. Deixa explicar certinho o que aconteceu. –
Disse minha mãe, chorando e me segurando.
- Então, vocês mentiram este tempo todo pra mim?
- Você pode não ser meu filho de sangue, mas te amamos,
Jorge!
- Por isso meu pai nunca me tratou com carinho, pois sabia que
não era seu filho.
- Sempre fiz o melhor pra você! – Respondeu ele.
- Eu não acredito no que estou ouvindo. Até você mentiu pra
mim, mãe.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
289
- Jorge, me perdoe! Você sempre será meu filho.
Enquanto minha cabeça doía de pensar, minha tia começou a
passar mal, suar muito e sentir dores.
- O que houve, Fábia? – Perguntou meu tio, segurando ela.
- Ai, Fred, é muita coisa pra mim, me leva para o hospital estou
muito mal. Jorge, eu quero que saiba que sempre serei sua tia,
lembre-se que sempre te amei.
Meu tio a carregou no colo e meu pai ajudou colocá-la no carro.
Ele saiu em alta velocidade para o hospital.
- Vamos, Jorge, entrar e conversar, colocar tudo a limpo. –
Falou meu pai.
- Por isso, quando saí de casa você nem se preocupou comigo. A
dona Maria ficava preocupada, com medo de eu descobrir tudo,
né?
- Jorge! Por favor, vamos conversar. Sempre te tratei como filho
e amei de todo coração. Seu pai e eu precisamos esclarecer tudo,
não quero te perder, filho.
- Agora não! Quero ficar sozinho.
Minha mãe tentou me segurar, mas saí correndo pela rua. De
longe, podia ver ela caída de joelhos no chão, chorando e meu
pai tentando levantá-la. Corri muito, até subir no morro do
sossego (que tem este nome por ficar retirado do bairro e de lá
de cima dá pra ver toda a cidade) sempre subia ali quando era
criança, pra soltar pipa, e quantas vezes meu pai vinha me
buscar e me levava pelas orelhas. Agora, começava entender o
porquê de tanta raiva que ele me tratava. Não conseguia
MARCELO MENA
290
acreditar em tudo aquilo, como queria desaparecer e sumir do
mapa, que dor no meu peito. Sentei sobre uma pedra e o dia
estava bem claro, a cidade continuava funcionando
normalmente, enquanto que pra mim tudo estava
desmoronando. O que estava acontecendo comigo, porque não
podia ser filho da minha mãe? Quem era aquela mulher
chamada Rosa? Como ela podia ser minha mãe se nem a
conheço? Por que mentiram pra mim?
- Jesus! Jesus! Por favor, me ajuda. Fale comigo. Não sei o que
fazer!
Minha voz ecoava entre as pedras e a vegetação. Uma brisa
soprou entre as árvores, esperei uma resposta e nada.
- Por que não fala comigo? Estou aqui, não me desampare,
Jesus. Me ajude, fale comigo!
Baixei a minha cabeça e comecei a chorar. Nunca saíram tantas
lágrimas dos meus olhos como nesta hora, foi quando ouvi um
barulho por trás de mim. Como se alguém se aproximasse.
- Jorge, você está aí?
- Jesus, é você?
- Desculpe te decepcionar, mas sou eu, o Simon.
- Senhor Simon?
- Sim.
- O que o senhor faz aqui?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
291
- Eu estava me perguntando até agora sobre isto, o que estou
fazendo aqui. Lembra quando estávamos no avião, voltando pra
casa, Jorge?
- Você me disse que tinha tido um sonho com a Grande
Sabedoria, não foi?
- Foi mesmo! – Respondi.
- Eu também havia sonhado. Neste sonho, a Grande Sabedoria
me dizia pra que, quando eu voltasse, no outro dia, subisse este
monte, pois ele queria que eu ajudasse um amigo dele. Então,
subi e fiquei procurando a pessoa, não encontrava ninguém e já
estava com vontade de ir embora, até que eu ouvi você chorar e
me aproximei. O que aconteceu?
- Descobri que não sou filho da minha mãe e nem do meu pai.
Minha mãe verdadeira se chama Rosa.
- Como assim? Conte-me isso!
Contei pra ele toda a história de como encontrei a Rosa e tudo o
que aconteceu dentro da minha casa.
- Não acredito, Jorge. Você deve estar confuso com tudo isto.
- Não sei o que fazer, senhor Simon. Deixei tudo e vim pra cá
pra ver se Jesus falava comigo, mas Ele não me respondeu.
- E não vai responder, Jorge!
- Por que não?
- Você, agora, está com muita raiva e ódio no coração, não
consegue perdoar. Isto faz com que haja um bloqueio de
MARCELO MENA
292
comunicação entre você e Deus. Por isto me mandou aqui, pra te
ajudar.
- Eu não sei o que fazer.
- Você se lembra do que Jesus te disse, sobre descobrir o que há
de verdade, mesmo sendo mentira, Jorge?
- Sim, me lembro. Como enxergar a verdade, se a mentira é o
que mais aparece?
- Tente lembrar alguma coisa boa que sua mãe, ou o seu pai
tenham feito, que você realmente possa dizer que eles o amam.
- Não vou conseguir. Só consigo ver as coisas ruins de meu pai e
agora entender o motivo.
- E qual o motivo, Jorge?
- Eu sou adotado.
- Está bem. Então, vamos nos lembrar do que aconteceu no
hospital, quando você se encontrou com o Gabriel, e você teve
que orar por uma criança.
- O que tem?
- Você se lembra como a mãe ficou quando soube que ela havia
morrido?
- Desesperada. Sem saber o que fazer, pois ela havia perdido a
filha.
- Isto mesmo! E como você acha que ela ficou quando soube
que a filha tinha voltado?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
293
- Minha mãe, que não é minha mãe, falou que ela foi à igreja e
estava muito feliz pelo milagre.
- Sim. Agora, imagine quando a sua mãe verdadeira teve que te
entregar, quando ainda era pequeno, você acha que foi fácil?
- Mas ela me trocou por dinheiro.
- Acredito que não foi bem pelo dinheiro, Jorge. Foi pela sua
sobrevivência que ela aceitou isto, senão, estaria jogada na rua e
sem ter como alimentar o seu filho. Ela, depois que conseguiu se
recuperar, voltou. Imagine como foi a angústia de ver o filho e
não poder abraçá-lo, ou falar com ele.
- Eu fiquei triste por ela e pela situação, mas minha mãe podia
ter me contado a verdade?
- É, Jorge. A sua mãe podia ter te contado a verdade, desde
pequeno, mas ela nunca saberia o que seria ter um filho de
verdade, pois se você soubesse disto tudo nunca a trataria como
mãe, sempre a trataria como uma tia ou algo parecido, pois a sua
mãe seria outra.
- É difícil processar tudo isto na minha cabeça.
- Tenho certeza, Jorge que ela e seu pai fizeram isto achando
que era o melhor. Sabiam que um dia podia correr o risco de
você saber de tudo e deixá-los pra sempre, mas arriscaram, para
ter a oportunidade de serem pai e mãe de um jovem tão
maravilhoso.
- E o que vou fazer agora, senhor Simon?
- Quando estávamos naquele túnel, dentro do monte Sinai e o
isqueiro apagou, você se lembra?
MARCELO MENA
294
- Sim, que dificuldade foi naquela hora.
- Se ficássemos ali, parados, esperando uma solução,
poderíamos ter ficado por lá e morrido. Mas o que fizemos?
- O senhor disse pra ir apalpando e seguindo em frente.
- E o que aconteceu?
- Nos machucamos, caímos e nos arranhamos, mas seguimos até
achar a saída.
- Isso mesmo, Jorge! Então, a partir de agora, você vai andar por
caminhos bem diferentes, mas encontrará a saída de tudo isto,
não precisa correr, o importante é não parar. Veja o lado bom.
- Lado bom?
- Sim. Agora, você terá a oportunidade de ajudar uma mãe que
há dezessete anos espera muito ter o abraço do filho, e a outra
mãe entender que criou um filho de verdade, com caráter e
dignidade, que sabe reconhecer tudo o que fizeram por ele e que
é capaz de enfrentar obstáculos, mesmo que difíceis, mas de
cabeça erguida.
- O que devo fazer agora, senhor Simon?
- Primeiro, perdoar todos eles pela verdade que esconderam por
tanto tempo.
- Entendi. Só estou preocupado com uma coisa.
- E o que seria?
- No próximo dia das mães vou ter que comprar dois presentes?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
295
- Com certeza, três.
- Três?
- E a sua tia que tanto te ajudou?
- É verdade. Acho bom o senhor me dar um aumento.
- Assim que você voltar a trabalhar, a gente conversa. Venha
aqui, me dê um abraço, garoto. É por isto que gosto de você,
Jorge. Você tem um coração maravilhoso.
Nos abraçamos, e vou dizer, foi algo maravilhoso o que o
senhor Simon me fez ver. Agora, podia voltar e falar com meus
pais e minha nova mãe.
- Vamos voltar.
- Claro, senhor Simon.
- Graças a Deus, pois estou morrendo de fome. Da próxima vez
que a Grande Sabedoria me mandar fazer algo assim, vou pensar
em trazer um lanche.
- Jesus sabia de tudo isto e queria que esta situação fosse
resolvida, para que a minha mãe não passasse a vida toda
omitindo uma verdade, senhor Simon.
- É verdade, Jorge! Ele quer que todos andem na verdade.
- O senhor vai comigo pra minha casa?
- Não, Jorge! Agora, você vai sozinho e resolva tudo, se precisar
de mim é só ligar.
- Obrigado, Senhor Simon.
MARCELO MENA
296
Ele foi para sua casa e corri de volta pra minha. Quando
cheguei, minha mãe estava sentada na sala com meu pai, os dois
estavam chorando. Quando minha mãe me viu, correu me
abraçar.
- Onde você estava, filho?
- Estava conversando com um grande amigo, o senhor Simon.
- A gente pode conversar agora, Jorge?
- Sim, mãe, me perdoe por ter saído assim, não sabia o que
fazer.
- Jorge, nos perdoe por não ter lhe contado antes. – Disse ela.
- Entendi porque fizeram isto e obrigado por serem meus pais.
Então, me sentei. Minha mãe e meu pai me abraçaram forte e ela
me contou toda a história:
- Jorge, seu pai e eu não podíamos ter filhos, mas tínhamos o
desejo de adotar uma criança. Foi quando o Humberto, amigo de
seu pai, nos procurou pedindo ajuda. Sua mulher estava grávida
e ele estava sem trabalho, mas queria encontrar um irmão dele
que morava em outro Estado e acreditava que poderia ajudá-lo.
Então, seu pai procurou, na época, o pastor Nilson da igreja,
para ver se tinha como ajudá-los, quem sabe arrumando um
lugar para eles ficarem ou achando emprego, até ele ir à busca
deste irmão. O pastor Nilson não quis fazer nada, pois dizia que
os dois não eram casados, por isso Deus o estava castigando, a
igreja não aceitava pessoas assim. Chico pegou algumas
economias, que davam o dinheiro da passagem, e uma vizinha
arrumou um quarto pra eles ficarem. Assim, você nasceu e seu
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
297
pai Humberto foi atrás deste irmão. Infelizmente, ele acabou
falecendo num acidente, deixando a mulher com a criança
pequena. Então, fomos até lá, pra ver como ela estava. O que
vimos ali foi terrível, o lugar não tinha nada, apenas um
pequeno colchão em que você dormia, enquanto ela dormia no
chão gelado, com apenas um lençol. Não tinha nada pra comer.
No dia que chegamos, fazia dois dias que ela não comia e estava
ficando sem leite. Então, arrumamos alguns alimentos e o Chico
te pegou no colo, naquele momento, você sorriu pra ele, foi a
primeira vez que vi seu pai chorar. Ele, então, disse que
venderia o carro e daria este dinheiro pra ela poder sair daquela
situação, se quisesse, cuidaríamos da criança dando roupa,
alimento, estudo e educação. Nós não poderíamos levá-la pra
casa, devido à igreja, senão, seríamos excluídos. Por isso,
deveria nos passar a criança, então, ela, sozinha, ficaria mais
fácil de arrumar emprego, quem sabe, um novo marido, mas
deveria esquecer-se do bebê e nunca mais voltar. Vendo que não
teria outra opção, aceitou e a ajudamos em tudo que foi preciso,
sem o pastor Nilson saber. No dia em que ela foi embora, fomos
até a rodoviária e, lá, ela nos entregaria o bebê. Aquela jovem
chorou demais e não queria se separar do bebê, até que me
entregou, te deu o último beijo e se foi. Ainda guardo a sua
roupinha, a que você usou naquele dia. Voltamos pra casa e
decidimos que você seria nosso filho, ninguém diria o contrário.
Seu pai fez de tripa coração para trabalhar sem carro, quantas
vezes ia buscar televisão nas costas, consertava e levava de
volta. Ás vezes eu dizia pra ele: Você se arrepende de ter
vendido o carro e ter pegado este bebê. Ele me olhava e dizia:
Eu venderia até a casa, se fosse possível, pra ter este menino
comigo, Maria! Ele só nunca soube demonstrar este amor,
Jorge.
MARCELO MENA
298
Nesta hora, corri até ele e o abracei como nunca. Vi aquele
homem gordo chorar feito criança.
- Me perdoe, Jorge.
- Perdoar o senhor por me amar?
- Sempre fui um ignorante e rude, mas sempre quis te dar uma
boa educação, para que você pudesse ser um grande homem.
- E conseguiu, seu velho Chico. Eu te amo! E quero que saibam
que sempre serão os meus pais de verdade.
Minha mãe nos abraçou e choramos muito naquele momento.
- Jorge, quando você viajou, meu coração doía muito,
principalmente quando não tinha notícias tuas. Fiquei pensando
como a sua mãe verdadeira deve ter ficado sem ter você. Por
isso, precisamos encontrá-la e conversarmos.
- Sim, mãe! Agora, não sei onde ela vai estar, a deixei com a
Sandra na loja e saí correndo de lá.
- Ligue para a Sandra. Acho que ela deve saber onde está a
Rosa. – Disse meu pai.
Fui até o quarto e liguei pra Sandra. Ela estava muito nervosa.
- Oi, Sandra.
- Jorge, como você está?
- Agora estou melhor.
- Fiquei preocupada. Você saiu que nem um louco da loja e me
deixou lá.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
299
- Desculpa, Sandra, a minha cabeça deu reboliço.
- Imagino. Você conversou com os seus pais?
- Sim. Agora, eu precisava conversar com a dona Rosa.
- Então, venha pra minha casa, ela está aqui com minha mãe.
Quando você saiu, liguei pra minha mãe e ela veio na loja. Pediu
pra Rosa nos acompanhar, preparou um calmante pra ela e agora
está descansando.
- Estou indo, Sandra!
Logo que desliguei o telefone, minha mãe ligou para o meu tio
Fred. Ele disse que estava tudo bem com minha tia, foi apenas
um mal estar, logo estariam voltando pra casa e amanhã
conversaria conosco. Saímos de casa e fomos à casa da Sandra.
Chegando lá, ela nos recebeu e nos convidou para entrar.
- E aí, Jorge, como você está se sentindo?
- Ai, Sandra, ainda estou muito estranho.
- Que bomba de notícia hoje! Vamos entrar, ela está na sala,
esperando vocês.
Entramos na sala e a Rosa estava com os olhos inchados de
tanto chorar. Ficou me olhando e esperando a minha reação. Eu
não sabia o que fazer, ali estava uma mulher totalmente
estranha e era a minha mãe. Foi quando recebi um empurrão da
Sandra que me jogou em direção à Rosa. Ela, então, veio ao
meu encontro e me abraçou forte, começamos a chorar e ela não
parava de pedir perdão.
- Perdão, perdão, perdão, meu filho, por tudo que fiz!
MARCELO MENA
300
- Mãe, a senhora está perdoada.
- Você me chamou de mãe?
- Sim. Agora eu sei que é a minha mãe.
- Eu queria muito reparar o meu erro, mas não posso filho.
- A senhora fez o que era certo naquele dia, me deixou com um
casal maravilhoso, que me ensinou tudo o que sei. Eles
souberam fazer tudo certinho. Infelizmente, foi preciso
acontecer desta forma. Então, não se culpe pelo que passou,
vamos seguir daqui pra frente, sendo uma família maior.
Minha mãe, Maria, ficava olhando aquela cena, como se
estivesse perdendo um filho, então, virei pra ela e a chamei
naquele abraço.
- Venha, Mãe! A senhora também é minha mãe. Agora, tenho
duas: A mãe Rosa e a mãe Maria.
As duas, então, se abraçaram e choraram muito. Depois de tanto
abraço e tanto choro, nos sentamos no sofá. Minha mãe Maria se
sentou do meu lado direito e a Rosa do lado esquerdo. A Sandra
ficou olhando e disse:
- Agora é que quero ver. Pra namorar o Jorge, vou ter que
enfrentar duas sogras ciumentas?
As duas caíram na risada.
- Agora, me diga, mãe Rosa, você se casou de novo? Tenho
irmãos ou irmãs?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
301
- Não, Jorge, estive sempre sozinha. Desde o dia que te deixei,
prometi a mim mesma que iria refazer a minha vida, depois,
voltaria pra te buscar. Era difícil viver sem você, ficava um
vazio dentro de mim. Trabalhei em vários lugares e tudo que
ganhava ia guardando. Queria juntar o dinheiro que o Chico
havia me dado, para devolvê-lo, acreditando que assim poderia
ter você de volta. Assim fiz, com juros e um pouco mais, juntei
este dinheiro e resolvi voltar pra cá. Aluguei uma pequena casa
e consegui um trabalho. Comecei a te procurar, até que um dia,
achei a eletrônica de seu pai e te vi brincando com a Sandra, do
lado de fora. Todos os dias ficava te espiando de longe, e
descobri que você estava muito feliz com esta família, não podia
estragar. Isto me causou muita dor, fui internada várias vezes
por depressão, pois sabia que nunca iria conseguir ter você de
volta, e mesmo que conseguisse, nunca te daria a alegria de ter
uma família. Um dia, estava no mercado e uma de minhas
sacolas se rasgou, derrubando tudo no chão, de repente um
jovem se aproximou e me ajudou, quando percebi, era você,
Jorge. Eu estava perto do meu filho, ali, naquele momento, e
você sorriu pra mim e disse pra não me preocupar que você iria
colocar tudo dentro de uma nova sacola. Como queria te abraçar
e dizer que te amava, mas como aquele garoto iria reagir? Fiquei
muda, sem fala. Você me deu a sacola e saiu sorrindo, não
consegui dizer um obrigada para o meu filho.
- Nem imaginava que aquela mulher no mercado era você.
- Sim, Jorge era eu mesma. Fiquei ali, parada, pensando o que
poderia ter feito, mas você foi embora. Fui muito boba,
pensando que conseguiria devolver o dinheiro e ter você de
volta. Então, resolvi me afastar e ficar de longe. Fiquei pedindo
a Deus uma oportunidade de que tudo se resolvesse.
MARCELO MENA
302
- É, dona Rosa, Deus atendeu o teu pedido.
- Vai se acostumando, Rosa, que este menino, às vezes, me
chama também de dona Maria.
- Eu gostaria, seu Chico, de devolver o dinheiro daquele carro
que o senhor havia vendido pra me ajudar. – Falou a Rosa, se
levantando e indo na direção do meu pai com um cheque nas
mãos.
- Não precisa, Rosa, aquele dinheiro era pra ajudar você,
naquele momento difícil. Entenda, foi um presente. Faça o
seguinte, você já tem onde morar? – Perguntou o meu pai.
- Eu alugo uma pequena casa. – Ela respondeu.
- Então, utilize este dinheiro pra comprar uma casa pra você.
- Olha, seu Chico, não sei como agradecer.
- Que legal. A casa do Bueno está vendendo e fica perto da
nossa, se você comprar lá, poderá morar perto da nossa casa. –
Falei pra minha mãe Rosa.
- Eu gostaria de ter uma casa com um belo quarto pra você,
Jorge. Quando você quiser passar uns dias comigo terá onde
ficar, pode ser, Maria e Chico? – Disse a minha mãe Rosa, me
abraçando de novo.
- Acredito que vocês terão sim, muito tempo pra ficar juntos.
Não se preocupe, vou deixar sim. Sei que você precisa muito
dele ao teu lado. Vai doer um pouco em mim, mas sei o quanto
doeu em você este tempo todo. – Falou minha mãe Maria.
- Não se preocupem, amo vocês duas. – Eu disse.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
303
- Estou vendo que vou ter que dividir o meu tempo também. –
Falou a Sandra, colocando as mãos na cintura
- Calma, Sandra, vou ter tempo pra todas.
- Eu sei que vocês precisam conversar muito, mas posso levar o
Jorge pra passear um pouco e depois a gente volta?
- A Sandra tem razão vou deixar vocês duas conversando e
depois a gente volta. – Falei.
Então, saímos da casa e fomos até uma praça próxima. Ali
ficamos sentados conversando.
- Fiquei muito preocupada com o que aconteceu, mas estou
aliviada em saber que tudo deu certo, Jorge.
- Não vou dizer que é fácil, Sandra, mas como disse o senhor
Simon, será um dia por vez.
- O que achei interessante foi Jesus te mandar justo na loja em
que ela trabalhava.
- O que Ele queria era que tudo se resolvesse, e eu achando que
ele queria que aproveitasse a promoção.
- Por isso estava achando muito estranho, Jorge.
- Eu sei, mas o que Jesus queria era que minha mãe Maria
ficasse livre da culpa de mentir e minha mãe Rosa conseguisse
ter seu filho de volta. Ainda é estranho saber que tenho duas
mães.
- O pior é ter duas sogras.
- É verdade, mas no fim tudo dará certo, Sandra.
MARCELO MENA
304
Assim, passamos a tarde conversando e rindo bastante de tudo, e
quando voltamos, tudo já estava tranquilo. Fui levar minha mãe
até a sua casa. Ela morava próximo à loja onde trabalhava e era
um pequeno quarto com cozinha e banheiro, mas tudo bem
arrumado e limpo. Ficamos conversando. Ela me preparou um
café delicioso, que me fez lembrar aquele café que tomei na
cafeteria com o Francisco, no Egito. Ali ficamos um bom tempo
conversando e ela me contando tudo que passou.
- Mãe, deixa te fazer uma pergunta?
- Claro, Jorge!
- A senhora já conheceu Jesus?
- Nunca fui à igreja, Jorge. Seu pai era de uma igreja, mas havia
se afastado por decepção, por causa de algumas pessoas. Ele lia
muito a Bíblia, eu tenho guardada comigo até hoje, mas nunca
li. Devo ter guardado dentro de uma caixa.
- E o Humberto falou de Jesus pra senhora?
- Sim. Várias vezes.
Ela foi numa pequena cômoda, que estava do lado de sua cama,
retirou uma pequena caixa de sapato, de dentro tirou uma bíblia
pequena, bem surrada.
- Olha, Jorge está aqui.
Ela me entregou. Quando abri a bíblia havia um pequeno pedaço
de papel escrito.
- O que é este papel?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
305
- Não sei, Jorge. Como disse, nunca abri esta bíblia.
- Posso ler? Parece ser um recado do Humberto.
- Sim, leia.
- Diz assim:
“Meu amor, Rosa, sei que estamos numa situação bem apertada,
estou indo ver se encontro meu irmão. Estou pedindo a Deus
que me ajude encontrá-lo e que Ele te guarde com nosso filho.
Saiba que amo vocês. Se acaso acontecer alguma coisa, nunca
perca a fé. Deus vai te ajudar a fazer o que é correto, pois sei
que nosso filho é um escolhido Dele. Leia este livro e nunca se
esqueça de falar com Deus. De seu amor, Humberto.”
Neste instante a Rosa começou a chorar.
- Jorge, parece que ele sabia o que ia acontecer.
- Uma coisa eu tenho certeza, meu pai conhecia este Jesus.
Acredito que ele queria que você também o conhecesse.
- E como faço isso?
- É simples, é só você abrir o coração e acreditar Nele, sabendo
que morreu pelos nossos pecados e nos trouxe a salvação.
- Você, falando, lembra seu pai. Como gostaria que ele te visse.
- Neste ponto, a senhora pode ficar despreocupada, pois ele viu.
- Como assim?
- É uma longa história, quem sabe um dia eu te conto, mas quero
te convidar um dia destes ir comigo à igreja.
MARCELO MENA
306
- Não sei, é meio estranho, acho que vou parecer um peixe fora
d’água.
- Isto é normal. Quando a senhora chegar lá, as pessoas vão vir
te conhecer e você vai se sentir amada e importante, vai te
ajudar muito.
- Então eu vou.
- Que bom. Domingo eu passo aqui e te levo. Assim, a senhora
vai conhecer meu amigo, senhor Simon.
- Seu pai, Chico, me falou deste homem. Gostaria de conhecê-
lo.
- Pode deixar. Domingo será um grande dia, mas tenho que ir.
Vou deixar você descansando e amanhã a gente se vê na loja,
pois preciso buscar meu tênis.
- Está certo, Jorge!
Ela me abraçou forte e não parava de me beijar. Quando saí fui
direto pra minha casa. Chegando lá, meu pai estava no telefone
e minha mãe ansiosa ao seu lado.
- O que está acontecendo, dona Maria?
- A tua tia.
- O que tem a tia?
- Ela entrou em trabalho de parto quando estava pra sair do
hospital, e já deu a luz.
- Como assim, já nasceu?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
307
- Sim, é um casal! Seu tio está falando com seu pai.
- Mas está tudo bem?
- Sim, disseram que foi tudo bem, estão descansando agora, mas
amanhã a gente pode visitá-los.
- Meu Deus, é uma notícia atrás da outra.
- Nem me fale, Jorge.
Meu pai desligou o telefone. Nos contou que tinha ido tudo
bem, minha tia estava bem e as crianças também. Só meu tio
que machucou um pouco a cabeça, pois quis participar e ver o
parto, quando saiu a primeira criança, tiveram que socorrê-lo,
pois havia desmaiado. Assim, rimos um pouco e depois fomos
dormir, aguardando pelo outro dia que também estaria cheio de
coisas pra fazer.
MARCELO MENA
308
Capítulo 14
Consertando a Máquina
Logo pela manhã, minha mãe me acordou bem cedo.
- Vamos, Jorge, hoje é dia de trabalhar.
- É verdade, mãe, foram tantas coisas que nem me lembrava.
- Vai tomar um café que já preparei.
- A senhora vai ao hospital hoje?
- Sim, vou esperar a Tânia chegar e vou pra lá. Já deixei quase
tudo pronto, quero ver a sua tia e seus primos. Você vai lá vê-
los?
- Vou esperar a tia voltar pra casa, não gosto muito de hospitais.
- Está certo. Não se esqueça de levar uma lembrancinha, Jorge.
- Sim, vou ver com a Sandra o que compro depois.
Então, tomei o café com um pedaço de bolo e meu pai já estava
lendo o jornal.
- Olha, Jorge, saiu aqui no jornal que lá no monte Sinai houve
um terremoto e encontraram uma fonte de água corrente. Vai
ajudar muito aquele local. Você passou por lá?
- Passei, pai, é muito bonito.
- E chegou a ver este rio?
- Vimos de muito perto.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
309
- Que oportunidade você teve! – Falou ele, balançando o jornal.
- Estou indo trabalhar, depois a gente conversa pai.
- Sim, estou só esperando sua mãe pra irmos ao hospital.
Saí de casa e chegando à casa do senhor Simon, vi que ele
falava ao telefone, em inglês, já imaginava quem era. Entrei no
laboratório e vi a máquina com boa parte desmontada e várias
caixas sobre a mesa, eram as novas placas. Então, o senhor
Simon entrou pela porta.
- Teremos muito trabalho pra trocarmos as placas hoje, Jorge.
- Pensei que o senhor ia desistir de viajar de novo.
- Você viu quanta coisa aprendemos com esta máquina? Já
sabemos até o que aconteceu com a primeira geração.
- Sim, é verdade, senhor Simon.
- Já pensou em viajarmos há, mais ou menos, um bilhão de anos
atrás, encontrarmos esta civilização avançada e ainda irmos pra
outros planetas, até pra Terra-b?
- Fico com uma vontade imensa de ir, mas só de pensar o que já
passamos e o que ainda pode acontecer, fico até com frio na
barriga, senhor Simon.
- Que nada, Jorge, será outra aventura incrível.
- Mas dá pra esperar um pouco?
- Sim, claro, até instalarmos tudo e regularmos vai demorar.
- Que bom.
MARCELO MENA
310
- E como foi a conversa com suas mães, Jorge?
- Eu sei por que o senhor está puxando assunto, é só pra desviar
a minha atenção, não é?
- Atenção?
- É. Só pra não perguntar com quem o senhor estava no telefone.
- Imagina, não tenho nada pra esconder, Jorge.
- Sim, claro. Estava namorando no telefone.
- Pare com isto! Estava conversando com a Tatuhãna, minha
amiga.
- Eu e a Sandra éramos amigos também.
- Isto é bem diferente. Nós já somos maduros e sabemos separar
amizade de amor.
- Sim, senhor. Estou vendo como são maduros!
- Não vou discutir esta questão com você, Jorge.
- Está bem, só estava brincando. E ela, como está?
- Ela disse que devolveu tudo que o Muled havia roubado e
pretende viajar para o Brasil, para passar uns dias conosco.
- Que bonito, quer conhecer onde o senhor mora?
- Jorge, vamos trabalhar!
- Está certo!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
311
Assim, ficamos trabalhando e o senhor Simon estava bem
empolgado com tudo. Passamos muitas horas trabalhando e após
todo este trabalho saí, fui até a casa da Sandra e fomos juntos até
a loja onde minha mãe, Rosa, trabalhava. Quando chegamos,
fomos recebidos pela mesma vendedora.
- Vieram buscar o tênis, certo? – Perguntou a vendedora.
- Sim, mas é que viemos... – Nem deu tempo de responder, ela
já falou:
- Espere que eu já trago.
Ela saiu em disparada para o depósito e nem tive tempo de
avisá-la que estávamos ali para, também, ver a minha mãe.
- É, Jorge, ela está querendo ganhar a comissão dela com a
venda, não quer perder tempo! – Disse a Sandra.
Neste instante, minha mãe apareceu e veio falar conosco.
- Oi, filho, tudo bem? E você, Sandra, tudo bem?
- Sim, dona Rosa, viemos buscar o tênis do Jorge.
- Já está guardado lá no balcão, venham comigo.
Fomos até o balcão e a dona Délia tirou debaixo do balcão uma
caixa, toda embrulhada com papel de presente e falou:
- Está aqui o seu presente, Jorge!
- Mas eu vou pagar o tênis, dona Délia.
- De forma nenhuma, aqui o filho da nossa amiga tem
privilégios. Isto é um presente nosso pra você.
MARCELO MENA
312
- Não sei nem o que dizer.
- Fala obrigado, Jorge.
- Eu sei, Sandra.
Nesta hora, a vendedora apareceu com outra caixa na mão.
- Está aqui o tênis.
- Não precisa, Gabriela, estamos dando de presente pra ele. –
Respondeu a dona Délia.
- É brincadeira, né? Duas vezes tento vender o tênis para o rapaz
e vocês me atrapalham, assim como vou receber minha
comissão? – Falou a vendedora.
- Calma, depois a gente conversa. – Falou a Délia.
A moça saiu resmungando algo que não deu pra ouvir.
- Olha, muito obrigado. – Agradeci.
- De nada. Pra você, mocinha, este presente.
Ela retirou do balcão uma caixa pequena, toda embrulhada, e
entregou pra Sandra.
- Pra mim, dona Délia?
- Sim, a namorada também merece, mas lembre de que estamos
fazendo isto pra sermos convidadas para o casamento.
- Obrigada, é um belo colar. É lógico que vamos te convidar
para o casamento.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
313
A Sandra ficou toda empolgada com o colar, a ajudei a colocar,
então, passamos um tempo ali conversando com minha mãe, já
que não tinha tanto movimento na loja, depois, fomos até uma
outra loja comprar um presente para os bebês que nasceram.
Levei a Sandra até a sua casa, e enquanto estávamos do lado de
fora conversando, o pai dela chegou.
- Oi, Jorge!
- Oi, seu Anselmo!
- Tenho uma boa notícia pra vocês. – Disse ele.
- E qual é? – Perguntou a Sandra.
- O Antônio do bar está se recuperando muito bem, acredito que
no domingo estará conosco na igreja.
- Que boa notícia, pai.
- É verdade, estou ajudando ele. Graças à sua namorada, a
recuperação está sendo ótima, pois quando a pessoa sente que é
querida, consegue vencer muito mais rápido o vício.
- Namorada? Perguntei.
- É uma moça chamada Valete.
- É Valdete, pai!
- Sim, este nome mesmo. – Falou o Anselmo, arrumando a sua
gravata.
- Ela está namorando ele? – Perguntou Sandra.
MARCELO MENA
314
- É, Sandra, acho que a Valdete sempre foi apaixonada por ele,
mas como era um bêbado, ela não queria saber. Agora, pelo
jeito, está ajudando a sair do vício.
- É, Jorge, todos os dias ela vai visitá-lo na clínica e passa um
bom tempo com ele. E você, como está? Fiquei sabendo sobre
sua mãe.
- Estou bem. Tentando compreender tudo.
- Imagino. Estou pronto a te ajudar no que precisar, Jorge.
- Obrigado, seu Anselmo.
- Mas deixa entrar e descansar um pouco. Até mais, Jorge!
Seu Anselmo entrou assoviando. Ele, pelo jeito, estava muito
feliz.
- Meu pai está muito feliz em poder ajudar na clínica, onde ficou
internado muito tempo.
- Estou vendo, Sandra.
- Estava pensando numa coisa agora.
- E o que seria Sandra?
- Deus faz as coisas perfeitas mesmo, não é?
- Como assim, Sandra?
- Os seus tios vão dar mais atenção aos bebês agora do que a
você. Deus, pensando nisto, apresentou sua nova mãe, então,
você continuará sendo mimado, mas agora não com os seus tios.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
315
- Sem graça. Eu não sou mimado.
- Eu sei, seu bobão, quem vai te mimar sou eu.
- Vamos amanhã à casa deles ver os bebês?
- Claro! Mas só poderei ir no final da tarde, pois tenho que
ajudar minha mãe no artesanato.
- Sem problemas, passo aqui no final da tarde pra irmos juntos.
Então, nos despedimos e fui para minha casa. Já estava escuro e,
no caminho, passei pela praça. Havia poucas pessoas e vi que
havia um jovem sentado em um banco de cimento, quando me
aproximei vi que era o Nando.
- Nando, é você?
- Oi, Jorge.
- O que faz aqui na praça? Fiquei sabendo que estava preso.
- A gente faz cada burrice, Jorge.
- Me fale, o que aconteceu?
- Estava com meus amigos, bebendo na lanchonete e eu não
sabia que eles tinham formado uma gangue, então, disseram que
se eu queria continuar com eles, teria que participar do próximo
ataque.
- Eu não acredito, Nando, que você foi.
- Não podia perder meus amigos, Jorge!
- Amigos? Você os chama de amigos?
MARCELO MENA
316
- O que você queria, Jorge? Eu não sou que nem você, todo
certinho que tem um monte de gente ao seu redor. Na minha
casa, ninguém liga pra mim, se estou bem ou não. Pra você ter
ideia, foi meu tio que me buscou na delegacia, pois meus pais
estavam numa festa.
- Eu sei, Nando.
- Não sabe, Jorge. Eu aceitei ir porque queria continuar o
vínculo de amizade, foi quando eles resolveram pegar o Antônio
do bar e ele nem reagiu. Eu fiquei assustado e fugi de lá. Ver o
rosto do Antônio, sentindo dor, foi terrível, não consigo tirar isto
da minha mente. Fiquei em casa por alguns dias e quando
resolvi sair, a polícia me prendeu, pois haviam pegado uma
filmagem, onde me viam com eles.
- Mas você não chegou a participar do espancamento do
Antônio?
- Não! Por isto o delegado me soltou, mas terei que responder o
processo, por ser daquele grupo.
- Eu nem sei se o Antônio morreu.
- Ah, Nando, o seu Antônio está bem, conseguiu sobreviver e
domingo irá à igreja.
- Que bom, Jorge, fico mais aliviado.
- Nando, acho que você precisa de um novo amigo.
- Mas você já é meu amigo.
- Sim, estou falando do melhor amigo que alguém possa ter.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
317
- E quem é ele?
- É Jesus!
- Lá vem você, querendo me converter pra sua igreja.
- Não, Nando! Estou te apresentando Jesus, não uma Igreja.
- Como assim, não é tudo a mesma coisa?
- Não. Jesus é aquele que morreu pra nos tirar do pecado e nos
dar uma nova vida. A Igreja nada mais é do que um grupo de
perdidos, perdoados por Jesus, que se juntam para cultuar e
agradecê-lo pela salvação.
- E ele perdoa as nossas escolhas erradas?
- É claro. Ele te aceita como está e te ajuda enfrentar as
dificuldades da vida, te garantido uma vida eterna.
- E como faço pra ter isto?
- É só você falar que o aceita em seu coração, que a partir de
hoje vai segui-lo.
- Só isso?
- Sim, Nando! É simples.
- Olha, Jorge, é muito simples, prefiro continuar como estou, e,
sem querer ofender, não quero ser careta que nem você.
- Nando, ser um Cristão não é ser careta.
MARCELO MENA
318
- Tem que fazer tudo certinho. Prefiro a vida louca, Jorge. Pare
de falar nisto, o dia em que eu precisar da religião, eu te
procuro. Tchau.
Ele, então, saiu correndo em direção à sua casa. É difícil
reconhecer que certos amigos não levam Jesus a sério, fui
embora triste. Cheguei em casa e meu pai estava assistindo a
TV, minha mãe na cozinha, limpando.
- Boa noite, pai.
- Boa noite, Jorge. Você tem que ver os seus primos.
- São bonitinhos?
- Que nada, parecem com o seu tio.
- Então são feios, pai?
Minha mãe deu um berro na cozinha.
- Que isso, Chico! As crianças são lindas!
- O Jorge, amanhã, vai vê-las e aí quero ver o que ele vai falar.
Minha mãe veio da cozinha, dizendo:
- Seu pai é chato, Jorge! Nem ligue pra ele, venha comer, a sua
janta está pronta.
Fui até a cozinha e como sempre, minha mãe não para de fazer
as coisas, parece que quando ela vê tudo limpo, começa a fazer
um bolo, ou um doce, pra sujar de novo.
- Estou morrendo de fome, mãe!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
319
- Chegou tarde hoje, Jorge.
- Estava conversando com o Nando.
- Ele não estava preso?
- Foi solto, porque estava com o grupo, mas não agrediu o
Antônio.
- Menino sem juízo.
- Conversei com ele.
- Tomara Deus que ele consiga sair desta vida.
- Acho que é meio difícil, só quando entrar numa situação
terrível é que vai se arrepender.
Assim, ficamos conversando na cozinha e meu pai acabou
cochilando no sofá. De onde estávamos, podíamos ouvir o ronco
dele. Minha mãe, então, o acordou e o levou para o quarto.
Assim, também fui dormir, já de barriga cheia.
MARCELO MENA
320
Capítulo 15
Ana e Pedro
Comecei o dia trabalhando com o senhor Simon. No final da
tarde, fui com a Sandra e minha mãe, Rosa, até a casa dos meus
tios, para conhecermos as crianças. Ao chegarmos no portão da
oficina, estava fechado, meu tio estava cuidando da minha tia e
dos bebês, por isso, não tinha tempo para consertar os carros.
- Vamos entrar!
- Acho melhor você bater palma, Jorge! Eu sou uma estranha,
eles não me conhecem.
- Que nada, mãe, vamos entrar. Com meus tios não há problema.
- Pode ficar tranquila, dona Rosa, eles vão gostar da senhora.
Enquanto estávamos conversando na calçada, meu tio apareceu
na janela e gritou:
- Ô Ruela! Vai ficar aí na rua?
- Estamos entrando, tio!
- Quem é Ruela?
- Sou eu, mãe, é o apelido que ele me colocou.
- Que apelido feio. Não gostei. – Falou minha mãe com uma
cara fechada.
Entramos na casa e minha tia estava no quarto com as crianças.
Meu tio nos recebeu na sala.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
321
- Oi, tio, meus parabéns!
- Obrigado. Saiba que eu merecia um prêmio!
- Prêmio? – Perguntei.
- Sim, as crianças são as mais lindas do mundo. – Respondeu
ele, sorrindo.
- Não posso falar nada, ainda não vi. Esta aqui é minha mãe,
Rosa.
- Muito prazer, dona Rosa. Então a senhora é a mãe do Ruela?
- Prazer em conhecê-lo, mas sou mãe do Jorge e não do Ruela.
- Desculpe, é apenas um apelido carinhoso. – Falou meu tio sem
graça.
- É um apelido muito feio, pra um menino tão lindo. – defendeu
minha mãe.
A minha tia veio até a porta e se apoiou sobre uma cadeira.
- É isso aí, dona Rosa, já gostei da senhora! Esse Fred precisava
ouvir isto. Eu sou a Fábia.
- Muito prazer em conhecê-la.
- Entre aqui, venha ver os bebês. Pode vir, traga ela aqui,
Sandra.
- É, Ruela, acho que sua mãe não gostou de mim. – falou meu
tio, bem baixinho no meu ouvido.
- Gostou sim, o que ela não gostou foi do apelido.
MARCELO MENA
322
Entramos no quarto e tudo estava arrumado para os bebês, até
um carrinho duplo estava encostado perto do berço. As crianças
eram bem pequeninas e estavam dormindo, um com uma manta
rosa, ou outro com uma manta azul. E pareciam mesmo com
meu tio.
- Você viu, Jorge, estão falando que os dois parecem com seu
tio. – Disse minha tia com todo orgulho.
- Meu pai falou o mesmo.
- Eles puxaram a beleza do pai e a fome da mãe, Ruela!
- Fred! Pare de chamar o Jorge assim, porque agora são duas
contra você.
- Está bem, desculpe!
- Tem uma caixa de videogame ali em cima, tia?
- Esse foi um presente do Simon! Ele disse que é pra quando
eles estiverem maiores.
- Posso pegar eles um pouquinho, dona Fábia?
- É claro, Sandra!
A Sandra pegou o menino e minha mãe, Rosa, pegou a menina.
- Que belezinhas, dona Fábia!
- Foi um presente de Deus pra nós. Tanto tempo esperando, e,
através da oração do Jorge, fui abençoada.
- Verdade? Isto o meu filho não contou.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
323
- Pelo jeito, vocês ainda tem que atualizar muita coisa. Até pra
nós está sendo difícil assimilar toda esta história, mas quero que
você saiba que Jorge continua sendo nosso filho.
- Obrigado, Tia! Qual é o nome deles?
- Eu e o seu tio já decidimos, será Ana e Pedro.
- Que nomes bonitos, dona Fábia! – Falou Sandra, carregando a
Ana.
- Obrigada. Foram nove meses tentando achar os nomes.
- Ô Ruela. Desculpa. Jorge, venha aqui na sala um pouco, deixe
as mulheres conversarem sobre os bebês.
Deixei elas no quarto e fui pra sala. Meu tio foi até a estante e
retirou alguns papeis.
- Como que você gastou tanto com o cartão? – Perguntou o meu
tio, olhando bem sério pra mim.
- Ai, tio, me desculpa! Eu ia te explicar, é que houve alguns
imprevistos.
- E quantos imprevistos!
- Vou pagar tudo pro senhor!
- Não precisa, Jorge.
- Não?
- O Simon já depositou o valor na minha conta, ele me explicou
o que aconteceu e agora só peço que você leve pra ele o
relatório e o comprovante, pra ele guardar nas coisas dele.
MARCELO MENA
324
- Pensou que ia te cobrar?
- Não, fiquei pensando em como ia te pagar.
- Nunca iria te cobrar, foi só pra te assustar.
- Ficou muito caro?
- Um pouquinho, mas o Simon disse que vendeu uma pulseira
de ouro que cobriu as despesas dele e ainda deu pra pagar o
cartão.
- Que bom. Fico aliviado.
- Agora, precisamos conversar sobre a casa que ia te dar.
- Sim, a minha mãe me falou.
- Então, ia te dar a casa porque você era filho do meu irmão,
mas agora, descobrimos que não é, certo?
- É verdade, tio! Não se preocupe, eu entendo o que o senhor
quer dizer.
- Entende?
- Claro! Agora o senhor tem filhos e precisa deixar alguma coisa
pra eles, como não sou parente não tem que me dar nada.
- Eu resolvi, já que você não é filho do meu irmão, vou dar a
casa de presente, porque pra nós você sempre será o nosso filho
mais velho. Será uma grande honra te dar este presente.
Ele, então, veio me abraçar e fiquei emocionado, pois meus tios
sempre foram como uma família.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
325
- Obrigado, tio, nem sei o que dizer.
- Ruela, eu vou ter que dar uma reformada e deixá-la perfeita
pra vocês, por isso vai levar alguns meses para te entregar.
- Não tem pressa, tio!
- Então veja se não me apronta nada, porque vai que, de repente,
a Sandra engravida e não terei tempo pra reformar as pressas.
Você me entendeu?
- Entendi, tio!
- Jorge, venha aqui um pouquinho! – Gritou minha tia do quarto.
Fui até o quarto. As duas ainda carregavam os bebês e minha tia
estava sentada na cama.
- Jorge, gostei da sua mãe, a gente se entende e tem o mesmo
pensamento.
- Que bom, tia.
- Ela já se comprometeu em me ajudar com as crianças, na hora
de folga dela.
- Verdade, mãe?
- Sim, Jorge. Será um prazer cuidar destes pequeninos.
- Assim, o seu tio pode voltar a trabalhar na oficina.
- Que bom, dona Rosa, seja bem vinda a esta família. – Disse
meu tio.
MARCELO MENA
326
- Muito obrigada, seu Fred, só espero que não coloque apelido
neles também.
- É verdade, mãe. Se deixar, vai formar ruela, parafuso e porca.
Todos no quarto riram e meu tio sorria sem graça.
- Tia, a senhora me dá licença pra ir ali fora com a Sandra,
enquanto a senhora conversa com minha mãe?
- Claro, Jorge!
Saímos bem rápido deixei eles no quarto. Ficamos sentados no
degrau da frente da casa e ali passamos um bom tempo
conversando.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
327
Capítulo 16
Decifrando a Caixa do Cetro
No domingo, acordei ansioso, pois era o dia em que minha mãe,
Rosa, iria comigo à igreja, mas como ainda era cedo e a Sandra
teve que ir para outra cidade com os pais, (iriam se despedir do
irmão, que estava indo de viajem para os Estados Unidos, fazer
um estágio numa empresa) resolvi ir à reunião que meu tio faz
em sua casa, pra discutir teses teológicas e livros que liam. O
senhor Simon sempre gosta de estar junto, defendendo suas
ideias. Assim que cheguei, eles estavam todos na oficina, alguns
sentados em caixotes, outros em alguns bancos. Tinha livros
espalhados por cima do capô de uma caminhonete que estava
pra conserto. Sentei-me do lado do senhor Simon.
- Oi, senhor Simon, porque estão todos na oficina?
- Sua tia colocou todo mundo pra correr da sala, pois não queria
que os bebês acordassem. Segundo ela, a gente estava fazendo
muito barulho e eles passaram a noite sem dormir, pois os bebes
choraram a noite devido a cólicas.
- Por isso o meu tio está com cara de sono?
- Sim! Já o peguei cochilando algumas vezes.
- Ai que dó. Qual é o assunto agora?
- Estamos discutindo o orçamento para a reforma da igreja e
quanto ainda pode ajudar na assistência social.
- Quer dizer que o assunto teológico de hoje ainda não
começou? Esse negócio de dinheiro é chato.
MARCELO MENA
328
- Então, aproveita e dá uma olhada nesta bíblia nova que
comprei, Jorge.
Era uma bíblia de capa de couro marrom e as folhas eram
douradas. A letra era bem grande, de um lado estava escrito em
hebraico e do outro em português. Quando abri, caiu na
passagem de provérbios, capítulo quatro e o versículo cinco, que
dizia: - Adquire a sabedoria. Procurei no Hebraico, a palavra
Sabedoria, e eram quatro letras estranhas (חכמה).
- O senhor sabe o que está escrito aqui, senhor Simon?
- Sim, é chokmah e quer dizer sabedoria.
- O senhor é inteligente.
- Não, Jorge, apenas aprendi a língua hebraica.
- Estas quatro letras parecem com o que estava escrito na caixa
do cetro... Senhor Jesus!
- O que foi, Jorge?
- Descobri.
Nesta hora, todos pararam de falar e ficaram me olhando. O
senhor Simon se levantou, me pegou pelo braço e me tirou para
fora, dizendo pra todos que eu havia descoberto algo do nosso
trabalho. Ele me levou até o banco de carro, que fica na frente
da oficina, e nos sentamos ali. O pessoal continuou discutindo
sobre a reforma da igreja.
- Agora, me diga o que você descobriu, Jorge?
- Descobri como abrir a caixa do cetro, senhor Simon.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
329
- Como assim? Você apenas viu algumas palavras do hebraico.
- Sim, mas me lembrei de que quando estava no prédio dos
Atanasianos, havia um quadro, mostrando os quatro elementos
da terra. Cada um tinha as palavras escritas em hebraico e
inglês, era água, terra, fogo e fôlego.
- Jorge, estou mais confuso ainda.
- Vou explicar. Na caixa do cetro, estava estas quatro letras da
sabedoria, em cada lado. Então, lembrei que o número quatro
representa o planeta Terra.
- Entendi, continue.
- Antigamente, eles acreditavam que tudo no planeta era
formado por terra, água, fogo e ar, mas no quadro, em vez de ar
escrevia fôlego. Então, como Salomão escreveu sabedoria nas
quatro letras do hebraico, seguindo a ordem, na primeira letra
teríamos que virar a quantidade de letras da palavra terra.
- Agora entendi. Cada lado seria destravado com essa regra. Mas
e a parte de baixo e a de cima?
- Olhe, o final do versículo termina com que palavra?
- Boca.
- E como escreve em hebraico?
- É a palavra Pê (הפה)!
- Então, em cada uma destas teríamos que usar o que sai da
boca, ou seja, a palavra que em hebraico, contando as letras
viriam ser...
MARCELO MENA
330
- Pare, Jorge!
- Por quê? Só iria faltar a trava final de...
- Pare! Não continue.
- Imagine se algum demônio, ou mesmo Lúcifer, ouvir isto.
- Misericórdia!
- É melhor guardar isto pra você. Você é sábio, descobriu o
segredo.
- Foi coincidência, abrir justamente neste versículo e ver o
escrito em hebraico.
- Está ótimo! Nunca comente isto com ninguém.
- Pode deixar!
Fiquei admirado de ter descoberto isto, mas ainda bem que o
senhor Simon me fez parar, pois, se Lúcifer descobrir isto, o
mundo irá cair sob o domínio dele. Com o cetro nas mãos, só
Deus sabe o que ele poderá fazer. Voltamos pra reunião e o
senhor Simon ficava me olhando admirado. Mais tarde estava na
frente de casa, esperando a Sandra e minha mãe para irmos à
igreja. Não demorou muito, chegaram e fomos a pé. Meus pais
já haviam saído, pois meu pai precisava abrir a igreja e ligar o ar
condicionado, deixando o ambiente bem fresco pra quem
chegasse. A Sandra estava com um vestido longo, todo azul, e
com um perfume maravilhoso. Minha mãe estava com um
vestido um pouco curto, bem rosa, e com os cabelos soltos. Era
a primeira vez que a via de cabelo solto, ela estava linda.
- E aí, Jorge, estou bem arrumada para ir à igreja?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
331
- Olha, mãe, acho que não.
- Não? Como assim, Jorge? Sua mãe levou maior tempão se
arrumando.
- Desse jeito, Sandra, ela vai acabar arrumando um namorado
por lá. Ela está muito linda.
- Ai, seu tonto! – Gritou Sandra.
- Você quer me matar do coração, filho?
- Claro que não, mãe, estava brincando.
- E aí, Sandra, como foi a despedida?
- Um chororô só!
- Imagino, Sandra.
- Será bom pra ele, pois assim ele consegue treinar bem o inglês.
- É verdade. E se ele resolver ficar por lá?
- Minha mãe e a namorada morre do coração, Jorge.
- Coitada. Eu sei bem o que é ficar longe de um filho.
- Está certo, dona Rosa! Vamos andando pra não chegarmos
atrasados.
Chegamos à igreja e apresentei a minha mãe para o senhor
Simon. Os dois conversaram e minha mãe agradeceu muito por
ele ser meu amigo. No final da reunião, minha mãe saiu toda
encantada com a igreja e viemos conversando pelo caminho.
MARCELO MENA
332
- Sabe, Jorge, o que mais me encantou na reunião?
- O que, mãe?
- Aquele seu tio que fica te chamando de Ruela, ele fala tão bem
e me fez chorar com aquelas palavras bonitas.
- Ele tem um dom, mãe!
- Meu amor, você já pensou, qualquer dia, falar lá em cima?
- Nunca, Sandra! Acho que desmaio.
- Eu ia ficar orgulhosa de ver meu namorado lá em cima, e você,
dona Rosa?
- Olha, Sandra, será um sonho pra mim.
- Pronto, agora vou ter que ser pastor!
- Melhor não.
- Desistiu, Sandra?
- As mocinhas da igreja iam ficar todas atrás do pastor e eu
quero que você seja só meu pastor.
- Só vocês mesmo.
- Eu já ia me esquecendo.
- O que, Sandra?
- O senhor Simon pediu que, amanhã, você fosse mais cedo
trabalhar.
- E por quê?
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
333
- Eu pedi pra ele te liberar mais cedo, pois amanhã é aniversário
da minha mãe e vamos fazer uma festa surpresa pra ela.
- Legal, então está bem.
Assim, levamos minha mãe pra casa e depois levei a Sandra pra
casa dela. Ficamos namorando até um pouco mais tarde.
MARCELO MENA
334
Capítulo 17
Terra de Akmelon
Cheguei mais cedo do que de costume e o senhor Simon estava
fazendo café, o cheiro estava delicioso.
- Quer um pouco de café, Jorge?
- Está muito cheiroso o seu café.
- É de lá do Egito.
- O senhor trouxe de lá?
- Que nada, pedi pra Tatuhãna me mandar.
- Ainda se conversam?
- Claro, é assim que se fazem amigos.
- Sei! Ela vem para o Brasil?
- Ela me disse que, talvez, no mês que vem. Experimente o café.
- Está uma delícia, senhor Simon.
- Acho que agora vou ter que ficar importando café.
- Se o senhor fizer isso só vou tomar café aqui. Agora, senhor
Simon, o que vamos fazer hoje?
- Sabe aquelas placas que colocamos semana passada?
- Sim.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
335
- Ela funcionou e agora consigo dar mais velocidade nos
elétrons, com a carga atômica do motor.
- E o que isto quer dizer?
- Acredito que iremos viajar muito mais anos atrás.
- Quantos anos atrás?
- Acredito que iremos para, aproximadamente, pelos meus
cálculos, dois bilhões de anos. Por isso já reprogramei o
computador para nos dar a data exata de onde pararmos.
- Não gosto quando o senhor me olha assim. Estava querendo
perguntar quando o senhor pretendia fazer isto, mas pelo que
estou vendo é agora.
- Não, Jorge, eu queria ir depois do café.
- Ai, meu Deus!
- Não podemos perder tempo, precisamos conhecer o que houve
no passado.
- Eu sei que o senhor não vai desistir mesmo. Então, vamos, mas
iremos voltar antes da festa de aniversário?
- Se formos agora, voltaremos nesta mesma hora!
- Então que vá!
Após o café, entramos na máquina e colocamos os cintos.
- Senhor Simon, onde estão os óculos?
- Troquei por lentes mais grossas, estão debaixo do console!
MARCELO MENA
336
- Mais grossas?
- Estou calculando uma luminosidade mais forte.
- Espero não ficar cego.
- Por isso é mais grosso, Jorge. Podemos ir?
- Vamos lá!
A máquina começou a fazer um barulho diferente, era um
zunido bem forte e agudo.
- O senhor tem que pensar em arrumar um protetor auditivo
também.
- Tem razão, Jorge!
Uma luz começou a brilhar em torno da máquina e foi
aumentado gradativamente, até que já não dava pra ficar
olhando nem com os óculos, tivemos que cobrir com as mãos. O
zunido aumentou e parou de repente. Aos poucos, a luz foi se
apagando, tudo ficou escuro e a máquina parou.
- Será que pifou?
- Estranho. Foi muito rápido, Jorge.
- Só falta estarmos no mesmo lugar ainda.
- Espera um pouco, o computador está marcando dois bilhões de
anos antes de Cristo.
- O senhor tem certeza?
- É o que está marcando!
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
337
- Está tudo escuro aqui.
- Vamos acender os faróis externos, Jorge!
Quando tudo ficou bem claro, percebemos que estávamos dentro
de uma caverna e havia apenas uma abertura no canto daquela
caverna.
- Estamos dentro de uma caverna, senhor Simon.
- Vamos sair, passar por aquela abertura e ver o que tem do
outro lado, Jorge!
- Vamos!
Saímos da máquina e entramos no buraco. Tínhamos que nos
arrastar por dentro, não dava pra ficar em pé. O senhor Simon
foi indo na frente, nos arrastamos por uns vinte metros e saímos
numa outra caverna, um pouco maior e tinha uma abertura para
o lado de fora. Parecia que estava anoitecendo.
- Uma coisa vai ser boa, Jorge.
- O quê, senhor Simon?
- A máquina vai ficar bem escondida desta vez!
- O senhor pretende continuar e sair?
- Sim, Jorge! É pra isso que viemos.
- Eu não sei por que ainda pergunto.
Saímos da caverna e estávamos bem na parte de cima de uma
montanha. De lá, só dava pra ver algumas vegetações, mas as
cores eram totalmente diferentes do que temos no nosso mundo.
MARCELO MENA
338
Havia grama bem roxa, plantas com as suas folhas brancas e
marrons, as árvores ainda eram semelhante às nossas, só que um
pouco mais altas e com folhas bem largas, eram bem diferentes
uma das outras.
- Olhe, Jorge! Plantas nunca vistas por homens da nossa
geração!
- São estranhas! Vamos descer.
- Tome cuidado ao descer, pode estar escorregadio.
Descemos com todo cuidado e chegamos num lugar aberto.
Estávamos muito cansados, parecia que ia acabar o fôlego.
- Estou passando mal, senhor Simon! Nunca me cansei tanto.
- Acho que estamos num lugar com pouco oxigênio. É melhor
sentarmos um pouco e descansarmos, depois a gente continua.
Nos aproximamos de algumas pedras, em que dava pra sentar.
Ali ficamos até recuperarmos as nossas forças. De repente, saiu,
como se fosse um lagarto, de uma das pedras e veio em nossa
direção. Ele era um pouco maior que um calango, andava sobre
duas pernas e ficou nos encarando.
- Que bicho é esse?
- Não faço ideia, Jorge. O pior é que não tem rabo!
- É impressão minha, ou ele está gesticulando com as mãos
como se estivesse nos mandando embora?
- Ele está fazendo isto! Parece que quer falar conosco.
AS AVENTURAS DE JORGE NA BUSCA DOS IMORTAIS
339
- Acho que o ar daqui deve de ter alguma droga e estamos
sonhando, senhor Simon.
Ele parou, pôs a mão sobre a cabeça, como quem não acreditava
que ainda estivéssemos parados ali, então, ele olhou pra trás e
saiu correndo em meio à mata.
- Falta de oxigênio pode fazer a gente ter ilusões?
- Só pode ser, Jorge, ou os animais daqui podem falar conosco.
Nesta hora, apareceu uma nave enorme na nossa frente, fazendo
um barulho terrível. Várias pessoas, que pareciam homens, e
outras, totalmente estranhas, corriam em nossa direção e
passaram por nós, dizendo que deveríamos correr, então,
corremos junto com eles. Quando olhei para trás, vimos alguns...
... Continua no livro: As Aventuras de Jorge e a Terra de
Akmelon.
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