gestão de estoques e rentabilidade: uma análise setorial...
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Gestão de Estoques e Rentabilidade: Uma Análise Setorial no Brasil
Nelize Aparecida de Oliveira - nelizeoliveira@hotmail.com
Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Kárem Cristina de Sousa Ribeiro - kribeiro@ufu.br
Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Área temática: Gestão Financeira
Resumo
A determinação de uma gestão de estoques eficiente figura como fator determinante para uma
boa gestão do capital de giro das empresas, uma vez que manter estoques implica em
imobilizar capital que poderia ser utilizado em outras aplicações com maior retorno, além de
incorrer em custos de manutenção. A decisão da quantidade ideal de estoque a ser mantido é
um trade-off, pois se por um lado altos níveis de estoque representam grande investimento
para a empresa e capital que poderia estar investido em outros aplicações, por outro lado
baixos níveis podem levar à falta de estoque, gerando perdas de lucros atuais e futuros. O
presente artigo tem como objetivo apresentar uma análise de correlação entre o PMRE e
PMFE com o ROA de 19 setores da economia brasileira bem como expor o PMRE e PMFE
de cada um desses setores para os anos de 2004 a 2013. Os resultados obtidos sugerem que
para a correlação entre PMRE e ROA os setores de comércio, energia elétrica, software e
dados, telecomunicações, transportes e serviços e veículos e peças apresentam correlação
negativa. Já para PMFE e ROA apenas os setores de eletroeletrônicos, telecomunicações e
transportes e serviços apresentam correlação negativa, de acordo com a abordagem teórica.
Palavras-chave: Gestão de Estoques; Prazo Médio de Renovação de Estoques; Prazo Médio
de Financiamento de Estoques; Retorno sobre o ativo; Análise de Correlação.
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1. Introdução
O objetivo financeiro essencial da empresa é a maximização de seu valor. Nesse sentido, a
literatura existente apresenta vários fatores que podem influenciar nessa criação de valor.
Dentre esses fatores se encontra o capital de giro líquido e seus elementos tais como contas a
receber, estoques e balanço operacional de caixa. Dando um enfoque para a gestão de
estoques seu compromisso é limitar o risco por manter o maior nível de estoque e ao mesmo
tempo limitar os seus custos. Dessa forma, gerir estoques implica em manter o mínimo de
estoques aceitável por causa dos custos (MICHALSKI, 2008).
A característica dos estoques é que eles possuem existência física, dessa forma gerir estoques
se apresenta de forma diferente da gestão de outros ativos que são puramente financeiros.
Entretanto, estoques representam significativos custos para empresas, assim sua gestão
eficiente apresenta-se como fator de competitividade (ROGERS, RIBEIRO e ROGERS,
2004).
Sherr (1989) aponta que os estoques representam um caro investimento para as empresas e
para que esses investimentos possam valer a pena devem existir vantagens em mantê-los.
Além dos custos de manutenção e o fato de que manter estoques demanda espaço físico, outro
fator importante para a determinação da política de estoques se encontra no custo de
oportunidade. Ao se decidir por investir em estoques, o gestor opta por imobilizar um
montante de capital que poderia ser investido em aplicações externas de maior rentabilidade.
Assim, o custo de oportunidade é fundamental numa visão econômica de custos, pois a
utilização de recursos de uma forma impede o seu uso de outras maneiras, uma vez que os
recursos são escassos se comparados com as necessidades (PALMER e RAFTERY, 1999).
Carvalho, Guiachero e Ribeiro (2007) em seu estudo sobre o impacto da gestão de estoques
na rentabilidade de empresas no Brasil, América Latina e Estados Unidos, analisaram o
reflexo do prazo médio de renovação de estoques e prazo médio de financiamento de estoques
na rentabilidade da empresa, através de um coeficiente de correlação. Os resultados desse
estudo sugerem que os prazos médios de renovação de estoque nos EUA são menores que no
Brasil e América Latina e a correlação entre prazo médio de renovação de estoques e retorno
sobre os ativos é negativa para os EUA e positiva pra Brasil e América Latina. Em relação ao
resultado entre o número de dias que o estoque é financiado pela empresa e o retorno sobre os
ativos, observa-se correlação negativa para as regiões estudadas.
O presente estudo se propõe a analisar a correlação entre prazo médio de renovação de
estoques e prazo médio de financiamento de estoques à rentabilidade das empresas brasileiras,
comparando-se 19 setores da economia no período de 2004 a 2013, respondendo ao seguinte
questionamento: Qual a correlação entre gestão de estoques e rentabilidade nas empresas
brasileiras? O estudo justifica-se por gerar uma contribuição em um tema de grande interesse
para as empresas, o capital de giro sob a ótica dos estoques, analisando a eficiência da gestão
desses ativos nas empresas brasileiras, podendo assim evidenciar quais setores apresentaram
maior correlação entre estoques e rentabilidade. Pretende contribuir para uma análise dos
diversos setores no Brasil e evidenciar seus prazos médios de estocagem e financiamento e
seus respectivos efeitos na rentabilidade.
Este artigo está estruturado em cinco sessões. Além desta introdução na primeira sessão,
apresenta-se o referencial teórico na segunda sessão. A sessão seguinte traz os procedimentos
metodológicos. A análise dos resultados é contemplada na quarta sessão. Por fim, têm-se as
considerações finais, bem como limitações e sugestões para pesquisas futuras na quinta
sessão.
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2. Referencial teórico
Os estoques, bem como sua gestão eficiente se apresentam como fator importante para a
gestão financeira da empresa, uma vez que afetam diretamente seu capital de giro e fluxos
futuros de caixa. “Economistas reconheceram há muito tempo que os estoques desempenham
papel importante no ciclo de negócios” (KAHN, 1986, p. 1).
Deter estoques implica necessariamente em custos para a empresa. Assim, Sherr (1989)
aponta motivos para se conservar estoques nas empresas. Basicamente, manter um estoque de
matérias-primas torna o planejamento de produção mais fácil, além de figurar como uma
estratégia de hedging tanto contra mudanças nos preços das matérias-primas quanto para a
escassez de oferta, outra vantagem é a respeito dos descontos recebidos pela compra de
grandes quantidades. Para o estoque de produtos em processamento, a maior razão em sua
manutenção é a capacidade de alimentar os processos seguintes de produção, dando uma
maior flexibilidade ao processo produtivo da empresa. Finalmente, manter estoques de
produtos acabados evita o custo de falta de estoque para atender imediatamente aos clientes,
bem como estabiliza a produção no caso de empresas que usam o mesmo equipamento para
fabricar vários tipos de produtos.
No mundo ideal, onde não houvesse incerteza, a demanda de produtos seria totalmente
previsível dia após dia, porém no mundo real, onde há incerteza, a demanda não é totalmente
previsível, além disso, o tempo de espera de ressuprimento pode variar, gerando atrasos na
entrega (WANKE, 2001).
Dentre as variáveis que interferem na política de estoques podem-se destacar a demanda, o
custo de fazer o pedido, a relação entre custos de armazenamento e tamanho do estoque, o
preço pago ou sua relação com o tamanho do pedido e a receita bruta obtida (ARROW,
HARRIS e MARSCHAK, 1951).
Para Rogers, Ribeiro e Rogers (2004) é fundamental considerar as variáveis que afetam o
processo de análise como variando aleatoriamente ao fazer estimativas futuras, uma vez que
existe um risco do resultado não se cumprir.
Ao definir a política de estoques, não apenas esses fatores devem ser considerados, mas
também o custo de oportunidade envolvido. O custo de oportunidade “representa o custo da
escolha de uma alternativa em detrimento de outra capaz de proporcionar um maior
benefício” (OLIVEIRA e PEREIRA, 2002, p. 2). Dessa forma, investir em estoques implica
em imobilizar capital que poderia ser investido em aplicações externas mais rentáveis.
Alguns prazos devem ser considerados na determinação da política de estoques. O prazo
médio de pagamento (PMP) é o prazo médio (em dias) para pagamento dos fornecedores.
Espera-se que quanto maior esse prazo, melhor, pois o PMP representa o tempo que os
fornecedores financiam o estoque, se esse tempo é maior representa menor tempo de
financiamento de estoque por parte da empresa. O prazo médio de financiamento de estoque
(PMFE) representa o período em que o estoque é financiado pela própria empresa.
O prazo médio de recebimento de vendas (PMRV) é o tempo (em dias) que a empresa leva
para receber suas vendas a prazo. Quanto menor esse tempo, melhor, pois aumenta o capital
de giro da empresa.
O prazo médio de renovação de estoques (PMRE) é o tempo (em dias) que os produtos são
estocados na empresa. Assim, espera-se que quanto menor esse prazo, melhor, pois menores
estoques implicam menores investimentos e maior disponibilidade de capital.
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Por fim, para este estudo, introduz-se o conceito de return on assets (ROA), traduzido do
inglês, retorno sobre o ativo. O ROA, como o próprio nome diz, mede o retorno obtido pelos
ativos, ou seja, o lucro gerado por eles.
3. Procedimentos metodológicos
A presente pesquisa teve como objetivo fazer um estudo comparativo da eficiência da gestão
de estoques nos diversos setores da economia no Brasil, utilizando uma análise de correlação
entre o PMRE e o PMFE ao ROA, relacionando gestão de estoques com a rentabilidade das
empresas no período de 2004 a 2013.
Estudo similar foi realizado por Carvalho, Giachero e Ribeiro (2007). Fazendo uma análise de
correlação entre o PMRE e o ROA e PMFE e ROA para empresas no Brasil, América Latina
e Estados Unidos, investigado o reflexo do PMRE e PMFE na rentabilidade das empresas
para o ano de 2006. Os resultados encontrados mostraram que nos EUA o PMRE é menor que
no Brasil e América Latina, apresentando correlação negativa para os EUA e positiva pra
Brasil e América Latina. Em relação ao número de dias que o estoque é financiado pela
empresa, existe uma análise de correlação negativa com o ROA.
Este estudo pretende contribuir para a teoria ao fazer uma análise setorial dessa correlação no
Brasil, de forma a verificar se a política de estoques adotada tomando-se o PMRE e PMFE
possui correlação positiva ou negativa com o ROA para cada setor durante os 10 anos
observados.
Para realização deste estudo foram utilizados dados secundários de empresas listadas na
BM&F Bovespa nos anos de 2004 a 2013, coletados a partir da base de dados Economática®,
comparando-se 19 setores da economia brasileira, excluindo-se o setor financeiro, por se
tratar de um setor com características peculiares. Os dados coletados foram tratados e
analisados utilizando-se o software Stata®.
4. Análise dos resultados
Esta pesquisa partiu de uma amostra composta por empresas brasileiras não financeiras,
listadas na BM&F Bovespa no período de 2004 a 2013. Após tratamento dos dados chegou-se
a uma amostra final de 622 empresas. A Tabela 1 apresenta uma análise descritiva das
variáveis utilizadas neste estudo mostrando o número de observações, média, desvio padrão e
valor mínimo e máximo de cada variável.
Tabela 1
Análise descritiva das variáveis
Variável Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
ANO 5818 2008,49 2,88 2004 2013
PMRE 2929 59,87 68,16 0,00 358,90
PMP 2929 55,62 47,94 0,00 365,00
ROA 3178 1,97 15,66 -96,50 99,80
PMFE 2929 4,25 83,98 -365,00 350,40
SETOR 5818 10,14 5,21 1,00 19,00 Fonte: Dados da pesquisa.
A Tabela 2 apresenta a análise descritiva do PMRE para cada setor. Observa-se que o setor de
software e dados apresenta a menor média para renovação de estoques (0,07), seguido pelos
setores de energia elétrica (4,5) e transportes e serviços (8,27), indicando o elevado giro de
estoques para estes setores. A maior média é apresentada pelo setor de construção (185,72),
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seguido por máquinas industriais (125,83) e agropecuária e pesca (124,84), o que demonstra o
baixo giro de estoques para esses setores.
Tabela 2
Análise descritiva do PMRE por setor
Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Agro e pesca 35 124,84 70,27 15,40 311,40
Alimentos e bebidas 169 65,03 44,26 0,00 279,50
Comércio 170 74,04 45,04 5,40 302,40
Construção 133 185,72 118,43 0,00 358,50
Eletroeletrônicos 61 77,28 34,96 35,50 187,70
Energia elétrica 440 4,50 11,20 0,00 127,60
Máquinas industriais 40 125,83 64,35 57,50 281,20
Mineração 38 109,26 61,00 0,00 303,50
Minerais não metálicos 35 93,96 28,09 27,10 186,10
Papel e celulose 62 69,08 28,19 19,90 148,70
Petróleo e gás 54 24,74 25,23 0,00 82,30
Química 143 63,10 41,74 0,50 242,00
Siderúrgica e metalurgia 242 101,13 52,16 0,00 358,90
Software e dados 37 0,07 0,23 0,00 1,00
Telecomunicações 129 11,77 13,31 0,00 76,50
Têxtil 253 99,58 47,82 0,00 352,80
Transportes serviços 139 8,27 10,82 0,00 56,70
Veículos e peças 151 76,70 54,91 13,40 317,80
Outros 598 41,76 64,90 0,00 354,40 Fonte: Dados da pesquisa.
A Figura 1 apresenta o gráfico da análise descritiva do PMRE para cada um dos 19 setores
estudados.
Figura 1. Análise descritiva do PMRE por setor.
Fonte: Dados da pesquisa.
0.0020.0040.0060.0080.00
100.00120.00140.00160.00180.00200.00
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Para a análise descritiva do PMFE para cada setor é possível observar que os setores que mais
tempo financiam seus estoques – construção (157,46 dias), máquinas industriais (88,24 dias) e
agropecuária e pesca (71,20 dias) – são também os setores que apresentaram maior tempo de
renovação de estoques.
Figura 2. Análise descritiva do PMFE por setor
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 3
Análise descritiva do PMFE por setor
Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Agro e pesca 35 71,20 74,71 -57,20 266,50
Alimentos e bebidas 169 23,53 54,73 -162,00 226,70
Comércio 170 1,31 33,24 -81,40 117,60
Construção 133 157,46 127,76 -216,30 350,40
Eletroeletrônicos 61 20,76 49,09 -81,10 164,30
Energia elétrica 440 -57,15 41,90 -335,50 19,80
Máquinas industriais 40 88,24 69,82 -27,30 241,90
Mineração 38 40,67 60,48 -192,10 184,50
Minerais não metálicos 35 30,47 48,95 -104,90 98,00
Papel e celulose 62 21,62 31,56 -47,10 82,20
Petróleo e gás 54 -33,50 48,45 -196,70 30,90
Química 143 14,38 46,77 -89,50 202,80
Siderúrgica e metalurgia 242 54,44 65,25 -199,00 311,90
Software e dados 37 -45,23 49,45 -208,90 -5,20
Telecomunicações 129 -106,74 44,49 -254,80 4,20
Têxtil 253 45,52 70,58 -286,90 324,00
Transportes serviços 139 -36,29 37,19 -228,40 46,30
Veículos e peças 151 35,13 42,95 -52,80 192,10
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Outros 598 -14,30 81,09 -365,00 293,00 Fonte: Dados da pesquisa
A Tabela 4 apresenta a análise descritiva do ROA para cada setor. Para o retorno sobre os
ativos, observa-se que o setor que apresenta maior média é o de software e dados (15,51),
seguido por petróleo e gás (7,04) e energia elétrica (6,21). Os piores retornos pertencem aos
setores de minerais não metálicos (-4,06), agropecuária e pesca (-3,65) e têxtil (-3,08).
Tabela 4
Análise descritiva do ROA por setor
Observações Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Agro e pesca 37 -3,65 15,61 -86,40 16,80
Alimentos e bebidas 184 -0,59 16,14 -85,80 36,60
Comércio 171 4,67 9,69 -42,90 45,50
Construção 134 3,77 8,24 -37,80 54,30
Eletroeletrônicos 72 3,20 18,27 -94,90 41,10
Energia elétrica 481 6,21 8,25 -50,30 54,90
Máquinas industriais 50 -0,45 15,15 -79,00 16,30
Mineração 58 0,18 26,06 -80,90 99,80
Minerais não metálicos 38 -4,06 23,73 -89,70 21,00
Papel e celulose 62 2,12 7,25 -35,50 14,80
Petróleo e gás 59 7,04 12,65 -48,80 57,00
Química 144 4,33 14,16 -53,60 84,10
Siderúrgica e metalurgia 248 2,24 17,62 -96,00 34,20
Software e dados 37 15,51 15,06 1,30 63,70
Telecomunicações 141 1,12 13,39 -96,50 15,50
Têxtil 261 -3,08 19,80 -93,70 87,00
Transportes serviços 143 1,40 16,81 -94,10 37,10
Veículos e peças 154 -0,99 18,02 -75,30 36,20
Outros 704 0,64 16,63 -87,20 81,00 Fonte: Dados da pesquisa.
Como é possível observar na Figura 3, a média do ROA referente ao setor de software e dados
(15,51), que figura como o setor com maior ROA, representa mais da metade da média do
ROA referente ao setor com segunda maior média de ROA, petróleo e gás (7,04).
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Figura 3. Análise descritiva do ROA por setor
Fonte: Dados da pesquisa
A análise de correlação entre PMRE e ROA e o PMFE e ROA para os dados das 622
empresas dos 19 setores estudados, é mostrada na Tabela 5. Observa-se correlação negativa e
baixa entre PMRE e ROA para os setores comércio (-0,0424), energia elétrica (-0,0399),
software e dados (-0,1808), telecomunicações (-0,04), transportes e serviços (-0,1292) e
veículos e peças (-0,0459), indicando que um incremento no PMRE implica em uma redução
no ROA. Esse resultado está de acordo com a teoria, pois espera-se que um maior PMRE
implique em maiores gastos com estoques e menor disponibilidade de capital para
investimentos que poderiam trazer maiores retornos.
Entretanto, o resultado positivo para os demais setores, apesar de apresentar baixa correlação,
demonstra que não há um incremento no ROA quando o PMRE é reduzido, contrariando a
teoria. Para entender o que provoca essa relação seria necessário investigar mais a fundo as
possíveis causas para esses resultados. Assim como argumentam Carvalho, Giachero e
Ribeiro (2007), um motivo poderia ser o fato de aplicações financeiras constarem na conta
ativos, assim como seus rendimentos, provocando um excesso de liquidez que poderia
distorcer os resultados.
Tabela 5
Análise de correlação das variáveis
PMRE - ROA PMFE – ROA
Agro e pesca 0.3769 0.3274
Alimentos e bebidas 0.2103 0.0784
Comércio -0.0424 0.1310
Construção 0.0604 0.0882
Eletroeletrônicos 0.0600 -0.0023
Energia elétrica -0.0399 0.0955
Máquinas industriais 0.1731 0.2371
Mineração 0.0293 0.1072
Minerais não metálicos 0.3588 0.7472
Papel e celulose 0.0798 0.0902
-6.00-4.00-2.000.002.004.006.008.00
10.0012.0014.0016.00
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Média
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Petróleo e gás 0.0663 0.1012
Química 0.0330 0.2249
Siderúrgica e metalurgia 0.1487 0.2178
Software e dados -0.1808 0.0233
Telecomunicações -0.0400 -0.0400
Têxtil 0.1117 0.3021
Transportes serviços -0.1292 -0.1127
Veículos e peças -0.0459 0.2279
Outros 0.0519 0.1337 Fonte: Dados da pesquisa.
Para a análise de correlação entre PMFE e ROA pode-se observar que apenas os setores de
eletroeletrônicos (-0,0023), telecomunicações (-0,04) e transportes e serviços (-0,1127)
apresentam correlação negativa, apesar de baixa, o que se apresenta conforme a abordagem
teórica, ou seja, um crescimento no PMFE implica em uma redução no ROA. O setor de
minerais não metálicos apresenta forte correlação positiva (0,7472), contrariando a teoria de
que menores prazos de financiamento de estoques podem gerar maiores retornos para a
empresa. O mesmo acontece com os demais setores, porém com uma correlação fraca. Mais
uma vez enfatiza-se que seria necessário buscar os motivos que levam a tais resultados para
esses setores.
5. Considerações finais
A gestão eficiente de estoques apresenta-se como fator fundamental para o sucesso financeiro
da empresa, uma vez que manter grandes quantidades de estoque significa imobilizar boa
parte do capital da empresa, por outro lado quantidades insuficientes de estoque podem levar
a perda de vendas e falta de matéria-prima para fabricação de produtos.
Esse trabalho não teve a pretensão de estudar todos os aspectos relacionados à gestão de
estoques, mas correlacionar seu prazo médio de estocagem e financiamento ao retorno sobre
os ativos, de forma a analisar quais setores apresentavam melhor relação entre esses fatores.
Os resultados obtidos pelas análises de correlação entre PMRE e ROA mostraram a
correlação negativa e baixa para o setor de comércio (-0,0424), energia elétrica (-0,0399),
software e dados (-0,1808), telecomunicações (-0,04), transportes e serviços (-0,1292) e
veículos e peças (-0,0459), o que se apresenta de acordo com o esperado pela teoria,
indicando que menores prazos de renovação de estoque levam a um incremento no ROA. A
correlação positiva, ainda que fraca, para os demais setores contradiz a abordagem teórica.
Necessário é, portanto, investigar os motivos para tal resultado.
Já para a correlação entre PMFE e ROA, apenas os setores de eletroeletrônicos (-0,0023),
telecomunicações (-0,04) e transportes e serviços (-0,1127) condizem com a teoria, para os
outros setores a correlação positiva, ainda que fraca, seria o mesmo que dizer que quanto
maior o prazo em que a empresa financia seus estoques, maior será a rentabilidade. Para o
setor de minerais não metálicos a correlação positiva mostrou-se forte (0,7472). Para entender
os motivos dessa correlação seria necessário, portanto, investigar quais fatores têm levado à
contradição da teoria.
Este estudo limitou-se na abordagem de apenas dois fatores da gestão de estoques (PMRE e
PMFE), correlacionando-os ao retorno obtido pela empresa. A análise de outros fatores
poderia contribuir para melhor entendimento do comportamento dos estoques em relação à
rentabilidade nos setores estudados. Uma abordagem mais ampla, considerando inclusive os
fatores peculiares de cada setor bem como os fatores macroeconômicos para o período
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analisado poderia contribuir para um melhor entendimento entre a relação dos estoques e
rentabilidade para os diversos setores no país.
REFERÊNCIAS
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