gilson antunes corrigido
Post on 19-Oct-2015
72 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
1/223
GILSON UEHARA GIMENES ANTUNES
O violo nos programas de ps-
graduao e na sala de aula: amostragem
e possibilidades
So Paulo
2012
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
2/223
GILSON UEHARA GIMENES ANTUNES
O violo nos programas de ps-
graduao e na sala de aula: amostrageme possibilidades
Tese apresentada ao
Departamento de Msica da
Escola de Comunicao e Artes da
Universidade de So Paulo como
Requisito parcial para obteno
do ttulo de Doutor em Msica
rea de Concentrao: Musicologia
Linha de pesquisa: Histria, Estilo e Recepo
Orientadora: Profa. Dra. Flvia Camargo Toni
So Paulo
2012
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
3/223
Nome: Antunes, Gilson Uehara Gimenes
Ttulo: O violo nos programas de ps-graduao e na sala de aula: amostragem e
possibilidades
Tese apresentada Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, no
programa de ps-graduao em msica, para a obteno do ttulo de Doutor em Msica
Aprovado em:
Banca Examinadora: _______________________________________
Prof. Dra. Flvia Camargo Toni
________________________________________
Prof. Dr. Edelton Gloeden
_________________________________________
Prof. Dr. Paulo de Tarso Salles
_________________________________________Prof. Dr. Gicomo Bartoloni
__________________________________________
Prof. Dr. Paulo Castagna
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
4/223
Para o meu filho Yuri, in memorian
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
5/223
Agradecimentos
Gostaria de agradecer, primeiramente, minha orientadora Prof. Dra. Flvia
Camargo Toni.
Ao Edelton Gloeden e Paulo de Tarso Salles, por estarem na minha banca de
defesa de doutorado.
Ao Paulo Castagna um agradecimento especial, por me inspirar e me mostrar os
caminhos da pesquisa, alm da amizade e integridade pessoal em todos os momentos.
Ao Gicomo Bartoloni, Fbio Zanon e Robert Brightmore, por me guiarem no
violo e pela amizade.
minha amiga de sempre Teresinha Prada, por toda a ajuda.
Aos coordenadores e professores da Universidade Federal da Paraba e da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Aos mdicos, enfermeiros e funcionrios do Hospital So Camilo da Pompia
em So Paulo, que acompanharam a escrita de boa parte dessa tese.
Aos professores Sidney Molina, Albrgio Diniz, Alda de Jesus Oliveira, Ana
Cristina Tourinho, Mario Ulloa, Daniel Wolff, Eduardo Meirinhos, Eugenio Lima,
Flvio Barbeitas e Jos Daniel, pela ajuda e prontido nos momentos em que eu
precisei.
Um obrigado muitssimo especial ao Humberto Amorim, amigo de
absolutamente todos os momentos, e sem o qual a escrita dessa tese teria sido muito
mais difcil.
Agradeo a toda a minha famlia, em especial aos meus pais, irmos e minha
esposa Selma e meus filhos Liam e Yuri (in memorian). Eles so realmente meu
suporte, minha inspirao e minha alegria diria.
Finalmente, agradeo a todos os autores dos trabalhos aqui elencados, pelo envio
das teses e dissertaes aqui estudadas, entre eles Rodrigo Carvalho de Oliveira, Mrcio
de Souza, Robson Barreto Matos, Ricieri Carlini Zorzal, Joo Fortunato Soares Quadros
Junior, Joo Raone, Fbio Scarduelli, Marcelo Fernandes, Eric Martins, Edilson Vicente
de Lima, Fbio Bartoloni, Rosimari Parra Gomes, Flvio Apro, Marcelo Brazil, Paola
Picherzky, Mrcio Pacheco de Carvalho, Luis Naveda, Sandra Alfonso, Carlos Chaves,Mario da Silva, Luis Ricardo Queiroz, Maria Haro, Bartolomeu Wiese, Nelson Caiado,
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
6/223
Clayton Vetromilla, Paulo Pedrassoli, Fernanda Maria Cerqueira Pereira, Marcos
Kroning Correa e Aristteles de Almeira Pires. So muitos nomes, e eu j peo
desculpas por algum eventual esquecimento de minha parte.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
7/223
Aquele que deseja o conhecimento deve fazer, ele mesmo, os primeiros esforos
para encontrar a sua fonte, para aproximar-se dela, ajudando-se com as indicaes
dadas a todos, mas que as pessoas, via de regra, no desejam ver nem reconhecer.
O conhecimento no pode vir aos homens gratuitamente, sem esforos de sua
parte.
George Ivanovich Gurdjieff
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
8/223
RESUMO
Este trabalho visou localizar, ler e analisar teses e dissertaes de mestrado e
doutorado a respeito do violo escritas e defendidas em universidades brasileiras entre
os anos de 1991 e 2007. Procurou, tambm, observar as aplicaes didticas desses
trabalhos como auxlio a professores, alunos e demais interessados a respeito do violo.
Finalmente, conseguiu demonstrar que, a despeito da parca bibliografia impressa no
Brasil referente ao violo, esses trabalhosmuitos deles passveis de serem obtidos em
sitese bibliotecas de universidades servem como material de referncia e estudo aos
pesquisadores e pblico em geral.
Palavras-chave: Violo. Teses. Universidades. Bibliografia
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
9/223
ABSTRACT
This paper intended getting, reading and to analyze the thesis of doctoral and
master degree about the guitar written in Brazilian universities between the years 1991
and 2007. Intended, also, to observe the didactic applications of this thesis as a source
for teachers, students and any interested people about guitar subjects. Last, it goals to
show that, despite the small number of books about the guitar printed in Brazil, this
works in general not difficult to have access in websites and libraries of the
universities are useful as material of reference and study for both researchers and
public in general.
Key-words: Guitar. Thesis. Universities. Bibliography.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
10/223
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Trabalhos acadmicos relacionados ao violo e defendidos no Brasil:
mestrado, p.155
Tabela 2: Trabalhos acadmicos relacionados ao violo e defendidos no Brasil:
mestrado, p.155
Tabela 3: Trabalhos acadmicos relacionados ao violo e defendidos no Brasil:
doutorado, p.157
Tabela 4: Trabalhos acadmicos relacionados ao violo e defendidos no Brasil:
doutorado, p.157
Tabela 5: Estados onde se realizaram os trabalhos de mestrado e doutorado, p.158
Tabela 6: Estados onde se realizaram os trabalhos de mestrado e doutorado, p.159
Tabela 7: Universidades onde foram realizados os trabalhos de ps-graduao, p.160
Tabela 8: Universidades onde foram realizados os trabalhos de ps-graduao, p.160
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
11/223
LISTA DE ABREVIATURAS
ANPPOM: Agncia Nacional de Pesquisa em Ps-Graduao em Msica
CAPES: Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CBM: Conservatrio Brasileiro de Msica
PROLAM-USP: Programa de Integrao da Amrica Latina da Universidade de So
Paulo
PUC-SP: Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
TA: Trabalho Analtico
TD: Trabalho Didtico
TH: Trabalho Histrico
UFBA: Universidade Federal da Bahia
UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais
UFPE: Universidade Federal de Pernambuco
UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina
UNESP: Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho"
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
12/223
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
UNIRIO: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
USP: Universidade de So Paulo
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
13/223
SUMRIO
Introduo,p.1
Captulo 1.1 - A formao de um violonista no Brasil: uma experincia pessoal
envolvendo aprendizagem e ensino, p.8
1.1.1 Prembulo, p.8
1.1.2 Formao, p.11
1.1.3 Conservatrio, p.14
1.1.4 Aula particular, p.18
1.1.5 Universidade, p.19
1.1.6 Curso de especializao, p.22
1.1.7 Mestrado, p.24
1.1.8 Atividade docente: atividades aplicadas e mtodos utilizados para os
alunos, p.28
1.2- Os Programas de Ps-Graduao, p.35
1.2.1 Regio Centro-Oeste, p.381.2.1.1Universidade Federal de Gois (UFG), p.38
1.2.2 Regio Nordeste, p.391.2.2.1 Universidade Federal da Bahia (UFBA), p.39
1.2.2.2 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), p.40
1.2.3 Regio Sudeste, p.411.2.3.1Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), p.41
1.2.3.1.1 Departamento de Msica, p.411.2.3.1.2 Departamento de Histria, p.41
1.2.3.2 Universidade Federal de Uberlndia (UFU), p.42
1.2.3.2.1 Faculdade de Cincia da Computao, p.42
1.2.3.2.2 Departamento de Histria, p.42
1.2.3.3 Conservatrio Brasileiro de Msica (CBM), p. 43
1.2.3.4 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),
p.43
1.2.3.5 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), p.441.2.3.5.1 Departamento de Msica, p.44
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
14/223
1.2.3.5.2 Departamento de Histria, p.45
1.2.3.6 Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), p.45
1.2.3.6.1 Departamento de Histria, p.45
1.2.3.6.2 Departamento de Comunicao e Semitica, p.46
1.2.3.7 Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
(UNESP), p.46
1.2.3.7.1 Departamento de Msica, p.46
1.2.3.7.2 Departamento de Histria, p.47
1.2.3.8 Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), p.47
1.2.3.9 Universidade de So Paulo (USP), p.48
1.2.3.9.1 Departamento de Msica, p.49
1.2.3.9.2 Programa em Integrao Latino Americana (PROLAM),
p.49
1.2.4 Regio Sul, p.50
1.2.4.1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), p.50
1.2.4.1.1 Departamento de Msica, p.50
1.2.4.1.2 Instituto de Informtica, p.51
1.2.4.2 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), p.51
Captulo 2- O violo nas dissertaes e teses entre 1991 e 2007 , p.53
2.1 Regio Centro-Oeste, p.53
2.1.1 Universidade Federal de Gois PPG Msica Mestrado
em Msica, p.53
2.2 Regio Nordeste, p.562.2.1 Universidade Federal da Bahia PPG Msica Mestrado
em Educao Musical, p.56
2.2.2 Universidade Federal da Bahia PPG Msica Doutorado
em Educao Musical, p.57
2.2.3 Universidade Federal da Bahia PPG Msica Mestrado
em Msica, p.58
2.2.4 Universidade Federal da Bahia PPG Msica Doutoradoem Msica, p.65
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
15/223
2.2.5 Universidade Federal de Pernambuco PPG Cincia da
ComputaoMestrado em Cincia da Computao, p.66
2.2.6 Universidade Federal de Pernambuco PPG Cincia da
ComputaoDoutorado em Cincia da Computao, p.68
2.3 Regio Sudeste, p.67
2.3.1 Conservatrio Brasileiro de Msica CPGPE - Mestrado
em Msicarea de Educao Musical, p.69
2.3.2 Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PPG
Comunicao e SemiticaMestrado em comunicao e Semitica, p. 69
2.3.3 Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PPG
Comunicao e SemiticaDoutorado em Comunicao e Semitica, p.70
2.3.4 Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PPG
HistriaMestrado em Histria, p. 71
2.3.5 Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PPG
HistriaDoutorado em Histria, p.71
2.3.6 Universidade Estadual de Campinas PPG Artes
Mestrado em Artes, p.72
2.3.7 Universidade Estadual de Campinas PPG Msica
Mestrado em Msica, p.73
2.3.8 Universidade de So Paulo PPG Artes Mestrado em
Artes, p.77
2.3.9 Universidade de So Paulo PPG Artes Doutorado em
Artes, p.87
2.3.10 Universidade de So Paulo PROLAM Mestrado em
Integrao da Amrica Latina, p.882.3.11 Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
PPG ArtesMestrado em Msica, p.89
2.3.12 Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
PPG HistriaDoutorado em Histria, p.90
2.3.13 Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
PPG MsicaMestrado em Msica, p.91
2.3.14 Universidade Federal de Minas Gerais PPG Histria Mestrado em Histria, p.96
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
16/223
2.3.15 Universidade Federal de Minas Gerais PPG Msica
Mestrado em Msica, p.97
2.3.16 Universidade Federal de Uberlndia PPG Cincias da
ComputaoMestrado em Cincias da Computao, p.99
2.3.17 Universidade Federal de Uberlndia PPG Histria
Mestrado em Histria, p.100
2.3.18 Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro PPG
MsicaMestrado em Msica, p.101
2.3.19 Universidade Federal do Rio de Janeiro PPG Histria
Doutorado em Histria Social, p.105
2.3.20 Universidade Federal do Rio de Janeiro PPG Msica
Mestrado em Msica, p.105
2.4 Regio Sul, p.120
2.4.1 Universidade Federal de Santa Catarina PPG Engenharia
de ProduoMestrado em Engenharia de Produo, p.120
2.4.2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul PPG Cincia
da computaoMestrado em Cincia da Computao, p.121
2.4.3 Universidade Federal do Rio Grande do SulPPG Msica
Mestrado em Educao Musical, p.121
2.4.4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul PPG Msica
Mestrado em Msica, p.122
2.4.5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul PPG Msica
Doutorado em Msica, p.127
Captulo 3- Classificao, estatstica e anlise dos trabalhos de ps-graduao com temtica violonstica defendidos no Brasil entre 1991 e 2007 , p.129
3.1Sobre a classificao das teses e dissertaes, p.1293.1.1 Trabalho Analtico, p.1303.1.2 Trabalho Histrico, p.1343.1.3 Trabalho Didtico, p.140
3.2Classificao geral dos trabalhos, p.1463.2.1 Regio Centro-Oeste, p.1463.2.2 Regio Nordeste, p.147
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
17/223
3.2.3 Regio Sudeste, p.1483.2.4 Regio Sul, p.154
3.3 Trabalhos acadmicos ao longo do tempo, p.156
3.3.1 Mestrado, p.156
3.3.2 Doutorado, p.158
3.4 Estados onde os trabalhos foram realizados, p.160
3.5 Universidades onde os trabalhos foram realizados, p.161
3.6 Anlises dos resultados, p.163
3.6.1 Regio Centro-Oeste, p.163
3.6.2 Regio Nordeste, p.164
3.6.3 Regio Sudeste, p.167
3.6.4 Regio Sul, p.170
Concluso,p.174
Apndice: Lista de orientadores por regio e ano em que os trabalhos orientados
foram defendidos,p.183
Bibliografia,p.186
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
18/223
1
Introduo
A bibliografia relacionada ao violo no Brasil sempre foi tida como escassa
pelos prprios violonistas, apesar de todas as referncias desse instrumento musical na
cultura brasileira. Poucos foram os livros publicados sobre o assunto, e estes se
encontram quase que em sua totalidade fora de catlogo especialmente os mais
antigosou possuem dificuldades para serem adquiridos como quando lanados por
editoras pequenas. Em seus projetos, uma das opes que pesquisadores e interessados
em geral possuam era a de procurar exemplares em bibliotecas ou sebos, porm,
quando os temas se ampliavam, tais livros acabavam sendo de ajuda um tanto menor,
pela especificidade e delimitao de determinado assunto estudado. Certas publicaes
de assuntos como Histria do Brasil tambm fazem parte da bibliografia violonstica
geral, porm alguns destes, como os dos viajantes estrangeiros no Brasil nos sculos
XVIII e XIX igualmente possuem difcil acesso e difuso, e muitos sequer foram ainda
fichados e pesquisados.
No momento em que finalizamos esse trabalhoincio de 2012 a quantidade
de teses e dissertaes sobre violo j desenvolvidas ou em andamento no Brasil
bastante grande, comparando-se com o incio da dcada de 1990, quando os primeiros
textos de ps-graduao com temas relacionados ao instrumento comearam a ser
escritos. Desde 1991 ano da dissertao mais antiga que encontramos com tema
especificamente violonstico defendido no Brasil at o incio da segunda dcada deste
novo milnio, mais de uma centena de pesquisas desse tipo foram defendidas em nossas
universidades, em pelo menos quatro das cinco regies do pas, alm do Distrito
Federal.
Acreditamos que tais trabalhos desenvolvidos nas universidades brasileiras,
escritos, em geral, por violonistas profissionais (concertistas e/ou professores), alunosrecm-formados e pesquisadores, acabam sendo parte importantssima da bibliografia
sobre temas relacionados ao violo no Brasil, o que aumenta de forma extraordinria a
quantidade de assuntos a serem pesquisados.
A tese que queremos defender a de que esses trabalhos de ps-graduao com
temtica violonstica possuem vertentes que abarcam um conjunto de ferramentas
auxiliares no desenvolvimento de pesquisadores, intrpretes e interessados em geral,
sendo tais vertentes baseadas em aspectos histrico-biogrficos, analticos e didticos.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
19/223
2
A ideia da nossa tese surgiu da necessidade de se organizar e estudar os
primeiros anos de escrita desses trabalhos de ps-graduao em universidades
brasileiras, observando o desenvolvimento dos mesmos a partir de uma srie de
parmetros como: escolha do tema e da universidade, classificao do estudo realizado
e nome do orientador do trabalho. Utilizamos alguns referenciais tericos para inserir
cada uma dessas obras em vertentes especficas, com intuito de ajudar o leitor a buscar
leituras direcionadas sua escolha.
Jos Nunes FERNANDES1escreveu em um artigo publicado pela Associao
Brasileira de Educao MusicalABEM, observando que:
Alguns autores j discutiram a pesquisa em educao musical no
Brasil, mas no fazem uma listagem e uma anlise de materiaisproduzidos, apenas comentam a produo do campo amplamente.Falar do estado da arte em educao musical e em msica complicado, uma vez que h, sem dvida, uma lacuna na produobibliogrfica no que se refere a isso. Talvez possa estar de acordo como que Alves-Mazzoti (2002) j questionava na rea de educao, ofato de os pesquisadores brasileiros no se interessarem pela produode tais estudos.
Nosso trabalho procurou encontrar respostas a questionamentos como:
1)
Para qual funo, especificamente, essas teses e dissertaes contribuem nodesenvolvimento de msicos, professores e interessados?
2) Quais as similaridades encontradas de temas entre esses trabalhos?3) Quais as relaes entre os programas de ps-graduao das universidades e os
trabalhos escritos?
4) H caractersticas especficas em cada uma das regies brasileiras, no que tange temtica e resultados dos trabalhos escritos na ps-graduao em termos de
violo?
5) Quais foram os temas mais abordados pelos pesquisadores, e por qu?6) H relao entre os orientadores dos trabalhos e os assuntos abordados pelos
pesquisadores?
Pensamos que nossa tese vem em momento oportuno, j que, como dissemos, a
quantidade de trabalhos cresce a cada ano, e consideramos necessrio organizar e
estudar essas teses e dissertaes. Muitas dessas pesquisas at agora no possuem
1
FERNANDES, Jos Nunes.Pesquisa em educao musical: situao do campo nas dissertaes e tesesdos cursos de ps-graduao strictu sensobrasileiros.Revista da Abem, n.16, 95-98, maro 2007, pg.96.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
20/223
3
verso digital, algumas no esto nem mesmo disponveis em bibliotecas e outras, por
incrvel que parea, no esto nem em posse das prprias pessoas que as escreveram.
Atualmente algumas instituies j esto pedindo para os estudantes colocarem suas
teses e dissertaes em verso digital na Internet, o que acaba sendo importante para a
difuso dos mesmos e para a pesquisa dos interessados.
Observamos ento que foi apresentada uma amostragem, ainda que da forma
mais substanciosa que pudemosj que no consideramos programas de ps-graduao
importantes nos quais alguns trabalhos sobre violo poderiam ser encontrados,
programas que muito tm contribudo para o desenvolvimento da Musicologia em que o
violo se insere. Nosso estudo foi desenvolvido na Universidade de So Paulo USP,
por exemplo, e ainda assim deixamos de considerar trabalhos defendidos nos
departamentos de Histria, Literatura e Cincias Sociais. Apesar disso, coletamos mais
de cem ttulos em universidades de quatro das cinco regies brasileiras (a regio Norte
no foi includa por no termos notcia de programas de ps-graduao nas quais o
violo poderia de alguma forma estar includo), alm do Distrito Federal. Alguns
trabalhos podem porventura ter ficado fora das anlises, mas a totalidade no era o
objetivo imediato, como nossa tese ir demonstrar adiante.
Encontramos, ao longo de nosso projeto, alguns percalos que atrapalharam
sensivelmente o desenvolvimento da nossa tese. Entre eles a falta de atualizao de
alguns sites de universidades pesquisadas e a dificuldade de encontrar alguns desses
textos nas bibliotecas das universidades em que foram defendidos, ou mesmo em outras
universidades importantes.
A delimitao do nosso estudo vai de 1991ano em que, como j dissemos, foi
defendida a dissertao de mestrado mais antiga coletada por ns com relao
especificamente ao violo no Brasil at 2007ano do incio de desenvolvimento da
nossa pesquisa de doutorado na USP. Abordamos apenas os trabalhos de ps-graduaorelacionados a teses e dissertaes strictu senso, deixando em aberto para outras
pesquisas aqueles de especializao. No enfocamos as teses e dissertaes defendidas
fora do Brasil pela dificuldade em termos acesso a esses textos. No abordamos tambm
as pesquisas sobre cordas dedilhadas que no possuem relao direta com o violo
como trabalhos sobre alade nem aqueles sobre msicos populares em que o
instrumento no seja o foco principal como, por exemplo, um estudo sobre o msico
Hlio Delmiro e sua relao com a guitarra eltrica. Mas podemos dizer que alguns dos
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
21/223
4
trabalhos tangenciam o instrumento, tais como as dissertaes de Paulo TIN2 e
Rosimari Parra GOMES3. Inclumos tambm um estudo relacionado ao msico popular
Dori Caymmi4e outros a respeito da guitarra eltrica e sua relao com o violo em
um concerto de Radams Gnattali - e da viola como acompanhante de modinhas elundus - no a viola de arco nem a viola caipira - pois os mesmos versaram sobre a
tcnica do instrumento ou sobre o desenvolvimento do mesmo em termos histricos.
Como procedimentos metodolgicos, utilizamos pesquisas em livros, revistas,
pginas oficiais das universidades naInternet, dicionrios, enciclopdias, dissertaes e
teses, alm de contatos com as pessoas que escreveram os trabalhos analisados.
Nossa tese est dividida em trs captulos. O primeiro, cuja primeira parte est
escrita em primeira pessoa, iniciado com o relato pessoal da minha trajetria de
atuao como msico, desde o perodo inicial de estudos em um conservatrio musical,
passando pelas diversas fases e etapas da minha formao musical na universidade, at
minhas atividades didticas como professor numa universidade federal. Em seguida, o
captulo disserta a respeito dos programas de ps-graduao das universidades em que
foram desenvolvidos os trabalhos abordados. Fizemos um breve histrico desses
programas, principalmente por meio das informaes colhidas nos sites dessas
universidades, organizado por ordem alfabtica de regio e de universidade. A regio
norte no aparece em nosso trabalho por no termos encontrado nenhuma tese ou
dissertao que tenha sido defendida em alguma universidade daquela regio.
A idia principal desse primeiro captulo foi a de contemplar o retrospecto de um
violonista a partir de sua experincia musical, relacionando-o com os programas de ps-
graduao. No caso, utilizamos o prprio autor dessa tese.
O segundo captulo diz respeito especificamente aos trabalhos de mestrado e
doutorado defendidos em universidades brasileiras. Fizemos uma pequena resenha de
todos os que pudemos encontrar, em ordem alfabtica, iniciando ento primeiramente
pela Regio Centro Oeste, depois Regio Nordeste, Regio Sudeste e, por fim, Regio
Sul. Alguns desses trabalhos foram posteriormente publicados por alguma editora, mas
2TIN, Paulo Jos de Siqueira. Trs compositores na msica popular no Brasil: Pixinguinha, Garoto eTom Jobim. Uma anlise comparativa que abrange o perodo do choro bossa-nova. Dissertao demestrado. USP. 2001.3 GOMES, Rosimari Parra: Cancioneiros Portugueses do Sculo XVI: Discusso e Metodologia daTranscrio de msica Polifnica vocal para Instrumentos de Cordas Dedilhadas. Dissertao de
mestrado. UNESP. 2003.4SMARARO, Jlio Cesar Caliman. O Cantador: A msica e o violo de Dori Caymmi.Dissertao deMestrado em Msica. UNICAMP. 2006.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
22/223
5
para a nossa anlise utilizamos sempre a verso original, ou seja, a dissertao de
mestrado ou tese de doutorado defendida em universidade brasileira, para unificarmos o
material de pesquisa.
A organizao das teses e dissertaes desse segundo captulo foi realizada a
partir das informaes contidas na capa dos prprios trabalhos, no que concerne
separao por programas de ps-graduao, nomes dos pesquisadores e orientadores,
universidades, ano de concluso e aos ttulos dos trabalhos.
O terceiro captulo analisa e classifica as dissertaes e teses em trs vertentes:
Trabalhos Analticos, Trabalhos Didticos e Trabalhos Histricos. Utilizamos como
referencial terico deste captulo os autores j citados, para melhor enquadramento dos
estudos em suas respectivas reas de aplicao. Finalizando o captulo, fizemos
consideraes a respeito das anlises das teses e dissertaes pesquisadas e inclumos
estatsticas dos locais e universidades onde foram desenvolvidos esses estudos. Tivemos
como foco a quantidade de trabalhos realizados em cada ano, as universidades em que
foram desenvolvidos, quais os tipos de trabalhos abordados e em quais estados
brasileiros essas teses e dissertaes foram defendidas.
Para a concluso, dividimos nossas consideraes entre aquelas que resultam das
anlises dos trabalhos e aquelas em que falamos sobre as aplicabilidades dessas teses e
dissertaes nas salas de aula ou na ajuda para pesquisas gerais de violonistas e demais
interessados. Como os intrpretes na preparao de um recital ou professoresnas
salas de aula podem utilizar esses trabalhos, por exemplo, e em que medida esses
escritos podem ser teis para os seus estudos? Quais trabalhos podem ser indicados para
os alunos?
No apndice, inclumos uma listagem pelo nome dos orientadorespor regio,
e os trabalhos que foram orientados por eles em cada ano especfico.
Valemos-nos de fontes distintas para os referenciais tericos dos captulos datese.
Para o primeiro captulo utilizamos inicialmente as pginas eletrnicas da
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) e dos
Programas de Ps-Graduao das universidades analisadas para buscarmos as relaes
entre os trabalhos apresentados e os objetivos assinalados por essa comisso de
aperfeioamento educacional. Buscamos tambm apoio no trabalho de Cludia Helena
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
23/223
6
SISTE5, no qual ela fez um apanhado sobre a criao e desenvolvimento dos Programas
de Ps-Graduao no Brasil. Como o assunto foi mais abordado por pesquisadores em
artigos especficos, utilizamos algumas revistas cientficas impressas e eletrnicas
desenvolvidas por universidades ou por outros rgos importantes como: Ictus, da
Universidade Federal da Bahia; Per Musi(criada em 2000), da Universidade Federal de
Minas Gerais; Opus (criada em 1989), da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-
Graduao em Msica (ANPPOM);Brasiliana, da Academia Brasileira de Msica eEm
Pauta, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Para o terceiro captulo, Maria de Lourdes SEKEFF6, Chris PHILPOTT7,
Edward CONE, apud KERMAN8 e Huib SCHIPPERS9 forneceram importantes
fundamentos sobre o que chamamos em nossa tese de Trabalhos Didticos em
msica. Utilizamos trabalhos de Ricardo IZNAOLA10, Abel CARLEVARO11 e
Henrique PINTO12, que fazem importantes referncias quanto ao estudo da tcnica e
repertrio violonsticos, sendo que Cludio RICHERME13foi utilizado pelas questes
gerais a respeito da tcnica instrumental. E Stefan KOSTKA14, Arnold
SCHOENBERG15e Paul HINDEMITH16deram importantes contribuies no que tange
a anlise musical, assunto bastante desenvolvido por estudantes especialmente na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esses autores foram utilizados para fazer
referncia ao que consideramos Trabalhos Analticos. A respeito do que chamamos
Trabalhos Histricos, nos valemos especialmente de Joseph KERMAN17, Alfredo
ESCANDE18e Nikolaus HARNONCOURT19como fontes principais.
5 SISTE, Cluda Helena. A pesquisa em prticas interpretativas: estudos recentes nas universidadesestaduais paulistas.Dissertao de Mestrado em Msica. USP. 2009. 128 pg.6SEKEFF, Maria de Lourdes.Da Msica: seus usos e recursos. So Paulo. Editora UNESP. 2002.7PHILPOTT, Chriss. Learning to Teach Music in the Secondary School. Londres e Nova York.RoutledgeFalmer. 2001.8
KERMAN, Joseph.Musicologia.So Paulo. Editora Martins Fontes, 1987.9SCHIPPERS, Huib. Facing the Music Shaping Music Education from a Global Perspective. Oxford.Oxford University Press. 2010.10IZNAOLA, Ricardo.KitharologusThe path to virtuosity.Mel Bay, 1997.11CARLEVARO, Abel.Escuela de la Guitarra.1. Edio. Montevido, Dacisa, 1978.12PINTO, Henrique. VioloUm Olhar Pedaggico.So Paulo. Ricordi Brasileira S/A, 2005.13RICHERME, Cludio. A Tcnica Pianstica Uma Abordagem Cientfica. So Paulo. Air MusicalEditora, 1996.14KOSTKA, Stefan. Materials and Techniques of 20th Century Music.University of Texas at Austin.1990.15SCHOENBERG, Arnold.Fundamentos da Composio Musical.So Paulo. EDUSP. 1991.16
HINDEMITH, Paul. Treinamento Elementar para Msicos.So Paulo. Ricordi. 1975.17KERMAN, Joseph. Op. cit.18ESCANDE, Alfredo. Carlevaro: Um Mundo Nuevo em la Guitarra. Montevido. Aguillar, 2005.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
24/223
7
Sabemos que a quantidade de desdobramentos que se pode fazer com nosso
objeto de estudo bastante grande, e deixamos claro que nosso trabalho foi realizado
com o intuito de ajudar futuras pesquisas, no pretendendo encerrar o assunto.
Nossa coleta de textos foi realizada principalmente por meio das pginas
eletrnicas das universidades, do pedido dos trabalhos usando mensagens eletrnicas e
telefonemas ou mesmo pessoalmente aos autores de teses e dissertaes que no
constavam nos sites das universidades, alm da busca de trabalhos acadmicos em
bibliotecas. Alguns desses textos foram tambm descobertos nas bibliografias
pesquisadas nesses prprios trabalhos.
Esperamos, enfim, que essa investigao continue sendo desenvolvida e
aprimorada com o passar do tempo, para que o violo tenha uma bibliografia com teses
e dissertaes mais organizada, mais abrangente e de acesso menos restrito.
19HARNONCOURT, Nikolaus. O Discurso dos Sons: Caminhos para uma Nova Compreenso Musical.Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor, 1998.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
25/223
8
Captulo 1.1 - A formao de um violonista no Brasil: uma experincia pessoal
envolvendo aprendizagem e ensino.
1.1.1 Prembulo
Reflexes musicais sobre a carreira de um msico no Brasil em suas diversas
vertentes (professor, concertista, escritor, pesquisador, organizador de festivais e
concursos etc.) no so fceis de serem encontradas em textos acadmicos, restringindo-
se quase que exclusivamente a biografias de artistas conhecidos, publicados por editoras
especializadas, em geral com informaes mais voltadas a fatos e curiosidades ocorridas
durante suas carreiras. O tema de interesse de muitos profissionais como os descritos
acima, entre os quais eu acredito me encaixar, igual a muitos colegas que possuem um
papel relevante para o desenvolvimento do violo no Brasil nesse incio de sculo vinte
e um. Ao buscar mais informaes em trabalhos acadmicos sobre msicos assim, senti
uma carncia de informaes, e ao mesmo tempo desejo de poder desenvolver o
assunto, pois seria uma forma de avaliar a minha experincia (e a de meus colegas)
frente a este momento de reflexo acadmica sobre o violo clssico no Brasil.
O violonista Alexandre VIEIRA faz diversas indagaes em sua dissertao de
mestrado, buscando conseguir respostas a questes como Como se forma um professor
de violo? Quais so seus espaos de atuao? A quem atendem? Como atuam? Como
se organizam no trabalho? Como definem o que fazem?. 20 Eu poderia acrescentar a
seguinte indagao, que faz parte essencial da minha tese e da minha carreira como
msico: De que forma os violonistas acompanham a produo intelectual ou a reflexo
acadmica sobre o violo? Eles utilizam as teses e dissertaes sobre violo disponveis
para seu enriquecimento artstico e intelectual, alm de material base a suas atividades
didticas?A flautista Ana Lucia de Marques LOURO, em sua tese de doutorado21, parte da
seguinte premissa: sendo professora de flauta (doce e transversa), como conjugar as
aulas na universidade com todas as outras manifestaes que fazem parte da vida do
msico, desde tocar em recitais, cuidar do departamento de msica e at mesmo a vida
20VIEIRA, Alexandre. Professores de violo e seus modos de ser e agir na profisso: um estudo sobreculturas profissionais no campo da msica.Dissertao de mestrado em msica, UFRGS, 2009, pg. 11.21
LOURO, Ana Lucia de Marques. Ser docente universitrio-professor de msica: dialogando sobreidentidades profissionais com professores de instrumentos. Tese de doutorado em msica. UFRGS, 2004,195 pg.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
26/223
9
familiar? Essas questes so importantes, pois quantos msicos, de qualquer
instrumento, no passam pela mesma situao no dia-a-dia? A identificao, em minhas
reflexes, com a temtica dessa musicista foi imediata, assim como acredito que muitos
outros na mesma situao tenham sentido o mesmo ao ler o seu trabalho. Pois, sobre a
atuao dos professores universitrios, a mesma pesquisadora coloca:
Suas atuaes so diversificadas, tanto na rea de msica, incluindo,alm da atuao instrumental, regncia, composio e organizao deeventos, como na academia, onde desenvolvem, alm do ensino doinstrumento e de outras disciplinas, atividades de extenso e pesquisae/ou exercem funes administrativas. Tal multiplicidade de papisest relacionada a muitos fatores. Entre eles, a escassez de pessoal nauniversidade pblica e uma viso (...) de que, hoje em dia, auniversidade busca um professor que exera outras funes alm dedar aula de instrumento e se apresentar em pblico.22
Mas o tema de educao, ensino e aprendizagem musical direcionado a
professores e alunos - nem sempre aos concertistas ou pelo menos aos descritos na
citao acima - em geral foi desenvolvido por didatas como Chris PHILPOTT, Gary
SPRUCE e Estello JORGENSEN, entre outros, que organizaram compndios voltados
exclusivamente ao assunto. PHILPOTT, por exemplo, no separa o conceito de teoria
musical sua prtica, mas utiliza a primeira como base racional segunda
23
. Spruce falaabertamente do incmodo de alguns professores quando devem adotar uma nova
abordagem criativa e prtica educao musical, pois isso requer que os mesmos
utilizem radicalmente novos mtodos de ensino 24. JORGENSEN, por sua vez, diz que
tornar-se professor uma questo de comear a pensar que j se um professor25.
No Brasil, durante o perodo colonial, os jesutas voltavam seus ensinamentos
musicais aos ndios e negros, com um repertrio essencialmente europeu. Com a
expulso dos jesutas, a funo de ensino musical recaiu sobre os mestres de capela, os
quais eram organizados por iniciativas particulares e por irmandades e confrarias. O
primeiro conservatrio musical brasileiro, contudo, seria criado apenas em 1841, por
Francisco Manuel da Silva, o Imperial Conservatrio, que viraria posteriormente o que
hoje a Escola de Msica da Universidade Federal do Rio de Janeiro 26. Com isto,
22LOURO. Op. cit. Pg. 60.23PHILPOTT, Chris.Learning to Teach Music in the Secondary School.Routledge Falmer, 2001, pg. 1.24SPRUCE, Gary. Teaching Music. Routlegde Falmer, 1996, pg.1.25
JORGENSEN, Estello R. The Art of Teaching Music.Indiana University Press, 2008, pg. X.26ESPERIDIO, Neide. Educao profissional: reflexes sobre o currculo e a prtica pedaggica dosconservatrios.Revista da ABEM, n.7, setembro de 2002, pg. 69.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
27/223
10
atrelaram-se diferentes formas de ensino e tradio de sculos no Brasil, e que do
margem a discusses at os dias de hoje, em simpsios, artigos e debates gerais.
A Associao Brasileira de Educao Musical (ABEM) mantm anualmente um
importante simpsio sobre o assunto, assim como uma revista com artigos relacionados
ao tema, em especial sua relao com a realidade escolar brasileira. Fundada em 22 de
agosto de 1991 na Bahia27, a ABEM lanou sua primeira revista em maio de 1992,
dizendo-se um espao para o professor de msica. Os artigos seriam publicados em
quatro subreas: histria da educao musical, teoria metodolgica, reflexo sobre a
prtica da educao musical e atualizao bibliogrfica. Entre os artigos publicados no
primeiro nmero, um deles referiu-se, de forma sinttica, sobre a histria da educao
musical como um prembulo para a educao musical brasileira no sculo vinte. Neste
artigo28o autor observa que os processos de pedagogia musical tiveram uma trajetria
lenta e tortuosa, permeada por preconceitos e crendices29. Partindo desde autores
gregos, passando por Guido DArezzo, perodo da Reforma - quando foram criadas as
escolas pblicas, visando popularizar o ensino da msica -, Rousseau - que comps
canes com o intuito de difundir e popularizar o ensino da msica - e Horace Mann -
que via o ensino da msica como ligao entre a teoria e o contedo humano -, entre
outros, o autor observou tambm os impasses entre as diferentes ideias sobre o ensino
musical - o embate sobre Educao Musical e Musicalizao, j no incio do sculo
vinte -, finalizando com o modelo de canto orfenico idealizado por Villa-Lobos na Era
Vargas, e suas implicaes pelos anos seguintes. Este artigo praticamente mostraria
exemplos de temas e problemticas a serem desenvolvidas nas edies seguintes, o que
a ABEM vem mantendo at hoje (2012) de forma sistemtica.
Sobre metodologia de ensino musical, Nicolau dos SANTOS, em artigo citado
por Jusamara SOUZA30, j colocava na dcada de 1930, no Brasil, uma diferenciao
entre mtodo e processo, sendo o primeiro a sistematizao e organizao do conjuntodas relaes de uma disciplina para o seu entendimento, enquanto que o segundo
trataria da aplicao, diretamente relacionado com o contedo que ir aprender.
O intuito deste captulo, excepcionalmente escrito em primeira pessoa, atrelar
minha experincia pessoal aos trabalhos de ps-graduao escritos no Brasil, buscando
27Revista da ABEM, Ano 1, n.1, maio de 1992, pg.5.28MARTINS, Raimundo. Educao Musical: uma sntese histrica como prembulo para uma idia deeducao musical no Brasil do sculo XX.Revista da ABEM, n.1, ano1, maio de 1992, pg. 6-11.29
Idem, pg.6.30SOUZA, Jusarama. Funes e Objetivos da aula de Msica Vistos e Revistos Atravs da Literatura dosAnos 30.Revista da ABEM, n.1, ano1, maio de 1992, pg.12.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
28/223
11
encontrar a importncia dessas teses e dissertaes para a formao de um violonista
nesse pas. Como minha formao musical passou por diferentes campos de estudos,
desde aulas particulares at a universidade, passando por conservatrios e escolas de
msica, acredito que o paralelo de meus estudos com os escritos acadmicos possa ser
realizado. Entre os questionamentos que busco encontrar, e que sero desenvolvidos nos
prximos captulos, esto:
1- Qual a importncia dos trabalhos de mestrado e doutorado sobre violo escritosno Brasil, em relao formao de um violonista nesse pas?
2- A metodologia utilizada nos conservatrios, escolas de msica, universidades eaulas particulares possui algum vnculo com os trabalhos de ps-graduao
escritos no Brasil?
3- possvel se fazer alguma metodologia de ensino no violo baseada nessesestudos de ps-graduao? Em caso afirmativo, como fazer?
4- Em que medida um msico-professor pode se beneficiar desses trabalhos de ps-graduao, sendo que o mesmo precisa se dedicar s aulas, recitais, atividades
burocrticas na universidade e suas relaes familiares e cotidianas?
Em busca dessas respostas, acredito que esse captulo possa servir como base
para todo o restante da tese, sendo que nos prximos captulos sero atrelados os
estudos desses trabalhos acadmicos minha formao musical. Sobre minha colocao
em primeira pessoa, subjetiva, para este captulo, me valho de Liora BRESLER,
segundo o qual
Sem dvida, numa viso de mundo construtivista, examinar ainterao do eu mesmo do pesquisador com os dados essencialpara a interpretao. A pesquisa interpretativa comea com a biografiae o eu mesmo do pesquisador. Os tipos de conhecimento, valores eidentificaes que o pesquisador possui so considerados como a
chave que modula interpretaes e compresses.31
1.1.2 Formao
A formao de um msico varia bastante no Brasil. Podemos dizer que no h,
especificamente, uma seqncia definida na qual um violonista possa seguir em termos
31 BRESLER, Liora. The Interpretative Zone in International Qualitative Research. Em Pauta, PortoAlegre, v. 12, n.18-19, pg.16, abril-novembro 2001.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
29/223
12
acadmicos, e que sirva para uma atividade profissional futura. O que se passa na vida
de um msico desse tipo, inicialmente, e o que ele ir ser num futuro prximo, pode ou
no ter uma coerncia. Caso ele seja um futuro concertista ou um futuro professor
universitrio (ou ambos), a somatria das experincias far diferena no momento em
que ele se decidir. VIEIRA fala que a profisso do professor de msica parece marcada
pela tenso entre as identidades de docente e de msico.32
Em minha formao, cursei sete anos de conservatriotendo como professores
de violo Carlos Fernandes e Levy Harzer -, quatro anos de bacharelado em msica
tendo aulas com Gicomo Bartoloni -, um ano de especializao em violo erudito,
onde tive lies com o professor Robert Brightmore e quatro anos de mestrado em
musicologia, onde fui orientado pela pesquisadora Flvia Camargo Toni, alm de um
ano de estudos particulares com o violonista Fbio Zanon. Antes disso, porm, houve
um curto perodo em que busquei aprender violo de ouvido, observando meus irmos
mais velhos e tentando tocar acordes bsicos para msicas simples. Creio que esse
incio bastante comum na vida de muitos violonistas, e esta viso corrobora-a Ralph
DENYER ao afirmar:
Os primeiros passos no violo so, em geral, resultantes de um
interesse repentino despertado, que leva a pessoa a passar algumashoras seguidas tentando repetir um ou dois acordes bsicos, arecolher-se com o violo para algum canto sossegado da casa paradescobrir, sozinho, a sonoridade do instrumento, ensaiar a melhorcolocao dos dedos, enfim, travar o primeiro contato mais ntimocom sua mais recm-descoberta paixo.33
Segundo Marcos Krning CORRA, os trabalhos cientficos publicados sobre
aprendizagem do violo fora do ambiente escolar, com jovens adolescentes no Brasil,
ainda so escassos.34Maura PENNA observa que violo de ouvido uma forma de
aprendizagem prtica da msica, caracterstico de pessoas que aprenderam por conta
prpria, observando os outros tocarem: olho no brao do violo mais ouvido em
ao.35 Para Keith SWANWICK, o aprendizado por intermdio da observao de
32VIEIRA, Alexandre. Op. cit. Pg. 26.33DENYER, Ralph. Toque: curso completo de violo e guitarra.Rio de Janeiro: Rio Grfica e Editora,s.p., 1983.34CORRA, Marcos Krning. Violo sem professor: um estudo sobre processos de auto-aprendizagem
com adolescentes.Dissertao de mestrado em msica. UFRGS. 2000. Pg. 4.35PENNA, Maura. O desafio necessrio: por uma educao musical comprometida com a democratizaono acesso a arte. Cadernos de Estudo: educao musical 4/5. Atravez/UFMG, 1994. P.15.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
30/223
13
outras pessoas tambm bastante comum (sendo que minha diferena de idade para
meu irmo de um ano e para minha irm mais velha de cinco anos):
A aprendizagem em msica envolve imitao e comparao com
outras pessoas. Somos fortemente motivados a observar os outros, etendemos a competir com nossos colegas, o que tem um efeito maisdireto do que quando instrudos apenas por aquelas pessoas as quaischamamos professores. (...) A imitao e a competio soparticularmente fortes entre pessoas da mesma faixa etria e mesmogrupo social.36
Sobre os sete anos de conservatrio, eu os cursei por no saber exatamente o que
fazer com a msica, e o conservatrio pareceu algo mais lgico e natural para uma
criana com dez anos de idade. Esses sete anos foram cumpridos para obter um diploma
que eu no sabia exatamente para o que servia ou para o que poderia servir no futuro.
Como muitas crianas na mesma situao, a concluso e obteno de um diploma era
algo natural, como um diploma de um curso de ingls ou de algum outro curso similar.
Os quatro anos do curso de msica na Universidade Estadual Paulista, entre
1991 e 1994, para mim e minha famlia, era algo esperado e necessrio. O
encaminhamento dos meus estudos foi determinando o que, em tese, eu sou hoje como
msico e como pessoa.
O perodo de especializao na Guildhall School of Music and Drama foi
tambm determinante para um rumo especfico da minha carreira, especialmente em
termos do que eu poderia fazer com toda a bagagem que eu j havia visto, ouvido e
estudado, tanto no Brasil quanto no exterior. O estudo na Inglaterra aconteceu por
influncia de um dos meus professores, e por eu j ter algumas informaes sobre o que
eu iria estudar na escola - em termos curriculares, diga-se, e no em termos de estudos
no violo, especificamente -, e que era, enfim, o que eu achava que poderia ser til para
minha carreira naquele momento e para minha carreira futura.
Os quatro anos de mestrado em artes na Universidade de So Paulo foram
importantes e determinantes para saber organizar um estudo e um projeto de forma clara
e definida. Alm do mais, foi importante para eu terminar um projeto que havia
comeado h quase dez anos, e que eu imaginava ser importante para a histria do
violo brasileiro pois seria o resgate de obras e compositores que foram relevantes
36SWANWICK, Keith.Ensino Instrumental enquanto ensino de msica. Trad. Fausto Borm. Cadernosde Estudo: Educao Musical 4/5. So Paulo: Atravez, 1994.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
31/223
14
para o instrumento e que praticamente estavam ausentes das salas de concerto e do
repertrio dos alunos de violoe para minha carreira como violonista.
Alm desses estudos, outro fator decisivo na minha vida como msico: as aulas
particulares, durante um ano - dez meses, especificamente - com o principal violonista
paulista jovem daquela poca1990 -, Fbio Zanon.
Farei, agora, um histrico de como foram meus estudos, apresentando a
metodologia utilizada para cada caso. Tanto o estudo quanto a metodologia sero
vinculados aos outros captulos da tese, buscando definir e justificar a importncia dos
trabalhos de ps-graduao sobre violo escritos no Brasil.
1.1.3 Conservatrio
Meus estudos em conservatrio foram realizados durante sete anos seguidos
(perodo da formao para obteno do diploma), entre 1982 e 1989 com um ano de
iniciao para crianas inicialmente numa Escola de Msica (Curso Bsico) e,
posteriormente, no Conservatrio Musical Mrio de Andrade (Curso Tcnico), sugerido
pelo prprio professor da primeira escola, visando minha obteno de um diploma
vlido. Ambas essas escolas se encontram na zona oeste da cidade de So Paulo.
O primeiro local que estudei o que Marlia SILVA caracteriza como uma das
escolas alternativas, aquelas que no possuem vnculo com a rede oficial de ensino 37,
como muitas de iniciativas particulares, espalhadas nos bairros de pequenas e grandes
cidades. Afirma a autora:
De modo geral so escolas que apresentam currculo ou programa dedisciplinas flexvel e repertrios voltados para estilos musicaisvariados, vinculados aos instrumentos dos quais dispem, e tambm,
ao interesse daqueles que procuram a escola para aprender msica,sem oferecer, contudo, a concesso de diplomas.38
Luciana Pires REQUIO entende por escola de msica alternativa aquelas
cujos professores que compem seu quadro no precisam ser concursados, e a
37
SILVA, Walnia Marlia. Escola de Msica Alternativa: sua dinmica e seus alunos.Revista da ABEM,vol.3, ano 1, pg. 51.38Idem.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
32/223
15
legitimao de sua competncia docente est ligada diretamente sua atuao como
msico.39
A metodologia utilizada por professores de violo seguiu inicialmente o padro
estabelecido pelo violonista uruguaio Isaas Svio. Este foi o primeiro professor a
conseguir estabelecer o estudo do violo clssico em um conservatrio no Brasil (em
1947, no Conservatrio Dramtico e Musical de So Paulo, sendo institucionalizado em
1960), e foi tambm quem redigiu o contedo programtico desses estudos. O violonista
e professor Maurcio Orosco escreveu uma dissertao de mestrado sobre Svio, onde
colocou que:
Com a criao do curso de violo no Conservatrio Dramtico eMusical de So Paulo, a escola violonstica de Isaias Savio ganhariauma ferramenta divulgadora que auxiliaria no processo de sua prpriaformao, que por sua vez estimularia o aprendizado formal e pormeio deste, a oficializao do curso treze anos aps sua criao.40
Apesar da oficializao do curso de violo por Svio ter atravessado trs
dcadas, desde o incio dos anos 30 o ensino musical era obrigatrio no Brasil, com o
decreto 19890 de 11 de abril de 1931. Villa-Lobos, em 1932, trabalhou junto
Superintendncia Educacional e Artstica (SEMA), e que teria uma transformao a
partir de 1945 com a redemocratizao do pas41. Mas o violo no estava inserido nesta
ao pedaggica, que era principalmente baseada no canto orfenico (ou canto
coletivo). interessante notar que, j em 1932, PELAFSKY (apud SOUZA)
diferenciava os conceitos de educao musical esta visando educao musical
coletiva com o conceito de instruo musical esta ministrada nos institutos e
conservatrios42.
A metodologia de Isaas Svio inclua, entre outros, sete cadernos de Estudos
violonsticos e sete cadernos de Peas de compositores violonistas dos perodos barroco,
clssico e romntico, alm de um caderno com obras para crianas e alguns outros sobretcnica violonstica. Esses cadernos deveriam ser estudados em cada perodo especfico,
para totalizar o contedo programtico estabelecido por esse professor. So eles:
39 REQUIO, Luciana Pires de S. Saberes e Competncias no mbito das Escolas de MsicaAlternativa: a atividade docente do msico-professor na formao profissional do msico .Revista daABEM, n.7, setembro de 2002, pg. 63.40 OROSCO, Maurcio Tadeu dos Santos. O Compositor Isaas Svio e suas obras para violo.
Dissertao de Mestrado. USP. 2001. Pg. 36.41SOUZA, Jusarama. Op.cit. pg.12.42SOUZA, Jusarama, op.cit. pg. 18.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
33/223
16
Vamos estudar violo. So Paulo, Ricordi, 1972. 16 p.
Estudos para o 1. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971. 15 p.
Estudos para o 2. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971. 16 p.
Estudos para o 3. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971. 20 p.
Estudos para o 4. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971. 20 p.
Estudos para o 5. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971.
Estudos para o 6. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971.
Estudos para o 7. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1971.
Coleo de peas clssicas para o 1. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972. 9 p.
Coleo de peas clssicas para o 2. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972. 10 p.
Coleo de peas clssicas para o 3. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972. 15 p.Coleo de peas clssicas para o 4. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972. 18 p.
Coleo de peas clssicas para o 5. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972.
Coleo de peas clssicas para o 6. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972.
Coleo de peas clssicas para o 7. ano de violo. So Paulo, Ricordi, 1972.
Tcnica e exerccios para o aperfeioamento do violo; ex - tcnica diria do violo.
So Paulo, Ricordi, 1972. 16 p
No meu estudo violonstico naquela pequena escola, fiz inicialmente o caderno
de estudo infantil para violo e, em seguida, integralmente os quatro primeiros cadernos
desses Estudos e Peas editados por Svio, no perodo dos quatro primeiros anos (entre
1982 e 1986). Alm disso, estudei tambm o citado caderno de tcnica diria do
instrumento e algumas poucas composies do repertrio violonstico brasileiro, entre
elas as msicasAbismo de Rosas, de Amrico Jacomino Canhoto e Sons de Carrilhes,
de Joo Pernambuco.
Em seguida, j no Conservatrio Musical Mrio de Andrade, meus estudos
tomaram um rumo distinto e eu no mais utilizei regularmente a metodologia proposta
por Isaas Svio, como havia feito anteriormente. Neide ESPERIDIO escreve que o
conservatrio musical prioriza a prtica instrumental, j que ao aluno compete adquirir
as habilidades necessrias para a execuo instrumental, em detrimento de uma
educao musical que contemple o indivduo como um ser atuante, reflexivo, sensvel e
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
34/223
17
criativo.43Ao professor, por sua vez, competiria a responsabilidade de transmitir os
conhecimentos durante o processo de aprendizagem.44J sem a necessidade formal de
cumprir risca o contedo programtico estabelecido por Isaas Svio, o professor de
violo deste conservatrio se ateve a msicas de um nvel similar ao proposto pelo
violonista uruguaio, mas sem se utilizar dos cadernos de Estudos e Peas (como eu
vinha seguindo at ento). Com isso, estudei basicamente obras do repertrio do
violonista espanhol Andrs Segvia e alguns outros estudos e obras variadas. Entre as
msicas que me dediquei estiveram obras de Mrio Castelnuovo-Tedesco (Tarantellae
Tonadilla sur Le nom de Andrs Segovia), Federico Moreno Torroba (Preldio e
Serenata Burlesca), Manuel Ponce (Sonatina Meridional), Johann Sebastian Bach
(Fuga BWV 1000), Trrega (Recuerdos de Alhambra,Pavana,Maria,Marietta, Oremus
e alguns Preldios) e Heitor Villa-Lobos (Preldio n.1e Choros n.1). Em meu recital de
formatura, toquei Sevilla, de Isaac Albeniz, em transcrio de Andrs Segvia.
Com relao ao estudo de tcnica pura, o professor de violo indicou um mtodo
de violo de Mario Rodrigues Arenas, do qual realizei diferentes frmulas de arpejos,
ligados e escalas.
Em termos de msica de cmara, estudei algumas obras para violo e piano, que
eram basicamente os dois nicos instrumentos musicais ensinados naquele
conservatrio musical. Entre as msicas estudadas estiveram peas curtas de Anton
Diabelli e Ferdinando Carulli.
Alm dos estudos de violo solo e msica de cmara, na grade curricular
constavam as disciplinas: Harmonia, Histria da Msica, Teoria Musical, Histria da
Msica Brasileira e Canto Coral.
Os conservatrios musicais brasileiros, especialmente os mais antigos,
costumavam seguir o mesmo modelo europeu de ensino, visando basicamente a prtica
instrumental. Entre as dissertaes de mestrado que questionam o papel de ensino dosconservatrios, h a de Levi Teixeira, segundo o qual:
As entrelinhas do modelo conservatorial europeu se constituem deimposies de como deve ser a msica, e principalmente como amsica deve ser feita. O problema desse modelo a criao de umparadigma que preconiza o fazer musical como o necessariamentevirtuosstico da msica de concerto e isso no d conta do que fazermsica, bem como dos diversos empenhos e desempenhos dos
43ESPERIDIO, Neide. Op.cit. pg.70.44Idem.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
35/223
18
caminhos da msica. Sendo assim, a prtica conservatorial estpresente na medida em que o professor se fecha na sua viso demundo e desconhece outras possibilidades, em especial, aquelasapontadas pelo perfil a ser formado45.
1.1.4 Aula Particular
Em seguida aos meus estudos no conservatrio, fiz dez meses de aulas
particulares com o violonista Fbio Zanon. Segundo REQUIO, msicos como este
violonista apesar de possurem formao musical universitria se encaixam no
quesito msico-professor, aquele que
teve uma formao profissional voltada para o desenvolvimento deatividades artsticas na rea de msica, e que coloca a atividadedocente em segundo plano no escopo de suas atividades profissionais,apesar dessa ser, freqentemente, a atividade mais constante e comuma remunerao mais regular em seu cotidiano profissional.46
Zanon, basicamente, no fez mudanas na minha tcnica violonstica, atendo-se
ao estudo musical. J na primeira aula separamos as obras que iramos trabalhar durante
o ano, optando por uma diversidade de autores e perodos, especialmente algo pouco
tocado por outros violonistas. Foram estudadas, ento, as seguintes obras:
Marcos Lopes: Trs Movimentos para Violo Solo
David Kellner:Fantasia em R Maior
Wenceslaw Matiegka: Grande Sonata em R Maior
Heitor Villa-Lobos:Estudo n.10
Miguel Llobet:El Noi de la Mare
Em termos de tcnica pura, estudei apenas a base da tcnica de Abel Carlevaro,
de forma rpida. Isso representou uma mudana ou pelo menos um contraponto ao
estudo tcnico do violo que eu vinha praticando desde o incio, j que h diferenas
radicais entre as vises violonsticas de Carlevaro e a tcnica de Isaas Svio, sendo que
o estudo deste ltimo provinha de Trrega47, e o ensino da tcnica de Carlevaro
significaria algo moderno ou pelo menos nunca antes visto no Brasil e Amrica
45
TEIXEIRA, Levi Trindade. Op.cit. pg. 52.46REQUIO, Luciana Pires de S. Op.cit.pg. 64.47Cf. OROSCO, Maurcio, op. cit.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
36/223
19
Latina at a dcada de 1970. O violonista e professor Marcelo Fernandes escreveu uma
dissertao de mestrado sobre Carlevaro, na qual traou as diferenas da tcnica desse
violonista com a de Trrega48. Segundo Fernandes:
(...) a tcnica considerada moderna para o violo continuava sendo atarreguianaforjada para um repertrio romntico, e os mtodos deestudo/aprendizagem tambm estavam muito aqum de instrumentoscomo o piano e o violino.O labor de Carlevaro vem justamente reparar essa anacronia doinstrumento, racionalizando a teoria e o estudo do violo e dotando-lhe de maiores possibilidades de atender s exigncias da msica e dasplatias modernas.49
Da mesma forma, o estudo com Fbio Zanon me proporcionou uma mudana de
viso do instrumento para algo mais em vigncia com os violonistas internacionais
daquela poca50.
1.1.5 Universidade
Estudei na Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP)
entre 1991 e 1994. O professor de violo desta universidade, Giacomo Bartoloni, focou
basicamente na parte musical, tendo deixado o estudo da tcnica pura escolha de cadaaluno. Assim como Fbio Zanon, esse professor no seguiu nenhum mtodo
violonstico nem se utilizou de uma metodologia especfica de ensino.
Fernando GALIZIA, relata em seu artigo:
(...) h um nmero relativamente pequeno de pesquisas sobre o ensinouniversitrio, e em especial sobre o ensino universitrio de msica noBrasil, bem como sobre os profissionais que a atuam e seu trabalho
acadmico. Essa falta de pesquisa sobre esse nvel de ensino noreflete a importncia e complexidade do ensino universitrio demsica.51
Sobre a grade curricular das universidades brasileiras, muito se escreveu e
debateu em fruns, encontros e revistas especializadas, com posicionamentos distintos.
48PEREIRA, Marcelo Fernandes. A Escola Violonstica de Abel Carlevaro.Dissertao de mestrado.USP. 2003.49Idem, pg. 213.50Esta refere-se ao ano de 1990 em So Paulo.51
GALIZIA, Fernando Stanzione, AZEVEDO, Maria Cristina de Carvalho Cascelli e HENTSCHKE,Liane. Os professores universitrios de msica: um estudo sobre seus saberes docentes.Revista da ABEM,n.19, maro de 2008, pg. 33.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
37/223
20
Magali KLEBER, por exemplo, observa que a necessidade de construo de modelos
distintos do conhecimento musical e de novas metodologias e formas de avaliao,
tambm nos provoca um desconforto quando nos deparamos com a realidade vivida
hoje nos meios acadmicos diante das dificuldades para a concretizao de propostas
inovadoras.52 Maura PENNA observa que o mito do virtuosismo ainda permanece
como uma meta ideal na maioria dos bacharelados em msica 53.
Nos quatro anos de universidade pude trabalhar uma diversidade de obras com o
professor de violo, em geral msicas de um nvel j profissional, visando recitais em
localidades distintas tanto na capital quanto no interior do estado. Como essa
universidade possui campi em uma grande quantidade de cidades, eu pude me
apresentar em quase duas dezenas de cidades distintas, alm da capital. Foi um perodo
de treinamento e aprendizado muito grande, especialmente para testar repertrio,
psicologia da performancee outros fatores de uma carreira j profissional. Ocorreu o
que KLEBER observou sobre a
ampliao dos textos e contextos musicais abordados como contedose saberes musicais, bem como a ampliao da sala de aula,normalmente centro do processo de ensino e aprendizagem, paraoutros espaos, quer sejam fsicos, geogrficos ou virtuais.54
Entre as obras trabalhadas em sala de aula estiveram desde msicas do perodo
renascentista (Allemandae Gallardade John Dowland,My Lord Willoughbys Welcome
Home de William Byrd), at msicas de vanguarda (Canticum de Leo Brouwer),
passando por sutes de Bach (BWV 996) e obras do perodo clssico (Variaes sobre
um tema de Mozart opus 9, de Fernando Sor). Tive oportunidade tambm de estudar
obras do prprio Giacomo Bartoloni, como o Tango Martes e obras referenciais do
repertrio neoclssico ingls, como oNocturnalde Benjamin Britten.
Outra caracterstica do estudo na Universidade Estadual Paulista foi a
possibilidade de tocar repertrio de msica de cmara. Com isso, pude aprender e
apresentar obras para violo e canto (soprano, mezzo-soprano e tenor), violo e flauta,
violo e violoncelo, violo e violino, duos, trios e quartetos de violes, violo e piano e
violo e orquestra de cmara. Tive oportunidade de tocar em duo com meu professor de
52KLEBER, Magali. Qual Currculo? Pensando espaos e possibilidades .Revista da ABEM, n.8, marode 2003, pg. 58.53
PENNA, Maura. No basta tocar? discutindo a formao do educador musical.Revista da ABEM, n.16,maro de 2007, pg. 53.54Idem, pg. 58.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
38/223
21
violo e aprender bastante a forma como ele mesmo encarava uma carreira profissional.
Toquei tambm com um quarteto de violes formado por ele, com o qual nos
apresentamos em alguns projetos musicais importantes.
Meu recital de formatura, em novembro de 1994, acabou sendo um retrato de
meu perodo de quatro anos nessa universidade. O programa, em trs partes ( maneira
de Andrs Segovia), foi moldado para apresentar primeiramente o repertrio tradicional
do violo na primeira parte, o repertrio camerstico na segunda parte e, na parte final,
uma obra referencial especfica do repertrio moderno do violo:
Primeira Parte: violo solo
-Melancholy Galliard/My Lady Hunsdon s Puffe(John Dowland)
-Sonata em R Maior(Domenico Scarlatti)
-Variaes sobre um tema de Mozart opus 9(Fernando Sor)
-Torre Bermeja(Isaac Albeniz)
Segunda Parte: msica de cmara
-Ballata DalEsilio(Mrio Castelnuovo-Tedesco) com o tenor Milton Monte
-Song for voice and guitar(Elliot Carter) com o mezzo-soprano Edinia de Oliveira
-Preludio e Fuga em Do sustenido menor (Castelnuovo-Tedesco) com Giacomo
Bartoloni
-Serenata Al Alba del Dia(Joaquin Rodrigo) com a flautista Celina Charlier
Terceira Parte: violo solo
-Nocturnal(Benjamin Britten)
Observando meus contemporneos de outras faculdades de msica, percebi queo estudo na Universidade Estadual Paulista me proporcionou oportunidades visando j
uma carreira profissional em curto prazo. O estmulo dado pelo meu professor de violo
- no apenas ministrando aulas, mas tocando com os alunos - tambm foi fundamental
para o prosseguimento da minha carreira.
Em termos de grade curricular, a UNESP apresentava, alm das aulas de
Instrumento e Msica de Cmara, as disciplinas de Canto Coral, Harmonia, Histria da
Msica, Histria da Msica Brasileira, Anlise Musical, Instrumento Complementar(Piano) e algumas matrias optativas (como Anlise da Msica Renascentista e
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
39/223
22
Metodologia da Pesquisa). Com exceo dessas ltimas, pouco acrescentou, em termos
de grade curricular, ao que eu j havia estudado (de forma mais elementar) no
Conservatrio Musical Mrio de Andrade. Com isso, o principal diferencial que pude
observar entre o estudo na Universidade e o estudo no Conservatrio Musical foi o do
aprofundamento do ensino de alguns tpicos - em especial, o da Histria da Msica - a
prtica intensiva da msica de cmara e a possibilidade de apresentao musical em
diferentes localidades do estado de So Paulo.
Numa comparao entre Conservatrio e Universidade no Brasil, alm das
possibilidades (reais e necessrias em termos acadmicos) proporcionadas pelo diploma
superior de ensino, creio que h o aspecto do convvio musical mais intenso entre os
estudantes. No caso da universidade, esse convvio mais focado em termos de
profissionalismo, ao contrrio do conservatrio, que mais focado em termos
amadores. Essa questo necessitaria de maior estudo, principalmente por causa da
validade e abrangncia de um diploma de conservatrio no Brasil em comparao com
o mesmo diploma na Europa, por exemplo, onde o estudo do violo nas universidades
mais restrito ao mbito da pesquisa e do ensino. Pude perceber isso de forma mais clara
quando do final dos meus estudos na Universidade Estadual Paulista em 1994 e durante
meus estudos de especializao numa escola de msica na Inglaterra logo aps a
concluso do bacharelado na UNESP.
1.1.6 Curso de Especializao
Meus estudos na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, Inglaterra,
foram realizados no perodo letivo de setembro de 1995 at julho de 1996. Nessa escola,
como em muitas outras do hemisfrio norte, o ano escolar estabelecido em trs
perodos, correspondentes aos termos de outono (setembro a dezembro), inverno(janeiro a abril) e primavera (maio a julho), deixando o perodo de frias para o termo
de vero (entre julho e setembro). A organizao da grade curricular, com isso, foi
diferenciada do que eu havia visto at ento no Brasil.
Ao pesquisar o currculo dos professores e a grade curricular percebi que o
estudo era totalmente focado na performance musical, algo que poderia me
proporcionar um aprimoramento das minhas experincias profissionais j testadas na
Universidade Estadual Paulista. A meta do virtuose musical, assim como eu havia
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
40/223
23
observado na UNESP, novamente se apresentava, mas com ainda mais direcionamento,
haja vista a grade curricular desta escola inglesa.
Com Robert Brightmore, o professor de violo desta escola - e um discpulo de
Julian Bream - novamente meu estudo do violo foi focado nas obras musicais. Ele
jamais me falou de tcnica instrumental, no seguiu nenhum mtodo de violo nem
utilizou nenhuma metodologia especfica de ensino. Com isso pude me aprofundar num
repertrio bastante extenso, totalmente dedicado a obras referenciais do repertrio
violonstico profissional. Entre as msicas estudadas estiveram a Elegy de Alan
Hawsthorne, Sonata II (Eduardo Lopez-Chavarri), Acentuado e Compadre (Astor
Piazzolla),Ritmata(Edino Krieger),Due Canzoni Lidie(Nuccio DAngelo),Petit Suite
(Radams Gnattali), Suite BWV 996 (Bach), Sonatina (Federico Moreno Torroba) e
Tarantos (Leo Brouwer), entre vrios outras. Em meu recital de formatura me
apresentei tambm em duo com meu ex-professor Fbio Zanon (que na poca tambm
morava em Londres), ocasio em que tocamos aPer Suonare a Due, de Leo Brouwer.
Alm das aulas de violo solo, tive na grade curricular aulas de Msica de
Cmara e Leitura Primeira Vista (com o alaudista David Miller), Interpretao da
Msica Antiga (com o alaudista Nigel North), Tcnica de Alexander (com Elizabeth
Waterhouse) e uma aula em conjunto denominada Recital Class(tambm com Robert
Brightmore), na qual todos os alunos se reuniam s sextas-feiras para tocar e discutir
assuntos pertinentes carreira musical ou ao violo especificamente. Hoje em dia, creio
que aulas como essas se forem realizadas no Brasil podem ser beneficiadas com
teses e dissertaes, em que se poderia discutir a respeito de algum desses trabalhos
semanalmente. Essas aulas, em especial, representaram algo bastante diverso de tudo o
que eu j havia visto, tanto no conservatrio quanto na universidade, e me mostraram a
importncia do relacionamento e da troca de informaes entre os alunos e o professor.
As mesmas tambm me deram ideias para algo similar na minha atitude enquantoprofessor na Universidade Federal da Paraba (UFPB), o que ser explicado mais
adiante neste captulo.
Na tese de LOURO, h uma importante parte em que a pesquisadora entrevista
alguns professores de instrumentos musicais, e os relatos apresentam um panorama de
ideias e reflexes a respeito do papel do professor dentro de seu contexto especfico.
Essas entrevistas tambm falam a respeito da formao desses didatas, e as palavras de
um deles (uma professora) revelam algo parecido com o que ocorreu a muitos msicosbrasileiros que foram estudar por certo perodo no exterior:
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
41/223
24
Quando fui aos Estados Unidos, a sim, eu estava no meio de umbando de gente que tocava e que tocava to bem quanto e mais, muitomais do que eu e gente que tocava menos que eu, ento, eu estavadentro daquele fervo... e aquilo foi muito, muito bom no sentido de
ampliar um pouco os horizontes e conhecer mais coisas. A formaoaqui foi muito boa em termos instrumentais e meu professor deinstrumento deu muitas oportunidades e realmente a preocupao delefoi dar uma formao muito completa e eu reconheo que elerealmente deu isso. Ento, no me faltava nada, era s uma questo deampliar os horizontes, a experincia do exterior foi fundamental,tambm, como j disse, para ampliar os horizontes, para saber... queexistem outras coisas, para estar num meio onde existe mais prtica demsica, para ver outras coisas, ver boas orquestras, ter melhoresreferenciais de qualidade, de sonoridade, coisa que aqui quaseimpossvel de se ter a no ser por gravaes, CDs....55
No meu caso, o fato de o curso da Guildhall School of Music and Drama ter
durao de trs termos distintos, com dois pequenos recessos entre eles (e um perodo
de frias mais prolongado no vero), faz com que o aluno tenha tempo de repensar sobre
os estudos e se preparar para o perodo seguinte. Numa comparao entre conservatrio
musical brasileiro, universidade de msica no Brasil e escola de msica na Inglaterra, a
principal diferena que encontrei (alm da durao dos perodos) foi a de foco.
Enquanto o Conservatrio trabalhou pensando em algo amador, e a universidade em
algo profissional, a especializao foi um aprofundamento dos estudos da universidade,
visando especificamente o estudo do violo solo.
1.1.7 Mestrado
Meu perodo de mestrado em musicologia ocorreu entre 1998 e 2002, na
Universidade de So Paulo.
A orientadora dessa dissertao de mestrado foi a professora doutora Flvia
Camargo Toni, que organizou comigo o trabalho da seguinte maneira56:
Introduo
55
LOURO, Ana Lucia de Marques. op.cit.pg. 71.56ANTUNES, Gilson. Amrico Jacomino "CANHOTO" e o desenvolvimento da arte solstica do violoem So Paulo. Dissertao de mestrado. USP, 2002.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
42/223
25
Captulo IInformaes sobre a utilizao do violo no Brasil entre os sculos XVI e
XIX
I.1Primeiras manifestaes do violo no Brasil
I.2 O novo ambiente violonstico em So Paulo com os estudantes da
Faculdade de Direito do Largo So Francisco
I.3O ambiente violonstico em So Paulo 19001930
I.4Agustn Barrios em So Paulo1917/1929
I.5Josefina Robledo: Uma mulher violonista no Brasil1917/1922
Captulo IIAmrico Jacomino1889/1928
II.1Nascimento de Amrico Jacomino
II.2Primeira gravao de Amrico Jacomino1912
II.3Em 1916, o primeiro grande recital de Amrico Jacomino. A mudana de
opinio da crtica em So Paulo
II.4Casamento de Amrico Jacomino e mudana para So Carlos
II.5Em 1925, Amrico Jacomino retorna capital paulista
II.6O concurso O que nosso 1927
Captulo IIIPanorama do violo em So Paulo1904/1928
III.1Os violonistas nas salas de concerto: Canhoto, Barrios, Robledo e outros
III.2 Os violonistas nos estdios das gravadoras: Canhoto, Levino Albano,
Rogrio Guimares e outros
Captulo IV O violonista Amrico Jacomino: O msico, a obra, o professor e seu
instrumento
IV.1Aspectos tcnico-interpretativos e recursos violonsticos empregadosIV.2 - Manuscritos e partituras impressas de Amrico Jacomino
IV.3Lacunas no repertrio de Amrico Jacomino
IV.4OMtodo de violode Amrico Jacomino
IV.5 Comentrios a respeito do violo que pertenceu a Amrico Jacomino
utilizado para a gravao do CD anexo
IV.6Consideraes sobre a gravao do CD anexo
Concluso
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
43/223
26
Bibliografia
Anexo ITabela de gravaes realizadas por violonistas entre 1902 e 1928
Anexo IIO repertrio dos violonistas e as salas de concerto em que se apresentaram
Anexo IIITranscrio de obras de violonistas-compositores do incio do sculo vinte
O perodo do mestrado foi de aprendizagem em termos de organizao das
ideias e da metodologia de uma pesquisa musical. Aps um distanciamento de quase
uma dcada, desde o momento em que escrevi essa monografia, numa autoanlise eu
creio que a principal contribuio deste trabalho (que na minha catalogaocomo ser
vista adiantese encaixa como Trabalho Histrico) foi a de mostrar a importncia das
trs primeiras dcadas do sculo vinte para a histria do violo em So Paulo e por
apresentar a biografia do principal violonista daquele perodo, Amrico Jacomino
Canhoto, por meio de fontes primrias. At ento eram poucas as informaes sobre
esse violonista, tanto em artigos de revistas e jornais quanto em artigos na Internet, esta
ainda em desenvolvimento no Brasil (no ano de 2002). Este tambm foi um dos
primeiros trabalhos a mostrar, com o apoio de notcias de jornal e programas de
concertos, as atividades de importantes nomes do violo mundial e sua relao com o
Brasil, ou mais especificamente com a cidade de So Paulo. Entre os violonistas citados
estiveram o paraguaio Agustn Barrios, os espanhis Josefina Robledo e Sainz de la
Maza, o cubano Gil Orozco e os brasileiros Mozart Bicalho, Levino Albano da
Conceio e Joo Pernambuco, alm de Amrico Jacomino. Nenhum trabalho com essa
especificidade havia sido feito no Brasil anteriormente.
O curso de mestrado foi constitudo do cumprimento dos crditos acadmicos
(com um mnimo de quatro matrias, no meu caso) e da escrita da dissertao, apslongas conversas com a orientadora e muitas horas de pesquisa.
Esse estudo de ps-graduao me proporcionou o prazer da pesquisa (algo que
eu vinha fazendo desde o perodo inicial de meus estudos na UNESP) e tambm me deu
os requisitos bsicos para tentar realizar concursos para professor em alguma
universidade pblica, algo que se tornou atualmente bastante comum entre msicos
recm-formados nas universidades, e que ser discutido posteriormente nessa tese.
Segundo o artigo 66 das Leis de Diretrizes e Bases (LDB) n.9.394 de 20 de dezembro
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
44/223
27
de 1996 (BRASIL, 1996), a preparao para o exerccio do magistrio superior far-se-
em nvel de ps-graduao, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado57.
A pianista Cludia Helena SISTE realizou uma dissertao de mestrado sobre o
estudo na ps-graduao em universidades paulistas, que ser tambm utilizada em
captulo posterior nessa tese58. Por ora, podemos considerar que o curso de ps-
graduao em msica se deu por meio de um longo processo, assim como a implantao
dos cursos de graduao em msica nas universidades (o que ser demonstrado em
seguida, pelo exemplo da Universidade Federal de Uberlndia). SISTE afirma em sua
dissertao:
A chegada dos programas de ps-graduao em msica no se deu
diretamente, seno que foi precedida de uma importante etapa.Primeiramente, foram introduzidos os programas de ps-graduaoem artes, nos quais a msica convivia com as outras reas artsticas, asaber, as artes plsticas, as artes cnicas e as artes corporais.59
Uma discusso premente em termos de pesquisa, no caso de violonistas,
pianistas e demais instrumentistas, relacionada quantidade de tempo necessrio para
se fazer um trabalho de investigao nas universidades, o que faz com que esses
instrumentistas por vezes se sintam isolados. Uma das entrevistadas da tese de LOURO
faz um relato muito em voga com relao ao assunto:
Eu acho que agora, j que as regras acadmicas cobram da gente, quea gente faa iniciao cientfica, para a gente se qualificar comopesquisador, para finalmente publicar, para finalmente a gente fazerparte de um grupo de pesquisa no CNPq. Se as regras do jogo soessas, ento ns podemos simplesmente comear a jogar dentro dasregras. Vou dar um exemplo: eu tenho um aluno que fez metodologiada pesquisa agora e como era uma cobrana do curso, ele escreveu umprojeto de pesquisa, e esse projeto de pesquisa foi sobre uma obra de
um compositor brasileiro para o nosso instrumento que ele seinteressou em pesquisar; quais so os interesses dele? Ele gostaria dever se a obra considerada idiomtica, ento esse termo umadefinio que a gente tem que saber do que se trata, o que uma obraidiomtica para o nosso instrumento, alm do que uma obra que sexiste em manuscrito... Ento ns vamos agora colocar esse projeto nogabinete de projetos e vamos trabalhar em cima disso... Este trabalho
57BRASIL.Lei nmero 9.394 de 20 de dezembro de 1996.58
SISTE, Cluda Elena. A pesquisa em prticas interpretativas: estudos recentes nas universidadesestaduais paulistas.Dissertao de Mestrado em Msica. USP. 2009. 128 pg.59Idem. op. cit. pg. 9.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
45/223
28
feito em tudo o que se faz dentro da minha sala de aula, ento, por queisso no uma pesquisa?60.
E a discusso continua no relato de outro instrumentista:
Essa atividade escrita contraditria com a atividade musical...porque no fazer msica, escrever sobre msica. Ento, ela no para msicos prticos, ela para quem no est no palco... tu nopodes escrever no palco... Enquanto tu ests escrevendo tu no estsno palco. Tu vais ver que minha atuao como escritor resumida,no que eu no escreva, porque eu prefiro estar no palco, a minhaproduo ligada ao palco, a minha viso universitria no sentido deampliar a magnitude da minha atuao.61
Esse assunto chegou a ser discutido tambm em trabalhos violonsticos. APRO
escreve a respeito em sua dissertao de mestrado, observando que
Grande parte dos instrumentistas que se deparam com a perspectiva deenfrentar uma ps-graduao costumam lamentar o fato de ter deabandonar seus instrumentos, em vista das exigncias que umapesquisa demanda no mbito terico. Tal fato no ocorreu conosco,pois exploramos esse territrio sem prejuzo recproco. Pelo contrrio,procuramos demonstrar as vantagens colhidas nocontrabalanceamento entre teoria e prtica.62
A equao que pretende combinar a dedicao pesquisa com a carreira solista
por vezes tem se mostrado realmente sem soluo, inclusive entre os violonistas, uma
vez que as duas atividades demandam muita dedicao e so igualmente absorventes.
1.1.8 Trabalho docente: atividades aplicadas e mtodos utilizados para os alunos
Minhas atividades docentes esto relacionadas de forma direta com minha
satisfao profissional, tanto quanto a rea de msico-concertista. Financeiramente eu
posso afirmar que a docncia no apenas a minha forma principal de sobrevivncia,
seno tambm uma das mais importantes entre os violonistas clssicos no s no
Brasil, mas em todo o mundo , j que esse instrumento no faz parte da orquestra
sinfnica tradicional (outra importante forma de sobrevivncia de msicos eruditos).
60LOURO, Ana Lucia de Marques. op. cit. Pg. 101.61
Idem.62APRO, Flvio. Os Fundamentos da interpretao musical: aplicabilidade nos 12 Estudos para violode Francisco Mignone.Dissertao de mestrado em msica. USP. 2004. Pg. 9.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
46/223
29
Sobre a satisfao profissional, Rod HARRIS privilegia fatores intrnsecos sua anlise
a respeito do tema:
Satisfao no trabalho uma rea muito estudada, ainda que complexa
e com muitas variveis. Os trabalhos so freqentemente derivadospor fatores externos como salrio, meio ambiente, localizao e moral.Um trabalhador pode muito bem estar satisfeito com o trabalho se umnmero suficiente de fatores externos est no lugar. Satisfaointrnseca, por outro lado, derivada de uma satisfao do trabalho emsi mesmo.63
Comecei a dar aulas muito cedo, num momento em que no tinha ideia exata de
como era ser um professor. Meus ensinamentos se baseavam no que eu havia aprendido
e no que poderia ser, de alguma maneira, funcional para aquele momento e lugar, mas
certamente no era o ideal que eu iria observar no futuro. Isso, como eu pude observar
depois, ocorreu da mesma forma com muitos outros colegas msicos. Luis Ricardo
QUEIROZ e Vanildo MARINHO escrevem a respeito da atividade de professor de
msica e que eu iria aprender posteriormente de forma mais direta, quando na
docncia de uma universidadeque:
Por experincias vivenciadas em toda a trajetria da educao
musical, notrio que a formao do professor tem particularidadesque vo alm do perfil de formao do msico, exigindoconfiguraes que transcendem o domnio tcnico e estrutural damsica.64
Levi TEIXEIRA, em sua dissertao de mestrado, coloca algo que eu sempre
senti e tive conscincia desde o incio de minhas atividades didticas:
O docente ciente de que o processo ensino-aprendizagem inconcluso
contribui para desencadear um permanente movimento de busca e,como conseqncia, estar preparado e atualizado para astransformaes e reformulaes que a docncia superior exige nacontemporaneidade. Desse modo, no h docncia sem discncia: asduas se explicam e seus sujeitos no se reduzem a condio de objetoum do outro, ou seja, ensinar inexiste sem aprender e vice-versa.65
63HARRIS, Rod.Musician and Teacher: the relationship between role identification and intrinsic careersatisfaction of music faculty at doctoral degree granting institutions. Tese de doutorado. Denton:University of North Texas, 1991, pg. 03.64QUEIROZ, Luiz Ricardo Silva e MARINHO, Vanildo Mousinho. Novas perspectivas para a formaode professores de msica: reflexes acerca do Projeto Poltico Pedaggico da Licenciatura em Msica da
Universidade Federal da Paraba.Revista da ABEM, n.13, setembro de 2005, pg. 84.65TEIXEIRA, Levi Trindade. Referenciais para o ensino do violo na formao do musicoterapeuta.Dissertao de mestrado em msica. Universidade Federal de Gois. 2005. Pg. 35.
-
7/14/2019 Gilson Antunes Corrigido
47/223
30
Minhas atividades como professor de violo foram iniciadas em 1988, quando
dei aulas de instrumento complementar (violo erudito) para pianistas no Conservatrio
Musical Mrio de Andrade. Naquela poca eu utilizava os mtodos que conhecia e tinha
estudado com meus professores, especialmente os lbuns j citados de Isaas Svio,
tanto de tcnica quanto de estudos e peas progressivas.
Em 1992 comecei a dar aulas no Conservatrio Musical de Santana, nesse
mesmo bairro na zona norte de So Paulo, onde deixei de utilizar apenas os mtodos de
Isaas Svio e passei a utilizar tambm mtodos variados de acordo com o nvel do
estudante. Minhas atividades nesse conservatrio duraram apenas alguns meses, mas eu
pude aplicar desde cadernos de tcnica de Abel Carlevaro66at pequenos Estudos de
autores como Edelton Gloeden e Paulo Porto Alegre. No havia uma grade curricular
especfica a ser seguida, nem mesmo aquela proposta por Isaas Svio, e o pouco
perodo de atuao nesse conservatrio no foi capaz de me aprofundar em uma
atividade docente mais intensa e organizada. Acredito, agora, que as teses e dissertaes
j escritas no Brasil podem auxiliar os professores e alunos de conservatrios na
construo dessa grade curricular, o que ser mostrado nos prximos captulos.
Em abril de 1997, logo aps o meu perodo de estudos na Inglaterra, iniciei
minhas atividades docentes na Escola Municipal de Msica de Ourinhos, onde
permaneci por mais de sete anos consecutivos, at maio de 2004. Foi uma poca de
aprendizado em termos de forma de didtica, pois pude aplicar uma quantidade
considervel de mtodos, livros e obras para os meus alunos daquela escola. Caso
houvesse maior facilidade em conseguir os trabalhos de ps-graduao j realizados no
Brasil, certamente os mesmos tambm seriam utilizados nessas aulas.
Desde julho de 2004, sou professor da Universidade Federal da Paraba. Este
curso um dos mais antigos de violo dentro de uma universidade no Brasil, sendolecionado desde o final da dcada de 1970. Ainda h dvidas a respeito de qual seria o
curso de violo mais antigo dentr
top related