ginÁstica para todos final
Post on 27-Nov-2015
423 Views
Preview:
TRANSCRIPT
GINÁSTICA PARA TODOS
Kalyla Maroun
Cláudia Xavier Correa
APRESENTAÇÃO
O presente texto está dividido em três capítulos, e tem como objetivo apresentar
um panorama histórico, conceitual, analítico e metodológico sobre a Ginástica Geral ou
Ginástica para Todos na atualidade. Pretendemos trazer subsídios tanto para a
compreensão do que seria tal modalidade gímnica, assim como para as possibilidades de
trabalho com essa modalidade no campo da Educação Física.
Desse modo, no capítulo 1 trazemos alguns elementos introdutórios
fundamentais para demarcar a origem da Ginástica para Todos, destacando os aspectos
históricos, institucionais e sua relação com outras modalidades gímnicas. Além disso,
apresentamos brevemente os principais festivais (nacionais e internacionais) que
compõem o universo das apresentações da Ginástica para Todos.
No capítulo 2, oferecemos alguns conceitos possíveis para a Ginástica para
Todos presentes na literatura acadêmica, destacando, também, os seus principais
fundamentos de trabalho, isto é, os atributos que caracterizam sua prática e nos auxiliam
a identificá-la e diferenciá-la de outras práticas que compõem o vasto campo da cultura
corporal.
Finalmente, no capítulo 3 discorrermos sobre os campos de atuação possíveis da
Ginástica para Todos, que vão desde o âmbito do lazer ao contexto da Educação Física
escolar. Em seguida, apresentadas as especificidades dos dois campos citados
anteriormente, enfatizamos alguns aspectos metodológicos que poderão orientar o
trabalho pedagógico em ambos os casos.
Encerramos o presente livro com algumas considerações que, ao contrário de
incitarem o encerramento do debate, tem como intuito fomentar novas frentes de
discussões e considerações acerca da Ginástica para Todos no contexto da Educação
Física.
CAPÍTULO 1- BASES INTRODUTÓRIAS DA GINÁSTICA PARA TODOS
O presente capítulo tem como objetivo principal apresentar um breve histórico
da ginástica, bem como descrever algumas modalidades gímnicas que compõe o vasto
campo da chamada cultura corporal, objeto de estudo da Educação Física. A partir
disso, tornar-se-á possível a compreensão da relação dos aspectos históricos vinculados
à ginástica para com o nascimento da Ginástica Geral (GG), atualmente Ginástica para
todos (GPT). Além disso, teremos subsídios para apontar as aproximações e os
afastamentos da GPT - conceito que será melhor definido no capítulo 2 do presente
livro - com outras modalidades gímnicas. Ao final do capítulo, a título de ilustração,
traremos alguns dados que apontam para a dimensão dos festivais ligados à GPT no
Brasil e no mundo, destacando o aspecto institucional dessa modalidade gímnica.
Para tanto, o capítulo foi dividido em três unidades. Na primeira delas, serão
trazidos indícios que apontam para o nascimento da ginástica na era moderna, ou seja,
abordaremos a temática do Movimento Ginástico Europeu e o nascimento da chamada
ginástica científica, considerando, também, ainda que muito brevemente, o papel do
corpo e das práticas corporais em contextos históricos anteriores. Na segunda delas,
apresentaremos um panorama sobre algumas das principais modalidades ginásticas que
podem vir a respaldar o trabalho com a GPT, ainda que seu conceito não se restrinja
especialmente a este universo, expandindo-se, também, para outras práticas presentes na
cultura corporal. O objetivo dessa segunda unidade não é esmiuçar tais modalidades de
forma detalhada, mas apresentá-las ao leitor como forma de inseri-lo no campo das
modalidades gímnicas. Finalmente, na terceira unidade traremos um breve histórico do
nascimento dos festivais de ginástica de apresentação na Europa, bem como alguns
dados sobre os eventos mais importantes a nível internacional e a nível nacional da
GPT.
A título de introdução, abrimos este primeiro capítulo trazendo um panorama
sobre os aspectos que institucionalizaram a Ginástica para Todos (GPT) enquanto uma
modalidade gímnica não competitiva no Brasil e no mundo.
Nesse sentido, devemos recorrer, ainda que brevemente, ao histórico de criação
da Federação Internacional de Ginástica. Ressaltamos que esta é a mais antiga dentre
todas as associações desportivas do mundo, originando-se na já extinta Federação
Europeia de Ginástica, que surgiu em 1881. Os Estados Unidos, ao se filiar à Federação
Europeia de Ginástica no ano de 1921, contribuiu para a mudança no nome desta, que
passa a ser chamada, nesse mesmo ano, de Federação Internacional de Ginástica (FIG).
Entretanto, como nos lembra Ayoub (2003), é apenas entre os anos 1933 e 1934 que a
FIG atinge, de fato, nível internacional, uma vez que passa a atender países de outros
continentes, que iniciam um movimento de filiação à federação.
Em relação ao termo Ginástica Geral (GG), este foi elaborado pela FIG entre as
décadas de 1970 e 1980, para definir a ginástica não competitiva vinculada à
apresentação. Ressaltamos que a FIG modificou a nomenclatura da GG em 2006,
passando a chamá-la, a partir de então, de Ginástica para Todos, através de um
documento oficial intitulado “Ginástica Geral: Ginástica para todos. Mais do que uma
justa mudança de nome”, publicado em 25 de novembro de 2006:
A mudança sinaliza claramente tanto para a comunidade ginástica
como o público em geral o importante papel que a Ginástica Geral
representa como a base para todas as atividades da FIG. Além disso, o
novo nome proporciona um entendimento imediato de que a modalidade oferece uma ampla gama de atividades e é de fato para
todas as idades, habilidades, gêneros e cultura [...] Agora, a Ginástica
para Todos permitirá a FIG também posicionar o esporte da ginástica em seu lugar de direito como uma as maiores atividades esportivas
que proporciona enormes benefícios para a saúde e fitness aos
cidadãos em todos os campos do mundo [...].
Destacamos que, no meio acadêmico, alguns pesquisadores optaram por
permanecer utilizando o termo Ginástica Geral, em detrimento de Ginástica para Todos.
Tal posição aponta para uma tentativa de consolidação da modalidade no vasto universo
da cultura corporal. Desse modo, a mudança no nome poderia enfraquecer o movimento
em torno da disseminação da GG ou GPT.
No Brasil, a Confederação Brasileira de Ginástica, com sede atualmente na
cidade de Curitiba (Paraná), surge apenas no ano de 1978. Em relação à incorporação do
termo Ginástica Geral pela CBG, tal fato ocorre no ano de 1984, o que resultou, então,
na criação do Comitê Técnico de Ginástica Geral ligado à confederação. Segundo
Paoliello (1997), como parte do movimento de difusão da então chamada Ginástica
Geral no Brasil, foram organizados nos anos de 1988 e 1989 dois cursos de GG na
UNESP (Rio Claro), ministrados por professores estrangeiros. Apesar dos dois cursos
citados terem sido um marco importante no processo de disseminação da GG no país, a
nova diretoria da CBG vem deixando de apoiar iniciativas desse tipo.
1.1 BREVE HISTÓRICO DA GINÁSTICA
No período pré-histórico, por uma questão de sobrevivência ao perigo oriundo
do ataque de animais, para fugir de intempéries, conseguir alimentos, festejar vitórias,
dentre outros, o homem, completamente imerso na natureza, tinha necessidade de
utilizar suas valências físicas em movimentos corporais, tais como: corridas, marchas,
saltos, arremessos, equilíbrio, transportes de objetos. Desse modo, seu corpo era a
ferramenta mais importante para sua sobrevivência. Apesar do conceito de ginástica não
poder ser aplicado a esses movimentos, justamente pela falta de sistematização dos
exercícios físicos nesse contexto, pode-se ponderar que os movimentos corporais
realizadas no cotidiano da vida do homem pré-histórico poderiam ser incorporados a
qualquer modalidade gímnica atualmente e, portanto, representar unidades de conteúdo
a serem trabalhadas em aulas de Educação Física escolar.
Para Publio (2002), a ginástica é uma prática corporal que existe desde a
Antiguidade, e que tinha como objetivo a formação do corpo como forma de manter e
melhorar a saúde. Contudo, devemos ressaltar que o alargado universo das chamadas
ginásticas, competitivas e não competitivas, envolve movimentos que exigem valências
físicas específicas como força, flexibilidade, equilíbrio, também estavam presentes em
outras civilizações para além da Grécia Antiga, a exemplo da Egípcia e da Chinesa.
Como nos lembra Pereira (1988), as ginásticas podem ser caracterizadas como um
fenômeno universal, uma vez que há vários exemplos de conjuntos sistematizados de
exercícios físicos em diferentes civilizações e períodos históricos. Nesse sentido, é
possível dizer que a ginástica nasce a partir de diferentes contextos, assumindo funções,
significados e objetivos diferenciados, de acordo com os aspectos sociais, históricos e
culturais da sociedade na qual estava inserida.
O termo ginástica, tal como o concebemos hoje, surge na Grécia. A palavra
ginástica tem origem etimológica no termo grego “gymnastiké”, que, segundo o
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa “a arte de exercitar o corpo para
fortificá-lo e dar-lhe agilidade”.
De acordo com Siebert (1995), o corpo, na Grécia antiga, era visto como
elemento de glorificação e de interesse do Estado. Era valorizado pela sua capacidade
atlética, sua saúde e fertilidade. A prática de exercícios físicos fazia parte da educação
de todo futuro cidadão grego. O ensino da ginástica era confiado aos pedotribos, que
eram simultaneamente mestres de ginástica, professores de higiene, de medicina do
desporto e divulgadores da ética do comportamento desportivo. Havia alguns preceitos
e conhecimentos específicos com relação ao treinamento dos atletas. Estes faziam seus
exercícios despidos, após friccionarem todo o corpo com óleo para aquecer a
musculatura antes do esforço. A fricção que precedia o exercício era enérgica e seguida
de outra fricção de óleo doce, destinada a relaxar e a tirar a fadiga muscular. Tudo isso
era realizado sob a supervisão atenta dos pedotribos (BRAUSTEIN & PÉPIN, 1999).
Mas, se na Grécia Antiga, o ideal de Educação do homem era pautado em um
modelo integral, que levasse em conta a educação da alma e do corpo, no período da
Idade Média, as práticas corporais foram deixadas de lado. Para a salvação da alma, o
corpo deveria ser completamente desconsiderado, já que a religião, representada pela
Igreja Católica, considerava-o fonte de pecados e luxúrias. Ao mesmo tempo, o corpo
ocupava também um lugar de redenção para alma, o que pode ser representado pelos
autoflagelamentos e autopunições que possuíam, no sofrimento e na dor, espaço para
amenizar o peso dos pecados cometidos.
Prosseguindo nessa linha histórica, após a desvalorização do corpo em
detrimento da salvação da alma ocorrida durante o longo período da Idade Média, temos
o período do Renascimento, que acaba por contribuir positivamente para o
ressurgimento do corpo e das práticas corporais, fazendo com que haja o
reapaercimento das ginásticas. Como cita Nunomura e Tsukamoko (2009), no século
XVIII foram criadas bases pedagógicas sistematizadas para os diferentes tipos de
ginásticas existentes. Estudiosos de diversas áreas protagonizaram esse movimento de
sistematização e ressurgimento dessa prática. Dentre elas destacamos especialmente
estudiosos das artes cênicas, da dança, da música e da pedagogia.
O nascimento da Educação Física está pautado no reaparecimento das ginásticas
na era moderna. Tal fato pode ser representado por um movimento de sistematização de
exercícios físicos na Europa do século XIX denominado de Movimento Ginástico
Europeu. Segundo Soares (2001), esse foi consolidado a partir das diversas formas de se
pensar a prática dos exercícios físicos em países como Dinamarca, Áustria, Alemanha,
França, Suécia e Inglaterra. As respectivas escolas ginásticas que se formaram em cada
um desses países tiveram como origem as festas populares, o circo, os exercícios
militares, o malabarismo, esgrima, equitação, jogos da nobreza, dentre outros. Esses
levaram aos processos de sistematização dos movimentos e dos gestos corporais,
ancorados no positivismo e no método científico característicos do respectivo período
histórico, transformando-os na chamada ginástica científica. Desse modo, práticas
corporais presentes no cotidiano como forma de sociabilidade, ludicidade e
divertimento, passaram a ter como princípio a utilidade dos gestos e a economia de
energia sobre os corpos. Para além disso, a ginástica científica tinha como objetivos a
preparação física para as guerras e a modelação civil e moral dos corpos em uma
sociedade burguesa que começava a nascer.
Passando rapidamente pela inserção da ginástica na educação formal brasileira,
em 1882, o projeto de Rui Barbosa - “Reforma do Ensino Primário e várias instituições
complementares da Instrução Pública” - importa o modelo de sistematização da
ginástica da Europa, o que representou um destaque ímpar para a Educação Física no
âmbito escolar. A proposta do projeto ia desde a instituição de uma sessão especial de
ginástica em escola normal até a inclusão da ginástica nos programas escolares, com o
estudo em horas distintas das do recreio e depois das aulas (CASTELLANI FILHO,
2001). Nessa sociedade, que nascia sob a égide da burguesia, era interessante o
incentivo à construção de um novo homem, mais forte, mais ágil, mais empreendedor.
Desenvolver e fortalecer física e moralmente os indivíduos era uma das funções a serem
desempenhadas pelo sistema educacional brasileiro, o que ocorria, tal como na Europa,
por meio da ginástica. Nesse sentido, o objetivo da ginástica ou Educação Física na
escola brasileira era a construção de um projeto de homem disciplinado, obediente e
submisso. Destacamos que, atualmente, com a esportivização das modalidades
gímnicas, a ginástica vem sendo uma prática elitizada, já que se transformou em um
esporte de rendimento ao qual poucos têm acesso, fato este que contribuiu para seu
afastamento da escola.
1.2 O UNIVERSO DAS MODALIDADES GÍMNÍCAS
Os exercícios físicos presentes em modalidades gímnicas podem ser
classificados de diversas formas, segundo diferentes autores. Destacamos três destas
classificações, que são mais comumente utilizadas: 1) Quanto à forma de execução
(exercícios naturais, exercícios rítmicos, exercícios formativos, exercícios laborais); 2)
quanto ao esforço (exercício forte, exercício médio, exercício fraco); 3) quanto à ação
(exercícios generalizados ou exercícios localizados). Todavia, vale destacar que tais
classificações podem estar sobrepostas umas às outras, isto é, elas não são excludentes.
No universo das modalidades gímnicas é possível classificá-las, também, como
competitivas ou não competitivas. Esta última classificação torna-se essencialmente
relevante para a compreensão do conceito e dos fundamentos que regem a GPT.
Apresentaremos abaixo algumas modalidades gímnicas competitivas presentes no
universo da ginástica, atualmente.
1.2.1 GINÁSTICA DE TRAMPOLIM
A Ginástica de Trampolim (GT) é realizada com o Trampolim Acrobático (TA),
também conhecido como cama-elástica, e faz parte de uma modalidade ginástica de
competição.
O aparelho do TA, como é conhecido hoje, foi criado por um americano da
década de 1930 do século XX chamado George Nissen. Este foi o grande responsável
por difundi-lo nos Estados Unidos e pela criação de uma sistematização técnica e
metodológica para a modalidade. O TA, que teve origem nos Estados Unidos, chega
primeiramente a Suíça, em meados da década de 1950, conquistando em poucos anos a
Europa como um todo.
Apesar de as origens do TA não serem bem definidas na literatura, segundo
Brochado e Brochado (2009), implementos que facilitam o impulso em execução de
acrobacias foram utilizados em apresentações circenses ainda na Idade Média.
Abaixo apresentamos uma imagem do TA utilizado na modalidade da GT.
No Brasil, o TA foi introduzido apenas na década de 1970 pelo professor José
Martins Oliveria Filho, de São Paulo, chegando, posteriormente, aos estados de Minas
Gerais, Rio de Janeiro, e, mais recentemente, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pernambuco e
Espírito Santo.
Em 1990 acontece o primeiro Campeonato Brasileiro de Trampolim Acrobático
no Brasil, no estado de São Paulo, evento este que marcou a fundação da Associação
Brasileira de Trampolim Acrobático (ABRATA). Em 1995, foi criada a Confederação
Brasileira de Trampolim Acrobático (CBTA) em substituição à ABRATA.
A modalidade conta com variações nos tipos de saltos e acrobacias realizadas no
TA, que podem apresentar diferentes possibilidades. Destacamos alguns deles: salto
carpado; salto grupado; salto afastado; salto sentado; salto de costas; salto frontal;
mortal para frente e mortal para trás.
1.2.2 GINÁSTICA AERÓBICA ESPORTIVA
A Ginástica Aeróbica é uma modalidade da ginástica esportiva que tem como
origem a definição do termo aeróbica, criado pelo Dr. Kenneth H. Cooper, médico do
exército americano, na década de 1970. Segundo Mattos (2009), foi a partir da criação
das bases do método aeróbico nos Estados Unidos pelo Dr. Cooper que muitos europeus
a levaram para seus respectivos países, adaptando-a e recriando-a de acordo com seus
próprios métodos, para ensiná-la.
Apesar de ter surgido como uma forma de ampliar o campo dos exercícios
físicos para um público geral, no final da década de 1980 a Ginástica Aeróbica logo se
transformou em uma modalidade competitiva de alto nível, transformando-se na
Ginástica Aeróbica Esportiva (GAE). A primeira competição desta modalidade foi
realizada nos Estados Unidos, em 1984. Entretanto, foi apenas em 1989 que surgiram as
primeiras Federações de Aeróbicas pelo mundo, que contribuíram para institucionalizá-
la enquanto uma modalidade competitiva de ginástica.
Em 1995 houve o primeiro campeonato mundial de GAE em Paris, organizado
pela Federação Internacional de Ginástica (FIG). Este evento foi o primeiro campeonato
mundial oficial da modalidade, tendo contado com a participação de 34 países.
Segundo Mattos (2009), aqui no Brasil, o interesse pela Ginástica Aeróbica
começa a nascer entre os anos de 1981 e 1982. Clubes, academias e centros esportivos
passam a oferecê-la nesse período como forma de proporcionar uma atividade física
diversificada para um público ampliado. Esse mesmo autor apresenta uma definição do
que seria a GAE no contexto de uma modalidade esportiva de competição, descrevendo-
a como:
Modalidade esportiva em que os atletas apresentam uma rotina
coreográfica, realizando uma sequencia de movimentos e exercícios
em um determinado espaço de tempo (1’45”), com tolerância máxima
de cinco segundos a mais ou a menos. As rotinas são compostas por
combinações complexas e de alta intensidade, de passos básicos, oriundos da tradicional dança aeróbica e elementos específicos de
dificuldade da modalidade [...] O atleta deve demonstrar os
componentes do fitness, incluindo resistência cardiovascular, força e resistência muscular, flexibilidade, coordenação, agilidade e força
explosiva (MATTOS, 2009, p. 112).
1.2.3 GINÁSTICA RÍTMICA
A Ginástica Rítmica (GR) tem sua origem no século XIX, a partir do Movimento
Ginástico Europeu, sendo oriunda, principalmente, do Método Ginástico Sueco. Segundo
Toledo (2009), a chegada da GR no Brasil e sua respectiva difusão não são retratadas de forma
detalhada na literatura, sendo possível afirmar apenas que a GR fez parte do movimento de
disseminação da ginástica no país de forma mais ampla, o que ocorreu em função da importação
do Movimento Ginástico Europeu e de sua incorporação pelas escolas.
Em relação à institucionalização da GR no mundo, a FIG, no ano de 1972, denominou-a
como Ginástica Rítmica Moderna, regulamentando-a como uma modalidade competitiva. Em
1975, a FIG passa a chamá-la de Ginástica Rítmica Desportiva, modificando novamente a sua
nomenclatura no ano de 2000, passando a denominá-la de Ginástica Rítmica.
Apesar de feminina, alguns países da Europa e da Ásia, com destaque para o Japão, vêm
contando mais recentemente com a participação de homens na GR, o que pressupõe algumas
variações específicas na utilização de materiais para esses participantes.
No Brasil, a GR atualmente está difundida em diferentes regiões do país, mas de forma
isolada, destacando-se o estado do Paraná pelo desenvolvimento dessa modalidade, já que é na
cidade de Curitiba que se localiza a sede da Confederação Brasileira de Ginástica e o Centro
Olímpico de treinamento da GR.
Toledo (2009, p.143) define a GR como: “modalidade gímnica competitiva, que
combina, de maneira harmoniosa, os elementos corporais (ginásticos e alguns acrobáticos) ao
manejo dos aparelhos oficiais como arco, bola, corda, fita e maças, contextualizados e
executados num ritmo musical”.
Vejamos abaixo imagens que contém os aparelhos oficiais da GR para melhor ilustrá-
los:
Arco Bola
Corda Fita
Maças
1.2.4 GINÁSTICA ACROBÁTICA
Segundo Astor (s/d), os exercícios acrobáticos são oriundos das civilizações da
Antiguidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, a acrobacia foi desenvolvida com outras formas
de ginástica, sendo representada nas artes em vasos pintados, cerâmicas, murais e estátuas da
época. Nos mais antigos monumentos do Egito foram gravados cenas que representavam
exercícios acrobáticos. Há registros, também, de exercícios acrobáticos realizados por pequenos
grupos ambulantes durante a Idade Média. Nesse período, os exercícios acrobáticos, junto a
poemas e canções, caracterizavam números de entretenimento a serem apresentados.
A Ginástica Acrobática (GACRO) surge na década de 1930 do século XX, tornando-se
uma nova modalidade competitiva de ginástica. Entretanto, foi apenas no ano de 1973 que
aconteceu a primeira competição mundial. Nesse mesmo ano, foi fundada a Federação
Internacional de Esportes Acrobáticos. Segundo Merida (2009), atualmente os países que mais
se destacam nessa modalidade são a Rússia, a China, os Estados Unidos, a Ucrânia e a Polônia.
No Brasil, a CBG e a Liga Nacional de Deportos Acrobáticos são as principais responsáveis
pela GACRO.
A GRACO é praticada em cinco provas oficiais. São elas: pares femininos; pares
masculinos; pares mistos; trios (somente ginastas do sexo feminino); quartetos (somente
ginastas do sexo masculino). Ela é composta por grupos de exercícios divididos da seguinte
maneira: 1) Elementos individuais, em que cada ginasta deve executar elementos
individualmente, durante as séries; 2) Elementos estáticos, representados por uma série
composta por pirâmides estáticas; 3) Exercícios dinâmicos, compostos por pirâmides dinâmicas,
que demonstrem fases de voo, lançamentos e recepções; 4) Exercícios combinados, compostos
por elementos individuais e exercícios estáticos e dinâmicos combinados.
1.2.5 GINÁSTICA ARTÍSTICA
A Ginástica Artística (GA) tem como origem o Método de Ginástico Alemão no século
XIX. O grande responsável por sistematizá-la foi o professor Johann-Friedrich-Ludwing-Jahn.
No Brasil, a GA foi oficializada em 1951, quando ocorreu também o primeiro Campeonato
Brasileiro de Ginástica (PUBLIO, 2002). Mas, segundo Nunomura e colaboradores (2009), a
chegada da ginástica no Brasil acontece em 1824, com a colonização Alemã no estado do Rio
Grande do Sul.
A GA passa a ser assim denominada apenas no ano de 2006. No referido ano, a
Confederação Brasileira de Ginástica, através de uma assembleia, oficializou a denominação da
modalidade como Ginástica Artística, substituindo o termo anterior - Ginástica Olímpica.
A GA feminina é praticada em quatro aparelhos, a saber: Mesa de Salto; Paralelas
Assimétricas; Trave de Equilíbrio; Solo (que acompanha música). Já a masculina em seis: Solo
(que não acompanha música); Cavalo com Arções; Argolas; Mesa de Salto; Paralelas
Simétricas; Barra Fixa. Abaixo trazemos algumas ilustrações para melhor auxiliar a visualização
de alguns dos aparelhos da GA.
Cavalo com Arções Paralelas Simétricas
Trave de Equilíbrio (a mais baixa funciona como educativo para a mais alta)
1.3 A DIMENSÃO DOS FESTIVAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
Os festivais de ginástica não competitiva estão presentes na Europa desde o
século XIX. Desse modo, para abordarmos a dimensão dos festivais nacionais e
internacionais vinculados à GPT na atualidade, torna-se necessário trazermos um breve
histórico sobre os eventos de ginástica não competitiva da era moderna.
Apesar de já existirem festivais ginásticos na Europa ainda no século XIX, foi
no século XX, por meio da chamada Lingíada, realizada na Suécia, que estes festivais se
institucionalizaram. A primeira edição da Lingíada ocorreu em 1939 e teve como
principal objetivo homenagear o centenário da morte de Pehr Henrik Ling - o grande
idealizador da ginástica sueca. Essa edição contou com a participação de 12 países. Por
conta da segunda guerra mundial, a segunda e última edição do referido evento ocorreu
no ano de 1949, sendo organizada também pela Federação Sueca de Ginástica e
contando com a participação de 14 países. Segundo Langlade e Langlade (1970, p. 20),
a primeira edição da Lingíada caracterizou-se como uma “oportunidade mundial de
amplo conhecimento e difusão das escolas, sistemas, métodos ou linhas de trabalho, que
inicia a época das influências recíprocas e universalização dos conceitos ginásticos”.
De acordo com Ramos (1967), as duas edições das Lingíadas citadas
anteriormente tiveram como principal mérito conscientizar os professores da época da
necessidade da universalização dos conceitos ginásticos. Além disso, o autor aponta
como saldo positivo a supressão da competição e o foco na questão estética e
pedagógica em evento de ampla envergadura voltado para a ginástica.
Em 1953, a FIG organiza a primeira edição de um outro evento voltado à
ginástica não competitiva, intitulado de Gymnaestrada Mundial. Para Paoliello (1997),
esse evento teve como principal objetivo a significativa participação de todos, tornando
o ginasta também um espectador ativo. Ayoub (2003) aponta que a Gymnaestrada é o
evento mais importante da área, funcionando como uma grande rede de troca de saberes
e experiências entre as mais variadas nações, culturas e ginastas, sem qualquer exclusão.
Nesse sentido, podemos dizer que as edições da Gymnaestrada na década de 50 do
século XX, aliadas à sua vertente voltada à ginástica não competitiva, tornaram-se
marcos importantes que sinalizam o princípio do nascimento da GG, atualmente GPT.
Abaixo trazemos um quadro que apresenta alguns dados de todas as versões das
Gymaestradas Mundiais realizadas até então. Destacamos que a próxima edição será
realizada na Finlândia, no ano de 2015.
Edição Ano Cidade País Participantes
1ª 1953 Roterdã Holanda 5.000
2ª 1957 Zagreb Yuguslávia 6.000
3ª 1961 Stuttgart Alemanha 10.000
4ª 1965 Viena Áustria 15.000
5ª 1969 Basileia Suíça 9.600
6ª 1975 Berlim Alemanha 10.500
7ª 1982 Zurique Suíça 14.200
8ª 1987 Herning Dinamarca 17.300
9ª 1991 Amsterdã Holanda 19.500
10ª 1995 Berlim Alemanha 19.194
11ª 1999 Gotemburgo Suécia 21.045
12ª 2003 Lisboa Portugal 25.000
13ª 2007 Dornbirn Áustria 22.000
14ª 2011 Lausanne Suíça 19.100
Fonte: Poliello (1997); Wikpedia (termo pesquisado Gymanestrada).
No Brasil, o primeiro evento de GG em nível nacional foi realizado em 1982, na
cidade de Ouro Preto (Minas Gerais), denominado Festival de Ginástica (FEGIN). Este
foi realizado anualmente até 1992. Por outro lado, ainda na década de 1990, a
Confederação Brasileira de Ginástica criou o Gymbrasil, como festival anual da GG em
nível nacional. Destacamos que tanto o FEGIN como o Gymbrasil
funcionaram/funcionam como seletivas para determinar os grupos que representarão o
Brasil nas Gymnaestradas Mundiais. Desse modo, o caráter não excludente defendido
por alguns pesquisadores sobre a Gymnaestrada Mundial pode e deve ser questionado
aqui, uma vez que existe uma seleção prévia que definirá quem vai e quem não vai
participar do evento.
CAPÍTULO 2 - GINÁSTICA PARA TODOS: PRINCÍPIOS NORTEADORES
Este segundo capítulo tem como objetivo apresentar os princípios norteadores da
GPT. Estamos chamando aqui de princípios norteadores tanto as conceituações
disponíveis na literatura para o termo Ginástica para Todos, bem como os fundamentos
indicados por essa literatura enquanto balizadores da prática da GPT.
Na unidade 1 do presente capítulo apresentaremos algumas das possíveis
conceituações ou concepções da GPT, a partir do olhar dos principais pesquisadores que
vem se debruçando sobre a temática. O que aparentemente parece ser uma tarefa fácil
torna-se um exercício extremamente desafiador, uma vez que há disponível diferentes
interpretações ou concepções do que poderia vir a configurar a GPT.
Na unidade 2, traremos os fundamentos sobre os quais o trabalho com a GPT
está balizado. Nesse sentido, serão apontadas as principais características da GPT para
que, então, seja possível uma reflexão crítica sobre a sua utilização enquanto ferramenta
pedagógica nos mais variados campos de atuação, assunto que será retratado de forma
mais detalhada no capítulo seguinte.
2.1 OS CONCEITOS
A prática da GPT vem se expandindo a cada ano, conquistando,
consequentemente, um número cada vez maior de novos adeptos para tal modalidade.
Por sua singularidade, revela-se como uma das práticas mais valiosas da Educação
Física nesse começo de século. Todo esse processo de disseminação da GPT no Brasil é
iniciado por um grupo de pesquisadores, estudiosos e amantes da Ginástica, que se
debruçou sobre ela a fim de estudá-la e disseminá-la, com a certeza de que era possível
uma ginástica que fosse, de fato, para todos, sem qualquer restrição.
Paoliello, Ayoub, Gallardo, Nista-Piccolo, Toledo, Schiavon, Rinaldi, e
certamente muitos outros pesquisadores figuram no cenário da GPT com seus estudos,
pesquisas, projetos de extensão, produção bibliográfica, bem como no planejamento e
organização dos Fóruns Internacionais de Ginástica Geral - uma iniciativa do Grupo de
Pesquisa em Ginástica da Faculdade de Educação Física da Unicamp. No período de
doze anos, seis edições do referido evento já foram realizadas. A cada nova edição,
assistimos ao crescimento do número de participantes, o que acaba por contribuir e
incentivar o processo de disseminação do conhecimento sobre a GPT, assim como
possíveis ações vinculadas a tal prática em contextos diversificados, a exemplo de
universidades, escolas, academias, clubes, projetos sociais, dentre outros.
Pela magnitude do evento, apresentamos aqui as temáticas discutidas nas seis
edições do Fórum Internacional de Ginástica Geral, com o intuito de sinalizar os vários
contextos sobre os quais o meio acadêmico vem retratando a GPT, a saber: Ginástica
Geral: da formação profissional ao mercado de trabalho (2001); O Mundo da
Ginástica Geral na Ginástica Geral do Mundo (2003); Direitos do Corpo: cultura e
práticas corporais (2005); Ginástica Geral: identidades e práticas coletivas (2007);
Cultura da Ginástica: concepções e práticas (2010); e, finalmente, Esporte para Todos:
dimensões da formação em Ginástica (2012).
Apesar de reconhecermos a importante contribuição dos pesquisadores citados
anteriormente para com as ações e pesquisas voltadas para a GPT aqui no Brasil,
optamos por iniciar a reflexão acerca dos seus possíveis conceitos a partir da concepção
de GPT da FIG, instituição com maior poder e influência sobre a ginástica no mundo.
No decorrer do texto, daremos continuidade à discussão conceitual, retomando os
estudos de alguns dos referidos pesquisadores.
Segundo a FIG (1993, apud AYOUB, 2003, p. 46-47), a GPT “compreende a
esfera da ginástica orientada para o lazer e engloba programas de atividades no campo
da ginástica (com e sem aparelhos), dança e jogos, conforme as preferências nacionais e
culturais”. É considerada, principalmente, uma atividade regular dentro de um contexto
de entusiasmo e de jogo, e a participação é, sobretudo, determinada pelo prazer da
prática. Podemos afirmar que, se por um lado, a estruturação da GPT pela FIG é uma
conquista, justamente por ser esta última uma instituição que prima pela competição,
por outro lado, há de se pensar no uso dessa ginástica como instrumento de
autopropaganda e autopromoção, atrelada à bandeira do esporte participativo,
recreativo, já que a instituição sempre priorizou, em suas ações, as ginásticas
competitivas, como a Rítmica, Artística, Acrobática, Aeróbica, dentre outras.
Nesse mesmo sentido, Fensterseifer (2005) também confere à GPT um vasto
leque de atividades e manifestações gímnicas, como a Ginástica Artística, Rítmica,
Aeróbica, assim como a dança, atividades acrobáticas, expressões folclóricas, sem fins
competitivos, destinada a todas as idades. Ainda segundo o autor, a GPT também
contribui para o bem estar físico e psíquico, tornando-se um elemento relevante no
processo de interação social e cultural de seus integrantes.
Tais conceitos nos trazem a ideia de uma ginástica que não tem a característica
competitiva, e que proporciona uma mescla de possibilidades gímnicas de acordo com a
cultura na qual o sujeito está inserido. Para além disso, é destacado o prazer pela prática,
a diversão e a oportunidade de participação de todos, já que não há seleção dos
participantes em função de aptidão física para executar técnicas ou movimentos
específicos.
Porém, ao nos voltarmos aos conceitos dos demais pesquisadores, observamos
que suas perspectivas podem se apresentar como convergentes ou divergentes umas das
outras e em relação à da própria FIG, como veremos a seguir.
Inicialmente, vale apresentar a diversidade de atividades que englobam a GPT,
sendo estas divididas em três grandes grupos, como aponta Ayoub (2003), a saber:
GINÁSTICA E DANÇA: Ginástica Rítmica, jazz, aeróbica, ballet,
rock’n’roll, dança moderna, dança teatro, folclore.
EXERCÍCIOS COM APARELHOS: ginástica com e sobre aparelhos,
trampolim, tumbling, acrobacias, rodas ginásticas.
JOGOS: jogos sociais, jogos esportivos, jogos de condicionamento físico,
pequenos jogos, jogos de reação.
Dentre alguns dos possíveis benefícios alcançados por meio da prática da GPT,
podemos destacar a melhoria e/ou manutenção da saúde, o incentivo à prática regular de
atividade física por meio da ludicidade, a integração e a sociabilidade entre os
praticantes, o estímulo à criatividade e, finalmente, a contribuição para uma vida de
completo bem estar.
Para Gallardo (2001), não podermos tomar como referência a conceituação de
GPT proposta pela FIG. Segundo o autor, a mesma não caracteriza o caráter pedagógico
das coreografias apresentadas nas Gymnaestradas Mundiais, enfatizando apenas as
amplas regras de participação, que comportam uma grande heterogeneidade de
profissionais das mais diferentes modalidades artístico/esportivas (profissionais da
dança, teatro, coreógrafos). Para o autor, estes profissionais teriam maiores condições
de destaque em seus trabalhos nas Gymnaestradas do que os professores de Educação
Física, que tem em sua formação acadêmica um foco para ações pedagógicas.
Apenas de forma complementar ao entendimento do exposto acima, na
Gymnaestrada Mundial realizada em Göttemburg, Suécia, no ano de 1999, a
Confederação Brasileira de Ginástica estipulou como requisito aos grupos que se
submeteram à seletiva, que seus trabalhos tivessem como conteúdo a Ginástica, a
Capoeira e o Samba, dentro de uma composição coreográfica que não ultrapassasse
quatro minutos. Tal fato deu margem para interpretações variadas, já que cada
profissional, coreógrafo, professor de Educação Física, professor de dança, elaborou sua
apresentação dentro de seu repertório de conhecimentos. Nesse sentido, vale reafirmar
que cada um destes profissionais, de formações acadêmicas específicas e diferenciadas,
submeteu-se a um único processo de avaliação. Ora, como avaliar, então, de maneira
criteriosa, trabalhos tão diferentes, com perspectivas e olhares de áreas diversificadas?
Com base nos argumentos apresentados, Gallardo (2001) defende uma
conceituação de GPT que tenha a identidade permeada pela característica pedagógica, já
que acredita na possibilidade da GPT acontecer dentro da escola. Desse modo, a
conduta de trabalho com a GPT deve se atentar aos objetivos pretendidos pela escola. O
autor apresenta uma abordagem sociocultural da Educação Física, dentro da qual GPT
deve ser considerada:
Dentro da abordagem sócio-cultural da Educação Física, os estudos
apontam para a preocupação com o processo e a forma de produção cultural nas diferentes regiões e culturas, a saber: processo de
organização social (criação de leis, regras, normas de convívio social),
forma de exploração dos recursos alimentares (agricultura, pecuária, pesca, etc.), das manifestações religiosas (crenças, credos e mitologias
expressadas nos ritos e manifestações mágico-religiosas), da forma de
expressar estas manifestações (danças, cantos, jogos e brincadeiras,
etc.). Enfatizando-se os aspectos que tenham relação com a cultura corporal e/ou motora, e com os componentes lúdicos historicamente
situados (GALLARDO et al., 2000, p. 22 apud GALLARDO, 2001).
Dentro da abordagem sócio-cultural apresentada pelo autor, é proposta uma
apropriação da cultura motora de cada grupo social, ampliando, dessa forma, seu
universo cultural. A GPT vista por esse viés tem uma orientação pedagógica, um espaço
de vivência de valores humanos, com o objetivo de aumentar os recursos motores que
permitam a interação com as pessoas que fazem parte da comunidade à qual o
participante pertence.
Na definição do Grupo Ginástico da Unicamp (GGU), referência nacional e
internacional em GPT, a modalidade deve seguir uma orientação pedagógica, ou seja,
deve ser uma prática permeada pela característica de formação humana, possível de ser
desenvolvida também no ambiente escolar, onde os alunos poderão estreitar suas
relações afetivas. De acordo com esse grupo, a GPT:
É uma manifestação da Cultura Corporal que reúne as diferentes
interpretações das Ginásticas (Natural, Construída, Artística, Rítmica,
Desportiva, Aeróbica, etc.) integrando-as com outras formas de expressão corporal (Dança, Jogos, Teatro, etc.) de forma livre e
criativa, de acordo com as características do grupo social, e
contribuindo para o aumento da interação social entre os participantes (SOUZA & GALLARDO, 1996, p. 2).
Partindo dessa contribuição, Paoliello e Ayoub (2001) acreditam que a GPT
deve fazer parte da formação do professor de Educação Física, pois seu campo de
intervenção é vasto (escolas, clubes, associações comunitárias, dentre outros) e as
possibilidades de criação de novas metodologias, combinações de movimentos e
exploração de aparelhos são infinitas. Deve-se desenvolver a ginástica de forma
participativa e inclusiva, onde a criatividade, o respeito à individualidade e a vivência
de valores humanos estejam sempre presentes.
Na mesma direção, Ayoub (2003) acredita que a GPT tem espaço garantido no
ambiente escolar, já que a autora aposta em uma ginástica humanizadora, permeada pela
ludicidade, na qual o aluno tem oportunidade de compreender o que faz, de
experimentar formas alternativas de movimentos corporais, com possibilidades diversas
de expressão, criatividade e alegria. Desse modo, a autora traz a ideia da GPT como
prática corporal que tem como eixo primordial a ginástica, sem, contudo, deixar de
dialogar com outros elementos da cultura corporal.
Toledo (1997) aposta na valorização da ginástica como viga mestra no processo
de construção da GPT, ou seja, sua concepção defende a utilização de fundamentos que
caracterizam uma ação corporal gímnica em sua prática pedagógica, tais como: correr,
saltar, balancear, realizar movimentos acrobáticos, girar, entre inúmeros outros
elementos constituintes do universo gímnico. Torna-se importante atentar a esse fato,
pois muitas coreografias de GPT apresentam apenas movimentos da dança ou do
esporte, sem relação alguma com a ginástica, que é sua base. A autora acredita que
partindo de atividades simples e com base na ginástica, sua prática na escola se torne
mais viável, já que:
[...] permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as
próprias ações corporais, auxiliando a compreensão das relações
através das exercitações só possíveis em grupo, caracterizando a co-educação” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.20).
No entanto, apesar do consenso na literatura em relação às muitas contribuições
pedagógicas da inserção da GPT na escola, muitos são os entraves existentes para a sua
incorporação, assim como de outras modalidades gímnicas, pela Educação Física
escolar. Como nos apresentam Nista Pícollo e Schiavon (2007), em pesquisa realizada
com professores de Educação Física, a questão dos materiais, ou mesmo a falta deles, é
sempre apontada como fator principal para o não desenvolvimento do trabalho com as
ginásticas, não sendo suficiente a sugestão de materiais adaptados para que estas se
tornem mais viáveis de serem inseridas como elemento pedagógico. Outro fator de
dificuldade declarado pelos professores é a falta de conhecimento do conteúdo de cada
modalidade. Torna-se importante, então, capacitar os professores. Ainda segundo a
pesquisa, quando o professor tem o conhecimento do conteúdo a ser ensinado e das
pedagogias e métodos de fazê-lo, pode transformar o ensino da ginástica no âmbito
escolar em uma prática possível, inclusive criando alternativas de materiais. O mesmo
não acontece quando o professor tem materiais mas não tem conhecimento dos
respectivos conteúdos a serem ensinados.
Valendo-nos das considerações até agora apresentadas, destacamos os estudos
de Rinaldi (2005), que reconhecem a ginástica como uma área de conhecimento da
Educação Física e atentam-se aos domínios que um professor deve possuir para a sua
atuação profissional. Nesse sentido, a autora compreende a GPT como uma ginástica de
demonstração, que pode provocar valiosas experiências corporais e enriquecer o
universo de conhecimentos do ser humano.
Diante do exposto, e longe de esgotar o assunto, Correa e Ribeiro (2005)
afirmam que a GPT objetiva promover o lazer saudável, proporcionando bem estar
físico, psíquico e social aos praticantes, favorecendo o desempenho coletivo,
respeitando as individualidades, em busca da auto-superação pessoal, sem qualquer tipo
de limitação para a sua prática, seja quanto às possibilidades de execução, sexo ou
idade, ou ainda quanto à utilização de elementos materiais, músicas e coreografias,
havendo a preocupação de apresentar, nesse contexto, aspectos da cultura nacional,
sempre sem fins competitivos.
Após a exposição das concepções e conceitos acerca da GPT, prosseguiremos
apresentando os fundamentos ou atributos que identificam e auxiliam na compreensão e
na determinação desse fenômeno, também objeto de estudo e campo de conhecimento.
2.2 OS FUNDAMENTOS
Os fundamentos da GPT são os atributos determinantes tanto para identificá-la,
como para desenvolvê-la, ou seja, são os aspectos que fundamentam sua prática.
Segundo Toledo, Tsukamoto e Gouveia, (2009), a base do trabalho é a ginástica,
podendo existir uma composição coreográfica, com número indefinido de participantes,
liberdade na escolha da vestimenta, materiais, bem como em relação à diversidade
musical e à escolha dos elementos da cultura corporal a serem inseridos. Outros fatores
relevantes são: a não competitividade, a inclusão, o foco na formação humana e o prazer
pela prática. Cada um desses fundamentos será explanado com maior riqueza nas linhas
a seguir.
Inicialmente, podemos dizer que a GPT possui na diversidade de possibilidades
que a compõem a característica mais marcante de sua identidade. Entretanto, vale
destacar mais uma vez que muitas coreografias e trabalhos que aparentam ser GPT não
o são. Para tal, é necessária a utilização da ginástica, que determina seu primeiro
fundamento. Esta pode estar inserida nos seguintes campos de classificação, como
aponta Paoliello (1997):
Ginásticas de Condicionamento Físico: englobam todas as modalidades que tem
por objetivo a aquisição ou a manutenção da condição física do indivíduo
normal e/ou do atleta.
Ginásticas de Competição: reúnem todas as modalidades competitivas.
Ginásticas Fisioterápicas: responsáveis pela utilização do exercício físico na
prevenção ou tratamento de doenças.
Ginásticas de Conscientização Corporal: reúnem as “Novas Propostas de
Abordagem do Corpo”, também conhecidas por “Técnicas Alternativas ou
Ginásticas Suaves” e foram introduzidas no Brasil a partir da década de 1970,
tendo como pioneira a Anti-Ginástica. A grande maioria destes trabalhos teve
origem na busca da solução de problemas físicos e posturais.
Ginásticas de Demonstração: é representante deste grupo a GPT, cuja principal
característica é a não competitividade, tendo como função principal a interação
social entre os participantes.
A partir do exposto, devemos nos atentar para a necessidade de utilizarmos ao
menos uma das modalidades gímnicas apresentadas anteriormente na elaboração de
nossa prática de GPT. É justamente essa utilização que vai caracterizá-la enquanto tal.
O segundo fundamento que merece destaque é a composição coreográfica, que
para muitos autores é uma das metas a serem atingidas no trabalho com a GPT. É como
se fosse o resultado final, que pode ser entendido como um fator motivacional durante
todo o processo de construção da composição coreográfica, culminando na apresentação
da mesma. Em relação a esse fundamento, existem dois tipos de posicionamento entre
pesquisadores. Uma linha acredita que a composição da coreografia faz parte dessa
prática, já que, uma vez elaborada, os participantes ficariam ansiosos para apresentá-la.
Outra linha de pensamento posiciona-se contrariamente a isso, compreendendo que não
existe a necessidade da elaboração de uma composição coreográfica, ou mesmo de uma
sequencia de movimentos. Nesse sentido, a GPT seria uma prática corporal sem a
elaboração de um resultado final coreográfico, cujo prazer de praticá-la já seria razão
suficiente para trabalhá-la.
Na linha de pesquisadores que são a favor da construção coreográfica na GPT,
trazemos a contribuição de Santos (2001). Segundo o autor, ao elaborarmos uma
montagem coreográfica devemos considerar, primeiramente, o número de participantes
disponíveis para executá-la, pois a partir disso, outros fatores de muita importância
serão determinados, dentre eles o espaço físico que será utilizado, o tipo de formação
que será feita e a quantidade ou tipo de material que será usado.
A idade dos ginastas é um aspecto que também deve ser considerado na
elaboração de uma coreografia, bem como o grau de experiência motora. Devemos
adaptar o trabalho com a GPT à vivência motora que o participante já possui, pois o
ideal é que todos participem ativamente, desde que as limitações individuais sejam
respeitadas.
A condição física também não poderia deixar de ser importante, assim como as
características pessoais que estão relacionadas ao temperamento dos participantes, já
que a GPT comporta indivíduos com limitações físicas e motoras (deficientes, idosos,
obesos, entre outros). Esses fatores deverão ser levados em consideração quando forem
escolher o tema da coreografia, a música, a vestimenta e até o tipo de trabalho
coreográfico a ser desenvolvido, pois influenciarão diretamente no produto final, isto é,
a apresentação, caso a opção seja por fazê-la.
Uma das possibilidades na GPT é a construção de coreografias de grande área,
que acontecem em locais amplos, espaços abertos ou fechados, sendo o mais habitual
acontecer em campos de futebol. Em locais amplos, pode-se explorar uma
movimentação corporal de grande amplitude, com ou sem aparelhos portáteis, sempre
tomando cuidado com as cores escolhidas, pois isso influenciará diretamente na estética
e no resultado final. A GPT de grande área conta ainda com o apoio da geometria, pois
a coreografia pode tomar formas, desenhos ou figuras específicas relacionadas ao
evento propriamente dito. Abaixo trazemos uma imagem para ilustrar a coreografia de
grande área da GPT realizada em um campo de futebol.
Quando se trabalha com grande número de participantes na elaboração de uma
coreografia de grande área, esta se torna bastante complexa, devido ao posicionamento
em relação ao espaço, aos outros componentes e à formação das figuras. Conta-se,
então, com a ajuda de elementos que possam facilitar a execução da coreografia. Esses
elementos podem ser marcações individuais de cada componente, demarcações no
campo com cal e linhas paralelas, definidas com barbante, e o círculo central, já
existente no campo de futebol, que também pode ser utilizado como referência. Nas
palavras de Santos (2001, p. 53):
A composição coreográfica de uma apresentação em grande grupo
tem como principal fundamento a distribuição dos ginastas pela área
de apresentação, objetivando manter esta distribuição homogênea e
também a fim de manter a precisão e o sincronismo dos posicionamentos e dos deslocamentos dos ginastas em todas as
coordenadas da área de apresentação (frente, lados, fundos e
diagonais).
Para o desenvolvimento de uma coreografia de grande área, deve-se ter uma
equipe bem direcionada e organizada. Dessa maneira, as funções são divididas entre os
colaboradores. De acordo com Ferreira (1995, p. 385), “coreografia é a arte de compor
bailados. A arte de anotar sobre o papel, os passos e as figuras do bailado”.
Outro fundamento próprio da GPT é o número indefinido de participantes. Isso
significa que a quantidade de pessoas pode ser estabelecida tanto em função do espaço
físico disponível para a demonstração da coreografia como pelo número de integrantes
do grupo (se pensarmos no contexto do lazer) ou da turma (se pensarmos no contexto
escolar). Precisamos estar atentos a essa questão, pois, caso contrário, corre-se o risco
de comprometermos o desenho da coreografia, ou de os participantes se sentirem sem
espaço para a realização dos movimentos. Se quisermos que todos participem, mas o
espaço não for suficiente para acomodar o grupo, fica a sugestão de montar duas ou três
coreografias, garantindo, assim, a participação de todos.
A título de curiosidade, em uma coreografia de GPT de grande área pode-se
reunir, num mesmo espaço, cerca de 4000 pessoas. Vale relembrar que os espaços
geralmente são estádios, campos de futebol, praças ou espaços ao ar livre.
Com relação à vestimenta a ser utilizada, não existe nenhum critério a ser
seguido nas apresentações de qualquer natureza ou festivais. Os grupos têm liberdade na
escolha da cor, material, modelo, desde que seja confortável e tenha relação com o tema
escolhido. O que deve ser levado em conta, prioritariamente, é a mobilidade que a roupa
proporciona, já que os movimentos corporais exigem roupas flexíveis. Outro detalhe
importante é que a escolha do figurino deve fazer parte de um processo democrático e
criativo do grupo, bem como a maquiagem, acessórios, cabelo, calçados, dentre outros,
como podemos perceber na imagem abaixo, que está representando uma vestimenta que
faz alusão à vegetação.
A utilização e adaptação de materiais é um fundamento singular da GPT. Sendo
assim, uma oficina lúdica para a confecção de materiais é uma ferramenta pedagógica
muito interessante para ser trabalhada, já que permite aos integrantes a confecção do
material que eles mesmos irão utilizar, no caso da opção por materiais não
convencionais. O emprego de materiais desse tipo contribui e valoriza bastante a
coreografia, principalmente em um local muito grande, além de atender a uma das
principais propostas da GPT, que é a criatividade. No contexto escolar, o trabalho com
materiais recicláveis também pode representar uma interessante proposta de trabalho
com a GPT.
De forma geral, os materiais podem ser os convencionais de cada modalidade
gímnica, como arcos, bolas, cordas, steps, jumps, banco sueco, plinto, dentre outros, ou
materiais não convencionais, tais como pneus, garrafas pet, tecidos. Também é válida a
combinação desses materiais, gerando um visual diferenciado. Caso o interesse seja não
usar qualquer material, essa possibilidade também é possível.
O que se percebe nos eventos e festivais de GPT é a apresentação de novidades,
aquilo que nunca foi visto ou pensado e que, de repente, surge de forma surpreendente e
inovadora. Nesse sentido, a criatividade é um importante fundamento para o processo de
busca e elaboração de materiais diversos e, mais ainda, para a escolha das formas de
interação destes com o próprio corpo, como podemos observar na imagem a seguir:
Por outro viés, podemos dizer, também, que a GPT proporciona grande estímulo
à criatividade, em virtude da diversidade de manifestações culturais nela contidas. Além
disso, outro fator marcante que facilita a inovação é que a GPT não tem regras, séries,
elementos obrigatórios a serem realizados, o que gera uma liberdade de ação e maiores
chances de estimular a criação por parte de seus integrantes.
Outro fundamento importante na GPT é a diversidade musical. Dentre o vasto
universo existente, devemos nos atentar a uma escolha que atenda à proposta
pedagógica, às características do grupo e ao tema a ser coreografado. O ideal é que
todos estejam envolvidos na escolha, podendo opinar, participar, sentindo-se envolvido
no processo criativo de construção da coreografia. É enriquecedor apostar em estilos,
ritmos e batidas diferentes, saindo do que já está consolidado no senso comum.
Diversos elementos culturais podem fazer parte das propostas de GPT,
enriquecendo-a. Estes elementos estão presentes na dança, teatro, música, folclore,
vestimentas, e podem ser utilizados nas aulas e nas coreografias. Nesse sentido,
CORREA e RIBEIRO (2005, p. 200) destacam que:
A ginástica ganha sentido, significado, toma parte na vida do
indivíduo. O indivíduo constrói-se em seu tempo, em sua cultura, em seu cotidiano. Nessa construção ele vai adquirindo referências tanto
nos valores do contexto cultural em que se insere como nas marcas
que inscreveu em seu corpo, em seu imaginário, a partir dos processos
educacionais aos quais esteve submetido. Um jogo de forças estabelece-se entre o cultural e o pessoal e o acompanhará por todo
seu viver.
Correa et al., (2010), coordenou uma coreografia de GPT que trazia em cena a
cultura oriental. A inspiração foi construída a partir das músicas típicas, dos trajes, das
práticas corporais chinesas, como o Tai Chi Chuam e o Kung Fu. O projeto levou a um
mergulho na cultura oriental a fim de dar verdadeiro sentido à coreografia. Tal
experiência aproximou os integrantes do grupo de outra realidade, trouxe
conhecimentos novos, desafios, o que fortaleceu o vínculo entre os integrantes. Mais do
que um aprendizado, um novo conteúdo cultural se instalou nas expressões e gestos
corporais, conforme descreve a autora:
No ano de 2008 com olhar voltado ao Oriente em virtude dos Jogos
Olímpicos, o Grupo Ginástico Granbery apresentou seu primeiro
espetáculo: MUNDO ORIENTAL, um passeio pela diversidade, beleza e sensibilidade da rica cultura oriental. Através de movimentos
Ginásticos, retratou-se o Kung Fu, Lutas com Bastões, Dragões,
Gueixas e Tai Chi Chuan (CORREA et al., 2010, p.348).
Outros dois fundamentos essenciais da GPT são a inclusão e a não
competitividade. Nesses dois quesitos, parece haver convergência de grande parte dos
autores e estudiosos. A não competitividade favorece a inclusão, a participação de
todos, o que é o grande pilar da GPT. Independente das capacidades motoras ou físicas
do indivíduo, que em algumas modalidades ginásticas e esportivas são fatores
determinantes para a inclusão ou exclusão do mesmo nas respectivas práticas, sua
participação na GPT será sempre garantida! A seguir, trazemos uma imagem que retrata
os dois fundamentos apresentados acima.
A formação humana é outro fundamento da GPT. Quando o trabalho é
comprometido e orientado para a criatividade, cooperação, respeito individual,
convivência com diferentes culturas, podemos dizer que as relações que se estabelecem
entre os integrantes do grupo são favorecidas. Na verdade, todo trabalho pedagógico
deveria ser respaldado na aquisição de valores e na formação humana, o que não é
observado no plano empírico.
Finalmente, a GPT apresenta uma característica marcante: o prazer pela prática!
Certamente, uma prática que favorece a inclusão, respeita as ideias de cada
indivíduo, construindo-se de forma coletiva e criativa, não poderia deixar de ser alegre e
prazerosa. Sentir-se parte de um grupo, estabelecer laços afetivos, vivenciar uma prática
corporal com prazer e sem cobranças por títulos e medalhas faz parte dessa chamada
Ginástica para Todos!
CAPÍTULO 3 - CAMPOS DE ATUAÇÃO E SEUS ASPECTOS
METODOLÓGICOS
Este capítulo destaca os campos de atuação profissionais proporcionados pela
GPT. Independente de suas variadas conceituações ou concepções, acreditamos que a
GPT, seja como parte da ginástica orientada para o lazer, ou enquanto rico conteúdo
pedagógico da Educação Física escolar, constitui-se em um espaço aberto ao convívio
humano, proporcionando relações de descobertas individuais e coletivas. Nesse sentido,
o seu campo de atuação é ampliado, já que tem por objetivo o lazer como vasto espaço
de vivências corporais, bem como pela sua riqueza pedagógica, tão condizente com os
ambientes escolares.
Desse modo, o capítulo será dividido em três unidades. Na primeira delas serão
abordados os campos de atuação da GPT no âmbito não formal, enfatizando a
perspectiva do lazer. Na segunda, serão apontadas as questões relacionadas à GPT na
escola, mais especificamente na Educação Física escolar. Finalmente, na terceira delas,
traremos as questões metodológicas mais relevantes para o trabalho com a GPT, que se
aplicam a ambos os campos citados.
3.1 OS CAMPOS DE ATUAÇÃO DA GPT NO ÂMBITO NÃO FORMAL
Em relação aos espaços educativos não formais, como clubes, associações,
academias, dentre outros, entendemos que a GPT deve se pautar na perspectiva do lazer,
razão pela qual esta modalidade é vista hoje como um campo para o convívio entre
pessoas ao longo de seus tempos livres. Na verdade, as relações humanas são o grande
elo existente entre a GPT e o lazer, onde a troca de experiências, a construção e a
vivência coletivas possibilitam ao praticante recriar a ginástica a seu modo, na
perspectiva dos fundamentos elencados no capítulo anterior, já que a GPT apresenta
uma infinita gama de ações e possibilidades.
Desde meados do século XX, o lazer vem ocupando lugar de destaque na vida
das pessoas de diferentes sociedades e países. A diminuição do tempo dedicado ao
trabalho, resultado do avanço nas leis trabalhistas, vem contribuindo para a ampliação
do tempo livre. Assim, o lazer tem alcançado grupos sociais cada vez mais amplos,
desempenhando importantíssimo papel no desenvolvimento pleno do ser humano.
Diversos estudiosos do lazer ajudam a legitimar a GPT nessa perspectiva.
Bruhns (1997), afirma que muitas pessoas buscam nas práticas corporais uma forma de
se exercitar no tempo de lazer, evitando, entretanto, atividades de rendimento, repletas
de técnica e orientadas para a performance. No caso da GPT, a ideia se torna ainda mais
interessante porque há formação de grupos, os quais podem ser compostos por crianças,
adultos, idosos, deficientes. A intenção é criar, conversar, opinar, apreciar, apresentar e,
até mesmo, viajar para festivais. Tais oportunidades criadas pela GPT são de caráter
lúdico e propiciam prazer, sociabilidade e divertimento.
Além do divertimento, o lazer propicia desenvolvimento pessoal e social. Como
sugere Marcellino (2006), além das movimentações práticas que a GPT oferece, outras
múltiplas formas de lazer podem ser experimentadas, tais como as habilidades manuais
e intelectuais na confecção de aparelhos, materiais, vestimentas e acessórios, assim
como o contato com outras culturas e o incentivo à criatividade. Acreditamos que a
GPT no campo não formal da Educação Física deve caminhar na perspectiva do lazer
para oferecer à sociedade algo realmente inovador, a partir de experiências estéticas,
sociais, que busquem a poesia de exercitar o corpo não por modismo, mas por
verdadeiro prazer, onde o lazer seja de fato exercido, já que é um direito constitucional
de todo cidadão.
A título de exemplo, alguns projetos interessantes de GPT praticados em
diferentes cidades brasileiras demonstram sua versatilidade e possibilidades no âmbito
não formal:
* GPT com crianças e adolescentes em situação de risco social (Campinas/SP).
* GPT com idosos (São Paulo).
* GPT nos programas sociais da mangueira (crianças e adolescentes); (Rio de
Janeiro/RJ).
* GPT no programa “Ame a vida sem drogas” (Campinas/SP).
* A GPT como lazer para crianças portadoras de deficiência mental (Rio de Janeiro/RJ).
* A GPT e a enfermagem psiquiátrica (Araraquara/SP).
* A GPT aliada à transformação social (Matão / SP).
3.2 A GPT NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Nesse início de século, faz-se necessário um novo impulso para uma reflexão
acerca de qual educação precisamos e de que sociedade queremos formar. Uma busca
contínua de uma concepção e de uma prática educacional que revele o valor do
aprendizado ao longo da vida, fará emergir conhecimentos significativos, individuais e
coletivos, que poderão surgir a partir do envolvimento e motivação do coletivo.
Segundo Delors (2005), a educação repousa sobre quatro pilares: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver em conjunto. É dessa forma que a
GPT pretende enriquecer aqueles que participarem desse desafio educacional.
A GPT também deve ser compreendida como área de pesquisa e conhecimento,
como atividade genuinamente inclusiva e uma forma de manifestação cultural da
sociedade contemporânea, conferida por seus costumes, tradições, crenças e contexto
sócio-histórico-cultural.
Na instituição escolar, apesar das inúmeras transformações ocorridas na
Educação Física nas últimas décadas, o conteúdo esporte ainda predomina no
planejamento e na prática pedagógica dos professores. Segundo Ayoub (2003), a
ginástica praticamente não existe mais nas escolas brasileiras. A aula de Educação
Física, muitas vezes, tem sido sinônimo de jogar bola.
Compreendemos que a retomada da ginástica na escola possa se pautar em
procedimentos metodológicos propostos pela GPT. Ayoub (2003), afirma que aprender
a GPT na escola significa, portanto, estudar, vivenciar, conhecer, compreender,
perceber, confrontar, interpretar, problematizar e compartilhar as inúmeras
interpretações da ginástica para, com base nesse aprendizado, buscar novos significados
e criar novas possibilidades de expressão gímnica.
De acordo com o Coletivo de Autores (1992), a ginástica é um conteúdo
legítimo da Educação Física escolar, pois permite aos alunos darem sentido próprio às
suas exercitações. Levando em conta esse ideal, a GPT é um caminho bastante legítimo
para a reconstrução da ginástica na escola.
A linguagem da GPT propicia discutir e problematizar a pluralidade cultural em
nossa sociedade. O corpo, em si, pode ser considerado uma expressão plural. As
diversas maneiras como se movimenta, dança, ginga, salta, pontuam culturas
diversificadas e híbridas. Segundo Daólio (1995), o trabalho do professor de Educação
Física extrapola a transmissão das técnicas de ginástica ou do esporte, para alcançar a
crítica por meio da riqueza cultural inerente aos movimentos humanos.
A Educação Física escolar tem por objetivo propiciar aos alunos o conhecimento
teórico e prático da cultura corporal (jogos, danças, lutas, esporte, ginásticas), que
podem ser meios para desenvolver a cognição, a afetividade, a motricidade, entre
outros, além de levar o aluno a apropriar-se do universo da cultura corporal para sua
vida cidadã, que vai além dos muros da escola.
Nesse sentido, o ensino da GPT na escola se apresenta como um conhecimento
importante, que pode e deve ser iniciado já na Educação Infantil, visando à ampliação
do universo sensório motor da criança, ajudando, assim, no desenvolvimento da
percepção espaço-temporal e, paralelamente, da conscientização de seu próprio corpo.
Nessa etapa, a orientação caminha no sentido da socialização, pois através dela é que a
criança aprende as normas, regras e formas de convívio, apropriando-se dos elementos
de sua cultura.
A finalidade da Educação Infantil é proporcionar o desenvolvimento
integral da criança em todos os seus aspectos, físico, intelectual,
linguístico, afetivo e social, visando complementar a educação recebida na família e em toda a comunidade em que a criança vive,
conforme determina o artigo 29 da lei número 9.394/96 (NISTA-
PICOLLO & MOREIRA, 2012, p.15).
Criança é movimento, ritmo, imaginação, fantasia. Seu completo
desenvolvimento depende de toda a movimentação que executa espontaneamente. Cabe
ao professor de Educação Física criar um ambiente favorável para que as crianças
vivenciem uma riqueza de atividades motoras, o que pode ser contemplado pelo
trabalho pedagógico com a GPT. Destacamos que o trabalho com a GPT na escola
deverá ser adaptado a cada segmento da Educação Básica.
Um programa de Educação Física escolar voltado ao público infantil deve
contemplar a corporeidade, a criatividade, a motricidade, a ludicidade e os jogos. Como
repertório de atividades, deve-se optar por movimentos que explorem o ritmo e a
expressão corporal, o conhecimento sobre o corpo, jogos e brincadeiras e, finalmente,
atividades gímnicas e exploração de materiais. Nota-se, dessa forma, que a GPT, em sua
diversidade de possibilidades, poderá contemplar todos esses objetivos propostos pelo
programa para a Educação Infantil.
O Ensino Fundamental compreende crianças com idade entre seis e catorze anos,
ou seja, uma variação grande na faixa etária, o que acaba por provocar uma
heterogeneidade significativa entre os alunos. Portanto, o planejamento das atividades
deve estar de acordo com o desenvolvimento apresentado pelas turmas.
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, deve-se, inicialmente, facilitar a
apropriação das atividades da cultura corporal familiar e local, organizando aulas com
manipulação de diferentes materiais, que podem ser confeccionados pelas próprias
crianças. A GPT aposta nessa estratégia metodológica, pois valoriza a criatividade na
construção de materiais e na inovação nas experimentações desse material construído.
Em seguida, podemos utilizar atividades de maior abrangência cultural, visando ampliar
o repertório corporal. Se inicialmente focamos nas atividades pautadas nas culturas
locais, posteriormente devemos ampliar os conteúdos a serem trabalhados,
desenvolvendo atividades da cultura corporal do estado cuja criança pertence. Desse
modo, ampliamos e aperfeiçoamos as habilidades motoras já trabalhadas anteriormente,
reconhecendo tanto a GPT como manifestação da cultura corporal, como as diferentes
modalidades gímnicas que podem compô-la. Além disso, podemos sugerir a elaboração
de pequenas coreografias, em duplas ou em pequenos grupos, para que os alunos
possam interpretar corporalmente diferentes estilos musicais utilizando, caso queiram,
materiais alternativos ou oficiais das diversas modalidades gímnicas existentes.
No final do quarto ano, o conhecimento deve ser ampliado às atividades de
nossa cultura nacional. Conhecer grupos de GPT de renome nacional, por exemplo, e
tentar elaborar sequências corporais de maior complexidade, explorando o espaço em
linhas retas, círculos e combinações entre eles são algumas das indicações de trabalho
pedagógico nessa etapa. Recomendamos, também, tarefas como pesquisas, para ampliar
o universo musical, folclórico e gímnico dos alunos.
No quinto e sexto ano do ensino fundamental, o objetivo da Educação Física é
vivenciar atividades que sejam condizentes e significativas para o grupo social ao qual o
aluno pertence. Podemos propor movimentos mais elaborados e coreografias mais
avançadas. Este é um bom momento para propor a organização de um festival de arte
corporal. É bem provável que diferentes ritmos e estilos gímnicos sejam apresentados
nessa etapa.
No Brasil, existe grande diversidade de expressão corporal representada pelos
diversos estados. No sétimo ano, continuamos a privilegiar a cultura nacional. Devemos
incentivar festivais de arte corporal no âmbito escolar que possam ganhar mais espaço
em termos de qualidade de movimentos e organização. O acúmulo de conhecimento
adquirido nos anos anteriores do Ensino Fundamental permite aos alunos a realização
de pesquisas mais aprofundados sobre os temas correlacionados a GPT.
No oitavo e nono ano, devemos privilegiar atividades da cultura corporal que
sejam mais representativas no universo internacional. A gama de atividades gímnicas e
expressivas existentes nas várias culturas da América Latina e do mundo propiciam
conteúdo rico para vivências práticas, experimentações diversas, estudos e pesquisas.
A Educação Física no Ensino Fundamental pode proporcionar a
incorporação de um estilo de vida ativo. É levar o aluno a ter uma
atitude ética para consigo mesmo e ter condições de gerir sua própria vida firmando suas bases na importância da atividade física em sua
vida diária e desenvolvendo uma corporeidade ativa, autônoma, crítica
e criativa (NISTA-PÍCOLLO & MOREIRA, 2012, p.41).
Finalmente, no Ensino Médio, o aluno toma rumo à autonomia e à vida em
sociedade. Diversas atividades podem ser organizadas e gerenciadas:
* Grupos de interesse em atividade física;
*Grupos de interesse em atividades da cultura corporal (dança, teatro, ginástica,
capoeira);
*Organização de festas típicas da escola;
*Organizar grupos de estudo;
* Organizar grupos de vivência e de práticas de ginástica;
* Organizar eventos de ginástica estudantis;
* Organizar atividades relacionadas com a natureza;
* E muitos outros interesses que poderão surgir.
A dimensão do conhecimento e a prática da Educação Física no
Ensino Médio podem versar sobre temas como: caminhadas, movimentos ginásticos, musculação, condicionamento físico e muitos
outros, sempre associando esses conteúdos aos contextos político,
econômico, cultural e social visando dotar o aluno de autonomia para
toda a vida (NISTA-PÍCOLLO & MOREIRA, 2012, p.13).
As atividades de GPT constroem um espaço fértil de conhecimento por parte do
aluno em relação ao mundo que o cerca, a fim de proporcionar-lhe maior autonomia,
liberdade e capacidade criativa para resolver problemas e conflitos.
Em última instância, podemos dizer que a vivência na GPT, que pode ou não
englobar a construção e apresentação coreográfica, proporciona, dentre outros
benefícios, a troca saudável de experiência e a valorização das relações humanas. A
GPT contribui para uma reflexão sobre novas pedagogias de ensino, motivando
diversificadas relações entre o corpo, os materiais utilizados e a música. Tais
pedagogias voltadas ao trabalho com a GPT encontram um amplo campo de inserção,
que vai desde a Educação Física escolar, aos espaços de educação não formais (clubes,
associações comunitárias, academias entre outros). Desse modo, vamos nos atentar a
essas duas vertentes para abordarmos os aspectos metodológicos de trabalho com a GPT
na unidade seguinte.
3.3 GPT: QUESTÕES METODOLÓGICAS
No que remete às questões metodológicas para o desenvolvimento da GPT, seja
no âmbito escolar ou no contexto não formal, o norte a ser seguido baseia-se na
proposta de trabalho que vem sendo realizada pelo Grupo Ginástico da Faculdade de
Educação Física da Unicamp (PAOLIELLO, 1997). Seus alicerces estão pautados no
aumento da interação social, através do trabalho de grupo, em que cada um dos
envolvidos deve contribuir com suas experiências e habilidades, e na exploração de
recursos pedagógicos que o material pode proporcionar. Partindo dos dois alicerces
apresentados, em relação ao processo de aumento da interação social, temos as
seguintes indicações de trabalho:
Incentivo ao indivíduo em benefício do grupo;
Valorização da cultura corporal com liberdade para resgatar valores pessoais e
de grupos, promovendo a cooperação e participação em ambiente lúdico e
prazeroso;
Promover intercâmbio de experiências com atividades em duplas, trios,
quartetos, grandes grupos;
Exploração de diversas formas coreográficas: linhas, curvas, triângulos,
quadrados, combinações entre elas;
Exploração crítica dos materiais a serem utilizados, diversificando sua utilização
e buscando novas alternativas;
Estímulo à criatividade e à auto-superação, bem como a atitudes de respeito às
regras e ao grupo;
Proporcionar aumento na interação social a partir do envolvimento coletivo na
elaboração das atividades. Adultos, crianças, jovens e idosos podem participar
juntos;
Demonstração das composições coreográficas como produto final da experiência
partilhada;
No que remete à exploração dos recursos pedagógicos que o material pode
proporcionar, sugerimos:
Explorar os recursos próprios que o material oferece;
Criar movimentos novos e usar o material para interpretação de uma situação ou
como construção de cenários, improvisações;
Explorar materiais que o meio oferece;
Outras estratégias metodológicas são indicadas para o trabalho com a GPT, tais
como:
Uso de ritmos musicais diversos;
Experimento de diferentes amplitudes de movimentos;
Deslocamentos variados;
Posicionamentos corporais diversos;
Uso de expressões corporais e afetivas: alegria, raiva, tristeza;
Imitações;
Uso de movimentos característicos das diferentes modalidades ginásticas.
A partir da utilização dos procedimentos metodológicos sugeridos na prática
pedagógica, é provável que uma construção coreográfica esteja pronta. Como sugerem
alguns autores, há a possibilidade de apresentá-la, nem que seja para o próprio grupo.
Nessa vertente, a demonstração é uma das características fundamentais da GPT, pois
reflete o trabalho coletivo realizado. Segundo Paoliello (1997), esse trabalho conjunto
expressa as expectativas, a percepção de mundo e os valores de seus integrantes e, ao
ser apresentado, transforma-se numa ótima oportunidade de avaliação, transformação e
superação.
A GPT tem grande aceitação e possibilidade de desenvolvimento, tanto em
escolas como em academias, clubes e associações. Abre caminho para indivíduos que
buscam experiências corporais significativas, que desejam refletir sobre este fazer como
parte do que se vive, possuindo uma ação educativa capaz de possibilitar um espaço
humano de convivência social, transformação e emancipação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos o presente trabalho trazendo algumas considerações que, longe de
se esgotarem aqui mesmo, têm como principal objetivo fomentar novos debates sobre a
GPT.
A primeira consideração relevante a ser feita é que a GPT nos parece um campo
novo, tanto do ponto de vista acadêmico como do ponto de vista prático.
Em relação ao primeiro ponto, apesar de concordarmos que sua origem antecede
o Movimento Ginástico Europeu, não podemos desconsiderar que o seu termo de
origem, a GG, só e institucionalizado no Brasil a partir de 1984. Desse modo, ainda
assistimos, na atualidade, a campos de disputa entre pesquisadores e a própria FIG, no
que remete ao conceito que melhor definiria a GPT. Dentre os principais conceitos que
permeiam a literatura específica da área temos: a GPT na perspectiva do lazer (FIG,
FENSTERSEIFER, 2005); a GPT como elemento pedagógico que compõe o campo da
cultura corporal, objeto de estudo da Educação Física (AYOUB, 2003; GALLARDO,
2001; NISTA-PÍCOLLO, 2012; PAOLIELLO, 1997; TOLEDO, 1997); a GPT como
uma ginástica de demonstração (SANTOS, 2001); e, finalmente, a GPT como área de
conhecimento fundamental na formação do professor de Educação Física (RINALDI,
2005). Não se trata, portanto, de rejeitar ou defender qualquer uma dessas concepções
apresentadas, mas de compreender de que forma elas podem ser operadas na prática,
segundo o contexto no qual a GPT e o professor de Educação Física estão inseridos.
Além disso, é justamente essa amplitude de conceitos e possibilidades de se pensar a
GPT que vai proporcionar um trabalho prático fértil e inovador.
Sendo assim, em relação à prática da GPT, devemos compreender que as
possibilidades são múltiplas e diversificadas. São múltiplas porque podem ser
desenvolvidas em campos de atuação diferenciados, tais como: academias, clubes
associações, projetos sociais, esportivos e escolas. E são diversificadas porque
englobam uma ampla gama de alternativas pedagógicas, isto é, a GPT incita o
desenvolvimento de novas metodologias de trabalho a todo tempo, sem que sua
especificidade seja comprometida. Pelo contrário, quanto mais diversificadas forem as
metodologias de trabalho com a GPT, mais relevante e significativo será o processo
pedagógico.
Encerramos o texto deixando aberto o espaço para o diálogo sobre algumas
questões ligadas aos conceitos e à diversidade presentes nos fundamentos e nos aspectos
metodológicos do trabalho com a GPT, no intuito de situarmos os leitores nesse recente
campo de estudo.
REFERÊNCIAS
ASTOR, C. Metodologia do ensino da Ginástica Acrobática. Ministério da Educação
e Cultura. Rio de Janeiro, s/d.
AYOUB, E. Ginástica Geral e Educação Física Escolar. Campinas: Editora da
Unicamp, 2003.
BRAUSTEIN, F., PÉPIN, J. F. O lugar do corpo na cultura ocidental. Lisboa:
Instituto Piaget, 1999.
BROCHADO, F. A., BROCHADO, M. M. V., Fundamentos da Ginástica de
Trampolim. In: NUNOMURA, M., TSUKAMOTO, M. H. C. (Orgs.). Fundamentos
da Ginástica. Jundiaí, SP: Fontoura, 2009, p. 73-107.
BRUHNS, H. T. Introdução aos Estudos do Lazer. Campinas, SP: Ed. Unicamp:
1997.
CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta.
Campinas, SP: Papirus, 2001.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo:
Cortez, 1992.
CORREA, X. C., RIBEIRO, F. C. Os Significados da Ginástica Geral em Estudantes de
Educação Física. In: AYOUB, E., SOUZA, E. P. M de. Anais do III Fórum
Internacional de Ginástica Geral. Campinas, SP: SESC UNICAMP/FEF, 2005.
CORREA, C. X., VIEIRA, M. A. M., SILVA, T., O. PINTO, L. F. Movimento,
criatividade e lazer: a trajetória do Grupo Ginástico Granbery. Anais do V Fórum
Internacional de Ginástica Geral. Campinas: SP, 2010.
DAOLIO, J. Da Cultura do Corpo. Campinas, SP: Papirus, 1995.
DELORS, J. A Educação para o Século XXI: questões e reflexões. Porto Alegre:
Artmed, 2005.
FENSTERSEIFER. G. Dicionário crítico de educação física. Ijuí, SC: Unijuí, 2005.
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira,
1975.
GALLARDO, J. S. P. Ginástica Geral - da Formação Profissional ao Mercado de
Trabalho. Anais do Fórum Internacional de Ginástica Geral. Campinas, SP, 2001.
LANGLADE, A., LANGLADE, N. R de. Teoria general de la gimnasia. Buenos
Aires: Stadium, 1970.
MARCELLINO, N. C. Lazer e Educação Física. In: DE MARCO, A. (Org.). Educação
Física: Cultura e sociedade. Campinas, SP: Papirus, 2006.
MATTOS, P. de S. Fundamentos da Ginástica Aeróbica Esportiva. In: NUNOMURA,
M., TSUKAMOTO, M. H. C. (Orgs.). Fundamentos da Ginástica. Jundiaí, SP:
Fontoura, 2009, p. 109-142.
MERIDA, F. Fundamentos da Ginástica Acrobática. In: NUNOMURA, M.,
TSUKAMOTO, M. H. C. (Orgs.). Fundamentos da Ginástica. Jundiaí, SP: Fontoura,
2009, p. 173-200.
NISTA-PICOLLO, V.L., SCHIAVON, L. A Ginástica vai à escola. Revista
Movimento. Porto Alegre, v. 13, n. 03, p. 131-150, 2007.
NISTA-PÍCOLLO, V. L., MOREIRA, W. W. Corpo e movimento na Educação
Infantil. São Paulo: Cortez, 2012/A.
NISTA-PÍCOLLO, V. L., MOREIRA, W. W. Esporte como conhecimento e prática
nos anos finais do ensino fundamental. São Paulo: Cortez, 2012/B.
NISTA-PÍCOLLO, V. L., MOREIRA, W. W. Esporte para a vida no ensino médio.
São Paulo: Cortez, 2012/C.
NUNOMURA, M., FILHO, R. A. F., DUARTE, L. H., TANABE, A. Fundamentos da
Ginástica Artística. In: NUNOMURA, M., TSUKAMOTO, M. H. C. (Orgs.).
Fundamentos da Ginástica. Jundiaí, SP: Fontoura, 2009, p. 201-239.
NUNOMURA, M., TSUKAMOKO, M. H. C. Fundamentos da Ginástica. Jundiaí, SP:
Fontoura, 2009.
PAOLIELO, E. M. S. Ginástica Geral: uma área do conhecimento da Educação Física.
Tese (doutorado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 1997.
PAOLIELO, E. M. S., AYOUB, E. Anais do Fórum Internacional de Ginástica
Geral. Campinas, SP, 2001.
PEREIRA, F. M. Dialética da cultura física: introdução à crítica da Educação Física,
do esporte e da recreação. São Paulo: Ícone, 1988.
PUBLIO, N. S. A evolução histórica da Ginástica Olímpica. São Paulo: Phorte, 2002.
RAMOS, J. J. A moderna Ginástica Sueca. Curso de Educação Física por
correspondência. Brasília: MEC, 1967.
RINALDI, I. P. B. A Ginástica como área de conhecimento na formação
profissional em Educação Física: encaminhamentos para uma reestruturação
curricular. Tese (Doutorado em Educação Física) Faculdade de Educação Física -
Unicamp, 2005.
SANTOS, J. C. E. dos. Ginástica geral: elaboração de coreografias, organização de
festivais. Jundiaí, SP: Fontoura, 2001.
SIEBERT. As relações de saber-poder sobre o corpo. In: ROMERO, E. (Org.). Corpo,
mulher e sociedade. Campinas, SP: Papirus, 1995.
SOARES, C. L. Educação Física: raízes europeias e Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2001.
SOUZA, E. P. M., GALLARDO, J. S. P Ginástica Geral: duas visões de um
fenômeno. In Coletânea: textos e sínteses do I e II Encontros de Ginástica Geral.
Campinas, SP, 1996.
TOLEDO, E. Qual a viga mestra da Ginástica Geral? In: Coletânea de textos e sínteses
do I e II Encontro de Ginástica Geral. Campinas, SP: Gráfica Central da Unicamp,
1997.
TOLEDO, E. de. Fundamentos da Ginástica Rítmica. In: NUNOMURA, M.,
TSUKAMOTO, M. H. C. (Orgs.). Fundamentos da Ginástica. Jundiaí, SP: Fontoura,
2009, p. 143-172.
TSUKAMOTO, M., TOLEDO, E., GOUVEIA, C. Fundamentos da Ginástica Geral. In:
NUNOMURA, M., TSUKAMOTO, M. H. C., (Orgs.). Fundamentos da Ginástica.
Jundiaí, SP: Fontoura, 2009, p. 23-49.
top related