“gringo velho”, de carlos fuentes
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13/06/2016 O deserto e os espelhos: Gringo Velho, de Carlos Fuentes | MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte
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16/05/2012
O deserto e os espelhos: Gringo Velho, de Carlos Fuentes
Filed under: resenhas antigas alfredomonte @ 8:10Tags:blog do alfredo monte, carlos fuentes, gringo velho, gringo viejo (the old gringo), tizziana giorgini
(resenha publicada originalmente na revista cultural GAMBIARRA, nmero 2, novembro de 1988, editada na Universidade Federal de Viosa-MG)
A editora Rocco vem se destacando nos ltimos anos pelo lanamento de vrios romances interessantes, entre eles GRINGO VELHO [Gringo Viejo (TheOld Gringo), em traduo de Tizziana Giorgini], do mexicano Carlos Fuentes(conhecido no Brasil sobretudo porA morte de Artemio Cruz, de 1962), que dedicado ao admirvel escritor norte-americano Willliam Styron.
GRINGO VELHOentrelaa a histria de uma figura real, o jornalista Ambrose Bierce (cujo nome s mencionado no final) com a da Revoluo Mexicana,em 1913. Bierce, aos 70 anos, desaparece na fronteir entre os dois pases. O que Fuentes faz imaginar o depois, fazendo com que Bierce, a partir da oGringo velho venha trazer mais ambiguidade convulso revolucionria, principalmente para outros dois grandes personagens: o general Toms Arroyo e a
professora protestante Harriet Winslow.
Embora a Revoluo tenha um peso muito real dentro do livro, ele se reveste de um carter muito mais ldico, principalmente porque o deserto e os espelhosestabelecem o clima e a linguagem da narrativa. O romance transcorre basicamente no deserto e a palavra fronteira sempre utilizada para evidenciar queos personagens ultrapassaram certos limites, seus marcos de referncia, e esto naquela regio psicolgica, ou mtica, como se queira, onde tudo se confunde eonde todos os atos podero ser definitivos e, ao mesmo tempo banais. No deserto, Arroyo, filho bastardo (como o era Artemio Cruz), destri a fazenda do seu
pai latifundirio, deixando em p apenas um salo de espelhos, para que seus homens, espoliados a vida inteira, possam ver, pela primeira vez, seus corpos.
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O espelho normalmente nos fornece uma dimenso de individualidade: eu existo. Mas muitos espelhos podem fazer essa iluso cair por terra, com umfenmeno similar ao do deserto, de apagar as diferenas individuais, as fronteiras entre Um e Outro, cu e terra. Nesse livro, cada conscincia tem passagemlivre para as outras,como a narrativa corporifica diante do leitor extasiado com as possibilidades que ela aponta (e nem sempre cumpre, apresentando aspectosdiscutveis), com essa passagem de uma voz para a outra (sim, uma narrativa de vozes),da narrativa impessoal para a primeira pessoa, do presente para o
passado (lembrando Vargas Llosa, que, preciso dizer, usa o recurso de forma superior).
Mas graas aos personagens que GRINGO VELHO um dos romances interessantes de que se falava no princpio: como Arroyo, chamado filho dosilncio porque foi obrigado a viver no silncio a vida toda, j que na fazenda os criados eram aoitados se fizessem barulho ao fazer amor, por exemplosua amante, a Lua (um dos pontos altos do romance a sua histria) e mais que todos, Harriet, que fica com o legado mais doloroso, aps a experincia daRevoluo, do deserto e do salo de espelhos: a memria individual. Ela quem se senta e recorda (o refro, o fio condutor da narrativa) e confronta suaconscincia s dos Outros,num eterno desfiar de fato e imaginao, de expectativas e resultados irrevogveis.
E assim que ela vista, ao atravessar novamente a fronteira dos Estados Unidos (e tambm esta presenano Mxico deixa sua marca no livro, impossvelde rastrear no mbito de um pequeno artigo): No a ouviram gritar quando a ponte ardeu em chamas: Estive aqui. Essa terra jamais me deixar.Eles lhe deram as costas e viram-na para sempre entrando num salo de baile cheio de espelhos, sem mirar a si prpria porque na verdadeadentrava num sonho.
nota de 2012 Esta foi uma das minhas primeiras resenhas publicadas. No obstante seus defeitos gritantes, constato que nem mesmo nessa poca me deixeilevar por jarges acadmicos. Lembro de um amigo que me dizia ser pssimo terminar textos crticos com citaes porque quem estava escrevendo pareciaque perdia a fora. Eu, de minha parte, sempre achei que o texto deveria ter a ltima palavra.
Um ano depois, vi a verso cinematogrfica de Luiz Puezo, que academizou por demais a histria, mas no um mau filme, s lhe falta personalidade.Como em tantos outros casos, afora a bela produo, o elenco que vale o filme: Jimmy Smits est timo no papel de Arroyos (alis, qualquer dvida sobre asua competncia como ator seria dissipada pela sua atuao na terceira temporada de DEXTER), Gregory Peck deita e rola nas excelncias da sua dignidade
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de veterano, na autoridade inatacvel que parece associada sua figura. Mas o ponto luminoso do filme mesmo a grande Jane Fonda, arrasadora comoHarriet Winslow. Numa dcada que deixou meio a desejar na sua carreira, com algumas excees, eu no entendi at hoje como ela no foi indicada e recebeuo seu terceiro Oscar por essa atuao.
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E aqui cometo o mesmo erro de sempre, terminando com uma citao:
A mulher que ele chamava A Lua disse que era estranho ouvir um sino e no saber a origem de seu toque. Foi assim que ela soube que a Revoluochegara a seu vilarejo de Durango: os sinos comearam a repicar numa hora em que ningum podia identificar com vsperas ou matinas ouqualquer outra coisa: era como um novo tempo, disse, um tempo que no sabamos imaginar e ento ela pensou na regularidade de nosso tempo,gerao aps gerao aferrada s estaes tradicionais, s horas consabifas, inclusive os minutos tradicionais: ela foi criada dessa forma, decente,
no rica em demasia mas decente, isso sim, seu pai era comerciante de gros, seu marido um prestamista no mesmo vilarejo onde todos, crianas oumulheres, levantavam s cinco, para se vestirem quando ainda estava escuro (isso era muito importante, nunca ver o prprio corpo) para em seguidaapresentar-se na igreja s seis e voltar para casa com fome, mesmo quando tinham comido o corpo de Cristo () e a senhorita me dir que no erauma vida ruim mas quando a vida do homem selada vida da menina noiva, a ento miss Harriet, essa vida se torna sombria, repetitiva, comoacontece com as coisas quando estancam e j no mais florescem a partir do que eram antes de que o homem, o pai, o marido, estivesse presente paragarantir que a pessoa continuaria sendo a noiva menina e que o casamento era uma cerimnia de medo
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Comments (6)
6 Comentrios
1.
INTERESSANTE. MUITO BOM.
Comentrio por maria fernandes 24/03/2012 @ 14:22| Responder
Obrigado pelo seu comentrio, Maria. Abrao, Alfredo.
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Comentrio por alfredomonte 25/03/2012 @ 11:07| Responder
2.
Professor Alfredo, meu nome Fabrizio. Sou ator, jornalista, formado em cinema e fui professor de teoria teatral. Escrevo apenas para lhe dizer ser umgrande admirador do seu blog. Nunca escrevi qualquer comentrio nele mas o acompanho h muito tempo. Por uma certa falta de tempo, ainda no tiveoportunidade de escrever aqui pois meus textos em geral so longos. Conheci o seu espao atravs do maravilhoso blog de Denise Bottman No gostode plgio. L eu j escrevi vrias vezes porque busco sintetizar meu pensamento ali. Mas, vendo suas extensas e excelentes matrias, sinto vontade deescrever muito e, no momento, como j me referi, estou sem tempo por estar estudando pra concurso. Uma das coisas que admiro bastante por vocno discriminar aquela cultura que rotulada como erudita, mais experimental e metafrica, daquela acessvel ao grande pblico, chamada de popular.Estimo imensamente essa postura, assim como os seus alertas e de Denise quanto aos problemas de traduo e edio.
isso! abraos e obrigado!
Comentrio por Fabrizio Lyra 16/05/2012 @ 20:03| Responder
Nossa, que gentileza o seu comentrio. Olha, eu adoro o blog da Denise, para mim uma leitura diria e onde eu aprendo muito. E, tirante a faltada tempo, no se preocupe em escrever muito. H um preconceito atual contra a pessoa se estender, examinar mais detidamente os assuntos deque gosta, analisar com mais mincia. Mas s um preconceito, como qualquer outro, no h extenso ou limite, s h o seguinte ponto: se setem algo a dizer ou no.Abrao.
Comentrio por alfredomonte 17/05/2012 @ 8:43| Responder
3.
Ufa! Obrigado pelo aulo de Carlos Fuentes,est nas minhas prioridades ler um desses romances.Obrigadssimo
Comentrio por Francisco Nogueira 16/05/2012 @ 21:11| Responder
Obrigado pelo comentrio gentil, Francisco. E pelo visto suas prioridades so do mais alto nvel. Abrao, Alfredo.
Comentrio por alfredomonte 17/05/2012 @ 8:40| Responder
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7/26/2019 Gringo Velho, De Carlos Fuentes
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13/06/2016 O deserto e os espelhos: Gringo Velho, de Carlos Fuentes | MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte
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