habitabilidade urbana a partir do sentimento de pertencimento | silvana assunçao
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
HABITILIDADE URBANA A PARTIR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO
SILVANA ASSUNÇÃO
CORONEL FABRICIANO, 2015.
SILVANA ASSUNÇÃO
HABITILIDADE URBANA A PARTIR DO SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de
Arquitetura e como requisito parcial para obtenção de grau de
bacharel em Arquitetura e Urbanismo, orientada pela Professora
Danielly Garcia
CORONEL FABRICIANO, 2015.
Este trabalho é dedicado a meus pais, irmãos, minha avó
Clarice e a tia Alessandra, que são pessoas que muito me
incentivaram durante a formação acadêmica. Dedico
principalmente a minha mãe, que com muito carinho e amor
buscou sempre me incentivar a enfrentar as dificuldades.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores, aos amigos de faculdade que me
ajudaram nos momentos de dificuldade e principalmente a
minha orientadora Danielly Garcia.
"Pertencer a um lugar quer dizer ter uma base de apoio
existencial em um sentido cotidiano concreto.” Norberg-
Schulz
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido para um melhor entendimento da habitabilidade urbana e a relação o usuário do meio em que
vivencia, sendo este um modificador do espaço. Para tal entendimento foi necessário entender a relação do habitar residencial e
como isso acontece no espaço de uso público, aplicando alguns conceitos estudados ao longo da pesquisa e exemplificando essa
habitabilidade no estudo de caso do bairro Cariru, e a transição entre esses tipos de habitar no Jardim Panorama através de
registros e análise desses casos.
Palavras chaves: Sentimento de pertencimento. Habitar. Identidade. Fenômeno do lugar.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Porta de duas seções........................................................................................................................................................21
Figura 02: Drie Hoven, Lar para idosos..............................................................................................................................................21
Figura 03: Casa no Jardim Panorama................................................................................................................................................23
Figura 04: Casa no Jardim Panorama................................................................................................................................................23
Figura 05: Intervenção Azulejos de Papel..........................................................................................................................................25
Figura 06: Intervenção Azulejos de Papel..........................................................................................................................................25
Figura 07: Bate papo nas calçadas....................................................................................................................................................30
Figura 08: Universidade de Colúmbia, Nova York..............................................................................................................................32
Figura 09: Mapa área de estudo.........................................................................................................................................................33
Figura 10: Pista de caminhada do bairro Cariru.................................................................................................................................34
Figura 11: Gangorras na pista de caminhada do bairro.....................................................................................................................34
Figura 12: Gangorras na pista de caminhada do bairro.....................................................................................................................35
Figura 13: Estrutura da cabana..........................................................................................................................................................35
Figura 14: Pracinha construída pelos moradores................................................................................................................................36
Figura 15: Pracinha construída pelos moradores................................................................................................................................36
Figura 16: Gil Milbratz..........................................................................................................................................................................37
Figura 17: Lugar que os moradores colocam comida para os animais...............................................................................................39
Figura 18: Lugar que os moradores colocam comida para os animais...............................................................................................39
Figura 19: Cartaz do seminário............................................................................................................................................................41
Figura 20: Seminário............................................................................................................................................................................41
Figura 21: Etapa 1................................................................................................................................................................................45
Figura 21: Etapa 2................................................................................................................................................................................45
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................................10
2 DESENVOLVIMENTO....................................................................................................................................................................14
2.1 CONCEITOS........................................................................................................................................................................14
2.2 HABITAR: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O ESPAÇO................................................................................................18
3 OBRAS DE REFERÊNCIA.............................................................................................................................................................40
4 PROPOSTA DE TCC 2 .................................................................................................................................................................43
5 CONCLUSÃO.................................................................................................................................................................................46
6 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................................................47
10
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste em um estudo para avaliação pós-
ocupação comportamental e tem como objetivo investigar os
fatores que influenciam a habitabilidade urbana através do
sentimento de pertença do indivíduo.
Um amigo meu, médico, assegurou-me que
desde o berço a criança sente o ambiente, a
criança quer: nela o ser humano, no berço
mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha
primeira vontade foi a de pertencer. Por
motivos que aqui não importam, eu de algum
modo devia estar sentindo que não pertencia a
nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana,
ela continua a me acompanhar pela vida afora,
como se fosse um destino. A ponto de meu
coração se contrair de inveja e desejo quando
vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome
de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei
bastante arisca: tenho medo de revelar de
quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim.
Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E
preciso de mais do que isso. Com o tempo,
sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser
gente. Não sei mais como se é. E uma espécie
toda nova de "solidão de não pertencer"
começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer,
porque então nunca fiz parte de clubes ou de
associações? Porque não é isso que eu chamo
de pertencer. O que eu queria, e não posso é,
por exemplo, que tudo o que me viesse de bom
de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que
eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como
são solitárias às vezes. E uma alegria solitária
pode se tornar patética. É como ficar com um
presente todo embrulhado em papel enfeitado
de presente nas mãos - e não ter a quem dizer:
tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em
situações patéticas e, por uma espécie de
contenção, evitando o tom de tragédia,
raramente embrulho com papel de presente os
meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e
precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte.
Muitas vezes a vontade intensa de pertencer
vem em mim de minha própria força - eu quero
11
pertencer para que minha força não seja inútil
e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase
consigo reproduzir em mim a vaga e, no
entanto premente sensação de precisar
pertencer. Por motivos que nem minha mãe
nem meu pai podiam controlar, eu nasci e
fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz
de um modo tão bonito. Minha mãe já estava
doente, e, por uma superstição bastante
espalhada, acreditava-se que ter um filho
curava uma mulher de uma doença. Então fui
deliberadamente criada: com amor e
esperança. Só que não curei minha mãe. E
sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me
para uma missão determinada e eu falhei.
Como se contassem comigo nas trincheiras de
uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que
meus pais me perdoaram por eu ter nascido
em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que
simplesmente se tivesse feito um milagre: eu
nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria
pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem
podia confiar a alguém essa espécie de solidão
de não pertencer porque, como desertor, eu
tinha o segredo da fuga que por vergonha não
podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer,
como se fosse para me dar a medida do que
eu perco não pertencendo. E então eu soube:
pertencer é viver. Experimentei-o com a sede
de quem está no deserto e bebe sôfrego os
últimos goles de água de um cantil. E depois a
sede volta e é no deserto mesmo que caminho!
(CLARICE LISPECTOR, Pertencer)
Na carta Lispector diz que desde o berço a criança sente o
ambiente e afirma sua necessidade de se sentir pertencente a
alguma coisa, que pertencer significa não nascer e viver em
vão. Essa vontade de pertencer que ela fala na carta é o que
a autora que vos fala sente e acredita que os espaços se
tornam habitáveis a partir desse sentimento de
pertencimento. Não somente de sentir que pertence ao lugar,
mas sentir que aquele lugar lhe pertence, tratando assim o
pertencimento como uma troca de identidade e de um
cuidado entre o usuário e a cidade em que vivencia.
A análise neste trabalho foi feita a partir das teorias da
fenomenologia e da semiótica, buscando entender como a
12
memória influencia na relação entre o indivíduo e o meio em
que vive. Entender a relação da pessoa com o espaço como
uma criação de identidade e memória afetiva. Como as
experiências anteriores influenciam e o que dessas
experiências que despertam esse sentimento. Como a
arquitetura provoca esses estímulos de comportamento em
determinado espaço? Quais são as condicionantes que
direcionam o interesse e sentimento pelo espaço?
O indivíduo é capaz de construir a identidade do lugar a partir
do momento em que modifica o espaço. Essa modificação
depende do sentimento de pertença com o lugar. Se o sujeito
sente que o espaço lhe pertence, ele se sente responsável
pelo mesmo. Esse estudo tem como objetivo entender o que
contribui para que aconteça uma relação entre o indivíduo e
determinado espaço.
A arquitetura pertence a poesia, e seu
propósito é ajudar o homem a habitar. (...) Isso
acontece por meio de construções de reúnem
as propriedades do lugar e as aproximam do
homem. Logo, o ato fundamental da arquitetura
é compreender a vocação do lugar.
(NORBERG-SCHULZ, 1976, p.459)
É importante que uma reflexão crítica em torno do sentimento
de pertencimento pelos arquitetos para entender a
necessidade de interação afetiva do indivíduo com o espaço
que vivencia, pois o objetivo da arquitetura não é somente
construir abrigos para as necessidades básicas do ser, mas é
materializar o que o homem tem necessidade de exteriorizar
e de se identificar. É importante entender a habitabilidade
urbana, a vocação do lugar e de que forma esses usos
acontecem. São observações que devem ser reconhecidas e
incorporadas pelos arquitetos ao projetar.
O arquiteto pode contribuir para criar um
ambiente que ofereça muito mais
oportunidades para que as pessoas deixem
sua marca e identificações pessoais, que
possa ser apropriado e anexado por todos
como um lugar que realmente lhes "pertença"
(HETZBERGER, 1996, p.48)
O objetivo é apresentar e experienciar as relações entre o
indivíduo, a memória, o espaço vivenciado e a arquitetura.
Através do estudo de teorias que analisam a formação de
13
uma identificação do ser com a casa e a cidade para entender
como a memória e o sentimento de pertencimento influenciam
na identidade do lugar.
A memória pode ser apreendida nos espaços do cotidiano e é
através da ocupação desses lugares que eles ganham
significado, por fazer parte da memória e da identidade de
quem vivencia esse espaço.
As propostas arquitetônicas atuais pretendem
tornar o habitar (uma cidade ou uma casa) um
mero ato de visão: eu vejo a cidade, mas não a
uso [...] a vida não é um teatro – pelo menos,
não sempre, e o ver precisa ser substituído
pelo viver, pelo sentir, e que em arquitetura se
define pelo experimentar, tocar, percorrer,
modificar: numa palavra, ação. E o espaço
estático deve ser dinamizado. O espaço sem
tempo, sempre iguala si mesmo, exige ser
temporalizado, isto é, modificado. (COELHO
NETTO, 2002, p. 78).
Assim, propõe-se para o TCC2 registros e análise de espaços
públicos que sofreram intervenção com iniciativa dos
moradores e identificar diferentes formas de apropriação do
espaço e entender o sentimentos de pertença em diferentes
casos.
14
2 DESENVOLVIMENTO
Este capítulo consiste em apresentar os conceitos que serão
utilizados ao decorrer da pesquisa e faz uma análise da
relação do habitar a casa com a habitabilidade dos espaços
de uso coletivo.
2.1 CONCEITOS
Na fenomenologia, segundo Norberg-schulz (1976) o
"espaço" indica a organização tridimensional dos elementos
que formam um lugar, e o "caráter" denota a atmosfera feral
que é a propriedade mais abrangente de um lugar. O caráter
do lugar é uma função de tempo e muda de acordo com as
situações meteorológicas, ele é determinado pela constituição
material e imaterial do lugar.
Pertencer a um lugar quer dizer tem uma base de apoio
existencial em um sentido cotidiano concreto. (NESBITT apud
NORBERG-SCHULZ, 2006, p.459).
O indivíduo tem a necessidade de sentir pertencente a algum
lugar ou a alguma coisa, isso faz parte da sua formação de
identidade, acreditando que essa formação de identidade e
do ser é empírico, esse sentimento de pertencer depende de
experiências passadas e de como essas experiências foram
vividas anteriormente, se foram experiências boas ou ruins. O
sentimento de pertencimento influencia de que forma na
percepção arquitetônica? Assim o estudo da semiótica e da
fenomenologia aplicadas à arquitetura ajudará a entender o
que são esses sentimentos e em que isso influencia para que
o indivíduo se sinta confortával em determinado ambiente.
Sentir-se pertencente acontece a partir do momento em que
há uma identificação com o lugar.
[...] termo Realidade se refere a tudo que
existe, em oposição ao que é mera
possibilidade, ilusão, imaginação e mera
idealização.
Empírico refere-se à experiência. Chama-se
realidade empírica a tudo aquilo que existe e
pode ser conhecido através da experiência.
Por sua vez, experiência é o conhecimento que
nos é transmitido pelos sentidos e pela
consciência. Fala-se de experiência externa
para indicar o que se conhece por meio dos
sentidos corpóreos, externos. Já a experiência
15
interna indica o conhecimento de estados e
processos internos obtidos através da
consciência. Denomina-se introspecção à ação
de conhecer, pela experiência interna, o que se
passa dentro de nós. (OKAMOTO apud
RUDIO, 2002, p.18)
Considerando a afirmação de Rudio, no sentimento de
pertencimento, podemos dizer que a realidade é o tangível da
arquitetura e o empírico são as experiências vividas
anteriormente que influenciam na percepção do espaço pelo
usuário, como a memória, cultura, pensamento, crença. A
realidade empírica são os sentidos subjetivos que o indivíduo
adquire com o tempo em que vivencia o espaço, e as
experiências externas são as sensações que ele já vivenciou
em outro espaço e que pode transferir para outro, assim
sensações que vivenciou anteriormente influenciam na
percepção do espaço. A introspecção são as memórias que
carregamos e a identificação são as experiências boas ou
ruins vividas.
Considerando os termos, o significado da arquitetura que tem
características em comum para todos que vivenciam a
realidade na arquitetura como o tangível, a dimensão e a
relação do conhecimento, da memória é, na semiótica,
individual, mesmo que todos vivenciem o mesmo espaço,
cada pessoa terá uma percepção diferente do objeto, assim
como na semiótica aplicada à arquitetura.
Utiliza-se neste trabalho o conceito de semiótica, que é a
ótica dos sinais, a ciência geral dos signos e estuda todos os
fenômenos culturais como se fossem sistemas de
significação. O significado é uma identidade proposta pelo
conceito de quem criou o objeto. O significante é a absorção
desse elemento físico por cada pessoa e sua compreensão
de determinado objeto que faz alusão a outro.
O signo está entre a obra e a interpretação por alguém, é o
significado criado pelo observador que vai interpretá-la ao se
deparar com o signo que não é o objeto em si, mas sua
representação, por exemplo, um determinado espaço é um
signo e seu significante será a experiência da pessoa que
vivencia o cotidiano desse espaço, assim o significante tem
referências do subconsciente do interpretante, podendo criar
16
assim um sentimento de pertencimento a partir da vivência do
cotidiano.
O sentimento de pertencimento é o significante da obra, é a
memória que o indivíduo transfere de outras experiências
passadas para o presente. Ao vivenciar uma arquitetura ele
tende a trazer interpretações e memórias do passado. Sendo
assim o que ele absorve daquele lugar depende das próprias
experiências.
Considerando a identidade do lugar como um resultado das
relações que envolvem o espaço físico produzido com os que
ali habitam, o sentimento de pertencimento completa a
arquitetura e dá significado ao espaço, tornando assim esse
espaço de memória e significado, fazendo com que o
indivíduo também pertença e se identifique com o lugar,
assim como a arquitetura adquire significado a partir do
momento que alguém transmite significado para esta, a
fenomenologia também aborda essas sensações e
sentimentos de pertença do indivíduo com o meio.
Podemos definir a fenomenologia aplicada à arquitetura como
empírica, pois cada sensação e reação dependem de cada
indivíduo que vivencia o espaço. Cada indivíduo tem reações
diferentes de acordo com a memória, experiências,
sentimentos e desejos. A memória de infância é uma das
primeiras experiências, pois a criança tem autenticidade de
experiências.
Quando se sonha com a casa natal, na extrema profundeza
do devaneio, participa-se desse calor inicial, dessa matéria
bem temperada do paraíso material. É nesse ambiente que
vivem os seres protetores. [...] a casa mantém a infância
imóvel [...]. (BACHELARD, 1993, p.27)
Para esse estudo o olhar para a arquitetura não é apenas
para seu objeto físico e suas formas, mas uma busca da
subjetividade e dos sentimentos que ela provoca em quem o
vivencia, tornando a assim um local habitado. Considerando
habitar quando acontece uma relação entre o espaço e o
indivíduo. Olhar, vivenciar no cotidiano faz com que as
memórias vividas naquele lugar façam parte dele, e isso é o
17
que na fenomenologia se chama de genius loci. A vivência
recria uma dimensão de sentimento no espaço. Ele passa a
não somente existir para proteção de intempéries do tempo,
ele passa a abrigar sentimentos.
De acordo com Norberg-Schulz, Genius loci é o conjunto de
características sócio-culturais, arquitetônicas, de linguagem e
de hábitos que caracterizam um lugar, um ambiente, uma
cidade. Indicando assim o "caráter" do lugar.
A medida que você vai conhecendo a Europa,
saboreando lentamente seus vinhos, queijos e
qualidades peculiares dos diferentes países,
começa a perceber que o determinante mais
importante de qualquer cultura é, no fim de
tudo, o espírito do lugar. (NORBERG-SCHULZ
apud Durrel, 1976, p. 455)
Para Norberg-Schulz, o habitar significa muito mais do que o
abrigo, habitar é o que ele chama de suporte existencial e
seria esse o objetivo da arquitetura. O habitar acontece
através da relação entre o homem e o meio, da percepção e
entendimento do lugar. Habitar é como estar em paz num
lugar protegido.
De acordo com Heiddeger o homem e o espaço dizem
respeito ao modo de habitar, o espaço é seu modo de habitar
o mundo. Assim, espaço só se torna lugar no momento em
que o homem é inserido nele. O habitar é a relação de
identificação entre o homem e o espaço e essa identificação
com o lugar é ter uma relação amistosa com determinado
ambiente.
Habitabilidade, segundo Brandão (2005) se define como o
bem-estar que surge do encontro vivido entre o habitante e a
habitação, um encontro que envolve o uso e o atendimento
de necessidades e desejos do indivíduo e a construção da
familiaridade do espaço com aquele que o habita. Assim,
habitabilidade é também a troca de informações e estímulos
do usuário com o ambiente e como as experiências anteriores
e as memórias do ambiente físico influenciam na sua
percepção e identificação com o ambiente.
Quando o homem habita, ele está inserido no espaço e
exposto ao caráter ambiental. O caráter do lugar é a
“atmosfera”, que muda de acordo com as estações, com o
18
passar do dia, mudança de luz, com condições
meteorológicas. E está presente nos elementos do lugar,
podendo transferir o caráter de um lugar para outro.
2.2 HABITAR: A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O
ESPAÇO
Habitar significa muito mais do que o abrigo, habitar é um
suporte existencial do ser. O homem habita quando há uma
relação de entre ele e o espaço meio a partir da percepção e
do simbolismo (semiótica) ele habita.
De acordo com Bachelard (1993, p. 25): "todo espaço
realmente habitado traz a essência da noção de casa".
A partir do ponto de vista do pertencimento, pode-se dizer
então que habitar corresponde ao modo como o indivíduo se
relaciona com o espaço que vivencia. Pertencer diz respeito a
uma relação direta do lugar ocupado, vivenciado, recebendo
significado pelos sujeitos inseridos neste contexto
determinado.
Norberg-Schulz (1976) diz que “o lugar é mais do que uma
localização geográfica [...] O lugar é a concreta manifestação
do habitar humano” ele diz que o lugar é constituído por
elementos que transmitem significados.
Um "ninho seguro" – um espaço conhecido à
nossa volta, onde sabemos que nossas coisas
estão seguras e onde podemos nos concentrar
sem sermos perturbados pelos outros – é algo
que cada indivíduo precisa tanto quando o
grupo.
Sem isso, não pode haver colaboração com os
outros. Se você não tem um lugar que possa
chamar de seu, você não sabe onde está! Não
pode haver aventura sem uma base para onde
retornar: todo mundo precisa de alguma
espécie de ninho para pousar.
(HERTZBERGER. 1996, p.28).
A casa é um espaço de subjetividade, de intimidade e
principalmente de memória. Ela produz um universo de
sensações particulares e simbólicas. Na casa a vivência e o
conjunto de signos presentes no espaço possibilita que seus
habitantes se identifiquem e se reconheçam ali, permite aos
moradores o sentimento de pertença.
19
Considerando o sentimento de pertencimento e o espírito do
lugar, a casa não é somente o objeto físico, mas como as
pessoas que vivenciam esse espaço fazem com que ele
tenha uma identidade, fazem com que seja um lugar próprio,
de características e significados.
A casa abriga o devaneio, a casa protege o
sonhador, a casa permite sonhar em paz [...]
então, os lugares onde se viveu o devaneio
reconstituem-se por si mesmos num novo
devaneio. É exatamente porque as lembranças
das antigas moradas são revividas como
devaneios que as moradas do passado são
imperecíveis dentro de nós. (BACHELARD,
1993, p. 26):
Habitar é a subjetividade da casa, é o sentimento e as
memórias de cada um que estão presentes na nossa
individualidade. O sentimento pela casa caracteriza-se por ser
um espaço imaginário e simbólico, as práticas e hábitos do
cotidiano tornam o espaço singular. Os elementos concretos
do espaço que compõem um espaço revelam a identidade e a
realidade própria do mesmo.
O arquiteto norte-americano de origem alemã,
Gerhard Kallman, certa vez contou uma
história que ilustra bem essa situação. Ao
visitar sua cidade natal, Berlim, no final da
Segunda Guerra Mundial, depois de muitos
anos de ausência, ele quis rever a casa em
que crescera. Como era de se esperar,
tratando-se de Berlim, a casa tinha
desaparecido, e Kallman se sentiu um pouco
perdido. De repente ele reconheceu o desenho
típico das calçadas: o chão em que brincava
quando criança! E teve a forte sensação de,
enfim, voltar para casa. (NORBERG-SCHULZ
apud KALLMAN, 2006, p.457).
O arquiteto Kallman, ao voltar para sua cidade natal,
conseguiu identificar a calçada típica da cidade na época em
que ainda morava ali e essa memória trouxe a sensação de
voltar para casa por identificar-se com o local, um pouco da
sua memória de infância e da vida que vivera ali, pois são
resquícios de um antigo habitar. Alguns elementos
arquitetônicos são responsáveis por isso e no caso citado
acima o arquiteto criou uma identificação. Símbolo: o piso, o
espírito do lugar: a sensação que o objeto trouxe o habitar: se
o objeto transferiu de um lugar para o outro a sensação de
20
estar em casa ali houve uma forte relação entre ele e o
objeto. Essa troca pode ter sido inconsciente até então, mas
ao voltar e lembrar-se da infância vendo o piso essa relação
aconteceu.
De acordo com a fenomenologia o homem tende a traduzir
um significado de um lugar para outro que já foi
experimentado antes e alguns objetos de identificação podem
vir da infância.
O caráter de uma "família" de construções que
constitui um lugar geralmente está
"condensado" em motivos característicos,
como certos tipos de janelas, portas e
telhados. Esses motivos se tornam as vezes
"elementos convencionais"que servem para
transpor o caráter de um lugar para outro.
Desse modo, na fronteira, caráter e espaço se
combinam (...) (NESBITT apud NORBERG-
SCHULZ 2006, p. 451).
De acordo com a teoria da fenomenologia, para que o homem
se sinta pertencente ao lugar ele tem que ser capaz de
orientar-se, saber onde está, se identificar com o meio e
saber como ele está inserido num certo lugar. Sendo assim a
identificação é a base do sentimento de pertencer.
Outro exemplo em que o sentimento e a memória do lugar
foram transferidos de um lugar para o outro é na casa da
autora que vos fala. A porta de duas seções (Fig. 01) foi
instalada na sala em uma reforma em 2011, a arquiteta
Alessandra, minha tia, colocou no projeto essa porta. Depois
dos meus devaneios sobre esse elemento ela afirma que
colocou essa porta, pois vem da memória de seus passeios
de infância em sítios e casas de nossos antepassados. Esse
elemento era muito utilizado nas cozinhas, de modo que a
parte de cima ficava aberta e a parte de baixo impedia que as
galinhas entrassem na casa.
Ao perguntar sobre esse elemento Alessandra buscou na
memória e contou sobre outros detalhes das casas em que
visitava na infância, como por exemplo, as latas de biscoito
que ficavam em uma das casas.
21
Figura 01: porta de duas seções.
Fonte: autora
Figura 02: Drie Hoven, Lar para idosos.
Fonte: Lições de arquitetura, Hertzberger.
22
De acordo com Hertzberger (1999, p. 35), a porta de duas
seções (Fig. 02) deixa um contato entre o interior e o exterior,
um exemplo que o autor cita para a utilização deste elemento
é em lar para idosos, onde por causa da mobilidade reduzida
os moradores passam boa parte do tempo sozinhos dentro do
quarto, enquanto os outros que ficam do lado de fora também
querem algum contato. A porta em duas seções permite que
a parte de cima fique aberta de maneira que fica um gesto de
convite, a porta está aberta e fechada ao mesmo tempo.
Assim, a porta fica aberta o bastante para facilitar uma
interação com quem está passando por ali (Fig. 02).
Assim, acontece uma interação entre interior e o exterior de
forma não explícita. Essa situação também acontece nas
varandas das casas, onde os moradores estão dentro de
casa e próximos a rua, o que facilita um contato com quem
está passando por ali. É um intervalo entre a casa e a rua.
A concretização da soleira como intervalo,
significa, em primeiro lugar e acima de tudo,
criar um espaço para as boas-vindas e as
despedidas, e, portanto, é a tradução em
termos arquitetônicos da hospitalidade. Além
disso, a soleira é tão importante para o contato
social quanto as paredes grossas para a
privacidade. Condições para a privacidade e
condições para manter os contatos sociais com
os outros são igualmente. Entradas, alpendres
e muitas outras formas de espaços de intervalo
fornecem uma oportunidade para a
‘acomodação’ entre mundos contíguos.
(HERTZBERG, 1996, p. 35).
Esse exemplo da soleira pode ser aplicado na utilização dos
moradores com as varandas das casas, os moradores dessa
casa no bairro Jardim Panorama em Ipatinga usam a varanda
de forma que se aproximam da rua, ficam "disponíveis" para
um contato com os vizinhos, mas estão ainda dentro de casa.
É esse intervalo entre a casa e a rua que faz com que eles se
sintam dentro e fora ao mesmo tempo. Podemos aplicar esse
caso à fenomenologia, pois antes essa casa não era utilizada
dessa forma, há dois anos ela foi reformada, e numa
necessidade dos moradores a casa recebeu a varanda. (Fig.
03 e 04)
23
Figura 03: casa no Jardim Panorama
Fonte: autora
Figura 04: casa no Jardim Panorama
Fonte: autora
24
De acordo com os moradores as casas dessa rua
antigamente tinham uma maior comunicação com o exterior,
pois as residências casas não eram fechadas com muros tão
altos, o que facilitava a comunicação entre os moradores e
quem passava pela rua. Assim os moradores eram mais
próximos. Sendo essa varanda construída em uma reforma
recente, então a construção dessa varanda é a retomada do
espírito do lugar, resgatando esse intervalo como
comunicação entre a casa e a rua.
As calçadas pertencem às casas, o que não
significa que sejam parte das mesmas
enquanto propriedade. O seu caráter público
contrasta, por vezes, com as formas pelas
quais são circunstancialmente utilizadas. As
diversas maneiras de ocupação destas áreas
vivas do espaço urbano criam uma ambiência
que os moradores associam ao modo de vida
tradicional. Referem-se muito a um tempo em
que as cadeiras na calçada eram ‘a marca
registrada’ da vida do bairro. O hábito,
característico dos momentos especiais,
marcado pela suspensão do cotidiano (fins de
tarde, tardes de sábado, domingos ou
feriados). No passado, dizem, todos tinham
esse costume que hoje parece estar em
extinção. (FERRARA, 1999).
A varanda como comunicação entre a casa e a rua aproxima
o habitar residencial para esse espaço de transição entre os
dois. Um outro caso de transferência de significados e
sentimentos entre interior e exterior é a intervenção Azulejos
de Papel (desde 2008) do grupo Poro podemos fazer uma
análise entre o habitar residencial e urbano, pois a mesma
consiste em espalhar pela cidade uma série de imagens de
azulejos impressos em papel jornal, no formato 15x15cm, que
é normalmente o tamanho dos azulejos reais. Sendo os
azulejos mais comuns de serem utilizados no interior da casa,
essa intervenção leva o imaginário do habitar residencial para
o urbano. Transfere e faz-se uma analogia entre o significado
do habitar residencial para o urbano (Fig. 05 e 06).
De acordo com o Grupo Poro, a intenção nas intervenções é
a de criar relações com o mundo a partir de signos, gestos
e/ou objetos, fazendo trocas simbólicas no espaço. O grupo
encara o espaço público como lugar de convívio e campo
para a articulação de proposições artísticas.
25
Figura 05: intervenção Azulejos de Papel
Fonte: ebook: Intervalo, Respiro, Pequenos deslocamentos.
Figura 06: intervenção Azulejos de Papel
Fonte: ebook: Intervalo, Respiro, Pequenos deslocamentos.
26
Enquanto refúgio, imobilidade, tranquilidade, o
canto (i.e., a casa) é a reprodução do primeiro
abrigo humano, o útero materno, e por
conseguinte a arquitetura, expressão perfeita
da imobilidade, se decidiria por uma das
pontas do eixo: o Interior. [...] um espaço
interior concebido como oposição ao exterior e
com o qual se procurava uma proteção.
(COELHO NETTO, 2001, p.32).
Ao tratar do espaço doméstico e da transição entre esse
espaço e a rua o objetivo é entender a transferência de
significados entre a habitabilidade residencial, que é onde se
configuram as atividades privadas do habitante, bem como
onde se abrigam suas memórias. Para a habitabilidade
urbana considera-se aqui que o indivíduo pode transferir os
signos de um lugar para outro. Pretende-se chegar aqui a
uma noção do habitar urbano de acordo com a relação do ser
com o espaço em que vivencia.
Vamos tratar aqui da arquitetura como tangível e não
tangível. A arquitetura não tangível são os signos e os
fenômenos do lugar, ambos são indispensáveis para a
compreensão do espaço. Considerar somente cada um
desses conjuntos separados é apenas um artifício analítico, é
separar uma parte de uma totalidade complexa. O sentimento
de pertencer, que faz parte do significado subjetivo da
arquitetura de dar significado para o que é tangível, sendo
assim o signo e o significado estão sempre juntos na
formação da identidade o lugar.
Na rua a vergonha da desordem não é mais
nossa, mas do Estado. Limpamos ritualmente a
casa e sujamos a rua sem cerimônia ou
pejo...Não somos efetivamente capazes de
projetar a casa na rua de modo sistemático e
coerente, a não ser quando recriamos no
espaço público o mesmo ambiente caseiro e
familiar. (DAMATTA, 1997).
Se a rua é do desconhecido, a análise da relação entre
habitar residencial e urbano é um lugar de identidade é o
signo que os indivíduos atribuem ao lugar. Os espaços que
demarcam a transição entre o espaço público e o privado
podem determinar a posse do espaço, que nada mais é uma
demarcação de território.
O significado do espaço público apenas se
sedimenta quando o público se transforma em
27
coletivo, o lugar das práticas associativas. [...]
outra vez a percepção ambiental pesquisada
passa por uma ficção, um imaginário cultural
que faz com que os moradores pareçam
desenraizados no seu ambiente e com ele não
se sentem comprometidos. (FERRARA, 1999,
p. 212)
Assim, uma das formas do indivíduo se apropriar do espaço é
fazer com que ele se sinta responsável pelo mesmo.
Colocando-o como criador da identidade do lugar.
Considerando a percepção do espaço pelo indivíduo como a
capacidade de apreender e processar as informações que o
este comunica através de seus signos, pode-se concluir que a
percepção do espaço é empírica e depende de como o
indivíduo se localiza e se orienta no meio.
O antropólogo Roberto DaMatta fala sobre como o
sentimento de pertencimento influencia na relação do
indivíduo com o exterior da casa, considerando a casa como
o lugar de pertença:
No Cairo, uma vez, fiquei perdido, pois as ruas
não seguiam o mesmo padrão a que estamos
habituados no Ocidente. Foi curioso e
intrigante descobrir em Tóquio que as casas
têm um sistema de endereço curioso e
intrigante pessoalizado e não impessoal como
o nosso. Tudo muito parecido com as cidades
brasileiras do interior, onde, não obstante casa
tem um número e casa rua um nome, as
pessoas informam ao estrangeiro a posição
das moradias de modo pessoalizado e até
mesmo íntimo: “A casa do seu Chico fica ali em
cima..do lado da mangueira...é uma casa com
cadeiras de lona na varanda..tem janelas
verdes e telhado bem velho...fica logo depois
do armazém do Seu Ribeiro...” Aqui, como
vemos, o espaço se confunde com a própria
ordem social de modo que, sem entender a
sociedade com suas redes de relações sociais
de valores, não se pode interpretar como o
espaço é concebido. (DAMATTA, 1997, p. 27 e
26).
Nesses casos a forma a identidade da casa é parte da
orientação no meio, assim quem vivencia o espaço identifica
a casa de acordo com a modificação que o morador fez no
meio em que habita. Isso não é um sistema que se aplica a
28
todos os lugares, é o jeito que funciona para esse em
específico, e isso é o espírito do lugar é parte identidade
deste. Assim, cada casa possui sua identidade, e ela é quase
que sua identificação como localização. As casas de Tóquio e
do Brasil, em algumas cidades do interior, são identificadas a
partir da modificação que o homem faz no meio.
Analisando o tipo de organização desses lugares, podemos
dizer que a percepção do espaço e a força dos seus
elementos do espaço tornam-se a identificação e orientação
dentro da cidade. Nesse caso o indivíduo ocupa
subjetivamente o espaço em que vive de modo que a
identidade da casa, e consequentemente quem ali habita, são
a orientação e a localização dentro do espaço.
De acordo com Hertzberger (1996, p. 22) "O caráter de cara
área dependerá em grande parte de quem determina o
guarnecimento e o ordenamento do espaço, de quem está
encarregado, de quem zela e de quem é ou se sente
responsável por ele".
O espaço é constantemente modificado pela ação do
indivíduo, essa mutabilidade caracteriza o lugar e da uma
identidade de acordo com o tipo de uso e apropriação. Pois
da maneira que em que o usuário se apropria e sente
pertencente ao lugar ele tende a preservá-lo, deixando de ser
esse um espaço somente de passagem.
Em alguns casos em que os moradores de uma cidade
perdem toda a referência de identificação e relação com o
meio em que vivem, os moradores perdem a identidade do
lugar. Para exemplificar será analisado o caso do município
de Nova Ponte (MG), a qual recebeu a instalação de uma
Usina Hidrelétrica e os moradores foram realocados para uma
nova cidade.
Segundo a pesquisa de Silva e Borges (2011), a cidade de
Nova Ponte acabou perdendo a autenticidade, pois perdeu a
grande harmonia que existia na cidade, o contato com os
vizinhos e a tranquilidade do lugar.
Na entrevista feita por Silva e Borges (2011), os moradores
relatam que a cidade perdeu o ambiente familiar e acolhedor
29
das praças; do rio, das festas juninas nas escolas; da beleza
da ponte; da escadaria do colégio; da união das pessoas; das
pescarias e folias de Reis; quintal cheio de frutas; do lanche
da praça; principalmente nas festas religiosas; da festa da
cavalhada e o fato de terem deixado o local onde moravam, a
mudança de hábitos culturais que aconteciam no município, a
perda do patrimônio histórico, das belezas naturais e dos
pontos turísticos, e o aumento da marginalidade na nova
cidade, o fato de perderem as festas religiosas, como o
congado e o fim dos carnavais de rua, se queixam da perda
dos laços com antigos vizinhos.
De acordo com a pesquisa entrevistados dizem uma parte de
seu passado foi retirada. Os laços afetivos e os sentimentos
com o lugar são muito valiosos.
A realocação da cidade mexe diretamente com a vida dos
moradores, com velhos hábitos, além de alterar
completamente a organização e orientação dentro do
município.
A população natural de Nova Ponte foi reduzida, a maioria da
população se mudou de Nova Ponte enquanto a empresa
ainda estaria em fase se negociação com os moradores.
agora além dos traços físicos a cidade tem uma nova relação
de afetividade entre seus moradores. Alguns deles tentam
resgatar e preservar alguns hábitos, sem deixar que a
memória da antiga cidade fique totalmente submersa e que a
mudança apague as lembranças, principalmente os mais
velhos, que se lembrarem da vida calma na cidade e dos
bate-papos nas calçadas nos finais de tarde (Fig. 07).
30
Figura 07: bate papo nas calçadas
Fonte: Experiências e percepção dos antigos moradores do município de
Nova Ponte-MG.
Esse espírito de bate-papos nas calçadas, de celebração em
parques e praças da cidade pode ser um modo de atrair de
volta os velhos costumes da cidade, tradições e costumes
comuns a ela. Dessa forma, retoma-se o sentimento de
pertencimento, e identidade que são importantes para a vida
comunitária.
Ao questionarem os moradores de qual cidade eles optariam
por morar agora, na velha ou na nova, embora os moradores
sejam saudosistas quanto à antiga cidade, a preferência da
maioria é pela nova.
Os moradores relatam ainda, como positivo, a melhoria na
qualidade de vida e na infraestrutura de modo geral, como o
serviço de limpeza das ruas, as casas melhores e a
unificação dos bairros, que antes se dividiam nas margens do
rio Araguari.
Apesar de boa parte dos moradores terem algum motivo para
se queixarem da nova cidade, os autores constataram que
após 14 anos da transferência da cidade, embora as
lembranças e o saudosismo dos moradores, a maioria se
sente recompensado e se sentem mais felizes na nova cidade
do que na antiga. Novas relações se estabeleceram no novo
espaço urbano e as lembranças de Nova Ponte vêm na
memória, pois, passaram a ser um mecanismo de se recontar
lembranças do que não se vive mais.
31
Quando, na nova casa, retornamos as
lembranças das antigas moradas,
transportamo-nos ao país da Infância Imóvel,
imóvel como o Imemorial, Vivemos fixações,
fixações de felicidade. Reconfortamo-nos ao
reviver lembranças de proteção. Algo fechado
deve guardar as lembranças, conservando-lhes
seus valores de imagens. As lembranças do
mundo exterior nunca hão de ter a mesma
tonalidade das lembranças da casa. Evocando
as lembranças da casa, adicionamos valores
de sonhos. Nunca somos verdadeiros
historiadores; somos sempre um pouco poetas,
e nossa emoção talvez não expresse mais que
a poesia perdida. Assim, abordamos a imagem
da casa com o cuidado de não romper a
solidariedade entre a memória e a imaginação,
podemos transmitir toda a elasticidade
psicológica de uma imagem que nos comove
em graus de profundidade insuspeitados.
(BACHELARD, 1993, p 26).
Fazendo uma avaliação pós-ocupação comportamental,
pode-se dizer que os moradores reestabeleceram novos
hábitos na cidade, como por exemplo, o time de futebol. A
memória do passado é forte nos moradores, e essa
identificação e saudosismo com a antiga cidade é importe.
Porém, o espírito do lugar e a organização da cidade é outra.
Pode-se associar a relação com a nova cidade com realidade
empírica, pois através da experiência e do convívio coma a
nova cidade os moradores transmitem através dos
sentimentos pela antiga um novo genius loci, sendo esse o
que o lugar tende a ser.
A PPS (Project for Public Spaces) propõe em sua pesquisa
"Ruas como lugares: Usando as ruas para reconstruir
comunidades" que as calçadas também devem cumprir uma
importante função social de propiciar encontro entre pessoas.
E ressalta que é importante que as calçadas tenham
atrativos, expressem o espírito do lugar e favoreça a
interação entre as é pessoas (Fig. 08).
A PPS ainda cita que os locais de descanso devem estar
próximos visualmente dos espaços atratores. E a mesma
pesquisa afirma que se a comunidade for envolvida no
cuidado desse espaço, cria-se um sentimento de
pertencimento que leva as pessoas a cuidarem desses
32
espaços, dando assim, autonomia para que o sujeito controle
o destino do espaço.
De acordo com Hertzberger (1996, p.177): Dependendo da
localização de um espaço, se estiver localizado de forma
favorável para isso, pode se tornar um lugar onde as pessoas
se encontram e descansam. Um exemplo que o autor cita de
apropriação do espaço é das calçadas que, quando são altas
favorecem para que o indivíduo possa sentar.
Hertzberger cita que em alguns casos a calçada é tão alta
que facilita que o indivíduo passa sentar ou se apoiar nela. E
em uma rua com declive, por exemplo, o lugar se estivesse
situado favoravelmente (como uma esquina), pode tornar-se
um lugar onde as pessoas se encontram e descansam.
Buscando na fenomenologia, nesse caso o lugar tende a ser
ocupado pela população, pois ele facilita para que aconteça
uma relação entre as pessoas.
Figura 08: Universidade de Colúmbia, Nova York.
Fonte: Lições de arquitetura, Hertzberger.
33
A percepção como controle da experiência
urbana surge com aquela dimensão da
linguagem responsável pelo desenvolvimento
da capacidade de apreender o cotidiano da
cidade e extrair, daí, os elementos capazes de
estimular ação, o comportamento e a
intervenção sobre ela. Aprendizado e
mudanças de comportamento são os fatores
que caracterizam apreensão e produção de
informação, percepção enfim.
Porém, a percepção urbana não é um dado,
não se manifesta como uma certeza, mas é um
processo de possibilidade. Altera-se conforme
as características socioculturais e informativas
(repertório) do morador da cidade e submete-
se às características físicas, econômicas e de
infraestrutura do próprio espaço urbano.
(FERRARA, 1999, p.107).
Um exemplo de apropriação e formação do caráter do lugar é
no bairro Cariru em Ipatinga, onde os moradores interviram
em de alguns espaços do bairro ao longo da orla do Rio
Piracicaba. Para o estudo foi escolhido um recorte onde
observou-se uma maior concentração de intervenções.
Figura 09: mapa área de estudo
Fonte: autora
De acordo com Ferrara (1999) o ato de falar cria a língua, os
afazeres quotidianos efetuam o espaço. A cada vez que
alguém decide o que fazer, e em que lugar, está contribuindo
para a vitalidade do sistema de espaços e valores. Sendo
assim quem pratica o espaço é também, de maneira sutil,
aquele que o produz.
34
Essas intervenções são produzidas por quem vivencia o
espaço, e assim, o caráter do mesmo é o modo específico em
que o morador se apropriação do espaço. As apropriações
criam um contexto nesse espaço. O espaço é um suporte
para as intervenções e essas intervenções contribuem para a
vitalidade desse espaço.
O arquiteto pode contribuir para criar um
ambiente que ofereça muito mais
oportunidades para que as pessoas deixem
suas marcas e identificações pessoais, que
possa ser apropriado e anexado por todos
como um lugar que realmente lhes pertença.
[...] Cada componente espacial será usado
mais intensamente (o que valoriza o espaço),
ao mesmo tempo em que se espera que os
usuários demonstrem suas intenções.
(HERTZBERGER, 1996, p.47).
No bairro Cariru a participação efetiva dos moradores como
sujeitos modificadores do espaço desencadearam o efeito de
utilização do espaço ao longo da pista de caminhada na orla
do Rio Piracicaba (Fig. 10). De acordo com Dona Maristela,
moradora da Av. Itália, seu marido Peter instalou algumas
gangorras (Fig. 11 e 12) e logo depois vieram outras
intervenções no espaço por ele e também por outros
moradores.
Figura 10: pista de caminhada do bairro Cariru.
Fonte: autora
35
Figuras 11 e 12: gangorras na pista de caminhada do bairro.
Fonte: autora
A estrutura no chão é onde os moradores constroem uma
cabana de folha para as crianças brincarem, com um tempo
as folhas secam e o espaço sofre alteração pelas intempéries
do tempo e a cabana se desmancha, mas de acordo com os
moradores eles a reconstroem de acordo com a necessidade,
é o fenômeno do lugar (Fig. 13)
Figura 13: estrutura da cabana
Fonte: autora
36
Observa-se então que a ocupação desse espaço de uso
público não é um objeto finalizado, o espaço se encontra em
constante modificação pelos usuários, portanto, é de acordo
com a interação do indivíduo com o meio que esse espaço e
essas atividades se acontecem.
Os moradores construíram também alguns brinquedos,
bancos e mesas, onde alguns chamam de "pé de manga". A
identificação/orientação do lugar é pela árvore frutífera que
fica na rotatória onde se formou a pracinha. (Fig. 16 e 17)
Os moradores são os próprios agentes de modificação e
construção do espaço, pode-se dizer que a praça faz parte da
realidade do desse espaço, pois foi construída de acordo com
uma demanda dos próprios moradores.
Figuras 14 e 15: pracinha construída pelos moradores
Fonte: autora
37
Para compreender a relação dos moradores com esses
espaços e como as modificações se iniciaram buscou-se
entrevistar os responsáveis por algumas das intervenções.
Assim como Peter, Gil Milbratz (Fig. 14) morador da Rua
Indonésia disse que ele e seu pai fizeram algumas
modificações na "pracinha" em frente a sua casa para ter um
local mais próximo de casa para sua filha brincar. O morador
conta que depois de sua intervenção outros moradores
também fizeram outras e procuraram meios de zelar por esse
espaço.
Figura 16: Gil Milbratz
Fonte: autora
As entrevistas tiveram como objetivo observar e entender
como essas modificações ao longo da orla do bairro e a
iniciativa dos moradores de cuidar do espaço de uso coletivo.
Essas pequenas transformações ao longo da orla feitas pelos
moradores caracterizam o uso e o zelo do espaço pelos
mesmos. Como a modificação do espaço por alguns
moradores induz a modificação e utilização desse espaço por
outros.
O segredo é dar aos espaços públicos uma
forma tal que a comunidade se sinta
pessoalmente responsável por eles, fazendo
com que cada membro da comunidade
contribua à sua maneira para um ambiente
com o qual possa se relacionar e se identificar.
[...] Os serviços prestados pelos
departamentos de Obras Públicas Municipais
são vistos, por aqueles em cujo benefício
esses departamentos foram criados, como uma
abstração opressiva; é como se as obras
públicas fossem uma imposição vinda de cima;
o homem comum sente que “não tem nada a
ver com ele”, e, deste modo, o sistema produz
um sentimento generalizado de alienação.
(HERTZBERGER, 1996, p. 45).
38
As apropriações dos espaços são diferentes em função dos
indivíduos que vivenciam e modificam o espaço. Assim, o
espaço é aquilo que ele constitui para si. O lugar passa a ser
da experiência, os elementos que os moradores construíram
entram no campo da subjetividade da experiência que eles
vivenciam no espaço, ligando assim sujeito (como
modificador do espaço) e elemento arquitetônico.
Para que o contato possa se estabelecer
espontaneamente é indispensável certa
informalidade, certo descompromisso. É a
certeza de que podemos interromper o contato
ou nos retirarmos quando quisermos que nos
encoraja a prosseguir.
O estabelecimento de contato é, de certo
modo, como o processo de sedução, em que
ambos os lados fazem reivindicações iguais
sabendo que a retirada é sempre possível a
qualquer momento. (HERTZBERGER, 1996,
p.178)
A intervenção dos moradores aconteceu espontaneamente e
essa ação formou o caráter desse espaço. Essa modificação
no meio potencializa o habitar. Ainda mais sendo feito pelos
próprios moradores, que vivenciam e formam a identidade do
local, essa praça é a ação e a percepção do sujeito no meio
em que vive.
Cada morador que fez a intervenção nesse lugar a fez à sua
maneira, uma das intervenções é um local para dar comida
aos pássaros e macacos (Fig.17 e 18). Percebe-se assim que
os moradores apropriam e zelam pelo espaço ainda que se
trate de um espaço de uso coletivo.
Todo espaço coletivo em que os usuários apropriam cria uma
relação entre indivíduo e espaço. Assim, a identidade desse
espaço coletivo surge de acordo com as modificações que o
usuário faz no meio em que vivencia.
39
Figuras 17: lugar que os moradores colocam comida para os
animais
Fonte: autora
Figuras 18: lugar que os moradores colocam comida para os
animais
Fonte: autora
40
3 OBRAS DE REFERÊNCIA
No trabalho Casa: Identidade e memória, Betânia Batista
analisa a relação do usuário com a casa em que vive,
fazendo uma análise a partir de um conjunto habitacional em
que a residência não foi pensada de acordo com as
individualidades de cada morador. A pesquisa considera a
casa como desenvolvimento de si mesmo, onde abriga
lembranças e sentimentos. Entende-se a casa como extensão
corporal e mental, reforçando assim a ideia de singularidade
entre os indivíduos e a necessidade de uma arquitetura que
pensada de acordo com as especificidades de cada um.
No Seminário Semana da Escola Politécnica (Fig. 19), que
aconteceu no dia trinta de setembro, onde o documentário
Casa: Identidade e memória foi exibido (Fig. 20) e comentado
logo após. O documentário trata da busca pelo entendimento
das inquietações e modificações que o homem faz no meio
em que vivencia.
O documentário relata as inquietações dos moradores em
relação à tipologia da casa em que receberam no conjunto
habitacional. Os moradores falam sobre as modificações que
fizeram na casa de acordo com a necessidade imediata,
sendo algumas dessas mudanças de formação da família.
O documentário mostra as variadas formas a mudanças na
tipologia, no acabamento que os moradores fazem na casa,
muitos deles relatam também que ainda existe uma vontade
de reformar algumas coisas da casa, outros estão satisfeitos
com a atual situação da moradia.
O trabalho de Batista (2015) foi de grande de importância na
pesquisa para observar a relação do homem na casa em que
habita e as intervenções que o mesmo faz no meio de acordo
com a necessidade. Desta forma, o homem transforma e faz
parte da identidade da sua casa. O trabalho registra que com
o passar dos anos os moradores modificaram as casas de
acordo com suas necessidades, mudanças de formação da
família e também de acordo com suas inquietações com a
aparência da casa. Os moradores afirmam no vídeo que há
essa inquietação de modificar o espaço.
41
Figura 19: cartaz do seminário.
Fonte: autora
Figura 20: seminário
Fonte: autora
42
Outra obra de referência para este trabalho é o livro Rua dos
Inventos, de Gabriela Gusmão que retrata objetos inventados
por moradores de rua e vendedores ambulantes. O livro
detecta um universo que passa quase despercebido no
cotidiano das cidades, expondo-os de forma a identificar
aspectos e comportamentos da cultura urbana.
O livro registra intervenções peculiares do indivíduo no meio
que vive e assim mostra como o sujeito da essa identidade ao
meio em que vive, exemplificando modificações que o
indivíduo faz no espaço de acordo com duas necessidades. A
obra apresenta ainda formas de apropriação do indivíduo
como habitar a rua em relação a moradia. Alguns registros de
como esses moradores transformam o espaços urbanos em
casa.
Esta obra serve de referência para observar outro tipo de
habitabilidade e intervenção no meio urbano, onde os
interventores são em sua maioria pessoas em condições
materiais de miséria, de acordo com a própria autora do livro.
Os registros de Gusmão foram feitos a partir de uma olhar
sutil em relação a esses objetos criados e mostra a
potencialidade dos mesmos.
43
4 PROPOSTA DE TCC2
A partir dos estudos realizados, foi possível compreender
melhor a relação do habitar entre usuário e o espaço em que
vivencia. Considerando que o habitar residencial pode ser
transferido para o urbano a partir de analogia entre os signos
dos elementos arquitetônicos. A avaliação pós-ocupação
comportamental do caso do bairro Cariru, permitiu entender
essa relação do habitar urbano como uma apropriação de
espaço, a partir dessa interpretação chega-se a proposta da
segunda etapa deste trabalho.
Assim, a proposta de TCC2 é o desenvolvimento de uma
análise pós-ocupação comportamental de recortes na cidade
que sofreram intervenções onde o sujeito seja o modificador
do espaço como forma de apropriações pelos moradores. O
objetivo da segunda etapa deste trabalho é entender a
relação do indivíduo com o meio, e como ele habita o espaço
urbano, considerando o habitar como uma relação entre o
sujeito e o espaço, entender como o indivíduo e o espaço
estão relacionados um ao outro e a troca de identidade entre
eles, compreendendo o sentimento de pertença em diferentes
casos.
As análises pós-ocupação comportamental serão realizadas
em locais públicos onde serão investigados comportamento
de apropriação do espaço pelos moradores da cidade de
Ipatinga.
O objetivo dessa documentação é a investigação e o registro
de como o sujeito e sua modificação no espaço formam o
espírito do lugar (genius loci), buscando entender como essas
intervenções potencializam o uso do espaço urbano pelos
usuários. Investigando o que motivou as intervenções e o
comportamento do usuário pós-ocupação dessas
intervenções. A análise será feita aplicando os conceitos
estudados nesta primeira etapa de pesquisa (TCC1).
O objetivo do TCC2 é uma análise pós-ocupação
comportamental sobre o sentimento de pertencimento do
indivíduo em relação ao meio em que vive. Buscando analisar
apropriações de espaços feitas peço próprio indivíduo que
vivencia o espaço e a habitabilidade da cidade em espaços
44
de uso coletivo. Busca-se atrair assim a percepção do
indivíduo em relação ao espaço em que vivencia, revelando a
as potencialidade e a identidade dos espaços.
O projeto de TCC2 deve mostrar a relação do sentimento de
pertencimento do sujeito como modificador o espaço a partir
de registros fotográficos e coleta de informações com os
moradores que serão apresentados em forma documental em
arquivo digital.
O trabalho será desenvolvido a partir de uma ótica
arquitetônica, buscando contribuir para um melhor
entendimento das transformações do sujeito no do espaço em
que habita e a potencialidade que essa modificação tem para
a cidade.
A documentação deve conter registros fotográficos dessas
intervenções e a parte escrita com a coleta de dados de
relatos de quem habita esse espaço a partir de uma visita de
campo e uma conversa com os moradores, buscando
entender de que forma essa interação entre o habitante e o
espaço acontece.
O resultado final do TCC 2 será a reunião dos registros feitos
na primeira etapa (Fig. 21) em uma documentação pós-
ocupação comportamental em forma de e-book, neste estarão
reunidos os registros, mapeamentos e catalogação das
intervenções feitas pelos habitantes. Na segunda etapa (Fig.
22) essa documentação se apresentará no e-book de forma
escrita com uma análise e aplicação dos conceitos nos casos
e em forma de registro fotográfico das intervenções e
apropriações estudadas.
45
Figura 21: etapa 1
Fonte: autora
Figura 22: etapa 2
Fonte: autora
46
5 CONCLUSÃO
As análises e estudos das teorias feitos ao longo dessa
pesquisa possibilitam o entendimento de como acontece e se
desenvolve habitabilidade no espaço de uso público.
Os conceito de fenomenologia, do habitar e da semiótica
foram introduzidos para entender a relação do homem como
modificador do meio em que vive e como formador da
identidade do lugar.
Entende-se nessa pesquisa que os hábitos e comportamento
do homem transformam o lugar de acordo com sua
necessidade, e que ele se apropria do espaço da maneira que
sente que aquele espaço lhe pertence e quando esse espaço
passa a ser de sua responsabilidade, criando uma analogia
entre a casa e o meio urbano, considerando aqui a casa
sendo o espaço em que o sujeito zela. Assim, quando se
permite que o homem pertença ao lugar ele pode se sentir
pertencente a ele e que esse sentimento se pertencimento e o
genius loci podem ser transmitidos de um lugar para outro (do
residencial para o urbano).
A análise no bairro Cariru permitiu entender, a relação do
usuário com o espaço em que ele interviu, a partir da
observação dessas intervenções, assim adquiriu-se um novo
olhar sobre as intervenções feita pelo habitante do meio.,
Conclui-se que as intervenções no espaço cumprem com a
necessidade imediata e inquietações do morador com o
espaço, os espaços de uso comum são transformados em
espaços de identificação no bairro, espaços cheios de
significados e sentimentos de pertencimento.
Assim, o projeto do TCC2 aprofunda na investigação de
intervenções e apropriações dos habitantes no espaço público
e a relação entre o sujeito e esse espaço que ele identifica
como pertença, com o objetivo de desenvolver uma ótica mais
sensível em relação as tranformações do homem no meio e a
habitabilidade urbana.
47
REFERÊNCIAS
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de Nova Ponte-MG: A Construção da Hidrelétrica e a Realocação da Cidade. 2011.
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COELHO NETTO, J. Teixeira. A construção do sentido na arquitetura. 5.ed. São Paulo. Perspectiva, 2002.
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48
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GAETE, Constanza Martínez. Quatro ideias para reconstruir comunidades a partir das ruas. Disponível em:
<http://www.archdaily.com.br/br/766587/quatro-ideias-para-reconstruir-comunidades-a-partir-das-ruas> Acesso em: outubro 2015
PORO. Intervalo, Respiro, Pequenos deslocamentos. Disponível em:
<http://issuu.com/poro/docs/ebook_poro/19?e=1526189/6512211> Acesso em: outubro 2015
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