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HABITAÇÃO SOCIAL PÓS DESASTRES: ESTUDO DE CASO DE TIJUCAS, SC.
LOHMANN, Alberto (1) ; OLIVEIRA, Larissa B. (2); BARTH, Fernando (3)(1) Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, PósARQ-UFSC
e Prof. do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil - Campus Laguna - email: arqlohmann@gmail.com
(2) Graduanda do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil -Campus Laguna - email: larissa_brasiloliveira@hotmail.com(3) Prof. Dr.Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - UFSC
email:ferbath@arq.ufsc.br
RESUMOO projeto de habitações em empreendimentos construídos pós
desastres deve considerar a reconstituição do ambiente, a reinserção das
famílias em novas habitações, o aumento da mitigação e da resiliência da
população. O objetivo deste trabalho é avaliar um empreendimento
habitacional de interesse social, produzido pós desastres no Município de
Tijucas, SC. A avaliação foi elaborada segundo critérios do Selo Casa Azul da
CAIXA, com critérios que visam à sustentabilidade. Pela avaliação feita, pode-
se notar que o empreendimento não cumpre com grande parte dos critérios em
todas as categorias avaliadas, segundo o Selo Casa Azul.
Palavras-chave: Arquitetura, habitação, desastres e sustentabilidade.
ABSTRACTThe housing design in projects built in post disaster reconstruction
should consider its environment, the reintegration of families in their new
homes, increasing population mitigation and resilience. The main objective of
this work is evaluate affordable housing initiatives, built after disasters in the city
of Tijucas, Santa Catarina State. The evaluation was made according to Blue
House Label CAIXA method, aiming sustainability. In the evaluation was noted
that the project does not meet the most criteria stated in all categories
assessed, according to Blue House Label CAIXA method.
Keywords: Architecture, housing, disasters and sustainability.
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1. INTRODUÇÃO
O projeto de habitações em empreendimentos construídos pós
desastres deve visar o aumento da mitigação e da resiliência da população e
para isso, devem ser considerados aspectos de sustentabilidade no projeto,
principalmente no que diz respeito a locação do empreendimento e a escolha
dos sistemas construtivos. Isso reflete na vulnerabilidade da população, que
segundo o seu grau, definirá se a ocorrência será ou não um desastre. O
objetivo deste trabalho é avaliar empreendimentos habitacionais de interesse
social produzidos pós desastres no Estado de Santa Catarina, segundo
critérios que visam à sustentabilidade. Para isso foram levantadas informações
relativas aos empreendimentos construídos após as enxurradas de 2008 no
estado.
Com o intuito de avaliar a sustentabilidade de habitações foi utilizado
como método o Selo Casa Azul da CAIXA Econômica Federal, desenvolvido
por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo
em parceria com outras instituições de ensino. A avaliação considera critérios
vinculados aos seguintes temas: Qualidade Urbana, Projeto e Conforto,
Eficiência Energética, Conservação de Recursos Materiais, Gestão da Água e
Práticas Sociais. Neste trabalho será levado em consideração todos os critérios
das categorias contidas no Selo, com exceção das Práticas Sociais e da
Conservação dos Recursos Materiais, pois demandaria maior tempo de
pesquisa, com a elaboração e aplicação de entrevistas e questionários com os
atores envolvidos.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Desastres naturais são o resultado de eventos adversos, sejam eles
naturais ou provocados pelo homem, sobre um sistema vulnerável causando
danos humanos, materiais e/ou ambientais. A ocorrência e a intensidade dos
desastres dependerá do grau de vulnerabilidade de um sistema receptor, ou
2
seja, há a possibilidade de ocorrer um mesmo fenômeno, que ao atingir
populações com grau de vulnerabilidade diferentes, faz desta situação um
desastre ou uma simples ocorrência (CASTRO, 1998).
Os desastres naturais fazem parte da história de sobrevivência e
evolução do ser humano e datam desde os primórdios da era glacial.
Entretanto nas últimas décadas, sobretudo a partir da década de 1970, o
número de registros de ocorrência, bem como a intensidade destes vem
aumentando consideravelmente em escala global. Isto pode ser atribuído
principalmente ao crescimento populacional, a ocupação desordenada e ao
intenso processo de urbanização e industrialização (KOBIYAMA, et al 2006) .
No Brasil a ocorrência de desastres naturais está ligada, principalmente, a
fenômenos hidrometereológicos. Segundo Rodriguez, et al (2009) estes podem
ser divididos em:
- Hidrológicos: enxurradas, enchentes, deslizamentos;
- Metereológicos: tempestades, ciclones, furacões;
- Climatológicos: secas, ondas de calor e frio, incêndios florestais.
Estes fenômenos ocorrem normalmente associados a eventos
pluviométricos intensos e prolongados, nos períodos chuvosos que
correspondem ao verão na região sul e sudeste e ao inverno na região
nordeste (TOMINAGA et al, 2009). A Secretaria Nacional de Defesa Civil
(SNDC) registra desde 2003, as ocorrências nos municípios que declararam
situação de emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP). No
Gráfico 1, elaborado segundo dados da SNDC, é possível perceber que Santa
Catarina é o segundo estado com maior número de municípios a receberem
portaria de reconhecimento para SE e ECP. Neste gráfico pode-se observar
também que o estado apresenta grande freqüência neste tipo de ocorrência.
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Gráfico 1 - Os cinco estados com maior número de decretos de SE e ECP
(fonte: Acervo próprio)
No Gráfico 2, elaborado segundo estatísticas da Defesa Civil de
Santa Catarina, entre os anos de 1999 e 2012 as ocorrências mais comuns no
Estado são, em ordem decrescente, as enxurradas, estiagens, vendavais,
granizos e enchentes.
Gráfico 2 - As cinco maiores causas para decreto de SE ou ECP no Estado de
Santa Catarina (fonte: Acervo próprio)
As estiagens, apesar do número significativo, são manifestações
lentas e graduais. Já as enxurradas, os vendavais e as enchentes, além da
manifestação inesperada, atingem a parcela populacional mais vulnerável –
população de baixa renda – provocando um grande número de vítimas e
0
110
220
330
440
550
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Núm
ero
de
ocor
rênc
ias
Ano de ocorrência
Rio Grande do Sul Santa Catarina Minas Gerais Ceará Paraíba
0
64
128
192
256
320
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Núm
ero
de
ocor
rênc
ias
Ano de Ocorrência
Enxurrada Estiagem Vendaval Granizo Enchente
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desabrigados. Para amenizar estes impactos sobre a sociedade, são
necessários estudos desses fenômenos físicos no sentido de criar medidas de
prevenção e mitigação dos danos provocados pelos desastres naturais.
Somando-se aos problemas dos desastres, no Brasil o déficit
habitacional chega a 5,5 milhões de unidades habitacionais segundo dados do
Ministério das Cidades (2011). Para solucionar é necessário uma política
habitacional que tenha como prioridade a promoção da sustentabilidade.
De acordo com Sachs (1993), uma habitação sustentável deve
considerar estratégias como o fluxo de materiais e sua energia incorporada,
buscando utilizar os recursos específicos de cada região. Além disso,
compatibilizar as mudanças tecnológicas com os objetivos sociais, econômicos
e ecológicos, para satisfazer, as necessidades da comunidade envolvida , e
assim otimizar as ações empreendidas, por meio da reeducação formal e
informal.
1. CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO
A área do estudo de caso está localizada no município de Tijucas,
litoral do estado de Santa Catarina. O município está situado em uma planície,
as margens do Rio Tijucas e da BR-101 e fica a 50km de distância da capital
do estado, Florianópolis (Figura 1). Sua população é de 30.960 habitantes
(IBGE, 2010).
O empreendimento está inserido no Núcleo Residencial Antônio
Edmundo Pacheco, no Bairro da Praça, próximo a foz do Rio Tijucas. Esta área
concentra outras unidades habitacionais de interesse social e apresenta
grandes vazios urbanos, sendo uma área importante de expansão urbana
(Figura 2).
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Figura 1 - Localização de Tijucas no Estado de Santa Catarina (fonte: Wikipedia)
Figura 2 - Locação do empreendimento (fonte: Google Earth)
A construção do empreendimento ocorreu após as enchentes que
atingiram o estado de Santa Catarina em novembro de 2008, porém a entrega
das unidades habitacionais se deu apenas em setembro de 2009. No total
foram entregues 21 unidades.
Figura 3 - Planta tipo da unidade habitacional (fonte: Acervo próprio)
Figura 4 - Foto da situação atual das unidades habitacionais (fonte: Acervo próprio)
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A locação se caracteriza por casas individualizadas, com recuos
laterais de 2m e fundos de 1,5m. O projeto da unidade possui dois quartos,
banheiro, cozinha, sala, varanda, totalizando 36m2 de área construída (Figura
3). O sistema construtivo utilizado é fundação com radier, estrutura de madeira,
vedações verticais em lambris dispostos horizontalmente, cobertura com duas
águas e telhas de barro do tipo portuguesa (Figura 4).
2. AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE SEGUNDO SELO
CASA AZUL CAIXA
O Selo Casa Azul CAIXA, lançado no ano de 2010, é o primeiro
método de avaliação ambiental desenvolvido no Brasil, adaptado a realidade
nacional. A metodologia foi concebida por pesquisadores do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT) em conjuntos com outras instituições de ensino
brasileiras. Entre os objetivos do Selo estão o incentivo ao uso racional de
recursos naturais na construção de empreendimentos habitacionais, a redução
do custo de manutenção dos edifícios e das despesas mensais de seus
usuários, bem como promoção da conscientização de empreendedores e
moradores sobre as vantagens das construções sustentáveis (JOHN; PRADO,
2010).
2.1. QUALIDADE URBANA
Esta categoria trata de critérios relacionados diretamente com a
locação do empreendimento. O critério Qualidade do Entorno – Infraestrutura,
prioriza a existência de infra-estrutura, serviços e equipamentos urbanos no
entorno do empreendimento. O empreendimento avaliado apresenta
instalações de água potável, de energia elétrica, de iluminação pública, bem
como transporte público e proximidade com equipamentos urbanos de lazer,
escola fundamental e comércio básico (Figura 5). O tratamento de esgoto se dá
por fossa séptica, e não há drenagem pluvial. A rua de acesso as unidades
habitacionais não é pavimentada.
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Figura 5 - Mapa analítico dos critérios Qualidade do Entorno (fonte: Acervo próprio)
Já o critério Qualidade do Entorno – Impactos considera os impactos
do entorno na qualidade de vida dos moradores. No local, entretanto, há a
proximidade com a BR-101 (aproximadamente 1,6 Km), fonte de ruído
constante, e com uma indústria de pescados (aproximadamente 1,3 Km), fonte
geradora de possíveis odores e poluição.
Essa categoria possui ainda outros três critérios, Melhoria do
Entorno, Recuperação de Áreas Degradadas e Reabilitação de Imóveis, que
não se aplicam ao empreendimento avaliado.
1. PROJETO E CONFORTO
A categoria Projeto e Conforto considera critérios relacionados ao planejamento e a concepção do projeto dos empreendimentos e a adaptação das unidades habitacionais aos condicionantes climáticos locais.
No empreendimento avaliado não foi previsto um Projeto
Paisagístico e não há arborização nas áreas livres. Quanto a Flexibilidade do
Projeto observou-se que é difícil a ampliação lateral, uma vez que a unidade
possui duas águas com as empenas voltadas para a frente e para o fundo do
lote. A ampliação, sem que haja necessidade de intervir na estrutura da
8
unidade, pode ocorrer para a frente da unidade, uma vez que há pouco espaço
nos fundos, aproximadamente 1,5m.
O empreendimento cumpre o critério Relação com a Vizinhança pois
a locação permite a adequada insolação e ventilação das unidades
habitacionais. Por ser um terreno plano, não houve dificuldade na locação das
unidades em se adequar as condições físicas do terreno. O empreendimento,
por estar inserido no tecido urbano se utiliza da infra estrutura e dos
equipamentos locais, portanto, não possui equipamentos de lazer, sociais e, ou
esportivos exclusivos o que impossibilita o cumprimento do critério iluminação
natural das áreas comuns.
O uso de soluções alternativas de transporte apesar de não
incentivado e previsto em projeto por meio de vias exclusivas para ciclistas,
tem possibilidades de acontecer. A coleta de lixo não se dá de forma seletiva,
apesar de uma parte dos moradores trabalhar com recolhimento de reciclados.
Para o critério Desempenho Térmico - Vedações foram considerados
os sistemas construtivos de lambris horizontais de madeira para o sistema de
vedação vertical e telha de barro e forro de madeira para o sistema de
cobertura, conforme Figura 6 e Figura 7.
Figura 6 - Sistema construtivo das vedações verticais (fonte: Acervo próprio)
Figura 7 - Sistema construtivo da cobertura (fonte: Acervo próprio)
O critério Desempenho Térmico - Vedações foi calculado conforme
os requisitos da NBR 15.220, considerando a cidade de Tijucas que está na
Zona Bioclimática 3, tendo como os valores apresentados na Tabela 1.
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Tabela 1 - Desempenho térmico das vedações verticais e cobertura (fonte: Acervo próprio)
Parede opacacom α > 0,6
Requisitos NBR
U ≤ 2,5 W/m2.K ϕ ≤ 4,3h FSo ≤ 4,0% CT ≥ 130
kJ / m2.K Parede opacacom α > 0,6
Valores obtidos
U = 1,96W/m2.K ϕ = 3,85h FSo = 5,8% CT = 54,97
kJ / m2.K
Coberturacom α > 0,6
Requisitos NBR U ≤ 1,5 ϕ ≤ 3,3 FSo ≤ 6,5 Sem
exigência
Coberturacom α > 0,6
Valores obtidos
Descendente
U = 1,92 W/m2.K ϕ = 2,65h FSo = 5,76% CT = 25,44
kJ / m2.K Cobertura
com α > 0,6
Valores obtidos
Ascendente
U = 2,65W/m2.K ϕ = 2,25h FSo = 7,95% CT = 25,44
kJ / m2.K
Para o sistema de vedação vertical, pode-se notar que o valores de
Transmitância Térmica (U) e Atraso Térmico (ϕ) cumprem os requisitos da
norma. No entanto os valores de Fator Solar (FSo) e Capacidade Térmica (CT)
não cumprem os requisitos da norma para ZB3.
Para o sistema de cobertura foram considerados fluxo de calor
descendente e ascendente. Para as duas situações os valores de U não
cumprem os requisitos. Já para ϕ, os valores estão de acordo em ambos os
casos e para o FSo, somente o fluxo de calor descendente cumpre os
requisitos. Os valores de CT não tem exigência.
O critério Desempenho Térmico - Orientação a Sol e Ventos leva em
consideração a locação da unidade e as estratégias de projeto que
contemplem a zona bioclimática na qual o empreendimento está inserido. O
empreendimento se caracteriza por unidades isoladas permitindo ventilação e
iluminação natural em todas as faces da edificação.
Uma das principais estratégias bioclimáticas para a ZB3 é a
ventilação. O projeto da unidade permite ventilação cruzada por meio de
aberturas em paredes adjacentes, levando em consideração que o vento
predominante é o nordeste (NE). Conforme a NBR 15.220 e a NBR 15.575, a
área de abertura nas áreas de permanência e cozinha atendem aos requisitos
de ambas as normas, apresentadas na Tabela 2.
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Tabela 2 - Área das aberturas para ventilação e iluminação (fonte: Acervo próprio)
Área de abertura(áreas de
permanência e cozinha)
Requisitos NBR 15.220
15% < A < 25%
Área de ventilação(banheiros)
Requisitos CAIXA A ≥ 12%
Área de abertura(áreas de
permanência e cozinha)
Requisitos NBR 15.575 A ≥ 8%
Área de ventilação(banheiros) Valores
obtidos A = 11,44%
Área de abertura(áreas de
permanência e cozinha)
Valores obtidos 16,48%
Área de ventilação(banheiros) Valores
obtidos A = 11,44%
O critério Ventilação e Iluminação Natural de Banheiros foi calculado
considerando o requisito do Selo Casa Azul CAIXA, e o valor da área de
abertura obtido foi de 11,44%, em relação a área do ambiente. Apesar disso, o
valor encontra-se muito próximo do requisito do Selo.
2. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A categoria Eficiência Energética trata de medidas para a
conservação de energia, que quando utilizadas em empreendimentos
economizam recursos como energia elétrica, gás e água. Esta categoria está
muito relacionada a particularidades de cada unidade habitacional.
Os critérios referentes a Dispositivos Economizadores de energia
como sensores em áreas comuns, Medição Individualizada de Gás e
Elevadores Eficientes não se aplicam ao empreendimento avaliado, pois se
tratam de unidades habitacionais isoladas.
Quanto aos critérios relativos ao uso de Lâmpadas e
Eletrodómesticos Eficientes, não foi realizado um levantamento por meio de
questionários para identificar nas unidades os respectivos selos PROCEL
destes aparelhos. Já o Sistema de Aquecimento Solar, Sistema de
Aquecimento a Gás e Fontes Alternativas de Energia são inexistentes.
3. GESTÃO DA ÁGUA
A categoria Gestão da Água possui categorias que envolvem
Dispositivos Economizadores e Gestão de Águas Pluviais. No empreendimento
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avaliado as unidades habitacionais possuem Medidores Indidualizados de
Água e caixa acoplada na bacia sanitária (Dispositivos Economizadores - Bacia
Sanitária). No entanto, não verificou-se a presença de Dispositivos
Economizadores – Arejadores e Registros Reguladores de Vazão. No local, a
áreas livres são permeáveis o que permite a infiltração das águas pluviais,
entretanto os critérios referentes a Aproveitamento e Retenção de Águas
Pluviais inexistem.
2. CONCLUSÕES
A reconstituição do ambiente e a reinserção das famílias em novas
habitações envolvem questões tais como o tempo de locação, a localização, o
sistema construtivo escolhido, os requisitos mínimos de cada família e a
flexibilidade do projeto. Estes aspectos devem contribuir para redução da
vulnerabilidade dessa população tornando o sistema resiliente.
O método de avaliação Selo Casa Azul CAIXA, apresenta seis
categorias que contemplam a Qualidade Urbana, Projeto e Conforto, Eficiência
Energética, Conservação de Recursos Materiais, Gestão da Água e Práticas
Sociais. No entanto, as Categorias Práticas Sociais e Conservação de
Recursos Materiais, não foram avaliadas, pois seriam necessárias entrevistas
e, ou visitas em cada uma das unidades, bem como a realização de entrevistas
com a empresa e os profissionais responsáveis pela construção das unidades,
nem sempre de fáceis acessos.
Pela avaliação feita, pode-se notar que o empreendimento não
cumpre com grande parte dos critérios em todas as categorias avaliadas. Isto
se deve principalmente pela inexistência de um projeto do empreendimento
como um todo, e não apenas de unidades individualizadas. Também houve
pouca preocupação com o sistema construtivo utilizado em conjunto com a
tipologia das unidades, individuais e em duas águas, não contribuindo para a
flexibilidade do projeto e para uma possível ampliação.
Alguns dos critérios como a Qualidade do Entorno - Impactos, em
relação a proximidade do empreendimento com rodovias são muito inflexíveis.
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Em alguns casos uma avenida local pode gerar mais poluição sonora que uma
rodovia. Outro critério como Equipamentos de Lazer, Sociais e Esportivos torna
obrigatório a presença de tais equipamentos dentro do próprio
empreendimento, o que pode incentivar o isolamento em relação a cidade,
desconsiderando a estrutura urbana existente. Em relação ao item
Conservação de Recursos Materiais, notou-se uma dificuldade em considerar o
critério Qualidade de Materiais e Componentes, já que não se encontrou
informações referentes à certificação de materiais do PBQP-H (Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat) e PSQ-SC (Programa
Setorial de Qualidade de Santa Catarina). Há uma necessidade de
viabilizarem-se componentes e materiais certificados para cada região, levando
em consideração o custo de produção e transporte.
O sistema de availiação por categorias gera uma hierarquização de
métodos que tende a melhorar a qualidade da construção. A Caixa Econômica
Federal, sendo o maior financiador de habitações do país, inovou com a
elaboração de um método de avaliação com vistas a sustentabilidade e as
variantes das realidades regionais. Decorrente disso, o investimento em
habitação tende a ser mais eficiente em termos de sustentabilidade econômica,
social e ambiental.
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REFERÊNCIAS
CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Glossário de Defesa Civil: Estudo de riscos e medicina de desastres. Brasília: MPO/Departamento de Defesa Civil, 1998.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (Brasil). Censo Demográfico de 2010. População residente, total, urbana total e urbana na sede municipal, em números absolutos e relativos, com indicação da área total e densidade demográfica, segundo os municípios - Santa Catarina. 2010. 6p. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/sinopse/sinopse_tab_uf_pdf.shtm>. Acesso em: 30 março 2012.
JOHN, Vanderley Moacyr; PRADO, Racine Tadeu Araújo. Selo Casa Azul Caixa: Boas práticas para habitação mais sustentável. São Paulo: Páginas & Letras Editora e Gráfica, 2010.
KOBIYAMA, Masato; MENDONÇA, Magaly; MORENO, Davis Anderson; MARCELINO, Isabela Pena Viana de Oliveira; MARCELINO, Emerson Vieira; GONÇALVES, Edson Fossatti; BRAZETTI, Letícia Luiza Penteado; GOERL, Roberto Fabris; MOLLERI, Gustavo Souto Fontes; RUDORFF, Frederico de Moraes. Prevenção de Desastres Naturais: Conceitos Básicos. Florianópolis, SC: Ed. Organic Trading, 2006. 109p.
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