histÓria e teoria da arquitetura e do urbanismo...

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TEORIA, HISTÓRIA E

CRÍTICA DA

ARQUITETURA E DO

URBANISMO II – TH 2

Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Arquitetura e Urbanismo

A ARQUITETURA

RELIGIOSA NO BRASIL

COLÔNIA

ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL BRASILEIRA

A esquadra de Cabral

contava com frades

franciscanos, entre eles Frei

Henrique Soares, que

celebrou a primeira missa na

ilha de Vera Cruz.

A coroa não permitia a

implantação de nenhuma

outra religião na colônia, com

exceção dada aos

holandeses na implantação

da primeira sinagoga erigida

em Pernambuco no século

XVII.

Primeira Missa no Brasil (Victor Meirelles – 1861)

ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL

Além das ordens religiosas (Jesuítas, Franciscanos,

Beneditino e Carmelitas) vieram também as ordens laicas

(ordens terceiras, irmandades e confrarias).

Classificação das ordens religiosas (que cumprem votos):

Ordem primeira – frades, votos perpétuos

Ordem segunda – freira, votos perpétuos

Ordem terceira – leigos (homens e mulheres, solteiros,

casados, viúvos, que congregados sob uma mesma

devoção, fazem noviciado e profissão).

Ordens terceiras ou laica – leigos; procuram chegar à

perfeição, sem praticar votos perpétuos, pela sua maneira de

viver.

Confrarias – associações de fiéis dedicadas ao incremento do

culto publico

Irmandade – associações de fieis visando obras de caridade.

Clero Secular: aqueles que viviam na vida cotidiana, como padres, bispos, etc.

As ordens religiosas (Jesuítas, Franciscanos, Carmelitas

e Beneditinos) contribuíram para a expansão das terras

no interior ao instalarem igrejas, colégios e conventos.

Clero Secular tornou-se coadjuvante no processo de

administração colonial, como depositário de

documentações como certidões de nascimento, óbito,

etc.; os quais só foram se separar com a Constituição da

República segregando os poderes do Estado e da Igreja.

Até a chegada da Lei da separação da igreja e do

estado (de 20 de abril de 1911), a igreja católica estava

diretamente vinculadas à Coroa Portuguesa através do

Padroado – acordo em que a igreja era responsável

pelos cultos e a coroa nomeava e pagava os páracos.

Política lusitana para ocupação do território:

litoral as ordens religiosas igrejas, colégios, conventos

no interior as ordens laicas capelas e igrejas menores

As edificações religiosas podem ser classificadas pelas

tipologias e cronologia de seus conjuntos em três fases

distintas, podendo ser evidenciadas a se caracterizar por:

1ª. Fase – 1549 ~1654 – presença das ordens religiosas no

litoral chegada dos jesuítas (1549) em Salvador,

encerrando-se com a reconstrução do Colégio da Bahia

(1654);

2ª. Fase – 1640 ~1730 – Expansão das ordens no século

XVII construção dos grandes conventos das ordens

religiosas, com a consolidação dos templos no interior;

3ª. Fase – 1701 ~1808 – aumento do prestígio das ordens

terceiras e irmandades construção de igrejas e capelas

das ordens laicas.

Igreja de Nossa Senhora

da Graça Igaraçu – 1580

A ORDEM JESUÍTA

Representante do clero regular, além de colaborar com o

Rei na evangelização da população, edificava seus

conjuntos constituídos de igreja e colégio, alojamento

dos padres, residência dos bispos e até hospitais de

epidemias; supriam a falta do Clero Secular,

catequizando e

alfabetizando

gentios.

DEMAIS ORDENS

Os franciscanos e carmelitas tornaram-se responsáveis

pela administração dos santos ofícios – congregação

de profissionais sob a égide de uma padroeira e

cuidavam dos sepultamentos.

Os beneditinos se estabeleceram para ensinar teologia

ao clero regular e secular.

A prosperidade do litoral brasileiro nas primeiras

décadas do século XVII, devido à cultura da cana de

açúcar, proporcionou condições propícias às ordens

religiosas para expansão de seus domínios na colônia.

Expulsão dos holandeses (1654) - a coroa portuguesa

volta a dar total atenção para o Brasil e algumas

colônia africanas.

Com esse interesse renovado, as pequenas capelas e

igrejas, agregados aos alojamentos precários,

transformaram-se em grandiosas construções, com

fachadas cuidadosamente elaboradas e interiores

requintados.

Questões relacionadas aos novos programa de

necessidades passaram a ser resolvidos em planta e

tecnicamente estruturados e abastecidos de água,

aquecimento e iluminação; solucionados com eficiência

pelos mestres de obras ou padres – arquitetos /

engenheiros (com a vinda dos engenheiros militares

para a colônia).

Instalações antigas e precárias foram reformadas e

ampliadas e novos edifícios foram construídos.

Convento Beneditino Olinda (PE)

João Pessoa (PB) – Ordens Primeira e Terceira - a capela é recuada em relação à Igreja.

As fachadas mais simples passaram a dar lugar à

composições austeras trazendo o discurso clássico

português para o Brasil.

As construções religiosas começaram a receber maior

tratamento arquitetônico recebendo influências barrocas

e rococós.

Convento

Carmelita

Os jesuítas tornaram-se poderosos na colônia, mesmo

com a chegada das outras ordens (franciscanas,

carmelitas e beneditinos).

Os Jesuítas modificaram o processo de catequização

e alfabetização do índio, extrapolando com

orientações agrícolas e alfabetização para que estes

vivessem independentes dos portugueses – medo

contra a escravização dos mesmos.

Diante deste posicionamento, o Marques de Pombal,

primeiro ministro do Reio D. José I, em 1759

promoveu a expulsão definitiva dos jesuítas da colônia

portuguesa, além de proibir o estabelecimento de

ordens religiosas no interior; retirando da igreja

católica o domínio da educação em Portugal e nas

Colônias.

Impedidos por decreto real de se instalarem junto aos

locais de extração mineral, a igreja secular e todas as

irmandades e confrarias passaram a possuir seus

próprios edifícios.

Antes ocupavam alguns locais institucionais ou

capelas inseridas no corpo das igrejas para a

realização de suas reuniões.

O ciclo do ouro (século XVIII) trouxe mudanças

expressivas na rotina colonial: intensificação da vida

urbana, capital de giro, contato

com a Europa, valorização do

luxo e do conforto.

Fachada da igreja do Mosteiro de São

Bento do Rio de Janeiro (1633-c.1677)

Em 1763, com a transferência

da capital de Salvador para o

Rio de Janeiro, a opulência e

ostentação passaram a integrar

edificações, inclusive de ordens

com votos de pobreza

viabilizados pelas irmandades e

confrarias em ascensão,

também no litoral.

Recebendo contrato de

profissionais de prestígio

europeu, modismos e

linguagens vigentes na Europa

chegaram ao Brasil.

IGREJA MATRIZ DE N. Sra. DA

CANDELÁRIA (1811)

A arquitetura religiosa no litoral agora mostra o

maneirismo de suas fachadas, herdado dos jesuítas, e

o barroco aplicado no desenho de plantas e decoração

de interiores, evoluindo gradativamente para a

superficialidade do rococó da corte francesa.

Suas representações receberam influências em

templos construídos no interior.

Igreja de N. Sra. Do

Outeiro da Glória

Rio,

1714/1724

Ampliação de casas modestas e construção de palácios

Implantação de chafarizes para matar a sede da

população crescente

Edificação de cadeias para demonstrar o poder da

coroa

Desenvolvimento de modestas capelas (dos primeiros

anos de ocupação) por suntuosos e amplos templos.

Com a melhoria da mão de obra dos oficiais

construtores e arquitetos os volumes das igrejas se

sofisticaram formalmente, acompanhado com a

evolução das técnicas construtivas;

abandono do pau-a-pique e esteios à mostra por pedra

e cal das alvenarias e cunhais, entablamentos, vergas e

ombreiras executadas em pedras.

Na transição para o século XIX, com a mineração em

decadência, a adoção de um repertório arquitetônico

clássico tornou-se necessário para diminuir gastos

decorativos.

E com o empobrecimento das irmandades e

confrarias muitos templos ficaram por acabar,

juntamente com o movimento de migração de retorno

da população para o campo no afã de retomar a

agricultura abandonada.

Assim fecha-se o ciclo do barroco, que com a vinda da família real para a colônia e a elevação do Brasil a Reino Unido, o neoclassicismo torna-se seu repertório oficial.

CARACTERÍSTICAS DO BARROCO BRASILEIRO

As primeiras igrejas e capelas construídas no Brasil

podem ser consideradas com influências renascentistas

e maneiristas, advindas das construções jesuíticas.

Com o crescimento econômico a arquitetura do século

XVIII (barroca) adquire feições barrocas e rococós.

A igreja perde as naves laterais, para que o culto se

concentrasse na nave central (maior unidade e

efetividade).

Há o acréscimo de um transepto, um eixo perpendicular

à nave.

Mais do que uma justificativa

funcional, tem

uma intenção

simbólica de

representar em

planta a cruz

latina, símbolo

máximo do

cristianismo.

Os novos templos deveriam incluir, além dos espaços tradicionais, um elemento para divulgação da Palavra, o Velho e o Novo Testamento, na língua natal do fiel, apartado do altar, onde a cerimônia continuava a ser celebrada em latim.

Surgia o púlpito, estrategicamente colocado acima da cabeça dos fiéis.

O novo edifício religioso também deveria respeitar e incluir elementos da cultura cristã local, incorporando os santos ali venerados, com suas imagens dispostas em altares laterais, zelados por irmandades próprias.

Algumas variações seriam frequentes:

As capelas poderiam ser mais ou menos profundas,

intercomunicáveis ou não, assim como os altares

laterais, que variavam muito quanto à forma.

A cúpula, no cruzamento das naves, será muito rara no

Brasil, no período colonial, provavelmente devido a

dificuldades técnicas.

A influência de nossa arquitetura nos vem mais

diretamente de Portugal, especificamente de três

templos jesuíticos: a Igreja de São Roque, em Lisboa,

de 1565-73, o Colégio Jesuítico de Évora, de 1567-74 e

o Colégio de Braga, de 1567-88. Todos adotando a

nave única, porém com substanciais diferenças.

IGREJA DE SÃO ROQUE - LISBOA

São Roque temos o nartex que não estava

presente à Igreja de Gesu, as mesmas capelas

intercomunicáveis, entradas laterais. Não temos a

abside e o altar-mor é mais inibido, assim como os

altares laterais e o transepto embutido.

COLÉGIO DE ÉVORA

Na igreja de Évora temos um nártex externo em

forma de pórtico com maior importância como a

maior diferença sobre a anterior.

Igreja de São Roque - Lisboa

Igreja do Espírito Santo em Évora

1ª FASE: AS ORDENS

RELIGIOSAS

1549 / 1654

Ordem Jesuíta

• A companhia de Jesus foi fundada em 1534 em Paris, liderado pelo espanhol Inácio de Loyola, para desenvolver o trabalho de missionário e acompanhamento hospitalar, para onde o Santo Padre os enviasse.

• Sob o lema “defesa e promulgação da fé”, consideravam-se os verdadeiros “soldados de cristo”. Em 1549, chegaram ao Brasil liderados por Manoel da Nóbrega.

Santo Inácio de Loyola

Ordem Jesuíta

O partido arquitetônico adotado pelos jesuítas para seus edifícios no Brasil, os Colégios, era constituído por uma planta quadrangular com pátio descoberto ao centro e o edifício para oculto, a igreja em uma das faces do polígono. Nas demais desenvolvia-se o Colégio. Suas primeiras edificações foram construídas de maneira precária, exigindo constantes reparos e contavam com capacidade reduzida para atender a crescente demanda.

Colégio Jesuítico dos Reis Magos, Nova Almeida ES, 1580

Ordem Jesuíta

A ordem enviou para o Brasil, em 1577, o irmão Francisco Dias, arquiteto que trabalhara na construção do edifício jesuítico de São Roque, em Lisboa. Considera-se de sua autoria a reconstrução do Colégio de Olinda (1584) e do Rio de Janeiro (1585), onde é possível perceber que, na planta baixa, o partido adotado procurou seguir as recomendações feitas para a Igreja de São Roque: nave única, capela-mor e duas colaterais dominando a composição interna.

Colégio Jesuítico de Olinda, 1584 – Nossa Senhora da Graça

Ordem Jesuíta

• A torre sineira ergue-se na parte posterior do templo. • É uma construção rústica de estilo renascentista com

elementos da arquitetura clássica, como o óculo e a marcação das colunas.

• Foi incendiada incendiada em 1631. • Reconstruída em 1661

Colégio Jesuítico de Olinda, 1584 – Nossa

Senhora da Graça

Igreja Jesuítica de Nossa Senhora da Graça, Olinda (PE) - 1584.

Colégio Jesuítico do Rio de Janeiro, 1585

Igreja Nossa Senhora da Assunção, Anchieta (ES)

Igreja Nossa Senhora do Rosário e residência anexa (antigo colégio Jesuíta), Embu (SP).

Igreja dos Reis Magos e residência anexa

(antigo colégio Jesuíta), Embu (SP).

Ordem Jesuíta

• Os Colégio jesuítas adotaram uma uniformidade quanto ao partido formal.

• Os três principais elementos integrantes da fachada principal, igreja, torre sineira e colégio, eram dispostos num mesmo plano, com acesso por porta única.

• Sobre ela, um único óculo ou janela, ou três janelas, definiam a simplicidade da composição.

Patio do Colégio – SP

Fundação em 1554

Em 25 de janeiro de 1554 foi realizada a missa que oficializou o nascimento do colégio jesuíta, diante da cabana coberta de folhas de palmeira ou de sapê.

A cabana de pau-a-pique, cujas paredes eram feitas com uma armação de paus e cipós preenchida de barro socado, abrigava também um seminário e uma escola.

Na segunda metade do século XVII é erigida outra edificação, de taipa de pilão.

Trata-se de enorme prédio de dois pavimentos retangulares, com 23,70 metros de fachada, construção mista de pedra e taipa apiloada, alicerces sólidos e profundos, paredes de grande espessura, pintadas a tabatinga (barro branco, material argiloso), telhado de duas águas, provido de amplos beirais em balanço.

Na falta de calhas devido ao alto custo de cobre laminado ou de material similar, as funções dos beirais consistiam em evitar que a água despejada dos telhados fosse aos poucos desagregando o barro das paredes e comprometendo, com o decorrer do tempo, a estabilidade do edifício.

É simples a composição da fachada, austera e sóbria, sem qualquer rebuscamento decorativo.

O pavimento térreo tem 16 compartimentos: vestíbulo, refeitório, cozinha, despensa, enfermaria, botica, salas e corredores de comunicação; oficinas de trabalho, alojamentos dos índios e negros, e um pomar.

Pavimento superior de quinze peças, onde localizam-se os dormitórios, biblioteca, capela, câmara, secretaria e sala capitular.

Ordem Franciscana

• A Ordem dos Frades Menores – Ordem Franciscana, foi criada por São Francisco de Assis no século XIII.

• O grupo adotou um vestuário humilde (túnica grossa, cinto de corda e sandálias), fazem votos de pobreza, castidade e obediência. Não possuíam renda, viviam de esmolas.

• No Brasil, os franciscanos celebraram a primeira missa, pelo Frei Henrique de Coimbra.

Ordem franciscana, São Francisco em Assis

Italia, sec. XIII

Ordem Franciscana

• Entre 1500 e 1584 não houve uma presença regular da Ordem no Brasil, apenas pequenos grupos sem a implantação de conventos, em missões de evangelização.

• Em 1585 iniciou-se a fundação do primeiro convento – Nossa Senhora das Neves de Olinda, sucedida pela fundação de outros, como o de Igaraçu, PE – 1588.

Convento franciscano – Nossa Senhora das Neves – Olinda/PE – 1585

Ordem Carmelita

• A Ordem do Carmo originou-se por volta de 1190, formada por cruzados leigos que chegaram ao Monte Carmelo, em Israel, levando uma vida de penitências.

• No século XIII se espalharam pela Europa fundando grande número de conventos masculinos e femininos.

• Chegaram ao Brasil em 1580 com destino à Paraíba. Chegando em Olinda / PE, região próspera pela cana de açúcar, receberam um terreno.

Monges e Freiras Carmelitas

Ordem Carmelita

• Neste local já se encontrava uma capela com a invocação a Santo Antônio, onde foi construído o primeiro convento carmelita em 1583.

• Em Salvador, chegaram em 1586 e fundaram o convento Monte Calvário. Também foram para Santos em 1589 e Rio de Janeiro em 1590.

Igreja do Convento do Carmo, Olinda (PE). Ornamentação de herança renascentista – após restauração em decorrência da gerra com os holandeses.

Ordem Beneditina

• Os princípios que norteiam a Ordem de São Bento, organizados por Bento de Núrcia em 529 com a fundação do primeiro mosteiro beneditino, definiu os princípios da ordem que veio a levar seu nome.

• Os monges beneditinos vivem uma vida mais afastada da população optando pela reclusão e afastamento, cujos pilares são: a oração, o estudo e o trabalho.

Monges Beneditinos

Ordem Beneditina

• No Brasil os monges chegaram em 1581, para fundar um mosteiro na capital do Governo Geral – Salvador, o primeiro das Américas, atendendo à população local.

• Dali, a Ordem se expandiu para toda a Colônia: Olinda (1582), Rio de Janeiro (1586), Paraíba (1596), São Paulo (15898) e Santos (1649).

Igreja de Nossa Senhora do

Monte Construída na metade do

Século XVI, foi doada em 1596 aos

monges beneditinos, onde

funcionou o primeiro Mosteiro de

São Bento de Olinda, até sua

transferência para o Largo de São

Bento.

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