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Homenagem a Torres do Paine
por Ignácio Larrañaga
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Montanhas inacessíveis, recortadas no ar como aves misteriosas sobre um fundo azul e nuvens brancas, e rodeadas de águas profundas,
até tocar fundo, lá onde repousam as últimas origens. É formoso este mundo: variado, estranho, enigmático. Azul aqui, amarelo e
verde mais além. Tudo é misterioso e mágico.
Ó, Torres do Paine que escalais desafiantes os espaço das estrelas errantes, no silêncio das altas araucárias!, mostrai-me a sabedoria de transformar nossa casa,
não em uma âncora, mas em um mastro que sinalize os horizontes infinitos.
Os sonhos sulcaram o mar e tivemos motivos para sonhar. Vós, rochas do Paine, sois como arcos desde os quais nossos filhos são
impulsionados como flechas, para diante e para cima.
A noite se deteve a minha porta, entoando melodias descidas das estrelas. Alturas do Paine, pareces um monte de neve, mas sois pura rocha que levanta o dedo, para os astros? para o azul? Não; para os espaços onde o Infinito reside, governa e ama.
A última lâmpada se apagou à luz calada das estrelas e a enorme montanha cobriu seu rosto com um véu de névoa.
Diga-me montanha sagrada, que mistérios estão encerrados detrás desta névoa? Por que todas as lâmpadas estão apagadas e todas as portas cerradas?
Por que está cansado o vento, morta a luz e escuro o dia? Mostra-me teu rosto, montanha de Deus.
Como se fosse o fim do mundo, envolto numa atmosfera atormentada e ameaçante desenha-se a silhueta escura e hostil das Torres do Paine.
Cantarei para ti uma melodia quando meus lábios estejam abrasados pelas chamas;e se abrirão minhas mãos para encher-se de pó de estrelas
e nossos caminhos serão ritmo e fragrância.
Ó! Tudo é movimento e quietude: ondas, marés, nuvens, tormenta, gigantes adormecidos, um espetáculo! Meu Deus! Que formidável é tua criação!
No frenético torvelinho da água, ar e fogo, um montão de ruínase esquecido sob o arvoredo do caminho e adormecido o tambor da vitória,
já não temos medo nem da tormenta nem da sombra.
Correntes turbulentas, nuvens tormentosas, telão de fundo sobre o qual se recorta uma geografia áspera, hirsuta, bravia e inexpugnável.
Meu Deus, parece que estamos no convulsivo nascimento do planeta, num parto telúrico ou num final cataclísmico.
A vida canta em nossos silêncios e sonha quando dormimos. E, ainda quando navegamos entre penas e tristezas, a Vida está em seu alto trono. Quando choramos, a Vida sorri à luz do sol, e é
livre ainda quando arrastamos correntes.
Destruirá a morte tudo que edificamos? Dispersará o vento tudo quanto semeamos? Palavras que estavam escritas no pó do caminho,
escalaram alturas e entre nuvens escabrosas desafiam as estrelas e o espaço
Senhor, os gigantes pararam para descansar na planície. Virá a primavera e as neves se derreterão em busca do rio, e nossos segredos buscarão o rio da Vida
e se acabarão no largo mar. Montanhas eternas; ainda que tenhais esquecido quem foi vossa mãe, o mar afirmará sua
maternidade e eternamente as chamará ao seu seio.
Torres do Paine, finalmente a serenidade e a calma as envolverão com um manto azul. Tereis saído da eterna noite da turbulência e tormenta estremecida e tereis chegado ao dia da Serenidade.
Bem-vindas! As profundidades da alma e as alturas do espaço, a pedra e a estrela cantam em uníssono.
A esperança voltará em outra aurora e então saberemos que todas as coisas são vivas e fragrantes.
Longe, sob um galho carcomido, eternamente vestidos de ameaças e tormenta, e de pétrea majestade as saúdo gloriosas Torres do Paine.
Ao contemplar vossas silhuetas distantes, sonhos ardenteschamejam em minhas pupilas dilatadas.
Buscarei praias solitárias para cantar um hino cósmico e logo irei com as estrelas errantes da noite para submergir-me na profundidade.
FIM
Santiago do Chile, Casa Fundacional TOV, Janeiro 2012
Agradecimentos
Música: Romança sem palavras de Mendelssohn. Interprete: Ronan O’Hara
Fotografias de: Parque Nacional Torres del Paine/ www.verticepatagonia.com/www.vidasilvestre: Daniel Gómez – Lobo Fehling/Calendário 2012
Provedor /www.fondosgratis.com.mx/adsinimages.com/www.prensa.cl
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