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IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO DE FILMES E VÍDEOS NA PRÁTICA
DOCENTE NO ENSINO FUNDAMENTAL I.
Ana Carolina De Souza Carvalho1
(ANIMAÇÃO) ANIMAR, do Latim “animare”, significa “dar alma”. Uma pessoa que
acorda e fala: “hoje estou animado!” quer dizer que está cheia de vida, cheia de energia e
pronta a fazer muito movimento”
RESUMO:
Neste texto é discutido como os professores e as professoras podem utilizar vídeos e filmes nas
suas práticas escolares. São apresentados exemplos de organização e trabalho com esses
instrumentos, sua relevância e implicação no ensino-aprendizagem, baseado nas experiências de
quatro professoras do Colégio de Aplicação João XXIII, do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental, foi realizado uma análise com a contribuição de alguns teóricos e estudiosos da
área. Este estudo evidenciou que estes recursos potencializam a ampliação de conhecimentos e
viabilizam múltiplas articulações no âmbito educacional,integrando as múltiplas linguagens,
trazendo uma reflexão sobre a importância da inclusão deste tipo de audiovisual em sala de
aula, de forma a promover mudanças no modo de ensinar, de aprender.
Palavras chaves: Experiências; potencializam; múltiplas linguagens; audiovisual.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Trabalho de Conclusão de Curso,
para o Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação-UFJF, sob a orientação da Profª
Drª Adriana Rocha Bruno. A proposta foi desenvolver um projeto de pesquisa sobre a
inserção de filmes e vídeos nos processos de ensino aprendizagem, a partir das
experiências vivenciadas em minha imersão no lócus de investigação.
Decidi escrever sobre um tema inclinado para as práticas em sala de aula,
sobretudo, para o papel do professor, com foco na aprendizagem dos alunos,
considerando suas características individuais, ritmos singulares de aprendizagem e
desenvolvimento social e cognitivo.
O interesse por esta temática surgiu a partir da minha experiência como bolsista
de treinamento profissional no projeto: “Laboratório de Aprendizagem em
Matemática”, com turmas de 3º ano do Ensino Fundamental, no Colégio de Aplicação
João XXIII, no município de Juiz de Fora, por aproximadamente dois anos, perfazendo
um total de 12 horas semanais.
No decorrer dessa experiência, pude observar o uso considerável dos recursos
audiovisuais, como, por exemplo, exibição de vídeo do Youtube, filmes e uso de data
1 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal de Juiz de Fora; carolcarvalho_jf@hotmail.com
show. Portanto, a temática deste trabalho surgiu a partir da minha curiosidade em
conhecer e compreender quais alternativas, nós graduandos, professores recém-
formados e atuantes temos como possíveis práticas no ensino com o uso do recurso
audiovisual e as implicações deles no processo de ensino aprendizagem. Dessa forma,
desejo aprofundar nesse tema, dada a importância de conhecer novas práticas para
serem desenvolvidas no ambiente escolar, refletindo sobre a formação dos professores
diante dos recursos tecnológicos.
Outro motivo que me instigou e efetivou a escolha deste tema, foi a elaboração
de um trabalho para a disciplina de Educação e diversidade II, no 6º Período do curso
de Pedagogia. A proposta era que, em grupo, analisássemos um filme infantil que
abordasse a diversidade humana, e minha equipe de trabalho utilizou o filme
“Procurando Nemo” (lançado pela Disney e Pixar em 2003). Então pude perceber o
quanto o filme é rico para discutir o assunto em sala, propiciando momentos de reflexão
sobre a inclusão e as diferenças. Confesso, que da primeira vez que assisti, estas
questões foram imperceptíveis. Poder olhar o filme com um olhar mais sensível e atento
as questões que a professora levantou durante a disciplina, me impactaram e a partir
disso pude começar a enxergar a riqueza de possibilidades que nós enquanto futuros
professores temos, partindo do ponto de vista de que aprendemos de múltiplas formas e,
quanto mais diversificamos os meios mais eficiência teremos.
O uso de vídeos e filmes em sala de aula surge como ferramentas que
oportunizam a socialização, a aprendizagem e o desenvolvimento de diversos
conhecimentos e habilidades. Destaca-se que é de fundamental importância traçar os
objetivos e metas que deverão ser cumpridos na aula, bem como a importância do papel
do professor, que deve atuar como mediador para que os estudantes compreendam o
objetivo de tal escolha.
Neste sentido, a teoria vygotskyana atribui muita importância ao papel do
mediador – exemplo o professor – como agente impulsionador do desenvolvimento
psíquico humano. (COUTINHO; OLIVEIRA, 2011).
Sem dúvida, o professor além de ser educador e transmissor de
conhecimento, deve atuar, ao mesmo tempo, como mediador. Ou seja, o
professor deve se colocar como ponte entre o estudante e o
conhecimento para que, dessa forma, o aluno aprenda a “pensar” e a
questionar por si mesmo e não mais receba passivamente as
informações como se fosse um depósito do educador. (BULGRAEN,
2010, p. 31).
O recurso audiovisual pode ser uma importante ferramenta, proporcionando o
aprendizado por meio do lúdico, a fim de ampliar as metodologias e possibilidades de
aprendizagem e ensino, contribuindo para o desenvolvimento intelectual do aluno, além
da compreensão e assimilação dos conteúdos, de modo a motivá-lo e aproximá-lo da
realidade.
É fundamental ressignificar a formação inicial e continuada dos professores,
para que eles possam entender que os recursos tecnológicos são uma boa ferramenta no
processo de ensino e aprendizagem, porém, é importante evidenciar que as tecnologias
não substituem o papel do professor, Libâneo reforça:
A formação continuada pode possibilitar a reflexibilidade e as
mudanças na prática docente, ajudando os professores a tomarem
consciência das suas dificuldades compreendendo-as e elaborando
forma de enfrentá-las. De fato não basta saber sobre as dificuldades da
profissão é preciso refletir sobre elas e buscar soluções, de preferência
mediante ações coletivas. (LIBÂNEO,2007, página)
Tais processos educacionais devem ser contextualizados com metodologias
escolhidas pelo professor para abrir caminhos que levem o aluno a perceber um diálogo
da vida escolar com a vida fora da escola, compreendendo dessa forma que as
Tecnologias da Informação e Comunicação estão cada vez mais presentes no contexto
social e, principalmente, no cotidiano da escola.
PROBLEMA DE PESQUISA E DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Um bom uso dos recursos didáticos na prática pedagógica, seja de tecnologia
avançada seja de tecnologia tradicional deve considerar as características dos alunos.
Partindo desse pressuposto, entende-se que o aluno, neste estudo, é um sujeito histórico
e cultural, produtor de cultura, de conhecimento, apto e autônomo (BAKHTIN, 1985).
Portanto, ele deve ser concebido como sujeito que compartilha e constrói
conhecimentos, tendo em vista que a linguagem é interação, processo interacional entre
sujeitos que usam a língua para ser comunicar, reconhecendo a liberdade de cada pessoa
e o seu direito de expressar. Além disso, devemos considerar a linguagem como
capacidade humana de comunicação, seja ela múltipla, simbólica, verbal, gestual, etc.,
em que define nossa identidade e a capacidade de sermos seres sociáveis.
Destarte, não se deve reduzir o recurso audiovisual somente à técnica, pois isto
consistiria em acreditar que basta que uma mensagem esteja veiculada a uma máquina
para já ter a garatia de sua eficácia. Sendo que, na verdade, a máquina não contribui
com essa expressão. Essa eficiência resulta de uma questão de linguagem e discurso que
necessitam permear o cotidiano que envolvem tais recursos. (FERRÉZ, 1996).
Enquanto bolsista de treinamento profissional do Colégio de Aplicação João
XXIII, percebi que o uso dos vídeos trouxe bons resultados, visto que os alunos
mostraram-se receptivos as aulas. Diante disso, passei a refletir sobre como o professor
planeja e desenvolve o conteúdo dos materiais disponíveis para apresentar aos alunos.
Dessa forma, pretendo perceber diante do meu estudo se o uso do vídeo é eficaz como
recurso didático.
Ferrés (1996) traz uma consideração importante ao chamar a atenção quanto a
necessidade de se obter capacitação que viabilize a utilização mais coerente das mídias,
isto será aprofundado no decorrer desse estudo seguido de suas implicações e
consequências. Segundo o autor:
Para que haja um bom aproveitamento das potencialidades do vídeo, é
imprescindível que os professores tenham uma formação especifica
para a utilização do meio. Não haverá professores formados para o
emprego do vídeo e demais audiovisuais se não houve professores
formados mediante o emprego do vídeo e dos demais audiovisuais
(FERRÉS, 1996, p.11)
A partir destes aspectos, explicitamos a questão desta pesquisa: Como o recurso
midiático audiovisual, mais especificamente o vídeo, tem contribuído para enriquecer os
processos de ensino e aprendizagem,e dinamizar o dia a dia da sala de aula? De que
formas os professores utilizam estes recursos?
Essa pesquisa foi realizada com dez professoras do 1ª ao 5º ano do Ensino
Fundamental, do Colégio de Aplicação João XXIII com o objetivo de verificar se o
recurso midiático audiovisual, mais especificamente o video, tem contribuído para
enriquecer o ensino aprendizagem e dinamizar o dia a dia da sala de aula e compreender
como os professores utilizam estes recursos ,
Destaca-se que o ensino deve abranger o conhecimento do aluno a partir de suas
experiências vividas e deve ocorrer de modo contextualizado, com materiais lúdicos,
por exemplo, filmes e vídeos. Acredito que esta prática desmistifique o modelo
tradicional de ensino, que teve por muito tempo e ainda tem um caráter disciplinador
rígido, com pouco valor significativo para o aluno construir seu conhecimento.
É nesse sentido, que Libâneo (1998, p. 26) evidencia que
A escola precisa deixar de ser meramente uma agência transmissora de
informação e transformar-se num lugar de análises críticas e produção
da informação, onde o conhecimento possibilita a atribuição de
significado à informação. Nessa escola os alunos aprendem a buscar a
informação (nas aulas, no livro didático, na TV, no rádio, no jornal, nos
vídeos, no computador etc.) e os elementos cognitivos para analisá-la
criticamente de darem a ela um significado pessoal.
A tecnologia na educação necessita de estratégias, metodologias e atitudes
diversas, pois uma aula mal estruturada mesmo com o uso do mais moderno recurso
passa a não fazer sentido pedagógico para o aluno. Segundo Moran (2009, pág 68):
As tecnologias nos ajudam a encontrar o que está consolidado e a
organizar o que está confuso, caótico, disperso. Por isso é tão
importante dominar ferramentas de busca de informação e saber
interpretar o que se escolhe, adaptá-lo ao contexto pessoal e regional e
situar cada informação dentro do universo de referências pessoais.
A proliferação das tecnologias digitais vem acentuando uma maior necessidade
de um pensamento criativo, essa nova tecnologia causa um espírito empreendedor,
inovador e maior produtividade capaz de beneficiar a sociedade (RESNICK, 2006).
Reconheço, portanto, que é necessário que se ultrapasse o aspecto meramente
instrumental para fazer com que as tecnologias se tornem ferramentas de trabalho que
ampliem as capacidades críticas e criativas dos jovens.
Documentos internacionais apontavam, há algumas décadas, tendências que
atuam no sentido de integrar novas tecnologias aos processos pedagógicos.
A noção de educação para as mídias abrange todas as maneiras de
estudar, de aprender e de ensinar em todos os níveis (...) e em todas as
circunstancias, a história, a criação, a utilização e a avaliação das mídias
enquanto artes práticas e técnicas, bem como o lugar que elas ocupam
na sociedade, seu impacto social, as implicações da comunicação
mediatizada, a participação e a modificação do modo de percepção que
elas engendram, o papel do trabalho criador e o acesso às mídias
(UNESCO, 1984, apud BELLONI, 2001, pág).
Assim, percebo a importância da ferramenta audiovisual para facilitar a
aprendizagem. Ressalto ainda, a importância do planejamento para que as experiências
de aprendizagem sejam bem trabalhadas e exploradas, exigindo do professor um
apurado senso crítico quanto à relevância da escolha do vídeo levado para ser
trabalhado em sala. Ele deve, portanto, perguntar se tal escolha colabora no aprendizado
do aluno ou só oferece entretenimento, portanto considero que este estudo será de
grande contribuição aos professores e estudantes na medida que favorece um novo olhar
acerca das novas possibilidades de aprendizagem.
OBJETIVOS:
Os objetivos específicos desse estudo são:
(I) Conhecer como são as atividades propostas pelos professores utilizando
o recurso audiovisual;
(II) Acompanhar e identificar como eles selecionam e exploram esse
material em sua prática escolar,
(III) Reconhecer o que eles perceberam em relação ao envolvimento e
interesse dos alunos.
(IV) Perceber quais foram as dificuldades e limitações encontradas com o uso
dessa prática.
JUSTIFICATIVA
Inicialmente se torna importante apontar como Ferreira (1999) define
“audiovisual”:
Meio ou veículos de comunicação que atingem o indivíduo receptor
através dos canais auditivo e visual. Diz-se da mensagem constituída da
combinação de som e imagem. Diz-se de método pedagógico,
empregado, sobretudo no ensino de línguas, em que se lança mão,
simultaneamente do som e da imagem, por meio de livros filmes, discos
televisão etc.
Portanto, ao nos referirmos sobre mídias visuais estamos considerando que a
imagem é o ponto central da nossa discussão sobre educação, culturas das novas
gerações e aprendizagem. Dessa forma, percebemos que o audiovisual se constitui como
uma forma de linguagem e expressão, sendo uma sugestão muito válida e significativa
para as crianças, pois estas, logo nos anos iniciais, ao chegar à escola já dispõem de uma
vasta quantidade de saberes, constituídos, não apenas pelo que aprenderam com os pais
e a comunidade, mas aqueles elaborados a partir de informações que recebem pelos
meios de comunicação, assim diante dessa certa familiaridade com os filmes infantis,
estes oferecem uma proposta rica em elementos a serem explorados, envolvendo-as em
uma ludicidade, atraindo a criança na situação comunicativa da história. Podendo,
portanto, serem cativadas, desafiadas e, até mesmo, motivadas a conhecer e
experimentar suas emoções.
Segundo Moran (1995, p. 27).
O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no
imaginário) em outros tempos e realidades. Ele combina a comunicação
sensorial sinestésica, com a audiovisual a intuição com a lógica, o
emocional com a razão. Combina, mas começa pelo sensorial, pelo
emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional.
Diante do que foi exposto acima Ferrés (1996) ressalta a diferença da linguagem
escrita e visual, que pode ser descrito abaixo:
A diferença da linguagem escrita, que desenvolve fundamentalmente o
espírito de análise, de rigorosidade e de abstração, a linguagem
audivisual exercita atitudes perceptivas múltiplas, provoca
constantemente a imaginação e confere à afetividade um papel de
mediação primordial no mundo. (FERRÉS, 1996, p.66)
É importante salientar que incorporar a produção da arte e da mídia na educação
é oferecer potencial para tornar o aprendizado mais criativo, expressivo e diversificado,
tornando a escola mais relevante para os alunos (KELLNER; SHARE, 2008).
MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO
Nesta seção, apresento o principal instrumento pelo qual irei realizar esta
pesquisa: o questionário. A escolha desse método está relacionada à importância de
fazer pesquisa desse tipo na área educacional com a intenção de verificar o que é
possível e importante levar para a prática, ou seja, aplicar na sala de aula. Além disso, é
importante destacar a questão da pesquisa que é perceber como os educadores utilizam
vídeos e filmes nas suas práticas escolares. Assim, buscando compreender a questão
formulada será necessário inicialmente uma imersão no campo para me familiarizar-se
com a situação. Dessa forma, , quando o pesquisador entra em contato com as fontes de
coleta de dados, no caso desta pesquisa, as professoras e professores entrevistados, tem
a intenção de torná-la mais explícito ou a construir hipóteses, que facilitem seu
encaminhamento e realização (QUIVY e CAMPENHOUDT, 2008)
O questionário, segundo Gil (1999, p.128), pode ser definido “como a técnica de
investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas
às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos,
interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”. Assim, nas questões de cunho
empírico, é o questionário uma técnica que servirá para coletar as informações da
realidade, tanto do empreendimento quanto do mercado que o cerca.
Neste trabalho foi utilizado a abordagem por investigação qualitativa e cabe
ressaltar a diferença entre investigação quantitativa e qualitativa, como Bogdan e Biklen
(1994, p.11) comentam, respectivamente:
[...] um campo que era anteriormente dominado pelas questões da
mensuração, definições operacionais, variáveis, teste de hipóteses e
estatística, alargou-se para contemplar uma metodologia de
investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada
e o estudo das percepções pessoais. Designamos esta abordagem por
investigação Qualitativa.
Inicialmente para a realização da pesquisa, encaminhei a carta de apresentação á
direção da escola, solicitando autorização para o desenvolvimento da pesquisa (ANEXO
1). Após o aceite da direção, conversei com os professores dando esclarecimentos sobre
a minha pesquisa e os convidei a participar voluntariamente, foi entregue a eles o termo
de consentimento (ANEXO 2), que apontam os objetivos a serem alcançados e demais
informações, afim de esclarecer qualquer dúvida.
No apêndice estão as perguntas a serem feitas a dez professores do colégio do 1º
ao 5º ano do ensino fundamental. As perguntas foram elaboradas de forma que as
professoras pudessem dar subsídios para refletir sobre a importância e a possibilidade
de trabalho pedagógico utilizando filmes e vídeos, a partir de um conjunto de questões,
sobre o tema que está sendo estudado, permitindo que o entrevistado fale livremente
sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema principal, sendo
concebida portando como uma produção de linguagem, portanto, dialógica (BAKHTIN,
1985).
Os dados foram constituídos pelas respostas no questionário dadas por quatro
professoras do Colégio de Aplicação João XXIII, com o propósito de perceber se os
filmes e vídeos estão ou não incluídos na proposta de trabalho dessas professoras e com
qual finalidade são sugeridos para os alunos, como as atividades foram executadas, a
forma de avaliação, como foi percebido o resultado dessas experiências feitas pelas
professoras e pelos alunos, por que e qual os vídeos e filmes foram usados com a turma.
Tive certa dificuldade para receber os questionários respondidos, mesmo que lhes tenha
dado prazo, insisti encaminhando o email, mas não obtive respostas, apenas um
professor me respondeu, informando sua desistência, dizendo que não seria possível,
por conta de compromissos com o trabalho. Os questionários que retornaram foram
lidos, analisados e contabilizados, que serão descritos a seguir.
ANÁLISE DE DADOS
Com o intuito de investigar o perfil da formação inicial dos sujeitos da pesquisa,
todas possuem graduação em Pedagogia e como última titulação até o momento do
presente questionário duas professoras possuem mestrado e uma possui doutorado. Em
relação à área do conhecimento que pertence a sua última titulação duas professoras
apresentam Educação/Pedagogia, uma professora voltada para área de letras e a outra
voltada á educação para a ciência.
No que se refere há quanto tempo esses profissionais lecionam no Colégio de
Aplicação João XXIII,duas professoras atuam há menos de um ano, uma atua de 1 a 2
anos e uma atua no colégio há mais de 7 anos. Antes de lecionar neste colégio, metade
era professora em escola pública, metade em privada e uma professora já lecionou tanto
na rede pública quanto estadual.
Neste trabalho as professoras serão identificadas como professora 1(P1) que atua
no 1º ano do ensino fundamental, ministrando aula de linguagem e matemática
;professora 2 (P2), ministrando aula de matemática, professora 3 (P3) ministrando aulas
de ciências e matemática e professora 4 (P4), ministrando aulas de ciências e português
Com base central de estudo “Importância da Inserção de Filmes e Vídeos na
Prática Docente no Ensino Fundamental I”, buscamos identificar se elas percebem a
importância do uso de vídeos e filmes para os processos de ensino e de aprendizagem
em seu trabalho como docentes, obtemos as seguintes respostas:
P1:Muitas vezes os vídeos ajudam a trazer elementos que aparecem estáticos em livros
e textos. Essa sensação de movimento e interação foi muitas vezes fundamental para
trabalhar conteúdos de uma maneira mais leve, clara, concisa, ou a depender do tipo de
vídeo mais aprofundada.
É muito diferente o trabalho com este recurso nas escolas estaduais, municipais e no
Colégio de Aplicação. Nos primeiros (pelo menos nos quais trabalhei) era muito difícil,
disputado, burocrático o acesso à tão desejada sala de vídeo. Os conteúdos que eu
trabalhava eram mais restritos, pois como disse o acesso era difícil. Gostava muito de
trazer os temas de ciências como universo, corpo humano em forma de vídeos e
documentários. Como não tínhamos laboratório, era uma forma de fazer com que as
crianças enxergassem tais temas de uma forma menos abstrata e até mágica em um
certo sentido. Então nesses casos a importância por possibilitar uma aproximação com a
ciência e tentar trazer os temas mais complicados para a simplicidade do dia-a-dia.
Há um ano e um mês trabalhando no CAP JXXIII essa importância tomou outra
dimensão. Até porque agora trabalho com crianças de 6 e 7 anos. Acho que a relação
com esse recurso avançou e hoje prevejo mais momentos com filmes e vídeos, não
somente nos momentos de “socorro” ou para ilustrar ou tentar encantar as crianças com
um determinado conteúdo. Os vídeos trazem histórias novas, não necessariamente se
remetendo à algo trabalhado anteriormente, auxiliam no estímulo à imaginação,
incrementam a ludicidade e possibilitam “costurar” histórias com músicas e desenhos,
por exemplo.
P2Usar diferentes recursos no ensino possibilita que a criança aprenda conteúdos de
maneiras mais dinâmicas e significativas.
P3Não faço com frequência o uso de vídeos e filmes, mas acredito que eles sejam um
recurso muito importante e enriquecedor para o ensino ou discussão de determinado
assunto ou conteúdo.
P4Usar vídeos e filmes no processo de ensino e aprendizagem é importante, pois são
recursos didático-pedagógicos que podem contribuir significativamente para esse
processo. O fundamental é não usar o filme pelo filme, ou seja, como recurso apenas
para incentivar aos estudantes. Mas, a partir do objetivo a ser alcançado, estabelecer
estratégias em que sejam relacionados aos conteúdos trabalhados.
Vimos, então, que as professoras destacam a importância dessa metodologia
para e com os alunos ressaltando seu auxílio no processo de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças, de forma mais dinâmica, atrelado ao lúdico. O discurso
de ambas está carregado de um valor significativo com esta atividade, as ideias foram
apresentadas com a ciência do que foi experimentado em suas práticas. Acreditamos
que tais afirmações validam a qualificação de que as vivências das professoras são uma
possibilidade de percepção que outros professores podem se ater quando fizerem uso
dessa prática.
Percebemos também com as respostas das professoras que a linguagem do vídeo
tem muitos recursos expressivos para ser explorados para fins didáticos, o qual é preciso
que se valorize a intencionalidade a serviço da construção do conhecimento, a P4
ressalta que é fundamental a análise e ter como prioridade os objetivos, que
pretendemos alcançar com o uso do vídeo, considerar até que ponto este pode atender a
expectativas para determinada aula,de modo a enriquecê-la, respeitando as necessidades
dos alunos.
A P1 destaca que quando lecionava na rede estadual e municipal o acesso a sala
de vídeo era muito difícil, disputado e burocrático, diante disso quando ela tinha a
oportunidade ela aproveitava e tinha como intenção tornar o processo aprendizagem
mais atrativo, instigante e eficaz, possibilitando que os alunos enxergassem os temas
que ela abordaria de uma forma menos abstrata e até mágica em um certo sentido,de
uma forma menos estática, como ela comenta.Para contribuir com esta análise é
relevante observar o que aponta Moran:
A fala das crianças é mais sensorial-visual do que racional e abstrato e o
vídeo responde a essa sensibilidade uma vez que facilita a motivação, o
interesse por assuntos novos ajudando o aluno a uma compreensão mais
complexa dos assuntos tratados pelo professor.
A P1 traz uma questão importante ao questionar que nem sempre o assunto
tratado no vídeo tem relação com o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula,
pois o mesmo segundo ela trazem histórias novas, auxiliam no estímulo a imaginação,
incrementando a ludicidade, percebemos através da sua fala que inúmeras são as
possibilidades com o uso dessa prática, não ficando atrelado somente à disciplina em si,
“colocada na escola a serviço de uma forma de expressão linear, racional e hierárquica:
a expressão verbal(FERRÉS,1996). O autor complementa que o “exercício interno,
consciente ou não, que desenvolve ao longo da prática da linguagem audiovisual
determina uma maneira de compreender, de aprender, na qual a afetividade e a
imaginação já não podem estar ausentes”.
Na próxima pergunta buscamos perceber se o uso de filmes e vídeos é previsto
no planejamento desses professores e com que frequência eles aparecem, tivemos as
seguintes respostas:
P1: Sim, no João XXIII o trabalho com vídeos é bem articulado em nosso planejamento
pois temos muita liberdade para utilizar este recurso. O fato de termos internet e Data
Show em cada sala de aula nos possibilita trabalhar com bastante frequência desde a
literatura, até músicas, desenhos pedagógicos com as crianças. Também utilizamos em
nossas reuniões de pais, algum vídeo ou trecho de filme para apresentar algum tema a
ser debatido na reunião.
P2: Sim. Busco sempre encontrar algum filme que tenha temática voltada aos conteúdos
do planejamento.
P3: Não muito. Leciono as disciplinas de Ciências e Matemática. Na primeira, busco
realizar atividades mais práticas, na própria escola ou propor algo que os alunos façam
em casa. Já na Matemática, proponho também algo mais prático, mas já fiz uso de dois
vídeos.
P4: Em meu planejamento são previstos vídeos e filmes relacionados aos conteúdos.
Por isso, a frequência com que uso depende do assunto a ser tratado. Por exemplo, em
Ciências, no 4º ano, uso os vídeos “ABC da Astronomia” para finalizar ou iniciar algum
assunto, como: o Sol, a Lua, os Planetas, entre outros.
A utilização de filmes e vídeos entra no planejamento dessas professoras,
percebemos, inclusive, uma relação entre o conteúdo, ou seja, ressaltam quepodem ser
usados como uma ferramenta de auxílio para fixação de conteúdos, aprendizagem,
diversão e interação, “na interação social temos outros pontos de vista que podem ser
considerados e o entendimento de um dado problema pode ganhar amplitude,
profundidade e generalidade, que são características essenciais do conhecimento
científico” (PASSOS; ROMANATTO, 2010, p. 32).
Com a resposta da P1 podemos perceber e refletir quanto a dimensão didática
que esse recurso oferece, sendo utilizados em diferentes disciplinas, séries e também
durante a reunião com os responsáveis dos alunos, afim de promover debates, passamos
a compreender desta forma a transversalidade deste tema, para contribuir com esta
análise Gonnet aponta que:
Nos programas escolares, a educação para as mídias deve e
pode recobrir a totalidade dos conteúdos. Todas as disciplinas
são muitas ocasiões de tratar das mídias, do mesmo modo que
elas são, há muito tempo, a ocasião de desenvolver o domínio
da língua materna. Do ensino de matemática ao estudo da
geografia, da ecologia urbana, da história ou da língua materna,
todas as diciplinas podem concorrer para uma alfabetização
para as mídias. (PICHETTE, citado por GONNET, 2004, p.57)
A P3 faz uso dessa prática, porém não com muito frequência, que nos faz pensar
sobre as formas de direcionar as ações pedagógicas através da articulação e do
desenvolvimento de estratégias, para o alcance dos objetivos previsto no planejamento e
que tal uso em demasia desse recurso, leva à diminuição da sua eficácia e o torna
desinteressante (MORAM, 1995).
Na próxima pergunta buscamos perceber quais são os objetivos ao utilizar
vídeos e filmes e tivemos as seguintes respostas:
P1:Depende do momento em que estamos na turma e como estamos desenvolvendo o
Projeto Coletivo de Trabalho. Há situações em que ele aparece como um auxílio para
ilustrar algum conceito ou conteúdo, outras em que utilizamos músicas para brincar com
as crianças ou trabalhar questões motoras. Na semana de ciências humanas nós
decidimos mostrar o filme Kiriku para as crianças, depois de terem aparecido elementos
de reprodução do racismo na fala de alguns alunos. Foi importante para trazer o lúdico a
partir da cultura afro, mostrando que também se produz cultura e desenhos na Àfrica,
bem como trazer referências negras para as crianças.
Então o objetivo dependerá do objetivo do nosso planejamento, de qual tipo de
intervenção e o que esperamos que as crianças reflitam em um dado momento.
P2:Possibilitar acesso a recursos variados para que amplie as condições de
aprendizagem e visão de mundo dos alunos.
P3:Introduzir determinado assunto, estar em outro espaço que não a sala de aula, e
possibilitar aos alunos a oportunidade de aprender a observar, opinar, criticar e refletir
sobre assuntos que não precisam sempre estar nos livros ou serem passados em xerox
ou no quadro. Mostrar que há outras possibilidades de ensinar e aprender.
P4:O objetivo para utilizar vídeos e filmes é, conforme já disse, apresentar ou finalizar
um assunto, bem como apresentar elementos que favoreçam a discussão e o estudo
sobre um tema.
Os objetivos identificados nas respostas nos leva a considerar que prevalece a
facilitação no processo de ensino aprendizagem e desenvolvimento das capacidades dos
alunos dentro do contexto que serão aplicados, ambas demonstram está exercendo o
papel de professoras que estimulam e desenvolvem capacidades em seus alunos. Sobre
as múltiplas formas de aprender que a P3 destaca, temos uma contribuição importante
do autor Moran, que reforça seu comentário, dizendo que:
A sala de aula pode ser o espaço de múltiplas fontes de aprender.
Espaço para informar, pesquisar e divulgar atividades de aprendizagem.
Para isso, além do quadro e do giz, precisa ser confortável, com boa
acústica e tecnologias, das simples até as sofisticadas. Uma sala de aula
hoje precisa ter acesso fácil ao vídeo, DVD, projetor multimídia e, no
mínimo, um ponto de internet, para acesso a sites em tempo real pelo
professor ou pelos alunos, quando necessário. MORAN,2009.
A P1 traz em sua fala uma questão de extrema importância ao utilizar o filme
KIRIKU após presenciar a reprodução do racismo na fala de alguns alunos, os
educadores viram no filme um meio de até certa forma inédito para os alunos,
apresentando a cultura africana, buscando desconstruir alguns estereótipos e
preconceitos históricos, reconhecendo e valorizando a diversidade, promovendo
discussões entre os alunos, novos olhares e perspectivas, comprovando desta forma que
o caminho é o diálogo, o colocar-se no lugar do outro, não excluindo.Propicia desta
forma que o aluno conheça a realidade na qual estão inseridas outras comunidades,
outras realidades, além de possibilitar que se construa seu próprio conhecimento,
ajudado pelo direcionamento do professor.Inês Assunção de Castro Teixeira (2006), em
sua obra, também traz uma contribuição importante a respeito do que foi dito:
...Ver filmes, discuti-los, interpretá-los é uma via para ultrapassar as
nossas arraigadas posturas etnocêntricas e avaliações preconceituosas,
construindo um conhecimento descentrado e escapando às posturas
“naturalizantes” do senso comum (TEIXEIRA, 2006, p. 08).
Perguntamos também às professoras quais filmes e vídeos elas costumam usar e
como eles são trabalhados, elas disseram:
P1:Não acredito que tenho um repertório definido de filmes e vídeos. Gosto muito de
inventar, então ao escolher um vídeo penso o que meus alunos e alunas irão achar
daquilo. Se irão se emocionar ou se incomodar. Se acharão engraçado, se conseguirão
se imaginar “dentro dele”...
Já usei documentários, vídeos com brincadeiras, músicas, filmes de animação, desenhos
animados, vídeo aula, trechos de programas de televisão como o mundo de Beackman,
Rá Tim Bum... Varia muito. Eles foram trabalhados com muita conversa, antes, depois
no dia seguinte... Não foi um elemento que “passou na sala de aula para dar oi e ir
embora”, tinha escolhido algo que incomodasse, então a parte do debate é fundamental.
É claro que se for simplesmente uma brincadeira pontual, ou uma música divertida,
pode não gerar grandes debates, mas sim várias gargalhadas.
Um exemplo foram as aulas que costumo trabalhar sobre o 8 de março. Introduzo
algumas questões para “colocar a pulga atrás da orelha” e depois de assistir o curta “
Acorda Raimundo” (onde os papéis sociais do homem e da mulher são trocados) não há
como não haver debate com o propósito de atingir o objetivo, ou seja, fazer com que os
alunos reflitam sobre a condição social da mulher e como esta é desigual. Depois
misturo infográficos, tabelas e perguntas.
Outro caso são as crianças menores, onde costumamos articular os vídeos com a leitura
de livros, conversas prévias e depois a partir do vídeo conversamos de forma
aprofundada sobre o tema, ou fazemos com as crianças o processo de perceber as
inferências, as confluências entre as histórias, ou entre as informações no vídeo e o que
conversamos.
P2:Geralmente são pequenos vídeos no youtube. Apresento uma temática previamente e
após o filme, conversamos sobre o que as crianças conseguiram perceber.
P3:No caso da Matemática começaríamos a trabalhar com calendário. Então,os vídeos
utilizados foram: “Você sabia – História do Calendário” e “Era uma vez os inventores...
as medições do tempo”. Foi feita uma breve introdução em sala de aula sobre o que
iríamos começar a estudar. Os vídeos foram passados e depois eu e os alunos fizemos
uma roda de conversa sobre o que tinham percebido e aprendido nos vídeos. Desta
forma, na sala de aula, fazendo relação com os filmes assistidos, fomos
problematizando e sistematizando os conteúdos a serem trabalhados (dia, mês, ano,
etc...). Além da oportunidade de reflexão sobre outros conteúdos como História e
Geografia.
P4:Leciono a disciplina de Ciências para o 4º ano. Utilizo, por exemplo:
ABC da Astronomia.
Kika em: de onde vem?
Cid, o cientista.
A Era do Gelo – Big Bang.
Vimos que ambas as professoras veem nos filmes e vídeos também uma
oportunidade de socializar os alunos na busca de responder o problema proposto pelo
professor, estando relacionado com as vivências e experiências dos alunos. Percebemos
desta forma que o modo como o professor utiliza o recurso tecnológico nos conteúdos
curriculares faz a diferença na ação pedagógica, uma vez que a inserção da “tecnologia
provoca o debate a respeito do seu uso, bem como o papel do professor e de sua
mediação pedagógica no processo e aprendizagem” (MASETTO, p. 142).
A P1 em sua fala traz um aspecto importante que merece ser destacado ao dizer
que um de seus critérios ao fazer a escolha de tal vídeo é refletir se os alunos irão se
emocionar ou se incomodar, se acharão engraçado, se conseguirão se imaginar “dentro
dele”, percebemos então que responde a imaginação,sensibilidade, afetividade.Sobre
esse assunto Moran comenta que:
A televisão e o vídeo partem do concreto, do visível, do imediato,
próximo - daquilo que toca todos os sentidos. Mexem com o corpo, com
a pele – nos tocam e “tocamos” os outros, estão ao nosso alcance
através dos recortes visuais, do close, do som estéreo envolvente. Pela
TV e pelo vídeo sentimos,experienciamos sensorialmente o outro, o
mundo, nós mesmos. (p. 37).
Percebemos novamente no diálogo desses professores com destaque para a P1
que ela promove constantemente debates, reflexões sobre o conteúdo abordado, como
ela exemplifica ao utilizar o curta “Acorda Raimundo”, com o intuito de perceber as
reações dos alunos diante o que será exposto, quais serão os sentimentos das crianças
em relação aos personagens e situação proposta, a partir disso ela passa a
problematizar,que pode suscitar no questionamento das relações de gênero,
desigualdade e o posicionamento da mulher dentro da sociedade e da família, por
exemplo, como ela comenta, sendo portanto um tema pertinente a atualidade.
Na próxima pergunta buscamos direcionar sobre o que os professores
perceberam quanto as reações dos alunos quando esta prática é utilizada. Obtemos as
seguintes respostas:
P1:Depende... Há vezes em que há bastante euforia, curiosidade, mas principalmente
nas crianças maiores no ensino estadual e municipal, a ideia de comemorar porque não
vão ter aula no dia é muito forte ainda, infelizmente.
No primeiro ano no João XXIII, há um pouco essa sensação também, mas não dá pra
comparar. Parece que quanto mais os anos passam, as práticas vão ficando mais
maçantes e por isso acredito que a relação com o momento de assistir filmes e vídeos
muda. Uma forma de observar isso é que geralmente os menores conversam mais sobre
o filme, já os mais velhos também fazem isso mais a incidência de assuntos não
relacionados ao momento é maior, pois acreditam que não precisam prestar atenção.
Por isso, às vezes é necessário recorrer à solicitação de um relatório ao final do filme
(com as crianças de 5º ano por exemplo): em forma de perguntas objetivas ou
dissertativo. Mas não é algo padrão, depende do objetivo que temos no momento.
P2:Os alunos sempre gostam muito quando são utilizados recursos variados nas aulas,
como vídeos, músicas, filmes, etc.
P3:Depende dos alunos. A maioria gosta muito e é bem atenta. Alguns poucos não
prestam muita atenção, tendem a conversar ou se distraem com outras coisas.
P4:Os estudantes costumam se interessar bastante e participar ativamente da conversa
sobre o tema, após a exibição do vídeo ou filme.
Vimos que as crianças interagem e se envolvem bem na atividade proposta, no
entanto, é necessário destacar que o material didático, por mais fascinante que lhe possa
parecer, não tem a capacidade de, por si só, garantir a aprendizagem de determinado
conteúdo. É sempre necessário que haja, por parte do educador, um respaldo teórico e
pedagógico ao uso de qualquer material. Para contribuir com esta análise
FERRÉS,1996,traz conceitos importantes quanto a compreensão ou elaboração
intelectual, a partir do audiovisual, que pode ser vista em quatro etapas, como ele
descreve abaixo:
1 – Parte-se de um impacto provocado pela integração da imagem e do
som, um impacto que incide globalmente na personalidade.
2- O impacto produz um estado emocional confuso, uma agitação sem
conteúdo preciso, porém que pré-orienta a percpção ou o conhecimento.
3 – Elabora-se o sentido em um ato de compreensão freqüente de tipo
associativo, que não representa apenas distanciamento com relação à
mensagem audiovisual.
4 – Toma-se uma distância reflexiva e crítica mediante a análise da
vivência e da conceitualização.
Diante do que foi dito acima FERRÉS chama atenção quanto a comunicação
daspercepções subjetivas que segundo o autor “ o risco de que no processo de
compreensão da mensagem audiovisual o aluno não supere a fase do impacto
emocional, chegando à distância reflexiva e crítica é superado mediante uma atitude
reflexiva e favorecedora do diálogo” percebemos portanto que o processo tem um papel
fundamental nesse processo e que segundo o autor cabe a esse profissional “estimular a
passagem à racionalidade de uma linguagem que por si mesma não é estritamente de
natureza racional”.
No entanto as professoras se vêem diante de um grande desafio que é conseguir
a atenção e concentração da turma e vêem a necessidade de se adequar ao ritmo de sua
exposição ao grau de atenção dos alunos ou ao nível de compreensão deles, como a P1
relata ao buscar direcionar perguntas objetivas ou dissertativas em função do seu
objetivo, não sendo algo padrão. Tal sistestematização se impõe como base para uma
utilização didática eficaz e como passo fundamental para a descoberta de novas formas
de uso. FERRÉS,1996.
Buscamos direcionar as perguntas quanto as dificuldades e/ou limitações que
foram percebidas ao se utilizar essa tecnologia. Tivemos as seguintes respostas:
P1: A dificuldade número um quando vamos pensar em escola pública como um todo é
a estrutura, mas ao lado disso a formação dos professores. É muito presente em várias
escolas que o filme serve para não dar aula, pura e simplesmente. Tanto que, ao meu
ver, é por isso que as direções privam tanto os professores do uso da sala de vídeo, ou
ao menos fazem uma série de restrições.
A geração nova que está entrando para dar aula agora, tem outra mentalidade, mas ainda
enfrenta a ausência de estrutura e a burocracia.
Outra dificuldade é a forma em que muitas vezes, como já relatei acima, que os alunos
reagem e lidam com o momento em que verão um filme. Às vezes, até em um momento
de fruição, tem dificuldade de acompanhar, interpretar elementos, refletir para além do
filme em si.
A relação com as tecnologias precisam ser orientadas em sala de aula, acho que isso é
um motivo disso acontecer. Me parece difícil ver famílias se juntado para ver filmes,
acho que isso hoje é um pouco mais raro do que há alguns anos atrás. E aí a orientação e
a fruição não acontece em casa e acho que é mais um desafio para nós professores.
Ainda não aprendemos também a explorar mais os vídeos que eles gostam e assistem.
Esse fenômeno dos youtubers onde até eles mesmos às vezes tem um canal, é pouco
explorado por nós.
No colégio, pelo menos no primeiro e quinto ano, sei que há bastante trabalho com os
recursos filme e vídeo, mas sinto que precisamos ir além. Ano passado, praticamente
todos meus alunos que estavam lendo um livro físico haviam escolhido a história de
algum youtuber para ler ou sobre algum jogo de internet. Avançamos nessa relação com
as tecnologias, mas acho que podemos nos aproximar mais dos alunos se pensarmos
nestas outras possibilidades.
P2: Existem salas que apresentam as mídias danificadas e isso prejudica todo o
planejamento.
P3: O que limita um pouco é o fato de nem sempre os recursos estarem disponíveis ou
funcionando.
P4: A maior dificuldade é o equipamento não funcionar na hora em que você precisa
usar ou não ter outro espaço disponível para a realização do trabalho. Isso é frustrante
para o professor e para o aluno. Por isso, testo o equipamento com antecedência para
não ser “pega de surpresa”.
Percebemos com as respostas das professoras que uma das principais
dificuldades se refere a condição do equipamento, que pode apresentar defeito, não
funcionar e com isso prejudicar o planejamento da aula, além do tempo perdido.
Outra questão importante que a P1 levanta é sobre a formação dos professores,
ocasionada muita das vezes como ela comenta, pela ausência na escola de uma reflexão
com um mínimo de profundidade sobre os motivos geradores, sobre as implicações, os
critérios, as formas e o alcance dessa integração, que já foi discutido durante o decorrer
deste trabalho.
Joan Ferres questiona o dilema que a integração do vídeo causa, que segundo ele
“Ou é aceita a nova tecnologia com toda sua capacidade inovadora, assumindo então a
transformação de todo o sistema educativo, ou se subjuga a nova tecnologia, tirando
dela suas vantagens inovadoras e a colocando a serviço da velha pedagogia”
Diante disso o autor traz um breve contexto histórico que é importante destacar,
afim de buscar que as dificuldades para a integração dessa mídia no contexto escola têm
sua origem em diversos fatores, e certamente a maioria deles passa por ausências de
políticas educacionais que organizem e implementem estratégias para sua efetivação,
que infelizmente ainda está presente.
Em Junho de 1981, nas conclusões do Seminário Internacional sobre
Meios Audiovisuais no Sistema Educativo, organizado pelo Ministério
de Educação e Ciência, reconhecia-se que “inexiste uma formação
especifica, sistemática e generalizada do professorado para o uso dos
meios audiovisuais, em todos os níveis educativos. Considera-se que a
política atual de meios audiovisuais não alcançará seu objetivo
enquanto não seja criada uma estratégia de formação de professores
para o uso dos meios audiovisuais. Esre despreparo dos professores foi
considerado a causa fundamental da subutilização de tais meios.
FERRÉS,1996,p.35
Dessa forma percebemos a necessidade de formação de professores e
profissionais da educação em geral nessas questões especificas e em todos os níveis:
“formação técnica e tecnológica, formação expressiva e formação didática”
FERRÉS,1996. Havendo portanto um problema de sensibilidade, uma adaptação a uma
nova cultura, a uma nova maneira de pensar, de ser e de se comunicar, como a P1 relata
sobre a dificuldade em se aproximar mais de seus alunos, explorando os vídeos que eles
mais gostam e assistem, como ela observou no fenômeno dos youtubers que é pouco
explorado pelos professores.
Por intermédio da imagem em movimento pode se potenciar
uma aproximação à realidade. Não se trata de partir da
realidade para chegar ao vídeo, senão de partir do vídeo para
chegar à realidade. Ou para ser mais exato, partir da realidade
para, com a mediação do vídeo, chegar novamente a ela.
(FERRÉS,1996,p.38)
Afim de verificar se o uso desse recurso audiovisual permitiu trabalhar as
dificuldades dos alunos em relação a algum conteúdo de alguma disciplina, tivemos as
seguintes respostas
P1: Com certeza! Lembro-me que por ter trabalhado os conteúdos de ciências com os
vídeos, até mesmo as turmas com mais dificuldade se interessavam pelas curiosidades e
traziam conceitos para os debates em sala.
Quando isso não acontecia, era o incômodo que transparecia a apropriação da
mensagem trazida pelo vídeo. Em 2015 trabalhei com uma turma que era considerada a
pior da escola, e uma das minhas felicidades foi ter conseguido ganhá-los para gostar de
ciências e perguntarem-se sobre coisas que pareciam banais. Trabalhava, sempre que
conseguia com algum vídeo sobre corpo humano e/ou astros e o universo, e um dia
numa competição de questões de conhecimentos gerais, um aluno que era visto como
desinteressado respondeu uma questão sobre o corpo humano que nenhuma outra turma
do quinto ano conseguiu responder. Considero que os vídeos foram essenciais para que
o W. respondesse aquela pergunta, pois ele se divertia e observava atentamente o que
acontecia em nossas aulas.
Nos trabalhos que realizei com o 8 de março também fiquei bastante satisfeita com o
impacto que o curta gerou nos debates e era o ponto onde as adolescentes tomavam as
rédeas e seu lugar na discussão. Foi o que “levantou” a bola para fazer com que
refletissem a desigualdade que impera até hoje nas relações de gênero.
P2: RESPOSTA AUSENTE.
P3: Como disse, não uso estes recursos com frequência. No entanto, naquela ocasião
alguns alunos tiveram facilidade ou conseguiram compreender melhor algo que estava
sendo dito em sala quando se recordavam de determinada cena ou acontecimento do
filme.
P4: Acredito que esse recurso auxilia significativamente no trabalho das dificuldades
apresentadas pelos alunos, desde que o professor tenha essa preocupação.
Ambas as professoras relataram fazer uso desta ferramenta para facilitar o
processo de ensino e aprendizagem, retomando o que já estávamos discutindo, sendo
também um momento o qual é disponibilizado para a criança criar novos conceitos e
possibilidades, elas se mostraram satisfeitas e felizes com os resultados, percebendo que
foi significativo para os alunos diante o envolvimento que perceberam, além também de
ser uma forma das crianças se identificarem e terem certo gosto e prazer com a
disciplina.
A questão seguinte sobre quais reflexões dos alunos o chamaram mais atenção
que foi encadeada faz referência a experimentação dos alunos no processo de aquisição
do conhecimento antes desconhecido, que já foi muito exemplificado pela P1 nas
questões anteriores. Porém esta pergunta foi um momento mais especifico e
direcionadopara explanar as experiências pessoais de exemplificação, caso houvesse,
sobre o tema. Acreditamos na necessidade de conhecer estas relações para que os
leitores desse artigo conheçam a realidade destas professoras entrevistadas que
compartilharam suas experiências com a docência.
P1:Sim. Os casos que mais me chamaram a atenção foram os que citei anteriormente.
P2:Sim. Eles sempre percebem algo que nós ainda não tínhamos notado.
P3:Com certeza. Em muitas questões trabalhadas em sala eles recorriam aos vídeos
como um suporte para suas falas. Comentavam sobre a evolução das formas de se
medir o tempo, como antes era mais difícil e hoje temos acesso fácil a muitas coisas.
Além de despertar muito a curiosidade sobre algo que era novo pra elas, como as
maneiras antigas de se medir o tempo. Por que era assim? Como era feito?...
P4:Sem dúvida, permitem! A reflexão mais recente foi a de um aluno que chegou à
conclusão que um dia o Sol vai morrer, já que toda estrela um dia morre. Ele disse isso
durante a conversa após assistir ao vídeo sobre o Sol. Fiquei emocionada!
Assim percebemos que estes diálogos se direcionam para sua autorreflexão para
o âmbito da ludicidade, das interações emergentes entre as crianças na dinâmica
recorrente com o uso do material e os conflitos decorrentes da subjetividade de cada
sujeito. Tais relações são apresentadas por Lorenzato (2006) Passos e Romanatto
(2010) quando as relações humanas fazem parte da vida cotidiana e da construção das relações
sociais diretas deste aluno, de forma que estes sujeitos aprendam interagir interagindo.
Como última questão procuramos que elas sintetizassem tudo o que já haviam
dito, como forma de aconselhar um professor recém-formado no trabalho com vídeos e
filmes, sugerindo, idéias, dicas... Tivemos as seguintes respostas:
P1:O primeiro passo para se trabalhar com este recurso é definir o que se pretende:
introduzir algum conteúdo? Levantar questões sobre algum tema? Abordar esse tema de
maneira divertida? Auxiliar na memorização de algum conceito? Auxiliar a
compreensão de algum conceito? Mostrar a mesma informação a partir de um outro
ângulo? Gerar um debate sobre uma questão que se desdobra a partir do conteúdo
trabalhado? Ilustrar um conceito ou conteúdo trabalhado? Essa pergunta é definida a
partir do ponto em que está seu planejamento e do objetivo que pretende no momento
em que utilizará este recurso. Dependendo deste será necessário programar um tempo
para apresentar o filme/vídeo mais de uma vez ou em pequenos capítulos dependendo
da complexidade do tema, faixa etária ou ritmo do público (turma).
O segundo passo é escolher um bom vídeo. Há várias sugestões e/ou socializações de
práticas que obtiveram êxito em sala que podem nortear as primeiras vezes em que for
escolher um vídeo. Se houver um clima propício na escola é possível trocar sugestões
com colegas que dão aula na mesma turma ou trabalham o tema.
O terceiro é a organização da estrutura para apresentar o vídeo e a organização do
planejamento para que tudo corra o mais próximo do que se pretende de acordo com o
tempo disponível e dentro da organização da escola: Organizar o data show ou a
televisão certificar-se que o vídeo está em uma boa qualidade de áudio e vídeo, se está
disponível em versão dublada ou legendada, ou às vezes, mesmo sendo no mesmo
idioma que o dos alunos é necessário apresentara alguns elementos escritos. Assistir o
filme com antecedência é importante. Nesse momento já é possível perceber se será
necessário convidar algum debatedor ou preparar um relatório para que as crianças
escrevam posteriormente informações relevantes, ou planejar um roteiro que
acompanhe o momento do vídeo.
O quarto e último momento é o do planejamento. Sabendo a duração do filme é possível
organizar qual modelo de atividade será proposto e quanto tempo será destinado a um
debate anterior ou posterior. É fundamental pensar em alguma forma para introduzir o
tema do vídeo, seja por uma conversa, uma questão que seja inquietante. Pode ser que
seja necessário se pensar em vez de um plano de aula uma sequência didática para se
atingir o objetivo com a utilização destes recursos.
P2: Todos os recursos audiovisuais são muito ricos no que diz respeito ao processo de
ensino e aprendizagem e é fundamental que o professor busque diversificar nos meios
de dar suas aulas, visando maior interesse e participação de seus alunos.
P3: Que faça o uso destes e outros recursos sempre que achar útil e necessário. Mas que
não seja qualquer filme ou vídeo para passar o tempo e preencher o horário. É preciso
que seja uma oportunidade de aprender e refletir de forma prazerosa, enriquecimento ou
introdução de algum conteúdo trabalhado e possibilidade de conversas,
questionamentos e interação entre alunos e professor.
P4:A minha dica é que o recurso audiovisual não é para ser utilizado como um
instrumento para tornar a aula divertida ou interessante. Mas, como recurso para a
estratégia de ensino sobre um assunto, tema ou desenvolvimento de uma habilidade,
como por exemplo, saber identificar o conhecimento científico abordado pelo filme ou
vídeo.
Assim, percebemos a retomada da questão central do nosso estudo que está
ligada a importância desta ferramenta para a facilitação da aprendizagem como dito em
outros diversos momentos. Retomando também a importância do planejamento para que
estas experiências sejam bem trabalhadas e exploradas e outras questões centrais como
a natureza e o tipo de mensagem transmitida, a função de comunicação esperada, o
público e as condições materiais de utilização. FERRÉS, 1996.
CONCLUSÃO:
A colaboração das professoras compartilhando conosco suas práticas em sala de
aula referentes ao uso de vídeos e filme foi de extrema importância, percebemos que
estas tecem relações entre teoria e prática, isso significa que suas percepções têm
relação com aquilo que nós vimos nas teorias citadas ao longo do texto por alguns
autores e estudiosos da área.
Podemos, portanto perceber que o uso desse audiovisual são ferramentas para
diferentes possibilidades, tanto no auxílio para o processo de ensino-aprendizagem de
conteúdos e conceitos, atividade lúdica e socialização, que foi sendo discutido. Durante
o meu envolvimento com o tema pude perceber a importância olhar do professor para o
seu aluno, que se torna indispensável para a construção sua aprendizagem. Isto inclui
dar garantia as suas idéias, valorizar sugestões, analisar, acompanhar seu
desenvolvimento. Portanto, não se deve reduzir o recurso audiovisual somente à técnica,
a eficiência resulta de uma questão de linguagem e discurso que necessitam permear o
cotidiano que envolvem tais recursos, sendo importante ficar evidente que essas
tecnologias não substituem o papel do professor.
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