incÊndio de fertilizante
Post on 24-Oct-2015
59 Views
Preview:
TRANSCRIPT
~ 1 ~
CENTRO DE APOIO CIENTÍFICO PARA DESASTRES DA UNI-
VERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
RELATÓRIO DA MISSÃO DO INCÊNDIO QUÍMICO NO
PORTO DE SÃO FRANSCICO DO SUL – SC
CURITIBA – DEZEMBRO DE 2013
WILSON A. SOARES E GEORGES KASKANTZIS
~ 2 ~
INTRODUÇÃO
Neste relatório se encontram apresentadas as atividades desen-
volvidas na missão de avaliação do incêndio químico ocorrido, do mês de
setembro do ano de 2013, nas instalações da empresa onde se encontrava
armazenado o fertilizante incendiado, no porto de São Francisco do Sul, do
Estado de Santa Catarina.
Os objetivos da missão foram obter conhecimentos a respeito do
atendimento a emergência e conhecer as consequências que decorrem dos
eventos acidentais dessa natureza.
Participaram da missão do CENACID o físico WILSON ALCÂN-
TARA SOARES e o engenheiro químico Georges Kaskantzis, professores
da Universidade Federal do Paraná – UFPR. A missão foi realizada no dia
XX de setembro de 2013.
Com a realização da missão verificou-se que eventos acidentes
envolvendo incêndio químico são de alta de complexidade requerendo trei-
namento específico das equipes de atendimento a emergência, e que estes
acidentes produzem consequências de grande importância e magnitude.
Com base no resultado da missão realizada também identificou-
se a oportunidade do desenvolvimento por parte do CENACID do curso de
capacitação de profissional dos profissionais da área de segurança, saúde
e de meio ambiente, visando o atendimento de incêndios químicos. A se-
guir, apresentam-se o histórico resumido do acidente, as atividades reali-
zadas na sequencia as considerações a respeito da missão executada.
~ 3 ~
VISITA DA ZONA QUENTE
O incêndio químico do fertilizante armazenado nos galpões
da empresa Global Logística iniciou na noite no dia 24 do mês de setem-
bro do ano de 2013 e foi um evento de grande repercussão, tendo atra-
ído o interesse da impressa nacional e internacional.
Este evento acidental foi de média importância e grande mag-
nitude em razão dos reagentes das reações que se desenvolveram no
incêndio químico, tais como: o nitrato de amônio; o difosfato de amônio
e o cloreto de potássio, terem, provavelmente formado gases, partículas
e vapores tóxicos e perigosos. As dez mil toneladas do produto incendi-
ado denominado NPK, se encontrava armazenado no porto de São Fran-
cisco do Sul do Estado de Santa Catarina.
A pedido do professor Wilson Alcântara Soares e com o apoio
da atual Coordenadora do CENACID, a Dra. JUCIARA CARVALHO LEITE,
a equipe se preparou rapidamente tendo seguido pela rodovia BR376
para o Município de São Francisco do Sul. Adotando os procedimentos
padrões do CENACID, ao chegar em São Francisco do Sul a equipe do
seguiu para o quartel base do Corpo de Bombeiros Voluntário do muni-
cípio para obter as informação e as orientações de como deveria proce-
der para visitar o local do acidente, caso fosse autorizada para executar
tal atividade. O comandante dos Bombeiros do município de Guarami-
rim, LAURY CARLOS LEITE explicou a equipe do CENACID que a e-
mergência tinha sido controlada, assim como, a rotina de trabalho ado-
tada pelas equipes de combate ao incêndio. Basicamente, a cada três
~ 4 ~
de trabalho, a equipe era substituída, e os soldados combatentes que
eram substituídos da labuta recebiam atenção especial de uma equipe
de técnico da área da segurança e da medicina do trabalho, que lhes
fornecia líquidos e nutrientes adequados para a hidratação e desconta-
minação do corpo.
Após ter descritos as rotinas e os procedimentos de trabalho
das equipes de combate a emergência, o comandante solicitou a equipe
dos soldados que estava se dirigindo para o local do desastre que nos
acompanhasse visando a facilitar o acesso à área controlada, chamada”
zona quente”. Na FIGURA 1, encontra-se indicada a zona “quente” con-
trolada pelos militares que foi visitada pela equipe do CENACID.
FIGURA 1. IMAGEM DA ENTRADA CONTROLADA PELO EXÉRCITO
DA ÁREA DE VULNERABILIDADE DO INCÊNDIO QUÍMICO OCOR-
RIDO NO MUNICÍPIO DE SÃO FRANSCISCO DO SUL, DO ESTADO
DE SANTA CATARINA, BRASIL. [FOTO: CENACID].
~ 5 ~
Na FIGURA 2, pode-se observar um dos membros da equipe
do CENACID, WILSON ALCÂNTARA SOARES, registrando imagens
das instalações destruídas pelo incêndio sem chama do fertilizante NPK.
FIGURA 2. PESQUISADOR DO CENTRO DE APOIO CIENTÍFICO PARA DE-
SASTRES – CENACID, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR.
[FOTO: CENACID]
Nas diligências realizadas na área do incêndio observou-se a
estrutura que as equipes da defesa civil, do exército, da marinha, do porto
e do corpo de bombeiros haviam construído em aproximadamente 24h para
combater o incêndio. Na FIGURA 3, apresenta-se uma vista geral da estru-
tura de atendimento do acidente, onde se pode notar uma grande barraca
da cor branca e ônibus do corpo de bombeiros onde se concentravam as
atividades de logística e comando das equipes de combate ao incêndio quí-
mico. Estima-se que tenham participado do atendimento da emergência,
cerca de 350 pessoas, incluídos os técnicos da CIESP e da VALE FÉRTIL.
~ 6 ~
FIGURA 2. VISTA GERAL DA ESTRUTURA CONSTRUÍDA PELAS AUTORI-
DADES PARA COMBATER O INCÊNDIO QUÍMICO OCORRIDO NO PORTO
DE SÃO FRANCISCO DO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA, BRASIL.
[FOTO: CENACID]
A questão no âmbito dos incêndios químicos observada pela equipe do
CENACID durante as entrevistas realizadas foi visibilidade do foco do incêndio,
visto que o incêndio químico se desenvolve sem a formação de chama. Con-
versando com as autoridades, observou-se que no atendimento preliminar da
emergência, que iniciou em torno das 22:00h, houve certa dificuldade para lo-
calizar o ponto central da reação, pois além da falta de iluminação havia tam-
bém muita fumaça no local onde o fertilizante estava em combustão. Nesta
primeira tentativa de extinguir a fogo que não se podia perceber, provavelmente
aconteceu a grave intoxicação do bombeiro da corporação.
A solução encontrada para ultrapassar essa dificuldade foi o emprego do
pirômetro cujo funcionamento não depende da luminosidade sendo apenas
função da energia de radiação emitida pela reação de combustão. Aprendida a
lição do pirômetro, a seguir, deverão ser apresentadas algumas das múltiplas
consequências do incêndio químico de São Francisco do Sul.
~ 7 ~
AS CONSEQUÊNCIAS
O incêndio químico ocorrido no porto de São Francisco pode
ser considerado como de grandes proporções. A fumaça produzida pe-
las reações, de combustão e de outras, que se desenvolveram em série
e também em paralelo com a primeira pode provocar: tosse, irritação dos
olhos e da derme e se for inalada além máximo intervalo de tempo pode
suportado pelo homem, pode provocar a morte do receptor, porque nos
produtos destas reações se encontram vapores tóxicos, corrosivos e in-
flamáveis. Dependendo da condição de temperatura na qual a reação se
desenvolve os produtos podem variar, conforme explicado na seção.
À medida que as reações de degradação do fertilizante avan-
çavam as incertezas de como combater o fogo invisível persistiam, o que
é natural quando se depara com uma situação nunca antes enfrentada,
o volume de gases, vapores e particulados formado tornou-se perigoso
para as comunidades que moram no entorno do local do acidente, resul-
tando a fuga da população.
Diante do quadro estabelecido, as autoridades decidiram pela
evacuação da zona “quente”, significando que executaram rapidamente
a ação correta, evitando desse modo uma tragédia de maior proporção.
Apesar da decisão acertada dos comandantes, cerca de, sessenta aten-
didos foram registrados nos estabelecimentos de cuidados da saúde. A
população retirada dos bairros vizinhos que, provavelmente seria afe-
tada pela fumaça do incêndio químico foi alojada nos municípios vizinhos
de São Francisco do Sul, tendo sido tratada com atenção e suprida com
~ 8 ~
água e alimentos. Segundo divulgado pela imprensa que fez a cobertura
do evento, a Prefeitura do Município dos fatos teria distribuído, cerca de,
5 mil máscara para a população. Na ocasião da missão o CENACID,
notou-se a completa paralização das atividades de turismo e comerciais
localizadas, notadamente na região central da cidade. Na FIGURA 3,
apresenta-se a situação da área central da cidade.
FIGURA 3. MOSAICO DE IMAGENS DO CENTRO DA CIDADE OBSERVADA
DURANTE A MISSÃO EXECUTADA PELA EQUIPE DO CENACID.
~ 9 ~
Quanto às consequências ambientais do acidente, pode-se afir-
mar que houve impactos negativos significantes em determinados com-
ponentes dos ecossistemas, como, por exemplo, deposição de materiais
particulados nas águas salinas, no solo e na flora e a significativa altera-
ção reversível da qualidade do ar. A quantidade de resíduos sólidos e de
efluentes líquidos produzidos em razão do acidente também devem ser
considerados no balanço dos danos ambientes decorrentes do acidente.
Na FIGURA 4 se pode observar a extensão da nuvem de gases
produzida pelo acidente que dispersou na atmosfera. Nas FIGURAS 5 e
6 podem ser observados a retirada de 400 mil litros de efluentes e os
resíduos oriundos da combustão do fertilizante e das atividades de com-
bate do acidente, respectivamente.
FIGURA 4. VISTA AÉREA DA NUVEM DOS PRODUTOS GASOSOS DA REA-
ÇÃO DE COMBUSTÃO DO NPK QUE DISPERSOU NO ATMOSFERA DOS ES-
TADOS DE SANTA CATARINA E DO PARANÁ.
~ 10 ~
FIGURA 6. RESIDUOS SÓLIDOS PRODUZIDOS PELO INCÊNDIO QUIMICO
OCORRIDO NO PORTO DE SÃO FRANCISCO DO SUL, SC.
A seguir apresentam-se os resultados da matriz de compatibi-
lidade química de compostos envolvidos no cenário ambiental.
~ 11 ~
MATRIZ DE COMPATIBILIDADE QUÍMICA
Antes discutir a termodinâmica das mudanças das energias das
reações em tela, apresenta-se uma questão de interesse dos acidentes
que envolvem reações químicas. Deve-se também citar que a composi-
ção do fertilizante adotada neste estudo de caso não é necessariamente
aquela da mistura dos produtos incendiados, porque a mistura NPK co-
mercia pode apresentar outras composições dependendo do fabricante.
Os fertilizantes fabricados a base de nitrogênio, fósforo e potás-
sio contém um grande n° de compostos na sua formulação, significando
que a reação de combustão não foi singular, ocorrendo de maneiras múl-
tipla o aumenta o perigo e o risco dos acidentes nessa natureza.
Neste estudo adotou-se os 4 (quatro) principais compostos do
NPK: o cloreto de amônia (NH4Cl); o nitrato de amônia (NH4NO3); o
cloreto de potássio (KCl) e o difosfato de amônia ((NH4)2HPO4), tendo
sido usada a técnica denominada matriz de incompatibilidade química, a
qual foi elaborada pela Agencia de Proteção Ambiental EPA dos Estados
Unidos da América do Norte. Além dos citados composto, também foram
considerados nas reações o oxigênio, o nitrogênio e o vapor de água da
atmosfera (umidade relativa do ar).
A temperatura do padrão de referência adotada para calcular as
mudanças das energias foi aquele do dia do evento acidental. Os resul-
tados da matriz de compatibilidade da mistura dos produtos constituintes
da mistura de NPK estão indicados na FIGURA 4.
~ 12 ~
FIGURA 4. MATRIZ DE COMPATIBILIDADE QUÍMICA DOS COMPOS-
TOS QUE FORMAM A MISTURA DO FERTILIZANTE NPK INCENDIADO
Inspecionando os resultados da matriz verifica-se que os produ-
tos da fórmula do fertilizante quando em contato com água, oxigênio, nitro-
gênio e vapor de água podem realizar cerca de, 21 reações. Deste total, as
seis reações compatíveis da matriz estão indicadas na células de cor verde,
as duas células que estão destacadas com a cor amarela na matriz são
aquelas reações instáveis, devendo ser conduzidas com atenção e cui-
dado, e, finalmente as13 reações incompatíveis indicadas pelas células da
cor vermelha representam mais da metade de todas as reações potenciais.
Os produtos originados pelas reações incompatíveis foram: óxi-
dos de nitrogênio; sulfetos de hidrogênio e de carbonila; cianeto hidrogênio,
vapor de amônia e de água.
~ 13 ~
PRODUTOS DO INCÊNDIO QUÍMICO
Em virtude da ocorrência do acidente de São Francisco e inte-
resse despertado nos fenômenos que se desenvolvem no incêndio quí-
mico, isto é, nas reações de combustão do NPK, a equipe do CENACID
realizou um breve estudo do comportamento das energias envolvidas
nestas reações, visando a verificação da espontaneidade das potenciais
reações envolvidas no evento acidental, bem como, os aspectos tóxicos
dos produtos supostamente formados pelas citadas reações.
É importante observar que as reações e os produtos formados a
partir destas não são necessariamente aqueles que foram produzidos no
incêndio químico de São Francisco de Sul. O estudo desenvolvido para
ser usado no curso de treinamento do futuros integrantes do CENACID.
Composição Básica do NPK
O fertilizante NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) é constituído ba-
sicamente de nitrogênio, fósforo e potássio os quais são incorporados
no produto comercial na forma de sais, ácidos e bases inorgânicos tais
como: o cloreto de amônia (NH4Cl); o nitrato de amônia (NH4NO3); o
cloreto de potássio (KCl) e o difosfato de amônia ((NH4)2HPO4) e outros
compostos intermediários e auxiliares não foram considerados. Como se
trata de reação de combustão, o primeiro passo realizado foi a determi-
nação dos coeficientes estequiométricos das reação investigada, princi-
palmente aquelas de combustão do fertilizante envolvido no acidente.
~ 14 ~
Reações de combustão do cloreto de amônio
NH4Cl + 2 O2 (g) = HNO3 (g) + HCl(g) + H2O (R1)
NH4Cl + 2,25 O2 (g) = NO3 (g) + HCl(g) + 1,5H2O (R2)
NH4Cl + 3 O2 (g) = 2NO (g) + Cl2(g) + 4 H2O (R3)
2 NH4Cl + 5 O2 (g) = 2 NO3 (g) + Cl2(g) + 4 H2O (R4)
As equações estequiométricas elementares da oxidação do clo-
reto de amônio indicam que os produtos usualmente formados nesta
reação são cloro vapor, ácido clorídrico, vapor de água, ácido nítrico
vapor e os óxidos de nitrogênio.
Outros produtos podem se formar, dependendo das condições
de temperatura e de pressão do sistema reacional, mas, neste estudo
foram consideradas apenas as reações cujas mudanças das energias
de entalpia, entropia e energia livre indicam que a reação é favorável,
espontânea e exotérmica, uma vez que a reação deverá ocorrer a tem-
peratura ambiente sem a introdução de energia na forma de calor no
sistema reacional.
Os valores das mudanças das energias de cada uma das qua-
tro reações de combustão do cloreto de amônio se encontram apresen-
tados na TABELA 1. Repetindo esse procedimento para os demais rea-
gentes, isto é, o nitrato de amônio, difosfato de amônio e cloreto de po-
tássio obtém-se os demais resultados apresentados na tabela.
~ 15 ~
TABELA 1. MUDANÇAS DE ENERGIAS DAS REAÇÕES DE COMBUSTÃO FA-
VORÁVEIS, ESPONTÂNEAS E EXOTÉRMICAS DO CLORETO DE AMÔNIO
REAÇÃO ∆H (kcal) ∆S (cal K-1) ∆G(kcal) Log(K)
(R1) -40,965 24,008 -59,527 16,828
(R2) -20,610 31,423 -449,05 12,695
(R3) -46,288 124,986 -142,921 40,403
(R4) -55,311 46,565 -91,313 25,814
(R5) -6,110 182,882 -147,505 41,699
(R6) -12,078 12,020 -22,145 6,260
(R7) -52,788 -1,809 -51,389 14,528
(R8) -30,811 55,236 -73,516 20,783
(R9) -8,770 80,930 -71,341 20,168
(R10) -25,696 170,282 -157,623 44,56
(R11) -44,595 4,127 -47,786 13,509
(R12) -85,124 63,294 -134,059 37,989
Reações de combustão do nitrato de amônio
2 NH4NO3 + O2 (g) = 4NO3 (g) + H2O (R5)
NH4NO3 + 2,5 O2 (g) = 2NO3 (g) + 2H2O (R6)
NH4NO3 + 2 O2 (g) = 2 HNO3 (g) + 4 H2O (R7)
NH4NO3 + 1,5 O2 (g) = 2 NO2 (g) + 2 H2O (R8)
Reação de combustão do difosfato de amônio
(NH4)2HPO4 + O2 (g) = 4NO3 (g) + H2O (R9)
(NH4)2HPO4 + 1,25 O2 (g) = 2NO (g) + 1,5H2O + H3PO4(l) (R10)
(NH4)2HPO4 + 4 O2 (g) = 2 HNO3 (g) + 2H2O (g) + H3PO4(l) (R11)
(NH4)2HPO4 + 5 O2 (g) = 2 HNO3(g) + 2 H2O2 (g) + H3PO4 (l) (R12)
~ 16 ~
FIGURA 7. MUDANÇA DA ENERGIA LIVRE DAS REAÇÕES DE COMBUSTÃO
FIGURA 8. MUDANÇA DA ENTALPIA DAS REAÇÕES DE COMBUSTÃO DO NPK
Analisando os resultados das propriedades termodinâmicas das re-
ações de combustão estequiométrica do fertilizante pode-se verificar que
as três reações mais favoráveis em termos da energia livre são as reações
do difosfato de amônio com oxigênio (R10 = -157,62 kcal), do nitrato de
amônio com oxigênio (R5 = -147,51kcal) e cloreto de amônio com O2 (R3 =
- 142, 92 kcal).
-59.53
-44.91
-142.92
-91.31
-147.51
-22.15
-51.39
-73.52-71.34
-157.62
-47.79
-134.06
-180.0
-160.0
-140.0
-120.0
-100.0
-80.0
-60.0
-40.0
-20.0
0.0
R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 R8 R9 R10 R11 R12
En
erg
ia L
ivre
(kcal)
-40.97
-20.61
-46.29
-55.31
-6.11
-12.08
-52.79
-30.81
-8.77
-25.70
-44.60
-85.12-90.00
-80.00
-70.00
-60.00
-50.00
-40.00
-30.00
-20.00
-10.00
0.00
R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 R8 R9 R10 R11 R12
EN
TA
LP
IA (
Kcal)
~ 17 ~
Os resultados da tabela indicam também que as reações com os
maiores valores das mudanças de entalpia, isto é, as reação que liberam
as maiores quantidades de energia (calor). Estas reações são R12 = –
85,12 kcal; R4 = – 55,31 kcal e a R7 = – 52,79 kcal.
Considerando que três dos quatro constituintes do fertilizante es-
tão incluídos na lista das reações favoráveis decidiu-se balancear mais
uma vez a os coeficientes estequiométricos incluindo todos os compo-
nentes do NPK, tendo sido obtido:
2(NH4)2HPO4 + 2NH4NO3 + 4NH4Cl + 15,5O2
= 8NO(g) + 2NO3 (g) + 17H2O(g) + 2Cl2 (g) + 2HNO3 (g) + 2H3PO4 (l)
A partir do balanço estequiométrico da equação química geral de
combustão do fertilizante verifica-se que 23,5 mols de reagente reagem
para formar 33 mols de produtos. Os produtos da reação global são óxidos
de nitrogênio, vapor de cloro, ácido nítrico vapor, ácido fosfórico liquido, e
vapor de água. Fazendo o balaço de massa da reação obtém-se os resul-
tados que se encontram apresentados nas TABELAS 2 - 3.
Com os resultados apresentados nas tabela e a massa molecu-
lar média do NPK pode-se estimar as quantidades de gases que, suposta-
mente teriam se formado no acidente de São Francisco do Sul. Adotando
a massa molecular do NPK igual a 84,79 kg kmol-1 e supondo que toda a
massa dos reagentes se converte em produtos obtém-se o número total de
mols dos produtos formados ou que poderiam ser formados no incêndio.
N° de mols do NPK disponível =10 × 108
84,79(
kg
kgkmol
) = 117.938,44 kmols
~ 18 ~
TABELA 2. REAGENTES E PRODUTOS FORMADOS PELAS REAÇÕES DE COM-
BUSTÃO DO FERTILIZANTE.
Composto MW (g/mol) C (p%) C (mol) Massa (g) Volume (L)
(NH4)2HPO4 132.056 23.287 2.000 264.112 0.000
NH4NO3 80.043 14.115 2.000 160.086 92.804
NH4Cl 53.491 18.866 4.000 213.965 0.000
O2(g) 31.999 43.732 15.500 495.981 347.411
Soma 23.500 1134.145 440.215
NO(g) 30.006 21.166 8.000 240.049 179.309
NO3(g) 62.005 10.934 2.000 124.010 44.827
H2O(g) 18.015 27.003 17.000 306.258 381.031
Cl2(g) 70.906 12.504 2.000 141.812 44.827
H3PO4(l) 97.995 17.281 2.000 195.990 0.000
HNO3(g) 63.013 11.112 2.000 126.026 44.827
Soma 33.000 1134.145 694.822
TABELA 3. VALORES DAS MUDANÇAS DE ENERGIA E DA CONSTANTE DE E-QUILÍBRIO TERMODINÂMICO DA REAÇÃO DE COMBUSTÃO DOS CONSTITUIN-TES DO FERTILIZANTE.
T (K) H (kcal) S (cal K-1) G (kcal) K Log(K)
273.150 -229.975 575.533 -387.182 1.000E+308 308.000
373.150 -225.013 591.245 -445.636 1.060E+261 261.025
473.150 -244.686 547.179 -503.584 4.232E+232 232.627
573.150 -238.972 558.139 -558.869 1.324E+213 213.122
673.150 -233.446 567.031 -615.143 5.414E+199 199.734
773.150 -228.222 574.272 -672.221 1.085E+190 190.035
873.150 -223.347 580.207 -729.954 5.284E+182 182.723
973.150 -218.850 585.08 -788.227 1.083E+177 177.035
1073.150 -214.786 589.065 -846.941 3.134E+172 172.496
1173.150 -211.194 592.269 -906.014 6.284E+168 168.798
1273.150 -208.123 594.784 -965.372 5.373E+165 165.730
1373.150 -205.618 596.681 -1024.950 1.393E+163 163.144
1473.150 -203.722 598.016 -1084.690 8.570E+160 160.933
1573.150 -202.473 598.839 -1144.537 1.042E+159 159.018
~ 19 ~
TABELA 4. FRAÇÕES MOLARES E MÁSSICAS DOS PRODUTOS DA REAÇÃO
REAGENTES C (mol) Massa (Kg) Volume (L)
NO(g) 8.00 240.05 179.31
NO3(g) 2.00 124.01 44.83
H2O(g) 17.00 306.26 381.03
Cl2(g) 2.00 141.81 44.83
H3PO4(l) 2.00 195.99 0.00
HNO3(g) 2.00 126.03 44.83
Soma 33.00 1134.15 694.82
Frações W (massa) X (molar) Y (molar)
NO(g) 0.2424 0.2117 0.2581
NO3(g) 0.0606 0.1093 0.0645
H2O(g) 0.5152 0.2700 0.5484
Cl2(g) 0.0606 0.1250 0.0645
H3PO4(l) 0.0606 0.1728 0.0000
HNO3(g) 0.0606 0.1111 0.0645
Soma 1.0000 1.0000 1.0000
TABELA 5. COMPOSIÇÃO TÉORICA DOS PRODUTOS DA REAÇÃO.
T (°C) Mols (kmols) Massa (Kg) Volume (Nm3)
TOTAL 298.15 235000.0 11341447.19 3.533.559.01
(NH4)2HPO4 298.15 20000.0 2641117.25 ---
NH4NO3 298.15 20000.0 1600863.95 928.08
NH4Cl 298.15 40000.0 .---- ---
O2(g) 298.15 155000.0 4959814.04 3532630.97
SAÍDA
TOTAL 298.15 330000.0 11341447.16 6.954.105.44
NO(g) 298.15 8.00E+04 2400487.98 1791408.89
NO3(g) 298.15 2.00E+04 1240098.04 448272.00
H2O(g) 298.15 1.70E+05 3062583.94 3810312.00
Cl2(g) 298.15 2.00E+04 1418119.97 455840.55
H3PO4(l) 298.15 2.00E+04 1959901.28 ---
HNO3(g) 298.15 2.00E+04 1260255.97 448272.00
Na TABELA 4, se pode observar as frações mássicas e molares
da mistura reagente, as quais podem ser adotadas para calcular o número
de mols nos gases e vapores produzidos da combustão do fertilizante. Os
resultados dessa etapa se encontram indicados na TABELA 5.
~ 20 ~
Inspecionando a TABELA 5, pode-se notar que, teoricamente
poderiam ser produzidos ou foram produzidos, cerca de, 7,0 (sete) milhões
de metros cúbico de gases, na sua grande maioria, perigosos. Por exemplo,
o vapor de Cl2 em contato com a vapor de água do ar se converte em ácido
clorídrico e, dependendo da condição do tempo também pode precipitar. O
ácido fosfórico não evapora na condição de referência padrão adota nesse
relatório para calcular as mudanças das energias, mas, na temperatura que
se desenvolvem as reações de combustão, certamente também evapora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo finalizado a descrição das atividades executadas pela e-
quipe do CENACID na missão de avaliação do incêndio químico ocorrido
no porto de São Francisco do Sul nesta seção apresentação as considera-
ções finais do relatório.
Lições aprendidas:
Os incêndio químicos são evento acidentais complexo, apresen-
tado dificuldades para combatê-lo notadamente em razão de ine-
xistência de labaredas;
No combate dos incêndio químicos é requerido o emprego de pirô-
metro visando a localização do foco central do incêndio, principal-
mente se o atendimento a emergência for noturno;
Os incêndios químicos produzem vapores tóxicos e perigosos, de-
vendo ser combatidos com atenção e cuidado;
~ 21 ~
No acidente, estima-se que tenha sidos produzidos 7 milhões de
metros cúbicos de gases na temperatura de 273,15 K e 1atm;
Os incêndios químicos se desenvolvem consumindo uma grande
quantidade de oxigênio, como indicado na reação de combustão do
NPK, significando que a supressão ou a diminuição da concentra-
ção deste nos incêndios químicos também pode ser uma alterna-
tiva para extinguir o evento;
Em virtude do aspecto dos resíduos do incêndio podem ter ocorrido
reações de polimerização da mistura dos constituintes do NPK;
A retirada da população dos bairros localizados no entorno da zona
perigosa foi uma decisão correta realizadas pelas autoridades que
coordenaram as equipes de atendimento a emergência;
Pode-se verificar in loco que as equipes de emergência do Estado
de Santa Catarina atuam de maneira coordenada e possuem uma
boa infraestrutura e equipamentos para o atendimento de aciden-
tes de diferentes natureza.
Levando em conta a complexidade do evento acidental e o inedi-
tismo do incêndio químico, pode-se observar que o desempenho
das equipes de atendimento da emergência foi muito bom.
Findo o relatório da missão. Curitiba 02/12/2013.
top related