joÃo do rio e as representaÇÕes do rio de … · de certa forma uma escolha paradoxal, ao ser o...
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JOÃO DO RIO E AS REPRESENTAÇÕES DO RIO DE
JANEIRO: O ARTISTA, O REPÓRTER E O ARTÍFICIO
A FRÍVOLA CITY DE JOÃO DO RIO
Aluna: Michelle de Souza Egito
Orientador: Renato Cordeiro Gomes
Introdução
Paulo Barreto – ou João do Rio – foi um dos principais literato e jornalista de sua
geração. Com uma extensa obra que tem principalmente como tema de fundo os
costumes, as práticas sociais cariocas, e o cotidiano urbano, o escritor como um
explorador, revela suas experiências nos diversos grupos sociais, no início do século
XX, em que o Rio de Janeiro vivia a Belle Époque.
Um dos grupos que João do Rio elege como principal e que aparece com grande
frequência como tema de seus textos, é a elite da sociedade carioca, camadas
aburguesadas que ele chamava “encantadores”, em oposição à “canalha”, a classe mais
popular de trabalhadores e mendigos. Esse segmento urbano aí representado é um Rio
de Janeiro recortado onde cabem apenas os prazeres reservados à essa classe com seus
salões e divertimentos. A essa cidade ele dá o nome de Frívola City.
Muitas das obras do escritor são constituídas por reuniões de crônicas publicadas
em jornal a partir de uma temática que trouxesse uma unidade ao livro. Frívola City
aparece como um projeto de livro futuro, porém a morte súbita do autor inviabiliza o
projeto, que não chegou a ser concluído. Assim, o objetivo principal é fazer uma leitura
mais acurada do material pesquisado, interpretar essa parte de sua obra que é pouco
explorada e menos valorizada e compreender a visão de Frívola City de João do Rio,
traçando a partir daí como poderia ter sido esse livro.
O intuito final é resgatar a proposta do próprio autor e trazer à luz uma possível
organização do que viria a ser esse livro, baseado em seu conjunto de obras. Todo o
processo foi feito seguindo o rastro deixado por João do Rio sobre seu olhar para esse
determinado grupo social, o qual ele se refere extensamente em sua obra, sendo porém
essa parte pouco explorada e menos valorizada.
Objetivos
O desenvolvimento da pesquisa se deu com o apoio de bibliografia
teórica e crítica que tratam do discurso urbano e da problemática da cidade
moderna, do contexto histórico do Rio de Janeiro, no período em que o
autor viveu. Também foram levantados textos que tematizam a biografia do
escritor e a Frívola City.
Com o auxílio do Catálogo de João do Rio, organizado por João
Carlos Rodrigues foi realizado um levantamento das crônicas de João do
Rio e dos outros pseudônimos que a retratassem. Foram identificadas, mais
de 200 crônicas da pesquisa e após seleção final feito a consulta desses
textos de arquivos disponíveis no site da Biblioteca Nacional.
Junto à digitalização foi feita a atualização ortográfica, porém
mantendo nomes e expressões em língua estrangeira típicos da época. Após
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a transcrição foi realizado um fichamento de cada texto, sintetizando o
conteúdo, destacando os temas e motivos recorrentes, e fazendo notas
necessárias para compreensão do mesmo. E por fim, reunindo todo esse
material compondo o livro, usando como referência a estrutura utilizada
pelo próprio escritor para elaborar seus livros, isto é, a seleção de
determinados textos a fim de criando assim uma unidade temática
Frívola City - O registro. A critica. O encanto
Na introdução da reedição de A profissão de Jacques Pedreira, Flora Sussekind
afirma:
Há, ao lado do endosso à modernização, uma espécie de compulsivo memorialismo
em João do Rio [...] Porque não se trata, no seu caso, de recompor vistas antigas em meio
aos marcos da reforma urbana. E sim de perceber a própria Capital, o próprio tempo em que
vive já como quase relíquia. Daí seu ansioso registro de nomes, modas, teatros, meios de
transportes, lojas, hábitos. Como se tudo estivesse prestes a desaparecer. (Sussekind, p. 16)
O caráter de registro em sua escrita fica evidente e para tal ele elenca como estilo
principal a crônica como ferramenta para que pudesse concretizar seu propósito, que é
de certa forma uma escolha paradoxal, ao ser o gênero que essencialmente aborda
assuntos do cotidiano, do atual, e dessa forma possui um diálogo com o efêmero. Existe
todo um jogo com o tempo, a tentativa de um registro de um tempo que passa e o
suporte para isso era a crônica, que carrega em sua origem o tempo (chronos). E o
cenário desse registro era uma cidade que cada dia mais ganhava um estilo acelerado,
cujas mudanças não eram mais tão lentas. Como exemplo disso, está a transformação
que o Rio passou, realizada em apenas 4 anos. A noção da duração do tempo se
abreviava, era preciso correr.
Na crônica que fundamenta todo o conceito de Frívola City João do Rio escreve:
Sou da opinião que para que para exprimir a metafísica e a ética da cidade só um
livro seria completo: o que desse uma lista de nomes de cuja influência dependessem os
pequenos fatos frívolos – que são os únicos importantes. E esse livro não seria apenas para
a meditação filosófica. Seria também o espelho capaz de guardar imagens para o historiador
futuro” (07 de junho de 1908 – A Notícia - Frívola City)
Aqui ele não só justifica a escolha pela crônica, mas mostra qual perspectiva
julga ser importante para guardar a memória de sua época, seriam os “pequenos fatos
frívolos”, a banalidade, tudo o que for da ordem do ordinário, que seria segundo o auto
“os únicos importantes”. E nessa afirmativa não reproduz uma provocação, ainda na
crônica “O espírito e a tolice” ele diz: “Quem quiser ver a capacidade de uma cidade,
em vez do espírito, deve estudar-lhe as tolices. [...] - Na tolice carioca. Que volume de
observações amargas e de verdades necessárias!”.
Nesse período o cinema era consumido por todas as camadas da sociedade,
inclusive o próprio cronista não só era um grande interessado, como escreveu por
diversas vezes sobre. E ao propor “um espelho capaz de guardar imagens”, percebe-se a
influência dessa tecnologia, seus registros não seriam apenas escritos, eles produziriam
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imagens bem delineadas, que saltariam das folhas, para que o historiador do futuro e
quem mais lesse, pudesse ver o Rio no início do século XX.
Porém ele limitará o campo onde atuará. “Nas sociedades organizadas interessam
apenas: a gente de cima e a canalha. Porque são imprevistos e se parecem pela coragem
dos recursos e a ausência de escrúpulos” (Rio, Crônicas de frases de Godofredo de
Alencar, apud Gomes, 1996, p. 63). Seu interesse era não por todas as classes, mas
aquelas que assim como a cidade, não estavam engessadas no modus operandi.
Privilegia aquelas classes que tinham disposição para romper as regras e gerar
novidades.
Além de subir morros e frequentar os lugares precários e insalubres da cidade e se
relacionar com a população marginalizada, João do Rio também ficou conhecido por ser
um dos pioneiros nas colunas sociais de seu tempo, frequentando os lugares mais
refinados da elite carioca.
Ao chamar essa elite de “encantadores” fica evidente a fascinação que possui por
esse universo e pelas pessoas que o compõem. Em muitas crônicas é possível perceber a
quase aura que lhes concede:
“- Encantadores por quê?
- Pela delicadeza de maneira, pela segurança de só quererem ser amáveis e gentis,
pela continuidade de mostrar na vida apenas o lado frívolo e brilhante, pelo heroísmo sem
esforço de manter a sociedade e o convívio elegante. Encantadores! São os encantadores.”
(O Paiz, 13 mai 1916 – Encantadores).
Por esse motivo João do Rio foi duramente criticado por aqueles que apreciavam
a parte da obra onde retratava a “canalha”. Porém, embora reconhecesse o glamour e
encanto que esse círculo transbordava e ostentava, ainda que encontrasse valor nos
“pequenos fatos frívolos”, também tecia criticas a elite carioca, ao arrivismo,
esnobismo, até a falta de patriotismo visto nesse grupo, ao querer reproduzir costumes e
hábitos europeus.
Em seu romance A profissão de Jacques Pedreira ele retrata com bastante clareza,
todos os vícios dessa classe. Porém tais críticas não viam de forma direta, como
Sussekind afirma na própria introdução do livro, “É em tom de comédia ligeira, e sem
nostalgia monárquica, que João do Rio figura os arrivistas e as ostentações do high life
carioca do começo do século XX”.
As reprovações feitas, apareciam sempre em tom irônico. “A função da ironia na
crônica é deixar o texto leve, levando o leitor à crítica, à reflexão e ao humor” (Santana,
2006, p. 39), incorporava, assim, através desse recurso próprio da retórica, suas críticas.
Às vezes de maneira clara como na crônica “O homem que não tem o que fazer”:
A minha vida é uma tortura! Positivamente. Sou rico? Desde manhã trabalho para
matar o tempo em coisas que para outros não passam de distrações. As distrações são
penas! Arrastado de festa em festa, figura obrigatória dos salões e dos teatros e dos chás –
quero não ir e tenho pena de não ir, porque não saberia o que fazer se não continuasse a ir.
(A Revista da Semana, 08 jan 1916).
Outras que chega a provocar dúvida:
A maioria da sociedade atravessa agora uma crise nervosa que se pode denominar
nevrose do snobismo. É nas gazetas, é nos salões, é nas ruas: - a moléstia invade tudo. Não
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há lar por mais modesto, não há sujeito simples que não se sintam presos do mal esquisito
de ser snob, e o snobismo é tanto a molestia do galarim da moda, que uma porção de
cidadãos graves já com afinco e solenidade resolveu fazer-lhe oposição. O snobismo é
como a neurastenia, é pior porque as altitudes e o repouso só desenvolvê-lo; (Esnobismo
em terras cariocas – O Paiz, 26 ago 1916).
Vale lembrar que ao mencionar repouso em zonas de altitudes, ele se refere ao
costume da elite carioca de passar férias nas regiões serranas do Rio, sobretudo em
Petrópolis.
A utilização do diálogo, para composição de suas crônicas, um recurso presente
com frequência em sua obra, fortalece o efeito da ironia, já que permite introdução de
debates, muitas vezes acalorados.
Afinal, a palavra eironeia, significando “ interrogação “, propõe perguntas que
exigem respostas, indicando claramente que a ironia alcança sua plena significação através
do diálogo, que se processa graças à linguagem. A estrutura comunicativa é uma condição
básica da ironia. O emissor serve-se de um modo de expressão no qual o significado
autêntico contraria o sentido das palavras. (Berrini, Eça & Machado, apud Santana, 2006,
p. 42).
Poderia se dizer assim que o olhar crítico que ele lançava para essa camada
elitizada, seja também, uma forma de provocar a reflexão sobre a sociedade que
retratava.
Frívola City - um livro possível
1-Boulevard
Para a Paris dos trópicos se concretizar foi essencial a abertura dos boulevards.
Era deixado para trás as antigas ruelas estreitas e com pouca luz do sol. As largas ruas
possibilitavam não apenas a circulação do ar, para prevenir a proliferação de doenças,
mas expandia o campo de visão de quem passava.
Nesse momento de arrivismo aflorado, as relações eram essenciais para atingir
uma colocação social satisfatória, por isso os boulevards se tornaram verdadeiras
passarelas, onde os encantadores praticavam seu footing diariamente. Desfilavam para
verem e serem vistos, para praticarem as relações, para se exibir, onde a partir daquele
momento, havia inclusive regras para transitar. Proibição de cuspir no chão, andar
descalço, entre outras regras eram impostas, não apenas para “alinhar” os transeuntes,
mas também para restringir quem poderia estar ali.
Mesmo que os clubs, casas de espetáculos, casas de chá e confeitarias se
proliferassem pela cidade, a rua ainda era a grande detentora do posto de principal entre
todos os outros pontos de encontro “o palco da nossa sociabilidade, a maior parte do
nosso convívio mundano, o nosso salão, o nosso grande club é a Rua...”, como registra
na crônica “O tipo carioca” (Paiz, 06 mai 1916).
Além de ser palco social, os boulevards possibilitaram outra atividade: os passeios
de carro. Um cenário que se repete diversas vezes são as de carros que transitam à noite
sob os postes de luz elétrica, onde os boulevards se transformam em grandes pistas
limpas de circulação para os carros, uma vez que a presença de pedestres perambulando
pela rua à noite, ainda não tinha sido normatizada.
E não apenas os boulevards eram cenários para o footing, foram os jardins, que
eram utilizados para esse fim também, ainda que em menor escala. Mesmo com um
esforço do governo em projetá-los pela cidade, tal hábito jamais se tornará tão popular,
uma vez que os jardins e parques da cidade eram mal policiados, acabando sendo
relegados a uma importância menor.
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Título Sinopse
O tipo carioca - José Antonio José Comportamento do carioca na cidade - Paiz, 06 mai 1916
Sem título – José Antonio José A Avenida Beira-Mar à noite – Gazeta de Notícias, 21 jun 1908
Sem título – Joe O anoitecer das avenidas iluminadas - Gazeta de Notícias, 23 ago 1908
Casamentos pela Avenida - Joe Cortejos matrimoniais na Avenida Central - Gazeta de Notícias, 30 jun 1911
Jardins para passear - José Antonio José
Cariocas e parques públicos - O Paiz, 28 jun 1916
A season - José Antonio José Observando gente passear pelas ruas – O Paiz, 08 jul 1916
Encantadores - José Antonio José O footing na Avenida Central – O Paiz, 13 mai 1916
Sem título – José Antonio José Elogio dos jardins públicos - O Paiz, 14 jul 1916
Footing - José Antonio José O footing – O Paiz, 13 nov 1916
O tipo de carioca
Deixou de chover! É uma extravagância. Nada mais interessante do que a chuva.
Mas em termo. O Rio tem a especialidade de amostras de dilúvio. As nuvens e a
administração reúnem esforços. Não há garoa, chuvisco. Há temporais e consecutivas
inundações. Em algumas cidades a chuva é um encanto a mais. Ninguém deixa de sair em
Paris, porque está a chover. Ninguém, em Roma, abandona a rua, porque chove. Mas no
Rio, a chuva é o pânico. Correm todos logo com receio de voltar a casa, como é costume
voltar em Veneza ao lar. Não há forças humanas que habituem o carioca à chuva. As ruas
todos esses dias têm sido tristes. E tristes, porque o palco da nossa sociabilidade, a maior
parte do nosso convívio mundano, o nosso salão, o nosso grande club é a Rua...
Chovia há tanto tempo que o sol parece uma extravagância. Esquivo, indeciso, ora a
brilhar, ora fugido, seria mesmo o sol? Mas a sociedade inteira estava com o desejo do
grande club ao ar livre, a Avenida, que entre nós reúne o boulevard e o Bois e o corso.
Há uma porção de tarde, os chás andavam desertos e a Avenida erma de encantos
femininos. Hoje, não. Era a apoteose. Era toda a gente eu vem das chuvas de Petrópolis ou
das águas medicinais de Minas Gerais.
Um primeiro encontro: a Sra. Alvaro de Teffé, Astréa Palm, a Sra. Oscar Lopes. Os
cinematographos, como as casas de chá, estão repletos. Eu oscilo entre as tragédias
cinemanicas e os prazer que, Donnay da Academia Francesa, denomina: five-o-clockisar. O
melhor é ficar em plena Avenida, a olhar, o que é viver por todos. Da minha opinião é a
inteligência rutilante de Astréa Palm. E precisamente por isso cumprimento essas senhoras
ilustres à porta de um cinema para onde vai também Oscar Lopes, ainda contente com a
manifestação que as telefonistas fizeram à sua crônica de domingo. Depois, um largo
instante eu compreendo o prazer dos repórteres mundanos, que levaram ao excesso a
reportagem, notando nos ornais o nome das senhoras notáveis pela beleza, pelo nome, pelo
espírito ou pela elegância, sempre que essas senhoras aparecem à rua.
- Não será uma inconveniência?
- É um hábito, e uma deferência. Depois, desde que a Avenida é um grande salão, os
repórteres notam o nome, como se estivessem nos Diários, no Jockey ou numa recepção de
embaixada...
Hábitos não se discutem. Os repórteres não discutem também. E depois, de fato,
sonhos todos conhecidos. A Política, a Finança, o Jornalismo e a Beleza passam. Vejo
assim o general Bormann, que já foi da política e prova de como as viagens conservam a
mocidade, os deputados Alaor Prata e Waldomiro perfeitamente felizes, o ministro
Calogeras, com uma das suas mais breves gravatas, o general Joaquim Ignacio, de volta de
ter pedido pelo seu quinto ou sexto protegido no dia, generoso e bom.
E depois são as senhoras: a condessa de Candido Mendes, a princesa de Belfort, a
condessa de Paranaguá, a princesa de Rosemburg, a consulesa da Dinamarca
Mme.Boettcher, a encantadora Sra. Hilda Montenegro, a baronesa Pinto Lima, cuja
conversa é sempre luminosa.
- Por que são os homens tão feios no Rio e as mulheres tão bonitas?
- É uma pergunta a prêmio?
- É uma pergunta sincera. E podíamos fazer outra.
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- Qual?
- Por que as cariocas são Paris e os homens ainda não sabem vestir?
- Porque os homens na sua totalidade ainda não tiveram tempo senão de tratar de
política ou do emprego público. E, depois observe V.: os cariocas são os mesmos; as
mulheres mudaram...
- Claro. Com a civilização e a Avenida e as viagens à Europa, deixou de existir o
tipo carioca, como há definitivamente o tipo sérvio, o tipo inglês, o tipo andaluz. As
cariocas não se parecem as cariocas – são como criaturas escapas dos figurinos ou das
gravuras d’arte. Aquela menina que vai ali, por exemplo. É brasileira. Pode ser, mas parece
parisiense; Aquela outra loura é carioca. Mas será? Parece italiana de Roma. E repare em
todas. De vez em quando aparece uma figura clorótica, de olhos grandes e braços finos.
Talvez seja essa? Há, porém, uma outra gordinha, que bate com os tações... Será essa?
Não, meu caro amigo – é no trottoir-roulant da Avenida, vendo passar a Elegância, que
compreendemos de como a Moda conseguiu desfazer o próprio tipo da carioca – dando-nos
um delicioso magazine de reproduções de diversas raças.
José Antonio José - Paiz, 06 mai 1916
2-Salões e espaços mundanos
No período imperial, a cidade do Rio levava uma vida pacata e com poucos
eventos sociais ou bailes, devido ao perfil reservado da família real. Dessa maneira, os
nobres desse período, tinham uma vida social bem restrita e discreta e pouco agitada.
Com a república, a busca por uma oportunidade de ascender socialmente, o caminho era
essa, ser bem relacionado e para se manter assim era necessária a manutenção desse
comportamento.
Com essa finalidade, no Rio do início do século, foram concebidos grandes
palácios para convivência da elite carioca, Teatro Municipal, Club dos Diários, Jockey
Club, Monroe, Assírio. Todos esses, entre outros, comportavam os eventos que
movimentavam a noite carioca. Além dos grandes jantares, concertos, apresentações de
dança e teatro, havia ainda os eventos beneficentes.
Além dos programas noturnos, os encantadores durante o dia circulavam por
outros estabelecimentos, a confeitaria Cavé, Colombo, a sorveteria Lallet, as casas de
chá que proliferaram por conta do hábito importado dos ingleses, o five ó’clock tea.
Fora os garden-party que começaram a ser realizados, em suas próprias residências,
pequenas reuniões privativas que eram realizadas para um grupo restrito. João do Rio
documenta diversos encontros como esses oferecidos por Nair de Teffé, Laurinda
Santos Lobo, entre outros encantadores.
Título Sinopse
O thé-tango no Jockey - José
Antonio José Chá-tango no Jockey Club – O Paiz, 13 jul 1916
Chá das cinco na Cavé - Joe Chá das cinco na Cavé – Gazeta de Notícias, 25 ago
1907
Festa encantadora - José
Antonio José
Um espetáculo beneficente no teatro Fênix - O Paiz,
04 dez 1915
Jantar - José Antonio José Jantar no Assírius e conversa mundana – O Paiz, 17
mai 1916
Pelos chás - José Antonio José Nos chás da Lallet e do Assírus – O Paiz, 24 out 1915
Um jantar - José Antonio José
Jantar no Jockey Club para o embaixador Morgan – O
Paiz, 21 jun 1916
Ah, os cãezinhos! - José
Antonio José
Cães de luxo e cachorrinhos de madame – A Revista
da Semana, 26 ago 1916
O teatro em sociedade - José
Antonio José
As exibições teatrais amadoras da alta sociedade em
festas beneficentes - O Paiz, 04 out 1916
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Na garden party do prefeito -
José Antonio José
Garden-party do prefeito Azevedo Sodré - O Paiz,18
out 1916
Jantar
Um canto do Assyrio. Há ainda a orquestra de damas, só substituída pelos tziganos,
quando começa o café-concerto das 10 horas. A Sra. Maria Luiza dirige a orquestra com o
mesmo garbo sensível, o mesmo charme – que a tornou uma das figuras sempre citadas e
sempre faladas. A Sra. Maria Luiza é como o Sr. Antonio Carlos, um personagem de Moda.
E por estas pequenas coisas é que o Rio pode aspirar a ser como as grandes cidades...
A Sra. Maria Luiza mudou a cor dos cabelos. De negros que eram, passaram ao
castanho claro. É pena. Como a violinista tem uma pele de camélia branca e dois olhos
sonhadores, os cabelos negros iam muito mais à sua beleza, gênero Octavio Feuillet.
Ao som das valsas que a Sra. Maria Luiza parece arrebatar, os “encantadores”
conversam nas pequenas mesas iluminadas.
À direita, mesa do canto, familiar: - Que teremos este inverno? – Homem, o Guitry.
– O Guitry de sempre? – É tarde para mudar. O Guitry só aumentou em pretensão. Mas,
além do Guitry, há a Isadora Duncan. – Virá? – É quase certo. Ela tem uma grande paixão.
– Por favor! Conheço Isadora. A paixão foi os dois filhos que pereceram afogados num
automóvel precipitado pelo acaso no Sena. – E a companhia lírica? – Como nos outros
anos. Tudo como nos outros anos. Já o Julio Laforgue dizia: como a vida é atrozmente
cotidiana...
Mais adiante, os dois na banqueta:
- C’est ç atou restaurant chic? – Sim, minha filha. Como em Paris, no Café de
Paris, há famílias e não famílias de mistura. – Zut, alors! – Nada de inconveniências...
Outra mesa, só de homens:
- X trouxe aquela pequena belga quase perfeita. – Ela parece zangada. – É para se
dar um ar de circunstância. Nada acanha tanto como a mistura com a gente séria para essas
pequenas.
Mesa grande, ao centro. Familiares respeitáveis:
A jovem diplomata: - Isto parece-me sinistro! O cavaleiro, evidentemente senador: -
É o que há de mais alegre, além do Leme, que é por completo fúnebre. O jovem diplomata:
- Onde iremos passar o resto da noite? Um cinema? A senhorinha: - Vamos ao Meu boi
morreu? A diplomata: - Onde é isso? A senhorinha: - Teatro popular. Vamos sempre a
esses teatros depois que o Enéas Martins tornou o Forrobodó da moda. Outro que gosta
imenso do teatro popular é o Luiz de Souza Dantas. O diplomata: O Ministro do Exterior
preza o interior. O Dr. Lauro Müller sabe de cor os versos das canções populares. A
senhorinha: Assim ele recita os versos antes que venham- lhos dizer. Paixão preventiva!
Outra mesa:
- Então, só agora de volta de Petrópolis? – Yes. – Como foi a estação? – Chuva e
jogo, jogo e chuva. – Muitos flirts? O eterno puzzle amoroso. São quase sempre os outros
que inventam as inclinações. Mas você não se arruína neste restaurante? É mais caro que o
Durand e o Café Anglais, quando existiam. – Que quer você? Um preço colossalmente
assyrio... Tem a cor do local.
Outra mesa, bem ao centro:
- Então, Mme. X? -... – Que me diz? -... – Sempre terrível o nosso amigo. Essa
comparação de “catraia amarrada” é estupenda! E X? -... – Oh! -... – Mas não! -... – É
porque você o diz. Quanto àquela menina? -... – Minha Nossa Senhora! – Você fala
mal de toda gente! – Ah! Me amigo, se você ouvisse o que eles dizem de mim...
Na mesa ao canto somos apenas três: o desembargador Ataulpho Paiva, o poeta
Oscar Lopes e eu. O ilustre Ataulpho não bebe álcoois, não bebe café, não fuma. Será a
temperança o segredo da sua mocidade e desse brilho de espírito que faz a sua conversa um
encanto? E por que continuamos nós a engurgitar cock-tails e champagnes sem prazer com
o clima quente do Rio e a tomar café para não dormir? As tolices inexplicáveis. Já um
filósofo dizia que Deus deu a inteligência ao homem para que o homem inventasse a
tolice...
É possível que no jantar do Assyrio pouca gente estivesse a divertir-se. Na mesa em
que eu estava, entretanto, palpitava essa alegria que vem do convívio inteligente. Não
falamos literatura. Não falamos política. Não falamos teatro. Eram recordações, a graça das
observações, as anedotas vividas. Eu ouvia apenas. Ataulpho Paiva e Oscar Lopes faziam le
frais de la conversation, ambos mundanos, ambos elegantes, ambos da sociedade, o integro
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juiz cujos trabalhos sobre assistência lhe dão direito à Academia, o poeta louvado, cujos
versos o indicam para a poltrona do imortal – ambos amanhã com certeza pertencendo à
preclara companhia.
E o jantar prolongou-se até a hora dos tziganos, quando da orquestra partiam as
flechas dos one-steps e os balanços frenéticos dos rag-tames...
José Antonio José - O Paiz, 17 mai 1916
3-Era dos aparatos
O fim da monarquia no Brasil conciliou com uma série de inovações tecnológicas,
fruto da revolução industrial que o mundo passava. Nesse período algumas novidades já
haviam sido implantadas na cidade. No entanto, apenas após o início da República, que
houve uma popularizaram desses aparatos entre a elite carioca, uma vez que dava
distinção e representava estar alinhado às últimas novidades da Europa.
Em 1877 o telefone chegou ao país e conectava a residência imperial a dos
ministros de Estados. Em 1887 do primeiro bonde elétrico foi realizado o teste de linha
Centro-Tijuca. E com a obras de Pereira Passos, a iluminação elétrica chega às ruas. O
primeiros carros chegaram por volta de 1890 sobre esse evento João do Rio escreve
numa crônica “Só se tinham visto dois automóveis, um de Patrocínio, que rebentou de
encontro a uma arena da rua da Passagem e outro de Fernando Duval, tão lento e pacato
que mais parecia uma tartaruga bulhenta”. Já a fotografia estava no Brasil desde 1840
devido ao entusiasmo de D. Pedro II, curiosamente importada da França, sendo o Brasil
um pioneiro na técnica I pela técnica. Mas o cinema que estreou em 1896 foi a grande
febre brasileira, em 1897 inaugurou o "Salão de Novidades Paris" a primeira sala fixa
de cinema e em 1908 já havia mais de 20 salas de cinema só no Rio.
Os dois mecanismos de registro visual, dentre todas as demais tecnologias,
contagiaram toda a cidade, talvez isso seja um reflexo do hábito de ver e ser visto, que
se instaurou nesse período. Em Clic! Clac! O fotógrafo o escritor diz: “Porque nós
temos afora mais um exagero, mais uma doença nervosa: a da informação fotográfica,
a da reportagem fotográfica, a do diletantismo fotográfico, a da exibição fotográfica -
loucura da fotografia”. A Praça Floriano Peixoto se transformou num centro de
cinemas, ficando conhecido como a Cinelândia, que ganhará sua “catedral do cinema”
com a inauguração do Odeon.
Título Sinopse
A catedral do cinematógrafo – João do Rio
A inauguração do luxuoso cinema Odeon – A Notícia, 28 ago 1909
Automóveis – João do Rio A utilidade dos automóveis nos tempos modernos – A Notícia, 21 jun 1908
A moda dos cinematógrafos – Joe
O impacto do cinema na dinâmica da cidade - Gazeta de Notícias, 29 set 1907
Cidade das Luzes - Joe A iluminação pública do Rio vista de um automóvel - Gazeta de Notícias, 25 jun 1911
Mania de cinema - Joe Histórias de cinema - Gazeta de Notícias, 09 mai 1909
Sem título - Joe Os diversos e modernos usos do telefone – Gazeta de Notícias, 20 mar 1914
Clic! Clac! O fotógrafo – José Antonio José
A moda da fotografia - O Paiz, 08 ago 1916
Cinema - José Antonio José Do cinematógrafo - O Paiz, 21 ago 1916
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Telefones – José Antonio José O uso mundano do telefone – A Revista da Semana, 15 abr 1916
Sensações de cinema/ O cinema e os novos costumes - João do Rio
A penetração americana no Brasil através de Hollywood – O Paiz, 24 fev 1920
A catedral do cinematographo
O admirável palácio domina o canto da Avenida, aquele trecho de movimento
intenso. Quantas vezes ao ver todos os andares cerrados, a casa vazia, o transeunte não
indagou:
- Que destino reserva o tempo ao prédio lindo?
E os que sabiam não deixavam de concluir:
- O destino de quem tiver dezesseis contos de réis por mês para o alugar!
Dezesseis contas em trintas dias, com quatro andares, assessores, halls imensos.
Podia ser tudo que nós precisamos com vantagens, a começar por um grande hotel. Não
havia ninguém que o tomasse. E os meses passavam e no canto da Avenida, o admirável
palácio continuava a dominar.
Que destino reservava o tempo ao prédio lindo?
De repente, porém o prédio viveu , animou-se. Tinham-se tomado. Seria um
cinematographo, uma colossal casa de cinematographo, montada com um luxo, térico para
ser a primeira do Rio, a primeira do Brasil e de certo a primeira da América. Era no país do
cinematographo, o triunfo, a coroação, o esplendor máximo do prazer maior do povo com
uma instalação que parecesse um templo. E ninguém ao palácio um mal destino.
Nós temos em pouco a moléstia cinematographica. A parecido o primeiro, a onda
populararizou-se a ele com tal avidez que logo pela Avenida se foram espalhando outros e,
breve em cada rua, em casa canto da cidade houve um cinematographo. Homens pobres
fizeram fortuna de um dia para outro, negociantes meio quebrados endireitaram a espinha
montando a máquina das fitas. Em pouco não foram suficientes a fita, o film d'art
<<posado>> por grandes artistas, foi preciso a música, tornou-se necessário o canto e para
completar a ilusão, o barulho explicativo de certos lances das fitas; tiros nas batalhas,
cânticos nos atos religiosos, risos e quebrar de copos nas ceias animadas.
O Cinematographo, que Remy de Gourmont ama principalmente porque é
silencioso, o Cinematographo para o qual escrevem hoje os autores mais cotados do
mundo, a principiar por Gabriel d'Annunzio que já imaginou uma série de tragédias
cinematographicas, o Cinematographo que Felinto d'Almeida e João Ribeiro e tantos outros
dos nossos artistas ama, após ser de fato a única satisfação da cidade, vinha de montar o seu
templo: No admirável palácio da avenida o Odeon abria.
Resisti durante muitos dias a tentação de entrar na catedral dos cinematographos.
Mas outro dia, indo por ali a passar e havendo muitíssima gente á porta, lembrei-me dos
cinematographos de outras cidades de Lisboa, os de Bruxelas, os de Londres. Em Lisboa
são sem conforto, são horríveis como instalações; em Paris qualquer dos de segunda ordem
aqui está melhor instalado. Nas outras cidades européias é a mesma coisa. Não há na linha
dos grandes boulevards, aqui substituída pela nossa Avenida, uma casa que de longe se
assemelhe ao palácio formidável.
Então, por íntima satisfação patriótica, por vaidade nacionalista entrei no Odeon, na
sala de espera, no vasto hall principal, enorme pela montada com grande conforto e luxo e
gosto superfinos. O ambiente de luz brinda a cada instante frisava-se de uma cor divers.
Sobre as portas as sanefas eram de veludo ouro, e do alto desciam reposteiros amplos de
veludo também cor de ouro. Ao centro entre tu os de palmeiras, surgia um lago artificial
com repuxo e vegetações silenciosas. E nesse lago de repente a cor da água mudava e
tornava-se luminosa, ora verde, ora cor de rosa, ora azul, ora do brilho cegador dos
diamantes.
O luxo e a elegância os eram de um hall de inverno nos hotéis de primeira ordem.
Em confortáveis cadeiras, senhoras lindas e crianças belas esperavam a sessão, os olhos
fitos nas transformações luminosas da fonte. E uma orquestra a que só faltavam as casacas
vermelhas para ser como a dos tziganos do Meurice, desnastrava pelo recinto policromo
sons suaves de valsas perturbadoras.
Departamento de Comunicação Social
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_ Então como em Paris?
_ Melhor.
_ O Odeon é então incomparável?
_ É na história dos Cinematographos urbanos o primeiro em luxo.
_ Acompanha a opinião geral.
_ E posso dizer-lhe que nestas condições não há nas principais cidades.
As campainhas retiniam. A multidão entrava para as salas das sessões, - porque há
duas, uma para a Avenida, outra para o Sete de Setembro. Onde uma sala com aquele
conforto, toda de laca branca, onde aqueles porteiros bien styles nos fardamentos, onde
aquele chic, aquela elegância? Na sala em que eu entrei, já não havia um lugar. E fiquei em
pé vendo correr as fitas, a pensar no grande ensinamento, e na grande filosofia dos
cinematographos.
Sim! O cinematographo reúne a aspiração de todo mundo moderno.
Uma fita, outra fita, mais outra... Não nos agrada a primeira? Passemos á segunda.
Não nos serve a segunda? Para adiante, então! Há fitas cómicas, há fitas sérias, há
melancólicas, picarescas, fúnebres, alegres – algumas preparadas por atores notáveis para
dar a reprodução idealizada de qualquer fato, outras tomadas nervosamente pelo operador, á
passagem do fato. Umas curtas, outras longas. Podes deixar em meio uma delas sem receio
e procurar a diversão mais além. Talvez encontres gente conhecida que não te fala, o que é
um bem. Talvez não vejas conhecidos que não te falam, mas riem, conforme os tomou a
máquina, perpetuando esse sintoma de alegria. Com um pouco é a agregação de vários fato,
é a história do ano, é a vida da cidade numa sessão de cinematographo – sendo um
documento e tendo a excelente qualidade de não obrigar a pensar, senão quando o
cavalheiro teima mesmo em querer ter ideias.
Dizem que é a sua melhor qualidade essa. Quem sabe? O pano, a sala escura, uma
projeção, o operador tocando a manivela e ali temos ruas , miseráveis, políticos , atrizes,
loucuras, pagodes, agonias, divórcios, fomes, festas, triunfos, derrotas, um bando de gente,
a cidade inteira, uma torrente humana – que apenas deixa indicados os seus gestos e passa
leve sem deixar marca.
Ademais, se a vida é um cinematographo colossal, cada homem tem no crânio um
cinematographo de que o operador é a imaginação. Basta fechar os olhos e as fitas correm
no cortical com uma velocidade inacreditável. Tudo quanto o ser humano realizou, não
passa de uma reprodução ampliada da sua própria máquina e das necessidades instrutivas
dessa máquina. O cinematorapho é uma delas .
Ora como os fatos sucedendo-se não se parecem e que ninguém pode exatamente
repetir com a mesma emoção e o mesmo estado d'alma um ato da existência, o
cinematographo fica modesta e gloriosamente como o arrolador da vida atual, como a
grande história visual do mundo. Um rolo de cem metros na caixa de um cinematographo
vale cem mil vezes mais que um volume de hitória - mesmo porque não tem comentários
filosóficos. E, isso, porque no fundo o cinematographo é um uma série de novelas e de
impressões pessoais do operador à procura do <<bom momento>>, é a nota do seu
temperamento a escolher o assunto já feito, e a procurar as posições para tomar a fita.
Dali a multidão abandonar tudo pelo cinematographo, porque além dessas
qualidades com ele não se cansa não e se fatiga. Dali já assustados, romancistas e
dramaturgos a escrever cenários para os cinematographos.
E ninguém fala do que ele ensina em parecer...
O Rio apanhou a nevrose do cinematographos e conserva-a. Esses aparelhos têm
dado fortunas a muitas gente. E, como o Deus que está em toda parte, o cinema em toda
parte está. Precisava de um templo, de uma casa que pela perfeição dos aparelhos, pela
rapidez das reportagens vivas, pelo gosto artístico e principalmente pelo seu luxo de
instalação fosse sem igual a sua Catedral.
Apareceu o Odeon. Ali está na Avenida. É o Municipal dos cinematographos!
Deixei o hall admirável, louvando o grande de esforço de elegância que dota a
cidade de uma casa capaz de ser, a satisfazer um dos seus maiores prazeres, exemplo da sua
vertiginosa civilização material. Já na rua encontrei um amigo.
_ Donde vens?
_ Do Odeon.
_Para lá volto agora. É a segunda vez. Mas quem se pode furtar ao prazer de estar
bem, luxuosamente, com a ilusão de todos os confortos?
Departamento de Comunicação Social
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E compreendo então que apesar da coragem temeraria, os proprietários do Odeon,
iam também fazer o que todos nós almejamos: enriquecer.
João do Rio - A Notícia, 28 ago 1909
4-Saison
“Ninguém sabe por que a chamamos season. A palavra inglesa apareceu nos
tempos da derrocada das velhas ruas reformas da cidade do Rio de Janeiro.”
A importação dos costumes e cultura da Europa conflitava com clima da cidade.
Com estações não muito marcadas, as variações entre chuvas torrenciais e calor extremo
pouco lembravam o velho continente e se tornava um incomodo para a reprodução do
ambiente europeu na cidade “para fingir de inverno, o termômetro não chega a 350 e não
andamos todos a morrer de calor...”.
Provocando situações que ilustram a real intensidade dessa simulação como na
crônica “Fantasia e realidade” Godofredo de Alencar ignora o sol escaldante e sustenta
sua convicção de clima ameno típico de um inverno ideal e após muita resistência
admite: “Se em tudo somos fantasistas, que o sejamos também contra a inclemência de
calor, a favor da elegância. Que deliciosa tarde de inverno!”.
Porém não era apenas por conta da vestimenta que havia resistência ao sol, o
hábito de frequentar a praia, não tornava o bronzeamento bem quisto, pois como bons
europeus, a elite brasileira precisava ser branca “O verão ainda não foi compreendido
pelo snobismo.”.
E se por um lado havia as críticas ao sol, por outro, há a crítica do despreparo para
as ruas para as chuvas, o que acarreta em alagamentos “Não há garoa, chuvisco. Há
temporais e consecutivas inundações [...] Não há forças humanas que habituem o
carioca à chuva. As ruas todos esses dias têm sido tristes.”.
Porém a Saison não retrata apenas o clima, a entrada de estação marcava ainda as
temporadas teatrais, eventos decorrentes das estações e a movimentação dos
encantadores entre as atividades. O período entre abril e setembro, onde os
compromissos fervilhavam e as apresentações artísticas no Rio aconteciam em grande
volume e agitava a rotina da Frívola City.
Título Sinopse
Fim do ato – Joe O fim do inverno – A Revista da Semana, 30 set 1916
Crônica de inverno – P.B. A chegada do inverno no Rio de Janeiro – O Dia, 07
jul 1901
Opiniões sobre o verão – João
do Rio O verão no Rio de Janeiro A Notícia, 10 fev 1908
Sem título – Joe A chegada da primavera - Gazeta de Notícias, 26 set
1909
Confidências do Inverno –
João do Rio
Conversa com o Inverno sobre a saison teatral que se
aproxima – A Notícia, 16 mai 1909
A Saison - José Antonio José A estação teatral – A Revista Da Semana, 29 jul 1916
Fantasia e realidade - José
Antonio José
Tarde de inverno na avenida Central - O Paiz, 16 jun
1916
Sem título – Joe Inverno no Rio – Gazeta de Notícias, 05 jul 1908
Repetição - José Antonio José
O prolongamento repetitivo da saison mundana – O
Paiz, 24 out 1916
Departamento de Comunicação Social
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Saudemos o verão - José
Antonio José
O aproveitamento da natureza, praias e ilhas do Rio de
Janeiro – A Revista da Semana, 28 out 1916
Fim de ato
Exatamente hoje termina o grande acto “Inverno" que levou cinco meses a passar.
Shakspeare dizia que o mundo é um verdadeiro palco onde se tem de representar um papel
— “must play a part”. No palco-sociedade ha duas peças coletivas, dois imensos “films”
iguais às peças cinematographicas, inclusive os erros de português das legendas. Cada um
desses atos dura cinco meses. O primeiro intitula-se “Verão”; segundo “Inverno”. A
montagem do primeiro faz-se em Outubro; a montagem do segundo em Abril. “Verão” tem
como espigão central Petropólis.
Só existe Petropólis, mesmo que não se vá lá. Em torno de Petrópolis giram
algumas cidades d’águas de Minas como Caxambú, Poços, Lambary, Cambuquira, algumas
cidades da montanha do Estado do Rio, como Friburgo e Teresópolis e mesmo os
arrabaldes do Rio: Silvestre, Paineiras, Tijuca. "Inverno” em compensação passa-se todo
entre a Avenida e Botafogo, e nem por isso deixa de ser interessantíssimo.
Ora hoje acaba o “film” mundano “Inverno”. Antes que os atores e atrizes descansem
e troquem os vestuários, na impossibilidáde de trocar de alma ou de cérebro, valeria a pena
fazer a resenha crítica da interessante comédia?
O “Inverno” que terminou hoje demonstra assaz uma série de absurdos com
insistência proclamada pelos jornalistas e pelos políticos.
Dizem por exemplo que há uma terrível crise de dinheiro. Mentira. Tivemos a seguir
uma estação de teatro francês com o Guitry, Isadora Duncan, a Divina, e uma estação lírica
com vários maestros e várias notabilidades, no Municipal. E durante esses meses de Arte, o
Municipal esteve sempre cheio. Tivemos mais uma companhia italiana de opereta, dezenas
de exposições, várias festas de caridades, inumeráveis conferências, concertos sem conta, e
tudo isso com grande concorrência.
Dizem que nos falta gosto. Mostrando no luxo das “toilettes”, no esplendor das jóias,
na elegância das carruagens a fartura do dinheiro, “Inverno” demonstrou mais o nosso
incomparável entusiasmo mental pelas coisas d'arte — porque é preciso ter resistência para
ouvir cinco vezes por semana o mesmo ator, quatro vezes por semana a opera e ainda sorrir
nas conferências e nas festas de caridade.
Dizem que nos falta a sociabilidade. Engano. Erro. Durante esses cinco meses foi um
verdadeiro “flirt” de recepções, de jantares, de "thés-tangos", de “five-ó-clock”. Em vez dos
que, em desacordo com a Bíblia, Bilac chamou os “300 de Gedeão” tivemos que notar
muito maior o número de “encantadores” que se divertem. Os jornais guardambesses
nomes que apareciam nos “foot-ball”, nas regatas, nas festas, nos bailes, como a prova de
que a nossa sociabilidade é quase torrencial...
O balanço do “Inverno” é favorável a tudo quanto os entendidos acham que devia
ser, quando já é deliciosa realidade.
Foi uma vertigem de prazer e terminou em pleno esplendor, com a mesma intensidade.
Nunca tivemos ato tão rutilante, mesmo meteorologicamente — porque os dias foram quase
sempre lindos.
Eu poderia perguntar:
-Divertiram-se?
Todos responderiam:
-Muito.
Se eu insistir, desejando saber o que mais interessou, ninguém dirá. Porque os aetores
espectadores sendo sempre os mesmos, terminado o ato "Inverno" dele guardam só uma
leve lembrança para pensar no que farão para o ato "Verão"
O “Inverno” acaba agora. Temos Outubro para a montagem do “Verão”. Façamos
justiça ao “film" que acabou.
O "Inverno" de 1916 foi absolutamente encantador!
Joe - O Paiz, 17 mai 1916
Departamento de Comunicação Social
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5-Pelos hábitos saudáveis
As reformas promovidas por Pereira Passos sugiram com a justificativa de
modernizar e higienizar a cidade para atrair o mercado estrangeiro. Esse discurso de
vida saudável emplacou entre os encantadores e a partir de então dois fortes hábitos se
consolidaram em suas rotinas: banhos de mar e prática de atividade física.
Tênis, regatas, hipismo, lota basca, velocípede, boxe, patins, futebol, as
caminhadas ou footing. Era uma grande variedade de atividades para entretenimento e
exercício, entre todas elas, o futebol foi o que mais se popularizou entre a camada mais
rica da cidade, e os clubes de regatas foram aderindo ao esporte. Porém o footing, ou
caminhada, muito praticado pelas senhoras, não apenas pelo exercício, mas
principalmente para prática da vida social, era realizado pelos boulevards abertos.
Após anos evitando a frequentar praias, a prática é retomada, porém as idas, ainda
que indicada como benéfica para a saúde, era bem programada. Para evitar o
bronzeamento, e consequentemente o escurecimento da pele, os banhos de mar
aconteciam em horários de sol ameno. Fora isso, a beira mar era frequentada para se
observar as competições de regatas.
Outro esporte que ficou bem popular foi o tênis, que foi um esporte muito
praticado também por mulheres. Além do hipismo, que fez do Jockey Club um dos
clubes mais populares e frequentados pelo grupo.
Título Sinopse
A paixão pelo mar - José Antonio José
A moda dos banhos de mar – A Revista da Semana, 11 mar 1916
Sem título – X Os banhos de mar no Rio de Janeiro - Gazeta de Notícias, 24 dez 1903
Comemoração - José Antonio José
Uma partida de futebol no Clube dos Diários – O Paiz, 13 out 1915
Hipismo - José Antonio José Hipismo – O Paiz, 08 mai 1916
Hora do futebol - José Antonio José
Partida futebolística no campo do Flamengo – O Paiz, 14 mar 1916
Rowing - José Antonio José Concurso de regatas na enseada de Botafogo – O Paiz, 14 ago 1916
Tênis - José Antonio José A nova moda do lawn-tennis – A Revista da Semana, 09 set 1916
Os sports/ O futebol – João do Rio
Visita ao estádio do Fluminense e o novo esporte da moda - Gazeta de Notícias, 26 jun 1911
Sem título – Joe As modas da bicicleta e do velocípede – Gazeta de Notícias, 10 jul 1910
A paixão pelo mar
Enfim, parece certo que a paixão pelo mar entrou na moda! Com esses dias de
intenso calor e de céu ardente, o interesse mundano não é a vilegiatura na montanha, mas
principalmente as praias de banho, as nossas maravilhosas praias, as mais belas do
mundo! Os fotógrafos já conseguem aspectos que só em Trouville... As mulheres amam o
Mar e o Mar é em torno do Rio o deus das maravilhas contornando na terra os cenários das
apoteoses. Nós não tínhamos artistas que indicassem a beleza das nossas praias: O dilúvio
azul de Icaraí, o sonho de pérolas do Flamengo, a madrepora verde clara de
Copacabana. Mas um poeta de êxito, a poetisa Gilka Machado canta o mar. E a grande
romancista Albertina Bertha fixa no seu romance a sensual impressão oriental de Botafogo
e o largo esto de vida do oceano livre em Copacabana. A montanha reconheceu as nossas
praias...
Departamento de Comunicação Social
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O poeta mundano sentou-se olhando a fixamente a praia Iridescente, em que se
movia uma turba densa e linda.
- Eu amo o mar, o grande laboratório da vida, o pai das fábulas, onde andam as
sereias, os tritões, d’onde surgiu Vênus, coroada de rosas. Insensivelmente todo o meu ser
treme diante do oceano, treme de desejo e de inocência, de prazer e de candura. Nós somos
melhores quando contemplamos do mar. Olha-lo é tonificar o espírito como respirá-lo é
adquirir a saúde do corpo. Dá-me vontade de recitar aqueles versos de Lucy Delorme-
Mardius:
Debout parmi l’herbe salée,
J’ouvre vers toi mês bras comme on
[fait por quelqu’un,
Si loin ei si longtemps que je m’en
[sois allée.
J’ai gardé sur moit on embrun.
Beaucoup plus quetout ce que j’aime
Je t’aime! Car je suis de ta race, la
[mer”
Oui, comme les varechs et les algues
[ que seme
Ton reflux sur le sable amer.
Ivre de toi, toi je crie,
La mer! La mer! A moi! Je te veux
[élément,
Simplicité, mystère, ampleur ryth-
[me,furie,
Eternel renouvellement!
Nas praias, só nas praias, nós estamos diante da grande ilusão dos largos
horizontes. A olhar daqui sentimos na mente os versos magistrais de João de Barros:
Ó linha do horizonte, indecifrável, reta
Como os lábios cruris da mulher que
[nos mente,
Foi diante de ti que a humanidade,
[inquieta,
Teve o sonho maior, a sede mais
[ardente.
Foi diante de ti que esse mistério
[oculto
Do que não pode ver- se e se prevê,
[no entanto,
Para o desejo humano tomou vulto
E cresceu e subiu e dominou-o
[tanto
Que só por tu viveu em febre e em
tumulto!
Acredite você. Há os que gostam só do mar livre, do alto mar, há os que pesam em
praias de luxo como Trouville com a sua rua Goulant´Biron, há os que particularizam as
pequenas praias modestas.
No Rio, dispondo de cenários esplendentes, durante muito tempo nós não quisemos
ver a maravilha das praias. Não há até agora um balneário - quando devia haver dezenas -
em Paquetá, em Niterói, em Copacabana, mesmo no centro, porque os trechos mais lindos
do Rio são precisamente os da linha do cais: Santa Luzia, Lapa, Flamengo, Botafogo, Praia
Vermelha, o Leme... Felizmente, quando a nossa população dá para uma coisa, não há
obstáculos. O prazer agora é correr às praias, tomar banho de mar, comunicar com o
oceano, pela manhã e tarde. O Flamengo tem mesmo um footing. A linha de Copacabana
reproduz um trecho de Biarrilz. Os que moram perto vão em traje de banho pelas ruas. Os
que são ricos vão em traje de banho também, mas de automóvel. E os que moram longe e
são pobres decidem se a mudar o traje de passeio pelo Jersey, e a vir para a água a pé.
Departamento de Comunicação Social
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O divino espetáculo que são as praias pelas manhãs e nas tardes d’oiro e azul! Veja
você o sorriso das crianças, o sorriso deliciosos de inocência, e veja o largo riso das moças,
riso de cristal ao sol, riso de [?], riso d’amor. As praias estão cheias. O oceano é tudo. Já
dizia o dulcíssimo Mario Pederneiras:
Azul e calmo, lembras da Saudade
Das noivas brancas ou dos iludidos.
E’s claro como os anos percorridos
Pela gente que vem da Mocidade.
Revolto em fúrias de uma tem-
[pestade
Lembras o coração dos Pervertidos
Esses caminhos longos e batidos
Pela gente que vai para Maldade.
Revolto, cresces; - em torna-se infinita.
A tua vasta solidão funesta
Nem Pavor humano te limita.
Calmo tu tens a flacidez de um véu
E toda a tua vastidão honesta
Cabe dentro do Céu.
Este verão, meu amigo, trouxe definitivamente para o Rio mudando a paixão pelo
mar! E de todas as modas do Rio a mais deliciosa. Que ela dure como dura o mar no seu
imperecível esplendor!
E o poeta abriu os braços para o oceano d’onde surgia a graça inebriante de um
bando de criaturas feitas de rosas e de jasmins...
José Antônio José - A Revista da Semana, 11 mar 1916
6-Moda
A moda estrangeira inundou a cidade. Para caracterizar os que queriam reproduzir
a Europa, o figurino era fundamental. Deixado para trás as reservas sobre o que vestir,
as mulheres absorviam toda moda do exterior, a nova elite queria apenas estar na última
moda. Sem muito critério de adaptação para nosso ambiente e clima, o que gerava
grandes desconfortos ou muitas vezes algumas polêmicas, como foi o caso da saia curta.
Ou ainda os chapéus das senhoras, que são proibidos no teatros, por atrapalharem a
visão do público. Como “compor uma aparência moderna não era tarefa muito simples
recursos, empenho e informação. A recém-formada elite econômica brasileira
do início do século XX, desprovida de tradições que lhe proporcionassem
alguma estabilidade estética” (Feijão, 2009, p. 3)
Porém o consumo no figurino, não ficou restrito às mulheres, o homem passa a ser
o novo foco. Por não haver muito consenso sobre qual modelo era melhor, há extensos
debates sobre casaca, paletó, jaquettes, fraques ou ainda das cores, é introduzido no
guarda roupa masculino a casaca colorida. Grandes polêmicas inclusive quebras de
protocolo utilizando casacas de cor em ambientes formais ou aderindo trajes mais
esportivos, como os homens do estrangeiro.
Outro impasse, eram as dificuldades dessas roupas que vinha da europa. A
inconstância de uma linguagem, estilo bem compor uma aparência moderna não era
tarefa muito simples. “A moda é a única coisa que não se discute. Com a guerra, a moda
João do Rio, que aparece constantemente nas crônicas sobre moda, sempre debatendo
com o autor das mais diversas questões sobre vestimenta.
Título Sinopse
Departamento de Comunicação Social
16
As extravagâncias da moda -
José Antonio José
Diálogo com Mlle. Renata Gomes – A Revista da
Semana, 03 jun 1916
A mulher e o véu - José
Antonio José
Mlle. Renata Gomes reflete sobre a moda feminina
dos véus – A Revista da Semana, 08 abr 1916
A moda - X Diálogo com Madame Souza sobre a moda feminina –
Gazeta de Notícias, 14 set 1903
Sem título – Joe Diálogo com uma casaca preta sobre a moda de suas
congêneres coloridas – Gazeta de Notícias, 18 jul 1909
O uso do bigode - Joe O uso do bigode – Gazeta de Notícias, 31 mar 1914
Palestra extremada - José
Antonio José
Conversa fútil com Renata Gomes - A Revista da
Semana, 15 jul 1916
Conferência austera - José
Antonio José
O pijama feminino - A Revista da Semana, 17 jun
1916
Vestidos - José Antonio José O vestido feminino como obra de arte – O Paiz, 22 jun
1916
Penteados - José Antonio José
Os penteados femininos – A Revista da Semana, 23
set 1916
Sem título – José Antonio José Comentários de Jacques Pedreiras sobre os sapatos
femininos – A Revista da Semana, 07 out 1916
As extravagâncias da Moda
Como mostrasse a face ceia de espanto, D. Renata Gomes que vinha muito séria,
rompe a rir.
- Que cara a sua!
- Não é para menos. Pasmo do seu vestido.
- Estou chic?
- Está... está...
- Não diga. Porque se diz, mente o comete uma grosseria.
- Não digo.
- Ainda bem. Mas que quer você? É a moda. Pode-se discutir a Moda? A moda é a
única coisa que não se discute, precisamente porque é transitória. Com a guerra, a moda
esteve a princípio um pouco desvairada.
- Só com a guerra?
- Enfim, era impossível tranquilidade no momento da batalha da Marne. Os modelos
todos eram tentativas. Principalmente os modelos para a noite. Se ninguém devia sair à
noite durante a guerra? Para que uma criação de vestido de baile?
Mas a guerra é uma norma, entrou nos hábitos. E em plena batalha de Verdun os
costureiros de Paris...
- Fazem a Moda ainda mais louca do que na batalha da Marne!
- Mas não! Mas não! Dizia a minha ilustre amiga.
- Tudo, D. Renata! Tudo, menos esta atrocidade que corre as ruas.
Que parecem as mulheres agora, faça o favor de dizer-me?
- Eu pareço com um cocheiro de fiacre parisiense.
- É isso, as mulheres parecem homens.
- Já a Moda, cronista, prova alguma coisa como aspecto da transformação moral.
- Como?
- Outrora quando as senhoras vestiam de homem é porque davam para feministas.
Lembre-se das Doutoras do França Júnior e das terríveis sufragistas de Londres. Uma
mulher feminista é em geral contra os homens. Veste-lhe a pele para ser lobo. Agora,
porém, é o contrário. Não há mais feminismos-masculinos como pose para a conquista de
direitos. Há todas as mulheres pensando nos campos de batalha, nos irmãos, nos esposos,
nos pais, nos amantes que morrem pelas pátrias. Elas precisam ter resignação e têm, elas
precisam ser forte e são. A época é das grandes energias viris.
As mulheres fizeram a moda masculina porque a ideia que se mantém é uma nobre
ideia masculina...
Eu olhava a encantadora senhora:
Departamento de Comunicação Social
17
- Como defesa é de primeira ordem. Devia ser advogada para mostrar essa
inteligência. Impossível, porém deixar de achar ridícula a modas das cartolinhas para a
Avenida.
- Que culpa temos nós de não termos espírito da Moda? É um espírito de Paris!
New-York pode pretender suprir o mundo de tudo. Quando chega a Moda, espera apodem
de Paris, esteja Paris com toda a Alemanha nas fortificações.
Não seremos nós a discutir. Mesmo porque não pensamos senão em copiar!
Ademais os homens devem ficar contentes.
Se a moda continua assim, fica muito mais barata.
- E dá lugar a confusões.
- Não diga! Outro dia estava a escolher chapéus naquela modista, onde já me
encontrou uma vez. Havia várias senhoras. Imagine o que se deu?
- Apareceu o Wencesláu Braz?
- Qual Wencesláu! Entrou um rapaz distraído que dando de repente com a vendeuse,
recuou encafifado: Perdão! Pensava entrar numa chapelaria.
- De fato, as montras se parecem...
- O que nos rimos! Decididamente ainda nisso se evidência a superioridade da
mulher.
- Que me diz?
- É patente. Os homens aqui não sentem a guerra, a grande masculinização da
epopeia. Continuam pensando que tudo é a mesma coisa e chegam a enganar-se. As
mulheres vestem todas as modas masculinas com aplomb!
- Na rua. Mas não me fala das grandes toiletes. Vão aparecer de casaca e claque no
Municipal?
- Aí a Moda é fantasista de fato. Ninguém compreende esses vestidos de flor...
- E todos tem o direito de colaborar a fantasia. Assim, D. Renata, minha senhora,
diante das extravagâncias da moda, peço permissão para mostrar-lhe alguns modelos
d’après o Jugge de New-York. São os modelos gravatas, monoplano, torvelinho, etc.
Saquei do bolso o jornal e mostrei. D. Renata Gomes riu francamente. E ambos
concordamos que a Moda com as suas extravagâncias, que ela segue emprestando-lhe a sua
graça inteligente – é afinal de contas o atestado da maluqueira universal...
José Antonio José - A Revista da Semana, 03 jun 1916
7-Mulheres
Utilizar a Europa como modelo, implicava diretamente em absorver seu modus
operanti também. Um pensamento mais moderno sobre a mulher e confrontava
diretamente com tradição e conservadorismo do país. João do Rio fez, de forma muita
espirituosa, uma exaltação a mulher, sua feminilidade, sua participação social, suas
habilidades.
No mundo dos encantadores, além de ressaltar o luxo, as atividades sociais
intensas com as quais elas deveriam estar presentes, incluindo eventos beneficentes
organizado por mulheres. As encantadoras absorviam novas demandas “as mulheres
elegantes no século XX tem mais um martírio! Os livros, a moda de ser lida...”. As
exigências sociais eram diversas e precisavam ser atendidas, para permanecer com boa
fama no círculo social do grupo.
Além de destacar a mulher, citando-as nominalmente e extensamente em diversas
crônicas. Ele ainda cita mulheres que foram destaque em seu tempo, como Nair de
Teffé, primeira dama, Isadora Duncan, dançarina americana, Bebé Lima e Castro, miss
Brasil de 1900, Laurinda Santos Lobo, apelidada por “marechala” da elegância pelo
próprio escritor, Albertina Bertha, escritora, Gilka Machado e Henriqueta Lisboa,
poetisas entre várias outras mulheres, que foram grandes expoentes, seja atuantes na
política ou na arte, ou ainda na sociedade, as socialites.
Título Sinopse
Departamento de Comunicação Social
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O luxo das mulheres/ Diálogos
do Eu masculino – João do Rio
Monólogo sobre a natureza feminina – O Paiz, 29
jan1916
O dia de uma senhora da moda Os compromissos sociais de uma encantadora e sua
vida pessoas - A Notícia, 28 jun 1908
Livros, leitura e mulher - José
Antonio José
Diálogo com Mlle. Renata Gomes – A Revista da
Semana, 20 mai 1916
Roman de la rose - José
Antonio José
O álbum de impressões de dona Bebé de Lima Castro
– O Paiz, 22 mai 1916
Matinée - José Antonio José Dona Luiza Cavalcanti de Lacerda e seu livro sobre
elegância – O Paiz, 24 mai 1916
Sem título – Joe Chás de caridade – Gazeta de Notícias, 17 jun 1914
Pelos dias de chuva - José
Antonio José
A mulher nos dias de chuva – A Revista da Semana,
14 jul 1916
A divina Isadora - José
Antonio José
A bailarina Isadora Duncan exibe-se no Teatro
Municipal – O Paiz, 25 ago 1916
Saudar - José Antonio José Jantar elegante chez Nicola de Teffé – O Paiz, 08 jun
1916
Economia feminina - José
Antonio José
Renata Gomes economiza ao comprar futilidade – A
Revista da Semana, 30 set 1916
O luxo das mulheres. Diálogos do Eu masculino
- No grande teatro, iluminado violentamente pela cegadora multiplicidade das
lâmpadas elétricas, os nossos olhos tinham dois maravilhamentos: a beleza das árvores e o
encanto das mulheres. As árvores, num país de luz frenética, não podem ser sentidas
durante o dia. Á noite, porém, todo o mistério feminino que se encerra no fuste dos troncos
e nas curvas dos ramos parece acordar da catalepsia diurna. A árvore é mulher. Dá,
aconchega, dulcifica, suaviza. Nos troncos vivem as amadríades. Ela é a tentação, o
enigma, o saber. E nada mais excitante do que as árvores por uma noite de verão,
iluminadas pelos focos de eletricidade.
Correm no ar sussurro de pecado, arrepios de luxúria. É impossível caminhar sem
intenções deliciosas por um jardim em o sangue verde das folhas se aclara dessa luz
artificial. A verdadeira conjugação entre os sentimentos da natureza e os sentimentos do
civilizado está em uma árvore iluminada por uma lâmpada elétrica.
-Criminoso!
-Por quê?
-Porque quer dizer coisas que só podemos sentir.
- E não é verdade?
- Razão de mais para não as dizer. A verdade é um fenômeno desmoralizadíssimo.
Basta dizer que ninguém acredita na verdade senão para considera-la mal.
- Que importa! Não há quadro mais empolgante do que o de mulheres sob as
árvores. É a reconstituição do Paraíso. Apenas, as mulheres sob as árvores, sem noções
mundanas, — chocam. E as mulheres passeando deliciosamente vestidas sob as árvores
urbanas, agudamente embebidas, de luz artificial - são como o acorde perfeito, a harmonia
da beleza inicial expressa para contentamento dos nossos nervos de agora. Eu estou feliz.
- Por que viste as árvores enfeitadas pelos reflexos dos arcos voltaicos e mulheres a
passear por elas em vestes de baile?...
-Exatamente.
-Artificial!
- Quanta coisa há no mundo de que não percebemos o segredo! A mim parece-me
que o instinto da natureza é deixar de o ser. Quem te dirá que as árvores não se sentem
alegres transportadas da selva para o meio urbano, cuidadas, preparadas, entrando na vida
social, conhecedoras dos segredos mundanos? Já reparaste como as árvores gostam de ouvir
música? Só ouvem, música assim as mulheres. Se não me acreditas, toma um comboio,
examina em algum sertão da redondeza o ar contrariado das árvores e vem depois sentir a
diferença vendo o contentamento das árvores que ouvem música, assistem a passagem dos
automóveis, leem os jornais e acordam com a luz elétrica... São as árvores que
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compreendem o luxo, os prazeres da vida... Daí esse ar, esse grande ar de elegância
provocante, esse ar de pintura e de artifício, com que elas se sentem, nas cidades, como as
mulheres, ornamentos caros da existência.
- Infelizmente as mulheres são mais caras. Enquanto você tomava atitudes
prerafaelitas e gozavas o luxo das mulheres sob essas árvores que fazes pendantes, eu
pensava justamente no luxo das mulheres vendo tais maravilhas. Não era a sensualidade
refinada e perversa do teu cérebro. Era o economista. Como teria custado aquela quantidade
de vestidos, de chapéus, de jóias! Avaliava a exibição fulgurante pelo seu reverso. Quantas
lágrimas, quantas angústias, quantas humilhações, quantas condescendências! Há muito
amante com dinheiro; há muito marido rico. Mas nem por isso o desejo do luxo deixaria de
ter ali a marca múltipla do seu efeito corrosivo, aniquilando o amor, criando adultérios,
semi-virgens, prostituições, perdição.
Não é dinheiro o fator principal da desgraça humana: - é o luxo que faz procurar o
dinheiro e o amor. Quantos ali, com as fortunas inferiores às vontades do ente amado,
hipotecam a vida, entregam-se aos onzeneiros, vivem escorchados entre a receita falha e a
despeza excessiva, sem coragem de gritar, pois gritar é perder o amor? Quantos a sorrir
pensam no meio de pagar a modista ao costureiro e em empenhar o relógio para dar a hora
de automóvel à dona da sua sensibilidade? A sociedade infiltrou na mulher a ideia do luxo
pago pelo homem. Quem teve semelhante ideia? Qual o espírito maligno que inventou a
tanga mais enfeitada para ensandecer os espíritos frívolos e pedir em troca favores que lhe
seriam pedidos se não fosse a maldita ideia? Esse inventou a perdição.
-Engana-se. Foi a perdição que inventou a tanga. Como inventou reflexões
ponderadas para os cavalheiros aborrecidos ou despeitados...
- Não rias. Sou prático. Diante de uma mulher em grande toilette, como pagador que
sou, só penso no quanto ela soma em ornamento da sua beleza. Outro dia, estive reduzindo
a algarismos o custo em média do encanto feminino. Não imagina o meu estado d'alma.
Uma senhora chic, sem jóias, quando vai a um baile não custa menos de três contos. Põe
agora os adereços. Há damas que carregam fortunas sem juros...
- Senão o do brilho que seduz.
- Tolices! E nota que cheguei a avaliar também o mínimo de uma senhora a passeio,
com simples tailleur.
- Por quanto fica?
- Por mais de seiscentos mil réis. E cada vez as mulheres querem mais toilletes,
mais elegância, mais luxo! E cada vez aumenta o número de lugares onde as senhoras têm
de ir! Em cada canto eu penso nisso...
- Está de uma vulgaridade atrós.
- É capaz de defender o luxo das mulheres.
- No mundo não há perdição, há apenas a procura da felicidade integral. Á
felicidade não se dá nunca por inteiro e intercala a vida de momentos seus. Ora, meu amigo,
a felicidade é mulher, ou antes, a mulher é a unica felicidade da terra.
- Lírico!
- Exato. Tudo quanto a terra e os homens têm de bom foi a mulher que fez. Se o
homem aprendeu a repartir, foi por sua causa, se a arte existe é simplesmente porque ela
existe, se a harmonia das formas encanta e sugere, é porque todas as linhas belas foram
copiadas do seu corpo, se nós temos a elevação da moral e descobrimos a dor da alma
deixando de gozar como os animais, é porque ela o quis. A obra dos homens, boa ou má,
depende dela. O assassino, o ladrão, o vitorioso, o virtuoso se são isso, são por causa dela,
porque não lhe puderam resistir ou porque a tiveram como auxiliar, porque muito a amaram
ou porque muito lhe fugiram. Até os santos nas Thebaidas, até os anachoretas o foram
indiretamente por causa da mulher.
Para que ela fosse a perfeição da terra deu-lhe Deus duas qualidades esplendidas:
desconhecer o valor do dinheiro e amar o luxo. Por mais que se dê a uma mulher, nunca se
dá o bastante; por mais que ela gaste não gasta nunca o suficiente. Ela quer, ela sorri. Ah!
Já viste coisa mais interessante no orbe que um riso de mulher, esse riso guloso e
eternamente maravilhado? Que seria do mundo se as mulheres não gostassem do luxo? A
humanidade não se teria refinado esteticamente, talvez ainda não fosse conhecido o divã,
nem a irlanda de linho!
- Brincas.
- Falo sério. Qualquer tipo da rua tem hoje um sentimento educado de artista. Por
que? Porque o luxo das mulheres, a graça com que elas vivem e vestem os pequenos e caros
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nadas do luxo, dão a cada visão o gosto do puro, do fino e do estético, porque elas são meu
amigo, a Sedução da Felicidade, que é o incentivo da vida. Que importa que o crime ruja, o
horror da cadeia apavore, a raiva do ganho estrangule os homens? A própria dor moral é um
gozo superfino inoculado por essas criaturinhas delicadas.
- Parece que estás doente.
- Graças a Deus estamos ambos.
- És o fantasista, que só pensa no momento de prazer e acreditas o mundo feito para a
tua delícia, achando tudo bom e à tua feição. Eu sou o bom senso que reflete nas loucuras a
que é obrigado.
- Somos a mesma e única pessoa: o eu masculino. Mas, fica certo, de nós dois o mais
feliz não és tu. Porque o homem só é feliz quando não pensa no dia de amanhã e renova a
luz das lâmpadas elétricas e da civilização à cena inicial do Paraiso - Adão ardente, vendo
passar sob as árvores mundanas e caras o luxo caro das mulheres formosas...
João do Rio - O Paiz, 29 jan 1916
Conclusão
O produto final desse projeto foi a constituição do possível livro Frívola City, que
se concentra em sete tópicos temáticos, que apareceram de forma recorrente durante o
levantamento. Tais tópicos revelam traços que delinearam do high-life republicano,
retratando seu cotidiano frívolo, seu modo de vida, seus hábitos e costumes e ilustram
com detalhes esse grupo social que ditou o modelo de vida a ser almejado e foi a vitrine
para os brasileiros na recém-criada República. E mostra a maneira como se configurou o
Rio, que ambicionando ser tão modernizado quanto os centros hegemônicos, ganha um
projeto de urbanização que servirá de pano de fundo para os encantadores desfilarem.
Através da leitura das crônicas e da bibliografia teórica foi possível compreender
com mais clareza o recorte dado pelo escritor e como ele interpreta o grupo citado, no
qual João do Rio tinha forte presença. Outro ponto essencial para a pesquisa foi situar o
momento histórico e perceber como esse período impactava diretamente esse grupo dos
“encantadores”.
Na seleção das crônicas, também foram encontradas muitas em que se utiliza da
ironia para fazer críticas (às vezes duras), revelando o modo como João do Rio encarava
o tema e da qual ele tinha consciência da futilidade do assunto como o próprio se refere
“A futilidade é o único mal do mundo que não faz mal a ninguém”. A afirmação na
crônica “O Espírito e a tolice” “Quem quiser ver a capacidade de uma cidade, em vez
do espírito, deve estudar-lhe as tolices” revela o modo como ele se debruçava sobre as
frivolidades, em que na verdade via um grande valor e também o material privilegiado
para trabalhar suas análises do cotidiano da urbe.
Esta parte menos estudada e valorizada de João do Rio torna-se necessária para
revelar a relação paradoxal que o escritor tinha com o grupo, onde, ao mesmo tempo em
que vislumbrava todo luxo e requinte ostentado por seus “encantadores”, não deixava de
lado a crítica, que aparecia através da ironia em relação a essa camada privilegiada que
vivia num círculo social fechado e que se identificava com a vida cosmopolita de Paris.
De certa forma, esta visada crítica pode levar a indagar de que maneira
efetivamente João do Rio é representado como “radical de ocasião”, como formula
Antonio Candido. Pode-se também chamar o jornalista-escritor um “radical chic” no
papel de “cronista adandinado”, uma vez que ao abordar esse segmento da sociedade,
não anulava a outra parte de sua obra em que tematiza os “mutilados da Belle Époque”,
a que chama de “canalha”.
Apesar de este trabalho ser um esforço para resgatar parte da obra do escritor, em
que privilegia a crônica, não deixa de ser um registro valioso que conta com vivacidade
provocada pelo diálogo entre a literatura e o jornalismo, típico desse gênero híbrido.
Como diz o próprio autor no prefácio de Pall-Mall Rio, de José Antônio José (um dos
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pseudônimos de Paulo Barreto): “Sou da opinião que para exprimir a metafísica e a
ética da cidade só um livro seria completo: o que desse uma lista de nomes de cuja
influência dependessem os pequenos fatos frívolos – que são os únicos importantes. E
esse livro não seria apenas para a meditação filosófica. Seria também o espelho capaz
de guardar imagens para o historiador do futuro“.
Bibligrafia
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SANTANA, Débora Betânia de. Ironia: O tempero da crônica (estudo de
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SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação
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____. História da vida privada no Brasil vol. 3: República: da Belle Époque à
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