jornal lampião - edição inaugural
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Jornal LaboratórioComunicação SocialJornalismo - UFOPAno 1 - Edição Nº 1 Maio de 2011LAMPIÃO
Comunicação e cidadania
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Estudantes lançam jornal voltado aos interesses da comunidade
Reciclagem de lixoPorque a coleta seletiva é importante para a cidade
3 Greve dos servidores de Mariana
Categoria sai fortalecida do movimento após ter parte das reivindicações atendidas
Por trás do nariz vermelho
Sem maquiagem nem fantasia, palhaços falam da criação de seus personagens12
Jornal Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 - Edição Nº 0 - Maio de 2011
9 População sofre com falta de água
Construção de reservatórios não resolve o problema de abastecimento na cidade
José Benedito donadon-LeaL
O aldravismo co meça sua trajetória com o encontro de poetas residentes na cidade de Mariana no ano de 2000. Era a criação do Jornal Aldrava Cultural e da Associação Aldrava Letras e Artes a convite do poeta Gabriel Bicalho, mentor da ideia e coordenador do projeto fundacional da associação de poetas, contadores de história, estudiosos da literatura, artistas visuais e músicos. Estavam naquele primeiro momento os poetas J. S. Ferreira, Lázaro Francisco da Silva, Hebe Rôla, Luiz Tyller Pirolla, Geraldo Reis e eu, além do músico Arley Camilo e do artista visual Elias Layon e, posteriormente, Camaleão e Andreia Donadon Leal.
A proposição inicial foi a da heterogeneidade que traspassa a produção discursiva dos artistas da palavra e dos pinceis. Possibilidades de convivência de olhares conflitantes, de olhares em diversidade, de olhares às vezes contraditórios tornaramse reais na construção de convivência respeitosa em meio à diversidade cultural.
Diversidade: olhares conflitantes,
variados, contraditórios
Na elaboração do perfil teórico do aldravismo, foram determinantes as contribuições filosóficas de Lázaro Francisco da Silva, que com seu raciocínio dialético demonstrou que somar não implica fundir. Dessa forma, a soma das experiências poéticas não podia implicar a perda dos estilos individuais, em função da pretensa construção de um estilo, mas a exposição extrema desses estilos individuais como continentes de algum ponto em convergência. Os manifestos aldravistas de J. B. DonadonLeal, com base nos pressupostos teóricos da Semiótica e na Análise do Discurso, passam a demonstrar como a leitura metonímica do mundo, sem a arrogância da metáfora, organiza os fazeres discursivos hipertextuais do início do Século XXI. Depois de dez anos de trajetória produtiva, o resultado dessa proposição literária pode ser visto no reconhecimento que os poetas aldravistas conquistaram no universo intelectual brasileiro e até internacional, especialmente em academias de letras e artes do Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos. A coroação dessa iniciativa ousada dos aldravistas chega com o lançamento de uma nova forma de poesia – as aldravias – com seis veros univocabulares; o mínimo de palavras com o máximo de poesia. O primeiro livro de aldravias foi lançado no mês de maio de 2011.
O respeito ao conhecimento e direito à crítica do sujeitoleitor, sempre defendido pelo aldravismo, implica o respeito incondicional à liberdade criadora. Assim se construiu um movimento literário através do Jornal Aldrava Cultural.
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 201102
EntrE olharEs
Límpido - Tantos lugares comuns, turísticos, velhos conhecidos dos transeuntes que caminham por Mariana. As igrejas, o casario e sua arquitetura, uma beleza específica e por vezes tão peculiar. E, no entanto, há ainda mais lugarejos, esquinas e detalhes escondidos, ou mesmo refletidos, onde menos se espera, ou onde menos olhamos... Redescobrir esta velha senhora nos seus mais inusitados espaços e elementos, com outros olhos e sentidos, (re)ver. Afinal, como diz o poeta Manoel de Barros, “o olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.” (Ana Beatriz Noronha)
Aldravismo, movimento literário nascido em Mariana
Outro jornalismo é possível
opinião
A palavra que informa é tam-bém a palavra que encanta, ilu-mina e traduz – não o traduzir de quem pretende apenas clarear o que parece opaco, mas o traduzir de quem pretende esclarecer para permitir que o outro construa no-vos significados, novas formas de ver o outro e as coisas que en-volvem o dia-a-dia desse outro. Esse ato de construir, de edificar mesmo, inspira e move o Jornal Lampião, que se revela agora à ci-dade de Mariana pelas mãos dos alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Cada informação, cada palavra inscrita, cada sen-tença trabalhada é resultado de variadas formas de ver, de varia-das vozes, de variadas percepções e concepções – todas elas de pesso-as que circulam pela cidade, que ocupam os mesmos espaços num mesmo tempo e compasso.
Produzir a centelha do Lam-pião significa, para esses estudan-tes, usufruir do poder de dar voz ao outro. Mais que isso. Lançar a centelha equivale a abrir novos caminhos, novas trilhas, no sen-tido de proporcionar espaços re-vigorados de debate que possam conduzir à reflexão, ao repensar, ao reconstruir. Propor e abordar temas que vão da coleta seletiva à instabilidade política – passan-do pelas propostas culturais que permeiam a cidade, pelas oportu-nidades no setor de serviços e por
problemas que vão da paralisação dos servidores municipais até as dificuldades de tráfego nas vias de circulação – pretendem, na verda-de, cumprir o papel da narrativa: o de resgatar, no homem, a capa-cidade de se surpreender diante do que é, do que muda, do que diver-ge e conflita. Resgatar, no homem, a capacidade de crescer a partir de uma história. E do conhecimento que essa história traz.
Com a palavra, o homem pode
compartilhar conhecimento,
pode aprender e ensinar
O escritor Manoel de Barros diz que é “puxado por ventos e palavras”. O ser humano é assim. Para ele, a palavra é feito comida: encorpa o sujeito, transforma o corpo e a mente.
Com a palavra, o homem pode compartilhar conhecimento, pode aprender e ensinar, pode decidir o que quer e o que não quer, partici-par – e aí acaba mais cidadão. Pois bem. O jornalismo proposto aqui é aquele em que a história contada quer transformar o mundo – sem medo da utopia e do sonho, ambos transformados em “motor de ar-ranque” para a intervenção social, para a construção de um lugar melhor. É assim a luz do Lampião.
Editorial ChargE
“As moça do colégio tá tudo na minha lista. De dia namora comigo, de noite com o seminarista.”
“Já vi muitos candidatos dizerem que vão resolver
o problema e NADA.”
“Porém, é preciso ESCOLHER: você está dentro ou está fora”
“Tem lugar que NÃO tem nem como passar.”
“O turismo já tem artistas que lhe são reservados, enquanto tem uma galera que não é reconhecida.”
lampEjos dEsta Edição
Cristiano Coelho, sobre a arte em Mariana. p. 11
Vanduir Martins, sobre o trânsito em Mariana. p. 4
Benedito Ferreira, sobre abastecimento de água em
Mariana. p. 9
Ubiratan Vieira, sobre mobilizações. p.3
Famosa frase do Tié-tié. p.8
“As pessoas pensavam no Lampião cangaceiro, mas queriamos uma ideia de luz.”
Tábata Romero, sobre o jornal Lampião. p.5
Edição: Amanda Rodrigues e Luiza Lourenço
Jornal laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo D Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) D Reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Juçara Gorski Brittes. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Marta Regina Maia D Professores responsáveis: Hila Rodrigues (Laboratório de Jornalismo Impresso), Anderson Medeiros (Fotografia) e Ricardo Augusto Orlando (Planejamento Visual) D Reportagem, fotografia e edição: Allãn Passos,
Amanda Rodrigues, Ana Beatriz Noronha, Ana Cláudia Garcêz, Camila Dias, Douglas Gomides, Enrico Mencarelli, Fábio Seletti, Fernando Gentil, Izabella Magalhães, Leidiane Vieira, Lorena Caminhas, Luana Viana, Lucas Vasconcellos (Lucas Aellos), Lucas Borges, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mari Fonseca, Mateus Fagundes, Mayara Gouvea, Olívia Mussato, Paulo Dias, Raísa Geribello, Rodolfo Gregório, Sabrina Carvalho, Sara Oliveira, Simião Castro, Sophia Figueiredo, Tábata Romero, Tabatha Campelo, Thales Vilela Lelo D Projeto gráfico: Enrico Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mayara Gouvea, Simião Castro, Tábata Romero D Colaboração: Fábio Germano, Neto Medeiros D Impressão: Conceito Gráfica Editora Ltda D Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço eletrônico: jornallampião@gmail.com. Endereço: Rua do Catete nº 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG.
03
ça e do transporte foi aumentando a cada etapa da greve.
Para Chico Veterinário, o fato de muitos servidores terem par-ticipado é resultado de uma visão coletiva. “Todos viram que o pro-blema era comum, era geral e não só de uma categoria ou de outra”, argumenta. Outra questão impor-tante tratada por ele é o endivida-mento dos funcionários. Muitos deixam todo o salário para paga-mento de dívidas bancárias e isso, segundo Chico, “oprime o traba-lhador, desmotiva e mostra que é necessário reivindicar melhores condições para todos os servido-res públicos”.
Tanto Chico quanto Jamylle não sabem se essa é só a primei-ra de muitas greves na história de Mariana, mas os dois concordam que o momento mostra que os ci-dadãos estão mais preocupados e conscientes dos seus direitos. Se-gundo eles, a relação política dos moradores com a cidade pode melhorar muito com essa experi-ência de paralisação geral.
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 2011
Movimento fortalece cidadania Raísa GeRibello
Um movimento grevista pode superar sua função política. A his-tória dos movimentos sociais tem mostrado que, na prática, as gre-ves costumam transcender as re-lações burocráticas, transforman-do-se em movimento de cons-cientização cidadã. Em Mariana não foi diferente.
Nas palavras do presidente do Sindicato dos Funcionários e Ser-vidores Públicos (Sindserv), Chi-co Veterinário, “a greve fortale-ceu o movimento e demonstrou o amadurecimento da categoria”. Para ele, a greve não se limitou à pauta de reivindicações dos ser-vidores. “A sociedade entendeu a demanda”, garante.
Para ilustrar a compreensão da sociedade marianense, Chico uti-lizou o exemplo do corte feito pe-los usuários dos serviços públi-cos de saúde. Segundo ele, alguns pacientes chegaram a boicotar as sessões de fisioterapia, recusando o atendimento prestado por subs-titutos - e só voltariam a utilizar o serviço quando a greve terminas-se e seus respectivos fisioterapeu-tas voltassem a trabalhar.
Na avaliação da funcionária pública, que prefere ser identifica-da apenas por Maria Aparecida, a paralisação teve efeitos positivos. “Eu apoiei e apoio o movimento de greve. Minha profissão ainda não foi tão beneficiada como ou-tras foram, mas achei que a greve funcionou bem”.
RompimentoMariana rompeu com a tradi-
ção do silêncio. Pela primeira vez na história da cidade, o Sindserv e seus representados decidiram em assembleia geral – realizada em 18 de abril, com quórum de aproxi-madamente 500 pessoas – parali-
GREVE DOS SERVIDORES
izabella MaGalhães
Como explicar um movimento grevista inédito na cidade? É pos-sível entender os motivos que le-varam os servidores a suspender suas atividades em nome de rei-vindicações? Por que isso nunca tinha acontecido antes? Essas são perguntas que nossos entrevista-dos procuraram responder.
De acordo com a estudante e cidadã marianense Jamylle Mol, a greve explodiu porque agora a po-pulação tem menos vínculo com o prefeito. “O atual prefeito não tem partido, e chegou ao cargo ines-peradamente. Pouca gente tem aquela sensação de que deve fa-vor, e isso ajudou. As pessoas têm mais liberdade para falar o que pensam”, diz ela.
Para a estudante, a cidade ain-da vive uma política coronelista forte, e quem vota cria uma rela-ção de devoção com o candidato.
Segundo o Sindserv, o número de professores, secretários, fun-cionários da limpeza, da seguran-
300 anos de história e a primeira greve dos servidores em MarianaCaMila Dias
Na avaliação de parte expres-siva de sociólogos e historiado-res, os movimentos de resistên-cia são essenciais ao desenvolvi-mento das sociedades. Na prá-tica, eles incentivam ações fun-damentadas no exercício da cidadania e na participação. O sociólogo e professor da UFOP, Ubiratan Garcia Vieira, falou so-bre o assunto com o Lampião.
Lampião – Qual a importân-cia de movimentos de resistência para as sociedades?
Ubiratan Vieira – A impor-tância está no fato de um grupo reivindicar o que considera re-levante e o que é garantido por lei para a categoria. A flexibilida-de das leis trabalhistas e a tercei-rização, por exemplo, são fato-res importantes no atual cenário dos trabalhadores. O primeiro dificulta o processo de cumpri-mento dos direitos desta classe, enquanto o segundo implica a perda de alguns destes direitos. É fundamental apontar que es-tes movimentos não se resumem à classe trabalhadora. Os no-
vos movimentos sociais, chama-dos assim por alguns sociólogos, nem tão novos assim, são ações também de resistência, que en-volvem outras parcelas da socie-dade. Temos, por exemplo, a luta contra a discriminação racial, as políticas afirmativas, o direito à diversidade sexual ou a questão da educação para pessoas com algum tipo de deficiência. São casos em que existe a demanda pelo reconhecimento, por res-peito e pela aquisição de direi-tos, apesar de não existirem leis sobre os mesmos. É importante mostrar à população que é pos-sível a mobilização quando se re-conhece uma situação de exclu-são.
L – É possível relacionar estas mobilizações com a formação de uma consciência cidadã?
UV – Sim. Se você reconhece que está sendo prejudicado, você vai à luta. A questão da cidada-nia está diretamente relacionada à idéia de democracia, somos to-dos iguais perante a lei. É neces-sário, porém, que alguma situa-ção exista para que a mobiliza-
ção aconteça. A legitimidade da união de casais do mesmo sexo é um exemplo disto. Por que só agora ela deixou de ser conside-rada inconstitucional? A lei sem-pre existiu. Imagino que a po-lêmica criada pelas declarações do deputado Jair Bolsonaro te-nha favorecido um contexto so-cial para se levantar estas e ou-tras discussões referentes à di-versidade sexual.
L – O que o senhor diria aos trabalhadores que têm receio de aderir a estas mobilizações?
UV – Muita gente se sente prejudicada e se mobiliza, pois neste momento você é chamado à coragem para reverter esta si-tuação. Este posicionamento, no entanto, não exclui o medo de re-presálias, isso é comum. Porém, é preciso escolher: você está den-tro ou está fora. Se você se sen-te prejudicado, tem que se movi-mentar. Existe ainda a ‘teoria do carona’. São os que não partici-pam das mobilizações e mesmo assim vão colher os benefícios daqueles que aderiram às ações. Isso é covardia.
“Somos todos iguais perante a lei”
sar suas atividades a partir do dia 26, respeitando os prazos estabe-lecidos pela Lei de Greve.
A greve é um direito legítimo de todos os trabalhadores e pode ser realizada nos mais diversos se-tores do serviço público, como se-gurança, saúde, educação e lim-peza, entre outras áreas essenciais ao funcionamento da cidade.
A pauta de reivindicações dos grevistas incluía reajuste sa-larial de 10,27% a 13,6% para to-dos os servidores; vale alimenta-ção no valor de R$ 200; pagamen-to adicional de 20% aos que tra-balham no turno da noite e redu-ção da carga horária de 40 para 30 horas semanais. O projeto de lei aprovado pela Câmara dos Vere-adores, no dia 9 de maio, garan-
tiu aos servidores um aumento do piso salarial de R$ 540 para R$ 619; vale alimentação de R$ 100 para os servidores com remune-ração do nível I ao VI e pagamen-to do adicional noturno. Ainda não houve alterações em relação à carga horária. Outra reivindi-cação não atendida pela Prefeitu-ra foi o pagamento, garantido por lei, de insalubridade e periculosi-dade àqueles que estão sujeitos a situações de risco ou sofreram al-gum dano significativo enquanto empregados pela Prefeitura.
Nas questões referentes às me-didas que possam garantir a se-gurança do trabalhador, os ser-vidores reivindicaram o forne-cimento constante e em quanti-dade suficiente de equipamentos
de proteção individual (EPI) e de proteção coletiva (EPC). As licita-ções necessárias para efetivar essa demanda estão em andamento. O prazo estimado para isso é de aproximadamente um mês, a par-tir de 9 de maio.
Em relação a outro motivo da greve - a suspensão das demis-sões, o secretário de Administra-ção Carlos Alberto Ferreira expli-cou que a prioridade da Prefeitu-ra consiste em “ajustar a adminis-tração à legalidade”, o que implica em demitir todos os contratados, que serão substituídos pelos con-cursados. Enquanto não estiver concluído o processo de seleção por concurso público, os contra-tados permanecem em seus res-pectivos cargos. Porém, assim que
os concursados estiverem aptos a assumirem seus postos, os que não estiverem ajustados à legali-dade serão demitidos.
Embora a greve tenha termina-do oficialmente no dia 9 de maio, o Sindicato dos Servidores e seus representados continuam atentos aos processos que estão em an-damento, e aguardam pela rene-gociação das reivindicações não atendidas pela Prefeitura, prevista para daqui a quatro meses.
Aqueles servidores e funcioná-rios públicos de Mariana que ain-da tiverem dúvidas sobre a greve e as novas decisões da adminis-tração pública podem entrar em contato com o Sindicato dos Ser-vidores, o Sindserv, pelo telefone (31) 3557-2777.
Em momento histórico na cidade, servidores promovem assembleia pública e determinam o início da primeira greve de Mariana com apoio da população
Negociação entre o presidente do Sindserv e o prefeito Bambu Servidores assistem à votação na Câmara dos vereadores Vereadores votam o projeto de lei que levou ao fim da greve
Fotos: Darcy Pereira De carvalho
edição: Paulo Dias e thales lelo
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 201104trânsito
Mudança de prefeitos prejudica cultura Mayara Gouvea
A instabilidade política pela qual Mariana tem passado nos últimos anos – refletida, em es-pecial, nas frequentes alterações observadas no Poder Executivo – trouxe consequências para to-dos os setores da sociedade, prin-cipalmente para a vida cultural do município. A partir de 2009, quando a crise começou a tomar grandes proporções, a decadência dos eventos tradicionais da cidade foi visível.
Para o pedreiro Robson Ro-drigo, 40 anos, o problema é que com a substituição desenfreada dos prefeitos, não há um plano de governo que tenha continuida-de. Isso, segundo ele, prejudica a cidade, as políticas públicas e os projetos de cultura.
O aposentado José Lima, 83 anos, lamenta: “Nós estamos pra-ticamente a zero. A vida cultural
1999/2000 - José Hugo Murton
2001/2004 - Celso Cota Neto
2005/2008 - Celso Cota Neto
2009/2010 - Roque Camêllo
2010 - Teresinha Ramos
2010 - Raimundo Horta
2011... - Geraldo Sales (Bambu)
Pedestres brigam para caminhar em Mariana
aManda rodriGues
Infra-estrutura precária, fal-ta de segurança para pedestres, carência de calçadas, passeios ir-regulares, estreitos, com buracos, lixo e outros obstáculos. Esses são apenas alguns dos principais pro-blemas que dificultam a vida de quem anda a pé por Mariana.
As reclamações são muitas. Para o morador do bairro São Gonçalo, Vanduir Martins, as condições das calçadas são péssi-mas. O pior são as várias bocas-de-lobo (bueiros) expostas, além dos buracos e do lixo espalhado.
Na avenida Nossa Senhora do Carmo, há trechos em que não existe sequer o passeio. Ainda as-sim, o local é usado para a prática de caminhada, o que aumenta os riscos de acidente. Já na rua do Catete, a calçada é muito estreita. Postes de iluminação e sacos de lixo depositados muito antes do horário da coleta ocupam todo espaço de circulação. Em outros trechos, a passagem é completa-mente interrompida. Muitos es-tabelecimentos comerciais reser-vam vagas para estacionamento exclusivo dos clientes.
Outro problema é que, ao lon-go de toda a rua do Catete e da Av. Nossa Senhora do Carmo, não há nenhuma faixa de pedestre. Em outro ponto do centro, há apenas uma faixa e um sinal de pedes-tres visíveis, localizados na praça Tancredo Neves. Segundo o dire-tor do Departamento de Trânsito Mariana (Demutran), Geraldo Augusto Simplício, as possibili-dades de modificação de tráfego
dessa área são limitadas – já que o centro histórico da cidade é tom-bado pelo Patrimônio Histórico Nacional, ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Tem lugar que não tem nem
como passar”Vanduir Martins
A equipe do escritório técnico do Iphan em Mariana afirma que a sinalização de trânsito pode ser aplicada à área tombada, desde que siga as normas do Guia Bra-sileiro de Sinalização Turística. Destaca, no entanto, que, nessa área, o ideal é que a circulação fos-se somente de pedestres – como ocorre, por exemplo, na cidade de Paraty, Rio de Janeiro. A equipe afirma ainda que o Iphan não é diretamente responsável pelas cal-çadas. A conservação dos passeios é de responsabilidade dos donos dos imóveis – qualquer modifica-ção deve ser aprovada pelo órgão. Somente nos casos de falta ou da-nos dos registros e tubulações é que a manutenção fica por conta das empresas prestadoras dos ser-viços, como as de telefone e água.
O aposentado Eli Gonçalves, 54 anos, morador do Bela Vista, é mais um cidadão insatisfeito. Eli sofreu um acidente ao pisar em uma boca-de-lobo aberta, pró-xima a delegacia da Polícia Civil. “Dei sorte por não ter quebrado a perna”, diz ele que não chegou a registrar qualquer reclamação.
Os pedestres que circulam fora
do centro enfrentam situações pa-recidas. Vias como a Wenceslau Braz e a Bom Jesus têm intenso movimento de carros e pessoas, mas a sinalização e a estrutura também são precárias. Para a co-merciante que prefere se identi-ficar apenas por A.G., 57 anos, o principal problema da Wenceslau é o desnível das calçadas. “São pequenas demais, não dá para a pessoa andar. Não pode uma mais fina, outra mais grossa, outra mais baixa ou mais alta”, argumenta.
Para a esteticista Eliana Casta-nheira, 58 anos, o asfalto da rua, em alguns trechos, acabou preju-dicando a mobilidade dos pedes-tres. Segundo ela, piorou o esco-amento da água, os carros estão correndo mais e as calçadas foram deixadas de lado.
Geraldo Simplício, diretor do Demutran, assegura que o órgão tem trabalhado na sinalização e na orientação do trânsito na cida-de – embora não tenha apresen-tado um projeto específico, com data prevista para ser executado. Segundo ele, há pedidos oficiais da população para a implantação de faixas de pedestre, quebra-molas e outras sinalizações. Mas diz que esses trabalhos só serão executados após a realização de um estudo técnico. Geraldo afir-ma ainda que o órgão é responsá-vel pela fiscalização e sinalização “quando necessário”. Segundo ele, a Secretaria de Obras é a respon-sável pela melhoria nas vias da ci-dade. A equipe de reportagem do Lampião procurou a Secretaria de Obras do município, mas não ob-teve retorno.
sEGUrAnÇA no trânsito E inFrA-EstrUtUrA
teria que estar à altura de Mariana, que foi a primeira capital de Mi -nas, e isso não está acontecendo”.
Segundo o Secretário de Cul-tura de Mariana, Cristiano Casi-miro dos Santos, que está no cargo desde julho do ano passado, a cap-
tação de recursos para a realiza-ção dos eventos foi a mais prejudi-cada pelo entra e sai de prefeitos. “Uma instabilidade dessas gera um descrédito fora da cidade”, ar-gumenta. O maior exemplo disso é o Festival da Vida, idealizado em
2003 pela Arquidiocese de Maria-na com o objetivo de impulsionar a vida cultural da cidade por meio de shows, oficinas e debates sobre assuntos considerados socialmen-te importantes pela Igreja.
Devido à crise política, a Mul-
ticulti, empresa que organiza a festa, não conseguiu o repasse da verba de R$ 200 mil destinados todos os anos para o evento. De acordo com Cristiano dos San-tos, o descrédito gerado pela ins-tabilidade está sendo contornado a partir da aproximação com o governo estadual e outros muni-cípios. “Agora estamos nos recu-perando e as coisas melhoraram”, afirma. Para o Festival deste ano já foram confirmadas três atrações conhecidas nacionalmente: Titãs, Demônios da Garoa e Padre An-tônio Maria.
O projeto da Secretaria de Cul-tura para 2011 é fazer das ativida-des culturais produtos turísticos, com o objetivo de “vender” o mu-nicípio culturalmente. Uma ideia é reunir e organizar as bandas de música em uma associação reco-nhecida juridicamente. Outra é criar uma liga das escolas de sam-ba e dos blocos de Carnaval.
GALEriA Dos PrEFEitos
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece o uso dos passeios pelo pedestres.
As calçadas podem ser usadas com outras finalidades, desde que isso não prejudique o fluxo de quem anda a pé.
Em casos de obstrução do passeio, o Demutran deve colocar sinalização. O poder público tem obrigação de manter as faixas e passagens de pedestres em boas condições de visibilidade, higiene, segurança e sinalização.
Todos os órgãos pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito têm o dever de analisar e responder às solicitações apresentadas pelo cidadão, esclarecendo sobre a possibilidade ou não de atendimento dos pedidos.
fotos: mari fonseca
élcio rocha
Pedestres disputam espaços transitáveis na rua do Catete
Calçadas e ruas estreitas dificultam a travessia de pedestres
Secretário de Cultura, Cristiano Casimiro dos Santos
MUniCÍPio
edição: izabella magalhães e mari fonseca
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 2011 05
“As pessoas pensavam no Lampião cangaceiro.
Mas queríamos uma ideia de luz.”
Tábata Romero
Comunidade ganha mais uma fonte de informações
Todo o projeto gráfico foi elaborado em sala de aula pelos alunos
Alunos do curso de Comunicação Social da UFOP se reúnem para discutir a criação do jornal laboratório
AnA CláudiA GArCêz e MAri FonseCA
“Como já dizia o escritor José Saramago, nada é mais difícil do que o ‘princípio’. Começar qual-quer coisa é muito dolorido. Tí-nhamos e temos consciência dis-so, mas a resposta da turma, ape-sar desse susto inicial, foi muito positiva.” Desta maneira a profes-sora Hila Rodrigues, uma das co-ordenadoras do projeto de jornal laboratório do Curso de Jornalis-mo da UFOP, define o início do processo de produção do jornal Lampião. Ele foi planejado, re-digido, editado e distribuído pe-los estudantes. A criação do Lam-pião é resultado da demanda da disciplina do 6º período do curso de Comunicação Social da UFOP, Laboratório de Impresso I-Jor-nal, que se associa a outros seto-res da produção jornalística: Pla-nejamento Visual e Fotojornalis-mo, disciplinas ministradas pelos professores e também coordena-dores do projeto, Ricardo Augus-to e Anderson Medeiros.
O ponto central do projeto es-tava no caráter fundamental da participação efetiva dos alunos. “Não queríamos um processo ver-tical. Queríamos a participação dos alunos na criação de todo o
jornal”, conta a professora Hila.O Lampião começou a tomar
corpo a partir de duas propostas apresentadas em sala de aula. Essa oportunidade de refletir e decidir em conjunto foi positiva, na ava-liação dos universitários. “Um dos pontos positivos do projeto foi o processo de criação coletivo”, afir-ma o luno do 6º período do curso de Comunicação Social da UFOP Simião Castro. O professor Ricar-do Augusto reforça que a vanta-gem de um jornal laboratório é a experimentação, o jornal vai se re-novar e melhorar a cada edição.
A também aluna do 6º perío-do de Comunicação Social, Iza-bella Magalhães, explica que a pri-meira etapa de idealização de um novo jornal partiu de uma pesqui-sa qualitativa com os moradores de Mariana. Ouvir os cidadãos, segundo Izabella, foi importante para pensar um jornal capaz de se dirigir de forma ampla e irrestrita aos moradores de Mariana.
O projeto aprovado pelos alu-nos cria um jornal sem editorias fixas. Isso quer dizer que seções de política, economia, cidades e esporte estarão em locais diferen-tes do jornal, a cada edição. A de-cisão foi tomada para evitar um produto “engessado”, com pautas
obrigatórias, cumpridas apenas para satisfazer os espaços que se-riam destinados a cada editoria. O não engessamento depende tam-bém do planejamento visual das páginas. “Nosso jornal caminha para textos bem espaçados, com fotos amplas, títulos explicativos, alguns espaços em branco e diver-sos elementos ilustrativos – como infográficos, tópicos, diagramas, tabelas – para aliviar bem o con-teúdo textual”, diz Tábata Rome-ro, integrante da equipe de elabo-ração do projeto gráfico.
A escolha do nome do jornal também foi um desafio. Segundo os estudantes, não é fácil escapar de nomes comuns e, ao mesmo tempo, conferir uma determinada imagem a um produto. A escolha do termo “lampião” relaciona-se não só à iluminação do município de Mariana, com suas tradicionais lanternas, mas também à ideia de derramar luz sobre a cidade e so-bre seus moradores a partir da no-tícia e da abertura de um novo es-paço para o debate.
Um questionamento surgiu, entretanto: como evitar a ligação do nome escolhido ao cangacei-ro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião? O desejo dos alunos era devolver à palavra a imagem da luminosidade.
O foco do jornal está no pen-samento que remete à intervenção
social nas comunidades. A partir da produção jornalística, os estu-dantes pretendem atuar como me-diadores de acontecimentos, fatos e histórias envolvendo a cidade e seus personagens. “A perspectiva é produzir um jornal organizado, esteticamente agradável e de fácil leitura”, explica o professor Ricar-do Augusto. O carro-chefe da pro-dução estará na apuração, na pes-quisa e no desenvolvimento de um trabalho capaz de incentivar e ampliar as discussões, valorizan-do o pluralismo e a diversidade. “É um jornal feito por alunos que têm prazer no fazer jornalístico, que trabalham sob a perspectiva de um jornalismo comprometido com o social, com a cidadania. É gente que tem vontade de acertar e isso me anima muito”, pontua a professora Hila Rodrigues.
Política desperta maior interesseThAles lelo
Enquete realizada com 66 mo-radores da cidade de Mariana en-tre os dias 11 e 15 de abril regis-tra que a política tende a ser um dos temas que mais desperta o in-teresse da população. A questão foi apontada por 54% das pesso-as que participaram da enquete. O segundo tema considerado de maior importância foi a saúde, ci-tada por aproximadamente 24% dos entrevistados.
A enquete foi realizada por alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) com o objetivo de compreender a relação estabele-cida pelos moradores de Mariana com o jornalismo.
Os entrevistados também fo-ram questionados sobre seu con-tato diário com jornais. Somente duas pessoas afirmaram não aces-sar nenhum veículo noticioso. Das 64 restantes, 37 apontaram que o meio mais utilizado para se informar é o jornal impresso. Os telejornais foram destacados por 23 participantes e os webjornais por outros 13.
As entrevistas se deram a par-tir de uma divisão por segmentos profissionais. Foram escolhidos grupos de estudantes, comercian-tes, figuras públicas e cidadãos com ocupações diversas. As res-
Levantamento realizado nas ruas da cidade indica que trabalhadores e estudantes querem debater temas voltados para a realidade política do município
postas de cada grupo reforçam as diferenças de opinião. A maioria dos estudantes considera o web-jornal o meio mais importante para se informar, enquanto o no-ticiário impresso foi o meio mais relevante para comerciantes e fi-guras públicas. Os demais apon-taram a TV como o principal veí-culo para acompanhar as notícias.
Comerciantes e estudantes con sideraram a política o tema mais importante a ser tratado pelo jornalismo, enquanto ou-tros cidadãos destacaram a saú-de como assunto prioritário. Já as figuras públicas responderam, em sua maioria, que o jornalismo lo-cal deveria apresentar as notícias com imparcialidade.
Jornal a serviço da população
Para a professora do Curso de Jor-nalismo da UFOP, Joana Ziller, um jor-nal deve “entender” os públicos para os quais se destina, não só tratando de uma temática de interesse da popula-ção, mas também recorrendo à lingua-gem corrente da região. A professora afirma ainda que, para se aproximar da comunidade, o jornalismo deve ser flexível e respeitar as características do público leitor. Já Nilson Lage, profes-sor emérito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), garante que o principal é que os jornais publiquem, além de informações pontuais de inte-resse público, outros tipos de texto. O professor cita, por exemplo, as maté-rias de promoção de eventos e os rela-tos históricos e institucionais destina-dos a estimular o orgulho de se perten-cer a uma comunidade.
Já o professor Carlos Alberto Car-valho, da Universidade Federal de Mi-nas Gerais (UFMG), acredita que o ponto mais importante quando se dis-cute interesse público é a não omissão da linha editorial e a definição clara do perfil do público que se espera atingir. Desta maneira, a publicação pode re-fletir um cardápio de grandes temas privilegiados, sempre a partir das ne-cessidades e demandas dos leitores.
JORNALISMO
Em que meios os entrevistados buscam notícias*
37 pessoas
Telejornais
Webjornais
Nenhum
Impressos
23 pessoas 13 pessoas 2 pessoas
* No total, foram 66 entrevistados
FOTOS: Mari FOnSeca
arTe: LucaS LaMeira e TábaTa rOMerO
edição: camila Dias e Olívia Mussato
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 201106 Edição: Tábata Romero e Leidiane Vieira
Luiza Lourenço
A coleta seletiva para a reciclagem do lixo é uma realidade em Mariana há seis anos, quando o Centro de aproveitamento de Materiais Recicláveis, o Camar, foi im-plantado na cidade. Porém, a atividade de separar o lixo entre o que é reciclável ou não ainda precisa ganhar os lares marianenses. Segundo dados do Camar, apenas 30% da população participa hoje ativamente da co-leta seletiva.
Para Maria Aparecida, atual presidente e
uma das fundadoras do Centro de Aprovei-tamento, o número ainda é pequeno, mas já representa um grande avanço para a cidade no quesito sustentabilidade. Segundo ela, a coleta seletiva é uma atitude que muda os hábitos de vida do cidadão, portanto não vai acontecer da noite para o dia.
Hoje, nós temos 30% que reciclam, mas, para aumentar esse número, é preciso que as pessoas entendam o bem que fazem – não só a elas, como a toda a cidade e ao pla-neta”, diz a coordenadora.
Atualmente, as maiores adesões à ini-ciativa da coleta seletiva estão nos bairros Maquiné, Rosário e Inconfidentes. Entre os bairros que pouco participam da coleta estão Estrela do Sul e São Cristóvão. Para a catadora associada e também fundadora do Camar, Maria Raimunda – a Zizinha –, essa realidade é uma questão de tempo. “As pes-soas, aos poucos, vão se acostumando com a ideia da reciclagem. Reciclar é um proces-so que favorece a todos os envolvidos: di-minui o lixo nos aterros, é fonte de renda para os catadores e contribui para a saúde
e qualidade de vida dos maiores interessados, nós mesmos”, argu-menta ela.
Embora muitas pessoas sai-bam da existência do programa e da importância desse tipo de iniciativa para a preservação do meio ambiente, ainda não parti-cipam da coleta. É o caso de Per-cival Neves Ribeiro, morador do centro da cidade. “Eu tenho von-tade de separar. Penso que falta só começar, pois escuto sempre o caminhão da reciclagem na rua. Mas me falta o costume de sepa-rar o lixo diariamente”, alega.
Maria Aparecida garante que o caminhão passa sempre em todos os bairros da escala, até naqueles em que a coleta não é grande. O caminhão parou de circular apenas no mês de março deste ano, quando venceu o con-trato entre a prefeitura e o mo-torista do caminhão. Foi preciso
nova licitação e, agora, o Camar já conta com dois caminhões que circulam normal-mente. “Nessa época em que o caminhão parou, recebemos muitas ligações de co-brança. Você pensa que a gente fica triste? A gente fica é feliz com o fato de que exis-tam tantas pessoas interessadas em ajudar nosso trabalho”, garante ela.
O telefone para quem deseja mais infor-mações sobre a coleta seletiva é 3558-2971.
Caminho da reciclagem
Para participar da coleta seletiva, basta separar o lixo em material úmido e seco. No lixo úmido, vai todo o material orgâni-co – caso das cascas de frutas e restos de alimentos. Já no lixo seco entram todas as embalagens, além de papel, papelão, alumí-nio, plástico, metais e vidros. Depois, basta colocar o lixo no local em que será reco-lhido, normalmente. O próprio serviço de coleta distingue a qualidade do lixo e o leva para local adequado.
É muito importante observar a qualida-de do material separado. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo Camar está na destinação incorreta do lixo. Muitas ve-zes, materiais que poderiam ser reciclados são descartados nos aterros, porque não foram separados. Outras vezes, chegam até o Centro de Aproveitamento materiais que não são recicláveis ou que perdem a ser-ventia, uma vez que foram descartados de maneira errada.
“Recebemos muita coisa que se perde para a reciclagem. As embalagens descartadas precisam ser lavadas, os papéis devem estar inteiros, e não picados, o óleo
Segundo dados do Camar, 30% da população contribui ativamente com a reciclagem em Mariana. Apesar do número representar um avanço, é preciso que mais pessoas se conscientizem dessa causa
“Coleta Seletiva tá chegando pra ficar”
Acima, Dona Zizinha no galpão de triagem do CamarÀ direita, o processo da prensa do lixo reciclável
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Separar o lixo já virou rotina
amanda rodrigues
Para muitas pessoas, contribuir com a co-leta seletiva é tarefa difícil. Mas, para a pro-fessora Mônica Martins separar os materiais e descartá-los já virou rotina. Moradora do bairro Cruzeiro do Sul, Mônica aderiu de vez à iniciativa há mais de um ano e garante que separar o lixo reciclável do orgânico melhora a saúde ambiental.
Mãe de três filhos, a moradora diz ainda que é fundamental que as crianças cresçam cientes de que é preciso cuidar do meio am-biente. Por isso mesmo, na casa dela todos participam da separação dos materiais.
Para Mônica, a tarefa não é difícil nem ocupa muito tempo. Basta manter duas lixeiras: uma para resíduos orgânicos e outro para os materiais que ainda podem ser reutilizados, como papéis e embalagens. Além de separar e reaproveitar os materiais em casa, ela lembra que é preciso descartá-los sem nenhuma sujeira.
Como professora da rede municipal de Mariana, Mônica procura conscientizar os
alunos. “Mais cedo ou mais tarde, será pre-ciso fazer a coleta seletiva em todos os lu-gares”, prevê. Ela avalia ainda que o reco-lhimento dos materiais recicláveis deveria ser feito mais de uma vez por semana nos bairros. Assim, mais pessoas seriam incen-tivadas, já que não precisariam acumular o lixo em casa durante a semana.
É importante tam-bém se atentar ao tipo de material que é en-viado para a reci-clagem. Há algum tempo, potes pe-quenos do po-pular “danoni-nho” não são
mais reciclados, pois pos-suem uma película de cola em sua embalagem que impede o reaproveita-mento. Outros mate-riais que também
“Mais cedo ou mais tarde, será
preciso fazer a coleta seletiva em todos os lugares”
Mônica Martins
CENTRO
SEguNda à 15hVILa MaQuINÉ
TERça-fEIRa
SÃO CRISTÓVÃO
8h às 10hTERça-fEIRaSEguNda à 8h às 10h
VILa dO CaRMO
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SEguNda E SExTa
11hàs
12h
11h
CaRTuxa
CRuZEIROdO SuLQuINTafEIRa
13hàs
14h
gaLEgOQuINTafEIRa
13hàs
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14hMaTa
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12hàs
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15h
ROTa da COLETa
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 2011 07Edição: Tábata Romero e Leidiane Vieira
do que compramos vai para o lixo
nova licitação e, agora, o Camar já conta com dois caminhões que circulam normal-mente. “Nessa época em que o caminhão parou, recebemos muitas ligações de co-brança. Você pensa que a gente fica triste? A gente fica é feliz com o fato de que exis-tam tantas pessoas interessadas em ajudar nosso trabalho”, garante ela.
O telefone para quem deseja mais infor-mações sobre a coleta seletiva é 3558-2971.
Caminho da reciclagem
Para participar da coleta seletiva, basta separar o lixo em material úmido e seco. No lixo úmido, vai todo o material orgâni-co – caso das cascas de frutas e restos de alimentos. Já no lixo seco entram todas as embalagens, além de papel, papelão, alumí-nio, plástico, metais e vidros. Depois, basta colocar o lixo no local em que será reco-lhido, normalmente. O próprio serviço de coleta distingue a qualidade do lixo e o leva para local adequado.
É muito importante observar a qualida-de do material separado. Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo Camar está na destinação incorreta do lixo. Muitas ve-zes, materiais que poderiam ser reciclados são descartados nos aterros, porque não foram separados. Outras vezes, chegam até o Centro de Aproveitamento materiais que não são recicláveis ou que perdem a ser-ventia, uma vez que foram descartados de maneira errada.
“Recebemos muita coisa que se perde para a reciclagem. As embalagens descartadas precisam ser lavadas, os papéis devem estar inteiros, e não picados, o óleo
Segundo dados do Camar, 30% da população contribui ativamente com a reciclagem em Mariana. Apesar do número representar um avanço, é preciso que mais pessoas se conscientizem dessa causa
“Coleta Seletiva tá chegando pra ficar”
CA M A
R
Descarte incorreto é tema de lei nacional oLívia mussato
A coleta seletiva existe há ape-nas 25 anos no Brasil e nem todas as pessoas conhecem o potencial ambiental, econômico e social que muitos ambientalistas atribuem a essa prática. No entanto, a popula-ção das cidades cresce a cada dia. Com mais pessoas produzindo e consumindo, o que sobra no final dessa cadeia é muito lixo – e lixo desperdiçado.
As primeiras iniciativas de co-leta seletiva foram organizadas em 1986 e, a partir de 1990, as adminis-trações dos municípios começaram a firmar parcerias com cooperativas de catadores de lixo. Essas parcerias contribuíram para a inclusão social de quem trabalhava com o lixo – e foram também a semente para que
uma política pública de resíduos sólidos fosse pensada no país.
Ainda assim, a coleta seletiva não está disseminada em todo ter-ritório brasileiro. Em 2008, apenas 17,86% dos municípios separavam e encaminhavam o lixo para a reci-clagem, segundo dados da Pesqui-sa Nacional de Saneamento Básico (PNSB). A realidade poderia ser outra, observando que quase 85% da população vive na zona urbana, conforme dados do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano passado.
A coleta seletiva evita a utili-zação abusiva de recursos encon-trados na natureza; economiza matéria-prima que seria usada na produção de novos produtos; gera renda ao comercializar os reciclá-veis.Além disso, diminui o lixo que
seria enterrado ou jogado a céu aberto, de qualquer forma.
Discutida ao longo de quase 20 anos pelo Congresso Brasi-leiro, a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos finalmen-te foi aprovada em 2010. A política tem como princípio a responsabilidade compar-tilhada entre governo, em-presas e população diante de um dos grandes problemas da atualidade: o lixo urba-no. A nova Lei impulsiona o retorno dos produtos às indústrias após o consumo e obriga o poder público a realizar planos para o ge-renciamento do lixo. Entre as novidades, a lei destaca o aspecto social, com partici-pação formal dos catadores
fERnanDo GEnTiL
Lixo que poderia ser reciclado é descartado na esquina da Rua Antônio Olinto com a Rua do Catete, centro de Mariana
do que compramos vai para o lixo
30
503
3 1,21,5
SÃO CRISTÓVÃO
8h às 10hTERça-fEIRa
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TERça-fEIRa 8h às10hgOgÔTER-ça
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12h às 14hVILa aPaRECIda
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CaRTuxa SEguNda E SExTa
11hàs12h
40%
é o número de famílias que trabalham no Camar
toneladas de caixas de leite longa vida
toneladas de papelão
toneladas de plástico
toneladas de lixo misto
toneladas de jornal
são as arrecadações do Camar em
2009
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 201108HISTÓRIA
Personagens marcam a cidadeMari Fonseca
Cidadãos incomuns já mar-caram o cenário de Mariana. São pessoas lembradas pelas peripé-cias que enchiam de graça o coti-diano de quem circulava pela ci-dade. Os moradores mais anti-gos ainda devem se lembrar, por exemplo, de Sá Fortunata, que, aos domingos, embalava as missas da igreja São Francisco com sua can-toria. Negra bonita, filha de uma alforriada, desfilava suas jóias e melhores vestidos durante as ce-lebrações religiosas – e não pou-pava esforços para trinar o ‘r’ ao responder às preces:“Rrrrrrrrogai por nós!”. Leila e Hebe Rôla, irmãs e professoras aposentadas, con-
tam que, em certa ocasião, ao se levantar para ouvir o sermão do padre, a saia de Sá Fortunata se dobrou e deixou à mostra as ná-degas. O puxador da oração can-tou espirituosamente: “Ó Sá Ma-ria, sua popa tá de fora, abaixa essa saia, minha nossa senhora!” Bastou para ser retrucado por ela: “Se ela tá de fora, deixa ficar. Tá fa-zendo calor, é pra refrescar!”
Aninha Sete Saias era outra que não perdia uma reza e adora-va homenagear o santo, dando a ele o primeiro gole de sua pinga. Seu nome tem a ver com o volume de roupas que colocava para sair às ruas. Muito pequena e magra, Aninha se enchia de saias e seguia
para a procissão, onde não se fur-tava a brigar com os moleques que gritavam seu nome quando ela passava. Carregava um punhal e um porrete e gritava a plenos pul-mões: “Meu punhá é meu manjó (major), meu porrete é meu dele-gado, não tenho medo de solda-do”, bradava.
Há quem também se lembre de Adão, moreno cor de canela, cabelos pretos e roupa engomada. Traumatizado e perturbado após a morte da mãe, Adão passou a an-dar pelas ruas distribuindo ordens a policiais e bombeiros. Não des-grudava da sua caixa de fósforo – seu meio de comunicação dire-ta com o Presidente da Repúbli-
ca e com o governador de Minas da época. Articulava, então, gran-des planos para o aumento do sa-lário dos professores de Mariana, por exemplo.
E como esquecer o dono da maior “lábia marianense”. Tié-Tié era gordo, calvo, sempre com as calças presas ao suspensório que as tornava “pega-frango”. Fa-zia de tudo para faturar o susten-to. De verdureiro a bicheiro, não há quem não tenha dado risada depois de uma prosa com o ven-dedor, que costumava cruzar as ruas gritando: “Olha o repolho e o tomate, se eu não vender a mu-lher me bate! Olha o tomate e o repolho, se eu não vender a mu-
lher fura meu olho! É caro, mas é bão!”Nem as estudantes do Colé-gio Providência escapavam: “As moça do colégio tá tudo na minha lista. De dia namora comigo, de noite com o seminarista!” Se fosse para anunciar o jogo do bicho em meio à procissão, Tié-Tié parodia-va o coro dos fiéis, de acordo com o resultado: “Comadre Maria, que bicho que deu? Ave! Ave! Aves-truz! Ave! Ave! Avestruz!”, repetia.
É certo que o tempo se encar-regou de transformar essas figuras num passado divertido, que colo-ria as ruas da cidade. Mas, de re-cordação a recordação, eles retor-nam a cada missa, procissão e a cada manhã de domingo.
TRAbAlHo SocIAl
Carnaval integra comunidadeIntegrantes
A Escola Morro da Saudade foi criada no final de 1984 e realiza-va seus desfiles somente na região de Passagem. A partir de 2000, ela ganhou as ruas de Mariana e hoje conta quase 700 membros.
Fazer de uma escola de sam-ba a pentacampeã consecutiva não é um trabalho realizado da noite para o dia. A Escola Morro da Saudade tem uma história de muito empenho e luta.
A parceria da Escola de Sam-ba com a comunidade vem dando resultados. Há dois anos, a prepa-ração e os ensaios para o Carnaval são realizados na sede da própria escola, que começou a ser cons-truída no ano de 1994.
O terreno e parte do material de construção foram doados pela Prefeitura, mas a maior parte des-se material foi comprada com o dinheiro arrecadado pelos inte-grantes – as mesmas pessoas que construíram o barracão.
O sucesso da Escola Morro da Saudade é tão grande que muitas pessoas de fora da cidade partici-pam do desfile. “Todo ano, pesso-as de outros estados vêm desfilar”, afirma José Arlindo Porto, vice-presidente da Escola.
sabrina carvalho
Comissão de frente, carro abre alas, alegorias, samba enredo, ba-teria e passistas – palavras que re-metem às escolas de samba car-navalescas, mas que, em Mariana significam trabalho social.
É o caso da Escola de Sam-ba Morro da Saudade, sediada no distrito de Passagem de Maria-na. O tema apresentado no Car-naval 2011 – Rio Ribeirão do Car-mo, águas de ouro, águas de lixo – que fez da escola a pentacampeã do Carnaval da cidade, começou a ser pensado em novembro.
HistóricoHá seis meses, grupos de mo-
radores do município receberam capacitação para aprender a con-feccionar fantasias carnavalescas usando materiais recicláveis.
Eles também eram responsá-veis por separar os resíduos pro-duzidos em casa, para ajudar na coleta do material necessá-rio. “Nesse período, o Centro de Aproveitamento de Materiais Re-cicláveis, Camar, anunciou que o maior volume de lixo separado da cidade vinha do distrito. Nós cria-mos dois pontos de recolhimen-to e a população participou em peso”, conta Débora Santos, vo-luntária na Escola.
RecIclAgem
Para a realização do desfile foram utilizadas: 3,1 mil garrafas plásticas, 1,8 mil embalagens de leite, 4,2 mil teclas de computador, 80kg de papel, jornal e revista; 8 mil tampinhas de plástico e metal, 1,4 mil latinhas de alumínio, 400kg de materiais diversos reciclados de outros carnavais.
PATRImônIo
Passado o período carnavales-co, o trabalho na comunidade de conscientização em torno da im-portância da preservação do rio e da adoção da reciclagem continua até o final do ano.
Além de oficinas, serão ofere-cidas palestras de educação am-biental e exibidos documentários específicos relacionados ao tema. O objetivo final é a implantação definitiva da coleta de lixo seletiva no distrito. “Para ter total adesão dos moradores, eles precisam ser conscientizados sobre a impor-tância da ação”, explica Débora.
Agremiação trabalha com materiais recicláveis e reforça a responsabilidade social no distrito de Mariana
Capela Santo Antônio, primeira igreja construída na cidade de Mariana
Rodolfo GReGóRio
luana viana e rodolFo GreGório
A Capela de Santo Antônio, construída com a fundação da ci-dade e localizada no bairro que leva seu nome, está sendo refor-mada pelos próprios moradores, sem auxílio do Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Na-cional (Iphan), ou de nenhum ou-tro órgão.
Os trabalhos vão desde peque-nas pinturas até a troca de portas e janelas. Com o crescimento po-pulacional do bairro, o espaço deu os primeiros sinais de que não su-portava mais a quantidade de fi-éis que frequentavam as missas, os grupos de oração e outros even-tos de caráter religioso. Segundo o dossiê de restauração da capela de Santo Antônio, fornecido pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a igreja, em-bora seja tombada junto com a ci-dade de Mariana, não é conside-rada um bem patrimonial indivi-dualmente.
A Capela Santo Antônio é par-te da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, que tem como res-ponsável o Padre Nedson Perei-ra de Assis. Segundo ele, a pe-quena igreja é de grande impor-tância para a cidade já que assu-me um caráter histórico, artístico e religioso desde que a cidade era uma vila. “Mariana nasceu naque-le local e a Paróquia não retira sua responsabilidade diante da capela. Porém, além da verba ser escassa, há outras igrejas a serem repara-das, pois estão em constante ativi-dade, ao contrário da capela que não exerce celebrações para gran-de número de fiéis.”
Ainda assim, Padre Nedson afirma que está prevista para esse ano uma reforma total no telhado da capela de Santo Antônio. “Va-mos dar prioridade para o telhado que está num mal estado de con-servação. Uma restauração gran-de não está prevista, embora te-nhamos muita vontade” diz.
Fiéis reformam igreja
edição: Ana Claudia Garcez e Rodolfo Gregório
ACeRvo PoNTo fiNAl
ilusTRAções: luCAs lAmeiRA
Com frases características e atitudes memoráveis, antigas figuras de Mariana ainda habitam o imaginário da população
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 2011 09
Novos reservatórios do Saae, construídos nos bairros Cabanas, Colina e São Gonçalo, não serão satisfatórias para resolver problemas de abastecimento
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Mateus Fagundes
O Sistema Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Mariana vai construir três reservatórios com capacidade para 500 m³ de água, cada um. O objetivo é reduzir di-ficuldades enfrentadas pela popu-lação dos bairros Cabanas, Colina e São Gonçalo.
O problema afeta também ou-tros locais. A dona de casa Maria da Conceição Ferreira, morado-ra do bairro Rosário há 22 anos, garante que assim que começa o período de estiagem, as torneiras ficam secas. “Às vezes falta água dois, três dias”, queixa-se. Ela diz que já se acostumou com esse fato, chegando a providenciar um siste-ma de abastecimento provisório: quando a caixa da casa está vazia, apela para os vizinhos e, com uma mangueira, faz o bombeamento de água do reservatório ao lado.
Foi por falta de água também que, no ano passado, a Escola Municipal Monsenhor José Cota, no bairro Cabanas, foi obrigada a suspender as aulas por alguns dias. Na época, a quantidade na caixa d’água era insuficiente para limpar os banheiros e salas.
O Saae reconhece que nem todas as melhorias previstas têm sido feitas. Segundo a diretora executiva, Maíra de Souza Lemos, faltam recursos para atender a todas as necessidades da popu-lação. “Não recebemos liberação de verba federal para a execução de grandes obras que interessam à população, como é o caso da cons-trução da ETA Norte, estimada em R$ 10 milhões”, alega.
Para o presidente da União das Associações de Moradores de Mariana (Uamma), Benedito Alves Ferreira, o Saae deveria ter mais liberdade. “O Saae precisa de autonomia para realizar suas atividades. Ligado à prefeitura, ele muitas vezes não honra o com-promisso com a população”, diz.
Obras do Saae são insuficientes
Agência Nacional prevê mais riscos de falta d’água
Foto: Simião CaStro
Apenas dois dos onze sistemas de distribuição de água de Ma-riana terão capacidade para aten-der à demanda da população nos próximos anos. Segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), se as ampliações neces-sárias não forem feitas até 2015, o abastecimento no município pode ficar ainda mais comprometido. O levantamento foi elaborado no período de 2005 a 2009 e faz pro-jeções futuras, até o ano de 2025.
O mesmo estudo revela ainda que, em 2010, foram liberados mais de R$ 5 milhões para a im-plantação do sistema do Córrego
do Canela. Mas o investimento é visto com desconfiança por seto-res da população. Benedito Alves Ferreira acredita que um único financiamento não vai resolver todo o problema. É preciso um trabalho contínuo e de qualida-de. “Mariana tem água de sobra, o que falta é a melhor gestão desse recurso”, afirma.
O líder comunitário, que tam-bém é defensor de causas ambien-tais, diz ainda que o poder público
só se interessa pelo tema em épo-ca de eleição. “Já vi muitos candi-datos dizerem que vão resolver o problema e nada. Quando o Saae foi criado, havia uma expectativa muito grande, mas nada aconte-ceu”, conta Ferreira.
ConscientizaçãoIniciativas como a instalação
da cátedra da Unesco Água, Mu-lheres e Desenvolvimento, vin-culada à Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), revelam
que a gestão de recursos hídricos não cabe exclusivamente ao poder público. A partir do projeto, mo-radoras de Ouro Preto e Mariana participam de cursos de capaci-tação e de reuniões em que são incentivadas a debater temas vol-tados para a educação ambiental.
Segundo a diretora executiva do Saae, Maíra de Souza Lemos, a população também é responsável pela conservação da água e pela eficiência do abastecimento. “O cidadão deve perceber que a água é um recurso esgotável e, por isso, deve aprender a usá-la de forma consciente” , explica ela.
Para enfrentar a estiagem, moradora do bairro Rosário improvisa sistema de abastecimento de água em sua casa
“O Saae deveria ter autonomia”Benedito A. Ferreira, presidente da Uamma
2 dos 11 sistemas de distribuição atenderão à demanda da população
Apenas
98%das casas possuem
abastecimento de água
5 liberados para implantação do sistema Córrego do Canela
milhões de reais
Crescimento provoca mudanças na Rodoviáriadouglas goMides
A abertura de novos cursos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), agregada ao cresci-mento das empresas mineradoras, desafia a estrutura do terminal ro-doviário de Mariana. O local tem passado por várias mudanças, na tentativa de fazer frente ao cres-cimento do fluxo de pessoas que transita pelo município e que tem se tornado cada vez maior. Nos últimos três anos, cerca de 1,8 mil alunos se matricularam nos campi da UFOP da cidade. Grande parte desses alunos passou a morar no município.
Leonardo Alves, estudante de Jornalismo, foi um dos que chega-ram à cidade. Para ele, a rodoviária apresenta problemas de logística. “Meu ônibus chega à Mariana de madrugada e eu nunca encontro um taxista”, reclama.
De acordo com o taxista Divi-no dos Reis, que trabalha no lo-cal, isso acontece porque, depois das 23h30, os motoristas deixam a Rodoviária, já que a segurança é precária. “Vários colegas já foram assaltados, por isso é difícil encon-trar carros de madrugada”, explica.
O admnistrador da Rodoviá-ria, Cassiano Sabino, garante que a situação tende a mudar nos pró-ximos meses. Além da alteração provisória do quartel da Compa-nhia 239 da PM para o local, será
montado um posto policial que ficará em definitivo no Terminal Rodoviário. “Será muito importan-te para o terminal a implantação deste posto policial, pois assim o local poderá funcionar por um tempo maior e todos os usuários se sentirão mais seguros”, afirma.
Além disso, de acordo com Cassiano Sabino, vários trabalhos visando a melhoria do local serão realizados nos próximos meses. “Implantaremos bancos e televiso-res, por exemplo, para maior con-forto do passageiro”, diz.
O Salão Nobre da Rodoviária de Mariana abrigará provisoriamente o quartel da Polícia Militar. A transfe-rência tem sido debatida pela população da cidade, uma vez que o lugar foi construído como alternativa para a realização de eventos de médio porte na cidade.
Segundo o representante da Companhia 239 da Po-lícia Militar, tenente Silvério Martins, a decisão decorre da necessidade de reforma do atual prédio do quartel, localizado na Rua Cônego Armando, bairro Chácara. Diante desta demanda, a Prefeitura de Mariana ofereceu o Salão para abrigar, temporariamente, a parte adminis-trativa e efetiva da PM. A Prefeitura acredita que, ainda este ano, o quartel esteja reformado e pronto para o re-torno da companhia.
O comerciante Marcos Ferreira considera bastante positi-va a mudança da Polícia Militar para a rodoviária. “Essa mu-dança trará mais segurança à população marianense, pois o espaço da rodoviária é estratégico por ter saída para todos os pontos de Mariana e cidades vizinhas”, avalia. Já a dona-de-casa Ana Pereira não gostou da modificação. “A população vai acabar perdendo um dos únicos lugares que tinha para reali-zar as suas festas”, lamenta.
O administrador do Terminal Rodoviário, Cassiano Sabi-no, garante, no entanto, que, apesar de já terem sido realizados diversos eventos no salão, o local não tem alvará de funciona-mento emitido pelos bombeiros. Além disso, o Departamento de Estrada e Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) aconse-lhou que não fosse mais realizado nenhum tipo de cerimônia na rodoviária, pois poderia incomodar aqueles que embarcam e desembarcam no Terminal.
MARIANA
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Aumento da população fez crescer movimento na rodoviária (acima).Falta de policiamemto causa danos à rodoviária (à direita)
Quartel da PM vai para o Terminal
edição: Sabrina Carvalho e ana Beatriz Noronha
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 201110
Espera marca busca de vaga no SineTábaTha Campelo
A ansiedade e, muitas vezes, a aflição, tomam conta das pes soas que, diariamente, estão na fila do Sistema Nacional de Empre-gos (Sine) de Mariana. Ao chegar com a expectativa de ser chamado para um emprego que atenda aos pré-requisitos cadastrados – tanto pelo desempregado, quanto pela empresa –, quem busca uma vaga no mercado descobre que a espera pela oportunidade pode ser longa.
De acordo com a responsá-vel pelo Sine da cidade, Maria da Marta da Silva, quando as empre-sas solicitam um empregado, im-põem limites relativos ao sexo, à idade, à escolaridade e, muitas ve-zes, à experiência adquirida ao longo da vida – o que dificulta a empregabilidade de muitos tra-balhadores. Apesar de haver cer-ta flexibilização, o número de ca-dastrados que de fato atendem às demandas das empresas ainda é pequeno. A procura de vagas na área de serviços gerais, por exem-plo, é grande em função da baixa escolaridade exigida pela empre-sa. Já os setores de montagem, me-cânica de veículos e máquinas ca-recem de empregados com maior qualificação e experiência.
Moradora de Mariana, Mile-ne Nunes, cadastrou-se no posto em busca de um emprego como técnica de segurança. Apesar da esperança de ser contratada um dia, não deixa de procurar novas oportunidades em outros lugares da cidade. ‘’Ainda que eu aguar-de um retorno, não posso esperar que apenas o meu cadastro vá fa-
zer com que o emprego ideal apa-reça’’, explica a moradora.
Demandas
O Sine também atende a de-mandas de cidades próximas e, sempre que é possível, busca par-cerias para a realização de cursos
de capacitação que possam con-tribuir para melhorar o currículo dos candidatos a uma vaga de em-prego no município.
Maria da Marta da Silva, que acompanha as demandas do Sine em Mariana, lembra que a pro-cura por um emprego tem mais
Legenda
TábaTha Campelo
lorena Caminhas
Muita cultura promete encher os dias dos marianenses ao lon-go deste semestre. Em maio, o Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelos das Mercês vai abrir cursos livres voltados para crianças de 2 a 6 anos, homens e mulheres acima de 40 e 60 anos, e também para pessoas com ne-cessidades especiais. Também em maio será lançado o jornal Afina-do, órgão informativo do Con-servatório, que pretende divul-gar as atividades da Casa e resga-tar a cultura musical marianense. O Conservatório foi inaugurado em maio de 2010 e oferece, atual-mente, cursos de canto, clarinete, violão, violoncelo, violino, piano, flauta e percussão. A instituição promove ainda eventos culturais relacionados à música, como o Painel Funarte de Regência Coral e o Encontro de Corais em Maria-na. Segundo Efraim Rocha, presi-dente do Conservatório, o objeti-vo da instituição é preservar a cul-tura local através do ensino regu-lar de música. Para o presidente, os resultados almejados vêm sen-do alcançados e o número de alu-nos matriculados no Conservató-rio ultrapassa 500.
Há também outras atividades de incentivo à cultura no muni-cípio de Mariana. Só no mês de abril, foram realizados cerca de 20 eventos. O Sesi/Mariana apresen-tou 12 atividades culturais na ci-dade, dentre os quais o show Um geral pelo Brasil – com o come-diante André Luiz –, a exposição dos trabalhos do artista Cor Je-sus, denominada Cor Jesus – De-
senhos e pinturas,
Projetos oferecem lazer e formação na cidade
Orquestra Jovem: um projeto cultural desenvolvido no município por meio de parceria com o Sesi-Mariana
SeSI/DIVUlGaÇÃo
Cadastramento desatualizado e exigências específicas de empresas contribuem para lentidão no atendimento do Sistema Nacional de Empregos de Mariana
chance de êxito quando o cidadão faz a sua parte, isto é, quando zela pela atualização de endereço, te-lefone e outros dados - e também quando acompanha as ofertas de perto. Ela salienta, por exemplo, que, ainda que cada cidadão assi-nale até seis pretensões de empre-
go na ficha, nada tende a aconte-cer se ele não retorna para atua-lizar as informações prestadas ou verificar as oportunidades mais recentes. “É preciso que haja um retorno dos próprios interessados para que o posto possa atendê-los corretamente”, diz ela.
A longa espera de homens e mulheres que diariamente procuram uma vaga no mercado de trabalho provoca ansiedade e desconforto em frente ao Sine
EmprEgo
sErviços
instituições e programas em mariana
Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelo das Mercês: O conservatório ofe-rece cursos de canto, clarine-te, violão, violoncelo, violino, piano, flauta e percussão. En-dereço: Rua da Glória, 98 – Centro. Telefone: 3558-5360
Centro de Cultura Sesi/Ma-riana: Oferece formação em lazer artístico através dos cursos de música, dan-ça e teatro. Além disso, pos-sui espaço destinado aos es-petáculos de dança e teatro e uma galeria de arte para ex-posições. Endereço: Rua Frei Durão, 22 – Centro. Telefo-ne: 3557-1041.
Centro de Integração Fa-miliar: são atendidas crian-ças e adolescentes com baixa renda. Elas rececebem ali-mentação diária, reforço es-colar, com orientação peda-gógica, e desenvolvem ati-vidades culturais e de lazer. Endereço: Rua Diamantina, 571, Cabanas. O telefone do Centro é 3557-2599.
Casa de Cultura - Academia Marianense de Letras, Ciên-cias e Artes: Promove espe-táculos ao ar livre de música das bandas de marchinha da cidade.
o espetáculo de dança Alice no mundo ID, promovido pelo Estú-dio ID Investiga Dança, o evento I Domingo na Praça, junto com o Ponto Volante de Cultura, e o Sesi Mostra Cultura, em que os alunos dos cursos de dança do Sesi apre-sentam um espetáculo de dança.
De acordo com o gerente do Centro de Cultura Sesi/Mariana, Nilson Ros Chagas, o acesso à cul-tura e à informação possibilitam a ampliação da capacidade criativa da população. Por meio do con-tato com projetos culturais, os ci-dadãos podem, segundo ele, de-senvolver sua capacidade crítica e
participar da construção dos ru-mos da sociedade.
Em Mariana, existem também iniciativas desenvolvidas duran-te todo o ano – como as ofereci-das pelo Ponto Volante de Cultu-ra, que visa a levar cultura e lazer à população a bordo de um cami-nhão equipado com livros, com-putadores e equipamentos de áu-dio e vídeo. Há também o Cen-tro Promocional Cônego Renato e o Centro de Integração Fami-liar – iniciativas da Arquidioce-se de Mariana, que oferece ati-vidades de cultura e lazer, além de auxiliar crianças e adolescen-
tes carentes com alimentação di-ária e reforço escolar com orien-tação pedagógica. Oficinas cultu-rais – como a de cultura da arte de Mariana – também são oferecidas pela Escola de Artes e Ofícios São José, que também beneficia ado-lescentes carentes com oficinas de culinária e cabeleireiro. Além des-sas instituições, destaca-se, ainda, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que, anualmente, proporciona apresentações artís-ticas e oficinas culturais a partir do Festival da Vida que ocorre no mês de maio e o Festival de Inver-no que acontece em julho.
edição: Fernando Gentil
11LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 2011
Artistas querem reconhecimentoCULTURA
Lucas Lameira
Da dança de rua aos ramos al-ternativos das artes plásticas, par-te dos artistas marianenses ainda encontra dificuldade para obter o reconhecimento do público dian-te dos trabalhos que produzem no município. É o caso de Jonas de Souza Ferreira e Leonardo Sacra-mento Campelo.
Professores de dança de hip-hop no SESI-Mariana, eles con-tam que o gênero não é facilmen-te assimilado. “A dança, no geral, é bem aceita, mas o hip-hop so-fre discriminação”, diz Leonardo. Para ele, isso se justifica pelo fato do Hip-hop não possuir raízes no Brasil e, sim, nas comunidades ja-maicanas, afro-americanas e lati-nas de Nova Iorque.
A valorização de um estilo ar-tístico inspirado na contrarrefor-ma, desenvolvido nos séculos XVI, XVII e XVIII, também é considerado um fator dificul-tador para aqueles que preten-dem inovar. “Em Mariana, o re-conhecimento é complicado por uma questão cultural, que valoriza o barroco”, avalia o pintor e chargista Deivi-son Silvestre Pereira, ao fa-lar das dificuldades para divulgar o próprio trabalho.
O secretário de cultura de Ma-riana, Cristiano Casimiro, garan-te, no entanto, que o município tem diversos espaços para a divul-gação da arte – e que eles são re-servados tanto para as exposições daqueles artistas que trabalham com linhas tradicionais, quanto
para os que investem em obras mais modernas.
Ele acredita que o entrave à di-vulgação desses trabalhos está na falta de organização por parte dos próprios artistas no momento de apresentar os respectivos projetos. “Uma coisa é o município dar o espaço, outra coisa é ele ser o pro-dutor dos eventos”.
Outro fator dificultador para aqueles que lidam com obras de arte alternativas está na falta de recursos. O pintor hiper-realista e desenhista autodidata, Cristiano Coelho, afirma que falta incenti-vo por parte dos órgãos de cultu-ra. “O turismo já tem artistas que lhe são reservados, enquanto tem uma galera que não é reconhecida”. O pintor diz ainda que alguns artis-tas migram para outras cidades em
busca desse incentivo. Os turis-
tas querem comprar só ca-saria. Porque os artistas que lhe são apresenta-dos só fazem ca-saria, aí eles le-vam essa no-ção pra fora.
Representantes de estilos alternativos de arte reclamam da falta de visibilidade e da discriminação por parte do público e da administração de Mariana
âmbito da administração pública, já que a captação de recursos do setor privado poderia abalar a re-presentatividade da associação.
Mas o diretor acredita que, embora a associação não repre-sente artistas que trabalham te-mas mais contemporâneos, nada impede que essas manifestações possam conviver com a arte tradi-cional praticada na cidade.
na cidade. A Amap existe há qua-tro anos, mas nunca conseguiu se articular nem promover qualquer atividade.
Geraldo culpa a instabilidade política por qual passa a cidade. “Não tem como visualizar uma li-nha de ação no que diz respeito à arte”, resume. Outro problema, na avaliação dele, está na impossibi-lidade de recorrer a apoios fora do
simião castro
A concepção cultural em Ma-riana é influenciada pela ideia de que seus artistas devem reprodu-zir a arte do século XVII. Essa é a posição do Diretor da Associa-ção Marianense de Artistas Plás-ticos (Amap), Geraldo Zuzu Ma-gela da Trindade. Para ele, é este tipo de arte que atrai os visitan-tes e movimenta o setor turístico
“Homem”, uma das obras sofistas de Deivisson Pereira
Mariana ainda esconde a beleza da arte alternativa
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“A Estrada”, de Deivison
Pereira, retirada
de uma de suas obras
TIRINHA Circovolante se compromete com o riso
camiLa Dias
Xisto Siman e João Pinheiro, trabalham juntos há duas déca-das. Primeiro com o Grupo Stron-zo, nascido em Governador Vala-dares, e depois com o Circovolan-te, que completa 11 anos. Palha-ços por opção e por vocação, os atores, ao lado de outros parcei-ros, construíram uma sólida rela-ção com a população marianense.
Os palhaços Xinxin e Juaneto, mesmo quando em trajes comuns, são abordados na rua, são conhe-cidos e reconhecidos pelos habi-tantes de Mariana.
O nome ‘circovolante’, para além da idéia de um circo itine-rante, foi pensado para represen-tar algo que voa, salta, de natureza libertária. Os atores Xisto e João, também de forma desprendida, constroem seus espetáculos com o dom de captar o humor nas pe-quenas coisas da vida. A rotina, o cotidiano e a intensidade de infor-mações que acompanham o dia-a-dia desses atores oferecem um ter-reno fértil para suas mentes cria-tivas e atentas. E, dessa forma, os fundadores do Circovolante con-seguem dialogar com o público. “Nós somos artistas populares”, definiu João. São populares por-que pertencem ao povo e sabem da responsabilidade que isso traz.
Não são poucos os artistas bra-sileiros que apontam dificuldades
em promover a cultura no país. É preciso, além da paixão pelo tra-balho, dinheiro para financiar as atividades. Nem sempre os peque-nos grupos artísticos dos interio-res do país conseguem verba dos governos regionais e federal. Com o Circovolante não é diferente. Grande parte dos seus espetáculos e eventos é realizada graças a par-cerias e apoios. Xisto conta que a arte em geral é política, não pode se excluir dos assuntos de relevân-cia social. Os artistas fazem parte de um espaço de fala que é públi-co, o qual exerce um papel funda-mental para a população, uma vez que através dele é possível levar cultura, educação, informação e, por que não, humor. Diante disso, afirma Xisto, não se pode sempre depender do poder público, é pre-ciso buscar outras possibilidades. Neste semestre o Circovolante re-alizará um trabalho junto com a Prefeitura de Mariana na come-moração dos 300 anos da Câmara dos Vereadores. O grupo circen-se irá contar à população, de for-ma bem descontraída, quais são as funções da Câmara, o que aconte-ce por lá, qual é a sua importância, entre outras questões.
O Circovolante realizou no úl-timo mês de abril o III Encontro de Palhaços. O evento trouxe ar-tistas de vários lugares do país e contou com a cobertura jorna-lística dos alunos de Comunica-
ção Social da Uni-versidade Fede-ral de Ouro Pre-to. Esse trabalho você encontra no site www.tribuna-dapalhacaria2011.blogspot.com
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VERTICAIS: 1 – Nascido no município de mariana. 2 - Lúcio dos santos, historiador. 3 - alternativa vencedora no plebiscito sobre o tratamento da água de mariana 8 (?) de moraes: rua de mariana onde está situada a Capela de santana. 4 - “Urbs (?) Cellula mater”: lema da bandeira de mariana 8 símbolo químico do alumínio. 5 - arp (?): órgão da Catedral da sé. 6 - mestre athayde, escultor 7 - iluminado pelo luar; luarento. 8 - Unidade resi-dencial. 9 - alphonsus Guimarães: escreveu “Kyriale"8 Cláudio manoel: autor do poema “Epicédio” 8 “marília (?) Dirceu”: livro de thomás antônio Gonzaga. 10 - Devoção religiosa que dura nove dias. 11 - Praça da (?): onde se situa o iPHaN (instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional) 8 D. Pedro (?): pai da Princesa isabel 8 Lina tâmega, poetisa. 12 - Josinéia Godinho, organista. 13 - antônio (?) Lisboa: “o aleijadinho”. 14 - alto (?) rosário: bairro de mariana. 15 - Pico do (?): atração turística entre ouro Preto e mariana. 16 - Cecy Campos, escritora 8 a favor; em defesa (adv). 17 - É acesa na romaria 8 (?) bastimal: vaso de pedra utilizado para batismo. 18 - marly moysés, educadora. 19 - Quinze (?) (?): banda musical marianense.
HORIZONTAIS: 1 - Praça (?): local onde está instalado o pelourinho 8 Companhia Vale do rio Doce. 2 - ferramenta agrícola. 3 - (?) Doce: desa-guadouro do ribeirão do Carmo 8 Dedo grande do pé (anat.) 8 Júnior 8 (?) house: local com acesso à internet. 4 - Décima terceira e décima quarta letras do alfabeto 8 reunião de Bandas de Congado. 5 - tancredo de (?) Neves: presidente eleito em 1985 8 1005 em algarismos romanos 8 Caixa Postal 8 marilene Vieira, escritora. 6 - Navantino santos, escritor 8 Ângela togeiro, poetisa 8 restaurante Universitário 8 Psiu! 8 substância líquida resultante do processo de putrefação (apodrecimento) de matérias orgânicas. 7- time de futebol de mariana 8 Pão de (?): bolo (por vezes, pode ser considerado um doce) à base de ovos, açúcar e farinha de trigo. 8 - Qualquer navio ou embarcação 8 Cada um dos elementos sólidos e calcificados que formam o esqueleto dos vertebrados 8 Produto interno Bruto. 9 - ribeirão do (?): curso d`água marianense. 10 - Vereador 8 Elevado ao trono.
Jonas Ferreira é integrante do Flash Boys Crew
Xisto e João em apresentação
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Edição: mayara Gouvea e Luana Viana
Veja a solução na próxima edição do Lampião
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PALAVRAS CRUZADAS
LAMPIÃO D MARIANA, MAIO DE 201112
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fotos: AnA BeAtriz noronhA e simião cAstro
Dia 28 de abril, céu aberto e a expectativa de mais três divertidos dias pela frente. Circovolante – 3º Encontro de Palhaços de Mariana. Sob
o pano vermelho da lona estendida em circo, cores e expressões, as pedras desta cidade abriram passagem aos sapatos enormes, aos
trajes descabidos, e aos gestos cheios de trejeitos. Nas praças da cidade: malabares, músicas e melodias peculiares. Olhos vidrados e sorrisos soltos nos pequenos rostos sentados em roda. Surpreendentes risadas
das faces mais sisudas transformavam-se também em parte e movimento deste encontro de palhaços, rostos, pinturas e pessoas.
Personagens. Caricatos pelas suas ações, falas e manias. Neste lúdico universo circense, nem tudo se esconde atrás do grande, vermelho e velho nariz de palhaço. Aliás, se olharmos bem, muito está ali, exatamente na ponta do nariz, quase tão claro e entregue quanto às gargalhadas e o
brilho nos olhos de quem passa e vê um movimento engraçado, uma fala perdida, ou mesmo estranha, sem graça, mas ainda assim sorri.
O circo tem vozes e pensamentos diversos quando o assunto é o palhaço e seus processos de construção. Inspiração criativa, ou mesmo uma formação diária, são fundamentos que estão presentes nesta transfiguração destes sujeitos, palhaço e artista, mesclando-se em um só.
“O nariz de palhaço é a menor máscara do mundo, a que menos esconde e a que mais revela”. Beto Grillo (palhaço Gaveta) toma a máxima circense para expressar o quanto
este jogo de papéis entre sujeito e personagem pode ser interessante e até inesperado. E continua: “Pra mim, na verdade, funciona meio ao contrário. Eu sinto que, quando estou aqui, sou muito mais personagem do que quando estou em cena”.
É recorrente ainda a ideia de que a figura do palhaço funciona como, segundo Dodô Giovanetti (palhaço Xarope), “uma lente de aumento colocada em si mesmo”. A linha tênue entre a liberdade de ser, na criação do palhaço, e o respeito ao espaço do outro é o que determina o fluxo deste personagem tão
fantástico quanto real, inevitavelmente presente no cotidiano de cada um de nós, e nos divertidos dias de encontro em Mariana.
AnA BeAtriz noronhA e PAulo DiAs
“Quando estou aqui, sou mais personagem que
quando estou em cena”Beto Grillo
edição: simião castro e Lorena caminhas
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