leitura interdisciplinar: utopia ou uma possibilidade · 2008-12-10 · nosso entendimento. essa...
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LEITURA INTERDISCIPLINAR: UTOPIA OU UMA POSSIBILIDADE?
LIGESKI, José do Carmo1
RESUMO
O presente artigo pretende mostrar os resultados obtidos a partir da
implantação da proposta de intervenção na Escola Estadual Padre Pedro
Grzelczaki. O objetivo maior da proposta é desenvolver a leitura de forma
interdisciplinar, (DCE, p. 61) onde ela deva ser prioridade para desenvolver
um ensino mais eficiente. A partir de um Plano de Trabalho elaborado em
2007 como parte das atividades do PDE, levamos à discussão com os
professores as deficiências que nossos alunos apresentam na prática da
leitura. Com base nessas reflexões iniciais, cada professor trabalhou a
leitura de modo que as idéias pertinentes aos temas trabalhados em sala
fossem analisadas, discutidas e enfatizadas. Periodicamente fizemos
reuniões para avaliarmos os resultados obtidos, o que precisaria ser
mudado ou melhorado. Como um dos nossos objetivos é incentivar a troca
de experiências, esses encontros estão sendo altamente positivos, pois
estamos comprovando que se pode intensificar a prática de leitura e, assim,
despertar nos nossos estudantes não só o gosto, mas também o valor dessa
atividade intelectual na sua vida diária como instrumento de
desenvolvimento pessoal. (BRITTO in Práticas de letramento no ensino, pp
65 e 66, org. CORREA E SALETH). Para que esta proposta possa ter êxito, é
necessário muito esforço e planejamento, que certamente será o próximo
passo para aperfeiçoarmos o que começamos. Assim, acreditamos que
priorizar a leitura na escola é o melhor caminho para tornar a escola um
lugar de desenvolvimento e formação de pessoas melhor preparadas para a
vida.
Palavras-chave: leitura, interdisciplinaridade, ensino-aprendizagem,
planejamento.
1 Professor Especialista da Rede Pública do Ensino do Estado do Paraná
ABSTRACT
This article intends to show the results from the deployment of the proposed
intervention in the State School Padre Pedro Grzelczaki. The prime objective
of the proposal is to develop the reading in a interdisciplinary way, (DCE, p.
61) where it should be a priority to develop a more efficient teaching. From
a Work Plan prepared in 2007 as part of the activities of PDE, we discussed
with teachers the problems that our students were having in the practice of
reading. Based on these initial observations, each teacher worked on
reading and the relevant ideas of the issues worked in the classroom were
analyzed, discussed and emphasized. Periodically we had meetings to
evaluate the results obtained, what had to be changed or improved.
Because one of our goals is to encourage the exchange of experiences,
these meetings are being very positive, because we are proving that we can
intensify the practice of reading and thereby awakening in our students not
only the wish, but also the value of intellectual activity in their daily lives as
a tool for personal development. (BRITTO in Práticas de letramento no
ensino, pp 65 e 66, org. CORREA E SALETH). For this proposal to be
succeeded, we need much effort and planning, which will certainly be the
next step to improve what we started. Therefore, we believe that prioritizing
the reading at school is the best way to make school a place of development
of well-prepared people for life.
KEY-WORDS: reading, interdisciplinary approach, teach-learning, planning.
INTRODUÇÃO
Neste artigo, pretendemos apontar alguns caminhos para desenvolver
a leitura com alunos do ensino fundamental a partir de um plano de
trabalho orientado dentro do PDE-Programa de Desenvolvimento
Educacional desenvolvido pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná.
O que vamos apresentar aqui são resultados parciais, visto que, por
escassez do tempo, ainda não podem ser considerados definitivos, portanto
são passíveis de mudança no que toca à metodologia aplicada. Pode-se
considerar esta análise como a primeira análise da proposta, e entendemos
que para termos resultados mais consistentes é necessário um tempo
maior, quando poderemos obter dados mais concretos em relação aos
objetivos desejados.
Este projeto em si consiste na busca por uma teorização, partindo
de situações concretas no ambiente de sala de aula. Há alguns anos
estamos constatando uma grande deficiência no ensino, e grande parte
dessa deficiência acontece por falta de utilizarmos a leitura como
instrumento indispensável que é para que o nosso aluno possa aprender.
E, ao longo dessas observações, pudemos sentir que não se pode
ensinar leitura somente com algumas aulas de português. Leitura está
ligada ao estudo de qualquer natureza, em qualquer campo de
conhecimento do ser humano. A leitura não serve apenas para entender
certos conceitos, ela faz parte do desenvolvimento do intelecto e da
personalidade do ser humano. Nas palavras do professor Nestor A. Kaercher
“Ler, escrever e falar em público é tarefa ontológica, intrínseca, eterna da
escola, de todos nós educadores.” (KAERCHER, 2001, p. 71).
PDE – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
O PDE é um programa de formação continuada para professores da
rede pública de ensino do estado do Paraná, idealizado pela SEED-PR. Tem
duração de dois anos. No primeiro ano, o professor dedica-se integralmente
ao curso que se divide em quatro partes.
No primeiro semestre, ele realiza os cursos teóricos que são
organizados pelas IES e elabora um Plano de Trabalho para ser implantado
como proposta posteriormente na escola onde atua.
No segundo semestre, o professor recebe treinamento técnico para
desenvolver outra etapa do projeto, o GTR-Grupo de Trabalho em Rede,
onde vai monitorar um grupo de professores (máximo 37) pela internet sob
a supervisão da SEED. Nessa etapa, o professor deverá elaborar algum tipo
de material didático (Folhas, Vídeo) que seja destinado a alunos e expô-lo à
apreciação dos professores do seu grupo (GTR).
No segundo ano, o professor retorna à sala de aula com 75% da sua
carga horária, e no primeiro semestre deverá implantar na escola a sua
proposta de intervenção. No segundo semestre ele conclui seu trabalho
escrevendo um artigo ou outro material de caráter pedagógico que seja
destinado a professores da rede. Ressalte-se que todo o seu trabalho, desde
a elaboração do Plano de Trabalho até a produção do material didático no
final do curso é acompanhado e orientado pelo seu professor orientador.
LEITURA COMO PRÉ-REQUISITO PARA ENSINAR: O QUE É ISSO?
Entendemos que leitura não pode ser tratada como “matéria” a ser
tratada apenas em algumas aulas de língua portuguesa e simplesmente
deixada de lado pelos demais educadores. Todas as aulas são oportunidades
de leitura, e foi com esta proposta que elaboramos este projeto e
apresentamos aos colegas da escola e com eles discutimos a viabilidade de
aplicação dele em sala de aula.
Nossa proposta busca desenvolver quatro objetivos que citamos a
seguir:
1) Priorizar a leitura como pré-requisito dos conteúdos a serem
trabalhados pelo professor;
2) Dialogar com alunos e professores sobre as inúmeras
possibilidades de leitura, interpondo as diferentes disciplinas
do currículo;
3) Propiciar situações de leitura em diferentes gêneros e
formas, possibilitando debates, confronto de idéias e
comparações de fatos;
4) Incentivar a troca de experiências de leitura entre
professores, procurando enriquecer a prática de cada um no
seu campo de atuação.
Nesse primeiro contato, a idéia pareceu um tanto estranha para
alguns, porque definitivamente se discute muito sobre problemas de
aprendizagem; buscam-se soluções para suprir essas deficiências, mas não
se discute com ênfase a deficiência de leitura dos nossos estudantes.
Mesmo causando algumas polêmicas, esse primeiro encontro serviu
para algumas reflexões sobre essa defasagem de leitura e também sobre a
formação que nós, professores, recebemos na nossa vida acadêmica e, por
que não dizer, de toda a nossa experiência escolar. Esse momento trouxe à
tona algumas considerações importantes: como trabalhar leitura em
conteúdos tão diversificados?
Antes que o projeto fosse implantado, tivemos um segundo encontro
do qual a nossa orientadora, Professora Doutora Djane Antonucci Correa
participou esclarecendo, conversando com os professores e orientando-os a
respeito das idéias centrais do projeto. Esses dois encontros serviram como
preparação para implantarmos o plano na escola. Nos encontros futuros,
cada um deveria expor suas dificuldades e seu progresso em relação à
utilização da leitura em suas aulas.
Afirmar que ensinamos sem leitura pode parecer uma afirmação
leviana da nossa parte. Antes, o que se faz necessário é deixar claro o que
entendemos por leitura. Se o nosso aluno lê o que escrevemos, ele faz
leitura; se lê alguns textos do livro didático ou, esporadicamente um ou
outro texto, também é leitura. Mas a questão é: que leitura é essa? Até que
ponto esse nosso aluno consegue refletir e emitir opiniões sobre o que leu?
Segundo o professor Ezequiel Teodoro da Silva “Situa-se aqui o primeiro
grande desafio do ensino-aprendizagem, ou seja, “ler” criticamente o
mundo contemporâneo para perceber que dentro dele ocorre uma veloz
explosão de informações.” (SILVA, 2004, p 26).
Ler criticamente o mundo, eis o desafio para professores e alunos, e
este desafio muitas vezes é para o próprio professor que, nas palavras do
mesmo autor “..seria melhor falar do trinômio aprendizagem-ensino-
aprendizagem. Mesmo porque quem ensina precisa primeiro aprender para
depois ensinar.” (ibid.)
Essa dificuldade de trabalhar com leitura é uma realidade que se faz
presente para o corpo docente, principalmente no ensino fundamental.
Fomos formados para dar aulas, para transmitir conteúdos com domínio e
eficiência, mas não fomos treinados, embora habilitados, para trabalhar
com leitura. Essa deficiência da formação de professores da atual geração
aparece no depoimento de uma professora que humildemente afirmou o
seguinte: “ Não sou uma leitora assídua e, confesso, tenho
dificuldades de trabalhar com leitura na minha disciplina de uma
forma mais profunda e crítica.” A insegurança de pôr em prática uma
maneira diferente de ensinar, ou seja, compartilhando leituras com os
alunos, deixou alguns professores bastante inseguros quanto à eficiência da
proposta por nós apresentada, Contudo, para outros não representou
grandes dificuldades. São justamente aqueles que são leitores assíduos e já
congregam, de certa forma, a leitura mais crítica em suas aulas. Num
ponto, porém, houve unanimidade: poucos alunos gostam de ler.
Outra dificuldade que se percebeu por parte da maioria foi: como
vencer os conteúdos se trabalharmos mais com leitura? Como se fosse
possível trabalhar um conteúdo sem leitura. Sabemos que os conteúdos são
fundamentais para a formação do aluno. Nenhuma proposta seria coerente
se a idéia fosse “eliminar” conteúdos. O que procuramos mostrar aos
nossos colegas que é bem mais profícuo trabalhar conteúdos lendo,
refletindo, pensando e repensando conceitos, concordando ou discordando.
E isso só é possível fazer se o professor criar situações para esses debates.
Todos os nossos professores são ótimos na sua
disciplina. Mas todos se queixam que os alunos não aprendem. Onde está o
problema?
O nosso primeiro objetivo, como mencionado no início deste artigo é
priorizar a leitura como atividade constante na sala de aula. As leituras
recomendadas pelo professor devem fazer parte da aula, como elemento
básico para entender melhor o que está sendo ensinado. Assim, o professor
não precisa ficar preso aos conteúdos do livro didático, com textos muitas
vezes fragmentados ou sintetizados e uma gama de exercícios
intermináveis e repetitivos, que não permitem nem aos alunos nem ao
professor uma discussão mais profunda e eficaz sobre o assunto. Queremos
deixar claro aqui que não estamos condenando o livro didático, ele pode ser
o nosso apoio em inúmeras aulas, entretanto não devemos segui-lo como se
fosse um seriado, capítulo por capítulo. Cabe ao professor selecionar o que
vai utilizar e quando utilizar esse instrumento. Lembramos aqui o que diz o
professor Nestor A. Kaercher “O livro, o conteúdo deve estar a nosso serviço
e não ser o senhor do processo pedagógico.” (KAERCHER 2001, p. 75)
Outro objetivo que buscamos nesta proposta de leitura é possibilitar o
diálogo entre professores/alunos, professores/professores sobre as inúmeras
possibilidades de leitura, que poderão ser desenvolvidas. Nesse aspecto, as
primeiras dificuldades surgiram na questão entrosamento. Explica-se.
Nunca paramos para discutir dificuldades de leitura. Sempre discutimos as
dificuldades de aprendizagem, e a falta de leitura, a mãe de todas as
dificuldades, sempre ficou de fora do processo. Não dá para discutir
ensino/aprendizagem sem antes falar de leitura. Esta antecede aquela no
nosso entendimento. Essa articulação entre professores/alunos/professores
certamente é o que vai representar um peso maior no resultado final do
processo. Sugerimos aos colegas para trocarmos material e informações a
fim de criarmos situações de leitura em diferentes gêneros e tipos,
possibilitando debates, confronto e comparações de idéias e fatos.
Nosso objetivo com essa prática é incentivar a troca de experiências
de leitura entre professores, procurando enriquecer o trabalho de cada um
no seu campo de atuação ou na sua disciplina.
TRABALHAR COM LEITURA EM TODAS AS DISCIPLINAS. COMO?
Neste ponto queremos deixar claro que não é nossa pretensão ensinar
professores como trabalhar com leitura. Temos como propósito, antes de
tudo, trocar experiências e rever as nossas práticas como docentes, visando
à melhoria do ensino. Constatado o problema, há que se buscar soluções. E
trabalhando em conjunto, tudo fica mais fácil. E como leitura é um ato
abrangente, sugerimos que cada professor aproveitasse ao máximo dentro
da sua disciplina as várias possibilidades de leitura: livros, periódicos,
filmes, documentários, artes plásticas, mas sempre fazendo de forma crítica
e relacionando-as com os temas presentes nas aulas dadas. O professor de
português pode utilizar um texto de história, biologia, ou de outros campos
da ciência. Professores de geografia, matemática ou história podem se
utilizar de um poema para ilustrar melhor a sua aula. E o aluno deve sempre
ser sujeito nesse processo.
Sendo a leitura um “ato dialógico”, (BAKHTIN,1997) ela deve se fazer
presente em todas as aulas. Conforme as DIRETRIZES CURRICULARES DE
LÍNGUA PORTUGUESA “É nessa dimensão dialógica, discursiva, intertextual,
aberta a toda sorte de contágio, que a leitura deve ser experienciada, desde
a alfabetização.” Não se trata de um professor “invadir” o espaço do outro.
Como professor de português não me atreveria ensinar sobre escarpa
devoniana; um professor de história não vai ensinar para seus alunos a
diferença entre novela e romance numa aula de história. O que se propõe é
a utilização da leitura adequada ao momento da aula e sempre tendo o
aluno como elemento ativo nessa atividade.
Nesse aspecto, nos apoiamos no que afirma o professor Luiz Percival
Leme Britto:
“Por isso, ao invés de apresentar qualquer nova proposta de ensino de língua portuguesa, parece-me necessário avançar a reflexão sobre a instituição escolar tal qual ela se nos apresenta atualmente, e, a partir daí, pensar eixos organizadores para uma educação transdisciplinar.” (BRITTO, 2007).
Essa educação transdisciplinar de que nos fala o professor Percival vai
além do que entendemos por interdisciplinar (relação entre disciplinas). É
uma proposta mais universalista e, mais do que nunca, práticas eficientes
de leitura são necessárias para que obtenhamos êxito no nosso trabalho.
E para que essa educação transdisciplinar se realize é imperativo que
os professores estejam preparados e motivados para mudarem estratégias,
metodologias e até mesmo o seu relacionamento com os alunos no
cotidiano da sala de aula. Não se trata de uma vez ou outra fazer uma aula
“diferente.” Isso acreditamos que todos os professores o fazem. Trata-se de
dar outra dinâmica ao ensino, de modificar a própria concepção de
ensino/aprendizagem. E o maior desafio é fazer do aluno um ser ativo em
vez de passivo nesse processo. Para ele, aluno, aula é simplesmente copiar
conteúdos, fazer exercícios do livro ou elaborados pelo professor sem
nenhuma participação mais efetiva. Mudar isso é tarefa do professor e da
escola. Não será uma mudança simples e que vai acontecer facilmente, mas
em algum momento ela terá que acontecer. E deve começar no chão da
escola com um esforço unificado do corpo docente e equipe pedagógica.
Não se modifica uma situação precária de aprendizagem como a que
vivenciamos por decreto ou programas emergenciais e isolados.
E nesse aspecto, o corpo docente da nossa escola, na qual
implantamos a proposta, demonstrou bastante interesse em discutir novas
formas de melhorar o nível de leitura dos alunos, a despeito de inúmeras
dificuldades como classes muito numerosas, biblioteca precária e sem
funcionários para atender os estudantes, alunos desmotivados etc. Como
hoje dispomos de algumas horas/atividade, tornou-se possível aos
professores trocarem informações sobre suas práticas e até mesmo
planejarem alguns temas de forma mais coesa. Todavia, isso ainda é pouco
e, além do mais, para alguns profissionais da nossa rede, trabalhar de forma
interdisciplinar ainda é uma idéia que assusta. E mais uma vez fica claro
que a nossa formação não foi direcionada para profissionais que deveriam,
na prática, ensinar a ler e valorizar a leitura e a cultura em geral. A escola
onde trabalhamos é pequena e se encontra na periferia da cidade. Como o
número de professores é pequeno, é possível trabalharmos em equipe, e foi
esse fator que propiciou algumas facilidades para implantarmos a nossa
proposta de intervenção.
Projetos e programas de leitura não faltam. Mas entendemos e
acreditamos que uma mudança de direcionamento para tornar o aluno
sujeito no processo ensino/aprendizagem deve partir do próprio corpo
docente. Para isso, cada profissional deve: 1) fazer uma autocrítica e
reconhecer onde está falhando; 2) dar sugestões e dizer o que pensa, pois o
mínimo que se espera de um professor é que ele seja um cidadão
atualizado e crítico.
O ensino como se encontra hoje, sem leitura e sem motivação por
parte de professores e alunos, está condenado a se tornar uma mera
reprodução de conteúdos e exercícios sem objetivos. E a finalidade é, antes
de tudo, despertar no estudante o seu senso crítico.
ALUNO-LEITOR CRÍTICO: É POSSÍVEL?
Antes de julgarmos a possibilidade de formar leitores, devemos fazer
algumas reflexões: qual é o perfil do nosso aluno hoje? O que interessa mais
a ele no estágio atual da sociedade em que está inserido? Com tanta
revolução tecnológica, a internet a sua disposição, tudo acontecendo num
ritmo alucinante, o que a leitura pode significar na sua vida? Seria uma
coisa atraente para ele?
Analisando friamente, diríamos que não. Dar um livro na mão do
aluno, mesmo que seja uma obra prima da literatura ou um tratado
científico fascinante, não despertará seu interesse, pois a leitura até esse
momento não foi despertada dentro dele.
Mas se cada professor tiver preparo e paciência necessários para
comentar sobre determinadas obras, ler junto, contextualizar a leitura, seja
ela uma reportagem, uma crônica, um poema ou um filme; que saiba “ligar”
isso tudo ao contexto, certamente vai começar a mostrar que leitura não é
a “coisa chata” que lhe é atribuída pela maioria dos alunos.
Leitura, num primeiro momento, não se faz por obrigação ou por
tarefa. Faz-se por necessidade e associação de idéias. Necessidade porque
ao expor aos alunos determinados conteúdos, o professor vai pedir a eles,
alunos, que leiam em determinado livro, jornal ou revista tal texto,
reportagem ou crônica que venha reforçar o tema explicado pelo professor.
É a oportunidade para o professor mostrar que os textos dialogam entre si,
e que autor e leitor são personagens vivos e ativos dos fatos. “Um texto
agencia um espaço de interlocução que multiplica, potencializando,
as possibilidades de leitura.” (DIRETRIZES, 2006), pág. 61. Quando o
aluno associa uma coisa a outra, ele começa a se tornar um leitor. A aula foi
dada, mas a participação do aluno só vai acontecer se ele for envolvido,
comentando, concordando ou discordando. Se o aluno tiver a oportunidade
de ler e comentar sobre o tema trabalhado, o processo de leitura crítica já
está acontecendo.
Esse primeiro momento é bastante difícil. O desinteresse do aluno
pela leitura esfria o ânimo do professor. E, além disso, no dia-a-dia da sala
de aula, o professor identifica bons leitores, uma minoria, e muitos outros
esforçados ou alienados, mas com uma leitura superficial. Uma leitura que
não passa de mera decodificação.
Num dos encontros que tivemos, uma professora desabafou: “Parece
que não estou fazendo nada de novo, não consigo ver resultados.”E
a mesma professora disse uma frase surpreendente: “ Eu deveria falar
menos e deixar meus alunos falarem mais, mas não me sinto
segura ainda para fazer isso.” Vemos por esse depoimento que vontade
de mudar não falta, e que parte do caminho já está sendo percorrido, pelo
menos por essa colega que, mesmo angustiada pela situação, afirmou que
sentiu uma certa melhora na participação dos alunos nas aulas após a
implantação do projeto no que concerne à leitura. Ela atribuiu essa melhora
ao conjunto de fatores que foram se somando na prática e não a uma ação
isolada.
Segundo a colega mencionada, é difícil romper com os velhos
paradigmas, pois, segundo ela, somos aquilo que nos formaram, não só
profissionalmente, mas também socialmente. Mas se quisermos mudar o
ensino, temos que começar por nós mesmos.
Outra professora afirmou que a implantação do projeto e as reflexões
que se fizeram a partir de então, permitiram a ela estabelecer uma melhor
articulação entre leitura e conteúdos. No olhar da professora, houve
melhora de qualidade no tocante a questões perguntas/respostas. Palavras
da professora: “A partir das discussões sobre leitura, procurei mais
opções de leitura relativas a minha disciplina. Posso inclusive
trabalhar até com obras da literatura brasileira, como “Vidas
Secas” de Graciliano Ramos que ilustra tão bem o drama da seca e
a vida dos retirantes. Leituras assim enriqueceriam as minhas
aulas.”
Depoimentos como esses mostram que é possível trabalhar a leitura
de forma interdisciplinar e enriquecedora. A professora citada disse ainda
que tem pleno domínio da sua disciplina, considera-se uma estudiosa da
geografia, mas lhe faltam outras leituras que, segundo ela, fazem muita
falta no momento de compartilhar com seus alunos uma leitura
complementar e uma discussão mais aprofundada de determinados temas.
Já a colega da disciplina de História relatou que já faz parte da sua
prática reforçar suas aulas com leituras, debates e pesquisas. Segundo a
ela, “o livro didático não dá conta nem de leitura nem de conteúdo,
porque os conteúdos de história são amplos e extremamente
diversificados, não caberiam num único livro. Assim, os conteúdos
acabam sendo restringidos e sintetizados de tal forma que, se o
professor quiser fazer um trabalho mais aprofundado, tem que
completar com outras leituras. Esses conteúdos, sintetizados e
fragmentados, servem apenas para dar uma noção geral da
história, mas não permitem uma leitura e estudo mais
abrangentes.”
A maior dificuldade, segundo a professora, em trabalhar a leitura na
sua disciplina é fazer o aluno envolver-se com o texto. Para ela, o aluno lê
“de fora”, ou, em outras palavras, não se envolve, não toma partido, não
interage, mas lê por mera obrigação, mas que a partir do momento que
começou a compartilhar leitura com eles, percebeu uma melhora sensível
nas turmas em geral. Muitos alunos passaram a valorizar mais a história e
também associar melhor os fatos históricos entre si. E sem esse
envolvimento não há leitura, é um mero exercício muitas vezes sem
nenhum sentido. Assim,
“Mediante a leitura, se estabelece uma relação entre leitor e autor que tem sido definida como responsabilidade mútua, pois ambos têm a zelar para que os pontos de contato sejam mantidos, apesar das possíveis divergências entre opiniões e objetivos.” (KLEIMAN 2001p. 65)
Para a nossa colega de História “não pode haver leitura sem que
leitor e autor se encontrem em algum momento.” Acreditamos que,
como professores, todos já constatamos o fato de o aluno sempre “fugir” do
texto, em outras palavras, não assumir nenhuma responsabilidade como
sujeito da leitura e na leitura. E nossa função é inseri-lo nesse contexto de
diálogo leitor/autor.
Para outro professor, também de História, devemos utilizar várias
formas de leitura em sala de aula. Segundo seu pensamento, ler de
imagens, por exemplo, desperta bastante interesse no aluno. E esse
exercício , se bem trabalhada, ajuda o aluno nas outras leituras que o
professor propõe. Ele a chama de leitura por associação. Como outros
professores, este também faz algumas restrições ao livro didático que,
segundo ele, além de não serem direcionados para leituras mais
abrangentes, ainda vêm com muitos erros, inclusive de datas e dados. Para
o professor, o ato de ler é sempre um intertexto, se o aluno ainda não
entende isso, cabe ao professor conduzi-lo ao caminho certo. Para este
colega, “o aluno tem que estar motivado, pois sem motivação não
há leitura. E também cabe ao professor não só mostrar, mas provar
aos seus estudantes que a leitura é útil e necessária. Quando
lemos, interagimos, interferimos nos fatos, vasculhamos suas
causas e conseqüências. Leitura passa pela interatividade
aluno/autor/contexto, e o professor deve ser um bom guia nessa
jornada.” Na fala do professor Fernando Seffner são duas as tarefas
necessárias para retirar o indivíduo da exclusão social.
“Primeiro, possibilitar que a maioria se apodere da linguagem como instrumento de pensamento, e não simplesmente como técnica de transcrição e oralidade. Segundo, possibilitar a utilização dessa linguagem para teorizar outra experiência social daquela que a classe dominante considera legítima.” (SEFFNER, 2001 pág. 110)
Pode ser que o nosso aluno não perceba o quanto é importante o
domínio das várias linguagens que se cruzam no seu meio social. E é à
escola que cabe o papel de desenvolver esses diferentes discursos e
mostrar ao estudante a sua importância. Formar e informar.
Perguntamos aos nossos colegas sobre a possibilidade de um trabalho
interdisciplinar voltado para a prática de leitura teria êxito, e a maioria
afirmou que é possível sim, mas que dependerá muito do corpo docente e
equipe pedagógica. Tomamos aqui as palavras de uma professora de língua
portuguesa: “É possível sim, mas o que falta é planejamento. Cada
professor, de certa forma, já é interdisciplinar na sua prática, mas
não o é no seu trabalho como um todo. Por que os livros didáticos
não acompanham a interdisciplinaridade? Falta articulação entre os
livros didáticos e não podemos esperar que um dia isso venha
acontecer, pois há muitos interesses em jogo. Então a solução é o
professor criar o seu próprio material em consonância com os
demais colegas. Planejamento coletivo é a saída.”
Seria utopia um planejamento interdisciplinar? Nossos professores
não entendem assim, a despeito de cada grupo planejar por áreas. Jamais
descartaríamos um planejamento de disciplinas, mas entendemos que um
planejamento interdisciplinar seria um grande passo para se trabalhar a
leitura regular e diariamente na escola. Um planejamento assim seria a
oportunidade para que professores de diferentes formações trocassem
idéias e experiências de leitura que, aliás, é um dos objetivos do nosso
projeto. Citamos aqui o que declarou uma das professoras de matemática:
“A partir do momento que passamos a refletir sobre leitura, passei
a prestar mais atenção aos enunciados do livro didático e mesmo
aos que eu formulo para os alunos. Como são complicados! Passei a
ler junto com os meus alunos e só aí percebi a dificuldade deles
para entender uma linguagem tão complexa.”
Situações como essa relatada pela professora não são, geralmente,
discutidas a fundo quando se faz planejamento só por disciplina. Nossos
alunos já carregam a pecha de não gostarem de ler. Se não os auxiliamos,
ficarão cada vez mais distantes dos livros. Não podemos adivinhar suas
dificuldades, e eles não falam, mas a nossa experiência e percepção nos
dizem exatamente onde estão as maiores dificuldades deles. As disciplinas
em si já são multidisciplinares, conforme constata a professora de artes da
nossa escola: “A utilização de textos e outros trabalhos sobre artes
propicia inferências sobre todas as artes em si, como também
possibilita inferir sobre outras áreas do conhecimento. Por
exemplo, qual é a influência da música em nossa vida? Por que as
pessoas gostam tanto de música? Por que gostamos de olhar uma
pintura ou escultura? Qual é a relação de tudo isso com a nossa
vida?”
Para a professora, trabalhar com os alunos essas leituras nas artes
leva-os a refletir e reaprender outras áreas do conhecimento. Mas essa
multidisciplinaridade só vai acontecer se o professor estiver bem seguro do
que está fazendo, lendo muito e com muito planejamento.
É a partir dessas reflexões que entendemos ser possível conscientizar
os nossos alunos sobre a importância da leitura para sua formação tanto
intelectual como personalística. Não é mais possível insistir em formar e
educar só pele cópia ou reprodução; não se admite que no estágio atual de
desenvolvimento social e científico, ainda pratiquemos um modelo de
ensino excludente, embora tanto se propague a prática da inclusão.
Diplomas se conseguem com algumas horas de curso. Conhecimento e
preparo para a vida se faz com muita leitura e reflexão. Faz-se necessário
que nós, professores, abandonemos alguns daqueles velhos e surrados
jargões como “estude, senão você vai ser o último da fila” ou “se não
estudar, você não vai ser ninguém na vida.” Há milhares de pessoas com
uma pasta cheia de diplomas, porém incapazes de interpretar um parágrafo
que apresente um pequeno grau de dificuldades ou de responder
satisfatoriamente uma simples entrevista. O domínio da linguagem ainda é
uma grande barreira para muitos que anseiam por um bom lugar no mundo
do trabalho. Vencer essa barreira é o desafio a ser vencido, e é pela leitura
que devemos começar. Formação intelectual aliada à formação humana é,
ou deveria ser, o objetivo maior do ensino, desde o ciclo básico à
universidade. E o domínio da leitura é essencial para que o indivíduo se
sinta seguro, autoconfiante e competente na profissão escolhida.
Embora a leitura não seja uma prática escolar, mas uma prática
escolarizada, segundo Pietri, (2007) é na escola que o aluno terá o maior e
mais importante contato com a leitura. E é responsabilidade da escola
desenvolver no estudante essa competência. Ele, estudante, vai se
constituir leitor durante e a partir da escola. Negar ou omitir essa prática é
mera reprodução de conteúdos e discursos.
ALUNO E LEITURA: RELAÇÃO DIFÍCIL?
Nós, educadores, convivemos com uma imensa diversidade de
identidades no nosso trabalho. E como trabalhamos amparados num
planejamento de aulas e conteúdos pré-estabelecidos, muitas vezes caímos
na tentação da “produção em série”, ou seja, queremos obter os mesmos
resultados com alunos que são diferentes no ritmo, no grau de atenção e
até na receptividade diante deste ou daquele conteúdo trabalhado.
Queremos ensinar português ou geografia sem nos preocuparmos em fazer
o aluno pensar português e geografia. E se ele não internaliza o que está
estudando, fica difícil atraí-lo para o estudo, e mais difícil ainda atraí-lo para
fazer uma leitura independente e crítica. E aquela idéia cristalizada em
todas as escolas e de todos os níveis se repete: aluno não gosta de ler.
Mas se cada um de nós analisarmos com cuidado essa situação vai
constatar que o aluno gosta de ler sim. O que esquecemos muitas vezes de
verificar é o que eles lêem ou o que gostariam de ler. Esse é o nosso
primeiro equívoco. O segundo equívoco é cobrar certas leituras sem um
objetivo bem determinado. Por que devo ler isso? Quais são as finalidades
da leitura para aquele dia ou para aquela aula? O que a prática da leitura
pode mudar na nossa vida? Questionamentos assim, mais do que serem
feitos, devem ser mostrados na prática diariamente. O professor é o
mediador, e o seu domínio da leitura deve ficar evidente no dia-a-dia com
os seus alunos. Antes de exigir leitura, deve-se fazer leitura; antes de impor,
há que se sugerir, instigar, provocar.
RESULTADOS
Aproximadamente quatro meses após a implantação da Proposta de
Intervenção na escola, fizemos duas perguntas a alunos de 7ª e 8ª séries
sobre leitura. A primeira pergunta foi:
O que é leitura para você? E as respostas obtidas foram bastante
diversificadas. Separamos essas respostas em dois blocos.
“Leitura é conhecimento. Pode ser um livro, uma revista ou coisa mais
complexa”. (aluno de 8ª série)
“Leitura é aprender” (aluna de 8ª série)
“Leitura é conhecimento de novas palavras.” (aluna de 7ª série)
“Leitura é quando você se interessa por um livro e lê”
(aluna de 7ª série)
Como se observa nestes poucos depoimentos colhidos
aleatoriamente, a leitura está ligada ao conhecimento básico, sem estar
bem claro para os alunos o que realmente ela significa. É uma visão bem
utilitarista da língua, quase que restrita às atividades de sala de aula. Nos
quatro depoimentos colhidos, nenhum aluno falou da leitura como uma
atividade prazerosa ou, de outra forma, importante em sua vida, como
experiência compartilhada com outras pessoas.
Em outro grupo já recebemos depoimentos que mostram certo
progresso em relação ao valor do ato de ler.
“Leitura é tudo; filme, anúncios, uma entrevista. Na entrevista o
entrevistador “lê” o entrevistado.” (aluno de 8ª série)
“Leitura é o conhecimento do contexto. É a interpretação dos fatos.”
(aluna de 8ª série)
“Leitura é entender um livro, uma revista, um programa de televisão.
É entender o que ocorre a nossa volta. Não basta ler, temos que entender o
conteúdo.” (aluna de 7ª série)
“Leitura é uma descoberta.” (aluno de 7ª série )
Importante constatar nos dois blocos de depoimentos que os alunos
têm noção do que é leitura, mesmo porque os professores da nossa escola
procuram trabalhar a leitura de forma eficiente, apesar das dificuldades
anteriormente mencionadas. E mesmo encontrando resistência, aos poucos
eles estão se conscientizando do valor dessa prática.
Sobre a segunda pergunta, O que mudou na sua vida escolar a partir
da implantação do projeto? Novamente obtivemos respostas bem
diversificadas, mas animadoras em relação à proposta implantada.
“Eu não lia. Passei a ler de forma espontânea, isso me ajudou a
compreender melhor os assuntos da aula.” (aluno de 7ª série)
“Antes eu lia, mas era só ficção, mas agora eu leio outras coisas para
ter uma visão diferente do mundo.” (aluno de 8ª série)
“A nossa leitura melhorou a partir da cobrança maior dos professores.
Notamos que alguns colegas estão bem melhores para ler.” (aluna de 8ª
série)
“Comecei a ler mais e estou me tornando mais calmo, inclusive estou
falando mais devagar. Eu falo rápido demais. E agora já consigo falar de
coisas mais complexas.” (aluno de 8ª série)
“Houve evolução. Agora fazemos ligação do que lemos com a
realidade, aprendemos que mesmo numa propaganda tem alguma coisa de
gramática. Leitura é associação. Eu melhorei muito, agora quando vejo uma
propaganda ou um outdoor eu presto atenção. E também quando comecei
a ler mais, me tornei mais espontânea.” ( aluna de 7ª série )
“A partir do momento que os professores começaram a exigir mais
leitura, passei a relacionar tudo o que leio com a realidade.” (aluna de 8ª
série)
Estes poucos depoimentos que recebemos mostram que não é uma
missão impossível fazer com que o aluno leia, desde que essa leitura seja
bem direcionada e bem planejada pelo professor. E ela tem que ser uma
rotina na escola, uma prática constante dentro de cada conteúdo estudado.
Um parágrafo bem lido e compartilhado vale muito na caminhada do
aprender a ler. Nessa caminhada, cada um vai descobrindo com a ajuda do
professor o que é bom, o que é prazeroso e o que útil em termos de leitura.
Se ele vai descobrir tudo isso na leitura de numa pintura de Portinari, num
poema de Cecília Meireles ou na obra de um filósofo, isso será com ele.
Nossa parte é mostrar os caminhos. E são muitos!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando decidimos participar do PDE - Programa de Desenvolvimento
Educacional, vislumbramos a possibilidade de levar à discussão alguns
questionamentos que vínhamos fazendo ao longo da nossa função de
educador na rede pública. Como professor de Língua Portuguesa,
observávamos a cada ano letivo que nossos alunos estavam lendo e
escrevendo cada vez pior.
Em 2007 tivemos a oportunidade, como participantes do PDE, de
aprofundar essas reflexões sobre essas deficiências dos nossos alunos na
sua produção escolar, principalmente na leitura. Foi com esse objetivo que
elaboramos um Plano de Trabalho, no qual todos os professores e equipe
pedagógica da escola poderiam participar, ou seja, um plano de trabalho
interdisciplinar. A elaboração desse plano e, posteriormente, a implantação
de uma proposta de intervenção na escola onde atuamos, propiciou
momentos muito ricos, que levaram a reflexões profundas sobre a leitura
como elemento básico para o ensino-aprendizagem.
Esses encontros foram fundamentais para direcionarmos a nossa
proposta, porquanto foi possível uma aproximação maior com colegas
professores de outras áreas com quem muito aprendemos e, também,
tivemos a possibilidade de voltar por algum tempo à universidade onde
participamos de alguns cursos preparatórios. Essa volta ao meio acadêmico
proporcionou uma oportunidade de aproximação da universidade com a
rede pública. E nessa aproximação, encontramos e reencontramos
professores da UEPG, entusiastas da PDE, que foram fundamentais para o
nosso trabalho nos cursos que ministraram. Nesses encontros, não só
obtivemos o suporte teórico necessário como também levamos um pouco
da nossa experiência como educadores da rede para a universidade.
Convidamos a orientadora do nosso trabalho, a Professora Doutora
Djane Antonucci Correa, que imediatamente aceitou a difícil tarefa,
principalmente na implantação da proposta no primeiro trimestre de 2008.
Embora a idéia inicial de um trabalho de leitura interdisciplinar tenha
causado alguma surpresa, seja pela ousadia ou até pela falta de uma
apresentação mais detalhada dos objetivos, gostaríamos de destacar aqui
que ela só foi possível graças a colaboração de todos os professores e da
equipe pedagógica da Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki, que
aceitaram o desafio e contribuíram muito com várias sugestões que
acrescentaram positivamente no nosso trabalho.
A implantação da proposta se deu no primeiro trimestre de 2008,
quando apresentamos e discutimos com os professores os objetivos que
pretendíamos atingir. Num segundo momento, ainda no primeiro bimestre,
a orientadora, Professora Djane, participou conosco explicando e
esclarecendo ao grupo os objetivos e fundamentos do Plano de Trabalho.
Posteriormente nos reuníamos para discutir sobre quais caminhos seguir
para trabalhar a leitura com os nossos alunos que vêem a leitura como uma
coisa chata e complicada.
Nesses encontros que organizamos, cada professor discorreu sobre o
seu progresso ou dificuldades, tanto por parte por parte deles, professores,
como por parte dos alunos. Dos alunos porque, pelo que se constatou, a
leitura há muito deixou de ser prioridade na escola; de professores, porque
trabalhar com leitura, fazendo com que o aluno se envolva nela, implica em
uma grande diferença. Conforme já expusemos no corpo deste artigo, as
dificuldades de boa parte dos professores em aliar a leitura a sua prática é
uma tarefa difícil. A resistência do aluno é muito grande, assim, encontrar
uma metodologia eficiente e adequada passou a ser o maior desafio para
todos nós. Como esta proposta não traz nenhuma “receita” acabada, mas
sugestões a serem experienciadas, cada professor procurou intensificar a
leitura como atividade diária em sala de aula. E quando chegamos ao final
do ano letivo, pudemos afirmar que os resultados foram gratificantes em
dois aspectos: os alunos começaram a entender a importância da leitura na
sua vida, e os professores passaram a dar também maior importância a ela,
a refletir e trocar experiências com colegas sobre as iniciativas que deram
certo ou não. Certamente este foi o resultado mais positivo do nosso
projeto.
Acreditamos que os primeiros passos que foram dados nos levam ao
caminho certo, mas há muito caminho a percorrer ainda. E o próximo passo
será o de elaborar um planejamento mais coerente com os nossos objetivos.
E essa vai ser a nossa meta para o futuro. Com os recursos de mídia de que
dispomos hoje, com uma biblioteca que possa dispor de recursos materiais
e humanos e com uma equipe de professores dispostos a mudar a realidade
em sua vida de educador e como educador, teremos sim alunos mais cultos,
mais educados e de espírito crítico. Não é utopia, é uma realidade que está
bem próxima. Basta acreditar e trabalhar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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