livro - te mandei um passarinho
Post on 08-Jul-2015
888 Views
Preview:
TRANSCRIPT
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 1/83
PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 2/83
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Hadad
Secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
Ricardo Henriques… (?) …. André Luiz Figueiredo Lázaro
Diretor do Departamento de Educação de Jovens e Adultos
Timothy Ireland
Coordenadora Técnica
Fernanda Teixeira Frade Almeida
ColaboradorTancredo Maia Filho
Ministérioda Educação
Esplanada dos Ministérios
Bloco L – 7º andar – Sala 710literaturaparatodos@mec.gov.brwww.mec.gov.br
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 3/83
te mandeium passarinho...
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 4/83
Organização
Ira Maciel
Jose Ribamar Bessa Freire
Nietta Monte
Núbia Melhem Santos
Coordenação pedagógica e de produção
Ira Maciel
Coordenação temática
José Ribamar Bessa Freire
Pesquisa
Nietta Monte
José Ribamar Bessa Freire
Edição e seleção iconográfica
Núbia Melhem Santos
Reproduções fotográficas
Bernardo Santos Cox
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ano 2007
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610
de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poderá ser
reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros sem autorização prévia por
escrito do Ministério da Educação ou dos autores.
Nohghgsdhgsd, Cwtrwetrw.Te mandei um passarinho... / Nofgsfgsgs. – Brasília :
Ministério da Educação, 2007.
80 p. : il. ; 33 cm. -- (Literatura para todos ; v. 1)
ISBN: 00-000-0000-0
1. Nogfsgfsgfdhg. 2. Literatura brasileira. I. Título.
CDD B000.0
CDU 000.000.0(00)-00
D000
Imagem da Capa
Colar, pente e pingente Krahô
Acervo Museu de Arqueologia e
Etnologia da USP.
Fotografia de Wagner Souza e Silva.
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 5/83
Brasília2007
1a edição
te mandeium passarinho...
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 6/83
É importante saber que não é
só a escrita em papel que é válida.Sabe por quê?
Porque nosso povo já viveu muitosanos sem participar da escrita e
diretamente comunicaramuns com os outros através da voz,
dos gestos ou dos desenhos. Nelson Xacriabá
O Igapó,
de José Custódio Marques Meãmücü
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 7/83
7>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 8/83
Pássaros namorando. Escultura em pedra encontrada em Joinville, Santa Catarina.Coleção Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville.
8
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 9/83
14 >> PARTE 1
Histórias moram dentro da gente
42 >> PARTE 2
Esta terra tem vida
50 >> PARTE 3
Por que isso se passa comigo?
64 Veja aqui quem te mandou um passarinho
70 Bibliografia: os pesquisadores que estudaramesses grupos
75 Autores, fontes e referências bibliográficasdas imagens
77 Autores, fontes e referências bibliográficas dos textospor ordem de aparição
81 Glossário
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL9
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 10/83
Caras leitoras e caros leitores,
Trillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-
tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut
eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.
Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit ea
facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num vel
iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre modo
ea feugiamet verat.
Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat. Ut luptat illute mo-
digna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat, venit, quatie vulla
conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit accum iusciduisl enis
adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum quipis.
Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait, volo-
reet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh eum
iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero del ut
alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet. Pat nullup-
tatum dolor sisit etuercidunt in ullandignibh eugiat, con voluptat dignit ulput luptat. Sum
Carta ao leitor
10
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 11/83
zzril duipisi blandip ero dolorperat, quatet elit in velit, susci blan henit nummy
nis amcon vulla feui tetum augait lummodo lorero core magna conullamcore
feu feu faccum eugueriustie faci blam, vullam zzrilis doluptat wisim autpatu
mmodole. Am nonsed te consed minis ectet alis dolor si. At. Dui bla feugue
modolum modiam, quat praessis dignim ad tin henim num venibh et ipit adi-
pisi el ea con enis ation vullaor autet at. Delesed tis nostis augiam zzriliquip
enim nit vullut ad magnit dolor am am, quat laorercilit la feugait vulputp atue-
rat. Ut nulput lutate min ut amet lutpat lam, cons eu faccummy nim incipis ci-
pit, sum ilismod tio ex er sequipit in vercilla aliscipisi eugueros elis nullut nibh
ero odoless iscillamet alit eu facincilla facilisim ip er iriure doloreet luptat ad
ero et ulput vullandrem volortionse corper in velesenim duis dolenim eugait
digna facipsum zzriureet ulput laorper iliquat. Ommy niatie tionsed min velis
aut ex exer aliqui blamet lum dolor amcorem quatet.
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
Ministério da Educação
Réplica de cerâmica Marajoara
11>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 12/83
Irillum in et dolore vendreet ullum et aliquat, vel dolor ipit wis ex el ut alis augait nos-
tie do consent irit, sum nostincilis dunt wissim dolendi onulput incillamcon ut aliquat ut
eum dolorer augiamcommy niam, sustie doloborem do duipisi.
Secte facipit luptatum ipit augait et prat ver adigna acin hent lum zzriure commy nisit
ea facip ex eugait praestis augait nulpute dignis exercing ex er am, quisit nummy num
vel iuscilit adip et ulput alis adionsed del ullaoreet praestrud dit digna feu feumsandre
modo ea feugiamet verat. Delent at lut vel utatio ex eugait pratum at, sequat. Ing el utpat.
Ut luptat illute modigna consent augue veniam, quipit nullan heniam, quamcom modiat,
venit, quatie vulla conum duis augiam in hendre vero odolore minibh et nulputate dit ac-
cum iusciduisl enis adit aute con venim duis er alismodip eui tat, quat wisisis ad dipsum
quipis. Dip ea feuguer aliquismolum vulla feugiatie do dolum elessed eu feui ex eugait,
voloreet wisi tionsed modolum doloreraesto eummod tionull uptat, voluptat lor inibh
eum iriure modolorer augiam dolor irit ad te diam init vendiam quatuercilla feuguero
del ut alisiscil ing et, sequissit incin ut nos dolore facidui psusci te do esed doloreet.
Ira Maciel
Consultora Pedagógica
Prefácio
12
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 13/83
Iyana Pitalá,
de Amatiwanã Trumai
13>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 14/83
Escultura em pedra em forma de pássaro, encontrada em Cubatãozinho, Joinville, Santa Catarina.Coleção Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville.
>> PARTE 1
Histórias moram dentro da gente
14
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 15/83
Para mim e para meu povo, ler e escrever é uma técnica, da mesma maneira que alguém pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma máquina.
Então a gente opera essas coisas, mas nós damos a elas a exata dimensão que têm. Escrever
e ler para mim não é uma virtude maior do que andar, nadar, subir em árvores, correr, caçar,
fazer um balaio, um arco, uma flecha ou uma canoa.
Quando aceitei aprender a ler e escrever, encarei a alfabetização como quem compra um
peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria.
Na nossa tradição, um menino bebe o conhecimento do seu povo nas práticas de convivên-
cia, nos cantos, nas narrativas. Os cantos narram a criação do mundo, sua fundação e seus
eventos. Então, a criança está ali crescendo, aprendendo os cantos e ouvindo as narrativas.
Quando ela cresce mais um pouquinho, quando já está aproximadamente com seis ou oito
anos, aí então ela é separada para um processo de formação especial, orientado, em que os velhos, os guerreiros, vão iniciar essa criança na tradição.
Airton Krenak
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL15
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 16/83
Menino se prepara para o Jawari,
de Amatiwanã Trumai
16
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 17/83
Histórias moram dentro da gente, lá no fundo do coração. Elas ficam quietinhasnum canto. Parecem um pouco com areia no fundo do rio: estão lá, bem tranqüilas, e só dei- xam sua tranqüilidade quando alguém as revolve. Aí elas se mostram.
Daniel Munduruku
Nós, os povos indígenas, hoje estamos começando a sonhar do fundodos mais de 500 anos que passamos mergulhados no túnel do tempo. Du-rante esse longo túnel foram exterminadas muitas culturas como as lín-guas indígenas. Oficialmente, hoje são faladas 180 línguas, mas sabemos
que existem muitas mais ainda pelas fronteiras dos rios. O que quero di-zer é que os 500 anos para nós começaram ontem. Só agora nos últimosanos é que estamos com os direitos de ter uma comunicação através daescrita na nossa língua própria. Como é um processo novo para os índiose para os educadores, encontram-se várias interrogações no ar. Como asandorinhas voando para pegar moscas em sua alimentação numa tarde de
temporal. Mas o túnel do futuro mostra que somos capazes de realizar ossonhos que sempre tivemos, como povos diferentes e valorizados dentrode nós mesmos e espiritualmente...
Joaquim Mana Kaxinawá
Os brancos desenham suas palavras, porque seu pensamento écheio de esquecimento. Há muito tempo guardamos as palavras de nossos antepassa-dos dentro de nós, e as continuamos passando para nossos filhos.
Davi Kopenawa Yanomami
A canoa dotempo
17>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 18/83
A história vem de um tempo longo,médio,recente.
De ontem, hoje, amanhã.
História é passado, história é presente.
A história é como o mundo, porque não tem fim.
É um caminho muito longo.Enquanto o tempo vai passando, mais histórias vamos construindo.História é passado, história é presente.
A história não é só do ser humano. Também é dos encantados, dos animais,
da floresta, dos rios e dos legumes.
História está em todo lugar do mundo.
Adalberto Maru Kaxinawá e Joaquim Mana Kaxinawá
Kwarup,
de Amatiwanã Trumai >>
História é passado,
18
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 19/83
história é presentepresente
19>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 20/83
Quando não existia nada,era assim que começou o início.
Só havia escuridão.O espaço, onde não existiam
os materiais para formar gentes.
Existia o espaço frio,o espaço vazio,o espaço triste,
Existia o espaço sem idéias.
Na escuridão, existia uma VOZ que soava.Esta voz é a presença de Miř io,
que é a Ye´pá-Bahuári-MahsõAs músicas andavam dançando,fazendo carinho.
Primeiro, ela tinha um corpo em forma de vento,invisível.
Ela possuía a Vida da Almaem forma de vento,
estava sentada.
Dentro desta voz,dentro do vento
vivia por si mesma uma Mulher,chamada Ye´pá.
Ela era chamada Ye´pá-Bahuári-Mahsõ , Gente (femin.) – Terra,
Gente que apareceu por si mesma.
Ela apareceu no meio de sons musicais.No meio de nuvem branca brilhosa.Ela é Gente (femin.) – Música Sagrada.
Primeiro, surgiu um estrondo grande.De cor de jenipapo.
No meio – de cor rósea,grande raio formava um círculo.
Quando se formou a luz,o raio ficou no horizonte,perto onde estava sentada uma Mulher
no banco dela.Assim era a origem da Ye´pá-Bahuári-Mahsõ.
Músicas andavam em forma de redemoinhos de vento,andavam em volta dela.
Fazendo-lhe carinho,
entrando-lhe no corpo dela,através dos ossos e dos pensamentos.
20
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 21/83
Vivia sozinha no espaço vazio.No início, não criou nada,nem a terra, nem gentes.
A Ye´pá-Bahuári-Mahsõ não tinha Caminho Delicado de Passagem,
nem Nihǐ sãma, nem Nihǐ sohpe.
Tinha um corpo invisível,de Pedra-quartzo,
em forma de osso de bacia.
Assim ela vivia, fazia a sua própria Vida.
Depois, a Ye´pá-Bahuári-Mahsõpensou de descer para a Casa de Ye´pá-wi´i.
Antes de descer,a Ye´pá fez a Cerimônia de Më´ ř o- puhtiro.
Assoprou nesta Terra,defumando para baixo.
Estava para vir na Casa da Terra,
para criar a Terra e as humanidadescom as Cerimônias delae pensou para criar a Terra e formar a Vida.
Trocou o nome,antes de criar a terra,
ficou chamada Ye´pá-Bëhkëo.
Ye´pá-Bëhkëo pensou em Bahsesé ,
criou Cerimônias fortes,e fez assim a Cerimônia de sopro
chamada Di´´tá-bahseró, Cerimônia da Terra,chamada também Di´tá-ě hõ-a´mésëok ǔř o bahseró.
Ela vinha da Casa de Ventodentro do Osso,
no Cigarro da Formação da Gente.Para chegar na Casa de Terra,
desceu e trouxe a vida.
Desceu para casa de Ye´pá-wi´i.É assim que começou, no princípio,
antes de criar a Terra e o Dia.
Fim do Primeiro Tempo
Gabriel dos Santos Gentil
Tawaranã, mito que
fala do namoro entre a moça e um peixe.
De Amatiwanã Trumai21
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 22/83
No princípio
eram aságuas
Peixe azul,de José Custódio Marques Meãmücü
22
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 23/83
No princípio só existiam as águas. Toda vastidão do mundo era recoberta de água. Foi quando
apareceu o Girador, o equilíbrio de todo o movimento, trazendo
Auí e seu povo. O Girador semelhava-se a uma grandeigaçaba, um imenso pote que pairou sobre as águas. Deledesceu Auí , um ser altivo e luminoso, e ergueu abrigos
para seu povo. Trabalhou duro, construiu sobre as águasimensos túneis transparentes que se confundiam comelas. Ergueu sete cidades e fez seu povo habitá-las.
O povo de Auí eram seres transparentes com pés
palmiformes e nadadeiras sobre o dorso. Deixaram oGirador e habitaram as sete cidades. Durante muito emuito tempo ali viveram tranqüilos, sem que nada osperturbasse. Auí tomava conta de seu povo e zelava
para que houvesse completa harmonia entre eles ea Natureza. Contudo, um dia, Auí , que se acostumara
a contemplar o nascer do sol e a saudá-lo, viu aságuas que se moviam em intensas correntes e faziam
remoinhos, fruto da ação de Anhangá.Desde que chegara, Auí tinha respeitado todas as
regras ditadas pelo Girador, fazendo seu povo tambémcumpri-las. E dentre essas regras estava a de que ele e seu
povo não deveriam se aproximar de sítios em que houvessedesequilíbrios naturais. Desatento a essa regra, Auí seaproximou do movimento das águas. Acercou-se do remoinho e
percebeu que podia enxergar o fundo das águas, constituído domesmo material de que era feito o Girador, o barro.
Auí foi tragado pelo remoinho, desceu e tocou o fundo. Aofazê-lo, a terra levantou-se e aflorou acima das águas, fazendoa terra firme. (...) Auí e seu povo, depois da violação, sofreramgrandes transformações. As sete cidades foram cobertas pelaságuas encantadas. O povo de Auí passou a ser o povo encantado,
que habita o fundo das águas. Perderam sua aparência física etransformaram-se em energias. São essas, os caruanas.
Zeneida Lima, neta de pajé Sacaca
23>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 24/83
Origem efundamento da
palavra segundo osGuarani
24
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 25/83
Quando a terra não era,
no meio das trevas originais,
quando não havia o conhecimento das coisas,
o nosso Primeiro Pai Nhamandu
fez florescer em si o fundamento da palavra,
convertendo-a na própria sabedoria divina.
Mito Guarani recolhido por Leon Cadogan
25>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 26/83
As serpentes queAs serpentes que
roubaram aroubaram a
26
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 27/83
noiteFazia pouco tempo que o mundo
era mundo e que as garras da onçaainda não haviam crescido e járeinava a insatisfação. E isso porquea noite nunca chegava – ela, queiria permitir que pessoas e animaisrepousassem um pouco.
O sol brilhava sem parar nos céus enenhum daqueles infelizes conseguiasequer tirar uma pequena soneca!Os raios ardentes do sol queimavamtanto e durante tanto tempo quetodos preferiam levantar. Apenas opapagaio continuava a protestar, mastão alto, que toda a floresta o ouvia,porém o sol pouco se importava comtoda aquela gritaria e seguia brilhandotão alegremente como antes.
Após um certo tempo, o papagaio
ficou rouco, e os outros seresarrastavam-se como sombras. Noleito dos rios quase não se via umagota d´água a correr. Felizmente, umbelo dia, os índios descobriram quemhavia escondido a noite: as serpentes!
Então, os líderes da aldeiaorganizaram uma reunião para
indicar aquele que deveria ir
falar com as serpentes para que elaslibertassem a noite. A escolha caiu sobreo jovem Karu Bempô, por ser guerreiro valente e excelente corredor.
Karu Bempô foi falarcom Surucucu, a grandechefe das serpentes.
A morada de Surucucu ficavaescondida no fundo da floresta virgem,embaixo das folhas espalhadas pelochão, e nem os macacos gostavam de seaproximar daquele lugar misterioso.— Quem se atreve a me incomodar?— gritou a serpente, erguendo a cabeça.— Sou eu, Karu Bempô, o grandeguerreiro – respondeu. Dizem que asserpentes esconderam a noite. Se medevolverem a noite, darei arco e flechascomo presente do meu povo.— De que me serviriam o arco e asflechas? — riu Surucucu. — Não tenhomãos para manejá-los. Meu rapaz, tens deme trazer outra coisa.
Após dizer essas palavras, ela deslizoupor entre as folhas e desapareceu, e KaruBempô se viu sozinho.
Voltou à aldeia de mãos vazias, e
todos ficavam quebrando a cabeça paradescobrir o que dar à serpente.
Finalmente, depois de muito pensarem,imaginaram que uma matraca contentariaa serpente, pois é um objeto que agrada atodos, e nenhum animal possui um objetodesses.
Fizeram então uma matraca, cujo som
era ouvido para além das planícies e das
<< Detalhe de painel desenhado pelos Ticuna
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL27
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 28/83
montanhas. E Karu Bempô pôs-senovamente a caminho.
Dessa vez, Surucucu estavaesperando-o.
— Sei que me trazes uma matraca— disse ela. — Evidentemente, nãoé coisa que se despreze, mas como vou usá-la? Não tenho nem mãosnem pés...— Vou prendê-la em tua cauda— disse Karu Bempô, eimediatamente pôs mão à obra.
Mas que aconteceu? Ou amatraca tinha perdido a voz oua cauda da serpente não erasuficientemente forte para balançá-la. Quando ela tentou chacoalharsozinha, ouviu-se apenas umch-ch-ch-ch parecido com o ruídoque as folhas secas fazem quandose espalham pelo chão.— Não, isso eu não quero. Mas,para que não digam que souinsensível, te darei uma brevenoite — declarou afinal a serpente.Deslizou para dentro do ninho eretornou trazendo um saquinho decouro, que entregou a Karu Bempô.— Deves saber que uma noite longa
custa muito caro: nem por dezmatracas eu poderia te dar uma— disse a serpente.— Nesse caso, o que queres emtroca?— Conversei com as outrasserpentes a esse respeito edecidimos que trocaremos uma
noite longa por uma jarra cheiadaquele veneno que teu povocoloca nas flechas.— Mas que ireis fazer com esse veneno?— recomeçou Karu Bempô.
Sua pergunta não recebeuresposta. Surucucu deslizou sob
as folhas. A matraca presa à caudafez-se ouvir por um momento, edepois a serpente desapareceu.
Caminhando lentamente,Karu Bempô retornou à aldeiacom o saquinho de couro. Tinhaesperança de que a noite curta
seria suficiente para todos,mas emseu espíritopermanecia oreceio de um novo
encontro com aserpente.Assim que os índios abriram o
saquinho, o mundo foi invadidopelas trevas e todos caíram numsono profundo, mas não por muitotempo. Passados alguns instantes,
o sol voltou a brilhar, expulsou aescuridão para trás das montanhase despertou sem piedade osadormecidos.
Todo dia acontecia a mesmacoisa, e logo ocorreu aquilo queKaru Bempô temia: perceberamque uma noite tão curta não
bastava para descansar e todoscomeçaram a juntar veneno — às vezes uma gota — para encher a jarra.
O jovem retornou à floresta pelaterceira vez. Dessa vez caminhavacom cuidado, pois tinha receiode tropeçar e deixar cair a jarra.
Surucucu estava enfiada em seuninho, e via-se apenas sua cabeça.Ao lado dela havia um enormesaco, bem cheio.— Eu sabia que voltarias — disseela ao recém-chegado.— Vê, preparei um saco quecontém uma noite longa.
Karu Bempô entregou-lhe a jarrae perguntou, curioso:
28
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 29/83
— Escuta, por que as serpentesprecisam de veneno?— Porque somos pequenas efracas — respondeu Surucucu— e precisamos ter presas venenosas para nos defender...mas não tenhas medo: dareia cada serpente apenas umapequena quantidade de veneno,a fim de que não possamosrealmente fazer mal a ninguém...— Mas é que... — estranhou o
guerreiro, preocupado.— Bem, já está com o saco.Deves levá-lo para a tua aldeiae só abri-lo quando chegares lá.Se soltares a noite cedo demais,a escuridão vai impedir-mede distribuir o veneno a cadaserpente como pretendo, e as
conseqüências recairiam sobretodo o mundo...
Com essas palavras, ela sedespediu e, sem tardar, convocoutodo o povo das serpentes ecomeçou a distribuir o veneno.Surucucu foi a primeira a seservir...
Karu Bempô voltou para aaldeia, carregando a bolsa comtodo o cuidado. Pensava noque a serpente havia lhe ditoe por isso não percebeu que opapagaio, excitadíssimo, voavaacima dele, gritando:— Venham ver, ele está trazendo
a noite, Karu Bempô está trazendo a noitelonga!
Evidentemente, todos os que lá estavampodiam vê-lo com os próprios olhos. Os
macacos, loucos de alegria, saltavam notopo das árvores; o jacaré fazia ondascom o pouco de água que ainda restava.A onça, impaciente, arranhou-se.— Solta a noite agora mesmo, o que estásesperando? — gritou ela, atirando-sesobre Karu Bempô.
Antes que Karu entendesse o queestava acontecendo, a onça arrancou abolsa de suas mãos e abriu-a.
Uma densa escuridão caiu sobre aselva, surpreendendo a todos. Animaise pessoas procuravam caminhos para voltar a suas casas e esbarravam uns comos outros. Mas o pior foi o que aconteceucom as serpentes da chefe Surucucu: elasse atiraram sobre a jarra, empurrando-as
umas às outras, e cada uma passou naspresas tanto veneno quanto podia. Em vão Surucucu tentava acalmá-las, dizendoque havia veneno suficiente para todas.Por fim, acabaram derrubando a jarra.
Mas quando, ao final de uma longanoite, voltou o dia, todos puderamperceber as conseqüências do que a
onça havia feito: as serpentes tinham setornado inimigas poderosas e audaciosasque, com suas presas envenenadas,matavam todos aqueles que seaproximavam. Apenas o povo das Jibóiasnão foi atingido, e sempre avisava osíndios com sua matraca.
Depois desse episódio, as serpente
nunca mais foram amigas — cada umaprocura viver sua vida sem se preocuparcom a dos outros.
Os Munduruku e os animais adoraramter conseguido a noite de volta. Assim,podem descansar durante a noite parainiciar um novo dia mais dispostos ealegres.
Daniel Munduruku
29>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 30/83
CuruCuru
30
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 31/83
pira
CURUPIRA é o dono da mata e
mora nas sapopemas da sumaumeira.
Ele gosta de silêncio e está
sempre andando para cima e
para baixo na floresta.
Quando cansa, senta-se sobre
um jabuti, que lhe serve de banco.
Dizem os velhos que ele tem os
cabelos compridos, corpo peludo,olhos pretos e pés virados.
Existem vários tipos de Curupira:
o pai da sumaumeira, o dono do
jabuti, o dono dos outros
animais, o Curupira macho eo Curupira fêmea.
O Curupira faz medo aos caçadores
batendo nas raízes das árvores.
Ele atrai e encanta as pessoas.
Quando o Curupira ataca, o único
jeito de matá-lo é batendo no seu
corpo com um pedaço de pau podre.
Mas antes de morrer ele sempre diz:
Professores Ticuna
“Se um dia eu me acabar,
fica outro no meu lugarguardando tudo o que é meu”.
<< Buritizal, de João Clemente Gaspar Metchiicü
31>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 32/83
Macunaíma e
Crédito da obra
32
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 33/83
Waimesa-Podole
Mayuluaípu, índio Taurepang, narrou essa história para o pesquisador
alemão Theodor Koch-Grünberg, em 1912.(versão da edição em espanhol para o português de José R. Bessa Freire).
Um dia Macunaíma e seu irmão Manápe saíram e encontraramWaimesa-Podole, o pai dos lagartos. Ninguém podia se aproximar dele, porque sualíngua era muito comprida e com ela agarrava todos os animais. Macunaíma disse:— Vou ver o bicho.
Manápe aconselhou: — Não vai não. Ele vai te pegar e te engolir.
Macunaíma respondeu: — Que nada! Eu vou sim.
Manápe voltou a dizer: — Cuidado, meu irmãozinho. O bicho vai te pegar.
Mas Macunaíma não escutou o conselho. Assim, Manápe o deixou ir. Macunaíma foi
conferir. Aproximou-se do bicho. Então, Waimesa-podole prendeu Macunaíma comsua língua e o engoliu.
Manápe voltou pra sua casa e contou pra todo mundo que o pai dos lagartos haviadevorado Macunaíma. Então, todos os irmãos se uniram, querendo matar Waimesa-Podole com flechadas. Manápe disse: — Não vamos flechar na barriga, mas somentena cabeça. E aí, todos foram pra lá.
De pé, parado diante do bicho, Manápe bateu no chão com um bastão e disse:— Vem agora, vem, Waimesa-Podole e me devora, como fizeste com meu irmão.
Os outros irmãos se aproximaram pelos dois lados para flechar. Quando o lagartobotou a grande língua pra fora para agarrar Manápe, os irmãos dele dispararam suasflechas bem na cabeça do animal, matando-o. Depois, abriram suas tripas. Ali estavaMacunaíma. Saiu vivinho e disse:
— Vocês viram só como lutei com esse bicho!Depois disso, voltaram para sua casa.
33>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
História Bernabé
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 34/83
Zé Bernabé era um índio da Serra Grande muito trabalhador, gostava de caçar e deandar amontado: o seu cavalo era um bode muito forte.
Bernabé sentiu falta de uma vaca e saiu pela mata em seu bode.Foi encontrar sua vaca em cima de uma serra, correu atrás, desceram o barranco,
embaixo ele derrubou a vaca, mas quebrou um quarto. Ele viu que não tinha jeito, lámesmo no mato, ele matou a vaca e a esquartejou.
Amarrou dois quartos nas correias da cela, montou no bode e saiu rasgando
caatinga. Chegando adiante, viu o bode se torcendo. No que olhou para trás, viu umaonça pintada montada na garupa do bode, comendo a carne.Largou o seu chicote na cara da onça, que pulou no chão e saiu correndo. Bernabé
botou o bode atrás dela. Chegando na frente, a onça pulou numa trincheira de pedra.Quando a onça pulou, Bernabé agarrou o rabo da onça. A onça pulou e Bernabé ficoucom o couro da onça na mão.
Alguns dias depois, ele voltou para buscar o resto da carne. No caminho encontrou
com a onça já encabelada. A onça tinha comido o resto da carne. Mais na frentepercebeu seu gibão melado. No que experimentou, viu que era mel. Seguiu caminho,encontrou um enxu só o buraco. É que na carreira atrás da onça, ele passou dentro deenxu e não viu.
Severino Bandeira Atikun
História coletada pela Professora
Maia Josélia Atikum
Bernabé
Karuat, de Matari Kaiabi34
Papagaiotóli
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 35/83
p gcatólico
O homem tinha um Papagaio e o Papagaioandava solto. Quando ele queria botar nacorrente botava; ele pedia para soltar: “Mesolte, que eu vou andar”. Aí disse que elesoltava o Papagaio e dizia:
— Cuidado louro, senão o Gavião te pega.O Gavião pega Papagaio.
Ele:
— Só num é eu.Aí começou a andar: Quando foi um dia,disse que ele já estava no quintal da cozinha,o Gavião chegou, paco! E o Papagaio gritou:
— Me acuda João! Chega que o Gavião vaime levando.
Com aqueles gritos penosos...— Reza aí o terço, João! Reza aí o
santofício, João, que o Gavião vai me comer!Valei-me, Nossa Senhora!
O Papagaio e o Gavião subindo... Aí disseque João correu:
— Lembre-se do..., lembre-se daespingardinha, meu Papagaio.Ele fez:Ó, pu!De surpresa, o Gavião amoleceu a perna
e soltou. Soltou, ele caiu no chão, saiucorrendo, conversando e João atrás, e oGavião foi-se embora. E ele entrou.
Quando chegou dentro de casa, Joãodisse:— Olhe, louro, o que era que eu lhe
dizia? Quase que você morre!Aí ele disse:— Foi, foi. Mas eu te batizo Simão, essa
e outra mais não.Pronto acabou a história do Papagaio.
Margarida Maria de Jesus Kiriri
O buritizal e os animais,
de Cidberght Custódio Marques Nupawe’ecü
a terra
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 36/83
No meu pensamento de antigamente,
quando eu era menino,o mundo, eu pensava
que era que nem tocaia,
a terra remendava com o céu.
O sol,eu pensava que eram muitos,
passava dias e dias. A noite, eu pensava que era
que nem fumaça,
porque quando o sol ia embora,
a noite vinha cobrir o mundo.
O céu,eu pensava que era que nem ferro,nunca acaba.
A chuva,eu pensava que era alguma pessoa,
que morava no meu céu e derramava água.
A água,eu pensava que eram alguns bichos grandes,
esturrando em cima do céu.
Eu pensava que a terra
remendavacom o céu
36
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 37/83
O homem,eu pensava que só nós mesmos vivíamos,
só nós mesmos, o povo Kaxinawá.
A língua,eu pensava que todo mundo falava
na nossa língua mesmo, o Kaxinawá.
Um dia, eu vi um branco chegando na nossa casa, falando diferente. Mas eu pensava que quando
eu fosse à casa dele, ele ia falar em Kaxinawá. Um dia, eu fui viajar com meu pai, para ver ondeestava a terra remendada com o céu. Nós íamos descendo o rio e quando passaram alguns dias
perguntei ao meu pai onde estava a terra remendada com o céu. Meu pai me disse que não estava
remendada a terra com o céu. Que o mundo é muito grande e não tem fim...
Noberto Sales Tene Kaxinawá
Céu, terra e água, de Maiuá Ikpeng
37>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
MA’PÂY
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 38/83
Mây mam mapây ga ‘ep to ‘ût pâra to xãp pû kãyã ep. Kanay i’xap pû’ kâyã wa’yetoxawaba pôg to’wa kanãy i’ya owe wa’ye
totôra xahwip tem wâk tem i’ke owe‘et to’wûya mãy mam xo kanây i’yat taburabe
i’xãp pû mabitât tem to’wa kanãy pe:
Toto néw wa’ye ma’pây ga ‘ût mapárai’kug pe’tenã kanay pe’i’ût’et to wûya wâktem tenã te ‘et tabet.
Mây ye: yet i’ke to’wa Toto néw et tabet.
MA PÂY
(MULHER)
38
MULHER
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 39/83
ANTIGAMENTE A MULHER ENGRAVIDAVA NA BATATA DA PERNA.
QUANDO CHEGAVA NO DIA DE NASCER, O BEBÊ ABRIA A PERNA DA MÃE.
DAÍ O BEBÊ JÁ NASCIA ANDANDO, MAS AS MULHERES NÃO GOSTAVAM
DE ENGRAVIDAR NA PERNA, ELAS ACHAVAM MUITO PESADO CARREGAR
O BEBÊ NA PERNA. POR ISSO QUE O TOTONEW CASTIGOU AS MULHERES.
TOTONEW FALOU PARA ELAS:
— AGORA VOCÊS VÃO CARREGAR OS BEBÊS DE VOCÊS NA BARRIGA,
SÓ QUE VOCÊS MULHERES VÃO SOFRER MUITA DOR NA HORA DOS PARTOS,
PARA VOCÊS APRENDEREM A ME OBEDECER.
POR ISSO A MULHER SENTE MUITA DOR NA HORA DO PARTO.
Pem Marli Arara
Escrito nas duas línguas pela autora
MULHER
(MA’PÂY)
39>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 40/83
Nitio xá potar cunhangSetuma sacai wáaCurumú ce mama-mamane
Baia sacai majauéNitio xá potar cunhang
Sakiva-açuCurumú monto-montoque
Tiririca-tyva majaué.
Não gosto de mulherde perna muito finaPorque pode me enroscarcomo cobra viperinaNão gosto de mulher
de cabelo alongadoPorque pode me cortarcomo tiririca no roçado
40
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 41/83
As mulheres com a mandioca, de Amatiwanã Trumai
41>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 42/83
42
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 43/83
Acutipuru ipurú nerupecê
Cimitanga-miri uquerê uaruma.
Acutipuru, me empresta o teu sono
para minha criança também dormir.
Canção de ninar em Nheengatu
recolhida por Francisco Bernardino de Souza
Rede com
fios de algodão
e tucum
dos índios Kuikuro
43>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 44/83
>> PARTE 2
Esta terra tem vida
44
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 45/83
Eu sou a água que mata a sedeOnde eu não estiver
Você se lembra de mim. Aturi Kaiabi
Os pescadores, de Amatiwanã Trumai
45>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 46/83
46
Correrd d
Qualquer vidaé it
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 47/83
Co edas pedras
Rio da vida, água claraCorrer das pedrasPeixes grandes, peixe pequeno
O sol nasceuNa curva dos rios, águade novo correu,dentro do rioÁgua linda, friazinha,fica entrando no meu corpoamando, beijando e bebendodevagar
Sempre mata coraçãoNo meu entrandoNo peito sozinha deixandoEmbora amor choreCorrer.
Perankô Panará
Qua que daé muita
dentro da floresta
Se a gente olha de cima, parecetudo parado.Mas por dentro é diferente.
A floresta está sempre emmovimento.Há uma vida dentro dela que setransformasem parar.Vem o vento.Vem a chuva.Caem as folhas.
E nascem novas folhas.Das flores saem os frutos.E os frutos são alimentos.Os pássaros deixam cair assementes.Das sementes nascem novasárvores.E vem a noite.
Vem a lua.E vêm as sombrasque multiplicam as árvores.As luzes dos vaga-lumessão estrelas na terra.E com o sol vem o dia.Esquenta a mata.Ilumina as folhas.Tudo tem cor e movimento.
Professores Ticuna
<< Piracema,
de João Otaviano do Carmo Filho Te’racicü
47>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Esta terra que pisamos é o nosso irmão. Por isso quea terra tem algumas condições e por isso que o Guarani respeita a terra, que é
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 48/83
também um Guarani. O Guarani não polui a água, pois é o sangue de um Karaí .Esta terra tem vida, só que nós não sabemos. É uma pessoa, tem alma — é o
Karaí . A mata, por exemplo, quando um Guarani vai cortar uma árvore pedelicença, pois sabe que é uma pessoa que se transformou neste mundo. Esta terra aqui é nosso parente, mas uma pessoa acima de nós. Por isso falamos para ascrianças não brincarem com a terra, porque ela foi um Karaí e até hoje ela semovimenta, só que nós não percebemos. Por isso quando os parentes morrem,a carne e o corpo se misturam com a terra. Por isso que temos que respeitar estaterra e este mundo que a gente vive.
Alexandre Acosta Guarani
História coletada por Marcos Moreira Guarani
Floresta e manejo,
de Aldemir Bina Kaxinawá48
O que não tem médicotem mata
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 49/83
tem mataAntigamente não tinha médico, num tinha nada nem doutor.
Eram só as raízes — é onde eu falo: nossa tradiçãoe nosso povosão o povo da raize da terra.
Que a terra é nossa carne e nossa vidae a água é nosso sangue e nossos nervos.
A raiz é os nervos
e a água é o sangue.
Emílio Gomes de Oliveira Xacriabá,
Floresta e manejo,
de Benki Asheninka>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
49
Geografia o que é
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 50/83
go que éGeografia é onde o rio está.Onde o município está.É para onde vem o sol.É para onde vai o sol.Este rio para onde vai?É divisão das águas.É igarapé, igapó, lago, açude, mar.
É a medição da terra, a demarcação.É fotografia, desenho, cor, é um mapa.Geografia é o entendimento da aldeia e do mundo.Do nosso mundo e do mundo do branco.É a cidade, o Brasil e os outros países.É a história do mundo.O mundo é a terra, a terra é a aldeia.O rio que cai num outro rio.
Que cai num outro rio.Que cai no mar.Geografia é o depois do mar...
Professores Indígenas do Acre
Grafismo Wajãpi,desenhado por Jawarua
Os Wajãpi usam seus
grafismos para pintar o
corpo e na decoração
de objetos, como cestos,
vasos e tecidos.
50
Sonhou um canto e cantouE seu canto era belo e bomÊ solPássaro
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 51/83
Ê luaÊ mata
Ê rioBrasil nem era BrasilMuito antes de ColomboMuito antes de CabralAqui vivia uma genteFalando língua de vidaVivendo uma vidaTal que até parece cinema.
Até parece um sonhoO que era natural.
Jonado Sabanê Nambikwara
ássa o
vermelho
Akaikuni,
de Amatiwanã Trumai
51>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
>> PARTE 3
Por que isso se passa comigo?
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 52/83
Quando você forQuando você for,me chama em voz baixa.Daí eu fico contigo.Mas a tua voz não chega de verdade.Como sentircheiro de flor na bocada minha flor?
Edson Ixã Kaxinawá
52
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 53/83
... o amor é uma sensaçãoatraente, que deixa muitas vidasem pânico. Portanto, o amor é umproduto que deve ser usado comcuidado, quando for com bastantefreqüência. O amor é como vocêcorrer desesperadamente. Derepente, pode se chocar comalguma coisa que estiver na suafrente e ser atropelado.
Então, no caso do amor, devemosprestar bem atenção: para ondecorrer, a distância que vamoscorrer, se podemos correr…
Joaquim Mana Kaxinawá
<< Brinco Karajá
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL53
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 54/83
Te mandei em passarinhoPatuá miri pupéPintadinho de amareloIporanga ne iaué
54
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 55/83
Te mandei um passarinho
dentro de uma cestinhaPintadinho de amarelo,
e bonito como você.
55>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
O casamento
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 56/83
Eu vou contar para você como é que é o namoro e o casamento do povo Pataxó. Quando um rapaz e uma moça Pataxó começam a se gostar, um dos dois
toma a iniciativa, jogando em direção ao outro uma pedrinha bem de mansinho, sem que
ninguém possa perceber. Naquele momento, os dois trocam olhares e sorrisos.
A partir daí, começa, ou melhor, passam a se jogar pedrinhas e a se encontrar àsescondidas. Quando querem se casar, o rapaz joga na moça, na jovem índia, uma flor.
Se ela pegar a flor, é porque aceita se casar com o rapaz, mas, se ela não pegar, é por-que não aceita o casamento. Depois que a moça pegar a flor eles vão conversar com
os pais e os caciques. A partir dessa conversa, toda a comunidade fica sabendo que vai haver casamento na aldeia.
Desse dia em diante, os pais começam a se preparar para a cerimônia matrimonialde seus filhos. O noivo começa a preparar sua casa e seu roçado e, diariamente, pega
uma pedra com o peso equivalente ao da noiva.
No dia do casamento, os pais dos noivos, juntamente com os caciques, marcam olugar de onde o noivo começará a carregar a pedra. O rapaz carrega a pedra até o
local onde será realizado o casamento. Chegando lá, ele põe a pedra no chão e, ali
mesmo, os noivos trocam de cocar e, naquele momento, é realizada a cerimônia.
Depois da realização do casamento, todos os membros da comunidade vão para acasa dos noivos beber cauim e festejar até o raiar do novo dia. Geralmente, os Pataxó
se casam bem novos, entre doze e treze anos, mas hoje isso já está mudando e estãocasando entre quatorze, dezesseis e até dezoito anos.
Kanátio Pataxó e outros
tradicional
56
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 57/83
Casamento Pataxó, de Kanátyio Pataxó
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL57
Tudo passa
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 58/83
Passam os anos, passa a vida,Passa o tempo, passam as coisas,Passam perto de mim as pessoas,Passa dentro de mim o amor.
Por que isso comigo se passa,Se já nem sei mais quem sou?
Miguel Panemaxeron Surui
Grafismo Wajãpi,
de Muruti
58
Eu não tenhominha aldeia
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 59/83
minha aldeiaEu não tenho minha aldeia
Mas tenho o fogo interno
Da ancestralidade que queima
Que não deixa mentir
Que mostra o caminho
Porque a força interior
É mais forte que a fortaleza dos preconceitos.
Ah! Já tenho minha aldeia
Minha aldeia é Meu Coração Ardente
É a casa de meus antepassados
E do topo dela eu vejo o mundo
Com o olhar mais solidário que nunca
Onde eu possa jorrar
Milhares de luzes
Que brotarão mentes
Despossuídas de racismo e preconceito.
Eliane Potiguara
59>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
O contraditório
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 60/83
Quem é aquele que se diz civilizado.
Que criou o antídoto, que elimina a vida.
Que destrói o mundo num toque de dedo.
Que se engrandece porque detém a morte.
Que envenena a terra, a água e o ar que geram vida.
Que sufocou sabedoria milenares.
Que massacrou as verdadeiras civilizações.
Que hoje parece estar arrependido.
Que hoje nos quer como quando nos encontrou
Andila Inácio Belfort Kaingáng
60
Água namora com a pedra
Quem vai segurar?
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 61/83
A pedra sempre feliz vai ficar
A água corre no rio e esse rio cai no mar
O ar segura o mundoE o mundo segura o mar de novo
Os dois seguram os homens, e os homens,será que vão segurar?
Yanin Kaiabi
Arakuni, de Amatiwanã Trumai
* Esse mito é muito bonito porque fala do incesto de Arakuni com sua irmã, que foi desoberto pela mãe porque sua pintura corporalera diferente da dos outros homens e ela ficou impressa no corpo da irmã.
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL61
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 62/83
62
Veja aqui quem te mandou um passarinho
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 63/83
Arara (RO) – No Brasil, quatro povos diferentes são denominados Arara. A história aqui narrada é dos
Arara de Rondônia, que sempre habitaram o Igarapé de Lourdes e falam a língua Karo, nome
pelo qual são também conhecidos. Karo, na língua deles, significa arara. Eles se pintavam com
jenipapo, faziam furo no nariz, onde penduravam uma pena de arara. Nos anos 1920, o contato
com o branco provocou doenças e muitas mortes. Os sobreviventes trabalharam como serin-gueiros. Hoje, são 170 índios em duas aldeias, onde a escola alfabetiza na língua karo e ensina o
português. A palavra to´wa nas narrativas é uma marca para prevenir que não viram o que estão
contando, apenas ouviram.
Atikum – Conhecidos no século XVIII como Umã, os Atikum, em 2006, somavam 5.852 indivíduos
vivendo em 16 aldeias localizadas na Reserva da Serra do Umã, no município de Carnaubeira da
Penha (PE). Lá são identificados como “os caboclos da Serra do Umã”. É possível chegar a cincodessas aldeias por estrada, as demais só a cavalo ou a pé. São bons agricultores. Em plena caa-
tinga, plantam milho, mandioca, feijão, mamona e frutas como goiaba, laranja, pinha e banana.
Não falam mais a língua Atikum, só mencionada no toré, que é uma dança com cânticos rituais,
que expressam a religiosidade do grupo e contêm em suas letras o registro, entre outros, das
plantas e raízes medicinais.
Guarani – Em 1.500, os Guarani eram os senhores da costa atlântica, desde a Barra da Cananéia (SP)
ao Rio Grande do Sul. Hoje, vivem em aldeias localizadas em dez estados brasileiros, com uma
população de 47.692 indivíduos. Ocupam ainda territórios na Argentina, Paraguai, Uruguai e
Bolívia. Estão divididos em três grupos: Mbyá, Ñandéva e Kaiowá. A maioria da população é bi-
língüe e fala, além do guarani, o português ou o espanhol. Mas é na língua guarani que circulam
as narrativas, a poesia, o canto, as rezas e os rituais religiosos. Vivem da agricultura e da venda
do artesanato: cestaria, colares, pulseiras, adornos, chocalhos e figuras de animais, esculpidas emmadeira.
Ikpeng – Eles se chamam Ikpeng, mas eram conhecidos como Txicão. Viviam no rio Jatobá (MT), fora
do Parque Indígena do Xingu (PIX). Contataram com os brancos em 1964, quando doenças re-
duziram a população a menos da metade. Foram, então, transferidos, em 1967, para dentro do
PIX. Hoje são 342 pessoas, que protegem a área da ação dos madeireiros. Lutam para recuperar
63>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
o antigo território. Falam e escrevem uma língua Karib, usada na escola, onde aprendem também
o português. Aprenderam a filmar com a ONG Vídeo nas aldeias. Produziram vídeo de rara bele-
za: Das crianças Ikpeng para o mundo, onde mostram a aldeia, as famílias, brincadeiras, festas e
modo de vida.
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 64/83
Kaiabi – Narrativas míticas, cantos e histórias de guerra mostram que os Kaiabi eram um povo tradi-
cionalmente guerreiro, que morava em grandes casas no norte de Mato Grosso e no sul do Pará.
Suas terras foram invadidas por seringueiros, madeireiros e fazendeiros. Em 1966, muitos deles
aceitaram ser transferidos de avião para o Parque do Xingu, mas alguns ficaram lá. Em 2006, ha-
via um total de 1.619 índios kaiabi, divididos em três grupos. Eles vivem hoje em casas pequenas e
cultivam dezenas de plantas. Os homens fabricam cestos ornamentados, redes, tipóias e peneiras
com desenhos sofisticados. As mulheres tecem algodão. Cantam e fazem poesia em sua línguamaterna e em português.
Kaingáng – Eles são 28.875 índios em trinta terras indígenas (SP, PR, SC, RS), mas somam mais de 30
mil se forem contadas as famílias que vivem hoje nas cidades. Ocupavam um vasto território que
chegava até a atual Argentina. Os primeiros contatos de alguns kaingang com os portugueses da-
tam do séc. XVI. Mas só no final do séc. XVIII é que começa a invasão de suas terras, processo que
se estendeu aos dias de hoje. Suas narrativas míticas foram recolhidas por vários estudiosos desde
1882, quando foi registrado o mito da origem do povo Kaingang, no qual aparecem os heróis
Kamé e Kairu, dois irmãos que criaram o mundo e as regras de comportamento para os homens.
Karajá – De onde vieram os Karajá? Do fundo do rio, onde viviam. Eram os Berahatxi Mahadu, o povo
do fundo das águas. Um dia, descobriram a passagem para a superfície e boiaram no rio Araguaia.
Lá, encontraram doenças e morte. Tentaram voltar, mas a passagem estava fechada. É assim que
o mito conta a origem deles. Tiveram contato com jesuítas (1658) e com bandeirantes (1718).
Hoje, 2.593 karajá moram em 29 aldeias na ilha do Bananal (TO). Fazem roças, pescam, fabricam
bonecas, artesanato de palha, madeira e barro. Antes, tatuavam na face dois círculos, que agora
são apenas desenhados durante as festas. Cinco escolas bilíngües funcionam para 425 alunos.
Kaxinawá – Eles se chamam Huni Kuin (gente verdadeira), falam o hãtxa kuin (língua verdadeira) e
são o maior povo indígena do Acre: 5.820 pessoas.No Peru vivem mais 1.500. Suas terras foram
invadidas no período da borracha (1870-1914), quando cem mil nordestinos entraram no Juruá
e Purus. Alguns índios ainda hoje trazem o braço gravado com as iniciais FC (Felizardo Cerqueira),
nome do patrão que os submeteu ao trabalho forçado. Junto com outras etnias, criaram associa-
ções, construíram escolas, formaram professores, pesquisaram e ilustraram os livros que escreve-
ram com o Kene Kuin (desenho verdadeiro) usado na pintura corporal, na cerâmica, na tecelagem
e na cestaria.
64
Kiriri – O nome dado pelos tupis do litoral do Nordeste a um outro povo que vivia no sertão foi kiriri ,
que significa calado. Os Kiriri, catequizados pelos jesuítas no séc. XVIII, esqueceram sua língua,
mas o português que falam hoje tem marcas dialetais do Kipeá. Perseguidos pelos diretores de
índios no séc. XIX, perderam suas melhores terras, que haviam sido reconhecidas pelo rei de
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 65/83
Portugal, em documento de doação. Hoje, 1.612 Kiriri vivem em terras na boca da caatinga, nonorte da Bahia, recuperadas depois de muita luta. Vivem da agricultura, da coleta de frutos e do
artesanato. Reaprenderam a dançar o toré, ritual que é um símbolo de identidade e de união dos
índios do nordeste.
Krahô – Timbira é o outro nome mais genérico pelo qual são conhecidos os Krahô, que vivem no Tocan-
tins, em aldeias onde as casas ocupam um espaço circular e se ligam por uma via ao pátio central.
A história do contato começa no século XIX, quando fazendas de gado invadem suas terras. Erammais de 4 mil e foram reduzidos a 400 em 1940. Hoje são 2.184 índios. São bilíngües. Falam a
língua Krahô, na qual narram a origem do mundo, a visita ao céu e ao fundo das águas, a cura das
doenças, como obtiveram as plantas da mulher-estrela, como tiraram o fogo da onça e com quem
aprenderam a corrida de toras. Gostam muito de música, que é um dos aspectos importantes da
sua vida ritual.
Krenak – Eles se chamam Borun, nome de sua língua. Foram apelidados de Aimoré pelos tupi, e de Bo-
tocudo pelos portugueses, devido ao botoque usado nos lábios. Mas hoje são conhecidos como
Krenak, nome de um cacique. O seu território era a Mata Atlântica (BA) e o vale do rio Doce (MG
e ES). D. João VI, em 1808, declarou guerra aos Botocudos, confiscou suas terras, distribuídas
como sesmarias, permitindo a escravidão dos prisioneiros de guerra por até vinte anos. Os últimos
Botocudo são hoje 204 índios que recuperaram no Supremo Tribunal Federal pequena parte das
terras. Os mais velhos falam Borun e contam histórias de Marét-Khamaknian, o herói civilizadorda humanidade.
Kuikuro – Hoje 509 kuikuro vivem em grandes malocas ovais de três aldeias do Parque do Xingu (PIX).
Entre eles, não estão mais os donos das narrativas – Agatsipá e Nahu – dois velhos sábios enterra-
dos recentemente com a cerimônia dos mortos: o Kuarup. Sabiam tudo: cantos, rituais, histórias.
Para eles, o céu, com as estrelas e constelações, era um livro aberto, onde liam acontecimentos
míticos e a origem das coisas. Os Kuikuro falam sua língua e o português, dependendo da idadee do sexo. Produzem os famosos colares e cintos de caramujo. Dançam o Yamaricumá, que conta
a revolta das mulheres. Aprenderam a filmar, ganhando prêmios com o vídeo O dia em que a lua
menstruou.
Macuxi – Eles falam uma língua da família Karib. São 32.933 indivíduos, dos quais 23.433 vivem no
Brasil, em Roraima, e 9.500 na Venezuela. Depois do contato, substituíram as grandes malocas
65>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
circulares por casas retangulares, cobertas com folhas de buritizeiro, chão batido e paredes de
barro seco e até mesmo por casas de alvenaria. Na luta pela terra, suas aldeias foram invadidas
em 2004 por fazendeiros, que destruíram e incendiaram dezenas de casas, postos de saúde e
escolas, além de ferir um índio à bala. Apresentam variações das narrativas comuns com os Tau-
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 66/83
repang sobre Macunaíma, o herói mítico, astuto e sagaz, que converte homens, animais e peixesem pedras.
Marajoara – Não existiu um povo Marajoara. Os arqueólogos chamam de cultura marajoara o estilo
de antigos povos ceramistas que viveram na ilha do Marajó (PA) entre os anos 400 e 1300 d.C.
Sua cerâmica bonita e refinada - urnas, vasos, tigelas, pratos, tangas, adornos - representa seres
mitológicos da floresta: cobra, jacaré, tartaruga, lagarto, coruja, macaco. A arte marajoara é
uma linguagem, só que em vez de falada ou escrita, é visual. Cria narrativas gráficas que contamhistórias, expressam crenças, emoções e idéias. Os estudiosos acham que servia para registrar,
armazenar e divulgar o conhecimento. Esse estilo de vida desapareceu muito antes da chegada
dos portugueses ao Pará.
Munduruku – Documentos portugueses falam que o Munduruku, dono do vale do rio Tapajós, era um
povo guerreiro, conhecido por mumificar as cabeças dos inimigos mortos. Desde o final do século
XVII, resistiu às tropas de guerra que queriam escravizá-lo. Depois, foi aldeado por missionários. O
sarampo dizimou parte da população. Hoje são 10.065 pessoas cujas terras estão ameaçadas pelo
garimpo de ouro e grandes projetos hidrelétricos. Tocam nas flautas parasuy canções tradicionais
que contam seus mitos e sua história. Criaram escolas, uma associação, e organizaram a assem-
bléia geral do povo Munduruku. Mantém rede de radiofonia de comunicação entre as dez aldeias
(PA, AM e MT).
Nambikwara – Rondon calculou que em 1915 havia 20 mil falantes de da língua Nambikwara em
seus vários dialetos. Foram reduzidos a 990, devido ao contato, às epidemias e à produção da
borracha. Eles se recuperaram e hoje já são 1.715. Procuram usar a tecnologia moderna para for-
talecer suas tradições. Vivem em dez terras indígenas (RO e MT), algumas delas ameaçadas pelo
garimpo e pela febre da soja, inclusive a área sagrada onde habitam os espíritos dos antepassa-
dos, com os rios contaminados por agrotóxicos, as nascentes destruídas e a formação de crateras
encharcadas de mercúrio. Técnicos garantem que “nem todo o ouro retirado da área paga umprojeto de recuperação”.
Nheengatu – Nheengatu não é um povo, mas uma língua, conhecida nos documentos coloniais como
língua geral . Existiram dois idiomas que permitiam a índios de etnias diferentes se comunicarem en-
tre si e com os portugueses: Língua Geral Paulista (LGP) e Língua Geral Amazônica (LGA). Essa últi-
ma, falada pela maioria dos amazonenses até o século XIX, registrou narrativas, poesias e canções.
66
Sua base era o tupinambá, usado pelos jesuítas como língua de catequese. Recebeu influência de
outras línguas indígenas e africanas e do português. Hoje, o Nheengatu, que significa lingua boa,
é falado no rio Negro. Foi declarado língua co-oficial no município de São Gabriel da Cachoeira
(AM) em 2002.
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 67/83
Panará – Conhecido como Krenakore ou índios gigantes por causa de suas enormes bordunas, o Pa-
nará, povo agricultor, ocupava um território no rio Peixoto Azevedo, sudeste do Pará. Contatado
em 1973 na abertura da estrada Cuiabá-Santarém, a população de 400 pessoas diminuiu em dois
terços por doenças e massacres. Os sobreviventes, levados em avião para o Parque do Xingu, vive-
ram lá mais de vinte anos. Em 2001, ganharam indenização na Justiça e recuperaram as terras de
onde foram retiradas 30 fazendas. A população de 303 indivíduos criou associação para gerenciar
a indenização e desenvolver projetos de educação, capacitação e manejo de recursos naturais.
Pataxó – Existem dois povos com esse nome: um é o Pataxó Hã-hã-hãe, o outro é o Pataxó, os “índios
do descobrimento”, que resistiu a cinco séculos de invasão de seu território e hoje vive em nove
terras indígenas (BA e MG), parte delas no Parque Nacional do Monte Pascoal, recuperadas em
1997. São 10.897 indivíduos, 40 deles capacitados como monitores de turismo. O contato per-
manente com turistas muda o modo de vida, mas reafirma o orgulho étnico, como registrou o I
Encontro de Pesquisadores Pataxó, em 2007. A última falante de Pataxó ainda vivia em 1983. Dei-
xaram de falar a língua, mas suas narrativas, canções e poesias sobrevivem em português, como
o mito fundador Txopai Itohã.
Potiguara – “Eles se misturaram com os brancos. Não são mais índios. Perderam a língua e estão
vestidos. São sertanejos”. Esse foi o argumento do governo da Paraíba, em 1919, para vender as
terras dos Potiguara, no vale do Mamanguape, reconhecidas antes pelo rei de Portugal (1599)
e por D. Pedro II (1850). Hoje, 11.424 Potiguara de 33 aldeias plantam, criam animais, pescam,
fazem artesanato. Continuam a luta pela terra, mantendo o vigor de sua identidade. Dançam o
toré, celebram as figuras míticas dos tapuios coronga e canindé, aprendem noções básicas de tupi
ministrado pela USP e se organizam. Em 2004, elegeram um prefeito, dois vice-prefeitos e onze
vereadores Potiguara.
Sacaca – Quando os portugueses chegaram ao Pará (1616), chamaram os povos da ilha do Marajó, es-
timados em cem mil habitantes, pelo nome genérico de Nheengaiba (língua ruim), porque falavam
línguas diferentes da usada na catequese. Um desses povos, hoje extinto, era o Sacaca, que resistiu
às tropas de guerra e à escravidão até o acordo de paz assinado com o padre Vieira (1659). Foram
aldeados e explorados como remeiros e vaqueiros. Seus pajés conheciam tanto as plantas medicinais
que sacaca passou a significar curandeiro em Nheengatu. Em algumas gerações, adotaram a Língua
Geral e depois o português, línguas que registraram suas narrativas míticas e seus conhecimentos.
67>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Surui (RO) – Há dois povos Surui: Aikewara (PA) e Paiter (RO). Trata-se aqui do Surui Paiter (gente de verda-
de), contatado em 1969, cujas terras foram invadidas por estrada, garimpeiro, madeireira e grileiros,
quando o Programa Polonoreste investiu em Rondônia 1,55 bilhões de dólares. Hoje, 1.007 surui de
onze aldeias têm luz elétrica, casa de zinco, roça, escola bilíngüe e igrejas cristãs que reprimem os
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 68/83
pajés, numa tensão entre o tradicional e o novo. Festejam o Mapimaí (criação do mundo) e celebramo natal. Seus cantos exaltam a luta do herói Waiói. Fazem cerâmica, cestos, colares, cintos e redes em
pequenos teares com roda de barro. Criaram o Fórum Surui para defender o meioambiente.
Taurepang – Eles são 22.935 índios, dos quais 22.353 estão na Venezuela, onde são conhecidos como
Pemón, e 582, no Brasil. Moram em Roraima, na Área Indígena Raposa/Serra do Sol com os Maku-
xi e os Wapixana. Seu jeito de viver foi estudado em 1911-1913 pelo pesquisador alemão Koch-
Grünberg, que registrou muitas narrativas Taurepang, entre as quais as histórias de Macunaíma,que deram origem a um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Com as demais etnias,
organizaram o Conselho Indígena de Roraima (CIR), que lutou para demarcar suas terras invadidas
por fazendeiros. Depois de batalhas jurídicas, a área foi, enfim, homologada, em abril de 2005.
Ticuna – A língua Ticuna não parece com qualquer outra e por isso é considerada isolada. É nessa
língua, dita tonal porque usa diferentes alturas na voz, que o povo Ticuna, autodenominado Ma-
guta, registrou a memória da floresta, celebrando os protetores da mata. Organizou associações,
formou professores, escreveu livros, abriu museu, biblioteca e 93 escolas bilíngües em aldeias do
rio Solimões, que têm luz elétrica, rádio e televisão. Eles são no Brasil 32.613 pessoas; no Peru,
4.200 e na Colômbia 4.535. Seus livros contêm suas ciências, com inventário dos animais e mapas
da vegetação: plantas medicinais, ervas, frutas, resinas, arte, festas, máscaras, danças, contando
tudo com palavras e imagens.
Trumai – Eles vivem no Parque Indígena do Xingu (PIX), junto com 5 mil índios de 14 etnias distribuídos
em 49 aldeias, em área de 27.974 km², todas com línguas próprias, mas com muitas coisas em co-
mum. Esses povos ficaram conhecidos depois de duas expedições (1884-1887) do etnólogo alemão
Von den Steinen. O Trumai ficou reduzido a 27 pessoas em 1947 devido a guerras intertribais e do-
enças causadas pelo contato. Hoje são 147 indivíduos, que falam uma língua isolada e o português
em diferentes graus de bilingüismo. Vivem em três aldeias e na cidade de Canarana. São agricultores
e artesãos. Ensinaram aos demais o ritual do Jawari, celebrado hoje por todos os povos do Xingu.
Tukano – A cobra grande entrou no universo pela porta da água, subiu os rios Negro e Uaupés, levando
dentro dela todos os povos. Foi deixando cada um em seu lugar. É assim que é narrada a origem
de 16 povos que falam línguas diferentes, mas pertencem a mesma família lingüística. Um deles é
o Tukano, que no Brasil são 6.241 pessoas e na Colômbia, 6.330. Moram nos rios Uaupés e Tiquié
(AM), são exogâmicos, isto é, só casam com alguém que fala outra língua, e patrilineares, ou seja,
68
os filhos e a mãe moram na comunidade do pai. Estão organizado na FOIRN – Federação das Orga-
nizações Indígenas, que está publicando as histórias na série Narradores do Rio Negro.
Tupinambá – Esse era o nome de povos do tronco lingüístico tupi, que ocupavam o litoral, de São
Paulo até Belém. Foram os primeiros que tiveram contato permanente com os colonizadores.
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 69/83
p q p
Cultivavam roças comunitárias, plantavam e teciam algodão. Sua arte plumária, registrada na
Bahia pela carta de Caminha, encantou os europeus, como o manto que hoje está no Museu da
Dinamarca. Considerados extintos, desapareceram do mapa do Brasil. Ressurgiram em 1997, em
Ilhéus (BA). Hoje são 2590 índios, que falam o português e mantêm uma Associação que realizou
o Seminário da Juventude Tupinambá (2005). A memória oral lembra ainda o último massacre
que sofreram (1937).
Wajãpi – Esse povo vivia no baixo Xingu até o século XVII. Cruzou depois o rio Amazonas e foi morar no
Oiapoque. Hoje eles são 756 pessoas no Amapá e 412 na Guiana Francesa. Vivem em 40 pequenas
aldeias e registram seus saberes e suas narrativas na língua que falam da família Tupi-Guarani, com-
binando a palavra com a arte gráfica da pintura, conhecida como kusiwa. Usam tintura de urucum,
gordura de macaco, sumo de jenipapo e resinas perfumadas para pintar o corpo, a cerâmica, as cuias,
os tecidos e a cestaria. Agora usam também caneta e papel. A arte wajãpi de desenhos coloridos foi
declarada pela Unesco, em 2002, “obra prima do patrimônio oral e imaterial da humanidade”.
Xacriabá – Hoje são 7.450 pessoas que vivem em 25 aldeias no vale do Peruaçu (MG) e representam 70%
dos eleitores do município de São João das Missões. Criaram escolas, formaram professores, se alfa-
betizaram, editaram quatro livros de literatura com suas narrativas e um CD com vozes dos velhos
que ainda falam xacriabá, a maioria só fala português. Elegeram o atual prefeito e três vereadores
indígenas. Mas tiveram que lutar muito desde 1728 quando obtiveram o registro de posse da terra, o
que não impediu que fosse invadida por fazendeiros (1969-1987), com assassinato de três líderes. Em
2003, uma barragem construída pela Codevasf inundou terras da aldeia Barra do Sumaré.
Yanomami – A população total é de 30.875 pessoas. A metade vive no lado venezuelano e a outra metade
mora em 255 aldeias em Roraima e no nordeste do Amazonas. Seu território, que abriga o Pico da
Neblina, foi invadido por 40 mil garimpeiros, responsáveis pela morte de 1.500 índios entre 1987 e
1992, quando foi finalmente demarcado. Eles falam quatro línguas aparentadas entre si. A história do
contato é recente, pode ser contada através da vida de Davi Kopenawa, que é hoje o principal porta-
voz de seu povo. Seu grupo foi aniquilado por epidemias após contatos com o Serviço de Proteção ao
Índio e a missão evangélica Novas Tribos do Brasil. Davi conta que quando viu o primeiro branco, feio,
esbranquiçado e peludo, achava que era um canibal que ia comê-lo.
José Ribamar Bessa Freire - Autor da pesquisa e do texto
69>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Autores, fontes e referências bibliográficasdas imagens
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 70/83
Capa, colar, pente e pingente Krahô. Acervo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Foto-
grafia de Wagner Souza e Silva.
Páginas 6 e 7, O Igapó, de José Custódio Marques Meãmücü. In Ticuna – Pinturas da Floresta. OGTP,
Alex Chacon, Jussara Gruber. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.
Página 8, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, in An-
tes, histórias da pré-história. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.
Página 11, réplica de cerâmica Marajoara, www.arteindigena.com.br
Página 13, padrão gráfico muito característico do Alto Xingu, de Amatiwanã Trumai. Foi assinaladopelo autor pelo nome de Iyana Pitalá. Técnica: nanquim sobre papel – 1988. Assinado Amati.
Página 14, escultura em pedra do acervo do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville. In
Antes, histórias da pré-história. Rio de Janeiro: CCBB, 2004.
Página 16, Menino se prepara para o Jawari, de Amatiwanã Trumai. O Jawari é o mais impor-
tante ritual da cultura Trumai. Técnica mista sobre cartão – 1977. Assinado Amati.
Página 19, Kwarup, de Amatiwanã Trumai. O Kwarup é o ritual funeral ícone do Alto Xingu. Técnica:
nanquim sobre papel – 1978. Assinado Amati.
Página 21, Tawaranã, de Amatiwanã Trumai. Técnica mista sobre cartão – 1977. Assinado Amati.
Página 22, Peixe azul, de José Custódio Marques Meãmücü, in Ticuna – Pinturas da Floresta.
Página 26, detalhe de painel de autoria da equipe da OGPTB – Organização dos Professores Ticunado Brasil, in Ticuna – Pinturas da Floresta.
Página 30, Buritizal, de João Clemente Gaspar Metchiicü, técnica: gouache, in Ticuna – Pinturas da
Floresta.
Página 31, Karuat, de Matari Kaiabi, desenho, in Livro das águas. Professores Indígenas do Parque
do Xingu, Maria Cristina Troncarelli (orgs) São Paulo: ISA, ATIX, 2002.
70
Página 35, O Buritizal e os Animais, de Cidberght Custódio Marques Nupawe’ecü, técnica: gua-
che, in Ticuna – Pinturas da Floresta.
Página 37, Céu, terra e água, de Maiuá Ikpeng, in Livro da águas.
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 71/83
Página 41, As mulheres com a mandioca. Amatiwanã Trumai.
Páginas 42 e 43, redes Kuikuro, www.arteindigena.com.br
Páginas 44 e 45, Os pescadores. Pintura, técnica: óleo sobre tela – 1997. Assinado Amatiwanã
Trumai.
Página 46, Piracema, guache de João Otaviano do Carmo Filho Te’racicü, in Ticuna – Pinturas da
Floresta.
Páginas 48 e 49, desenhos dos agentes agroflorestais Aldemir Bina Kaxinawá e Benki Asheninka, in
Calendário Floresta e Manejo, editado pela Comissão – Pró-Indio do Acre e a Secretaria de Coordenação
da Amazonia, Ministério do Meio Ambiente, Brasilia, 2002.
Página 50, grafismo Wajãpi, de Jawarua, in Kusiwa: pintura corporal e arte gráfica Wajãpi. Domini-
que Gallois e Índios Wajãpi. Museu do Índio – Funai. Centro de Trabalho Indigenista, Núcleo de HistóriaIndígena e do Indigenismo. RJ. 2002.
Página 51, Akaikuni, de Amatiwanã Trumai, óleo sobre tela, 2000.
Página 53, Brinco Karajá in A Plumária indígena brasileira. Sonia Ferraro Dorta e Marília Xavier Cury.
São Paulo: Edusp. 2000.
Página 57, Casamento Pataxó, de Kanátyio Pataxó, in O povo Pataxó e sua história. Angthichav,Arariby, Jassanã, Manguadã e Kanátyio. Minas Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.
Página 58, grafismo Wajãpi, de Muruti, in Kusiwa: pintura corporal e arte gráfica Wajãpi.
Página 61, Arakuni, de Amatiwanã Trumai, técnica mista sobre cartão, 1977.
Página 62, Manto xamânico confeccionado pelos índios Tupinambá no século XVII e levado para
a Europa por Maurício de Nassau. Acervo do Museu de História Natural da Dinamarca. (SUBSTITUIDO
TEMPORARIAMENTE PELO COCAR)
71>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Autores, fontes e referências bibliográficas dos textospor ordem de aparição
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 72/83
Nelson Xacriabá. Escrita em papel.
In ALMEIDA, Maria Inês (org). Literatura Xacriabá em língua portuguesa. OEIY, UFMG, MEC, 2006.
Ailton Krenak. Ler e Escrever é uma técnica.
In BESSA FREIRE, José R. La presencia de la literatura oral en el proceso de creación de bibliotecas indí-
genas en Brasil . México. Conaculta. 2004. (Memória del Segundo Encuentro Internacional sobre Biblio-
tecas Públicas. Puerto Vallarta, Jalisco.Mexico)
Davi Kopenawa Yanomami (com Bruce Albert). Descobrindo os brancos.
In NOVAES, Adauto (organização.) A Outra margem do Ocidente. São Paulo. Cia. Das Letras. 1999.
Daniel Munduruku. Histórias moram dentro da gente.www.danielmunduruku.com.br
Joaquim Maná Kaxinawá. A canoa do tempo.
In SHENIPABU Miyui. História dos antigos. Organização dos professores indígenas do Acre e Comissão
Pró-Índio do Acre. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000.
Adalberto Maru Kaxinawá e Joaquim Maná Kaxinawá. História é passado, história épresente.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de
Janeiro: CPI/AC, 1998.
Gabriel dos Santos Gentil. A criadora do Mundo.
In GENTIL, Gabriel dos Santos. Mito Tukano. Quatro Tempos de Antiguidades. Histórias proibidas do
Começo do Mundo e dos Primeiros Seres. Tomo I. Frauenfeld : Verlag Im Waldgut, 2000.
Zeneida Lima. No princípio eram as águas.
In LIMA, Zeneida. O Mundo Místico dos Caruanas da Ilha do Marajó. Belém, Pará Edições CEJUP, 2002.
Pablo Verá. A origem e o fundamento da palavra segundo os guarani.
In CADOGAN, Leon. Ayvu rapyta: textos míticos de los Mbyá-Guaraní del Guairá. São Paulo: USP, 1959.
72
Daniel Munduruku. As serpentes que roubaram a noite.
In MUNDURUKU, Daniel. As serpentes que roubaram a noite e outros mitos. Ilustrações: Crianças Mun-
duruku da aldeia Kato. São Paulo: Editora Peirópolis,2001
Autoria coletiva: professores Ticuna. Curupira.
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 73/83
In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das árvores. Professores e ilustradores Ticuna. São Paulo: Glo-
bal, 2000
Mayuluaipu. Macunaíma e Waimesa-Podole.
In KOCH-GRÜNBERG, Theodor. Del Roraima al Orinoco.Três tomos. Caracas: Ernesto Armitano Editor. 1981
Severino Bandeira Atikun. Bernabé.
História recolhida pela professora Maria Josélia em entrevista com Severino Bandeira Atikun, na aldeiaBaixão.
Margarida Maria de Jesus Kiriri. Papagaio Católico.
In MOTTA, Erimita; CORTES, Clélia (orgs). Histórias Kiriri. MEC/ SEF, Universidade Federal da Bahia, 2000.
Noberto Sales Kaxinawá. Eu pensava que a terra remendava com o céu.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio deJaneiro: CPI/AC, 1998.
Marli Peme Arara. Mulher Ma’Pay.
In ARARA, Marli Peme. Projeto Açaí. Curso de Formação de Professores. Porto Velho. Secretaria de Edu-
cação de Rondônia. 2006
Anônimo. Mulher de Perna Fina.
Recolhido por dois viajantes alemães Spix e Matius, em março de 1820, no rio Urariá, afluente
do rio Madeira.
In BESSA FREIRE, José Ribamar. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ
e Atlântica Editora. 2004
Anônimo. Acupitiru.
Canção de ninar em Nheengatu, recolhida em 1873, pelo cônego Francisco Bernardino de Souza, autor
desta tradução.
In BESSA FREIRE, José Ribamar. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ
e Atlântica Editora. 2004
Aturi Kayabi. Água que mata a sede.
In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indígenas do Parque do Xingu. Livro das Águas. São Paulo:
ISA, ATIX, 2002
73>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Perankó Panará. Correr das Pedras.
In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indígenas do Parque do Xingu. Livro das Águas. São Paulo:
ISA, ATIX, 2002
Autoria coletiva: professores Ticuna. Qualquer vida é muita dentro da floresta.
I GRUBER J G ( ) O li d á P f il t d Ti Sã P l Gl
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 74/83
In GRUBER, Jussara Gomes (org.). O livro das árvores. Professores e ilustradores Ticuna. São Paulo: Glo-
bal, 2000
Alexandre Acosta Guarani. Esta terra que pisamos é o nosso irmão.
Depoimento inédito do Sr. Alexandre Acosta (60 anos), em língua guarani, recolhido e traduzido pelo
professor guarani Marcos Moreira em 2004 na Aldeia Jataíty, Canta Galo-RS. Curso de Formação de
Professores Guarani do Sul e Sudeste. Módulo de História ministrado pelo professor José R. Bessa
Emílio Gomes de Oliveira Xacriabá. O que não tem médico tem mata.
In ALMEIDA, Maria Inês (org). Com os mais velhos. OEIY, UFMG, MEC, 2006.
Autoria coletiva: professores indígena do Acre. Geografia, o que é.
In GAVAZZI, Renato (org). Geografia Indígena. Professores do Parque do Xingu, Instituto Socioambien-
tal, ISA, MEC, 1998
Jonado Sabané Nambikwara. Pássaro Vermelho.
In Práticas pedagógicas e Linguagem - 3º grau indígena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-
gres-MT, 2005.
Edson Ixã Kaxinawá. Quando você for.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de
Janeiro: CPI/AC, 1998.
Joaquim Maná Kaxinawá. O amor.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de
Janeiro: CPI/AC, 1998.
Anônimo. Te mandei um passarinho.
Canção recolhida em 1874 no Pará por Couto de Magalhães.
In BESSA FREIRE, José Ribamar. Rio Babel: a história das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro, Ed. UERJ
e Atlântica Editora. 2004
Kanatyo Pataxó e outros. Casamento Tradicional.
In ANGTHICHAV; ARARIBY; JASSANÃ; MANGUADÃ E KANÁTYIO. O povo Pataxó e sua história. Minas
Gerais: MEC/Unesco/SEE-MG, 1997.
74
Miguel Panemaxerón Surui. Tudo passa.
In MATOS, Claudia; MONTE, Nietta (orgs). Antologia da Floresta. Professores Índios do Acre, Rio de
Janeiro: CPI/AC, 1998.
Eliane Potiguara. Eu não tenho minha aldeia.
In POTIGUARA Eliane Metade cara metade máscara São Paulo: Global 2004
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 75/83
In POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. São Paulo: Global, 2004.
Andila Inácio Belfort Kaingáng. O contraditório.
In Práticas pedagógicas e Linguagem - 3º grau indígena. Seduc-MT/Unemat/Funai/MEC. Barra do Bu-
gres-MT, 2005.
Yanin Kaiabi. Quem vai segurar.
In TRONCARELLI, Maria Cristina; Professores Indígenas do Parque do Xingu. Livro das Águas. São Paulo:ISA, ATIX, 2002.
Avaju Poty. Borboleta Amarela.
In Guata Porá. Oporaí – O canto sagrado guarani . CD. Curitiba. Fundação Cultural. 2000
75>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Glossário
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 76/83
A criadora do mundo
O autor, Gabriel Gentil, do povo tukano, falecido recentemente, era kumu, ou seja, curador e conhe-
cedor das plantas medicinais, mestre de cerimônias e de cantos. Falava português e tukano. Escreveu
esses mitos que foram publicados na Suíça (2000) em edição bilíngüe.
Mi ř io – As músicas eram gente. Esse personagem mítico é gente-música, ou Ye´pá, a Primeira Mulher,
que tocava por si mesma.
Ye´pá – a primeira personagem feminina do Mito da Criação da Terra. A palavra Ye´pá é do idioma
antigo, usada em cerimônias religiosas. Forma outras palavras compostas como Ye´pá-rë, ou
Tambor da Terra, o primeiro nome do Trovão, Ye´pá-Bahuári-Mahsö , gente-terra que apareceu
por si mesma.
Nihǐ sãma e Nihǐ sohpe – significam o Caminho Delicado de Passagem, que une o Outro Mundo ao
Nosso Mundo, nessa Terra. Na linguagem corrente é conhecido como Yahpé (vagina).
Ye´pá-wi´i – nome de uma Casa do Mito da Criação, que ficava abaixo do nível da nossa Terra. É um
lugar provisório, para passar o tempo, um lugar de transformação de vida de gentes que são
mandadas de volta para a Terra, depois de terem existido com outras formas de vida. Lá não existe
morte, nem velhice, nem nascimento, nem doenças.
Më´ ř o- puhtiro – cerimônia sagrada realizada na Casa do Vento antes da criação da Terra
Ye´pá-Bëhkëo – nome de uma das esposas do Ye´pá-rë, ou Tambor da Terra, o primeiro nome do
Trovão
Bahsesé – cerimônia sagrada. Buhtúyãrã-bahsesé: cerimônia para que o rapaz não seja preguiçoso eseja trabalhador.
Di´´tá-bahseró – cerimônia do sopro, uma das cerimônias sagradas do Mito da Criação.
Di´tá-ě hõ-a´mésëok ǔř o bahseró – cerimônia da terra, outra cerimônia sagrada.
76
No princípio eram as águas
Auí – ser altivo e luminoso, personagem mítico do mundo dos Encantados, que vive no fundo das
águas, de onde nasceram todas as coisas.
Igaçaba – palavra do Nheengatu língua de base tupi plenamente incorporada ao português regional
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 77/83
g ç palavra do Nheengatu, língua de base tupi, plenamente incorporada ao português regionalda Amazônia. Significa vaso de barro, pote para água, urna funerária.
Palmiformes – que têm a forma de palma, com os dedos dos pés unidos por uma membrana.
Anhangá ou ananga – duende da floresta, protetor dos animais selvagens. Castiga os caçadores pre-
dadores que matam a caça sem critérios. Anda montado num veado branco com olhos de fogo e
quem o vê tem febre e alucinação. Os missionários o identificaram, de forma equivocada, como
o diabo.
Caruanas – na pajelança cabocla da Ilha do Marajó, são as energias liberadas pelas águas, que orien-
tam os pajés para curar os doentes e são chamadas através de cantos. Caruás são as energias de
pessoas que desaparecem nas águas.
Origem e fundamento da palavra, segundo os Guarani
Nhamandu – Nos textos míticos dos Mbyá-Guarani, Nhamandu é Nosso Primeiro Pai, criador do mundo.
Curupira
Sapopema – tipo de raiz das grandes árvores, com uma base chata, de feitio triangular. Em Nheengatu,
sapu é raiz e pema é achatada. Sumaumeira é uma árvore das florestas inundáveis, com um tron-
co enorme, flores brancas e frutos contendo uma fibra parecida com o algodão.
Historia Bernabé
Encabelando – significa que o pelo está crescendo novamente.
Enxu – é uma grande colméia.
77>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
Mulher
Totonew – é um dos deuses dos índios Arara.
Acutipuru
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 78/83
Acutipuru
Acutipuru – animal mamífero, roedor, de cauda comprida e enfeitada, que dorme o dia todo, depois
de passar a noite em plena atividade. Segundo o estudioso italiano que viveu no Rio Negro (AM),
várias etnias acreditam que é sob a forma de acutipuru que a alma das pessoas sobe ao céu, logo
que o corpo acaba de apodrecer.
Esta terra que pisamos
Karai – Hoje o termo karai, para os guarani, se refere ao sábio, ao velho portador de sabedoria.
78
Outros livros desta coleção
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 79/83
At wis ex el ut alis augait nostie do
consent irit, sum nostincilis dunt
wissim dolendi onulput incillamcon ut
aliquat ut eum dolorer augiamcommy
niam, sustie doloborem.
Secte facipit luptatum ipit augait et
prat ver adigna acin hent lum zzriurecommy nisit ea facip ex eugait praestis
augait nulpute dignis exercing ex er
am, quisit nummy num vel iuscilit adip
et ulput alis adionsed del ullaoreet
praestrud dit digna feu feumsandre
modo ea feugiamet verat.
At wis ex el ut alis augait nostie do
consent irit, sum nostincilis dunt
wissim dolendi onulput incillamcon ut
aliquat ut eum dolorer augiamcommy
niam, sustie doloborem.
Secte facipit luptatum ipit augait et
prat ver adigna acin hent lum zzriurecommy nisit ea facip ex eugait praestis
augait nulpute dignis exercing ex er
am, quisit nummy num vel iuscilit adip
et ulput alis adionsed del ullaoreet
praestrud dit digna feu feumsandre
modo ea feugiamet verat.
Chicoe a cidadeO encontrodo cordelcom o Rap
79>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 80/83
80
Produção gráfica e editorial
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 81/83
SUPERNOVA PROJETOS EDITORIAIS
Coordenação de produçãoCristina Guimarães
Projeto gráfico e capaRibamar Fonseca
Revisão do texto Alessandro Mendes
Auxiliar de produção Adriana Mattos
A fonte de texto é a Versailles, corpo 11,5, projetada por Adrian Frutiger em 1984, serifada, baseada nos tiposfranceses desenhados no século 19.
Impresso para o Ministério da Educação em ... de 2007.
>>>>>> >>>>> >> te mandei um passarinho... PROSAS E VERSOS DE ÍNDIOS NO BRASIL81
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 82/83
5/9/2018 Livro - Te Mandei Um Passarinho... - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/livro-te-mandei-um-passarinho 83/83
POPO YJU
Popo Yju
Ara Owy
Opawaerá hey Porã
Ejapo
Waieme
Ñandekwerupe
Avaju Poty Guarani
BORBOLETA AMARELA
Borboleta amarela
No céu azul
Infinita beleza
Não fazer mal
a ninguém
Infinita beleza
top related