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Marko Alexandre Lisboa dos Santos | Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.
Resumo
Este artigo relata uma experiência que objetivou a confecção de um objeto luminoso com a finalidade de explorar a forma espacial por meio da modela-gem tridimensional e da luz emitida pelo mesmo. Os assuntos utilizados como referência visual para os alunos compreenderam conceitos apreendidos com o Origami e a Arte Concreta. O resultado da experiência foi positivo, permitindo ao aluno perce-ber por meio da experimentação, as relações entre a aparência do objeto e o resultado no espaço que a luz por ele emitida provocaria. Foi evidenciado que o ato da confecção do modelo tridimensional permitiu uma vivência significativa da aplicação de conceitos de composição visual e espacial da for-ma de modo criativo e plástico. Além disso, cabe destacar que tal atividade estabeleceu interlocu-ções entre os diversos meios de expressão que o arquiteto pode se valer para representar uma ideia: desenho a mão, com o auxílio de instrumentos, com o auxílio do computador e por meio do mode-lo volumétrico.
Palavras-chave: Expressão tridimensional. Es-paço. Objeto luminoso.
Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.Making luminous object: an experience in exploration of form and space in architecture.Marko Alexandre Lisboa dos Santos*
Abstract
This paper reports an experiment that aimed to elaborate a luminous object in order to explore the spatial form through three-dimensional mod-eling and the light emitted by the same. The sub-jects used as a visual reference for the students understood the concepts learned Origami and the Concrete Art. The result was a positive ex-perience, allowing the student to realize through experimentation, the relationship between the appearance of the object in space and the result that the light emitted by it provoked. The teacher showed that the act of making three-dimensional model, allowed the student a significant experi-ence applying concepts of visual composition and spatial form in a creative and plastic. Fur-thermore, it is noteworthy that such activity has established dialogues between different means of expression that the architect can draw to repre-sent an idea: hand drawing, with the aid of instru-ments, with the aid of the computer and through the volumetric model.
Keywords: Three-dimensional expression. Space. Luminous object.
*Doutorando e Mestre em Design pelo Programa de Pós Graduação da UNESP/Bauru. Graduação em Design pela UNESP. Atuação em Design de Produto e Design Gráfico com ênfase em projetos, pro-dução gráfica, representação gráfica, desenho, informática, meios de expressão e moda em cursos de graduação em Design, Arquitetura, Publici-dade e Design de Moda.
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Marko Alexandre Lisboa dos Santos | Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.
Introdução
A expressão visual trata-se de um dos elemen-
tos de suma importância para algumas ativida-
des artísticas e consequentemente sobremanei-
ra significativa para alguns cursos de graduação
das áreas criativas, como é o caso, dentre ou-
tros, da Arquitetura e Urbanismo. Tais expres-
sões compreendem uma série de possibilidades
que o arquiteto pode se valer para registrar e
externar uma ideia, dentre as quais: o desenho
de observação, o desenho técnico manual, o
desenho digital (ilustrações), o desenho técnico
informatizado (CAD), a modelagem virtual (ma-
quetes digitais) além da modelagem tridimen-
sional (maquetes analógicas), entre outras que
apresentam ao observador o conceito ou a ideia
do projeto arquitetônico.
Conteúdos correlatos com esses temas se fazem
presentes não só na prática docente do autor
deste artigo, como em pesquisas e publicações
científicas que o mesmo vem produzindo em seu
percurso investigativo, como pode ser conferido
em Santos (2010), Santos e Neves (2010), além
de Santos e Neves (2012).
Diante das incessantes inovações da informá-
tica, encontra-se o grande desafio docente em
ensinar e promover a capacidade criativa dos
alunos paralelamente com o domínio de softwa-
res, de modo a não condicionar o pensamento
projetivo e de soluções de problemas espaciais
dos estudantes aos parâmetros das máquinas
tecnológicas.
Além das pesquisas realizadas por este autor,
esses assuntos já se apresentaram como fon-
tes de investigação para outros pesquisadores,
como é o caso de Hsuan-an (1997) que em seu
livro, apresenta de forma didática a exploração
do espaço bi e tridimensional como meio de or-
ganização da forma em cursos de graduação em
Arquitetura e Urbanismo e em Design.
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Marko Alexandre Lisboa dos Santos | Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.
Costa e Tinôco (2009) apresentam em seu es-
tudo, um levantamento acerca de instituições
de ensino no Brasil que oferecem o curso de
Arquitetura e Urbanismo e que utilizam ma-
quetes e modelos geométricos tridimensionais
como recurso auxiliar para o ensino de projeto
arquitetônico, demonstrando a importância de
tais conteúdos.
Basso (2005), por meio da sua dissertação de
mestrado, apresenta a importância da maque-
te na profissão do arquiteto por meio do modelo
tridimensional, evidenciando seu desdobramento
desde o Renascimento italiano, levando em consi-
deração também, as teorias de estética que defi-
niram em conjunto com demais ciências, as bases
do que se entende hoje, pelo saber arquitetônico.
Quando pesquisados trabalhos que abordem te-
mas correlatos a este artigo – objeto luminoso -,
foram encontrados diversos estudos científicos
que relatam experiências voltadas especifica-
mente ao campo da iluminação, conforto e de-
mais componentes técnicos pertencentes à lumi-
nária, como é o caso de Moraes et. al. (2010),
Dorneles (2012), entre outros.
Levando isso em consideração, o docente res-
ponsável por este estudo, encontrou uma lacuna
existente no campo da exploração da forma tri-
dimensional e da iluminação que resultou na ex-
ploração dessa iniciativa didática e consequente-
mente, na escrita deste texto.
Desse modo, tal proposta, não visa à concepção
de objetos luminosos que estejam, de fato, alinha-
dos a conceitos técnicos de luminescência, como
aqueles apontados por Moreira (1999) e Vianna &
Gonçalves (2001), já que não se apresentam como
projetos de iluminação arquitetônica reais. Tam-
pouco, como produtos aptos a serem desenvolvi-
dos em escala produtiva e industrial como aque-
les apontados por autores como Löbach (2001) e
Baxter (1998), nem preocupados com conceitos
de ergonomia encontrados em Iida (1990).
Entendendo que tais questões específicas seriam
ainda melhor abordadas por disciplinas específi-
cas à Iluminação e ao Conforto Ambiental, o es-
tudo evidenciado neste artigo se limita à concep-
ção tridimensional desligada – de certa maneira
– daquela que representa projetos de iluminação
viáveis. Essa iniciativa se manteve ligada objeti-
vamente à expressão tridimensional do aluno de
Arquitetura e Urbanismo e se referem a sua ca-
pacidade de explorar o espaço tridimensional de
forma plástica, inclusive, preocupando-se com o
efeito visual que seu objeto luminoso inferia no
espaço quando aceso.
É nesse contexto que foi estruturada a propos-
ta apresentada aos alunos do curso de gradua-
ção em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade
de Arquitetura, Artes e Comunicação – FAAC da
UNESP de Bauru/SP. A disciplina em questão é
a de Meios de Expressão II que fora ofertada de
forma anual durante o ano de 2012.
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A Iluminação na Arquitetura
Nesta seção estão apresentados, de forma
muito breve, alguns conceitos acerca da im-
portância da iluminação para a Arquitetura.
Vale lembrar que tais conceitos foram discuti-
dos de maneira muito sutil com os alunos, uma
vez que não era objetivo da disciplina que este
professor lecionava naquele momento, discu-
tir conceitos técnicos acerca da Iluminação. É
necessário destacar mais uma vez que suas
abordagens se limitaram principalmente ao re-
sultado de iluminação que o objeto luminoso
proporcionava no espaço.
Dessa forma, pode-se admitir que a luminária é
um objeto que tem por objetivo modificar a luz
emitida pela fonte luminosa (MOREIRA, 1999).
Por outro lado, iluminação trata sobre projetos
e/ou instalações de fontes luminosas com o ob-
jetivo de iluminar ambientes internos ou exter-
nos (OSRAM, 2013).
De acordo com a definição de Moreira (1999)
as luminárias “são os equipamentos que re-
cebem a fonte de luz (lâmpada) e modificam a
distribuição espacial do fluxo luminoso produ-
zido pela mesma”, (p. 97). Entre os principais
componentes existentes na luminária estão:
o receptáculo da fonte luminosa, os disposi-
tivos de modificação de distribuição do fluxo
luminoso, a carcaça e órgãos acessórios e de
complementação.
A iluminação de interiores é definida por Morei-
ra (1999), como um projeto que tem por objeti-
vo iluminar artificialmente ambientes como resi-
dências, escritórios, dormitórios, galpões, etc.
A luz, proveniente de fonte natural e/ou artificial
presente em um ambiente pode produzir estímu-
los sensoriais, que são medidos de acordo com
a quantidade, qualidade, distribuição e contras-
te da luz. O indivíduo, presente nesse ambiente,
reage diretamente a tais variáveis, por meio dos
sentidos o que pode resultar em respostas, num
primeiro momento, por meio de sensações.
Conforme OSRAM (2013), a iluminação apre-
senta dois objetivos primordiais: o primeiro de-
les é fornecer boas condições de visão em um
ambiente, tornando possível a visibilidade, a
segurança e a orientação. O segundo objetivo
visa utilizar a luz como ambientação do espaço
e está ligado às atividades de lazer, bem estar,
de cunho religioso, entre outras.
A iluminação pode também, ser exclusivamente
decorativa, podendo ser associada ao objetivo
de se criar uma ambientação para fim comercial
ou promocional – como numa festa, por exemplo
- não estando diretamente ligadas às questões
de eficiência vistas em Moreira (1999).
Segundo OSRAM (2013), em uma classificação
disponibilizada em seu site, os sistemas de ilu-
minação podem ser classificados de acordo com
três critérios: 1) Como a luminária irá distribuir a
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luz, 2) Como a luz será distribuída no ambien-
te e 3) Qual o objetivo pretendido com relação
à ambientação no espaço. Neste sentido, foram
apropriados para a atividade descrita neste rela-
to, principalmente os apontamentos que se refe-
rem à iluminação decorativa de ambientes além
de alguns dos critérios apontados anteriormente.
Referências Visuais
Convém lembrar que, dentro do contexto dessa pro-
posta, os alunos vinham realizando uma série de ati-
vidades nas quais exploravam os conceitos da Arte
Concreta para a exploração da forma bi e tridimen-
sional em exercícios solicitados pelo professor autor
deste artigo. Desse modo, muitos dos 46 trabalhos
apresentados para este exercício sofreram fortes
influências das experimentações concretistas, des-
tacadas, principalmente, nas propostas com forte
apelo geométrico e construtivo em sua concepção,
como poderá ser observado adiante.
Por questões óbvias de limitação de espaço,
neste texto, não serão abordados os conceitos
históricos acerca do Concretismo Brasileiro, de
modo que, caso o leitor julgue necessário, bus-
que informações desse assunto nos artigos apre-
sentados para os Eixos Temáticos 1 e 2, publica-
dos no evento Representar 2013.
Apenas a título de esclarecimento, entende-se
que o Concretismo Brasileiro, configurou o se-
gundo surto modernista brasileiro na década
de 1950 formado principalmente, por artistas
oriundos das capitais São Paulo e Rio de Ja-
neiro. Tais artistas estavam, a princípio, ligados
pelas mesmas concepções e interesses. Mani-
festando-se contra a arte figurativa – fruto da
cópia ou da recriação da natureza - bem como
do não figurativismo lírico expressionista que
despontava no Brasil. Buscavam uma maneira
de voltar às formas puras da geometria para
vivenciar experiências de uma nova visualidade
(AMARAL, 1998).
Devido o marcante apelo geométrico e constru-
tivo das obras concretistas, além das evidentes
práticas experimentais realizadas principalmen-
te pelo grupo de escultores oriundos do grupo
carioca (figura 1), é que foi sugerido aos alunos
do curso em questão que desenvolvessem tra-
balhos práticos, explorando o espaço tridimen-
sional dentro dessa temática com o objetivo de
confeccionar um objeto luminoso.
Figura 1: a) Amílcar de Castro. Escultura aço. Sem título, 1950. Fonte: Disponível em http://www.itaucultural.org.br. Acesso em 15 jun. 2013. b) Franz Weissmann.Três Pontos, 1957. Fonte: Disponível em http://www.catalogodasartes.com.br. Acesso em 15 jun. 2013. c) Lygia Clark. Relógio de Sol, 1960. Fonte: Disponível em http://novo.itaucultural.org.br. Acesso em 15 jun. 2013.
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Julgando que as questões construtivas e geo-
métricas forneciam resultados plásticos satisfa-
tórios, o professor responsável pela disciplina,
trouxe um novo conteúdo, também com forte
apelo geométrico, que serviu de fonte inspiradora
para muitos dos alunos: o Origami.
O Origami, ou a dobradura de papel, como é co-
nhecido no Brasil, é a tradicional arte oriental de
confeccionar figuras - animais, flores, peixes, ob-
jetos - por meio de dobras realizadas no papel
(figura 2). O nome origami foi criado em 1880, por
meio da fusão do verbo Oru = dobrar e a pala-
vra Kami = Papel. De acordo com Ueno (2003),
antigamente também era chamada de Origata =
forma dobrada.
Estudiosos afirmam que a técnica surgiu na Chi-
na por volta do ano 105 d.C., muito próxima da
invenção do papel e que foi posteriormente aper-
feiçoada no Japão. No início, esse trabalho era
realizado apenas em cerimônias Xintoístas, po-
rém com a queda do preço do papel, foi possível
que a técnica se popularizasse.
Resumidamente, a técnica constitui-se de dobra-
duras que normalmente utilizam o papel como
suporte e que em alguns casos, também podem
ser realizada em outros materiais, como o papel
alumínio, couro, tecidos e até alimentos (GÊNO-
VA, 2000). Atualmente este tipo de trabalho é re-
conhecido em todo o mundo devido à globaliza-
ção e à industrialização do papel, sendo utilizada
em diversas áreas como medicina, robótica, de-
sign, música, educação, decoração, entre outros.
O Modelo Volumétrico e a Organização Espacial
Embora o desenho configure um dos meios de
expressão e comunicação mais utilizados pelos
arquitetos, não se pode ignorar a presença do
modelo volumétrico como importante ferramenta
para a representação em arquitetura.
Antes de se iniciar a edificação do projeto arquite-
tônico é necessário que o arquiteto exteriorize suas
ideias, o que pode ser feito de duas maneiras: pri-
meiramente de forma rápida e sem regras especí-
ficas; e em segundo lugar, por meio de um sistema
próprio de representação, codificado convencio-
nalmente, para a exata compreensão e execução Figura 2: Exemplos de origamis. Fonte: http://www.jccc.on.ca/en/programs/activities/origami.php. Acesso em 15 jun. 2013
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do projeto idealizado. À primeira etapa, cabem
os desenhos imediatos como croquis, esboços e
ilustrações; na segunda etapa estão presentes os
desenhos técnicos de arquitetura. Nesses dois
momentos do processo, o arquiteto, pode incluir
também, o uso de modelos tridimensionais, tanto
para auxiliar na concepção, quanto para expressar
melhor a solução alcançada (BASSO, 2005).
A confecção de modelos, protótipos ou ma-
quetes, geralmente é utilizada como recurso de
concepção de projeto e/ou como representação
física tridimensional, seja para visualização e co-
municação das ideias, para análise e verificação
volumétrica, ensaio estrutural, experimentação
ergonômica, como teste de qualidade dos ma-
teriais, ou ainda para conferência de questões
estéticas e plásticas.
Com o advento da informática, houve um avanço
significativo na maneira que os arquitetos pas-
saram a expressar suas criações. Tais avanços
trouxeram recursos para a representação gráfica
em arquitetura que colocaram o modelo tridimen-
sional analógico – maquete – de certa maneira,
em segundo plano, passando esta a ser consi-
derada onerosa quando comparada às soluções
trazidas pela informática na atualidade.
Tais constatações refletiram, evidentemente, nas
práticas pedagógicas em cursos de Arquitetura e
Urbanismo, afastando cada vez mais os alunos
da vivência significativa que a modelagem manu-
al tridimensional proporciona para sua formação.
Longe, de certo modo, de se almejar construir pro-
jetos que outrora seriam habitáveis, essa investiga-
ção intencionou concretizar por meio da constru-
ção tridimensional, uma possibilidade de explorar o
campo criativo e plástico para o aluno de arquitetu-
ra por meio da confecção de um objeto luminoso.
Materiais e Métodos de Trabalho
Esta seção do texto traz a estruturação da pro-
posta sugerida aos estudantes bem como acerca
do contingente de alunos matriculados na disci-
plina Meios de Expressão II no ano de 2012. Vale
ressaltar que essa disciplina é de caráter anual,
no sistema de três horas semanais por turma,
sendo ofertada no segundo ano do curso, além
de ser subsequente da disciplina Meios de Ex-
pressão I, outrora ofertada no primeiro ano do
curso, em 2011. Entre outras coisas, esse con-
junto de disciplinas tem por premissa estimular a
linguagem artística e a representação gráfica dos
alunos, tornando-os aptos a se expressarem por
meio de linguagens bi e tridimensionais, nos su-
portes analógicos e digitais.
Por esse motivo, os 46 alunos matriculados,
divididos em duas turmas - A e B de 24 e 22
alunos respectivamente - já detinham o co-
nhecimento de técnicas de representação e
materiais expressivos de desenho compreendi-
dos na disciplina Meios de Expressão I. Desse
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modo, as experiências e técnicas utilizadas na
apresentação dos trabalhos propostos dentro
da temática do objeto luminoso foram das mais
variadas possíveis.
A primeira etapa do trabalhado com os alunos se
deu pela a pesquisa de referências visuais. Como
referências para os alunos foram demonstrados,
por meio de apresentação multimídia, exemplos
de luminárias que exploravam não só a aparência
das mesmas, mas também do resultado que a luz
emitida por ela teria no espaço, além de referên-
cias sobre a técnica do Origami. Tais referências
foram determinantes para que os alunos propu-
sessem alternativas que permaneceram alinha-
das com tais conteúdos.
Além disso, é necessário destacar que esta propos-
ta foi realizada na sequência de uma série de traba-
lhos que exploraram conceitos buscados na Arte
Concreta, portanto, algumas propostas tiveram um
marcante predomínio de formas geométricas.
A segunda etapa do trabalho consistiu na confec-
ção de desenhos a mão livre que permaneceram
como registro e possibilidade de evolução da for-
ma, seguido de um desenho técnico – para aque-
les que acharam necessário. Tais representações
foram de suma importância, já que por meio de-
las é que foram estipuladas as dimensões que o
objeto teria, de modo que fosse possível modelar
o material por meio de recortes, dobras, colagens
e demais intervenções.
Os materiais utilizados para a confecção do ob-
jeto foram variados: papel cartão, papel triplex,
poliestireno, isopor, tecido, barbante, madeira,
entre outros. As intervenções nesses materiais
foram realizadas com o auxílio de instrumentos
como lapiseira, régua, compasso, tesoura, estile-
te, cola, etc. Alguns alunos que propuseram tra-
balhos mais complexos, recorreram a softwares
gráficos – como o AutoCad e o Sketch Up – para
facilitar a compreensão de determinadas dimen-
sões de arestas e faces dos sólidos. Como fonte
emissora de luz, alguns alunos utilizaram lâmpa-
das incandescentes convencionais, coloridas,
fluorescentes e ainda velas.
Resultados
As imagens apresentadas a seguir se referem à
maneira que os trabalhos foram apresentados
e discutidos com os participantes da disciplina,
de forma que todo o grupo pode refletir e opinar
sobre o próprio trabalho assim como acerca dos
trabalhos dos colegas (figura 3).
Os objetos luminosos, que em sua maioria se uti-
lizavam de lâmpadas para propagar a luz, eram
ligados a uma tomada e posicionados sobre uma
carteira escolar ou ainda sobre o próprio chão.
Tal procedimento proporcionou um momento de
reflexão, discussão e contemplação único para
cada trabalho, já que os mesmos eram apresen-
tados um a um, e não todos ao mesmo tempo.
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Figura 3: Trabalhos expostos um a um. Fonte: Fotografado pelo próprio autor.
Dessa forma, além de valorizar o trabalho de
cada estudante, foi possível também averiguar
cada detalhe do processo construtivo do objeto
luminoso – no que se refere à aparência estética
do mesmo - assim como acerca do resultado da
iluminação que o objeto inferia no ambiente – pa-
redes, pisos, portas, lousa, carteiras, etc.
Nesses momentos de reflexão, foi possível observar as mais variadas
formas que os alunos encontraram para se expressar, sendo que mui-
tos deles se mostraram fortemente inclinados às questões trabalhadas
anteriormente sobre o Concretismo além das questões que haviam sido
recentemente abordadas acerca das técnicas do Origami.
Embora todos os trabalhos merecessem o devido destaque, por questões
de espaço serão apontadas adiante algumas propostas que, de uma ma-
neira ou de outra, se destacaram devido às estreitas relações que estabe-
leceram com a proposta concretista e, num segundo momento, com as
técnicas do Origami e do Kirigami.
Nessa proposta presente na próxima imagem,
observa-se notória intenção plástica no que se
refere à continuidade da aparência estética e
formal do trabalho apresentado para um outro
exercício solicitado pelo professor, em que foi so-
licitado aos alunos que fizessem um modelo tri-
dimensional utilizando referências das esculturas
concretistas (figura 4a). Comparando tal modelo
com o objeto luminoso apresentado na figura 4b,
ficam claras as semelhanças visuais na propos-
ta da estudante (a esse respeito, verificar artigo
de mesmo autor presente no Eixo Temático 2 do
evento Representar 2013).
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Marko Alexandre Lisboa dos Santos | Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.
Além da tendência geométrica, foram marcantes as referên-
cias das técnicas orientais – Origami e Kirigami – presentes nos
objetos luminosos confeccionados pelos alunos. Observe na
próxima imagem em que é feita uma comparação entre um tipo
de ornamento oriental (figura 5a) e os trabalhos dos estudantes
(figura 5b a 5e):
Figura 4: Trabalhos de aluna fotografa-do. Fonte: Trabalhos da aluno Vanessa Longo de Andrade, fotografados pelo professor.
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Figura 5: a) Representação de uma ave, confeccionada em origami. Fonte: http://www.webquestfacil.com.br/webquest.php?pg=tarefa&wq=1889. Acesso em 15 jun. 2013. b a e) Trabalhos de alunos ex-postos um a um. Fonte: Fo-tografados pelo professor.
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Discussões e Considerações
Por meio deste relato de experiência é possí-
vel considerar que a Arquitetura se beneficia da
geometria em seus sistemas de representação,
não só por meio da lógica do desenho, mas
também pela percepção e raciocínio espacial,
contribuindo para a elaboração e a construção
da forma tridimensional.
É sabido que o modelo tridimensional (maquete)
nem sempre se apresenta como única forma de
expressão do arquiteto. A maquete, comumen-
te, faz parte de um conjunto de outros elemen-
tos como ilustrações, perspectivas, plantas, ele-
vações, cortes e fachadas que demonstram por
meio de simbologias gráficas específicas as in-
formações necessárias à materialização do pro-
jeto arquitetônico.
O fato de deixar livre a escolha do material ilus-
trativo e construtivo, além de permitir ao aluno
uma maior liberdade no que se refere à seleção
do procedimento artístico, possibilitou também
que o mesmo inferisse maior responsabilidade
na escolha de tais materiais e das técnicas de
acabamento – colagens, união das partes, pintu-
ra, entre outros. De certa forma, pode-se admitir
que o aluno exerceu uma verdadeira prática de
projeto do início ao fim da atividade.
Observando os resultados apresentados pelo
ponto de vista construtivo, observou-se uma
predominância da utilização do papel sulfite,
papel cartão e do papel triplex como estrutura
principal para a confecção dos objetos lumino-
sos As intervenções nesses materiais se deram
principalmente por dobras, cortes e colagens,
geralmente anexando tais materiais a um se-
gundo material que funcionara como estrutura
de base, geralmente de metal, cano PVC ou
madeira. Alguns alunos – em menor quantida-
de - optaram pelo isopor, pelo poliestireno, além
de barbantes, tecidos e madeiras como material
principal. Para colorir, alguns estudantes utiliza-
ram tinta guache, canetinha hidrocor, tinta spray
ou ainda se aproveitaram da cor do próprio pa-
pel utilizado como matéria prima.
Ainda no que se refere aos elementos construti-
vos, a quase totalidade dos alunos optaram por
uma fonte luminosa elétrica (lâmpadas incandes-
centes ou frias), de modo que apenas um aluno
optou pela vela como fonte de iluminação. En-
tre os que optaram pela lâmpada incandescen-
te houve uma significativa adesão por lâmpadas
coloridas, variando as cores entre amarelas, ver-
melhas, verdes ou outra.
Do ponto de vista estético, muitos alunos se
prenderam às experiências apresentadas como
referências visuais ao longo do semestre, mesmo
que não fosse o tema principal do exercício; prin-
cipalmente àquelas que demonstravam obras
plásticas idealizadas por Amilcar de Castro, Hélio
Oiticica, Franz Weissman e Lygia Clark (conferir
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Marko Alexandre Lisboa dos Santos | Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.
figura 1). Acredita-se que tal incursão se deva ao
fato de que algumas das obras desses artistas
se dão pela exploração do espaço tridimensional
por meio do corte, dobra ou vinco em um supor-
te bidimensional. Tal feito, além de proporcionar
um resultado relativamente rápido, propicia uma
experiência rica, plástica e ao mesmo tempo, in-
trigante ao observador.
Do ponto de vista didático, o professor pesquisa-
dor evidenciou que no ato da criação do croqui
livre, o aluno aplicou conceitos formais na com-
posição do espaço bidimensional de modo cria-
tivo e plástico. Quando da execução do desenho
com os instrumentos, o aluno inferiu maior noção
projetiva já que neste momento ele atribuiu dimen-
sões e proporções ao objeto. Além disso, convém
destacar que tal atividade estabeleceu interlocu-
ções entre os diversos meios de expressão que o
arquiteto pode se valer para representar uma ideia
e um conceito, já que primeiramente os estudos
foram realizados a mão, depois executados com
os instrumentos de desenho técnico, em segui-
da confeccionados na forma de uma maquete ou
modelo tridimensional e, em alguns casos, foram
também realizados, estudos volumétricos em sof-
twares de modelagem tridimensional.
Assim sendo, pode-se dizer que a informática traz
benefícios significativos na resolução de proble-
mas em Arquitetura e Urbanismo, demonstrados,
neste caso, pela investigação espontânea dos
alunos que, ao identificarem um problema proje-
tivo, encontraram nas fórmulas matemáticas e na
computação gráfica, os recursos necessários à
solução de sua dúvida de projeto.
Tal iniciativa denota a possibilidade da coexis-
tência da construção do desenho manual, do de-
senho informatizado (desenho técnico e modelo
digital) e do modelo tridimensional, reforçando a
ligação entre tais possibilidades de representa-
ção da ideia; considerando, obviamente, as de-
vidas distinções e apropriações que cabe a cada
uma dessas experiências.
Se por um lado os recursos digitais apresentam
resultados praticamente instantâneos quando
comparados com a experiência analógica, esta
última, embora seja de certa forma, mais demo-
rada e trabalhosa, proporciona uma vivência es-
pacial no que se refere à organização da forma,
muito mais significativa que a primeira.
O resultado da experiência foi positivo, permitin-
do ao aluno perceber por meio da experimenta-
ção, relações entre a aparência do objeto lumino-
so e o resultado no espaço da luz por ele emitida.
O professor evidenciou que o ato da confecção
do objeto, permitiu ao aluno uma vivência signifi-
cativa da aplicação de conceitos de composição
visual e espacial da forma de modo criativo.
É oportuno ressaltar que, por não se tratar do en-
foque da disciplina, não foram discutidos critérios
construtivos específicos da área de Iluminação,
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Marko Alexandre Lisboa dos Santos | Confecção de objeto luminoso: uma experiência na exploração da forma e do espaço em arquitetura.
Conforto nem de Projeto de Iluminação e sim, a
intenção primordial foi estabelecer discussões
acerca da exploração do espaço alcançado pela
emissão da luz. Após execução e apresentação
dos trabalhos, foi proposta uma discussão onde
os alunos evidenciaram a importância da ativida-
de que os fez pensar não somente na aparência
visual do objeto, mas também no resultado da
iluminação que este inferiu no espaço, por meio
da luz por ele emitida.
A partir das observações levantadas em sala
de aula foi possível constatar que, por meio de
abordagens analógicas e digitais onde o aluno
aplicou diferentes processos para a concepção
da forma, verificou-se que o estudante concebeu
a ideia de forma conceitual e significativa e não
necessariamente, de forma operacional, como a
ofertada pelos softwares gráficos.
Espera-se que este relato, assim como os tra-
balhos de mesmo cunho, venha contribuir para
uma significativa mudança na abordagem por
parte de docentes responsáveis por disciplinas
de desenho e expressão visual em cursos de Ar-
quitetura e Urbanismo, assim como de Design e
demais áreas criativas e projetivas.
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