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1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas
Ciências Biológicas – Modalidade Licenciatura
Mastofauna de médio e grande porte da
Fazenda Santa Branca, Terezópolis-GO
Paulo Henrique Pinheiro Ribeiro
Anápolis, novembro
2010
2
Paulo Henrique Pinheiro Ribeiro
Mastofauna de médio e grande porte da
Fazenda Santa Branca, Terezópolis-GO
Trabalho de Conclusão de Curso
Apresentado à Universidade Estadual de
Goiás, UnUCET de Anápolis, para
Obtenção do Grau de Biólogo Lincenciado
Orientadora: Prof. Drª Hélida Ferreira
da Cunha
Co-Orientador: Prof. Dr° Fabiano
Rodrigues de Melo
Anápolis, novembro
2010
3
Dedico esse trabalho á todos que de forma científica,
empírica ou simplesmente por amor se dedicam a
proteger e cuidar de nossos recursos naturais.
4
“E no fim vamos conservar apenas o que amamos
Amar apenas o que compreendemos
E compreender apenas o que nos foi ensinado.”
Baba Dioum
5
Agradecimentos
À minha família em primeiro lugar por toda dedicação, apoio e paciência que
tiveram durante toda minha vida. Obrigado meus pais por todo apoio e ensinamentos, de
qualquer forma que seja e meus irmãos por todo companheirismo e momentos agradáveis
durante minha vida.
Aos meus avós Leonídeo(in memoriam), Lázara e Maria Tarcila (in memoriam),
que foram meus primeiros “professores de Biologia”, com quem aprendi a amar e ter
curiosidade sobre a natureza.
Aos meus colegas de graduação, por todos os momentos prazerosos e situações
engraçadas que me proporcionaram. Meus parceiros: Célio, Renan, Marcola e as
meninas: Chico, Priscila, Lorrayne, Nayane, Isabella, Josilane, Renata, Ludiana, Jennys,
Glennyha, Cristina, Mel e os recém adquiridos: Rahyanne, Eduardo e Guilherme.
Aos colegas que procuraram outros caminhos mas que nunca esquecemos. Éder,
João Paulo, Larissa, Letícia, Lorena, Camila, Talline, Nathália, Lucas Brito, Lucas
Arruda e aos que por pouco tempo ficaram mas de mesmo modo sempre lembraremos:
Bruna, Camila, Lucas, Carlos, Wallyson e Gabriele.
À “Galera do Salaminho” (Danilo, Eduardo, Hasley e Rogério) que com o tempo
passei a considerar como “filhos”, obrigado por todo auxílio, amizade e mão de obra
grátis que me proporcionaram sem nada pedir em troca. Vocês são grandes rapazes e um
dia serão grandes homens, espero poder compartilhar desse sucesso. Salamis Forévis!
À Jefferson Silveira, que a garra e a boa vontade o fizeram sair de Iporá para
ajudar um desconhecido, muito obrigado garoto, você tem um grande futuro.
À Dalvinha e Giselle, minhas veteranas que tanto me ajudaram seja tecnicamente
(análise de dados, escrita e dicas) seja pessoalmente em toda minha graduação. Muito
obrigado pela paciência e disposição.
À Douglas Mendonça Silva por todas as dicas, ajuda nas análises, conhecimento
doado e amizade. Obrigado pelo esforço e paciência.
Ao Senhor Jeremias Lunardelli Neto (proprietário da Fazenda Santa Branca) e
toda sua família, por ter cedido tão generosamente o local para a pesquisa e por todo
apoio concedido.
6
À Marcelo Levy Marques, Isabela e Maria Rita, por toda atenção, carinho e
disponibilidade.Vocês foram peças fundamentais nesse trabalho.
Aos meus orientadores Hélida Ferreira da Cunha (correta e exigente) e Fabiano
Rodrigues de Melo (prático e descontraído) obrigado por todo auxílio, dicas e
conhecimento dividido.
Á Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí, pela concessão das armadilhas
fotográficas , na pessoa do Prof°. Fabiano Rodrigues de Melo.
À todos funcionários e arrendatários da Fazenda Santa Branca, em especial aos
funcionários do ecoturismo que sempre foram tão solícitos ao projeto.
À Antônio Zayek, Fernando (aeromodelista), aos trabalhadores da plantação de
mandioca, aos funcionários da loja de material de construção, Willian (EcoVilla) e
Fernando , Gabriel Ferlin, Siron, obrigado pelas caronas que me pouparam tempo e
energia.
Aos senhores Ananias e Joel , obrigado pelos dedos de prosa que sempre foram
tão prazerosos e engraçados.
À Bruno Ferlin e sua família. Obrigado pelos vegetais frescos e pela amizade
saudável.
A Pedro Henrique Araújo dos Santos, Sara Marina Nunes Laviola, Marcus
Vinícius Rufino Moreira, Marcus Vinícius Santana de Castro, Renan Manoel de Oliveira,
Célio Oliveira Gonzaga Júnior e Felipe Augusto Damaceno de Oliveira obrigado pelo
tempo doado em visitas á Fazenda, mesmo quando não tínhamos como chegar lá
Aos meus irmãos do movimento escoteiro, obrigado pela compreensão, carinho e
lealdade em todo o tempo que estive fora. Á todos vocês um forte aperto de canhota e
meu SEMPRE ALERTA.
À Jerusa, fiel companheira, que nunca me deixou na mão.
.
7
Sumário
Lista de abreviações.............................................................................................................8
Lista de tabelas.....................................................................................................................9
Lista de figuras...................................................................................................................10
Resumo..............................................................................................................................12
Abstract..............................................................................................................................13
Introdução..........................................................................................................................14
Objetivo Geral....................................................................................................................16
Objetivos Específicos.........................................................................................................16
Métodos..............................................................................................................................17
Área de estudo........................................................................................................17
Coleta de dados......................................................................................................18
Análise dos dados..................................................................................................23
Resultados..........................................................................................................................24
Armadilhamento fotográfico..................................................................................26
Parcelas de areia....................................................................................................27
Censo........................................................................................................................29
Comparação dos métodos.......................................................................................30
Discussão...........................................................................................................................34
Conclusão/Considerações finais........................................................................................38
Referências Bibliográficas.................................................................................................39
Anexos...............................................................................................................................43
8
Lista de abreviações
MS – Mata Seca (Mesófila)
MG – Mata de Galeria
Ar – Armadilhas fotográficas
Pg – Pegadas (Parcelas de areia)
Vi – Visualizações (Censo)
9
Lista de tabelas
Tabela 1 – Taxa (ordem, família e espécie) das espécies de mamíferos de médio e
grande porte encontradas na Fazenda Santa Branca ____________24
Tabela 2 - Frequência total (em relação a todas parcelas) e por transecto de cada
espécie._______________________________________________29
Tabela 3 – Comparação par a par dos métodos de coleta utilizados feita pelo
índice de similaridade de Morisita Horn. ____________________30
10
Lista de figuras
Figura 1. Área da fazenda onde foi realizado o estudo___________________________18
Figura 2 – Parcela de areia em Mata Mesófila ________________________________20
Figura 3 – Parcela de areia em Mata Mesófila_________________________________20
Figura 4 – Armadilha fotográfica em Mata Mesófila____________________________22
Figura 5 – Armadilha fotográfica em Mata de Galeria___________________________22
Figura 6 – Estimativa de riqueza feita pelo Jackkniffe 1 para a área
estudada_______________________________________________________________26
Figura 7 – Estimativa de riqueza para a área utilizando o método de armadilhamento
fotográfico.____________________________________________________________27
Figura 8 – Estimativa de riqueza para a área utilizando o método de parcelas de areia.
______________________________________________________________________28
Figura 9 – Estimativa de riqueza para a área utilizando o método de
censo.________________________________________________________________30
Figura 10 – Comparação das riquezas de espécies amostradas por cada
método._______________________________________________________________31
Figura 11 - Comparação da média das riquezas por método de amostragem _________32
Figura 12– Comparação entre espécies registradas e espécies exclusivamente registradas
pelos métodos utilizados__________________________________________________33
Figura 13 - Animais registrados pelo metodo de armadilhamento fotografico: a) Puma
concolor, b) Leopardus pardalis, c) Pecari tajacu e d)Mazama
americana.____________________________________________________________44
Figura 14 – Animais registrados pelo metodo do armadilhamento fotografico:a)
Myrmecophaga tridactyla, b) Tamandua tetradactyla, c) Hydrochaeris hydrochaeris e d)
Didelphis albiventris.____________________________________________________45
Figura 15 – Pegadas registradas em parcelas de areia:a) Mazama americana,b)
Chrysocyon brachyurus, c) Leopardus sp e d) Leopardus pardalis_________________46
Figura 16 – Pegadas registradas em parcelas de areia:a) Tamandua tetradactyla,b)
Cerdocyon thous, c) Didelphis albiventris e d) Dasypus
novemcintus.___________________________________________________________47
11
Figura 17 – Animais fotografados durante o censo: a) Sylvilagus brasiliensis,b) Alouatta
caraya, c) Didelphis albiventris e d) Euphractus sexcintus. Fotos: Paulo Ribeiro_____48
12
Resumo
O Cerrado possui uma grande variedade de habitats e ecossistemas e um dos principais
desafios para sua conservação é demonstrar a importância que a biodiversidade
desempenha no funcionamento dos ecossistemas. A falta de conhecimento e as incertezas
sobre os principias fatores que causavam o desmatamento do Cerrado prejudicaram sua
conservação e manejo. A diversidade de mamíferos no Brasil atinge números expressivos
e é considerada uma das maiores do planeta, representada atualmente por 652 espécies.
Para o presente trabalho foram utilizados três métodos de coleta de dados: censo diurno e
noturno, através de transectos lineares; 20 parcelas de areia armadas com diferentes tipos
de iscas e armadilhamento fotográfico. Em nove meses de coleta foram registradas 16
espécies , pertencentes a 8 ordens e 11 famílias. A estimativa de riqueza feita pelo
Jackknife 1 estabilizou, demonstrando que o esforço amostral foi suficiente. Foram
estimadas 19,56±4,47 espécies. A utilização de três métodos diferentes de coletas de
dados se mostrou bem conveniente, uma vez que os três registraram espécies exclusivas
(que somente foram registradas por um dos métodos). O índice de similaridade Morisita-
Horn mostrou que o censo é uma metodologia indispensável para o estudo deste grupo de
fauna, apresentando 18% de similaridade com o armadilhamento fotográfico e 13% com
as parcelas de areia.A análise feita pelo ANOVA não demonstrou diferença significativa
(F(2,16), p= 0,81434) entre as riquezas mensuradas por cada método. Considerando o uso
intenso da área para agricultura e pecuária a Fazenda Santa Branca demonstrou possuir
uma fauna de mamíferos de médio e grande porte rica de modo que é importante que se
tome medidas a fim de mitigar os conflitos causados por dois lados (humanos e animais
silvestres) para que se continue a produção agropecuária bem como a manutenção da
fauna local.
Palavras-chave: mamíferos de médio e grande porte, fragmentação, cerrado.
13
Abstract
Cerrado has a great variety of habitats and ecosystem and one of the biggest challenges
for your conservation is demonstrate the role of biodiversity in ecossistems function.The
lack of knowledge and uncertainty about the main factors that caused the deforestation of
the Cerrado undermined its conservation and management. The diversity of mammals in
Brazil reach significant numbers and is considered one of the largest in the world,
currently represented by 652 species. For the present work we used three methods of data
sample: daily and nocturnal census, by linear transects, 20 sand plots reinforced with
different types of baits and camera trapping. In nine months of samples we recorded 16
species belonging to 8 orders and 11 families. The estimate of species richness made by a
Jackknife 1 stabilize, demonstrating ours amostral effort was adequate. We estimated
19.56 ± 4.47 species. Using three different methods of sample proved to be quite
convenient, since recorded three unique species (which were only recorded by a
particular method). The similarity index of Morisita-Horn show that the census is an
essential methodology for studying the particular group. Considering the intense use the
area for farming and ranching Fazenda Santa Branca demonstrate a richness fauna of
medium-large size mammals so it is important take measures to mitigate the conflicts
caused by both sides (both human en wildlife) for the continued agricultural production
and the mainterance of local wildlife.
Key- words:medium-large size mammals, fragmentation, Brazilian savana
14
Introdução
O cerrado brasileiro cobre cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados no Brasil
Central, representando cerca de 23% da superfície terrestre no país, em termos de área só
é excedido pela Floresta Amazônica (RATTER et al. 1997; RIBEIRO E WALTER,
2008; QUEIROZ, 2009).
É um Bioma bem variado em sua forma indo de densas formações de gramíneas,
normalmente com uma esparsa cobertura de arbustos e pequenas árvores, à algumas
árvores próximas com altura de copa de 12-15m A flora do cerrado, como em outras
savanas, é resistente ao fogo e mostra adaptações usuais para isso (e.g. casca grossa,
folhas da base tunicadas), no entanto fogos freqüentes causam destruição, particularmente
em árvores e arbustos e assim favorecem o elemento herbáceo da flora em detrimento ao
lenhoso (RATTER et al. 1997).
Para o Cerrado são descritos onze tipos de vegetação classificadas em formações
florestais (mata ciliar, mata de galeria, mata seca e cerradão), formações savânicas
(cerrado sentido restrito, parque de cerrado, palmeiral e vereda) e campestres (campo
sujo, campo limpo e campo rupestre). Considerando também os subtipos são
reconhecidas 25 fitofisionomias para esse Bioma (RIBEIRO E WALTER, 2008).
A grande diversidade de espécies de animais e plantas do Cerrado está associada à
diversidade de ambientes. Enquanto que a estratificação vertical da Amazônia ou Mata
Atlântica proporciona oportunidades diversas para o estabelecimento das espécie, no
Cerrado a heterogeneidade espacial seria um fator determinante para a ocorrência de um
variado número de espécies . Com essa variação de ambientes, as espécies de animais e
plantas apresentam uma grande associação com os ecossistemas locais (MACHADO et
al. 2004) .
Segundo REIS et.al. 2006 a diversidade de mamíferos no Brasil atinge números
expressivos e é considerada uma das maiores do planeta, representada atualmente por 652
espécies no Cerrado ocorrem 175 espécies , sendo 18 delas endêmicas, o que corresponde
15
a uma taxa de endemismo de 9,2%. Destas espécies, 19 são citadas no como ameaçadas,
nas categorias Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR) pelo
Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2008).Espera-se que esse
número aumente com trabalhos de registro de espécies em regiões pouco estudadas.
Chiarello et al., (2008) citam 110 espécies de mamíferos como deficientes em
dados, sendo que 10 delas têm presença relatada para o bioma Cerrado e quatro são
endêmicas. Entretanto, esta estimativa de endemismo pode estar muito inferior ao real,
pois, a fauna de mamíferos brasileiros é pouco estudada, principalmente a do Cerrado
regional.
Entre os mamíferos do Cerrado os maiores grupos são morcegos e roedores,
representados por 81 e 51 espécies respectivamente. Carnivora, Didelphimorphia, Pilosa
e Cingulata são os grupos mais diversificados, os últimos três possuem elementos
distintos da fauna neotropical. Em, geral a fauna é composta essencialmente por animais
de pequeno porte (85% das espécies não possuem massa corporal maior que 5kg e
somente cinco espécies ultrapassam os 50kg), o que demonstra um forte contraste com as
savanas africanas, onde os animais de grande porte são mais frequentes (MARINHO-
FILHO et al. 2000).
O alto grau de ameaça a este grupo e sua importância ecológica levam à
necessidade de levantamento de informações sobre a abundância e diversidade das
espécies de médio e grande porte a níveis locais, pois a realização de projetos de
conservação ambiental depende do conhecimento destes dados, que são ainda escassos
para muitas áreas do Bioma Cerrado (ROCHA & SILVA, 2009).
Visando contribuir para um melhor conhecimento da mastofauna regional o
objetivo do seguinte trabalho foi registrar os mamíferos de médio e grande porte
ocorrentes na Fazenda Santa Branca Unidade Agroecológica.
16
Objetivo Geral
Registrar os mamíferos de médio e grande porte da Fazenda Santa Branca
Unidade Agroecológica.
Objetivos Específicos
i) Conhecer as espécies de mamíferos de médio e grande porte (> 1kg)
ocorrentes na Fazenda Santa Branca Unidade Agroecológica.
ii) Verificar a ocorrência de espécies ameçadas; e
iii) Comparar dentre os métodos utilizados qual é o mais eficiente para
amostragem do grupo estudado.
17
Métodos
Área de estudo
A Unidade Agroecológica Fazenda Santa Branca está localizada no município de
Terezópolis de Goiás, a 35 km de Goiânia e 10 km de Anápolis. Está localizada na
latitude 16° 25’ 06” Sul e longitude 49° 05’ 30” Oeste. Constituída por 3.186,22ha a
Unidade é uma das últimas áreas do chamado “Mato Grosso Goiano”, possuindo 1.500ha
de reservas naturais. Abriga em seu território sete nascentes e é também cortada pelo
Ribeirão João Leite.
O clima é característico do Cerrado, estacional com dois períodos sazonais bem
distintos: o chuvoso, que dura de outubro a marco e o seco que dura de abril a setembro.
A precipitação média anual é de 1500mm e as temperaturas são geralmente amenas ao
longo do ano, ficando em média entre 22°C e 27°C (KLINK & MACHADO, 2005).
Em âmbito nacional a Unidade contém uma Reserva Particular do Patrimônio
Natural com 37ha, fazendo parte também da Área de Proteção Ambiental Estadual do
Ribeirão João Leite.
Para o presente estudo foi selecionada uma fração da fazenda (Figura 1). Essa área
foi selecionada por possuir fragmentos de diferentes fitofisionomias, bem como os dois
principais cursos hídricos da fazenda (Ribeirão João Leite e Córrego Limeira).
18
Figura 1 – Área da fazenda onde foi realizado o estudo. Fonte:Fabiano Rodrigues de Melo
Coleta de dados
Foram realizadas seis campanhas, três em meses de maior pluviosidade (Janeiro,
Fevereiro e Março) e três em meses de menor pluviosidade (Junho, Julho e Agosto). As
campanhas duraram quatro dias cada. Para a coleta de dados foram utilizados três
19
métodos de amostragem diferentes: censo, parcelas de areia e armadilhamento
fotográfico.
Censo
O censo foi realizado através da transecção linear, como proposto por Buckland et
al. (1993). Realizado em trilhas pré-existentes o censo foi feito durante os quatro dias de
cada campanha em dois períodos diários, o primeiro das 5:30 – 8:00h e o segundo das
18:00 – 20:30h. Foram determinados três conjuntos de trilhas, cada conjunto percorrido
em duas campanhas, utilizamos o método de máxima área percorrida proposto por
Buckland et al.op cit.. As trilhas eram percorridas a uma velocidade de 1km/h utilizando
uma lanterna de foco grande. Todos os registros foram anotados em caderneta de campo
previamente preparada, com campos para hora, local, tipo de fitofisionomia, tipo de
registro, número de indivíduos e distância percorrida.
Parcelas de areia
Esse método consiste na montagem de blocos de areia fina de 1m² com 2,5cm de
profundidade (SCOSS et al. 2004). Foram utilizadas 20 parcelas distribuídas em dois
conjuntos de 10, espaçadas 35 metros uma da outra. Um conjunto foi instalado em um
fragmento de mata mesófila (Figura 2) e o outro em um fragmento de mata de galeria
(Figura 3).
20
Figura 2 – Parcela de areia em Mata Mesófila
Figura 3 – Parcela de areia em Mata de Galeria
As parcelas foram limpas (retirado o folhiço) e molhadas. A fim de se
proporcionar um substrato que facilitasse a visualização de detalhes das pegadas e
21
registrar pegadas de animais leves a areia era descompactada e homogeneizada todos os
dias, durante os quatro dias de coleta/mês (NEGRÃO & VALLADARES-PÁDUA,
2006). A fim de se atrair os animais para as parcelas essas foram iscadas com sal de
cozinha, abacaxi, bacon e sardinha na seguinte sequência: duas sem isca, duas com sal de
cozinha, duas com abacaxi, duas com bacon e duas com sardinha.. As parcelas foram
iscadas e 24h depois foram inspecionadas para verificar a presença-ausência de pegadas.
Para a identificação das pegadas foram utilizados os guias de Mamede & Alho (2008) e
Borges e Tomás (2004). Em cada registro foram anotados: data, local, número da parcela,
tipo de isca e espécie. As pegadas foram fotografadas, com a câmera em posição
perpendicular ao registro e quando encontradas em bom formato foram feitos moldes de
gesso das mesmas. Os moldes foram feitos com gesso de secagem rápida e para a forma
utilizamos anéis de garrafa PET. Ao se fotografar as pegadas utilizamos duas réguas de
20cm como escala. As pegadas foram utilizadas em trabalhos e Educação Ambiental na
própria Fazenda e serão depositadas no Laboratório de Biodiversidade da Universidade
Estadual de Goiás.
Armadilhas fotográficas
As armadilhas fotográficas foram utilizadas principalmente para registrar as
espécies de carnívoros. São equipamentos providos de sensores térmicos que disparam
assim que o animal passa em sua frente. O equipamento usado foi da marca Tigrinus,
modelo 6.0C, versão 1.0. Foram utilizados filmes ASA400 de 36 e 24 poses e pilhas
pequenas (AA) alcalinas . As armadilhas fotográficas foram distribuídas em pontos que
apresentam sinais de rotas de movimentação da fauna local e sinais típicos de uso das
áreas de forma que os dados obtidos permitam estimar a riqueza de espécies. As câmeras
foram instaladas em árvores a uma altura de aproximadamente 50 cm do solo. Os locais
de instalação foram definidos prioritariamente próximo aos cursos d’água e em trilhas
pré-existentes em cada fragmento. As armadilhas foram instaladas em locais protegidos
do sol, pois o calor deste dispara o sensor da máquina. Foram instaladas duas armadilhas
em fragmentos de mata mesófila (Figura 4) e duas em fragmentos de mata de galeria
(Figura 5), essas foram iscadas periodicamente com abacaxi e sardinha afim de facilitar a
atração de mamíferos para a região do foco das armadilhas.
22
Figura 4 – Armadilha fotográfica em Mata Mesófila
Figura 5 – Armadilha fotográfica em Mata de Galeria
23
Para cada ponto de amostragem com as armadilhas fotográficas foram anotadas as
coordenadas geográficas (GPS), a data da instalação e manutenção, e características
peculiares do hábitat. Para o cálculo do esforço de captura foi utilizada a fórmula
proposta por Sbek-Araújo & Chiarello (2005), que consiste no número de armadilhas
fotográficas x o número de dias que as câmeras operaram (considerando 1 dia como 24
horas). Ainda utilizando a metodologia dos mesmos autores foi utilizada a seguinte
formula para o calculo do sucesso de amostragem: [numero de registros/esforço de
captura] x 100.
Análise de dados
Para o cálculo da riqueza de espécies do local foi utilizado o estimador Jackkniffe
de 1ª ordem (HELTSHE & FORRESTER, 1983)
m
mQSS obsjack
111
onde Sjack1 representa a riqueza estimada pelo método Jackknife 1, Sobs é a riqueza
observada e Q1 é o número de espécies ocorrentes em apenas uma amostra e m é o
número de amostras.
A estimativa foi feita no programa Estimates S 8.2 (Colwell, 2000).
Para verificar a similaridade entre os métodos amostrais utilizados foi utilizado o
Índice de Morisita-Horn, que avalia a similaridade de duas amostras ou ambientes. O
índice varia de 0 (nenhuma similaridade) à 1 (similaridade total) e é dado pela seguinte
equação:
CH = (2 Σ Xij Xik) / [(Σ X2
ij/N2) + (Σ X
2ik/N
2)] NjNk
onde CH é o índice de similaridade de Morisita-Horn, Xij Xik é o nº de indivíduos
da espécie i na amostra j e na amostra k; Nj é o nº total de indivíduos na amostra j e Nk é
o nº total de indivíduos na amostra K.
24
De modo a se promover uma comparação mais concisa dos métodos foi realizada
a comparação da riqueza de espécies amostrada por cada um e também foi comparada a
quantidade de espécies registradas com a quantidade de espécies registradas
exclusivamente por cada método.
Para comparar as médias das riquezas estimadas entre os métodos utilizados foi
utilizado o teste de Análise de Variância (ANOVA), no intuito de verificar qual método
amostrou maior número de espécies . A análise de ANOVA foi feita no programa
Statistica 7.0.
Resultados
Em nove meses de coleta totalizando 988 dias de esforço amostral realizado pelas
câmeras, 24 dias de vistorias em parcelas de areia e 188,48km de trilhas percorridas
durante os períodos de campo foram registradas 16 espécies , pertencentes a 8 ordens e
11 famílias (Tabela 1). A lista de espécies segue a classificação de Wilson & Reeder
(2005).
Dentre as espécies registradas quatro (Puma concolor, Myrmecophaga tridactyla,
Leopardus pardalis e Chrysocyon brachyurus ) estão classificadas como
VU(vulneráveis) de acordo co a Lista Vermelha da Fauna Brasileira Ameaçada de
Extinção,
Tabela 1 – Taxa (ordem, família e espécie) das espécies de mamíferos de médio e
grande porte encontradas na Fazenda Santa Branca
Taxa Nome popular MS MG Registro
Carnivora
Canidae
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Chrysocyon brachyurus (Illiger,1815)
Felidae
Leopardus sp
Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758)
Puma concolor (Linnaeus, 1771)
Cachorro-do-mato
Lobo-guará
Gato-do-mato
Jaguatirica
Onça-parda
X
X
X
X
X
X
X
Vi,Pg
Pg
Pg
Pg Ar
Ar
25
Artiodactyla
Cervidae
Mazama Americana (Erxleben, 1777)
Tayassuidae
Pecari tajacu (Link,1795)
Veado-mateiro
Caititu
X
X
Vi,Pg,Ar
Ar
Cingulata
Dasypodidae
Dasypus novemcintus(Linnaeus, 1758)
Euphractus sexcintus (Linnaeus, 1758)
Tatu-galinha
Tatu-peba
X
X
Pg
Vi
Pilosa
Mirmecophagidae
Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus,
1758)
Tamandua tetradactyla(Linnaeus,
1758)
Tamanduá-bandeira
Tamanduá-mirim
X
X
X
X
Vi,Ar
Pg,Ar
Didelphimorphia
Didelphidae
Didelphis albiventris (Lund, 1840)
Gambá
X
X
Vi,Pg,Ar
Rodentia
Caviidae
Hydrochaeris hydrochaeris (Linnaeus 1766)
Capivara
X
Vi,Ar
Lagomorpha
Leporidae
Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus,
1758)
Tapiti
X
X
Vi
26
Primates
Cebidae
Cebus libidinosus (Spix 1823)
Atelidae
Alouata caraya (Humboldt, 1812)
Macaco-prego
Guariba
X
X
Vi
Vi
Legendas: MS: mata seca; MG: mata de galeria;Ar: armadilha fotográfica; Pg: pegadas(parcelas
de areia);Vi: visualizações (censo).
A estimativa de riqueza feita pelo JackKniffe (Figura 6) demonstrou uma
tendência à estabilização da riqueza total de espécies estimadas para a área. Foram
estimadas 19.56 ± 4.47 espécies para a área de estudo.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Período de coleta (meses)
-20
-10
0
10
20
30
40
Esti
mati
va d
e R
iqu
eza (
JackK
nif
fe 1
)
Figura 6 – Estimativa de riqueza feita pelo Jackkniffe 1 para a área estudada.
Armadilhas fotográficas
As armadilhas fotográficas foram instaladas em 31 de Janeiro e retiradas em 3 de
outubro, perfazendo um esforço de captura de 988 dias e um sucesso de amostragem de
27
2.53% . Foram amostradas oito espécies de mamíferos de médio e grande porte, além de
duas espécies domésticas e duas espécies de aves. As espécies domésticas foram cachorro
(Cannis familiaris) e gado ( Bos taurus), as aves foram udu de coroa azul (Momotus
mommota) e a seriema (Cariama cristata).
A espécie mais comumente amostrada foi Didelphis albiventris seguida por
Myrmecophaga trydactila. Das oito espécies, quatro só foram registradas uma vez:
Pecari tajacu, Mazama americana, Hydrochaeris hydrochaeris e Tamandua tetradacyla.
A curva de estimativa de riqueza para a área utilizando os dados de coleta de
armadilhamento fotográfico (Figura 7) não demonstrou sinais de estabilização, fazendo-
se necessário um maior esforço amostral para que a curva estabilize.
1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo de coleta (meses)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Estim
ativa d
e r
iqu
eza (
Jackkn
ife 1
)
Figura 7 – Estimativa de riqueza para a área utilizando o método de armadilhamento fotográfico.
Parcelas de areia
Utilizando a metodologia de identificação de pegadas através de parcelas de areia
foi possível registrar 8 espécies para a área de estudo em 24 dias de coletas de dados.
Durante as coletas duas parcelas precisaram ser reparadas, por motivos de causa natural
ou antrópica.
28
Novamente a espécie mais comumente amostrada foi Didelphis albiventris
seguida por Cerdocyon thous e Leopardus pardalis. A curva de estimativa de riqueza
para a área (Figura 8) se estabilizou a partir do 4 mês de coleta de dados.
1 2 3 4 5
Tempo de coleta (meses)
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
25
30E
stim
ativa
de
riq
ue
za
(Ja
ckkn
ife
1)
Figura 8 – Estimativa de riqueza para a área utilizando o método de parcelas de areia.
Foram feitos moldes de gesso para as pegadas encontradas em bom estado. Os
moldes foram utilizados durante o trabalho para Educação Ambiental dos grupos que
visitam a Fazenda (escolas e faculdades). Na terceira campanha não foi obtido nenhum
dado das parcelas de areia. Devido à alta pluviosidade durante essa campanha as parcelas
ficavam constantemente encharcadas impedindo assim a impressão de pegadas que
permitissem uma boa identificação.
Para calcular a freqüência total foi dividido o número de registros de cada espécie
por 480 (esforço amostral total) e para calcular a freqüência por transecto foi dividido o
número de registros da espécie por transecto dividido por 240 (esforço amostral por
transecto.
Através desse cálculo foi possível verificar quais espécies foram mais freqüentes
em qual transecto.
29
Tabela 2 – Frequência total (em relação a todas parcelas) e por transecto de cada
espécie.
Didelphis albiventris foi a espécie que apresentou freqüência total mais alta
(0.0208 parcela/dia). Em outros trabalhos (COSTA,2005; PARDINI et al. 2006;
BERNARDO & MELO, 2009) a espécie foi também a mais freqüente, no entanto
apresentando valores mais altos de freqüência, o que sugere que a abundância da área não
seja tão alta. A espécies com menores freqüências foram Tamandua tetradactyla e
Dasypus novemcintus, ambas com 0.00208 parcela/dia e apresentaram somente um
registro em todo período de coleta.
Censo
Após 24 dias de censo foram registradas 9 espécies nas trilhas e proximidades. As
espécies foram visualizadas em sua maior parte no período diurno. A estimativa de
riqueza (Figura 9) para a área utilizando esse método apresentou tendência à estabilidade
a partir do sexto mês de coletas de dados.
Espécie Frequência total Frequência
transecto A
Frequência
transecto B
Cerdocyon thous 0.0166 0 0.0333
Chrisocyon
brachyurus
0.00625 0,00416 0.00833
Dasypus
novemcintus
0.00208 0 0,00416
Didelphis
albiventris
0.02083 0.0291 0.0125
Leopardus
pardalis
0.00833 0.0125 0,00416
Leopardus sp. 0.00625 0.00833 0,00416
Mazama
americana
0.0125 0.02083 0,00416
Tamandua
tetradactyla
0.00208 0 0,00416
30
1 2 3 4 5 6
Tempo de coleta (meses)
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Estim
etiva
de
riq
ue
za
(Ja
ckkn
ife
1)
Figura 9 – Estimativa de riqueza para a área utilizando o método de censo.
Comparação dos métodos
Devido à utilização de três metodologias distintas para a realização deste trabalho
foi possível realizar testes afim de se testar a eficiência de cada e compará-las verificando
qual seria mais eficaz para amostrar o grupo em estudo.
O Índice de Similaridade Morisita-Horn demonstrou que quando comparados par
a par os métodos mostraram possuir uma variação entre si(Tabela 2).
Tabela 3 – – Comparação par a par dos métodos de coleta utilizados feita pelo
índice de similaridade de Morisita Horn
Tipos de registros Vi Pg
Ar 0.18 0.40
Vi 0.13 Ar (Armadilhas fotográficas), Vi (Censo), Pg (Parcelas de areia)
O método Armadilha Fotográfica (Ar) quando comparado com o método Parcelas
de Areia (Pg) demonstrou possuir 40% de similaridade com o mesmo, indicando que os
31
métodos não possuem uma similaridade tão baixa, no entanto quando Ar foi comparado
ao censo (Vi) a similaridade foi de apenas 18% e quando Vi foi comparado com Pg a
similaridade foi ainda menor, somente 13%.
A riqueza de espécies observada também foi separada por método e comparada
(Figura 10). Verificou- se que armadilhamento fotográfico e parcelas de areia chegaram
ao mesmo número de espécies, o censo alcançou uma espécie à mais que os outros
métodos.A variação maior se deu entre o período de coletas. As parcelas de areia e o
censo alcançaram rápido o número de espécies amostrados ao passo que o
armadilhamento fotográfico registrou as espécies de forma mais gradual.
Figura 10 – Comparação das riquezas de espécies amostradas por cada método.
Censo
Parcelas
Traps0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Tempo de coleta (meses)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Riq
ue
za
32
Vi Pg Ar
Tipo de Registro
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
5.5
6.0
6.5
7.0
7.5
8.0
8.5
9.0
Riq
ue
za
de
es
pé
cie
s
F(2, 16)=.20804,p=.81434
A média da riqueza de espécies estimada por método, ao ser comparada pelo
ANOVA não demonstrou diferenças significativas ( F(2,16), p= 0,81434) como pode ser
verificado na figura abaixo.
Figura 11 – Comparação da média das riquezas por método de amostragem. Vi=censo;
Pg=parcelas de areia;Ar=armadilhas fotográficas.
Ao se comparar a quantidade de espécies encontradas em cada método com a
quantidade de espécies exclusivamente registradas pelo método em questão (Figura11)
foi verificado que o método que teve o maior registro de espécies (censo) com 9
diferentes espécies registradas, também foi o método com maior número de espécies
exclusivas, com quatro. Parcelas de areia e armadilhamento fotográfico registraram 8
33
espécies cada, no entanto em parcelas de areia três foram exclusivas, ao passo que em
armadilhamento fotográfico somente duas foram registradas apenas por esse método.
Figura 12 – Comparação entre espécies registradas e espécies exclusivamente registradas pelos
métodos utilizados. Vi (Censo), Pg(Parcelas de areia), Ar(Armadilhamento fotográfico)
34
Discussão
Comparada com outras áreas com estudos semelhantes a fauna de mamíferos de
médio e grande porte se mostrou bastante satisfatória com relação ao número de espécies.
Em Viçosa-MG, em área de Mata Atlântica, PRADO et al. 2008 registraram 20
espécies de mamíferos de médio e grande porte em um fragmento de apenas 384ha , área
essa de tamanho relativamente menor que a área onde o presente estudo foi realizado. No
entanto, para o seu estudo realizaram coletas durante dois anos, o que sugere que para um
maior registro de espécie seria necessário fazer um monitoramento em longo prazo.
Rocha & Dalponte (2006) e Kasper et al. (2007) registraram ambos 29
espécies, os primeiros em uma área de cerrado e os segundos em uma área de pampa
(com matas e áreas campestres).No entanto os primeiros autores fizeram um ano de
coleta de dados e os segundos dois anos, o que também sugere que com um maior tempo
de coletas provavelmente registraríamos mais espécies.
A estimativa de riqueza não foi muito diferente da riqueza encontrada. Foram
registradas 16 espécies e estimadas 19,56±4,47, o que novamente sugerem que um tempo
a mais de amostragem certamente reduziria essa diferença e enriqueceria a listagem de
espécies. Ao se comparar com estudos similares em outras áreas, como Costa (2005) que
realizou um estudo em uma Unidade de Conservação próxima à fazenda, o Parque
Estadual Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP), verifica-se que os resultados foram
bastante parecidos, visto que a autora, utilizando-se apenas de uma metodologia (parcelas
de areia) registrou 18 espécies de mamíferos de médio e grande porte em 48 parcelas de
areia.
Espécies que foram mencionadas como ocorrentes na área, por moradores e
funcionários, como Lontra longicaudis, Procyon cancrivorous, Eira Barbara, Puma
yaguaroundi, Nasua nasua e Cuniculus paca não foram registradas em nenhum dos
métodos utilizados, o que novamente sugere que,caso um estudo com maior duração seja
feito e mais áreas da fazenda sejam amostradas seria possível se determinar um conjunto
faunístico mais rico em espécies para o grupo estudado.
35
A presença de espécies ameaçadas na área(e.g. Leopardus pardalis e
Myrmecophaga tridactyla, só reforça a importância da manutenção dos fragmentos bem
como do uso responsável da área.
Inventários faunísticos são relativamente comuns, sobretudo para mamíferos
(SANTOS et al. 2008; STARLLINGS et al, 1991,KASPER et al. 2007, CÁCERES,
2004). Por ser um grupo muito diverso e popularmente atraente (BATTERSBY &
GREENWOOD, 2004) esses inventários fornecem subsídios para estudos inclusive de
educação ambiental (BENITES & MAMEDE, 2007).
Battersby & Greenwood op cit ressaltam que mamíferos são difíceis de observar e
capturar, logo monitorar suas populações e suas taxas de sobrevivência é mais penoso
quando comparados a outros grupos de fauna.
A utilização de três métodos diferentes de coletas de dados se mostrou bem
conveniente, uma vez que os três registraram espécies exclusivas (que somente foram
registradas por determinado método)o que confirma que os métodos são complementares,
no entanto em levantamentos rápidos ou com poucos recursos algumas considerações
devem ser tomadas na escolha de qual método utilizar.
As parcelas de areia se mostraram como uma alternativa barata e eficiente. No
entanto, sua montagem exige tempo e um grande esforço físico. Para levantamentos
rápidos não seria o método mais indicado. Outro empecilho do referido método é que não
é possível determinar a abundância, uma vez que pelo registro ser baseado em pegadas
não é possível individualizar os animais. No entanto, como registro de riqueza, mostrou
ser um método extremamente eficiente.
O método de armadilhamento fotográfico é amplamente utilizado em estudos
faunísticos (WALLACE et al. 2003;YASUDA, 2004;TROLLE & KÉRY, 2005).Por
basear em um registro visual, é possível, através desse método, individualizar os animais
(HEILBRUN et al. 2003) e conhecer características suas como padrões de atividade
(ARISPE et al. 2008), variação na coloração (TORTATO & ALTHOFF,2007) e uso de
habitat (SANTOS-FILHO & SILVA, 2002).
Por ser um método, a princípio, simples, é indicado o censo em caso de
levantamentos rápidos. A maior concentração de espécies visualizadas ocorreu durante o
36
período diurno, provavelmente devido ao maior espectro de visão do observador
proporcionado pela alta luminosidade.
Silveira et al. (2003) em um estudo similar constataram que o censo através da
transecção linear foi o método mais limitado para determinar a riqueza da mastofauna, o
que não corrobora com esse trabalho, já que o censo nesse caso foi o método que
registrou o maior número de espécies (9 no total).
Devido ao resultado da análise de similaridade é recomendado, caso o
pesquisador não disponha de recursos para adquirir o equipamento necessário, o uso de
parcelas de areia e censo. No caso de não possuir nem recurso e nem mão de obra que o
auxilie, a metodologia mais eficaz para o levantamento rápido de mamíferos de médio e
grande porte seria, de fato, o censo. Armadilhas fotográficas e parcelas de areia
apresentaram maior similaridade (40%), já o censo apresentou similaridade baixa com as
duas (18% com armadilhas e 13% com parcelas de areia).Ainda assim recomenda-se,
caso seja possível, que o pesquisador utilize os três métodos de amostragem em qualquer
levantamento de campo para estudos mastofaunísticos..
Os indivíduos registrados de Alouata caraya (dois espécimes, um macho e uma
fêmea) não são nativos da área. Foram ali reintroduzidos pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade há cerca de três anos. Relatos dos moradores afirmam
que, na área, haviam guaribas nativos há um tempo. Durante o período de coletas, após
termos registrado Myrmecophaga tridactyla, mais três desses animais foram soltos
também pelo ICMBio. Entretanto como não estávamos presente na soltura e esta não foi
registrada visualmente não podemos afirmar quais dos tamanduás posteriormente
registrados são introduzidos ou nativos.
Durante o censo várias vezes nos deparamos com espécimes de Cannis familiaris
andando pelo terreno. Essa presença pode ser um agravante para a manutenção da
mastofauna local. Srbek-Araújo & Chiarello (2008) em um trabalho feito na Mata
Atlântica registraram através de entrevistas casos de cães domésticos perseguindo
animais selvagens, como veados (Mazama sp.), tatus (Dasypus sp., Euphractus sexcintus
e Cabassous sp.), cutias (Dasyprocta leporina), pacas (Cuniculus paca ) e primatas
(Callicebus personatus). Oliveira et al. (2008) observaram a morte de um macaco prego
37
(Cebus nigritus) dentro de uma Unidade de Proteção Integral (Parque Estadual da Serra
do Brigadeiro) em Minas Gerais, causada por dois cães domésticos.´
A presença de grandes carnívoros na área, neste caso da onça parda (Puma
concolor), pode ser um bom sinal de qualidade ambiental e para a manutenção da fauna
local uma vez que a espécie é caracterizada como “guarda-chuva” ela exerce papel na
regulação das populações de outras espécies (POLISAR et al.2003). Em um estudo feito
nos Estados Unidos (mais precisamente na Califórnia) Thorne et al. (2006) constataram
que na área de ocorrência do Puma concolor continha grande parte dos elementos
representativos da biodiversidade local.
Por se tratar de uma fazenda, os remanescentes florestais da área são basicamente
fragmentos da vegetação original. Vários estudos enfocam essa temática, testando se o
tamanho (CHIARELLO, 1999) e o grau de isolamento (CALAÇA,2009) influenciam na
distribuição e riqueza das espécies de mamíferos em fragmentos. Na área em que o
estudo foi realizado os fragmentos ou estão muito próximos, ou estão conectados, para
que pudéssemos testar influência de determinadas variáves (e.g. isolamento, tamanho,
complexidade de habitat) mais áreas necessitariam ser amostradas.
Calaça et al. (2010) sugerem que uma estratégia para a manutenção local da
mastofauna seria a conservação de pequenos fragmentos florestais, uma vez que estes
servem de abrigos para muitas espécies, inclusive de grande porte (e.g. onça pintada),
como também a manutenção da conectividade entre os fragmentos, proporcionando assim
corredores de deslocamento entre os mesmos. Chiarello op.cit. ressalta a importância
dessa conectividade ao constatar que a falta de corredores gera uma falta de migrantes,
um dos fatores que pode levar a população à extinção localmente. Chiarello & Melo
(2001) reforçam que os corredores aumentariam a translocação pelos animais entre os
fragmentos o que evitaria colapsos genéticos e demográficos de subpopulações isoladas.
38
Conclusão/Considerações finais
Considerando o uso intenso da área para agricultura, ecoturismo e pecuária a
Fazenda santa Branca demonstrou possuir uma fauna de mamíferos de médio e grande
porte rica. Mesmo sendo uma área originalmente usada para a criação de gado, ainda
assim demonstrou representantes de grande parte das ordens de mamíferos.
Apesar de a Fazenda possuir uma área de reserva legal (RPPN), recomenda-se que
mais áreas sejam protegidas a fim de se manter mais espaços protegidos e aumentar a
conexão entre os fragmentos proporcionando assim uma melhor qualidade ambiental para
a fauna local.
Trabalhos de registro faunístico por serem pioneiros se mostram importantes para
que estudos mais aplicados possam ser feitos no local, através do conhecimento gerado
estudos de conservação, manejo e educação ambiental podem ser aplicados de forma
mais eficiente e concisa.
Segundo DIAS (2004), os estudos de diversidade de espécies de quaisquer áreas
são imprescindíveis para o norteio das ações e das políticas de conservação, pois dão
subsídios aos trabalhos faunísticos, ao permitirem comparações mais rigorosas, e
fornecem ferramentas de previsão para que estas áreas sejam protegidas.
Por ser uma fazenda baseada no sistema de arrendamento de terra, faz-se
necessário a criação de um plano de manejo utilizando os dados obtidos visando evitar
futuros problemas que um erro de lotação de um empreendimento poderia causar. Como
a fazenda também possui um ideal de conservação é ainda mais importante que se tome
medidas preventivas a fim de mitigar as injúrias causadas a ambos por ambos os lados
(humanos e mamíferos silvestres).
Estudos como esse reforçam a necessidade da conservação de pequenos
fragmentos visando preservar as espécies que ainda restam em nosso Bioma Cerrado.
39
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43
.
ANEXOS
44
Figura 13 – Animais registrados pelo metodo de armadilhamento fotografico: a) Puma concolor,
b) Leopardus pardalis, c) Mazama americana e d) Pecari tajacu.
a
b
c
d
45
Figura 14 – Animais registrados pelo metodo do armadilhamento fotografico:a) Myrmecophaga
tridactyla, b) Tamandua tetradactyla, c) Hydrochaeris hydrochaeris e d) Didelphis albiventris.
a b
c d
46
Figura 15 – Pegadas registradas em parcelas de areia:a) Mazama americana,b) Chrysocyon brachyurus, c)
Leopardus sp e d) Leopardus pardalis
b a
c d
47
Figura 16 – Pegadas registradas em parcelas de areia:a) Tamandua tetradactyla,b) Cerdocyon thous, c)
Didelphis albiventris e d) Dasypus novemcintus.
a b
c d
48
Figura 17 – Animais fotografados durante o censo: a) Sylvilagus brasiliensis,b) Alouatta caraya, c)
Didelphis albiventris e d) Euphractus sexcintus. Fotos: Paulo Ribeiro
a b
c d
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