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HABITAO VERTICAL PRIVADA E O MERCADO IMOBILIRIO EM SO PAULO: Dois Perodos, Dois Casos Dissidentes I Formaespao e Idea!Zarvos
Priscylla Nose de Lima
Dissertao de mestrado apresentada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre
rea de Concentrao: Projeto de Arquitetura
Orientador: Prof. Dr. Francisco Spadoni
So Paulo I 2013
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
E-MAIL: limapri@uol.com.br
Lima, Priscylla Nose de L732h Habitao vertical privada e o mercado imobilirio em So Paulo: dois perodos, dois casos dissidentes Formaespao e Idea!Zarvos / Priscylla Nose de Lima. - - So Paulo, 2013. 240 p. : il. Dissertao (Mestrado rea de Concentrao: Projeto de Arquitetura) FAUUSP. Orientador: Francisco Spadoni 1.Edifcios residenciais - So Paulo (SP) 2.Mercado imobilirio - So Paulo (SP) 3.Formaespao 4.Idea!Zarvos I.Ttulo CDU 728(816.11)
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AGRADECIMENTOS
Ao Francisco Spadoni, meu orientador, pelo constante apoio e incentivo.
Aos professores Helena A. Ayoub Silva e Lus Antonio Jorge pelos comentrios durante o
exame de qualificao.
Aos arquitetos Joo Sodr e Guillaume Sibaud, pelas entrevistas, esclarecimentos e
informaes.
Ao Fabrcio Augusto Gomes Pereira e seus colegas do Secovi pela ateno e prontido.
Ao arquiteto Fernando Serapio por sua ateno, sugestes e esclarecedores dados.
Aos bibliotecrios pelo cuidado em auxiliar nas incessantes buscas.
secretaria da ps-graduao da FAU USP.
Aos queridos amigos e familiares pelo apoio incondicional e pacincia durante o longo
perodo de elaborao deste trabalho, alm da compreenso de minha ausncia.
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RESUMO Estudar a produo de edifcios residenciais verticais privados na cidade de So Paulo em dois perodos
da histria; entre as dcadas de 60 e 70 do sculo 20 e a primeira dcada do sculo 21. Dois perodos
que apresentaram propostas de destaque dentro do mercado imobilirio mostrando um novo olhar
frente produo da arquitetura. Examinar alm dos aspectos conceituais que os definiram como
obras singulares no conjunto da produo imobiliria privada, quais seriam os aspectos estruturais que
estariam por trs desta iniciativa: quem so seus agentes, quais as motivaes financeiras e eventuais
aspectos culturais que definiriam uma nova perspectiva sobre a produo desta arquitetura.
Os aspectos a serem considerados para a anlise e avaliao dos resultados, referem-se no s a
estrutura de linguagem renovadora, mas tambm sobre outras eventuais conquistas relativas
reconfigurao da espacialidade, flexibilidade de plantas, pesquisas tecnolgicas e aspectos
sociofinanceiros da operao: publico consumidor, interesse mercadolgico, incorporador, etc.
Palavras chave: So Paulo, Habitao Privada, Mercado Imobilirio, Formaespao, Idea!Zarvos
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ABSTRACT To study the production of private residential buildings in the city of So Paulo in two
different time periods, first between the 60's and 70's of the 20th century; and the first
decade of the 21st century. Two distinct periods with above average proposals within the
real estate market reflecting the contemporary architectonic production. To exam not the
only conceptual aspects that have defined them as unique in the whole of the privately -
built real estate; but also the structural aspects that might be behind this initiative: who are
their agents, what financial motivations they had, and the eventual cultural aspects that
have defined a new perspective on the production of this architecture.
The aspects to be considered in this analysis and evaluation of results refer both to the
innovative structural language, and to the eventual advancements related to spatial
reconfiguration, flexibility of blue prints - layout flexibility, technological research as well as
social and economic aspects of the project: end consumers , market interest, development,
etc.
Keywords: Sao Paulo, Private Housing, Real Estate Market, Formaespao, Idea!Zarvos.
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SUMRIO
08 1. Introduo
11 2. Primeiro Perodo I 1963 - 1973
12 2.1. A produo de apartamentos em So Paulo nos Anos 60 e 70 sob a influncia da Escola Paulista de Arquitetura
16 2.2. Os edifcios de habitao nos Anos 60
20 2.3. So Paulo e o PDDI Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
22 2.4. A Construtora Formaespao
30 2.5. Formaespao e o arquiteto Abraho Sanovicz
60 2.6. Formaespao e o arquiteto Eduardo de Almeida
78 2.7. Formaespao e o arquiteto Paulo Mendes da Rocha
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93 3. Segundo Perodo I 2000 - 2010
94 3.1. A produo de apartamentos em So Paulo na primeira dcada do sculo 21
120 3.2. So Paulo e o PDE - Plano Diretor Estratgico
130 3.3. O Caso Zarvos
154 3.4. Idea!Zarvos e o escritrio Andrade Morettin
188 3.5. Idea!Zarvos e o escritrio Triptyque
200 3.6. Idea!Zarvos e o escritrio Grupo SP
224 4. Consideraes Finais
228 Bibliografia
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1. INTRODUO
.
Este trabalho se prope a estudar a produo de edifcios residenciais verticais privados na cidade de
So Paulo em dois momentos da histria - entre as dcadas de 60 e 70 do sculo 20 e a primeira dcada
do sculo 21. Dois perodos que apresentaram propostas de destaque dentro do mercado imobilirio
mostrando em comum, um novo olhar frente produo da arquitetura.
Inicialmente, foram selecionados como objeto de pesquisa, os edifcios produzidos pela incorporadora
Idea!Zarvos entre os anos de 2000 e 2010. Porm, ao investigar os antecedentes deste mercado, notou-
se que a construtora Formaespao, em um momento anterior, tambm elegeu a arquitetura de
repertrio como estratgia de venda.
Sendo assim, o estudo caminhou para uma anlise paralela destas duas iniciativas tendo como objetivos
pretendidos, explorar os aspectos conceituais que os definiram como obras singulares no conjunto da
produo imobiliria privada, alm de analisar os aspectos estruturais que estariam por trs desta
iniciativa: seus agentes, quais as motivaes financeiras e eventuais aspectos culturais que definiriam
uma nova perspectiva sobre a produo desta arquitetura nos dois recortes de tempo selecionados.
A construtora Formaespao, respondendo situao socioeconmica estabelecida na poca, idealiza
projetos de edifcio de habitao privados com a possibilidade de serem produzidos em srie e
implantados em lotes disponveis, principalmente na cidade de So Paulo. As obras da construtora
refletem, por um lado, a postura dos profissionais envolvidos e, por outro lado, o perodo favorvel
produo da moradia que se configurou a partir da criao do BNH Banco Nacional da Habitao.
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Dentro dessas premissas, ganharam destaque os projetos dos edifcios Modulares, do arquiteto
Abraho Sanovicz, edifcios Gemini, Lark e Coronet, do arquiteto Eduardo de Almeida e edifcios
Prottipo [no executado] e Clermont, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
A incorporadora Idea!Zarvos, tambm respondendo situao socioeconmica e de legislao atual,
idealiza projetos de habitao privada, porm em contrapartida ao principal argumento da
Formaespao que produziu edifcios em srie, realiza hoje, edifcios exclusivos. O critrio para a seleo
das obras foi verificar primeiramente, dentro do perodo em questo, quais obras j haviam sido
realizadas ou ento, que estivessem com a construo em andamento. A partir da, escolheu-se trs
escritrios de arquitetura para anlise Andrade Morettin com os edifcios Aimber 1749 e Fidalga 772,
Triptyque com o edifcio Fidalga 727 e Grupo SP com os edifcios Simpatia 236 e Itacolomi 445.
No objetivo deste trabalho percorrer a histria da arquitetura paulista e nem abordar toda a obra
dos arquitetos selecionados. O estudo se restringe na anlise de obras especficas e limita-se a apontar
similaridades e divergncias nas produes de cada perodo sobre um problema comum que a
utilizao de uma arquitetura de repertrio como estratgia de venda.
Sua estrutura foi dividida em duas partes, correspondentes aos dois perodos de tempo em anlise.
No primeiro recorte, temos como mote o trabalho desenvolvido pela construtora Formaespao e no
segundo, o trabalho desenvolvido pela incorporadora Idea!Zarvos.
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Um panorama da produo habitacional vertical privada vigente em cada poca, assim como a
legislao corrente so expostos como apoio compreenso dos perodos. Por fim, uma breve
apresentao dos arquitetos e a anlise das obras.
Para esta composio, foram realizadas pesquisas bibliogrficas, entrevistas e redesenho das obras
selecionadas. Estas informaes comparecem em grande parte, contidas no texto e nas ilustraes,
conformando o trabalho em si.
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2. PRIMEIRO PERODO I 1963 1973
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2.1 A PRODUO DE
APARTAMENTOS EM SO
PAULO NOS ANOS 60 E 70
SOB A INFLUNCIA DA ESCOLA
PAULISTA DE ARQUITETURA
A arquitetura em So Paulo nas dcadas de 1960 e 1970 foi marcada principalmente pela racionalizao
construtiva, tendo a estrutura como protagonista da forma.
Os edifcios deste perodo, analisados neste trabalho, contemplam duas das principais linhas de
pesquisa desenvolvidas pelos arquitetos paulistas nos anos 60 e 70. A primeira refere-se pesquisa
esttica realizada em meados dos anos 50, caracterizada pelo uso intenso do concreto aparente, cujo
conjunto construdo posteriormente foi definido como pertencente Escola Paulista de Arquitetura. A
segunda linha trata da tentativa de conciliao dos sistemas tradicionais de construo com as
possibilidades industriais do mercado, ou seja, entender o processo de construo como montagem,
agregando novos materiais industriais com o objetivo de reduo do tempo de obra. Esta pesquisa foi
intensificada aps a criao do BNH Banco Nacional da Habitao, que vincular a reduo de prazos
das obras aos prazos do financiamento.
Historicamente o incio da Escola Paulista est ligado a uma reviso formal realizada por Vilanova
Artigas que tem como marco a residncia Olga Baeta [Figura 1], primeira obra a concretizar os conceitos
ticos e estticos da nova arquitetura.
Figura 1 - Residncia Olga Baeta, So Paulo 1956
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Deve-se ter em conta tambm, o momento poltico e econmico presente em meados dos anos 50 e 60.
A poltica econmica desenvolvida no perodo de Juscelino Kubistchek [1956 1961] estimulou a vinda
de inmeras empresas multinacionais e a criao de um complexo de indstrias de base que forneceria
os bens de produo necessrios futura expanso industrial. Esta grande onda de desenvolvimento fez
a maioria acreditar que os problemas da sociedade brasileira seriam passageiros. Entretanto,
Kubistchek deixa de herana uma grave crise econmica ao seu sucessor Jnio Quadros, que sem
estrutura, renuncia ao cargo em favor do vice-presidente Joo Goulart, figura reconhecidamente de
esquerda. O apoio governamental s constantes greves por aumentos salariais e a tentativa de
implantar reformas sociais de base, aliado crise econmica, criou o cenrio poltico propcio ao golpe
militar, efetivamente realizado em maro de 1964.
Neste ambiente, deu-se incio a reviso formal da arquitetura em So Paulo, estimulada pelo grande
desenvolvimento econmico e pelo forte ideal nacionalista gerado nos governos de Kubistchek e
Goulart. Esta reviso partiu de um questionamento do modelo gerador da Escola Carioca frente s reais
condies da sociedade brasileira. Indagava-se a suposta validade do modelo de Arquitetura
Internacional para qualquer contexto, revisando os preceitos da Escola Carioca que ao chegar a So
Paulo, derivam para questes ticas e estticas.
Ao questionar o verdadeiro significado de uma arquitetura social, conclui-se que esta no era uma
arquitetura de luxo, de acabamentos refinados e derivada do padro de vida burgus.
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Diante da realidade da mo-de-obra disponvel e da real e imediata viabilidade da industrializao do
setor civil, constata-se que a tecnologia do concreto armado era a mais desenvolvida e assimilada entre
as tcnicas tradicionais, alm de ser um material de baixo custo. Assim, os arquitetos desenvolvem um
raciocnio estrutural procurando explorar o desenvolvimento desta tecnologia em seu limite.
A linguagem desenvolvida pelo grupo ligado a Artigas est coligada a um conjunto de estratgias
compositivas eleitas em primeira mo e derivadas do repertrio moderno. So dois os principais
conceitos geradores de forma exterior do edifcio: o prisma elevado sobre pilotis e o grande abrigo, ou
seja, uma grande cobertura que pode alcanar ou no os limites laterais do lote urbano. Optar por uma
soluo formal inicial, da qual as demais etapas de projeto se tornam subordinadas, resolvendo
problemas compositivos e detalhes desta opo feita no primeiro momento do projeto, caracteriza boa
parte das obras filiadas Escola Paulista.
A corrente brutalista, outra denominao dada Escola Paulista, influenciou inmeras obras
paulistanas, como tambm obras em outras capitais do pas, sendo empregada em diversos edifcios
pblicos como fruns, escolas, postos de sade, bancos, etc.; porm, seu emprego em prdios
habitacionais coletivos foi restrito por no se enquadrar no gosto mdio do pblico, acostumado ao
acabamento tradicional nas residncias.
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O fato foi observado no Edifcio Guaimb [Figura 2], projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e
Eduardo de Gennaro, inteiramente em concreto aparente. LEMOS afirma:
Vrios proprietrios de unidades autnomas transformaram radicalmente o aspecto
interno das mesmas. A dificuldade em aceitar que apartamentos de excelente padro
apresentem aspecto inacabado, levou mesmo alguns a considerar a possibilidade de
transformao das reas de uso comum, atravs de seu total revestimento1.
Figura 2 - Edifcio Guaimb, So Paulo 1962
Fonte: Revista Acrpole Setembro 1967
1 LEMOS, Carlos - As razes so culturais in O Dirigente Construtor. P 48. So Paulo, 1965.
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2.2 OS EDIFCIOS DE HABITAO
NOS ANOS 60
Nos anos 60, confirma-se a tendncia monofuncionalidade dos edifcios residenciais, praticamente
desaparecendo a ocupao do nvel trreo com atividades comerciais. A legislao municipal determina
recuos maiores e o mercado imobilirio favorvel tipologia da torre isolada, reforaram este tipo de
modelo.
Na pretenso de uma maior monumentalidade, os edifcios eram implantados com grandes
afastamentos frontais, apesar dos recuos laterais no serem to generosos. Como consequncia, as
grandes reas livres voltadas ao acesso principal, eram tratadas com um exuberante paisagismo de
carter decorativo, apresentando eventualmente play-ground, disposto na lateral ou fundo do lote.
Difundiu-se a soluo de garagens em subsolo, prevendo-se ao menos uma vaga para cada unidade,
liberando o trreo desta funo. O trreo abrigava o apartamento do zelador e portaria, hall social e
salo de festas; os acessos eram muito bem definidos.
Apesar do hall social ser separado fisicamente do hall de servios, procurou-se interlig-los por
questes de segurana. Devido ao pequeno nmero de unidades habitacionais presentes mesmo nas
torres mais altas, os edifcios dispunham apenas de dois elevadores e no raro o hall social era
decorado com um painel / mural realizado por artista plstico.
A grande metragem dos apartamentos ento praticados pelo mercado imobilirio e exigidos pelas
normas legais limitou a variao tipolgica de unidades, com no mximo duas unidades diferenciadas.
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O programa interno no apresentou mudanas significativas s praticadas nos anos 50, somente alguma
sofisticao do programa induzido em parte pelas enormes reas atingidas nos apartamentos: lavabo
social e sute tornaram-se itens indispensveis. Acentua-se a separao fsica entre cozinha e copa, as
reas de servio passam a abrigar alm do tanque, espao para a mquina de lavar roupa. Muitas
unidades j vinham equipadas com armrios embutidos; materiais nobres como mrmore e madeira de
lei decoravam as reas sociais e circulaes comuns; diferenciais que reforavam o status de forma a
atrair a classe mdia para o empreendimento.
As fachadas se modernizaram. Os edifcios passam a ter, em sua maioria, a estrutura modelada e
ordenada, sendo este o maior elemento plstico da composio. A expresso plstica pela estrutura foi
sendo mais utilizada conforme se divulgava a ideologia da Escola Paulista entre os arquitetos. A
estrutura ento se torna mais arrojada e em certos casos, os pilotis so substitudos pelos grandes vos
livres obtidos com as novas tecnologias. As esquadrias, padronizadas, tenderam homogeneizao,
fixadas entre os vos da estrutura. Prioriza-se tambm a concentrao das prumadas hidrulicas
sempre que possvel, resultando em solues de plantas extremamente organizadas do ponto de vista
construtivo.
A grave crise econmica que assolou o pas entre 1962 e 1967 no afetou o mercado imobilirio que s
cresceu durante toda a dcada. O crescimento vertical, praticamente saturado na rea central, atingiu
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nesta poca 29 bairros2, decorrente da limitao do aproveitamento dos terrenos urbanos impostos
pela Lei 5.261/57 e do crescente uso do automvel. Esta lei, que condicionava construo de
apartamentos com grande metragem aliada a retrao da demanda das classes de menor renda
provocada pela recesso econmica do perodo determinou que o processo de incorporao pelo preo
de custo se direcionasse as classes mdia e mdia - alta. Conforme aponta VILARIO, houve um
crescimento da rea vertical aprovada, apesar do nmero de edificaes se manter estvel, ou seja, no
perodo construram-se apartamentos de maior metragem.
Os incorporadores burlavam a lei, aprovando os apartamentos como consultrios para utilizar o
coeficiente de aproveitamento igual a seis, ndice 50% maior que o permitido para edifcios residenciais.
Com a criao do BNH em 1964, este artifcio deixa de ser utilizado, pois o banco s financiava edifcios
habitacionais. Diante da grande presso imposta pelo mercado imobilirio, o ento prefeito Faria Lima,
aprova a Lei 6.877 em 1966 que equaliza os coeficientes de aproveitamento em seis tanto para os
edifcios comerciais como residenciais. Tambm se revogou a norma que definia o p-direito mnimo de
2,70 metros para dormitrios, e o mercado imobilirio passou a adotar 2,50 metros para obter um
nmero maior de andares frente aos gabaritos exigidos por lei.
2 Bela Vista e Cerqueira Cesar so os que mais verticalizam. Santa Ceclia, Bom Retiro, Higienpolis, Campos Elseos, Pinheiros, Vila Buarque, Vila Mariana, Paraso, Aclimao, Consolao, Liberdade, Jardim Paulista, Mooca, Perdizes, Brooklin, Cambuci, Santa Ifignia e Santana. No
Brs, Ipiranga, Jardim Europa, Jabaquara, Lapa, Sade, Vila Nova Conceio e Itaim a verticalizao ainda era incipiente. A maioria desses
bairros localizava-se na zona sudoeste da cidade, tradicionalmente conhecida pelo setor ocupado pelas classes mais altas da cidade. Dados extrados da dissertao de mestrado VILARIO, Maria do Carmo - Habitao Verticalizada na Cidade de So Paulo dos anos 30 aos anos 80. Investigao acerca da contribuio dos arquitetos modernos ao tema. Estudos de Caso. FAU-USP. So Paulo, 2000.
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Apesar da legislao municipal no induzir mais a construo de grandes apartamentos, o mercado
imobilirio continuou a atender os setores de alta renda, pois com a criao do BNH, o empresariado
vislumbrou a possibilidade de conseguir emprstimos para construir sem ter que colocar seus recursos
prprios, e depois, repassar a dvida aos compradores. Com facilidade para conseguir financiamentos
com prestaes mais econmicas que as do aluguel, a classe mdia buscou imveis mais luxuosos,
abandonando o processo de adquirir a moradia com recursos prprios, tpico da dcada anterior.
Neste perodo surge tambm a propaganda imobiliria, novidade que rapidamente se popularizou na
cidade. Os stands, antes mais parecidos com barraces de obra, passam a ser decorados por arquitetos,
apresentando plantas, maquetes e impressos bem elaborados e coloridos, divulgando o
empreendimento. Segundo VILARIO, o incio pioneiro desse tipo de propaganda pode ser atribudo
VEPLAN Indstria Imobiliria de So Paulo Ltda., que iniciou suas promoes imobilirias na cidade em
1963.
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2.3 SO PAULO E O PDDI
PLANO DIRETOR DE
DESENVOLVIMENTO
INTEGRADO
A cidade de So Paulo sempre foi apresentada ao pas como um exemplo de grandeza, tendo seu
desenvolvimento e crescimento desordenado e catico entendido como fruto passageiro de seu
processo de modernizao. Porm, no incio dos anos 70, quando se percebeu o aumento dos
problemas sociais e que no era possvel oferecer os servios urbanos na velocidade requerida, o
discurso mudou. O urbano passa a ser um problema.
A capital paulista nunca teve um plano diretor que regulasse seu desenvolvimento. Todas as tentativas
feitas, mesmo o plano de Avenidas de Prestes Maia, vieram sempre com atraso, remediando uma
situao h muito superada no momento de sua realizao.
A mudana nas condies polticas aps o golpe de 1964 favoreceu a intensificao da atividade do
planejamento urbano e da proposio de novas legislaes urbansticas, medida que interrompeu os
canais de reivindicao popular, possibilitando que as propostas tcnicas se realizassem sem o
comprometimento poltico de atender as demandas sociais.
A idia de limitar o crescimento da cidade ganha fora e em 1971, na gesto do prefeito Figueiredo
Ferraz, foi aprovado o PDDI Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, que instituiu diretrizes de
desenvolvimento urbano, definiu oito zonas de uso com diferentes caractersticas nos ndices e taxas
construtivas permitidas e reduziu o coeficiente de aproveitamento mximo do lote de seis para quatro,
ndice atingido em poucas zona somente, com restries ainda maiores para o resto da cidade.
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A iminncia da aprovao da Lei de Zoneamento, que confirmou as proposies presentes no PDDI,
provocou uma aprovao antecipada de inmeros empreendimentos habitacionais para garantir os
maiores ndices de aproveitamento presentes na lei anterior. Esses edifcios, construdos e
comercializados at aproximadamente 1975, fizeram com que a produo do perodo apresentasse as
mesmas caractersticas das edificaes dos anos 60.
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2.4 A CONSTRUTORA
FORMAESPAO
Inserido neste contexto, surge em 1963 com uma produo de pouca expresso, a construtora
Formaespao. No ano de 1968, respondendo situao socioeconmica estabelecida, a Formaespao
passa a idealizar projetos de edifcio de habitao privados com a possibilidade de serem produzidos em
srie e implantados em lotes disponveis, principalmente na cidade de So Paulo.
As obras da construtora passam a refletir, por um lado, a postura dos profissionais envolvidos e, por
outro lado, o perodo favorvel produo da moradia que se configurou a partir da criao do BNH.
Assim, dentro do programa da construtora, ganharam destaque obras de arquitetos como Abraho
Sanovicz com o projeto dos Edifcios Modulares, Eduardo de Almeida com o projeto do Edifcio Gemini e
Paulo Mendes da Rocha que projetou o Prottipo, que no chegou a ser executado. Os arquitetos Fbio
Penteado, Fleury de Oliveira e Ennes Silveira Mello tambm chegaram a participar dos projetos da
construtora, mas num perodo menos favorvel e j de comprometimento financeiro da mesma.
Segundo a anlise de IMBRONITO, esta caracterstica peculiar da construtora em reproduzir seus
edifcios, nos faz considerar o grau de reflexo contido nos projetos, abrindo duas vertentes de valor:
A primeira aponta em o que h de comum entre os edifcios, referindo-se no apenas a programas
prticos aos quais os projetos buscaram responder, mas tambm semelhana de pensamentos
sintonizados com o ambiente arquitetnico e cultural no qual esto inseridos.
A segunda diz respeito s solues individuais assumidas por cada arquiteto em seu projeto,
aproximando as metodologias e identificando aspectos que possam contribuir para configurar uma
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varivel do pensamento de cada um deles sobre o tema da habitao e, de modo mais amplo, sua
arquitetura3.
Como j citado, com a criao do BNH em agosto de 1964, rapidamente, organizou-se uma estrutura
nacional de captao e agenciamento de recursos para financiamento de habitao. Inicialmente o
Banco dedicou-se habitao social e disps de poucos recursos, captados principalmente a partir de
uma deduo da folha de pagamento. A partir de 1967, com a criao do FGTS [Fundo de Garantia do
Tempo de Servio] e o incentivo dado s cadernetas de poupana, definiu-se o quadro propcio
produo de edifcios habitacionais para a classe mdia. Com o FGTS, a arrecadao do Banco
aumentou cerca de nove vezes. Por outro lado, houve um redirecionamento na aplicao destes
recursos, que foram priorizados para a classe mdia, em detrimento da habitao de interesse social.
Alia-se a este fato o incremento do poder de compra da classe mdia nos anos 70, devido ao milagre
econmico brasileiro. Estes fatores levaram a uma disseminao do nmero de empreendimentos, fase
que durou at meados de 1974, momento em que novos rumos foram tomados pelo BNH, cujos
recursos foram redirecionados habitao social ou destinados a projetos de infraestrutura4.
Houve ento repentinamente, no final dos anos 60, um grande volume de dinheiro disponibilizado para
os investidores e construtores do setor privado. Este perodo coincide, em So Paulo, a um momento
3 Dados extrados da dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003. 4 Dados extrados da dissertao de mestrado VILARIO, Maria do Carmo - Habitao Verticalizada na Cidade de So Paulo dos anos 30 aos anos 80. Investigao acerca da contribuio dos arquitetos modernos ao tema. Estudos de Caso. FAU-USP. So Paulo, 2000.
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tambm favorvel da legislao. Foi em 1966 que o prefeito Faria Lima com a Lei 6.877 aumentou o
coeficiente de aproveitamento em habitao para seis na cidade. Mas foi a eminente aprovao da Lei
de Zoneamento de 1972, que reduziu drasticamente o coeficiente de aproveitamento na cidade, e
gerou uma corrida para a aprovao de projetos com base na lei anterior, para que pudessem ainda
valer os benefcios desta lei. A Lei de Zoneamento [Lei 7.085] de 1972 estabeleceu zonas diferentes para
a cidade e, de modo geral, restringiu os coeficientes de aproveitamento. Isto gerou uma demanda por
terras urbanas e a verticalizao em reas perifricas, em terrenos afastados e vazios.
Agentes, incorporadores e construtores tiveram que se adaptar rapidamente a esta situao,
inaugurando novas maneiras de produzir habitao. O alto custo financeiro do capital tornou necessrio
acelerar o processo de projeto e obra, pois somente o rpido retorno do empreendimento traria a
vantagem financeira da operao. Para viabilizar este processo e agilizar a produo, alguns
construtores utilizaram projetos-padro.
Algumas construtoras elaboraram ou contrataram projetos de edifcios para serem executados
repetidamente, em diversos terrenos disponveis na cidade, em bairros localizados nas zonas de
crescimento da classe mdia. Por terem que se adaptar aos ndices urbansticos e ao terreno, estes
edifcios apresentaram variao em sua implantao, trreo, garagem e nmero de pavimentos.
Quando implantados em terrenos maiores so dispostos agrupados, formando conjuntos. Porm a
estrutura, planta do andar tipo, materiais e detalhamentos variam pouco de um edifcio para outro.
Segundo depoimentos extrados no trabalho de IMBRONITO, a primeira construtora a se organizar para
a produo em srie, com a velocidade e agilidade necessrias para corresponder s exigncias do BNH
e atender demanda de mercado foi a Hindi. O objetivo era que estivesse pronto em 210 dias.
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O projeto-padro permite economia de tempo tanto na fase de projeto quanto na fase de construo.
Torna possvel um maior planejamento da obra, controles mais eficazes de custos, armazenamento de
materiais e at mesmo a produo prpria de determinados componentes da construo. Entretanto,
poucos foram os resultados para inovar a produo no sentido da industrializao. O sistema
construtivo utilizado para a racionalizao da construo foi chamado tradicional evoludo5, a com a
introduo de alguns processos mecanizados ao sistema tradicional.
ESTRATGIA DE ATUAO
A Formaespao se aproveitou desta situao gerada a partir do BNH. Entretanto, diferentemente de
outras construtoras, utilizou caractersticas da arquitetura para organizar sua produo. A arquitetura
comparece com clareza em seus aspectos construtivos, com volumetrias simplificadas, modulao
estrutural, materiais aparentes e componentes padronizados. Trata-se de uma linguagem cujo desenho
nasce comprometido com a maneira pela qual se executa.
Ao mesmo tempo em que esta arquitetura no correspondia a certos preceitos estabelecidos pelo
mercado imobilirio, foi utilizada como estratgia de venda. A Formaespao assumiu a imagem de
inovao e modernidade. As inovaes no se restringiram aos edifcios e forma de produo.
5 Dados extrados da entrevista com o arquiteto Joo Honrio de Mello Filho, para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003.
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Como dito, estavam tambm presentes na divulgao, nos stands, reportagens e folhetos publicitrios,
e na exposio do apartamento mobiliado [Figuras 3 e 4].
Figura 3: Anncio publicitrio da construtora Formaespao
Fonte: Jornal Folha de So Paulo Janeiro 1973
Figura 4: Anncio publicitrio da construtora Formaespao
Fonte: Jornal Folha de So Paulo Maro 1973
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Muito do comprometimento com a qualidade da arquitetura impressa nos edifcios da Formaespao foi
determinado por um de seus fundadores, o americano Eugene Gordon. Gordon associou-se a um jovem
engenheiro da Escola Politcnica, Joo da Rocha Lima, que se empenhou no crescimento da empresa.
Ao final do perodo favorvel construo da habitao segunda metade da dcada de 70 - com o
aumento do custo dos terrenos em funo da lei de zoneamento e mudana no quadro para obter
financiamentos, a empresa entrou em colapso financeiro.
A qualidade dos projetos desenvolvidos manteve-se alinhada enquanto estes foram desenvolvidos nos
escritrios dos arquitetos autores dos projetos. Para agilizar ainda mais a etapa de projeto, foi criada a
Merisa, empresa ligada Formaespao, que passou a desenvolver os projetos e conduzir especificaes
a partir de anteprojetos contratados. Esta foi uma experincia avaliada negativamente pelos arquitetos,
inclusive dentro da prpria Merisa, pois a divergncia de interesses resultou em descaracterizao e
consequente perda da essncia das propostas originais6.
A simultaneidade da produo da Formaespao com o perodo descrito foi confirmada com as seguintes
obras: Conjunto de casas do Jardim Prudncia, primeiro projeto do arquiteto Abraho Sanovicz para a
construtora de 1968 [Figura 5]. Os edifcios Gemini [Figura 6], do arquiteto Eduardo de Almeida, so de
1969, mesmo ano do Conjunto Residencial Nova Cidade [Figura 7], outro projeto de Sanovicz. Em 1970,
construiu o Modular Alfa [Figura 8], o primeiro de uma srie de edifcios repetidos.
6 Dados extrados das entrevistas com o arquiteto Joo Honrio de Mello Filho e Eugene Gordon, fundador da Formaespao para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003.
-
28
De 1970 a 1973, a Formaespao construiu sobre o conceito de edifcios em srie. O edifcio Prottipo,
do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, desenvolvido at a fase de projeto executivo, data de 1972. No
ano seguinte foi construdo o prdio da Rua Jauaperi - Edifcio Clermont [Figura 9], do mesmo arquiteto.
As adaptaes do Gemini para produo em srie resultaram nos edifcios Lark e Coronet [Figura 10],
executados em 1973. O edifcio Modular, a partir de 1973, foi tambm adaptado para uma segunda
fase, e sofreu profundas alteraes no sistema construtivo, numa deciso que partiu provavelmente da
construtora.
A experincia da Formaespao transformou-se em um conjunto de edifcios de conformao variada e
programas diferentes, mas de construo semelhante. Ao comparar os projetos, conclui-se que
apresentam o mesmo princpio construtivo, utilizam os mesmos materiais e resultam na mesma
expresso.
Figura 5 - Conjunto de Casas Jardim Prudncia, So Paulo 1968. Abraho Sanovicz. Fonte: Acervo escritrio Elito Arquitetos apresentada em Silva, H.A.A. Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa Tese de doutorado. FAU USP - So Paulo, 2004
Figura 6 - Edifcios Gemini I e II Eduardo de Almeida
Fonte: www.arquiteturabrutalista.com.br,
coordenao Prof Dr Ruth Verde Zein, FAU-
Mackenzie
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Figura 7
Fonte: Acervo escritrio Elito Arquitetos apresentada em Silva, H.A.A.
Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa
FAU USP
Figura 9
Foto
Figura 7 - Cj. Residencial Nova Cidade, Jundia 1969. Abraho Sanovicz
Fonte: Acervo escritrio Elito Arquitetos apresentada em Silva, H.A.A.
Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa Tese de doutorado.
FAU USP - So Paulo, 2004
Figura 8 - Modular Alfa
Foto: Priscylla Lima
Figura 9 - Edifcio Clermont Paulo Mendes da Rocha
Foto - Priscylla Lima Figura 10 - Edifcios Coronet I e II
Foto - Priscylla Lima
29
Modular Alfa Abraho Sanovicz
Foto: Priscylla Lima
Edifcios Coronet I e II Eduardo de Almeida
Priscylla Lima
-
30
2.5 FORMAESPAO
E O ARQUITETO
ABRAHO SANOVICZ
A produo de habitao de Abraho Sanovicz est diretamente ligada aos edifcios da Formaespao.
Foi ele o arquiteto que mais projetou para a construtora, enquanto a reproduo do Modular fez do
edifcio, um destaque no conjunto de sua obra.
A solicitao de projetar edifcios em srie partiu da construtora. A proposta inicial contemplava prdios
baixos com apartamentos de baixo custo localizados na periferia e edifcios de maior gabarito com
apartamentos de trs quartos para a classe mdia em bairros em expanso imobiliria na cidade.
A encomenda representou, para o arquiteto, a oportunidade de aplicar princpios do desenho industrial
em projeto de edifcios.
O interesse pelo desenho industrial surgiu ainda como estudante na FAU-USP, onde se formou em
1958. Aps trabalhar com design em Milo na Itlia, no Studio de Marcello Nizzoli, retornou ao Brasil no
incio dos anos 60 e tornou-se professor de desenho industrial na prpria FAU, no momento de
discusso da formao do arquiteto decorrida da reforma do ensino de 1962, conduzida por Vilanova
Artigas.
Sanovicz acreditava que o design, no Brasil, deveria ser levado ao edifcio, levando em conta a questo
habitacional que considera, alm de vantagens da produo em grande escala, uma maneira de levar
qualidade de desenho a um nmero maior de pessoas. Sobre o Modular, declarou:
-
31
Com esse projeto, eu tinha um prottipo, e estava finalmente conseguindo mostrar
que era possvel levar todo aquele conhecimento da arquitetura [que, at ento eram
aplicados em projetos diferenciados que, no caso, eram clientes do nosso mbito de
amizades] expandindo essa nova linguagem para pessoas desconhecidas porque ns
no sabamos quem era o cliente 7
.
A transposio do desenho industrial enquanto mtodo de projeto ao edifcio se consistiu na aplicao
de elementos padronizados sobre estruturas moldadas in loco e racionalizadas em sua execuo.
Segundo IMBRONITO, componentes e estrutura eram compatibilizados em suas medidas utilizando
princpios da coordenao modular. Na concepo do projeto, estavam contidos os procedimentos de
obra e as etapas de construo.
Abraho Sanovicz estabeleceu para a Formaespao algumas premissas produo dos edifcios:
Planta livre de pilares internos, possibilitando diferentes arranjos;
Estrutura na periferia do edifcio, com vos que no solicitassem recursos sofisticados como a
laje nervurada ou o caixo perdido;
Circulao vertical no meio do edifcio, criando assim, duas habitaes por andar, simtricas;
7 Sanovicz faz uma leitura da emancipao atravs do desenho para Artigas, segundo o qual o desenho s adquire este papel quando vinculado ao conhecimento do saber fazer, e aplicado de maneira ampla, atravs da participao do arquiteto nas diversas escalas. Ver Catherine Gati em PMSP, CCSP, op. cit., entrevista em 28/10/1987, p1.
-
32
Eliminao de corredores internos, resultando em um desenho que, a partir do eixo longitudinal
do apartamento, distribui-se alinhados de um lado os quartos e servio e do outro, a sala livre
mais os banheiros, implantados praticamente como um volume independente;
Os pilares, vigas e lajes deveriam ser concretados de uma nica vez formando a estrutura
fundamental do prdio;
Vos deixados entre as vigas-peitoril permitiriam a chegada dos caixilhos obra praticamente
prontos;
As divisrias internas seriam executadas com painis de gesso pr-moldados, com sete cm de
espessura, 50 cm de largura e o comprimento igual ao p direito;
As instalaes hidrulicas seriam reduzidas a poucas prumadas;
Modulao estrutural, permitindo o reaproveitamento das formas e padronizao das
dimenses das diversas partes da estrutura, de maneira a possibilitar que toda a
Ferragem, racionalizada, fosse produzida fora do canteiro.
O arquiteto afirma:
A construo comea ento a se tornar montagem de suas partes, num compromisso
entre o sistema tradicional construtivo e as possibilidades industriais do mercado. Os
elementos de acabamento da obra so os normais do mercado. Os elementos
essenciais do projeto, racionalizados, possibilitam aos setores de planejamento de
-
33
obra determinarem com preciso maior, os custos e os tempos de execuo da
mesma8.
A preocupao de Sanovicz em conciliar o desenho industrial ao projeto de arquitetura anterior
experincia da Formaespao. Surgiu em 1963, no edifcio da Rua Par, no bairro paulistano de
Higienpolis. Esta relao entre edifcios ocorre na idealizao do projeto e na proposta construtiva. O
edifcio da Rua Par [Figuras 11 a 14] possui planta retangular com estrutura regularizada em concreto
aparente e concentra um ncleo de instalaes banhos, circulaes verticais e estrutura central. A
face sul contempla os servios, enquanto quartos e salas se voltam para o norte, sendo que as salas
ocupam tambm as extremidades do edifcio. Estas fachadas, tirando os servios, recebem
externamente um brise produzido industrialmente. Outro edifcio, contemporneo aos Modulares, mas
feito fora da Formaespao, o edifcio da Rua Fiandeiras, de 1972 [Figuras 15 e 16]. Este ltimo adota,
para solucionar as aberturas, um elemento pr-moldado de concreto na fachada, que recebe caixilhos e
blocos vazados de concreto.
8 Declarao de Abraho Sanovicz extrada do volume Sistematizao Crtica da Obra de Arquitetura para Obteno do Ttulo de Livre Docente. SANOVICZ, Abraho. FAU-USP. So Paulo, 1997. P.51.
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34
Figura 11- Ed. Rua Par Planta Pavimento Tipo Fonte:
Silva, H.A.A. Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa
Tese de doutorado. FAU USP - So Paulo, 2004
Figura 12 - Ed. Rua Par Implantao
Fonte: Silva, H.A.A. Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa Tese de
doutorado. FAU USP - So Paulo, 2004
Figura 13 - Ed. Rua Par - Elevao Lateral / Corte
Fonte: Silva, H.A.A. Abraho Sanovicz: O Projeto como
Pesquisa Tese de doutorado. FAU USP - So Paulo, 2004
Figura 14 - Ed. Rua Par, So Paulo 1963.
Fonte: Silva, H.A.A. Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa Tese de
doutorado. FAU USP - So Paulo, 2004
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Figura 15 Edifcio Fiandeiras, So Paulo 1972.
Fonte: Acervo escritrio Elito Arquitetos apresentada em
Silva, H.A.A. Abraho Sanovicz: O Projeto como Pesquisa
Tese de doutorado. FAU USP - So Paulo, 2004
Figura 16 Edifcio Fiandeiras, So Paulo 1972.
Fonte: Acervo escritrio Elito Arquitetos apresentada em Silva, H.A.A. Abraho
Sanovicz: O Projeto como Pesquisa Tese de doutorado. FAU USP - So Paulo,
2004
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36
Os edifcios projetados pelo arquiteto para a Formaespao so de trs tipos, nomeados por Sanovicz de
Edifcios Modulares:
EDIFCIOS MODULARES DE TRS PAVIMENTOS
CONJUNTO NOVA CIDADE E QUATRO MARIAS
So conjuntos econmicos implantados em grandes lotes afastados da capital paulista, sendo o
primeiro em Jundia e o segundo em So Bernardo do Campo. De modo geral, so compostos por
edifcios de trs pavimentos, mais trreo livre. Os edifcios so formados por blocos retangulares
contendo dois apartamentos por andar. Dois blocos dispostos paralelamente so unidos pela circulao
vertical. Este mesmo arranjo utilizado na composio de conjuntos maiores. O apartamento com rea
til de 74m contm trs quartos, sala, um banheiro, cozinha e rea de servio.
EDIFCIO MODULARES DE DOIS QUARTOS
GRANJA JULIETA E OLYMPIA
So dois edifcios, um de 16 e outro de 10 pavimentos, tambm compostos por dois blocos unidos pela
circulao vertical. Em cada um dos blocos, so dispostos dois apartamentos de 82m, com dois
quartos, sala, cozinha, banheiro, rea de servio, quarto e banheiro de empregada.
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37
EDIFCIOS MODULARES DE TRS QUARTOS
MODULAR ALFA, BETA, GAMA, DELTA I E II, EPSILON E DZETA
Os Edifcios Modulares de 11 pavimentos so dimensionados para se adaptar em lotes urbanos de
20x50m. Os edifcios em lmina contm dois apartamentos por andar de 125m, divididos em trs
quartos, tendo um deles banheiro privativo, mais um banheiro que serve os outros dois quartos,
cozinha, lavanderia, quarto e banheiro de empregada. Circulao vertical contida no centro do edifcio.
Todos esses prdios foram implantados prximos uns aos outros, na regio do bairro de Moema.
Posteriormente, o projeto-padro foi modificado e implantado em outros bairros.
O primeiro projeto de Abraho Sanovicz para a Formaespao foi um conjunto de 22 casas com
cobertura em abbodas no Jardim Prudncia, em 1968. Este pequeno conjunto j considerou questes
de um projeto em srie, porm tratando-se de um programa de residncia unifamiliar, no ser
estudado neste trabalho assim como o primeiro subgrupo dos Edifcios Modulares de Trs Pavimentos
composto pelo Conjunto Nova Cidade [Jundia, 1969] e Quatro Marias [So Bernardo do Campo, 1972]
que apresentam como principais premissas a construo de menor valor econmico, baixo gabarito e
no caso do Conjunto Nova Cidade um programa misto, distanciando-se do foco principal deste estudo.
Do grupo de Edifcios Modulares, foram selecionados para anlise um exemplar dos Edifcios Modulares
de Dois Quartos Edifcio Granja Julieta e dois exemplares dos Edifcios Modulares de Trs Quartos
Modular Alfa e Modular Delta I e II.
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O edifcio Modular Alfa
seqncia de edifcios de onze pavimentos real
Figura 17 Edifcio Modular Alfa, So Paulo
Foto - Priscylla Lima
O edifcio Modular Alfa de 1970, localiza-se na Rua Grana, 271, Moema. F
seqncia de edifcios de onze pavimentos realizado pela Formaespao [Figuras 17 e 18]
Edifcio Modular Alfa, So Paulo 1970.
Priscylla Lima Figura 18 Edifcio Modular Alfa, So Paulo
Foto - Priscylla Lima
se na Rua Grana, 271, Moema. Foi o pioneiro de uma
[Figuras 17 e 18].
Edifcio Modular Alfa, So Paulo 1970.
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Edifcio em lmina sobre pilotis,
lote de 20x50m. Os prdios foram construdos com menor gabarito e ocupao do terreno, tornando
possvel adotar ndices urbansticos menores que os permitidos por lei
lotes foram comprados em regies, na poca, mais afastadas do centro da cidade. Sendo assim,
conseguiram reverter em benefcios para o prdio o custo menor do terreno.
O trreo configura uma praa que faz o acesso e comporta equipamentos para as cri
jardins.
circulao vertical. Esta ocupao recuada apenas o suficiente para garantir a identificao do espao
do piloti e tambm para desenhar uma ci
19 e 20]
Figura 19
Foto
9 O coeficiente de aproveitequivalente para Modular Beta. Dados extrados da dissertao de mestrado VILARIO, Maria do Carmo de So PauloPaulo, 2000. P.260.10 Alguns edifcios exibem junto rua, escultura de Cacipor Torres.
Edifcio em lmina sobre pilotis, os Modulares possuem uma volumetria que decorre da ocupao do
lote de 20x50m. Os prdios foram construdos com menor gabarito e ocupao do terreno, tornando
possvel adotar ndices urbansticos menores que os permitidos por lei
lotes foram comprados em regies, na poca, mais afastadas do centro da cidade. Sendo assim,
conseguiram reverter em benefcios para o prdio o custo menor do terreno.
O trreo configura uma praa que faz o acesso e comporta equipamentos para as cri
jardins.10 O mesmo, no permanece livre. O piloti ocupado abriga funes comuns e o acesso
circulao vertical. Esta ocupao recuada apenas o suficiente para garantir a identificao do espao
do piloti e tambm para desenhar uma circulao externa coberta, que conduz aos elevadores
19 e 20].
Figura 19 Edifcio Modular Alfa, So Paulo 1970.
Foto - Priscylla Lima Figura 20 Edifcio Modular Alfa
Foto - Priscylla Lima
O coeficiente de aproveitamento em vigor era seis. A rea construda corresponde a pouco mais da metade do permitido segundo clculo
equivalente para Modular Beta. Dados extrados da dissertao de mestrado VILARIO, Maria do Carmo de So Paulo dos anos 30 aos anos 80. Investigao acerca da contribuio dos arquitetos modernos ao tema. Estudos de Caso. FAUPaulo, 2000. P.260.
Alguns edifcios exibem junto rua, escultura de Cacipor Torres.
39
os Modulares possuem uma volumetria que decorre da ocupao do
lote de 20x50m. Os prdios foram construdos com menor gabarito e ocupao do terreno, tornando
possvel adotar ndices urbansticos menores que os permitidos por lei 9. Por opo da construtora, os
lotes foram comprados em regies, na poca, mais afastadas do centro da cidade. Sendo assim,
conseguiram reverter em benefcios para o prdio o custo menor do terreno.
O trreo configura uma praa que faz o acesso e comporta equipamentos para as crianas, esculturas e
O mesmo, no permanece livre. O piloti ocupado abriga funes comuns e o acesso
circulao vertical. Esta ocupao recuada apenas o suficiente para garantir a identificao do espao
rculao externa coberta, que conduz aos elevadores [Figuras
Edifcio Modular Alfa, So Paulo 1970
Priscylla Lima
amento em vigor era seis. A rea construda corresponde a pouco mais da metade do permitido segundo clculo equivalente para Modular Beta. Dados extrados da dissertao de mestrado VILARIO, Maria do Carmo - Habitao Verticalizada na Cidade
dos anos 30 aos anos 80. Investigao acerca da contribuio dos arquitetos modernos ao tema. Estudos de Caso. FAU-USP. So
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Foto - Priscylla Lima
No dimensionamento de sua volumetria, o edifcio largo o suficiente para comportar internamente
dois ambientes, e estreito o suficiente para resolver o vo transversal de 7,50m em dois apoios,
evitando o pilar central e deixando livre a planta do andar. 11 Esta planta livre, confere ao apartamento
uma excelente flexibilidade, exceto pelas instalaes, uma vez que as divisrias entre os ambientes so
leves e os caixilhos homogneos.
A circulao vertical central permite acesso a dois apartamentos, com entradas separadas para a sala e
a cozinha. O apartamento cumpre o programa estabelecido pela Formaespao setorizado
longitudinalmente: de um lado agrupam-se os servios, cozinha e quartos que so articulados pela sala.
Nenhum ambiente transpe o edifcio no sentido transversal: quartos cozinha e servio abrem-se para
uma fachada enquanto sala e banheiros abrem-se para a outra. Para garantir boa orientao solar dos
quartos, o edifcio poderia ser implantado rebatido. A disposio da planta permite ainda iluminar o hall
de acesso aos apartamentos.
Caracterstica do Modulares, as empenas estruturais longitudinais so uma trama de pilares e vigas-
peitoris e contm todas as aberturas do edifcio sendo, portanto, repletas de vos. Desta forma, a
elevao longitudinal definida pela prpria estrutura.
11 Abraho Sanovicz, em depoimento para a pesquisadora Catherine Gati, fala sobre a importncia de compreender os postulados da arquitetura moderna, e no apenas adot-los como dogma. Lembra ento com propriedade de Lcio Costa, no projeto do Ministrio da Educao no Rio de Janeiro, utiliza o piloti e a planta livre. No primeiro caso, o edifcio ensaia a cidade. No segundo, no enrijece o programa. Ver entrevista pesquisadora Catherine Gati, PMSP, CCSP, idem, entrevista em 12/03/1988, PP. 2-5.
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41
Os balanos que avanam nas extremidades sustentam as paredes cegas de bloco de concreto que
definem o edifcio em sua menor dimenso.
Na compreenso do processo de projeto dos Edifcios Modulares, nota-se novamente construo e
arquitetura numa relao indissocivel, com reduo dos elementos e procedimentos construtivos ao
essencial. Construtivamente, os edifcios foram pensados em termos de estrutura, leves vedaes
internas e vos preenchidos com caixilhos.
O objetivo da construtora era produzir um Modular em 280 dias. A estrutura de concreto moldada in
loco e deixada aparente adotava frmas reutilizveis para fazer as empenas12, as vigas transversais
vencendo 7,50m e as lajes vencendo 3,00m. A exceo era o ncleo central e escada13. As nicas
vedaes, de frente e fundo do edifcio, eram executadas por dentro e permaneceriam aparentes
externamente. Aps esta etapa, os componentes eram acrescentados. Os caixilhos modulados de
alumnio eram fixados por dentro e suprimiam acabamentos. Para evitar desperdcio na obra e diminuir
o trnsito de argamassa e bloco de vedao, optou-se por paredes internas em painis de gesso de sete
cm de espessura. Os painis leves permitiram economia no dimensionamento da estrutura e fundaes,
alm de apresentar maior rendimento na colocao e acabamento pronto para receber pintura.
Armrios modulados faziam a diviso entre os quartos.
12 Dados extrados das entrevistas com o engenheiro Sergio Facchini para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003. 13 Dados extrados da dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003.
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42
A instalao hidrulica dos banheiros foi resolvida com a adoo de um rebaixo localizado junto aos
aparelhos, a gaveta hidrulica. Conforme as palavras do prprio Abraho Sanovicz:
A construo comea a se tornar uma montagem de suas partes, num compromisso
entre o sistema tradicional construtivo e as possibilidades industriais do mercado14
.
O edifcio Modular Alfa, por ser o primeiro dos Modulares de 11 pavimentos, tornou-se um modelo em
escala real do edifcio produzido em srie15. O fato de serem edifcios repetidos permitiu que fossem
feitos ajustes de modo a corrigir problemas e propor alteraes construtivas. Assim, o sistema resolvido
e bem configurado de prdios abriga um processo de evoluo do projeto. Com um olhar mais atento,
IMBRONITO aponta diferenas que demonstram um caminho de decises tcnicas e financeiras. A viga
peitoril em concreto, por exemplo, aparece apenas nos Modulares Alfa, Beta e Gama. Foi substituda
nos Modulares Delta, Epsilon e Dzeta por uma viga de menor altura e painis de concreto completando
o vo at o caixilho, provavelmente para reduzir custos. Existe variao tambm no desenho dos
caixilhos e em certos detalhes construtivos, como a adoo de pingadeiras para evitar percolao de
gua nos balanos das fachadas transversais.
14 Sanovicz, ibidem, p.51. 15 Depoimento de Sanovicz para Marcos Cartum, PMSP, CCSP, op. cit., entrevista em 11/10/1984, p.6.
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PROJETO EDIIFCIO
MODULAR ALFA
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Os seis Modulares construdos em seqncia localizam
destacam
terreno maior, as duas lminas implantadas paralelas foram unidas por uma marquise no trreo.
Localizados Av. Lavandisca, 52, Moema
Figura 21
Foto
Os seis Modulares construdos em seqncia localizam-se todos nas imediaes do pri
destacam-se os edifcios Delta I e II por sua implantao [Figuras 21, 22, 23 e 24].
terreno maior, as duas lminas implantadas paralelas foram unidas por uma marquise no trreo.
Localizados Av. Lavandisca, 52, Moema
Figura 21 Modular Delta I e II, So Paulo 1971.
Foto Priscylla Lima Figura 22 Modular Delta I e II, So Paulo
Foto Juliano Barros
47
se todos nas imediaes do primeiro. Destes,
se os edifcios Delta I e II por sua implantao [Figuras 21, 22, 23 e 24]. Por se tratar de um
terreno maior, as duas lminas implantadas paralelas foram unidas por uma marquise no trreo.
Modular Delta I e II, So Paulo 1971.
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Figura 23 Modular Delta I e II, So Paulo
Foto Priscylla Li
Modular Delta I e II, So Paulo 1971.
Priscylla Lima Figura 24 Modular Delta I e II, So Paulo
Foto Juliano Barros
Modular Delta I e II, So Paulo 1971.
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PROJETO EDIFCIO
MODULAR DELTA I E II
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Ainda em 1970, Sanovi
se de edifcios com apartamentos de dois quartos. O edifcio uma composio de dois blocos
paralelos, com circulao vertical independente que serve a ambos. Cada bloco possu
apartamentos. Executado duas vezes, uma no centro de So Bernardo do Campo
10 pavimentos e embasamento comercial e outra em So Paulo, na Granja Juli
na Rua Me. Rita Amada de Jesus, 79
Figura 25
Foto
Ainda em 1970, Sanovicz projetou outro edifcio com sistema construtivo semelhante. Desta vez tratou
se de edifcios com apartamentos de dois quartos. O edifcio uma composio de dois blocos
paralelos, com circulao vertical independente que serve a ambos. Cada bloco possu
apartamentos. Executado duas vezes, uma no centro de So Bernardo do Campo
10 pavimentos e embasamento comercial e outra em So Paulo, na Granja Juli
na Rua Me. Rita Amada de Jesus, 79 Edifcio Granja Julieta [Figuras 25, 26, 27 e 28].
Figura 25 Edifcio Granja Julieta 1971.
Foto Priscylla Lima
Figura 26 Edifcio Granja Julieta
Foto Juliano Barros
53
cz projetou outro edifcio com sistema construtivo semelhante. Desta vez tratou-
se de edifcios com apartamentos de dois quartos. O edifcio uma composio de dois blocos
paralelos, com circulao vertical independente que serve a ambos. Cada bloco possui dois
apartamentos. Executado duas vezes, uma no centro de So Bernardo do Campo Edifcio Olympia com
10 pavimentos e embasamento comercial e outra em So Paulo, na Granja Julieta, mais precisamente
ulieta [Figuras 25, 26, 27 e 28].
Edifcio Granja Julieta 1971.
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Figura 27 Edifcio Granja Julieta
Foto Priscylla Lima
As lminas esto implantadas de modo que sala e quartos se abrem para a vista e os servios se voltam
para dentro. A circulao vertical central configura um volume quase anex
acessa os apartamentos.
O princpio construtivo o mesmo do Modular: fachadas longitudinais definidas por pilares e vigas
peitoril em concreto, vos preenchidos com caixilhos e empenas laterais sem aberturas, com vigas em
balano e
diferenas em relao ao Modular. O vo no sentido transversal de 8,00m Os pilares no seguem uma
modulao to regular e so tambm menos alongados e engrossados para d
Na elevao longitudinal, a marcao da estrutura e a modulao dos caixilhos so menores, e o edifcio
mais estreito, o que lhe confere um carter mais vertical.
Edifcio Granja Julieta 1971.
iscylla Lima Figura 28 Edifcio Granja Julieta 1971.
Foto Priscylla Lima
As lminas esto implantadas de modo que sala e quartos se abrem para a vista e os servios se voltam
para dentro. A circulao vertical central configura um volume quase anex
acessa os apartamentos.
O princpio construtivo o mesmo do Modular: fachadas longitudinais definidas por pilares e vigas
peitoril em concreto, vos preenchidos com caixilhos e empenas laterais sem aberturas, com vigas em
balano em concreto aparente e vedao em blocos de concreto. Seu desenho, entretanto, contm
diferenas em relao ao Modular. O vo no sentido transversal de 8,00m Os pilares no seguem uma
modulao to regular e so tambm menos alongados e engrossados para dentro do apartamento.
Na elevao longitudinal, a marcao da estrutura e a modulao dos caixilhos so menores, e o edifcio
mais estreito, o que lhe confere um carter mais vertical.
1971.
As lminas esto implantadas de modo que sala e quartos se abrem para a vista e os servios se voltam
para dentro. A circulao vertical central configura um volume quase anexo, com um corredor que
O princpio construtivo o mesmo do Modular: fachadas longitudinais definidas por pilares e vigas-
peitoril em concreto, vos preenchidos com caixilhos e empenas laterais sem aberturas, com vigas em
m concreto aparente e vedao em blocos de concreto. Seu desenho, entretanto, contm
diferenas em relao ao Modular. O vo no sentido transversal de 8,00m Os pilares no seguem uma
entro do apartamento.
Na elevao longitudinal, a marcao da estrutura e a modulao dos caixilhos so menores, e o edifcio
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PROJETO EDIFCIO
GRANJA JULIETA
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Os edifcios Modulares de onze pavimentos foram posteriormente adaptados para uma segunda etapa
de produo. So eles: Modular Lambada I e II no bairro do Paraso, So Paulo, Modular Omicron no
bairro do Itaim Bibi, So Paulo; Modular Eta, no bairro de Vila Mariana, So Paulo; Modular mega I, II,
III e IV no bairro de Campo Belo, So Paulo; Modular Sigma I e II e Modular Vega, ambos no bairro de
Perdizes, So Paulo. Apesar de manter a planta quase idntica, o sistema construtivo distanciou-se
muito da proposta original. Diferem dos edifcios anteriores por apresentar pilares de concreto
aparente dispostos perpendicularmente ao sentido da fachada, com vigas de menor altura, no sendo
mais o fechamento longitudinal do edifcio definido pela prpria estrutura, mas por alvenaria de bloco
de concreto aparente, com a diminuio dos vos completados por caixilhos de alumnio.
Uma razo tcnica utilizada para justificar esta alterao relaciona-se principalmente questo da
infiltrao da gua que ocorreu nas juntas da estrutura com a vedao em blocos de concreto. A
alterao estrutural do projeto eliminou este balano. Entretanto, mais que o motivo tcnico, a
substituio das empenas de concreto por alvenarias de bloco para economizar no custo parece uma
justificativa mais razovel. Esta deciso partiu provavelmente da construtora, levando-se em conta que
a nova estrutura adotada no edifcio de Sanovicz foi utilizada em outros prdios da Formaespao16.
O ltimo edifcio seguindo o sistema estrutural dos Modulares o edifcio Modulinho. Este prdio
tambm foi construdo com a estrutura modificada e pilares perpendiculares fachada. Em planta
16 Dados extrados das entrevistas com o arquiteto Joo Honrio de Mello Filho para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003.
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corresponde aos dois Modulares de dois quartos que ajudam a compor o conjunto construdo na Rua
Vieira de Moraes, no Campo Belo, junto a dois Modulares de trs quartos dispostos em linha [Figura
29].
Figura 29 Planta Edifcio Modulinho
Fonte Acervo Abraho Sanovicz - Biblioteca FAU USP.
Em depoimento, o arquiteto diz que teria avanado sua pesquisa no sentido de incorporar
componentes aos edifcios17. Seu objetivo era oferecer um edifcio com maior ou menor nmero de
equipamentos, que compara a um automvel, ao qual se acoplam acessrios. Estes estudos foram
interrompidos por conta do fim da Formaespao.
A apreciao dos edifcios Modulares e a descrio de sua construo evidenciaram a sobreposio do
desenho industrial e arquitetura no trabalho de Abraho Sanovicz. Revelam ainda que o
desenvolvimento do sistema construtivo no se resolve enquanto condio desvinculada da
arquitetura. Conforme disse o arquiteto:
17 Entrevista de Abraho Sanovicz pesquisadora Catherine Gati. CCSP, ibidem, entrevista em 19/08/1987, pp. 23-25.
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As tcnicas e a tecnologia so os meios e no os fins em arquitetura. Tanto as
tcnicas quanto os materiais construtivos so meios e esto embutidos no projeto,
fazendo parte da concepo inicial, do ato de projetar e no surgindo a posteriori.
A soluo ao problema apresentado, o projeto, tem que ser por inteiro, de uma s
vez18
.
18 Entrevista Abraho Velvu Sanovicz, resenha Lucinda Ferreira Prestes. Cadernos de Arquitetura FAU-USP, v.1, So Paulo, 2001, p.81.
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2.6 FORMAESPAO
E O ARQUITETO
EDUARDO DE ALMEIDA
Ao conhecer a obra do arquiteto Eduardo de Almeida, nota-se o mtodo utilizado pelo arquiteto para
projetar. O predomnio do particular sobre o geral, fato que se acentua na medida em que projeta a
partir do programa, do cliente, das especificidades, dos materiais, do lugar. Ainda assim, o princpio
organizativo com que formula as questes espaciais, programticas e construtivas fez do Edifcio
Gemini, que foi idealizado como projeto nico, um edifcio possvel de ser reproduzido.
Ao projetar, faz parte do processo de criao do arquiteto, um sistema de medidas destinado a resolver
construo e programa. Para a modulao estrutural adequada, aplica-se o princpio da diviso ou
composio do mdulo para dimensionamento dos espaos. Para a ordenao do sistema estrutural
insere-se o programa, ao mesmo tempo em que este define dimenso, arranjo e nmero de mdulos.
Medidas mnimas podem ser adotadas para circulao e servios, e dimenses mais generosas para o
espao servido, seguindo uma lgica que permite uma maior complexidade na articulao dos
programas.
Este rigor possibilita grande liberdade compositiva, proporcionada pela clareza ao lidar com as regras do
ato de projetar. A disposio da estrutura, a definio dos espaos e a composio de planos e
aberturas revelam a permanente busca pela evidncia do desempenho de cada uma das partes da
construo. O projeto resulta numa unidade proporcionada pela estrutura, que se estende ao
detalhamento e escolha dos materiais. A independncia dos elementos construtivos permite o
aprofundamento do desenho de cada uma das partes, que se remetem ao todo atravs da articulao
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dos componentes e da definio de alinhamento e propores. O detalhamento, segundo o arquiteto,
consequncia do desenvolvimento do projeto e a ele se incorpora19.
O primeiro projeto que Eduardo de Almeida fez para a Formaespao foram os Edifcios Gemini I e II, em
1969. O Gemini foi inicialmente concebido para uma situao especfica, e s depois adaptado para a
produo em srie20. Implantados sempre aos pares, foram repetidos mais duas vezes: edifcios Coronet
I e II e Lark I e II.
Sem a preocupao explcita em propor o edifcio como um sistema de montagem, pode-se dizer que o
arquiteto assume uma abordagem semelhante de Abraho Sanovicz nos edifcios Modulares. Almeida
compartilha com Sanovicz uma aproximao com o desenho industrial21. A arquitetura do Gemini, em
sua concepo inicial, comportou princpios organizativos que, posteriormente, permitiram a sua
repetio. A racionalizao do projeto no inclui apenas a reduo de elementos e etapas construtivas.
O projeto definidor dos espaos e, ao mesmo tempo, organiza o ato de construir. Identificam-se os
elementos construtivos, compondo-se para se tornarem a expresso da arquitetura. A estrutura, os
fechamentos sem revestimentos e as aberturas definem por si s, composio, cor, textura, ritmo e
19 Colocaes a partir de conversas com o arquiteto, ao procurar descrever seu mtodo de projeto. A frase de Almeida, o melhor detalhe aquele que no se v, ilustra como o detalhe deve se incorporar ao projeto. Dados extrados da dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003. 20 A comparao entre os edifcios Gemini e os edifcios Lark e Coronet so abordados por Eduardo de Almeida em sua tese de doutorado. Ver ALMEIDA, Eduardo. Habitao: consumo, produto, projeto Tese de doutorado. FAU-USP. So Paulo, 1972. 21 Eduardo de Almeida formou-se pela FAU-USP em 1960, estudou desenho industrial na Itlia em 1962 e lecionou desenho industrial na FAU-USP, antes de se tornar professor de projeto de edificaes.
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ordenao das fachadas. Novamente, os procedimentos da obra esto
trata de uma arquitetura que considera o ato de fazer.
EDIFCIO GEMINI
No Gemini [Figura 30], o terreno de esquina apresenta leve inclinao, com a Rua Grana em nvel e a
Rua Tuim em declive, o que sugeriu a implanta
pela Rua Tuim. A laje que cobre a garagem desenha o espao livre do trreo
elevado para a Rua Grana. O desnvel do subsolo comparece novamente no cho da praa do trreo,
com uma pa
Figura 30 Edifcio Gemini, So Paulo
Foto Priscylla Lima
ordenao das fachadas. Novamente, os procedimentos da obra esto previstos no desenho, pois se
trata de uma arquitetura que considera o ato de fazer.
EDIFCIO GEMINI I e II
Gemini [Figura 30], o terreno de esquina apresenta leve inclinao, com a Rua Grana em nvel e a
Rua Tuim em declive, o que sugeriu a implantao da garagem em dois nveis, com acessos diretamente
pela Rua Tuim. A laje que cobre a garagem desenha o espao livre do trreo
elevado para a Rua Grana. O desnvel do subsolo comparece novamente no cho da praa do trreo,
com uma parte mais preservada ao fundo, ligeiramente rebaixada que abriga o
Edifcio Gemini, So Paulo 1969.
Priscylla Lima Figura 31 Edifcio Gemini, So Paulo 1969.
Foto Priscylla Lima
previstos no desenho, pois se
Gemini [Figura 30], o terreno de esquina apresenta leve inclinao, com a Rua Grana em nvel e a
o da garagem em dois nveis, com acessos diretamente
pela Rua Tuim. A laje que cobre a garagem desenha o espao livre do trreo, aberto e um pouco
elevado para a Rua Grana. O desnvel do subsolo comparece novamente no cho da praa do trreo,
rte mais preservada ao fundo, ligeiramente rebaixada que abriga o playground [Figura 31].
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Esta laje faz o embasamento de onde emergem as duas torres. Muito prximas e levemente deslocadas,
a mais saliente demarca a esquina. A outra surge depois, recuada, como uma surpresa no percurso
confirmando a primeira. Os edifcios com dez pavimentos e quatro apartamentos por andar, assim
como os Modulares de Sanovicz, apresentam coeficiente de aproveitamento menor que o previsto por
lei, mas de acordo com a opo da construtora por lotes mais baratos e afastados.
Os edifcios possuem estrutura regular composta por quatro linhas de pilares de concreto, aparentes
nas elevaes que contm quarto e sala espaados a cada 5,50m, com balano nas quinas. Os pilares
mantm a seco constante, ocorrendo variao apenas na ferragem, para permitir o reaproveitamento
das formas. No outro sentido do edifcio, o vo varivel e os pilares so recuados da fachada.
Na disposio do programa da unidade configuram-se o estar, os quartos e os servios, sendo o acesso
feito atravs de um vestbulo que conecta os trs setores. Alm da independncia de circulao, a
planta concentra reas molhadas e apresenta flexibilidade quanto s divises de quartos e sala. Estes se
abrem para frente e fundo do terreno, onde o espao livre desenhado pelas praas. Os servios
posicionam-se na lateral das torres, em que o recuo menor. A disposio das aberturas de quarto e
sala, e a implantao deslocada das torres em relao aos servios, garantem a privacidade dos
apartamentos.
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No Gemini, a construo visava apenas a o
tcnicas mais artesanais, como o tijolo de barro como material de vedao [Figuras 32 e 33]. O tijolo de
barro aparente, irregular na forma, cor, textura e pobre na qualidade de fabricao, alm de
comportamento fsico, forma o contraste com a volumetria pura das torres. Por no apresentar
medidas padronizadas, seu assentamento absolutamente artesanal que permite a adaptao aos vos
da estrutura. O arquiteto pde assumir ento, uma mo
partir de uma retcula de 50x50cm.
Figura 32 Edifcio Gemini, So Paulo
Foto Priscylla Lima
No Gemini, a construo visava apenas a organizao do sistema tradicional. Assim, foram utilizadas
tcnicas mais artesanais, como o tijolo de barro como material de vedao [Figuras 32 e 33]. O tijolo de
barro aparente, irregular na forma, cor, textura e pobre na qualidade de fabricao, alm de
comportamento fsico, forma o contraste com a volumetria pura das torres. Por no apresentar
medidas padronizadas, seu assentamento absolutamente artesanal que permite a adaptao aos vos
da estrutura. O arquiteto pde assumir ento, uma modulao rigorosa [Figura 34]. O edifcio nasce a
partir de uma retcula de 50x50cm.
Edifcio Gemini, So Paulo 1969.
Priscylla Lima Figura 33 Edifcio Gemini, So Paulo
Foto Priscylla Lima
rganizao do sistema tradicional. Assim, foram utilizadas
tcnicas mais artesanais, como o tijolo de barro como material de vedao [Figuras 32 e 33]. O tijolo de
barro aparente, irregular na forma, cor, textura e pobre na qualidade de fabricao, alm de instvel no
comportamento fsico, forma o contraste com a volumetria pura das torres. Por no apresentar
medidas padronizadas, seu assentamento absolutamente artesanal que permite a adaptao aos vos
dulao rigorosa [Figura 34]. O edifcio nasce a
Edifcio Gemini, So Paulo 1969.
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Figura 34 Edifcio Gemini, So Paulo 1969.
Foto Priscylla Lima
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PROJETO
GEMINI I E II
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EDIFCIOS CORONET E LARK
A partir do grande sucesso de vendas, o E
para ser produzido em srie. Segundo o arquiteto em termos de metodologia, foi de valia a experincia
dos Modulares, do arquiteto Abraho Sanovicz, e tambm o fato do Gemini servir como modelo
construdo para os novos edifcios
racionalizar ainda mais a construo. Foram ento revistos planta, estrutura e materiais.
Figura 35
Foto
22 Almeida, op. cit., p.25.
EDIFCIOS CORONET E LARK
A partir do grande sucesso de vendas, o Edifcio Gemini foi modificado por solicitao da construtora
para ser produzido em srie. Segundo o arquiteto em termos de metodologia, foi de valia a experincia
dos Modulares, do arquiteto Abraho Sanovicz, e tambm o fato do Gemini servir como modelo
nstrudo para os novos edifcios22. Nos edifcios Coronet e Lark
racionalizar ainda mais a construo. Foram ento revistos planta, estrutura e materiais.
Figura 35 Edifcio Coronet, So Paulo 1973
Foto Priscylla Lima Figura 36 Edifcio Lark, So Paulo
Almeida, op. cit., p.25.
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difcio Gemini foi modificado por solicitao da construtora
para ser produzido em srie. Segundo o arquiteto em termos de metodologia, foi de valia a experincia
dos Modulares, do arquiteto Abraho Sanovicz, e tambm o fato do Gemini servir como modelo
[Figuras 35 e 36], objetivo era
racionalizar ainda mais a construo. Foram ento revistos planta, estrutura e materiais.
Edifcio Lark, So Paulo 1973
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A planta bsica foi mantida. Apenas as reas molhadas foram redesenhadas para concentrar prumadas:
as instalaes da cozinha, rea de servio e banheiro posicionam-se a uma nica parede hidrulica, e o
mesmo acontece com os banheiros de servio de dois apartamentos justapostos.
A estrutura modificou-se e se tornou mais perifrica, ficando aparente nas quatro elevaes, com o
ncleo de circulao vertical funcionando como enrijecimento do sistema. O nmero de apoios final foi
reduzido e as frmas racionalizadas. Manteve-se o balano estrutural, resultando nos quatro cantos
sem apoios.
Como alternativa ao tijolo de barro, foi inicialmente estudado um fechamento externo do edifcio com
painis pr-fabricados de concreto com agregado leve e gesso na face interna. Este detalhe foi
desenvolvido pelo arquiteto Joo Honrio de Mello Filho e no se viabilizou. Segundo o arquiteto,
estrutura de concreto moldada in loco no comporta o rigor necessrio para a adoo de elementos
pr-fabricados. Alm disso, a instabilidade da economia brasileira desestimulou o investimento na pr-
fabricao que exige uma continuidade do processo de produo uma vez que os custos iniciais so
bem elevados23.
A vedao de tijolo foi ento substituda pelo bloco de concreto, que apresenta maior rendimento na
colocao. Os blocos foram especialmente produzidos para a Formaespao, apresentando frisos
23 Dados extrados da entrevista com o arquiteto Joo Honrio de Mello Filho, para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003.
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verticais marcados que definem a textura das pare
substitudas por painis de gesso, mais leves, facilitando a execuo da obra e aliviando estruturas e
fundaes. Foram adotados caixilhos de alumnio modulados, dispensando acabamento.
O edifcio Coronet [Fig
Cancioneiro Popular e Bela Vista, possui implantao
invertidas
desenho original no previu outro controle de acesso seno o desnvel ajustado com taludes.
Figura 37
Foto
24 Dados extrados da entrevista com o arquiteto Eduardo de Almeida, para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU
verticais marcados que definem a textura das paredes de vedao24
substitudas por painis de gesso, mais leves, facilitando a execuo da obra e aliviando estruturas e
fundaes. Foram adotados caixilhos de alumnio modulados, dispensando acabamento.
edifcio Coronet [Figuras 37 e 38] localizado no bairro de Santo Amaro, na esquina das Ruas
Cancioneiro Popular e Bela Vista, possui implantao similar ao Gemini, mas
invertidas. A laje de cobertura da garagem eleva a praa do trreo em relao ao
desenho original no previu outro controle de acesso seno o desnvel ajustado com taludes.
Figura 37 Edifcio Coronet, So Paulo 1973.
Foto Priscylla Lima Figura 38 Edifcio Coronet, So Paulo
Foto Priscylla Lima
Dados extrados da entrevista com o arquiteto Eduardo de Almeida, para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel
Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 200
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24. As alvenarias internas foram
substitudas por painis de gesso, mais leves, facilitando a execuo da obra e aliviando estruturas e
fundaes. Foram adotados caixilhos de alumnio modulados, dispensando acabamento.
localizado no bairro de Santo Amaro, na esquina das Ruas
similar ao Gemini, mas com a disposio das torres
. A laje de cobertura da garagem eleva a praa do trreo em relao ao nvel da rua, e o
desenho original no previu outro controle de acesso seno o desnvel ajustado com taludes.
Edifcio Coronet, So Paulo 1973.
Dados extrados da entrevista com o arquiteto Eduardo de Almeida, para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs USP. So Paulo, 2003.
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O edifcio Lark [Figura 39], situado Rua Monte Alegre, Perdizes, por sua vez, tem suas torres
implantadas em terreno estreito e comprido de 30x100m, em aclive, com as torres dispostas uma atrs
da outra. A laje que cobre a garagem e faz o desenho do trreo acompanha o desnvel do terreno,
subindo um patamar correspondente altura da viga a cada 7,20m, medida do vo da estrutura.
Figura 39 Edifcio Lark, So Paulo 1973.
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PROJETO EDIFCIO
CORONET I E II
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PROJETO EDIFCIO
LARK I E II
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2.7 FORMAESPAO
E O ARQUITETO
PAULO MENDES DA ROCHA
Para Paulo Mendes da Rocha, a proposta da Formaespao de fazer edifcios em srie representou,
principalmente, uma oportunidade de ensaiar a tipologia de habitao. Constata-se a partir de outros
projetos que, para o arquiteto, o ensaio da tipologia supera o fato de projetar um edifcio em srie.
Reforando os preceitos de Vilanova Artigas, Mendes da Rocha afirma que a habitao, em grande
parte, unidade bsica de composio do tecido urbano, em que o extraordinrio pode resultar seu
conjunto. A casa isolada enquanto objeto extraordinrio na cidade, no desejada25. Para o arquiteto, o
programa da habitao ampara-se na cidade. Consideram-se distncias, fluxos, transportes, a escola, o
trabalho, o clube, o mercado26.
Internamente, o programa da habitao atende s funes da vida moderna sendo, suporte para os
modernos equipamentos. No mais, corresponde ao prprio espao da habitao27. Este espao
configura a disposio espacial de um programa formulado coletivamente em So Paulo a partir dos
anos 60.
25 Dados extrados da entrevista com o arquiteto Joo Honrio de Mello Filho, para a dissertao de mestrado IMBRONITO, Maria Isabel - Trs Edifcios de Habitao para a Formaespao: Modulares, Gemini e Prottipo. FAU-USP. So Paulo, 2003. 26 Ver depoimento gravado em vdeo. ROCHA, Paulo Mendes da. 16/10/97. So Paulo: Pini Vdeo, Museu da Casa Brasileira. Fita VHS [75min] 27 Ver depoimento gravado em vdeo. ROCHA, Paulo Mendes da. 16/10/97. So Paulo: Pini Vdeo, Museu da Casa Brasileira. Fita VHS [75min]
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Paulo Mendes da Rocha projetou para a Formaespao os edifcios Clermont, na Rua Jauaperi de 1973
[Figura 40] e o Prottipo de 1972, sendo o primeiro executado e o segundo no.
Figura 40 Edifcio Clermont, So Paulo 1973
Foto - Priscylla Lima
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Para uma maio
corte como tambm o desenho da estrutura e a implantao do edifcio. Alm da funo primria, as
estruturas desenham, sobretudo, os espaos. As implantaes, por sua vez,
volume construdo e o desenho do cho, redefinindo o lugar, as topografias e a relao com a cidade
[Figura 41].
Figura 41 Edifcio Clermont, So Paulo
Foto - Priscylla Lima
Para uma maior abordagem da tipologia Mendes da Rocha afirma que vale considerar, no s planta e
corte como tambm o desenho da estrutura e a implantao do edifcio. Alm da funo primria, as
estruturas desenham, sobretudo, os espaos. As implantaes, por sua vez,
volume construdo e o desenho do cho, redefinindo o lugar, as topografias e a relao com a cidade
[Figura 41].
Edifcio Clermont, So Paulo 1973
Priscylla Lima Figura 42 Edifcio Clermont, So Paulo
Foto - Priscylla Lima
r abordagem da tipologia Mendes da Rocha afirma que vale considerar, no s planta e
corte como tambm o desenho da estrutura e a implantao do edifcio. Alm da funo primria, as
estruturas desenham, sobretudo, os espaos. As implantaes, por sua vez, trabalham a relao do
volume construdo e o desenho do cho, redefinindo o lugar, as topografias e a relao com a cidade
Edifcio Clermont, So Paulo 1973
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Iniciando pelas plantas e cortes, nota-se que a pesquisa tipolgica do arquiteto caminha numa mesma
direo. Tanto nos edifcios de um apartamento por andar de planta regular, como agrupando quatro
apartamentos por andar, as plantas organizam-se em setores. Um setor corresponde ao amplo espao
articulador de convvio, que abrange toda uma dimenso do edifcio, para o qual se abrem os espaos
do segundo setor. Este outro, todo compartimentado, abriga servios e quartos. O contraponto
funcional e formal entre os setores feito de forma em que um interfira no outro: o espao de
convivncia relaciona-se com o espao ntimo e de servio; assim garante-se o dilogo entre os
desenhos de um e de outro. A localizao de acessos e aberturas acabam por configurar funes neste
espao total, sem perda da flexibilidade da planta, da fluidez do espao e da sobreposio de funes.
A planta do edifcio Clermont na Rua Jauaperi, Moema, apresenta rigorosa diviso longitudinal do
programa. O arquiteto concentrou em uma das metades do andar toda a funo do ambiente que
representasse uma obstruo do espao. A outra metade permanece livre. O grande salo, espao total
que se abre para trs faces, cuidadosamente desenhado de forma que, sem fragmentar, insinue as
funes: receber, entrar, estar, comer. Isto ocorre a partir da introduo de uma nica parede curva em
determinada posio que desenha e organiza tudo. Este espao estabelece relaes para o interior, com
os demais usos do apartamento, sendo ele prprio a circulao, e para o exterior, atravs de suas
aberturas. Os elementos de abertura so muito presentes e definidores dos espaos totais, bem como a
estrutura do edifcio, que inevitavelmente comparece em sua totalidade, uma vez que o ambiente nico
atravessa o prdio. As vigas em sua conformao estrutural reduzem o p direito pontualmente a
2,15m e no pretendem ser neutras, fazem o desenho do teto.
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82
O outro setor do edifcio Clermont contempla dormitrios com banhos, cozinha, servios e circulao
vertical e sua compartimentao ocorre de maneira independente da modulao da estrutura. Sobre a
clareza da disposio do programa, sobrepe-se uma complexidade de conformaes para cada recinto,
num contraponto ldico entre o ato inicial de projeto e as possibilidades de variao de desenho que
dele decorrem. No h dois quartos iguais no apartamento.
Este projeto, como outros edifcios residenciais, apresenta indcios de trabalhar o corte. O quarto de
empregada foi disposto a meio nvel do restante do apartamento, com acesso externo independente
pelo patamar da escada. Nas fachadas, elementos de concreto formam brises, abas, por vezes com
funo de bancadas, armrios e dutos de ventilao, relevos que funcionam juntamente com vidros
temperados sem caixilhos.
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PROJETO EDIFCIO
CLERMONT
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Em uma mesma pesquisa tipolgica de planta, elaborao do corte, implantao do elemento edificado
e sua relao com o cho construdo, situa-se tambm o Prottipo. O edifcio em srie de quatro
apartamentos por andar uma composio de duas prumadas, com a circulao vertical unindo os
blocos. Cada unidade tratada com totalidade e surge como uma variao daquela mesma planta que
torna a aparecer. O grande salo que ocupa toda a extenso do mdulo conformado por duas
empenas de concreto estruturais e um pilar central. O espao de convvio incorpora os quartos, mas de
maneira flexvel de acordo com o carter do espao total: os quartos so definidos por armrios mveis,
fixados embaixo e em cima e por portas pivotantes piso-teto. Com o recurso do elemento mvel,
diferentes arranjos se tornam possveis. Para todo este espao adotado na fachada um elemento
nico o caixilho, brise, armrio. No outro setor longitudinal do apartamento, que complementa o
primeiro e com ele se relaciona, concentram-se as pr
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