migrare #1
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Sumário
1. Editorial .................................................................. 3
2. Cartas ao Leitor ...................................................... 4
3. Reportagem de Capa .............................................. 5
4. Seções ...................................................................... 9
5. Entrevista ................................................................ 11
6. Charges ................................................................... 14
PIOR DO QUE
NÃO CONSEGUIR
TRABALHO É NÃO
CONSEGUIR
SAIR DELE. Até 2006, 178 empresas no Brasil foram
denunciadas por suspeitas de trabalho escravo.
O número de trabalhadores resgatados nunca
foi tão grande, superando a marca de 10 mil
pessoas nos últimos anos.
3
*Na imigração ilegal, "coiote" é o agente que
conduz os imigrantes pelas áreas de fronteira,
mediante a um pagamento.
Editorial
Migração clandestina – Fronteira México/EUA
Imigrante. Aquele que imigra, que entra
em um país estrangeiro com o objetivo de residir
ou trabalhar. O deslocamento de grandes
contingentes de pessoas de um local para outro
sempre existiu, embora, nas últimas décadas,
esses fluxos tenham crescido de uma forma nunca
antes vista. Tal intensificação é um reflexo da atual
revolução tecnocientífica juntamente à
globalização dos meios de transporte e
comunicação, que vêm possibilitando a transição
de imigrantes no cenário mundial.
Contudo, o que poderia ser fator de
aproximação dos povos é, na prática, confundido
com um processo de capitalização do mundo,
onde há o predomínio de uma mentalidade que
põe o capital, o consumo e o lucro em um patamar
superior à valorização dos direitos humanos.
Dessa forma, obscurecem-se a dignidade e as
virtudes da pessoa humana, uma vez que a
inclusão ou exclusão de imigrantes são efetuadas
em função dos critérios estabelecidos pela nova
ordem mundial.
Uma representação concreta disso é a
situação de países europeus como a Alemanha e
a Itália, cujos governos, diante de uma crise
econômica, acabam recorrendo ao controle da
imigração, ou até mesmo, ao fechamento das
fronteiras, para evitar o ingresso de “mão de obra
desqualificada”. Em reflexo, a população desses
países desenvolve um sentimento de
marginalização e discriminação do estrangeiro. É
a partir daí que surge a xenofobia, um
preconceito que vem acompanhado de atitudes
discriminatórias que vão contra a declaração
universal dos direitos humanos.
Segundo o artigo 13 da declaração
universal dos direitos humanos, "toda a pessoa
tem o direito de livremente circular e escolher a
sua residência no interior de um Estado. Toda a
pessoa tem o direito de abandonar o país em que
se encontra, incluindo o seu, e o direito de
regressar ao seu país.". Dessa forma, impedir a
estrada de imigrantes em uma nação ou expulsar
qualquer um que resida a uma determinada
localidade, privando-o de sua nacionalidade ou
do direito de mudá-la, vai de encontro com a
liberdade de movimento, assegurada na
declaração universal de 1948. É preciso avaliar
também os motivadores dos deslocamentos em
análise, uma vez que se destacam a busca por
melhores condições de vida, fuga de
perseguições políticas e religiosas e catástrofes
naturais.
Sendo assim, não cabe somente ao
governo receber e fornecer ao imigrante as
condições para que este seja amparado por
uma estrutura jurídica que lhe possibilite uma
vida digna e participativa. Cabe, também, a
população de cada país, desenvolvido ou não,
adotar uma mentalidade que respeite o
estrangeiro em sua condição de ser humano e,
sobretudo, em sua diversidade e singularidade,
pois como afirma Hélio Bicudo, “os migrantes
devem ser respeitados em virtude de sua
dignidade enquanto pessoas, muito além do
regime vigente ou do lugar onde residem. Seus
direitos não derivam do fato de pertencerem a
um Estado ou Nação, mas de sua condição de
pessoa cuja dignidade não pode sofrer
variações ao mudar de um País para outro”.
Vale destacar, ainda, que o bloqueio
das fronteiras é uma forma mascarada de
violação do direito primordial do ser humano, o
direito à vida, a partir do momento em que tal ato
se transforma em um inegável agente motivador
da imigração clandestina. Esse processo, por sua
vez, põe em risco a vida do ser humano, já que é
marcado principalmente pela precariedade dos
meios de locomoção (barcos), no caso do
deslocamento da África para Europa, e de
trajetos que beiram ao desumano, como o
deslocamento do México para os Estados Unidos
realizado com o auxílio de coiotes*. Em casos
como esses, o imigrante é exposto a condições
insalubres, além de realizarem longas jornadas,
em navios desprovidos de infraestrutura ou em
desertos extremamente áridos, que podem durar
muitos meses. O resultado é alarmante: estima-
se que pelo menos 20 mil imigrantes ilegais
morreram tentando alcançar a Europa, só nas
últimas décadas, e outros seis mil perderam suas
vidas em apenas um trecho da fronteira terrestre
entre
México e EUA.
4
Cartas para essa seção, com endereço, número de RG e telefone devem remetidas para: Diretor da Redação,
MIGRARE, Avenida Leovigildo Figueiras, 683 - Garcia, Salvador - BA, 40100-000
Telefone:(71) 3328-9500
Cartas do Leitor
Salvador, 24 de abril de 2015
À redação da revista Migrare,
Sou estudante de direito e ao fazer um trabalho sobre imigração e direitos humanos, usando informações obtidas em uma de suas reportagens, gostaria de sugerir que voltassem ao assunto e focassem no tráfico de pessoas, já que esse movimento migratório faz confronto direto com os direitos desses cidadãos.
A facilidade encontrada pelas pessoas que cometem esse tipo de crime, como a enorme extensão da fronteira seca do Brasil que faz divisa com a maioria dos outros países latino-americanos dificulta o trabalho dos policiais. Sendo assim, grande parte das exportações e importações ilegais passa despercebida.
Cabe destacar que no objetivo de coibir o tráfico internacional, não se pode, em hipótese alguma, impedir a livre circulação de pessoas, nem a livre migração, pois também são direitos reconhecidos internacionalmente.
O tráfico humano não fere somente um, mas inúmeros direitos inerentes à pessoa humana como a liberdade de locomoção, liberdade sexual e de trabalho, a integridade física e a dignidade. O tráfico deixa marcas muitas vezes invisíveis aos olhos, mas que são feridas abertas na alma e no coração de suas vítimas, por isso é necessário dá visibilidade a esse tema.
Atenciosamente,
N.L.
Salvador, 24 de abril de 2015
Cara revista Migrare,
Eu, como cidadão brasileiro e profissional da área de saúde, venho expressar minha indignação a respeito da vinda de médicos cubanos para o país. A decisão irresponsável do Ministério de Saúde, quanto a essa questão, fere os direitos do trabalhador e ainda expõe a saúde da população à situações de risco.
O programa “Mais Médicos”, deixa muitos profissionais brasileiros desempregados, já que as vagas são ocupadas pelos trabalhadores vindos de cuba. O diploma que os médicos brasileiros demoram anos esforçados para conseguir acaba não valendo de nada.
Os profissionais cubanos vêm para o país sem a devida revalidação de seus diplomas e sem a comprovação de que realmente têm o domínio da língua portuguesa. Isso põe em risco a saúde dos trabalhadores, já que médicos e pacientes falam língua diferenciadas, podendo haver complicações no seu diagnóstico.
O que o governo apresenta como uma solução, os médicos brasileiros veem como um empecilho para ingressarem no mercado de trabalho e uma exposição da população a situações perigosas. Em vez de importar profissionais, os governantes deveriam incentivar os médicos brasileiros a atuarem de forma mais participativa nas áreas carentes.
Atenciosamente,
Z.E.
5
O debate acerca dos direitos
humanos surgiu após a Revolução
Francesa, com a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão,
proclamada em 1789. Alguns dos
direitos mais notórios são os que
defendem a liberdade de todos os
homens ao nascer, a liberdade de
expressão e de imprensa e a
existência das leis voltadas para o
bem comum. A discussão sobre esse
tema ganhou enorme força após a
Organização das Nações Unidas
(ONU) proclamar a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, no
qual é assegurado o direito à vida,
educação, saúde, segurança e
saneamento básico, além de dar a
todo homem o direito de se expressar
livremente e condenar as torturas.
EM BUSCA DE UMA VIDA MELHOR
Reportagem de Capa SEM LIMITES
Cubanos fugindo de sua
terra natal com destino a
Miami em busca de
melhores condições de
vida
Pessoas de países subdesenvolvidos vêm sofrendo
com um mal cada vez mais frequente: o desrespeito
aos direitos humanos.
Infelizmente, sabe-se que
diversas nações, sobretudo as
africanas e as asiáticas vêm sendo
palco de diversos eventos alarman-
tes. Regimes ditatoriais, como o da
Guiné Equatorial, disseminam a
fome e perseguem opositores feroz-
mente. Terras de anarquia, como a
Somália, afrontam o direito à vida e
se mantém em intermináveis
guerras pelo poder.
A busca por melhores condições
de vida é a principal razão para as
crescentes taxas de imigração. Às
vezes funciona, como em casos de
imigração de mão de obra, em que
países desenvolvidos recebem
imigrantes altamente qualificados
para exercerem cargos criativos ou
técnicos em diversas empresas.
Todavia, a maior parte destes
imigrantes, geralmente ilegais, sofre
nos países de destino o mesmo mal que
sofriam em sua terra natal: a falta de
direitos humanos. A imigração ilegal vem aumentando
pelo mundo todo nas últimas décadas.
Um caso recente é o da embarcação,
que levava cerca de 700 imigrantes
ilegais da África para a Europa, que
naufragou no Mar Mediterrâneo. A
quantidade de óbitos nessas travessias é
tão grande que, no dia 23 de abril de
2015, os líderes da União Europeia se
reuniram em Bruxelas e decidiram
triplicar as verbas para o resgate desses
imigrantes. Segundo o Alto Comis-
sariado da ONU para os Refugiados
(Ancur), em 2013, cerca de setecentas
pessoas morreram ao tentar cruzar o
Mar Mediterrâneo. Em 2014, foram
1.880; no primeiro trimestre de 2015, o
número de mortos já ultrapassa o de
2.000.
"Ao contrário do que normalmente se
acredita, os migrantes estimulam a
produtividade e dão mais do que aquilo
que recebem", afirma a principal autora
do estudo feito pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento
6
(PNUD), Jeni Klugman. "Muitos
migrantes encontram-se dupla-
mente em risco. Sofrem com
desemprego, insegurança e
marginalização social, e ainda
assim são apontados como o
cerne do problema. Não é o
momento para políticas prote-
cionistas e anti-imigração, mas
para reformas. Convencer as
populações disso requer cora-
gem", explica. E mesmo que cheguem ao
seu destino, muitas vezes
também não encontram aquilo
que mais procuram: oportuni-
dade de uma vida melhor. O
caso mais recorrente disso é o
dos mexicanos que migram
ilegalmente para os Estados
Unidos. Sem dinheiro e docu-
mentação, estes acabam su-
cumbindo ao crime por falta de
opção, aumentando as taxas de
violência nos Estados Unidos.
E assim se fecha o processo
dos migrantes ilegais. Não
encontram seus direitos nem
nos países de origem, nem nas
embarcações e nem nos países
de destino. Aparentemente, é
um beco sem saída.
FLUXOS MIGRATÓRIOS
Segundo dados da ONU, o
total de migrantes interna-
cionais já ultrapassa os 231
milhões de pessoas. Esse
número se refere às pessoas
que vivem em um país dife-
rente do qual elas nasceram,
independentemente da época
de migração.
Ultimamente, esses migran-
tes têm mudado suas rotas.
Antigamente, estes migravam
apenas para países desenvol-
vidos, como Alemanha, Itália e
Estados Unidos, mas atual-
mente eles passaram a ir
também para países em de-
senvolvimento, como Brasil,
Argentina e Catar.
Atualmente, haitianos estão
migrando em massa para o
Brasil, por conta de um terrível
terremoto que desolou o país
em 2010. Com magnitude de
7,0 na escala de Richter, o desastre
causou um numero de mortes entre
100.000 e 316.000, 350.000 feridos e
mais de 1,5 milhão de flagelados,
além de ter contribuído para o
aumento da miséria entre a po-
pulação. Sendo assim, os haitianos
passaram a migrar para o Brasil em
busca de melhores condições de vida,
como um emprego decente. Cerca de
500 migrantes haitianos receberam
regularização, possibilitando a eles o
acesso à saúde e permissão para
trabalho.
A mudança das rotas migratórias
ocorreu principalmente pela crise
econômica que atinge a Europa e os
Estados Unidos. Desde 2008, várias
nações, como a Grécia e a Espanha,
vêm se endividando mais e mais.
Com a instabilidade econômica dos
países mais desenvolvidos, não só
africanos e asiáticos passaram a
migrar para países emergentes, mas
europeus também.
REGULAMENTADOS Grupo de haiti-
anos recebe carteira de trabalho bra-
sileira.
XENOFOBIA
Um dos maiores problemas
enfrentados pelos migrantes é a
xenofobia. Os movimentos xenófobos
vêm crescendo gradativamente,
especialmente a partir dos anos 80
com as crises econômicas e nos anos
90 com o aumento do desemprego
em escala global. O caso mais
recorrente de tal preconceito é o dos
estadunidenses com latinos. Pode-se
ver as raízes disso em grandes obras
cinematográficas de Hollywood ou séries
de TV, em que os comandantes do tráfico
de drogas são, geralmente, cubanos ou
mexicanos.
As políticas migratórias do governo
estadunidense contra os latinos, sobretudo
mexicanos, são rígidas. Um muro foi
construído na fronteira para impedir a
entrada de imigrantes ilegais e, por conta
disso, os mexicanos passaram a viajar em
condições péssimas. A travessia ilegal é
feita por pessoas conhecidas como coiotes.
Quando são pegos, são mandados de volta
para o México. Os que passam para os
EUA acabam não encontrando trabalho,
moradia e acesso à saúde, então acabam
entrando no mundo do crime, aumentando
as taxas de violência.
Movimentos tidos como xenófobos estão
surgindo em toda a Europa, principalmente
na Alemanha e na França. Com os recentes
7
atentados à sede do jornal
"Charlie Hebdo" e a um café na
Dinamarca, europeus estão
pedin-do uma imigração mais
controlada. Na França, o governo
de François Hollande, o qual é
majoritariamente pró-imigração,
tinha 76% de reprovação em
2013. Recentes pesquisas elei-
torais apontam que o segundo
turno das eleições presidenciais
na França será disputado pelo
partido de centro-direita, de
Nicolas Sarkozy, e o de extrema-
direita, de Marine Le Pen, os
quais promovem uma imigração
mais controlada. Uma situação
parecida acontece na Inglaterra,
onde o partido conservador, de
David Cameron, conseguiu, após
as eleições, cerca de 100
cadeiras a mais do que o de
centro-esquerda, de Ed Miliband.
JE SUIS CHARLIE Ato de apoio às famílias das vítimas do atentado terrorista à sede do jornal “Charlie Hebdo”
A situação em outros países
da Europa é mais peculiar.
Diversos grupos de caráter
neonazista estão surgindo pelo
continente e vêm atacando
estrangeiros e os que defendem
os imigrantes. Recentemente um
vereador alemão de um partido
de esquerda, defensor da
abertura da Alemanha para
imigrantes, teve seu carro
incendiado por neonazistas. Na
Inglaterra, os grupos xenófobos
são conhecidos pelo nome de
skinheads.
TRABALHO ESCRAVO
Outro exemplo de violação
dos direitos humanos dos
migrantes é o trabalho escravo;
uma atividade que dá a
impressão de que se está no
século XVIII. Segundo a
organização mundial Walk Free
Foundation, cerca de 36 milhões
de pessoas no mundo vivem em
situação de escravidão moder-
na, sendo que mais de 155 mil
se encontram no Brasil.
No Brasil, é muito comum a
xenofobia que os nordestinos
que moram no sudeste brasileiro
sofrem. Geralmente são chama-
dos pejorativamente de "baia-
nos", "paraíbas" e "cabeça
chata" e esses insultos ge-
ralmente vêm acompanhados de
"volta para a sua terra".
É comum ver na mídia casos
em que empresas de tecelagem
"empregam" imigrantes, princi-
plamente bolivianos, em con-
dições incrivelmente precárias e com
baixos salários no Brasil. Segundo o
embaixador Jerjes Justiniano,
podem haver entre 50.000 e 100.000
bolivianos nessa situação. Segundo
o diplomata, esses números foram
obtidos a partir dos registros
utilizados pela delegação boliviana
no Brasil.
Em 2014, a Renner, empresa
brasileira, foi acusada de usar mão
de obra escrava. Em novembro
daquele ano, cerca de 37 bolivianos,
que confeccionavam roupas para a
empresa, foram resgatados na zona
norte de São Paulo, trabalhando em
condições análogas à escravidão.
TRÁFICO HUMANO
A fome, o desemprego, a falta de
experiência de trabalho e as
histórias de sucesso de outros
imigrantes são fatores que com-
tribuem para o tráfico de seres
humanos.
Na novela "Salve Jorge", uma
brasileira migra para a Turquia, pois
foi informada de que uma agência
de lá a queria como modelo.
Todavia, ela foi engana-da e acabou
sendo forçada a se prostituir ile-
galmente. Essa realidade é mais
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LASTIMÁVEL Bolivianos trabalhando em condições incrivelmente insalubres
comum do que parece, sendo
bastante frequente entre pessoas
de países subdesenvolvidos.
Um relatório da ONU de 2009
aponta que 70% das vítimas de
tráfico humano são mulheres de 15
a 25 anos e que entre 15 e 25 por
cento são crianças. Contraditório
ou não, também constatou-se que
entre 65 e 75 por cento dos autores
desse tipo de crime são mulheres.
Foi relatado que a África do Sul é
considerada um grande destino de
tráfico humano. Ainda, este país
faz parte dos 19% das nações
envolvidas no relatório que não
possuem legislação contra o tráfico
humano.
As potências europeias também
passaram a discutir sobre o que
fazer com os traficantes de
escravos. A primeira-ministra ale-
mã, Angela Merkel, declarou que
bombardeios s embarcações de-
stes criminosos só serão feitas com
autorização prévia da ONU.
Segundo a Organização Inter-
nacional das Migrações (OIM),
mais de oitocentas mil pessoas são
vítimas de tráfico humano anual-
mente. O relatório também aprese-
ntou que países de destinos des-
sas práticas agora se incluem na
categoria de país de origem das
vítimas, como o Reino Unido. Além
disso, o número de vítimas de
exploração sexual e trabalhista
aumentou.
ESTÁTISTICAS Gráfico da OIT sobre “tipos de escravidão moderna”
O TRÁFICO Muçulmanos refugiados de Mianmar são vendidos na
Tailândia
9
Seções
O TERMINAL E A FALTA DE LIBERDADE
“O Terminal” (“The Terminal”, originalmente), dirigido por Steven Spielberg e protagonizado por Tom Hanks, conta a história de um homem preso num terminal de aeroporto, por ter sua entrada negada nos Estados Unidos e não poder retornar ao seu país de origem, a fictícia Krakozhia, devido a uma crise política. Como resultado, Viktor Navorski é obrigado a viver durante vários meses no aeroporto e ganhar a simpatia e a ira de muitos adeptos a favor e contra a migração. O filme critica a falta de liberdade, princípio individual tão defendido ao longo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Através do adequado toque de comédia, Viktor Navorski expõe ao espectador o drama daqueles que têm seu direito de ir e vir negado e a tristeza dos que são obrigados a viver longe de casa. Altamente recomendado para aqueles que querem vivenciar o tema migrações e Direitos humanos, de forma leve e humorística.
SOBRE A XENOFOBIA
Em um mundo globalizado e moderno, onde fronteiras são mais tênues e distâncias mais curtas, o preconceito deveria ser um fenômeno insignificante. Porém, ainda no século XXI, diversos tipos de preconceito são encontrados na sociedade, inclusive a xenofobia. Esta, vem diretamente ligada às migrações, já que representa a aversão, o ódio ao estrangeiro. Ainda muito presente principalmente em países europeus, a visão de que o imigrante é inferior e deve ser rebaixado ou rejeitado vai contra os princípios básicos dos Direitos Humanos: liberdade e igualdade. É inadmissível que, em um país conhecido por sua miscigenação como o Brasil, ainda haja qualquer tipo de intolerância para com os imigrantes e suas diferentes culturas. Como qualquer preconceito, a xenofobia é um mal da sociedade e deve ser combatida.
SOBRE A IMIGRAÇÃO ILEGAL
CRIANÇAS IRAQUIANAS NÃO VÃO À DISNEYLÂNDIA
“Filmes italianos dublados em inglês / Com legendas em espanhol nos cinemas da Turquia / Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné / (…) / Crianças iraquianas fugidas da guerra / Não obtém visto no consulado americano do Egito / Para entrarem na Disneylândia”. Os versos foram extraídos de “Disneylândia”, canção composta e tocada pelos Titãs. A música faz referência ao mundo globalizado em que vivemos hoje, onde pessoas e produtos de origens diferentes deslocam-se em grande escala, misturando-se a diversas culturas de variadas sociedades. Mais especificamente, essas pessoas migram. Além disso, a canção pode ser considerada um elemento crítico conscientizador, já que explicita a limitação das migrações. Elas existem sim, mas não são para todos. As migrações são muitas vezes restritas e aqueles que mais necessitam do direito de migrar são oprimidos. Os Titãs trazem um exemplo muito recorrente: fugitivos da guerra no Iraque. Mas na mesma situação, temos os mexicanos que tentam quebrar a fronteira com os EUA e os africanos que morrem tentando atravessar o Mediterrâneo, em busca da Europa. Esses e muitos outros têm seu direito de liberdade negado. Recomendada para todos os públicos, a música abre um leque para reflexões sobre as migrações e a controvérsia dos Direitos Humanos.
Migrar é o deslocamento de pessoas que pode
ocorrer dentro de um país, estado, região ou até
mesmo município. Os motivos são diversos e
costumam variar de pessoa para pessoa, podendo
ser desencadeado por fatores sociais, econômicos
ou políticos. As migrações, desde que legais, são
extremamente válidas. Entretanto, quando ocorrem
ilegalmente, tendem a provocar discrepâncias de
classes sociais, tanto nos países que recebem os
imigrantes quanto nos que perdem esses cidadãos.
Nesse sentido, a opinião pública depende da
relação da sociedade com aqueles que chegam de
outros lugares, pois muitas pessoas desrespeitam
os imigrantes e agem com preconceito, conse-
quência da imigração ilegal, não proporcionando
uma boa qualidade de vida para esses estrangeiros.
Atuais integrantes da
banda Titãs
10
AAH
BBRRAASSIILL
PPAARRAA OOSS
BBRRAASSIILLEEIIRROOSS
SSEERREESS
HHUUMMAANNOOSS..
11
]
“Ele era jovem, tinha uma cabeça aberta; havia
estudado filosofia na América, em 1930. Ele sentia
que o nazismo voltava-se, principalmente, contra os
judeus e haveria de ter consequências maléficas
muito sérias para eles. Assim, ele fugiu antes da
deflagração da guerra, pois já sentia o clima que
Entrevista
Entrevista concedida pelo senhor Paulo Lebram, filho de
imigrante judeu, cujo pai veio para o Brasil dois anos antes
da segunda guerra mundial, fugindo do nazismo de Hitler.
1-Sabemos que o ápice da imigração alemã no
Brasil ocorreu entre 1920 e 1930, ou seja, depois
da I Guerra Mundial e antes do início da Segunda
Grande Guerra. Ocorreram muitas imigrações de
alemães devido ao grande desemprego naquele
país, gerado pelo desenvolvimento de novas
tecnologias, e para fugir das tensões de cunho
político e econômico que aconteciam na
Alemanha daquele período. Qual foi a sua
sensação ao saber que seu pai, junto com
milhares de alemães, teria que recomeçar a vida
do zero, deixando de lado toda uma história que
viveu no seu país de origem?
“A sensação que tive foi de admiração por ele ter
tido uma posição satisfatória na Alemanha e pela
sua coragem de migrar para América do sul
praticamente sem nada, recomeçando a sua vida,
constituindo uma família e crescendo como cidadão
e homem.”
2-Naquela época, Hitler estava no domínio da
Alemanha, país de origem do seu pai, com o
objetivo de matar os judeus, sendo assim seu pai
poderia ter sido submetido a torturas, ou até
mesmo a campos de concentração. Ao optar pela
vida, ele migrou para o Brasil. Quais foram as
dificuldades encontradas durante sua migração e
de que forma ele conseguiu escarpar do domínio
de Hitler?
“O meu pai conseguiu escapar do domínio de Hitler,
pois ele era jovem e inteligente. Notou rapidamente
o que iria acontecer, então logo se preveniu indo
embora da Alemanha, em 1938, fugindo das mãos
de Hitler. Durante a sua migração ele se deparou
com dificuldades tanto psicológicas como materiais,
afinal, deixou para trás a sua família e todo o seu
patrimônio.”
3- Sabemos que, durante holocausto, muitos
judeus, durante as migrações, acabaram
perdendo suas vidas devido a condições
precárias encontradas nas suas viagens. Qual foi
a trajetória do seu pai até chegar ao Brasil? Quais
as condições da viagem?
“Meu pai veio para a América do sul em um navio
comercial de linha, com todo conforto de uma viagem
marítima, já que tinha recursos para pagá-la. Porém,
para conseguir se sustentar na América precisou
trabalhar.”
4 - Os trabalhadores imigrantes são muitas vezes
sujeitos Ilegalmente a condições de trabalho
escravo e práticas sociais discriminatórias.
Chegando ao Brasil, como foi à inclusão do seu
pai no mercado de trabalho?
“Foi uma inclusão absolutamente tranquila; ele já
vinha da Argentina dentro de uma normalidade, então,
ele não foi um imigrante que havia sido explorado ou
discriminado socialmente. Da Argentina para o Brasil,
ele simplesmente foi transferido pela mesma empresa
em que ele trabalhava na Argentina, com os mesmos
direitos, mesmos deveres, com isso, ele não sofreu
nenhum tipo de preconceito. “
5- O sr., por ser filho de um judeu, vivenciou de
perto os efeitos da dominação nazista na
Alemanha. O que o senhor sentiu ao saber que
seu pai um dia já correra risco de vida? Quais
foram exatamente os motivos dele ter fugido do
seu país de origem?
Paulo Lebram
12
haveria contra os judeus. Chegou
ao Brasil dois anos antes da
segunda guerra mundial, e logo
no começo dessa trouxe os seus
pais. Imagino e vejo a luta de meu
pai, o que ele teve que fazer,
deixando tudo que tinha na
Alemanha, seus bens, negócios,
além de ter que sair de lá, sem
nada, para recomeçar a vida aqui
na América do Sul. Então, eu fico
imaginando tudo que ele passou,
o que o faz se tornar, para mim,
um grande herói.”
_________________________
“Meu pai era
judeu na
Alemanha e
migrou para o
Brasil.”
_________________________
6- De acordo com a Declaração
Universal dos Direitos Huma-
nos, toda pessoa tem o direito à
vida, à moradia, à saúde, à edu-
cação, entre outros. Os ideais
difundidos pelos nazistas
traziam como destaque a
homogeneidade entre pessoas
relacionada à sexualidade, à
religiosidade, entre outros,
causando a morte das pessoas
consideradas “diferentes”. Qual
é a sua opinião em relação a
essa atitude? O Sr. acha que
isso é um motivo para tirar o
bem mais precioso que
possuímos, no caso, a vida?
“Ao chegar ao Brasil, no interior
da Paraíba, não havia muitos
alemães. Com isso, havia
pouquíssimos consulados para
esses. Já na Argentina, havia
uma comunidade bem maior de
alemães e uma empresa que
recepcionava estes imigrantes
com todo o carinho, o cuidado e
a atenção que era possível dar
naquele momento. Com relação
a documentação, foi um
processo longo, só depois de
10 a 15 anos, após se
naturalizar brasileiro, conseguiu
esses.”
8- Sabemos como é difícil
para os imigrantes terem os
seus direitos garantidos e
exercidos em determinados
países. Como foi a recepção
de seu pai por parte do
consulado alemão ao chegar
ao Brasil? Como ele
conseguiu todos os
documentos brasileiros que o
tornam um cidadão legal?
“Quando ele chegou ao Brasil, ele
não possuía os direitos de um
cidadão brasileiro por ser um
imigrante. Os direitos foram
conquistados com o tempo, ao se
naturalizar. Ao abandonar a
Alemanha, ele deixou para trás
todos os direitos alemães, assim
como a sua família que,
posteriormente, ele mandou
buscar para o Brasil.”
7- Em qualquer país, cidadãos
possuem direitos e deveres. Os
direitos que o seu pai possuía
permaneceram no momento em
que ele ingressou no Brasil?
Mais direitos foram adquiridos
ou mais foram perdidos?
“Absolutamente não! Hitler queria
a predominância de uma raça
pura, a raça ariana, então, para
ele, outras raças e opções de
vida, como judeus, ciganos,
homossexuais, pessoas que
tinham defeitos físicos, não eram
dignos de viver. É condenável o
que ele fez, como é condenável a
prática de hoje de se ter qualquer
tipo de discriminação de cor, de
raça e de aspectos físicos. “
ENTREVISTA ATUALIDADES
Entrevista concedida pela profª
Edna Lucia, com participação
do senhor José Teixeira
(Zelão), ambos professores de
história.
1-Sabemos que diferentes
tipos de migrações vêm
ocorrendo. Historicamente
falando, qual foi a época em
que ocorreu o maior índice de
imigrações?
“Atualmente o principal motivo
para as migrações são as
questões de ordem econômica,
mas não exclusivamente isso.
Assim como no passado,
conflitos religiosos, étnicos e
guerras fazem parte ainda da
realidade mundial e continuam
servindo de motivo para as
2- Antigamente, as causas das
migrações eram inúmeras. E
atualmente, quais são os
motivos que levam as pessoas
a saírem de seus países de
origem para outros? Há ainda
relação com as migrações
ocorridas no passado?
“As imigrações fazem parte da
história da humanidade desde
tempos muito distantes. Na Anti-
guidade, por exemplo, é emble-
mático o caso dos Judeus, que
saíram de sua terra de origem
para o Egito, onde acabaram es-
cravizados. Ou ainda, séculos
depois, muitos foram os que saí-
ram da Europa para o continente
Americano em busca de novas
oportunidades. O período de pós-
guerra, notadamente o que se
constituiu logo depois da II
Guerra Mundial, foi um marco
importante no crescimento das
imigrações motivadas tanto pela
crise econômica e política que se
abateu, sobretudo na Europa, co-
mo por questões sociais, religi-
osas e étnicas” , afirma a profes-
sora Edna, apoiada pelo senhor
José quando este diz: “A questão
da imigração no mundo ocorre
desde muito tempo, na realidade
sempre aconteceu. (...)Elas
podem ser de caráter religioso,
histórico e material. O período
entre os séculos XIX e XX de
grandes migrações do ocidente.”.
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“É fundamental que façamos aqui uma análise sobre
qual Igreja vocês se referem. Se estamos falando da
Igreja Católica, é importante ressaltarmos que toda
a sua atuação durante o período do Nazismo tem
sido alvo de análises ora mais duras, onde a Igreja é
acusada de ter ignorado os crimes cometidos
durante o governo de Adolf Hitler, ora mais brandas,
3- Antigamente, a igreja tinha forte influência
nas decisões políticas e econômicas de um
país. Na época do nazismo, período que teve
um alto fluxo migratório, qual foi a posição da
igreja alemã em relação a esse acontecimento?
migrações. Em muitos casos é possível identi-
ficarmos uma fusão desses motivos, onde os
conflitos bélicos e as questões econômicas servem
de pano de fundo para as ondas migratórias.
Exemplo típico e atual desse fenômeno é o que
tem ocorrido com milhares de imigrantes vindos da
Eritreia, Síria e Somália fugindo da fome, conflitos
civis e perseguições, que tentam desesperada-
mente atravessar o Mar Mediterrâneo, para chegar
até a Ilha de Lampedusa, na Europa, onde espe-
ram encontrar proteção e oportunidades de uma
vida melhor.”
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“Atualmente o principal
motivo para as migrações
são as questões de ordem
econômica, mas não
exclusivamente isso.”
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posto que a partir de 1942 houve uma
condenação aberta pelo Papa Pio XII ao Nazismo.
No que tange especificamente à questão das
migrações, de maneira geral, houve uma atuação
pequena da Igreja Católica. O que se sabe é que
individualmente ou em pequenos grupos, padres
alemães tentaram proteger as vítimas do sistema
nazista alemão, tanto oferecendo abrigo como
atuando para que fugissem da Alemanha.”
Professora Edna Lucia Professor José Teixeira
INFORME-SE
O governo brasileiro está bem
burocrático quando se trata da documentação para migrar para o nosso
país. É preciso que todo e qualquer imigrante
traga seu visto, passaporte e a documentação própria de seu país.
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Autor: Gabriel Victor
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EXPEDIENTE
Editorial:
Beatriz Darzé
Maria Luiza
Maria Paula
Giovana
Nelly
Emanuelle
Entrevista:
Clara
Bruna
Letícia
Júlia
Maria Fernanda
Andrea
Reportagem de capa:
Gabriel Nogueira
Rafael
João Pedro
Felippe Bispo
Guilherme Guimarães
Thiago Barros
Heloisa
Charges:
Rebeca
Lucas
Gabriel Victor
Juan
Ana Carolina
Felipe
Carta do leitor:
Brenda
Natália
Tatiana
Larissa
Maria Clara
Fernanda
Propaganda:
Rodrigo Lemos
Gustavo Branco
Paulo Tadeu
Gabriel Souto
Luís Augusto
Paola
Seções:
Matheus Moreno
Matheus Ferreira
Bernardo Almeida
Luís Eduardo
Ian
Pedro Zarife
Diagramação:
Maria Paula
Beatriz Darzé
Maria Luiza
Gabriel Nogueira
Matheus Moreno
Thiago Barros
Impressão:
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Guilherme Guimarães
Gabriel Victor
Bruna
Beatriz
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