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Moçambique
30 Setembro 2016
Revista de Imprensa
1. Pérola sem brilho, Negócios - Weekend, 30-09-2016 1
2. Em miúdo..., Negócios - Weekend, 30-09-2016 5
3. Moçambique: "Não haverá governação partilhada", diz analista, Portal de Angola Online, 30-09-2016 6
4. Moçambique quer ajuda financeira do FMI "o mais rapidamente possível", Porto Canal Online, 30-09-2016 8
5. “Não preciso que o FMI me venha dar aulas. Eu estudei na mesma escola” - Entrevista a Ragendra deSousa, Público, 30-09-2016
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6. Sonae SGPS adquire lojas de retalho alimentar em Moçambique, Vida Económica, 30-09-2016 14
7. Parceiro da Galp vai a Londres procurar financiamento para projectos de gás em Moçambique, NegóciosOnline, 29-09-2016
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País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Economia, Negócios e.
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REPORTAGEM
Moçamb"
Pérola sem liri' lio
a Praça dos Trabalhadores, morada da esta-ção de caminhos-de-ferro de Maputo, um po-lícia repara no turista que, do interior de uma carrinha "pick-up", tira fotografias a um dos edificios mais emblemáticos da capital mo-çambicana Com um gesto curto, ordena que a viatura encoste. De seguida, encaminha-se vagarosamente e, pela janela entretantoaber-ta, pede os documentos. Fala com docilidade
para o condutor, num tom de reprimenda professoral. - O senhor sabe que não pode parar no meio da via. - Estava a mostrar a estação a estes meus amigos que são tu-
ristas. - Está a dar um mau exemplo aos visitantes. O que é que eles vão
dizer da nossa cidade quando voltarem à terra deles? Que se pode fa-zer tudo? Que não cumprimos o código? E não está a usar cinto de segurança..
- Não tinha nenhum carro atrás e parei só por um segundo para lhes mostrar a nossa linda estação.
- A identificação dos dois senhores, se faz favor. [Olha para os passaportes e devolve-os sem comentários]. - Eu sei que fiz mal, mas não estava a incomodar ninguém. - Não volte a fazer. Pode prosseguir. Aconversa decorre morna O policia, que nem é de trânsito, per-
cebe que o condutor está habituado a estas abordagens. É moçam-bicano e fala tão docilmente quanto o polícia Por essa razão, o polí-cia salta a habitual etapa do pedido velado de meticais, unia actua-ção recorrente quando o infractor é estrangeiro e fica-se pelo raspa-nete, sempre com um meio sorriso na boca.
- Tenha um bom domingo e não volte a parar no carro no meio da estrada porque dificulta a circulação.
- Um bom domingo para si também. Um polícia extorquir dinheiro a um automobilista por razão ne-
nhuma é um acto de corrupção? Teoricamente sim, mas a punição moral torna-se mais leve quando julgada levando em contra outros pressupostos.
O vencimento de um polícia em Moçambique é pouco superior ao que os três ocupantes da "pick-up" acabarão por gastar no almo-ço desse dia, seis mil meticais (68 euros). Ou seja. este tipo de com-portamento pode ser tolerado pela disparidade de rendimentos exis-tente em Moçambique.
A corrupção nos serviços do Estado é admitida pelo próprio Go-verno. Jorge Nhambiu, ministro da Ciência e Tecnologia de Moçam-bique, que participou na conferência Ei D. um fórum global sobre identificação electrónica organizado pela empresa portuguesa Mul-ticert, que teve lugar dias 19 e 20 de Setembro em Maputo, explicou a aposta do seu Governo nos meios electrónicos na administração pública com base neste pressuposto. "lima das nossas grandes ba-
que
Há dois anos, o futuro de Moçambique era pintado com cores promissoras, sobretudo por causa da descoberta de enormes reservas de gás natural. Hoje, o país vive um clima de incerteza por causa da guerra e da dívida oculta, que colocou em causa o Governo e fechou a torneira da ajuda financeira externa.
CELSO FILIPE, EM MAPUTO cfilipe@negottos.pt
ANA SUMIDA
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talhas é a luta contra a cotrupção e queremos diminuir ao máximo a intervenção dos humanos. Se diminuirmos isso, teremos vencido uma grande batalha", afirmou Nhambiu.
Apesar doveemente postulado do governante moçambicano, há ainda fenómenos por explicar na aplicação do dinheiro público. Um deles materializa-se nas ruas de Maputo, na forma de postes metáli-cos brancos, no topo dos quais repousam câmaras de filmar. Trata-se de um sistema de videovigilância que apareceu de repente na ca-pital e cuja utilidade ultrapassa os limites do duvidoso. As câmaras estão lá, ninguém sabe quem as encomendou e sobram teorias cons-pirativas sobre os beneficiários de um negócio de milhões. João Ma-tlombe, vereador dos Transportes e Trânsito, citado pelo jornal Fo-lha de Maputo, disse que esta medida visa reduzir os índices de cri-minalidade que se registam na cidade e também na zona da Matola, mas reconheceu que o projecto não havia sido desenhado pelo mu-nicípio. Na mesma altura, em Junho deste ano, Orlando M undama-ne, porta-voz do Comando da Polícia, afirmava que as forças policiais não tinham qualquer projecto de videovigilância em curso. Um mês
depois, o ministro do. Interior, Basilio Monteiro, assumiu o projecto em nome do Governo, mas não explicou o custo do mesmo nem a identidade das empresas privadas envolvidas, abrindo espaço a en-redos conspirativos.
A rocambolesca história do sistema de videovigilância, contada à mesa de um restaurante de Maputo, é o embrulho para um proble-ma de fundo, oda dívida oculta moçambicana e as suas repercussões na econom ia do país. Aque se junta outro, ainda mais grave, a manu-tenção do conflito armado entre o Governo e a Renamo (Resistência Nacional de Moçambique), liderada por Afonso Dhlakama, que não aceita os resultados das eleições de Outubro de 2014,as quais deram a vitória à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e ao seu líder, Filipe Nyusi. "Restaurar a paz" é a condição essencial para re-lançar o desenvolvimento do país, resume ao Negócios o economis-ta de uma instituição financeira moçambicana que prefere manter o anonimato.
Uma tarefa árdua, atendendo à tensão histórica existente entre a Frelimo e a Renamo. Um empresário português aviver em Mapu-
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Um sistema de videovigilância que está a ser instalado nas ruas de Maputo abre espaço para enredos conspirativos baseados neste duvidoso investimento.
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REPORTAGEM
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to ilustra a complexidade deste processo com o factõ de nas lín-guas autóctones - que são oito - não existir a palavra "adversá-rio", mas apenas a de "inimigo", circunstância que dificulta o diá-logo. Estaiemântica belicista encontra conforto nas palavras do Wande-Wane Bedford, coronel das forças armadas do Governo, que conduziu os jornalistas numa visita ao quartel de Nemagawa, antiga base da Renamo da Gorongosa. "Nós estamos aqui com uma missão clara, a de perseguir todos os bandidos armados. A política é para os políticos".
O conflito militar persiste, apesar dos esforços da mediação externa e das promessas do presidente moçambicano. "Avia es-colhida por todos nós é o diálogo", declarou solenemente Filipe Nyusi durante a sua estada em Nova Iorque, na terceira semana de Setembro, para participar na 705 cimeira das Nações Unidas. Em Maputo, a perspectiva é outra. Fernanda, vendedor de arte-sanato no Parque dos Continuadores, resume a situação com sim-plicidade, enquanto vende uma pulseira de miçangas: "a vida está mal, eles não se entendem e o povo sofre".
A VENDA DE UM BATIK ACABA NUMA GARRAFA DE ÁGUA Na Televisão de Moçambique, faz-se passaroutra mensagem,
em forma de anúncio. "Já fomos um dos países mais pobres do mundo, agora somos um país promissor. O país avançacomavon-tade do povo e sob a liderança do nosso presidente". Um empre-sário moçambicano que prefere não dar a cara vê a realidade de outro prisma, diz que o país "está em crise" e considera Nyusi um líder fraco que foi colocado no poder pelo anteriorpresidente,Ar-mando Guebuza A crise diagnosticada pelo empresário é confir-mada pelo economista já referido. Coma "persistente tensão po-lítico-militar", o país regista, desde 2014, uma queda acentuada do investimento directo estrangeiro, sendo que "o clima de incer-teza, a quebra de confiança e a falta de transparência na governa-ção" têm um "impacto nocivo e directo" nos indicadores macroe-conómicos. Um exemplo. O actual quadro de instabilidade faz com que estejam suspensos investimentos de três mil milhões de dólares na porto de Nacala e muitos cidadãos estran-geiros, portugueses incluídos, têm saído do País.
Em Maputo, onde antes havia falta de oferta imobiliária, sobejam agora as casas e os escritórios para alugar. Háum, dois anos, o ar-rendamento de um apartamento no centroda capital custava três mil euros/mês, nos dias que correm é possível fechar negócio por 600 euros. Uma situação que tem um efeito domi-nó. Os estrangeiros, quando alugavam casa, criavam também postos de trabalho ao recor-rer, por exemplo, à contratação de emprega-das domésticas, pelo que a sua partida acabou também por criar desemprego e aumentara tensão social.
Há casos tocantes, como ode Leonel. À porta do restauran-te Cristal, começa por tentar vender batikes, pinturas em teci-do com temáticas africanas. A seguir, pede que lhe ofereçam a comida que sobrar da refeição e acaba por se contentar com uma garrafa de água de litro e meio. Em todos os pedidos de Leonel, sobressaem dignidade e bons modos. Pressente-se uma resi-gnação que o tempo pode transformar noutra coisa. E qual será o futuro próximo de Leonel, atendendo ao vaticínio desanima-dor do citado economista: "a situação vai piorar antes de melho-rar". O Negócios quis obter o retrato do país, pintado pela voz oficial, mas o pedido de uma entrevista ao primeiro-ministro do país, Carlos Alberto do Rosário, apesar das reiteradas solicita-ções, ficou sem resposta
Há dois anos, Moçambique era de facto o país promissor que a Televisão de Moçambique apregoa Agora não é. Há dois anos, com a queda do preço do petróleo, as grandes sociedades minei-ras que extraem carvão na região de Moatize começaram a redu-zir a sua actividade. As empresas que apostaram no gás natural,
sobretudo na região de Cabo Delgado, também abrandaram os investimentos, pela combinação da quedado crude e do conflito armado que se vive no centro de país, e a estimativa agora é a de que Moçambique só começará com GNL (gás natural liquefeito) em 2021, retardando assim o impacto desta actividade na econo-mia nacional. E a portuguesa Navigator, que tinha projectado um investimento na área florestal em Moçambique avaliado em três mil milhões de euros, abrandou agora a sua execução.
No relatório e contas relativo ao primeiro semestre de 2016, datado de I de Setembro, a Semapa, "holding" que detém a Na-vigator, escreve que está "a desenvolver um processo de reflexão relativamente ao ritmo de evolução do projecto em Moçambi-que, sobretudo ditado pela evolução do actual contexto político-social (que sofreu um agravamento significativo no último se-mestre), mas que reconheça também as exigências de desenvol-ver uma operação silvícola de grande dimensão no país". Mais à frente, a Navigator é esclarecedora: "a situação político-econó-mica do país é instável, o que traz desafios acrescidos ao projec-to, ao nível da segurança de todos os que nele estão envolvidos e da garantia de abastecimento dos produtos, materiais e serviços necessários".
A VIDA MUDOU EM DOIS ANOS. PARA PIOR Há dois anos, as organizações internacionais consideravam
Moçambique um país fiável, mas esta percepção foi seriamente danificada com a descoberta, em Abril deste ano, de uma dívida oculta de 1,4 mil milhões de dólares das empresas públicas Ema-tom (Empresa Moçambicana de Atum), Proindicus (segurança marítima) e MAM (Mozambique Asset Management) com aval do Estado, o que levou a que o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) suspendessem o financiamento ao país.
Os dois nós que continuam a apertara futuro do Moçambique são a paz e a dívida. E, sem desatar o primeiro, a economia permanecerá refém da instabili-dade política que daqui resulta. "Se não hápaz, • não haverá condições para resolveras proble-mas que o país enfrenta" sintetizou Mario Raffaelli, nomeado pela União Europeia para mediar o conflito entre o Governo e a Rena-mo, no passado dia 25 de Setembro, por oca-sião do 52.° aniversário do início da luta arma-da contra o colonialismo português.
Mas, para isso, é preciso arrepiar cami-nho. Após Joaquim Chissanoterdeixado a li-derança do país, em 2005, o Governo optou por uma atitude de marginalização da Rena-mo e do seu presidente, Afonso Dhlakama. "Durante 10 anos, Guebuza (o sucessaule
Chissano) nunca falou com Dhlakama e Nyusi é um homeni de mão de Guebuza", comenta um empresário moçambicano, sob anonimato. Uma leitura perfilhada por Graça Machel. "Se nós tivéssemos persistido nos princípios e na maneira dialogante que caracterizou a liderança do presidente Chissano, provavel-mente não teríamos este actual conflito. Hoje vocês têm o de-safio da busca de uma paz duradoura, voltem ao espírito de Chis-sano, procurem encontrá-lo, este é o desafio", afirmou Graça Machel perante uma plateia de estudantes que assistiam a um seminário organizado pelo Instituto Superior de Relações In-ternacionais (ISRI) em Maputo, subordinado ao tema "Samo-ra Machel: Vida, Pensamento e Obra".
Navia paralela à da política, corre uma "crise económica" que contamina o país, salienta °economista ouvido pelo Negócios. "O • índice de criminalidade está a aumentar, a instabilidade social é tremenda, os investidores ficam na incerteza, há empresas a en-cerrar, muitos despèdimentos, e a tendência é para piorar", diz o referido interlocutor, perspectivando que a economia moçambi-cana só mostrará "alguns sinais de reanimação" no final de 2017, sobretudo por causa dos acordos para a exploração de gás natu-
"A situação ainda vai piorar antes de melhorar", diz um economista de uma instituição financeira do país. A crise em Moçambique veio para ficar.
"Se tivéssemos persistido na maneira dialogante que caracterizou a liderança do presidente Chissano, provavelmente não teríamos este actual conflito", diz Graça Machel.
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Âmbito: Economia, Negócios e.
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Celso Filipe
ml que o Governo irá estabelecer com a Anadarko, a Eni, a Qatar Pe-troleum e a E,ocon. "A carteira de investimentos em projectos de gás, para os próximos anos, é de 100 mil milhões de dólares". Este ano, o PIB de Moçambiquecrescerá apenas 3%, metade daquilo que tem acontecido na última década, uma circunstância que coloca mais pressão sobre o Governo do país.
Para já, Filipe Nyusi tenta resgatara confiança das entidades que suspenderam a ajuda financeira a Moçambique na sequência dades-
coberta da dívida oculta, tendo-se comprometido com o FMI ade-sencadear uma auditoria às contas públicas, liderada pela Procura-doria-Geral da República, destinada a apurara legalidade das garan-tias soberanas do Estado. O FMI, num comunicado datado de 25 de Setembro, defende ainda a necessidade do Governo moçambicano levar a cabo novas acções para a estabilização da economia e fazer esforços adicionais para a melhoria da transparência, em particu-lar na auditoria internacional e independente das empresas finan-ciadas por fundos que resultaram na dívida pública em causa.
Para os cerca de 23 mil portugueses que estão em Moçambique, em particular os que residem em Maputo, a vida continua a decor-rer com normalidade. E os expatriados com quem se conversa es-tão satisfeitos e adaptados à cidade. Perversamente, quem recebe os ordenados em euros ou dólares ganhou poder de compra com a desvalorização do metical, enquanto os moçambicanos que rece-bem na moeda local sentem cada vez mais dificuldades devido ao aumento da inflação.
O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, que visitou a Feira Internacional de Maputo no final do mês de Agosto, levou a mensagem de que é preciso "resistira este momento menos positi-vo" da economia moçambicana e que as empresas devem apostar numa "perspectiva de longo-prazo". "Encontrei nas empresas por-tuguesas que estão cá, algumas delas há muitos anos e que estão cá para ficar, aperspectiva de quem percebe que há anos bons e menos bons e que é preciso continuar", declarou Manuel Caldeira Cabral.
Hélia &Ia, que assina o editorial de 20de Setembro do jornal No-tícias de Moçambique, dá conta da urgência de um entendimento entre o Governo e a Reliam°. "Os que vieram de fora para nos aju-dar a resgatar a paz começam a demonstrar cansaço. Um dia, dar-nos-ão as costas e ficaremos envergonhados continuando a matar-mo-nos uns aos outros."
Moçambique, conhecida como a pérola do Índico, precisa de ser polida pelos seus líderes para voltar a brilhar. w
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Âmbito: Economia, Negócios e.
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Em miúdo, LUÍS AFONSO brincava aos antifascistas e pides, versão pós-25 de Abril de polícias e ladrões para crianças. Era assim em Aljustrel, a terra onde nasceu. "Primeiro caçávamos pides e depois fazíamos discursos. Havia sempre alguém que subia para um monte de entulho, discursava e os outros batiam palmas. Acabávamos a dizer: viva o 25 de Abril, viva o Marechal António de Spínola, viva o Otelo Saraiva de Carvalho! Eram discursos sobre nada. Basicamente, não é muito diferente daquilo que se passa hoje", brinca o "cartoonista" que, em pequeno, queria ser piloto de Fórmula 1 e assistia às corridas na televisão do centro do. PCP, onde não faltava a electricidade aos domingos. E os camaradas: "Porque é que estás com essas merdas burguesas, isso é sempre igual'. Eu não dizia nada, para . não se zangarem comigo", conta Luís Afonso, em entrevista ao Negócios. Não foi piloto de Fórmula 1, foi geógrafo, deu aulas em Serpa, onde vive há 30 anos. É lá que tem o seu teatro de marionetas. É lá que nascem os seus bonecos. Aqueles que contam histórias no Público, n'A Bola e no Negócios. "Os dois nós que continuam a apertar a futuro de Moçambique são a paz e a dívida. E, sem desatar o primeiro, a economia permanecerá refém da
instabilidade política que daqui resulta. 'Se não há paz, não haverá condições.para resolver os problemas que o país enfrenta', sintetizou Mario Raffaelli, nomeado pela União Europeia para mediar o conflito entre o Governo e a Renamo", escreve Celso Filipe, no artigo "MOÇAMBIQUE: PÉROLA SEM BRILHO". Uma reportagem num país que, há dois anos, era pintado com cores promissoras, sobretudo por causa da descoberta de enormes reservas de gás natural, como refere o jornalista.
LÚCIA CRESPO. editora
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A6 Moçambique: "Não haverá governação partilhada", diz analista
Tipo Meio: Internet Data Publicação: 30-09-2016
Meio: Portal de Angola Online
URL:http://www.pt.cision.com/s/?l=2c30e852
CPLPMoçambique Moçambique: "Não haverá governação partilhada", diz analistaPor redacao -29/09/2016 Compartilhar no Facebook Tweet no Twitter Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique (DW)Só iniciativa presidencial pode permitir que nomes sugeridos pela RENAMO governem províncias ondeo partido reclama vitória. Em contrapartida a RENAMO deve abandonar as armas. Uma análise dohistoriador Egídio Vaz. Em Moçambique, o maior partido da oposição não para de exigir governar as seis províncias ondereivindica vitória nas eleições gerais de 2014. Mas a RENAMO não obteve maioria em todas elas. Opaís vive atualmente um confronto militar envolvendo homens armados do partido e as forças desegurança do país também porque o Governo não aceita a revindicação. E neste momento em quetambém se negoceia a paz, e este é um dos temas polémicos, que a DW África entrevistou ohistoriador Egídio Vaz DW África: É legítimo que a RENAMO governe as tais províncias sem que tenha obtido maioriaabsoluta numa boa parte delas? Egidio Vaz (EV): Seguramente que a Constituição da República não permite isso, portanto não élegítimo. Mas é possível por iniciativa presidencial que Filipe Nyusi acate esse pedido e ele próprionomeie governadores por ele sugeridos. A acontecer não seria a primeira vez, é importante recordarque ao sair das eleições conturbadas de 1999 a RENAMO exigiu governar onde ela devia tergovernado. Portanto, de novo nas tais seis províncias. A solução então encontrada é que a RENAMOiria sugerir seis nomes ao Presidente Chissano e por sua vez o Governo iria sugerir três nomes paracada província onde Dhlakama iria escolher cinco. Só que este plano secreto não chegou a serimplementado por causa do escândalo que se seguiu. No Chibuto Joaquim Chissano denunciou afinalde contas as negociações entre o presidente da RENAMO e o Governo que tinham como finalidadepara o partido conseguir dinheiro. Essa foi a gota [de água] que baralhou todo o processo negocial. DW África: Vê a possibilidade de formação de uma coligação caso esse assunto chegue a bom termo? EV: A proposta dos negociadores foi que o Presidente da República nomeasse provisoriamente osgovernadores onde a RENAMO teve a maioria. Neste caso concreto seria uma iniciativa presidencial,portanto seriam pessoas da RENAMO a governar em nome do Governo de Moçambique as provínciaspara as quais foram nomeadas, tendo como contrapartida a desmilitarização. Enquanto isso, estariatambém em processo não só a revisão da Constituição, mas também dos restantes comandoslegislativos para adequar a um processo de administração mais descentralizada. DW África: E qual seria o papel do MDM? EV: Não há pão para o MDM nesse processo, definitivamente, para a minha infelicidade e para osdemais por causa da RENAMO que não gosta de trazer a mesa outros atores, inclusive os atores nãopartidários como a sociedade civil. Segundo a RENAMO esse é um assunto que tem apenas a ver comas duas partes interessadas [RENAMO e Governo da FRELIMO] nesse caso. DW África: Neste caso referimo-nos a questão de governação onde há, por exemplo, um caso de
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empate técnico entre a FRELIMO e a RENAMO, para fazer um desempate através de uma coligação. EV: Volto a repetir e a clarificar os conceitos: não haverá nenhuma governação partilhada. Esse é umapensamento quimérico. A Constituição da República não irá permitir isso, o Presidente da República enenhum dirigente da FRELIMO vai permitir que haja uma governação partilhada até as próximaseleições. O que vai acontecer é que qualquer cedência passará por uma iniciativa presidencial fazer asnomeações necessárias para que a RENAMO possa ficar feliz em nome de uma contrapartida maiorque é a desmilitarização do partido RENAMO. (DW) (DR) (DR)COMPARTILHAR Facebook Twitter tweetArtigo anteriorEncontrados nove corpos com marcasde violência em rio no oeste do MéxicoPróximo artigoLiga Europa, Grupo A: Mourinho salvo porRooney e Ibra diante do Zoryaredacao 2016-09-29T23:47:18+00:00
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Moçambique quer ajuda financeira do FMI "o mais rapidamente possível"
Tipo Meio: Internet Data Publicação: 30-09-2016
Meio: Porto Canal Online
URL:http://portocanal.sapo.pt/noticia/102711/
Washington, 29 set (Lusa) - Moçambique pediu ao Fundo Monetário Internacional para as reuniõessobre a retoma da ajuda financeira começarem "o mais rapidamente possível", anunciou a instituição,que já está a delinear com o executivo moçambicano a auditoria externa às contas públicas. "As autoridades pediram ao Fundo para recomeçar as discussões sobre o apoio financeiro o maisrapidamente possível", lê-se numa declaração divulgada hoje em Washington, no final a visita de setedias de uma missão do FMI a Moçambique. A nota divulgada hoje ao início da noite acrescenta que "um registo sólido de implementação depolíticas macroeconómicas salutares e o início efetivo do processo de auditoria a curto prazoajudariam a criar as condições para um possível recomeço da discussão sobre o programa [de ajudafinanceira] do FMI". A declaração, assinada por Michel Lazare, que liderou a equipa que visitou Maputo durante sete dias,assinala ainda que os "termos de referência" da auditoria às empresas públicas que esconderamempréstimos validados pelo Estado no valor de 1,4 mil milhões de dólares, equivalentes a 10,7% doPIB, já estão a ser negociados. "No seguimento das reuniões entre o Presidente Nyusi e a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde,em Washington a 15 de setembro, a missão fez um progresso considerável com a Procuradoria-Geralda República no esboço em detalhe dos termos de referência [TOR, no original em inglês] para umaauditoria internacional e independente à Ematum -- Empresa Moçambicana de Atum, Proindicus eMAM -- Mozambique Assett Management, com o objetivo de fortalecer a transparência, a governançae a responsabilização para evitar incorrer nos problemas de dívida do passado". A declaração pormenoriza ainda que "o esboço dos TOR está em andamento, e deve estar concluídoem breve". Em causa está uma das exigências do FMI e dos credores internacionais para retomarem a ajudafinanceira a Moçambique, suspensa no início do verão, quando foi conhecido que estas empresaspúblicas tinham contraído mais de 1,4 mil milhões de dólares em empréstimos avalizados pelo Estado,mas que foram escondidos do público e mantidos fora das contas públicas oficiais. Moçambique deve abrandar o crescimento de 6,6% no ano passado para 3,7% este ano, segundo asprevisões do FMI, que refere ainda a subida da inflação para os 21% em agosto e a desvalorização de40%, desde o início do ano, do metical, para sustentar que tudo isto levou "a uma subida substancialdos rácios da dívida e do fardo do serviço da dívida". A equipa do FMI elogiou as medidas políticas tomadas desde junho pelo Governo e pelo banco central,mas considerou que, perante as dificuldades económicas em várias frentes, deverá ser necessário umnovo conjunto de medidas para "consolidar o estado das finanças públicas e simultaneamentepreservar os programas sociais fundamentais".
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MBA // ARA Lusa/Fim 29-09-2016 21:34
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Tiragem: 32078
País: Portugal
Period.: Diária
Âmbito: Informação Geral
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Corte: 1 de 4ID: 66290249 30-09-2016
Enquanto os técnicos do Fundo
Monetário Internacional (FMI)
negociavam no Ministério da
Economia e Finanças os contornos
da auditoria à dívida pública não
declarada, Ragendra de Sousa
garantia que Moçambique entra
nesta negociação de “igual para
igual”. A visita do fundo terminou
ontem, tendo já sido acordados
os termos da auditoria e lançadas
as bases do programa de apoio.
“Fomos os meninos dos olhos
azuis e, de noite para o dia,
passámos a ter vergonha”, admite
o vice-ministro da Indústria e
Comércio, cuja nomeação, há
pouco mais de três meses, causou
perplexidade por ser visto como
um crítico das opções do Governo.
Mas o economista, doutorado
pela Cornell University, diz que
a responsabilidade da crise é
partilhada, sobretudo com os
bancos que aceitaram emprestar
o dinheiro que fi cou por registar,
manchando a credibilidade do
país — o que levou à suspensão
dos apoios dos doadores. “Será
que quem está no Credit Suisse
é analfabeto?”, questiona. Um
dos caminhos que defende é a
venda antecipada das receitas do
gás, já que a concretização destes
megaprojectos tem sido adiada,
e diz que é preciso arriscar em
sectores como o comércio rural e
mudar o enfoque na captação de
investimento. A entrada da Sonae
(dona do PÚBLICO) no mercado
moçambicano é “muito bem-
vinda”.
Completa hoje [23 de Setembro] três meses no cargo. Por que decidiu aceitar o convite num momento tão difícil para o país?É uma obrigação de cidadania.
Na minha carreira, parto de
funcionário público. Achei por
bem aceitar, voltar à função
pública, trazer para a governação
tudo o que aprendi e que seja útil
ao país, de forma mais activa —
embora haja algo que nunca perdi,
a minha capacidade analítica.
Era considerado uma voz crítica do Governo. Entende as reacções à sua nomeação?
Ragendra de Sousa O vice-ministro da Indústria e Comércio de Moçambique garante que a crise, em especial a da dívida pública, será resolvida com a venda antecipada das receitas do gás
“Não preciso que o FMI me venha dar aulas. Eu estudei na mesma escola”
EntrevistaRaquel Almeida Correia, em Maputo
Bom, estamos a entrar numa área
fi losófi ca. A academia não critica,
avalia a situação. A minha postura
sempre foi guiada pelos princípios
teóricos e pelos conhecimentos
empíricos. Claro que o público em
geral divide sempre [entre] crítico
[e] não crítico, mas essa avaliação
chega a mim e não me perturba.
A crise é o maior desafi o que enfrenta no seu mandato?Absolutamente. Já tinha a plena
consciência de que estávamos a
enfrentar uma crise, temporária,
mas com uma característica muito
especial. Propalámos durante
anos o nosso grande ritmo de
crescimento, mas nunca foi dito ao
cidadão comum qual era a fonte do
crescimento. E, como economista,
nunca me iludi que a fonte de
crescimento foi o investimento
externo. O que é preciso é explicar
ao homem comum que este
crescimento não vai chegar tão
rapidamente ao bolso, porque
está a ser efectuado num sector
que dá pouco emprego. Mesmo
dando emprego, sendo indústrias
de capital intensivo, os mil milhões
vão para as máquinas, não vão
para salários. Tivemos este choque.
A nossa crise é estrutural, agravada
— repito, agravada — pela [crise da]
dívida. Por que é que eu ponho
a questão desta forma? Pelos
montantes que já conhecemos
da dívida não declarada e pelos
cálculos que fi z, paga-se com a
venda antecipada de gás só de
um ano. Se vendermos o gás
antecipadamente, se o fi zermos
num ano ou dois, a receita é de
longe superior à dívida.
O problema da dívida pública é só mais uma agravante numa crise mais profunda e ampla?O choque aparece antes. Quando
as matérias-primas perderam
valor, a economia começou a
ressentir-se. Se olhar para a taxa de
câmbio, começa a derrapar muito
antes do problema da Ematum
[uma das empresas que contraiu
dívida não declarada]. A redução
das reservas internacionais começa
antes. É aí que, do ponto de vista
institucional, aparece o FMI. Mas
quando se dá o escândalo da
dívida, uma economia como a
nossa, que é muito dependente,
ressente-se. É nesse sentido
que digo que aceitei o desafi o,
especialmente na área da indústria
e do comércio, porque para mim
são o pilar desta economia. Mas
quero recordar o grande Adam
Smith, que diz que a essência da
produção é a venda. A venda faz-se
pelo comércio e a industrialização
não é mais do que agregar valor
ou melhorar a conservação, se
estivermos a falar de produtos
agrícolas.
O problema vai além dos
valores não declarados. A dívida do Estado está a disparar há uma década. E isso não se resolve com a venda antecipada das receitas do gás.Quando falo da venda antecipada,
estou a mostrar-lhe que a tal dívida
oculta não é tão substancial. Mas
a dívida em geral, absolutamente.
Vai reparar que o agravamento
da dívida acontece no segundo
mandato e o Governo já não o
poderia resolver. No nosso caso,
o problema foi agravado pela
fraqueza institucional. Temos
um Parlamento com capacidade
de escrutinar o Orçamento do
Estado ao nível que temos... Somos
o que somos, havemos de ser
melhores. O princípio democrático
ainda está na sua infância. Há
grupos da sociedade civil que
querem contribuir na função de
monitorização e é muito bem-
vinda essa atitude. Não é negada.
MANUEL ROBERTO
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Às vezes cria fricção, o que é
normal. Mas o fundamental é que
se aceite o contraditório.
O país estará mesmo preparado para que exista esse contraditório, esse escrutínio?Se me perguntar do ponto de vista
técnico e administrativo, não. No
que diz respeito a economistas
e analistas em quantidade e
qualidade, ainda estamos longe
do ideal, mas vontade política
posso garantir que existe. Já que
disse que eu era um grande crítico,
veja que estou no Governo. A
vontade está expressa. Falou de
mim, eu falo do meu colega do
lado, que é governador do Banco
de Moçambique [e ex-funcionário
do FMI], um tecnocrata perfeito,
um moçambicano com um saber
macroeconómico que não depende
de ninguém. Eu tenho dito que não
preciso que o FMI me venha dar
aulas. Eu estudei na mesma escola.
E agora na mesa vai provar-se isso,
quando vierem com excesso de
tesoura. Vai ser uma discussão de
igual para igual.
Defende a expectativa que se depositou nos projectos do gás, ou o país fez mal em não apostar noutras áreas?Há essa teoria de que os recursos
dão desastre, mas porque não
deu na Noruega, na Itália ou
na Inglaterra? Será que só dá
connosco cá em baixo? E vou dizer-
lhe, com todos os meus dentes,
não. Vá ao nosso vizinho Botswana,
têm diamantes, não deu miséria.
Essa maneira de ver é análise de
café. Nós temos de fazer as duas
coisas. O que é preciso entender é
que temos défi ce de empresários.
Está a falar com um doutorado,
que estudou na Cornell University,
mas é fi lho de um pedreiro. Eu
não tenho herança para poder
dar como hipoteca para começar,
por isso a banca comercial não me
serve. Temos de encontrar outros
mecanismos, porque o meu saber
é desvalorizado.
Sem essa base de empresários, como vai o país recuperar?O que temos feito é abrir a
economia ao investimento
estrangeiro, transformar a nossa
terra na terra onde se sinta bem
quem quer trabalhar para produzir
a sua própria riqueza. Nós não
somos contra a transferência de
lucros, quem trabalha precisa
de ser remunerado. O que nos
falta talvez, e já estamos a tomar
algumas medidas, é alterar o
nosso enfoque na promoção do
investimento. Eu quero que tirem
os diamantes, quero que tirem o
gás. O gás está cá para os próximos
100 anos. Quanto mais retardar
a sua exploração, [mais] estou
a sacrifi car a próxima geração.
Os grandes projectos estão
estabilizados e agora vamo-nos
preocupar com a industrialização.
Mas não me posso esquecer que
um dos grandes desafi os que temos
é ligar o campo à cidade e isso não
pode ser de forma extractiva. A
forma de comercialização que se
instalou, depois da imperialização,
é as grandes companhias irem ao
campo comprarem o excedente
do camponês e saírem de lá.
Concordamos com este modelo,
mas é incompleto. Temos de fazer
tudo para repor o comércio rural.
Como se fará essa transição?Promovendo a instalação de
comércio rural. O Estado não tem
dinheiro, mas pode criar o melhor
ambiente possível. As lojas já lá
estão, apenas estão danifi cadas.
Então vamos pedir ao empresário
que reabilite e o custo pode ser
descontado no imposto, por dois
ou três anos. Mas vai-me levantar
o problema da segurança, que os
próprios empresários levantam.
E eu pergunto: se eu acredito no
cidadão ao qual chamo polícia e
lhe dou uma arma, por que não
acredito num agente económico?
O que é preciso é treiná-lo. Nos
Estados Unidos, com toda aquela
pujança, há mais tiroteios. O
segundo desafi o que temos é que
o país perde até 27% da produção
logo no pós-colheita, por falta de
armazenamento ou defi ciências
no transporte. Se perdemos
tomate, não posso esperar para
produzir tomate numa aldeia
porque não tem escala [para
compensar as perdas]. Mas ensinar
as comunidades locais como se faz
massa de tomate vai-nos ajudar a
não perder a produção.
Como pode um país tão dependente do que vem de fora resistir perante os números que mostram que os investidores estão a fugir, por causa da
“Fomos os meninos dos olhos azuis e, da noite para o dia, passámos a ter vergonha”
c
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Corte: 3 de 4ID: 66290249 30-09-2016crise e do confl ito armado?A perturbação política existe,
mas não é da dimensão que um
europeu entende. Quando um
europeu diz que a Frelimo e a
Renamo não se entendem e que
estão aos tiros, devem estar a
pensar que os tiros são de manhã
à noite. São tiros esporádicos.
São preocupantes, mas não têm a
intensidade do Afeganistão.
Mas têm impedido a circulação em algumas zonas do país.Não, não impedem a circulação.
Difi cultam a circulação, aumentam
o risco e o seguro. Não nego
que contribui [para reduzir o
investimento estrangeiro], mas
em Nova Iorque rebentaram duas
bombas e o Macy’s fechou? Não
quero evitar responder à pergunta,
quero é responder da forma mais
profunda. Faço uma comparação
para que se perceba.
Apesar da actual situação, a Sonae anunciou a entrada em Moçambique com a compra de dois supermercados. Como vê este investimento?É um investimento muito bem-
vindo. Nós precisamos dele e
vamos acarinhá-lo na medida
das circunstâncias. Temos de ver
os benefícios que poderemos
dar, porque se retirar impostos
nas actividades agrícolas, numa
sociedade piramidal com uma
base larga, como vou manter
os subsídios? Posso fazê-lo
temporariamente em momentos
de crise, mas a economia não
aguenta. Os megaprojectos vão-
nos dar um conforto fi nanceiro
e fi scal, mas esse conforto não
pode ser dirigido para subsídios,
mas sim para a produção. Um
subsídio sem horizonte temporal
não ajuda ninguém. Já ouviu dizer
que o Banco Mundial é o mau
da fi ta, que não deixa subsidiar?
Não é verdade. O Banco Mundial
subsidiou sementes, agro-químicos
no Malawi, que é uma caixa de
fósforos. Subsidiou na Zâmbia,
que hoje exporta tudo. Temos
de saber negociar com o Banco
Mundial, mostrar e provar que
não queremos dinheiro para
consumirmos mais.
Essas negociações não estarão feridas por causa do tema da dívida escondida?Está claro que precisamos de um
acordo com o FMI para que todos
os demais agentes internacionais
e o mercado de capitais possam
olhar para Moçambique de forma
diferente. Isto não é segredo para
Lagarde veio a Moçambique fazer
o African Rising e agora sabemos
que nessa altura o empréstimo da
Ematum tinha já sido assinado.
Eles sabem mais do que nós.
Defendo que o país tem de honrar
os seus compromissos, mas não
temos de honrar o valor facial.
Que renegociação procuram?É preciso ver a capacidade que
temos para pagar e o tempo. Se eu
chegar ao credor e disser que não
tenho condições para pagar, ou se
renegoceia, ou entra-se em default.
Mas aí eu respondo que o default
também é teu, porque não fi zeste
due dilligence. Os fi nanciadores do
Credit Suisse e do soviético [VTB
Group] o que vão dizer? Estamos
todos no mesmo barco, com
margens muito pequenas. Temos
de cumprir, mas eles também
precisam de Moçambique para
não dizerem aos accionistas que
não foram profi ssionais. O que o
Presidente da República foi dizer a
Washington [encontros ocorridos
em Setembro com FMI e Banco
Mundial] foi que estamos abertos
a uma auditoria internacional.
Mas vamos aproveitar e fortalecer
as nossas instituições. O FMI que
diga o que quer, mas que seja feito
dentro da Procuradoria-Geral da
República (PGR).
A dúvida é se será independente como exige o FMI.Continua a ser externo, como o
FMI pretendia. Qual é a diferença
entre fazer no Hotel Polana ou nos
escritórios da PGR? Os técnicos
são os mesmos, os termos de
referência da auditoria serão
de comum acordo. Se for desta
forma, os moçambicanos na
volta vão aprender. Fazendo no
Polana ninguém aprende, fazendo
em Londres vamos receber 500
páginas em papel, o resto fi ca
lá. Parece-me justo e sensato. A
equipa do FMI não trabalha no
Polana, trabalha no Ministério da
Economia e Finanças.
Que acordo já existe sobre os termos de referência?Serão os termos de referência
internacionalmente aceites. Os
economistas, tal como os médicos,
têm obrigações deontológicas.
Não posso mexer num número
só para melhorar [as contas].
Não posso, não devo. Tanto eu,
como um analista do banco. Só
para perceber: venderam-nos os
barcos e não temos marinheiros. O
homem do banco não deveria ter
perguntado se havia marinheiros?
Era o mínimo.
Entende, por isso, o choque que provoca ver que os barcos que compraram com a dívida não declarada continuam parados?Absolutamente. Por isso é que
aceitámos que a Assembleia da
República fi zesse a comissão de
inquérito. A própria PGR já se
pronunciou, concluindo que tem
características de atropelo à lei.
Todo o mundo é inocente até...
mas isto são valores que no nosso
dia-a-dia não são fáceis de cumprir.
Seguindo esta ideia dos atropelos à lei, que consequências poderá ter a auditoria para os decisores políticos envolvidos?Temos dois momentos. O primeiro
é saber o quê, qual o envolvimento
e se possível quem. E o segundo é
a decisão que institucionalmente
compete aos tribunais. Está a
ver a vantagem de ter lá dentro,
na PGR, a auditoria? Os sinais de
transparência e abertura estão
aí. Talvez estejamos a divergir
na velocidade, alguns quereriam
que já estivesse resolvido. Mas aí
já não sou a pessoa indicada para
me pronunciar, terá de ser a PGR,
a Assembleia da República. Se
a comissão já está operacional,
não sei. Claro que a velocidade
está a prejudicar a economia.
Restabelecida a confi ança, talvez
não estivéssemos a este nível. Mas
uma coisa boa aconteceu em todo
este marasmo: percebemos que
podemos viver sem doadores.
Ainda não morremos e já vai fazer
um ano.
Que implicações pode ter a auditoria, tendo em conta que alguns dos decisores envolvidos na contratação dos créditos ainda têm ligações ao Governo e ao partido no poder?Quando me põe a pergunta desta
maneira, eu percebo. É tentar
envolver o actual Presidente em
tudo isto, porque era ministro da
Defesa. O que eu vou fazer, para
pensarmos juntos, é imaginar
que a senhora tem um guarda no
seu prédio e lhe diz que precisa
de botas e guarda-chuvas para o
seu trabalho. Qual é a resposta
que está à espera? Está a cumprir
a sua função. Sobre o facto de o
Presidente ter sido ministro da
Defesa, não se esqueça que temos
3500 quilómetros de costa e agora
multiplique por 200 quilómetros
nós. Precisamos de melhorar
os níveis de confi ança. Fomos
os meninos dos olhos azuis nos
últimos 30 anos e, da noite para o
dia, passámos a ter vergonha de
nós próprios.
Sente que os decisores políticos estão a ser vistos como os únicos culpados, apesar de os bancos e de os parceiros internacionais não serem alheios à crise, nomeadamente à da dívida escondida? Era por aí que queria ir. Leiam
o Basileia III [regras impostas à
banca fruto da crise mundial].
Agora que eu sei, todas estas
dívidas foram de project fi nance,
uma estrutura muito exigente em
que o banco fi nanciador é que gere
as receitas da empresa fi nanciada.
Será que quem está no Credit
Suisse é analfabeto?
Por isso é que, não existindo um único culpado e não tendo sido declaradas, há quem defenda que estas dívidas não devem ser pagas. Qual é a posição do Governo?Devemos renegociar para termos
e condições que a nossa economia
suporte, porque somos um Estado
soberano, não somos um Estado
falido. O que a governação anterior
fez a nova governação tem de
assumir. Só que tem de assumir
com outra postura. É verdade que
os doadores estavam cá, o próprio
FMI estava cá, a dr.ª Christine
“Venderam-nos os barcos e não temos marinheiros. O homem do banco não deveria ter perguntado se havia marinheiros?”
NELSON GARRIDO
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de soberania marítima. Está
literalmente desprotegido. Se o
meu chefe me diz que preciso de
meios para guardar a costa, de
que resposta está à espera? Essa
forma de entrar me parece não
muito justa. Isto tem de ser tratado
de outra maneira. Não pode ser
tratado de forma arruaceira.
Falou do tema dos doadores e disse que o país mostrou que consegue viver sem eles. Mas por quanto tempo?É sempre discutível. Eu sou da
geração do repolho, mas claro que
é diferente hoje. A nossa burguesia
já não iria querer deixar o whisky.
O total dos doadores representa
500 milhões de dólares, mas o
volume de investimentos que vem
é sufi ciente e, se fomos criteriosos,
cortamos no investimento num
valor igual à doação externa.
Pego nas receitas e passo para
o consumo, faço um aperto ao
Passando a crise, vamos voltar ao
mercado de capitais, vamos ter
abertura aos créditos bonifi cados.
É sobre estas duas possibilidades
que deveremos passar a acertar
o nosso Orçamento. O que vier a
mais vamos ver. Sei que as doações
têm um papel tremendo na Saúde,
na compra de medicamentos.
Na Educação também.Eu não sou naïf. Estou é a
dizer que vou aceitar apoio aos
medicamentos, mas não sei
se estarei muito aberto para
seminários de economia verde, se
isso me consumir dois milhões de
dólares. Estarei, sim, disponível
para ensinar como se faz o tomate
e a batata.
Quanto estima que a situação estabilize?Vai depender. Esta missão do
FMI vem defi nir os termos de
referência e o programa de apoio.
Para se fazer um programa de
apoio, há uma série de exigências
orçamentais para garantir a
sustentabilidade, as coisas que vêm
no manual. Passando este teste, e
se algo [um acordo] for assinado
em Novembro, a minha previsão
é que no primeiro trimestre do
próximo ano a economia esteja
a funcionar numa base já mais
estável, mas com apertos.
Sobre o programa do FMI, onde
deve ir e onde não pode ir?O FMI não tem muitos sítios para
ir. A função é suportar o país nas
contas externas e a monitorização.
Fazendo as suas exigências pelo caminho.Como lhe disse, sei tanto quanto
um homem do FMI. As contas
desequilibradas não levam a lado
nenhum. A diferença na academia
e na vida profi ssional é a forma
como se chega lá. E não há duas
escolas, o que muda é a variável
que se escolhe. Pode-se chegar lá
mexendo na variável investimento,
ou na variável despesa do Estado.
Ou na combinação das duas. Se
aplicar medidas que provoquem
um levantamento público e que
me obriguem a pôr o Exército
na rua, aumento os gastos na
defesa, a reparar as estradas. Não
há varinhas mágicas. Veja que eu
estou muito atento à economia
portuguesa.
Estado para tirar as célebres
gorduras e ponho a economia
a trabalhar a um outro nível de
efi ciência.
Está a dizer-me que acredita que podem viver daqui para a frente sem o apoio dos doadores?Cortámos o Orçamento, vamos
fazer a ginástica possível
para trazer a infl ação a níveis
aceitáveis e, se formos capazes
de viver assim, porquê estar a
receber doações para relaxar?
Eu sou contra. Doação temos de
receber mas para um uso mais
efi ciente, mais criterioso. E não
receber doação por doação só
para ter mais um escritório e
mais computadores, fi cando
zero do lado da produção. Com
franqueza, teremos de ser unidos
para, passando a crise, fazermos
uma avaliação muito rigorosa do
que queremos da ajuda externa.
“O que a governação anterior fez a nova governação tem de assumir”
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Âmbito: Economia, Negócios e.
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Área: 13,28 x 3,47 cm²
Corte: 1 de 1ID: 66289982 30-09-2016Sonae SGPS adquire lojas de retalho alimentar em MoçambiqueA Sonae SGPS, em parceria entre a Sonae MC e a Satya Capital, adquiriu duas lojas de retalho alimentar em Moçambique. O investimento total ascende a cerca de seis milhões de dólares, com um rácio de 30/70, respectivamente. A Satya é uma empresa de investimento independen-te, centrada no fornecimento de capital para investimentos em África.
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Parceiro da Galp vai a Londres procurar financiamento para projectos de gás emMoçambique
Tipo Meio: Internet Data Publicação: 29-09-2016
Meio: Negócios Online
URL:
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/energia/detalhe/parceiro_da_galp_vai_a_londres_procurar_financiam
ento_para_projectos_de_gas_em_mocambique.html
A italiana Eni reuniu-se com vários bancos em Londres para angariar dinheiro para arrancar com oprojecto Coral, onde a Galp detém 10%.A italiana Eni procura financiamento para desenvolver um dosseus projectos de gás natural em Moçambique. A petrolífera reuniu-se com vários bancos em Londresna passada semana para obter capital para avançar com o projecto "offshore" (no mar) Coral.A Galp detém 10% deste consórcio liderado pela companhia italiana. A notícia é avançada pelaReuters e foi confirmada pela Eni. Segundo uma fonte citada pela agência, o financiamento pode"atingir os vários mil milhões de dólares". As respostas dos bancos devem chegar dentro de três a quatro semanas, com a Eni a ficar mais pertode tomar uma decisão final de investimento sobre o projecto. A petrolífera italiana espera tomar umadecisão até ao final deste ano. A ronda pela praça financeira de Londres acontece depois da Eni ter chegado a acordo com a SamsungHeavy para construir um navio-plataforma que extrai e processa o gás para o estado líquido parapoder ser transportado. Moçambique detém das maiores reservas de gás natural do mundo, suficientes para abastecer aAlemanha, Reino Unido, França e Itália durante quase vinte anos. Estas reservas ficam na Área 4,onde está localizado o campo de Coral. A Eni detém 50% da Área 4, com 20% a serem detidos pela chinesa CNPC, enquanto os restantesparceiros têm 10% cada um: a Galp, a coreana Kogas, e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos deMoçambique. Ao mesmo tempo, o ministro dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique foi demitido estaquinta-feira. Pedro Couto era o responsável pelo sector do gás no país e por negociar com ascompanhias gasistas. Ocupava o cargo desde o início de 2015 e foi exonerado do cargo pelopresidente Filipe Nyusi. Os bancos deverão estar atentos à situação económica e financeira de Moçambique que têm vindo aagravar-se este ano, depois de ter sido tornado público a existência de uma dívida fora das contaspúblicas no valor de 1,25 mil milhões de euros. Em Abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha cancelado uma visita ao país, mas encontra-seactualmente a decorrer uma missão do Fundo em Moçambique. Foi em Abril que o presidente da Galp, Carlos Gomes da Silva, revelou que a companhia estava"preocupada" com a situação financeira em Moçambique.
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Também a situação política no país pode levantar dúvidas aos bancos. A crise política arrasta-se desde2014, depois da Renamo recusar reconhecer a derrota nas eleições gerais para a Frelimo, partido queestá no poder desde a independência do país em 1975. Receba por mail - Primeira Página A capa e os exclusivos dos assinantes.De segunda a sexta, às 6h15 || 29 Setembro 2016, 16:58
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