monografia maria aparecida pedagogia 2011
Post on 28-Nov-2014
8.938 Views
Preview:
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
11
INTRODUÇÃO
Toda sociedade se transforma ao longo da história, assim também acontece com a
língua, já que a mesma é um produto social.
Na sociedade brasileira, a partir de 1980 começou-se a repensar o estudo e o
ensino da Língua Portuguesa, norteados pelas novas propostas linguísticas com
ênfase na funcionalidade da língua, englobando a valorização das diversas línguas
ou dialetos e também dos falantes, além do uso dos diferentes gêneros textuais.
Embasados no exposto acima, surgiu a inquietação em descobrir se a prática dos
educadores de Língua Portuguesa condiz com as teorias linguísticas que
fundamentam o ensino da língua na contemporaneidade.
A escolha da temática originou-se da relação da pesquisadora com a Língua
Portuguesa e a necessidade de estar informada sobre as idéias de teóricos que
pesquisam e produzem conhecimento referente à língua. Além disso, é
imprescindível conhecer as teorias para depois construir uma nova realidade,
desconstruir preconceitos e reconstruir os discursos e a prática de maneira
democrática e significativa, oportunizando ao educando o direito de ser autor da sua
história. Diante do supracitado, apresentamos uma síntese dessa produção
acadêmica dividida em capítulos.
No capítulo I – inicialmente, desenvolvemos um estudo sobre a problemática da
pesquisa, abordamos a proximidade entre linguagem e língua, avançamos para as
variações linguísticas, o ensino tradicional e o papel da escola frente ao novo
modelo de ensino da língua, tendo como enfoque a valorização dos diferentes
saberes linguísticos e os usos reais da língua. Daí surgiu a questão de pesquisa,
objetivando identificar e analisar a postura dos educadores diante dos diferentes
dialetos dos educandos no Ensino Fundamental.
12
No capítulo II – Trabalhamos a fundamentação teórica com os teóricos que
nortearam essa pesquisa dando-nos subsídios para alcançarmos nossos objetivos.
Dentre os teóricos utilizados, enfatizamos Bagno, Possenti, Damke, Leite, Freire,
Saviani, Melo e Antunes.
No capítulo III – Espaço reservado para os procedimentos metodológicos, os
instrumentos utilizados para recolhimento de dados e elaboração da pesquisa.
No capítulo IV – Foi a etapa que deu sentido à pesquisa de campo, pois foi o
momento de confrontar as idéias dos estudiosos da temática com às dos sujeitos da
pesquisa. Foi a análise e interpretação dos dados colhidos com os pesquisados.
No presente trabalho, apresentamos a conexão que há entre os educadores de
língua Portuguesa e as novas propostas para o ensino da língua. Para concluir,
sintetizamos os principais resultados que tivemos com a execução da pesquisa e
apresentamos reflexões importantes para o estudante, o educador e o pesquisador
da língua que acreditam em uma transformação social.
13
CAPÍTULO I
INÍCIO DA JORNADA
Para adentrar na discussão referente à língua, faz-se necessário uma abordagem
sobre a linguagem que é uma atividade inserida não apenas no espaço escolar, mas
em toda interação humana com caráter histórico e social que a torna dependente do
contexto em que é produzida tendo os interlocutores como agentes desse processo,
ela desempenha várias funções, dentre as muitas, a comunicação. “A linguagem
humana tem uma função comunicativa. Mas essa é apenas uma dentre uma série de
outras funções, e nem sempre a comunicação é a função mais importante...
(CAGLIARI, 2001, p.77)”.
Diante do exposto, é interessante enfatizar que a linguagem segundo Saussure (
2001 ), divide-se em langue e parole (língua e fala), ele desenvolveu seus estudos
com enfoque especial na língua, porém o que se sabe é que a mesma só se realiza
plenamente na fala das pessoas. Suas idéias foram importantíssimas para o estudo
da língua, pois o mesmo foi o idealizador da lingüística moderna. Porém surgiram
novos estudiosos que contestaram sua teoria.
Conforme Bagno ( 2007), desses estudiosos destacou-se o norte-americano William
Labov que surgiu na década de 60 com um novo olhar sobre a língua e a fala,
criando a Teoria da Variação ou Sociolinguística, defendendo que não era mais
possível estudar a língua sem levar em conta também a sociedade em que ela é
falada.
A sociolingüística é uma das subáreas da Linguística e estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos lingüísticos e sociais. Essa ciência se faz presente num espaço interdisciplinar, na fronteira entre língua e sociedade, focalizando principalmente os empregos linguísticos concretos em especial os de caráter heterogêneos( MOLLICA, 2007, p.9).
Partindo desses pressupostos, e, considerando a escola um espaço de formação e
14
responsável pelo processo de ensino-aprendizagem formal, vale salientar o papel
importante da mesma no desenvolvimento das competências dos educandos de
maneira que busque a valorização dos saberes de cada um, principalmente os
diferentes dialetos que os mesmos trazem à escola. A aceitabilidade desses dialetos
por parte do educador e outros indivíduos no espaço escolar é imprescindível para a
inserção e crescimento do aluno das classes menos favorecidas e a indiferença ou
discriminação resulta em evasão escolar e exclusão social fortalecendo as
desigualdades sociais. Diante disso Soares ( 2005), afirma:
A escola, como instituição a serviço da sociedade capitalista, assume e valoriza a cultura das classes dominantes, assim, o aluno proveniente das classes dominadas, nela encontra padrões culturais que não são os seus e que são apresentados como “certos” enquanto os seus próprios padrões são ignorados como inexistentes ou desprezados como “errados” (p. 15).
Houve momento em que o ensino da gramática tornou-se mais importante do que o
estudo e reflexão sobre a própria língua, onde as práticas fundamentaram-se na
gramática normativa, contribuindo pouco ou nada para as compreensões do
enunciado ou do texto como unidade discursiva, explorando apenas palavras e
frases isoladas. Segundo Teixeira (2008), esse pensamento surgiu no renascimento
onde ocorreu a ruptura entre a oralidade e a escrita. Surgiram mais tarde, teorias
lingüísticas voltadas ao ensino da língua, evidenciando a necessidade da adoção de
uma nova perspectiva, visando a aprendizagem da língua, o uso da linguagem,
refletindo e interagindo com o outro, assumindo o seu papel de sujeito-produtor de
significados por meio da linguagem.
A discussão sobre o ensino da Língua Portuguesa na escola tem crescido desde a
década de 80, objetivando melhorar a qualidade da educação no país, porém muitas
mudanças ainda precisam ser feitas. Percebe-se que o fracasso escolar é mais
acentuado no que se refere à leitura e à escrita, daí a urgência em encontrar
caminhos possíveis e eficientes no ensino da Língua Portuguesa já que a mesma é
responsável pelo alicerce da aprendizagem escolar. Diante dessas discussões, vale
enfatizar que a qualidade da educação brasileira depende dentre outros fatores, de
um ensino da Língua fundamentado nos usos reais da mesma que engloba a
15
valorização da diversidade lingüística.
O objetivo mais geral do ensino de Português para todas as séries da escola é mostrar como funciona a linguagem humana e, de modo particular, o português; quais os usos que tem, e como os alunos devem fazer para estenderem ao máximo, ou abrangendo metas específicas, esses usos nas suas modalidades escrita e oral em diferentes situações de vida. Em outras palavras, o professor de português deve ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos (...) qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos lingüísticos, nas mais variadas situações de suas vidas ( CAGLIARI, 2001, p.28).
As atitudes do educador com fundamento nas idéias citadas acima, contribui para
que o educando seja capaz de compreender o que é a língua e a função que a
mesma desempenha e assim se aproxime o fim da dificuldade que a escola
enfrenta no ato de ensinar a ler e a escrever. Partindo desses pensamentos, torna-
se necessário, tecer uma breve explanação do que é a língua. Como afirma Bagno,
(2008):
Toda língua humana viva é, intrinsecamente e inevitavelmente, heterogênea, ou seja, apresenta variação em todos os seus níveis estruturais... é dinâmica, está em constante movimento – toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição, em permanente transformação (p. 28 e 142).
Por causa dessas transformações que ocorrem na língua, o ensino da mesma
também tem se transformado, apesar de ainda existir práticas tradicionalistas na
escola. O ensino passou por evoluções significativas, resultando na perspectiva da
atualidade que enfatiza a valorização das variações lingüísticas como prática
adequada e necessária para a atuação do educador em sala de aula para que haja
educação de qualidade. Apesar de ainda existir resquícios da educação
discriminatória com relação aos saberes linguísticos das classes menos favorecidas,
os avanços alcançados são significativos.
Os linguistas têm tido grande influência na elaboração dos programas oficiais de ensino (em nível federal, estadual, municipal), têm elaborado estreitamente como as instâncias oficiais de educação para traçar uma política de livro didático coerente com os novos paradigmas científicos educacionais ( BAGNO, 2007, p. 71).
A língua tornou-se subordinada ou dependente da gramática quando essa última
16
passou a ser instrumento de poder e controle social gerando um modelo excludente
de encarar os falantes e escritores. “... surgiu essa concepção de que os falantes e
escritores da língua é que precisam da gramática, como se ela fosse uma espécie
de fonte mística invisível da qual emana a língua “bonita”, correta e “pura” (BAGNO,
2008,p.80)”. A língua é um mecanismo que está em constante evolução e nesse
processo é preciso não apenas aprender a língua e sim como fazer uso da mesma
nas diferentes situações ou nos diferentes contextos, pois já não cabe mais pensar
em língua dissociada da contextualização.
Seguindo esse pensamento, a escolha do lócus perpassou pela curiosidade de
descobrir a postura dos educadores diante das Variações Linguísticas, o espaço
escolhido para essa pesquisa foi o Centro Educacional de Ponto Novo que está
inserido no contexto social da pesquisadora, sendo a instituição onde a mesma
cursou o Ensino fundamental II e também o Ensino Médio, um campo ideal para
desvendar as inquietações referente a temática. Essa escola recebe alunos de
vários bairros da cidade, principalmente, os menos favorecidos, onde as variedades
linguísticas são mais diversificadas e possibilitam uma maior aproximação desse
tema que é instigador e tão necessário de ser discutido e também valorizado na
prática.
Diante do exposto, surge a inquietação em identificar a postura dos educadores
diante da nova perspectiva do ensino da língua originando a questão de pesquisa:
Qual a postura dos educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos do
Ensino Fundamental? O objetivo geral é identificar e analisar a postura dos
educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos do Ensino Fundamental.
A relevância dessa pesquisa encontra-se no fato de proporcionar um novo olhar
sobre o ensino da Língua Portuguesa que até algum tempo vinha sendo trabalhada
em sala de aula de maneira descontextualizada e de forma excludente. Acredita-se
que a escolha da temática é pertinente diante da realidade que vivenciamos, ou
seja, percebe – se que ainda há por parte de muitos educadores o apego pelas
concepções tradicionais e desenvolvendo práticas equivocadas, daí surgiu a
inquietação e o interesse em desenvolver esta pesquisa que posteriormente servirá
17
de instrumento complementar para educadores que queiram compartilhar e
aperfeiçoar seus conhecimentos acerca dos novos olhares sobre o ensino da Língua
Portuguesa.
18
CAPÍTULO II
NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM PORTUGUÊS
Nesse capítulo trabalhamos com as idéias dos teóricos que forneceram subsídios
para essa produção, dentre muitos destacamos Bagno e Antunes que foram
imprescindíveis para a fundamentação das palavras – chave norteadoras desse
trabalho. São elas: Variações Lingüísticas, Língua Portuguesa, Educador e Ensino
Fundamental.
2.1 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
Nem só de norma padrão vive a Língua, mas de toda variação que sai da boca dos falantes (Cida Lima).
Para problematizar a temática desse trabalho monográfico, enfocamos a importância
de se trabalhar com as diferentes variedades linguísticas da Língua Portuguesa no
Ensino fundamental, é necessário, contudo, uma explicação mais nítida,
conceituando e exemplificando o que são variações.
A variação linguística constitui fenômeno universal e pressupõe a existência de formas linguísticas alternativas denominadas variantes. Entendemos então por variantes as diversas formas alternativas que configuram um fenômeno variável... a concordância entre o verbo e o sujeito, por exemplo, é uma variável lingüística ( ou um fenômeno variável), pois se realiza através de duas variantes, duas alternativas possíveis e semanticamente equivalentes... ( MOLLICA, 2007, p. 11).
São incontáveis os exemplos de variações da língua que podem acontecer na
fonética, na ortografia, etc, porém para um melhor entendimento dessas mudanças e
variações é preciso um estudo atentando para a diacronia ( evolução da língua no
tempo) e a sincronia ( aspecto estático da língua – ou estado da língua ). “Para
Saussure, sincronia está para “um estado de língua”, assim como diacronia para
“uma fase de evolução”( CLG, 96 apud CARVALHO, 2003, p. 82)”.
19
Seguindo a diacronia ou variação diacrônica podemos perceber a evolução das
seguintes palavras: igreja, Brás, praia, frouxo, escravo do Latim para outros idiomas
inclusive o Português.
LATIM FRANCÊS ESPANHOL PORTUGUÊS
ecclesia église iglesia igreja
Blasiu Blaise Blás Brás
plaga plage playa praia
fluxu flou sclavo frouxo
(BAGNO, 2008, p. 44).
Através dos estudos diacrônicos podemos perceber a diferença de um texto escrito
durante o início da “colonização” do Brasil em 1530 e os atuais. Abaixo veremos
fragmentos de um texto escrito por Pero Lopes, integrante da expedição de Martim
Afonso, que escreveu sobre Diogo Álvares (O Caramuru) e os índios tupinambá
encontrados no litoral da cidade de Salvador – Ba.
Nesta Bahia, achamos hum homem português, que havia vinte e dous annos que estava nesta Terra (...). Os principais homens da terra vieram fazer obediência ao capitam, e nos trouxeram muito mantimento, e fizeram grandes festas e bailes, amostrando muito prazer por aqui ser vindos. O capitam lhes deu muitas dádivas ( TAVARES, s/d p.24 apud DIEZ, 1998, 9. 25).
Os nomes que estão em negrito na citação são grafados na atualidade de maneira
diferente, o hum perdeu o h e tornou – se um, o dous trocou o u pelo i e
transformou – se em dois, o m de capitam foi substituído por o, capitão. Para a
origem do ditongo final ao que temos no português, Carvalho e Nascimento (1969)
apresentam as formas do português arcaico am, ã, om, õ, os quais correspondem
às terminações latinas anu, ane, one, udine, ant, unt, conforme se observa nos
seguintes exemplos: veranu > verão > ; pane > pão> dant > dão; sunt > são.
Transportando para o século XIX e XX destacamos a escrita de outras palavras que
hoje já não são mais usadas como antes. “(...) na virada do século XIX e XX se
20
escrevia elle, na primeira metade do século XX já se escrevia êle e agora, no século
XXI, se escreve ele! ( BAGNO, 2008, p. 157)”.
Ao aprofundarmos nos estudos diacrônicos da língua, é notório que toda língua varia
e evolui no decorrer dos anos tanto nos aspectos internos quanto externos, por
esses motivos muitas línguas são transformadas e até mesmo extintas, outras
transformam - se em novos dialetos. O estudo dessas variações ocorre por
intermédio dos estudos diacrônicos que compreende a história externa (evolução
sociolingüística) e a história interna (evolução estrutural). As variações lingüísticas
são frutos de um processo histórico e atendem às necessidades dos falantes de uma
comunidade, porém quando as necessidades deixam de ser supridas, de maneira
inevitável ocorrem as transformações na língua.
Recorrer a história da língua é uma tentativa que faço de mostrar que a Língua Portuguesa, em todas as suas variedades, continua em transformação, continua mudando, caminhando para as formas que terá daqui a algum tempo. Da mesma maneira como o Latim foi se transformando lentamente até resultar nas diversas línguas românicas hoje existentes (..), também cada uma delas continua a se transformar (BAGNO, 2006,p.35).
Todas as línguas mudam e variam, por isso é necessário o estudo diacrônico da
mesma para compreender as mudanças que ocorrem no tempo e no espaço. Nesse
processo de transformação da língua, vale volvermos os olhos para a Grécia e
buscarmos a origem de vários aspectos da língua que usamos, incluindo o que hoje
conhecemos como padrão. Toda língua tem o seu padrão defendido pelos
detentores do poder. Esse termo surgiu quando a língua Grega tinha se tornada
internacional e houve a necessidade de normatizar a mesma para que servisse de
instrumento cultural e para a política. “Essa tarefa de constituição de uma norma
unificada, de um padrão de correção, foi empreendida pelos sábios que trabalhavam
justamente na Biblioteca de Alexandria, os filólogos... (BAGNO, 2007, p.63)”
Estudar a evolução da língua no tempo é fundamental para se compreender os
aspectos sincrônicos ou variações sincrônicas que são as mudanças no espaço.
Com o enfoque sincrônico é possível notar as variações lingüísticas comparando a
21
fala de jovens x idosos, das mulheres x homens, dos moradores da zona rural x
moradores dos centros urbanos, dos não-escolarizados x escolarizados, entre
profissionais de diferentes profissões, etc. Um dos tipos de fatores que produzem
diferenças na fala de pessoas são externos à língua. Os principais são fatores
geográficos, de classes, de idade, de etnia, de profissão, etc. ( POSSENTI, 1996,p.
34).
Essas diferenças resultantes dos vários fatores, recebem conceitos também
diferentes. Segundo Carvalho (2003), as variedades podem ser divididas da
seguinte forma: Diastráticas que estão relacionadas às diferenças culturais, podem
ser divididas em norma padrão, língua coloquial e popular, existem também as
Diafásicas, dizem respeito aos diversos tipos de modalidade (familiar, estilística, de
faixa etária, etc), já as variações diatópicas ou geográficas são aquelas que
apresentam variantes regionais, o falar gaúcho, o mineiro, o nordestino, etc.
Bagno (2007) enfoca além das variações mais conhecidas, a Variação Diamésica
que é aquela que se apresenta na comparação entre a língua falada e a língua
escrita. É preciso, contudo, entender que nem tudo na língua varia.
Ao falar da variação (...), ela pode se verificar em todos os níveis da língua:
fonético – fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical, estilístico –
pragmático. A essa altura, pode surgir uma dúvida: tudo o que existe numa
língua pode estar em variação? A resposta é não ( BAGNO, 2007, p. 49)
São muitos os aspectos da língua que não apresenta variação: a anteposição do
artigo com relação ao substantivo, a pronúncia da consoante f, diferente do que
acontece com o s que de acordo com o contexto em que é empregado tem som de
z, etc. outro aspecto que não muda na língua são os verbos regulares que têm
sempre uma terminação – o na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (eu
canto, eu bebo, eu parto). Esses são apenas alguns exemplos. Assim, fica entendido
que em uma língua além de haver diferenças no repertório lingüístico dos falantes,
existem também as regras que não variam.
22
2.1.1 Dialetos
Os diferentes modos de falar são os dialetos que estão presentes em todas as
línguas.
Uma língua se define por suas características diferenciadoras. As diversas variantes adotadas regionalmente são denominadas dialetos, e frequentemente um deles, por motivos políticos, históricos ou culturais, se impõe para servir como base da língua culta e literária. Do ponto de vista histórico, considera – se também que toda língua é um dialeto em relação àquela de que provém. Assim, todas as línguas românicas, como o português, o espanhol e o francês, seriam dialetos do latim ( PORTAL EMDIV, 2008 apud LIMA, 2009, p. 10).
Podemos exemplificar dialetos com as seguintes palavras: favela, falada em são
Paulo e Rio de Janeiro, malocas em Porto Alegre e Mocambos em Recife, palavras
com grafias e pronúncia diferentes para designar uma mesma coisa que nesse caso
é um conjunto de habitações populares, muitas vezes construídas em morro.
Dialeto é um termo usado há muitos séculos, desde a Grécia Antiga, para
designar o modo característico de uso da língua num determinado lugar,
região, província, etc. muitos lingüistas empregam o termo dialeto para
designar o que a sociolingüística prefere chamar de variedade ( BAGNO,
2007, p. 48).
Dentre os muitos dialetos de uma língua, um consegue se destacar passando de
dialeto a norma-padrão de língua Padrão. Partindo desses pressupostos, vale frisar
que durante muitos anos, o modelo de língua utilizado em sala de aula foi o modelo
de origem grega que valorizava apenas a norma-padrão ou língua da elite sem levar
em consideração os diversos dialetos que existem, mas graças às lutas e
discussões de lingüistas tais como Antunes, Bagno, Cagliari e outros, muita coisa
mudou e hoje já é realidade trabalhar a língua de forma democrática, valorizando as
diferenças lingüísticas além de trabalhar com as diferentes gramáticas.
2.1.2 As três Gramáticas
Segundo Possenti (1996), existem três tipos de gramática: a Normativa ou
23
Prescritiva refere – se ao conjunto de regras que devem ser seguidas, apresenta a
linguagem padrão, é a definição adotado por muitos anos pelos livros didáticos e
pelas gramáticas pedagógicas. A Gramática Descritiva refere – se ao conjunto de
regras que fundamenta os trabalhos dos lingüistas, são as regras utilizadas pelos
falantes. Por fim, a Gramática Internalizada refere – se ao conjunto de regras que o
falante domina, ou seja, são aquelas regras que todo ser humano aprende desde
criança. São regras que as crianças levam para a escola, aprendidas no cotidiano,
regras essas que permitem à criança construir enunciados dentro de uma
construção possível da Língua.
As idéias da gramática internalizada dialogam com os ideais freireanos, pois ambos
valorizam os conhecimentos que os educandos já possuem, ou seja, permitem um
trabalho a partir da realidade em que o sujeito está inserido, dessa forma facilita a
aprendizagem nesse processo de ensinar – aprender. A educação na visão de
Freire (1996), acontece de maneira dialógica, onde o conhecimento é construído na
interação de educador – educando, nesse processo, acontece o conhecimento da
realidade, indispensável na construção de um mundo mais humanizado, dessa
forma se opõe à Educação Tradicional, onde o professor é o dono do conhecimento.
Conhecer, previamente, as aspirações, o nível de percepção dos educandos, sua visão de mundo é exigência da natureza dialógica da educação. É, pois, a partir desse conhecimento que Freire considera ser possível organizar um conteúdo programático libertador. ( DAMKE, 1995, p. 85.).
Para que se promova uma educação democrática e libertadora, é imprescindível a
valorização dos diversos usos da língua e, principalmente, a valorização dos
falantes. Assim, podemos frisar o que afirma Bagno (2008):
A variação lingüística tem que ser objeto e objetivo do ensino de língua: uma educação lingüística voltada para a construção da cidadania numa sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os modos de falar diferentes grupos sociais constituem elementos fundamentais da identidade cultural da comunidade e dos indivíduos particulares, e que denegrir ou condenar uma variedade lingüística equivale a denegrir ou condenar os humanos que a falam, como se fossem incapazes, deficientes ou menos inteligentes ( p. 16).
24
Ao longo dos anos, a Educação Tradicional reproduziu a discriminação, quando
exigia o uso apenas da “língua padrão”, enfatizando que a mesma seria a forma
correta de se falar. Essa atitude fortaleceu ao longo da história o preconceito que
para muitos é apenas lingüístico, porém temos consciência de que é muito mais
complexo, pois tudo tem início no preconceito social, onde discriminado é o falante e
não a língua.
2.1.3 Preconceito lingüístico:
A gente estuda a Língua Portuguesa, mas temos que falar que nós estudamos e não a gente estuda ou nois estuda, pois os “sábios” da língua exigem que a gente fale assim correto (CIDA LIMA).
A diferença ao longo dos anos tem se transformado em muro, quando na verdade
deveria tornar-se ponte. A humanidade tem alimentado intolerância gerando um
clima de conflitos desde os pequenos atos até as terríveis guerras. Em muitos
aspectos da sociedade, o ser diferente é relacionado à inferioridade. Em se tratando
da língua Posssenti (1996) afirma: “Os grupos que falam uma língua ou um dialeto
em geral julgam a fala dos outros a partir da sua e acabam considerando que a
diferença é um defeito ou um erro (p. 29)”.
É necessária uma luta constante em busca da valorização dos falantes de diferentes
dialetos para que assim possa ser mudado algo que é tão opressor na sociedade
brasileira: o fato de que as classes privilegiadas fazem uso do dialeto-padrão para a
manutenção do poder, dessa forma criam leis que estão fundamentadas em uma
linguagem inacessível às classes menos favorecidas que em sua maioria, domina
apenas o dialeto não-padrão do meio em que estão inseridos e por causa disso,
ficam incapazes de lutar pelos seus direitos. Conforme BAGNO (2008):
... a constituição afirma que todos os indivíduos são iguais perante a lei, mas essa mesma lei é redigida numa linguagem que só uma parcela reduzida de brasileiros consegue entender. A discriminação social começa, portanto, já no texto da constituição (...), falantes das variedades estigmatizadas deixam de usufruir diversos serviços por não compreender a linguagem empregada pelos órgãos públicos ( p.31).
25
Essa é uma realidade que precisa ser transformada para que os termos cidadania e
democracia passem a ter sentido.
É notório que o preconceito existe em todos os contextos em que haja dominantes e
dominados, incluindo o preconceito lingüístico. Os indivíduos que detêm o poder
político e econômico são falantes de variedades de prestígio criadas e mantidas
pelos mesmos, daí todos os dialetos que não se enquadram nos padrões elitistas,
são tidos como inferiores e os falantes que não fazem parte das classes
privilegiadas são discriminados e dominados. Para aclarar essas idéias buscamos
subsídios em Bagno (2008) que afirma:
...Indivíduos que detêm o poder no Brasil: não são ( quando são) apenas falantes das variedades urbanas de prestígios , mas são sobretudo, em sua grande maioria, homens brancos , heterossexuais, nascidos, criados na porção Sul – Sudeste do país ou oriundos das oligarquias feudais do nordeste( p.91 – 92).
Em todas as línguas há variantes e variedades mais prestigiadas que outras. Há
aquelas que são estigmatizadas, onde seus falantes são vítimas constante de
preconceito lingüístico que é um fruto do preconceito social, já que os falantes dos
dialetos de menor prestígio são os indivíduos oriundos das classes menos
favorecidas.
Além do preconceito contra os menos favorecidos inseridos em uma mesma região
ou em um grupo, existe também o preconceito contra os falares de alguns estados.
Com relação às cinco Regiões do Brasil, uma região é lembrada sempre por uma
ótica negativa: a Região Nordeste.
2.1.3.1 Preconceito lingüístico contra os nordestinos
O preconceito lingüístico reflete o preconceito social, por isso, quando um nordestino
fala uma palavra num dialeto diferente, é tido como ignorante e matuto, o segredo
não está na construção lingüística e sim no indivíduo que está falando, por pertencer
a uma região esquecida e desprezada pela classe detentora do poder político e
26
econômico, os sudestinos e sulistas. Essa região apesar de ser importantíssima em
vários aspectos, ainda não alcançou o respeito merecido que pregam os linguistas.
Para os mesmos, “todo homem é igual não só perante a lei, mas também frente a
sua capacidade lingüística ( LEITE, 2005,p.7)”.
Em sala de aula é possível promover reflexões significativas com temas necessários
de serem discutidos, referentes às variações lingüísticas, enfatizando as regionais e
o preconceito lingüístico presentes nas novelas e filmes que reforçam estereótipos
nordestinos, principalmente contra os baianos apresentando personagens que são
na maioria das vezes homens preguiçosos, traficantes e assassinos e mulheres
casadas que vivem em constante adultério. Durante meses ao ser exibida a novela
das 19:00 hs na Rede Globo, intitulada “Caras e Bocas” onde as personagens
Antenor, um homem nordestino que foi morar com a amante Ivonete também
nordestina, fingiam ser irmãos, além disso era sustentado pelo esposo da amante,
Fabiano, reforçando assim o estereótipo de que o baiano é preguiçoso.
É imprescindível que se trabalhe em sala de aula de diversas maneiras, dentre elas
o teatro e a produção de músicas, poesias, etc. promovendo reflexões, visando
desconstruir os mitos e os preconceitos, principalmente os referentes ao Nordeste
que é a nossa realidade.
Por causa dos preconceitos que vigoram na nossa sociedade, algumas variedades lingüísticas sofrem mais discriminações que as outras: as rurais frente às urbanas, as nordestinas frente às não – nordestinas ( quando o falante vive fora do nordeste), as dos homens frente às das mulheres, as das classes desfavorecidas frente às das classes favorecidas e por ái vai. Tudo isso deve ser analisado e devidamente criticado, para que o trabalho na escola não reproduza os mesmos estereótipos e as mesmas discriminações que vigoram na sociedade em geral ( BAGNO, 2007,p.128).
Diante disso, muitos artistas: cantores, poetas, repentistas, atores e outros
desempenham trabalhos belíssimos de conscientização e luta contra o preconceito
tanto social quanto lingüístico. Merecendo destaque o cantor Flávio José com suas
canções marcantes sobre as lutas e conquistas dos sertanejos, Luís Gonzaga
também com canções inteligentes sobre os nordestinos, o poeta Patativa do Assaré
com sua literatura de cordel que enfatiza o uso da linguagem popular que dentro da
27
nova perspectiva para o ensino da língua portuguesa, é ponto fundamental sendo
um dialeto tão importante quanto os outros. O fragmento de uma música nordestina
que ergue a bandeira da valorização do nordeste e de seu povo e tece crítica aos
dominantes diz o seguinte:
Eu quero cantar o nordeste que é grande que cresce e você não conhece doutor, de um povo guerreiro, festivo e ordeiro, de um povo tão trabalhador, por isso não pise, viaje e pesquise. Conheça de perto esse chão. Só pra ver que o Nordeste agora é quem veste , é quem veste de orgulho a nação ( FLÁVIO JOSÉ).
Nessa música, o autor faz uso da linguagem coloquial para se dirigir a um doutor, ou
seja não seguiu a norma – padrão da língua usando o pronome você, foi uma forma
de contestação ao modelo ideal de língua ditado pelas elites. São imprescindíveis
esses trabalhos de valorização da nossa cultura, principalmente no tocante aos
dialetos, para que assim os falantes nordestinos sejam reconhecidos pelo valor que
os mesmos possuem e não pelo fato de falarem “engraçado” na concepção de
alguns.
Para mostrar que a fala nordestina nada tem de “engraçada” ou ridícula, vamos fazer uma pequena comparação. Na pronúncia normal do sudeste, a consoante que escrevemos T é pronunciada tch em (...). Esse fenômeno chama – se palatalização. (...) os falantes do sudeste pronunciam tchitchia a palavra escrita titia. E todo mundo acha isso perfeitamente normal, ninguém tem vontade de rir quando um carioca, mineiro ou capixaba fala assim. Quando, porém, um falante do Sudeste ouve um falante da zona rural nordestina a pronunciar a palavra escrita oito como oitcho , ele acha isso “muito engraçado”, “ridículo” ou “errado”. Ora, do ponto de vista meramente lingüístico, o fenômeno é o mesmo - palatalização... ( BAGNO, 2008,p. 60 – 61).
As produções dos artistas abordados anteriormente, são importantes para que sejam
trabalhados em sala de aula, onde o educador pode promover momentos de
aprendizagens significativas, instigando o educando a conhecer a fundo as obras de
grandes artistas da Região Nordeste ,através de pesquisas em livros, revistas,
DVDs, televisão, internet e outros meios de comunicação. Muitos artistas dessa
região produziram e produzem trabalhos artísticos importantes voltados às questões
nordestinas, visando a politização, a desconstrução de mitos e a desmascaração
dos preconceitos. Essas atividades são pertinentes durante as aulas de Língua
28
Portuguesas.
2.2 LÍNGUA PORTUGUESA
Com fundamento no estudo diacrônico das línguas, torna-se necessário enfatizar a
influência de outras línguas na formação da língua Portuguesa.
2.2.1 Do Latim Vulgar ao Português Vulgar
Tudo começou com as chamadas línguas indo-européias de onde se originou o
Latim, língua morta na atualidade, nascida numa região da Itália chamada “Latium”,
entre o povo humilde, com a união de diversos falares itálicos tornou-se língua
nacional do Império Romano. Afirma Lima ( 2009): “As origens do latim remontam ao
século VII a.C, enquadrando-se historicamente, no período de 753 a.C. ano da
fundação de Roma, até à queda do Império romano em 476 d.C, SéculoV d.C... (
p.33 – 34)”.
Durante as conquistas do Império Romano, o Latim tornou-se a língua oficial do
Império, porém assim como todas as línguas apresentava variações lingüísticas,
tendo a língua da elite e a língua do povão. O chamado latim vulgar deu origem o
Português também vulgar. O latim vulgar foi influenciado por outros dialetos surgindo
as dez Línguas românicas ou neolatinas: Francês, Italiano, Espanhol, Provençal,
Catalão, Romeno, Dalmático, Reto – romano, Sardo e Português. A história da
Língua Portuguesa está intimamente ligada à história da Península Ibérica onde
surgiu Portugal. Com a romanização dessa península, a dominação romana
alcançou a política, o poder militar e no aspecto cultural impondo sua língua, o Latim,
reforçando a atitude dos dominantes ao longo da história que é explorar as classes
dominadas impondo seus ideais a todo custo, isso antes do Português surgir como
língua Nacional.
A Península Ibérica, após anos de lenta e progressiva assimilação dos costumes da civilização romana, no século V da era cristã, já estava completamente romanizada, o que significa que pertencia politicamente ao Império romano e linguisticamente falando a língua de Roma, o Latim ( LIMA, 2009, p. 40)
29
Segundo Lima ( 2009), com as invasões de outros povos, o latim “vulgar”, como
era chamado de maneira preconceituosa o dialeto dos grupos menos favorecidos, foi
absorvendo outros dialetos, originando o dialeto : Galego – Português. Nesse
dialeto, os escritos eram apenas em forma de canção devido à quantidade de
analfabetos que existia na época.
Segundo Sartorelli ( 2008), a canção ou cantiga de amor mais antiga que se tem
conhecimento é a Canção da Ribeirinha, que foi escrita pelo segundo Rei de
Portugal D. Sancho I que dedicou a composição à dona Maria Paes Ribeiro, bela
dama da corte e amante do mesmo. Não se sabe ao certo em escrita em 1189 ou
1198. Citada abaixo está fragmento dessa canção escrita em galego-português e
também no Português.
No mundo non me sei parelha, mentre me for’como me vai, Ca já moiro por vós – e ai, mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia! Mao dia me levantei, que vos enton num vi fea! E, mia senhor, dês aquel d’, ai! Me foi a mim muin mal! E vós, filha de Don paai, Moniz, e bem vos semelha, d’aver eu por vós guarvaia, Pois eu, mia senhor, d’alfaia Nunca de vós ouve nem ei Valia d1ua Correa. No mundo ninguém se assemelha a mim Enquanto a minha vida continuar como vai Porque morro por vós, e aí Minha senhora de pele alva e faces rosadas, Quereis que vos descreva Quanto eu vos vi sem manto Maldito dia! Me levantei Que não vos vi feia E, minha senhora, desde aquele dia, ai Tudo me foi muito mal E vos, filha de Dom Pai Moniz, e bem vos parece De ter eu por vós roupas luxuosas Pois eu, minha senhora, como prova de amor De vós nunca recebi algo, mesmo que sem valor ( SARTORELLI, 2008,p.182 – 183).
30
Ainda falando em canção escrita em galego-português, escolhemos uma cantiga de
amor, escrita no século XX e cantada pelo grupo Legião Urbana que buscou nesse
dialeto antigo a inspiração para sua música. O fragmento dessa canção diz o
seguinte:
Pois nasci nunca vi o amor E ouço Del sempre falar Pero sei que me quer matar Mas rogarei a mia Senhor Que me mostr’ aquel matador Ou que m’ampare Del melhor (SARTORELLI, 2008,p.175)
Quando cresce o domínio de Portugal sobre o sul originaram diferenças nesse
dialeto, ocorrendo a divisão do mesmo em línguas diferentes: O Galego hoje é a
língua oficial da Galícia e o Português tornou-se a língua atual com a Independência
de Portugal, e a sua evolução continua no tempo e no espaço. Segundo Coutinho
(1981, p. 65), os documentos mais antigos da Língua Portuguesa datam do século
XII. São um Auto de Partilha (1192), Um Testamento (1193), uma notícia de torto
(1206?), uma cantiga de Pai soares de Taveirós (1189).
Segundo Lima (2009), entre 1536 e 1547, foram publicadas as gramáticas de Língua
Portuguesa com a tentativa de impor as línguas modernas em substituição ao Latim.
Segundo Lima (2009), durante o século XVI, a língua Portuguesa enriqueceu seu
acervo lexical, expandiu – se e conquistou outros continentes. O fato é que a língua
Portuguesa espalhou – se pelo mundo com as expansões marítimas, as
colonizações, o comércio e a catequização dos nativos.
Atualmente a língua Portuguesa é língua oficial de vários países: Portugal,
Moçambique, Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial (desde 2007).
além de ser falada em ex- territórios da Índia Portuguesa e outros. De acordo com o
site do Ministério da Educação de Portugal, o Português é a sexta língua materna
falada pelo maior número de pessoas junto com as cinco primeiras: mandarim,
31
espanhol, inglês, bengali, hindu. O português é também a terceira língua mais falada
do mundo em número de países, perdendo só para o inglês e o Espanhol. A Língua
Portuguesa assim como foi imposto em outras colônias, também foi imposta às
colônias africanas e lá existe disputando espaço com os dialetos nativos.
2.2.2 E a história se repete
Assim como o Latim foi imposto em Portugal, a língua Portuguesa foi imposta aos
habitantes da colônia posteriormente chamada Brasil. Quando aqui chegaram os
portugueses massacraram os verdadeiros donos das terras invadidas não apenas
nos aspectos físicos, políticos e sociais, mas, principalmente, cultural com a
imposição da religião e língua do dominador. Essa língua assim como o latim que
chegou a Portugal, não era o Português clássico ou da Elite e sim o vulgar falado
pelo povo, mesmo assim passou a ser a língua oficial. Podemos afirmar que a
história da Língua Portuguesa do Brasil está intimamente ligada à história política do
país.
2.2.3 A língua Portuguesa do Brasil
É notório que o idioma oficial do Brasil, foi formado inicialmente a partir das
contribuições das línguas: Portuguesa, indígenas e africanas, mas com o passar dos
anos outras línguas também foram permeando essa língua. “As relações entre
portugueses, africanos e orientais aumentaram o acervo lexical do português (LIMA,
2009, p. 156)”. Dos Portugueses herdamos a própria língua, das línguas indígenas
denominações geográficas: Itaparica, animais: sabiá, tucano, arara, siri, frutas:
jabuticaba, pitanga, caju e outras. Das africanas vocábulos referentes à culinária:
acarajé e outros, às crenças: orixás,etc.
Ainda de acordo com Lima (2009), a língua Portuguesa herdou vocábulos pré-latinos
dos quais destacamos alguns: caminho, carro de origem celta, anjo, bolsa de origem
grega.
32
2.2.4 Ensino da Língua Portuguesa no Brasil
Segundo Lima (2009), Durante quase todo o período colonial no Brasil, não existia
Universidade e os estudiosos da época, buscavam o conhecimento nas instituições
de nível superior na Europa. Diante dessa realidade a língua no Brasil estava
dividida em língua dos bacharéis, padres e doutores e língua vulgar, como era
denominada de maneira preconceituosa, a língua do povo.
Diante do exposto, vale frisar que o ensino da Língua Portuguesa no Brasil, ao longo
dos anos seguiu o modelo do dominador, até pouco tempo, mas os discursos sobre
o assunto desde a década de 80 tem promovido muitas transformações, dentre elas
o trabalho com as diferentes línguas faladas no Brasil que são os dialetos enfocando
a valorização dos falantes.
É possível e necessário ensinar a norma padrão já que ela faz parte das situações
da vida, porém sem humilhar o falante dos outros dialetos. Segundo Possenti (1996),
o comum é se pensar no ensino da língua como o ensino da gramática e o ensino da
gramática como o ensino de regras. Porém, ensinar gramática vai, além disso, é
ensinar regras e as variedades de usos da língua. Dessa forma será trabalhada não
apenas a gramática tradicional ou normativa responsável pela escrita oficial, mas
também a descritiva e internalizada, é nessa última gramática onde a língua se
apresenta de maneira dinâmica através da fala.
Foi pensando em rever essas questões que a década de 80 como já foi mencionada,
tornou-se um período em que as propostas oficiais do ensino de Português
começaram a fazer parte dos escritos, refletindo as discussões que já vinham
acontecendo nos seminários, cursos, encontro de professores, com equipes das
Secretarias de Educação de vários estados e também de municípios, com
contribuições de textos das áreas de Psicologia, Educação e Linguística. Foi em São
Paulo onde essas discussões começaram a provocar algumas mudanças.
... desde então, a Secretaria de Educação de São Paulo adotou propostas inovadoras, porém contraditórias, pois ao mesmo tempo que enfatizava o
33
trabalho com variações lingüísticas dando oportunidade de os alunos apresentarem suas variedades lingüísticas, falava em corrigir os erros da linguagem errada ( FIAD, 1997, p. 48 – 50)
Vale salientar que desde a década de 70 já existiam textos tematizando a
diversidade lingüística e o ensino influenciado pela Sociolinguística que surgiu na
década de 60, porém muitas propostas desses textos só estão sendo trabalhadas
atualmente. A maioria das discussões que envolvem resolver problemas e criar
propostas para o país, acontece no meio em que a elite nacional está inserida, no
Sudeste e Sul, e, em se tratando de política, em Brasília, daí as decisões que são
tomadas nesses espaços demoram muito tempo para alcançar espaços dominados
como o Nordeste e outras regiões.
Assim, as propostas para a mudança no ensino da Língua Portuguesa estão a
pouco tempo fazendo parte da realidade de escolas do Nordeste, principalmente do
local onde ocorreu a pesquisa. Essas propostas estão inseridas nos Parâmetros
Curriculares Nacionais - PCNs, desde 1997, porém os professores passaram muito
tempo sem uma ampla compreensão de como trabalhar por falta de políticas
públicas que estivessem voltadas à capacitação desses professores, uma vez que
os mesmos não foram preparados para essa nova realidade. Os livros didáticos até
pouco tempo não estavam adequados à nossa realidade, apresentando conteúdos
descontextualizados, por serem produzidos por pessoas que não conhecem a fundo
as peculiaridades dessa região, mas agora já notamos uma mudança com relação a
essa questão e outras.
Aos poucos a luta contra o preconceito está alcançando resultados positivos nos
âmbitos nacional e internacional.
Desde 1996 circula pelo mundo, sob patrocínio da Unesco, A declaração Universal dos Direitos Linguísticos, proclamada naquele ano na cidade de Barcelona ( Espanha). Todo país que se pretenda genuinamente democrático tem que estabelecer uma política lingüística racional e transparente, voltada para o bem de todos os cidadãos ( BAGNO, 2008,p.24 – 25).
O respeito ao modo de falar é um direito de todos, por isso deve ser respeitado
34
também por todos. Que bom será no dia em que os homens poderão dizer que os
direitos humanos estão sendo respeitados. Será que isso vai acontecer? Não
sabemos, mas podemos seguir lutando.
Apesar de no Brasil ainda não existir uma política oficial bem planejada e
comprometida com os direitos lingüísticos assim como existe várias políticas de
combate ao racismo. Vale enfatizar que já houve um avanço considerável através
das iniciativas do Ministério da Educação – MEC. Diante do exposto, vale frisar que
a Lei de Diretrizes e Bases – LDB Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996, que
apresentou mudanças a respeito do ensino da Língua, posteriormente surgiu
também os PCNs que trouxeram a proposta de se trabalhar em uma perspectiva
diferente e mais democrática que é valorizar os diferentes saberes lingüísticos que o
educando internaliza no decorrer da sua vida e também o uso dos gêneros textuais
que são essenciais para uma maior compreensão da língua.
Muita coisa ainda precisa avançar, mas já podemos notar um avanço significativo,
fruto das discussões internacionais. É preciso também que os educadores, a escola
e instituições voltadas a cultura, estejam aptos e prontos para a desconstrução de
muitos mitos que ainda envolvem a língua Portuguesa e o seu ensino e reconstruir
conceitos e atitudes, buscar soluções para o preconceito que ainda vigora e criar
mais políticas públicas que venham enriquecer o ensino da Língua Portuguesa.
Como já foi mencionado, os órgãos oficiais tanto nacional quanto internacional já
criaram algumas políticas rumo à valorização das variações linguísticas. É
interessante frisar mais uma vez a contribuição dos PCNs que afirma:
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade de muitas variedades (PCNs, 1998 apud BAGNO, 2008, p.35)
É notório que a Língua na sala de aula já está sendo encarada com um novo olhar,
com respeito. Diante disso, é importante que o educador continue aperfeiçoando
seus conhecimentos sobre as discussões e mudanças que ocorrem na língua a nível
nacional e até mesmo internacional como o atual Acordo Ortográfico.
35
2. 2. 5 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
É notório que as leis tanto no Brasil quanto em outros países são lentas, torna – se
pior quando vários países se juntam para o mesmo fim. Um retrato disso é o Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa que segundo Lima (2009), foi assinado no ano de
1990 em Lisboa e no Brasil foi aprovado somente em 1995 entrando em vigor
internacional somente no dia 1º de Janeiro de 2007, mas até 2012 coexistirão duas
formas de ortografia, a que estava sendo usada e a que foi estabelecida
recentemente. Defendendo uma unidade na ortografia essencial na língua
portuguesa para uma melhor difusão internacional da língua, esse acordo foi
assinado pelos países lusófonos.
Art. 1º: O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os governos da República de Angola, da República Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da República de Guiné – Bissau, da República de Moçambique, da República Portuguesa e da República Democrática de são
Tomé e Príncipe... (LIMA, 2009, p.97).
O trabalho em sala de aula com essas novas regras para o ensino da língua é muito
importante, porém exige o cuidado de estar atento para não adentrar num ensino
somente gramatical como ocorreu ao longo dos anos, que essa mudança não sirva
de pretexto para os professores continuarem com sua antiga prática ou até mesmo
regressar para uma atitude já ultrapassada. O acordo precisa ser explorado dentro
das funções ou usos reais da língua e não simplesmente dentro da gramática
normativa e provocadora de discriminações. Para isso, é necessário um educador
consciente e engajado em uma educação transformadora.
2.3 EDUCADOR
Podemos conceituar Educador, como um mediador do conhecimento, aquele
comprometido com uma educação libertadora, capaz de provocar reflexões e
desconstruir mitos, lutar contra os estereótipos impostos pela classe dominante,
possibilitando assim o desenvolvimento da conscientização por parte dos
educandos. Como afirma Feracine (1990, p.75), “libertar o educando (a) das
36
amarras que lhes embargam o acesso aos conteúdos que liberte suas
potencialidades de auto – realização e de participação ativa na vida da comunidade”
Complementando essas ideias, enfatizamos o perfil de educador na concepção
freireana, como aquele que assume uma educação Libertadora, contrapondo-se à
educação oficial e bancária ministrada pela classe dominante. É um profissional que
aderiu ao modelo de educação progressista que visa a transformação da
mentalidade da classe dominada na busca da libertação social, econômica, política e
cultural, através da contextualização problematizando os conteúdos com palavras
geradoras.
Dessa forma, trabalhar com os temas geradores significa possibilitar a articulação do trabalho pedagógico com a realidade sociocultural das pessoas em aprendizagem curricular, seus interesses, com os conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade a que todos têm direito de acesso. (MACEDO s/d, p.102).
Nesse modelo de educação defendido e propagado por Freire, incumbe o educador
na função de valorizar os conhecimentos que provém do educando, atentando para
o levantamento de questionamentos, partindo do local em que está inserido, das
suas necessidades, até alcançar os conhecimentos globais, pois compreendendo o
seu meio é mais fácil compreender o mundo e transformar sua realidade. Ele
discorre sobre a importância da ação do educador na formação e assunção do
educando, os sujeitos são preparados criticamente pela interação com o professor,
podem alcançar a transformação do estado de ingenuidade para o de politizado
capaz de enfrentar e transformar o seu contexto.
O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. ( FREIRE,1996, p. 86).
Nessa perspectiva o educador é aquele engajado numa luta social e política, com o
objetivo de promover a conscientização da massa para que lute contra o modelo de
dominação imposto pela classe dominante. Ele defende uma educação dialética que
esteja a serviço dos dominados como uma esperança para a libertação, e, quando
37
isso não acontece, não está desempenhando verdadeiramente seu papel de
educador, mas reproduzindo a educação dominante. Como afirma Melo (1998, p.75)
Educar nessa sociedade é tarefa de partido, isto é, não educa realmente aquele que ignora o momento em que vive, aquele que pensa estar alheio ao conflito que o cerca. É “tarefa de partido” porque não é possível ao educador permanecer neutro: ou educa a favor dos privilégios da classe dominante ou contra eles, ou a favor das classes dominadas ou contra elas(...).
No decorrer da história, a educação segue atendendo aos objetivos políticos tanto
da classe dominante quanto da classe dominada, muitos educadores passaram a
aderir um novo modelo de educação, esquecendo de questionar o que é pertinente e
o que não é tornando assim um mero receptor de novos modelos e transmissores
dos mesmos, reproduzindo o que é ditado pelo sistema dominante. Diante dessa
problemática, é necessária uma conscientização que só será alcançada mediante à
leitura de mundo. Além disso, vale frisar que no tocante à língua, os educadores
precisam estar atrelados à interdisciplinaridade, pois no momento histórico em que
vivemos não cabe a idéia de se ensinar conteúdos em disciplinas isoladas sem uma
interligação com as outras.
Todo professor é professor de língua, já que ele se serve da língua como meio de transmissão dos conteúdos que lhe cabe ensinar. Por isso, a transformação do modo de encarar as variedades não padrão tem de ser feita em todos os campos da educação, sendo uma tarefa de todos e não apenas dos professores de Língua Portuguesa (BAGNO, 2006,p.29).
O educador não deve ver apenas uma face dos modelos educacionais, precisa se
comprometer de maneira crítica, pois ensinar exige reflexão da prática , esse
processo envolve a dialética entre o fazer e o pensar sobre o fazer. Dessa maneira,
pensando a prática de ontem e hoje é possível melhorar a de amanhã e assim
trabalhar a serviço de uma escola que atenda às necessidades das classes
dominadas.
2.3.1 Educador de Língua portuguesa
38
O educador de língua Portuguesa tem uma árdua missão: tornar o ensino dessa
disciplina prazerosa, despertando no aluno o gosto pela aprendizagem da língua,e,
para que isso aconteça, é preciso que ofereça desafios e questões interessantes
para os alunos, explorando constantemente a criatividade.
Quando o educador segue uma prática pedagógica atraente e instigante, ele consegue aproximar – se do educando e com laços afetivos e segurança no que faz, levá-lo à aprendizagem autônoma e crítica, com ênfase na livre expressão do pensamento, na reflexão de suas ações e na visão ampla da realidade, em busca da transformação positiva de si mesmo e da sociedade ( ANTUNES, 2003, p.81).
Para que haja transformação da sociedade, é imprescindível que os educadores, a
escola e instituições voltadas a cultura, estejam aptos e prontos para a
desconstrução de muitos mitos que envolvem a Língua Portuguesa e o seu ensino, é
preciso reconstruir conceitos e atitudes, reconhecendo a diversidade lingüística do
Brasil e de cada educando. A Língua na ótica da Sociolinguística está sempre em
desconstrução e reconstrução, por isso, “a professora e ao professor de Língua
Portuguesa cabe o trabalho da reeducação sociolingüística de seus alunos e de
suas alunas (BAGNO,2007,p.82)”.
É pertinente que o educador de Língua Portuguesa tenha conhecimento de que há
alguns anos, tanto as provas de vários concursos quanto as do Enxame Nacional de
Ensino Médio – ENEM trazem as questões de Português dentro da perspectiva das
variedades lingüísticas.
A evolução da língua está ligada à evolução intelectual, social, econômica da
sociedade, pois dessa forma evoluem também as necessidades comunicativas. Com
base nisso, enfatizamos o desenvolvimento da informática e internet, fez surgir a
necessidade de novos sentidos para palavras já existentes na própria língua (
computador, teclado, disco rígido e outras, além das palavras emprestadas do
inglês.
Nessa sociedade do conhecimento, o educador de Língua Portuguesa, deve estar
39
informado através de revistas, jornais, televisão e através das novas tecnologias da
informação e comunicação – TIC, estar “por dentro” do que acontece pelas
diferentes formas em que se apresenta a Língua Portuguesa, pois assim será mais
fácil e produtivo o trabalho no Ensino Fundamental.
2.4 ENSINO FUNDAMENTAL
O Ensino Fundamental é uma etapa mais longa da Educação básica. Conforme o
Art. 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira LDB/96 tinha duração
mínima de oito anos, obrigatória e gratuita, inclusive para aqueles que não tivessem
acesso na idade própria. Essa modalidade de educação passou por mudanças nos
últimos anos. Segundo Saviani (2008), a implantação da Lei n. 11.274 que alterou o
artigo 32 da LDB, dividiu o ensino fundamental em nove anos alcançando crianças
com a faixa etária de seis à catorze anos e os municípios teriam um prazo de
implantação desse novo formato até 2010.
Vale enfatizar a proposta para o Ensino Fundamental que é:“ ... assegurar a todos a
formação comum indispensável para o exercício da cidadania e oferecer-lhe meios
para progredir no trabalho e em estudos posteriores (LDB 9394/96, ART, 22)”.
Pensar em cidadania é pensar em respeito principalmente às diferenças lingüísticas.
Com relação à língua: “O Ensino Fundamental regular será ministrado em Língua
Portuguesa, assegurando às comunidades indígenas a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem (LDB 9394/96, ART, 32, III 3º)”. É
notório que tanto nos PCNs quanto na LDB, há uma preocupação com o ensino da
Língua.
Percebemos que as políticas públicas para a educação ainda não alcançaram a
realidade desejada, mas já promoveram muitas mudanças significativas.
É durante o Ensino Fundamental que há a necessidade de investimentos no ensino
produtivo e eficaz, aquele que trabalha os usos reais da língua para que assim haja
40
um ensino mais igualitário e o respeito à verdadeira democracia, assim estaremos
bebendo da fonte Freireana com suas idéias de libertação e transformação social,
tendo o educando como agente produtor do conhecimento e das transformações
mediadas pelo educador.
É nesse nível de ensino que há o espaço ideal para a seguinte conclusão: no meio
do caminho tinha um português, parafraseando a idéia do grande escritor da
literatura modernista, Carlos Drummond de Andrade que escreveu o seguinte: no
meio do caminho tinha uma pedra. É pertinente afirmar que a pedra da qual falava
Drummond já não se apresenta mais como antes, ou seja, o modelo padrão de
língua já não é o único importante, assim sendo, podemos enfatizar que na trajetória
da educação brasileira, o português padrão era uma pedra no caminho dos falantes
de dialetos não-padrão, mas agora o português de cada dia ou as outras línguas
brasileiras também têm espaço para cumprirem suas funções.
41
CAPÍTULO III
3. PERCORRENDO CAMINHOS
Para alcançar o objetivo da pesquisa que foi Identificar e analisar a postura dos
educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos do Ensino fundamental,
utilizamos a investigação de cunho descritivo, pois é usada para registrar, interpretar
fatos e analisar, visa detalhar a realidade dos sujeitos dentro do contexto em que
estão inseridos, possibilitando a compreensão do nível de criticidade e
conscientização que os sujeitos apresentam referente ao tema durante a pesquisa.
Como afirma Demo (1999) pesquisa significa:
(...) diálogo crítico e criativo com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de interação. Em tese a pesquisa é atitude do “aprender a apreender” e como tal faz parte de todo processo educativo. (p. 128).
Essa é a parte da pesquisa que requer muita dedicação para que possa ser
desenvolvida de maneira eficaz e interativa. É preciso fazer uso de instrumentos
eficientes para o sucesso da mesma. Essa etapa do trabalho permite “descobrir
respostas para as questões, por meio da aplicação de métodos científicos
(MARCONI; LAKATOS, 1990, p.15).” É por meio da investigação que encontramos
as respostas para as nossas inquietações.
3.1 Tipo de Pesquisa
A metodologia perpassou pela pesquisa qualitativa, por permitir a interação do
conhecimento, com a troca de informações e a integração entre pesquisador e
pesquisado e por ser a abordagem adequada às pesquisas sociais. “A pesquisa
qualitativa supõe o contato prolongado com o ambiente e a situação que está sendo
investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo (BOGDAN E
BIKLEN, 1982 apud LUDKE E ANDRÉ, 1986)”. Dessa forma, é possível
compreender a realidade do objeto de estudo interagindo com o mesmo.
42
Este modelo de pesquisa foi relevante porque nos permitiu trabalhar compreensões,
valores e atitudes dos sujeitos referente à temática Variações Linguísticas no Ensino
Fundamental, pois é um tema que exige muitas reflexões, por isso tornou-se
necessária essa abordagem qualitativa e levando em consideração o objeto de
estudo, optamos pela pesquisa de campo pois a mesma é imprescindível para
responder a questão de pesquisa.
3.2 Desbravando novos horizontes
O lócus escolhido para o desenvolvimento da pesquisa foi o Centro Educacional de
Ponto Novo, mantido pelo poder público municipal, situada na sede do município de
Ponto Novo – BA. A escolha desse espaço aconteceu por acreditarmos que seria o
ambiente mais viável para a realização da pesquisa por vários motivos: está situado
próximo da residência da pesquisadora e por ser a escola de Ensino Fundamental
que apresenta o maior número de professores de Língua Portuguesa, O corpo
docente responsável pela disciplina de Língua Portuguesa é formado por oito
professores para os três turnos. Além disso, a diversidade cultural ali existente é
mais marcante que em outras escolas tornando assim um campo fértil para a
pesquisa com as Variações Linguísticas.
Essa escola recebe alunos inseridos em contextos diversificados, da zona urbana e
da rural, portanto, foi o ambiente adequado para a descoberta das respostas para a
nossa inquietação.
3.3 Sujeitos
Com a temática voltada às Variações Lingüísticas, foi imprescindível pesquisar os
educadores de Língua Portuguesa, daí os escolhidos foram os oito que trabalham no
Centro Educacional de Ponto Novo – Ba, um número suficiente para atender os
nossos objetivos. São educadores oriundos de contextos diversificados, com
diferenças políticas, econômicas, sociais e culturais, alguns com graduação em
Letras, outros com Graduação em Pedagogia e especialização em Psicopedagogia,
43
por conta disso, foi o ambiente ideal para a descoberta das respostas para as
nossas inquietações, pois as atitudes e compreensões dos sujeitos variam de acordo
com o contexto em que estão inseridos, ou seja, um graduado em Pedagogia tem
uma visão diferente de um graduado em Letras, um pós-graduado tem uma visão
diferenciada com ralação a um graduado. Outro motivo da escolha desses sujeitos
foi pela oportunidade de dialogar com educadores que são profissionais
comprometidos com uma educação de qualidade.
3.4 Instrumento de coleta de dados
Os instrumentos de coleta são peças fundamentais para o sucesso da pesquisa.
Partindo desse entendimento, na pesquisa utilizamos como instrumento de coleta de
dados a observação participante, questionário semi-aberto e entrevista semi-
estruturada.
Tanto quanto a entrevista, a observação ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional. Usada como principal método de investigação ou associada a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens”. (LÜDKE; ANDRÉ,1986,p.26).
Optamos por esses instrumentos de coleta de dados, pois nos permitiriam um maior
aprofundamento da temática junto aos sujeitos e por ser os instrumentos adequados
à pesquisa educacional e também por possibilitar um contato direto com o
entrevistador e entrevistado, possibilitando assim uma maior compreensão dos fatos
pelo pesquisador.
3.4.1 Observação participante
O primeiro momento da pesquisa foi a observação participante, a mesma é de
fundamental importância, pois permite várias maneiras de ser desenvolvida pelo
pesquisador, através de vários recursos que posteriormente poderá analisá-las
minuciosamente. A observação é uma técnica de coleta de dados indispensável em
44
toda pesquisa científica, pois através da mesma faz-se uso dos sentidos na
descoberta de conhecimentos sobre o objeto, possibilita um contato maior com os
sujeitos, proporcionando uma experiência direta entre pesquisador e pesquisados.
A observação pode ser flexível e utilizada dentro da qualquer pesquisa (...) Porém, o bom observador é aquele que, ao decidir-se pela observação deverá preparar o seu desenvolvimento, o seu emprego e formas de registro. As técnicas fotográficas de filmagens são importantes como formas de registro da observação feita. Assim, posteriormente, os fatos poderão ser analisados com cuidado, com mais tempo. (BARROS; LEHFELD, 1990, p.77).
Utilizamos a observação participante por possibilitar várias formas de registros dos
fatos pesquisados e por acreditar ser um instrumento imprescindível na coleta de
dados, podendo assim ser de grande valia para alcançar o objetivo da nossa
questão.
3.4.2 Questionário Fechado
O segundo momento da pesquisa foi a aplicação do Questionário Fechado que
permitiu o levantamento do perfil dos sujeitos pesquisados, proporcionando-nos um
levantamento mais objetivo referente ao assunto pesquisado.
O pesquisador deve ter uma preocupação constante quanto à maneira pela qual as questões do questionário serão regidas. Da redação e da formatação das perguntas depende em grande parte o sucesso da pesquisa.Uma redação descuidada pode conduzir a sentidos ambíguos e dificuldades de compreensão do que se pretende mesmo saber. É fundamental estar familiarizados com o tipo e nível de linguagem dos sujeitos a serem pesquisados (BARROS; LEHFELD, 1990,p.74)
Optamos pelo questionário Fechado para traçar o perfil dos sujeitos e por ser um
instrumento de fácil aplicação e análise das respostas.
3.4.3 Entrevista Semi – estruturada.
No terceiro momento, objetivando conhecer as idéias dos sujeitos entrevistados,
utilizamos a entrevista semi-estruturada composta por oito questões, uma
quantidade que acreditamos ser suficiente para alcançar o objetivo do trabalho, onde
45
pudemos abordar o tema da pesquisa de maneira mais abrangente e produtiva. A
entrevista possibilitou o desvendar de realidades que envolvem o tema abordado e a
interpretação de conceitos, além disso, permitiu a obtenção de respostas relevantes
que permitirão e nortearão outras investigações de fenômenos sociais.
A entrevista é o encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social”. (MARCONI E LAKATOS, 1996 p.84).
Optamos pela entrevista semi-estruturada para identificar de maneira mais subjetiva
a compreensão que os sujeitos têm sobre o objeto pesquisado por favorecer a
descrição dos fenômenos sociais e a compreensão da sua totalidade e também por
oferecer uma maior liberdade de expressão aos sujeitos, além disso, daria mais
abrangência às nossas inquietações referente à temática pesquisada.
46
CAPÍTULO IV
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Essa é uma etapa muito importante da pesquisa, pois é nela onde relatamos os
resultados das nossas inquietações.
Analisar dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais informações disponíveis (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p.45).
Para complementar essa discussão, buscamos subsídios em Minayo (1994),
segundo a mesma, primeiramente deve-se interpretar a conjuntura sócio-econômica
e política do contexto em que o sujeito está inserido, a história desse grupo que já
deve ser definida desde a fase exploratória, é o momento de leitura de textos,
estabelecendo interrogações para identificar o que é relevante e finalmente
estabelecer articulações entre dados e os referenciais teóricos, respondendo ás
questões da pesquisa com fundamento em seus objetivos, porém a partir daí surgem
novas inquietações, pois na pesquisa qualitativa não se esgota o objeto de estudo.
4.1 Traçando o perfil dos sujeitos
Por intermédio de um questionário fechado obtivemos os seguintes dados:
Dos oito educadores entrevistados, seis pertencem ao sexo feminino. 25 % são
solteiros os demais são casados, 75% estão entre 24 e 31 anos os demais estão
entre 32 a 39 anos.
50% são graduados em Letras e os outros 50 % graduados em Pedagogia, desses
25% com especialização em Psicopedagogia.
50 % dos pesquisados afirmaram que tem entre doze a catorze anos que lecionam e
47
também informaram que tem entre oito a 10 anos que atuam na disciplina de Língua
Portuguesa. Os 50 % restantes afirmaram que tem mais de catorze anos que
exercem a profissão de educador, e, desses, 25 % sempre trabalhou com Língua
Portuguesa. Os outros 25% tem entre doze a catorze e anos que exercem a função
de educador de Português.
25% dos pesquisados lecionam apenas um turno. 50 % afirmaram que trabalham
dois turnos e 25 % trabalham nos três turnos.
50 % afirmaram que entraram em contato com as variações lingüísticas através da
graduação em Letras, 25% através de pesquisas autodidatas e os outros 25% por
meio de curso de capacitação.
Os pesquisados foram identificados como educador 1,2,3,4,5,6,7 e 8.
4.2 Buscando compreensões
A partir das respostas obtidas da observação participante e entrevista semi-
estruturada, apresentamos os resultados obtidos.
4.2.1 Conceito sobre as Variações Linguísticas.
EDUCADOR 1: “São os diferentes dialetos presentes em uma língua”. EDUCADOR
2 “ São as variadas maneiras de falar “. EDUCADOR 3 “São as diferentes formas
utilizadas pelos falantes de uma língua” .EDUCADOR 4 ““São os diferentes dialetos
que há em uma língua”.
Ao perguntar sobre a compreensão de variações lingüísticas, 100% dos educadores
enfatizaram que as mesmas fazem parte da língua e todas são fundamentais para o
funcionamento de todas as línguas. Complementando essas idéias enfatizaremos o
que Bagno (2007) afirma sobre as variações: “... uma variedade lingüística é um
dos muitos “modos de falar” uma língua ... esses diferentes modos de falar se
correlacionam com fatores sociais como lugar de origem, idade, sexo, classe social,
grau de instrução, etc. ( p. 46)”.
48
4.2.2 Importância do trabalho com as variedades lingüísticas em sala de aula
EDUCADOR 1: “ é de fundamental importância o trabalho com variedades
lingüísticas para compreender o funcionamento da língua, pois não existe só o
modelo padrão de língua”.EDUCADOR 2 : “é importante trabalhar as variações
lingüísticas, pois já não é adequado para a contemporaneidade ensinar apenas a
norma padrão”. EDUCADOR 3 : “é necessário trabalhar as variedades para lutar
contra o preconceito, EDUCADOR 4: “ é importante trabalhar as variedades para
compreender o funcionamento da língua e lutar contra o preconceito”.
100 % dos entrevistados afirmaram que o trabalho com as variedades lingüísticas é
imprescindível. 25 % informaram que é importante para lutar contra o preconceito
lingüístico. 25 % afirmaram que é essencial para entender que todas as variedades
são importantes, basta ser adequadas ao contexto em que estão inseridas, dessa
forma a norma padrão não é a única que deve ser respeitada. 25 % enfatizaram que
as variações são importantes para entender a língua que está em constante
evolução e os 25% restante salientaram que é necessário o estudo e ensino das
mesmas, pois não é cabível em plena contemporaneidade, práticas que valorizem
apenas o modelo padrão, pois o ensino atual da língua está atrelado aos usos reais
e também às reflexões.
... a reflexão sobre a língua deve ser feita por meio da investigação de fatos lingüísticos reais, em manifestações faladas e escritas autênticas, e por meio do confronto crítico e entre as teorias científicas mais recentes. ( BAGNO, 2008, p.15)
Durante a Observação que aconteceram em dias que não estavam marcados,
constatamos que durante o tempo que houve a observação em sala de aula, os
educadores trabalhavam com as variedades de forma dinâmica e reflexiva.
4.2.3 O preconceito lingüístico influencia no desenvolvimento do educando e
na evasão?
49
EDUCADOR 2: Sim . Não é o único motivo para um baixo rendimento e para a
evasão, mas é um dos fatores”. EDUCADOR 3: “Sim. Muitos alunos sentem-se
envergonhados quando os seus saberes linguísticos são menosprezados e chegam
até a abandonar a escola por conta disso”. EDUCADOR 4: “Sim. O preconceito
lingüístico inibe o educando de se expressar por medo de cair no ridículo”.
EDUCADOR 7: “Sim. E quando não abandonam a escola, tornam-se alunos
tímidos, passivos e não alcançam o sucesso que alcançariam em uma outra
situação”.
É notório que na escola pesquisada, os diferentes falares são respeitados e
trabalhados adequadamente, por isso, não há espaço para o preconceito lingüístico
como fator responsável pela evasão e baixo rendimento dos educandos. Mesmo
assim, foi constado que 100 % dos educadores acreditam que o preconceito pode
ser uma das causas da evasão escolar onde o mesmo for praticado, 25 % ainda
acreditam que os alunos são impedidos de desenvolver a oralidade e criticidade por
conta disso. Para fundamentar essa discussão Aquino ( 1999) afirma:
... não é por acaso que muitas crianças deixam a escola ou se recusam a expandir sua capacidade lingüística já que sua fala, sua origem, a produtividade de sua língua materna não conseguem moedas nesse câmbio com o discurso escolar ( p. 223).
Embora reconheçam a influência negativa do preconceito lingüístico, os educadores
afirmaram que não assumem a postura preconceituosa e pudemos confirmar a
veracidade das falas dos mesmos através da Observação Participante, eles estão
com o pensamento em sintonia com os teóricos da linguística.
4.2.4 A diferença do ensino de Língua Portuguesa do passado e da atualidade.
EDUCADOR 1: “ O positivo do ensino da Língua Portuguesa no passado é que os
alunos aprendiam num espaço de tempo menor” e o negativo é que o ensino era
descontextualizado”. EDUCADOR 2: “O ponto negativo do passado era que o aluno
era obrigado a estudar muitas coisas que não eram úteis para eles, além disso a
discriminação era constante”. EDUCADOR 3: “O ponto positivo das idéias atuais é
que a língua está sendo ensinada de forma que tenha sentido para o educando
50
”.EDUCADOR 4: “O positivo de hoje é que a língua perpassa pelos usos reais da
mesma através das variedades e gêneros textuais e a valorização dos falantes”.
75% dos educadores afirmaram que tanto no passado quanto na atualidade, existem
pontos positivos e negativos e 25% afirmaram que na atualidade está melhor. 25 %
afirmaram que o positivo no passado era que os educandos aprendiam em um
espaço menor de tempo. 100 % apontaram como negativo o modelo de ensino
tradicional, utilizando apenas a norma-padrão que sempre foi a língua da elite, dessa
forma o que se aprendia nem sempre era útil para o dia-a-dia, os conteúdos eram
trabalhados de maneira descontextualizada. O que imperava em sala de aula era o
uso exagerado da gramática normativa com as infinitas regras, além disso, quem
não falava de acordo com os dialetos não-padrão, eram corrigidos e tidos como
ignorantes que não sabiam falar. Buscamos subsídios em Possenti (1996) que vem
discordar da visão antiga de ensino da língua:
Saber falar significa saber uma língua. Saber uma língua significa saber uma gramática (...), saber uma gramática não significa saber de cor algumas regras que se aprendem na escola, ou saber fazer algumas análises morfológicas e sintáticas... ( , p. 3).
O pensamento anteriormente citado fundamenta a compreensão dos pesquisados
que acreditam na superioridade do ensino de hoje. 25 % dos professores
salientaram que hoje o ensino está bem melhor e não apresentaram pontos
negativos, os 50 % salientaram que o negativo da atualidade é que nem todos os
professores fazem uso das mudanças de maneira correta, ainda existem aqueles
que passam a acreditar que a norma padrão perdeu um pouco o seu valor. 25 %
afirmaram que os alunos de hoje passam muito mais tempo na escola para aprender
comparado ao passado. 100 % afirmaram que o positivo é que agora é mais fácil
entender a língua com a perspectiva dos usos reais da mesma e para isso são
explorados as variações lingüísticas e também os diversos gêneros.
A prioridade absoluta , no ensino de língua, dever ser dada às práticas de letramento, isto é, as práticas que possibilitem ao aprendiz uma plena inserção na cultua letrada, de modo que ele seja capaz de ler e de escrever textos dos mais diferentes gêneros que circulam na sociedade.( BAGNO, 2008, p. 13).
51
Percebemos que os sujeitos da pesquisa estão em conformidade com o modelo
atual de ensino da Língua Portuguesa.
4.2.5 Trabalho em sala de aula com as Variações Linguísticas.
EDUCADOR 1: “Trabalho sempre com os vários dialetos através dos diversos
gêneros que me permite trabalhar o poema, música, charges, gibis”. EDUCADOR 2:
“Trabalho textos e outras situações de acordo com as falas dos alunos e outras
situações, sem esquecer o trabalho para o domínio da norma culta que acho
imprescindível para o aprendizado da Língua Portuguesa”. EDUCADOR 5:
“Trabalho sempre com variedades lingüísticas, utilizando também os gêneros para
complementar, dessa forma fica mais fácil compreender os usos reais da língua e
também combater o preconceito lingüístico”.EDUCADOR 7: “Sempre que surge a
oportunidade de trabalhar as variedades lingüísticas eu trabalho, partindo da
linguagem de cada um, enfatizando o adequado e inadequado diante dos discursos
e contextos”.
25% dos educadores afirmaram que sempre que surge a oportunidade de trabalhar
as diferentes forma de falar, eles aproveitam de maneira reflexiva e dinâmica. Os 75
% trabalham sempre aproveitando a oportunidade para refletir sobre a língua e
enfatizar que o interessante é saber adequar a fala ao momento e as pessoas do
discurso, pois não existe certo e errado, mais bonito ou mais feio, mais pobre ou
menos pobre, e sim adequado e inadequado. Em se tratando dos usos lingüísticos,
é interessante enfatizar que tanto a norma padrão quanto os dialetos não-padrão
possuem regras complexas.
Por mais distante que a linguagem do aluno esteja da variedade padrão, ela é extremamente complexa, articulada, longe de ser um falar rudimentar e pobre ( que o digam os linguistas que se dedicaram à tarefa de escrever variedades regionais e sociais, ou mesmo linguagem infantil).... ( POSSENTI, 1996, p83)
Essas respostas deixam nítido que esses educadores são conhecedores das idéias
da lingüística contemporânea, estão de acordo com os linguistas que se dedicam ao
estudo dessa ciência, além disso, na prática houve a comprovação das falas.
52
4.2.6 Para você, as novas propostas para o ensino da língua portuguesa
possibilita um trabalho eficaz?
EDUCADOR 3 : “Sim. Possibilita, pois nem só as variedades de dialetos como
também os diversos gêneros nos possibilitam trabalhar aquilo que tem sentido para
o aluno”. EDUCADOR 4: “Sim. As novas propostas levam em consideração a
contextualização que é muito importante”.EDUCADOR 6 : “Sim. Trabalhar com a
perspectiva das variedades lingüísticas e também com os gêneros, é muito
gratificante e lúdico”.EDUCADOR 7: “Sim. Trabalhar com as variedades lingüísticas
é muito interessante, contribui de maneira significativa para o desenvolvimento da
criticidade do aluno.
100 % dos educadores confirmaram que as novas propostas para o ensino da língua
Portuguesa possibilitam um trabalho de qualidade, pois permitem trabalhar partindo
dos conhecimentos dos educandos, ou seja, a contextualização. Dessa forma torna-
se mais fácil compreender a língua, pois a mesma passa a ter sentido para o
educando, além disso, os diversos gêneros textuais e discursivos permitem trabalhar
com as variedades de forma produtiva e lúdica. É notório que trabalhar a língua
nessa perspectiva é estar fundamentado nos ideais de Freire que enfoca tanto a
contextualização, a problematização e a conscientização.
Quanto mais se problematizam os educandos, tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio (...) , a compreensão resultante tende a tornar – se crescentemente crítica, por isto cada vez mais desalienada ( FREIRE, 1987, p.70).
Os educadores pesquisados apresentam conhecimentos referente ao pensameno
do teórico citado e também da proposta atual para o ensino da língua.
4.2.7 Você considera a norma – padrão a única forma certa de língua e a única
a ser ensinada na escola?
EDUCADOR 3: “Não. A norma-padrão ou língua padrão precisa ser explorada
minuciosamente na escola, pois precisamos da mesma para alcançar os espaços
elitizados: concursos, vestibulares e outros, mas as outras variedades precisam
53
também ser trabalhadas e respeitadas”. EDUCADOR 5: “Não. Podemos dizer que
existem muitas línguas dentro de uma língua: são os chamados dialetos, não existe
um certo e outros errados, existe apenas o adequado a cada contexto de interação –
comunicativa”.
EDUCADOR 6: “Não. Uma língua é composta por muitos dialetos e todos devem
ser ensinados na escola de acordo com cada necessidade. A língua- padrão não é a
única certa, ela é a adequada para os momentos formais”. EDUCADOR 7 : “Não. A
língua padrão não é a única correta, ela é a adequada para as situações formais,
existem as outras variedades que são importantes para outras situações e devem
ser todas respeitadas, pois todas cumprem uma função, todas são complexas e
possuem lógica”.
100% dos professores afirmaram que não existe um único dialeto certo, todos os
dialetos desempenham suas funções, não esquecendo de enfatizar o adequado e
inadequado e não o “certo” e o “errado”. Outro fator importante é que deve ser
combatida a idéia de que um dialeto é superior ao outro, assim sendo, a língua
padrão ou norma padrão não é a única certa, mesmo sendo necessário ser
ensinada, pois ela é adequada para alguns momentos, como as situações formais
da escrita e fala, mas não é adequada para todos os momentos, além disso, é
necessário também trabalhar a reflexão da língua. Resumindo, todas as variedades
precisam ser trabalhadas.
... o papel da escola não é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de criar condições para que os alunos aprendem também as variedades que não conhecem, ou com as variedades que não conhecem, ou com as quais não têm familiaridade, aí incluída, claro, a que é peculiar de uma cultura mais “elaborada”. É um direito elementar do aluno ter acesso aos bens culturais da sociedade. (POSSENTI, 1996,p83)
Ainda discutindo o ensino da língua padrão, Bagno ( 2006) pontua:
Em suma, sou a favor do ensino da norma-padrão, mas de um ensino crítico da norma-padrão, de um ensino que mostre que essa norma-padrão, não tem, linguísticamente, nada de mais bonito, de mais lógico, de mais coerente que as variedades usadas pelos falantes menos cultos ou analfabetos ( BAGNO, 2006,p.185).
54
Vale enfatizar que as idéias dos professores são condizentes com as dos teóricos na
teoria e na prática.
4.2.8 Qual a sua postura diante de um educando que tenha uma forma de falar
totalmente diferente da norma – padrão ou diferente de todos os educandos?
EDUCADOR 1: “Procuro trabalhar as variedades mostrando que todas são
importantes de acordo com o contexto de comunicação e que a variação não
acontece apenas no meio rural, mas em todas as classes”. EDUCADOR 2 : “Enfatizo
que falar diferente não é falar errado, pois a língua é para ser adequada à situação,
assim como usamos uma roupa para cada situação”. EDUCADOR 5: “Busco
sempre trabalhar o adequado e inadequado, enfatizando que falar outros dialetos
que não é o padrão não significa falar errado, por isso, é necessário que todos
respeite a maneira diferente da fala de cada um”. EDUCADOR 8 : “Procuro sempre
trabalhar na perspectiva do adequado e inadequado, conscientizando – os que a
sociedade ainda atribui valores aos indivíduos de acordo com a fala de cada um”.
100 % enfatizaram que sempre trabalham com conscientização mostrando que falar
diferente não é falar errado e sim adequado ou inadequado, mas também mostram
aos alunos que a sociedade não aceita dessa forma, pois a mesma atribui valores às
pessoas de acordo com o nível cultural e econômico de cada falante. Essas
compreensões estão de acordo com o linguista Cagliari (2001) que afirma:
A escola também deve mostrar aos alunos que a sociedade atribui valores sociais diferentes aos diferentes modos de falar a língua e que esses valores, embora se baseiam em preconceitos e falsas interpretações do certo e errado lingüístico, tem conseqüências econômicas, políticas e sociais muito sérias para as pessoas p.82 – 83).
Diante do exposto, é preciso enfatizar que as variedades existem não apenas no
meio rural ou entre as pessoas menos esclarecidas, mas está presente em todas as
classes, sendo apenas adequada de acordo com as exigências de cada contexto e
situação . Bagno (2008):
É preciso evitar a prática distorcida de apresentar a variação como se ela existisse apenas nos meios rurais ou menos escolarizados, como se também não houvesse variação ( e mudança) lingüística entre os falantes
55
urbanos, socialmente prestigiados e altamente escolarizados, inclusive nos gêneros escritos mais monitorados (p.16).
Para os resultados das entrevistas fossem comprovados, utilizamos Observação
Participante e por intermédio da mesma, percebemos que os discursos dos
professores são condizentes com a prática, além de apresentarem o conhecimento
das teorias que regem o ensino da Língua Portuguesa na atualidade, dessa forma a
comunidade estudantil só tem a ganhar e o restante da sociedade também.
A pranta dos brasileiros e o ingrês de Camões
Na escola pesquisada, mesmo de maneira rara ainda foi possível encontrar alguém
que fale pranta no lugar de planta, isso para muitos pode parecer ridículo, mas a
verdade é que essa pessoa está usando a língua da forma que era usada há muito
tempo em Portugal, na época em que Camões ( escritor renomado do período
literário Classicismo português) falava com r as palavras que hoje no português
brasileiro falamos com l, ele seguia o modelo de Língua Portuguesa da época que
apresentava forte ligação com o Latim, dessa forma, também era usado ingrês e não
inglês como é utilizado atualmente no Brasil, nesse tempo era correto e fazia parte
da norma culta usar o r no lugar que hoje utilizamos l. pela fato de toda língua variar
no tempo e no espaço, ocorreu uma mudança na Língua Portuguesa denominada de
rotacismo. Como afirma Bagno (2006):
Existe na língua Portuguesa uma tendência natural em transformar R em L dos encontros consonantais, e o fenômeno tem até um nome complicado: rotacismo (... ) o que era l em latim (...) permaneceu L em francês e em espanhol, mas em Português transformou – se em R... (p.46)
O rotacismo fez parte da formação da Língua Portuguesa e ainda é marcante nas
classes sociais estigmatizadas, daí surgiu o preconceito contra os falantes que às
vezes são tachados de incapazes de falar corretamente a língua. Esse fenômeno já
estava presente na obra “Os Lusíadas” do poeta português Luís de Camões, escrita
há muito tempo, durante o período do Classicismo. O fragmento da obra citada
abaixo, enfatiza a rotacização do l nos encontros consonantais. “Era este Ingrês
56
potente( VI, 46). Onde o profeta jaz, que a lei pubrica ( VII, 34). Doenças, frechas,
trovões ardentes ( X, 46). Nas ilhas de maldivas nasce a pranta (X, 136).( BAGNO,
2008, p. 45)”.
O episódio do rotacismo que aconteceu na sala de aula durante a pesquisa, foi
trabalhado pela educadora de maneira interessante, pois a explicação para os
educandos foi uma novidade e criou situações de aprendizagem de maneira criativa
e lúdica. É trabalhando a língua do aluno que a aprendizagem acontece com mais
facilidade e de forma prazerosa para os educandos. Os educadores pesquisados
estão trilhando o caminho certo e os resultados certamente serão gratificantes.
57
FINAL DA JORNADA
Trabalhar a temática Variações Lingüísticas no ensino fundamental possibilitou-nos
conhecer mais profundamente as suas especificidades e estimulou a reflexão sobre
a importância da mesma no contexto educacional, contribuindo para a socialização
do homem na sua relação com o mundo.
É entendido que por muitos anos perdurou a prática tradicional nas aulas de Língua
Portuguesa sem atentar para a contextualização e ainda há resquícios dessa prática
em alguns contextos, porém durante a pesquisa, ficou evidenciado que no lócus
onde a mesma foi executada, a prática dos educadores pesquisados está em
conexão com a teoria que rege o ensino da Língua Portuguesa na atualidade, ou
seja, os educadores trabalham as Variedades Linguísticas valorizando-as e também
os falantes, combatendo assim o preconceito lingüístico que ainda existe em outros
espaços. Foi constatado que a norma-padrão não é encarada como única forma
certa de utilizar a língua, mas é tão importante quanto os dialetos ou línguas não-
padrão que são utilizadas na fala.
Durante as aulas observadas houve momentos em que os educadores trabalhavam
a norma-padrão, outros em que foram comparados textos em língua normativa com
poemas em língua não-padrão enfatizando a importância dos mesmos para cada
contexto em que estejam adequados, produção de textos adequados a
determinadas realidades e quando surgiam formas diferentes na fala dos alunos
eram aproveitadas para o enriquecimento da aula. Em nenhum momento aconteceu
alguma forma de discriminação contra os dialetos dos educandos.
O ensino produtivo e eficaz é aquele que trabalha o uso real da língua, dentre eles
as gramáticas, a valorização dos diferentes dialetos para que assim haja um ensino
mais igualitário e o respeito à verdadeira democracia, assim estaremos bebendo da
fonte Freireana com suas idéias de libertação e transformação social, tendo o
educando como agente produtor do conhecimento e das transformações com a
mediação do educador.
No novo perfil de Professor de Língua Portuguesa não há espaço para professor
58
repetidor, passivo que espera formas prontas, que espera que lhe indique
exatamente como deve agir. O momento é para aqueles educadores-pesquisadores,
atualizados com as demandas do momento para que assim estejam preparados
para mostrar ao aluno os conhecimentos mais necessários para a construção da
cidadania e a preparação para os desafios da vida no campo profissional.
É pertinente que o educador de Língua Portuguesa prepare os educandos desde o
ensino fundamental visando a aproximação dos mesmos com as exigências da
sociedade, aproveitando o máximo a riqueza dos diversos dialetos que podemos
chamar de línguas brasileiras, sem esquecer que a língua-padrão também é
importante, pois é através da mesma que conseguimos a inserção na sociedade
letrada e no campo profissional.
É de fundamental importância a compreensão da formação e evolução da nossa
língua para que a mesma possa ter sentido para quem estuda. Para que isso
aconteça é imprescindível que o educador enfatize que a Língua Portuguesa do
Brasil, surgiu a partir da junção do Português de Portugal, das línguas indígenas e
das africanas, posteriormente de outras nações que imigraram para o Brasil,
desmascarando o mito da unidade linguística no Brasil. É necessário capacitar o
cidadão brasileiro para o exercício fluente, adequado e relevante da linguagem
verbal: oral e escrita. Além disso, o educador precisa lutar contra o preconceito
lingüístico de maneira que compreenda e também estimule os educandos a
refletirem sobre essa questão que não é um problema linguístico e sim social.
Na prática educativa de um educador de Língua Portuguesa, precisa estar atrelada
ao estudo, pesquisa e reflexão da língua tanto por parte dele quanto por parte do
aluno. O educador produz conhecimento com o aluno e não para o aluno, é aquele
que descobre e redescobre sempre, construindo, desconstruindo e reconstruindo.
Nessa sociedade do conhecimento os educandos precisam ser leitores críticos e
pessoas capazes de expressar-se por meio da escrita e fala para assumir a palavra
e serem autores de uma nova ordem das coisas.
59
Para complementar, salientamos que vivenciar na prática as teorias estudadas é de
fundamental importância para a vida profissional de um educador que está iniciando
nessa jornada árdua e ao mesmo tempo gratificante. Resumindo, a pesquisa de
campo foi uma etapa muito importante e necessária para a experiência do educador
que estar deixando a academia para adentrar em um mundo de desafios e
possibilidades. Foi desafiante, produtiva, cansativa, mas acima de tudo um momento
de muitas aprendizagens e reflexões.
Diante de tudo isso, enfatizamos que essa etapa acadêmica além de ter sido
enriquecedora foi também uma experiência prazerosa, trabalhamos com mais
dedicação e produtividade porque produzimos a partir de situações com as quais
temos afinidades. A questão de pesquisa foi respondida satisfatoriamente e
possibilitou-nos criar novas inquietações que poderão ser sanadas em um outro
momento, pois sabemos que o conhecimento é inacabado assim como o próprio
homem, dessa forma nunca chegaremos a uma verdade absoluta e imutável, nessa
jornada sempre encontraremos situações que exigirão afirmar-confirmar-reafirmar
as verdades.
60
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola,
2003.
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: novela sociolingüística. 15. ed. são Paulo:
Contexto, 2006.
BAGNO, Marcos. Nada na Língua é Por Acaso: por uma pedagogia da variação
lingüística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 50 ed. São Paulo:
Edições Loyola, 2008.
BARROS, A. J. P. de; LEHFELD, N.A.S. Projetos de pesquisa: propostas
metodológicas. Petrópolis – RJ: Vozes, 1990.
BRASIL,Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Língua Portuguesa . Brasília: A secretaria, 2001.
BRASIL, LDB (1996). Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional. LEI N.
9.394, de 20 de dezembro de 1996.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. 10.ed. são Paulo: Scipione,
2001.
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão
crítica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica:
Clássico, Científico e Vestibulares. 3.ed. São Paulo: Ática, 1969.
61
COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. 7.ed. rio de Janeiro: Livraria
Acadêmica, 1981.
DAMKE, Ilda Righi. O processe do conhecimento na Pedagogia da Libertação:
as idéias de Freire, Fiori e Dussel / Ilda Righi Damke. Petrópolis, RJ: Vozes , 1995.
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 2º edição – Petrópolis: Vozes,
1999.
DIEZ, Albani Galo. Segredos da Bahia. São Paulo: FTD, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed.Rio de janeiro: Paz e Terra,1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FERACINE, Luís. O professor como agente de mudança Social. São Paulo:
EPU,1990.
FIAD, Raquel Salek. As variações lingüísticas e o ensino de Português.
Presença. Belo Horizonte, n.13,p.47 – 56, jan./fev.1997.
LEITE, Yonne. Como falam os brasileiros. 3.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005
LIMA, Lílian Salete Alonso Moreira. Língua Portuguesa: história. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2009.
LÜDKE, M; ANDRÉ, M.E.A. A pesquisa em educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986.
62
MACEDO, Roberto Sidnei. Currículo: campo, conceito e pesquisa. Editora Vozes.
MELO, Guiomar Namo de. Cidadania e competitividade: desafios educacionais do
terceiro milênio. 7.ed. são Paulo: Cortez,1998.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e
execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise
e interpretação de dados 2.ed. são Paulo: Atlas,1990.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento de
pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e
interpretação de dados 3.ed. são Paulo: Atlas,1996.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: teoria, método e
criatividade. 24. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE PURTUGAL. Disponível em: www.Dgidc.mim-
edu.pt/língua_portuguesa/linguaportuguesa mundo.asp. Acesso em: 07 nov 2009.
MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs). Introdução à
Sociolinguística: o tratamento da variação.3.ed. são Paulo: Contexto, 2007.
PORTAL EMDIV. Uma janela de Minas para o mundo. As línguas – classificação e
origem. 5.set.2008. Disponível em:
HTTP://www.emdiv.com.br/pt/mundo/povosetradicoes/895-as-línguas-classificaçao-
e-origem.html. Acesso em: 08 nov. 2008.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP:
Mercado das Letras, 1996.
SARTORELLI, Soraya rozana et AL. Linguagem. Londrina: Editora Unopar, 2008.
63
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 23.ed. São Paulo: Cultrix,
2001.
SAVIANI, Dermeval. Da nova LDB ao Fundeb. 2.ed.e amp. São Paulo – Campinas,
SP: Autores Associados, 2008.
SOARES, Magda Becker. Linguagem e Escola.: uma perspectiva social. 17.ed.
São Paulo: Ática, 2005.
TEIXEIRA, Ana Maria de Souza Valle et al. Leitura e Cultura. Londrina: Editora
Unopar, 2008.
top related