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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPBCENTRO DE EDUCAÇÃO - CEDUCCAMPUS I – CAMPINA GRANDE-PB
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTESLICENCIATURA PLENA EM LETRAS
A ARGUMENTATIVIDADE NOS TEXTOS DISSERTATIVOS:
- FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS DISCURSIVAS.
EDIMILSON CAMILO DA SILVA
Campina Grande-PB2005
EDIMILSON CAMILO DA SILVA
A ARGUMENTATIVIDADE NOS TEXTOS DISSERTATIVOS:- FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS DISCURSIVAS.
Monografia apresentada ao Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito para a conclusão do curso de Licenciatura Plena em Letras – Língua Portuguesa.
Orientadora: Ms. Francisca Eduardo Pinheiro
Campina Grande-PB
2
2005EDIMILSON CAMILO DA SILVA
A ARGUMENTATIVIDADE NOS TEXTOS DISSERTATIVOS:- FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS DISCURSIVAS.
Aprovada em 14 de dezembro de 2005
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________Profa. Ms. Francisca Eduardo Pinheiro
Orientadora
____________________________________________Profa. Ms. Eneida O. Dornellas de Carvalho
1a Examinadora
____________________________________________Profa. Ms. Iara Francisca de Araújo Cavalcanti
2a Examinadora
3
SUMÁRIO
Agradecimentos
Dedicatória
Homenagem
Resumo
Abstract
Introdução------------------------------------------------------------------------
1. Fundamentação Teórica--------------------------------------------------
1.1 Texto e Gênero: Conceituação-----------------------------------------
1.2 Abordagem de Gêneros Textuais na escola e nos manuais de
língua portuguesa---------------------------------------------------------------
2. Argumentatividade nos textos dissertativos---------------------------
2.1 Estratégias argumentativas em textos dissertativos--------------
3. Os diferentes graus de produtividade argumentativa--------------
3.1 Alternância entre modo indicativo e subjuntivo---------------------
3.2 Estrutura sintática de subordinação-----------------------------------
3.3 Conectores argumentativos---------------------------------------------
3.4 Inferências Pragmáticas-------------------------------------------------
4. Elaboração do parágrafo dissertativo-----------------------------------
5. Análise de textos argumentativos---------------------------------------
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5.1 As teses e a argumentação persuasiva------------------------------
5.2 Recursos de linguagem, convencer e persuadir-------------------
5.3 Texto argumentativo de base dissertativa---------------------------
5.4 Texto argumentativo de base narrativa-------------------------------
5.5 Texto argumentativo de base descritiva------------------------------
5.6 Texto argumentativo de base injuntiva-------------------------------
6. Considerações Finais-------------------------------------------------------
7. Referências Bibliográficas-------------------------------------------------
Anexo
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“Persisti, pois, em buscar primeiro o reino e a
Sua justiça, e todas estas [outras] coisas vos
serão acrescentadas. Portanto, nunca estejais
ansiosos quanto ao dia seguinte, pois o dia
seguinte terá as suas próprias ansiedades. Basta
a cada dia o seu próprio mal”.
Mateus 6:33-34
6
AGRADECIMENTOS
A professora Francisca Eduardo Pinheiro pela orientação segura, pelas
críticas oportunas e pelo interesse demonstrado nas diferentes etapas da
elaboração desta monografia.
Aos professores que participaram da Banca Examinadora, por suas ricas
críticas e sugestões para o aprimoramento desta monografia.
Aos meus colegas de classe que me acompanharam durante toda esta
jornada de estudo.
A todos os meus familiares pela compreensão manifestada durante a minha
ausência devido à elaboração deste trabalho, assim como, pelo incentivo e
cooperação prestados diante das dificuldades.
Aos meus pais que se mudaram da Zona Rural para a cidade, para que eu
pudesse estudar e chegar onde estou chegando.
A minha esposa – Maria do Carmo – por acordar às 5:00h da manhã para
fazer meu café para que eu pudesse enfrentar mais um dia de estudo e trabalho e a
minha filha que vai nascer em janeiro de 2006.
A todos que colaboraram direta ou indiretamente para a realização deste
trabalho, a todos vocês meu muito obrigado.
7
DEDICATÓRIA
— A minha mãe, Maria José de Sousa e ao meu pai, João Camilo da Silva, pela
lição de vida, incentivo e apoio sempre demonstrado, sem os quais não teria
sentido a minha existência.
— A minha querida esposa Maria do Carmo da Silva que sempre esteve do meu
lado nos momentos mais estressantes e compreendeu que às vezes não lhe
dava a atenção necessária por estar engajado nos estudos para concluir esta
pesquisa.
— Dedico com amor aos meus sobrinhos Valdeir, Vitor e Emerson, a meus
irmãos Edilson, Edivaldo, Erivan, Adriana e Elizangela, aos meus avós
Manuel Felipe e Maria Ferreira e a todos os meus tios, para que lhe sirva de
estimulo no difícil caminho que é a vida.
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HOMENAGEM
Para a minha Tia Dolores (in memória)
Um dia a perda, a imensidão da dor...
Hoje a felicidade de te oferecer esta vitória, uma conquista que certamente
também é sua, pois o seu exemplo em criar as suas duas filhas praticamente
sem a ajuda de uma figura paterna, conseguir educá-las e fazer com que elas
sejam pessoas exemplares na sociedade.
Hoje eu sinto muito a sua falta, mas guardo comigo a lembrança dos seus
fortes incentivos para que eu continuasse com meus estudos...
Eternamente... Saudades.
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RESUMO
Esta pesquisa mobiliza os fundamentos teóricos da Analise do Discurso para
descrever e analisar o texto dissertativo nas suas diferentes funções e usos. O
emprego desse quadro teórico se faz necessário na medida em que formos
analisando as diversas facetas do texto dissertativo, desde os textos simples do dia-
a-dia como uma carta pessoal até o texto publicitário que exige do escritor mais
conhecimento das estratégias argumentativas. Além disso, os textos dissertativos
analisados irão nos mostrar os percursos feitos pelo locutor e o interlocutor para a
confirmação da argumentação. O percurso feito por esta pesquisa vai desde a
citação de estudos feitos sobre tipologia e gêneros textuais, passando pelas
estruturas sintáticas que compõem a argumentação, até a análise da
argumentatividade em textos dissertativos, narrativos, descritivos e injuntivos e, por
último analisaremos a argumentação e a persuasão nos textos publicitários.
Palavras Chaves: Tipologia Textual, Gênero Textual e Argumentatividade.
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ABSTRACT
Este trabajo mobiliza los fundamientos teóricos de la Analise del Discurso para
discribir y analisar el texto disertativo em sus múltiplas funciones y usos. El empleo
de esse cuadro teórico és necesario al analisar las diversas facetas del texto
disertativo, desde los textos senciles hasta el texto publicitário que exige del escritor
más conocimiento de las estratégias argumentativas. Tambien, los textos
disertativos analisados Ira mostrarnos los percursos hechos por el locutor y el
interlocutor para la confirmación de la argumentacion. El percurso hecho por esta
pesquisa va desde la citacion de los estúdios hechos sobre tipologia textual, genero
textual, pasando por las estructuras sintáticas que componen la argumentación
hasta la analise de la argumentatividad em los textos disertativos, narativos,
descritivos y injuntivos y, en final, analisaremos la argumentación em los textos
publicitários.
Key words: Tipologia Textual, Genero Textual y Argumentatividad.
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INTRODUÇÃO
Quando queremos defender uma idéia e convencer nosso interlocutor / leitor
de nosso ponto de vista, devemos elaborar um tipo de texto que consiga apresentar
com clareza nossas hipóteses, justificá-las com base em argumentos, refutar contra-
argumentos, exemplificar e encaminhar para conclusões. Esse tipo de texto é
chamado dissertativo, e corresponde ao que conhecemos como um texto científico,
um editorial de jornal, um arrazoado jurídico.
Para direcionar nossa pesquisa iremos trabalhar com a hipótese de que
quando conversamos ou escrevemos, estamos quase sempre tentando convencer
nosso interlocutor ou leitor, ou seja, estamos sempre defendendo nossas opiniões e
procurando formar a opinião do outro; Temos como objetivos mostrar que para
elaborarmos textos que encaminhem o leitor / ouvinte a determinadas conclusões,
precisamos desenvolver a capacidade de reconhecer e produzir argumentos lógicos;
E expor alguns recursos lingüísticos que nos ajudam a argumentar, tornando o texto
produzido mais convincente.
Uma pesquisa como esta se justifica devido a sua importância para os
profissionais da área de educação, principalmente aqueles que trabalham com
língua portuguesa, pois temos a pretensão de oferecer alguns subsídios teóricos e
práticos com base na análise de textos dissertativos.
Nesta pesquisa, abordaremos algumas características da produção do texto
dissertativo com base nas formulações teóricas da Análise do Discurso (Doravante
AD), a qual mostra que a perspectiva do enunciador é a de um conhecer conceitual,
que envolve reflexão e raciocínio, e que se apóia no genérico, no abstrato para levar
ao ouvinte / leitor o conhecimento pretendido. Aliada a essa perspectiva de
12
conhecimento, vamos encontrar no texto dissertativo, de maneira explícita ou
implícita, uma intenção argumentativa, com o objetivo de influenciar, persuadir,
convencer o interlocutor, fazendo-o crer em algo, aderir a uma opinião.
Esse caráter eminentemente argumentativo faz com que o texto dissertativo
possa ser caracterizado como o momento de arregimentação de grande número de
recursos lingüísticos, que criam estruturas mais complexas do que as exigidas em
textos de base narrativa ou descritiva, embora estes também tenham muitas marcas
argumentativas.
Não partimos, com isso, de uma visão de tipologia textual que considera, para
cada texto, um só gênero. Ao contrário, trabalhamos com a suposição de que um
texto se define por sua finalidade situacional - todo ato de linguagem tem uma
intencionalidade, um certo grau de argumentatividade, e se submete a condições
particulares de produção - e, portanto, para construí-lo, o falante faz uso de gêneros
distintos, combinando-os em função de estratégias discursivas.
Para fundamentar teoricamente nossa pesquisa, iremos trabalhar com base
nos estudos realizados pelos teóricos MARCUSCHI (2002), GARCIA (1975), KOCH
(2002), ABREU (2004), BAKHTIN (2000), COLLARD (1999) entre outros estudiosos.
Resumindo, apoiar-nos-emos nos pressupostos da AD para demonstrar que
quando conversamos ou escrevemos, estamos quase sempre tentando convencer
nosso interlocutor ou leitor, ou seja, estamos sempre defendendo nossas opiniões e
procurando formar a opinião do outro; para elaborarmos textos que encaminhem o
leitor / ouvinte a determinadas conclusões, precisamos desenvolver a capacidade de
reconhecer e produzir argumentos lógicos; existem determinados recursos
lingüísticos que nos ajudam a argumentar, tornando o texto produzido mais
13
convincente. Entre estes recursos podemos citar: - comprovação das declarações,
alternância entre declarações com que o interlocutor tenha maior ou menor
familiaridade, repetição e acumulação de detalhes, a escolha das palavras, a
escolha da modalidade afirmativa X negativa, o tempo verbal...
14
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nas atividades de leitura e produção de textos, torna-se necessário trabalhar
com uma tipologia textual que possibilite a sistematização dos recursos lingüísticos e
dos objetivos que se pretende atingir com a produção de cada modalidade de texto.
Costumam-se classificar os textos em narrativos, descritivos, dissertativos,
incluídos nesta última categoria os argumentativos. Além desses, há também os
textos de procedimento (injunção) segundo KOCH & TRAVAGLIA (1991), em que se
detalham as etapas necessárias para a realização de um objetivo (receitas,
manuais, leis, regras de funcionamento).
Mas segundo os autores acima, convém esclarecer que essas modalidades
dificilmente são encontradas em estado puro; elas podem se alternar num mesmo
texto, cada uma desempenhando uma determinada função no texto maior: a
narração pode ser o eixo condutor do texto, entremeada por descrições de
personagens ou cenários; a discussão de um problema pode ser apoiada por
pequenas narrativas, ilustrando os argumentos contra ou a favor de um determinado
ponto de vista e assim por diante. Há uma dominância de um tipo sobre os demais,
definindo-se, portanto, o texto em função da categoria dominante.
KOCH & TRAVAGLIA (1991) diferenciam os textos em dissertativos,
narrativos, descritivos e injuntivos, segundo critérios que tomam por base a
perspectiva em que o locutor se coloca a respeito do objeto de seu ato comunicativo.
Já KOCH (2002) não faz diferença entre texto dissertativo e argumentativo. Vale
salientar que esta edição do livro de Koch é revisada. Os autores fazem outra
distinção entre textos argumentativos ou não argumentativos, segundo a perspectiva
15
em que o locutor se coloca devido à possibilidade de concordância ou não, de
adesão ou não, do destinatário ao seu discurso. As duas classificações se
superpõem, e um texto descritivo ou narrativo pode ser considerado argumentativo,
dependendo de suas condições de produção e da intencionalidade do locutor (as
parábolas, os textos publicitários, as peças judiciárias são textos com intenção
argumentativa).
Resumindo as funções dos tipos de textos, KOCH & TRAVAGLIA (1991, p.
225) dizem:
“Com isso, a descrição instaura o interlocutor como voyeur do espetáculo; a
narração o instaura como o assistente, o espectador não-participante; a
dissertação, como ser pensante, que raciocina; e a injunção, como aquele
que realiza aquilo que se requer, ou se determina seja feito”.
Para os autores, esses tipos de texto mantêm determinadas semelhanças
entre si, principalmente no que diz respeito ao tempo de ocorrência no mundo real:
a dissertação e a descrição apresentam simultaneidade das situações, enquanto a
narração e a injunção exigem seqüencialidade.
Narração e injunção são essencialmente discursos do fazer (ações) e do
acontecer (fatos, fenômenos). A descrição é essencialmente o discurso do ser e do
estar, enquanto a dissertação é o discurso do ser e do conhecer.
Uma outra semelhança que deve ser apontada diz respeito à presença, nos
quatro tipos de texto, do ponto de vista ou da opinião de quem os produz, seja de
forma explícita, seja de forma implícita. Segundo PLATÃO E FIORIN (1991, p. 33),
“O que distingue um do outro é o modo como esse ponto de vista ou essa opinião
vêm manifestados”:
- Na descrição, o enunciador, pelos aspectos que seleciona, pela adjetivação
escolhida e outros recursos, vai transmitindo uma imagem negativa ou positiva
daquilo que descreve;
16
- Na narração, a visão de mundo do enunciador é transmitida por meio de ações que
ele atribui aos personagens, por meio da caracterização que faz destes personagens
ou das condições em que vivem, e, até mesmo, por comentários sobre os fatos que
ocorrem. Todo texto narrativo é figurativo, e, por trás do jogo das figuras, sempre
existe um tema implícito.(...) Geralmente, para depreender a visão de mundo
implícita nas narrações, é preciso levar em conta que, por trás das figuras existem
temas, por trás dos significados de superfície existem significados mais profundos,
PLATÃO E FIORIN (1991)
- Na dissertação, o enunciador de texto manifesta explicitamente sua opinião ou seu
julgamento, usando para isso conceitos abstratos;
Segundo os autores acima, o locutor no texto dissertativo tenta influenciar,
persuadir, convencer o interlocutor, fazendo-o crer em algo, realizar algo ou agir de
certo modo, procura levar o interlocutor a aderir ao seu discurso, ou considera que o
destinatário concorda com ele, que é seu cúmplice.
O discurso da transformação corresponde ao que é chamado especificamente
de texto argumentativo, porque a intenção de convencer, persuadir se apresenta de
maneira explícita. Embora, normalmente, o texto de intenção argumentativa se
realize sob a forma de texto dissertativo, podem ocorrer intercalados trechos
descritivos ou narrativos, funcionando como exemplificações das teses defendidas.
Textos puramente descritivos ou narrativos podem ter também um forte caráter
argumentativo, de discurso de transformação, como as parábolas, as fábulas e os
apólogos.
1.1 TEXTO E GÊNERO: CONCEITUAÇÃO
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Partiremos da noção de gênero pensada por BAKHTIN (1992, p.280) no início
da década de 1950 por duas razões principais. A primeira delas é que suas idéias
têm sido tomadas como ponto de partida por grande parte dos estudiosos que
tratam de gênero, dentro da lingüística, a partir das duas décadas finais do século
passado, mesmo que, em alguns casos, seu nome não seja mencionado. A
segunda, e sem dúvida a mais importante, se deve à relevância e adequação de
suas observações sobre o tema.
Bakhtin chega à definição de gênero, isto é, tipos relativamente estáveis de
enunciados elaborados nas diferentes esferas sociais de utilização da língua –
partindo da verificação de que todas as esferas da atividade humana estão
relacionadas com a utilização da língua. Esta utilização se dá em forma de
enunciados, os quais, por sua vez, “refletem as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas” (BAKHTIN 2000, p. 279) tanto por seu
conteúdo quanto por seu estilo verbal como por sua construção composicional.
Assim, o tema, o estilo e a construção composicional formam um tipo característico
de enunciado dentro de um dado espaço de comunicação, e é por isso que tipos
estáveis de enunciado caracterizam gêneros do discurso.
Antes de preocupar-se em classificar os diferentes gêneros discursivos,
Bakhtin chama a atenção para a sua diversidade: sendo utilizados em todas as
esferas da atividade humana, eles vão se diferenciando e ampliando na medida em
que estas se desenvolvem ou se ampliam. No seu entender, ao invés de se
privilegiar o estudo de apenas alguns gêneros (literários, retóricos, do discurso
cotidiano), o mais importante é levar em conta a diferença fundamental entre
gêneros primários, ou simples, e secundários, ou complexos. Como o próprio nome
diz, os gêneros primários se constituem em circunstâncias de uma comunicação
18
verbal espontânea (a réplica do diálogo cotidiano, a carta), enquanto os secundários
aparecem, segundo o autor acima
“em circunstâncias de uma comunicação cultural mais complexa e
relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica,
sociopolítica” (p. 281).
Segundo BAKHTIN (2000), a distinção entre estes dois gêneros não deve ser
menosprezada porque ignorar a natureza do enunciados e as particularidades do
gênero que assinalam a variedade do discurso em qualquer área do estudo
lingüístico leva ao formalismo e à abstração, desvirtua a historicidade do estudo,
enfraquece o vínculo existente entre a língua e a vida. A língua penetra na vida
através dos enunciados concretos que a realizam, e é também através dos
enunciados concretos que a vida penetra na língua. BAKHTIN (1992, p. 283)
Como podemos perceber, para Bakhtin a unidade de comunicação utilizada
pelos sujeitos não é o texto, mas sim o enunciado, muito embora sua noção de
enunciado equivalha, por vezes, à noção mais comum de texto. Diferentemente da
noção mais tradicional de enunciado em lingüística, o enunciado enquanto unidade
real da comunicação verbal é caracterizado pelo autor (i) por suas fronteiras –
determinadas pela alternância dos sujeitos falantes – e (ii) seu acabamento. Esse
acabamento pode ser medido por critérios específicos, o mais importante sendo a
possibilidade de adotar uma atitude responsiva para com ele, e é determinado por
três fatores: o tratamento exaustivo do objeto do sentido, o intuito, o querer-dizer do
locutor e as formas típicas de estruturação do gênero do acabamento. Bakhtin
relaciona as duas características: “o acabamento do enunciado é de certo modo a
alternância dos sujeitos falantes vista do interior” (BAKHTIN 2000, p. 299), e se dá
porque o locutor disse exatamente tudo o que queria dizer.
19
Com relação às fronteiras do enunciado, vale ressaltar que a alternância dos
sujeitos falantes se aplica igualmente a gêneros tão diversos como o diálogo
cotidiano e o romance. Embora no último a alternância não seja direta (o interlocutor
não está presente) nem imediata (a leitura de um romance demanda um
determinado tempo), ela acontece assim que a leitura é concluída. Relacionado as
fronteiras com o acabamento do enunciado, e mantendo como exemplo o gênero
romance, é possível delimitar sua fronteira porque, ao acabar de lê-lo, pode-se
adotar uma atitude responsiva com relação a ele. É essa atitude responsiva que,
como vimos acima, Bakhtin elege como o critério mais importante para a delimitação
do acabamento do enunciado. Naturalmente, essa mesma atitude responsiva
aparece ao lermos uma notícia, um texto científico, uma propaganda, assistirmos ao
telejornal, conversarmos com pessoas próximas. Para este autor, é esta atitude
quem delimita o enunciado, e essa é uma das razões por que seu conceito de
enunciado corresponde muitas vezes ao que a maioria dos teóricos tem denominado
de texto. Entre essa maioria está HASAN (1978, p. 225). Ao se referir à noção de
gênero, ele sempre emprega o termo texto ao invés de enunciado. Como Bakhtin, o
autor relaciona gênero e utilização social da língua. Essa relação aparece, por
exemplo, ao colocar que
“parece inegável que os controles sobre a constituição estrutural do texto
não são de origem lingüística, uma vez que a linguagem como um sistema
formal não nos possibilita predizer qual fórmula estrutural generalizada
deveria estar associada com qual gênero. Ao contrário, o controle é
contextual...” (HASAN 1978, p. 229).
Para ele, um texto é um evento social que está tanto na linguagem como na
cultura. SWALES (1990, p. 199) mantém a relação básica gênero/ utilização social
da língua pressuposta por Bakhtin na primeira de suas observações para chegar a
uma definição de trabalho do termo: gênero é uma classe de eventos comunicativos.
20
Após delimitar evento comunicativo como aquele em que a linguagem desempenha
um papel significativo e indispensável, o autor elenca as demais observações: esses
eventos comunicativos se tornam gênero na medida em que há um conjunto de
objetivos comunicativos; os exemplares das instâncias de gêneros variam.
Nessa definição, há dois termos que precisam ser lidos com cuidado: o
primeiro é enunciado, ao qual voltaremos em seguida, e o segundo é discurso.
Embora Bakhtin use a expressão gêneros do discurso e não do texto, parece-nos
que a expressão discurso cobre, para o autor, qualquer tipo de texto oral ou escrito,
e será usado aqui desta maneira - ou seja, como “(quase-) sinônimo” de texto.
A razão subjacente ao gênero estabelece restrições com relação às
contribuições permitidas em termos de conteúdo, posição e forma; a nomenclatura
da comunidade discursiva para os gêneros é uma importante forma de insight. A
partir dessas observações, Swales estabelece que um gênero engloba uma classe
de eventos comunicativos, cujos membros compartilham algum conjunto de
objetivos comunicativos. Esses objetivos são reconhecidos pelos membros peritos
de uma comunidade discursiva e, dessa forma constituem a razão para o gênero.
Essa razão formata a estrutura esquemática do discurso e influencia e delimita a
escolha de conteúdo e estilo SWALES (1992, p. 58)
Os gêneros são delimitados por objetivos comunicativos, os quais influenciam
seu tema, estilo e estrutura esquemática (como vimos, os três elementos que
constituem um enunciado, para BAKHTIN (2000). Na verdade, a maior diferença
parece ser a menção a membros peritos da comunidade discursiva por Swales, que
não se encontra na abordagem de Bakhtin. Nesta, não aparece a questão de quem
legitima, em uma dada esfera da atividade humana, um gênero. Tem-se a impressão
21
de que, para Bakhtin, esse reconhecimento – e daí legitimação – ocorre
naturalmente, de acordo com as necessidades comunicativas da sociedade.
Nem Bakhtin nem Swales propõem uma classificação extensiva dos gêneros.
Já MARCUSCHI (1996), diferentemente, acredita que é de um trabalho de
classificação que nascerá uma noção precisa de gênero, além de contribuir para o
entendimento da relação entre a fala e a escrita, dos processos de contextualização
e de seleção lexical e estilística.
Para o autor, os gêneros são:
“modos de organização da informação que representariam as
potencialidades às línguas, as rotinas retóricas ou formas convencionais que
o falante tem à sua disposição na língua quando quer organizar o
discurso.”(MARCUSCHI 1996, p. 158)
Ele faz a distinção entre gênero, forma concretamente realizada, encontrada
nos diversos textos empíricos e tipo textual, construto teórico que abrange
categorias determinadas. Entre essas categorias – que podem ser simplesmente
oral ou escritos, literários ou não-literário – se encontram as cinco bases temáticas
para os tipos textuais propostos por WERLICH (1973 apud MARCUSCHI 1996, p.88)
base temática descritiva, base temática narrativa, base temática expositiva, base
temática argumentativa e base temática instrutiva. Assim, é importante notar que,
enquanto os gêneros textuais são teoricamente ilimitados, os tipos textuais
constituem um conjunto fechado.
1.2 ABORDAGEM DE GÊNERO NA ESCOLA E EM MANUAIS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
A Escola sempre trabalhou com a produção de textos considerando apenas a
tipologia básica (Narração, Descrição e Dissertação), mas MEURER (2000) cita
diversas razões para se trabalhar com gêneros textuais, em vez de trabalhar com
22
tipos textuais. Entre as razões citadas por Murer para a importância do estudo do
gênero em lingüística aplicada está o fato dele se constituir em uma opção mais
atraente do que o ensino da linguagem humana fundamentada na gramática,
coesão, modalidades retóricas e coerência na medida em que “responderia de
maneira mais adequada a questões relativas aos diferentes usos da linguagem e
sua interface com o exercício da cidadania” (MEURER 2000, p. 152).
Segundo o lingüista, a ineficiência da abordagem tradicional se deve
exatamente ao fato de não se preocupar e não dar conta das “situações específicas
em que os indivíduos efetivamente utilizam a linguagem como instrumento de
interação, reprodução e/ou alteração social”.
Entretanto, esse fato parece não ter sido levado em conta pelos agentes na
orientação do trabalho escolar relativo a textos, tanto do ponto de vista da
compreensão quando da produção, no entender de BONINI (1998). Ao investigar a
abordagem de gênero na escola, este autor afirma que nesta os conteúdos
referentes aos gêneros estão dispostos em dois blocos, perfazendo duas tipologias:
literária e redacional. Além de salientar que ambas desconsideram a realidade
sociointeracional, apresentam critérios de classificação implausíveis e são
incompletas – por exemplo, a tipologia redacional se reduz à narração, descrição e
dissertação – o autor aponta que o grande problema desta tipologia, como a maior
parte da literatura na área salienta, é o fato de não se ter claro que, na estruturação
do texto ou do discurso,existem fenômenos de outra ordem, esquemas de base,
denominados comumente seqüências textuais ou modalidades discursivas, que não
se relacionam diretamente às esferas sociais onde a ação lingüística se realiza, mas
ao texto em que estão inseridas, segundo Bonini.
23
Partindo do princípio de que o ensino da língua tem sido tradicionalmente um
modo que desestrutura a competência comunicativa do aluno porque centra a
reflexão sobre os aspectos formais, retirando a sociedade e a interação da
linguagem, BONINI (1998) entende que o estudo do gênero se coloca como uma
possibilidade de modificação desse quadro. Explica o raciocínio lembrando o fato de
que a língua pode refletir os padrões culturais e interacionais da sociedade em que
está inserida poder ser abordado principalmente por meio do conceito de gênero.
MEURER (2000), além da razão mencionada anteriormente – alternativa
teórica mais atraente do que abordagens textuais restritas às noções de coesão,
coerência e modalidades retóricas – também faz menção a essa contribuição do
estudo do gênero retomando BAKHTIN (1992), ampliando-a para a pesquisa. No
seu entender, tanto o ensino como a pesquisa baseados no estudo de gêneros
textuais são importantes porque, em primeiro lugar, não nos comunicamos através
de modalidades retóricas nem de textos em geral, mas de gêneros textuais
específicos. Além disso, o autor entende que como a própria cultura de um país é
caracterizada pelo conjunto de gêneros textuais de seus cidadãos, a investigação e
o ensino destes são essenciais para a formação de profissionais responsáveis pelo
ensino da língua materna.
Embora Bakhtin não faça menção específica ao estudo do gênero na escola,
podemos concluir facilmente de sua afirmação a seguir, que desconsiderar
“A natureza do enunciado e as particularidades do gênero leva ao
formalismo e à abstração, desvirtua a historicidade do estudo, enfraquece o
vínculo entre a língua e a vida” (BAKHTIN 2000, p. 282),
A relevância de se estudar gênero também na escola aumenta a consciência
entre o instrumento de trabalho – texto – e a vida real, diminuindo o formalismo e
abstração no estudo da linguagem.
24
2. ARGUMENTATIVIDADE NOS TEXTOS DISSERTATIVOS
Com base nos critérios definidos por KOCH & TRAVAGLIA (1991), o texto
dissertativo deve ser caracterizado por seu cunho eminentemente argumentativo.
Discutiremos, inicialmente, o conceito de argumentatividade. KOCH (2000) define a
argumentatividade como a característica essencial da interação social que se dá por
intermédio da linguagem humana -- todo ato de linguagem possui traços que o
identificam com o ato de argumentar. Nesse contexto teórico, o texto dissertativo
pode ser definido como um texto altamente argumentativo, reunindo estratégias
lingüísticas de grande complexidade: Estruturas sintáticas predominantemente
subordinadas; Uso de formas verbais que marcam a hipótese; Maior grau de
indefinitude do sujeito; Vocabulário mais abstrato; Temporalidade presente, futuro,
habitual e alta freqüência de conectores coesivos e de operadores de modalização.
"A interação social por intermédio da língua caracteriza-se,
fundamentalmente, pela argumentatividade. Como ser dotado de razão e
vontade, o homem, constantemente, avalia, julga, critica, isto é, forma juízos
de valor. Por outro lado, por meio do discurso - ação verbal dotada de
intencionalidade - tenta influir sobre o comportamento do outro ou fazer com
que compartilhe determinadas opiniões. É por esta razão que se pode
afirmar que o ato de argumentar constitui o ato lingüístico fundamental, pois a
todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do
termo”.
A "neutralidade" é apenas um mito: o discurso que se pretende "neutro",
ingênuo, contém também uma ideologia - a da sua própria objetividade."
(KOCH 2000, p. 17)
Em outro estudo, Koch reforça esse conceito de argumentatividade,
afirmando que o uso da linguagem é essencialmente argumentativo:
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"Quando interagimos através da linguagem, temos sempre objetivos, fins a
serem atingidos; há relações que desejamos estabelecer, efeitos que
pretendemos causar, comportamentos que queremos ver desencadeados,
isto é, pretendemos atuar sobre o(s) outros(s) de determinada maneira, obter
dele(s) determinadas reações (verbais ou não verbais). É por isso que se
pode afirmar que o uso da linguagem é essencialmente argumentativo:
pretendemos orientar os enunciados que produzimos no sentido de
determinadas conclusões (com exclusão de outras). Em outras palavras,
procuramos dotar nossos enunciados de determinada força argumentativa.
Ora, toda língua possui, em sua Gramática, mecanismos que permitem
indicar a orientação argumentativa dos enunciados: a argumentatividade está
inscrita na própria língua. É a esses mecanismos que se costuma denominar
marcas lingüísticas da argumentação”. (KOCH 1995, p. 230)
GARCIA (1975) diz que a argumentação apóia-se em dois elementos
principais -- a consistência do raciocínio e a evidência das provas. A lógica
argumentativa exige a presença de uma idéia básica -- que será defendida durante o
texto -- de argumentos intermediários -- inferências, provas, testemunhos,
ilustrações, causas e efeitos, dados estatísticos --, e conclusões -- afirmações
generalizantes.
"Na argumentação, além de expor e explicar idéias procuramos
principalmente formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando
convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que estamos
de posse da verdade. Argumentar é, em última análise, Convencer ou
tentar convencer mediante a apresentação de razões, em face das
provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente". (Garcia 1975,
p. 370)
2.1 ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS NO TEXTO DISSERTATIVO
KOCH e FÁVERO (1987) propõem uma superestrutura argumentativa com
base em algumas estratégias e categorias que iremos apresentar a seguir. Para
defender uma idéia, tentando informar e, se possível, convencer nosso interlocutor,
precisamos comprová-la e justificá-la. Algumas estratégias propostas por estas
estudiosas se destacam como essenciais ao processo de argumentação:
- comprovação das declarações
26
"toda declaração que expresse opinião pessoal ou pretenda estabelecer a
verdade só terá validade se devidamente demonstrada, isto é, se apoiada ou
fundamentada na evidência dos fatos, quer dizer, acompanhada de prova”
(KOCH & FÁVERO 1987, p. 146).
- Alternância entre declarações com que o interlocutor tenha maior ou menor
familiaridade, com graus distintos de exigência de comprovação - existem premissas
que são conhecidas por todo mundo, são pressupostas, não exigindo muita
comprovação; a alternância entre assuntos com graus distintos de produtividade
argumentativa ajuda a distrair a atenção do ouvinte para possíveis pontos polêmicos
que vêm misturados; as estratégias utilizadas pelo locutor são escolhidas, portanto,
em função do grau de aceitação ou de contestação que as premissas defendidas
possam desencadear.
- Repetição e acumulação de detalhes -- insistindo sobre um tema,
apresentando-o através da mesma idéia ou através de idéias contraditórias,
podemos torná-lo mais familiar ao ouvinte, facilitando a compreensão e a aceitação
de nossas teses.
- Evocação do concreto, através da narração de fatos ou descrição de
lugares, pessoas ou coisas -- para criar a emoção, a especificação é indispensável,
já que esquemas abstratos e noções gerais não agem sobre a imaginação do
ouvinte.
Os quatro itens acima demonstram que a questão dos níveis de abstração é
um ponto fundamental entre as estratégias argumentativas. Em função disto, as
estudiosas acima citadas apontam as estratégias lingüísticas, propriamente ditas:
27
- A escolha das palavras não pode ser neutra -- em função do ouvinte e da
situação, a escolha dos termos é importante: cada palavra possui uma rede de
associações coletivas e individuais, que podem ser decisivas no processo
argumentativo; “A neutralidade é apenas um mito: o discurso que se pretende
“neutro”, ingênuo, contem também uma ideologia – a da sua própria objetividade”
(KOCH 2002, p. 17)
- Escolha da modalidade afirmativa X negativa deve ser marcada pela
intenção discursiva -- quando se elabora um enunciado afirmativo, destaca-se uma
característica, contra todas as outras possíveis; no caso de uma formulação
negativa, reage-se contra uma afirmação real ou virtual de outrem, com a
possibilidade de utilizá-la como contra-argumento.
- Interrogar é um recurso retórico de alta eficácia -- a interrogação é utilizada
para encaminhar o raciocínio na direção desejada, exprimindo um julgamento, e
pode também servir para ironizar uma possível contra-argumentação.
- O tempo verbal atua no espírito do interlocutor -- os tempos verbais são
responsáveis por recursos expressivos: o passado é o fato irrefutável, o imperfeito é
o transitório, o presente é a lei universal, o normal, o sentimento de presença, a
ponte para a generalização. CÂMARA 1970 também comenta sobre os valores
expressos pelos tempos verbais:
“Os tempos verbais do indicativo são usados com valor modal e podem
perder toda a expressão temporal em proveito desse valor. Neste caso, há:
1) uma oposição entre presente (para expressão da segurança) e futuro do
presente (para expressão da dúvida); 2) uma oposição entre presente (para
expressão da realidade) e pretérito imperfeito (para expressão da
irrealidade); 3) uma oposição entre futuro do presente (expressão da
possibilidade) e o futuro do pretérito (expressão da impossibilidade). Por
outro lado, o futuro do presente pode ter valor modal de imperativo.”
(CAMARA 1970, p. 211)
28
- A indeterminação nominal e pronominal pode ser responsável por um caráter mais
objetivo, que parece conferir mais respeitabilidade aos argumentos -- o emprego da
indeterminação ou da terceira pessoa indefinida pode ter como efeito diminuir a
responsabilidade do sujeito, criando uma distância entre o que é dito e aquele que
fala, afirmam Koch & Fávero;
- A subordinação (hipotaxe) é a construção argumentativa por excelência -
"A construção hipotática é a construção argumentativa por excelência
(...) A hipotaxe cria molduras, constitui uma tomada de posição. Ela
comanda o leitor, obriga-o a ver certas relações, limita as
interpretações que ele poderia fazer, inspira-se no raciocício jurídico
bem construído. A parataxe permite mais liberdade, não parece querer
impor nenhum ponto de vista; [...] é descritiva, contemplativa,
imparcial”.(PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA 1996, p. 213).
- A presença de conectores argumentativos, essenciais à logicidade que se pretende
instaurar na relação entre as idéias expostas
- O uso das marcas formais das modalidades do possível, do necessário, da certeza,
da probabilidade - seu poder de atuação é muito maior se combinadas às outras
marcas, na busca da adesão do interlocutor.
- Inferências pragmáticas fazem parte do processo argumentativo
- A alternância de trechos narrativos, como exemplificação de hipóteses;
“Qualquer que seja a maneira pela qual o exemplo é apresentado, em
qualquer domínio em que se desenvolva a argumentação, o exemplo
invocado deverá, para ser encarado como tal, ser reconhecido como
fato, ao menos provisoriamente (...) A rejeição ao exemplo, seja por ele
ser contrário à verdade histórica, seja porque podemos opor razões
convincentes à generalização proposta, enfraquecerá
consideravelmente a adesão à tese que queremos justificar.
29
Realmente, a escolha do exemplo, enquanto elemento de prova,
transforma o orador em uma espécie de avalista”.
(PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA 1996, p. 475)
Abordaremos com maior detalhe alguns desses aspectos citados para
desenvolver a argumentação. Dos aspectos citados acima, analisaremos nos
capítulos a frente:
a) Os diferentes graus de produtividade argumentativa
b) A alternância entre indicativo e subjuntivo para contrapor a realidade e a
hipótese
c) Estrutura sintática de subordinação para expressão da complexidade de
relação entre as idéias
d) Conectores argumentativos
e) Inferências pragmáticas
f) A elaboração do parágrafo dissertativo
30
3. OS DIFERENTES GRAUS DE PRODUTIVIDADE ARGUMENTATIVA
Declarações, apreciações, julgamentos, pronunciamentos expressam opinião
pessoal, indicam aprovação ou desaprovação. Para serem considerados como
aceitáveis por nosso interlocutor, exigem comprovação. Portanto, é necessário
exemplificar, apresentar fatos que demonstrem ou provem a validade dos
argumentos. Sobre isso, VINCENT & LAFOREST (1992 apud MARCUSCHI 1996, p.
222) diz:
"O discurso argumentativo caracteriza-se pelo fato de seus componentes
serem enunciados com o objetivo de fazer o interlocutor concordar com um
ponto de vista. Ele se opõe ao discurso demonstrativo, ao discurso da
evidência e da prova, que têm força de lei e não oferecem matéria para
discussão. O discurso argumentativo é o discurso da convicção: o esforço do
locutor para persuadir corresponde à possibilidade de discordância que ele
pressupõe existir. Na argumentação, o exemplo corresponde à ilustração de
uma generalização; serve para apoiar uma posição (subjetiva) por referência
ao real (objetivo)”.
Precisamos diferenciar as declarações em função da necessidade ou não de
comprovação. São declarações que não precisam de prova:
1. Declaração que expressa uma verdade universalmente aceita;
2. Declaração que é evidente por si mesma (axiomas, postulados);
3. Declarações que têm o apoio de autoridade (testemunho autorizado);
4. Declarações que escapam ao domínio puramente intelectual:
a. De natureza sentimental;
b. De ordem estética;
c. De origem religiosa.
31
A partir da relação entre a propriedade exemplificada e as possibilidades de
desacordo, estabelecem-se diferentes níveis de produtividade argumentativa.
Quanto mais genérica e universal for à propriedade, mais ela pode ser contestada
pelo interlocutor, já que é possível que ele tenha tantas informações sobre o assunto
quanto o emissor. Esse fato obriga o emissor a utilizar inúmeros recursos
argumentativos, como exemplos e argumentos de diversas espécies. Quanto mais
específica e personalizada a tese defendida, menor a probabilidade de desacordo
por parte do interlocutor, e, portanto, menor a necessidade de comprovação. Entre
essas duas situações extremas existem posições intermediárias, que mesclam
características dos dois tipos antagônicos:
1. Axiomas - premissas que são admitidas como universalmente verdadeiras, sem
exigências de demonstrações.
2. Questões gerais - questões de caráter geral, que não gozam da unanimidade de
um axioma, exigindo, portanto, algum tipo de comprovação no caso de se tentar
defender alguma hipótese em relação a suas características
3. Propriedades atribuídas a uma pessoa, coisa ou lugar conhecido, tanto pelo
locutor, como pelo interlocutor, e que, portanto, exigem também um esforço do
locutor para comprovar as afirmações apresentadas
4. Propriedades atribuídas a si mesmo, que, por serem de conhecimento apenas do
locutor, apresentam baixa probabilidade de contestação
5. Propriedades factuais, que, na escala de produtividade argumentativa, seriam as
menos comprometedoras para o locutor, já que não podem ser conferidas nem
questionadas.
3.1 A ALTERNÂNCIA ENTRE MODO INDICATIVO E SUBJUNTIVO
32
Uma das estratégias do falante para provar a consistência de seu raciocínio é
a apresentação de provas - essa presença do dado concreto pode se efetivar pelo
recurso a trechos descritivos ou narrativos, alternando primeiro e segundo planos
discursivos, alternando formas do indicativo e do subjuntivo. Apesar do uso cada vez
mais reduzido das formas de subjuntivo na língua falada, ele continua sendo
extremamente necessário na construção do texto dissertativo, já que participa de
estruturas sintáticas subordinadas --substantivas, adjetivas e adverbiais
(condicionais, finais, concessivas). Essa tendência generalizada de eliminação do
subjuntivo, no português popular falado, está relacionada à redução da hipotaxe
(subordinação), e à ampliação da parataxe (coordenação), como mecanismo de
estruturação do enunciado. Para compensar, portanto, a ausência das formas de
subjuntivo, o falante elege outras construções, que exigem indicativo ou formas
nominais (em orações reduzidas).
"A diferença funcional básica, em relação ao subjuntivo, entre o latim e o
português, é que em nossa língua as formas subjuntivas são próprias, quase
exclusivamente, de orações subordinadas. Continuam a exprimir uma
ocorrência duvidosa, desejável ou hipotética, mas só no âmbito de uma
comunicação dependente de outra e nela praticamente integrada. "
(CÂMARA 1985, p. 133)
Mais recentemente, PERINI (1995) manifesta posição semelhante:
“O fato, tal como o concebo, é que a oposição de modo (em especial a
oposição indicativo/subjuntivo) tende, em português, a se tornar puramente
formal. Na maioria dos casos, a oposição morfológica entre indicativo e
subjuntivo é governada por traços semanticamente não motivados dos
verbos (e de alguns outros itens, como talvez); os casos em que se pode ver
um efeito semântico imputável ao modo são excepcionais e tendem a
desaparecer na língua moderna." (PERINI 1995, p. 257)
33
Entretanto, são inúmeras as evidências de que o uso do subjuntivo não tem
motivação puramente formal, sintática, mas é usado para marcar uma atitude do
falante, situando suas afirmações no terreno da hipótese, do possível, essencial à
intenção argumentativa.
Para determinar as restrições sintáticas ao uso do subjuntivo, deve-se
diferenciar, inicialmente, as características de cada tipo de relação de subordinação,
em função do tipo de oração criada -- substantivas, adjetivas e adverbiais.
Nas orações substantivas, em que ocorre uma relação de integração entre
dois verbos, a ocorrência do subjuntivo é condicionada pela relação semântica que
se estabelece entre o verbo da oração principal e o da subordinada, segundo uma
escala. Essa escala relaciona a presença do subjuntivo à fraca manipulação e à
baixa certeza.
3.2 ESTRUTURA SINTÁTICA DE SUBORDINAÇÃO
No desenvolvimento do processo de argumentação, torna-se extremamente
importante relacionar e encadear as idéias de maneira inteligível para o leitor /
ouvinte. A estratégia lingüística para expressar essa complexidade é a articulação
lógico-sintática entre as orações, que se dá por meio do uso de operadores lógico-
discursivos. Eles se encarregam de explicitar as relações de oposição, causa,
contradição, conclusão, condição, fim. Na verdade, todas essas estruturas lidam
com o conceito de causa e efeito, expressos de forma diferenciada e a partir de
distintos pontos de vista -- são, conseqüentemente, recursos argumentativos
distintos.
Para exemplificar essas correlações, vamos trabalhar com os argumentos
"conseguir emprego" e "morrer de fome”:
34
Causa - No Brasil, muitos homens morrem de fome porque não conseguem
um emprego.
Finalidade - No Brasil, os homens deveriam ter emprego para que não
morressem de fome.
Conseqüência - No Brasil, muitos homens ficam tanto tempo
desempregados que terminam morrendo de fome.
Condição - Se os homens tivessem sempre emprego, não morreriam de
fome.
Veja as relações entre os argumentos "tomar uma decisão” e "conhecer todas
as possibilidades”
Finalidade - Para tomar uma decisão, é preciso conhecer todas as
possibilidades.
Condição - Se não conhecermos todas as possibilidades, não poderemos
tomar uma decisão.
Causa - É preciso conhecer todas as possibilidades, porque temos de tomar
uma decisão.
Essas relações são responsáveis pela coerência e pela coesão do texto
argumentativo de base dissertativa, e podem ser assim sistematizadas:
a) articulação sintática de causa / efeito: expressa pelos conectores porque,
pois, como, visto que, já que, uma vez que, por causa de, por, em
conseqüência de, por motivo de, devido a, em virtude de
Ex: O nazismo foi responsável por um dos regimes mais bárbaros já vistos
porque se apoiou na idéia de que existem homens superiores e homens inferiores.
35
b) articulação sintática de condição: expressa pelos conectores se, caso,
contanto que, desde que, a menos que, a não ser que. Ao expressar a condição,
existe uma exigência de que os tempos verbais das duas orações se relacionem:
Ex: Se tudo isso que foi previsto pela cartomante se realizasse (imperfeito
do subjuntivo) de fato, o mundo já teria (futuro do pretérito do indicativo) acabado
algumas centenas de vezes.
c) articulação sintática de fim: expressa pelos conectores para, a fim de,
com o propósito de, com a intenção de, com o objetivo de
Ex: É preciso enviar a carta o mais cedo possível, para que se possa ter
certeza de que ela chegará no prazo previsto.
d) articulação sintática de conclusão: expressa por conectores
subordinantes, como tanto...que, e conectores coordenantes, como logo, portanto,
então, assim, de modo que, por conseguinte
Ex: Mandei a carta no prazo previsto, portanto ela chegará a tempo de
realizar a inscrição no concurso.
e) articulação sintática de oposição: realiza-se por meio da coordenação
adversativa (conectivos mas, porém, todavia, entretanto, contudo) ou da
subordinação concessiva (conectivos embora, apesar de)
Ex: O computador não está funcionando, apesar de ter acabado de chegar
do conserto.
O computador chegou do conserto, mas não está funcionando.
36
3.3 CONECTORES ARGUMENTATIVOS
Quando relacionamos argumentos, apresentamos causas e conseqüências,
introduzimos ou concluímos nossos textos, usamos determinados vocábulos
responsáveis por ligar e explicitar a relação entre as idéias. Por exemplo:
"Quero escolher minha profissão, mas estou com muitas dúvidas”.(o operador
mas explicita a idéia de contradição; no seu lugar também poderiam aparecer
porém, entretanto, no entanto)
"Não vou à festa no sábado porque preciso estudar para o vestibular" (o
operador porque explicita a idéia de causa)
Observemos o texto a seguir, adaptado de um texto do Guia do Estudante
1988, (Editora Abril):
“Se possuíssem uma bola de cristal, muitos estudantes poderiam ter a certeza
de uma vida mais feliz. Pelo menos no que se refere à opção por uma profissão: O
que vou ser? Escolherei a mesma profissão de meu pai? Escolherei uma profissão
para ganhar dinheiro ou para realizar minha vocação?”.
Para tomar uma decisão, é preciso conhecer todas as possibilidades isto é,
obter o máximo de informações possível sobre as profissões. Não basta, no
entanto, um conhecimento superficial -- é importante ir fundo na realidade de cada
ramo de atividade. É preciso saber quais as vantagens e as deficiências de cada
carreira.”
No texto acima, observamos o uso de vários recursos argumentativos:
a) os elementos marcados em negrito são operadores argumentativos que
exercem funções lógicas - se (condição), no entanto (contradição), para (fim).
37
b) hipóteses e contradições são apresentadas para encaminhar o raciocínio
do leitor:
. Possuir bola de cristal;
. Certeza de vida mais feliz;
. Ganhar dinheiro ou realizar a vocação;
. Conhecer as possibilidades;
. Conhecimento superficial não resolve;
. Saber as vantagens e deficiências de cada carreira.
3.4 INFERÊNCIAS PRAGMÁTICAS
Quando observamos um fato ou ouvimos uma frase, tiramos certas
conclusões a partir de dados que se encontravam implícitos, ou seja, contidos no
fato ou na frase. Não é necessário que todas as idéias sejam explicitadas para
que possamos tirar nossas conclusões. Em Análise do Discurso, pragmática é a
parte da teoria do uso lingüístico que estuda os princípios de cooperação que atuam
no relacionamento lingüístico entre o falante e o ouvinte, permitindo que o ouvinte
interprete o enunciado do seu interlocutor, levando em conta, além do significado
literal, elementos da situação e a intenção que o locutor teve ao proferi-lo (p.ex.: o
enunciado você sabe que horas são? pode ser interpretado como um pedido de
informação, como um convite a que alguém se retire etc.) KOCH (2002, pp. 47-60)
faz uma consideração sobre pressuposição e inferências pragmáticas de forma mais
detalhada. Ela analisa as divergências quanto à noção da pressuposição.
Analisaremos agora alguns exemplos de orações que requer do leitor lançar
mão de conhecimentos extralingüísticos para entendê-las, ou seja, ele precisa fazer
uso do conhecimento pragmático para compreender a mensagem por trás dos
38
enunciados. Os dois primeiros exemplos foram extraídos no dia 12 de novembro de
2005 do site www.globo.com/esportenaglobo . os demais foram retirados do site
www.uol.com.br/noticias.
a) "Flamengo vende seus melhores jogadores". O leitor pode concluir desse
enunciado que o clube está em crise financeira, pois a palavra melhores é
inaceitável dentro de circunstâncias normais. Se o Flamengo estivesse em uma boa
situação financeira ele não iria vender seus melhores jogadores.
b) "Só agora sai a lista dos convocados para a Seleção". A presença de só
agora faz supor que Brasil está atrasado para a Copa.
c) "Indústria demite dois mil funcionários só este mês". Jornal da Paraíba, A-8.
12/02/2005. O alto número combinado à expressão adverbial só este mês leva o leitor
a deduzir que as indústrias estão em crise.
Podemos tirar essas conclusões porque as frases apresentam indícios que
serão completados por nosso conhecimento da realidade brasileira, do contexto
sócio-cultural-econômico em que vivemos. Estamos, portanto, sempre
complementando e interpretando o que vemos e ouvimos com nosso repertório de
informações.
Alguns exemplos de como a consciência das possíveis inferências pode
ajudar na construção do texto argumentativo - cada idéia relacionada à idéia central
pode ser a base para o desenvolvimento de um dos argumentos ou contra-
argumentos do texto a ser produzido. Vejamos mais alguns exemplos:
“O carnaval foi menos violento este ano”. Jornal da Paraíba, A-8. 12/02/2005.
39
Inferência 1 - o carnaval foi mais violento em anos anteriores
Inferência 2 - houve campanhas de esclarecimento à população
Inferência 3 - o maior policiamento nas ruas evitou a violência
Inferência 4 - o governo se empenhou mais na proteção ao cidadão
“Governo vai intervir nos planos de saúde”. Jornal do Brasil, A-6. 10/12/2004.
Inferência 1 - há problemas sérios de desrespeito ao cidadão nessa área
Inferência 2 - o país não tem uma política de saúde pública que proteja o
cidadão
Inferência 3 - os planos de saúde vão tomar medidas de retaliação como
conseqüência das medidas do governo
“O brasileiro nunca viajou tanto para o exterior”. Correio da Paraíba, Cidades,
20/12/2004.
Inferência 1 - houve uma mudança nos hábitos do brasileiro
Inferência 2 - o brasileiro não está valorizando o Brasil
Inferência 3 - o brasileiro está tendo alto poder aquisitivo
Inferência 4 - o turismo no exterior é mais barato
Inferência 5 - aumentou o contrabando de produtos estrangeiros
O resultado prático disso é que nossos textos não precisam ser prolixos e
redundantes. O leitor vai poder complementar sua leitura do texto com base em seus
dados de leitura da realidade.
40
4. ELABORAÇÃO DO PARÁGRAFO DISSERTATIVO
O texto dissertativo, por seu caráter argumentativo, exige a construção de
parágrafos que contribuam para a explicitação da tese a ser defendida, dos
argumentos que a confirmam, dos contra-argumentos que a negam, dos exemplos e
das conclusões. Diferentes tipos de encaminhamento das idéias podem ser
utilizados na construção dos parágrafos. Vamos trabalhar com alguns desses tipos:
1. Desenvolvimento por detalhes
2. Desenvolvimento por definição
3. Desenvolvimento por exemplificação
4. Desenvolvimento por comparação
5. Desenvolvimento por fundamentação da proposição
6. Desenvolvimento por causa e conseqüência
7. Desenvolvimento por contra-argumentação
8. Desenvolvimento por elaboração de projeções
Se tomarmos como tema central a questão da importância da informática
para o ensino, podemos produzir os seguintes parágrafos:
1. desenvolvimento por detalhes:
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. O acesso à
Internet permite que cada estudante possa obter informação do que se passa em
todo o mundo. O uso do cd-rom traz para a sala-de-aula uma infinidade de recursos
audio-visuais, essenciais para o ensino das ciências, da geografia e das línguas
estrangeiras. Programas editores de texto, programas de desenho, dicionários
eletrônicos vão ajudar a todos no desempenho de inúmeras tarefas escolares e
preparar futuros profissionais”.*
2. desenvolvimento por definição:
41
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. Por informática
devemos entender tudo aquilo que se refira à criação, manipulação e transmissão de
informação por intermédio de computadores, essas máquinas incríveis que estão
cada vez mais dominando o homem -- no trabalho, na vida doméstica, no lazer”. *
3. desenvolvimento por exemplificação:
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. Inúmeros projetos
vêm sendo desenvolvidos no intuito de assegurar a todas as escolas, particulares ou
públicas, o acesso ao mundo da informação: o Rede-Escola é um desses projetos.
Desenvolvido pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro,
pretende atender à rede pública de ensino, colocando na rede mundial de
computadores, a Internet, textos didáticos de 8 disciplinas, em um total de 160”. *
4. desenvolvimento por comparação:
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. Se compararmos
a quantidade de informação accessível a estudantes e professores, nesse momento,
com a informação disponível há alguns anos atrás, poderemos ter uma medida
dessa importância: uma home-page com hipertexto supera, em alguns aspectos, as
possibilidades de um livro didático comum; sem sair da cadeira, podemos, em
segundos, mudar de assunto, consultar fontes de outros países ou ouvir a opinião de
alguém sobre determinada questão”.*
5. desenvolvimento por fundamentação da proposição:
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. O crescimento e a
importância dessa ferramenta têm, como uma de suas justificativas, a aliança entre
texto e imagem, possibilitando a apresentação de informação de forma atraente para
o leitor. A escola moderna precisa desse novo professor: que passe a contar com as
possibilidades da comunicação em rede como um instrumento a serviço de seus
ideais educativos. A nova realidade escolar, que associa palavra e imagem, máquina
e ser humano, real e virtual, deve colocar o aluno como centro do processo, dando-
lhe papel ativo, permitindo-lhe construir o conhecimento a partir de novas realidades:
42
modernas, desenvolvidas tecnologicamente, mas tendo sempre o ser humano como
valor fundamental.” *
6. desenvolvimento por causa e conseqüência:
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. A introdução do
computador na sala de aula e a conexão das escolas à Internet exigirão uma
preparação adequada dos professores para lidarem com as máquinas e para
enfrentarem as questões apontadas a partir desse novo contexto. Se não houver
essa preparação, tais atividades terão pouca validade pedagógica. A utilização da
informática e da Internet na escola pode correr o risco de se fechar em si mesma,
isto é, no uso do computador pelo computador”. *
7. desenvolvimento por contra-argumentação:
“A informática tem importante papel no ensino hoje em dia. Mas ainda há
relativamente poucos programas educativos e nem todos unem a qualidade técnica
com a eficiência pedagógica. E como usar tudo isso em sala de aula? Como obter
benefícios didáticos desse instrumental? Afinal, de uma maneira geral, os
programadores de home-pages e de softwares não têm formação na área de
Educação e, quando se preocupam em produzir algo didático, nem sempre
observam o campo educativo de uma maneira crítica e atualizada”. *
8. desenvolvimento por elaboração de projeções:
“A informática tem um papel cada vez mais importante em nossas vidas.
Tente imaginar como será o nosso mundo quando seu neto estiver com a sua idade.
Será no próximo século, para lá do ano 2000. Os teclados não existirão mais,
substituídos por um sistema de viva voz; as TVs a cabo já terão cerca de dez mil
canais; os números telefônicos serão de 40 dígitos. O seu neto,lá no futuro,
perguntará algo do tipo "como você conseguia trabalhar com um computador que se
ligava à Internet por fios, vovô?" *
(*) Todos os Textos acima foram extraídos do Site: www.uerj.gov.br/letras acesso em
20/10/2004.
43
5. ANÁLISE DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS
Um dos objetos de nossa análise é uma reportagem televisiva extraída da
série intitulada “Dossiê Brasília: os segredos dos presidentes”, vinculada pela
Rede Globo de televisão no programa Fantástico, da qual, o episódio exibido no dia
14 de agosto de 2005 “Dossiê Brasília: Collor diz que pensou em suicídio” (Ver
anexo) é o objeto desta análise. A partir da transcrição da matéria apresentada na
televisão, sem negligenciar o fato de que o recurso da imagem é parte integrante do
texto, a análise tem por objetivo constatar de que forma a argumentação foi
construída. Procurou-se determinar os elementos argumentativos do texto, bem
como de que modo esses elementos são utilizados a fim de defender as teses
propostas alcançando o convencimento. Para a elaboração da análise tomou-se
como arcabouço teórico os estudos referentes à retórica e aos elementos
argumentativos e persuasivos presentes nos livros de COLLARD (1999), ABREU
(2003) e KOCH (2002).
5.1 - AS TESES E A ARGUMENTAÇÃO PERSUASIVA
Antes de apresentar os conceitos argumentativos é necessário esclarecer
que por se tratar de uma matéria em que há um discurso indireto, a partir de um
narrador, e também discurso direto, entre um repórter e o entrevistado (Fernando
Collor), não é possível apontar um autor para o texto. Por se tratar de uma
reportagem, todos os envolvidos fazem parte desta construção, na qual, utilizando o
conceito de polifonia de BAKHITIN (2000) denominamos de vozes do texto.
Em Problemas da poética de Dostoiéviski BAKHITIN (2000), o fenômeno da
polifonia refere-se à manifestação, em um mesmo texto, de múltiplas vozes, sem
que uma se sobreponha às outras. Ou seja, texto polifônico é aquele em que cada
44
personagem funciona como um ser autônomo com visão de mundo, voz, e posição
própria no mundo. A presença de outra voz no texto pode ser explicitada por alguns
fatores. De acordo com KOCH (2002, pp. 140-149), podem ser considerados índices
de polifonia a presença de alguns operadores argumentativos, marcadores de
pressuposição, uso do futuro do pretérito como metáfora temporal (atribuição da fala
a outra pessoa), aspas, intertextualidade, ironia, discurso indireto e discurso indireto
livre. No texto analisado temos a presença de discurso direto, discurso indireto,
indireto livre e ainda citações (aspas).
No texto analisado a argumentação é fundamentada no convencimento pela
emoção mais do que pela razão. Tomando como base à afirmação de ABREU
(2003) pode-se dizer que sua argumentação é persuasiva, pois estabelece uma
relação na qual, o foco central é gerenciar emoção no outro (auditório). As vozes do
texto defendem a tese de que o ex-presidente da República Fernando Collor se
modificou após todos os acontecimentos acerca de sua ascensão e queda no
cenário político brasileiro. Ou seja, a tese principal é a reconstrução do Ethos de
Collor. Conforme COLLAR (1999) Ethos é a imagem moral que o orador dá de si,
constrói com suas palavras e imagem, é a credibilidade do orador. Pathos o conjunto
das emoções, paixões e sentimentos que o orador suscita em seu auditório em
virtude de seu discurso, são as reações que o discurso provoca. E Logos é o
discurso em si, a argumentação propriamente dita.
A fim de convencer um auditório, antes da tese principal deve ser
apresentada uma tese preparatória denominada de tese de adesão inicial, como
esclarece ABREU (2003). A tese de adesão inicial do texto analisado está
fundamentada em fatos e permeia todo o texto, mas concentra-se na introdução, na
45
voz do narrador, e consiste na possibilidade do suicídio do ex-presidente Collor
devido à pressão que sofreu nos momentos que antecederam sua queda:
“O homem que é personagem de uma das mais espetaculares histórias de
ascensão e queda de um político revela ao Fantástico: depois de ter sido
afastado da presidência, chegou a gravar uma mensagem de suicídio”.
O gênero do texto é essencialmente juridico, pois julga fatos acontecidos, o
que está diretamente ligado aos valores, no caso de justiça, moral e vida. Para
rehierarquizar estes valores são utilizados os lugares da argumentação, aqui o lugar
de pessoa, o qual afirma a superioridade das pessoas perante as coisas e fatos. A
utilização do lugar de pessoa no texto enfatiza o “homem Collor como indivíduo” e
leva o telespectador a olhar a situação de forma diferente e se comover com o
sofrimento vivido por ele. Assim a tese principal é trabalhada pelo telespectador.
Outro elemento presente é a utilização de argumento de autoridade. Porém,
se contrapondo ao valor principal, a vida, este argumento é de uma figura pública já
morta, Leonel Brizola, que não pode contestar o que está sendo apresentado. Além
disso, a alusão feita também é de um momento de suicídio (Getúlio Vargas) e as
demais figuras citadas também já morreram. Este paralelo entre morte e vida reforça
a tese principal que é a reconstrução do ethos de Collor perante o povo brasileiro,
mostrando que ele sobreviveu a tudo e se tornou uma pessoa melhor, que dá peso
aos valores.
5.2 - RECURSOS DE LINGUAGEM, CONVENCER E PERSUADIR.
Em relação às técnicas argumentativas, mais precisamente à seleção
lexical, o texto apresenta intensa adjetivação, ou seja, uma grande utilização de
adjetivos em sua construção, os quais qualificam e dão intensidade ao logos. Como
exemplo temos “... momento mais dramático...”, “... mais espetaculares histórias...”,
46
em alguns casos é dado mais de um adjetivo para o mesmo nome: “... o sofrimento
atroz, brutal, cruel...”, o que comprova a tentativa de convencimento pela utilização
da persuasão.
Além da adjetivação, existem diversos operadores argumentativos que
marcam a sucessão, oposição e comparação de idéias e fatos. E também, em
alguns momentos, temos uma progressão de sentido marcada pelo léxico utilizado,
como ocorre com o ato do suicídio. O orador em uma seqüência se utiliza
progressivamente dos termos “dar fim à minha própria vida”, “gesto”, “ato extremo” e
por fim “desatino” para se referir à possibilidade do suicídio. A escolha lexical neste
caso visou uma comoção gradual do telespectador na mesma intensidade dessa
utilização.
Temos ainda a anáfora, figura de sintaxe que consiste na repetição de
membros sucessivos em uma mesma frase ou no início de frases subseqüentes. O
orador utiliza-se da repetição para manter o fluxo de atenção do auditório como
observamos no momento em que Collor afirma ter pensado em suicídio: “Pensei,
pensei. Num determinado momento, pensei...”, essa repetição enfatiza e fixa o fato.
Outro recurso presente no texto é a metáfora, figura de palavra, que
consiste na comparação. A utilização da metáfora de unificação, no caso uma
metáfora esportiva, tem o intuito de comover o telespectador, intensificar o fato. No
texto temos também a presença da figuras de pensamento, no caso a alusão, que é
uma referência a um fato, a uma pressão real conhecida.Esse recurso é empregado
através da referência feita ao episódio histórico do suicídio de Getúlio Vargas e da
utilização da imagem de Leonel Brizola, figura conhecida da política brasileira, como
argumento de autoridade.
47
Com o objetivo de comover o telespectador o texto apresenta recursos de
presença, que são procedimentos que têm por objetivo ilustrar o que se defende,
como aponta ABREU (2003). O orador se utiliza do recurso de presença para
fundamentar sua tese, o que tem um efeito sedutor redobrado sobre o
telespectador. Collor descreve minuciosamente o momento que viveu dando ênfase
às suas sensações:
“Fiquei sozinho, em minha sala, no Palácio do Planalto. Somente a lâmpada
em cima de minha mesa estava ligada. Todo o gabinete ficou na penumbra.
Fiquei só, à espera de que me fosse dado o resultado. O silêncio era
absoluto. O trânsito estava interrompido diante do Palácio. Não havia
nenhuma movimentação. Eu então ouvi - vindo do Congresso Nacional -
aquele rumor forte, igual ao que a gente ouve nas proximidades de um
estádio de futebol, na hora da comemoração de um gol. Quando ouvi aquele
rumor forte, eu disse: "Estou perdido.”“
A partir desta descrição o telespectador é seduzido a se colocar no lugar do
“homem” que passou por todas aquelas angústias. KOCH (2002, p. 78) chama isso
de “sentimentos que nos afetam”.
A reportagem que parece ser factual tem na verdade uma posição política
bem definida. Convence sobre o sofrimento, arrependimento e renascimento do ex-
presidente Collor. A argumentação eficaz foi baseada na estrutura do real e
sustentada pelo lugar de pessoa, sendo assim mais apoiada na persuasão, pois os
fatos apresentados não nos deixam dúvida que Collor assume seus erros e quer se
redimir perante a nação e Deus. Aqui o valor da vida é colocado em primeiro lugar e,
juntamente com a justiça e a moral, demonstra a metamorfose sofrida pelo ex-
presidente que hoje é um homem íntegro e sério na medida que reconhece o que
fez e pede perdão.
48
5.3 - TEXTO ARGUMENTATIVO DE BASE DISSERTATIVA
Como a arte de furtar é muito nobre
"(...) A nobreza das ciências colhe-se de três princípios: o primeiro é o objeto,
ou matéria, em que se ocupa; segundo as regras e preceitos de que consta; terceiro
os mestres e sujeitos que a professam. Pelo primeiro princípio, é a teologia mais
nobre que todas, porque tem a Deus por objeto. Pelo segundo, é a filosofia, porque
suas regras e preceitos são delicadíssimos e admiráveis. Pelo terceiro, é a música,
porque a professam anjos, no céu, e, na terra, príncipes. E por todos estes três
princípios é a arte de furtar muito nobre, porque o seu objeto e matéria em que se
emprega é tudo o que tem nome de precioso. As suas regras e preceitos são
sutilíssimos e infalíveis; e os sujeitos e mestres que a professam, ainda mal, que as
mais das vezes são os que se prezam de mais nobres, para que não digamos que
são senhorias, altezas e majestades." (Arte de Furtar. Texto do século XVIII, de
autor anônimo, Coleção Pra Gostar de Ler. ed Ática, 1999. p. 20)
Vamos observar como este trecho está construído:
Apresenta-se a tese: a nobreza das ciências colhe-se de três princípios:
Desdobra-se a tese em três princípios:
. O primeiro é o objeto, ou matéria, em que se ocupa
. O segundo são as regras e preceitos de que consta
. O terceiro são os mestres e sujeitos que a professam
Exemplifica-se cada princípio e justifica-se a escolha do exemplo:
. Pelo primeiro princípio, é a teologia a mais nobre porque tem Deus por objeto
. Pelo segundo, é a filosofia, porque suas regras e preceitos são delicadíssimos e
admiráveis
. Pelo terceiro, é a música, porque a professam anjos, no céu, e, na terra,
príncipes
49
Apresenta-se uma hipótese com base nas premissas:
E por todos estes três princípios é a arte de furtar muito nobre
Justifica-se a hipótese apresentada, concluindo com base nas três premissas:
- Porque o seu objeto e matéria em que se emprega é tudo o que tem nome de
precioso (1ª);
- Porque as suas regras e preceitos são sutilíssimos e infalíveis (2ª)
- Porque os sujeitos e mestres que a professam, ainda mal, que as mais das vezes
são os que se prezam de mais nobres, para que não digamos que são senhorias,
altezas e majestades (3ª)
5.4 - TEXTO ARGUMENTATIVO DE BASE NARRATIVA
Dos que furtam com unhas reais
"Quando Alexandre Magno conquistava o mundo, repreendeu um corsário,
que houve às mãos, por andar infestando os mares da Índia com dez navios. Ele
respondeu-lhe discreto: 'Eu, quando muito, dou alcance e saco a um ou dois navios,
se os acho desgarrados por esses mares, e Vossa Alteza, com um exército de
quarenta mil homens, vai levando a ferro e fogo toda a redondeza da terra, que não
é sua. Eu furto o que me é necessário, Vossa Alteza o que lhe é supérfluo. Diga-me
agora: qual de nós é maior pirata e qual merece melhor essa repreensão?' Quis
dizer nisso que também há reis ladrões, e que há ladrões que furtam o que lhes é
necessário; e que há ladrões que furtam também o supérfluo. Estes são ladrões por
natureza e aqueles o são por desgraça. Deus nos livre de ladrões por natureza,
porque nunca têm emenda; os que furtam por desgraça mais sofríveis são, porque
não são tão contínuos. Se há reis ladrões é questão muito arriscada. Quando
empolgam são como as águias reais, que só em coisas vivas e grandes fazem
presa.” (Arte de Furtar. Texto do século XVIII, de autor anônimo, Coleção Pra Gostar
de Ler. Ed Ática, 1999. Pág. 56)
50
Conta-se uma história: O rei Alexandre Magno repreende um corsário e
este lhe responde, comparando os dois tipos de roubo
Um dos personagens apresenta uma questão que encaminha a tese: qual dos
dois é pior ladrão, o que rouba o necessário ou o que rouba o supérfluo?
Argumenta-se com base na contraposição entre:
necessário X supérfluo
natureza X desgraça (destino)
Encaminha-se a conclusão com base em constatações:
se o rei ladrão furta o supérfluo, e não o necessário
se o rei é ladrão por natureza, e não por destino
se o rei é ladrão não tem emenda
se o rei ladrão furta muito mais do que os outros
então o rei ladrão é muito mais perigoso.
A tese defendida: os reis, quando roubam, são os piores ladrões, porque não
roubam por necessidade e sim por vício, e, quando roubam, roubam grandes
quantidades.
5.5 - TEXTO ARGUMENTATIVO DE BASE DESCRITIVA
“A gasolina Shell agora vem com ASD, que garante a você um motor mais limpo e
uma real economia de combustível”. (Revista Veja, p. 22. 10/12/2004).
Podemos detectar os seguintes componentes do processo de argumentação
inseridos no texto da propaganda acima:
1. Compre gasolina Shell - conclusão
2. A gasolina Shell contém ASD - fato
3. ASD limpa o motor - justificativa / argumento 1
51
4. Um motor limpo consome menos gasolina - reforço 1
5. Menos gasolina é mais barato - reforço 2
6. Você quer dirigir com pouco dinheiro - motivação / justificativa 2
7. Você não quer gastar mais por gastar - justificativa 3
8. Você dirige um carro - marco ou situação
Desses itens, apenas 2, 3, 4 e 5 aparecem explicitamente, sendo os demais
implícitos, ou seja, eles são inferidos pelo leitor (Inferências Pragmáticas), em
função de sua experiência e da maneira de encaminhar a argumentação.
5.6 - TEXTO ARGUMENTATIVO DE BASE INJUNTIVA
Perfume de Mulher. Hoje, no Sbt.
“Um estudante, atendendo a um anúncio, vai trabalhar como acompanhante
de um coronel. De um coronel cego. De um coronel cego e inflexível. De um coronel
cego, inflexível e aventureiro. De um coronel cego, inflexível, aventureiro e, no
momento, em crise. De um coronel cego, inflexível, aventureiro, no momento em
crise -- mas que dança tango maravilhosamente bem. Faça como Chris O'Donnell, o
estudante do filme. Atenda a este anúncio. Assista a Tela de Sucessos hoje, às 9 e
meia da noite, no SBT. E descubra um coronel cego, inflexível, aventureiro, no
momento em crise, que dança tango maravilhosamente bem e que ainda por cima
tem a cara do Al Pacino”. (Jornal da Paraíba, Caderno de Cultura, 19/11/1997).
O texto publicitário tenta convencer o leitor a assistir a uma sessão de
cinema, em determinado canal de televisão. Pode ser dividido em duas partes: a
primeira, de base descritiva; a segunda, de base injuntiva. Mas é a intenção
argumentativa, persuasiva, que domina e motiva todo o texto. A argumentatividade
se realiza pela escolha das palavras para descrever o personagem principal, pela
estrutura repetitiva das frases utilizadas nessa descrição, pela seqüência de verbos
52
no imperativo, e pelo chamado para que o leitor "entre" no filme, repetindo a ação do
personagem secundário, que atende a um anúncio de jornal.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na análise dos textos dissertativos que fizemos podemos perceber
que todo texto produzido tráz em si uma ideologia conforme diz KOCH (2002, p. 17)
53
“Todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo. a
neutralidade é apenas um mito”. ao analisarmos alguns textos, procuramos
trabalhar mais com a noção de gênero textual, uma abordagem que poderia ser
implantada nas aulas de língua portuguesa ou língua inglesa, tendo como subsidio
teórico a definição de gênero bakhtiniana.
Durante a análise dos textos podemos perceber que nossa hipótese de que
quando conversamos ou escrevemos, estamos quase sempre tentando convencer
nosso interlocutor foi confirmada, pois todos os textos analisados, sejam eles
dissertativos, descritivos, narrativos ou injuntivos, contém fortes traços de
argumentatividade, esses elementos argumentativos podem ser percebidos pela
escolha de palavras, pelo tempo verbal ou pela forma de construção dos períodos –
subordinação ou coordenação. Assim também, os objetivos que estabelecemos no
início da pesquisa foram atingidos, mas isso não esgota as possibilidades de novas
pesquisas nesta área, pois o campo é muito amplo e sua importância para o
educador é fundamental para dinamizar e trabalhar com a língua em situações de
uso real.
Portanto, a argumentatividade nos textos dissertativos e outros tem funções e
características que precisam ser exploradas para que o aluno possa ser um humano
mais crítico e agente no meio em que vive.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
54
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VAN DIJK. T. Cognição, discurso e interação. Contexto. São Paulo, 1992.
57
ANEXO
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“DOSSIÊ BRASÍLIA: OS SEGREDOS DOS PRESIDENTES”: COLLOR DIZ QUE PENSOU EM SUICÍDIO
Você vai ver agora a confissão de um ex-presidente da República sobre um momento dramático: pela primeira vez, Fernando Collor revela - com detalhes - que esteve a ponto de cometer suicídio. A série "Dossiê Brasília" expõe segredos que os ex-presidentes tiveram de guardar quando estavam no poder, mas hoje podem revelar ao Brasil. A reportagem é de Geneton Moraes Neto.
O homem que é personagem de uma das mais espetaculares histórias de ascensão e queda de um político revela ao Fantástico: depois de ter sido afastado da presidência, chegou a gravar uma mensagem de suicídio.
O ex-presidente guarda a fita até hoje. Só desistiu de se matar porque se lembrou do conselho que ouviu de uma figura importante da política brasileira.
Collor fez estas revelações nesta entrevista, em que anunciou: vai se afastar de vez da política. Não voltará a se candidatar a nada.GMN: Em que circunstâncias o ex-presidente Fernando Collor voltaria a fazer política hoje?COLLOR: Em nenhuma circunstância. GMN: Por quê?COLLOR: Por que não tenho nem motivação nem vontade de participar do processo político-eleitoral no Brasil.Uma cena surpreendente: enquanto o país, paralisado, assistia à transmissão ao vivo da sessão que decidiria a sorte do presidente da República, o próprio Collor - o maior interessado na votação - não quis ver TV nem ouvir rádio. Preferiu o isolamento total. GMN: O que é que o senhor estava fazendo exatamente no momento em que os deputados votavam pela abertura do processo de impeachment contra o senhor?COLLOR: Fiquei sozinho, em minha sala, no Palácio do Planalto. Somente a lâmpada em cima de minha mesa estava ligada. Todo o gabinete ficou na penumbra. Fiquei só, à espera de que me fosse dado o resultado. O silêncio era absoluto. O trânsito estava interrompido diante do Palácio. Não havia nenhuma movimentação. Eu então ouvi - vindo do Congresso Nacional - aquele rumor forte, igual ao que a gente ouve nas proximidades de um estádio de futebol, na hora da comemoração de um gol. Quando ouvi aquele rumor forte, eu disse: "Estou perdido."O ex-presidente vai fazer agora uma confissão sobre um dos momentos mais dramáticos que viveu:GMN: O senhor chegou a pensar em suicídio por ter sido afastado do poder?COLLOR: Pensei, pensei. Num determinado momento, pensei em dar fim à minha própria vida, porque o sofrimento foi atroz, brutal, cruel. Para não cometer este gesto, valeu-me muito uma conversa que eu havia tido com o governador Leonel Brizola. Ao fim da última audiência que ele teve comigo, em Palácio, fui levá-lo à porta. Brizola disse-me, na sala dos ajudantes de ordens: "Presidente, eu tinha uma coisa para lhe falar." Eu: "Vamos entrar, governador." Fechei a porta: "Vamos sentar?". Mas ele disse: "Não, aqui mesmo na porta...". Com aquela forma bem pausada com que falava, ele me disse, então: "Venho de longe. Já assisti a muita coisa na política deste país. Acompanhei de perto o sofrimento do doutor Getúlio Vargas. Quero lhe pedir, não como político nem como governador, mas como cidadão Leonel Brizola: resista, presidente. Não faça como doutor Getúlio. Resista." Neste instante, os olhos do governador Brizola se marejaram de lágrimas. Os meus
59
também. Quando pensei em cometer o ato extremo, sempre me vinham à mente as palavras do governador Brizola. Pensei: "Eu falei com ele que iria - e vou - resistir. Aconteceu nos meses seguintes - janeiro, fevereiro de 93".GMN: O que é que levou o senhor - afinal - a abandonar a idéia de suicídio?COLLOR: Em primeiro lugar, o instinto de sobrevivência - que todos temos. Em segundo lugar, fatores circunstanciais, dentre eles, a conversa que tive com o governador Leonel Brizola, na última audiência que tivemos no Palácio do Planalto. É um fato que, eu diria, me ajudou a não cometer esse desatino.GMN: O senhor chegou a ensaiar escrever alguma coisa nesse momento?COLLOR: Gravei alguma coisa. Gravei uma fita. Iniciei a gravação de uma fita - que ficou guardada.GMN: O que é que o senhor dizia na gravação?COLLOR: Começo explicando o porquê do meu gesto, mas nada assim dirigido ao "povo brasileiro" - um documento que ficasse registrado na história. A mensagem era pessoal, para a família, em que eu dizia dos motivos que me levavam àquilo e como eu gostaria que as coisas ficassem. Falava do meu testamento e de bens. Não era, enfim, um documento político, mas um documento pessoal.GMN: Que referências políticas havia nessa fita?COLLOR: Nenhuma, nenhuma, nenhuma.GMN: As referências eram exclusivamente pessoais? COLLOR: Exclusivamente pessoais.GMN: Onde o senhor gravou essa fita? COLLOR: Gravei na biblioteca da Casa da Dinda.GMN: Como foi feita essa gravação?COLLOR: Por mim mesmo, com um gravador daqueles antigos, tipo "tijolão". Fiz a gravação em áudio, somente.GMN: Quando pegou o gravador para gravar a fita, o senhor estava decidido a se matar. Quanto tempo depois o senhor mudou de idéia?COLLOR: Isso foi por volta de três, quatro da tarde. Eu esperava... (Collor faz uma pausa, suspira) Nossa... É uma conversa tão triste...GMN: Mas é importante um registro, já que o senhor foi presidente da República.COLLOR: Enfim... Eu imaginava que acontecesse ao anoitecer. Mas, quando raiou o dia seguinte, eu já havia mudado de idéia.O político que se tornou, aos 40 anos de idade, o mais jovem presidente eleito da história do Brasil hoje é um executivo de 56 anos que dá expediente todo dia numa sala da Organização Arnon de Mello - sede de uma estação de TV, um jornal diário e emissoras de rádio.Benze-se depois de tocar uma imagem da Virgem Maria. Um Collor que não lembra o presidente impetuoso quer fazer uma autocrítica pública. O ex-presidente diz que, hoje, não faria o que fez na campanha: usou na propaganda eleitoral um depoimento de uma ex-namorada do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.COLLOR: Eu diria que não foi algo de bom gosto - nem de bom tom. A utilização seria absolutamente desnecessária. Não o faria novamente. A presidência terminou lhe escapando das mãos dois anos e meio depois da festa da posse.GMN: Qual foi o erro imperdoável do governo Collor?COLLOR: O erro imperdoável do meu governo foi o mau relacionamento do presidente da República com o Congresso Nacional.GMN: O senhor já disse que sofreu o processo de impeachment porque não era de freqüentar churrasco em casa de deputados. O senhor acha que, se tivesse
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cortejado o Congresso, teria escapado do processo?COLLOR: Sem dúvida nenhuma. Não estou aqui querendo, absolutamente, criticar o Congresso Nacional. O que critico é o meu posicionamento em relação ao Congresso. Maioria parlamentar se conquista com esses salamaleques, esses churrascos, esses almoços, esses jantares, essas intimidades. Como não sou muito dado a esse tipo de intimidade, como não sou de ficar dando tapinha na barriga nem agüentando pessoas já um pouco alteradas pelo consumo de bebida, eu evitava. Mas uma das atribuições do presidente, sem dúvida nenhuma, é esta: a de tentar a todo esforço consolidar uma maioria parlamentar que lhe dê a chamada governabilidade.O Senado condenou o presidente Collor em dezembro de 92 por crime de responsabilidade. O julgamento foi comandado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Sidney Sanches. Durante oito anos, Collor ficou impedido de ocupar qualquer cargo público.GMN: O que determinou o afastamento do senhor da presidência foi a suspeita de que o tesoureiro da campanha, Paulo César Farias, achacava empresários em um esquema que, em última instância, envolveria a instituição da presidência. O senhor acha que, um dia, vai se livrar dessas suspeitas diante da opinião pública?COLLOR: Isso é uma brincadeira. Já fui julgado e já fui inocentado dessas acusações. Repisar é uma coisa que não vai levá-lo a lugar nenhum. Por cinco votos contra três, o Supremo Tribunal Federal livrou o ex-presidente das acusações de corrupção passiva, em dezembro de 94. Motivo: falta de provas. Collor tentou voltar ao governo de Alagoas nas eleições de 2002, mas foi derrotado no primeiro turno.O irmão Pedro, autor de denúncias contra Fernando Collor, morreu de câncer no cérebro. A mãe, leda Collor, passou 29 meses em estado de coma, antes de morrer num hospital de São Paulo. O empresário Paulo César Farias, pivô dos escândalos, foi morto pela namorada em Maceió.GMN: Hoje, o senhor vê um toque trágico na história de ascensão e queda - tão rápida - que o senhor viveu?COLLOR: Sem dúvida. Sem querer fazer nenhum melodrama, digo que há características de uma tragédia grega em tudo o que aconteceu. Tudo o que foi envolvido tanto do ponto de vista pessoal e familiar quanto do político; a repercussão havida em toda a população; o ápice que vivi. Cada um de nós é do tamanho da onda que nos carrega. De repente, uma onda enorme me leva até a uma ilha fantástica, para presidir um país fantástico como o Brasil. Mas esta onda foi a mesma que, depois, me tragou de volta e me jogou contra os rochedos.
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