“nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolução.” dobzhanski, 1973 fixismo ·...
Post on 11-Apr-2018
216 Views
Preview:
TRANSCRIPT
Aula II – 2014 – Cursinho Ação Direta
Evolução
Teorias evolutivas e Filogenia
“Nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolução.” Dobzhanski,
1973
A tentativa de explicar a origem das espécies não foi só de Darwin.
Aproximadamente em 300 anos antes de Cristo (a.C.) havia a teoria do fixismo
que afirmava que todas as criaturas teriam sido criadas uma única vez, por
obra divina, permanecendo com as mesmas características para sempre.
Fixismo, então, vem da ideia de que as espécies são fixas e não se modificam
ao longo do tempo. Na idade Média o fixismo foi incorporado pelo cristianismo,
assim as espécies estariam colacadas nos degraus de uma escada. Nos
degruas dessa escada estariam primeiro os seres inanimados, seguido pelas
plantas e depois pelos animais. A espécie humana estaria no topo da escada e,
portanto, mais perto de Deus. Seria mais ou menos como mostra a figura a
seguir.
Ilustração de como os seres vivos eram distribuídos segundo a teoria do
fixismo
As ideias do fixismo começaram a perder força no inicio do séc. XVIII
quando a ideia de Geocentrismo (Terra no centro do Universo) começou a ser
abandonada. Assim, o ser humano deixa de se estar no centro do Universo e
passa a ser visto como semelhante aos outros animais, por algumas pessoas.
Em 1749, o naturalista francês George Luis Leclerc ou apenas Conde de
Buffon, já havia publicado vários livros que afirmavam que as espécies teriam
surgido de apenas um ancestral e que algo hereditário agiria diretamente sobre
os organismos causando variação nesses. Mas eram apenas ideias e não uma
teoria consistente que explicaria a origem das espécies.
2
Essas explicações teóricas só se iniciariam com o também francês Jean-
Batiste Lamark (1744-1829), que publicou a sua teoria da evolução em 1809.
Lamarck reconheceu que os organismos estão adaptados ao ambiente que
vivem e estão sujeitos a passar por mudanças. Ele acreditava que havia uma
direção inata para a perfeição das mudanças e também na herança de
caracteres adquiridos, através do uso e desuso.
Uso e Desuso: o uso frequente de uma estrutura do corpo poderia aumentar
sua capacidade, aptidão ou tamanho e isso seria transmitido aos
descendentes. Por exemplo, uma girafa que cada vez mais tivesse que esticar
o pescoço para comer as folhas das árvores mais altas teria o seu pescoço
alongado e transmitiria essa caracteristica aos seus descendentes. Já o
desuso seria ao contrário, por exemplo, os peixes que vivem em cavernas no
fundo do mar teriam ficado cegos pelo desuso da visão nos ambientes escuros
dessas tocas.
Herança dos caracteres adquiridos: as novas caracteristicas adquiridas pelo
uso ou pelo desuso eram passadas de geração em geração, ou seja, eram
herdadas pelos descendentes.
Na mesma época um economista Inglês, Thomas Malthus elaborou suas
observações sobre o crescimento populacional na Inglaterra. Ele analisou os
seus dados em conjunto com informações sobre a disponibilidade de recursos
e concluiu que os fatores como água, ar e alimento podem ser limitantes nesse
crescimento.
Mathus explicava que as populações tenderiam a crescer em progressão
geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32,...), isto é, haveria o dobro do número de
indivíduos após determinado período de tempo, mas os recursos para
sustentar os indivíduos (como os alimentos) cresceriam mais devagar, em
progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6,...). Portanto, haveria um acelerado
crescimento do número de indivíduos e uma escassez de recursos (alimento,
espaço, ...) necessários à sobrevivência ou à reprodução da população. Então
haveria uma ideia de que a “sobrevivência dos mais capazes” ocorreria na
população humana.
Darwin utilizou essas ideias de Malthus e, assim, a ideia de
sobrevivência do mais capaz ou mais adaptado ao ambiente foi aplicada
também aos animais e às plantas. Iria ocorrer uma luta pela sobrevivência
devido à escassez de recursos. Os vencedores são os que, por acaso, têm
3
alguma vantagem sobre os outros por estarem mais adaptados ao meio. Os
sobreviventes terão mais possibilidade de passar as características à geração
seguinte. Este processo repetido diversas vezes, irá fazer com que novas
características se acumulem, dando origem a novas espécies.
“Não existe lugar para os fracos no banquete da natureza”
As ideias de Malthus não se concretizaram porque ele não previu as enormes
transformações que ocorreriam posteriormente, no processo produtivo dos
alimentos e no ritmo de crescimento da população: a produção de alimentos
cresceu a um ritmo muito maior que a população, quase invertendo a relação
que Malthus havia proposto.
Em conjunto com essas divulgações científicas Charles Darwin também
realizava o seu trabalho. Ele realizou uma viagem ao redor do mundo à bordo
de um HSM Beaggle durante cinco anos e nesse tempo coletou amostras de
animais dos vários lugares que ancorou, inciando aí a sistematização de um
conhecimento científico. Coletou besouros do Brasil, pássaros do Chile,
iguanas, tartarugas e pássaros das Ilhas de Galápagos. Ele descreveu
semelhanças entre pássaros do Equador e das Ilhas de Galápagos e as
diferenças entre os pássaros das várias ilhas em Galápagos.
4
Selo postal comemorativo do aniversário de 200 anos da viagem de Darwim.
Ilustra a embarcação e o tracejado em vermelho no mapa indica o trajeto
realizado.
Ilustração da fauna observada por Darwin em Galápagos.
5
Ilustração evidenciando as diferenças no formato do bico das diferentes
espécies de Tentilhões de Galápagos - pássaros observados por Darwin.
(procurar algumas descrições e acrescentar aqui) Os tentilhões foram um dos
pássaros que Darwin observou e fez várias anotações. Analisando essas
informações verificou que esses tinham bicos diferentes em cada ambiente.
Cada tipo de bico permite que o pássaro se alimente de determinados itens. Os
tentilhões de bico curto e robusto alimentavam-se de sementes, os de bico
curto e fino sugavam o néctar das flores de cacto e ainda havia uns de bico
mais largo que comiam insetos. Ou seja, as diferenças do ambiente, a
disponibilidade de alimentos e o isolamento geográfico foram as principais
condições que levaram à diferença de hábitos e da anatomia entre os
pássaros.
6
Como o meio em que os tentilhões viviam eram diferentes, logo o
alimento disponível nestes ambientes também era diferente. Assim os pássaros
que tinham um bico que facilitava a alimentação de certos itens em certo
ambiente tinham mais facilidade para se adequar às condições e se reproduzir
nesse local, do que os que não conseguiam se alimentar devido às dificuldades
impostas pelo formato do bico.
Tentando entender de que forma todas essas espécies teriam chego até
as ilhas, Darwin imaginou que alguns indivíduos de uma espécie ancestral
poderiam ter chego ali há muito tempo atrás e ter originado todos aqueles
tentilhões diferentes. Pensou que os primeiros ancestrais dos tentilhões
poderiam ter migrado do continente americano para as ilhas Galápagos, que
estão marcadas em um retângulo na imagem a seguir.
Ilustração do mapa com a localização das ilhas Galápagos e o continente
americano.
7
Alfred Russel Wallace também desenvolveu essas ideias de uma
origem comum entre as espécies e as possíveis causas disso. Escreveu uma
carta com essas ideias e enviou a Darwin. Quando Darwin viu que Wallace
havia chegado as mesmas conclusões o primeiro resolveu publicar uma obra
com as teorias de ambos, o que daria origem posteriormente ao livro “A Origem
das Espécies” em 1859.
A seleção natural é a principal ideia da Teoria de Darwin e Wallace
sobre a Evolução das espécies. O que “determina” a evolução por seleção
natural é o ambiente e seus diversos fatores, entre os quais a disponibilidade
de alimento. Isso ocorre resumidamente da seguinte forma: os indivíduos de
determinada população apresentam variações que os tornam diferentes entre
si (como os bicos dos tentilhões). Essas variações são hereditárias, ou seja,
são passadas de pais para filhos. O crescimento das populações tende a ser
maior do que a oferta de alimento. Esse crescimento gera competição entre os
organismos pelos recursos ambientais, sempre limitados. Os organismos que
apresentam características vantajosas para competir pelos recursos escassos
têm mais possibilidade de sobreviver e de reproduzir-se. Assim, os
descendentes herdam essas características. Com o passar das gerações esse
processo de repete. Indivíduos portadores de determinadas características
sobrevivem e se multiplicam, deixando mais descendentes, acumulando
mudanças e gerando diversidade. Por exemplo, há muitas diferenças para as
condições de sobrevivência dos organismos que estão no meio aquático e no
terrestre. Nesse último ambiente a perda de água é maior, mas por outro lado
há maior quantidade de oxigênio, gás fundamental para a maioria dos
organismos. Portanto o animal conseguiria deixar de viver na água ou em
ambiente úmido e viver apenas no ambiente terrestre se ele tivesse estruturas
que permitissem a sua sobrevivência nesse meio. Um exemplo interessante
disso é a pele dos anfíbios e dos répteis. Os anfíbios podem viver em
ambiente terrestre, mas precisam da água para sua reprodução e da umidade
para que sua pele fina e úmida não resseque e permita que ocorra a respiração
8
cutânea. Os repteis são minimamente dependentes do ambiente úmido em
relação ao seu hábito de vida no entanto diferentemente dos anfíbios eles não
permanecem no ambiente aquático por uma necessidade vital – como a
respiração, alimentação e reprodução. Os répteis tem um sistema pulmonar de
respiração bem desenvolvido – ou seja, não respiram por brânquias ou através
da pele, aliás, a pele nos repteis é bastante queratinizada e rígida, o que a
torna impermeável e bastante resistente, um dos grupos de repteis inclusive, o
dos quelônios (tartarugas) desenvolveram uma carapaça, potencializando a
proteção e independência da água.
Portanto a adaptação é consequência direta da seleção natural. Ainda
com relação aos tentilhões, as variações do tamanho do bico estariam
relacionadas com a capacidade de comer sementes de tamanhos variados.
Após o período de chuvas há sementes de todos os tipos: grandes e pequenas,
macias e duras. Os animais grandes com bicos grandes, conforme observado
por Darwin, são capazes de comer todo tipo de sementes, mas os tentilhões
com pequenos bicos teriam mais dificuldades de comer sementes duras e
grandes. Entre 1977 e 1978 houve um longo tempo de seca em Galápagos, o
que fez com que apenas sementes grandes e duras restassem no final desse
período. Os animais com bicos maiores foram mais eficientes na sua
alimentação e os animais menores morreram em grandes quantidades, por
inanição. Assim, os animais maiores puderam sobreviver e proliferar com mais
sucesso. Na geração seguinte foi constatado um aumento de 4% no tamanho
dos bicos e no tamanho do corpo dos animais.
No período em que Darwin viveu (1809 - 1892) os fatores genéticos
ainda não eram conhecidos. Para explicar a hereditariedade Darwin recorria à
teoria lamarkista da heranças dos caracteres adquiridos e também à teoria da
Pangênese (cerca de 400 a. C.) que afirmava que todos os tecidos e órgãos do
nosso corpo produzem gêmulas e essas eram as responsáveis pela
hereditariedade. Só nos anos 1900 foram redescobertas as leis de Mendel e
surgiu a teoria das mutações do biólogo Hugo de Vries. Somente com o
desenvolvimento da Genética pode-se entender a real origem da
variabilidades.
9
A teoria das mutações surgiu quando Vries constatou que ao fazer os
descendentes de plantas apresentavam algumas características que não
estavam presentes no pais. A essas alterações nos descendentes foi dado o
nome de mutações. Mais tarde, as mutações passaram a ser entendidas como
alterações no material genético de um organismo. As mutações podem ocorrer
espontaneamente ou podem ser induzidas por alguns fatores ambientais, como
a radiação solar. Mas as mutações nem sempre são ruins, pois elas também
podem ser benéficas ou neutras. As mutações ocorrem ao longo das gerações
em todos os organismos e são uma importante fonte de variabilidade genética.
Houve então uma união entre a teoria de Darwin e a Genética, além de
estudos de comportamento animal e ecologia, para a constituição da Teoria
Sintética da Evolução ou Neodarwinismo. Nessa teoria a variabilidade
genética não vem apenas das mutações, mas também da recombinação
gênica, que ocorre durante a meiose, que é o processo de divisão celular em
que há produção de gametas.
Portanto, se há alteração em células gaméticas (espermatozóide ou
óvulo) é transmitido aos descendentes, porque o DNA dessas células foi
modificado e fará parte do descendente. Se houver uma alteração no DNA das
células somáticas (todas as células do corpo, exceto as células gaméticas), por
exemplo, uma célula da pele, não será transmitido para o descendente. Isso
porque o DNA que sofreu alteração não fará parte do descendente. Assim,
apenas o DNA dos gametas será transmitido aos descendentes.
Vamos conhecer mais sobre DNA, genes e mutações serão nas próximas
aulas sobre Genética!
Com todas essas ideias sobre Evolução e lembrando-se da primeira
10
imagem desse material, podemos entender que aquela ideia de organismos
distribuídos em uma escada não parece o ideal. Hoje os animais estão
distribuídos no topo de uma “árvore”, aproximadamente dessa forma:
Ilustração das estruturas em os seres vivos eram e são distribuidos
Mas como uma árvore semelhante a essa que acabamos de observar não dá
comporta todos os organismos, veja como ela está sendo reformulada então:
Ilustração da Árvore Genealógica dos Seres Vivos
11
Essa árvore foi pensada a partir da proposta criada em
aproximadamente 1990 de três domínios: Bacteria, Archaea e Eucaryota. No
primeiro grupo estão as bactérias, no segundo os seres procariontes que não
são bactérias e no terceiro todos os eucariontes. Lembrando que os
procariontes são seres que não possuem um núcleo limitado por uma
membrana nuclear. Já os eucariontes possuem núcleo e, portanto, membrana
nuclear.
Perceba na figura anterior que há uma marcação em torno de alguns
“galhos” ou ramos próximo a figura da estrela do mar. Esse conjunto de ramos
assinalados é apenas a linhagem dos animais. Agora vamos dar um “zoom” ou
aproximar desse conjunto:
Ilustração da Árvore Genealógica da linhagem dos animais
Perceba que nessa última figura também há uma marcação no ramo próximo a
figura do peixe que representa o grupo dos Vertebrados. A linhagem dos
Vertebrados é composta pelos peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.
Essas imagens de árvores genealógicas foram apresentadas aqui para
entendemos que:
- perceba que nós temos um ancestral em comum com todos os organismos
presentes no planeta Terra.
- a figura de alguns organismos que aparece nas arvores são fotos dos
organismos vistos atráves de um microscópio, portanto são seres muito
12
pequenos que não podem der vistos a olho nú. Por exemplo os Tardigrades.
- muitos organismos não são representados nessas árvores porque já foram
extintos, portanto, não obtiveram sucesso evolutivo.
EVIDÊNCIAS DA EVOLUÇÃO
Os fósseis são restos ou vestígios de seres vivos que se preservaram
por milhares de anos. Para ser considerada fóssil a estrutura deve ter mais do
que 11 mil de anos. A análise dos fósseis nos permite entender que num
passado remoto o planeta Terra abrigou seres muito diferentes dos que
existem atualmente no planeta.
Quando observamos o desenvolvimento embrionário de vários
animais percebemos várias estruturas semelhantes como mostra a figura a
seguir. Perceba que nas primeiras fases os embriões são muito semelhantes.
Ilustração da embriologia comparada de alguns vertebrados
13
A Anatomia comparada também é uma das evidências da Evolução.
Esse estudo mostra que existem estruturas ou órgãos com a mesma origem
embrionária As homologias são estruturas que possuem a mesma origem
embrionária e por isso indicam a existência de um ancestral em comum.Essas
estruturas podem ou não ter a mesma função. Por exemplo, o membro
pentadactilo, ou seja, um membro que tem 5 dedos (pés e mãos no humanos)
aparecem em vários vertebrados descritos a seguir na ilustração e podem ter
funções diferentes como andar e nadar.
Ilustração comparando as estruturas ósseas do membro pentadactilo (cinco
dedos) de sapos, lagartos, pássaros, humanos, gatos, baleia e morcegos.
Repare nas semelhanças.
Analogias são estruturas que possuem semelhanças em sua função
mas não compartilham a mesma origem e portanto não indicam parentesco
entre as espécies. No entanto, demonstram estratégias semelhantes de
adaptação em grupos distintos que habitam o mesmo ambiente. Por exemplo,
as assas das moscas e do morcego tem a mesma função: voar, mas as
estruturas são diferentes, como podemos observar na imagem a seguir.
14
Ilustração de estruturas análogas: assas de um inseto e de uma ave
Os órgãos vestigiais são algumas estruturas que perderam ou modificaram
sua funcionalidade, não exercendo mais a sua principal função, e se tornam
estruturas vestigiais ao longo da evolução. Por exemplo, os seres humanos
possuem o cóccix: um pequeno osso que termina a coluna vertebral na parte
inferior, sendo um vestígio da cauda dos ancestrais do homem. Outras
estruturas vestigiais são os dentes do siso, os pelos e o apêndice vermiforme.
Este último é um órgão vestigial herdado pelos humanos de ancestrais
herbívoros e tem a função de digerir a celulose. Existem órgãos análogos em
outros animais semelhantes aos seres humanos que continuam a
desempenhar essa função, enquanto que por outro lado em animais carnívoros
esse órgão diminuiu. A função do apêndice no ser humano pode ser de
proteção contra infecções por bactérias simbióticas que ajudam na digestão.
15
Ilustração dos apêndices vermiforme do coelho (herbívoro) e do ser
humano (onívoro).
Ilustração representando as diferenças de características de pigmentação em
uma mesma espécie de joaninhas.
“Fazer ciência é procurar padrões que se repetem e não simplesmente
acumular fatos.” Robert H. MacArthur
16
Momento Pensamento
Pernas Atadas,
Errico Malatesta
“Como todos os animais, o homem adapta-se, habitua-se às condições nas
quais vive, e transmite por hereditariedade os hábitos adquiridos. Nascido e
vivendo na escravidão, herdeiro de uma longa linhagem de escravos, o homem
quando começou a pensar, acreditou que a escravidão fosse uma condição
essencial de vida: a liberdade pareceu-lhe impossível. É assim que o
trabalhador coagido à séculos a esperar trabalho, isto é, o pão, do bel-prazer
de um amo, habituado a ver sua vida continuamente à mercê daquele que
possui a terra e capital, acabou por crer que é o patrão que lhe dá de comer;
ingênuo ele diz a si mesmo: o que faria para viver se os amos não existissem?
Tal seria a situação de um homem que tivesse suas pernas atadas desde o
nascimento, mas de modo a poder ainda sim caminhar um pouco; ele poderia
atribuir a habilidade de se mover a suas ligaduras que só fazem, entretando
diminuir e paralisar a energia muscular de suas pernas.
E, se aos feitos naturais do hábito, eu acrescento a educação dada pelo patrão,
pelo padre, pelo professor etc, que estão todos interessados em pregar que os
governos e os amos são necessários, se incluírmos o juiz e o policial que se
esforçam para reduzir ao silêncio aquele que pensa de forma diferente e quer
propagar seu pensamento, se compreenderá de que maneira, no cérebro
pouco culto da massa, enraizou-se o preconceito da utilidade, da necessidade
do patrão e do governo.
Imaginem, pois, que ao homem de pernas atadas do qual falamos, o médico
conta toda uma teoria e dá mil exemplos habilidosamente inventados para
convencê-lo de que com suas pernas livres ele não poderia caminhar nem
viver. Este homem defenderia com raiva suas correntes e consideraria como
inimigo aqueles que quisesse arrebentá-las”
17
Questões:
1. Pesquise quem foi Malatesta e pelo que ele se dedicou durante toda sua
vida.
2. No primeiro parágrafo ele afirma que existem hábitos que os homem e todos
os animais passam para seus filhos e netos por herança. Sobre quais hábitos
Malatesta está falando ao longo do texto?
3. Pensando sobre as teorias dos caracteres adquiridos e sobre a seleção
natural. Para você, como elas poderiam explicar o fato de o ser humano se
submeter ao sofrimento?
4. Em que tipo de situações você pensa ser justo um homem se recusar a
obeceder?
Questões do ENEM sobre essa temática:
1. (ENEM 2010) A perda de pelos foi uma adaptação às mudanças ambientais, que
forçaram nossos ancestrais a deixar a vida sedentária e viajar enormes distâncias à
procura de água e comida. Junto com o surgimento de membros mais alongados e
com a substituição de glândulas apócrinas (produtoras de suor oleoso e de lenta
evaporação) por glândulas écrinas (suor aquoso e de rápida evaporação), a menor
quantidade de pelos teria favorecido a manutenção de uma temperatura corporal
saudável nos trópicos castigados por calor sufocante, em que viveram nossos
ancestrais. Scientific American. Brasil, mar. 2010 (adaptado).
De que maneira o tamanho dos membros humanos poderia estar associado à
regulação da temperatura corporal?
(A) Membros mais longos apresentam maior relação superfície/volume, facilitando a
perda de maior quantidade de calor.
(B) Membros mais curtos têm ossos mais espessos, que protegem vasos sanguíneos
contra a perda de calor.
(C) Membros mais curtos desenvolvem mais o panículo adiposo, sendo capazes de
reter maior quantidade de calor.
(D) Membros mais longos possuem pele mais fina e com menos pelos, facilitando a
perda de maior quantidade de calor.
(E) Membros mais longos têm maior massa muscular, capazes de produzir e dissipar
maior quantidade de calor.
18
2. (ENEM 2009) Os anfíbios são animais que apresentam dependência de um
ambiente úmido ou aquático. Nos anfíbios, a pele é de fundamental importância
para a maioria das atividades vitais, apresenta glândulas de muco para
conservar-se úmida, favorecendo as trocas gasosas e, também, pode
apresentar glândulas de veneno contra microrganismos e predadores.
Segundo a Teoria Evolutiva de Darwin, essas características dos anfíbios
representam a
(A) lei do uso e desuso.
(B) atrofia do pulmão devido ao uso contínuo da pele.
(C) transmissão de caracteres adquiridos aos descendentes.
(D) futura extinção desses organismos, pois estão mal adaptados.
(E) seleção de adaptações em função do meio ambiente em que vivem.
3. (ENEM 2010) Alguns anfíbios e répteis são adaptados à vida subterrânea.
Nessa situação, apresentam algumas características corporais como, por
exemplo, ausência de patas, corpo anelado que facilita o deslocamento no
subsolo e, em alguns casos, ausência de olhos. Suponha que um biólogo
tentasse explicar a origem das adaptações mencionadas no texto utilizando
conceitos da teoria evolutiva de Lamarck. Ao adotar esse ponto de vista, ele
diria que
(A) as características citadas no texto foram originadas pela seleção natural.
(B) a ausência de olhos teria sido causada pela falta de uso dos mesmos,
segundo a lei do uso e desuso.
(C) o corpo anelado é uma característica fortemente adaptativa, mas seria
transmitida apenas à primeira geração de descendentes.
(D) as patas teriam sido perdidas pela falta de uso e, em seguida, essa
característica foi incorporada ao patrimônio genético e então transmitida aos
descendentes.
(E) as características citadas no texto foram adquiridas por meio de mutações e
depois, ao longo do tempo, foram selecionadas por serem mais adaptadas ao
ambiente em que os organismos se encontram.
19
4. (ENEM 2009) Os ratos Peromyscus polionotus encontram-se distribuídos em
ampla região na América do Norte. A pelagem de ratos dessa espécie varia do
marrom claro até o escuro, sendo que os ratos de uma mesma população têm
coloração muito semelhante. Em geral, a coloração da pelagem também é
muito parecida à cor do solo da região em que se encontram, que também
apresenta a mesma variação de cor, distribuída ao longo de um gradiente sul
norte. Na figura, encontram-se representadas sete diferentes populações de P.
polionotus. Cada população é representada pela pelagem do rato, por uma
amostra de solo e por sua posição geográfica no mapa.
O mecanismo evolutivo envolvido na associação entre cores de pelagem e de
substrato é
(A) a alimentação, pois pigmentos de terra são absorvidos e alteram a cor da
pelagem dos roedores.
(B) o fluxo gênico entre as diferentes populações, que mantém constante a
grande diversidade interpopulacional.
(C) a seleção natural, que, nesse caso, poderia ser entendida como a
sobrevivência diferenciada de indivíduos com características distintas.
(D) a mutação genética, que, em certos ambientes, como os de solo mais
escuro, têm maior ocorrência e capacidade de alterar significativamente a cor
20
da pelagem dos animais.
(E) a herança de caracteres adquiridos, capacidade de organismos se
adaptarem a diferentes ambientes e transmitirem suas características
genéticas aos descendentes.
5. (ENEM 2005) Foi proposto um novo modelo de evolução dos primatas
elaborado por matemáticos e biólogos. Nesse modelo o grupo de primatas
pode ter tido origem quando os dinossauros ainda habitavam a Terra, e não há
65 milhões de anos, como é comumente aceito.
Examinando esta árvore evolutiva podemos dizer que a divergência entre os
macacos do Velho Mundo e o grupo dos
grandes macacos e de humanos ocorreu há aproximadamente
(A) 10 milhões de anos. (B) 40 milhões de anos.
(C) 55 milhões de anos. (D) 65 milhões de anos.
(E) 85 milhões de anos.
6. (ENEM 2005) As cobras estão entre os animais peçonhentos que mais
causam acidentes no Brasil, principalmente na área rural. As cascavéis
(Crotalus), apesar de extremamente venenosas, são cobras que, em relação a
21
outras espécies, causam poucos acidentes a humanos. Isso se deve ao ruído
de seu "chocalho", que faz com que suas vítimas percebam sua presença e as
evitem. Esses animais só atacam os seres humanos para sua defesa e se
alimentam de pequenos roedores e aves. Apesar disso, elas têm sido caçadas
continuamente, por serem facilmente detectadas. Ultimamente os cientistas
observaram que essas cobras têm ficado mais silenciosas, o que passa a ser
um problema, pois, se as pessoas não as percebem, aumentam os riscos de
acidentes. A explicação darwinista para o fato de a cascavel estar ficando mais
silenciosa é que
(A) a necessidade de não ser descoberta e morta mudou seu comportamento.
(B) as alterações no seu código genético surgiram para aperfeiçoá-Ia.
(C) as mutações sucessivas foram acontecendo para que ela pudesse adaptar-
se.
(D) as variedades mais silenciosas foram selecionadas positivamente.
(E) as variedades sofreram mutações para se adaptarem à presença de seres
humanos.
7. (ENEM 2004) O que têm em comum Noel Rosa, Castro Alves, Franz Kafka,
Álvares de Azevedo, José de Alencar e Frédéric Chopin?
Todos eles morreram de tuberculose, doença que ao longo dos séculos fez
mais de 100 milhões de vítimas. Aparentemente controlada durante algumas
décadas, a tuberculose voltou a matar. O principal obstáculo para seu controle
é o aumento do número de linhagens de bactérias resistentes aos antibióticos
usados para combatê-la. Esse aumento do número de linhagens resistentes se
deve a
(A) modificações no metabolismo das bactérias, para neutralizar o efeito dos
antibióticos e incorporá-los à sua nutrição.
(B) mutações selecionadas pelos antibióticos, que eliminam as bactérias
sensíveis a eles, mas permitem que as resistentes se multipliquem.
(C) mutações causadas pelos antibióticos, para que as bactérias se adaptem e
transmitam essa adaptação a seus descendentes.
(D) modificações fisiológicas nas bactérias, para torná-las cada vez mais fortes
e mais agressivas no desenvolvimento da doença.
22
Questões UFPR.
(UFPR) Admite-se que, há cerca de 5 milhões de anos, a linha evolutiva da
qual se originou a espécie humana separou-se da dos demais macacos
(chimpanzés e gorilas). A revista Veja de 17/07/2002 comenta que nos limites
do deserto do Saara foi descoberto um hominídio com cerca de 7 milhões de
anos. Tal achado fóssil desloca para trás essa divergência evolutiva em cerca
de, pelo menos, 1 milhão de anos. Surpreende também por revelar que o
crânio desse hominídio, ba- tizado como Sahelanthropus tchadensis, apresenta
características quase idênticas às dos chimpanzés no formato e no tamanho
(parte posterior), associadas com características só encontradas em ancestrais
humanos mais recentes, tais como no Homo habilis, os quais apresentam
menor projeção da mandíbula e sobrolhos bem marcados. Esses estudos
permitem reavaliar e entender melhor certos ramos da evolução humana
repensando o raciocínio básico sobre a evolu- ção das espécies, que interpreta
que fósseis recentes refletem também estágios evolutivos mais recentes. Sobre
o tema, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
V) O Homo habilis, que surgiu de uma espécie de Australopithecus, viveu na
África por mais de 500 mil anos e foi o primeiro hominídio a usar instrumentos
para fins específicos.
V) Os Australopithecus, que viveram na África entre 3,8 e 3,5 milhões de anos
atrás, encontram-se extintos.
F) As espécies afarensis, africanus e robustus pertencem ao gênero Homo.
V) Os Australopithecus viviam nas savanas africanas, exibiam posição ereta e
possuíam cérebro pouco maior que o dos chimpanzés.
V) Acredita-se que os primeiros seres humanos - Homo sapiens - surgiram há
pouco mais de 100 mil anos, a partir de um grupo populacional de Homo
erectus.
(UFPR) 6 - Quanto aos fatores responsáveis pela ocorrência da evolução nos
seres vivos, é correto afirmar:
a) A mutação gera diversidade nas populações, e a seleção natural a reduz.
b) A deriva genética é imprescindível para a geração de diversidade nas
populações.
c) Sem a seleção natural e a deriva genética não ocorre diversidade entre os
seres vivos.
d) A migração genética não pode ser responsável pelo aumento da diversidade
nas populações.
e) A mutação aumenta a diversidade nas populações, e a migração genética a
reduz.
23
(UFPR)Apesar de bastante criticadas na época em que foram postuladas, as
idéias propostas por Charles Darwin sobre o processo evolutivo dos seres
vivos são hoje amplamente aceitas, uma vez que outras evidências colhidas
empiricamente corroboram a Teoria da Evolução. Assinale a alternativa que
NÃO expressa uma evidência dessa teoria.
a) O estudo dos fósseis ao longo dos tempos geológicos mostra um aumento
da complexidade das formas de seres vivos.
b) As características apresentadas por sucessivas gerações, dentro de uma
espécie, são herdadas das gerações antecessoras.
c) Algumas estruturas corporais desenvolvem-se quando muito utilizadas ou
atrofiam-se quando não utilizadas, como por exemplo a musculatura dos
animais.
d) Quando se estudam os genomas, observa-se uma grande semelhança entre
espécies muito próximas, como o homem e o chimpanzé.
e) O funcionamento bioquímico das células de todos os organismos é
semelhante, sugerindo que todos tiveram um ancestral comum.
(UFPR) Certos insetos apresentam um aspecto que os assemelha bastante, na
cor e às vezes até na forma, com ramos e folhas de algumas plantas. Esse fato
é de extremo valor para o inseto, já que o protege contra o ataque de seus
predadores. Esse fenômeno, analisado à luz da Teoria da Evolução, pode ser
explicado:
a) pela lei do uso e desuso, enunciada por Lamarck.
b) pela deriva genética, comum em certas populações.
c) pelo isolamento geográfico que acontece com certas espécies de insetos.
d) pela seleção natural, que favorece características adaptativas adequadas
para cada ambiente específico.
e) por uma mutação de amplo espectro que ocorre numa determinada espécie.
top related