natanaildo barbosa fernandes - universidade estadual de ... · palavras-chave: aptidão agrícola...
Post on 09-Nov-2018
218 Views
Preview:
TRANSCRIPT
Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO JIQUIRIÇÁ,
RECÔNCAVO SUL DA BAHIA
NATANAILDO BARBOSA FERNANDES
ILHÉUS, BAHIA.
2008
NATANAILDO BARBOSA FERNANDES
CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO JIQUIRIÇÁ,
RECÔNCAVO SUL DA BAHIA
Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-graduação emDesenvolvimento e Meio Ambiente, sub-programa UniversidadeEstadual de Santa Cruz, como parte dos requisitos para a obtenção doítulo de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. t
ILHÉUS, BAHIA.
2008
Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental de BaciaHidrográfica.
Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-graduação emDesenvolvimento e Meio Ambiente, sub-programa UniversidadeEstadual de Santa Cruz, como parte dos requisitos para a obtenção dotítulo de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental no TrópicoÚmido.
NATANAILDO BARBOSA FERNANDES
CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO JIQUIRIÇÁ,
RECÔNCAVO SUL DA BAHIA
COMISSÃO EXAMINADORA Ilhéus – BA, 23/10/2008.
_______________________________________________
Prof. Dr. Maurício Santana Moreau UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz
Orientador
_______________________________________________ Prof. Dr. Dan Érico Lobão
CEPLAC - CEPEC Examinador Externo
_______________________________________________ Prof. Dr.Neylor Alves Calasans Rego
UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz Examinador Interno
À minha mãe, Isabel Barbosa Fernandes, pelo amor, carinho e apoio dedicados
até hoje a mim, por ser a principal responsável pelo meu sucesso no plano
de vida pessoal e profissional e por me apoiar nas etapas mais difícies e
desafiadoras da minha vida;
Ao meu pai, Pedro Fernandes de Lima pelos ensinamentos de respeito,
conduta, ética, hombridade e postura moral durante toda a minha vida;
A minha amada Lívia, pelo amor e carinho dedicados a mim,
as minhas filhas Natanna e Nayanna, aos meus irmãos e a toda a minha
família, pela confiança, apoio e incentivo em todos os momentos desta
trajetória;
OFEREÇO
E
DEDICO.
AGRADECIMENTOS
Ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz e a Escola Agrotécnica
Federal de Santa Inês – BA, pela oportunidade concedida a mim para a
realização desse curso.
Ao Professor Dr. Maurício Santana Moreau pela amizade, orientações
concedidas e apoio incondicional, durante todas as fases dessa dissertação.
Ao Professor Dr. Neylor Alves Calasans Rego, pelo apoio e dedicação
para a realização desse curso.
Aos colegas do curso; Eliana, Elenildo, Jadson, Lícia, Marco, Nilton e Tito,
pelo companheirismo, solidariedade e presteza ao longo dessa caminhada de
convivência.
A professora Drª. Ana Maria Moreau, pela amizade e apoio durante
todas as etapas do curso.
A todos os Professores do curso: Programa Regional de Pós-graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa
Cruz, pela amizade e ensinamentos.
Aos colegas; Abdon, Adriana, Carine, Clovis, Emmanuel e Nelson pelas
orientações e contribuições no início desta jornada.
v
Capacidade de uso das terras da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, Recôncavo Sul da Bahia
RESUMO
A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, localizada na região centro leste do Estado da Bahia, ocupa uma área de quase 7 mil km2, com características ambientais bastante diversificadas ao longo de toda a bacia hidrográfica. Devido à forma de ocupação e utilização dos recursos naturais, a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá vem sofrendo crescente degradação dos seus recursos naturais, principalmente, pela utilização de manejos agropecuários inadequados. Por isso, esse trabalho foi desenvolvido no intuito de contribuir para mitigar os problemas ambientais e aumentar o conhecimento dos aspectos ambientais e da capacidade do uso dos solos da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá. Como metodologia, utilizou-se técnicas de geoprocessamento para delimitar a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá a partir do modelo digital de elevação; caracterizou-se o ambiente da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá nos seus aspectos geomorfológicos, pedológicos, de clima e vegetação; identificaram-se as Áreas de Preservação Permanente da bacia hidrográifca; caracterizaram-se os aspectos socioeconômicos e elaborou-se o mapa de capacidade de uso das terras para fins agrícolas, com base na interação dos fatores ambientais caracterizados. Como resultado foi obtido um novo mapa político da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá baseado nos divisores de águas. Também foi observado que 58,18% da bacia hidrográfica encontram-se sob o clima semi-árido (BS) e 38, 50% sob o clima tropical com estação seca, fatores que contribuem para a limitação do uso das terras na bacia hidrográfica. Além disso, predominam em 75,80% da área, as classes de solo dos Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos Distróficos (baixa fertilidade) e o uso da terra com pastagens extensivas e agricultura, ocupando 79,52% da área da bacia hidrográfica. Por causa desta interação solo, clima, geomorfologia e uso da terra, foram identificadas seis classes de capacidade de uso das terras e dez unidades de capacidade de uso das terras. A principal classe de capacidade de uso encontrada foi a classe II, que são terras cultiváveis com problemas simples de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos, ocupando 71,36% da área da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, indicando o grande potencial agrícola da área estudada. Palavras-chave: Aptidão agrícola, Vale do Jiquiriçá, adequação ambiental.
vi
Capacity to use the land for Jiquiriçá basin river, Bahia southern Recôncavo
ABSTRACT
The basin of the Jiquiriçá river, located in the east of central region in the state of Bahia, occupies an area of nearly 7 thousand km2, with environmental characteristics very different throughout the basin. Due of the way of occupation and use of natural resources, the basin of the Jiquiriçá river has been suffering increasing degradation of its natural resources, mainly by the use of inappropriated agricultural management. Therefore, this study was conducted in order to mitigate environmental problems and increase awareness of environmental and land-use capacity of the basin of the Jiquiriçá river. As methodology was used techniques of GIS to delimit the basin of the Jiquiriçá river from the digital elevation model; characterized the environment of the river basin Jiquiriçá in their geomorphological features, soil, climate and vegetation;-identified Areas where the Permanent Preservation of the basin hidro; of them were drafted and socioeconomic aspects is the statement of ability to use the land for agricultural purposes, based on the interaction of environmental factors characterized. The result has been obtained by a new political map of the Jiquiriçá river basin based on dividing the waters. We also observed that 58,18% of the watershed are under the semi-arid region (BS) and 38,50% under the tropical climate with dry season, factors that contribute to limiting the use of land in the basin. Moreover, dominant in 75.80% of the area, the soil classes of Oxisols Yellow-Red and Yellow dystrophic (low fertility) and the use of land with extensive pasture and agriculture, occupying 79.52% of the area of the basin. Because of this interaction soil, climate, geomorphology and use of land, identified six classes of capacity for land use and ten units of capacity in use of land. The main class of capacity in use was found to Class II, which are arable land with simple problems of conservation and / or maintenance of improvements, occupying 71.36% of the area of the basin of the Jiquiriçá river, indicating the great potential of agriculture area. Keywords: Fitness agriculture, Jiquiriçá Valley, suitability environmental.
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA........ 12
Figura 2 – Resumo da variação do tipo e da intensidade máxima de
uitilição das terras sem risco de erosão acelerada em função das
classes de capacidade de uso das terras..............................................
19
Figura 3 – Esquema dos grupos, classes, subclasses e unidades de
capacidade de uso das terras................................................................
20
Figura 4 – Mapa político da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA
apresentando o novo limite da bacia hidrográifica determinado
através do ArcGIS/SWAT......................................................................
22
Figura 5 – Distribuição dos diferentes climas que ocorrem na bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA...........................................................
23
Figura 6 – Mapa geomorfológico da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
– BA.......................................................................................................
24
Figura 7 – Mapa de Classes de altitude da bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá – BA.........................................................................................
26
Figura 8 – Mapa de classes de declividade da bacia hidrográfica do
rio Jiquiriçá – BA....................................................................................
26
Figura 9 – Mapa pedológico da bacia hidrográfica do rio Jiquriçá – BA 27
Figura 10 – Classes de uso da terra na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá – BA.........................................................................................
30
Figura 11 – Mapa das Áreas de Preservação Permanentes sobre as
classes de uso da terra da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.......
32
Figura 12 – População urbana e rural nos anos de 1970 a 2007 na
bacia hidrográfica do rio Jiquriçá – BA...................................................
34
Figura 13 – Ocupação das terras na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
viii
– BA....................................................................................................... 35
Figura 14 – Efetivo do rebanho bovino no período de 1990 a 2005 na
bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA..................................................
36
Figura 15 – Outras atividades de pecuária no período de 1990 a 2005
na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.............................................
36
Figura 16 – Principais produtos da Lavoura Temporária nos anos de
1990 a 2005 da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA........................
37
Figura 17 – Principais produtos da Lavoura Permanente nos anos de
1990 a 2005 da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA........................
38
Figura 18 – Mapa de capacidade de uso das terras na bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA........................................................... 39
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição das classes gerais de solo em percentual na
bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA..................................................
29
Tabela 2 – Distribuição das classes de uso das terras em percentual
na bacia hidrográfica do rio Jiquriçá – BA..............................................
30
Tabela 3 – Área de Preservação Premanente da bacia hidrográfica
do rio Jiquiriçá estabelecida pela legislação e as áreas efetivamente
preservadas............................................................................................
32
Tabela 4 – Classes e unidades de uso das terras e seu percentuais
na bacia hidrográfica do rio Jiquirçá – BA..............................................
40
x
SUMÁRIO
Página
Resumo..................................................................................................... v
ABSTRACT ................................................................................................. vi
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1
1.1. Objetivos ............................................................................................... 3
1.1.1 Geral ................................................................................................... 3
1.1.2. Específicos ......................................................................................... 3
2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................. 4
2.1. Bacias Hidrográficas ............................................................................. 4
2.2. Impactos causados devido a modificações no uso da terra .................. 7
2.3 Capacidade de uso das terras para fins agrícolas ................................. 8
3. ÁREA DE ESTUDO ............................................................................... 11
3.1. Bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá ....................................................... 11
4. METODOLOGIA .................................................................................... 13
4.1. Procedimentos Metodológicos ........................................................... 13
4.1.1. Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá ............................ 13
4.1.2. Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá....... 14
xi
4.1.3. Caracterização socioeconômica dos municípios da bacia hidrográfica
do rio Jiquiriçá ............................................................................................ 15
4.1.4. Capacidade de uso das terras para fins agrícolas ........................... 16
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................... 21
5.1. Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá ............................... 21
5.2. Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá.......... 22
5.3. Caracterização socioeconômica dos municípios da bacia hidrográfica do
rio Jiquiriçá................................................................................................. 33
5.4. Capacidade de uso das terras da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá .. 39
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 44
1
1. INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, localizada na região centro leste do
Estado da Bahia, ocupa uma área de quase 7 mil km2, com características climáticas
diversificadas. Ao longo do percurso do rio, da sua nascente até o encontro com o
mar são encontradas vegetações de caatinga sucedida por florestas remanescentes
da Mata Atlântica (Baixo Jiquiriçá), ambas bastante descaracterizadas pela ação
antrópica (GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, 1995).
A região de clima semi-árido, encontrada nas porções norte e noroeste da
bacia hidrográfica (Alto Jiquiriçá), exceto nas áreas de planalto, apresenta
distribuição pluviométrica irregular, com a maioria dos cursos d’água intermitente e
de caráter torrencial. A faixa de transição, entre os climas subúmidos e semi-árido
(Médio Jiquiriçá), é caracterizada por duas estações bem definidas: uma chuvosa e
outra seca. A região de clima tropical quente e úmido (Estuário do Jiquiriçá), sem
estação seca, também está presente na bacia hidrográfica, sendo caracterizada pela
predominância de espécies arbórea, arbustiva e de manguezais (GOVERNO DO
ESTADO DA BAHIA, 1995).
A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá tem como base econômica a
agropecuária, sendo que a participação do comércio e indústria na economia local
ainda é pouco expressiva. A agricultura tradicional, predominante na maior parte da
2
bacia, está voltada para os cultivos de subsistência, sendo praticada de forma
itinerante, com mão de obra familiar. A agricultura moderna com utilização intensiva
e indiscriminada de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas desenvolve-se no
trecho superior da bacia, principalmente com o cultivo de maracujá, tomate e café. A
pecuária extensiva é uma atividade desenvolvida em toda a região, embora,
concentra - se mais na parte noroeste da bacia (clima semi-árido), onde as
pastagens são normalmente utilizadas de forma extensiva, com baixa produtividade.
Devido à forma de ocupação e utilização dos recursos naturais, a bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá vem sofrendo crescente desgaste dos seus recursos
naturais, principalmente, pela utilização de manejos agropecuários inadequados.
Observam-se também assentamentos urbanos sem planejamento e a prática do
desmatamento predatório, seguido de queimadas constante ao longo da bacia
hidrográfica. Além disso, o rio Jiquiriçá e alguns afluentes recebem elevadas cargas
poluentes das cidades que o atravessam, sendo também depositário de resíduos
sólidos provenientes das atividades urbanas e rurais (matadouros e subprodutos de
lavouras, principalmente, café).
Percebe-se que a falta de planejamento de uso e gestão das terras, seja pelo
desconhecimento, ou seja, pela necessidade imediatista dos agricultores, têm
promovido diversos impactos negativos ao meio ambiente, como é o caso da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá, resultando em degradação ambiental e redução da
qualidade de vida da população. A conservação e utilização sustentável dos
recursos naturais, e até mesmo a recuperação de áreas degradadas, requerem
amplo conhecimento das suas características ambientais e dos efeitos negativos
causados por determinadas atividades antrópicas. Nesse sentido, o diagnóstico dos
elementos ambientais é uma excelente ferramenta na determinação de problemas
3
de uso dos recursos naturais, os quais podem auxiliar no planejamento e gestão de
um determinado ambiente.
Por isso, este trabalho foi desenvolvido no intuito de contribuir com o
conhecimento dos aspectos ambientais e da capacidade do uso dos solos da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá, utilizando de técnicas de geoprocessamento e visando
alertar para os diversos aspectos de degradação ambiental, causados pela utilização
dos recursos naturais sem um planejamento prévio ou determinação da capacidade
de suporte dos mesmos.
1.1. OBJETIVOS
1.1.1. Objetivo Geral
Determinar a capacidade de uso das terras na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá.
1.1.2. Objetivos Específicos
1.1.2.1. Utilizar técnicas de geoprocessamento para identificar o limite da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá;
1.1.2.2. Caracterizar o ambiente da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá em seus
aspectos de clima, geomorfologia, solo e uso da terra/vegetação;
1.1.2.3. Caracterizar os aspectos socioeconômicos dos municípios da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá;
1.1.2.4. Identificar Áreas de Preservação Permanente na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá.
4
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Bacias Hidrográficas
A bacia hidrográfica pode ser definida como unidade física, caracterizada
como uma área de terra drenada por um determinado curso d’água e limitada,
perifericamente, pelo chamado divisor de águas. Segundo Teixeira (2003), a
microbacia, do ponto de vista hidrológico, pode ser considerada como a menor
unidade da paisagem capaz de integrar todos os componentes relacionados com a
qualidade e disponibilidade de água como: atmosfera, vegetação natural, plantas
cultivadas, solos, rochas subjacentes, corpos d’água e paisagem circundante.
Ambientalmente, pode-se dizer que a bacia hidrográfica é a unidade ecossistêmica e
morfológica que melhor reflete os impactos das interferências antrópicas, tais como
a ocupação das terras com as atividades agrícolas (CUNHA e GUERRA, 1997).
A bacia hidrográfica deve ser utilizada como unidade básica para o
planejamento conservacionista, entretanto os trabalhos de manejo e conservação do
solo vêm sendo em grande parte, ainda hoje, realizados de maneira isolada, em
nível de propriedade. O planejamento conservacionista, levando em conta as
características da bacia hidrográfica, visa a um controle integrado da erosão do solo
5
em toda a área que converge para uma mesma seção de deságüe (CALIJURI et
al.,1998).
Em alguns programas, a escala de bacia hidrográfica vem sendo adotada
como preferencial para o planejamento conservacionista e para a efetiva execução
de programas de controle de erosão e conservação de recursos hídricos. Exemplos
desta consagração são os Programas de Bacias Hidrográficas (BERTOLINI et al.,
1993).
Esses programas, principalmente aqueles implantados na região Sul do
Brasil, vêm servindo de referência e de exemplo internacional de sucesso de
agricultura conservacionista (BUSSCHER et al., 1996). Em regiões úmidas,
principalmente se o enfoque está relacionado a projetos conservacionistas, a
delimitação da bacia hidrográfica engloba a área de drenagem dos primeiros canais
fluviais de fluxo permanente, geralmente coincidindo com os afluentes de um rio
principal em nível regional.
No entanto, o conceito de bacia de drenagem como um sistema
hidrogeomorfológico é mais amplo e define a bacia de drenagem como uma área da
superfície terrestre que drena água, sedimentos e materiais dissolvidos para uma
saída comum, num determinado ponto de um canal fluvial. Definida desta forma, a
bacia de drenagem comporta diferentes escalas, desde uma bacia do porte daquela
drenada pelo rio Amazonas, até bacias com poucos metros quadrados que drenam
para a cabeceira de um pequeno canal erosivo (COELHO NETTO, 1994). Assim, a
delimitação nos Programas Conservacionistas é uma convenção consagrada pelo
uso e não um conceito hidrogeomorfológico fechado.
Em trabalhos de pesquisa, observa-se maior flexibilidade nos critérios de
delimitação das bacias de drenagem, muito mais vinculados aos objetivos do
6
trabalho do que as definições e conceitos pré-estabelecidos. Alguns exemplos que
podem ser citados são os trabalhos de Hamlett et al. (1992), que utilizaram Sistemas
de Informações Geográficas para definir áreas potencialmente poluidoras, devido a
atividade agrícola na Pensilvânia, E. U. A., considerando áreas de drenagem de
milhares de hectares; ou o de Moldan & Cerny (1994), que consideram que a bacia
hidrográfica, visando a estudos biogeoquimicos, não deve ultrapassar 500 hectares.
O importante é que, o conceito adotado para a delimitação da bacia de
drenagem deve garantir que a área escolhida seja integradora de todos os
processos envolvidos no objetivo da análise e que apresente certo grau de
homogeneidade, de forma que estratégias, ações e conclusões gerais possam ser
estabelecidas para toda a área delimitada. No caso de programas conservacionistas,
o principal objetivo é o controle da erosão, que consiste no processo mais
diretamente relacionado com a perda de potencial produtivo das terras agrícolas e
com a degradação dos recursos hídricos (LAO, 1990).
As ações governamentais relacionadas ao manejo e conservação dos solos e
recursos hídricos são elaboradas nesta escala. Segundo Bertolini et al (1993), em
São Paulo, “através do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, os
governos Estadual e Municipal e as associações de agricultores estão iniciando um
trabalho visando a adequar o aumento da produção de alimentos para atender ao
consumo interno e gerar excedentes para o mercado externo, melhorando o padrão
de vida do agricultor e, ao mesmo tempo, utilizando de modo racional e integrado os
recursos naturais do solo, da água, flora e fauna”.
Da mesma forma, em outros Estados, como o Paraná, há Programas de
Microbacias Hidrográficas com resultados muito positivos, principalmente na
adequação do uso e manejo das terras de maneira a proporcionar um padrão
7
agrícola economicamente viável e ambientalmente sustentável (BERTOLINI et al,
1993). Ainda segundo o mesmo autor, a bacia hidrográfica é considerada como área
de influência a partir da resolução nº 001/86 do CONAMA (Conselho Nacional do
Meio Ambiente), de 1981, passando a ser considerada como a área a ser analisada
no estudo de impacto ambiental.
2.2. Impactos causados devido a modificações no uso da terra
As principais causas de ameaças à qualidade ambiental em uma bacia
hidrográfica estão relacionadas às atividades não sustentáveis, com fins de lucro
imediato, que não computam os custos ambientais e sociais repassando-os a
terceiros. São gerados, assim, problemas ambientais diversos e interconectados que
deverão resultar em sérios prejuízos econômicos e sociais para a bacia hidrográfica.
Deve ser ressaltada, entretanto, a necessidade de serem identificadas as causas
imediatas, aquelas provenientes de ações localizadas na própria bacia hidrográfica,
e as causas mais distantes, mas não menos influentes, que provêm de ações
externas à mesma, mas modificam a sua dinâmica interna.
Os impactos de maior ocorrência em bacias hidrográficas estão associados
aos problemas de erosão dos solos, sedimentação de canais navegáveis,
enchentes, perda da qualidade de água e aumento do risco de extinção de
elementos da fauna e da flora. Dentro deste contexto, o estabelecimento de medidas
de controle e gerenciamento dos recursos naturais, através de um modelo de gestão
integrado e eficiente para responder a essas questões ambientais, torna-se uma
tarefa de grande importância.
8
Este modelo deve estar fundamentado em considerações relacionadas à
gestão de bens comuns, como a água e a biota, que, embora presentes em
propriedades particulares, a decisão sobre o uso, consumo e destruição dos
mesmos não pode ser tomada unilateralmente, por afetar outros usuários. Esta
gestão deve exprimir a preocupação em assegurar a renovação da base dos
recursos naturais, num horizonte a longo prazo, com base no desenvolvimento de
uma consciência ambiental de todos os atores sociais envolvidos que integram com
a bacia hidrográfica.
Os solos, a água e a biota da unidade de gerenciamento da bacia
hidrográfica, são bens comuns e patrimônio da união, e, neste sentido, qualquer
atividade potencialmente causadora de danos ambientais nos mesmos, deverá ser
passível de controle. A legislação nacional e os tratados internacionais em relação
ao uso da água, solo e da biodiversidade necessitam ser conhecidos,
regulamentados, aplicados e respeitados em todos os níveis de governo, por meio
de um sistema de gerenciamento ágil e dinâmico, na perspectiva de impedir
quaisquer tendências de deterioração desses recursos naturais.
2.3. Capacidade de uso das terras para fins agrícolas
O homem quando explora os recursos naturais, sempre introduz mudanças
nos mesmos, para utilizá-los conforme suas necessidades. Essas mudanças
interferem no curso natural do ambiente, gerando desequilíbrio em graus variáveis.
É de fundamental importância os esforços para o planejamento territorial que
se baseie em estudos rigorosos do meio físico e de sua dinâmica evolutiva
(SANABRIA et al., 1996). Estes estudos devem ocupar um lugar de destaque nos
9
programas de planejamento integral de desenvolvimento a fim de reduzir ou evitar
perdas sócio-econômicas e fazer disto um processo sustentado ao longo do tempo.
Neste sentido, considera-se a determinação das variáveis do meio-físico
levantadas por especialistas de diversas áreas o primeiro e imprescindível passo
para qualquer ação de planejamento (CÂMARA, 1993; BERTOLANI et al., 1997;
MOREIRA, 1997; SILVA et al., 1997).
A aplicabilidade do planejamento do uso das terras abrange vários níveis,
desde o da propriedade agrícola até o nacional. Nos âmbitos mais gerais como o
nacional ou regional, o planejamento permite identificar alternativas de
desenvolvimento, em função das necessidades e condições sócio-econômicas, já
em áreas específicas como microbacias hidrográficas e propriedades agrícolas, ele
provê subsídios para adequar as terras às várias modalidades de utilização
agrosilvopastoris (WEILL, 1990; LEPSCH et al., 1991).
Uma pronta identificação e conhecimento das condições potenciais de
desencadeamento e desenvolvimento de uma ameaça natural permitem o
planejamento, a tomada de decisão e o dimensionamento adequado visando a
prevenção e mitigação das condições de risco. Os riscos são diretamente
relacionados à exposição da paisagem, juntamente com as intervenções antrópicas,
a fenômenos naturais que por sua magnitude têm capacidade de produzir
deterioração do ambiente e perdas totais ou parciais dos bens (MOREIRA, 1997).
A avaliação das terras é uma ferramenta que permite o planejamento da
utilização dos recursos naturais. Segundo FAO (1976), citada por Weill (1990) a
avaliação das terras é: “o processo de estimar o desempenho (aptidão) da terra,
quando usada para propósitos específicos, envolvendo a execução e interpretação
de levantamentos e estudos das formas de relevo, solos, vegetação, clima e outros
10
aspectos da terra, de modo a identificar e proceder à comparação dos tipos de usos
da terra mais promissores, em termos da aplicabilidade aos objetivos da avaliação”.
Utiliza-se o termo terra por ser um conceito mais amplo do que solo, terra
compreende todas as condições do ambiente físico, do qual o solo é apenas uma
parte (YOUNG, 1976 citado por WEILL, 1990)
No Brasil, de acordo com Weill (1990) e Marques (2000), os sistemas de
avaliação de terras, de utilização mais generalizada são: O sistema de capacidade
de uso adaptado da USDA, publicado em 4ª aproximação por Lespsch et al. (1991),
o sistema de aptidão agrícola FAO/Brasileiro, revisado e publicado recentemente por
Ramalho Filho e Beek (1995) e o sistema de capacidade de uso dos recursos
naturais renováveis, publicado pelo projeto RADAMBRASIL (BRASIL, 1983).
Com base nessas metodologias autores tem publicado trabalhos buscando a
auxiliar a tomada de decisão e conservar os recursos naturais respeitado sua
capacidade de uso.
Como suporte à utilização dessas abordagens, as técnicas de sensoriamento
remoto integrado à tecnologia de sistemas de informações geográficas, são
ferramentas de grande utilidade para a realização de pesquisas aplicadas ao estudo
de capacidade de uso das terras (SAIZ & FILHO, 1996). Os sistemas de informações
geográficas constituem uma das mais modernas e promissoras tendências de
armazenamento e manipulação de informações temáticas sobre recursos naturais
terrestres, em complemento e até em substituição aos mapas impressos em papel,
de difícil manipulação (FORMAGGIO et al., 1992). Através do SIG, obtém-se a
sistematização de diferentes fontes de dados, em planos de informação (PI), como:
solos, geologia, topografia, uso/cobertura e outros (GIASSON et al., 1997; LIMA et
al., 1992).
11
3. ÁREA DE ESTUDO
3.1. Bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
O rio Jiquiriçá faz parte da bacia hidrográfica do Recôncavo Sul, localizada na
região Centro-Leste do Estado da Bahia. Delimitada pelas coordenadas geográficas
12 30’ e 14 15’ de latitude sul e 38 o 45’ e 40 o 25’ de longitude oeste, é integrada por
um conjunto de rios independentes, que drenam diretamente para o Oceano
Atlântico, onde se destacam os rios Jaguaripe, da Dona, Jiquiriçá, Una, das Almas,
Cachoeira Grande, Acarai e Orobó.
o o
A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá é a maior sub-bacia do Recôncavo Sul,
ocupando uma área de 6.900 km , equivalente a 39,6% da área total desta bacia
hidrográfica. Está localizada aproximadamente entre as coordenadas geográficas
12 30’ e 13 35’ de Latitude Sul, e 38 55’ e 40 25’ de Longitude Oeste, e apresenta
uma extensão total de cerca de 150 km das nascentes dos rios até a sua foz no
Oceano Atlântico, onde tem a sua desembocadura ao norte da cidade de Valença.
2
o o o o
Trata-se de uma bacia intensamente antropizada, abrangendo terras de 19
municípios, total ou parcialmente inseridos na bacia hidrográfica, com uma
população total de 331.433 habitantes dados de 1991, o que representa uma
12
densidade demográfica da ordem de 28,94 hab/km , bastante superior a média do
Estado, que é da ordem de 21 hab/km .
2
2
Fonte: SEI, 2003 Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
13
4. METODOLOGIA
Conforme Ferrari (1982) pode-se classificar esta pesquisa baseando-se
principalmente em dois critérios: na forma de utilização dos resultados, classificando-
a como aplicada e quanto ao nível de interpretação classificando-a como explicativa.
O principal método que será utilizado é o da observação tanto direta como indireta.
A seguir serão descritas as características gerais da área de estudo e
também os procedimentos metodológicos para que o objetivo geral e os específicos
sejam alcançados.
4.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1.1. Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
Para identificação dos limites da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, foi utilizada
uma imagem Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), disponível no site Global
Land Cover Facility (GLCF), com informações espaciais das diferentes altitudes da
área da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá. A imagem possui pixel de 30 m de
resolução, o que possibilitou criar mapas na escala original de 1:100.000. A imagem
SRTM é o que muitos autores denominam de modelo digital de elevação – MDE. A
14
imagem foi trabalhada no ambiente digital através do software`s Soil Water
Asssesssment Tool – SWAT, que funciona como um módulo do ArcGIS 9.2.
No processo de delimitação da bacia hidrografica, adcionou-se inicialmente
no banco de dados do SWAT o modelo digital de elevação obtido com a imagem
SRTM. Depois, seguiram-se os procedimentos conforme o guia de uso desenvolvido
por Di Luzio et al. (2002), para delimitação da bacia hidrográfica do rio Jequiriçá,
tomando como base os divisores de águas identificados pelo programa a partir do
modelo digital de elevação, dos principais cursos d`água da bacia hidrográfica e do
pondo de descarga definido para delimitação da bacia hidrográfica.
4.1.2. Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
Na caracterização da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá foram utilizadas
informações a partir da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da
Bahia – SEI de 2003, a respeito dos diferentes aspectos da bacia hidrográfica do rio
Jiquiriça: geomorfologia, clima e solos. As informações de classes de altitude e
modelo digital de elevação foram elaboradas utilizando a imagem Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM), disponível no site Global Land Cover Facility (GLCF).
O mapa de uso da terra/vegetação foi obtido a partir de dados do ano de
2007, do Ministério do Meio Ambientes através da página WEB. Os dados obtidos
foram analisados através do uso de técnicas de geoprocessamento e apresentados
na forma de mapas cujo limite é a bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá.
Foram também mapeadas as Áreas de Preservação Permanentes, utilizando
as restrições contidas no Código Florestal a partir dos mapas de declividade,
15
vegetação/uso da terra, principais nascentes e hidrografia. Os parâmetros restritivos
utilizados a partir do Código Florestal foram:
• 30 metros para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura,
• 50 metros ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais ou
artificiais,
• em um raio de 50 metros ao redor de nascentes,
• nas encostas com declividade superior a 45 graus;
• e as formações vegetais naturais protegidas por lei.
4.1.3. Caracterização socioeconômica dos municípios da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá
A caracterização da população e atividades agrícolas dos municípios da bacia
do rio Jiquiriçá foi realizada com base nas informações disponibilizadas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no período de 1970 a 2007.
Selecionou-se 17 municípios cuja sede estivesse dentro da bacia hidrográfica ou
mais de 50% da área do município estivesse dentro da bacia hidrográfica. Com
esses critérios os 17 municípios selecionados foram: Amargosa, Brejões,
Cravolândia, Elísio Medrado, Irajuba, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara, Jiquiriçá, Lage,
Milagres, Mutuípe, Nova Itarana, Planaltino, Santa Inês, São Miguel da Matas e
Ubaíra. Os dados foram coletados e depois organizados em forma de tabelas e
gráficos.
16
4.1.4. Capacidade de uso das terras para fins agrícolas
Foi utilizada a versão nacional do sistema de capacidade de uso da USDA,
intitulada “Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação das
terras no sistema de capacidade de uso”, 4ª aproximação, 2ª impressão revisada, de
1991 (LEPSCH, 1991).
Antes da classificação das terras no sistema de capacidade de uso,
recomenda-se no próprio manual um levantamento do meio físico, necessário a
qualquer metodologia de avaliação de terras para fins agrícola.
Esse sistema é uma classificação técnica-interpretativa, onde os indivíduos a
serem classificado, são agrupados em função de determinadas características de
interesse prático e específico. Esclarecendo melhor, agrupa-se terras em função da
mesma susceptibilidade a erosão, por necessidade de calagem, capacidade de uso
ou aptidão agrícola. O sistema USDA organiza-se em:
• Grupos – constituem a categoria mais elevada do sistema, representam a maior
ou menor intensidade de uso das terras, são designados em ordem decrescente
pelas letras A, B, C;
• Classes – agrupam as terras que possuem o mesmo grau de limitação e/ou
risco de degradação do solo. São designados por algarismos romanos de I a
VIII, cuja seqüência representa a diminuição da intensidade de uso das terras
(Figura 2)
• Subclasses – é a qualificação dada a classe de capacidade de uso em função
da natureza de sua limitação (Figura 3). A natureza da limitação é representada
por letras minúsculas que segue o algarismo romano da classe.
17
Convencionalmente, as limitações de uso são representadas por quatro letras
de designam as seguintes limitações:
- e: limitações pela erosão presente e/ou risco de erosão;
- s: limitações relativas ao solo;
- a: limitações por excesso de água;
- c: limitações climáticas.
Exemplos: IIe, IIs, VIIIa,s, Vs e outros.
• Unidades de capacidade de uso – as unidades de capacidade de uso
identificam as limitações representadas por letras nas subclasses. Essa
identificação é promovida colocando-se algarismos arábicos à direita do símbolo
da subclasse, separados por um hífen (Figura 3).
Exemplos: IIIs-1(limitação por problemas de profundidade), IIIs-2 (limitação
devido a testura arenosa em todo perfil), IIIe-3 (limitação por mudança textural
abrupta).
18
O esquema de organização dos Grupos e Classes apresenta-se da seguinte
forma:
Classe I:
Terras cultiváveis, aparentemente sem problemas especiais de conservação (cor convencional: verde-claro);
Classe II: Terras cultiváveis com problemas simples de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos (cor convencional: vermelho);
Classe III: Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos (cor convencional: vermelho);
Classe IV: Terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada, com sérios problemas de conservação (cor convencional: azul).
Gru
po A
Classe V: Terras adaptadas em geral para pastagens e, em alguns casos, para reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação, são cultiváveis apenas em casos muito especiais (cor convencional: verde-escuro);
Classe VI: Terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflorestamento, com problemas simples de conservação. São cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes protetoras do solo (cor convencional: alaranjado);
Classe VII: Terras adaptadas em geral somente para pastagens ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação (cor convencional: marron).
Gru
po B
Classe VIII: Terras impróprias para cultura, pastagem ou
reflorestamento, podendo servir apenas como abrigo e proteção da fauna e flora silvestre, como ambiente para recreação, ou para fins de armazenamento de água (cor convencional: roxo). G
rupo
C
19
Fonte: LEPSCH, 1991.
Figura 2 – Resumo da variação do tipo e da intensidade máxima de utilização das
terras sem risco de erosão acelerada em função das classes de capacidade de uso
das terras.
20
GRUPOS CLASSES SUBCLASSES UNIDADES DE USO
I
II
III
A
VI
V
VI
B VII
C VIII
Fonte: LEPSCH, 1991.
Figura 3 – Esquema dos grupos, classes, subclasses e unidades de capacidade de
uso das terras.
1. declividade acentuada 2. declive longo 3. mudança textural abrupta 4. erosão laminar 5. erosão em sulcos 6. erosão em voçoroca 7. erosão eólica 8. depósitos de erosão 9. permeabilidade baixa 10. horizonte A arenoso
1. lençol freático elevado 2. risco de inundação 3. subsidência em solos orgânicos
1. seca prolongada 2. geada 3. ventos frios 4. granizo 5. neve
e (exceto V)
s
a
c
1. pouca profundidade 2. textura arenosa em todo perfil3. pedregosidade 4. argilas expansivas 5. baixa saturação por bases 6. toxidade de alumínio 7. baixa capacidade de troca 8. ácidos sulfatados ou sulfetos 9. alta saturação com sódio 10. excesso de sais solúveis 11. excesso de carbonatos
21
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
A delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriça, elaborado no módulo
SWAT do ArcGIS 9.2 pode ser observado na Figura 4, juntamente com a distribuição
das sedes municipais, das rodovias e da hidrografia.
Nesta nova delimitação da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, a área calculada
foi de 706.477,32 ha ou 7.064 km2 com um perímetro de 911,56 km. A área difere de
informações oficiais que é de 6.900 km2, entretanto, como parâmetro de comparação
o mapa oficial não inclui a nascente do rio Jiquiriçá no limite da bacia hidrográfica,
que fica na sede municipal de Maracás (observar Figura 1), enquanto que nesta
nova delimitação e conferindo a precisão dos dados em campo utilizando um GPS
com um erro de 10 a 20 metros a nascente do rio Jiquiriça foi incluída no limite da
bacia hidrográfica (Figura 4).
A partir do novo limite, utilizando as técnicas de geoprocessamento foram
elaborados todos os mapas temáticos e identificadas as áreas municipais incluídas
na bacia hidrográfica.
22
Figura 4 – Mapa político da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA, apresentando o
novo limite da bacia hidrográfica determinado através do ArcGIS/SWAT.
5.2. Caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
A partir dos dados de temperatura e pluviosidade, e com base na
classificação de Koppen foram encontrados a ocorrência três diferentes climas na
bacia hidrográfica do rio Jiquiriça: o Af - equatorial (>2.000 mm de chuva); o Aw -
tropical com estação seca (800 – 2.000 mm de chuva) e o BS - semi-árido (300 –
800 mm de chuva). Os diferentes climas foram espacializados na forma de mapa
temático como é mostrado na Figura 5.
23
Figura 5 – Distribuição dos diferentes climas que ocorrem na bacia hidrográfica do
rio Jiquiriça – BA.
A maior parte da bacia hidrográfica do rio Jiquiriça, 58,18%, encontra-se sob o
clima semi-árido (BS). Os outros dois climas o equatorial e o tropical com estação
seca ocupam respectivamente 3,32% e 38,50% da área da bacia.
Segundo Dent (1980), em seus estudos sobre as limitações da produção
agrícola em várias regiões do mundo, 27% das limitações da produção na América
do Sul estão relacionados ao déficit o excesso hídrico. Desta forma, percebe-se que
o fator clima tem grande influência na limitação da produção na bacia hidrográfica do
rio Jiquiriça, tanto por conta do clima semi-árido, como também do tropical com
estação seca definida que juntos estão presentes em 96,68% da bacia hidrográfica.
24
A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá possui as seguintes unidades
morfoestruturais: Região de Acumulação, Bacia Sedimentar Recôncavo – Tucano,
Planalto Pré-Litorâneo, Planalto Sul Baiano, Depressões Periféricas e
Interplanálticas e Chapada Diamantina (Figura 6), descritos a seguir:
Fonte: Base de dados da SEI, 2003
Figura 6 – Mapa geomorfológico da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá-BA.
Região de Acumulação – são regiões litorâneas que recebem aporte de
material proveniente do continente e também da deposição de sedimentos marinhos.
Bacia Sedimentar Recôncavo – Tucano – era uma área deprecional e depois
foi preenchida por sedimentos formando a bacia sedimentar, cujo relevo varia de 100
a 500 m de altitude no caso da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá;
25
Planalto Pré-Litorâneo – localiza-se entre os tabuleiros costeiros e a encosta
do Planalto Sul-Baiano, com altitude que variam de 40 a 400 m a depender da
unidade geomorfológica que se enquadram;
Planalto Sul – Baiano – ocorre na parte central da bacia hidrográfica. Possui
superfície ondulada com altitudes médias variando entre 800 e 900m.
Depressões Periféricas e Interplanálticas – as depressões periféricas são
formadas nas regiões de contato entre estruturas sedimentares e cristalina. As
depressões interplanálticas são áreas mais baixas em relação aos planaltos que as
circundam, formando uma área de acúmulo de sedimentos.
Chapada Diamantina - Conjunto de relevos estruturais caracterizado por
morros, cristas e escarpas rochosas situadas entre 600 e 1.082 m de altitude.
Foram também elaborados os mapas de classes de altitude e de declividade
da área de estudo (Figuras 7 e 8).
As classes de altitude variam desde o nível médio dos mares até uma altitude
de 1.082 m no município de Maracás onde está a nascente do rio Jiquiriçá (Figura
7).
No mapa de declividade são mostradas as diferentes classes de relevo que
se encontra na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, desde o relevo plano até o
escarpado (Figura 8). Observa-se também que as maiores declividades encontram-
se no centro da bacia hidrográfica, corroborando com as informações das unidades
morfoestruturais, nas quais se percebe que há um desnível entre o Planalto Pré-
Litorâneo (40 a 400 m de altitude) e o Planalto Sul-Baiano (800 a 900 metros de
altitude). É nesta mesma região que aparece a isolinha separando o clima tropical
com estação seca do clima semi-árido (Figura 5), levando a conclusão que nesta
região há ocorrência de uma barreira orográfica.
26
Figura 7 – Mapa de classes de altitude da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá - BA.
Figura 8 – Mapa de classes de declividade da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá - BA.
27
Foram identificadas seis classes gerais de solos na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá: Latossolos, Argissolos, Planossolos, Cambissolos, Espodossolos e
Neossolos (Figura 9).
Fonte: Base de dados da SEI, 2003
Figura 9 – Mapa pedológico da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
De acordo com Bahia (2001), os Latossolos são solos que possuem horizonte
diagnóstico do tipo B latossólico com boas condições de drenagem, possui um
estádio avançado de intemperização, são profundos e apresentam pouca
diferenciação entre seus horizontes, ocorre geralmente em relevos planos ou
levemente ondulados.
28
Os Argissolos possuem horizontes diagnósticos subsuperficial do tipo B
textural, apresenta um acúmulo maior de argila no horizonte B e tem uma transição
entre o horizonte A e B menos friável. São solos de profundidade variável que
ocorrem em relevos ondulados a fortemente ondulados.
Os Cambissolos são solos que apresentam grande variação no tocante a
profundidades, ocorrendo desde rasos a profundos, apresentam um horizonte B
diagnóstico com menos de 50 cm denominado B incipiente (Bi) apresentam cores
diversas e muitas vezes são pedregosos, cascalhentos e mesmo rochosos.
Os Espodossolos são solos bastante característicos, em razão de sua
formação. Apresentam diferenciação significativa entre os horizontes, e, na maioria
das vezes, têm um horizonte espódico de cores escurecidas ou
avermelhadas/amareladas, precedido de um horizonte claro eluvial E de onde houve
migração de partículas orgânicas e/ou de material argiloso. Ocorrem em relevo
plano.
Neossolos são solos constituídos por material mineral ou material orgânico
pouco espesso (menos de 30 cm de espessura), sem apresentar qualquer tipo de
horizonte B diagnóstico. No caso da bacia hidrográfica do rio Jiquiriça identificou-se
a presença do Neossolo Quartizarêncio que possui textura areia e o Neossolo
Litólico Eutrófico que são solos rasos com mais de 50% de bases, ou seja, solos
férteis do ponto de vista químico.
Os Planossolos compreendem solos minerais, imperfeitamente ou
maldrenados, com horizonte superficial ou subsuperficial eluvial (perde material para
as camadas mais profundas), de textura mais leve (mais arenosos) que contrasta
abruptamente com o horizonte B, de forma que a diferença de textura do horizonte A
para o B impede o bom desenvolvimento das raízes e da infiltração da água.
29
Quantitativamente, os Latossolos ocupam 75,8% da área da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá (Tabela 1), que associado ao clima semi-árido
predominante, restringem a utilização das terras na maior parte das áreas da bacia
hidrográfica, necessitando a aplicação de tecnologias de produção para obtenção de
melhores produtividades. Os Argissolos ocupam 16,93 % da área da bacia
hidrográfica sendo comum a ocorrência deste em relevo ondulado e fortemente
ondulado (Figura 8 e 9).
Tabela 1 – Distribuição das classes gerais de solo em percentual na bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
Classe de Solo Percentual
Latossolo 75,80
Argissolo 16,93
Cambissolo 1,94
Espodossolo 0,67
Planossolo 2,86
Neossolo 1,80
Total 100,00
Com relação ao uso da terra, foram identificadas as seguintes classes de uso
da terra: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional
Semidecidual, Agricultura, Pecuária (pastagem), Área de Influência Urbana, Corpos
D’dágua e Área coberta por Nuvens (Figura 10 e Tabela 2).
30
Fonte: Base de dados do MMA, 2007
Figura 10 – Classes de uso da terra na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá–BA.
Tabela 2 - Distribuição das classes de uso das terras em percentual na bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
Classe de Uso da Terra Percentual
Floresta Ombrófila Densa 3,47 Floresta Estacional Decidual 5,05 Floresta Semidecidual 0,21 Savana- Estépica 8,51 Agricultura 3,09 Pecuária (pastagem) 79,52 Área de Influência Urbana 0,09 Corpos D’dágua 0,01 Área coberta por Nuvens 0,05
Total 100,00
31
A classe de uso predominante na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá é a
Pecuária (pastagem). Percebe-se também que existe ainda uma grande extensão da
formação Savana – Estépica, comumente denominada caatinga, principalmente ao
norte da bacia hidrográfica (Figura 10). Enquanto que as formações Floresta
Ombrófila Densa, Floresta Estacional Decidual e Floresta Estacional Semidecidual
encontram-se muito fragmentadas em toda a extensão da bacia hidrográfica.
Na determinação das Áreas de Proteção Permanentes garantida por lei,
foram encontrados 128.559 ha que deveriam ser Áreas de Preservação
Permanentes (Figura 11).
Na Tabela 3 é demonstrada a quantidade em hectares de Áreas de
Preservação Permanente que deveria ser preservada, entretanto, efetivamente não
estão. Observa-se que 87,07% ou 5.771,85 das Áreas de Preservação Permanente
do tipo mata ciliar que deveriam ser preservada e não estão. Da mesma forma, há
um déficit nas áreas com declividade maior que 450 e nas áreas das nascentes dos
principais rios.
Por outro lado toda área de remanescentes florestais que existe está sendo
preservada, porque, quando foi feita a restrição do Código Florestal para a
classificação desta imagem do ano de 2007, a fragmentação da vegetação original
já existia, por isso, os números para remanescente florestal estabelecidos por lei e
efetivamente preservados são os mesmos.
32
Fonte: Base de dados do MMA,2007
Figura 11 – Mapa das Áreas de Preservação Permanentes sobre as classes de usos
da terra da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
Tabela 3 – Área de Preservação Permanente da bacia hidrográfica do rio Jiquiriça
estabelecida pela legislação e as áreas efetivamente preservadas.
Área de Preservação Permanente Área estabelecida
por lei para preservação (ha)
Área efetivamente
preservada (ha)
Remanescentes Florestais 121.774,43 121.774,43 Matas Ciliares 6.629,07 857,22 Declividade > 450 134,35 33,64 Nascentes (princ. rios) 21,15 2,35
Total 128.559,00 122.667,64
33
Entretanto se fossem consideradas as reservas legais que deveriam existir
nas propriedades em um percentual de 20% estabelecidos por lei, pode-se estimar a
área da reserva legal para toda bacia que deveria ser de 141.295.46 ha, enquanto
que existe efetivamente uma cobertura vegetal natural de 128.559 ha, ou seja,
nessa rápida estimativa foi encontrada uma área de 12.736,46 ha que deveria ser
reserva legal e que já não existe mais.
5.3. Caracterização socioeconômica da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
Para um conhecimento da dinâmica populacional e das principais atividades
agropecuária desenvolvidas na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, realizou-se uma
caracterização socioeconômica da área estudada, respeitando os critérios
estabelecidos na metodologia, para coleta de dados por município das informações
apresentadas.
No que diz respeito a dinâmica populacional, na Figura 12 observa-se a
distribuição da população urbana e rural de 1970 a 2007 da bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá. Do ano de 1970 ao ano de 2007 a população residente na bacia
hidrográfica aumentou 35,39 %, entretanto a condição da situação do domícilio da
população mudou, enquanto que em 1970 a situação do domícilio era em sua
maioria rural no ano de 2007 a situação da população passou a ser urbana.
Comparando esses dados com os dados de uso da terra onde a classe
predominante foi a Pecuária (pastagem) ocupando 79,52% da área, pode-se afirmar
que este é um dos fatores que tem contribuído para alteração da situação dos
domicílios (de rural para urbano), devido a baixa absorção de mão-de-obra da
pecuária extensiva.
34
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
1970 1980 1991 1996 2000 2007
Ano
Núm
ero
de H
abita
ntes
UrbanaRuralTotal
Fonte: IBGE, 2008
Figura 12 – População urbana e rural nos anos de 1970 a 2007 na bacia hidrográfica
do rio Jiquiriçá – BA.
Corroborando também com os dados de uso da terra/vegetação determinados
anteriormente, a Figura 13 mostra a utilização das terras em 1996 e 2006, conforme
dados do IBGE para os municípios que segundo os critérios estabelecidos na
metodologia fazem parte da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá. A maior parte das
terras estava sendo utilizada com Pastagens, seguido pela classe de Matas,
Lavouras Temporárias e Lavouras Permanentes.
Destaca-se também que em dez anos de ocupação, 1996 a 2006, a área das
Lavouras Permanente não se alterou. Por outro lado as áreas de Lavoura
Temporária e Pastagem diminuíram no mesmo período que ouve a mudança da
situação geral dos domicílios de rural para urbana (Figura 13 e 12). Neste mesmo
período a classe de ocupação das terras Matas aumentou, provavelmente devido as
35
áreas de pastagens que foram abandonadas, formando capoeiras e depois Matas
(Figura 13).
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
400.000
Lavouraspermanentes
Lavourastemporárias
Pastagens Matas
Áre
a em
ha
19962006
Fonte: IBGE, 2008
Figura 13 – Ocupação das terras na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
Na atividade pecuária, a criação de gado através de manejo extensivo
destaca-se em relação as outras criações. Entretanto, na Figura 14 os dados
apresentados mostram que a atividade pecuária diminuiu no período de 1990 a
2005. Este fato deve-se a baixa capacidade de suporte das pastagens por conta de
solos pobres e do clima semi-árido e tropical com estação seca que predominam na
área, associado a um manejo inadequado, tem contribuído para essa diminuição da
produção de cabeças de gado.
Outras atividades de pecuária desenvolvidas na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriça são as criações de suínos, ouvinos, caprinos e aves (Figura 15a e 15b).
Todas elas têm aumentado nos dois últimos anos analisados, 2000 e 2005, devido
ao aumento da demanda por parte da população.
36
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
Bovino Bubalino Eqüino Asinino Muar
Núm
ero
de c
abeç
as1990199520002005
Fonte: IBGE, 2008
Figura 14 – Efetivo do rebanho bovino no período de 1990 a 2005 na bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
Suino Ovino Caprino
1990199520002005
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
400000
450000
500000
Galinhas Galos, Frangas, Frangos e Pintos
Nú
mero
de c
ab
eças
1990199520002005
a b
Fonte: IBGE, 2008
Figura 15 – Outras atividades de pecuária no período de 1990 a 2005 na bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA (a e b).
37
A principal atividade da Lavoura Temporária na bacia hidrografia do rio
Jiquiriçá é o cultivo da mandioca (cultura de subsistência) que tem variado sua
produção ao longo do tempo analisado, devido principalmente a oscilação do preço
dos seus subprodutos como, por exemplo, a farinha. Outras culturas que se
destacam são as seguintes: abacaxi, cana-de-açucar e tomate, esta última
principalmente no município de Jaquaquara, que é um grande produtor de hortaliças.
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
400000
450000
Abacaxi (Mil frutos) Cana-de-açúcar(Tonelada)
Tomate (Tonelada) Mandioca(Tonelada)
Ano
Prod
ução 1990
199520002005
Fonte: IBGE, 2008
Figura 16 – Principais produtos da Lavoura Temporária nos anos de 1990 a 2005 da
bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
Ainda no leque de produtos da Lavoura Temporária se destacam: o
amendoim, batata-doce, algodão, cebola, fumo e melancia. Mostrando que alguns
municípios da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá têm sua produção bastante
diversificada.
38
A diversificação também se dá quando se observa a produção das áreas
ocupada com Lavoura Permanente (Figura 17). Nos anos de 2000 e 2005 o cultivo
do maracujá foi destaque na área da bacia hidrográfica (Figura 17). Além dessas
apresentadas na Figura 17, uma grande quantidade de outras culturas está presente
na área da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá em uma escala menor, como por
exemplo: limão, uva, urucum, sisal, guaraná, borracha, manga e outros.
0
50000
100000
150000
200000
250000
Bana
na(T
onel
ada)
Cac
au (e
mam
êndo
a)(T
onel
ada)
Caf
é(b
enef
icia
do)
(Ton
elad
a)
Lara
nja
(Ton
elad
a)
Coc
o-da
-baí
a(M
il fru
tos)
Mar
acuj
á(T
onel
ada)
Den
dê (c
oco)
(Ton
elad
a)
Ano
Prod
ução 1990
199520002005
Fonte: IBGE, 2008
Figura 17 – Principais produtos da Lavoura Permanente nos anos de 1990 a 2005
da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá – BA.
Apesar da diversidade de produtos agrícolas produzidos na bacia hidrográfica
do rio Jiquiriçá, estes se concentram em áreas maiores, nas porções Norte e Sul da
bacia hidrográfica conforme o mapa de uso da terra/vegetação apresentado na
Figura 10.
39
5.4. Capacidade de uso das terras da bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá
O mapa de capacidade de uso das terras para fins agrícolas foi elaborado a
partir da interação das condicionantes ambientais da bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá. De acordo com a aplicação metodologia de LEPSCH (1991), foram
encontradas seis classes de uso das terras e dez unidades de uso (Figura 18 e
Tabela 4).
Figura 18 – Mapa de capacidade de uso das terras na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá – BA.
40
Tabela 4 – Classes e unidades de uso das terras e seu percentuais na bacia
hidrográfica do rio Jiquirçá – BA.
Classes de Uso Unidades de Uso Percentual
I Is-5 1,04
IIc-1 33,68
IIe-1 30,33 II
IIs-4 7,35
IV IVs-2 5,65
V Vs-2 0,53
VIIe-3 1,51
VIIs-1 1,55 VII
VIIs-2 0,37
VIII VIII 17,99
Total 100,00
Na Tabela 4, observa-se que 71,36% das áreas na bacia hidrográfica do rio
Jiquiriçá pertencem a Classe II de uso das terras que são terras cultiváveis com
problemas simples de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos. Isso
demonstra do grande potencial que a bacia hidrográfica tem para cultivos.
Comparando visualmente os mapas de capacidade de uso e uso das terras, pode-se
concluir que a maior parte das terras que tem potencial para cultivos estão sendo
utilizadas para pastagens extensivas (Figuras 18 e 10).
Uma grande área da unidade IIs-4 que é de cultivos com problemas simples
de conservação cuja limitação é a ocorrência de erosão laminar, ao norte da bacia,
estão justamente sobre os Argissolos Vermelho-Amarelos Eutróficos (solos de boa
41
fertilidade). Também nessa área encontra-se o uso da terra com cultivos agrícolas.
Nesta área o uso da terra está compatível com a capacidade de uso das mesmas.
De acordo com o sistema utilizado para classificação das terras segundo sua
capacidade de uso, apenas 3,96% da bacia tem capacidade de uso compatível para
pastagens. Entretanto, grande parte das terras é utilizada com pastagem, fazendo
com que essas áreas sejam enquadradas como subutilizadas segundo a
classificação de Lespsch et al. (1991).
As áreas destinadas a preservação da fauna e flora, Classe VIII, representa
17,99% da área da bacia hidrográfica, essas áreas são principalmente os
remanescentes das Florestas e Savana-Estépica identificadas no mapa de uso da
terra (Figura 10).
42
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá possui 7.064 km2 e uma diversidade
grande de ambientes da sua foz até a nascente em Maracás. Importante bacia
hidrográfica do Recôncavo Sul possui uma população estimada de 260.000
habitantes em 2007 (dados do IBGE).
Na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá há um predomínio do clima semi-árido,
58,18% da área, que devido a falta de aplicação de tecnologias, como por exemplo,
a irrigação, tem limitado uma maior produção agrícola. Associado ao clima semi-
árido, 75,80% da bacia hidrográfica possui solos pertencentes à classe dos
Latossolos, que têm boas características físicas: profundidade e permeabilidade,
entretanto, são pobres quimicamente.
Quanto a vegetação e ao uso da terra, observa-se que 79,52%, pertencem a
classe de vegetação/uso da terra identificada como Pecuária (pastagem). A pecuária
praticada na bacia hidrográfica é de manejo extensivo no sistema de queima anual
das pastagens, diminuindo a cada ano a capacidade de suporte animal das mesmas
e consequentemente a produtividade. Isto está refletido na diminuição do número de
cabeças de gado entre 1990 a 2005.
Outras atividades agrícolas na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá que se
destacam com uso de tecnologias são: na região Norte a produção de Café e
43
Mandioca e na região Sul lavouras temporárias, principalmente hortaliças e também
a Mandioca.
Quando se realizou a interação das condicionantes ambientais da bacia
hidrográfica do rio Jiquiriçá gerando o mapa de capacidade de uso das terras da
bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, percebe-se o potencial da mesma. Encontrou-se
que 71,36% das áreas na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá pertencem a Classe II de
uso das terras que são terras cultiváveis com problemas simples de conservação
e/ou de manutenção de melhoramentos, ou seja, pode ser cultivado com culturas
temporárias, entretanto a limitação de déficit hídrico e da pobreza química do solo
requer investimentos tecnológicos para produção.
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTOLANI, F. C.; ROSSI, M.; PRADO, H. do. Utilização de um sistema de informação geográfica, no levantamento pedológico semidetalhado do município de Vera Cruz. In: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 26., Rio de Janeiro, 20 a 26 de julho de 1997, Anais . . . , Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997. (CDROOM) BERTOLINI, D.; LOMBARDI NETO, F.; DRUGOWICH, M.I. Programa estadual de microbacias hidrográficas. Campinas: CATI 1993. 16p. BRASIL - Ministério das Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL. Folha SF23/24 Rio de Janeiro/Vitória. Rio de Janeiro, 1983. 775p. BUSSCHER, W.J.; REEVES, D.W.; KOCHHANN, R.A.; BAUER, P.J.; MULLINS, G.L.; CLAPHAM, W.M.; KEMPER, W.D.;GALERANI,P.R. Conservation farming in southern Brazil: using cover crops to decrease erosion and increase infiltration. Journal of Soil and Water Conservation, v.51, n.3, p.188-192, 1996. CALIJURI, M. L.; MEIRA, A. D.; PRUSKI, F. F. Geoprocessamento aplicado aos recursos hídricos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 1998, Poços de Caldas. Anais... Poços de Caldas: [s.n.], 1998. CÂMARA, G. . Anatomia de Sistemas de informações geográficas: visão atual e perspectivas de evolução. In: ASSAD, E.D. & SANO, E.E., coords. Sistema de Informações Geográficas: Aplicações na Agricultura. Planaltina: EMBRAPA-CPAC. 1993. 274p COELHO NETTO, A.L. Hidrologia de encostas na interface com a Geomorfologia. capítulo 3. In: Guerra, A.J.T. & Cunha, S.B. (org.) Geomorfologia: uma atualização de e bases conceitos. Ed. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1994. p. 93-148. CUNHA, S.B. e GUERRA, A.J. Degradação ambiental. In: CUNHA, S.B. & GUERRA, A.J. Geomorfologia e Meio Ambiente. rio de janeiro, Bertrand do Brasil, 1997. p. 337-374.
45
DENT, F.J. Major production systems and soil related constraints in southeast Asia. In: INTERNATIONAL RICE RESEARCH INSTITUTE (Los Baños, Filipinas). Priorities for alleviating food production in the tropics. Los Baños, 1980. p.79-106. DI LUZIO, M.; SRINIVASASAN, R.; ARNOLD, J.G.; NEITSCH, S.L. Arc view Interface For SWAT 2000: User`s Guide: Version 2002. Temple: Blackland Research Center, Texas Agricultural Experiment Station, 2002.345p FERRARI, A. T. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo: McGrawHill do Brasil, 1982. 318p. FORMAGGIO, A R.; ALVES D. S. ; EPIPHANIO J. C. N. . Sistemas de informações geográficas na obtenção de mapas de aptidão agrícola e de taxa de adequação de uso das terras. R. bras. Ci. Solo. Campinas – São Paulo, 16(2):249-256, 1992. GIASSON E. ; JONGVAN LIER Q. de; SCHNEIDER P. . Avaliação do efeito de diferentes ajustes na digitalização de mapas. R. bras. Ci. Solo, Campinas – São Paulo, 21(2):321-324, 1997. GOVERNO ESTADO DA BAHIA, Secretaria de Recursos Hídricos e Superintendência de Recursos Hídricos. Plano Diretor de Recursos Hídricos – Bacia do Recôncavo Sul, vol. 1 à 8, 1995. HAMLETT, J. M., MILLER, D. A., DAY, R. L., PETERSEN, G. W., BAUMER, G. M., AND RUSSO, J. ‘‘Statewide GIS-based ranking of watersheds JOURNAL OF HYDROLOGIC ENGINEERING/NOVEMBER/DECEMBER 2001 / 523 for agricultural pollution prevention.’’ J. Soil and Water Conservation, 47, 300–404, 1992. LAO, R. Soil Erosion in the Tropics: Principles and Management. McGraw Hill, Inc., New York, 1990. LEPSCH, I.F.; BELLINAZZI JR., R.; BERTOLINI, D.; ESPÍNDOLA, C.R. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. 4ª aproximação, 2ª imp. rev. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1991. 175p. LIMA, E. R. V.; KUX H. J. H.; SAUSEN T. M. . Sistema de informações geográficas e técnicas de sensoriamento na elaboração de mapas de riscos de erosão no sertão da Paraíba. R. bras. Ci. Solo, Campinas – São Paulo, 16 (2):257-263, 1992. MARQUES, A. F. S. e M. Geoambientes, solos, avaliação e uso atual das terras na bacia do Rio Alcobaça, MG e BA. Viçosa UFV, 2000. 167p. (Tese Doutorado) MOLDAN, B. AND CERNY, J. Biogeochemistry of small catchments - a tool for environmental research. Scientific Committee on Problems of the Environment (SCOPE), Vol. SCOPE 51, Wiley,1994. MOREIRA, M. L. O. A geologia no diagnóstico ambiental de São Gabriel do Oeste - MS. In: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 26., Rio de Janeiro, 20 a 26 de
46
julho de 1997, Anais . . . , Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997. (CDROOM) RAMALHO FILHO, A.; BEEK K. J. Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras. 3ª edição. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura e Abastecimento e da Reforma Agrária – MAARA, Empresa de Pesquisa Agropecuária – EMPRAPA, Centro Nacional de Pesquisa de Solos – CNPS, 1995. 65p. SAIZ C. del C.; VALÉRIO FILHO M. . Técnicas de geoprocessamento aplicadas ao levantamento e integração de dados do meio físico como subsídio ao planejamento conservacionista. In: Congresso Latino Americano de Ciência do Solo, 13., Águas de Lindóia – São Paulo, 04 a 08 de agosto de 1996, Anais . . . , ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” USP, Departamento de Ciência do Solo, Piracicaba – SP – Brasil, 1996 (CD-ROM). SANABRIA, J. A.; ARGUELLO, G. L.; MANZUR, A. . Aplicacion del metodo de susceptibilidad a la erosion de van zuidan y cancelado en la cuenca baja del arroyo San Agustin Cordoba, Argentina. In: Congresso Latino Americano de Ciência do Solo, 13., Águas de Lindóia – São Paulo, 04 a 08 de agosto de 1996, Anais . . . , ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” USP, Departamento de Ciência do Solo, Piracicaba – SP – Brasil, 1996. (CD-ROOM) SILVA, A. B. da; BRITES, R. S.; SOUZA A. R. de. Caracterização do meio físico da microbacia Quatro Bocas em Argelim - PE e sua quantificação usando um sistema de informações geográficas. In: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 26., Rio de Janeiro, 20 a 26 de julho de 1997, Anais . . . , Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1997. (CDROOM) TEIXEIRA Wilson et al Decifrando a Terra São Paulo ed. Oficina de Textos, 2000. 2º Reimpressão, 2003. 568 p. WEILL, M. de A. M. Metodologias de avaliação de terras para fins agrícolas. R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, 52 (4) 127-160, out./dez., 1990.
F363 Fernandes, Natanaildo Barbosa. Capacidade de uso das terras na bacia hidrográfica do rio Jiquiriçá, Recôncavo Sul da Bahia / Natanaildo Barbosa Fernandes. – Ilhéus, Ba : UESC/PRODEMA, 2008. xi, 46f. : il. Orientador: Maurício Santana Moreau. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Bibliografia: f. 44-46.
1. Solo – Uso – Jiquiriçá, Rio, Bacia (BA). 2. Solos – Aptidão agrícola. 3. Bacia hidrográfica – Jiquiriçá, Rio (BA). 4. Levantamento do solo – Jiquiriçá, Rio, Bacia (BA). I. Título. CDD 631.47
top related