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N o v e m b r o d e 2 0 1 0 • T a x V i e w • 1
E d i ç ã o E s p e c i a l • N o v e m b r o d e 2 0 1 0 • N ú m e r o 3 3
Tax View
Governo preparapacote de isenções
tributárias paraa Copa de 2014
p á g i n a 3Polêmica sobre a
incidência do FGTS para expatriados
p á g i n a 4Escrituração fi scal
digital de PIS/Cofi ns entra em vigor em janeiro
p á g i n a 16
Reforma TrabalhistaMudança de governo reacende
debate sobre reforma trabalhista.
Nova bancada federal com maior
participação de empresários tende
a reforçar a discussão pela
diminuição dos altos encargos
trabalhistas e consequente elevação
da competitividade das empresas.
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Os benefícios previstos no projeto de
lei incluem a isenção de tributos federais
como, por exemplo, o IRPJ (Imposto
de Renda das Pessoas Jurídicas),
a CSLL (Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido), o IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados), o Imposto
de Importação (II), a contribuição
ao PIS (Programa de Integração Social),
a COFINS (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social)
e a CIDE (Contribuição de Intervenção
de Domínio Econômico), além
da isenção sobre taxas aduaneiras
incidentes sobre as importações de bens
ou mercadorias para uso ou consumo
exclusivo na organização e realização
dos eventos, tais como: alimentos,
suprimentos médicos, troféus, medalhas,
estatuetas, bandeiras, material
promocional, impressos e folhetos.
As pequenas e médias empresas
brasileiras podem ser benefi ciadas
indiretamente por essas isenções,
na opinião de Wanderlei Ferreira, sócio
de Tributos da Ernst & Young Terco.
O executivo explica que essas empresas
estão inseridas na cadeia de fornecedores
de setores que serão estimulados
por conta da Copa e, dessa forma, terão
um benefício indireto em seu negócio.
Também está em tramitação no Congresso
a Lei Complementar nº 579, que trata
da isenção do Imposto Sobre Serviços
(ISS) por parte dos municípios.
Em linhas gerais, este projeto autoriza
os municípios e o Distrito Federal a
concederem isenções de ISS referentes a
transações relacionadas aos eventos.
Em tramitação no Congresso desde
maio, o Projeto de Lei 7.422 propõe
a desoneração de diversos tributos
federais no período entre 1º de janeiro
de 2011 e 31 de dezembro de 2015,
em uma renúncia fi scal estimada em
R$ 1 bilhão em favor da FIFA e de outras
pessoas jurídicas e físicas, incluindo
a subsidiária da FIFA no Brasil. Os
benefícios estão vinculados às operações
relacionadas com atividades essenciais
à organização e à realização da
Copa das Confederações em 2013
e da Copa do Mundo de 2014
e fazem parte do compromisso
que o Brasil assumiu quando
foi eleito país-sede dos eventos.
O objetivo do projeto de lei é
garantir um impacto tributário nulo
para a realização dos eventos e, em
algumas situações, alcança também
empresas brasileiras que transacionarem
com a FIFA e outras entidades
relacionadas a ela.
“Devido à complexidade do
sistema tributário brasileiro,
acredito que haverá muitas
oportunidades para serviços
de assessoria tributária e
tax compliance, tendo em vista
que a FIFA é uma entidade
suíça e certamente precisará
de auxílio para compreender
e usufruir as isenções a
que terá direito durante a
realização do evento, assim
como para se relacionar
com as autoridades fi scais
brasileiras”, analisa Sergio
André Rocha, sócio de Tributos da
Ernst & Young Terco. As oportunidades
para a área de consultoria também
se estendem para Human Capital
e serviços relacionados à importação,
de acordo com o sócio.
você está recebendo uma edição
especial do Tax View que busca celebrar
a integração da Ernst & Young Terco.
Daí a versão impressa. O informativo
que você conhece, na versão eletrônica,
ganha agora o formato papel para
abordar o processo de integração pelo
qual passamos, e melhor refl etir o novo
posicionamento que a Ernst & Young
Terco assume no mercado. A edição
traz ainda análises aprofundadas
sobre temas tributários relevantes
e sobre o momento atual do País
em termos econômicos e políticos,
que é único. É importante que os
empresários e a comunidade econômica
estejam atentos aos temas que
devem estar na pauta de discussão
do novo governo nos próximos meses.
Um deles diz respeito à realização
da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
O Tax View é uma publicação destinada a clientes e colaboradores da Ernst & Young Terco que aborda assuntos e questões relevantes para as empresas nas áreas de legislação tributária e legal, jurisprudência, tendências e oportunidades da economia. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de decisões por parte das organizações. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso concreto.
Você pode participar enviando suas dúvidas e sugestões para ernstyoung@br.ey.com
Edição EspecialNovembro de 2010Número 33
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A renúncia fi scal em
nome da FIFA e entidades
coligadas pode chegar
a R$ 1 bilhão e gerar
oportunidades de serviços
de assessoria tributária
e tax compliance
Governo prepara pacote de isenções tributárias para a Copa
M E G A E V E N T OE D I T O R I A L
Para mais informações, entre em contato com:
Sergio Andre Rochasergio.andre@br.ey.com
Wanderlei Ferreirawanderlei.ferreira@br.ey.com
Por conta do megaevento, o governo
está preparando um pacote de isenções
em favor da FIFA e suas entidades
relacionadas que pode chegar a
R$ 1 bilhão. Dois projetos de lei estão
em tramitação no Congresso visam
isentar de tributos federais e ISS
algumas atividades essenciais ligadas
à realização dos jogos. O objetivo
é garantir um impacto tributário nulo
ao evento e faz parte do compromisso
que o Brasil assumiu com a FIFA
quando foi eleito país-sede.
Outro tema a que as empresas
precisam estar atentas diz respeito ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS). O Ministério do Trabalho
tem orientado seus fi scais a recolher
o FGTS sobre a remuneração no exterior
dos funcionários expatriados que
trabalham no Brasil. Apesar de não
haver nenhuma lei que justifi que essa
cobrança, ela tem sido praticada,
e as multinacionais são as mais
visadas pela fi scalização. Isso porque
o Ministério do Trabalho dispõem
de informações sobre a remuneração
que o expatriado irá receber no Brasil
e também no exterior, pois essas
informações constam nos vistos de
trabalho emitidos para os estrangeiros.
Dessa forma, a fi scalização já sabe
em quais empresas ela irá encontrar
funcionários que recebem parte
de sua remuneração no exterior.
Trazemos ainda informações preciosas
sobre a Escrituração Fiscal Digital de
PIS e Cofi ns (EFD – PIS/Cofi ns) e uma
análise aprofundada sobre as regras
brasileiras de subcapitalização.
Em termos de políticas econômicas,
a eleição da nova presidente da
República, Dilma Rousseff, traz à
tona antigas questões que precisam
ser resolvidas com urgência para
que o País avance e se destaque cada
vez mais no ambiente competitivo
global. A reforma trabalhista se insere
nesse contexto. Hoje, os encargos
trabalhistas tributam mais de 100%
do salário do funcionário e o País
segue o regime trabalhista estatutário,
com as regras previstas na Constituição,
o que torna toda e qualquer modifi cação
muito complexa e demorada.
As relações de trabalho têm sido pauta
de discussão de governos não apenas
no Brasil. Países como França, Espanha
e China também vêm promovendo
mudanças em seus sistemas trabalhistas.
A recente crise econômica mundial,
sem dúvida, colocou esse assunto
em pauta, uma vez que os países estão
cada vez mais preocupados com sua
competitividade global.
Ainda no campo da competição,
estamos vivendo no Brasil mais uma
batalha da “guerra fi scal”. Essa edição
trata da disputa entre os estados,
que dessa vez, está sendo travada
nos portos e aeroportos. O fato de
o Real estar valorizado frente ao dólar
tem criado um estímulo natural
às importações — que acumulam alta
de 43,8% até outubro em comparação
ao mesmo período do ano passado —
e os estados têm oferecido benefícios
fi scais para estimular tais operações
de importação em seus territórios.
Esses são temas que identifi camos
como de relevância para sua melhor
refl exão nesse número do Tax View.
Boa leitura.
Eliézer Serafi ni
Caro leitor,
Sócio coordenadorJosé M. R. Silva
Coordenador editorialClaudio Yano
Jornalista responsávelRoseli Loturco (MTB 25.529/110/12/SP)
ReportagemKatia Hochman
Projeto gráfi coAlex Rossetto
Diretor de arteAndre Scigliano
Edição fi nal e distribuiçãoDepartamento de Comunicação e Gestão da Marca
Eliézer Serafi niSão Paulo / Campinas eliezer.serafi ni@br.ey.com
Alfredo NetoRio de Janeiro alfredo.t.neto@br.ey.com
Rogério SimõesNorte/Nordesterogerio.c.simoes@br.ey.com
Alessandro LacerdaBelo Horizonte/Goiânia/Brasília alessandro.m.lacerda@br.ey.com
Eneas MoreiraCuritibaeneas.moreira@br.ey.com
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Determinação doMinistério do Trabalho gera
polêmica sobre incidência do FGTS na remuneração
do exteriorEmbora a instrução da SIT tenha sido
publicada em julho, as primeiras
autuações foram verifi cadas
primordialmente a partir de setembro/
outubro. “Uma outra questão que coloca
as empresas em uma situação delicada
é o fato de o Ministério do Trabalho
ter conhecimento da remuneração
que o expatriado irá receber no Brasil
e no exterior durante o período
de permanência a trabalho no País”,
diz Good God. Isso porque informações
relacionadas à remuneração dos
estrangeiros devem constar nos
respectivos pedidos de visto. Em outras
palavras, a fi scalização faz um dever
de casa antes de iniciar as fi scalizações.
Já sabe em quais empresas ela irá
encontrar empregados que recebem
parte de sua remuneração no exterior
e os respectivos valores.
Ainda, mesmo que a empresa entenda
serem devidos o Fundo de Garantia e a
Contribuição Social de 0,5%, a princípio
não há como pagá-los, por falta de
um campo ou uma sequência específi ca
para esse fi m na GFIP. Regra geral,
somente a parcela efetivamente paga
pela empresa brasileira seria reportada
na GFIP, corroborando novamente
o entendimento de diversas empresas
multinacionais de que o FGTS não seria
devido sobre a parcela do exterior.
Como agir?
Por tanta nebulosidade em torno deste
tema, é consenso entre departamentos
jurídicos de empresas e advogados
externos que há duas frentes de reação:
a primeira via administrativa em resposta
a uma eventual autuação fi scal do
trabalho, e a segunda via judicial
em face da ausência de legislação federal
clara e específi ca quanto à incidência de
FGTS ou de Contribuição Social sobre a
parcela de remuneração paga no exterior.
Encargos sociais impactam expatriações
A incidência de FGTS e de Contribuição
Social sobre a remuneração de
estrangeiros que trabalham no Brasil
não é a única preocupação de empresas
multinacionais que contam com
expatriados em altos cargos executivos.
O fl uxo inverso, de brasileiros no
exterior, também está causando dor
de cabeça aos departamentos de
recursos humanos, fi nanceiro e jurídico.
Recentemente, a chamada “Lei Mendes
Júnior” (Lei 8.064/84, atualizada
pela Lei 11.962/2009) obrigou as
companhias a arcar, no Brasil, com as
obrigações tributárias e previdenciárias
dos funcionários brasileiros que
trabalham temporariamente no
exterior. “A lei criou difi culdades para
a expatriação, uma vez que torna o
processo mais oneroso, e pode contribuir
para a construção da imagem de
um Brasil caro e burocrático aos olhos
da comunidade internacional”, afi rma
Frederico Good God.
Segundo dados do Ministério da Fazenda,
cerca de 3 milhões de brasileiros moram
e trabalham no exterior atualmente.
O FGTS no Brasil
A legislação que rege o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço é de 1966, e
a criação do fundo teve como objetivo principal amparar o trabalhador nos casos
de demissão sem justa causa. Após algumas revisões na lei ao longo dos anos, a
função do FGTS permanece a mesma, assim como ele também pode ser usufruído
pelo trabalhador para a compra de imóvel e nos casos de doença grave.
O FGTS esteve em pauta nos últimos anos em 2001, quando foi instituída
a Lei Complementar 110/01, que previa a Contribuição Social de 0,5% sobre
a remuneração devida entre 2002 e 2006, e agora, com a publicação pela
Secretaria de Inspeção do Trabalho da Instrução Normativa 84.
Para mais informações, entre em contato com:
Frederico Good Godfrederico.h.god@br.ey.com
e objetiva quanto à incidência desse
encargo sobre a remuneração paga
no exterior. Entretanto, na prática,
a legislação brasileira não é nada clara
e, durante muitos anos, empresas
multinacionais entenderam que o FGTS
seria devido somente sobre a parcela
efetivamente paga pela empresa
brasileira”, pondera Frederico
Good God, sócio de Human Capital
da Ernst & Young Terco.
A situação já mobiliza entidades como
o GADEX (Grupo de Administração
de Expatriados) e o GDI (Grupo
de Designados Internacionais), grupos
que reúnem setores de recursos
humanos de empresas e expatriados
que atuam em São Paulo e no Rio de
Janeiro. A intenção do Ministério do
Trabalho de arrecadar o FGTS sobre
o rendimento no exterior não é de hoje.
Em 2005, uma Nota Técnica emitida
pela Coordenação-Geral de Imigração
e confi rmada pela Advocacia-Geral
da União já trazia essa questão.
Na época, algumas empresas
representadas pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI),
apresentaram ao Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE) uma contestação
a esta Nota Técnica da Coordenação-
Geral de Imigração. O MTE concordou
com os argumentos apresentados e com
o não-recolhimento do FGTS sobre
remuneração no exterior. Mesmo assim,
como não houve nenhuma publicação
formal do Ministério do Trabalho
confi rmando este entendimento,
algumas empresas chegaram a ser
fi scalizadas e autuadas nesse período e,
em alguns casos, os processos daquelas
que recorreram permanecem em aberto
até hoje. E o contrário também existe.
Diversas empresas que passaram
por fi scalizações anteriores à publicação
da IN 84/10 não foram sequer
questionadas sobre a incidência do
FGTS ou da contribuição de 0,5% sobre
a parcela de remuneração paga no
exterior, confi rmando o entendimento
de que a legislação brasileira não
é clara sobre a incidência de FGTS ou
de Contribuição Social sobre a parcela
de remuneração paga no exterior.
E X PAT R I A D O S
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Instrução Normativa
SIT 84/10 que dispõe
sobre fi scalização do FGTS
gera mobilização de
empresários e expatriados.
Empresas multinacionais
que contam com
expatriados em altos
cargos executivos estão
na mira da fi scalização.
A Instrução Normativa 84 tem gerado
polêmica entre empresas que contam
com expatriados em seus quadros
de empregados e entre expatriados que
recebem parte de sua remuneração
no Brasil e parte no exterior (forma de
remuneração conhecida no mercado
como “split”). Publicada em 13 de julho
pela Secretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT), a referida instrução dispõe sobre
a fi scalização do FGTS e da Contribuição
Social de 0,5% (devida entre 2002
e 2006) nas empresas instaladas
no Brasil e que tenham estrangeiros
em seu quadro de empregados. Essa
IN orienta o auditor fi scal do trabalho
a autuar aquelas que não comprovarem
recolhimento desses encargos sociais
sobre a parcela de remuneração paga
no exterior aos imigrantes temporários
que trabalham no Brasil.
“A determinação da SIT assume que
a legislação do FGTS é transparente
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E N T R E V I S TA
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e ISS, além dos tributos federais.
Ele cumpre o seu papel, mas acredito
que ele poderia ser mais inteligente
se adotasse uma proporcionalidade
da carga tributária de acordo com
o faturamento da empresa. Dessa forma,
as médias empresas seriam menos
penalizadas, conforme explicado
anteriormente. Quando comparamos
o Brasil com outros países, temos
também uma inversão na proporção dos
tributos diretos e indiretos. Nos países
mais desenvolvidos, por exemplo, os
indiretos, que incidem sobre o consumo,
são menores e os impostos diretos,
que tributam a renda, são maiores.
No Brasil, essa proporção é invertida.
Tax View • A migração da escrituração
em papel para a digital — ou SPED
— representa um desafi o para as
pequenas e médias empresas? Há
uma necessidade de profi ssionalização
da parte delas para se adequar
ao novo ambiente digitalizado?
Wanderlei Ferreira • Boa parte das
empresas já se movimentou no sentido
de adaptar-se ao SPED nos últimos anos,
uma vez que o processo teve início
em 2008 para as empresas tributadas
com base no Lucro Real. Para as
pequenas e médias, os investimentos
que elas precisaram fazer em tecnologia
e treinamentos foram signifi cativos
tendo em vista o seu porte, e os frutos
devem ser colhidos nos próximos três
anos. Isso porque o governo ainda
não encerrou a normatização. Em 2011,
por exemplo, entrará em vigor a
escrituração digital de PIS e Cofi ns,
o que vai signifi car novos investimentos
e treinamento de pessoal. A partir
do momento que o conjunto de normas
estiver estável, acredito que após
três anos as empresas começarão
a colher os frutos dos investimentos
e dos esforços. Esses frutos se
traduzem, principalmente, em facilidade
no cumprimento das obrigações
acessórias, mais inteligência no
processo e redução do trabalho manual.
Tax View • Passada a grande corrida
das empresas à Bolsa de Valores
em 2007 e as grandes operações de
IPO (abertura de capital, na sigla
O que muitas empresas desconhecem, apesar da onda de IPOs (oferta inicial
de ações, na sigla em inglês) que tomou conta do País, é que um dos principais fatores
relacionados à abertura de capital é a transparência e as boas práticas tributárias,
contábeis e de governança corporativa. É importante que a empresa na fase de
preparação para a abertura de capital avalie esse tripé e tenha a possibilidade de
discutir alguma questão do seu âmbito tributário para fazer as correções necessárias.
Essas são algumas das análises de Wanderlei Ferreira, advogado e contador com
pós-graduação em direito empresarial e sócio de Tributos da Ernst & Young Terco,
com mais de 20 anos de experiência na área. Em entrevista ao Tax View, Wanderlei
opina também sobre questões relacionadas ao SPED, IFRS e sucessão presidencial
no País, e adverte que a reforma tributária e a política cambial não podem mais
estar fora da agenda do novo governo, sob o risco de perdermos competitividade
para países como a China, por exemplo. Confi ra a seguir.
Tax View • A carga tributária
brasileira — que representa quase
40% do Produto Interno Bruno
e é criticada recorrentemente pelos
empresários — penaliza mais
as pequenas e médias empresas?
Wanderlei Ferreira • Sim. As
pequenas empresas no entendimento
do governo federal e com tratamento
tributário diferenciado são aquelas
com faturamento anual de até
R$ 2,4 milhões por ano. As empresas
com faturamento acima disso — mesmo
aquelas que faturam R$ 2,45 milhões
— fi cam em uma certa área cinza. Isso
porque elas acabam sendo enquadradas
no mesmo tratamento fi scal conferido
às companhias com faturamento de
bilhões de Reais. Dessa forma, as fi rmas
que faturam na casa de R$ 10 milhões
a R$ 30 milhões acabam sendo
as mais prejudicadas, uma vez que
não contam com a mesma estrutura de
uma grande e, por outro lado, também
não têm os benefícios fi scais de uma
pequena. Nessa faixa intermediária de
faturamento, a empresa acaba saindo
em desvantagem ao competir tanto com
a grande como com a pequena.
Tax View • A diferenciação que
o governo faz das pequenas
e médias em termos de tributação
é representada pelo Simples.
Na sua visão, esse regime especial
de tributação realmente reduz
a carga tributária para as pequenas
e médias empresas?
Wanderlei Ferreira • O Simples atual
é um pouco mais complexo do que o
anterior, uma vez que contempla o ICMS
O sistema tributário brasileiro,
além de onerar 40% do PIB (Produto
Interno Bruto) nacional e ser
extremamente complexo, carrega
ainda um componente de perversidade
com as pequenas e médias empresas.
Em determinada faixa de faturamento,
elas fi cam sujeitas ao mesmo
tratamento fi scal de uma grande
companhia, o que por si só acaba
sendo injusto, uma vez que essa
empresa de menor porte não conta
com a mesma estrutura da grande.
Para minimizar essa situação,
o ideal seria haver um escalonamento
da carga tributária de acordo com
o faturamento das empresas.
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N O TA S
Para mais informações, entre em contato com:
Wanderlei Ferreirawanderlei.ferreira@br.ey.com
uma oportunidade para as pequenas
e médias nesses trabalhos, que
terão isenções de tributos federais?
Wanderlei Ferreira • Indiretamente
sim. As pequenas e médias são elos
da cadeia produtiva, principalmente
com a oferta de matérias-primas ou mão
de obra para empresas maiores e que
estão envolvidas diretamente nesses
grandes projetos. Dessa forma, inseridas
na cadeia, acredito que elas podem
ser benefi ciadas indiretamente.
Tax View • Tendo em vista o
grande número de tributos que as
empresas precisam honrar e a
complexidade dos mesmos, você
acredita que o planejamento tributário
pode confi gurar um elemento
de diferenciação competitiva para
as pequenas e médias empresas?
Wanderlei Ferreira • Sem dúvida.
O planejamento tributário — realizado
dentro da legalidade e pautado pelos
princípios éticos — é uma questão
até de sobrevivência para as pequenas
e médias empresas. Essa é uma questão
que tem sido tratada muitas vezes
pela Receita Federal e o governo como
sinônimo de evasão fi scal e demais
práticas ilícitas. No entanto, o
planejamento correto e bem pensado
é um direito da empresa na busca da
melhor estratégia para seus negócios.
Tax View • Os brasileiros acabaram
de escolher a nova presidente da
República. Qual a sua expectativa em
relação à sucessão presidencial?
Wanderlei Ferreira • É fundamental
que o próximo governo, dentre outras
prioridades já conhecidas, desenvolva
e implemente uma política estratégica
que contemple o parque industrial
do País como um todo e que se
concentre na questão da concorrência
global das empresas brasileiras,
inclusive o tema cambial. Em alguns
setores, é desleal a concorrência do
produto brasileiro com um equivalente
chinês, por exemplo. Isso, sem dúvida,
“As empresas com faturamento acima de R$ 2,45 milhões fi cam em uma certa área cinza. Isso porque elas acabam sendo enquadradas no mesmo tratamento fi scal conferido às companhias com faturamento de bilhões de Reais.”
em inglês) de 2009, o mercado tem
a expectativa de que as médias
empresas abram capital nos próximos
anos. A BM&FBovespa, por exemplo,
espera 200 novos integrantes no
Bovespa Mais nos próximos cinco anos.
Qual a sua visão sobre a tendência
de as pequenas e médias abrirem
capital e quais aspectos tributários
podem interferir nessas operações?
Wanderlei Ferreira • Um dos principais
fatores relacionados à abertura
de capital é a transparência e as boas
práticas tributárias, contábeis e de
governança corporativa. É importante
que a empresa na fase de preparação
para a abertura de capital avalie
esse tripé, tenha a possibilidade de
discutir alguma questão do seu âmbito
tributário e fazer as correções
necessárias. Essa preparação é válida,
na verdade, não apenas para o
ingresso na bolsa de valores, mas para
acesso a outros mercados, inclusive
internacionais, assim como o aporte
de uma agência de fomento. Uma
estrutura tributária transparente
também é um fator determinante nas
transações envolvendo terceiros,
como uma joint venture, por exemplo.
Tax View • Em 2010, as companhias
brasileiras têm um objetivo
sensível a cumprir no alinhamento
de suas demonstrações fi nanceiras
aos padrões contábeis globais –
o chamado International Financial
Reporting Standards (IFRS).
As pequenas e médias empresas
brasileiras têm a opção de também
adotar o IFRS. Como você avalia
essa adoção por parte delas?
Wanderlei Ferreira • Considero
a conversão aos padrões contábeis
internacionais como positiva e saudável
para as pequenas e médias. O Brasil
está cada vez mais exposto no
mercado internacional e a padronização
contábil contribui com a atração
de investimentos estrangeiros.
Tax View • Nos próximos anos,
o Brasil irá sediar megaeventos
esportivos, como a Copa do Mundo
de 2014 e os Jogos Olímpicos 2016,
além da exploração prevista de
petróleo no pré-sal. Você identifi ca
Receita Federal classifi ca Delaware como regime fi scal privilegiado
A Receita Federal, em decisão à consulta
52/10, publicada no início de outubro
pela Superintendência da Quarta
Região Fiscal da Receita Federal,
confi rma a percepção que se tinha sobre
o Estado norte-americano de Delaware,
ao classifi cá-lo como regime fi scal
privilegiado e deixando claro que ele
não confi gura um paraíso fi scal. O
posicionamento do Fisco tornou mais
claras as regras da Instrução Normativa
1.037, de 7 de junho de 2010, que
estabelece a relação de quais países
ou dependências são paraísos fi scais,
aos quais se aplica, por exemplo, a
alíquota de 25% de Imposto de Renda
Retido na Fonte (IRRF), e quais
entidades enquadram-se no conceito
de regimes fi scais privilegiados. Além
disso, a decisão apontou que a alíquota
do IRRF para transações que envolvam
companhias brasileiras e empresas
caracterizadas como regimes fi scais
privilegiados deve ser de apenas 15%.
Desde 1º de outubro, a Ernst & Young no Brasil passou a
ser Ernst & Young Terco, ampliou sua equipe de especialistas
e elevou suas áreas de atuação e posicionamento de mercado.
A área de Tributos — premiada pelas revistas internacionais
World Finance e International Tax Review — passou a contar
com um total de 800 profi ssionais altamente qualifi cados.
“O momento é de grandes oportunidades na área tributária
e em especial para a equipe de Impostos no Brasil.
Como Ernst & Young Terco, reforçamos ainda mais nossa
liderança. E, com nossa estratégia de crescimento para
o ano fi scal 2011, estamos prontos para alcançar a meta
de auxiliar um país que cresce em ritmo acelerado”, afi rma
Eliézer Serafi ni, sócio-líder de Tributos.
Supremo julga cálculo da Cofi ns na importação
A mais importante disputa entre
empresas importadoras e o Fisco pode
estar chegando ao fi m. O Supremo
Tribunal Federal (STF) já iniciou
o julgamento do caso e irá decidir
se o ICMS deve ser excluído da base
de cálculo do PIS e da Cofi ns no
desembaraço aduaneiro de mercadorias.
O caso teve início em 2004, quando
as empresas passaram a questionar a
Receita Federal sobre a forma de cálculo
(instituída pela Lei 10.865), que
inclui o ICMS na base das contribuições
e, assim, encarece a importação. Nesses
seis anos, o julgamento do caso já
foi adiado várias vezes. A Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional calcula
em R$ 76 bilhões as perdas que
os cofres públicos teriam no caso
de o Fisco perder a ação.
Ernst & Young global lança segundo número da revista “T Magazine”
A Ernst & Young global lançou no último dia 03/11 o segundo número da “T Magazine”, uma publicação trimestral focada em temas da área de Tributos. A edição traz um olhar crítico sobre a migração corporativa, analisando o porquê de estes movimentos estarem se tornando tão comuns e quais os passos que as companhias devem analisar quando decidem transferir sua matriz de uma jurisdição para outra. A “T Magazine” conta com um website próprio (www.ey.com/tmagazine), onde os clientes encontram mais notícias e análises da área de Tributos, e é distribuída aos assinantes do jornal britânico Financial Times. A edição de número 3 da revista está prevista
para janeiro de 2011.
Arrecadação tributária chega a R$ 1 trilhão em outubro
Na última semana de outubro, o Impostômetro instalado no centro de São Paulo
exibiu a impressionante marca de R$ 1 trilhão. O valor corresponde ao total de
impostos pagos pelos contribuintes nas três esferas de governo (Federal, Estadual
e Municipal) até então. A previsão do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário
(IBPT) é de que a cifra de impostos pagos chegue a R$ 1,27 trilhão até o fi nal
de 2010, o que supera o total de R$ 1,09 trilhão arrecadados em 2009.
Nova estrutura e posicionamento da área de Tributos
A estratégia para reforçar a liderança passa por ações
go-to-market em âmbito regional e uma das iniciativas foi
a criação de cinco áreas de operação no Brasil: São Paulo/
Campinas; Rio de Janeiro; Nordeste (Recife, Salvador,
Fortaleza, Manaus e Belém), Central (Belo Horizonte, Goiânia
e Brasília) e Sul (Blumenau, Porto Alegre e Curitiba).
“A criação das áreas de operação representa uma nova
forma de focar o mercado regionalmente, fundamental para
o desenvolvimento de melhores práticas nessas regiões
e para atingir nossas metas de liderança”, explica Serafi ni,
que passa a contar com a colaboração dos líderes: Alfredo
Neto (Rio de Janeiro), Rogério Simões (Norte/Nordeste),
Alessandro Lacerda (Central) e Eneas Moreira (Sul).
As principais funções desses líderes — que trabalharão
com Jeff Banta, líder nacional de Tributos para Segmentos
de Mercado — serão: estreitar o relacionamento com
clientes, aumentar a participação da Ernst & Young Terco
em mercados estratégicos e consolidar a marca.
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Mudança de governo reacende debate sobre
reforma trabalhistaNova bancada federal com maior participação de empresários tende
a reforçar a discussão pela diminuição dos altos encargos trabalhistas
e consequente elevação da competitividade das empresas
R E F O R M A T R A B A L H I S TA
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A nova composição da Câmara a partir
de 2011 — com 169 empresários como
parlamentares, a maior bancada desde
1998, quando foram eleitos 148 — tende
a colocar em pauta questões de interesse
do mundo dos negócios. A reforma
trabalhista, nesse contexto, é um
dos temas mais relevantes e que deve vir
à tona a partir do próximo ano.
“Nos últimos anos, dois fatores levaram
o mundo a tratar com maior frequência
o tema da reforma trabalhista: o
crescimento da China e a crise econômica
mundial. O mundo se viu diante da
necessidade de mudar suas relações
de trabalho com o objetivo de estimular
o emprego, reduzir a informalidade
e diminuir custos buscando melhorar
a competitividade, para conseguir
driblar a crise”, analisa Marco Sanson,
sócio da área de Tributos com foco
em Labor Compliance.
Hoje no Brasil o custo em encargos e
horas não trabalhadas de um funcionário
representa 102,7% do total do salário.
Na prática, isso signifi ca que para um
salário de R$ 1.000,00, a empresa tem
um custo total de R$ 2.027,00. “Os
encargos trabalhistas são um problema,
uma vez que contribuem com o
aumento do custo-Brasil e a diminuição
da competitividade mundial do País.
É fundamental que tenhamos uma
reforma trabalhista, mas ela deve ser
acompanhada de uma reforma tributária,
uma vez que grande parte do custo
trabalhista é gerada pelos encargos.
Além disso, necessitamos de uma
mudança na legislação trabalhista, que
deve ser gradual, visando maior liberdade
de negociação e uma melhor adequação
à realidade de cada empresa e seu
respectivo mercado”, pontua Sanson.
O fato de o Brasil estar na mira
dos investimentos internacionais nos
últimos anos também contribui para um
olhar mais crítico sobre as questões
trabalhistas. Isso porque os estrangeiros
— que devem aplicar US$ 29,42 bilhões
em 2010 e US$ 36,49 bilhões em 2011,
de acordo com as previsões do Banco
e empregadores, buscando melhorar
o nível de emprego e a renda, assim
como aumentar a competitividade.
Atualmente, a Espanha, impulsionada
pela crise, aprovou uma nova reforma
que visa criar emprego estável, restringir
o uso injustifi cado da contratação
temporária e evitar o encadeamento
sucessivo de contratos temporários —
as medidas têm o objetivo de gerar a
assinatura de 2,37 milhões de contratos
permanentes de trabalho até 2011.
Em conjunto com essas mudanças, o
governo espanhol planeja criar um fundo
para cada trabalhador a fi m de que
a indenização por demissão seja mais
barata para a empresa.
Já o modelo chamado de negocial
é praticado em países como Inglaterra,
Estados Unidos, Nova Zelândia e China
e permite que empresas e funcionários
façam acordos de interesse de ambas
as partes em relação a questões
relativas à relação de trabalho. No caso
específi co da China, o modelo negocial
permitiu a redução do período de
experiência de 6 para 3 meses, a
regulação do trabalho temporário e a
criação de regras para demissão, como
o direito de o empregado consultar a
empresa sobre os motivos da dispensa.
Além dessas mudanças, também foram
reforçadas regras já existentes que
estabeleciam a permissão para os
empregados negociarem coletivamente
Alta complexidade
As relações trabalhistas no Brasil, além de altamente tributadas, também são
extremamente complexas, especialmente para o investidor estrangeiro que
não está acostumado à burocracia nacional. Elas são regidas por 67 dispositivos
constitucionais, 922 artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 295
súmulas do Tribunal Superior do Trabalho (TST), 145 do Supremo Tribunal
Federal, 119 precedentes normativos, 28 orientações normativas do TST e ainda
193 artigos do Código Civil. Já a legislação previdenciária é regida em seus
principais instrumentos por 105 artigos da Lei 8.212/91, 382 artigos do Decreto
3.048/99 e 509 artigos da Instrução Normativa 971/2009, entre outros.
Enquanto a reforma trabalhista não sai do papel, a informalidade cresce no País.
Hoje, 45% das pessoas em idade economicamente ativa trabalham na
informalidade, segundo o Ministério do Trabalho.
Encargos sobre o salário
Brasil 102%
França 80%
Argentina 70%
EUA 9%
Fonte: José Pastore (especialista em relações trabalhistas)
os salários e benefícios com as
empresas, a participação do sindicato
nessas negociações, o aviso prévio
e a proibição do trabalho dos menores
de 16 anos de idade.
Propostas
“O primeiro passo de uma reforma é a
modifi cação da legislação, que enfrenta
considerável entrave, pois implicaria
uma mudança em regras constitucionais.
Essas mudanças, para alguns juristas,
envolveriam um processo de emendas
constitucionais, o que seria mais
simples. Entretanto temos na doutrina
aqueles que defendem que os direitos
sociais também são cláusulas pétreas,
tornando assim a mudança ainda mais
solene. Vemos, portanto, que existem
grandes desafi os jurídicos e sociais
para se efetuar essa mudança. Mas ela
é extremamente necessária, precisamos
fl exibilizar nossa legislação, permitindo
maior negociação entre empregados
e empregadores”, sugere Marco Sanson.
O executivo aponta ainda que a
fl exibilização da lei trabalhista deve
levar em conta as diferenças regionais
do País, que tem uma dimensão
continental. E deve considerar também
as diferenças existentes entre
as empresas, estabelecendo regras
que levem em conta a atividade
das empresas e seu tamanho.
A reforma trabalhista no Brasil passa
também pela redução e
redimensionamento da carga tributária,
mas sem prejuízo dos programas
sociais que são fi nanciados por esses
Central — têm muita difi culdade
de entender (e aceitar) o modelo
trabalhista atual.
“A nossa legislação é engessada
e a carga tributária acaba fi cando muito
em cima do empregador, que precisa
arcar com os impostos trabalhistas
independentemente de ter faturado
ou não, de ter crescido ou não.
Estes acabam sendo um custo fi xo
para o negócio e, nesse contexto,
as pequenas e médias recebem o mesmo
tratamento das empresas grandes,
o que é injusto”, aponta Sanson.
O Brasil — assim como a França,
Espanha, Itália e maioria dos países
da América Latina — segue o modelo
trabalhista estatutário, o que signifi ca
que as relação trabalhistas são
estabelecidas por regras. No Brasil,
essas regras estão escritas na
Constituição Federal, o que torna
qualquer mudança muito difícil e confere
ao País um dos sistemas trabalhistas
mais complexos e caros do mundo.
Dentre os países que adotam o sistema
estatutário, a Espanha é um exemplo
de país que vem nos últimos anos
fazendo sucessivas reformas, sendo
que as primeiras ocorreram na década
de 90 e consistiram em inúmeros
acordos voluntários, mudanças nas leis
do trabalho e milhares de negociações
entre representantes dos empregados
impostos, assim como pela
reestruturação do sistema sindical.
“Mais do que mudar as regras, a reforma
trabalhista deveria mudar a forma de
pensar do brasileiro, seja ele empresário,
empregado, sindicalista ou membro
do governo. Pois uma mudança só
é possível com confi ança e negociação
e, para ela ocorrer, as partes envolvidas
têm que acreditar que estarão
perdendo um pouco agora para ganhar
no futuro”, conclui Sanson.
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Para mais informações, entre em contato com:
Marco Sansonmarco.sanson@br.ey.com
Tipos de despesa % sobre o salário
Grupo A • Obrigações Sociais
Previdência Social 20,00
FGTS 8,00
Salário-Educação 2,50
Acidentes do Trabalho (média) 2,00
SESI/SESC/SEST 1,50
SENAI/SENAC/SENAT 1,00
SEBRAE 0,60
INCRA 0,20
Subtotal A 35,80
Grupo B • Tempo não Trabalhado I
Repouso Semanal 18,91
Férias 9,45
Abono de Férias 3,64
Feriados 4,36
Aviso Prévio 1,32
Auxílio-Enfermidade 0,55
Subtotal B 38,23
Grupo C • Tempo não Trabalhado II
13º Salário 10,91
Despesa de Rescisão Contratual 3,21
Subtotal C 14,12
Grupo D –Incidências Cumulativas
Incidência Cumulativa Grupo A/Grupo B 13,69
Incidência do FGTS s/13º salário 0,87
Subtotal D 14,56
Total geral 102,71
Fonte: José Pastore (especialista em relações trabalhistas)
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Uma nova batalha da “guerra fi scal”
está sendo travada pelos estados e passa
pelos portos e aeroportos. O foco
agora são as operações de importação
e os benefícios concedidos pelos
governos estaduais para as empresas
que vão da redução de alíquota do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS) até a contrapartida
do tributo recolhido com fi nanciamentos
concedidos por agências de fomento
ou bancos estaduais. Alguns benefícios
fi scais para a importação, apesar
de controversos e de não respeitarem
o ritual estabelecido no Conselho
Nacional de Política Fazendária
(Confaz), já são uma realidade em Santa
Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e
Espírito Santo, dentre outros estados.
“A partir da Lei de Responsabilidade
Fiscal, os estados passaram a buscar
novas formas de aumentar sua
arrecadação tributária e, apesar de
parecer contraditório, muitos lançaram
mão dos incentivos fi scais. Dessa
de “concorrência desleal” — uma vez
que os benefícios fi scais de um estado
devem ser aprovados por unanimidade
pelos demais, no âmbito do Confaz —
os estados têm concedido os benefícios
de forma unilateral. O sócio da
Ernst & Young Terco explica que os
Estados baseiam suas ações no dever
constitucional a eles imposto pelo
Princípio da Efi ciência. Ademais,
ressalta também que, graças a uma
decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF), que exime um contribuinte
da cobrança de ICMS por Estado que
se julga lesado pela concessão de
incentivo de outro estado, as empresas
têm se encorajado ainda mais a utilizar
incentivos fi scais estaduais, como
forma de redução do custo tributário
altíssimo a que se submetem no Brasil.
Histórico da “guerra fi scal”
O primeiro estado a identifi car uma
oportunidade de atrair empresas
para seu território a partir de incentivos
fi scais na história mais recente foi
o Espírito Santo, nos anos 70, por meio
da criação do Fundo de Desenvolvimento
das Atividades Portuárias (Fundap).
A iniciativa do Espírito Santo se
mostrou bem-sucedida e resultou
na atração de muitas trading companies
para dentro de seu território.
Os demais estados, percebendo o
sucesso da iniciativa capixaba, passaram
Novo capítulo da “guerra fi scal”
a lançar seus pacotes de benefícios
fi scais nos anos seguintes com o mesmo
objetivo: estimular as empresas
a se instalar em seu território e, assim,
aumentar a base de arrecadação.
Nesse contexto, a indústria automotiva
migrou do ABC paulista para o
Nordeste e Sul, as empresas calçadistas
deixaram o Sul em direção ao
Nordeste, dentre outros exemplos
de “migração incentivada”.
Especialização
Os estados utilizam também
os benefícios fi scais para privilegiar
a instalação de empresas de um
determinado segmento. Goiás, por
exemplo, concede benefícios para
instalação de empresas de distribuição,
uma vez que o estado tem se tornado
um polo logístico. No Rio de Janeiro,
há incentivos para a indústria
de petróleo e gás, e o Paraná estimula
a instalação de empresas do setor
automotivo. “Nesse sentido, orientamos
nossos clientes sobre os locais
mais interessantes para se instalarem,
tendo em vista esses pacotes de
benefícios, o segmento da empresa
e a logística associada”, afi rma
Fontenelle.
forma, eles atraem empresas para
seu território, aumentando assim
a base de arrecadação”, contextualiza
Sergio Fontenelle, sócio da área
de Tributos da Ernst & Young Terco.
Esse novo capítulo da “guerra fi scal”
tem como foco as importações porque
o País vem passando por um aumento
das compras no exterior graças,
principalmente, ao real valorizado
frente ao dólar americano. De
acordo com dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, as importações, no acumulado
do ano (janeiro a outubro), foram
de US$ 144,3 bilhões. O valor é 43,8%
superior à média registrada no mesmo
período de 2009 (US$ 494,5 milhões).
De acordo com estudo da Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp), os portos localizados
em estados que concedem benefícios
fi scais para importação registraram
movimentação acima da média nacional
em 2009. As maiores altas ocorreram
nos portos de Suape (Pernambuco),
São Francisco do Sul (Santa
Catarina) e Itajaí (Santa Catarina).
As altas foram de 40%, 36% e 30%,
respectivamente, ante 15% da média
do Brasil, entre 2005 e 2009.
Apesar de terem o respaldo legal
questionado por estados que se sentem
lesados por aquilo que chamam
C O M P E T I T I V I D A D E
Estados agora disputam incentivos fi scais nas
operações de importação e oferecem isenções que
podem chegar a 80% e incremento na movimentação
de portos de até 40%. No ano, importações tiveram
alta de 43% até outubro em relação a 2009
Para mais informações, entre em contato com:
Sergio Fontenellesergio.fontenelle@br.ey.com
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A partir de janeiro de 2011, as empresas
precisarão cumprir mais uma obrigação
tributária de forma eletrônica: a EFD-
PIS/Cofi ns. A escrituração fi scal digital
desses tributos é mais uma etapa do
SPED (Sistema Público de Escrituração
Digital), que já está valendo para
a arrecadação de ICMS, IPI e emissão
de nota fi scal eletrônica. A poucos meses
de sua implementação, no entanto, a
novidade desperta dúvidas nas empresas
e a Receita Federal sinaliza ao mercado
com a possibilidade de prorrogar a data
de cumprimento inicial da obrigação.
“As empresas terão um cronograma
muito apertado para se adequar à EFD–
PIS/Cofi ns, sendo que será necessário
para elas reunir mais informações e com
um nível muito maior de detalhamento
para poder cumprir o preenchimento
do arquivo eletrônico”, aponta
Claudio Yano, diretor da área de Tributos
da Ernst & Young Terco.
A preparação das empresas para o
novo ambiente de controle requer uma
integração das áreas fi scal e de Tecnologia
da Informação (TI) e a coordenação
do trabalho por parte de um PMO
(Project Management Offi ce), segundo
Anny Matumura, gerente da área
de Tributos da Ernst & Young Terco.
Isso porque a EFD-PIS/Cofi ns requer
a expertise técnica (contábil e fi scal)
e também tecnológica para seu correto
preenchimento. Só para se ter uma
ideia da complexidade da operação,
o documento fi scal de uma cadeia
de varejo, por exemplo, pode chegar ao
tamanho de 1 Terabyte (mil gigabytes)
reunindo as informações de todas as fi liais.
Para as empresas que já adotam o SPED
fi scal para apuração de ICMS e IPI,
é possível importar os dados de outras
declarações digitais para preencher
os blocos de informação da EFD-PIS/
Cofi ns, reduzindo parcialmente o
número de informações a serem colhidas
internamente. As empresas que
mantêm um cadastro atualizado de todas
as suas informações fi scais da mesma
forma tenderão a encontrar menos
difi culdades para reportar a apuração
de PIS/Cofi ns a partir de 2011.
A complexidade do novo formato
de obrigação acessória, por outro lado,
também permite que as empresas
revejam seus processos e, eventualmente,
possam descobrir oportunidades,
especialmente em relação à apuração
de créditos tributários. Hoje, cerca
de 40% das declarações em papel
apresentam inconsistências em relação
aos créditos — que somam cerca
de R$ 60 bilhões por ano.
“A EFD-PIS/Cofi ns ainda está sujeita
a muitos ajustes, uma vez que o
Programa Validador e Assinador (PVA),
que as empresas utilizarão para
as declarações, não foi disponibilizado
pela Receita Federal até o momento”,
comenta Roberta Ezar, gerente da área
de Tributos da Ernst & Young Terco.
Assim como nos módulos anteriores do
SPED, um grupo piloto de 48 empresas
já está testando as declarações digitais.
Claudio Yano explica que o momento
atual é de investimento em preparação
e treinamento por parte das empresas
para se adequar ao ambiente digital, que
vem sendo implementado pelos módulos
do SPED. Para os próximos anos,
a expectativa é que o sistema passe a
funcionar cumprindo um dos objetivos
primários da escrituração digital:
diminuir a complexidade do processo.
Do ponto de vista do Fisco, a inclusão
do PIS/Cofi ns no SPED representa
um passo importante, uma vez
que esses tributos respondem por 36%
da arrecadação da Receita Federal
e constituem receita exclusiva da União.
A nova declaração digital irá substituir
o modelo atual, considerado obsoleto
por não trazer informações detalhadas,
e tende a otimizar os pedidos de
ressarcimento e compensações
tributárias por parte dos contribuintes.
Escrituração fi scal digital dePIS/Cofi ns entra em vigor em janeiro de 2011 e preocupa as empresasPrazo curto e alta complexidade da declaração demandam estreita integração
entre as áreas fi scal e de Tecnologia da Informação (TI)
“As empresas terão um cronogramamuito apertado
para se adequar àEFD–PIS/Cofi ns”
Claudio YanoDiretor da área de Tributos
A partir da escrituração fi scal digital
de PIS/Cofi ns, a Receita Federal segue
transferindo o ônus da fi scalização
para o contribuinte, uma vez que
as empresas fi cam obrigadas e
se informatizar e treinar pessoal para
cumprir suas obrigações tributárias
no novo ambiente digital. Dessa forma,
os contribuintes fi cam cada vez mais
expostos à fi scalização, uma vez que
a informatização permite uma ampla
variedade de cruzamento de dados.
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P I S / C O F I N S
Para mais informações, entre em contato com:
Claudio Yanoclaudio.yano@br.ey.com
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o contexto das alterações que
a legislação tributária brasileira
vem sofrendo no campo do Direito
Tributário Internacional, foram
editadas pela Medida Provisória
n° 472, convertida, em 11 de junho
de 2010, na Lei n° 12.249, regras
contra a chamada subcapitalização
(em inglês, thin capitalization), a
qual, em termos gerais, confi gura-se
nas situações em que haveria
um excessivo fi nanciamento de uma
empresa via endividamento, em
comparação ao aporte de capital
dos sócios. Em se identifi cando
o endividamento excessivo, os juros
correspondentes passariam a ser
indedutíveis para fi ns de cálculo do
Imposto de Renda e da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido.
Tais regras ainda não completaram
seu primeiro aniversário, de forma
que ainda há dúvidas no mercado
a respeito de aspectos específi cos
relacionados à sua aplicação.
Contudo, parece-nos que uma
questão importante a ser debatida,
que antecede quaisquer
questionamentos específi cos
que possam ser levantados, trata
de se defi nir se as regras de
subcapitalização, da forma como
se encontram nos artigos 24 e 25
tais regras, e o Brasil, em
entendendo que seus benefícios
ultrapassam seus ônus aplicativos,
também as pode ter. Tudo o que
estamos alertando é que, da
maneira como foi redigida a regra,
parece não haver uma congruência
entre os fi ns visados e o modelo
adotado pelo legislador.
Poder-se-ia dizer então que a
s regras em comento não se tratam
de regras antielusivas específi cas,
mas sim de mera limitação à
dedutibilidade de despesas de juros
em certas situações.
Se há sérias dúvidas quanto
à constitucionalidade das regras
dos artigos 24 e 25 da Lei
n° 12.249/2010 consideradas como
regras antielusivas, se as mesmas
forem qualifi cadas como limitações à
dedução de certas despesas, entendo
que não haverá mais dúvidas
a respeito de sua incompatibilidade
com o ordenamento jurídico.
De fato, examinando-se os referidos
artigos, nota-se que a restrição
das regras de subcapitalização
é aplicada tendo como premissa
a dedutibilidade da despesa
de acordo com a legislação do
Imposto de Renda. Ou seja, primeiro
determina-se que a despesa de
juros é necessária para a atividade
da empresa e para a manutenção
da fonte produtora de renda
e, depois, aplica-se a limitação
de dedutibilidade se identifi cada
a subcapitalização.
Ora, se a despesa primeiro tem que
ser identifi cada como necessária,
parece-nos que a conclusão que
segue é que a sua dedução só
poderia ser obstada caso identifi cado
algum comportamento abusivo por
parte do contribuinte. Do contrário, a
restrição à dedutibilidade certamente
seria contrária ao disposto no artigo
43 do Código Tributário Nacional.
Diante do exposto, cremos que
se devem examinar com cuidado
os artigos 24 e 25 da Lei
n° 12.249/2010, a fi m de verifi car
sua legitimidade diante do
ordenamento jurídico brasileiro.
Mais uma vez reiteramos que o
propósito deste artigo não é debater
a conveniência e oportunidade de
termos no Brasil uma regra inibidora
da subcapitalização das empresas.
Tudo o que estamos a afi rmar é
que tal regra tem que ser razoável.
Vê-se atualmente que o
consequencialismo, referência que
se faz à análise pelos tribunais dos
impactos sócioeconômicos de suas
decisões, a qual por vezes supera
os argumentos jurídicos envolvidos
no caso concreto, vem atuando
como ator principal nos julgamentos
das cortes superiores. O grande
risco dessa fi losofi a jurídica é acabar
liberando o legislador dos limites
impostos pela Constituição Federal e
pelo Código Tributário Nacional à sua
tarefa de elaboração de leis. Cremos
ser o que se passa com as regras
contra a subcapitalização.
da Lei n° 12.249/2010, são
compatíveis com o ordenamento
jurídico brasileiro.
Para que possamos apresentar
uma resposta a tal questionamento,
é importante defi nirmos qual
a natureza das regras de
subcapitalização: trata-se de meras
regras de limitação de dedutibilidade;
ou seriam elas normas antielusivas
específi cas (ou seja, regras
contra o planejamento tributário)?
Considerando a experiência
internacional sobre a matéria, temos
que as normas que reprimem a
subcapitalização das empresas são
normalmente tratadas como normas
antielusivas específi cas. Ou seja, tais
regras visariam coibir estruturas
artifi ciais em que o aporte de capital
do sócio é substituído por dívida. Ao
examinarmos o item 29 da Exposição
de Motivos da Medida Provisória
n° 472/2009, essa realmente
parece ter sido a fi nalidade da edição
da regra brasileira.
Lendo os artigos 24 e 25 da
Lei n° 12.249/2010 como regras
contra planejamentos tributários
abusivos, considerando que
o legislador pátrio optou por
estabelecer uma presunção absoluta
de endividamento excessivo, sem
levar em conta as peculiaridades do
caso concreto ou do ramo de
atividade da empresa captadora dos
recursos fi nanceiros, não prevendo,
ainda, nenhum procedimento para
que o contribuinte possa demonstrar
o caráter não abusivo de seu
caso particular, parece-nos que
as referidas regras não passam pelo
fi ltro da razoabilidade.
Note-se que não se está aqui
defendendo, como ocorre
em algumas situações, que o Brasil
seria uma ilha no mundo
contemporâneo onde as regras
contra a subcapitalização não seriam
possíveis. Vários países possuem
Comentários sobre a legitimidade das regras brasileiras de subcapitalização
Sergio Andre Rocha
Sócio da Área de Impostos da Ernst & Young Terco e professor da FGV-Rio
A R T I G O
Para mais informações, entre em contato com:
Sergio Andre Rochasergio.andre@br.ey.com
“As regras brasileiras ainda não completaram seu primeiro aniversário,
de forma que ainda há dúvidas no mercado a respeito de aspectos
específi cos relacionados à sua aplicação”
N
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