o corpo é discurso
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O Corpo
Página 1
04.08.2013
ISSN: 2236-8221
Edição n. 37, de Outubro Vitória da Conquista, Bahia.
ocorpoediscurso@gmail.com http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm
O corpo é discurso
Nesta edição, O Corpo é discurso apresenta o Grupo de Pesquisa Semiologia e Discurso
(CNPq – UNIFESP). Além disso, o Corpo traz um artigo de Suani de Almeida Vasconcelos,
da Universidade Estadual de Feira de Santana, um artigo de Palmira Heine, da Universi-
dade Estadual de Feira de Santana, e um artigo de Victor Pereira Sousa, da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia. Ainda, o Corpo traz uma entrevista com a poetisa Marília
Lima e, em seguida, alguns de seus poemas. O Corpo é Discurso traz também um Pocket
Comix por Renato Lima e notícias ligadas ao universo acadêmico e da Análise do Discur-
so, no Brasil.
ISSN: 2236-8221
EXPEDIENTE DE O CORPO
Editores
Nilton Milanez
George Lima
Organizador
Nilton Milanez
George Lima
Editoração eletrônica
(MARCA DE FANTASIA)
Henrique Magalhães
CONSELHO EDITORIAL
Dr. Elmo José dos Santos
(UFBA)
Dra. Flávia Zanutto (UEM)
Dra. Ivânia Neves
(UFPA)
Dra. Ivone Tavares Lucena
(UFPB)
Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA)
Dr. Nilton Milanez
(UESB)
Dra. Simone Hashiguti
(UFU))
Jornal de popularização científica
Acesse o site do Labedisco: www2.uesb.br/labedisco
Página 2 O Corpo
“Porque o olho é ainda mais crí-
vel que o ouvido: diferentemente de um
enunciado, uma imagem não tem alhures;
não se pode aplicar a ela uma
“transformação” negativa ou interrogati-
va”. Essa afirmação de Pêcheux pode ser-
vir como norte para aquilo que o grupo
“Semiologia e Discurso” procura respon-
der nas discussões que se iniciaram neste
ano de 2014. No
entrecruzamento
de epistemes dis-
tintas (Bakhtin,
Barthes, Foucault e
Pêcheux), o grupo
se propõe a pensar
as discursividades
contemporâneas no
i n -
terior dos estudos linguís-
ticos. Para isso e sem tirar
de cada um de seus pesqui-
sadores a particularidade
de suas preferências –
pois que uns estão mais
próximos de Bakhtin e ou-
tros de Foucault e Pêcheux
–, organizam-se dois eixos
de leitura: i) um que se
assenta na obra do Círculo
de Bakhtin e na natureza
conceitual do enunciado
para os pensadores russos; ii) outro que
se direciona à AD francesa e aos diálogos
que ela pode estabelecer – para refletir
sobre o enunciado – com Foucault e
Barthes.
No que concerne ao primeiro
eixo, as discussões caminham, no plano
epistemológico, no sentido de dar forma
àquilo que já estava previsto por Bakhtin
(o conceito de enunciado, com efeito, já
tem natureza semiológica para o pensa-
dor russo); em relação ao segundo eixo,
trata-se de, na confluência das obras de
Pêcheux e Foucault, buscar em Barthes,
uma entrada para a teorização da ima-
gem no plano discursivo.
Essas discussões são travadas
a partir de alguns pressupostos funda-
mentais: i) no que concerne a Bakhtin,
aquilo que ele denominou Metalinguística,
embora seja bastante esclarecedor e
antecipe, nos anos 1920, o que muitos
autores vão postular posteriormente, se
mostra sempre um desafio àqueles que
pretendem encarar sua obra como um
“método” para pensar o discurso hoje; ii)
no que concerne a Pêcheux, foram sem-
pre as materialidades linguísticas que
estiveram no centro das questões. Ainda
que seja possível uma leitura de tipo
“reformista” – que culmina com a afir-
mação de que “tudo já estava lá” – acre-
ditamos que, na esteira do que o próprio
Pêcheux fez, recorrer a Barthes e a Fou-
cault é profícuo para os estudos em AD
francesa. Vale ressaltar que essa pers-
pectiva de trabalho vai ao encontro de um
primeiro momento de recepção de
Pêcheux nos anos 1960/70, por Carlos
Henrique Escobar, no Brasil, quando era
caro pensar, à luz de uma teoria do discur-
so de base marxista, uma Semiologia Mate-
rialista.
O objetivo geral das pesquisas do
grupo é identificar e descrever, na lingua-
gem, processos de construção, critérios
de validação e modos de manifestação
dos laços constituintes de distintos arran-
jos coletivos e de sociedades, especial-
mente a partir das alterações sociodis-
cursivas hodiernas provocadas ou media-
das pelas tecnologias de memória cultural
(a escrita, a informática, entre outras).
Página 3 O Corpo
João Marcos Mateus Kogawa é Professor do Departamento de Letras
da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Doutor em Linguística e Língua
Portuguesa pela Unesp - Araraquara (Conceito CAPES 6). Mestre em Linguística
e Língua Portuguesa pela Unesp - Araraquara (Conceito CAPES 6). É líder, junto
com o Prof. Anderson S. Magalhães, do Grupo de Pesquisa Semiologia e
discurso. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Anderson Salvaterra Magalhães é Mestre em Linguística Aplicada
pela mesma universidade e doutor em Linguística Aplicada e Estudos da
Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é
Professor e membro titular do Conselho de Ensino de Pós-Graduação do
Programa de Mestrado em Letras do Departamento de Letras da Universidade
Federal de São Paulo. É líder, junto com o Prof. João Marcos Mateus Kogawa, do
Grupo de Pesquisa Semiologia e discurso. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Página 4 O Corpo
APRESENTAÇÃO
As datas nos levam no tempo e
marcam nosso corpo no espaço. Neste
2014 reafirmamos nossos laços com o
pensamento de Michel Foucault. Pensar
com Foucault e falar a partir de Fou-
cault é ter a oportunidade de compre-
ender que as teorias se movimentam e
os estudiosos circulam. O Colóquio “30
anos com Foucault: Corpo e Heteropi-
as” toma um dos temas do pensador
como problemática. Como se constitu-
em nossos corpos hoje? De que manei-
ra nossos corpos dizem quem somos?
Em que espaços tais corpos se circuns-
crevem? Mais do que a pluralidade em
“corpos” e “espaços” consideramos a
relação corpo-espaço como possibili-
dades inumeráveis de modos de se ver,
de ser e de viver. Essas políticas de
vida e de espaço vão se materializar
por meio da discussão entre Grupos de
Pesquisa em Análise do Discurso no
Brasil que colocam Michel Foucault no
centro de suas discussões. Este Coló-
quio faz parte de uma rede de eventos
no Brasil que se iniciou na UNESP de
Araraquara, passando pela Federal de
Uberlândia, Federal de São Carlos, Fe-
deral do Pará e, agora, na UESB de Vi-
tória da Conquista, na Bahia. Nosso
foco é discutir, em específico, as heter-
ogeneidades do corpo e do espaço co-
mo também, de maneira mais ampla,
acolher trabalhos em andamento nos
domínios do universo dos estudos do
discurso da maneira como o com-
preendemos no Brasil. Este Colóquio é
uma ação dos Projetos de Extensão e
de Pesquisa realizados pelo Laboratório
de Estudos do Discurso e do Corpo, o
Labedisco/CNPq, desenvolvidos na Uni-
versidade Estadual do Sudoeste da Ba-
hia.
TODAS AS INSCRIÇÕES SÃO GRATUI-
TAS
As inscrições se iniciam no dia
14 de setembro e se encerram no dia
04 de novembro de 2014, um mês antes
do evento, visando a publicação dos
trabalhos nos Anais antes do início do
Colóquio “30 anos com Foucault: Corpo
e Heterotopias”.
As formas de participação se
dividem em modalidades de apresenta-
ção de trabalhos e ouvintes.
Modalidade I
Nesta modalidade, recebere-
mos para debate apresentação de
dissertações e teses em andamento. A
habilidade de síntese do participante é
essencial para o bom andamento desta
modalidade. O participante terá cinco
minutos (duas laudas com espaço 1,5)
para apresentar em linhas gerais o
tema de sua pesquisa. Não necessari-
amente a apresentação deve ser lida.
O trabalho já terá sido avaliado pela
leitura do resumo expandido (enviado
para inscrição) por uma bancada de
quatro professores dentre os convida-
dos do Colóquio, em auditório a ser
designado. O debate acontecerá em
grupo após a apresentação de cada
cinco trabalhos. Nosso objetivo é que o
maior número possível de trabalhos
possa ser ouvido por uma grande por-
ção de participantes.
Modalidade II
Nesta modalidade acolhere-
mos trabalhos de Iniciação Científica,
resultados de TCC, trabalhos de Espe-
cialização e apresentação de Projetos
de Extensão/Projetos de Pesquisa em
formato de painel, com ampla divulga-
ção desses trabalhos no Colóquio. A
inscrição deve ser feita mediante re-
sumo expandido.
Página 5 O Corpo
Modalidade III
Desta modalidade participam todos os ouvintes no Colóquio sem apresentação de trabalho.
De 04 de setembro a 04 de novembro (uma vez que o caderno de resumo estará disponível online até, pelo me-
nos, um dia antes da data do evento)
PROFESSORES PARTICIPANTES
O Corpo: Fale um pouco sobre sua
poesia?
Marília: É sempre difícil um olhar imparci-
al sobre o próprio trabalho, acredito que
minha poesia é uma válvula de escape para
suportar a vida, como uma porta de entra-
da para uma vida secreta. Quando escrevo
um poema “vivo” nele por horas, às vezes,
dias. Penso que ela é, como já disse em um
de meus poemas, “a longa e desajeitada
poesia dos desassossegados”. Minha poe-
sia é, sem dúvida, fruto do meu desassos-
sego.
O Corpo: Você tem publicações?
Marília: Tenho participações em algumas
antologias entre elas, “Antologia Poética
Vento a Favor”. Essa antologia foi feita
como conclusão de um curso voltado para a
escrita, dado pelo professor Gabriel Perissé,
em São Paulo e também “Antologia Poética
Painel Brasileiro de Novos Talentos 13”
pela Câmara Brasileira de Jovens Escrito-
res do Rio de Janeiro.
O Corpo: Tem alguma página ou
blog onde se possa conhecer mais seu
trabalho?
Marília: Tenho uma página no facebook,
“Chuva na Vidraça” (https://
www.facebook.com/chuvanavidraca) que é
exatamente para a divulgação de meu tra-
balho e fui convidada por Adriana Aneli
Costa Lagrasta para fazer parte do grupo
de editores da página “Tempestade Urba-
na” (https://www.facebook.com/
tempestadeurbana), uma página dedicada
à arte, de modo geral. Em 26 de outubro
alguns de meus poemas saíram no site
“The São Paulo Times” na seção Poética
Urbana, coordenada e editada por Marcelo
Adifa. http://www.thesptimes.com.br/sp/
tag/poetica-urbana/
O Corpo: E tem algum projeto, no
momento?
Marília: No momento estou participando do
III Concurso Poético Autores S/A. O ideali-
zador e organizador do concurso é Lohan
Lage Pignone, um dos editores do Blog
Autores S/A. Esse concurso, que teve iní-
cio em começo de outubro, é algo bas-
tante inovador, com vários desafios em
várias etapas. De 562 inscritos, ficaram
80, depois passaram para a próxima fase
32 e, agora, nós, os últimos 16 classifica-
dos, caminhamos para as oitavas de final.
Os poemas são julgados e recebem críti-
cas. Acho isso bastante interessante para
notar o olhar do outro sobre nosso traba-
lho.
O Corpo: Quem são os jurados e
qual a premiação final?
Marília: A cada etapa é uma nova banca
de jurados. Essas bancas contam com
nomes expressivos na área de literatura
e jornalismo, como: Ricardo Lísias, Ana
Peluso, Cinthia Moscovich, Afonso Henri-
ques de Guimarães Neto, Flávio Morgado
entre outros. O prêmio final será uma
publicação pela editora Patuá que é uma
das parceiras do Blog nesse evento. De
qualquer modo, a participação também
vale pelos desafios impostos, pois é dado
um tema, às vezes bastante insólito, por
exemplo, “ônibus” ou “facebook” e temos
Página 6 O Corpo
somente três dias para elaborar um poe-
ma. Considerando-se o pouco tempo e os
temas pouco convencionais, o poeta vê-
se obrigado a reestruturar o seu método
criativo.
O Corpo: Algo nas críticas feitas
aos seus poemas te surpreendeu,
quer dizer, foi dito algo que você ainda
não havia se dado conta?
Marília: Na verdade, foi reiterado o fato
Página 7 O Corpo
de meus poemas serem muito imagéticos.
Sempre ouvi que um dos pontos altos em
meus poemas é a criação de imagens, as-
sim como a adjetivação. Somente há pouco
tempo fui pensar sobre isso. Eu venho de
uma família de artistas, meu pai é pintor,
assim, creio que apreendi o mundo por
imagens desde cedo. Lembro-me que ainda
não sabia ler, mas já folheava os livros de
pintura de meu pai e essas imagens fica-
ram em mim de um modo muito forte.
O Corpo: E para o futuro, algum
projeto?
Marília: Tenho o projeto de um livro de
poesias, na verdade um e-book, para ja-
neiro de 2015. E estou começando a elabo-
rar um livro de poesia infanto-juvenil.
IRREMEDIAVELMENTE
O que sei, hoje, é que pessoas
acabam.
Não me venham com religiões,
histórias da carochinha,
histórias para boi dormir,
não me venham com filosofias,
meditações transcendentais,
frases de efeito.
O que sei, hoje, é que
há sorrisos que não mais veremos,
mãos que não tocaremos,
olhares que se apagaram,
vozes, com seus timbres peculiares,
que não tornaremos a ouvir.
Hoje, há apenas um coração
irremediavelmente inconsolável
e que se dilacera.
ESTRELAS EXTINTAS
Daquele pássaro, caído de algum ninho,
que cuidamos, na infância, e não sobreviveu,
do rosto do primeiro amor,
do brilho da paixão que julgávamos eterna,
do rio que passava
no fundo da chácara
e que agora passa
no fundo de minha memória,
do encontro com a morte
e sua
impalpável absurda concretude,
do que, embora sonhado, não pôde ser,
o que ficou?
Quem ficamos do que fomos,
tal brilho de estrelas extintas?
Página 8 O Corpo
LIMIAR
Salva-me de mim,
abismo constante,
o outro.
Abismo onde tudo tomba
e submerge em volteios concêntricos:
angústia, alegria, decepção, paixão,
ansiedade ...
Lanço-me, sofregamente, às pontes:
janelas, sorrisos, falares,
o que se supõe amor,
páginas em branco, olhares,
abraços, mensagens.
O outro
é margem, limiar, costa.
Sem o outro
transbordo-me em mim.
Sem o outro,
atônito,
sou: Minotauro e Teseu e labirinto.
Marília Lima é paulistana, formada em Letras pela PUCC (Pontifícia Universidade Católica de Campi-
nas) e leciona Português para Estrangeiros. Participou de algumas antologias, entre elas: “Vento a Fa-
vor”, “Antologia Rio 2001” e “Painel Brasileiro de Novos Escritores, 13 - Câmera Brasileira de Jovens
Escritores”. Mantém a página “Chuva na Vidraça” e é uma das editoras da página “Tempestade Urbana”.
Tem o projeto de um livro de poesias que será editado em 2015.
SOMBRAS
As sombras das nuvens
deslizam no dorso da paisagem
como um carinho manso...
Quem dera esse carinho sobre mim.
O VELHO
O velho passa
com seu corpo frágil e feio.
Quem carrega
aquele corpo torto?
Quem se gasta, tornando-se
mais roto a cada dia?
Quem arrasta aquelas pernas
bambas?
Quem sustenta a cabeça
com cabelos ralos e
emite a voz rouca e trêmula?
Quem sobrevive ali, aprisionado
naquela cela de poucas carnes,
ossos e músculos?
Quem?
FEIRA DE ANTIGUIDADES
Por entre
castiçais, rendas,
abajures, xícaras,
Narciso a olhar
na água-espelho
(por eternidades)
seus traços,
em bronze,
delicados,
lânguidos.
Abandonado,
absorvido
em seu prazer ... prisão.
Página 9 O Corpo
Renato Lima é graduado em Pintura pela Escola de Belas Artes - UFRJ. Para saber mais sobre o autor e
suas produções, acesse também o site Pockets - Histórias de Bolso ou a página de Facebook Pocketscomics.
24 a 28 de Novembro de 2014
Mais informações no Link: http://semanadeletras.com/
As contribuições teórico-
analíticas da Semiótica Textual (semiótica
greimasiana), nascida a partir das elabo-
rações metodológicas de Algirdas-Julien
Greimas (1966), trazem um novo olhar
sobre a dimensão textual, rompendo com a
ideia tradicional de textualidade unicamen-
te verbal e sim abarcando o campo relaci-
onal do texto semio-verbal. Nessa pers-
pectiva, as abordagens, em torno do senti-
do que um texto veicula, estão assentadas
numa semântica estrutural, na qual é pos-
sível se verificar o sentido em dois planos
basilares: o plano da expressão e o plano
do conteúdo. Ademais, segundo Greimas
([1966], 1976), é possível se entender o
percurso gerativo do sentido numa produ-
ção discursiva sem, entretanto, necessari-
amente desconsiderar os elementos extra-
linguísticos como o contexto sócio-
histórico, a ideologia e para que sentido
apontam numa abordagem discursiva.
As capas dos veículos midiáticos
enquadram-se como textos sincréticos, os
quais apresentam linguagem não-verbal
(imagem) e linguagem verbal (texto). Em
ambas formas de expressão da linguagem,
o sentido do texto se dá através da análise
de seu percurso gerativo, isto é, o percur-
so pretende explicar a produção de sentido
através de uma sucessão de três níveis,
saindo (partindo) do mais abstrato para o
mais concreto, do mais profundo para o
mais superficial.
Para a semiótica textual, a signi-
ficação se apresenta na relação entre os
planos sígnicos do conteúdo e da expres-
são. O conteúdo diz respeito ao processo
informativo, ou seja, aquilo sobre o que se
quer dizer; a expressão, por outro lado, é
a forma, a maneira como se a informação
se apresenta; assim, “o plano de conteúdo
é formado no percurso gerativo do senti-
do e manifestado no plano da expres-
são” (PIETROFORTE, 2008, p.107). Nesse
entendimento, os planos de significação,
constituintes do percurso gerativo de
sentido, estruturam tanto o âmbito do
conteúdo quanto o da expressão. Esse
jogo interpretativo entre o verbal e plásti-
co faz parte da competência da semiótica
semi-simbólica, aquela que se ocupa com
objetos de natureza sincrética, a qual se
vale tanto dos instrumentos interpretati-
vos das análises textuais, como também
daqueles das abordagens imagéticas.
Os planos de composição síg-
nica amparam tanto a parte verbal quanto
a não-verbal do discurso (tomado como
sinônimo de texto), possibilitando para
cada um desses modos de apresentação
textual a sua materialização informativa,
isto é, o plano da expressão e do conteú-
do que estão presentes tanto para o ver-
Página 10 O Corpo
“As capas dos ve-ículos midiáticos
enquadram-se como textos sin-créticos, os quais apresentam lin-
guagem não-verbal (imagem) e linguagem ver-
bal (texto)”
bal quanto para o não-verbal no texto.
Para a semiótica semi-simbólica o plano
de expressão (“mundo exterior”) indica
como o material semiótico é veiculado,
suas formas, cores e texturas, tamanho,
disposição espacial etc., e o plano do
conteúdo (“mundo interior”) é a repre-
sentação que esses componentes exter-
nos adquirem, a partir de suas composi-
ções e relações.
Os objetos midiáticos, em ques-
tão, pela sua natureza, atendem à deman-
da de divulgação de fatos sociais relevan-
tes e, como veículos de comunicação
popular, adquirirem força persuasiva
quando estabelecem um vínculo
“emocional” com o sujeito cognoscente,
como se vê na composição da imagem
entre o texto de chamada e a postura do
ex-presidente, como seguem.
Para a análise, tomar-se-á,
além da imagem do ex-presidente Lula,
apenas o texto de chamada, conforme se
apresenta nas imagens 1 e 2 respectiva-
mente: “A grande batalha de Lula” e “Os
bastidores da luta de Lula contra o cân-
cer”.
A leitura visual da imagem, nesse
caso, não descarta o texto verbal, uma vez
que esse compõe, de forma complementar,
a semiose do texto não verbal, estabele-
cendo uma relação de contiguidade entre
ambas as esferas textuais. É, assim, pois,
que o processo de discursivização visual
acontece, o qual é formado pela relação de
“intensidade” e “extensidade”, formando,
então, o(s) gradiente(s) perceptivo(s)
(FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001). Dessa
forma, a relação de forças entre os gradi-
entes de intensidade e extensidade é o que
caracteriza a tensividade, ou seja, um ar-
ranjo de forças, o qual acontece no espaço
tensivo, envolvendo o sujeito cognoscente
e o objeto cognoscível.
Na apreensão dos objetos midiá-
ticos, observa-se que, na imagem 1, o ex-
presidente, vestido como um homem do
povo, sorrindo, dirige para o alto o olhar,
que pode ser entendido como o céu, cujo
contraste de luz (claro e escuro) faz com
que se perceba que do alto, em sua dire-
ção, vem um facho de luz (celestial), ba-
nhando-lhe toda a face, o que, numa pers-
pectiva mística, estaria relacionada a uma
salvação divina para aquele especialmen-
te escolhido. Acrescida da frase de cha-
mada (“A grande batalha de Lula”), vê-se,
portanto, que esta não será uma “luta”
solitária ou meramente humana, mas sim
amparada pelas forças divinas, que o
ajudarão como um Ser merecedor dessa
salvação e desse amparo.
Inversamente, na imagem 2, vê-
se o ex-presidente, numa atitude pensati-
Página 11 O Corpo
IMAGEM 1
IMAGEM 2
“Para a semióti-ca semi-
simbólica o pla-no de expressão (“mundo exteri-or”) indica como
o material se-miótico é veicu-
lado”
va e preocupada, ar circunspecto, sobri-
amente vestido (paletó e gravata), direci-
onando o olhar para baixo, atrelando-o à
condição humana, caracterizada por me-
dos e fraquezas, comum a qualquer pes-
soa, mesmo tendo ocupado a maior posi-
ção social que uma pessoa poderia alcan-
çar: a presidência de um país.
Assim, a verbalização da ima-
gem do corpo político, entendida como a
leitura visual, está relacionada ao gradi-
ente tensivo que se estabelece, a partir
da percepção que o sujeito observador
tem do objeto observado.
As tensões apreendidas pelo
observador (relações entre o sensível e o
inteligível) são viabilizadas por intermé-
dio do discurso que passa de um estado
de ato a uma práxis. As categorias envol-
vidas, que formam o discurso,
deixam, assim, seu estado poten-
cial para realizarem um movimen-
to de enunciação. Portanto, para
Fontanille (2007) passa-se de “um
discurso em ato ao discurso enun-
ciado”, estruturado pelo encadea-
mento de discursos singulares, os
quais “são capazes de esquemati-
zar aquilo a que fazem referência e de
projetar formas inteligíveis que nos permi-
tem c o ns tru ir s ua s ign i f ic a-
ção” (FONTANILLE, 2007, p.109).
Os esquemas discursivos, por-
tanto, são formados pelas relações tensi-
vas, as quais são responsáveis pela apre-
ensão do sentido, num jogo de forças
(gradiente tensivo) que pode ser demons-
trado por meio de esquemas gráficos que
materializam as categorias envolvidas.
Interessante considerar a referência que
esse campo de análise semiótica faz quan-
to a importância do sujeito perceptivo no
processo de significação. Nota-se essa
referência, no que tange a operacionaliza-
ção mental, que o observador realiza so-
bre os constituintes semióticos para a
compreensão e estabelecimento do senti-
do, como também a sua participação quan-
to a atribuição valorativa (axiológica) en-
volvidas, alicerçando, mais uma vez, a di-
mensão fulcral da fenomenologia da signi-
ficação, a qual converte semioticamente
esse sujeito da observação (sujeito cog-
noscente), em um “sujeito sensível” e,
consequentemente, no “próprio lugar das
correlações entre gradientes semânti-
cos” (FONTANILLE; ZILBERBERG, 2001,
p.20).
Ainda na esteira da análise se-
mio-verbal, é relevante considerar que as
imagens do ex-presidente, expostas nas
capas das revistas, adquirem um revesti-
mento semiótico oferecido pelo sujeito
observador. A imagem projetada (imagem
humana) redimensiona-se de uma leitura
denotada para uma leitura conotada que,
segundo Pietroforte (2007, p.28),
“assume o sentido de uma espécie de
grau zero da corporalidade, sobre o qual
as conotações míticas estéticas podem
ser projetadas”.
Essas projeções podem ser en-
caradas como artefatos sócio-culturais e
ideológicos que, conforme Fausto Neto
(1990), constroem o “corpo do sujeito
político”, dentro de uma rede de significa-
Página 12 O Corpo
“Os esquemas discursivos, por-
tanto, são for-mados pelas re-lações tensivas, as quais são res-ponsáveis pela apreensão do
sentido...”
IMAGEM 3: ADAPTADO DE FONTANILLE E
ZILBERBERG (2001, P.179)
ções, simulando o real. Para tanto, o
“corpo do sujeito político” se descorpori-
fica para possibilitar que outras proje-
ções encontrem aí espaço e sentido e
que se realizem pela “gramática de um
outro corpo”. Assim, a percepção do
“corpo político” é manifestada pelo ato de
significação e re-significação possíveis
na relação interativo-perceptiva entre
corpo-sujeito e corpo-objeto.
Salienta-se, sobremaneira, na
semiótica visual, a importância do sujeito
observador (observador sensível), uma
vez que é nele que se instala o processo
perceptivo e do qual emana a interpreta-
ção. Segundo Fontanille e Zilberberg
(2001, p.26), esse “observador sensível”
se constitui como o “próprio lugar das
correlações entre gradientes semânti-
cos”, isto é, a “„caixa preta‟ da semiótica
das paixões, a saber o corpo próprio do
sujeito que sente: o corpo próprio é o
lugar em que se fazem e se sentem, de
uma só vez, as correlações entre valências
perceptivas (intensidade e extensidade)”.
Entender, portanto, o processo
de significação imagético-verbal requer
uma série de concatenações que exigem o
entrelaçamento da imagem, bem como o
“objeto” representado por ela, com tudo
aquilo que lhe diz respeito, não só com a
descrição dos componentes internos e
externos da fotografia, mas, sobretudo,
com formas de ação perceptivas do sujeito
observador, uma vez que sem este não há
possibilidade de semiotização do mundo
circundante.
REFERÊNCIAS
FAUSTO NETO, Antônio. O Presidente da
televisão: a construção do sujeito e do
discurso político no guia eleitoral. Revista
Comunicação e Cultura, São Paulo, ano
09, n. 11, p.07-27, abr./jun., 1990.
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise
do discurso. São Paulo: Contexto /EDUSP,
1989.
FONTANILLE, Jacques. Semiótica do Dis-
curso. Tradução Jean Cristtus Portela.
São Paulo: Contexto, 2007.
FONTANILLE, Jacques; ZILBERBERG, Claude.
Tensão e significação. Tradução de Ivã
Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São
Paulo: Discurso Editorial/Humanitas,
2001.
GREIMAS, Algirdas Julien. [1966]. Semân-
tica estrutural. Tradução Haquira Osaka-
be e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix/
EDUSP, 1976.
PIETROFORTE, Antonio Vicente S. Semióti-
ca visual: os percursos do olhar. 2.ed.
São Paulo: Contexto, 2008.
Página 13 O Corpo
Suani de Almeida Vasconcelos é Mestre em Letras e
Linguística pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Le-
tras e Linguística, na área de Descrição e Análise Linguística pela
Universidade Federal da Bahia (2011). Atualmente é professora
da área de linguística do Departamento de Letras e Artes da Uni-
versidade Estadual de Feira de Santana e professora da Faculdade Nobre de
Feira de Santana. Currículo Lattes: Clique Aqui!
“a percepção do „corpo político‟ é manifestada pe-lo ato de signifi-
cação e re-significação pos-síveis na relação
interativo-
perceptiva...”
“Entender, portanto, o processo de signifi-
cação imagético-verbal requer uma sé-rie de concatenações que exigem o entrela-çamento da imagem, bem como o “objeto” representado por ela”
A Análise de discurso pecheutia-
na oferece subsídios teóricos e metodoló-
gicos para que o pesquisador atravesse o
texto, indo em busca dos aspectos discur-
sivos que o constituem ou seja, o pesqui-
sador deve procurar romper com as evi-
dências dos sentidos, de-superficializar os
textos, deve indagar-se: sobre o lugar de
onde se diz, e sobre porque se diz.. No
processo de desnaturalização textual, o
pesquisador atravessa três diferentes
momentos: entra em contato com a super-
fície linguística, a transforma em objeto
discursivo e chega ao processo discursivo,
No primeiro momento procura-se
transformar o texto enquanto objeto for-
mal em objeto discursivo, procurando co-
locar o dito em relação ao não dito, ou
seja, o pesquisador deve dar conta do es-
quecimento nº 2 (que é da ordem da enun-
ciação) questionando se o que foi dito só
poderia ter sido dito daquele maneira.
Desse modo, a partir das pistas deixadas
no intradiscurso, o sujeito pesquisador,
tendo desnaturalizado os sentidos, trans-
forma a superfície linguística em objeto
discursivo. No segundo momento, vale
refletir sobre o que se pode dizer e o que
não se pode dizer, o que é dito neste dis-
curso e em outros discursos em outras
conjunturas, observando os não ditos sig-
nificando. O terceiro momento (do proces-
so discursivo) é caracterizado como aque-
le em que o analista procura relacionar as
formações discursivas com a ideologia,
Segundo Pêcheux e Fuchs (1997, p. 169) "o
sentido de uma sequência só é material-
mente concebível na medida em que se
concebe essa sequência como pertencente
necessariamente a esta ou aquela forma-
ção discursiva"
Desnaturalizando os sentidos da
propaganda e concebendo-a não apenas
como um texto qualquer, mas como um
objeto discursivo, é que se pretende refle-
tir sobre os elementos do processo dis-
cursivo que nela se materializam como a
ideologia e os já ditos, pensando sobre a
construção discursiva da ideia de magreza
e sobrepeso, através da representação do
corpo feminino, representação esta que
passa pela noção de corpo saudável e de
beleza. O discurso publicitário do qual
derivam as propagandas, com o objetivo
mercadológico de vender produtos, con-
tribui para homogeneizar os sujeitos que
passam a ser vistos como consumidores
em série.
O primeiro exemplo aqui coloca-
do circulou em revistas da década de
1940, época em que a mulher era vista
ainda como naturalmente afeita à mater-
nidade, ao lar e ao casamento. Já na
década de 90, outros lugares sociais
eram ocupados pelas mulheres, mas ain-
da era possível retomarmos já-ditos que
colocavam as mesmas no ambiente do-
méstico, naturalizando o papel da mulher
Página 14 O Corpo
“... o pesquisa-dor deve procu-rar romper com
as evidências dos sentidos, de-superficializar os
textos... ”
na sociedade. Os sentidos ligam-se tam-
bém às condições de produção do discur-
so. Segundo Pêcheux (1997, p.77) “um
discurso é sempre pronunciado a partir
de condições de produção dadas”.
A Figura 1 representa um anún-
cio publicitário , que objetiva vender um
remédio para engordar, o Vikelp. No mes-
mo, destacam-se as imagens de duas
mulheres: a da esquerda aparece cabis-
baixa, com aspecto doentil e apresentan-
do-se com ar de descontentamento; a da
direita aparece sorridente, com aspecto
saudável e expressão de autoconfiança. O
enunciado que está relacionado à mulher
da esquerda confirma a expressão doen-
tia, conforme se vê a seguir: Sou magra
de nascença, nunca passarei disto! Esse
enunciado remete a elementos do inter-
discurso, “todo complexo com dominan-
te” (Pêcheux, 1997, p. 146) ao considerar
a magreza como uma doença, como car-
ga genética (nascença), retomando ex-
pressões como "cego de nascença",
"surdo de nas-
cença", dentre
outras. A partir
do mesmo enun-
ciado, é possível
notar que ser
magro é algo
ruim, indesejável,
o que é reforçado
pelo tom de lamento presente no trecho:
nunca passarei disso! O efeito de sentido
sobre a magreza, portanto, retoma ele-
mentos do interdiscurso que repousam
numa construção histórica e ideológica, a
qual relaciona o baixo peso à falta de saú-
de, fraqueza física e baixa autoestima.
Além disso, o corpo da mulher é mercado-
logizado e é vendido junto com o produto
para engordar. O corpo cheinho é discursi-
vizado como o ideal, o desejável, o belo,
enquanto que o corpo magro é construído
como aquele indesejável, feio, estranho.
A mulher da direita profere o
enunciado: Eu dizia o mesmo antes de
usar o Vikelp! A partir do mesmo, recupe-
ra-se o sentido de que o Vikelp traz felici-
dade e restaura a autoestima e felicidade
para aqueles que consomem esse produ-
to. Neste caso, a felicidade está relaciona-
da a certa compleição física, sendo que o
corpo magro traz tristeza e descontenta-
mento. É o corpo coagindo os sujeitos.
Mais adiante há o trecho: Enfim, uma boa
notícia para as pessoas „magras de nas-
cença‟ que, embora bem alimentadas, não
conseguem aumento de peso. (Trecho da
Figura 1)
No trecho está marcada nova-
mente a formação discursiva de magreza
como doença A expressão “embora bem
alimentadas”, revela que há algo errado
com o sujeito magro de nascença: apesar
de comer bem, não engorda. Ele não é
considerado dentro dos padrões da nor-
malidade (se comer bem, vai engordar).
Há a ideologia do estranhamento e da
exclusão da diferença (ser diferente é
estranho). Neste caso, há a remissão à
necessidade de se adequar à normalidade,
ou seja, possuir "carnes rijas" para co-
brir as saliências e depressões do corpo
magro. Destaca-se a ideologia da merca-
Página 15 O Corpo
FIGUR
A 1- ANÚ
NCIO PUBLICITÁR
IO DO
VIKELP. FON
TE: SCHOLZ (2011)
“ O corpo chei-nho é discursivi-zado como o ide-al, o desejável, o belo, enquanto que o corpo ma-gro é construído como aquele in-desejável, feio,
estranho”
dologização da felicidade, e da beleza,
sentido que é reforçado pelo próprio
discurso publicitário. Revela-se a cons-
trução do sujeito a partir do corpo.
A visão sobre a magreza será
substancialmente modificada no anúncio
publicitário da Figura 2. O anúncio a se-
guir que circulou na década de 1990,
mostra que houve um deslizamento de
sentidos da noção de magreza, uma vez
que a mesma passa a ser reelaborada e a
ser vista como algo positivo, símbolo de
beleza e saúde. A partir da década de
1990, é visível nas propagandas o atra-
vessamento do discurso científico com as
ideias de vida e alimentação saudáveis.
Desse modo, o sobrepeso passa a ser
condenado por representar riscos à saú-
de, mas além de carregar o sentido nega-
tivo ligado a doenças, passa, também, a
ser considerado feio, fora de moda, es-
quisito e indesejável. As pessoas gordinhas
passam a ser excluídas socialmente, cons-
tituindo-se como sujeitos fora dos padrões
de beleza, feios, estranhos, anormais e
infelizes.
No anúncio anterior, aparece a
cena do casamento, com destaque para o
bolo e os noivinhos que, na imagem, são
gordos. Acima do bolo aparece o enuncia-
do: O mundo nunca vai
ser assim. Emagreça
com Sanavita. A partir
da análise do enuncia-
do e das imagens,
percebe-se que o
anúncio remete à ideia
que para ser atraente
e arran jar um
"marido" é necessário
se adequar aos pa-
drões de beleza que,
na década de 1990, correspondem a ter um
corpo magro, retomando, parafrastica-
mente, a ideia de que a mulher está ligada
ao mundo do lar e ao casamento. Mais
uma vez, há a ligação entre a mulher e a
esfera do casamento, mas agora essa
ligação é consumada através da junção da
imagem, que também é elemento discursi-
vo, e do texto. A retomada dos já ditos
sobre a mulher, o casamento, o lar é visí-
vel na propaganda que traz à tona esses
elementos do interdiscurso. Novamente o
corpo coage os sujeitos que percisam se
adequar às idéias de beleza.
Identifica-se, assim, uma outra
formação discursiva bem diferente da-
quela da década de 1940: agora ser magra
é ser bonita, ser atraente. Houve, então,
um deslizamento de sentidos que foi gera-
do pelas condições de produção do dis-
curso na década de 1990, atravessado
pelo discurso científico de que a gordura
é um dos elementos que leva ao desenvol-
vimento de inúmeras doenças. O atraves-
samento do discurso científico é visível no
enunciado: Sanavita, o ingrediente de sua
reeducação alimentar e de seu emagreci-
mento saudável. Emagrecer já é, portanto,
nessa época, sinônimo de saúde e para se
adequar ao mundo, que nunca vai ser dos
gordinhos, é preciso tomar o Sanavita. A
ideologia de que a aparência física traz
felicidade e autoestima também está pre-
sente, normalizando a ideia de que a apa-
rência é mais importante do que a essên-
Página 16 O Corpo
FIGURA 2 - SANAVITA. FONTE: SCHOLZ (2011).
“o sobrepeso passa a ser con-denado por re-
presentar riscos à saúde, mas
além de carregar o sentido negati-
vo ligado a do-
enças...”
cia. Tanto que, para se adequar ao mun-
do, é preciso ser magro.
A propaganda funciona, assim,
como veículo ideológico que pretende
homogeneizar os sujeitos através do o
corpo: todos, se quiserem fazer parte do
mundo, precisam ser magros. Esse dis-
curso mostra a exclusão dos sujeitos que
estão acima do peso, e a concepção de
que estes são anormais, feios, desinte-
ressantes, Assim, para serem aceitas
socialmente, as mulheres precisam ser
magras. Por circular, dentre outras, em
revistas femininas, o anúncio traz tam-
bém outros sentidos (reforçados pela
imagem dos noivinhos) que retomam
discursos sobre as mulheres, tais como:
a felicidade feminina é conquistada atra-
vés do casamento, a mulher se realiza
quando se torna esposa, a mulher deve
atender aos desejos do marido e, para se
conseguir um marido, a mulher deve se
adequar aos padrões sociais de beleza da
época, dentre outras coisas. Ser gordinha,
estar acima do peso, não significa o mes-
mo que significava na década de 1940.
Quase últimas palavras
Como foi possível notar nos
anúncios aqui analisados, as ideias de ma-
greza, sobrepeso, são construídas discur-
sivamente, derivadas de determinadas
formações ideológicas que variam a de-
pender da época em que os textos circula-
ram. Tais construções retomam já-ditos
sobre a beleza, passando também por mo-
dos de subjetivação do corpo feminino nos
anúncios analisados.
Desse modo, as noções de ma-
greza e sobrepeso estão expostas ao des-
lizamento de sentidos, o que revela a não
transparência da língua. Ser magra na
década de 1940 era ter um aspecto de
doente, sendo, inclusive, a pessoa magra
excluída da possibilidade de levar uma vida
normal. O mesmo não acontece na década
de 1990, quando a magreza passa a ser
vista como símbolo de saúde, e o sobrepe-
so como algo feio, indesejado.
Referências
GADET, Françoise.; HAK, Tony. (Org.). Por
uma análise automática do discurso: Uma
introdução à obra de Michel Pêcheux.
Campinas/SP: Editora da Unicamp, 1997.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso:
uma crítica à afirmação do óbvio. Trad.
Eni P. Orlandi et al., 2. ed., Campinas, SP:
Unicamp, 1995.
_________. Análise automática do discur-
so (AAD-69). In: GADET, Françoise; HAK,
Tony. (Org.). Por uma análise automática
do discurso. 3. ed., Campinas, SP: Ed. da
Unicamp, 1997, p. 61 - 105.
PÊCHEUX;Michel; FUCHS, Catherine . A
propósito da análise automática do dis-
curso: atualizações e perspectivas. In:
GADET; HAK (Org.). Por uma análise auto-
mática do discurso. 3. ed., Campinas, SP:
Ed. da Unicamp, 1997, p. 163 -252.
SCHOLZ, Cley. Blog reclames do estadão.
Para os magros de nascença. 2011. Dispo-
nível em: http://blogs.estadao.com.br/
r e c l a m e s - d o -
estadao/2011/07/30/13189/. Acesso em:
10 jun 2014.
Página 17 O Corpo
Palmira Heine é Palmira Heine é professora da Universida-
de Estadual de Feira de Santana. Doutora em Linguística pela
UFBA e mestre em Linguística pela mesma instituição. É coorde-
nadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Análise de Discurso
(GEPEAD), cadastrado no CNPQ, cujas atividades se desenvolvem
no Departamento de Letras e Artes da UEFS. Currículo Lattes: Clique Aqui!
“A propaganda funciona, assim,
como veículo ideológico que
pretende homo-geneizar os su-
jeitos através do
o corpo”
Introdução
Desde que começou a articular
signos o homem conta histórias. Um dos
suportes modernos que tem maior alcance
em termo de espectador é a telenovela.
Assim, estamos falando de uma “uma his-
tória serializada que remonta o hábito de
seguir as tramas e os personagens, entre-
tendo enormes contingentes” (SADEK,
2008, p.11). Ao pensarmos a telenovela logo
nos vem à mente a sua vinheta de abertu-
ra. Foi na década de 1970 que as vinhetas
inauguraram a exposição de um sistema
de imagens, ou seja, uma complexa varie-
dade de signos, que narra mensagens ine-
rentes à temática central da própria tele-
novela.
Partindo dessa premissa, a pro-
posta deste estudo está pautada na análise
desse sistema de imagens que compõe a
vinheta de abertura da segunda versão da
telenovela O Astro, exibida pela TV Globo
em 2011, no horário das 23 horas. Aqui não
serão considerados os efeitos incitados
pela materialidade sonora, ocuparemo-nos
apenas das imagens em movimento que
constituem a vinheta. Para isso, acionare-
mos os postulados de Gilles Deleuze, na
tentativa em que fez de classificar as ima-
gens e os signos na obra “A imagem-
movimento” (1985), onde procurou demar-
car os novos pontos de vistas impostos
pelo cinema à classificação já estabelecida
pelo lógico americano Charles S. Peirce
(2005).
Por meio da decupagem da vinhe-
ta de abertura conseguimos determinar a
prevalência do primeiro plano, no qual
rosto e objetos exprimem potência ou qua-
lidade, ou seja, pólos do afeto, fixando as-
sim uma das variedades da imagem-
movimento, que está na ordem do movi-
mento de expressão, do ícone, “do signo de
composição bipolar da imagem-
afecção” (DELEUZE, 1985, p. 126).
Entre a vinheta, o plano e a variedade
da imagem
Não podemos pensar a telenovela
sem transitarmos pelos caminhos do cine-
ma, haja vista que este antecede aquela no
que diz respeito ao uso da imagem em
movimento como materialidade. Desta
forma, ambos os suportes utilizam estra-
tégias de produções análogas. No entanto,
algumas particularidades são fortemente
marcadas em cada um.
As vinhetas de abertura estão
presentes tanto no cinema quanto na
teledramaturgia cumprindo a função de
evidenciar os créditos e informações que
sintetizem a temática principal do filme
ou da telenovela. Assim, trouxemos para
esta discussão a vinheta de abertura da
segunda versão da telenovela O Astro,
escrita por Alcides Nogueira e Geraldo
Página 18 O Corpo
“As vinhetas de abertura estão pre-sentes tanto no ci-nema quanto na teledramaturgia cumprindo a fun-ção de evidenciar os créditos e infor-mações que sinte-tizem a temática
principal do filme
ou da telenovela”
Carneiro, baseada na história de Janete
Clair, que foi exibida pela TV Globo no
período de 12 de julho a 28 de outubro de
2011, inaugurando um novo horário na
grade da emissora destinado à teledra-
maturgia: o das 23 horas.
Se em um filme vemos a vinheta
apenas uma vez, na telenovela acaba
sendo repetida a cada novo capítulo. Cri-
ação de Hans Donner, Alexandre Pit Ribei-
ro, Roberto Stein e Alexandre Romano,
além do envolvimento de profissionais de
outras áreas, a vinheta de abertura de O
Astro, que tem 54 segundos de duração,
pôde ser vista 64 vezes pelos espectado-
res. Segundo Dorneles (2007), essa repe-
tição propicia a existência maior das
imagens e instiga a análise por parte do
espectador, que ao interpretá-la tem a
possibilidade de fazer novas associações
e/ou inferências bem mais significativas.
Como estamos nos disponibili-
zando a analisar uma vinheta de abertura
de uma telenovela, ou seja, imagens em
movimento, é mister lançarmos o nosso
olhar para as estratégias de produção das
referidas imagens. Que tipo de plano tem
maior incidência na vinheta? Que movi-
mento determina esse plano? Que varieda-
de de imagem emerge do plano com seu
respectivo movimento? Essas são algumas
inquietações que norteiam a nossa análise.
Segundo Deleuze (1985, p. 31), “a
decupagem é a determinação do plano, e o
plano a determinação do movimento que se
estabelece no sistema fechado”. Assim é
possível afirmar que um plano é determi-
nado pelos elementos contidos no quadro
de acordo com a distância, o ângulo, a
duração e o movimento estabelecidos pela
câmera.
No âmbito da distância, o plano
que constitui o enquadramento de um obje-
to em destaque, que evidencia proximida-
de, é denominado primeiro plano, conforme
sinaliza a figura 01.
Nos três planos que compõem a
imagem vemos em destaque elementos
corporais (olho e rosto) e objetos
(argolas) que são refletidos por uma uni-
dade imóvel (câmera fixa), mas que apre-
sentam movimentos intensos expressivos.
Essa maneira de enquadrar espacialmen-
te o objeto é caracterizada por Deleuze
(1985) como uma imagem-afecção. E para
investir nesse conceito o filósofo francês
partiu do posicionamento de Eisenstein,
que visualizava no primeiro plano a oferta
de uma leitura afetiva de toda a obra; e,
também, da definição bergsoniana do
afeto, que é caracterizada por “uma série
de micromovimentos sobre uma placa
nervosa imobilizada” (DELEUZE, 1985, p.
114).
Os planos em que o olho e o ros-
to ficam evidentes, ou seja, as figuras 01B
e 01C, a motricidade essencial inerente ao
corpo humano é interditada, e essas par-
tes têm apenas micromovimentos que
podem entrar em séries intensivas. Desse
modo, Deleuze (1985, p. 115) ressalta:
Página 19 O Corpo
Figura 01 (A-B-C): Frames da vinheta de abertura de O Astro.
Fonte: O ASTRO. Rio de Janeiro: Som Livre, 2012. Box DVD.
O móvel perdeu seu movimento
de extensão, e o movimento
tornou-se movimento de ex-pressão. É este conjunto de uma
unidade refletora imóvel e de movimentos intensos expressi-
vos que constitui o afeto. (…) E cada vez que descobrimos em
algo esses dois pólos (...) pode-
mos afirmar: esta coisa foi tra-
tada como um rosto, ela foi
“encarada”, ou melhor,
“rostificada” (grifos do autor).
Em vista disso, o rosto é o lugar
do primeiro plano e o primeiro plano é
em si o rosto. Qualquer outra parte do
corpo, ou mesmo um objeto destacado
em primeiro plano, criará o mesmo efeito
afetivo que o rosto na imagem.
Respaldado pelas ideias de Ba-
lázs, no que diz respeito ao rosto, Deleuze
(1985, p.124) pontua que o primeiro plano
não é a extração desse objeto dentro de
um conjunto, mas uma abstração do mes-
mo das coordenadas espácio-temporais,
“que eleva-o ao estado de Entidade”. O
primeiro plano revela uma mudança de
dimensão e torna-se expressão. E essa
expressão faz do rosto um todo inteligível
que não está vinculado ao espaço. Por
isso, podemos dizer que o plano que evi-
dencia o rosto do personagem Herculano
Quintanilha na imagem 01, no nível da
expressão, não mantém nenhuma relação
com o espaço, uma vez que vemos no
“misterioso” uma qualidade singular que
entrou em conjunção virtual constituindo
uma entidade complexa: o afeto.
Em todo o empreendimento da
discussão em torno da imagem-
movimento, Deleuze (1985) comunga da
ideia de que a imagem dá lugar a signos. A
sua compreensão de signo está associada
à definição cunhada por C. S. Peirce (2005,
p.46) que diz que “o signo, ou
„representâmen‟, é aquilo que, sob certo
aspecto ou modo, representa algo para
alguém”. Essa representação cria na men-
te do outro um signo equivalente, isto é, o
que Peirce chama de “interpretante” do
primeiro signo, uma ideia – termo compre-
endido no sentido platônico – e somente
isso, do “objeto”, daquilo que representa. A
teoria peirceana do signo, a qual subsidiou
o pensamento de Deleuze, é sustentada por
uma tríade: o objeto se relaciona com o
representâmen e o interpretante.
Até aqui vimos que a imagem-
afecção é determinada pela abstração do
rosto ou de um equivalente das coordena-
das espácio-temporais. E elevado ao esta-
do de entidade, o afeto é a potência ou a
qualidade de qualquer objeto do ponto de
vista da expressão. Frente a isso, na expo-
sição feita em torno dessa variedade de
imagem-movimento e na procura do seu
respectivo signo, Deleuze (1985) torna
evidente que
Chama-se “ícone” o conjunto do
expressado e de sua expressão,
do afeto e do rosto. Há portanto ícones de traços e ícones de
contorno, ou melhor, todo ícone tem estes dois pólos: é o signo
de composição bipolar da ima-gem-afecção. A imagem-afecção
é a potência ou a qualidade con-
sideradas por si mesmas en-
quanto expressadas (p. 126, gri-
fo do autor).
A noção de ícone em Deleuze se
configura exatamente da maneira em que
foi compreendida por Peirce ao situá-la
como uma das denominações sígnicas
localizada na segunda de três tricotomias
que estabeleceu para os signos. Essa
tricotomia funciona “conforme a relação
do signo para com seu objeto consistir no
fato de o signo ter algum caráter em si
mesmo, ou manter alguma relação exis-
tencial com esse objeto ou em sua rela-
ção com um interpretante” (PEIRCE, 2005,
p. 51). Assim, um signo pode ser denomi-
nado ícone, por similaridade com o objeto;
índice, por conexão ao objeto, tendo algo
em comum; ou símbolo, quando se refere
ao objeto por meio de uma convenção,
pelos hábitos de uso.
Ainda nessa discussão da ima-
gem-afecção, Deleuze se reportou mais
uma vez a Peirce, agora fazendo uso da
classificação de imagens.
C. S. Peirce (...) distinguia dois
Página 20 O Corpo
tipos de imagens que ele cha-
mava de “Primeiridade” e
“Segundidade”. (...) Peirce não esconde que a primeiridade seja
difícil de definir, pois é mais sentida do que concebida – ela
diz respeito ao novo na experi-ência, o fresco, o fugaz e no
entanto o eterno. (...) são quali-
dades ou potências considera-
das por si mesmas, sem refe-
rência ao que quer que seja de
diferente, independentemente
de qualquer questão sobre sua
atualização. É o que é tal como é por si mesmo e em si mesmo
(DELEUZE, p. 126-7, grifos do autor).
Podemos dizer que o que vemos
num primeiro plano nada mais é do que
uma qualidade de uma sensação no âmbi-
to da possibilidade sem o dever de atuali-
zá-la. A expressão de qualidades-
potências antecipam o acontecimento
que será atualizado. Como podemos ver
na figura 02, no plano aparece apenas as
mãos fechadas. Dessa forma temos a
expressão de um afeto do mistério, com
sua singularidade e sua conjunção virtual,
inerente a imagem-afecção, ao passo que
se atualizado entrará numa outra dimen-
são, numa conexão real, havendo um con-
traponto, a revelação, constituindo o es-
sencial da imagem-ação, mas não entrare-
mos nessa ordem aqui.
Por isso, a imagem-afecção tem
a qualidade e a potência como pólos consi-
derados por si mesmos. Portanto, a ex-
pressão nessa variedade de imagem-
movimento é o signo correspondente.
Algumas considerações
Ao chegarmos nesse ponto da
discussão, vem em nossa mente que talvez
não cumprimos com exatidão a análise da
vinheta de abertura da telenovela O Astro
conforme propomos lá no início. Mas uma
coisa é certa: o nosso olhar para a vinheta
esteve todo o tempo embebido pelo pensa-
mento deleuzeano acerca da imagem-
movimento. E somente por meio das ima-
gens que compõem essa vinheta e pela
regularidade de uma mesma estratégia de
produção, e pela repetição excessiva da
vinheta a cada capítulo, que pudemos com-
preender que a imagem-afecção é o pri-
meiro plano, que por sua vez é o rosto,
tendo como signo correspondente a ex-
pressão capaz de transformar um afeto
em entidade.
A grande contribuição da inser-
ção que fizemos no pensamento deleuzea-
no certamente está no contato que tive-
mos com a teoria dos signos de Peirce,
vendo o uso de alguns dos termos do lógi-
co americano, comumente utilizados na
área da ciência da linguagem, deslocados
para uma taxionomia do cinema cuja fina-
lidade é estabelecer a conjunção entre
imagem e movimento.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles. A imagem-movimento.
Trad. Stella Senra. São Paulo: Editora Bra-
siliense, 1985.
DORNELES, Rogério de Abreu. O design na
teledramartugia: um olhar sobre as vi-
nhetas de abertura das telenovelas da TV
Globo. Rio de Janeiro, 2007, 162p. Disser-
tação de Mestrado. Disponível em: http://
www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/
tesesabertas/0610438_07_ pretextu-
al.pdf. Acesso em: 18 de julho de 2012.
PEIRCE, Charles S. Semiótica. Trad. José
Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspec-
tiva, 2005.
Página 21 O Corpo
Victor Pereira Sousa é Mestre em Linguística pela Univer-
sidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Atualmente, é pro-
fessor convidado do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em
"Práticas Docentes Interdisciplinares" da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB), Campus VI. Currículo Lattes: Clique Aqui!
Figura 02: Frame da vinheta de abertura
de O Astro – Mãos em Primeiro Plano.
Fonte: O ASTRO. Rio de Janeiro: Som Livre, 2012. Box DVD.
Leitura do livro “Reencantar a ciência, reinventar a docência”, escrito por Sílvia Nogueira Chaves
Composição e organização dos capítulos no livro
Dica de O Corpo
Reencantar a ciência, reinventar a docência é um convi-
te para assumirmos a multiplicidade de narrativas da
cultura que temos diante de nós, uma vez que a insufici-
ência da ciência clássica, cartesiana, já não mais dá
conta de explicar os complexos fenômenos de um mundo
incerto e irregular que não obedece a padrões pré-
estabelecidos. A autora discute, de forma ousada e co-
rajosa, diferentes temas ao sair de sua zona de conforto
para assumir a zona de risco e dialogar com outras
áreas de conhecimento, de modo a reduzir a fragmenta-
ção dos saberes.
O Corpo é Discurso
é o primeiro jornal
eletrônico de
popularização
científica da Bahia.
Colaboradores
Popularização da Ciência
A pesquisa científica gera conhecimentos, tecnologias e inovações que benefi-
ciam toda a sociedade. No entanto, muitas pessoas não conseguem compreender a
linguagem utilizada pelos pesquisadores. Neste contexto, a grande mídia e as novas
tecnologias de comunicação cumprem o papel de facilitadores do acesso ao conhe-
cimento científico. Para contribuir com esse processo, em sintonia com o espírito
que anima o Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, criamos
esta seção no portal do CNPq. Seja bem-vindo ao nosso espaço de popularização da
ciência e aproveite para conhecer as pesquisas dos cientistas brasileiros e os bene-
fícios provenientes do desenvolvimento científico-tecnológico.
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