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O NOVO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DO RÁDIO: A MIGRAÇÃO DO AM EM CRICIÚMA
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THE NEW PROCESS OF RADIO'S TRANSFORMATION: AM'S MIGRATION IN CRICIÚMA Douglas de Freitas Sartor
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Karina Woehl de Farias3
Resumo O presente artigo apresenta como tema de pesquisa a migração do rádio AM para o FM. Desta
forma, o trabalho buscou conhecer em que fase está o processo migratório de duas emissoras
AM de Criciúma, a Rádio Hulha Negra AM 1450 e a Rádio Eldorado AM 570. Seguindo essa
linha, o objetivo foi identificar o motivo pelo qual as direções das emissoras de rádio quiseram
mudar de faixa. Além disso, verificar o cenário da migração em Santa Catarina, saber se a
programação das duas emissoras sofrerá alterações além de buscar saber quando a migração
será implantada na cidade. Para chegar aos resultados, foram aplicados questionários e
entrevistas voltadas aos representantes das rádios, com o presidente da Associação Catarinense
de Rádio e Televisão (Acaert) e com técnico em eletrônica. Chegou-se a conclusão de que as
emissoras citadas estão com os pedidos aguardando para serem analisados. As rádios optaram
por migrar por ser uma tendência e necessidade tecnológica, pela convergência e a qualidade do
som. Em Santa Catarina, o cenário mostra que três emissoras já trocaram de faixa, das 100 que
pretendem migrar.
Palavras-chave: Rádio, AM, FM, Migração, Criciúma.
Abstract This article presents as a research topic the migration of AM’s radios to the FM. The study sought to
know in what stage is the migration process of two stations in Criciúma, the Hulha Negra Radio AM
1450 and the Eldorado Radio AM 570. The goal of this article is to know why the radios wanted to
change. Besides that, it wants to check the migration scenario in Santa Catarina, know if the stations’
programming will change and discover when the migration will be deployed in the city. To get the results,
questionnaires with semi-structures questions were applied to representatives of the radios, to the
president of Santa Catarina Association of Radio and Television (Acaert) and to a electronic technician.
The conclusion was that the stations cited have their requests waiting to be analyzed. The radios want to
migrate because it is a trend and technological need for convergence and sound quality. In Santa Catarina,
three of the 100 stations that want to trade range have achieved.
Keywords: Radio, AM, FM, Migration, Criciúma.
1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Jornalismo da Faculdade
SATC, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. 2 Acadêmico de Jornalismo da Faculdade Satc - Douglas de Freitas Sartor - douglas-sartor@hotmail.com
3 Professora Orientadora - Karina Woehl de Farias - Faculdade Satc – fariaskaki@gmail.com
2
Introdução
Ao longo dos seus anos de trajetória o rádio passou por grandes mudanças, seja desde a
chegada da televisão até, a convergência, e agora ganhando espaço com o mobile. O surgimento
do FM foi também uma grande transformação para o meio radiofônico. Com quase 100 anos de
existência no Brasil, o rádio, que até então era predominantemente AM, segundo Jung (2004),
ganhou na década de 70 uma nova faixa, a frequência modulada. Atualmente, o rádio está no
meio de um processo importante na sua história brasileira com a migração do AM para o FM.
Por se tratar de um tema atual e que é novidade no país, este trabalho de pesquisa possuiu como
tema central essa mudança de faixa, que já iniciou no Brasil, das emissoras AM (Ondas Médias)
para a faixa FM (Frequência Modulada). Neste artigo, primeiro, será abordada a história do
rádio, como, e quando surgiu mundialmente, aqui no Brasil e em Santa Catarina. Também será
retratada algumas mudanças sofridas durante a sua caminhada. Em quase um século de
existência no país, citar algumas mudanças tecnológicas que o meio sofreu, além de explicar
como é o processo de migração do AM para o FM, é o que propõe esse estudo.
Sendo assim, o problema deste artigo será verificar em que fase está o processo
migratório de duas emissoras AM de Criciúma, Rádio Hulha Negra AM 1450 e Rádio Eldorado
AM 570. Ambas pediram a autorização para realizar a mudança de faixa. O objetivo geral será
saber qual foi o motivo para as duas rádios da cidade criciumense pedirem para migrar.
Entre os objetivos específicos, será verificar qual o cenário atual da migração em Santa
Catarina a partir de dados da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão
(Acaert). O trabalho ainda irá identificar se a programação das duas emissoras criciumenses irá
mudar ou não. Saber quando a frequência modulada será implantada em Criciúma e o que está
impedindo que a migração ocorra de vez em SC. Para chegar alcançar os objetivos e a resposta
do problema, foram realizadas entrevistas semiestruturadas e questionários com perguntas
abertas. Os entrevistados foram o presidente da Associação Catarinense de Rádio e Televisão,
Rubens Olbrischi, a gerente da Rádio Hulha Negra, Carol Salvaro, o coordenador de jornalismo
da Rádio Eldorado, João Paulo Messer, e o técnico de eletrônica, Emerson Martins.
A migração vem sendo discutida na atualidade por membros do meio radiofônico, mas
começou a ser levantada a possibilidade alguns anos atrás. O primeiro grande passo para a
migração ocorreu no dia 7 de novembro de 20134, quando foi realizada a assinatura e
divulgação de um decreto presidencial, que autoriza as rádios a irem para a frequência
modulada. Esse processo migratório era um pedido antigo das emissoras AM do país.
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Em busca de uma maior qualidade no som e menos interferências no sinal, os
rádiodifusores defendem que indo para a frequência modulada, o rádio se desenvolveria com
mais facilidade.
O processo chegou ao terceiro ano desde a sua liberação pela presidência. Em 2016, a
mudança registrou grandes avanços, já que iniciou a migração de algumas rádios. Atualmente,
segundo dados de setembro deste ano da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abert)5,
são 13 emissoras que tiveram o local definido no espectro, e estão, ou já podem operar em FM.
No fim de outubro, esse número subiu para 14, já que em Santa Catarina mais uma rádio entrou
na frequência modulada. A Rádio Verde Vale AM 1050 conseguiu a liberação do canal e já
transmite sua programação na nova faixa, na 91.9 FM. Ela foi a primeira do Sul do Estado a
migrar. Outras duas emissoras catarinenses já haviam realizado a migração, a Rádio Clube de
Lages e a Rádio Brasil Novo, de Jaraguá do Sul. No Brasil, a primeira emissora a migrar foi a
Rádio Progresso, de Juazeiro do Norte (CE), no dia 18 de março de 2016. Agora a emissora
opera na frequência 97.9. Para chegar a tão sonhada migração, o processo exige algumas etapas
a serem realizadas pelo radiodifusores. Segundo a Acaert6, a assinatura dos aditivos
7 é
considerada uma das últimas etapas antes de operar na nova faixa. Depois, as rádios precisam
apresentar uma proposta de instalação do FM e solicitar a Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) a permissão do uso da radiofrequência. O processo, além dos caminhos
citados acima, inicia com o pedido e a quitação do boleto da diferença da outorga, já que o valor
é maior para operar no FM em relação ao AM. O montante para pagar a diferença varia de
cidade para cidade, pelo radiodifusor e é emitido pelo Ministério das Comunicações para a
migração de faixa. Depois que o órgão regulador gera a liberação, os veículos já podem
começar a transmitir a programação na faixa modulada.
Ainda algumas dúvidas cercam todo esse processo de migração no país. Não se sabe
ainda quando que a migração será concluída, nem o que será feito com o AM. O certo é que o
rádio está passando por uma nova transformação tecnológica, seguindo uma sequência de
adaptações que o dial vem tendo ao longo da sua existência. Como citado no início do trabalho,
o próprio surgimento do FM foi um grande avanço e alterou o cotidiano do rádio brasileiro.
______________________
4 Decreto presidencial nº 8.139 – 7 de novembro de 2013. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8139.htm 5
Dados disponíveis no site da Abert: http://www.abert.org.br/web/index.php/notmenu/item/25232-mctic-adia-data-de-assinatura-da-migracao-para-reunir-mais-emissoras 6 Informações do site da Acaert: http://www.acaert.com.br/cinco-emissoras-de-santa-catarina-ja-podem-
migrar-para-o-fm#.V2cQwdIrLIU. Acesso em 19 de junho de 2016. 7
Conforme o autor deste artigo, aditivos são todos os documentos necessários reunidos pela emissora de rádio para formalizar junto ao órgão regulador a liberação de um canal na faixa, seja AM ou FM.
4
A chegada da Televisão fez repensar a forma de fazer rádio, que segundo Prata (2008,
p.1), “acreditava- se que o rádio iria acabar, já que o novo veículo que nascia, além do som,
tinha também imagem”. Não foi isso que aconteceu, o dial teve que se readaptar a nova
necessidade dos seus ouvintes, fazendo conteúdos diferentes da TV e mais objetivos para quem
o ouvia ainda. Depois a criação do transistor facilitou ainda mais a recepção móvel,
principalmente dando a oportunidade de ouvir a programação de uma emissora no celular. A
convergência foi outra grande transformação, já que o rádio convergiu de vez para a internet.
Cada nova tecnologia que é inserida no cotidiano organizacional e
profissional irá alterar o modo de trabalho nos veículos. Ela também melhora
a qualidade do conteúdo e altera o formato e a definição da mensagem
emitida, além de ampliar as possibilidades de interação com o público. Ou
seja, a mudança tecnológica incide diretamente no resultado econômico, na
ação profissional, nos sentidos das linguagens e da estética dos meios. E,
sobretudo, repercute na maneira do público receber, interpretar e interagir
com as mensagens recebidas. (MAGNONI E RODRIGUES, 2013, p. 3)
Em todas essas mudanças tecnológicas, quem trabalhava no meio teve que aceitar isso e
precisou se adaptar as novas necessidades.
1. O surgimento do Rádio
O rádio tem em suas origens e em seu desenvolvimento diversos avanços tecnológicos
sendo sua criação um grande impacto tecnológico. Para Ferraretto (2001), pensar no surgimento
da radiodifusão implica seguir duas linhas de raciocínio. A primeira está relacionada ao
desenvolvimento de uma tecnologia que permitisse a transmissão, sem fios, de sons a distância.
A segunda tem haver com o desenvolvimento técnico em um meio de comunicação massivo.
O autor faz uma comparação do rádio com a radiotelefonia. Para ele, os equipamentos
utilizados para realizar as transmissões são semelhantes. A única diferença é o objetivo da
transmissão. Enquanto a telefonia consiste na comunicação direcionada e exclusiva entre duas
pessoas, chamada bidirecional, no rádio são emitidas mensagens direcionadas, num único
sentido, para milhões de pessoas, que em casa com os aparelhos de rádio, escutam tudo que
passa na programação. “Esta diferença, hoje óbvia, representa um marco na história da
comunicação humana”. (FERRARETTO, 2001, p. 79)
Antes mesmo de ser criado o rádio, dois meios de comunicação eram fundamentais para
a humanidade: o telégrafo e o telefone. Os dois foram bases para pesquisas com a finalidade de
conhecer qual tecnologia seria usada para a implantação do rádio. Segundo o autor, a
radiotelegrafia e a radiotelefonia eram tecnologias importantes política e economicamente entre
o final do século XIX e início do XX.
5
Nesse período, o mundo atravessava fortes mudanças. Enquanto as novas tecnologias se
desenvolviam, a África e a Ásia eram marcadas pelo colonialismo europeu e os Estados Unidos
da América enfrentavam a Guerra de Secessão, entre 1861 e 1965.
Telégrafo consistia no envio de mensagens por meio de sinais. O dicionário Michaelis
(2008) traz a definição: aparelho destinado a transmitir mensagens ou quaisquer comunicações a
distância. Já o Telefone, conforme Ferraretto (2001, p.81), consiste em “vibrações da voz
humana são transformadas em um fluxo de elétrons e recompostas, na sequência, na forma de
som”. Assim, podemos dizer que o rádio foi o terceiro numa linha de desenvolvimento de novas
tecnologias para a comunicação em massa. “A trajetória que culmina com a Internet tal como
hoje se conhece tem início com o telégrafo;a ele, seguem o telefone (speaking telegraph), o
rádio (wireless telegraph), o cinema, a televisão e, finalmente, a Internet”. (Pizzi, 2004, p.11)
Assim, vários pesquisadores começaram pesquisas com o intuito de chegar na criação
do rádio. O título de criador do rádio dado ao italiano Guglielmo Marconi causa divergências
entre pesquisadores. Para Ferraretto (2001) e Jung (2004), o italiano foi fundamental no
desenvolvimento de novas pesquisas, que ajudaram no aperfeiçoamento dos aparelhos já
inventados e foi um dos principais responsáveis pelo surgimento desse meio de comunicação.
De 1895 a 1897 Marconi realizou uma série de experimentos com a transmissão de
sinais sem fios, consistindo na Telegrafia Sem Fios. Com tudo isso, surgiu, segundo Ferraretto
(2001), um problema básico, que é a voz exigir uma modulação das ondas eletromagnéticas que
garante a continuidade da transmissão e da recepção. Buscando resolver esse empecilho, John
Ambrose Fleming cria a Válvula de Diodo em 1904 e em 1906 surge a Válvula de Triodo, por
Lee DeForest. Assim chegam ao dia histórico, quando ocorreu a primeira transmissão de som
sem fio.
Apesar da primeira transmissão, oficialmente 10 anos depois, podem-se chamar os
experimentos de fato de rádio. Conforme Jung (2004), no início do século 20, David Sarnoff
afirmou que era possível criar uma caixa de música radiotelefônica com válvulas amplificadoras
e autofalante. Para o autor, esse equipamento foi o protótipo do rádio como veículo de
comunicação em massa. Para Ferraretto (2001), o canadense Reginald A. Fessenden e o sueco
Ernest Alexanderson também contribuíram para o processo de criação do rádio.
1.1 A primeira transmissão do rádio no Brasil
No Brasil, a primeira transmissão ocorreu em 7 de setembro de 1922. A
Westinghouse promoveu no país uma demonstração pública de radiodifusão sonora. Isso
ocorreu durante a Exposição do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro. Conforme
Ferraretto (2001), o público ouviu os sons por meio de alto-falantes. Foram transmitidos os
6
discursos do presidente da República, Epitácio Pessoa, e trechos de O guarani, de Carlos
Gomes. Foi possível escutar as transmissões em outras partes do Rio e até em outros estados.
Um ano depois, foi fundada no Rio de Janeiro a Rádio Sociedade (RJ). Foi pela
emissora que Edgar Roquette-Pinto participava das transmissões ao vivo. Ele, segundo Jung
(2004), lia os principais jornais cariocas e selecionava as informações mais importantes. Assim,
sem um horário definido, repassava essas notícias a quem o escutava pela frequência da Rádio
Sociedade.
Podemos atribuir a implantação do rádio no Brasil ao padre Landell de Moura e ao
professor Roquette-Pinto. Aliás, o título de inventor do rádio não foi dado a Landell de Moura
por um fato envolvendo o presidente da república em 1905, Rodrigues Alves. Um dos
assessores da presidência conversou com o padre sobre suas invenções. O resultado desta
conversa não foi das melhores.
Não se sabe se foi devido às limitações intelectuais do assessor, que talvez
não tenha entendido o que lhe era apresentado; se pelo fato de o padre ter
solicitado dois navios da esquadra brasileira para uma demonstração pública
dos seus inventos; ou se o assessor ficou assustado ao ouvir que um dia
seriam possíveis comunicações interplanetárias. Certo é que, ao voltar ao
Palácio, o burocrata, a exemplo de um carimbo de repartição pública, foi
taxativo: “esse padre é um maluco”. (JUNG, 2004, p.23)
Isso não era novidade para Landell de Moura, que vivia sendo transferido de paróquia
em paróquia e até de cidade, sempre acusado de ser impostor, herege e bruxo, de acordo com
Jung (2004). Ainda segundo o autor, o reconhecimento das descobertas e invenções dele
ocorreu após a sua morte, em 1928.
Em Santa Catarina, a pioneira da radiodifusão foi a Rádio Clube de Blumenau, segundo
Medeiros e Vieira (1999). Conforme os autores, a emissora foi durante quase uma década a
única emissora no estado. Um das emissoras que servirão de base para a análise de como está o
processo da migração em SC, a Rádio Eldorado, foi a 17ª rádio implantada em solo catarinense.
Essa afirmação se encontra na obra A História do Rádio em Santa Catarina, de Medeiros e
Vieira (1999).
1.2 Surge o FM: O rádio brasileiro passa por uma transformação
Conforme Ferraretto (2001), na década de 70, iniciou um processo de divisão entre as
emissoras musicais, que aproveitavam a qualidade do som, e as rádios AM, que começaram a
utilizar uma programação voltada mais para o jornalismo. “As FMs, num grau bem menor,
7
também acabaram por roubar, para si, o público que ligava o AM para ouvir programação
musical”. (ZUCULOTO, 2012, p.121)
No Brasil, uma das pioneiras na frequência modulada foi a Difusora FM, de São Paulo,
segundo Jung (2004). Ela entrou ao ar a partir de 1970. Para Ferraretto (2001), o título dado a
emissora é contestado.
Segundo Veiga, a frequência modulada começa a ser utilizada no Brasil, na
década de 50, como forma de interagir o estúdio aos transmissores, uma
prática proibida em 1968, quando o governo reestrutura as emissões em FM,
instituindo um processo semelhante ao das rádios AM. (FERRARETTO,
2001, p. 156)
No mundo, os primeiros registros do FM ocorreram nos Estados Unidos, por volta dos
anos 40, segundo Ferraretto (2001). Em 1960, ela se consolidou pela transmissão de maior
qualidade, mas de menos alcance. Já o AM consegue levar as ondas mais longe, porém perde na
qualidade de som.
Não é difícil se deparar com o seguinte comentário popular: “rádio AM é notícia e FM é
para ouvir música”. Na década de 90 já havia esse pensamento. Conforme Jung (2004), uma
experiência realizada pelas Organizações Globo nos anos 90, em que uma rádio FM de São
Paulo foi utilizada para reproduzir o jornalismo da CBN AM. “Nos primeiros três meses, serviu
apenas como uma espécie de ‘tapa-buraco’. “Canal de FM é para tocar música, não notícia”,
garantiam os especialistas, na época”. (JUNG, 2004, p.44)
Conforme Jung (2004), as emissoras FM no Brasil tiveram a programação influenciada
pela norte-americana, depois da segunda metade da década de 70. O autor revela que na época
era dado ao jornalismo apenas o espaço determinado em lei. Apesar disso, muitas vezes eram
reproduções de programas do AM. Isso porque os donos das emissoras FM possuíam rádio de
ondas médias. “Não havia departamento de jornalismo específico ou equipes de reportagem. Em
1958, a emissora Eldorado reproduziu a mesma programação da AM, sem obter sucesso”.
(JUNG, 2004, p.46)
1.3 A programação e a linguagem no rádio
Para Ferraretto (2001), a destinação de programas conforme o público que ela abrange
pode variar apenas alguns ou a totalidade da programação das emissoras. Isso significa
disponibilizar um serviço direcionado e exclusivo aos ouvintes. Para encontrar o público-alvo,
as rádios consideram os aspectos demográficos socioeconômicos da região em que foi instalada.
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Resumindo, portanto, define-se segmentação como um processo que, a partir
dos interesses dos ouvintes e dos objetivos da empresa de radiodifusão
sonora, se adapta parte ou totalidade de uma programação a um público
específico. Considera-se, assim, não apenas classe social, faixa etária, sexo e
nível de escolaridade, mas sim interesses determinados como, por exemplo,
as preferências do grupo ao qual o indivíduo pertence. (FERRARETTO,
2001, p.54)
Em 1990, surgiu a primeira emissora com o intuito de fazer jornalismo na frequência
modulada. O feito foi realizado na CBN, de São Paulo. Atualmente é mais comum ouvir
informações nas FMs. A Jovem Pan, por exemplo, possuiu programas jornalísticos, que leva
informação ao ouvinte.
Hoje, ao passar pelas estações, é possível encontrar rádios especializadas em
música sertaneja, MPB, pop, rock, jazz, erudita, mensagens religiosas e,
também, em jornalismo. Foi quebrado um paradigma do rádio brasileiro. FM
não serve apenas para tocar música, mas, também, notícia. (JUNG, 2004,
p.47)
Tendo duas faixas e com programações distintas, a linguagem não era a mesma na AM
e no FM. Como nas ondas médias buscou-se priorizar a informação, o apresentador precisar
passar segurança e credibilidade na sua voz. Já na outra frequência, por ser mais de
entretenimento, os locutores era mais descontraídos ao transmitir os programas.
A comunicação será mais completa e eficaz dependendo da proximidade
sócio-cultural dos códigos do emissor e do receptor. Para a eficácia da
mensagem é também necessário um equilíbrio entre informação estética e
semântica, pois ambas representam de forma mais completa a polissemia que
abrange toda produção de significado e sua interpretação em um
comunicativo. (BALSEBRE, 2005, p.328)
Ainda segundo Jung (2004), as emissoras FMs passaram a tratar a linguagem no rádio
menos formal, visando uma narração espontânea. Ainda de acordo com o autor, poucos veículos
ajudaram tanto a espalhar a língua inglesa no Brasil como o rádio FM.
O surgimento do FM causou mudanças no meio radiofônico, como vimos acima. Nesses
quase 100 anos de história no Brasil, o rádio sempre se transformou quando sofreu
interferências tecnológicas. Por isso, este estudo se justifica. Agora, AM e FM estarão
novamente juntos, num mesmo dial, e é preciso perceber as mudanças que a migração irá causar
no rádio brasileiro como num todo.
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1.4 Transformações que o rádio passou
Com a Era de Ouro do rádio no país, entre os anos 1935 e 1955, conforme Zuculoto
(2012), havia no rádio um segmento que conquistou a audiência dos ouvintes, o entretenimento.
Rádionovelas e programas de auditórios faziam sucesso, com narrativas e músicas realizadas ao
vivo e com a interação de quem estava em casa ou nos estúdios da emissora.
Mas isso foi acabando com a chegada da televisão, em meados da década de 50. Vários
atores, atrizes e apresentadores foram para a TV, e deixaram o rádio, onde construíram suas
origens. Com isso, num primeiro momento as músicas que tocavam passaram de ao vivo para
reprodução de discos. Só depois o AM buscou priorizar a informação.
Desde o seu início a televisão reproduziu os formatos radiofônicos, atraindo
seu cast de estrelas e, em pouco tempo, também uma significativa audiência.
Diante da difícil concorrência as grandes orquestras e performances musicais
ao vivo foram substituídas por gravações, o entretenimento foi dando lugar
ao conteúdo informativo, esportes e prestação de serviços. (BETTI, 2015, p.
5)
Depois, ocorreu uma grande transformação, que deu ao rádio novas oportunidades de
conquistar mais ouvintes. O responsável por isso foi o transistor. Conforme Magnoni e
Rodrigues (2013), transistor foi uma tecnologia criada para facilitar a transmissão e recepção
dos sinais, visando a utilização portátil.
É inegável que a invenção do transistor representou a inovação tecnológica
mais significativa para a radiodifusão e permitiu que o rádio ficasse
conhecido por características que até hoje o diferencia dos outros meios: a
recepção móvel e o baixo custo dos receptores, que permitiram a
individualização da audiência. Aliás, é válido ressaltar que a tecnologia do
transistor deu início a era dos microprocessadores e da informática.
(MAGNONI e RODRIGUES, 2013, p.8).
Logo após essa fase, surgiu a convergência. As emissoras se depararam com a
popularização da internet e tiveram que se adaptar para levar a programação a onde o seu
ouvinte estivesse, como exemplo por meio de sites. “A criação da telefonia móvel e da internet
entram nessa lista. A convergência com essas tecnologias não influencia apenas do ponto de
vista técnico, mas também no aspecto econômico, comunicacional e cultural”. (Magnoni e
Rodrigues, 2013, p.11).
A internet acabou dando possibilidades para o rádio estar cada vez mais próximo do
ouvinte. Não há dados concretos sobre emissoras que possuam sites, mas algumas utilizam essa
ferramenta. Na página, elas disponibilizam para as pessoas ouvirem a programação no mundo
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virtual, além de atualizarem com informações os portais. Com tanta evolução acontecendo no
meio radiofônico, a radiodifusão precisou mudar a forma de fazer rádio.
Em função da digitalização da produção e também da possibilidade de
veiculação e transmissão virtual, ambos novos tipos modificam a tradicional
linguagem do rádio, porque perdem ou adquirem características e recursos. E,
afora estas, também provocam mudanças nas necessidades e interesses das
audiências. (ZUCULOTO, 2012, p.170)
Segundo Zuculoto (2012), atualmente o ouvinte não precisa mais acompanhar tudo que
passa na emissora em tempo real. Para a autora, ele pode ouvir determinado programa a hora
que preferir. Isso graças a internet e aos que estão inseridos no meio, que procuraram inovar a
forma de modernizar a programação.
Nos formatos e modelos, outra grande mudança – ou reinvenção – ocorre na
grade de programação linear. No rádio convencional, mesmo quando
transmite também pela internet, a linearidade continua para a programação ao
vivo. Mas além desta, apresenta alternativas de audição e acesso não lineares,
possíveis pelas diversas ferramentas da web que permitem a disponibilização,
os “podcasts” e os “dowunloads”. É a personalização, a individualização da
programação. (ZUCULOTO, 2012, p.171)
A internet conseguiu fazer com que as emissoras atingissem o público mais jovem.
Agora com a migração, o rádio AM consiga recuperar aquele ouvinte que só escutava o FM, por
diversos fatores, entre eles a questão dos aparelhos de smartphones, que possuem somente a
frequência modulada.
1.5 A migração do AM: A mudança mais atual
O processo de mudança mais atual que passa o rádio é a migração do AM local. É
importante explicar que a mudança não é obrigatória. Conforme o Ministério das
Comunicações, as que estão classificadas como regional e nacional não serão obrigadas a
realizarem a troca de faixa. Esse dado é destacado por Betti (2015).
Caso não tenha interesse em migrar, ou seja, constatado que, por questões
técnicas, a migração não será possível, a emissora poderá solicitar a
adequação de frequência, deixando a emissora de ser local e passando a ser
regional. De tal modo, reforçamos que as emissoras com cobertura regional e
nacional não sofrerão alterações com o decreto. (BETTI, 2015, p. 11)
O processo de migração não surgiu apenas nesse ano, já que ganhou mais evidência por
ter apresentado evolução, em relação aos últimos anos. Em um estudo divulgado pela Agência
11
Nacional de Telecomunicações (Anatel), em 2010, já citava os principais pontos que levam a
esse processo.
Já faz algum tempo que a radiodifusão sonora em OM vem lentamente
definhando. Além da notória diferença na qualidade do áudio para as rádios
FM, o crescimento urbano aumenta cada vez mais o patamar do nível de
ruído e polui a faixa com emissões espúrias, deteriorando a qualidade do
áudio e prejudicando a área de cobertura das emissoras. A urbanização
também prejudica a condutividade do solo, essencial para a transmissão em
OM. (Anatel, 2010, p.9)
Além da qualidade do som, outro ponto levado em consideração foi o alto custo de
instalação e equipamentos da AM.
Além disso, as estações de OM têm custos de instalação e manutenção muito
maiores - são grandes torres que consomem uma substancial quantidade de
energia para operar. E a potência de operação muda conforme o período do
dia - à noite é preciso diminuir a potência devido ao fenômeno da propagação
ionosférica, típica da faixa de OM, que aumenta o nível de interferência entre
as emissoras. Para piorar a situação, os receptores de AM são cada vez mais
raros, ao contrário dos de FM, cada vez mais portáteis e mais integrados aos
celulares, tocadores de MP3 e diversos outros dispositivos eletrônicos. Tudo
isso afasta os ouvintes, afeta o market-share das emissoras e põe em risco sua
própria subsistência. (Anatel, 2010, p.9)
Em 2015, professores, pesquisadores e pós-graduados emitiram um manifesto a então
presidenta Dilma Rousseff, ao ex-ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini e ao presidente
da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Américo Martins. Nele resumem todos os pontos
importantes sobre o assunto e defendem que o governo ajude no processo migratório. Ressalta a
preocupação com a negativa do processo. A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) também
recebeu críticas no manifesto. Os estudiosos criticam a não solicitação de migração por parte da
EBC de emissoras históricas, como a Nacional AM e MEC AM. Confira abaixo um trecho
manifesto:
Entre as principais possibilidades de ampliação de audiência, a medida
poderá franquear às emissoras públicas acesso a uma base nacional de 160
milhões aparelhos de telefones móveis equipados para sintonizar rádio,
conforme dados divulgados pela Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e TV (ABERT) em novembro de 2013, quando da assinatura do
decreto de migração do AM para o FM. Em julho deste ano de 2015, de
acordo com a Anatel, o Brasil registrava 281,45 milhões de linhas ativas na
telefonia móvel.
Neste cenário, entendemos que a sustentabilidade do rádio AM está abalada e
que deve haver um compromisso das autoridades para que, diante da
reconfiguração da indústria da radiodifusão sonora, o espaço da radiodifusão
pública esteja garantido.
Pelo exposto, reivindicamos à EBC que reconsidere sua decisão de não
solicitar a migração de suas emissoras. Ao governo federal, em especial ao
12
Ministério das Comunicações, solicitamos uma política de incentivo à
migração do AM para FM destinada exclusivamente a emissoras educativas,
inclusive com reabertura de prazos para que aquelas ainda com dúvidas
possam ser mais bem assessoradas na definição e, assim, efetuarem o pedido.
(INTERCOM, 2015)
Antes disso, no dia 7 de novembro de 2013, um importante passo foi dado. Ocorreu a
assinatura e divulgação do decreto presidencial nº 8.139, que autorizou a migração das
emissoras de rádio AM para o FM, ou frequência modulada. Segundo o Ministério das
Comunicações (MC), a autorização atende a um pedido antigo dos radiodifusores. Um dos
motivos para o pedido, é que as AMs sofrem com interferências no sinal de transmissão, como
citado anteriormente, e não podem ser sintonizadas por dispositivos móveis. Ainda conforme o
MC, com a mudança as emissoras possuem expectativas de recuperarem a audiência.
Os celulares e smartphones também impactaram negativamente o rádio AM,
isto por que os aparelhos com rádio integrado permitem sintonizar apenas o
FM. A personalização modificou também o hábito de escuta nos automóveis.
Com as playlists pessoais a programação musical ficou ainda rara nas AM,
restando restrita à poucos programas populares ligados à cultura local.
(BETTI, 2015, p.6)
Das 1.781 emissoras AM do Brasil, segundo dados do MC8, 1.384 pediram para
mudarem de faixa. Elas foram divididas em dois grupos. O primeiro reúne 948, que conta com
emissoras em que nas localidades onde estão instaladas o espectro do FM comporta a entrada
das rádios. O segundo grupo conta com 436 e elas dependem do desligamento dos canais 5 e 6,
hoje usados pela televisão com sinal analógico. Por isso depende de quando o governo
digitalizar por completo a TV brasileira. Essas rádios constituem o lote residual, que consiste
em emissoras que não possuem espaço no espectro onde estão situadas.
Esse segundo processo de liberação dos canais é chamado pelo Ministério das
Comunicações como dial estendido. Isso porque atualmente o espectro vai de 87.9 MHz a 107.9
MHz. Com a digitalização da televisão brasileira, as rádios FMs serão sintonizadas de 76 MHz a
107.9 MHz, para comportar outros canais em um espectro somente.
______________________
8 Dados obtidos no site do Ministério das Comunicações. Disponível em: http://www.mc.gov.br/. Acesso
em 20 de junho de 2016.
13
Em Santa Catarina, de acordo com o MC, existem 108 emissoras AM. Sendo que dessas
100 pediram para migrarem para o FM. O MC divulgou uma lista com todos os radiodifusores
do país que fizeram o pedido para a migração. Na Região Sul, das 17 existentes, 16 emissoras
pediram para mudar de frequência. Apenas uma emissora, situada em Tubarão, não quis trocar
de faixa. Na Amrec (Associação dos Municípios da Região Carbonífera), todas as rádios
pediram para mudar de faixa, seis no caso. Uma em Lauro Müller, Urussanga, Içara e Orleans e
duas situadas em Criciúma, a Rádio Hulha Negra e Rádio Eldorado.
No dia 10 de março de 2016, o ex-ministro das Comunicações, André Figueiredo,
participou de uma reunião com associações de rádios comerciais e comunitárias para analisar o
processo de migração. Ele afirmou que 78% das emissoras comerciais desejam mudar para o
FM.
O processo de migração não é tão fácil e por isso dificulta um pouco a agilidade. Para
realizarem a mudança de faixa, as rádios terão que assumir alguns custos, como o pagamento da
diferença da outorga da OM para a FM. O valor pode variar de R$ 30 mil a R$ 4,5 milhões,
segundo o Senado Federal9. Para realizar o cálculo e chegar no número final são levados em
considerações fatores como potência, população, indicadores econômicos e sociais do município
em que a emissora está instalada.
2. Procedimentos Metodológicos
Este trabalho fez uma abertura trazendo um tema recente, como é a migração. Para isso,
optou-se por contextualizar o rádio no mundo, no Brasil e em Santa Catarina, desde a sua
criação até o atual momento. Para isso, foram citados dez autores para o embasamento teórico,
como Ferraretto (2001) e Jung (2004). Na parte que é referenciado o processo migratório, além
de Betti (2015), foram utilizados alguns autores e os sites dos órgãos oficiais da esfera federal,
como Ministério das Comunicações, Senado Federal e Anatel.
Para o embasamento da análise deste artigo foi realizado um questionário com
perguntas abertas, enviados por e-mail, com o presidente da Associação Catarinense de
Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), Rubens Olbrisch. Entre algumas perguntas, foi
questionado o por quê da migração e qual o cenário atual no estado.
______________________
9 Dados obtidos no site do Senado Federal. Disponível em:
http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/02/15/emissoras-de-radio-comecam-a-migrar-de-am-para-fm-no-final-do-mes. Acesso em 20 de junho de 2016.
14
Em Criciúma, foram ouvidos por meio de entrevistas semiestruturadas os representantes
de duas emissoras AM da cidade, a Rádio Hulha Negra e a Rádio Eldorado. Na Hulha Negra,
foi entrevistada a gerente da emissora, Carol Salvaro, que detalhou todo o processo realizado e a
projeção para operar no FM, entre outras questões. Na Eldorado, foi realizada uma entrevista
com o coordenador de jornalismo da rádio, João Paulo Messer. Assim como Carol, ele contou
sobre a migração envolvendo a rádio Eldorado. Foram escolhidas as duas emissoras por se
tratarem das únicas AM’s de Criciúma e ambas pediram para migrar. Outro detalhe importante
que existe em comum entre as duas, é que ambas já possuem emissoras FM no grupo. A
Eldorado ainda utiliza boa parte da programação do AM na frequência modulada, já a Hulha
possuiu a Rádio Voz da Vida, e as programações são bem distintas. Por último, foi aplicado um
questionário com perguntas abertas, também por e-mail, com o técnico de eletrônica, Emerson
Martins. Ele representa aqui na região Sul uma empresa de Porto Alegre, que comanda todos os
processos de migração das emissoras da região. Com Martins foi abordado a parte mais técnica
do processo migratório. Todos as entrevistas realizadas foram com perguntas semiestruturadas.
Do ponto de vista da natureza deste artigo, a pesquisa é básica, que segundo Gil (2008,
p. 26) significa a “busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos
científicos sem a preocupação direta com suas aplicações e consequências práticas”. Sendo
assim, a abordagem será qualitativa.
Este trabalho será exploratório, já que além do levantamento bibliográfico, utilizado
para entender todas as transformações que o rádio sofreu, analisou por meio de entrevistas o
cenário atual da migração. Para Gil (2008, p28), pesquisas exploratórias “são aquelas pesquisas
que têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem
para a ocorrência dos fenômenos”.
Em relação aos procedimentos técnicos, utiliza-se entrevistas e pesquisa bibliográfica,
que segundo Marconi e Lakatos (2003, p158), “é um apanhado geral sobre os principais
trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e
relevantes relacionados com o tema”.
3. Análise e discussão dos resultados
A migração quando foi autorizada pelo governo brasileiro deixou os radiodifusores
esperançosos com o futuro do rádio no Brasil. Segundo o presidente da Acaert, Rubens
Olbrisch10
, o processo migratório dará uma sobrevida ao rádio.
_____________________
10OLBRISCH, Rubens (2016). Entrevista concedida em 20 de outubro de 2016.
15
Além de buscar novos ouvintes, um público mais jovem, os radiodifusores poderão ter
melhoras no faturamento com a publicidade. Segundo Olbrisch (2016), a migração dará a
possibilidade de novos investimentos de empresas com anúncios.
A convergência do rádio para os meios digitais através de aplicativos e redes
sociais possibilitou uma maior instantaneidade das informações e
interatividade com o ouvinte. Com a migração, emissoras que já tinham uma
história quase centenária, passam a escrever um novo capítulo de suas
biografias, mas agora, através de um canal com maior qualidade de
transmissão. A tendência é o meio publicitário perceber essa nova realidade,
e destinar uma fatia maior do bolo publicitário para os anúncios em rádio,
como já vem acontecendo em países como os Estados Unidos.
(OLBRISCH, 2016).
O processo migratório vem ocorrendo de uma forma lenta e ainda existem algumas
dúvidas referentes a esse fato, que é caracterizado como novo, uma inovação para o dial
brasileiro.
Para atender a uma antiga solicitação de radiodifusores, o decreto
presidencial nº 8139 autorizou a migração das emissoras de rádio que operam
na faixa AM para a faixa FM. Com a mudança, a expectativa do setor é de
que as rádios AM recuperem a audiência. Essas emissoras foram
prejudicadas não só por causa da interferência no sinal de transmissão, mas
também porque não podem ser sintonizadas por dispositivos móveis, como
celulares e tablets ou mesmo rádios de automóveis. (MINISTÉRIO DAS
COMUNICAÇÕES, 2014).
Foi escolhido esse assunto pela questão do novo, de uma fase que implica no futuro do
rádio. Para isso, foram pesquisadas duas emissoras, Rádio Hulha Negra AM 1450 e Rádio
Eldorado AM 570, por se tratarem das únicas em ondas médias da cidade. A Eldorado é a mais
antiga, tendo seus primeiros registros nos anos 40. Ainda sem a liberação do Ministério da
Aviação, responsável na época pela liberação de canais para emissoras, a rádio transmitia
programas, que eram ouvidos na Praça Nereu Ramos, o famoso serviço de autofalantes “Voz de
Cresciúma”. Após conseguir uma frequência no espectro, ela operou em caráter experimental
por alguns meses, até que foi registrada oficialmente em novembro de 1948. O principal
fundador foi o médico José de Patta, italiano da cidade de Nápoles. Além dele, também
ajudaram na criação da emissora Cláudio Schueller, Manif Zacharias, Luiz Napoleão, Nereu
Thomé e Ire Guimarães11
. Atualmente a emissora tem 76 anos de existência e foca a sua
programação mais para o jornalismo, com notícias, com destaque no esporte, com a cobertura
diária do Criciúma Esporte Clube.
_____________________
11 Dados históricos obtidos no site oficial da Rádio Eldorado. Disponível em http://am570.com.br .
Acesso em 2 de novembro de 2016.
16
A Hulha Negra existe há mais de 25 anos e passou em 2002 por uma grande
reestruturação. Na época, a família Salvaro, dona da emissora até hoje, promoveu essa mudança
e deixou a rádio mais popular, com uma programação voltada mais para a comunidade. Antes
disso, nos anos 90, a emissora chegou a ficar com suas atividades suspensas por conta de uma
troca no comando. Atualmente ela abrange mais de 55 municípios12
.
Ambas pediram para migrar, mudança essa que é uma reivindicação antiga de quem está
inserido no meio radiofônico. A ex-presidenta Dilma Rousseff, assinou um decreto presidencial
que autorizava a migração das emissoras AM para o FM. O processo migratório deu aí um
grande passo para uma nova fase do rádio brasileiro. Três anos após ter sido assinado o decreto
sobre a migração, ocorreu no dia 7 de novembro mais um avanço.
O MC13
realizou a assinatura dos aditivos de 244 emissoras, em evento realizado no
Palácio do Planalto, com a presença do presidente do Brasil, Michel Temer. De todos os eventos
para assinatura de aditivos, esse foi o que contou com o maior número de emissoras
beneficiadas. Na lista, o estado catarinense contou com 20 rádios, que tiveram seus aditivos
assinados. As emissoras estudadas neste artigo não foram incluídas nessa lista. Vale lembrar que
essa etapa da migração é considerada uma das últimas.
Número divulgado pela Abert no mês de setembro de 2016 mostra que o país conta com
14 rádios que já estão ou podem operar em FM. Santa Catarina, conforme informação da
Acaert, três emissoras estão operando em frequência modulada, a Rádio Clube de Lages, a
Rádio Brasil Novo de Jaraguá do Sul e agora a mais recente foi a Rádio Verde Vale, de Braço
do Norte, a primeira do Sul do Estado. Ela iniciou a transmissão em FM no dia 3 de novembro,
na frequência 91.9 FM. Na região, das 17 existentes, 16 emissoras pediram para migrar e apenas
uma, com sede em Tubarão, optou por não realizar o pedido. Atualmente a Rádio Cruz de
Malta, de Lauro Müller, a Rádio Difusora, de Içara, e a Rádio Hulha Negra, de Laguna, estão
caminhando para iniciar a operação no FM. Elas estão na lista que tiveram os termos aditivos
assinados no dia 7.
____________________
12 Dados históricos obtidos no site oficial da Rádio Hulha Negra. Disponível em
http://radiohulhanegra.com.br. Acesso em 2 de outubro de 2016. 13
Dados obtidos no site da Abert. Disponível em: http://www.abert.org.br/web/index.php/notmenu/item/25304-migracao-am-fm-189-emissoras-estao-prontas-para-assinar-o-termo-aditivo
17
Como já vimos nesse artigo a migração não é obrigatória. Conforme Betti (2015), sendo
detectado que a emissora que não migrou por questão técnica, poderá solicitar a adequação da
frequência, passando de local para regional. Portanto a migração não chega a impactar
problemas para as rádios regionais e nacionais já existentes. “De tal modo, reforçamos que as
emissoras com cobertura regional e nacional não sofrerão alterações com o decreto” (BETTI,
2015, p. 11).
Indo para o FM, essas emissoras se tornarão ainda mais locais, já que é uma
característica dessa faixa. Balsebre (2005, p.328), explica que “a comunicação será mais
completa e eficaz dependendo da proximidade sociocultural dos códigos do emissor e do
receptor. Para a eficácia da mensagem é também necessário um equilíbrio entre informação
estética e semântica. Sendo assim, as rádios terão que ficar ainda mais atentas ao que acontece
na sua região e preparar conteúdos de interesse as pessoas que estão ao seu redor”.
O processo migratório das rádios Hulha Negra e Eldorado vem se arrastando há algum
tempo. Conforme a gerente da Hulha Negra AM, Carol Salvaro14
, o pedido para migrar foi
realizado há aproximadamente dois anos. Já em relação a Eldorado AM, o coordenador de
jornalismo, João Paulo Messer15
, revela que o pedido “tem mais ou menos um ano e meio,
logo que se definiu essa questão da migração, logo que abriu a possibilidade”.
Um fato novo foi detectado ao realizar as entrevistas com os dois representantes das
emissoras. Tomou-se conhecimento que tudo que está envolvido ao processo migratório está
sendo comandado, além das direções das rádios, pela empresa ME Eletrônica Ltda, com sede
em Porto Alegre.
O representante da empresa aqui na região é o técnico de eletrônica Emerson Martins16
,
que já presta trabalhos referentes a rádio nas cidades do sul do estado. É ele quem está
comandando o processo migratório de quase todas as emissoras de Criciúma e cidades vizinhas,
dando auxílio técnico. Assim, entendeu-se necessário realizar entrevista para com o técnico
para esclarecer melhor o processo na região.
Como já citado neste artigo, as etapas até a conclusão da migração são muitas,
principalmente nas questões burocráticas. Conforme o técnico de eletrônica, atualmente, as duas
emissoras criciumenses estão com os pedidos sendo analisados, e ainda não tiveram os canais
no FM definidos.
______________________
14 SALVARO, Carol (2016). Entrevista concedida em 13 de outubro de 2016.
15 MESSER, João Paulo (2016). Entrevista concedida em 13 de outubro de 2016.
16MARTINS, Emerson (2016). Entrevista concedida em 24 de outubro de 2016.
18
Sendo assim, não podem ser levadas para as assinaturas dos aditivos. Elas estão na lista
de espera para terem a autorização do Ministério das Comunicações. Messer (2016) revela que
burocraticamente essa é a fase em que está o processo da Eldorado.
Segundo ele, a cada novidade relacionada a essa questão a diretoria se reúne para
analisar e executar o que precisa. Mas ele alerta que num todo, o processo está em stand-by. O
processo chegou numa fase que é preciso esperar a definição do governo para avançar de etapa.
Ainda existem muitas dúvidas girando em torno da migração e aqui em Santa Catarina, a Acaert
vem auxiliando, sempre buscando esclarecer.
O coordenador de jornalismo destaca um ponto que ainda gera dúvida, que está
relacionada a parte dos técnicos, com a qualidade dos novos equipamentos que as rádios
precisarão adquirir para transmitir em FM. Os aparelhos são diferentes em relação aos utilizados
no AM. Ele aponta que as próprias pessoas especializadas nessa área sugeriram para não
acelerar a fase migratória.
Esses técnicos estão entrando em equipamentos do mercado e alguns pelo
que a gente sabe não estão totalmente aprovados pelos técnicos. Então uma
própria recomendação dos técnicos é que a gente aguarde um pouquinho pra
comprar esses equipamentos. Então é questão de conferir a qualidade desses
equipamentos. Eu diria que hoje está num processo de stand-by não perdendo
prazos. (MESSER, 2016)
Em relação a Hulha Negra, Salvaro (2016) afirma que há intenção de migrar assim que
sair a liberação, que ainda não tem data definida para ocorrer, nem no dia 7 de novembro,
quando o governo assinou 244 termos aditivos.
Mesmo demonstrando interesse em mudar, a projeção para migrar não é tão próxima
assim. “Isso é uma coisa para ser executada ao longo de 2017, acredito que lá para o final do
ano de 2017 a gente começa. Eu diria assim, que a gente pode contar, de uma rádio que temos,
duas para 2018, antes de 2018 não”. (MESSER, 2016)
Para entender melhor essa colocação, é preciso explicar que a empresa já conta com
uma FM, que transmite a programação simultânea que é produzida no AM. Com a migração, a
Eldorado passará a operar com duas emissoras na frequência modulada. É nesse ponto que surge
uma dúvida de como o grupo com duas emissoras no FM, inclusive com o mesmo nome, fará
em relação a programação?
Messer (2016) optou por não revelar mais detalhes de como farão isso, mas garantiu que
existem projetos para ambas.
Necessariamente vão ser duas rádios. Até porque deixa de existir o AM.
Desde todo e sempre a Eldorado sempre foi pioneira em todos os projetos e
não está sendo diferente nesse agora. Houve um período em que a rádio
19
Eldorado era também dona da rádio Difusora de Laguna e a emissora está a
frente inclusive da Eldorado nesse processo. Já foi isso por aqui, foi
antecipado por aqui, com o objetivo de até como experiência, como teste,
aquela rádio de Laguna, até porque ela é mais antiga que a própria Eldorado.
Então é inevitável que nós vamos trabalhar isso. Ou seja, a Eldorado irá virar
duas Eldorados. Existem alguns projetos, tem coisas que á preferível não
revelar nesse momento, mas eu diria assim: nós temos projetos para as duas
rádios, quanto antes possível nós faremos a migração. (MESSER, 2016)
A Hulha Negra irá passar por uma situação parecida na questão de operar com duas
FMs. O grupo dono da rádio atualmente já possui uma na frequência modulada, a Rádio Voz da
Vida 104.3 FM. A diferença está que as programações já são bem distintas, contando com
apenas alguns programas transmitidos nas duas faixas. Com isso, não será problema possuir
duas emissoras no mesmo espectro e não afetará nenhuma das duas.
Sim, já trabalhamos assim hoje. No mesmo prédio temos a Rádio Voz da
Vida, esta já no FM com uma programação voltada ao público católico. A
Hulha Negra passando para FM não influenciará muito em nossos ouvintes.
Alguns dos programas já fizemos de forma “casada”, como: Jornada
Esportiva e o Balcão de Negócios. (SALVARO, 2016)
Sendo assim, com base nas duas colocações, a Eldorado terá que distinguir a
programação das duas FMs, podendo seguir o exemplo da Hulha Negra. Duas emissoras no
mesmo espectro e com a mesma programação, talvez não irá atrair muita publicidade e novos
ouvintes.
O motivo que levou as rádios criciumenses a realizarem o pedido de migração difere em
alguns pontos entre as duas existentes na cidade. De acordo com Messer (2016), a Eldorado
começou a discutir sobre esse assunto porque os técnicos, da empresa gaúcha, levaram aos
diretores a possibilidade de mudança de espectro. Sendo assim, a parte técnica foi um dos
principais motivos para as emissoras discutirem o processo migratório.
Nós temos um escritório do Rio Grande do Sul (cuida de várias rádios aqui
de SC e do Brasil) que cuida de toda parte burocrática e técnica da Rádio
Eldorado. Foram eles que trouxeram para nós a necessidade e a tendência.
Então imediatamente se acatou e começou a se discutir. (MESSER, 2016)
Um dos motivos para os radiodifusores lutarem tanto pela mudança de faixa é a melhora
do som, que possui mais qualidade no FM. Salvaro (2016) elencou esse fator com um dos
principais motivos para migrar. Segundo ela, o AM sofre influência de vários meios como
clima, construções, aparelhos elétricos, fator defendido por Martins (2016). A migração irá,
além de melhorar a transmissão, acabar com as interferências durante a programação, deixando
20
o som mais limpo, sem chiado. A gerente ainda enumera “outros fatores que levaram a decisão.
2. Pela tendência – Além da faixa etária mais jovem preferir emissoras FM, o sinal hoje está
presente em celulares, tablets. 3. Manutenção – Os equipamentos têm um consumo de energia
menor (desde o transmissor à mesa de som) e a manutenção dos aparelhos é menor”. Nota-se
que a Eldorado preferiu migrar pela tendência, mas quem trouxe a necessidade foram técnicos.
Já a Hulha Negra está mais atenta a questão da convergência e a conquista de um público mais
jovem.
Agora, do ponto de vista comercial, a migração é uma alternativa importante
para dar mais qualidade de transmissão para as emissoras, eliminando a
interferência no sinal, possibilitando que ela seja sintonizada em dispositivos
móveis, como celulares e tablets que tenham chips FM. Com isso, o ouvinte
ganha na qualidade do serviço. (OLBRISCH, 2016)
A convergência para os aparelhos móbiles deverá ser muito explorada pelas rádios.
Agora elas se depararão com outro tipo de público, aquele que em algum momento já ouviu o
AM, mas por conta da globalização, no cotidiano mais acelerado, deixaram de sintonizar nas
Ondas Médias. Isso porque os smartphones vêm somente com o FM, assim como outros
aparelhos digitais. Nos carros o AM até está presente, mas por conta das interferências nas
transmissões, o ouvinte deixa de ficar no AM e passa a ouvir programas na frequência
modulada. As emissoras já vinham tentando essa aproximação com esses ouvintes, por meios de
interação por aplicativos e páginas nas redes sociais. A migração surge para ajudar e quem sabe
trazer de volta o público mais jovem, que está ligado nas transformações tecnológicas. O
processo migratório coloca o rádio brasileiro alguns passos adiantes, acompanhando as
mudanças tecnológicas do mundo.
O rádio vem se adequando a necessidade de quem o ouve. Nos primeiros anos do
surgimento do FM, tinha-se a ideia de que o AM era notícia e o FM música. Segundo Jung
(2004), ocorreu uma experiência em São Paulo nos anos 90, realizada pelas Organizações
Globo. Uma emissora FM reproduziu programações da CBN AM. Apesar de não ter tido muito
sucesso no início, essa experiência foram os primeiros relatos de jornalismo no FM e só
aumentou com o passar dos anos. Foi ficando mais comum se ouvir mais informação
jornalística durante a programação. Para Jung (2004), foi quebrado esse paradigma de que a
frequência modulada só serve para música.
É notável que a programação é um pouco diferente entre rádios das duas frequências.
Vale ressaltar que para alguns radiodifusores atualmente a faixa não influência tanto assim a
forma de fazer o rádio. Isso é defendido pelos representantes das duas emissoras de Criciúma.
Esse não é o pensamento do presidente da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e
21
Televisão (Acaert), Rubens Olbrisch, que para ele a programação poderá sofrer algumas
mudanças. “Importante destacar também, que a programação fica mais regionalizada,
oferecendo mais informações da região para o público, mantendo a essência do rádio,
principalmente nas cidades do interior” (OLBRISCH, 2016).
Nas entrevistas com os representantes das AMs de Criciúma, foi observado que
realmente o jornalismo estará cada vez mais no FM, mas ambos relataram que a programação
não irá sofrer alterações. Tanto Salvaro (2016), quanto Messer (2016), disseram que as
programações das duas emissoras já estão dentro do que é exigido na fase em que passa o rádio,
com música e informação. “Em termos de programação, nós estamos bem alinhados com o
momento, com a era que estamos vivendo. A programação independe da migração” (MESSER,
2016).
O mesmo vale para a linguagem dos apresentadores. Com base nas entrevistas, chegou-
se a conclusão de que a linguagem não sofrerá alterações, pelo menos nas rádios criciumenses.
Para Salvaro (2016), “nossa rádio hoje já tem uma linguagem bem voltada ao povo, com
vocabulário simples”. Agora não é possível saber se as duas rádios estão certas em não alterar
em nada a programação e até a linguagem dos locutores. Isso saberemos somente quando elas
migrarem, mas fazendo uma comparação histórica, existe uma diferença na programação e
principalmente na linguagem. Jung (2004), explica que as emissoras FM passaram a tratar a
linguagem menos formal, ao contrário do AM, que é mais formal, frisando a segurança ao
transmitir uma informação, com seriedade, para demonstrar credibilidade.
O rádio brasileiro está passando por um período de transição com a
indefinição do padrão digital a ser adotado e a migração das emissoras OM
para a faixa FM. No entanto, o atual cenário não fornece indícios de que
estas transformações irão resultar na diversificação das vozes ou na
ampliação da participação popular na nova configuração do dial, ao menos no
que se refere às emissoras comerciais. (BETTI, 2015, p.1)
Betti (2015) confirma que está muito cedo ainda para saber se a forma de fazer rádio,
questão de programas e a fala do locutor, irá mudar ou seguirá a mesma. Principalmente no
estado, apesar do presidente da Acaert defender que a programação sofrerá alterações, com
somente três rádios que migraram, ainda não é suficiente para ter uma posição definitiva sobre o
assunto.
Olbrisch (2016) revela que além das 108 emissoras AM, o estado possui 146 FMs. Esse
número é baseado apenas nas rádios associados a Acaert. Atualmente Santa Catarina possui três
emissoras, que já operam no FM, como citado anteriormente. Conforme o presidente da Acaert,
outras duas aguardam apenas a autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
22
São elas: Rádio Belos Vales, de Ibirama e a Rádio Difusora, de São Joaquim. “Mais de 20
emissoras já pagaram os boletos de migração de adaptação de outorga. Dia 7 de novembro está
previsto um grande ato de migração, esperamos que todas as emissoras que estão no primeiro
lote da migração em Santa Catarina, são 45 ao todo, sejam contempladas”. (OLBRISCH, 2016).
Das 108, como já mencionado antes, 100 pediram para migrar. Olbrisch (2016) destaca
que as que não realizaram o pedido continuarão operando em AM, já que não é obrigatório
mudar de faixa. Para a emissora que for para o FM, poderá operar nas duas faixas ao mesmo
tempo por até cinco anos. Segundo Olbrisch (2016), o governo ainda não divulgou o que será
feito com as Ondas Médias, nem o que acontecerá com as rádios que não migrarem. Por
enquanto o que se sabe é que elas continuam no espectro, junto com as emissoras consideradas
regionais ou nacionais. Sobre essas rádios também não se tem muita informação.
Se o AM acabará ou não, é difícil de saber, já que não se tem informações sobre o
futuro dele. Para o presidente da Acaert, dificilmente não existirá mais.
Dificilmente o AM irá acabar, o que deve acontecer é uma nova forma de
utilizar esse poderoso canal de comunicação. Assim como o FM dará
sobrevida a maioria das emissoras comerciais, as que permanecerem no AM,
certamente encontrarão um novo formato que impulsione esse modelo de
negócio. (OLBRISCH, 2016).
Santa Catarina terá um problema para concluir em 100% a migração. Atualmente o
espectro do FM no estado não comporta todas as emissoras que desejam mudar de faixa. Nesse
caso, surge a questão do dial estendido, que no momento da autorização do processo migratório,
começou a ser levantado pelos radiodifusores. Era esperado que o FM não iria ter espaço para
receber as rádios AM. Visando solucionar esse problema, ficou definido nas cidades onde o
espectro não teria canais suficientes, as emissoras seriam colocadas nos canais 5 e 6 da TV, que
serão liberados após a digitalização. Com isso, assim como é esperado em outros estados, no
estado o processo só irá concluir quando a TV sair do analógico.
Sim, em diversas cidades catarinenses só com o desligamento da TV
analógica, dos canais 5 e 6, será possível encaixar todas as emissoras AM que
pretendem migrar para o FM. Santa Catarina ainda tem o agravante de estar
em uma área de fronteira, o que depende de acordos com outros estados e
países. Portanto, a migração ainda deve levar um tempo para ser totalmente
concluída aqui no estado e, certamente, passa pelo uso do dial estendido.
(OLBRISCH, 2016).
Criciúma não sofrerá desse impasse, já que o espectro do FM comporta as duas
emissoras, aliás, em toda a região sul não será necessário o dial estendido. Isso quem defende é
23
Martins (2016), “existe inclusive no início do processo de migração já foi sugerido ao ministério
das comunicações canais de FM disponível para novas emissoras”.
Sabemos que o dial estendido significa que o espectro, que hoje vai de 87.9 MHz a
107.9 MHz, passará a existir a partir do 76 MHz a 107.9 MHz. Comercialmente este será um
outro problema. Os aparelhos de rádio de hoje não possuem o espectro até o 76 MHz, isso inclui
os famosos radinhos portáteis e os de carro. Será preciso que seja fabricados novos aparelhos
com o espectro estendido, para que os ouvintes possam sintonizar a rádio preferida. No caso dos
smartphones e tablets, por exemplo, também será preciso fazer algo, nem que seja uma
atualização dos aplicativos.
Isso é mais um indício de que a migração irá demorar mais um pouco para ser concluída
no estado. Aliás, nas entrevistas com os representantes das duas rádios e com o presidente da
Acaert, a burocracia foi citada, ao perguntar sobre o que está deixando o processo lento.
Olbrisch (2016) cita que existem barreiras técnicas, jurídicas, políticas e econômicas e que é
natural que o processo fique lento. Para Salvaro (2016) tudo o que envolve processo no Brasil é
lento, com essa migração não seria diferente. A gerente coloca outro fator, que também
influência na demora. “São muitas emissoras com potências muito altas migrando, e a faixas
que hoje existem na FM não comportam essa migração. Penso que se algumas emissoras
aceitassem reduzir um pouco de sua abrangência, tornaria um pouco mais rápido esse processo”.
(SALVARO, 2016).
Messer (2016) reconhece que a burocracia no Brasil deixa qualquer coisa lenta, que
impede o andamento, mas para ele isso é normal. O coordenador justifica que tudo que envolve
o governo é lento e discorda de o processo estar lento.
Se a gente olhar para esse prazo, não está tão demorado assim, não vejo tão
atrasado em relação a outros processos administrativos. A questão que hoje
vivemos um novo ritmo se espera tudo muito rapidamente. Eu discordo dessa
ideia que está tão demorado assim esse processo, até porque a gente está
dentro do prazo ainda para essa migração. (MESSER, 2016)
Com isso, a burocracia vem atrapalhando o processo migratório, mas as emissoras
também precisam trabalhar juntas, com pensamentos visando o melhor para o rádio no Brasil.
Para migrar, não é somente pedir a autorização e pronto. Isso gera custos, que conforme
já vimos neste artigo, pode ser muito caro. Além de pagar a diferença da outorga do AM para o
FM, vários outros fatores aparecem. Os equipamentos para operar uma rádio na frequência
modulada é diferente em relação ao AM, assim é preciso trocar toda aparelhagem, além de
custos com a antena de transmissão, entre outros itens. Conforme Martins (2016), a Hulha
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Negra terá um gasto entre R$ 300.000,00 e R$ 400.000,00. Já a Eldorado esse valor gira em
torno de R$ 350.000,00 a R$ 450.000,00.
Para todos, essa nova transformação que o dial brasileiro está passando é mais uma
prova de que o rádio não acabará. Para Messer (2016), “É mais uma prova de que o rádio é
imortal. O rádio não vai morrer nunca, o rádio irá se reinventar sempre, o rádio é imortal.
Comunicação é imortal, o rádio é um modelo mais prático de comunicação”.
A migração poderá deixar o rádio mais convergente, indo a novos caminhos, que o
deixarão mais forte como nunca. “Migrando para FM continuaremos prestando nosso trabalho
de entretenimento, informação, prestação de serviço, mas, mais presente no povo, em mais
dispositivos e com uma qualidade sonora melhor”. (SALVARO, 2016)
Sendo assim, é natural que transformações sempre estarão na história do dial brasileiro
e até mundial. Ele se reinventa a cada avanço tecnológico que surge. É uma adaptação ao que é
exigido pelos ouvintes. Olbrisch (2016) completa dizendo que “o Rádio está em constante
transformação e é isso que vai possibilitar que ele continue existindo ainda por muitos anos”. A
migração trouxe mais uma sobrevida ao quase centenário rádio brasileiro.
4. Considerações finais
O presente artigo tinha como proposta uma pesquisa de duas emissoras AM de
Criciúma para saber mais sobre o processo migratório. Conseguiu-se definir em que fase está a
migração das duas rádios, já que ambas pediram para migrar e são as únicas nas ondas médias
na cidade. Tinha-se o objetivo de saber o motivo para as emissoras migrarem e o que as levou a
tomar essa decisão. Além disso, foram respondidas questões mais específicas, verificar qual o
cenário que se encontra Santa Catarina, se a programação das rádios criciumenses irá mudar,
quando que a migração ocorrerá por completo em Criciúma e por último o que está impedindo
que a frequência modulada seja implantada de vez no estado.
Considerando esses pontos, no artigo foi possível chegar a uma resposta em relação a
fase que estão as emissoras. Tanto a Rádio Hulha Negra, quanto a Rádio Eldorado, estão
aguardando a liberação do governo federal. Os pedidos de migração das duas ainda não foram
analisados. Conseguindo a aprovação, elas terão seus termos aditivos assinados, sendo gerido o
boleto da outorga e encaminhando para as últimas etapas antes de operar em FM. Por isso não
há um prazo definido para que isso ocorra, nem para que as emissoras migrem, depende muito
do governo. O discurso dos dois representantes das rádios é diferente sobre a projeção para
mudar de frequência. A Hulha Negra quer trocar de faixa assim que tiver a liberação, estando
mais atenta ao processo e a Eldorado projeta operar no FM apenas em 2018, segundo
informação de Messer (2016), demonstrando não ter muita pressa.
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Analisando as respostas de Salvaro (2016) e Messer (2016), a necessidade, a tendência e
a melhora da qualidade do som foram os principais motivos para o pedido de migração. Aqui
surge mais um ponto que causa diferenças entre as duas emissoras. Dos fatores acima, a
Eldorado só levou em consideração porque técnicos levaram esses quesitos aos diretores, que
começaram a discutir o tema. Sendo assim, a emissora só enviou a solicitação por causa desses
técnicos. Já a Hulha Negra viu na migração uma oportunidade de buscar novos ouvintes,
principalmente o público mais jovem, que está inserido nesse mundo mais globalizado. Toda
essa transformação que o dial brasileiro está passando, deverá contribuir na retomada da
audiência dos rádios AM. O grupo que comanda a emissora demonstrou possuir mais interesse
na migração, já que usará essa nova fase do dial para ampliar sua influência em Criciúma e
região, estando mais antenada a necessidade da sociedade.
O processo migratório, segundo o presidente da Acaert, poderá dar as rádios
possibilidade de incrementar os faturamentos com publicidade. Se a previsão dele ocorrer
realmente, o investimento para trocar de faixa, que é alto, poderá ser recuperado em médio
prazo com anúncios de empresas, entre outros tipos de publicidade. As rádios terão receitas
maiores, dando a possibilidade de levar um conteúdo com ainda mais qualidade ao ouvinte. A
partir desse passo, é papel da emissora construir um plano publicitário para conseguir lucrar
com a migração. Falamos em publicidade porque é o que pode alavancar economicamente essas
rádios.
Em relação ao cenário em Santa Catarina, sabemos que apenas três emissoras já estão
operando em frequência modulada. Restam outras 97 para migrar, sendo que duas estão quase
finalizando o processo migratório. O estado terá um problema, que é em relação ao dial
estendido. Será preciso esperar a digitalização da televisão, para só depois concluir toda a
migração catarinense. Portanto, não há um prazo certo, nem uma data específica para isso. Esse
fator mais a questão da burocracia e um entendimento igual entre os donos das rádios, é o que
está deixando esse processo um pouco devagar, criando barreiras para o andamento da
migração. Em Criciúma o único empecilho que está travando a mudança de faixa das duas
emissoras é a parte burocrática. Ambas sabem que o espectro do FM possui espaço para elas,
mas aguardam a decisão do governo para seguirem em frente. Ainda é cedo para afirmar, mas
vale ressaltar sobre o dial estendido. Ter que estender o espectro do FM catarinense pode gerar
alguns problemas. Além de ser um segundo processo na migração, o que pode demorar mais
ainda a troca de frequência, entra aqui a questão comercial. Todos os aparelhos receptores
possuem o espectro até o 87.9 MHz. Com a o dial estendido, as fábricas terão que produzir
novos aparelhos que comecem o FM a partir do 76 MHz.
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Ao longo da produção deste artigo, com base na história do rádio, as respostas sobre as
programações não foram as esperadas. Autores e o próprio presidente da Acaert defendem que a
programação do FM está cada vez mais com jornalismo, mas ao migrar, uma rádio AM precisa
alterar seus programas. Para os representantes das duas emissoras, num primeiro momento não
serão feitas mudanças na programação, que para ambos já segue um padrão mais FM. A
resposta definitiva, se precisa ou não mudar, só saberemos quando a Hulha Negra e a Eldorado
estiverem transmitindo na frequência modulada.
Para finalizar, a migração no Brasil é cercada de algumas dúvidas. Falta informação
sobre o processo, o que dificulta entender exatamente o que é a migração no país, no que
consiste. Por estar ocorrendo agora, é difícil de prever como as emissoras se adaptarão. O que
sabemos são projeções baseadas no histórico do rádio e de opiniões de pessoas que estão
inseridas no meio radiofônico. Um ponto unânime entre a maioria dos evolvidos no processo, é
que migrar é uma sobrevida ao dial brasileiro, deixando ele com capacidades para competir com
outros meios neste mundo cada vez mais globalizado. Novas tecnologias podem surgir e
ameaçar o futuro do rádio, mas cabe as emissoras se reinventarem.
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