o outro lado da vanguarda
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O OUTRO LADO DA VANGUARDA
Msica na URSS e bloco de Leste no sc. XX
Simbolistas ......................................................................................................2
As Vanguardas Russas ....................................................................................4
Cubo-Futurismo, microcromatismos e dodecafonismos .............................4
Msica de Mquina os construtivismos................................................6
Arte e ideologia............................................................................................7
ARSSIA DE ESTALINE ....................................................................................... 8
A Rssia de Schostakovitch............................................................................. 9
Lady macbeth de Minsk.............................................................................10
Congresso dos Compositores Soviticos de 1948.....................................11
Realismo socialista musical .......................................................................12
Outros......................................................................................................... 13
Galina Ustwolskaja ....................................................................................14
Edison Denisov ..........................................................................................15Depois de Estaline ........................................................................................ 16
A abertura de Krutchov.............................................................................. 17
Brejneff ......................................................................................................17
AS NOVAS GERAES ....................................................................................... 17
Sofia Gubaidulina .........................................................................................18
Alfred Schnitke ..............................................................................................18 Peteris Vasks SLIDE 26 ................................................................................19
Neo-Expressionismo Russo?.........................................................................21
VANGUARDA A OESTE E LESTE .........................................................................22
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................25
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Rssia nos confins da modernidade e do sc. XX
01 RACHMANINOF
SIMBOLISTAS
SLIDE 2 Sabemos que a Rssia viveu a passagem do sc. XIX para o XX, em
termos musicais, marcada por diversos factores importantes.
Clique
1. Desde logo a msica de influncia Europeia, simbolizada de alguma
forma pela figura de Tschaikovsky de influncia germnica. Esta
influncia germnica tambm patente nos Conservatrios atravs dos
mltiplos professores de origem Alem dos mais diversos instrumentos
(piano, sopros, direco, violoncelo, etc.).
2. A vertente de msica Russa de Moussorsky, Rimsky-Korsakov, etc.
onde as tcnicas Europeias eram temperadas e preenchidas pelo colorido,pelas infra-estruturas, pelas escalas, pela sensibilidade eslava.
Estas duas vertentes iro marcar de forma indelvel a msica Russa do sc. XX,
atravs de um misticismo religioso muito prprio, originrio na
especificidade da religio crist ortodoxa e que se mescla com a prpria
cultura eslava. Este misticismo est presente em quase todos os
compositores Russos.
atravs da aproximao cultura do povo Russo, gritada efusivamente nas
composies oficiais do regime da URSS e, de forma estilizada, tambm
na msica independente. Esta influncia revela-se no uso de ritmos,
escalas, melodias populares, mas tambm em ideias fixas e smbolos
prprios da cultura Russa: a estepe, a cultura rural dos mujiques, a sub-
cultura judaico-Russa, a sub-cultura crist-ortodoxa, o misticismo
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popular, um certo existencialismo Dostoievsky, a ideia de nao Russa,
etc. E, por outro lado, uma esttica positiva, popular/proletria, onde o
povo Russo e a sua classe mais avanada o proletariado representado
pelo Partido Comunista so idealizados e tornados heris.
CLIQUE
atravs da mquina, smbolo da modernidade e do futuro, presente tanto
nas manifestaes musicais oficiais (nos ttulos, na temtica, mesmo na
estrutura), como tambm sob a forma de um modernismo mais ou menos
prximo da experincia dodecafnics. Ambos de forte influncia Europeia
de Hindemith ou Honegger a Schnberg.
Na viragem do sc. XIX para o XX marcante a influncia simbolista, de forte
direco Wagneriana e com um especial interesse na fuso das artes e da
Gesamtkuunstwerk SLIDE 3 O Ring de Richard Wagner tinha sido dado a
conhecer em 1902 em Moscovo. Em torno a um grupo de artistas e intelectuaisSLIDE 4 (Briussow, Baltrusaitis, Andrei Bely, Merechkovsky) encontramos o mais criativo
dos compositores da poca, Alexander Scriabin. SLIDE 5 Scriabin e as suas
ideias msticas, harmnicas, prximas do simbolismo Francs mas tambm do
expressionismo musical de Schnberg, iro marcar a nova msica Russa ao
longo das duas primeiras dcadas do novo sculo. 02 Scriabin
Aps 1907 aparece um grupo de msicos mais jovens reunidos em Moscovo emredor de uma Sociedade para um Esttica Livre criada pelo poeta simbolista
Briussow: SLIDE 6 Serguey Wassilenko (tambm muito importante na
interpretao de msica antiga); Nicolai Medtner (pianista vistuoso); Emili
Medtner (crtico musical) Alexander Goericke (conhecido professor do
Conservatrio); Konstantin Igumnow (pianista); etc. Musicaram textos de Edgar
Poe, Oscar Wilde, Maeternink, Bcklin, na senda do simbolismo do crculo deMallarm. Entre as inovaes deste grupo ainda marcadamente romntico
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destacam-se obras de Vladimir Rebikow com declamao rtmica e poesia
meldica, e as produes de Mikail Gnessin leituras musicais onde a
declamao do texto se encontrava prxima do Sprechgesang que Schnberg
usou em 1913.
AS VANGUARDAS RUSSAS
CUBO -F UTURISMO, MICROCROMATISMOS E DODECAFONISMOS
Mas na segunda dcada do sc. XX iria aparecer um gerao de compositores
que se distanciaria do simbolismo romntico e ps-romntico de Scriabin.Prximos dos modernismos latentes na Europa (Marineti visitou a Rssia em
1914) e das vanguardas socio-artsticas da Agitprop, considerados mais tarde
como a ala esquerda da arte Sovitica, iriam protagonizar inovaes sem
dvida inusitadas para a poca: SLIDE 7
Mikail Matiuschin, de S. Petersburgo,salientou-se pelas suas ideias cubo-
futuristas pera experimental Vitria sobre o sol de 1913)
Jefim Golyscheff, ucraniano, fazia em 1914 msica de 12 sons; esteve
mais tarde ligado ao movimento Dada de Berlim performances em
1919 ; tambm artista plstico (j na Rssia), esteve no Brasil depois da
Guerra, vindo a morrer em Paris em 1970 )
Nicolai Obuchov, de S. Petersburgo interessou-se por uma harmonia
dodecafnica, e foi, segundo Wychnegradsky, o absoluto inventor do
sistema de 12 sons temperados equilibradamente;
Roslawetz, de Moscovo torna-se a partir de 1913 compositor atonal,
compomdo a partir de uma harmonia sinttica;
Ivan Wychnegradsky esteve ligado ao ultra-cromatismo;
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Arthur Louri, de S. Petersburgo, trabalhou com 12 sons e tambm esteve
ligado ao ultra-cromatismo.
Os contactos desta gerao com a msica da Europa central, particularmente
com Berlim, eram intensos, no s atravs de mltiplas execues de obras
contemporneas na Rssia (Honneger, Alban Berg, Milhaud, Hindemith,
Schnberg) como pelo intercmbio entre compositores (visitas mtuas a Berlim
e Moscovo). 03 Lourie
Em 1922, numa casa de Berlim de Richard Stein, reuniram-se compositores que
se dedicavam ento ao ultra-cromatismo. Neste encontro estiveram presentes
Wychnegradsky, Louri, assim como Jrg Mager, Willi Mllendorf e o checo
Aloys Haba.
Mas esta vanguarda Russa rapidamente se dissolveu por fora da emigrao dos
seus protagonistas:
Obuchov e Golyscheff emigraram em 1919;
Wychnegradsky no regressou Rssia depois de sair em 1920;
Louri saiu em 1922. 04 Lourie 2
05 Roslawetz
Roslawetz, em 1923, d a sua opinio sobre a premire do Pierrot Lunaire em
Moscovo, num texto deveras interessante: SLIDE 8
A imagem de Pierrot, como se apresenta na msica de Schnberg, jno tem nada a ver com o Pierrot espirituoso e lunar, onde os leves
suspiros so quebrados pelo mundo sonoro de Debussy. o Pierrot
de ao e beto, um filho da cidade moderna, industrial e gigantesca,
um Pierrot ainda no conhecido da Humanidade, em cujos suspiros se
misturam os rudos percutidos do metal, os fogo dos motores e o
ulular das bombas1
1
Lunny Pjero Arnolda Schenberga, in K nowymm beregam nr3, 1923, pgina 32. Citado em Berlin/Moscow,1900-1950, Antonowa, Irina, Merkert, Jrn (herausgeber), Prestal, Mnchen, 1995.
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MSICA DE MQUINA OS CONSTRUTIVISMOS
Aparece neste texto um novo paradigma da cultura Russa do incio do sc. XX:
a mquina. Aproximando-se dos constructivistas/realistas Russos (Malevitch, El
Lissitzky, Alexander Rodchenko), SLIDE 9 e tambm das ideias da Bauhaus
Alem, (no esquecer a participao na Bauhaus de Paul Hindemith e Hans
Eisler), este novo paradigma d origem a uma msica de carcter spero, usando
por vezes sons prximos dos intonarumori de Luigi Russolo, imitando o
movimento mecnico, ritmado e austero dos novos paradigmas sociais (a cidade,
a indstria, o automvel).
Esta msica insere-se plenamente no iderio de uma cultura avanada, moderna,
socialmente interveniente, prxima do iderio revolucionrio do Partido
Comunista recm ascendido ao poder, tanto como organizao internacionalista
como enquanto vanguarda do proletariado dos povos da Rssia.
SLIDE 10Alexander Mossolov , talvez, o mais dinmico destes compositores. Mas esta
esttica influenciou outros compositores como Vladimir Deschevov (pera Gelo
e ao) e tambm os mais conhecidos Prokofieff ( Le pas dacier) e
Schostakovitch. Alis, a msica sovitica tal como se viria a definir nos anos
seguintes, muito deve a este , transformado depois
num realismo socialista de carcter utilitrio, apologtico, exibindo modelossimplificados mais ao servio de paradas militares do que metfora de uma
qualquer sociedade moderna. A obra Fundio de Ao, do balletAo de 1927,
um exemplo desta outra vanguarda. 06 Mossolov
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ARTE E IDEOLOGIA
SLIDE 1107 Mossolov 2
A arte (na sociedade socialista) no ir sentir falta de quaisquer
exploses de energia colectiva, energia nervosa, e daquelas correntes
energticas que impulsionam novas tendncias estticas e
transformaes nos estilos. Sero em redor de escolas estticas que
se formaro campos, isto , associaes de temperamentos, de
gostos e de ideias. Numa luta assim imparcial e emotiva, que ter
lugar numa cultura agora ainda em formao, a personalidade
humana, com a sua imensa e bsica tendncia para o
descontentamento, ir desenvolver e ficar mais delicada a todos os
nveis. Na verdade, no temos razo para temer que haja um declnio
da individualidade ou um empobrecimento da arte numa sociedade
socialista. (TrotskyPoltica Comunista para a Arte 1923)
Na Rssia dos anos 20, as duas mais notrias correntes musicais apareciam
ligadas a 2 grupos socio-profissionais altamente politizados, representando de
maneira clara duas correntes fundamentais do envolvimento da arte e da
poltica:
a A.S.M. (Associao da Msica Moderna) defendendo uma msica de
vanguarda com uma forte componente de Agitprop (agitao poltica e
propaganda), onde se encontram as vanguardas da musica ex maquina.
a R.A.P.M. (Associao dos Msicos Proletrios), defendendo uma
msica que fosse ao encontro das linguagens compreendidas pelo
proletariado e assim servisse os interesses de classe.
A luta entre estes dois grupos foi intensa, aproveitando-se de uma forte abertura
a nvel econmico da chamada Nova Poltica Econmica, estabelecida por
Lenine em 1921. O relanamento da economia contrabalanou a Guerra Civil, a
fome e pobreza crescentes e as lutas internas no partido, servindo ainda como
uma primeira Glasnostem termos culturais. 08 Miaskovsky
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Mas esta abertura foi rapidamente ultrapassada pela tomada de poder de
Estaline. Secretrio Geral do Partido em substituio de Lenine j em 1922, ir
protagonizar uma luta e discusso interna no partido entre 1924 (ano da morte
de Lenine) e 1927. O seu maior antagonista foi, como sabemos, Leon Trotsky,expulso em 1927 e depois exilado e assassinado por elementos da polcia
poltica.
A partir de 1927, ntida a evoluo anti-vanguardista na arte Russa, sendo
fortemente reprimido qualquer veia de modernidade nos anos do Estalinismo.
Em 1929 o nome Roslawetz banido da cultura musical sovitica e o
compositor deportado para o Uzbequisto.
A Rssia de Estaline
SLIDE 12
A Rssia de Estaline deu-se a conhecer atravs de uma srie de aces
conducentes a um regime de culto da personalidade, fortemente autoritrio e
repressivo. Algumas questes so relevantes:
a represso mortfera das revoltas camponesas desde os anos 20,
o assassnio de dissidentes e de opositores internos na conquista do poder, particularmente a partir de
1928, e dos Processos de Moscovo (1936/39), onde os antigos Bolcheviks so liquidados,
a assuno do socialismo num s pas contrrio ao tradicional internacionalismo socialista
sovitico,
o Pacto Germano-Sovitico de 1939, deixando o movimento comunista internacional de alguma forma
orfo,
A invaso da URSS pela Alemanha Nazi e a entrada da URSS na II Guerra Mundial (depois vitoriosa
juntamente com os Aliados),
o exlio interno de aldeias e povos inteiros, quer devido ao pretenso apoio aos alemes que por motivos
de ordem interna,
o terror e a represso (sistemtica, por vezes at aleatria) no s contra qualquer dissidncia como at
contra algum que mantivesse alguma proximidade (fsica, familiar, relao de trabalho) com
opositores internos, at concorrentes a cargos partidrios a diversos nveis cados em desgraa.
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O regime de Estaline foi um regime de terror, somente reconhecido com o seu
sucessor Krutchev (em 1956, 3 anos aps a sua morte). Temos hoje a noo de
que um nmero indeterminado de pessoas, prximo dos 20 milhes, morreram
vtimas da polcia interna.
A URSS de Estaline foi tambm um dos pases mais fortemente penalizados
pela Alemanha Nazi: Hitler quebrou o famoso pacto Germano Sovitico e
invadiu a URSS. Mas tambm foi um pas vencedor aps a II Guerra. Foram os
exrcitos soviticos a libertar Berlim e grande parte do espao Germano-Nazi
em 1945. Estaline, o carrasco do povo, foi tambm visto como o salvador da
ptria e como o promotor da moderna URSS, forte industrial e militarmente,
verdadeiro polo de atraco em termos da geo-poltica mundial e dos povos e
sociedades oprimidos.
A RSSIA DE SCHOSTAKOVITCH
No tempo de Estaline a atitude primeira da nomenclatura cultural foi recuperar
os velhos escritores, figuras histricas e compositores da histria Russa,
adornando-os de contornos soviticos passveis de uma leitura materialista.
Foram recuperados Tchaikovsky, Rimsky-Korsacov e Moussorsky dentro de
leituras actuais. E de facto a msica do Romantismo Russo continha
elementos chave para uma compreenso neo-realista socialista:
uma atitude de forte grandiosidade, expressividade e eloquncia no
discurso,
uma grande influncia da msica popular da grande Rssia,
a assuno de modelos formais clssicos claramente testados.
Apresentava-se a msica do passado com uma leitura actual, fornecendo um
modelo esttico, propondo-o aos contemporneos como exemplo. Era, enfim,
uma msica que no levantava qualquer tipo de questo no controlvel, era
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amplamente compreendida e aceite pelo apparatchnike por um proletariado sem
qualquer inteno de evoluo cultural.
SLIDE 13
O compositor mais notrio nesta poca e que viria a viver paralelamente ao
regime sovitico Schostakovitch. Mais novo que Miaskovsky e Prokofiev,
assistiu-se nos ltimos anos a um debate internacional (mais no espao anglo-
saxnico) sobre a sua personalidade, a sua ligao ao regime, o seu interesse
musical. Schostakovitch visto como:
um dissidente encoberto ou um homem de mo do regime; um compositor de obras de grande sentido crtico ao regime sovitico
presente em smbolos encriptados na prpria msica ou um
representante do mais decadente neo-realismo socialista;
um heri ou um fraco.
Schostakovitch foi, sem dvida, um compositor apresentado como heri do
regime sovitico, SLIDE 14 do regime estalinista, embora tenha entrado
mltiplas vezes em choque com esse regime. Foi acusado de formalista, ou seja,
de integrar elementos prprios de um discurso musical fugindo aos modelos,
mais difcil de ser compreendido pelas massas populares, alienando o povo,
fazendo o jogo da burguesia internacional, dos inimigos externos da URSS. 09
Age of gold
LADY MACBETH DE MZENSK
SLIDE 15
A pera Lady Macbeth de Mzensk teve um acolhimento ptimo e foi
representada mais de 100 vezes a partir da sua estreia em 1934 no Teatro Maly
de Leningrado. Em 1936, foi visitada por Estaline e Andrei Zdanov. Estaline
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no bateu palmas e o pblico ficou atnito. Segundo se conta, Estaline disse que
Isto caos, no msica. Em breve um artigo do Pravda daria o mote:E tudo isto spero, primitivo e vulgar. A msica geme e
murmura, arfa e fica sem respirao para que as cenas de amorsejam representadas o mais naturalista possvel. E o amor em
toda a pera apresentado da forma mais vulgar (...) O compositor
de Lady Macbeth de Minsk devia retirar a msica nervosa,
contrada, epilptica do Jazz para dar paixo aos seus heris.(...)
Desde o primeiro minuto desta pera o ouvinte fica atordoado
com o fluxo desarmnico e catico de sons (...) O compositor
claramente no se deu ao trabalho de oferecer ao ouvinte o que o
pblico de pera sovitico espera.(...) Tendo escrito
conscientemente a sua msica com os sons ao acaso, pensou que
seria somente para o gozo de estetas e formalistas cujo bom
gosto esteja j h muito perdido. (Caos em vez de Msica,
Pravda, 28 Janeiro 1936)
Formalista e cosmopolita eram graves acusaes na URSS de Estaline.Schostakovitch
claramente no se deu ao trabalho de oferecer ao ouvinte o que o
pblico de pera sovitico espera.O moralismo sexual
provinciano, o dio msica estrangeira (em especial ao jazz americano que
Shostakovitch muito cultivou), SLIDE 16 a averso a sons menos usuais, a no
aceitao do inesperado em termos estticos, so paradigmas do
conservadorismo tpico Estalinista, emulados na China da Revoluo cultural e
at nos dias de hoje, pela Coreia do Norte.
CONGRESSO DOS COMPOSITORES SOVITICOS DE 1948
No Congresso dos Compositores Soviticos de 1948, o novo chefe do
aparelho musical estatal o compositor Tichon Nikolaiewich Chrennikow (n.
1913) chefiou o combate s dissidncias estticas, passando formalista e
cosmopolita a serem sinnimos de inimigo do povo. Schostakovitch, juntamente com outros compositores, foi acusado de formalista e teve que se
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retratar. No nos podemos esquecer que, no regime estalinista, a mera suspeita
de dissidncia era equivalente a crime, punvel com a deportao e a morte.
Chrennikow veio a controlar a cpula estatal dos compositores da URSS durante
mais de 40 anos. SLIDE 17
Schostakovitch, segundo testemunhos, escapou s perseguies por diversas
vezes, algumas por mero factor sorte: o seu indigitado inquiridor da polcia
interna foi preso por rivais dentro do aparelho e, mais tarde, assassinado. Por
outro lado, Schostakovitch, assim como muitos compositores no regime,
conseguiu ir ao encontro das necessidades musicais desse mesmo regime, no
abdicando, noutras obras (de cmara, privadas), da sua prpria expressividade.
o caso, por exemplo, desteprefcio, de 1966. 10 prefacio
. clique
Meto-me a gatafunhar, de repente, sobre o papel; ouo, ento,
assobios e o meus ouvido no se sente chocado, embora ande a
torturar os ouvidos do mundo inteiro. Depois imprimo o que escrevi e
esqueo-o para sempre. Este um Prefcio que poderia ser escrito
no s s minhas obras completas mas tambm s obras completas
de muitos outros compositores, soviticos e estrangeiros. E eis a
assinatura : Dmitri Shostakovitch, Artista do povo da Unio das
Repblicas Socialistas Soviticas, seguido de numerosos outros
ttulos honorficos: Primeiro Secretrio, Unio dos Compositores da
URSS, assim como muitos outros postos e funes de uma
importncia considervel
REALISMO SOCIALISTA MUSICAL
Era comum, no regime sovitico, a encomenda de msica para filmes, cantatas,
peras, programas de rdio, espectculos diversos, em louvor e honra das
grandes figuras do regime e de momentos da histria sovitica. O anedtico
estava no facto de ser difcil ao regime recusar uma oferta de encomenda de uma
obra, por exemplo em louvor de Estaline, ou de uma Sinfonia Outubro
Vermelho por parte de um compositor da Associao dos Compositores
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Soviticos. A msica de tais obras era tinha de ser mais uma cpia dos
mltiplos exemplos de realismo socialista musical:
de contornos hericos,
usando algumas melodias populares e/ou soviticas,
usando estruturas musicais herdadas do romantismo mais simplista.
Muitos compositores da URSS sobreviveram graas a esta forma de ganhar
dinheiro. Alguns deles no abdicaram, no entanto de uma actividade
independente, conhecida s entre os mais prximos, em concertos privados.
SLIDE 18
Shostakovitch comps, no entanto, obras marcantes da msica do sc. XX:
sinfonias, quartetos, msica de cmara, etc. No foi um vanguardista dentro das
estticas impostas a partir da Segunda Guerra Mundial Darmstadt: tal no
era, na verdade, possvel na Rssia de Estaline. Mas a sua msica,
assumidamente de tradio clssica, no abdica de elementos expressivos
modernos, numa linguagem que alia a tradio do sc. XIX, os modernismos
expressionistas da primeira metade do sc. e a caracteristicamente Sovitica
Msica de Mquina. 11 trio
12 Shostakovitch sinf n 14, op.135, 1 (1969) Garcia llorca (deo profundis)
SLIDE 19
OUTROS
Para alm de Prokofieff (1891/1953), Kabalevsky (1904 1987 St.
Petersburgo/Moscovo), Katchaturian (1903/1978), e Shostakovitch (1906/1975)
destacaram-se no espao sovitico muitos outros compositores, alguns somente
agora dados a conhecer ao pblico internacional: Gavriil Popov (1904-1972), o
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chefe do aparelho da Associao de Compositores Soviticos at aos anos 80
Tichon Nikolaiewich Chrennikow (1913 - Jeletz), Boris Tchaikocsky (1925
Moscovo), Alexander Cholminov (1925 Moscovo), Otar Taktakischwili (1924
Tiflis Georgia), assim como o mai inovadore Shchedrin (1932 Moscovo) 13Shchedrin msica de orgo de 1972, o ainda conservador Slonimsky (1932
Leningrado) 14 Slonimsky preldio e fuga n 12 (de 24 prel. e fugas) (1994),
Tischtschenko (1932 Leningrado), Jan Rats (1932 - Tartu) e outros
compositores que, pior ou melhor, sobreviveram num meio hostil a qualquer
transformao.
Entre eles, encontramos alguns verdadeiramente vanguardistas, tendo vivido
ainda a poca de Estaline.
GALINA USTWOLSKAJA
SLIDE 20
Galina Ustwolskaja (Rssia 1919), , talvez, um caso paradigmtico de
aceitao das normas, de resistncia esttica e de uma vanguarda herdeira da
tradio modernista Russa de um experimentalismo primitivo (Roslawetz,
Louri) e da Musica ex machina de Mossolov. Aluna de Schostakovitch entre
1937 e 1947, manteve durante estes anos e os seguintes um contacto pessoal
muito forte com este compositor, mas que acabou de forma abrupta, levando
mesmo a Ustvolskaya a menosprezar esta relao em termos profissionais. 15
Ustwolskaja concerto para piano e orq de cordas e timpanos (1949/50)
Nesse tempo, como agora, rejeito determinantemente a sua msica
(de Schostakovitch) e a sua personalidade infelizmente s intensificou
esta atitude negativa. (...) Uma coisa clara como o dia: uma figura
aparentemente eminente como a de Schostakovitch, para mim, no
nada eminente. Pelo contrrio, ele queimou a minha vida e matou os
meus melhores sentimentos. Thea Derks , Tempo 193, Julho de
1995, Hollanda.
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Viveu de encomendas para filmes, programas de Radio e, simultaneamente,
continuou uma criao musical individual, privada, desconhecida e
menosprezada at pouco tempo, assumidamente spera e primitiva, muito
prxima de uma arte bruta tal como entendida nas artes plsticas da Europa. 16
Ustwolskaja dona nobis pacem (1971) Ustwolskaja que baniu da sua lista de
obras todas as que comps para o regime refugiou-se num certo ascetismo.
Afirma nunca escrever msica de cmara, mesmo quando utiliza um nmero
limitado de instrumentos. A sua msica oscila entre o fortssimo de 4 e 5 FFFFF
e o pianssimo quase inaudvel, usando profusamente harmonias com clusters e
melodias desconcertantes em tessituras extremas, que aparecem de uma forma
agressiva agressivamente crua. A sua msica , no entanto, profundamente
religiosa, visvel no s nos ttulos como tambm no uso de melodias prximas
da liturgia ortodoxa e em passagens de um claro misticismo, prprio da msica
Russa. Se nas suas obras de juventude est muito presente a influncia de
Schostakovitch, logo a partir dos anos 50 se v uma flexo para as
caractersticas que iro marcar a sua msica. E Ustwolskaja , a partir de ento,verdadeiramente vanguardista, usando indiscriminadamente qualquer objecto
musical qualquer conjunto sonoro para desenvolver de uma forma clssica
e aparentemente clara agressivamente clara as suas ideias. Longe da
sensibilidade romntica, a sua msica , a meu ver, to desconcertante quanto a
de John Cage, simplesmente usando meios sonoros diversos, explorando-os de
uma forma exaustiva, assumindo uma crueza e expressividade extremas, cheiasde misticismo. 17 Ustwolskaja sonata para piano 6(1988)
EDISON DENISOV
SLIDE 21
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Edison Denisov (1929-1996) , porventura, o representante do dodecafonismo
Weberniano e do serialismo Darmstadtiano na Rssia dos anos 60. Admirador
de Boulez, estudou os compositores da segunda Escola de Viena, assim como
obras de Boulez, Nono, Stockhausen e Lutoslawski. Influenciou fortementecompositores de geraes vindouras. Acusado de formalista em 1979, exilou-se
em Paris.
DEPOIS DE ESTALINE
A tnue abertura aps a morte de Estaline no significou o fim do realismo
socialista. SLIDE 22 O texto que aqui se reproduz, j dos anos 60, revelador
da esttica vigente: tambm anti-cosmopolita, de um moralista ataviante,
fortemente combativa dos vanguardistas. 18 Denisov de La vie en Rouge (Boris
Vian) Les bombes atomiques (1973)
Ano a ano a msica dos pases socialistas est a conquistar uma
posio cimeira no mundo da arte progressiva. Compositores de
grande talento de todos os gneros de msica tm-se salientado
nestes pases. Entre eles V. Dobias, D. Kardos, E. Suchon e J. Hanus
(Checoslovquia), W. Lutoslawski, W. Rudzinski, K. Sikorski (Polnia),
P. Dessau, E. Mayer, H. Eisler (RDA), I. Dumitrescu, P.
Constantinescu (Romnia), P. Vladigerov, L. Pipkov, and P. Stainov
(Bulgria), Z. Kodaly, F. Szabo e P. Kadosa (Hungria), Ma Se-chung,
Ho Lu-ting (Repblica Popular da China).
Idelogos reaccionrios no podem ignorar o facto de somente o
socialismo criar condies para umboom sem precedentes na cultura
musical, uma cultura posta ao servio do povo.
SLIDE 22 O processo de formao da nova msica nos pases
socialistas no corre suavemente, pois existe uma constante luta
contra influncias externas. Foras hostis especficas no abandonam
as muitas tentativas de desacreditar os princpios da arte socialista.
Todo o gnero de alianas musicais de ndole modernista tentam
estender a sua influncia a compositores destes pases, a dividir as
suas posies e a envenenar a juventude, particularmente com o
formalismo. Mas estas tentativas no levam a lado algum. A arterealista, chamada a servir o povo e a construo do socialismo, est
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firme nestes pases. (Sovetskaya Musika, publicado em Music Journal
(USA) 1962 68).
A ABERTURA DE KRUTCHOV
Mas a abertura de Krutchov favoreceu o aparecimento de novas obras, de estilos
musicais mais livres, do estudo da modernidade vinda da Europa Central. E o
aparecimento de uma nova cultura musical no bloco de leste, como o festival
Outono em Varsvia a partir de 1956 (meses antes da represso do exrcito
Vermelho na Hungria), e mais tarde tambm o de Zagreb. Nestes festivais ir-se-
iam dar a conhecer obras formalistas dos mais diversos compositores, desde
os Polacos Lutoslavsky, Penderecky e Gorecky, ou Schostakovitch e alguns dos
compositores da nova gerao.
BREJNEFF
Na verdade, com o longo consulado de Brejneff a partir de 1964, a pequena
abertura cultural sentida foi-se desvanecendo, aparecendo os velhos fantasmas
estticos, polticos e policiais. O 6 Congresso da Unio dos Compositores
Soviticos de 1979 veio acusar alguns compositores da nova gerao por
mostrarem interesse no serialismo e no experimentalismo: eram compositores de
formalistas, pr-ocidentais: Denisow, Gubaidulina, Alexander Knaifel (1943
Taschkent), Dmitri Smirnov e Jelena Fersowa.
As Novas Geraes
SLIDE 24
desta gerao que se encontram os compositores que hoje so os mais
conhecidos do antigo espao sovitico:
Sofia Gubaidulina (Rssia 1931)
Alfred Schnittke ( 1934)
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Arvo Prt 1935
Gia Kancheli 1935
Valentin Silwestrow (1937) Viktor Suslin 1942
Alexander Knaifel (1943 Taschkent)
Peteris Vasks (Letnia 1946)
Dmitri Smirnov (1948)
Jelena Fersowa (Rssia 1950)
Devo destacar alguns, pela sua repercusso na msica internacional ... e pelo
facto de ter conseguido recolher dados (e partituras) sobre as suas obras.
SOFIA GUBAIDULINA
SLIDE 25
(Rssia 1931), talvez a mais conhecida na Europa, compe actualmente uma
msica com fortes razes nos diversos povos do antigo espao sovitico. As suas
obras dos anos 70 revelam um forte interesse pela msica de Jazz (uma
caracterstica tambm de Shostakovitch) assim como pelo uso de
dodecafonismo. Foi dos compositores acusados de formalismo em 1979. Mas
Gubaidulina no deixa de revelar um forte pendor expressivo, unindo o
classicismo e as novas tcnicas de composio ao misticismo e profundidade
tradicionais Russos. 19 Gubaidulina Pro et contra (1989)
ALFRED SCHNITKE
(1934/1998), escreveu centenas de partituras para filmes e outras actividades do
estado sovitico. A sua obra , muitas vezes, desconcertante, pois ao mesmo
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tempo que usa tcnicas prximas da vanguarda Europeia, usa citaes (de
compositores e de estilos) misturando at em composies individuais e
livres pequenos excertos da sua produo estatal. De grande capacidade em
termos de orquestrao e profundo conhecedor dos modelos clssicos, a sua obra
prolfera na utilizao de simbologias musicais, usando para isso danas
padronizadas, citaes e todo o tipo de material musical, histrico ou actual. Nos
ltimos anos visto como prximo das perspectivas ps-modenas da Europa
Ocidental e Amricas.
PETERIS VASKS SLIDE 26
(Letnia 1946) A Letnia pertence a um grupo de pases que a custo sobreviveu
expanso cultural eslavo-sovitica. No sendo um pas eslavo, a sua msica
e a de Peteris Vasks, o seu compositor mais conhecido reflecte essa luta por
uma cultura autnoma, por sonoridades prprias reflectindo a cultura, a religio
e o esprito de um povo. A msica de Peteris Vasks est nos antpodas das
vanguardas histricas estruturalistas, assumindo todas as tcnicas instrumentais
do sc. XX para uma msica feita para causar uma forte impresso no ouvinte.
Neo-romntica, ou ps-moderna, ou neo-modalista, repetitiva, um pouco
prxima de Arvo Prt e do georgiano Kancheli ou dos americanos minimalistas
repetitivos dos anos 70, a msica de Vasks assume-se de uma forma muito
marcante como um estilo pessoal, difcil de encaixar de uma forma mais
abrangente pela sua proximidade histrica e pelas suas particularidades.Distingue-se pelo seu afastamento das tcnicas de composio clssicas, mesmo
em quartetos de cordas. A sua msica flui de uma forma mais prxima do
desenvolvimento motvico de Debussy, incorpora o modalismo, tcnicas
instrumentais actuais, e uma conscincia harmnica muito forte. 20 Peteris
Vasks Sinf. vozes vozes da vida (1991)
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Jelena Fersowa SLIDE 27
(Rssia 1950) Esta ser talvez a mais jovem compositora desta gerao. Casada
com o compositor Dmitri Smirnov (1948), juntamente com o seu marido, com
Denisov e Gubaidulina acusada de formalismo e perseguida em 1979, a sua
msica nasce dos ensinamentos de Denisov dodecafonismo e serialismo
mas aproxima-se claramente das sonoridades do expressionismo. Muito ligado
figura de Ossip Mandelstam, poeta maldito na URSS que morreu num campo de
concentrao, a sua msica, embora de grande elaborao
contrapontstica/serial, reflecte o misticismo e a expressividade muito Russas,
no abdicando de acordes, de harmonias mesmo tonais em algumas das suas
obras. 21 Elena Fersowa suite n 2 para viola 1 and. (1967)
23 Elena Fersowa cassandra (1993)
Vivemos sem sentir o pas sob os ps,Nem a dez passos ouvimos o que se diz,
E quando chegamos enfim meia fala
O montanheiro do Kremlin l vem baila.
Dedos gordurosos como vrmina gorda,
A palavras certas como pesos de arroba.
Riem-se os bigodes de barata,
Reluzem-lhe os canos da bota alta.
volta a escumalha guias de fina pescoo
Nas vnias da semi-gente ele brinca com gozo.
Um assobia, o outro geme, aquele mia,
S ele trata por tu, escolhe companhia.
Como ferraduras, lei atrs de lei ele oferta,
Em cheio na virilha, olho e sobrolho e testa.
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Cada morte que faz crime maligno
E o peitao tem amplo, ossetino.
NEO-EXPRESSIONISMO RUSSO?
interessante verificar que vrios destes compositores (Ustwolskaya,
Gubaidulina, Fersowa, assim como Schnitke e outros), conheceram a vanguarda
estruturalista dos anos 50, histrica, usando muitos dos seus meios. Mas mais
interessante ver como assumidamente e sem constrangimentos desde a
Glasnost podem ser compositores livres enveredaram para umaexpressividade que revive algumas das caractersticas que falei no incio: SLIDE
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o Misticismo, aparecendo como influncia religiosa oupotico/literria (presente em quase todos os compositores)a
Cultura popular, atravs do uso de melodias do povo (no mais
melodias do regime) (tambm presente em quase todos os
compositores)
A mquina, agora sob a forma de minimalismo, de
composio/repetio automtica de passagens, presente ainda em
alguns (Ustwolskaya, Gubaidulina, Schnitke)O resultado final muitas vezes prximo de uma continuao do
expressionismo Austraco e Alemo, pondo de lado no as tcnicas mas oesprito militante anti-tonal da vanguarda de Darmstadt, no abdicando de
compr obras que pretendem ser ouvidas, entendidas e amadas.
Ser talvez interessante pensar num neo-expressionismo Russo, englobando
estes e outros compositores da gerao nascida nos anos 40.
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Vanguarda a Oeste e Leste
Os acontecimentos ocorridos na evoluo da msica da Europa central depois da
Segunda Guerra Mundial apontam para transformaes musicais que deram
origem ao que hoje, cerca de meio sculo aps o seu aparecimento, se pode
denominar vanguarda histrica.
Alguns paradigmas so, desde logo determinantes:
SLIDE 29
1 O primeiro o hipottico fim do sistema tonal e afins (modal, neo
modalismo, politonalidades vrias, etc.
Clique
2 O segundo e bsico paradigma o ideal do novo. O novo como
oposio tradio, e como oposio ao romantismo; o novo de Adorno como
atitude de crtica social ao meio musical vigente, o novo como critrio de arte.
Clique
3 O sistema dodecafnico e mais tarde o serialismo integral aparecem no s
como infra-estruturas para a composio musical como em Schnberg
mas tambm como ideias fundamentantes para a construo musical. Este ,
talvez, o terceiro paradigma da vanguarda: o uso de diferentes sries e as suas
consequncias desde o incio dos anos 50, tal como compreendidos e usados por
Messiaen, Cage, Boulez, Stockhausen, etc.
Clique
4 Importante , tambm, a experimentao sonora, o jogo com objectos e
estruturas sonoras, o constante questionar o material em si mesmo, a forma
como escrito e comunicado; at o prazer nesta mesma prtica de
experimentao.
Clique
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5 O quinto paradigma aparece como uma continuao do desenvolvimento
tecnolgico: a mquina e o esprito mecnico e o seu uso musical, desde as
primeiras experincias do incio do sculo, dos instrumentos a rumori dos
futuristas, at Musique Concrte, aos elementos aleatrios em msica,software musical, electrnica ao vivo, etc.
A totalidade destes princpios no so comuns aos compositores da ex-URSS.
No entanto, encontramos alguns elementos que so semelhantes:
SLIDE 30
Evoluo tonal/modal,
Clique
o Herdeira de Wagner e do simbolismo, a evoluo tonal na ex URSS
extravasa-se para diferentes formas, desde as vanguardas de Roslawetz
e Louri, o serialismo de Denisov, at ao modalismo de muitos outros
compositores. interessante verificar que mesmo compositores como
Firssowa e Gubaidulina caminharam para infra-estruturas menos anti-
romnticas, menos dissonantes, usando harmonias prximas do
expressionismo.CliqueA herana popular, em especial a
verdadeiramente popular e no a cultura sovitica do partido, so outra
vertente que influencia esta mudana tonal/modal, j com tradio nos
nacionalismo do sc. XIX.A herana popular religiosa, Russa e
Oriental, ser ainda determinante no s nas sonoridades (melodias,
texturas, timbres) da msica destes compositores como tambm no
esprito, na temtica e no contexto da msica, carregada de
misticismo.CliqueO Construtivismo, quer o cubo-futurista do incio do
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sculo quer a mistura ideolgica com o proletarismo de origem industrial
(Musica ex machina), levam ao aparecimento de
o propostas inicias prximas do dodecafonismo e do serialismo da
Europa central,
o experincias micro-tonais (de grande importncia na msica dos
anos 60 na Europa Central),
o Msica de Mquina Russa, prximas de Hindemith e Eisler. E,
curiosamente, tambm prximas dos minimalismo repetitivo dos
anos 70, tambm usado em obras de Ligeti (Musica Ricercata, 2quarteto), John Cage (Music Landscape), e mesmo Ustwolskaya.
O ideal do novo como procura incessante, como ideal Adorniano, no parece ser
um paradigma da msica dos compositores da ex-URSS. E ser esse paradigma
e a sua aco anti-clssica e anti-romntica na Europa central que definir, a
meu ver, a vanguarda histrica de Boulez, Berio, Stockhausen, Pousseur, etc.
Na ex-URSS, a modernidade no se transformar numa questo esttica e numanegao do passado. A modernidade ser uma questo poltica contra
Estaline e essencialmente uma necessidade pessoal e colectiva em termos
expressivos, redescobrindo o passado, os fundamentos mais profundos das
diferentes culturas, o ser Russo e dos diferentes povos do espao sovitico.
Apesar da represso das tradies das culturas populares, das religies, e do
severo controle esttico imposto desde Zdanov e continuado por Chrennikow nocampo musical.
Os mpetos de modernidade e vanguarda no espao sovitico foram fundados na
prpria existncia humana, em especial nas suas necessidades espirituais, e na
vivncia social e cultural especfica. E, desta forma, no se afastaram a meu
ver da prpria existncia humana e da prpria cultural como conjunto de
formas expressivas de afirmao colectiva.
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Bibliografia
Antonowa, Irina, Merkert, Jrn (herausgeber)(1995),Berlin/Moscow, 1900-1950, Prestal, Mnchen.
MacDonald, Ian (s.d.),Music under soviet rule, http://www.siue.edu/~aho/musov/musov.html.
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