op lee oswald
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA _________________________________________________________________________________
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DOUTOR PEDRO VALLS FEU ROSA
RELATOR DO PROCESSO Nº 100.11.001947-6 EM TRÂMITE NO EGRÉGIO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por seus Procuradores
de Justiça infrafirmados, no uso das atribuições constitucionais que lhes são
conferidas, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no
artigo 129, inciso I, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988;
artigo 120, § 1º, inciso I, da Constituição do Estado do Espírito Santo de 1989;
artigo 24, caput, do Código de Processo Penal; artigo 29, inciso V, da Lei
Federal nº. 8.625/93; e artigo 30, inciso XV, da Lei Complementar Estadual nº.
95/97 c/c artigo 50, alínea “b” do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo - RITJES, oferecer
ADITAMENTO À DENÚNCIA
em desfavor dos nacionais abaixo qualificados:
1. REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, inscrito no C.P.F sob o nº 579.481.277-04,
filho de MANOEL VENÂNCIO DA QUINTA E SANTILHA DOS SANTOS QUINTA
residente na rua Rua José Costalonga, S/N, Centro, Presidente
Kennedy/ES;
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2. CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, inscrito no C.P.F sob o nº 353.629.107-44;
filho de THELMO DALLA BRANDÃO E EDITH MARIA BORGES BRANDÃO,
residente na Rua Rua Amélia Tartuce Nasser, 301, ap. 401, Jardim da
Penha, Vitória/ES;
3. GEOVANA QUINTA COSTALONGA, inscrita no C.P.F. sob o nº 101.960.387-90,
filha de LILIAN QUINTA, residente na Rua José Costalonga, S/N, Centro,
Presidente Kennedy/ES;
4. JULIANA BAHIENSE FONTÃO CRUZ, inscrita no C.P.F. sob o nº 100.727.687-89,
filha de GILMARO MARTINS e MARIELA BAHIENSE MARTINS, residente na Rua
Olegário Fricks S/N, Centro, Presidente Kennedy/ES;
5. FLÁVIO JORDÃO DA SILVA, inscrito no C.P.F sob o nº 080.824.417-55, filho de
LUIZ CARLOS BAHIENSE DA SILVA e HELENA M. JORDÃO SILVA, residente na
Rua Alcina Carneiro Martins, 05, Paraíso, Cachoeiro de Itapemirim/ES;
6. MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, inscrito no C.P.F. sob o nº 031.498.257-
41, filho de LAURITO ALVES DA SILVA e ZÉLIA PAULA ALVES, residente na Rua
Jaques Soares, 99, Centro, Presidente Kennedy/ES;
7. JOVANE CABRAL DA COSTA, inscrito no C.P.F. sob o nº 052.820.567-63, filho
de GENILDO COSTA e ALDA CABRAL DA COSTA, residente na Rua Manoel
Lúcio Gomes, S/N, Centro, Presidente Kennedy/ES;
8. ELI ÂNGELO JORDÃO GOMES, inscrito no C.P.F. sob o nº 078.117.967-08, filho
de ELY MONTEIRO GOMES e SILEIA JORDÃO GOMES, residente na Rua José
Costalonga, S/N, 1º andar, Centro, Presidente Kennedy/ES;
9. JOSÉ CARLOS JORDÃO GOMES, inscrito no C.P.F. sob o nº 007.995.757-98,
filho de ELY MONTEIRO GOMES e SILEIA JORDÃO GOMES, residente na Rua
José Costalonga, 214, Centro, Presidente Kennedy/ES;
10. JOSÉ ROBERTO DA ROCHA MONTEIRO, inscrito no C.P.F. sob o nº
016.953.597-55, filho de JOSÉ MONTEIRO e MARILENE DA ROCHA
MONTEIRO, residente na Rua Professor Elpídio Pimentel, 425, ap. 101, Jardim
da Penha, Vitória/ES;
11. CLÁUDIO RIBEIRO BARROS, inscrito no C.P.F. sob o nº 875.001.247-91, filho de
CARLOS PANDOLPHO BARROS e AURELÍDIA RIBEIRO BARROS, residente na
Rua Alice Bumachar Neffa, 510, ap. 502, Jardim Camburi, Vitória/ES;
12. JURANDY NOGUEIRA JUNIOR, inscrito no C.P.F. sob o nº 843.970.127-68, filho
de JURANDY NOGUEIRA E MARIA BATISTA NOGUEIRA, residente na Rua
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Samuel Levi, nº 82, aptº 201, Ed. Caravelle, Aquidaban, Cachoeiro de
Itapemirim/ES;
13. ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS, inscrito no C.P.F. sob o nº 055.877.297-88,
filho de GUILHERME CHARLES PINHEIRO e MARIANA BASTOS PINHEIRO,
residente na Rua Avenida Simão Soares, 1195, Marataízes/ES;
14. MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA, inscrita no C.P.F. sob o nº 102.123.927-
51, filha de AYRES SILVA e ARILDA FONSECA SILVA, residente na Rodovia ES-
162, S/N, São Paulinho, Presidente Kennedy/ES;
15. SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA, inscrita no C.P.F. sob o nº 122.550.347-78, filha
de EMILZA FRANÇA DE ALMEIDA, residente na Rua Projetada, S/N, Bairro
São Salvador, Presidente Kennedy/ES;
16. CHARLENE CARVALHO SECHIN, inscrita no C.P.F. sob o nº 099.182.267-65,
filha de DEUMI SECCHIN ZIONE CARVALHO SECCHIN, residente na Rodovia
ESW-162, km 22, imóvel de cor amarela, Bairro Desejo, Presidente
Kennedy/ES;
17. FABRÍCIO DA SILVA MARTINS, inscrito no C.P.F. sob o nº 068.485.437-64 filho
de NATAL MOURY MARTINS e CELIA MARIA DA SILVA MARTINS, residente na
Avenida Antônio Penedo, 19, Centro, Cachoeiro de Itapemirim/ES;
18. WALLAS BUENO DA SILVA, inscrito no C.P.F. sob o nº 971.826.216-49, filho de
SOAMIRAMELIO DA SILVA e NOBERTA LAURA DA SILVA, residente na
Avenida Central, 200, Bairro Belo Horizonte, Marataízes/ES;
19. SAMUEL DA SILVA MORAES JUNIOR, inscrito no C.P.F. sob o nº 110.643.467-
66, filho de SAMUEL DA SILVA MORAES e SIRLEIA AMARAL LESSA, residente
na Rua Atílio Vivácqua Vieira, 395, 1º andar, Centro, Presidente
Kennedy/ES;
20. PAULO CÉSAR SANTANA ANDRADE, inscrito no C.P.F. sob o nº 406.601.505-
06, filho de ARNALDO SANTOS ANDRADE e EPAMINONDAS SANTANA
ANDRADE, residente na Rua Mimoso do Sul, 101, Praia de Itaparica, Vila
Velha/ES;
21. CARLOS FERNANDO ZACHÉ, inscrito no C.P.F. sob o nº 378.296.537-04, filho
de JORGE ANTÔNIO ZACHÉ e JANY SANTANA, residente Rua Comissário
Octávio de Queiroz, 1087, Ed. Luciana, ap. 401 (cobertura), Jardim da
Penha/Vitória/ES;
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22. RODRIGO DA SILVA ZACHÉ, inscrito no C.P.F. sob o nº 086.759.237-08, filho
de CARLOS FERNANDO ZACHÉ e MARIA DA CONCEIÇÃO S. ZACHÉ,
residente na Rua Maranhão, 140, ap. 103, Praia da Costa, Vila Velha/ES;
23. JULIANA DE PAULA, inscrita no C.P.F. sob o nº 117.526.547-06, filha de
NELSON PINTO DE PAULA r LOURACI NOGUEIRA DE PAULA, residente na Rua
Walcir Tápias Oliveira, 207, bloco B, AP. 201, Antônio Honório, Vitória/ES;
24. ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES, inscrita no C.P.F. sob o nº 100.495.647-
90, filha de COSMO RODRUGUES e IRENE SALOMÃO RODRIGUES, residente
na Rua Atum, 6, Quadra 34, Setor América, Cidade Continental, Serra/ES;
25. SABRINA DA SILVA TESCH, inscrita no C.P.F. sob o nº 054.411.747-65, filha de
JOÃO BATISTA TESCH e ELSA DA SILVA TESCH, residente na Rua Piúma, 12,
Morada de Laranjeiras, Serra/ES;
26. FÁBIO SAAD JUNGER, inscrito no C.P.F. sob o nº 024.606.247-94, filho de
FRANCISCO ALFREDO LOBO JUGER e KAFA MARIA D S JUNGER, residente
na Avenida Antônio Borges, 80, Mata da Praia, Vitória/ES e
27. JOEL ALMEIDA FILHO, inscrito no C.P.F. sob o nº 342.505.227-68, filho de JOEL
ALMEIDA e PASCOA RIBEIRO, residente na Rua Maria dos Santos Cunha, 85,
bl. F, apto. 204, Jardim Camburi, Vitória/ES;
pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos.
1 – ELEMENTOS PRÉ-DENUNCIAIS: JUSTIFICATIVA DO ADITAMENTO
No Direito Processual Penal existe uma máxima estabelecendo que sua
função precípua seja assegurar à sociedade que fatos puníveis pelo direito
penal (praticado por um indivíduo, de cuja violação desafia o Estado), se
subsume ou não a determinado modelo descrito na lei. Uma vez confirmado
que seu comportamento viola bem jurídico penalmente tutelado, o processo
penal surge para o restabelecimento da paz juridicamente perturbada.
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Por influência do atual estágio vivido pela sociedade, face ao Estado
Democrático de Direito Moderno onde o Processo Penal (diga-se o poder do
Estado) se encontra mais enraizado em bases constitucionais, limitado em sua
própria norma e legitimado pelo respeito aos direitos fundamentais, o
ordenamento jurídico punitivo não poderá deixar de lado sua finalidade
principal, qual seja, a proteção dos direitos humanos e dos bens jurídicos
imprescindíveis a sua coexistência. Esse consectário é o que a doutrina vem
chamando de “Função Garantista do Processo Penal”.
Do fracasso da sociedade em impedir a agressão aos seus integrantes ou,
defrontando-se com a impossibilidade de autoexecutar suas normas de
conduta e/ou o exercício do poder de polícia, vis a vis a lesão de bens
jurídicos penalmente protegidos, exsurge a pretensão processual punitiva
estatal com vistas à aplicação das sanções previamente descritas no
ordenamento jurídico penal violado.
Isso somente é possível através do uso legal dos instrumentos colocados à
disposição do Estado e, nessa via, aparece a principal ferramenta: o Processo
Penal – meio necessário e suficiente à realização da jurisdição penal. Cabe
ao Processo Penal, por exemplo, a responsabilidade pela análise das provas
levantadas pelas partes, de modo que o Estado-Juiz possa apresentar
livremente o seu convencimento e o veredicto sobre a conduta do réu, de
acordo com o fato investigado e a partir das provas trazidas ao processo
pelos interessados no estabelecimento da verdade.
A esse respeito, o ilustre Desembargador e professor, Paulo Rangel, ensina que
“Descobrir a verdade real (ou material) é colher elementos
probatórios necessários e lícitos para se comprovar, com certeza
absoluta (dentro dos autos), quem realmente enfrentou o
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comando normativo penal e a maneira pela qual o fez. O desejo
de se descobrir a verdade é o desejo de se realizar a justiça. Por
isso, a verdade e a justiça são realidades e valores
complementares.”1
Essa “verdade”, portanto, refere-se sempre a um mesmo fato ocorrido no
mundo jurídico, e, qualquer situação fática oriunda de evento idêntico ao já
apreciado pelo Estado-Juiz, passa a ser ilícita uma nova condenação do
acusado.
Desta forma, havendo comprovação de que há diversidade fática da que
consta na denúncia, contudo, oriunda de “um único evento, indivisível,
concreto e real, ou seja, se o fato naturalístico (aquele ocorrido no mundo dos
homens) for um só, com imputação diversa pelo Ministério Público, só poderá
haver condenação se houver aditamento a denúncia.”2
Nesse contexto, portanto, o aditamento à peça de ingresso da Ação Penal
deve ser observado com vistas à perfeita adequação jurídica do (“novo”)
fato, medida que dever ser encarada como “imperiosa de realização da
justiça tanto para com o acusado como para com a sociedade,
estabelecendo plena igualdade de condições.”3
O artigo 384 do Código de Processo Penal estabelece que:
“Se o juiz reconhecer a possibilidade de nova definição jurídica do
fato, em consequência de prova existente nos autos de
circunstância elementar , não contida, explícita ou implicitamente,
na denúncia ou na queixa, baixará o processo, a fim de que a
defesa, no prazo de 8 (oito) dias, fale e, se quiser, produza prova,
podendo ser ouvidas até três testemunhas.
1Paulo Rangel, Direito Processual Penal. 3 edição, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2000. 2 RANGEL, 2000. 3 RANGEL, 2000.
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Parágrafo único - Se houver possibilidade de nova definição
jurídica que importe aplicação de pena mais grave, o juiz baixará
o processo, a fim de que o Ministério Público possa aditar a
denúncia ou a queixa, se em virtude desta houver sido instaurado
o processo em crime de ação pública, abrindo-se, em seguida, o
prazo de 3 (três) dias à defesa, que poderá oferecer prova,
arrolando até três testemunhas.”
Independentemente do posicionamento doutrinário acerca do dispositivo
supramencionado4, a questão a se observar é a possibilidade de se aditar a
denúncia face à prova nova surgida no curso da instrução processual. Tem-
se, portanto, três caminhos a percorre dentro da análise jurídica: i) se se tratar
de um pedaço do fato e houver prova nova de sua ocorrência, a
necessidade do aditamento é medida de extrema importância; ii) em se
tratando de fato em relação ao original, oriundo de novas provas, há que se
aditar a denúncia dando-se a oportunidade ao réu de ser interrogado sobre
esse novo fato conexo e praticar todos os demais atos processuais inerentes à
sua defesa; iii) entretanto, se for fato novo, porém, sem conexão, instaura-se
outra ação penal.
Do exposto acima, uma vez diante da possibilidade de alteração contextual,
face à presença de elementos que integram o fato, mas que não constam da
denúncia, deverá a peça de ingresso ser aditada pelo órgão acusador. Desta
forma, não importará que fique a pena menor, igual ou maior, na verdade,
o(s) réu(s) terá(ão) o direito de se defender dos fatos descritos na denúncia e
não da capitulação jurídico-penal dada aos fatos.
É o que ocorre no caso vertente, conforme se narrará nas linhas seguintes,
razão que move o Ministério Público, nessa ótica, a apresentar o presente
aditamento face aos elementos contextuais que o justificam.
4 Aqui a doutrina diverge quanto à possibilidade de aditamento da denúncia quando se
tratar de aplicação de pena mais ou menos grave.
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2 - A OPERAÇÃO “LEE OSWALD” – ESCORÇO HISTÓRICO
Noticia a documentação que faz parte da presente peça inaugural de
processo criminal, notadamente o Inquérito Policial Federal nº 502/2011, que
tramita no Departamento de Polícia Federal, através da Superintendência
Regional no Espírito Santo – investigação policial iniciada com o objetivo de
desaparelhar organização criminosa que vinha atuando de forma ordenada
e contumaz em fraudes em licitações públicas no município de Presidente
Kennedy, cidade localizada no litoral sul do Espírito Santo.
A operação, batizada de “Lee Oswald”5, teve, inicialmente, o objetivo de
apurar supostos desvios de verbas públicas de âmbito federal, bem como
também outras oriundas de royaties de petróleo.
O ponto de partida da Operação foi o envio do vasto material encaminhado
à Delegacia da Polícia Federal no Espírito Santo pelo ilustre Desembargador
Pedro Valls Feu Rosa, que vislumbrou conexão entre o que restou apurado das
operações “Moeda de Troca” (ocorrida em Santa Leopoldina-ES) e “Tsnunami”
(deflagrada no município de Fundão-ES), que, em sua gênese, narravam o
envolvimento de parlamentares, chefes de executivo municipal, de servidores
públicos, militares e de empresários em diversas fraudes em processos
licitatórios, em prejuízo direto da Administração Pública.
Restaram patentes durante as investigações, indícios robustos da ramificação
da organização criminosa para além das fronteiras dos municípios objeto das
5 Lee Harvey Oswald, nasceu em Nova Orleans, em 18 de outubro de 1939 e morreu em
Dallas, no dia 24 de novembro de 1963. Oswald, de acordo com três investigações do
governo dos Estados Unidos, foi o assassino do presidente John F. Kennedy, baleado em
Dallas, Texas, em 22 de novembro de 1963. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lee_Harvey_Oswald)
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investigações. De forma bem especial, aparecia nesse contexto a cidade de
Presidente Kennedy, seguramente atraída por verbas colossais provenientes
dos royalties do petróleo, conforme destacou o Eminente Desembargador
Pedro Valls Feu Rosa na sua decisão, verbis:
“... quanto ao lixo, as denúncias demonstram claramente uma
ramificação nos vários municípios do Estado, assim como, um
possível mau uso de recursos oriundos dos royalties do petróleo e
até mesmo de recursos federais.”
Todo o vasto conteúdo extraído das Operações “Tsunami”, “Moeda de Troca”
e “Lee Oswald”, vem confirmar que a inquietude do magistrado fazia sentido,
não apenas pelo modus operandi da quadrilha, mas da própria atuação do
grupo em diversos municípios capixabas e até mesmo em municípios de
outros Estados da Federação.
Em primeiro plano, vamos nos ater à Operação “Lee Oswald”, com possíveis
inserções das outras operações, como forma de contextualização situacional.
O ilustre Delegado que presidiu o Inquérito Policial Federal nº 502/2011 teve,
então, como início dos trabalhos, a documentação enviada pelo conspícuo
Desembargador Pedro Valls Feu Rosa, extraindo-se dela pontualmente o que
interessa ao caso em voga: i) a denúncia encaminhada pelo Vereador de
Presidente Kennedy Tércio Jordão Gomes; e ii) Os depoimentos de Ronaldo
Nunes de Souza prestados ao GETI, ao Delegado de Polícia Civil de Presidente
Kennedy e, posteriormente, ao Delegado de Polícia Federal que conduziu as
investigações.
Em denúncia formulada pelo Vereador do município de Presidente Kennedy,
Senhor Tércio Jordão Gomes, alertava o parlamentar acerca de várias
irregularidades, apontadas pelo então juízo processante da Denúncia,
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oriunda da Operação “Tsunami”, razão da necessidade do devido
encaminhamento legal da documentação à autoridade investigativa.
O material enviado, encorpado pelo farto conjunto de provas obtidos na
própria Operação “Lee Oswald”, é capaz de comprovar a descomunal forma
de atuação do grupo instalado no Município de Presidente Kennedy, além de
corroborar a existência de verdadeira organização criminosa instalada no
Estado do Espírito Santo, que tem como principais características o alto poder
de corrupção e intimidação de seus integrantes, conexões locais e divisão de
territórios para atuação e, ainda, estrutura piramidal com divisão de tarefas
entre seus membros, além é claro, de ramificações/conexão em outros
municípios, como Cachoeiro de Itapemirim, Santa Leopoldina, Viana, Serra,
Apiacá, Fundão, Vitória, Vila Velha, dentre outros.
Desta forma, a estrutura montada e já visualizada por este honrado Juízo e
pelo Delegado Federal que presidiu os trabalhos, Dr. Alvaro Rogério Duboc
Fajardo, proporcionou a instrumentalização da investigação policial,
materializada nos autos do Inquérito Policial nº 502/2011 – SR/DPF/ES, para o
fim de esquadrinhar a continuidade delitiva da organização criminosa.
A partir do belo e inteligente trabalho investigativo dos agentes federais,
constatou-se, em definitivo, que o grupo é composto, dentre outros, por
agentes públicos municipais de alto escalão, parlamentares estaduais,
membro do legislativo local, militares, empresários, bem como outros
servidores municipais, que vêm praticando crimes tipificados no Código Penal
Brasileiro, na Lei 9.613/98 (Lavagem de Dinheiro), na Lei 8.666/93 (Lei de
Licitações), dentre outras.
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Com o avanço das atividades policiais, a autoridade que presidiu o Inquérito
nº 502/2011 foi apresentando representação por medidas de caráter cautelar,
necessárias à instrução e condução dos trabalhos investigativos, tendo como
pano de fundo o aprofundamento dos fatos e a concretização do
envolvimento dos integrantes do grupo criminoso nas delinquências objeto de
apuração.
Para instruir o citado Inquérito Policial Federal (nº 502/2011), ante a
clandestinidade da ação dos suspeitos e do nível de organização do grupo
no cometimento dos delitos investigados, eis que quedaram inevitáveis os
requerimentos de medidas cautelares, “instrumentos excepcionais de
produção prova, tendo em vista a complexidade que envolve investigações
desta natureza e, sobretudo, em razão da dificuldade de perscrutar as ações
da organização criminosa praticadas, em grande medida, no município de
Presidente Kennedy”, conforme exposto na Representação Final apresentada
pelo delegado. 6 Entre as medidas incluem-se:
i) a quebra de sigilo telefônico e de dados com interceptação e
monitoramento de voz e número, de comunicações e torpedos, caixa
postal, pager, chat, fax, referentes a short menssages, de terminais
específicos;
ii) a quebra de sigilo pessoal, com possibilidade de instalação de
equipamento para monitoramento ambiental ou emprego de
dispositivo portátil para captação de áudio, vídeo e/ou áudio e vídeo,
no escritório de um dos alvos principais da investigação;
6 Conforme se observará mais à frente, a cidade de Presidente Kennedy possui pouco mais de
dez mil habitantes. Porém, “70% da população reside na zona rural e a sede do município se
assemelha a um pequeno povoado onde todos se conhecem. Com isso, a teor do afirmado
pelo delegado Álvaro Fajardo, “é praticamente impossível incursionar sem ser notado. Some-
se a isto, a estrutura de proteção ao esquema criminosos instalada pelo Poder Público com
participação ativa de Policiais Militares e da Guarda Civil Municipal.”
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iii) acompanhamento e ação controlada, das ações flagranciais
praticadas por alguns dos investigados e registradas a partir dos
procedimentos de formação de provas;
iv) como material necessário para a formação da composição do acervo
probatório, foi solicitada, ainda, de forma complementar,
representação por medida cautelar de afastamento de sigilo fiscal e
bancário, que teve como pressuposto auferir a impressionante forma de
atuação da quadrilha na prática de crimes que visam o ganho de
capital e poder econômico.
A alta periculosidade e voracidade arrecadatória, além do enorme poder de
influência dos seus membros, comprovaram que as atividades delitivas da
organização criminosa ultrapassaram as fronteiras da cidade alvo (Presidente
Kennedy) e do nosso estado, sendo certo que seus negócios escusos
direcionam-se também para outras unidades da federação, inclusive com o
apadrinhamento de Políticos de peso no país como Roberto Jeferson7, além
da ajuda de Delúbio Soares8, conforme demonstraram as investigações.
Na medida em que as investigações ganhavam terreno foram sendo
confirmadas as informações precedentes: tratava-se de verdadeira quadrilha
de criminosos que se utilizavam de suporte político, administrativo e
empresarial para ingressar fraudulentamente em procedimentos licitatórios
em vários municípios do Estado do Espírito Santo, dentre eles, Presidente
Kennedy, foco principal da operação.
Registros de diálogos promovidos com autorização judicial durante a
operação “Lee Oswald”, evidenciam ajustes direcionados em processos
7 Roberto Jefferson ficou conhecido nacionalmente por denunciar o mensalão. Teve o
mandato de Deputado Estadual cassado em razão do escândalo. 8 Delúbio Soares é o ex-tesoureiro do PT e ficou conhecido nacionalmente como um dos
gerentes do mensalão.
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licitatórios, divisão de licitação, afastamento de eventuais concorrentes dos
certames, verificando claramente um “jogo de cartas marcadas”.
Como principais cabeças dessa organização, aparecem as figuras do Prefeito
do Município de Presidente Kennedy, Reginaldo dos Santos Quinta, do
Procurador-Geral do Município, Constâncio Borges Brandão, além de
Secretários Municipais e empresários.
Evidentemente que surgem também outros integrantes dessa organização
criminosa e facilitadores/colaboradores diretos das (nas) operações ilícitas
que aconteciam no município de Presidente Kennedy, conforme será
narrado, pausadamente, no decurso da presente denúncia, até mesmo para
individualização da condutas/crimes.
Não obstante atuarem com união de desígnios, os envolvidos, com a
organização e comando de Reginaldo dos Santos Quinta e Constâncio
Borges Brandão, estabeleciam, na maior parte das vezes, ramos distintos de
atuação dentro do grupo criminoso, conforme se observará em seguida.
2.1 – PRESIDENTE KENNEDY: O MUNICÍPIO “PROMISSOR”
O município de Presidente Kennedy, que possui uma população estimada de
10.315 habitantes e uma área de 586,52 km². É considerada uma das cidades
menos populosas do Espírito Santo, porém com o segundo maior PIB per
capita do estado, com aproximadamente R$ 100.000,00 (cem mil reais)9, e
grande parte desse número se deve às explorações de petróleo e gás, em
9 Dados obtidos no site Wikipedia, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Presidente_Kennedy.
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alto mar, da chamada camada pré-sal, no Oceano Atlântico, razão do
interesse de empresas como a Petrobras, Chevron(Texaco), Shell, Ferrous10,
Samarco e a Vale.
Apenas a título de ilustração, permita-nos aportar os dados apresentados pelo
nobre delegado Álvaro Fajardo, acerda da atual situação que passa o
Município de Presidente Kennedy, no que diz respeito à sua inserção no
cenário estadual, nacional e, porque não dizer, internacional.
Segundo a Agência Nacional de Petróleo, “o município de Presidente
Kennedy recebeu no ano de 2011 quase 100 milhões de reais em créditos de
royalties provenientes da exploração de petróleo, mais do que receberam os
municípios de Marataizes, Serra, Vitória e Vila Velha juntos, figurando esses
hoje na 7ª, 8ª, 9ª e 10ª colocação no ranking dos municípios capixabas que
mais se beneficiaram com a indústria do petróleo.”
Na distribuição de royalties, atendendo à política de compensação
financeira devida à União, Estados e Municípios pelas empresas produtoras de
petróleo e gás natural no Brasil, o município de Presidente Kennedy mais uma
vez se encontra em situação privilegiada em relação a outros Estados.
No quadro comparativo entre o total de recursos repassados ao município
capixaba em destaque em relação aos demais Estados da Federação e/ou
municípios brasileiros, agrupados por estados, no ano de 2011, Presidente
Kennedy ocupa a 7ª colocação, ficando somente atrás de Rio de Janeiro,
10 A mineradora FERROUS, que atua na pesquisa, prospecção, exploração, beneficiamento e
comercialização de minério de ferro, anunciou um investimento em Presidente Kennedy de
US$ 2,7 bilhões (dois bilhões e setecentos milhões de doláres ) podendo chegar a 11 bilhões
de reais, construindo o complexo industrial e um porto com usinas de pelotização na área de
12 milhões de metros quadrados.
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Espírito Santo (todas as cidades juntas), São Paulo, Rio Grande do Norte, Bahia
e Sergipe.
Essa, seguramente, seria a maior motivação da instalação dessa organização
criminosa no município de Presidente Kennedy.
Mas a realidade maior não se encontra nas milionárias cifras provenientes dos
royalties do petróleo recebidos pelo município de Presidente Kennedy. A teor
da Representação Final do ilustre Delegado de Polícia Federal:
“Com PIB per capita de fazer inveja a países desenvolvidos, para
citar apenas Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França (EUA:
U$ 41,199; Alemanha: U$ 40,152; Reino Unido: U$ 36,144; França: U$
39,460; Brasil: U$ 10,710)11, a população de Presidente Kennedy vive
uma realidade social típica de um município pobre. A maior parte
das ruas não são calçadas, os serviços, tanto públicos como
privados, deixam a desejar, a renda de boa parte dos moradores
vem ou gravita em torno da prefeitura e a pobreza ainda impera
na cidade que registra índice de analfabetismo de 18% da
população adulta.12”
Pelo que se pode observar através desses dados, há uma outra realidade
social mais à margem da “nobreza”, fruto do “ouro negro”, mas que é
necessário apontar.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PUND, possui
dados alarmantes e preocupantes acerca do município de Presidente
Kennedy. O município ocupa a 74ª colocação (as ultimas colocações) no
índice de desenvolvimento humano, em comparação com os demais
municípios capixabas13. Ademais, conforme avaliação da Federação das
11 Fonte: BANCO MUNDIAL – http://datos.bancomundial.org/indicador/NY.GDP.PCAP.CD 12 Fonte: IBGE – Censo 2010. 13 Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD www.pnud.org.br
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Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – FIRJAN, o município de Presidente
Kennedy apresenta um dos piores índices de desenvolvimento propriamente
dito, quando comparado aos demais municípios capixabas.
Aproveitando os dados levantados em razão da Representação Final pelo
delegado responsável pela operação “Lee Oswald”, é possível mensurar que
o município de Presidente Kennedy, no ranking geral do nosso Estado, “ocupa
a 67ª posição dentre os 78 municípios, mas a situação se agrava quando a
avaliação toma por base as condições educacionais do município”,
ocupando nada mais, nada menos, do que a ULTIMA COLOCAÇÃO.
Pois bem. Como contextualizar e/ou individualizar o comportamento da
organização criminosa instalada naquela municipalidade e subsumi-lo ao
caso concreto?
2.2 – A SOCIEDADE CRIMINOSA INSTALADA EM PRESIDENTE KENNEDY
É fato que as vicissitudes do mundo moderno vêm modificando o
pensamento humano, mexendo na sua essência, mormente quando usado
pelo ou para o fruto de sua criação: o Estado – criatura que surge para
“controlar” as ações do seu criador. Se por um lado a modernidade fez o ser
humano passar a pensar racionalmente, por outro o fez entrar em crise de
valores. Há autores mais modernos e mais próximos aos campos filosóficos,
sociológico, antropológico, teológico e também da área jurídica, se
posicionando no sentido de que uma dessas causas foi o desencantamento
causado pelo “mundo secular” ou “sociedade pós-moderna secularizada”.
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A sociedade pós-moderna tem como marca característica a fragmentação e
a indeterminância. Estudiosos mais modernos da área, como Gilles
Lipovetsky14, entendem que a partir dos anos cinquenta do século passado, o
mundo vivencia uma aceleração nos meios que movimentavam a
modernidade – as pessoas, o mercado, o acúmulo de capital, a escalada
técnico-científica. Com o avanço da globalização e os meios tecnológicos
de comunicação, principalmente após os anos oitenta, essa nova realidade
social passa a interferir diretamente em comportamentos e modos de vida.15
Nesse contexto histórico-social é interessante observar que a ciência e a
tecnologia transformaram sensivelmente a natureza do agir humano. Os
padrões morais do passado também foram se alterando. A mudança
proporcionou a dependência do modo de ação do ser humano e não só nos
aspectos físicos; tudo passou a ser implicado na esfera do agir humano e,
portanto, de sua responsabilidade. Nessa sociedade hipermoderna,
“aumenta cada vez mais a desproporção entre o poder de dominação
técnica e os critérios morais capazes de reger a nova civilização daí
decorrente.”16
A impressão que fica é a de que fazer parte desse ambiente requer do
indivíduo ações repetitivas diretas de inclusão no meio, tendo em vista que,
aparentemente, todos agem da mesma forma ou, mesmo sem agir, na
omissão, culminam por atestar o resultado daquele proceder. Com isso,
impotente ou fruto do meio, parece que as pessoas vivem envoltas em
problemas sociais (roubalheira, injustiça social e econômica, etc), sem se
14 Lipovetsky é um filósofo francês, professor de filosofia da Universidade de Grenoble, teórico
da Hipermodernidade. 15 LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os Tempos Hipermodernos. Tradução Mario Vivela.
São Paulo: Barcarolla, 2004. 16 OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética, Direito e Democracia. São Paulo: Paulus, 2010. p. 10.
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abalar ou sublevar-se, em profundo descompasso com a cultura social
natural, situação que vai se avolumando sem condições de resolução.
Trazendo a problemática para debaixo de nossos “lençóis”, é perceptível esse
quadro instalado não apenas no município de Presidente Kennedy, mas em
todo o Estado do Espírito Santo, e, porque não dizer, no Brasil. Por essa razão, é
fundamental para uma vivência democrática que a moralidade política seja
exigida pelos cidadãos, ainda que por parcela ínfima da sociedade, como
podemos ver no caso em exame. E num tempo em que assistimos o
sepultamento da ética e da moral, cabe aos poderes públicos o dever
jurídico do agir pro societate.
Pois bem. Devidamente diagnosticada e contextualizada a situação
emergente, sobretudo, na sociedade capixaba como um todo, e, buscando
com isso traçar um paralelo com o caso sub examine, analisaremos em
seguida a problemática sob a ótica da estrutura criminosa instalada no
município de Presidente Kennedy.
Conforme já abordado acima, a operação “Lee Oswald” teve como ponto
de partida três fontes distintas, mas complementares entre si:
i) O encaminhamento de farto material ligado à Operação Tsunami,
desenvolvida no município de Fundão, pelo Desembargador Dr. Pedro Valls
Feu Rosa;
ii) a documentação extraída da Operação Moeda de Troca, desenvolvida no
ano de 2010 no município de Santa Leopoldina;
iii) Os depoimentos de Ronaldo Nunes de Souza, ex-funcionário de um dos
investigados, até então, prestados ao GETI e ao Delegado de Polícia Civil de
Presidente Kennedy.
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O conjunto até então encaminhado para o Departamento da Polícia Federal
pelo conspícuo Desembargador Pedro Valls Feu Rosa, como dito, era apenas
o “prato principal” de um banquete de ilicitudes perpetradas pela estrutura
organizacional aparelhada e instalada em Presidente Kennedy para prática
de crimes e usurpação dos cofres públicos desse rico município.
Como toda organização criminosa voltada para o crime, essa não é
diferente, visto que possui todas as características que a identifica, ou seja: i)
previsão de lucros; ii) hierarquia entre seus membros; iii) planejamento
empresarial; iv) divisão de trabalhos; v) ingerência no poder estatal; vi)mescla
de atividades lícitas e ilícitas para dificultar a atuação dos órgãos públicos
encarregados da persecução penal.
Conforme exposto na Representação Final, a estrutura organizada no
executivo de Presidente Kennedy para o fim de desviar recursos públicos em
benefício próprio ou de terceiros, possui a seguinte estrutura hierárquica:
Prefeito
Decisão
Procurador
Legalização
Secretários
Ação
Comissão de Licitação
Execução
Câmara de Vereadores
Omissão
Policiais
Intimidação
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Veja que é efetivamente a conclusão da investigação levada a efeito na
Operação “Lee Oswald”. Portanto, um “grupo de pessoas, em uma
sociedade piramidal, a partir do Prefeito, de forma permanente, atuando
com cristalina divisão de funções, paralelamente a uma presumível rede de
corrupção destes agentes, objetivando a perpetuação de Poder Político, no
município de Presidente Kennedy.”17
Para que não percamos nenhum detalhe acerca da estrutura montada pelo
grupo e devidamente apurada pela equipe da Polícia Federal (presidida pelo
ilustre delegado Álvaro Fajardo), pedimos vênias para transcrever, na
sequência, ipisis literis, os dados levantados no Relatório Incidental:
- O CHEFE DO EXECUTIVO: PREFEITO REGINALDO DOS SANTOS QUINTA
“O Prefeito Reginaldo dos Santos Quinta tem a decisão, a palavra
final, o controle total da situação, trata-se da pessoa que manda.
Ao contrário do que tenta passar, não é um pequeno peixe
inocente entre tubarões, mas um homem inteligente, forjado no
mundo da política partidária, que tem comando pleno de sua
administração e, ao fim de tudo, conduz toda a situação ilícita que
ocorre sob sua égide. Não há espaço para desconhecimento dos
desmandos, pois Presidente Kennedy é um pequeno município,
basicamente rural, com uma pequena sede urbana de pouco mais
de três mil habitantes, onde todos se conhecem e se falam. Lá,
fatalmente, qualquer situação fora do lugar comum chama
imediata para quem a comete. Reginaldo sequer pode culpar seu
secretariado, pois, não bastasse que duas de suas sobrinhas,
17 Dados levantados no Relatório Incidental apresentado pelo Agende da Polícia Federal,
Rafael Rodrigo Pacheco Salaroli.
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Amanda e Geovana, ocupem posição de destaque, a relação com
os demais Secretários beira o familiar. No corpo deste relatório ficará
a participação de Reginaldo nos crimes investigados, em especial,
mas não somente, em dois deles. São os processos licitatórios e
contratos firmados entre as empresas EXCELÊNCIA e PULIZIE ITÁLIA e
a municipalidade.”
Veja que o prefeito Reginaldo Quinta não é apenas chefe do Executivo de
Presidente Kennedy, é a pessoa que comanda efetivamente o crime
organizado instalado naquele município. Os diálogos de índices 5535243,
5535545, 5535552, 5535721, 5536895, 5537291, 5544197, captados durante as
investigações, dão mostras de como o Prefeito age e comanda a
organização.
- O PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO–CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO
“O Procurador Geral Constâncio Borges Brandão legaliza os
procedimentos licitatórios com a emissão de seus pareceres,
destinados a dar adequação pro forma, ou seja, apenas para
conceder um ar de respeito à Lei para os desmandos praticados
nestes processos. Mas não é só, em contraposição a Geovana, que
organiza as licitações com o empresariado local, Constâncio é o
homem forte do Prefeito para articular toda a evolução das grandes
obras, buscando o sucesso das fraudes, inclusive, como se verá,
com a utilização de um interlocutor para tal, o senhor Miguel Jorge
Freire Neto. Somado a isso Constâncio, utilizando seus pareceres,
lida com o empresariado sempre que se mostra necessário facilitar
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ou destravar algo, concentrando, desta maneira, o domínio sobre as
negociatas previamente realizadas.”
Na estrutura organizacional do grupo, o Procurador-Geral, portanto,
desempenha papel de grande destaque, acima de tudo, na própria
legalização dos procedimentos licitatórios fraudados, apondo suas digitais,
veladas por ilicitudes, em pareceres montados para o fim de assaltar os cofres
públicos municipais; agindo assim, contribui na coordenação direta junto aos
grupos econômicos envolvidos.
A atuação do Procurador-Geral do município está muito bem evidenciada, e
apenas a título de ilustração e confirmação do trabalho executado por esse
indivíduo na estrutura criminosa, reportamo-nos ao conteúdo do depoimento
prestado ao GETI e ao Delegado Álvaro Fajardo, por seu ex-funcionário e
então homem de sua extrema confiança, Ronaldo Nunes Souza (vide
Representação Final), bem como ao evento esportivo ocorrido em Presidente
Kennedy no dia 14/02/2012 (MOTOCROSS) conforme demonstram os índices
5446889, 5447031,5458361, 5458364, 5471605.
- OS SECRETÁRIOS DO MUNICÍPIO
“Os Secretários, estrutura criminosa, são os responsáveis por gerar as
demandas de interesse do grupo, dar causa aos processos
licitatórios. Aqui são gestados os desejos que irão se concretizar em
grandes contratos relativos à aquisição de bens, serviços e obras. A
participação deles ficará clara na descrição dos eventos criminosos
que se estenderão por todo o relatório, citemos aqueles que
definitivamente estão envolvidos:
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Geovana Quinta Costalonga – REGISTRE-SE DE IMEDIATO – não se
confunde com os demais secretários. Conhecida como a
supersecretária e como dito, ela é o contraponto de Constâncio.
Está em mesmo nível de mando e influência na organização
criminosa, sendo a responsável pela condução dos contratos que
envolvem as empresas locais. A descrição de suas funções aqui só
se mantém em razão de compor o secretariado, mas nem de longe
está em nível de igualdade de poder ou influência, ao contrário. Seu
apelido, “Abelha Rainha”, sintetiza esta afirmação. Geovana é a
Secretária que concentra mais poder em razão de ser titular das
Secretarias de Assistência Social, Educação e Habitação. Ambiciosa
ela ainda se articula para acumular a pasta da Saúde, se vale da
condição de sobrinha do Prefeito para fazer valer seus desejos e
está se preparando para substituir o tio e, assim, herdar seu espólio
político. Todas as contratações que envolvem a aquisição de bens e
serviços, com empresas locais e regionais, passam pelo crivo de
Geovana. Exemplos são os contratos da MATRIX, das empresas
ligadas aos irmãos GOMES, além de também interferir nos contratos
de seu interesse ainda que não ligados a sua pasta, caso dos
contratos da EXCELÊNCIA e da PULIZIE ITÁLIA.
Juliana Baiense Fontão da Cruz é Secretária de Administração,
Chefe de Gabinete do Prefeito e aliada de Geovana de todas as
horas. Juliana é nora do Presidente da Câmara, vereador Dorlei
Fontão, parceira cotidiana de Flávio Jordão em suas ações e esteio
do Prefeito na Administração. Todos os processos passam por suas
mãos, propiciando total conhecimento do que está acontecendo. É
responsável dentre outras coisas, pelo contrato da PULIZIE ITÁLIA,
absolutamente fraudado com seu conhecimento e participação.
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Flávio Jordão da Silva é Secretário de Transportes, mas atua em
diversos segmentos. Homem de confiança de Reginaldo Quinta,
partidário político e uma espécie de conselheiro, já que o Prefeito a
ele recorre para tratar de qualquer assunto que julgue importante,
indiferentemente da pasta que ocupa. Interferiu diretamente no
contrato da empresa GLOBO e PULIZIE ITÁLIA. A ele também é dada
a função de coordenar os shows e eventos da cidade e proteger o
Prefeito de qualquer ameaça. Flávio é par de Juliana e está sempre
a auxiliando em suas demandas. De mesma forma, atua na
blindagem do Prefeito em paralelo ao empresário Cláudio Ribeiro
Barros, dono da empresa MASTER PETRO e, de fato, da empresa
PULIZIE ITÁLIA.
Márcio Roberto Alves da Silva é Secretário de Meio Ambiente,
homem de personalidade fraca, mas de posição importantíssima
em uma cidade onde a questão ambiental é chamada de primeira
hora para as grandes contratações. Atua sob o controle absoluto de
Geovana, é responsável por dois contratos vultosos, o da EMEC e o
da EXCELÊNCIA, além de ter sido de mesma forma responsável pelo
contrato da METAVIX.
Alexandre Pinheiro Bastos é Secretário de Desenvolvimento e por ele
passam todos os grandes projetos e grandes obras. Braço direito de
Constâncio possui vinculação direta com o contrato da M2.”
Ainda fazendo parte da estrutura organizacional desse grupo, aparece a
Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal de Presidente
Kennedy. Sob a coordenação do pregoeiro Jovane Cabral da Costa, tem o
papel de dar aparente legalidade aos processos licitatórios realizados pelo
município. Vejamos o que restou apurado:
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“A Comissão Permanente de Licitação composta pelo Pregoeiro
Jovane Cabral da Costa e suas assistentes Charlene Carvalho
Sechin, Maria Andressa Fonseca da Silva e Silvia França de Almeida,
constituem o centro nervoso que viabiliza toda esta estrutura
criminal, pois pela comissão temos desde a confecção pré-
arranjada dos editais até a condução viciada das licitações com
toda sorte de empenho irregular para que vençam as empresas
previamente determinadas. A relação de Jovane com os
empresários beneficiados pelas fraudes é intensa, em especial com
os irmãos Ely e José Carlos Jordão Gomes. Para ilustrar, entre os dias
03/03/2012 a 29/03/2012, Jovane recebeu/efetuou 132 chamadas
para o telefone de Ely (2899922670) e outras 36 chamadas para o
celular de José Carlos.”
- OS PALARMENTARES MUNICIPAIS
“A Câmara de Vereadores é omissiva por comissão e, por conta
desta inércia, gera ambiência de absoluta tranquilidade por parte
do executivo para continuar com suas ações. Nenhum tipo de
questionamento é levantado, a ação fiscalizadora não se impõe,
pois toda a mesa diretora, composta pelo Presidente Dorlei Fontão
da Cruz, pelo Vice-Presidente Manoel José Abreu Alves (Brejeiro),
pelo Secretário Clarindo de Oliveira Fernandes. Somada à mesa
diretora temos a Presidente da Comissão de Justiça, Vera Lúcia de
Almeida Terra e o vereador Jacimar Marvila Batista, o Timar, que em
razão de benefícios eleitoreiros, no mínimo, comportam-se como
cúmplices do Prefeito, anulando, desta forma qualquer tipo de
reação por parte do Poder Legislativo local.”
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Decerto que somente foi possível executar as manobras ilícitas oriundas do
Poder Executivo local – com a liderança do Prefeito Reginaldo Quinta – a teor
do que restou apurado na Operação “Lee Oswald”, em virtude da
participação direta de alguns vereadores e a conivência de outros.
- A ESTRUTURA MILITAR À DISPOSIÇÃO DO GRUPO
“A Força Policial composta pelo Major PM Fabrício da Silva Martins,
pelo Sd. PM Cristiano e pelo Sd. PM Wallas Bueno da Silva é
fundamental neste contexto. Não só exacerbam e utilizam da
condição de policiais em prol da administração local, num excesso
claro das relações institucionais, como se prestam a utilizar da força
para constranger e intimidar aqueles que desagradam ou que
incomodam o bom andamento do arranjo criminoso. A conduta
destes profissionais é um problema em si, mas ainda mais grave por
se tratarem de homens armados e exercerem por derivação de
profissão um temor reverencial nas pessoas. Fabrício é chefe da
Guarda Municipal e a utiliza como uma pequena força de
segurança para o Prefeito. Cristiano e seu ajudante e foi quem
manejou uma arma na cabeça de uma testemunha de nossa
investigação. Walas é segurança do prefeito Reginaldo e, além de
sua função oficial age a mando do Pregoeiro Jovane e dos irmãos
Gomes de forma a intimidar e coagir possíveis participantes das
licitações em Presidente Kennedy, com intuito de dissuadi-los a não
participar dos certames.”
Sobre a atuação ignominiosa desses criminosos travestidos pela farda militar
destaca-se, em relevo, o episódio em que um colaborador da Polícia Federal
foi abordado pelo Sd. PM WALLAS BUENO DA SILVA, a mando do Pregoeiro
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Jovane Cabral, após deixar a sede da Prefeitura Municipal onde participara
do Pregão Presencial 07/2012.
Importante dizer também que a cúpula do executivo municipal, liderada pelo
prefeito, ora denunciado, orquestrou uma estrutura bem aparelhada para o
fim de dar cobertura às ilicitudes da organização. Para tanto, necessitava do
apoio incondicional da própria autoridade militar encarregada da proteção
à sociedade, encontrado escora na pessoa do Secretário Municipal de
Segurança Pública, Major PM FABRÍCIO DA SILVA MARTINS.
Estava, portanto, sob os auspícios do Major PM Fabrício Martins a
responsabilidade de afastar dos processos licitatórios fraudados, os eventuais
concorrentes que possivelmente quisessem questionar jurídica ou
administrativamente os editais. Como bem salientado pelo delegado Álvaro
Farjardo, ”a conduta destes profissionais é um problema em si, mas ainda mais
grave por se tratarem de homens armados e exercerem por derivação de
profissão um temor reverencial nas pessoas.”
- AS EMPRESAS COLABORADORAS DOS ESQUEMAS CRIMINOSOS
Para dar certo o arcabouço criminoso montado na Prefeitura de Presidente
Kennedy, havia a necessidade da participação direta de empresas a fim de
dar vasão, sobretudo, ao dinheiro arrecadado nas operações ilícitas. Para
tanto, o grupo contava com o apoio de empresas ligadas aos integrantes,
sobretudo: a METAVIX, a MATRIX, a EMEC, a M2, as ligadas aos Irmãos Gomes,
a Excelência, a Master Petro e a Pulizie Itália.
Fazendo parte desse rol de pessoas que integram essa organização criminosa,
está MIGUEL JORGE FREIRE NETO, pessoa que transita no meio empresarial
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agenciando negociatas para empresários, junto ao Poder Público. Dentre as
várias empresas ligadas a Miguel, podemos destacar as empresas do
SINDICOPES: Construtora União, Pelicano, Roma, PHD, Connect Construções e
Incorporações, além de outras que não estão ligadas a nenhum sindicato,
com é o caso da LL, SAMON, ATA ENGENHARIA, PELICANO, ALPES, ROMA, etc.
Miguel Freire é considerado o “organizador da fila” das grandes empreiteiras
responsáveis pela execução de obras da construção civil no Estado do Espírito
Santo. Portanto, estamos falando da pessoa que coordena os arranjos das
grandes licitações, atuando como “pacificador” dos empreiteiros.
Nesse ramo de atuação, Miguel Freire tem a “responsabilidade” de organizar
as fraudes envolvendo as grandes obras públicas de engenharia civil no
Estado do Espírito Santo, de forma a beneficiar todas as “empreiteiras” e,
assim, praticar altos preços nos contratos.
Evidentemente que não há como desassociar as ilicitudes advindas de
processos licitatórios, sem a presença marcante de uma estrutura econômica
empresarial disposta a associar-se às atividades criminosas, para o fim de se
beneficiar financeiramente do esquema.
Para bem delimitar a participação e/ou individualização dos membros do
grupo, a seguir, apresentaremos a participação de cada seguimento
empresarial, bem como a implicação dos seus sócios/colaboradores, com o
devido apoio, é claro, de servidores públicos.
Antes mesmo de adentrar na questão que se abordará nesse tópico, é
necessário fazer uma pequena digressão acerca da temática em tela, para o
fim apenas situacional. Para tanto, a fim de não ficar demasiadamente
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pesado e repetitivo, permita-nos transcrever o trecho do Relatório Incidental
apresentado pelo agente Rafeal Pacheco, no qual expôs:
“Assim, temos empresas que firmaram seus contratos de forma
direta com a organização. São os casos dos sócios e ex-sócios das
empresas METAVIX18, M2, EMEC e MATRIX.
E, em oposição, também há no polo privado desta relação, ao
menos quatro grupos, que em si mesmos, constituem grupos
criminosos autônomos.
É o caso de Robson Colombo, da empresa ROBSON RODEIOS,
quando associado às pessoas de Paulo Cesar Santana Andrade,
Patrícia Pereira Ornelas Andrade, Antônio Carlos Sena Filho (Badí) e
Adailton Pereira dos Santos (Dái), respectivamente, ligados à VIP
PRODUÇÔES, TOP SOM, TOP SERVIÇOS, ANTÔNIO CARLOS SENA
FILHO, STYLLU‟S e QUALITY.
Também é o caso das pessoas por trás da empresa EXCELÊNCIA
(José Roberto Monteiro Fraga, Rodrigo Zaché, Carlos Fernando
Zaché e novamente Paulo Cesar Santana Andrade).
De mesma forma, temos o caso das empresas controladas ou
capitaneadas pelos irmãos Ely Ângelo e José Carlos Jordão Gomes
(E.AJ. GOMES, J.C.J GOMES, PETROMAX, E.M. GOMES – ME, S DA
MORAES, CR BICALHO, PC PESSOA, DIOGO NICOLI, JA-GALITO).
Igualmente, temos a estrutura montada por Cláudio Ribeiro Barros
que, com a permissão e consciência de seus funcionários na
empresa MASTER PETRO, os aquadrilhou quando da criação da
PULIZIE ITÁLIA, bem como no funcionamento de ambas.”
1. A METAVIX
A METAVIX SERVIÇOS LTDA- ME, empresa que, inicialmente, concentrava sua
atuação no segmento de venda de carteiras escolares, conforme contrato
social, possui como sócios os já conhecidos Dennys Dazzi Gualandi e Paulo
César Santana de Oliveira, empresários conhecidos da Operação Moeda de
Troca, deflagrada no município de Santa Leopoldina.
18 A empresa METAVIX, de propriedade de Dennys Dazzi Gualandi, está ligada à empresa
IMPACTO. Esta, de propriedade de Aldo Martins Prudêncio.
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A fim de lograr êxito em Licitação para Coleta de Lixo, onde embolsaria algo
em torno de R$ 11.000.000,00 (onze milhões de reais), a METAVIX diversificou
sua área de atuação.
Em certame de “cartas marcadas”, a METAVIX firmou contrato de coleta de
resíduos sólidos domiciliares e comerciais, coleta, transporte e destinação de
resíduos sólidos oriundos dos serviços de saúde, varrição manual de vias e
logradouros públicos, serviço de transporte de lixo urbano, destinação final
dos resíduos sólidos em aterro sanitário, lavagem de ruas e logradouros
públicos e equipe de limpeza mecanizada, no município de Presidente
Kennedy.
Importante registrar que a vitória da METAVIX no referido certame teve a
ajuda apadrinhada, do Prefeito Reginaldo Quinta, do Procurador-Geral,
Constâncio Brandão e, à época, a parlamentar estatual Aparecida
Denadai.19
Muito embora no início da Operação “Lee Oswald” verificar-se que o
contrato da METAVIX havia sido encerrado, os fatos e a documentação
juntada se tornaram de grande relevo à investigação, razão pela foi
requerido o afastamento de sigilo bancário dos responsáveis/sócios pela
empresa, a fim de observar movimentações financeiras suspeitas ou
incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação
19 Segundo o ilustre Delegado Álvaro Fajardo, é importante registrar “que na vigência do
contrato em tela foi desencadeada a Operação Moeda de Troca no município de Santa
Leopoldina em que os nacionais Aldo Martins Prudêncio e Dennys Dazzi Gualandi, foram
presos e responsabilizados criminalmente pela prática de crimes contra a administração
pública relacionados à fraudes em processos licitatórios. Além disso, a referida investigação
também imputou responsabilidade criminal à Rodrigo Zaché e Paulo César Santana de
Oliveira, vulgo PAULO 10, pela prática dos mesmos crimes. Por fim, salienta que Rodrigo Zaché
e Paulo César, integram ativamente o grupo econômico que herdou o contrato de coleta de
lixo da METAVIX, embora de forma dissimulada.”
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profissional e a capacidade financeira presumida dos alvos, além de detectar
atuação de forma contumaz, em nome de terceiros ou sem a revelação da
verdadeira identidade do beneficiário (Banco Central do Brasil - Carta-
Circular nº 2826).20
É importante ressaltar que a documentação acostada aponta
movimentação financeira na ordem de R$ 7.329.745,00 (sete milhões trezentos
e vinte e nove mil, setecentos e quarenta e cinco reais), na conta do
empresário Aldo Martins Prudêncio, ligado ao grupo, entre 01/08/2009 e
12/01/2010 (período em que a METAVIX operava em Presidente Kennedy).
Além da extraordinária quantia movimentada, há, ainda, indícios claros de
corrupção envolvendo Aldo Martins Prudêncio e o Procurador-Geral do
Município de Presidente Kennedy, Constâncio Brandão21 e irregularidades na
contratação da empresa METAVIX.
Ronaldo Nunes, ex-funcionário de Constâncio Brandão, declara ao delegado
Álvaro Fajardo, que teria presenciado o empresário Aldo Martins Prudêncio
entregar ao Procurador-Geral a quantia de R$ 100.000,00, em razão da
articulação criminosa envolvendo o contrato de lixo; além disso, há prova
documental informando a compra de um veículo COROLLA FLEX SE-G 1.8,
Placa MSX 4254, no valor de R$ 78.000,00, pagos através de depósito no valor
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e financiamento do restante, feito em nome de
Aldo Martins Prudêncio e sua empresa IMPACTO, junto ao BANCO TOYOTA DO
BRASIL, transação registrada no dia 18/092009.
20 A documentação apresentada apontava movimentação financeira atípica em nome do
sócio da METAVIX, Dennys Dazzi Gualandi, no período em que sua empresa operava em
Presidente Kennedy. Entre a conta da METAVIX e do Sócio Dennys Gualandi, houve
movimentação atípica de mais de R$ 500.000,00.
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Quanto às irregularidades na contratação da empresa METAVIX, o Relatório
da Controladoria Geral da União – CGU, aponta graves irregularidades desde
a confecção do certame, passando pela capacidade técnica da empresa
vencedora e desaguando na subcontratação da empresa CTRVV – Central
de Tratamento de Resíduos Vila Velha Ltda, quando, na verdade, os Editais de
Concorrência nº 04/2009 e nº 175/2009, não previam tal possibilidade.
2. A EMPRESA MATRIX
A MATRIX Sistemas e Tecnologia Ltda-ME, foi constituída em 22 de julho de
1998 por ELZA BUNK RIBEIRO e ARACI LÚCIA DA SILVA, cuja atividade
econômica inicial seria voltada para o comércio varejista de calçados e
vestuário a empresa.
Em 28 de janeiro de 2009 a sociedade comercial é encerrada e a empresa
transferida para JURANDY NOGUEIRA JUNIOR e seu filho RÔMULO PEGORETTI
NOGUEIRA, quando, então, houve a alteração do objeto, razão social e do
seu endereço comercial, passando a denominar-se MATRIX Sistemas e
Tecnologia Ltda ME e com sede declarada à Av. João Pereira dos Santos
Filho, nº 19, Bairro Amarelo, Cachoeiro de Itapemirim/ES.
Sua nova atividade econômica se voltaria para o desenvolvimento de
programas de computador, sob encomenda, além de reprodução de
software em qualquer suporte, edição de estatísticas de outras informações
para divulgação via internet e tratamento de dados, provedores de serviços
de aplicação e serviços de hospedagem na internet.
Conforme identificou o setor de inteligência da Polícia Federal, a empresa
MATRIX foi montada de forma fraudulenta. Primeiramente há constatação de
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que sua instalação e funcionamento não estavam no endereço indicado no
contrato social. Em diligência no endereço aposto no termo de constituição
da sociedade e indicado no contrato firmado com a Prefeitura de Presidente
Kennedy, foi constatado pela equipe de policiais que no local indicado havia
penas um terreno baldio, onde supostamente seria a sede da empresa.
Conforme exposto pelo Delegado Álvaro Fajardo:
“Neste sentido as informações fornecidas pela Receita Federal do
Brasil22 reforçam a tese de que a empresa MATRIX Sistemas e
Tecnologia Ltda-ME fora constituída com o propósito se integrar ao
esquema montado por REGINALDO DOS SANTOS QUINTA para
desviar recursos públicos do município de Presidente Kennedy.
Constituída formalmente em nome de JURANDY NOGUEIRA JÚNIOR
em 28 de janeiro de 2009, a empresa permaneceu inativa até
março de 2010 quando firmou contrato com o referido município
para prestação de serviço especializado de capacitação de
servidores da rede municipal de ensino e locação de
equipamentos no valor de R$ 1.168.307,40 (um milhão, cento e
sessenta e oito mil, trezentos e sete reais e quarenta centavos).”
Além da falsidade ideológica na montagem da empresa, há outro dado
importante que envolve a contratação da empresa MATRIX: a ausência de
capacidade técnica para execução dos serviços contratados pela prefeitura
de Presidente Kennedy.
Isso porque o atestado de capacidade técnica23, fornecido pela empresa
FIGUEIRA & RIBEIRO SERVIÇOS, nome fantasia SKILL BLOCKS – TECNOLOGIA
EDUCACIONAL, com sede no município de Niterói/RJ e apresentado pela
MATRIX em dois contratos firmados com a Prefeitura de Presidente Kennedy, é
falso, conforme apurado pela equipe de investigação da Polícia Federal.
22 Sigilo fiscal afastado por decisão da lavra do Exmo. Des. Pedro Valls Feu Rosa. 23 O atestado de capacidade técnica foi firmado pelo sócio de direito: Fernando Ramos
Passoni.
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A investigação foi ainda mais além. Restou configurada a ligação entre o
sócio oculto da SKILL BLOCKS – Tecnologia Educacional, empresa que
forneceu o certificado de capacitação técnica, e o próprio sócio da MATRIX,
ambos na pessoa de JURANDY NOGUEIRA JUNIOR.
Interceptações telefônicas e de e-mails autorizadas judicialmente (vide índice
5296380), confirmaram essa assertiva, oportunidade em que atesta que
Fernando Ramos Passoni é, na verdade, parceiro comercial de Jurandy
Nogueira Junior, com atuação direta em todos os negócios da empresa
relacionados aos projetos das lousas digitais, conforme reiteradamente
destacado nos Relatórios Policiais 02, 03, 04 e 05 encaminhados ao Juízo pelo
ilustre delegado que preside o Inquérito Policial Federal nº 502/2011.
Além do município de Presidente Kennedy, a MATRIX mantém negócios
escusos (ramificações), através do mesmo modus operandi, junto a vários
outros executivos municipais, dentro e fora do Estado do Espírito Santo24
(Estado de Goiás25). Importante destacar que com o município de Anchieta a
MATRIX firmou contrato nos mesmos moldes do celebrado com o de
Presidente Kennedy.
A investigação revelou que seu sócio, Jurandy Nogueira Junior, movimentou
um grandioso esquema para que a MATRIX saísse vencedora do contrato nº
24 Jurandy Nogueira Junior, conforme apresentado pelo Delegado Álvaro Fajardo, “manteve
contato com autoridades de diversos municípios capixabas, dentre os quais destacamos
Marataizes, Guarapari e Vitória, além de Anchieta onde firmou contrato nos mesmos moldes
do celebrado com o município de Presidente Kennedy.” 25 Em Goiás, Jurandi Nogueira Junior usa do mesmo modus operandi. Com o apoio de seu
filho, Thiago Pegoretti Nogueira (que mantém relacionamento amoroso com LARISSA, filha do
Vice-Prefeito Minaçu/GO, SIVALDO PEREIRA NUNES, que por sua vez o apresenta ao Deputado
Estadual MIZAEL OLIVEIRA), usa de seus mecanismos para introduzir a MATRIX nos municípios
goianos – O apoio político, vide índices 5328508, 5281028, 5281892, 5281959, 5281988, 5283165,
5283620, 5384043 – Ajustes prévios, vide índices 5325549, 5410631 – Tráfico de Influência, vide
índices 5372361, 5384805 - Ajuda de Delúbio Soares, vide índices 5392678, 5405288, 5406312.
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141/2011, firmado com o município de Anchieta/ES. O referido contrato tinha
como objeto a prestação de serviço de software educativo e lousa digital.
Valor do contrato: R$ 1.260.000,00 (um milhão, duzentos e sessenta mil reais).
O esquema montado demonstra ajuste fraudulento entre agentes públicos e
o empresário Jurandy Nogueira Junior. A documentação acostada é
bastante esclarecedora ao revelar: 1º) direcionamento de licitações de
cotação em favor de SKILL BLOCKS – TECNOLOGIA EDUCACIONAL26; 2º) após
ter participado do processo de composição de preços é exatamente a
empresa SKILL BLOCKS – TECNOLOGIA EDUCACIONAL que oferta o Atestado
de Capacidade Técnica à MATRIX Sistemas e Tecnologia LTDA-ME, sem,
contudo, ter despertado qualquer suspeita de conluio entre elas perante a
Comissão de Licitação.
Além disso, como a licitação estava direcionada, sabendo que venceria o
certame, Jurandy, antecipadamente, deu início ao processo de importação
dos equipamentos, ou seja, antes mesmo da abertura do Pregão Eletrônico.
Ocorre que a MATRIX, empresa de Jurandy, sequer tinha lastro financeiro para
efetivar a operação comercial. E para a execução antecipada do seu
propósito Jurandy usa/beneficia-se de todos os mecanismos de que dispunha,
principalmente o tráfico de influência, conforme restou configurado no
diálogo mantido no dia 27/12/2011 com o servidor identificado por
Claudinei27, que informa a Jurandy que não será possível a implantação do
contrato antes de março (vide índices 5275582, 5296310, 5296380).
26 Conforme revelado anteriormente essa empresa é administrada por Fernando Ramos
Passoni. 27 Claudinei é o principal interlocutor de Jurandy junto à Secretária de Educação de
Anchieta, Paula Louzada Martins.
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3. A EMPRESA EMEC
A EMEC OBRAS E SERVIÇOS LTDA é empresa do ramo da construção civil. Tem
como gerente Fábio Saadi Junger, pessoa responsável pelas tratativas com o
poder público.
A EMEC participou de certame para implantação e reparos de engenharia
civil e paisagística de praças, parques e jardins, de forma contínua em todo o
município de Presidente Kennedy. Sagrando-se vencedora em Pregão
Presencial, foi contemplada com o contrato de nº 039/2010, publicado no
DIOE em 23/04/2010, no valor de R$ 4.590.598,96 (quatro milhões, quinhentos e
noventa mil, quinhentos e noventa e oito reais e noventa e seis centavos).
No dia 20/04/2011, foi publicado no DIOES o aditivo 001 no valor de R$
4.590.598,96 (quatro milhões, quinhentos e noventa mil, quinhentos e noventa
e oito reais e noventa e seis centavos). Quase dois meses depois (dia
21/06/2011), o Executivo de Presidente Kennedy faz publicar novo aditivo
relacionado ao contrato nº 039/10, porém, para o fim de acrescer ao termo
contratual, o valor de R$ 265.795,68 (duzentos e sessenta e cinco, setecentos e
noventa e cinco reais e sessenta e oito centavos). Observa-se, com isso, que a
EMEC recebe por mês, nada mais, nada menos do que a cifra aproximada de
R$ 383.000,00 (trezentos e oitenta e três mil reais).
Os atos ilícitos que serão apresentados na sequência começaram a ser
apurados pela inteligência da Polícia Federal nas imediações da própria sede
da empresa. Lá o agentes federais puderam constatar, a partir de entrevistas
com funcionários contratados pela EMEC, que o emprego é agenciado pelo
Prefeito de Presidente Kennedy, Reginaldo Quinta. Isso, portanto, é a forma de
interferência que a administração pública local faz na iniciativa privada.
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Além disso, o ordenador de despesas daquela municipalidade também influi
nos direcionamentos das empresas. Tal como faz com a MATRIX, a
interlocução com EMEC se dá somente a partir do comando do prefeito
Reginaldo Quinta. Isso fica bem claro a partir do diálogo ocorrido no dia
05/01/2012, às 08hrs31min, quando a vereadora Vera Lucia de Almeida Terra
liga para o Prefeito para dizer EMEC lhe chamou para conversar. A vereadora
indaga ao Prefeito se deveria ir e obtém como resposta contundente “que
não, que ninguém irá lá.” (índice 5308035).
(Transcrição)
REGINALDO: Fala VERINHA...
VERA: EU FUI CHAMADA PARA IR LÁ NA EMEC, VOCÊ ACHA QUE
EU DEVO IR OU NÃO?
REGINALDO: NÃO!
VERA: Então ta bom!
REGINALDO: NINGUEM VAI ...
VERA: NÃO ... EU TO TE FALANDO QUE ME CHAMARAM ... VOCÊ
ESTÁ ENTENDENDO ...
REGINALDO:NÃO, NÃO ... NINGUÉM VAI ...
VERA:AÍ EU FALEI ASSIM ... NÃO EU VOU CONVERSAR COM O MEU
PREFEIRO PRIMEIRO ... PORQUE HOJE LÁ O NEGÓCIO É A
CHAMADA DE QUEM .... NÉ VERDADE?
REGINALDO: ..... ininteligível.
VERA: Não, não então ta bom .... eu to dizendo porque ....
ininteligível....me tomar na cara... né que é desfeita....então eu
to te avisando que eu não vou né?
REGINALDO: Não ... não ..
Aí está, portanto, um exemplo claro de que nada ocorre sem que haja
conhecimento e permissão do Chefe do Executivo de Presidente Kennedy,
Reginaldo Quinta. Observe bem que a Vereadora, chamada a comparecer à
EMEC, tem sua ação negada de forma veemente pelo Prefeito. O diálogo
demonstra, também, o vínculo entre o poder público e o privado. Percebe-se
claramente que a vereadora VERA, serve não apenas para manter a base de
apoio ao Prefeito junto a Câmara Municipal local; sua relação com o
ordenador de despesas local vai muito mais além das questões políticas.
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Outro exemplo que demonstra a ingerência do poder público no privado está
no diálogo do dia 25/01/12, às 17hrs57min, mantido entre a Secretária
Municipal Juliana Fontão e sua mãe, que vale a pena conferir a degravação:
MÃE: Você vem aqui hoje?
JULIANA: Não, pois estou na prefeitura ainda.
MÃE: Eu posso mandar a chave do carro da EMEC pela JAQUELINE
JULIANA: Pode. Se ela estiver vindo, pode mandar. Não tem
problema nenhum.
MÃE: Vou pedir para entregar a Márcio ou Flor. Flor mora perto da
casa dela (JAQUELINE).
JULIANA: Não. Pode mandar para mim.
MÃE: Então é para te entregar?
JULIANA: Sim. Eu mando para lá.
MÃE: Então vou mandar pela JAQUELINE. Se você viesse aqui, eu
ia te pedir para levar.
JULIANA: Não, eu não vou não.
MÃE: Então mando pela Jaqueline e ela te entrega aí.
JULIANA: Está ótimo (índice 5379245).
Fábio Junger, gerente da EMEC, é pessoa de grande trânsito entre o Prefeito,
o Procurador-Geral do município, entre determinados servidores municipais e,
como visto, entre Vereadores locais. Da mesma forma que tem passe livre nas
Secretarias do Município de Presidente Kennedy, recebe, corriqueiramente
em sua empresa, servidores daquela municipalidade. Com isso, todos se
empenham na força tarefa de perpetuar a contratação da empresa EMEC.
Os diálogos a seguir transcritos, dão mostras dessa prática rotineira:
Diálogo ocorrido no dia 17/02/2012 entre FÁBIO JUNGER e
FERNANDO (seu contador) sobre questões relacionadas ao
Condomínio MAR AZUL e no meio da conversa passam a falar
sobre a renovação do contrato com o Município de Presidente
Kennedy e a montagem do processo em nome da Secretaria de
Meio Ambiente. (índice 5474783)
(Transcrição)
FERNANDO: Gostaria de perguntar uma coisa. A planilha que eles
estão fazendo em Presidente Kennedy, você sabe que teve um
reajuste de 5,79%?
FÁBIO: Sim.
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FERNANDO: Isso foi sobre o valor do contrato passado. Na sua
visão, o contrato novo prorrogado.....
FÁBIO: EU QUERIA EQUILIBRAR O CONTRATO E APLICAR ESSE
REAJUSTE DE 5,79% EM CIMA DO PROJETO REEQUILIBRADO. Então
tem uma diferença que tem que me pagar em cima do reajuste
também.
FERNANDO: Era isso que eu queria saber. ENTÃO ERAM OS MESMOS
265 E ENXERTAR NO VALOR, depois reajustei e apliquei o 5,79%. Isso
aqui está quase terminado. AGORA, ALÉM DA MONTAGEM DA
PLANILHA, NÓS VAMOS FAZER O PROCESSO PARA PRESIDENTE
KENNEDY?
FÁBIO: Não. Nós vamos fazer um processo com o resumo,
mostrando qual a diferença que eles me devem, QUAL O VALOR
QUE TEM QUE FICAR O CONTRATO, PARA DEPOIS DISSO TUDO,
PODER SAIR NO ADITIVO TUDO JUNTO.
FERNANDO: Então nós vamos pedir repactuação disso tudo, aí?
FÁBIO: É isso aí.
FERNANDO: Então beleza.
FÁBIO: Eu não vou pedir repactuação, por que é o mesmo
processo que já tinha lá, que a PROCURADORIA AUTORIZOU.
FERNANDO: Eu não li o final não. Então está autorizado a gente .....?
FÁBIO: NÃO. ESTÁ AUTORIZADO PARA A SECRETARIA DE MEIO
AMBIENTE ...que o reequilíbrio é condizente para eles fazerem a
planilha para poder chegar no valor. COMO ELES (Prefeitura de
Kennedy) NÃO SABEM FAZER LÁ, ESTOU FAZENDO PARA ELES AQUI.
FERNANDO: Entendi. Então não vou fazer nenhum processo
pedindo a segunda repactuação?
FÁBIO: Não.
FERNANDO: ENTÃO VOU FAZER UM PROCESSO COMO SE A
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE ESTIVESSE FAZENDO? É COM SE ELES
TIVESSEM FEITO?
FÁBIO: É, EXATAMENTE.
FERNANDO: Beleza.
No dia 24/02/2012, MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, Secretário
Municipal do Meio Ambiente, liga para o empresário FÁBIO
JUNGER e marcam encontro no fim de semana para tratar de
assunto relacionado à renovação do contrato. (índice 5495764)
(Transcrição)
MARCIO: Você está na empresa?
FÁBIO: Estou embarcando para o Rio de Janeiro.
MARCIO: Estava pensando em passar lá para conversar com você
e FRANCISCO para falar sobre o negócio da renovação.
FÁBIO: Poxa cara, não dá não. Mas volto hoje do Rio
MARCIO: Você volta em horário comercial?
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FÁBIO: Não. só chego a noite.
MARCIO: E domingo? No domingo estou sempre de bobeira.
FÁBIO: Podemos conversar no domingo.
MARCIO: Vamos marcar no domingo, AÍ A GENTE SE ORGANIZA E
CONVERSA ... EU, VOCÊ E SEU PAI ...
FÁBIO: A hora que você puder, pode me dá uma ligadinha.
MARCIO: Eu queria dá entrada nisso logo, mas não adianta fazer o
pedido, por que a gente vai ter que antes fazer algumas mexidas,
colocar o segurança do trabalho, e aqueles negócios.
FÁBIO: Tranqüilo.
MARCIO: Então a gente tenta se encontrar no domingo ou segunda
pela manhã, para que possa dá entrada na segunda a tarde.
FÁBIO: Olha só. TIÃO ficou de ver...... Você não vai embora hoje
não, não é?
MARCIO: Não, porque estive ontem com ele (TIÃO). Falei que
estava a disposição dele, que se precisasse era só ligar.
FABIO: Beleza.
MARCIO: Vou dá uma ligada para ver se ele (TIÃO) está
precisando de alguma coisa.
FABIO: Então está bom. Obrigado MARCIO
MARCIO: Estou à disposição.
No dia 27/02 MÁRCIO marca reunião com FÁBIO, na própria EMEC,
às 09 horas do dia seguinte. (índice 5510718). Ao final da reunião o
Secretário do Meio Ambiente liga para o Procurador-Geral para
tratar da questão da renovação do contrato. (índice 5518557)
(Transcrição)
CONSTÂNCIO: Oi MÁRCIO, estou aqui na prefeitura.
MARCIO: E amanhã, o senhor vai está aí?
CONSTÂNCIO: Não. Amanhã estou em Vitória.
MARCIO: Então vou aí procurar o senhor.
CONSTÂNCIO: Você vem hoje?
MARCIO: Eu vim hoje para ver a renovação do contrato, mas não
sei se chego a tempo de ver o senhor aí.
CONSTÂNCIO: Eu vou ficar até de tarde.
MARCIO: É sobre a prorrogação do contrato das áreas verde.
Preciso do senhor para me ajudar a agilizar.
CONSTÂNCIO: Perfeito.
MARCIO: Não tem problema não. Qualquer coisa, procuro o
senhor amanhã.
CONSTÂNCIO: Está bom.
No dia 29/02 FÁBIO liga e marca reunião com Procurador-Geral do
Município CONSTÂNCIO BORGES. (índice 5524126)
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(Transcrição)
FABIO: Podemos marcar para amanhã pela manhã para falar
sobre um processo nosso de renovação?
CONSTÂNCIO: Sim.
FABIO: Que horas?
CONSTÂNCIO: Eu acordo muito cedo, qualquer hora esta bom.
FABIO: Marcamos 8 horas.
CONSTÂNCIO: Pode ser.
FABIO: Combinado.
No dia 01/03/2012, FÁBIO conversa com MÁRCIO diz que esteve
com CONSTÂNCIO e que ele está aguardando MÁRCIO pegar o
processo. O Secretário diz que irá correr atrás. (índice 5529148)
Transcrição:
FABIO: Estive com DR CONSTÂNCIO, E ELE SÓ ESTÁ TE ESPERANDO
PARA PODER PEGAR O PROCESSO.
MARCIO: Então ta bom. Vou adiantar meu lado para poder passar
ai, depois do almoço.
FABIO: Outra coisa, aquele documento que pedi para passar aqui
para pegar para mim, ........ o ZÉ levou.
MARCIO: Então ta bom.
FABIO: Veja esse negócio para mim (pegar processo), pois estou
viajando hoje a noite. E eu precisava está tranqüilo sabendo que
este negócio vai rodar.
MARCIO: Te dou um ok depois que passar ai no jurídico.
FABIO: Vê esse e o reequilíbrio.
MARCIO: Estou passando agora na prefeitura. Te dou um sinal
depois.
FABIO: Tranqüilo.
No mesmo dia CONSTÂNCIO trata com KAREM (funcionária da
Procuradoria Municipal) sobre o parecer de renovação da EMEC.
KAREM diz que JOSÉ AUGUSTO (funcionário da Prefeitura) acha que
teria sido ELISA (Procuradora) a parecerista, porém não achou
nada no processo. CONSTÂNCIO diz que está com o Diário Oficial
de 21/06/2011 e fala do aditivo nº 02 do contrato 039/10, referente
ao pregão 019/2010. KAREM fala sobre o projeto que está indo
para a Câmara que trata sobre cargos efetivos e
reenquadramento das carreiras com reposição salarial
envolvendo a Procuradora ELISA e o funcionário JOSÉ AUGUSTO.
CONSTÂNCIO volta ao assunto e pede a KAREM que dê uma
olhada no parecer da EMEC e que o pessoal da EMEC levou o
processo para ele, porém depende do parecer dado. (índice
5529321)
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Ainda no dia 1º de março, KAREM avisa a CONSTÂNCIO que o
parecer foi dado pelo Procurador DEVEIDE. (índice 5529743)
(Transcrição)
KAREN: DR CONSTÂNCIO está?
SECRETÁRIA: Está. Você achou alguma coisa daquela empresa
EMEC?
KAREN: Mais ou menos, porque?
SECRETÁRIA: Por que eu também estou procurando.
KAREN: Não foi ele que deu o parecer. Parece que foi DR DEVEITE.
SECRETÁRIA: Você tem o número do processo?
KAREN: 3144 de 2011
SECRETÁRIA: Eu achava que era de 2009.
KAREN: Todos processos da EMEC que achei era de 2009, mas esse
aqui que eles falaram era 2011.
SECRETÁRIA: Eu também achei um de 2009, por isso estava
procurando de 2009. Espera aí que vou passar para CONSTÂNCIO.
....................................
KAREN: Pelo que consta quem deu o parecer foi DR DEVEITE, por
que não tenho nada no meu caderno e ..............
CONSTÂNCIO: Não se preocupa. Já sabendo que tudo que tem
AUGUSTO metido no meio dá problema,.......... para eles terem feito
isso até sem........., sem parecer não custa nada.
KAREN: Só que pelas datas, no dia 15, no caderno de VAL, deu
saída para o gabinete. Só que ela não arquiva parecer dele (DR
DEVEITE).
CONSTÂNCIO: MAS JÁ ESTOU FAZENDO AQUI. JÁ ESTOU NA METADE
DO PARECER. DAQUI A POUQUINHO VOU PASSAR POR E-MAIL PARA
VOCE. AÍ VOCÊ COLOCA O PAPEL TIMBRADO, IMPIRME E NA
SEGUNDA-FEIRA EU ASSINO.
KAREN: Está certo. Inclusive no dia 30 de março esse processo
3144/2001 foi para o contrato.
CONSTÂNCIO: O aditamento dele está aqui. Por isso estou fazendo.
Prorrogou num prazo de 12 meses. Quem deu o parecer............., e
que não se sabe, né?
KAREN: Mas ele passou na procuradoria de DR DEVEITE. Pelo menos
a gente não sabe se passou é foi negativo, né?
CONSTÂNCIO: É.
KAREN: A gente não sabe porque não tem o processo.
CONSTÂNCIO: Vou pedir para você antes de imprimir, conferir os
números de contrato, de pregão e de aditivo, porque está, tudo
misturado. Estou tendo um trabalho danado.
KAREN: Eu deixo aqui comigo, né?
CONSTÂNCIO: Não. Pode entregar para JULIANA.
KAREN: Então voltaria para o gabinete?
CONSTÂNCIO: Sim. E o MÁRCIO ficô de passar aqui para pegar o
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processo.
KAREN: Está bom.
CONSTÂNCIO: Você deixa pronto e avisa a ele (MARCIO) que já
está aí, prontinho. Eles deixaram para última hora. É 29/02 e o
prazo é amanhã.
KAREN: Está bom
CONSTÂNCIO: Já estou terminando.
KAREN: Valeu.
Mais tarde CONSTÂNCIO liga novamente para KAREM e diz que já
enviou o parecer. Pede que entregue a BRUNO e informa que o
processo será levado por MÁRCIO para Presidente
Kennedy.(índice 5529909)
Em seguida CONSTÂNCIO diz a MÁRCIO que já encaminhou o
parecer. (índice 5530093)
(Transcrição)
CONSTÂNCIO: Já encaminhei o parecer para KAREN, mas o
processo está aqui.
MARCIO: Estou com JÚLIO fechando licenciamento. acho que
meio dia consigo sair daqui.
CONSTÂNCIO: O IMPORTANTE É QUE ESSE NEGÓCIO TEM QUE SER
FEITO HOJE, PORQUE O PRAZO É ATÉ AMANHÃ.
MARCIO: Eu sei. Vou aí hoje pegar, se o senhor não estiver pego
com LENA (secretária do escritório).
CONSTÂNCIO: O parecer já está prontinho com a KAREN.
Encaminhei para ela colocar no papel timbrado.
MARCIO: O escritório fica aberto até as 5, né?
CONSTÂNCIO: Fica.
MARCIO: Vou passar antes deste horário.
CONSTÂNCIO: Está bom então.
MARCIO: Eu passo na KAREN antes de viajar.
CONSTÂNCIO: Está bom.
Como antes exposto, os processos são sempre direcionados/viciados para
que empresas ligadas ao grupo criminoso possam ganhar licitações. Com a
EMEC não podia ser diferente. Os diálogos abaixo transcritos é a sequência
dos diálogos acima, e dão mostras de como são montados os processos bem
como as justificativas em nome das Secretarias. Note que os interlocutores
estão adequando valores para que a planilha fique com o valor de R$
5.000.000,00 (cinco milhões de reais):
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No dia 29/02/2012, FÁBIO conversa com FERNANDO sobre a
planilha (índice 5523836)
(Transcrição)
FERNANDO: Você já chegou aí?
FÁBIO: Já.
FERNANDO: Abriu aí para ver? (provavelmente a caixa de e-mail)
FÁBIO: Não. Você mandou para mim?
FERNANDO: Mandei a composição para você.
FÁBIO: Vou dá uma olhada agora.
FERNANDO: De todo jeito, nessa composição, ele esta com as
colunas ocultas. Se você abrir as colunas, as medições já estão
lançadas até a .......
FÁBIO: Você está falando o que? E edital dos contratos?
FERNANDO: É, mas ao mesmo tempo que é salvo em contrato, é
aquela composição que dá aquele resumo que gera aquela
composição que nós falamos ontem.
FÁBIO: Então beleza.
FERNANDO: Depois você ver aí.
Em seguida FÁBIO conversa com FRANCIS (seu irmão) sobre a
composição dos preços dentro da planilha. (índice 5524172)
(Transcrição)
FABIO: Você está em Presidente Kennedy? Ou você vai a
Campos?
FRANCIS: Estou querendo, mas vai depender do que vai desenrolar
hoje aqui.
FABIO: Eu pedir para você dá uma resposta naquele ofício lá, mas
você deu uma olhada nas considerações que MÁRCIO colocou?
FRANCIS: Coloquei, mas não tem mas jeito. Eu já entrei. Agora é
fazer para dar certo. Não tem mais o que fazer. Não posso mais
desistir.
FABIO: Mas nós temos como argumentar com ele.... mudança de
prazo......?
FRANCIS: Temos sim.
FABIO: E aquele ofício. Você quer que eu responda como?
FRANCIS: Passando aí: CONFORME SOLICITADO ATRAVÉS DE OFÍCIO
NÚMERO TAL SEGUE A PLANILHA COM REDUÇÃO DE BDI DE 20%.
FABIO: Aí e só mandar a planilha com redução de 20%
FRANCIS: Então está bom.
FABIO: Eu marquei com Dr. CONSTÂNCIO amanhã no escritório
dele para conversar do negócio da renovação contrato daqui. Aí,
aquele ofício que nós fizemos, leva lá para casa, pois vou chegar
a noite.
FRANCIS: Levo sim.
FABIO: Não esqueci não.
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No mesmo dia FÁBIO volta a tratar do assunto da planilha com
FERNANDO e falam sobre os valores dos reajustes dos contratos
gerados pelo reequilíbrio econômico-financeiro do contrato com
Presidente Kennedy, num total de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões).
(índice 5525143)
(Transcrição)
FERNANDO: A gente vai comparar as medições faturadas com as
medições que estão lançadas. Inclusive neste arquivo aí já estão
lançadas. É até a décima segunda?
FABIO: É até janeiro. Até a vigésima segunda. Não abrir ainda não.
O valor total deu 5.054 e alguma coisa?
FERNANDO: O que é isso?
FABIO: O valor total do contrato atual.
FERNANDO: Tudo dá 9 milhões .....
FABIO: A é, por que retira 4.590....
FERNANDO: Então vou somar 4590 + 103 + 265.
FABIO: Soma + 94
FERNANDO: Não, 94 é do período passado.
FABIO: Sim, mas o reajuste foi do ano passado, mas vai sair este
ano.
FERNANDO: Tudo bem, então entraria como aditivo do contrato do
ano. OK, se colocar ele vai para cinco milhões, cinqüenta e quatro
mil, duzentos e oitenta e sete reais. É isso?
FABIO: Sim.
FERNANDO: Veja bem, nós temos as medições faturadas até a
décima......vigésima primeira. Mas acontece que se eu fizer as
diferenças de medições, nós poderíamos cobrar só até a décima
segunda, porque da décima terceira em diante, quando você
pediu o reequilíbrio, a gente pede junto.
FABIO: Não entendi.
FERNANDO: Pois é. Até abril de 2011 foi reajustado pelo dissídio de
2010.
FABIO: Foi reequilibrado.
FERNANDO: Mas daí para frente......
FABIO: Eu não vou pedir outro reequilíbrio não. Vou deixar o
contrato renovar, para depois pedir o reajuste financeiro do
contrato, e coloco tudo junto. É mais fácil de entender.
FERNANDO: Então posso fazer as medições dentro das datas
normais?
FABIO: Sim.
FERNANDO: Valeu.
Entretanto, a movimentação entre os integrantes da organização criminosa
em exame não para por aí. A Operação “Lee Oswald” constatou que são
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muito comuns encontros secretos entre os principais integrantes do grupo
para o fim de negociatas e recebimento de propina. Foi o que ocorreu no dia
26/01/2012 quando a equipe de vigilância da Polícia Federal acompanhou
encontro secreto entre o Procurador-Geral, Constâncio Brandão e o gerente
da EMEC, Fábio Saad, ocorrido no Bairro Mata da Praia, no entorno da Praça
Antônio Jacob Saad, por volta das 11h20m.28
Paralelo às investigações desenvolvidas pela equipe da Polícia Federal, sob a
presidência do Delegado Álvaro Fajardo, trabalhava a Controladoria Geral
da União – CGU, auxiliando a equipe de campo na análise de procedimentos
licitatórios e contratos, objetos de investigação do Departamento de Polícia
Federal no Estado do Espírito Santo – Inquérito Policial nº 502/2011 - SR/DPF/ES.
Foi o que ocorreu também com o contrato que a EMEC firmou com a
Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy. A partir da documentação
enviada, a CGU pode constatar, de plano:
i) uso indevido de índices econômicos. “A taxa de 36% de BDI, expressa
na proposta de preços da licitante vencedora (fls. 106 a 135), incidiu
indiscriminadamente tanto sobre itens que correspondem apenas ao
fornecimento de materiais, quanto sobre os itens de serviço”;
ii) sobrepreço de 26% do valor do contratado, superfaturando o contrato
em, aproximadamente, R$ 670.029,05;
iii) pagamentos indevidos, gerando antieconomicidade contratual. Ficou
“patente que as medições e pagamentos são feitos de modo a
alcançar o valor total do contrato, o que é corroborado pela
transcrição de índice 5526072, de 29/02/2012”;
28 Para maiores detalhes acerca do evento, vide item 6.4.2.4 da Representação
Final promovida pelo Delegado Álvaro Fajardo.
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Desta forma, quanto à EMEC, é possível perceber claramente os ajustes ilícitos
com o objetivo de buscar, por vias oblíquas, “reequilíbrio econômico
contratual”. Destaca-se nesse momento, as pessoas de FÁBIO SAAD JUNGLER,
gerente da EMEC, CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, Procurador-Geral do
Município de Presidente Kennedy e MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA,
Secretário Municipal do Meio Ambiente daquele município.
Observe bem que “a participação de MÁRCIO neste evento é essencial para
a ocorrência do mesmo, lembrando que MÁRCIO também é o Secretário
responsável pelo contrato de recolhimento do lixo. Veja que ele faz uma
movimentação absurda para que a renovação do contrato ocorra no dia
exato. Além de interceder junto à Procuradoria Municipal MÁRCIO transfere
ao beneficiário do contrato a preparação da justificativa que será
apresentada por sua pasta”, conforme relatado pelo Delegado Álvaro
Fajardo.
Ademais, existe ainda outro aspecto pertinente a se observar nesse quadro: a
situação da emissão de pareceres elaborados com o propósito de dar
aparente legalidade aos contratos da EMEC. Nos diálogos acima transcritos,
denota-se que a servidora municipal de nome KAREM informa que o
Procurador DEVEITE havia dado um parecer desfavorável, mas logo em
seguida, em contato com CONSTÂNCIO, este apresenta outro parecer, desta
feita favorável à EMEC.
Nas condutas acima representadas observe a responsabilidade criminal direta
dos integrantes da Comissão Permanente de Licitação CPL, nas pessoas de
JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA
FRANÇA DE ALMEIDA, sem falar, é claro, do Chefe do Poder Executivo
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REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do Procurador-Geral do Município
CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do(a)s Secretário(a)s Municipais
ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS e MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, e do
empresário FÁBIO SAAD JUNGER, em verdadeira formação de quadrilha, pois
atuam de forma articulada e em comunhão de desígnios, na prática dos
crimes sob investigação.
4. A EMPRESA M2
A empresa M2 CONSULTORIA E SERVIÇOS LTDA, já velha conhecida, não
apenas no Município de Presidente Kennedy, mas no próprio Judiciário
Capixaba.
Isso porque o contrato nº 066/2010, firmado entre a empresa e o Município de
Presidente Kennedy, foi objeto de ajuizamento de Ação Civil Pública
(Processo nº 041.11.001134-7), promovida pelo Ministério Público do Estado do
Espírito Santo, com vistas à sua anulação e ressarcimento aos cofres públicos.
A teor dos argumentos do ilustre membro do Ministério Público firmatário da
referida demanda:
“O pedido de natureza condenatória, por sua vez, assenta-se na
comprovação da lesividade do ato, melhor dizendo, na
comprovação do dano experimentado pelos cofres públicos em
decorrência da ilegalidade praticada. No presente caso consiste
o dano no pagamento das seguintes quantias: R$ 2.292.287,71
(dois milhões, duzentos e noventa e dois mil, duzentos e oitenta e
sete reais e setenta e um centavos) e R$ 105.325,45 (cento e cinco
mil, trezentos e vinte cinco reais e quarenta e cinco centavos),
pelos aditivos contratuais ilegalmente entabulados.”
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Não obstante a extemporaneidade da presente demanda em relação ao
procedimento licitatório supramencionado e já objeto de Ação Judicial,
denúncia apresentada por Carlos Rodrigues Garcês, no MPES, no dia
23/02/2010, véspera da abertura da concorrência nº 002/2010, já apontava o
resultado antecipado em favor da empresa M2.
Os rastros de ilicitudes estão evidenciados por toda a parte, desde a
constituição da própria sociedade. Segundo consta do contrato social, a M2
tem como sede na Rua Camboriú, nº. 11, lado B, Morada de Laranjeiras,
Serra/ES, endereço que, segundo denúncia, é falso.
O mesmo mecanismo de direcionamento de licitações é usado para a
contratação da M2. Os diálogos abaixo transcritos, travado, entre o Secretário
Municipal de Obras ÉDINO LUIZ RAINHA e o empresário JOSÉ CARLOS “falam
por si só” e expressam detalhadamente como a Comissão Permanente de
Licitações de Presidente Kennedy age em favor dos empresários (Vide índice
5240636):
(Transcrição – diálogo registrado dia 16/12/2011)
ZÉ CARLOS: Oi EDINO, você passou por aqui, ficou de ligar e não
retornou. Como estão as coisas?
EDINO: O que eu queria pedir e que você participasse mais
aqui.
ZÉ CARLOS:E...., mas não. Eu não vou participar porque esta tudo
truncado.
EDINO: Ontem foi brecado pelo Tribunal de Contas.
ZÉ CARLOS: O que foi brecado? Qual edital? O de
gerenciamento de obra?
EDINO: E, o de gerenciamento.
ZÉ CARLOS:E aquele outro do meio ambiente também!! Inclusive
eu peguei o CD,...ME DEREM O CD, E DEVEM TER DADO PARA
OUTRAS EMPRESAS COM A LOGOMARCA DA EMPESA M2.
EDINO: NEM ISSO ELES TIVERAM O CUIDADO DE TIRAR ...
ZÉ CARLOS:EXATAMENTE ... O EDITAL FOI A M2 QUE FEZ. É MUITO
GRAVE ISSO ... E TODAS AS EMPESAS ....
EDINO: E O EDITAL DO MEIO AMBIENTE TAMBÉM ESTAVA COM A
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LOGOMARCA?
ZÉ CARLOS:TAMBÉM. INCLUSIVE NO CD QUE EU MANDEI PEGAR
VEIO UM TERMO DE REFERÊNCIA E UM OUTRO DOCUMENTO DA
M2, QUE NO EDITAL NÃO VEIO. AÍ EU PASSEI UM E-MAIL PARA A
MENINA, ACHO QUE O NOME DELA É SILVIA ... DA COMISSÃO ...
EDINO: É, SILVIA .
ZÉ CARLOS: Explicando que o CD não tinha o edital. Ai ela
mandou o edital com a logomarca (da empresa M2).
EDINO: ENTÃO VOCÊ NÃO VAI PARTICIPAR?
ZÉ CARLOS: Não vou participara. Depois ela mandou outro e-
mail pedindo para deletar tudo, porque eu acho que eles
viram. Mas isso foi para todas as empresas. Estou lendo o jornal
ES que peguei na Prefeitura de Vitória, por que estive lá na
Secretaria de Obra, pois estou participando de duas licitações,
ai na primeira página esta escrito o seguinte: "POLÍCIA FEDERAL
PREPARA PARA OS PRÓXIMOS DIAS UMA OPERAÇÃO NO
MUNICÍPIO DE PRESIDENTE KENNEDY . EM TEMPO, A CIDADE É
ALVO DE INVESTIGAÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS, MINISTÉRIO
PÚBLICO E JUSTIÇA FEDERAL".
EDINO: O jornal saiu hoje?
ZÉ CARLOS: A matéria é de ontem, e o jornal é ES HOJE.
EDINO: Vou ver se dou uma olhadinha.
ZÉ CARLOS: Tem um site www.eshoje.com.br. Ai ele fala mais
aqui: "O TRIBUNAL DE CONTAS INICIOU A APURAÇÃO SOBRE O
AUMENTO DE 3 MIL SEISCENTOS ...(INAUDÍVEL)... DO VALOR DE
CONTRATO DA PREFEITURA DE MONTAGEM DE PALCOS E
TENDAS. TRIBUNAL DE CONTAS TAMBÉM ACOLHEU DENÚNCIA
SOBRE CONCORRÊNCIA PÚBLICA PARA CONTRATAR UMA
EMPRESA PARA CONSTRUÇÃO DE 600 CASAS POPULARES.
INFORMAÇÕES DÃO CONTAS DE QUE A POLÍCIA FEDERAL TERIA
RELAÇÃO INCLUSIVE COM A COMPRA DE HELICÓPTERO". Esta no
jornal hoje que a Polícia Federal vai entrar aí.
EDINO: Jornal ES HOJE?
ZÉ CARLOS: Sim. É um jornal grande, esta lá na Prefeitura de
Vitória, em todas secretarias.
EDINO: Vou dá uma olhadinha
ZÉ CARLOS:Estou com receio de entrar num licitação aí por isso.
Você ganha a licitação, daqui a pouco paralisa tudo.
EDINO: Trabalhão danado, né?
ZÉ CARLOS:Mas isso. Eu comprei os editais, nós analisamos e
chegamos a conclusão ....., é por que nós estamos com muito
serviço. Tem outras concorrências.......
EDINO: Ahaa, tá.
ZÉ CARLOS: Estamos fazendo trabalho para outras prefeituras,
muitos órgãos. Ganhamos licitação grande na CODEBA.
EDINO: Ahã..
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ZÉ CARLOS: A gente fica meio receoso, por que trabalhar em
um clima do jeito que está aí fica muito ruim. Então ta. Será que
o Tribunal de Contas já brecou esse edital? Alguém que me
falou, alguma empresa...
EDINO: Ta.
ZÉ CARLOS: Qualquer coisa você me liga. Se mudarem, se eu
ver que a coisa vai caminhar de uma outra forma a gente vai.
Mas do jeito que está......
EDINO: O jornal é que? ES........
ZÉ CARLOS: ES HOJE, www.eshoje.com.br. É um jornal grande,
tipo Tribuna e Gazeta.
EDINO: Está bom então ZÉ CARLOS.
Mas a voracidade do grupo criminoso em definhar o erário de Presidente
Kennedy não tem fim. Ademais, o sentimento de impunidade faz com que os
integrantes da organização passarem por cima dos poderes públicos,
sobretudo o Judiciário. Observe que mesmo diante do ajuizamento da Ação
Civil Pública (antes mencionada), o Procurador-Geral CONSTÂNCIO BRANDÃO
e os Secretários Municipais ALEXANDRE PINHEIRO e JULIANA FONTÃO,
articulam com o ex-sócio e atual administrador da empresa M2, JOEL
ALMEIDA FILHO, novo contrato ou a prorrogação do anterior, conforme se
observa nos diálogos a seguir:
No dia 12/01/2010, ANDRESSA FONSECA DA SILVA (Comissão de
Licitação) pergunta ao Secretário de Desenvolvimento Econômico
ALEXANDRE PINHEIRO se está na M2 ou se esteve com alguém de
lá. Em seguida ANDRESSA diz que precisa falar com alguém da
empresa para decidir se irá publicar ou suspender a publicação
anterior. ALEXANDRE passa o telefone de JOEL. (5340686)
(Transcrição)
ALEXANDRE:Alô.
ANDRESSA: Oi ALEXANDRE?
ALEXANDRE: Ele.
ANDRESSA: É ANDRESSA, tudo bom?
ALEXANDRE: Tudo jóia ANDRESSA ..
ANDRESSA: Deixa eu te falar ... por acaso você está na M2 ou
esteve com alguém da M2?
ALEXANDRE: Não, não ...
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ANDRESSA: ..(ininteligível) ... as nove e pouca ... então daqui a
pouquinho estou te dando uma resposta ... estou aguardando até
agora ... estou precisando falar com ele e o celular dele está
desligado ... e nada ... não recebi nada no meu e-mail ... não
recebi decisão nenhuma ... tem que publicar ...
ALEXANDRE: Não e o cara falou até dez horas .. eu acho ...
ANDRESSA: ... (ininteligível) ... Puta que pariu! ...
ALEXANDRE: Mas é .. é ... NÓS VAMOS ESTAR FAZENDO UMA
REUNIÃO COM ELES E ...
ANDRESSA: Ta, mas me passa o telefone de alguém lá com quem
eu consiga falar ... pra poder ...
ALEXANDRE: 99811120, do JOEL ..
ANDRESSA: Ta ok ... vou tentar falar
ALEXANDRE: Qualquer coisa você me liga de novo ..
ANDRESSA: Ta obrigado ... tem que publicar hoje né? ... Ou
publicar ou suspender ....
ALEXANDRE: É eu acho que ... por via das dúvidas suspende ...
entendeu?
ANDRESSA: Não .. se não consegui falar com eles ..
(se despedem)
No mesmo dia ANDRESSA volta a falar com ALEXANDREe informa
que recebeu as informações da M2. Seguem falando sobre a
publicação e republicação dos novos editais referente às
licitações de obras públicas. (índice 5340949)
Em seguida ALEXANDRE liga para CONSTÂNCIO para posicioná-lo
sobre o assunto. (índice 5341155)
(Transcrição)
CONSTÂNCIO: Vai ter reunião?
ALEXANDRE: Não vai ter não.
CONSTÂNCIO: Está tudo certinho aí?
ALEXANDRE: Sim. Andressa foi falar com você mas eu já resolvi.
Falei que era para republicar, pois era isso que você tinha pedido
para fazer.
CONSTÂNCIO: Estou numa reunião aqui.
ALEXANDRE: Deu diferença nas planilhas e não tinha jeito. Tinha
que fazer novamente
CONSTÂNCIO: Eu tive ... (inaudível)... boas daqui.
ALEXANDRE: Eu talvez vá esta aí amanhã.
CONSTÂNCIO: Está bom.
Aí está, portanto, a forma de agir usada pelo grupo, além de fazer pouco
caso do Judiciário, acreditando na impunidade.
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Registra-se, por fim, que os encontros ocultos não se limitam apenas ao caso
isolado da EMEC. As empresas M2 e MASTERPETRO29 também receberam as
visitas do Procurador-Geral do Município de Presidente Kennedy,
CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO e do Secretário de Desenvolvimento
Econômico desse mesmo município, ALEXANDRE PINHEIRO, no dia 24/01/2012,
encontro esse devidamente acompanhado e registrado pelo setor de
inteligência da Polícia Federal (vide item 6.5.6 da Representação Final).
A participação dos integrantes da CPL, JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA
ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE, do Chefe
do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal
CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do Secretário Municipal ALEXANDRE
PINHEIRO BASTOS, e do empresário JOEL DE ALMEIDA FILHO, são claras e
constitui-se formação de quadrilha, pois atuam de forma articulada e em
comunhão de desígnios, na prática dos crimes sob investigação.
5. AS EMPRESAS RELACIONADAS AOS IRMÃOS GOMES
José Carlos Jordão Gomes e Ely Ângelo Jordão Gomes, são proprietários,
respectivamente, das empresas JCJ Gomes Ltda. (08.762.927/0001-70) e EAJ
Gomes Ltda. (08.0828.342/0001-06). São conhecidos em Presidente Kennedy
como os “Irmãos Metralha”.
Para dar amplo apoio e lograr êxito nos procedimentos licitatórios promovidos
pelo Poder Público local, os irmãos Gomes contam com a ajuda de várias
29 Pode parecer, aparentemente, que a MASTERPETRO não tenha vínculo algum com o grupo,
mas sim, visto que seu proprietário, CLÁUDIO RIBEIRO BARROS, tem atuação direta na
condução do contrato de outra empresa que legalmente não lhe pertence, a PULIZIE ITÁLIA.
Sobre essas empresas, abordaremos com maior vagar no decurso desta peça.
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empresas “parceiras”, dentre elas a E.M. Gomes Atacadista – ME, que tem
como proprietário o próprio pai, Ely Monteiro Gomes. Além disso, tem o apoio
direto de funcionários públicos locais, sobretudo de alto escalão, que os
fomentam com informações privilegiadas, conforme facilmente demonstrado
através das interceptações de e-mails, feitas com autorização judicial,
conforme destaque abaixo:
No dia 09/11/2009, às 16hrs52min, José Carlos recebe mensagem
proveniente da conta licitacaopmpk@hotmail.com lhe
encaminhando o edital 33/2009. Interessante registrar que ele
pede nominalmente para que Charlene lhe envie o referido edital.
No dia 13/11/2009, às 16hrs28min, José Carlos recebe mensagem
da mesma conta licitacaopmpk@hotmail.com lhe encaminhando o
edital 22/2009 e 062/2009, entretanto, quem responde agora não é
Charlene e sim Andressa, muito embora a mensagem tenha sido
endereçada à primeira anteriormente.
A mensagem anexa foi enviada a partir da caixa do próprio
Jovane para José Carlos, no dia 07/06/2010, às 19hrs54min,
contendo os editais 067/10 e seus anexos (clicar para mensagem,
clique para edital/anexo). Este edital não foi adiantado, já que a
publicação no Diário Oficial foi realizada no mesmo dia,
entretanto, no dia seguinte, dia 08/06/2010, às 11hrs17min, Jovane
envia nova mensagem avisando José Carlos que a casa de carnes
retirou o mesmo edital, ou seja, o de número 67. Como se vê,
Jovane atua provendo informações aos irmãos Gomes.
Isso também fica claro quando se lê a mensagem anexa, enviada
por Jovane para Ely e José Carlos, no dia 17/08/2010, às
10hrs20min. Note que a publicação do edital é no mesmo dia, ou
seja, mesmo que não haja aqui o adiantamento do edital, existe
sem dúvida um empenho em colocar os Gomes em posição de
vantagem na licitação.
Mesma situação nesta outra mensagem anexa, enviada por
Jovane para Ely e José Carlos, no dia 17/08/2010, às 10hrs21min,
quando do envio do edital 096/2012. A publicação do edital deu-
se na mesma página do edital 101/2010.
A mensagem abaixo é diferente, foi enviada a partir da caixa
Licitação PMPK para José Carlos, no dia 22/02/2011, às 16hrs41min,
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contendo o edital 018/11 e seu anexo. A publicação do edital se
deu no Diário Oficial somente dia 04/03/2011.
Outra mensagem também foi enviada a partir da caixa Licitação
PMPK para José Carlos, no dia 18/04/2011, às 14hrs19min,
contendo os editais 038 e 039/11 e seus anexos. A publicação no
Diário Oficial do edital 38/11 foi na data de 20/04/2011 e do edital
39/11 ainda mais tarde, na data de 16/05/2011. 30
Os irmãos Gomes, através das “suas” empresas colaboradoras, possuem vários
contratos com a Prefeitura de Presidente Kennedly. Na verdade, os “irmãos
metralha” são conhecidos como grandes empresários na cidade de
Presidente Kennedy/ES. Além das empresas acima citadas, são responsáveis
também pelas sociedades empresariais PETROMAX SERVIÇOS LTDA e E.M.
GOMES, sem falar que usam também outras empresas para compor
“concorrência” nas licitações.
Ecléticos na arte de “comercializar” (e mais ainda de fraudar), os irmãos
gomes “atuam no ramo de combustíveis, alimentos e eletrodomésticos,
porém diversificam suas atividades conforme as necessidades da Prefeitura.
Segundo as palavras do José Carlos no dia 09/03/2012, às 16hrs16min, “Meu
amigo, eu não vendo atacado pra ninguém EU SÓ VENDO PRA PREFEITURA”
(índice 5578781).”31
Não conseguiriam tal façanha não fosse o apoio marcante da
supersecretária, sobrinha do Prefeito, Geovana Quinta e do Pregoeiro Jovane
Cabral. Para afastar concorrentes indevidos usam do poder, constituído por
vias ocultas, para ameaçar e impedir que empresas fora do grupo participem
de certames, ou, conseguindo entrar, ameaçam de ficar sem receber.
30 As cópias dos e-mails estão acostadas ao Relatório Final do Delegado Álvaro Fajardo. 31 Trecho extraído do Relatório Final da lavra do ilustre Delegado Álvaro Fajardo.
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Todo esse modo peculiar de agir foi investigado e constatado através do
acompanhamento de algumas licitações por parte da inteligência da Polícia
Federal. Observe, a seguir, como age a organização criminosa.
Com a ajuda de um colaborador, a Polícia Federal acompanhou duas
Licitações: os Pregões de nsº 03/2012 e 07/2012, respectivamente. Para que
não percamos detalhes importantes segue o cronograma descrito pelo ilustre
Delegado Álvaro Fajardo:
A opção inicial foi Pregão Presencial nº 03/2012 se deu em razão
de seu objeto. De posse do edital no dia 20/01/2012, analisamos os
requisitos para participar do certame. Dentre eles está à
apresentação no dia 24/01/2012 de uma amostra para cada uma
das 103 variedades de produtos de vestuário que o vencedor do
certame deverá fornecer. Todos com algum tipo de logomarca do
município.
A fim de verificar a possibilidade de cumprimento dessa exigência
por qualquer empresa que não tenha informação privilegiada
sobre esse item, estivemos na empresa Strancioli Uniformes
(http://www.stancioli.com.br/empresa.htm), empresa de
grande porte do setor, sediada no pólo de confecções da Glória.
Lá questionamos quanto tempo e a que custo seria possível
encomendar a produção das amostras, ao que nos disseram que
algo entre R$ 3.000,00 e R$ 5.000,00 em aproximadamente 20 dias.
Diante da impossibilidade de se apresentar as amostras no dia
24/01/2011, entramos em contato com SILVIA, uma das integrantes
da Comissão de Licitação, informando do exíguo prazo para tal.
SILVIA informou que tentaria permitir a entrega de cinco ou seis
amostras e, desta forma, viabilizar a participação na licitação,
porém não deu retorno.
As exigências do edital forçaram a nossa desistência em participar
do certame, do qual figuraram empresas ligadas aos irmãos ELY
ÂNGELO e JOSÉ CARLOS, ao final adjudicado em favor da micro
empresa J.A. Galito - ME, do empresário local JOSÉ AUGUSTO
GALITO.
Permanecendo no propósito de compreender como se dão as
licitações em Presidente Kennedy compramos novo edital
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referente ao Pregão Presencial nº 07/2012, cujo objeto é a
aquisição de material de ensino para atender a Secretaria
Municipal de Educação. A data prevista no edital para entrega
das amostras era 14/02/2012 e das propostas dia 15/02/2012.
Edital com idêntico conteúdo fora lançado ano passado (pregão
07/2011), publicado em 20/01/2011 e foi celebrado num total de
R$ 245.000,00. Os quantitativos que conseguimos por meio de
entrevistas veladas foram de:
Kit pré-escola: 700 unidades;
Kit 1ª a 4ª série: 1200 unidades;
Kit 5ª a 8ª série: 1000 unidades;
Kit Professor: 350 unidades;
Para esse ano temos:
Kit pré-escola: 1000 unidades; Aumento 40%.
Kit 1ª a 4ª série: 1500 unidades; Aumento de 25%.
Kit 5ª a 8ª série: 1300 unidades; Aumento de 30%.
Kit Professor: 400 unidades; Aumento de 15%.
Criação do Kit EJA (Educação de Jovens e Adultos): 800
unidades.
A simples análise dessas informações percebemos um acréscimo
de mais de 100% de um ano para outro, fato que nos deu ainda
mais certeza de que participaríamos de uma licitação com cartas
marcadas.
BOLSA NO FORMATO MALETA COM ALÇA MATERIAL DURATRAN
SILKADA COM LOGOMARCA (BRASÃO) PREFEITURA MUNICIPAL DE
PRESIDENTE KENNEDY DO (sic) ÓTIMA QUALIDADE NA COR AZUL
ROYAL COM ALÇAS AZUL NAS MEDIDAS LARGURA 0,42CM ALTURA
0,30CM,PROFUNDIDADE 0,08CM ALÇA DE 0,68CM DE CADA LADO.
Tentando cumprir com as exigências impostas, sobretudo no que
se refere à estampa, despendemos todo o dia 03/02/2012
tentando obter o referido brasão junto à Prefeitura. Ligamos para a
Secretaria de Educação (ELAINE), para a Comissão de Licitação
(SÍLVIA) e, por fim, para a Secretaria de Comunicação (MAISSON).
Este último contato nos disse que só possuía o arquivo em
extensões txt e jpg, ambas inúteis para a produção da matriz de
silk screen exigida.
No dia 06/02/2012 estivemos em Cachoeiro de Itapemirim/ES na
esperança de conseguir o arquivo em extensão compatível com
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Corel Draw que permite a produção da referida matriz.
Conseguimos o arquivo na Sclan Malhas (2821018400) e no dia
07/02/2012 encomendamos a matriz com o senhor Marcos
(2793166539), indicado pela Silk Press (2730892450), por R$ 800,00
com prazo de fabricação de 05 dias úteis.
Seguindo a ordem cronológica, seguem abaixo diálogos, com foto, que
confirmar o conluio entre os empresários de Presidente Kennedy, bem como
demonstrar de forma clara como se dá a dinâmica criminosa para fraudar
licitações.
Na manhã do dia 10/02/2012, às 09hrs06min, ELY liga para JOSÉ
CARLOS e diz que o pessoal o procurou e perguntou sobre a
medida da alça do kit. Continua e diz que no ano passado a alça
foi de 68 centímetros e pede confirmação. JOSÉ CARLOS diz que
ficou menor, pois fizeram pela outra (índice5446550).
No dia 13/02/2012, às 10hrs03min, JOVANE liga para JOSÉ CARLOS
e pede para que ele vá ao seu encontro (índice 5455957).
No dia seguinte (14/02), ELY MANDA SAMUEL (Vulgo Neném e
“concorrente”) NÃO COLOCAR NAQUELAS CAIXAS PORQUE SENÃO
FICA MUITO IGUAL (índice 5459815).
Ato contínuo ELY LIGA PARA O OUTRO CONCORRENTE, GUTINHO
(JOSÉ GALITO) E PEDE PARA QUE ELE TROQUE AQUELE NEGÓCIO DE
ONTEM PARA NÃO FICAR IGUAL. CONTINUA E PEDE PARA QUE AVISE
A PAULO (PC PESSOA) PARA FAZER O MESMO (índice 5459820).
Ainda no dia 14/02, ELY diz a SAMUEL QUE ELE TEM QUE PASSAR LÁ
PARA PEGAR OS ENVELOPES. Neném diz que passará em pouco
tempo (índice 5461617).
No dia 15/02/2012, às 06hrs46min, ELY liga para CÍNTIA BICALHO e
confirma que o horário é às 09 horas (índice 5464063).
No dia 15/02/2012, às 07hrs29min, ELY liga para NENÉM e diz que o
espera na loja (índice 5464087).
No dia 15/02/2012, às 07hrs39min, ELY PERGUNTA AO PREGOEIRO
JOVANE SE ESTE CONSEGUIU FALAR COM O HOMEM, JOVANE
RESPONDE QUE NÃO (índice 5464133).
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Ato contínuo, JOVANE liga para o Policial Militar WALAS e pede
que vá ao seu encontro. Walas diz que está no DPM (índice
5464188).
Em seguida (15/02/2012, às 08hrs27min)ELY diz a JOVANE QUE
ENTREGOU O NEGÓCIO LÁ AS 07 E Pouco (índice 5464366).
No mesmo dia por volta das 9 horas, JOSÉ CARLOS liga para ELE
PEDE PARA CONFIRMAR SE O CARECA É O “CATINBOSO”, POIS ELE
SUBIU E NÃO FALOU NADA E QUANDO O OUTRO SUBIU ELE FICOU
FALANDO (índice 5464527). Registre-se, que falam do nosso
colaborador.
O PREGÃO
NO DIA 15/02/2012, ÀS 08 (OITO) HORAS E 57 (CINQUENTA E SETE)
MINUTOS, CONFORME A FUNCIONARIA ORIENTOU, O
COLABORADOR SUBIU ATÉ O 3o (TERCEIRO) ANDAR PARA
PROTOCOLAR OS ENVELOPES. AO CHEGAR, O COLABORADOR SE
DEPAROU COM: HNI 12 (CAMISA DE MALAHA AZUL, ÓCULOS DE
GRAU E BONÉ), REPRESENTANTE DA EMPRESA “J. A. GALITO ME”;
NENÉM (SAMUEL), REPRESENTANTE DA EMPRESA “S. DA S. MORAES
JÚNIOR ME”; ELY, REPRESENTANTE DA EMPRESA “P. C. PESSOA ME”;
HNI 04, REPRESENTANTE DA EMPRESA “J. C. J. GOMES ME”; E HNI 15
(CAMISA POLO LISTRADA DE AZUL, VERMELHO E BRANCO). HAVIA
AINDA UM HNI 14(CAMISA SOCIAL AZUL E ÓCULOS DE GRAU)
SENTADO, FALANDO AO CELULAR. O COLABORADOR PROTOCOLA
OS ENVELOPES DA PROPOSTA NO BALCÃO DE ATENDIMENTO COM
A MNI 01 (LOIRA, BLUSA SOCIAL BRANCA E ÓCULOS DE GRAU).
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a) NO DIA 15/02/2012, ÀS 10 (DEZ) HORAS E 07 (SETE) MINUTOS,
COMEÇA O PREGÃO E O PREGOEIRO JOVANE SOLICITA OS
ENVELOPES DO CREDENCIAMENTO. O COLABORADOR É
DESCLASSIFICADO. AS EMPRESAS PARTICIPANTES COMEÇAM A DAR
OS LANCES.
b) ÀS 10 (DEZ) HORAS E 40 (QUARENTA) MINUTOS, O
PREGOEIRO JOVANE ENCERRA O PREGÃO. A EMPRESA
VENCEDORA DO CERTAME É A “S. DA S. MORAES JÚNIOR ME.”
REPRESENTADA POR NENÉM (SAMUEL).
Dado a “publicidade” do ato, o certame ocorreu na sede da Prefeitura
Municipal de Presidente Kennedy, no dia 15/02/2012, encerrando-se às
10h40m.
Porém, a situação não ficaria por aí! Logo após o encerramento do certame
o pregoeiro Jovane Cabral liga pra o Soldado PM Walas informando que o
indesejado concorrente (colaborador da Polícia Federal) estaria saindo da
Prefeitura. Passa em seguida a descrever suas características físicas e
vestimenta (vide índice 5465026).
(Transcrição)
WALAS: Fala pra nós.
JOVANE: Você está aí?
WALAS: Tô, tô aqui em baixo.
JOVANE: ELE TAVA AQUI ... TÁ SAÍNDO DAQUI AGORA ... ENTENDE?
WALAS: Tá, eu já sei o carro, eu vou esperar, vou procurar o carro.
Aquele carro que você me deu, ele ta atrasado, eu tentei achar o
carro aqui e não achei. Como que ele é?
JOVANE: Rapaz, ele ta de camisa verde
WALAS: Camisa verde, né? To aqui em baixo da Prefeitura, beleza,
to aqui por baixo vou ver
JOVANE: Beleza
WALAS: Ta, valeu
As fotos abaixo demonstram de forma clara que a ordem do pregoeiro
Jovane Cabral foi efetivamente cumprida. Observe como o colaborador é
ostensivamente abordado, às 10:45, na Rodovia ES-162, na saída do município
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de Presidente Kennedy, sem qualquer motivo aparente ou mesmo ação
promovida pela Polícia Militar naquele dia.
Não apenas o Pregoeiro Jovane Cabral sabia da abordagem feita pelo
Policial Militar Walas ao colaborador. Evidentemente que os irmãos Gomes
não ficariam de fora dessa empreitada. Sabendo da “missão”, Ely Gomes liga
para Jovane Cabral pedindo para que ele pergunte a Walas o que ocorreu
na ação, conforme constata o índice 5465335. Segue abaixo, então, o
desfecho sob a ótica do Delegado Álvaro Fajardo:
“Ato contínuo, JOVANE LIGA PARA WALAS E PERGUNTA SE DEU
CERTO. WALAS DIZ QUE DESENROLOU E QUE CONVERSAM
PESSOALMENTE (índice 5465341). Por volta das 12 horas, SAMUEL
LIGA PARA ELY E COMENTA QUE VALDEIS O CHAMOU DE
CACHORRO E QUE ELY É MUITO RUIM, PORQUE O CARA TÁ AQUI
ZANGADO, POIS DEPOIS DA DESCLASSIFICAÇÃO NA LICITAÇÃO, NA
HORA DE SAIR, A POLÍCIA O PRENDEU. (índice 5465520).”
Diante de tamanha evidência, não há como negar o esquema montado
(bem aparelhado e com divisão de tarefas) na Prefeitura de Presidente
Kennedy para usurpar o erário.
Há, ainda, dois eventos que merecem destaque especial: o Pregão Presencial
nº 140/2011 (Combustíveis) e o Pregão Presencial nº 005/2011 (Ar
Condicionado). Vamos a eles.
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5.1 – PREGÃO PRESENCIAL Nº 140/2011 – AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL
O Pregão Presencial nº 140/2011, promovido pelo Executivo Municipal de
Presidente Kennedy, devidamente publicado no Diário Oficial do Estado - ES
em 29/12/2011, teve por objeto Registro de Preços para contratação de
empresa para o fornecimento de combustíveis para atender a diversas
secretarias no exercício de 2012, na quantidade de 1.370.000 litros de Óleo
Diesel B Comum e 560.000 litros de Gasolina Comum “C”.
O Edital estabelecia o valor máximo de R$ 4.435.925,00 (quatro milhões,
quatrocentos e trinta e cinco mil, novecentos e vinte e cinco reais) e data de
abertura de propostas em 11/01/2012.
Não obstante terem sido abertas cotações de preço com as distribuidoras
Ipiranga Produtos de Petróleo e Petrobras Distribuidora S.A, em 29/11/2011, de
forma “surpreendente”, a vencedora do certame, conforme ata de
julgamento do dia 11/01/2012, foi a única empresa participante: PETROMAX
Comércio de Combustível Ltda – ME, CNPJ 08.157.130/0001-44, curiosamente
de propriedade dos irmãos Gomes, que, ainda mais “curioso”, assumiram o
controle societário dos sócios anteriores, Aluízio Carlos Correa (ex-prefeito) e
Tania Mara Fontana Correa, em 23/05/2011.
A PETROMAX venceu o Pregão com proposta no valor de R$ 4.426.900,00
(quatro milhões, quatrocentos e vinte e seis mil e novecentos reais), que
corresponde a R$ 2,89 (dois reais e oitenta e nove) o litro de Gasolina e R$ 2,05
(dois reais e cinco centavos) o litro de Óleo Diesel, respectivamente.
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Dentre as irregularidades no certame em tela (eivado de vícios), a equipe
técnica da CGU pode constatar as seguintes irregularidades:
i) restrição ao princípio da publicidade e à divulgação do aviso de
edital, ferindo a regra dos artigos 21 da Lei nº 8.666/93 e art. 37 da
CF/88;
ii) afastamento de empresas interessadas em participar do certame em
razão da proibição contida em item que impossibilitava a
impetração de recursos por meio de fax ou sedex;
iii) definição imprecisa e insuficiente do objeto - quantidade excessiva de
combustível;
iv) cobrança indevida de taxa de fornecimento de edital;
v) informações privilegiadas (acesso ao Edital antecipado) por parte do
representante legal da empresa PETROMAX;
vi) ausência de parcelamento do objeto constituindo restrição à
competitividade;
vii) exigências de qualificação técnica extrapolam a permissão legal;
viii) prazo de pagamento superior ao limite legal;
ix) ata de julgamento não registra a participação de licitante;
Pois bem. Dentre as evidentes irregularidades apontadas pela CGU no
certame em apreço, uma, em especial, é acintosa e consolida a voracidade
arrecadatória da organização criminosa liderada pelo Prefeito denunciado: a
quantidade excessiva de combustível licitado, bem como a forma de
contratação do produto.
O procedimento licitatório em apreço – Pregão nº 140/2011 – iniciou a partir
de solicitação formalizada pelo Secretário Municipal de Transporte e Frota Sr.
Flávio Jordão da Silva, no dia 17/10/2011. Nela o Secretário requer ao Prefeito
o seguinte:
“autorização para aquisição de combustíveis sendo estes: 1.300.000
litros de óleo diesel comum e 500.000 litros de gasolina comum, para
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atender o ano de 2012, com a finalidade de atender a frota municipal
abaixa (sic) relacionada: 05 Motoniveladora (Patrol), 02 Pá
Carregadeira, 02 Escavadeira Hidráulica, 05 Retroescavadeira, 02 Rolo
Compactador, 17 Tratores Agrícola, 05 Utilitário Van, 05 Caminhonete,
01 Pajero Sport, 24 Caminhões, 08 Ônibus, 37 automóveis leves e 03
motocicletas”.
Veja que o requerimento se inicia com uma descrição precária, contendo
apenas o “Tipo”, sem, contudo, mencionar quaisquer outras especificações
necessárias, tais como Marca, Modelo, Ano, Placa, Tipo de Combustível,
Consumo, Quilometragem Anual Percorrida.
No dia 18/11/2011, foi anexado ao processo requerimento formulado pela
Secretária Municipal de Educação, Sra. Geovana Quinta Costalonga, que, na
oportunidade, solicita ao Ordenador de Despesas do Município:
“autorização para aquisição de 70.000 litros de óleo diesel e 60.000
litros de gasolina, para o ano de 2012, com a finalidade de
atender a frota desta Secretaria.”
Pela Secretaria Municipal de Educação foi anexada a frota composta de 08
veículos, porém, sem qualquer menção a Tipo de Combustível, Consumo e
Quilometragem Anual Percorrida, assim especificado:
Tipo Marca Modelo Ano Placa
Utilitário Van Volkswagen Kombi 2008 MRW-9958
Micro ônibus Agrale Marcopolo Volare 2001 MRN-8728
Micro ônibus Volkswagen Masca grammini 2001 MQA-9422
Onibus Mercedes Benz Comil Svelto U 2002 MRD-3019
Onibus Mercedes Benz Comil Svelto U 2006 MRD-5009
Utilitario Van Kia Besta 2005 MQK-3622
Micro ônibus Renault Master 2010 MTE-1366
Caminhão Carroceria Aberta Mercedes Benz 912 1990 MRH-2009 Fonte: Processo nº 017583/2011, referente ao Pregão Presencial nº 140/2011
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Segundo consta do termo referência (Vide Anexo I do referido processo da
CGU), a quantidade de combustível a ser licitada, segundo tabela, contém a
especificação de 1.370.000 Litros de Óleo Diesel “B” Comum e 560.000 Litros
de Gasolina Comum “C”. Veja que a quantidade de combustível a ser
fornecida é a soma dos dois requerimentos.
Por se tratar de licitação fraudulenta, obviamente que não foi contemplada
no processo qualquer referência a informações necessárias para o cálculo da
quantidade de combustível, tais como: Tipo de Combustível para cada
veículo; Consumo, para cada veículo; Quilometragem Anual Percorrida, para
cada veículo.
Em análise da equipe técnica da CGU, foi constatado que a quantidade de
combustível é extremamente excessiva, valendo a pena retratar, fielmente, a
conclusão dos técnicos, conforme abaixo colacionado:
“Com base nos dados do primeiro requerimento, por exemplo,
verifica-se que a frota de veículos movidos a Gasolina são os 37
automóveis leves citados. Assumindo que o consumo destes
veículos é de 10 km/litro, a frota de automóveis leves
percorreria 500.000 litros x 10 km/litro = 5 milhões de km em 2012.
Cada automóvel percorreria, em média, 135.135 km/ano, ou seja,
daria mais de três voltas no planeta em um ano (circunferência da
Terra calculada em 40.075 km na linha do Equador).”
Para que a PETROMAX lograsse êxito no referido Pregão, o conluio se deu da
seguinte forma, segundo relato do Delegado que preside o Inquérito Policial
Federal nº 502/2011:
No dia 30/12/2011, às 09hrs43min, JOSÉ CARLOS liga para SÍLVIA e
pede para que lhe mande um conjunto de editais por email.
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Momentos depois, às 11hrs56min, JOSÉ CARLOS liga para um de seus
funcionários e pede que leia itens do edital de número 140 e do
edital de número 48. Após a leitura dos itens ambos concordam que
o item 8.8 foi retirado.
Já no dia 05/01/2012, às 13hrs55min, JOSÉ CARLOS fala com CARLOS,
da PETROBRAS, e pergunta se ele participa das licitações ou se
alguém vem de fora. O interlocutor pergunta se é de Prefeitura e
pergunta se é de Kennedy. JOSÉ CARLOS diz que alguém esteve por
lá e pegaram. CARLOS diz que, então eles têm que dar uma
combinada e pergunta o que seria mais interessante para JOSÉ
CARLOS, gasolina ou o lubrificante? JOSÉ CARLOS diz que só tem
gasolina e diesel ao que CARLOS então diz que JOSÉ CARLOS pode
pegar a gasolina, e que o diesel fica pra eles. JOSÉ CARLOS então diz
que não, para que eles nem participem, para nem ir, pois vai
comprar tudo (combustíveis) dele mesmo. CARLOS diz que vai
conversar com o responsável e José Carlos o lembra que isso está só
entre eles.
No dia 06/01/2012 às 14:48, SANDRO, assessor comercial da Petrobrás
Distribuidora, entra em contato com FLÁVIO JORDÃO, Secretário de
Transportes de Presidente Kennedy, diz ter tentado contatar JOVANE
e não conseguiu. Relata então à FLÁVIO JORDÃO que o edital 140,
referente a fornecimento de combustíveis, prevê que o
abastecimento fosse através de posto revendedor, impedindo que a
Petrobrás como Distribuidora participe do certame, Flávio agradece
o alerta, diz que não sabia disso e que irá cancelar a licitação (indice
5315274)
Ainda no dia 06/01/2012, FLÁVIO JORDÃO entra em contato com a
Comissão de Licitação e fala com CHARLENE. FLÁVIO JORDÃO
comenta que o pessoal da Petrobrás ligou reclamando do
direcionamento do Edital 140 para que somente postos de
combustível possam participar do certame, CHARLENE confirma que
é isso mesmo, FLÁVIO JORDÃO diz que na segunda-feira vai cancelar
isso, porém nada fez pois o pregão foi realizado dia 11/01/2012 como
previsto (índice 5315426).
Ato contínuo, no dia 09/01/2012, JOSÉ CARLOS fala com CARLOS da
PETROBRAS. CARLOS diz que conversou com o cara hoje de manhã e
a resposta foi negativa, que o cara não quis nem saber e ainda o
xingou. CARLOS continua e diz que o cara disse que não, que vai
entrar pra rachar, pra ganhar, que a Prefeitura tem tanque, tem toda
estrutura, que não é fornecimento de posto, é dele, não está nem aí e
não tem jeito. CARLOS continua e diz que é como se fosse outra
empresa, que aí não tem solução, que apesar de PETROBRAS são
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concorrentes, que a Prefeitura vai comprar com distribuidor e que se
não for com ele será com outro distribuidor. JOSÉ CARLOS pergunta o
nome do funcionário e CARLOS responde: SANDRO. JOSÉ CARLOS
pergunta se é ele quem virá e CARLOS confirma que é ele quem vai
para a abertura. CARLOS registra: é SANDRO da Gerência de
Consumidores e então isso aí não tem como infelizmente, mas que
isso não impede JOSÉ CARLOS de participar, mas não tem como
costurar uma coisa pra não ganhar, mesmo porque outros podem
participar e talvez nem ele ganhe. JOSÉ CARLOS então pergunta: e se
der só nós dois? CARLOS responde: Aí é hora de conversar na hora lá,
você e ele, me dá um toque e eu vejo o que dá pra eu fazer.
Continua: na hora lá você pode me ligar que eu converso com ele.
JOSÉ CARLOS diz que está bom assim e CARLOS finaliza: valeu: aí vê
contigo a gasolina e ele fica com o diesel.
No mesmo dia 09/01, 10 minutos após o diálogo anterior, às
10hrs41min, JOSÉ CARLOS fala novamente com CARLOS pergunta o
que precisa a Prefeitura para comprar da PETROBRAS. Carlos fala um
pouco sobre normas, mas irá checar melhor e JOSÉ CARLOS diz para
não comentar nada com ele (SANDRO), pois vai tentar pegar no pulo.
CARLOS diz pode deixar, entendi, vai contestar na hora, isso aí.
Às 15hras13min, do mesmo dia JOSÉ CARLOS liga para GUSTAVO e
pergunta o telefone de SANDRO (outro que não o da PETROBRAS) e
GUSTAVO responde: 98859251.
Na sequência (09/01, 15hrs25min), JOSÉ CARLOS conversa com
SANDRO, fala sobre o andamento de uma licença e SANDRO diz que
tem que mandar uns documentos pra GUSTAVO. Falam sobre
assuntos derivados deste. JOSÉ CARLOS então pergunta a SANDRO
sobre exigências que a Prefeitura teria que cumprir para ter tanque
aéreo para gasolina e diesel. SANDRO diz que tem que licenciar os
tanques, mas que não tem muita certeza e comenta. JOSÉ CARLOS
diz que quer dificultar o negócio, não quer solução pro negócio.
SANDRO pergunta se JOSÉ CARLOS quer regularizar a situação e JOSÉ
CARLOS diz que não quer regularizar não, está querendo que eles
parem com o negócio, que não quer facilidade, quer dificuldade.
Sandro diz que entendeu o lado de JOSÉ CARLOS e que vai mandar
a lista de exigências.
Ainda no 09/01, JOSÉ CARLOS e CARLOS voltam a conversar e JOSÉ
CARLOS faz considerações sobre a necessidade de licença para
armazenar combustível. CARLOS diz que verificou e que a licença é
acima de 15 mil litros.
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Ato contínuo, CARLOS retorna a ligação para JOSÉ CARLOS, falam
sobre a licença da ligação anterior e voltam a falar sobre a
possibilidade de combinação de preços na licitação. CARLOS diz
que conversou novamente com SANDRO, mas não tem jeito e repete
os termos da negativa. CARLOS, no entanto, diz que falou com
SANDRO e avisou que se só houver ele e JOSÉ CARLOS na
concorrência JOSÉ CARLOS iria conversar com ele. Completa e diz
que SANDRO falou que tudo bem e que lá eles conversam. JOSÉ
CARLOS diz que tudo bem.
Já no dia 11/01/2012, CARLOS liga para JOSÉ CARLOS e informar que
para a companhia é necessário registro da ANP, alvará do Corpo de
Bombeiros e para armazenagem acima de 15 metros cúbicos é
necessária licença operacional da parte ambiental. JOSÉ CARLOS
pergunta qual é o carro que SANDRO utiliza e CARLOS diz que é um
golzinho como o dele, prata, sem nada, faltando uma calota
dianteira. CARLOS encerra dizendo que SANDRO é gente boa,
tranquilão para conversar.
Horas depois, às 12hrs50min, JOSÉ CARLOS liga para ELY, seu irmão, e
diz que acha que o cara tá aqui, pelo carro e pelo modo. ELY diz que
está descendo.
Às 13hrs31min, JOSÉ CARLOS pergunta a ELY se ele está aí em cima e
ELY diz que não. JOSÉ CARLOS então pergunta se ELY está e ele diz
que está na porta do Jovane.
Às 17hrs57min, CARLOS liga para JOSÉ CARLOS PARA DAR OS
PARABÉNS PELA VITÓRIA NA LICITAÇÃO. JOSÉ CARLOS DIZ QUE PEGOU
SANDRO NA PROCURAÇÃO E NA PROPOSTA. JOSÉ CARLOS diz que
conseguiu colocar o preço em R$ 2,89 num volume de 70.000 litros.
Às 18hrs03min, JOSÉ CARLOS liga para ELY e narra o telefonema com
CARLOS.
Com efeito, observa-se nos diálogos acima que os interlocutores fazem
referência ao Edital nº 140/2011. Ademais, o comportamento dos
interlocutores, os irmãos Gomes (José Carlos e Ely) e Carlos (representante da
PETROBRAS), bem como o fato de a PETROMAX ser a única participante de
um pregão referente a um contrato de mais de quatro milhões de reais, não
deixa qualquer dúvida quanto ao propósito de viciar o Pregão.
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5.2 – PREGÃO PRESENCIAL nº 005/2011 (AR CONDICIONADO)
No dia 27/07/2011, a Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy realizou o
Pregão Presencial nº 05/2011, processo nº 1988/2011, com objetivo de adquirir
equipamentos industriais, mais especificamente, aparelhos de Ar
Condicionado. Conforme ata de julgamento lavrada no mesmo dia
27/07/2001, participaram da licitação as seguintes empresas: S. DA S. MORAES
JUNIOR, E.M.GOMES COMÉRCIO ATACADISTA –ME e J.A. GALITO ME.
Como em todos os procedimentos relacionados na presente denúncia, e não
haveria de ser diferente nesse, todas as três empresas participantes do Pregão
nº 005/2011, são ligadas aos irmãos Gomes. Sagrou-se vencedora, portanto, a
empresa S.da S. Moraes Junior ME com o valor total de R$ 540.560,10
(quinhentos e quarenta mil, quinhentos e sessenta reais e dez centavos),
referente aos lotes 1 e 3; e para os lotes 2 e 4, sagrou-se vencedora a empresa
E.M. Gomes Comércio Atacadista-ME, com o valor total de R$ 75.005,03
(setenta e cinco mil, cinco reais e cinco centavos).
Dentre as irregularidades observadas no Pregão em tela (eivado de vícios), a
equipe técnica da CGU pode constatar as seguintes irregularidades:
i) Custo do edital superior ao custo efetivo de reprodução gráfica: o Edital
exigia (item 2.7) o pagamento de taxa de R$ 50,00 para sua retirada,
constituindo-se restrição à competitividade, ferindo o §5º do art. 32
da Lei 8.666/93. Veja que o custo normal gira em torno de R$ 5,20;
ii) Exigências de qualificação técnica que extrapolam a permissão legal:
Tais exigências não se incluem entre permitidas pelos artigos 30 e 31
da Lei nº 8.666/93 e, além de constituir limite à competitividade,
contrariam o princípio da legalidade insculpido no art. 5 da CF/88;
iii) Prazo de pagamento ao fornecedor superior ao estabelecido na lei
8.666/93: O prazo de 90 dias é superior ao limite legal estabelecido
pelo art. 40, inciso XIV, alínea „a‟ da Lei nº 8.666/93, que determina
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prazo de pagamento não superior a trinta dias, contado a partir da
data final do período de adimplemento de cada parcela. Esta
cláusula do edital, além de contrariar o princípio da legalidade
insculpido no art. 5 da CF/88, constitui limite à competição ao
dificultar o fluxo de caixa do fornecedor, a critério exclusivo da
Prefeitura;
iv) Publicação restrita do edital de pregão presencial: O aviso do Edital em
tela foi publicado no DIO, em 15/07/2011, porém não foi publicado
em outros meios. Devido ao vulto da licitação, tal publicação é
necessária, nos termos do art. 4° da Lei n° 10.520/02. Restou
inobservada a legislação citada e o princípio de publicidade
expresso no art. 37 da CF/88;
v) Superfaturamento no montante de R$ 291.556,26, na aquisição de ar
condicionado: O custo dos equipamentos de ar condicionados
adquiridos pela Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy foi de R$
538.900,10. Entretanto, o custo médio praticado pelas empresas
pesquisadas pela equipe técnica da CGU para a aquisição dos
aparelhos de ar condicionados, é de R$ 247.343,84, constata-se,
assim, o sobrepreço no montante de R$ 291.556,26.
Não bastassem as irregularidades acima apontadas, foi constatado que
empresa S. DA S. MORAES JÚNIOR, que venceu o Pregão em epígrafe, não foi
cobrada para promover a instalação dos aparelhos de ar condicionado. Na
verdade, como é ligada aos irmãos Gomes, a esses foi transferida tal
responsabilidade, que, por sua vez, passaram a obrigação da execução do
contrato para a empresa LIDER ASSISTENCIA TECNICA EM AR CONDICIONADO
LTDA ME.32
Denota-se, pois, que os episódio sintetizados nesse tópico demonstram,
sobremaneira, todo o modus operandi das fraudes em processos licitatórios,
envolvendo os irmãos Gomes e suas empresas colaboradores; além de
demarcarem a participação direta de agentes públicos que, aproveitando-se
32 A Lider Assistência Técnica em Ar Condicionado participou da instrução do processo
licitatório fornecendo orçamento para a composição de preço. Contudo, como restou
comprovado o sobrepreço, a mesma foi desclassificada.
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de sua condição pública, direcionam licitações para o grupo econômico
escolhido (no caso os irmãos Gomes), que, por sua vez, se associam a outros
empresários para compor com ele o processo licitatório, simulando
concorrência com o propósito de conferir aparente legalidade aos certames.
Quanto aos servidores públicos municipais, observe bem que a Secretária e
sobrinha do Prefeito, Geovana Quinta Costalonga e o Pregoeiro Jovane
Cabral, são consideradas figuras centrais na coordenação das licitações
relacionadas aos empresários locais. Além disso, como visto, o pregoeiro
municipal, Jovane Cabral, extrapola os limites de suas atribuições, ingerindo,
inclusive, na forma de afastar concorrentes indesejados.
Desta forma, a participação do Pregoeiro municipal JOVANE CABRAL DA
COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA, do
Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, da Secretária
Municipal GEOVANA QUINTA COSTALONGA, dos Policiais Militares FABRÍCIO DA
SILVA MARTINS e WALLAS BUENO DA SILVA, e dos empresários ELY ÂNGELO
JORDÃO GOMES, JOSÉ CARLOS JORÃO GOMES e SAMUEL DA SILVA MORAES,
está clara, demonstrando verdadeira formação de quadrilha, pois atuam de
forma articulada e em comunhão de desígnios, na prática dos crimes sob
investigação.
6. A EMPRESA EXCELÊNCIA
A empresa EXCELÊNCIA REPRESENTAÇÕES E PRESTADORA DE SERVIÇOS LTDA-
EPP, segundo constatado pela Operação “Lee Oswald”, foi constituída no dia
09/12/2009, por JOSÉ ROBERTO MONTEIRO, em sociedade com seu filho,
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RODRIGO KLEIN FORZANELLI MONTEIRO. Com capital social declarado de R$
10.000,00 (dez mil reais) a empresa foi constituída para atuar como prestadora
de serviços de seguro e apoio à atividades administrativas.
Não obstante os sócios de direito componentes da sociedade
supramencionada, a EXCELÊNCIA é comandada, além de José Roberto
Monteiro Fraga, vulgo Roque, pelos sócios ocultos, Rodrigo Zaché, Carlos
Fernando Zaché e o já conhecido Paulo Cesar Santana Andrade, o Paulo 10.
A EXCELÊNCIA entrou no esquema de fraudes em licitações da Prefeitura de
Presidente Kennedy, herdando da METAVIX, o contrato de prestação de
serviço contínuo de coleta de resíduos sólidos domiciliares do município,
encerrado em novembro de 2011.
Como alhures mencionado, com o encerramento do contrato que a METAVIX
possuía com o Município de Presidente Kennedy, o empresário e sócio, Dennys
Dazzi Gualandi, anunciou que não renovaria o contrato, muito menos
participaria de nova licitação, como de fato não participou. A razão estava
ligada à sua prisão em 2010, face à deflagração da Operação Moeda de
Troca no município de Santa Leopoldina.
O afastamento da METAVIX provocou a publicação, no dia 11/11/2011, de
Aviso do Pregão Presencial nº 125/2011, para contratação de EMPRESA
ESPECIALIZADA para prestação de serviço contínuo de coleta de resíduos
sólidos domiciliares e comercial no município de Presidente Kennedy.
Aparece em cena, portanto, a nova empresa que entraria no esquema
armado para vencer o Pregão Presencial em epígrafe: a EXCELÊNCIA. É
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importante esclarecer que toda a montagem dessa sociedade foi
devidamente constatada durante a Operação “Lee Oswald”, portanto,
desde a constituição dos sócios (legais e ocultos), passando pela montagem
do escritório, pela aquisição de material para o início do contrato, que
venceria, pela locação de veículos e, desaguando na subcontratação de
uma velha parceira, a conhecida CTRVV – Central de Tratamento de Resíduos
Vila Velha Ltda, que tinha à frente Marivaldo Ganzela. 33
Dias antes da publicação do Aviso do Pregão nº 125/2011, o Vereador Tércio
Jordão Gomes, recebeu carta anônima34 que denunciava esquema
montado para direcionar referida licitação em favor de José Roberto da
Rocha Monteiro (Vulgo Roque), Rodrigo Zaché e Fernando Zaché (vide teor
da Carta no item 6.7 da Representação Final do Delegado Álvaro Fajardo).
Não obstante a apocrifia do documento, o esquema denunciado se
confirmou, tal como a denúncia apresentava, ou seja, a carta afirmava que o
procedimento licitatório em comento seria direcionado para o grupo
empresarial composto por José Roberto da Rocha Monteiro, Rodrigo Zaché,
Carlos Fernando Zaché e Paulo César Santana de Oliveira, o Paulo 1035,
inclusive, com os mesmos vícios do procedimento anterior adjudicado em
favor da empresa METAVIX, sobretudo, em relação à contratação de aterro
sanitário.
33 Para constatação vide itens 6.7.6, 6.7.6.1, 6.7.6.2, 6.7.6.3, 6.7.7, da Representação Final da
lavra do Delegado Álvaro Fajardo, bem como os índices que acompanham. 34 Documento encartado às fls. 177 do Inquérito Policial nº 502/2011. 35 Rodrigo Zaché e Paulo César Santana de Oliveira foram investigados, indiciados e
denunciados em 2010 por participação nas fraudes evidenciadas pela Operação “Moeda
de Troca”, deflagrada na cidade de Santa Leopoldina/ES, mesmo município em que José
Roberto da Rocha Monteiro, o Roque de Santa Leopoldina, exerceu mandato de vereador e
posteriormente prefeito por 8 (oito) meses em 2004. Carlos Zaché é sócio de Paulo César na
empresa AZX. Paulo César responde processo de improbidade administrativa juntamente
com o Prefeito Reginaldo Quinta, por fraude em procedimento licitatório no município de
Presidente Kennedy.
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6.1 – O PREGÃO PRESENCIAL N° 141/2011
Como acima mencionado, com o término do contrato com a METAVIX, a
Prefeitura de Presidente Kennedy-ES publicou no Diário Oficial do Estado
(DIO/ES), em 20/12/2011, novo Edital, republicado em 21/12/2011. O Edital
marcava a abertura da licitação para o dia 30/12/2012.
Como se observa, o objeto do contrato era a “contratação de empresa
especializada para prestação de serviços contínuo de coleta de resíduos
sólidos domiciliares, para atender a este município.”
Inicialmente o orçamento elaborado pelo Executivo Municipal apresentou o
valor de R$ 7.130.714,22 (sete milhões, cento e trinta mil, setecentos e quatorze
reais e vinte e dois centavos), tendo como ponto de partida a média dos
orçamentos apresentados pelas empresas Marca Construtora e Serviços e
CTRVV – Central de Tratamento de Resíduos Vila Velha, que foram convidadas
pela prefeitura para cotação prévia de preços para determinação do
orçamento de referência.
Além das empresas convidadas a cotar preços previamente, participaram
ainda do Pregão Presencial nº 141/2011 as seguintes sociedades empresariais:
A.Z Empreendimentos Urbanos Ltda ME, ACO Indústria e Comércio Ltda. EPP e,
é claro, a vencedora, Excelência Representações e Prestadora de Serviços
Ltda. EPP.
Ganhadora do certame, a empresa Excelência Representações e Prestadora
de Serviços Ltda EPP, foi “contemplada” com o Contrato nº. 01/2012,
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celebrado em 05/01/2012, no valor de R$ 5.990.000,00 (cinco milhões,
novecentos e noventa mil reais).
Como a licitação se tratou de “jogo de cartas marcadas”, a equipe técnica
da CGU que analisou o processo licitatório sub examine, “identificou várias
ilegalidades ocorridas na condução do certame que contribuíram para
obstar a sua competitividade e direcionar o certame em favor da empresa
Excelência Representações e Prestadora de Serviços Ltda. EPP”, podendo
destacar, entre elas:
i) Restrições à competitividade e evidências explícitas de
direcionamento do processo licitatório;
ii) Edital do pregão n° 141/2011 contendo cláusula questionada na
justiça, como restritiva ao caráter competitivo do certame;
iii) Demonstrações financeiras indicando que o patrimônio líquido da
empresa vencedora é inferior a 10% do valor estimado para
licitação;
iv) A empresa vencedora do Pregão Presencial n° 141/2011, não possuía
qualificação técnica-operacional para execução dos serviços
licitados;
v) O valor do serviço de coleta, transporte e destinação de resíduos de
serviços de saúde aumentou cerca de 750%, sem justificativa.
Ao analisar a documentação relativa ao Pregão Presencial em comento, no
que diz respeito às “restrições à competitividade e evidências explícitas de
direcionamento do processo licitatório” (item “i”, supra), a equipe da CGU
constatou, dentre tantas irregularidades:
a) o aviso do Edital nº 141/2011, publicado no DIO, em 20/12/2011, foi
republicado, em 21/12/2011 sem publicar em outros meios. Devido ao valor
que envolvia a contratação, a publicação deveria atender aos termos do
inciso I do art. 4° da Lei n° 10.520/02 e art. 37 da CF/88;
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b) que houve “cobrança indevida de taxa de fornecimento de edital superior
ao custo de sua reprodução gráfica”, houve a constatação por parte da
CGU de que a cobrança de R$ 55,29 (cinquenta e cinco reais e vinte e nove
centavos), referente a taxa de edital e protocolo se mostrou absurda, tendo
em vista que, com no caso, não houve “custo de utilização de tecnologia da
informação (mídia ou CD) e o número de páginas do Edital é de 31 páginas,
considerando-se todos os anexos e o custo de uma cópia reprográfica não
ultrapassa R$ 0,20/pg, automaticamente, o custo total da reprodução
gráfica, seria de: 31pág. x R$ 0,20/pág = R$ 6,20 (seis reais e vinte centavos);
c) que o Edital do Pregão Presencial nº 141/2011), elaborado pela Prefeitura
Municipal de Presidente Kennedy, exigiu como qualificação técnica, critério
ambiental que não possui permissão legal, sendo que tal exigência não se
inclui entre as permitidas pelo art. 30 da Lei nº 8.666/93. Além de constituir
limite à competitividade, contraria o princípio da legalidade insculpido no
art. 5 da CF/88; 36
d) Como o Pregão Presencial em tela direcionava-se à contratação de nove
itens, devidamente especificados e, em se tratando de licitação envolvendo
quase seis milhões de reais, uma vez não possibilitando a distribuição, em
lotes, do objeto constituindo, houve clara restrição à competitividade, ferindo
o art. 23, § 1º da Lei nº 8.666/93;
Constata-se também que a Administração Pública local publicou “edital do
pregão n° 141/2011 contendo cláusula questionada na justiça, como restritiva
ao caráter competitivo do certame” – Vide item “ii” supra:
Conforme apresentado pelos técnicos da CGU, o requerimento judicial
buscando a declaração de nulidade do Edital do Pregão nº 125/2011, teve
como mote a violação direta ao princípio da competitividade, na medida
em que as exigências contidas nas letras “a” e “b” do subitem 9.1.4.1 do
36 A cláusula em exame foi um dos motivos para que a empresa Vital Engenharia Ambiental
Ltda ajuizasse, ação cautelar com pedido liminar em razão de irregularidade na licitação.
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edital, exigindo a Licença de Operação de Aterro Sanitário Classe II, é de
responsabilidade de expedição pelo IEMA, exigência que configura restrição
à competitividade.
No que diz respeito ao item “iii”, supracitado, a análise da CGU constatou
que as “demonstrações financeiras indicam que o patrimônio líquido da
empresa era inferior a 10% do valor estimado para licitação”, senão
vejamos:
Analisando o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultado, referentes
ao exercício de 2010, apresentados pela empresa como documentos de
habilitação no Pregão Presencial nº 141/2011, a equipe técnica da CGU
verificou que o aumento de capital, supostamente realizado pela
EXCELÊNCIA em 22/03/2010, não ocorreu de fato como estabelecido na
alteração do contrato social.
Ademais, “o valor do capital social, em 31/12/2010, apresentado no Balanço
Patrimonial da empresa, era de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e não de R$
510.000,00 (quinhentos e dez mil reais) conforme consta da Primeira
Alteração Contratual, datada de 22/03/2010, e registrada na JUCEES em
28/08/2011. As demonstrações contábeis citadas foram assinadas pelo Sr.
José Roberto da Rocha Monteiro (CPF 016.953.597-55), sócio-administrador, e
pelo Sr. Maurílio Correia Santana (CPF 005.138.927-45), contador. Outro fato
que chama atenção, é que dos R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) de
aumento de capital social, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil) seriam
integralizados com 02 (dois) caminhões compactadores de lixo. No entanto,
de acordo com informações do Sistema REDE INFOSEG da Secretaria
Nacional de Segurança Pública - SENASP, obtidas em 08/03/2012, verificou-se
que a empresa possui em seu nome apenas um veículo tipo ônibus. Portanto,
diante do exposto, existem evidências de que o capital social da empresa
não era de R$ 730.000,00 (setecentos e trinta mil reais) na data de 21/12/2011,
o que inabilitaria a empresa no certame. Interessante observar que, no
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período entre 25/08 a 09/11 (cerca de 74 dias), o capital social da empresa
cresceu 7.200% (sete mil e trezentos por cento), passando de R$10.000,00 (dez
mil reais) para R$730.000,00 (setecentos e trinta mil reais) conforme
documentos registrados na JUCEES. O valor de R$ 730.000,00 (capital social
da empresa) corresponde quase que, exatamente, a 10% (dez por cento) do
valor estimado para a licitação, que foi de R$ 7.130.714,22 (sete milhões,
cento e trinta mil, setecentos e quatorze reais e vinte e dois centavos).”
Quanto ao item “iv”, indicado acima, é possível perceber que a “empresa
Excelência Representações e Serviços Ltda., vencedora do Pregão Presencial
n° 141/2011, não possuía qualificação técnica-operacional para execução
dos serviços licitados.” Vejamos:
O Relatório da CGU demonstra que a “empresa Excelência Representações
e Serviços Ltda., vencedora do Pregão Presencial n° 141/2011, “não
conseguiria comprovar aptidão para o desempenho de atividade
relacionada ao objeto do certame, visto que, de acordo com as
informações do Sistema GFIP WEB, não há registro de funcionários vinculados
à empresa no período entre dezembro/2009 (abertura da empresa) e
dezembro/2011 (mês imediatamente anterior à assinatura do Contrato n°
01/2012, firmado entre a empresa e o Município de Presidente Kennedy/ES).
Cabe salientar que grande parte dos serviços previstos no objeto do
certame, necessariamente, requer pessoal. Por ultimo, outra evidência da
falta de aptidão seria o fato de que, conforme registros na JUCEES, somente
em 28/08/2011, passou a constar do rol de atividades da empresa os serviços
objeto do Pregão Presencial n° 141/2011, de 20/12/2011.”
Por fim, constata-se também que o “valor do serviço de coleta, transporte e
destinação de resíduos de serviços de saúde aumentou cerca de 750%
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(setecentos e cinquenta por cento) sem justificativa.” Os técnicos da CGU
constata, portanto:
Que “a quantidade estimada de coleta de resíduos sólidos de saúde, entre
um contrato e outro, aumentou de 200 kg para 1.560 kg, praticamente, na
mesma proporção do aumento de valores. No entanto, no processo,
também não consta justificativa para esse aumento de estimativa. Cabe
salientar que, de acordo como informações constantes da base de dados
do DATASUS, o quantitativo de estabelecimentos de saúde no município de
Presidente Kennedy/ES diminuiu no período entre agosto de 2009 (data do
Contrato n° 175/09) e dezembro de 2011, passando de 09 (nove) para 08
(oito).”
Como se observa, a empresa EXCELÊNCIA foi devidamente preparada para
herdar o contrato de “coleta de lixo” da sua sucessora METAVIX. Veja que
referida sociedade empresarial não possuía, ao tempo da licitação, capital
social; capacidade técnica para execução do serviço contratado, conforme
exigência do edital; não há registro fiscal compatível com uma empresa
efetivamente em atividade. Sem falar que em conversa com a gerente do
BANESTES (Agência Presidente Kennedy), o sócio da empresa, José Roberto
Monteiro, faz a seguinte revelação:
Transcrição (índice 5356721):
RAQUEL: RODRIGO?
ROQUE: ROQUE!
RAQUEL: ROQUE, é RAQUEL do BANESTES, tudo bem?
ROQUE: Tudo bem RAQUEL, tudo bem querida?
RAQUEL: Vocês já estão em Vitória?
ROQUE: É, eu to em Vitória
RAQUEL: A folha de pagamento a gente faz a custo zero, pode
ser?
(...Falam sobre as vantagens e taxar que o Banestes vai cobrar e
assuntos diversos, a partir de 1:55 Roque começa a explicar)
ROQUE - O que está acontecendo na verdade, eu tinha uma
outra, eu tinha outra atividade no poder público, então a
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MINHA EMPRESA, EU TRABALHAVA ELA EM PRESTACAO DE
SERVIÇOS ... MAIS .... ASSIM .... EM REPRESENTAÇÃO DE
CONSÓRCIO, ERA BEM DEVAGAR, e eu recebia pela assembléia
era.. da assembléia até e tal,QUANDO DE NOVEMBRO PRA CÁ
QUE EU DEIXEI A ASSEMBÉIA E COMECEI A MOVIMENTAR ....
VAMOS DIZER ASSIM ... QUE EU COMECEI A ADEQUAR A EMPRESA
PRA PODER PARTICIPAR DE LICITAÇÕES, então, a partir dali, por
isso que essa empresa tem uma movimentação baixa, então a
pessoa física tinha de acordo com meu cargo na assembléia,
entendeu?
RAQUEL - Entendi
ROQUE - Eu não consegui detalhar muito naquele dia mas é em
resumo isso aí que eu to te passando
(Falam sobre a operacionalização da conta, limites de crédito e
facilitação para pagamento de funcionários)
Com efeito, denota-se do diálogo acima que ao tempo do processo
licitatório em apreço, a empresa EXCELÊNCIA não possuía a menor
capacidade (técnica, administrativa, econômica, etc.) para executar o
serviço para o qual foi contratada ao custo de quase seis milhões de reais
ano.
Sabendo que sairiam vencedores da licitação, os sócios beneficiados pela
fraude, ainda, no dia 31/01/2012, às 16hrs01min, já comemoram e tripudiam
da vitória, conforme diálogo interceptado com autorização judicial, conforme
demonstra o índice 5404756:
“Carlos comenta com Rodrigo que Paulo já quer passar na Toyota
e sair de Hillux. Carlos pergunta se vai dar 350. Rodrigo confirma e
diz que mais tarde passa melhor. Carlos diz que se der 360, 370 já
ajuda. Rodrigo diz que está indo pegar o secretário que quer lhe
entregar um ofício. Rodrigo diz que Carlos podia pegar com o
rapaz da CTRVV pra ele fechar o que tem e mandar ou, ainda,
entregar ao Roque para que ele traga amanhã. Continua e diz
que só falta isso, que depende dele, que está precisando da
tonelada da saúde, da tonelada do resíduo normal e do
transporte. Carlos pede que ele ligue direto e Rodrigo pergunta se
o celular é 98312795 ao que Carlos diz para que ligue no fixo.
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Carlos pergunta ao fundo, para Emanuela, qual é o telefone fixo
da CTRVV, lá do aterro do Marivaldo.”
A relação do Prefeito Reginaldo Quinta com o grupo econômico em
destaque é direta. Na verdade, o chefe do Executivo de Presidente Kennedy
e ora denunciado, possui domínio literal de todas as questões que envolvem
a empresa de seus amigos e os contratos com o município que administra.
Restou demonstrado no curso da investigação o livre acesso que o
empresário Roque tem junto ao Prefeito. Os diálogos abaixo transcritos
demonstram claramente essa relação:
(Transcrição - índice 5352789)
ROQUE: Oi tudo bom?
REGINALDO - Tudo bem, graças a Deus
ROQUE: O senhor tá na luta? Tá na prefeitura?
REGINALDO - Eu tô em casa
ROQUE:Ah, tá em casa. NA VERDADE EU TÔ DESCENCO, E QUERIA
SÓ TIRAR UMA DÚVIDA. SOBRE A PROGRAMAÇÃO DE HOJE, É UMA
PROGRAMAÇÃO DE HOJE DO ... QUE EU CONVERSEI COM O
SENHOR NA SEMANA PASSADA ... TÁ TUDO CERTO? TÁ TUDO OK?
REGINALDO: Oi?
ROQUE:Tá tudo ok a, a, o senhor que eu dê uma passada, eu
poderia dar uma passadinha rápida aí?
REGINALDO:Você tá aqui?
ROQUE:Tô, tô aqui, eu tô descendo e só queria tirar uma dúvida
contigo.
REGINALDO:Vem cá, passa aqui
ROQUE:É rapidinho, tá, eu vou passar aí, é rapidinho
REGINALDO:Na minha casa
ROQUE:Tá bom, tudo bem
José Roberto Monteiro, o Roque, utiliza sua influência junto ao Prefeito para
seus interesses na Prefeitura de Presidente Kennedy. O diálogo de índice
5572041, abaixo transcrito,demonstra bem essa relação. Veja que para liberar
o pagamento de sua empresa, Roque, no dia 08/03, conversa com a
servidora Suelen, que, por sua vez, informa que provavelmente não sairá a
tempo. Diante disso, Roque diz que irá ligar para o Prefeito. Veja:
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(Transcrição)
SUELEN: Oi
ROQUE: E aí SUELEN
SUELEN:Eu ia ligar pra você agora. Eu liguei lá pra dona NEUZA e
ela falou que o processo ainda está em fase de conferência, ela tá
conferindo ainda ...
ROQUE:É?
SUELEN:Provavelmente é capaz de não dar tempo de pagar pro
banco ainda hoje
ROQUE:É, DEIXA EU TENTAR ... INFELIZMENTE ... EU NÃO QUERIA FAZER
ISSO NÃO, MAS VOU TER QUE LIGAR PARA O PREFEITO ... então tá
bom ....
SUELEN:Tá bom, tá jóia
ROQUE:Obrigado, valeu
SUELEN:Por nada
Veja que posteriormente Roque liga para o Prefeito.
(Transcrição - índice 5573386)
REGINALDO: Oi
ROQUE: Oi, boa noite, tudo bom?
REGINALDO:Tudo bem e você?
ROQUE:Graças a Deus tudo em paz. Eu tô te ligando, você vai
estar aí no município amanhã de manhã?
REGINALDO - Vou
ROQUE:A, pra eu dar um pulo aí
REGINALDO:Você vai chegar que horas?
ROQUE:Ah eu devo chegar aí umas oito e meia nove horas no
máximo
REGINALDO:Ahã, É ALGUMA COISA, ALGUMA COISA?
ROQUE:NÃO ...NÃO ... TRANQUILO, SÓ EU VOU AÍ FAZER A FOLHA
AMANHÃ E SÓ QUERIA FALAR COM O SENHOR ...
REGINALDO:MAS AÍ FICA TUDO CERTINHO ..
ROQUE:TUDO CERTINHO ...
REGINALDO:Mas eu posso encontrar com o senhor as dez e meia
aqui?
ROQUE:Pode ser, dez e meia então
REGINALDO:Tá
ROQUE:Aí no, na, o senhor acha na prefeitura?
REGINALDO:Não, eu te ligo
ROQUE:Então tá, beleza
REGINALDO:Eu já marquei um horário aqui oito e meia
ROQUE:Certo
REGINALDO:Aí eu vou te atender, eu tento marcar mais cedo um
bucadinho porque daí quando você chegar aqui eu tô aqui
ROQUE:Ah beleza então, tá ótimo, dez e meia, dez horas, dez e
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meia eu tô chegando aí
REGINALDO:Então tá bom
ROQUE:Tá, obrigado, um abraço, boa noite
A inteligência da Polícia Federal constatou, a partir de conversas
interceptadas com autorização judicial, que no dia seguinte, 09/03, após um
encontro com o Prefeito (provavelmente ocorrido na casa da Secretária
Geovana Quinta), Roque liga para a sede da EXCELÊNCIA para confirmar a
liberação do pagamento. Nesta ligação ROQUE fala com CARLOS ZACHÉ
sobre “separar algo para uma menina que merece um prêmio”:
Transcrição índice 5577635:
MANUELA: Oi Roque
ROQUE: Oi Manu
MANUELA:Oi
ROQUE:Com cinco minutos aí, mais ou menos, eu já tô aqui na fila
do banco, pode fazer a questão dos tickets tá?
MANUELA:A tá, então fazer o cheque logo
ROQUE:É, outra coisa, vê pra mim aí aquela conta de vila velha
que nós abrimos agora a pouco tempo do Banestes pra mim ir
fazendo a transferência praí
MANUELA:Ah tá, o número da conta
ROQUE:Eu anotei ontem, só que tá com seu Carlinhos o talão de
cheque, eu anotei ontem mas acabei que, tá lá no carro
MANUELA:A sim, espera um bucadinho que eu vou pegar logo
ROQUE:Uhum
(Carlos pega o telefone)
CARLOS:Alô
ROQUE:Oi
CARLOS:Fala bichão
ROQUE:Você pega AQUELAS DUAS QUE VOCÊS SEPARAM AÍ e
deixam em cima da minha viu?
CARLOS:A, quais é?
ROQUE:A, a, a, a, a menida da...
CARLOS:Ah tá
ROQUE:Meu Deus do céu
CARLOS:Entendi
ROQUE:Ela merece um prêmio
CARLOS:Ela merece mesmo, pode ficar tranquilo, agora que eu
entendi...
(Em seguida ROQUE passa o número da conta bancária da
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EXCELÊNCIA. Carlos diz que já está na fila do Banco. Em seguida se
despedem)
Está aí, portanto, como se dá a rotina de ilicitudes desse grupo econômico,
formado pelos empresários JOSÉ ROBERTO DA ROCHA MONTEIRO, CARLOS
FERNANDO ZACHÉ, RODRIGO ZACHÉ e PAULO CESÁR SANTANA DE OLIVEIRA,
que, diga-se de passagem, se encontra muito bem estruturado, aparelhado e
dividido para o fim de usurpar verba pública. Por outro lado, veja tabém que
não há como negar a responsabilidade criminal dos integrantes da Comissão
de Licitação JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e
SILVIA FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE, do Chefe do Poder Executivo
REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO
BORGES BRANDÃO, e do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA
COSTALONGA e MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, em verdadeira formação
de quadrilha, pois atuam de forma articulada e em comunhão de desígnios,
na prática dos crimes sob investigação.
7. AS EMPRESAS MASTER PETRO E PULIZIE ITÁLIA
A empresa MASTER PETRO SERVIÇOS INDUSTRIAIS LTDA, inscrita no CNPJ nº
01.718.331/0001-24, possui sede localizada na Avenida Nossa Senhora da
Penha nº 699, salas 805, 808 a 815, no Bairro Santa Lúcia, Vitória – ES. Consta
como um dos sócios a pessoa de CLÁUDIO RIBEIRO BARROS37.
37 Importante registrar que a MASTER PETRO, através do inteligente, mas ardiloso sócio, Cláudio
Ribeiro Barros, já firmou vários outros contratos com setores do poder público como o Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), a Secretaria de Estado
de Segurança e Defesa Social (SESP), a Secretaria de Estado da Saúde (SESA), bem como
Superintendência de Polícia Federal.
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Cláudio Ribeiro Barros, por sua vez, é o sócio oculto e responsável de fato por
outra empresa: a PULIZIE ITÁLIA SERVIÇOS GERAIS LTDA, inscrita no CNPJ
07.437.034/0001-88, empresa que tem como sócias suas funcionárias
ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES e SABRINA DA SILVA TESCH.
Andressa Salomão e Sabrina Tesch possuem plena consciência não apenas
das ações ilícitas que decorrem da simulação do quadro societário da PULIZIE
ITÁLIA, mas também compõem o pool da deliquência organizada, não
apenas no Município de Presidente Kennedy, mas em outras cidades de nosso
Estado.
Durante as investigações da Operação “Lee Oswald” ficou caracterizado que
Alessandra Salomão e Sabrina Tesch, não obstante a condição de sócias da
PULIZIE ITÁLIA, são também funcionárias assalariadas da MASTER PETRO38,
situação que é notória não apenas para os integrantes da organização, mas
nos poderes públicos de uma forma geral. Á guisa de confirmação dessa
situação, acompanhemos o diálogo a seguir, registrado entre Cláudio Barros
e a sua funcionária Juliana de Paula, demonstrando que todos possuem pleno
domínio do fato.
(Dia 12/03. Índice 5592378)
(Transcrição: JULIANA DE PAULA comenta que SABRINA e
ALESSANDRA na PULIZIE e seus salários)
CLÁUDIO: Alô.
JULIANA DE PAULA: Você tá podendo falar?
CLÁUDIO: Eu tô pegando o meu carro, mas pode falar.
JULIANA DE PAULA: Nossa CLÁUDIO, que aperto que eu passei.
CLÁUDIO: Então péra ai, deixa eu só... Pode falar, pode falar.
JULIANA DE PAULA: Olha só. Do nada, do nada, eu tava aqui
sentada na frente do computador cadastrando os negócios aqui,
38 A título de maiores detalhes acerca da situação aqui apresentada, vide item 6.8.4 – O
Vínculo de Alessandra e Sabrina com a MASTER PETRO, contida na Representação Final
apresentada pelo Delegado Álvaro Fajardo.
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chegou SABRINA e ALESSANDRA. Entraram, abriram a porta...
Entraram né, normal, sentaram na minha frente, pediram pra eu
abrir a conta que elas queriam ver quanto tinha. Que a empresa
CLÁUDIO: Fizeram isso?!
JULIANA DE PAULA: Que a empresa está no nome delas.
CLÁUDIO: Então a partir de hoje vai sair.
JULIANA DE PAULA:E outra coisa, (ininteligível) falou que já
conversou com você, você fez um acordo com elas... Eu tô te
falando para você me dar a pinóia deste gravador e você não
me dá essa pôrra, pra você ouvir o que que elas falaram. Falaram
assim que pediram pra você, que você tem um acordo com elas
que todo o dinheiro que você passar para sua conta elas vão, elas
querem saber. Me perguntaram quanto que entrou da nota...
ALESSANDRA falou que ia puxar a nota no sistema pra ver qual é o
valor da nota, que ela tem a senha, sei lá o que... Enfim (áudio fica
mudo) ...da empresa. Aí eu fiquei desesperada, eu falei que só tem
duzentos mil na conta que é para pagar os funcionários. Elas
perguntaram "cadê o restante?". Eu falei: "SABRINA, ó, duzentos...
é, duzentos mil foi pra pagar o ônibus, que teve que comprar dois
ônibus para atender os funcionários lá. Tá tendo que pagar o
aluguel da filial.
CLÁUDIO: Não tinha que ter fala do nada! Tinha que ter falado vê
com o CLÁUDIO, a orientação que eu tenho é isso.
JULIANA DE PAULA: CLÁUDIO, você não tem noção! Elas queriam
que eu abrisse a conta, e eu não abri. Eu consegui contornar e
não abri a conta. A ALESSANDRA falou que ia descer na Caixa e ia
perguntar porque ela tem total poder, porque ela é dona da
empresa. E realmente se ela descer na Caixa, eles falam tudo pra
ela. Ai, disse que você falou que tava com problema na conta do
Banestes, mas sabia da Caixa, e blá, blá, blá... E querem o salário
delas por aqui e que a partir de hoje tudo que sair daqui, é para eu
ligar para elas na hora e falar quanto que tá saindo para a sua
conta.
CLÁUDIO: Então vamos fazer o seguinte. TERIA PROBLEMA BOTAR
NO SEU NOME?
JULIANA DE PAULA :Que que elas tem haver?
CLÁUDIO: Então botar no nome do... Você não porque você entrou
na outra. Botar em nome da TICIANA e no nome da mãe dela.
JULIANA DE PAULA: É, eu vou ver aqui com eles e te falo. Aí
perguntaram se as coisas estão sendo pagas, seu FGTS tava sendo
pago, se o INSS tá sendo pago, PORQUE VOCÊ (CLÁUDIO) TÁ
POUCO SE IMPORTANDO ... PORQUE NÃO TÁ NO SEU NOME, você tá
pouco se lixando, elas falaram. Eu falei: "Ó, tá tudo sendo pago,
inclusive este mês esse mês foi descontado trinta mil de ISS, o FGTS
agora que vai cair, porque a documentação dos funcionário
algumas estão pendentes e (ininteligível) pagou o INSS, tudo. Falei.
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Aí elas ficaram. E perguntaram quem é o advogado daqui
(PULIZIE), falei (ininteligível) CÉLIO. "Ah tá, porque arruma outro. Vê
com o seu contador tem outro para indicar. Porque tá lá,
MARIANA que é uma bosta. A gente pergunta quantos processos
tem ela fala que não sabe.".
CLÁUDIO: Quer dizer que elas chegaram com essa moral toda aí?
JULIANA DE PAULA: CLÁUDIO, entraram e sentaram na minha frente
que eu tranquei o meu cu de uma forma, que eu pensei assim:
Carácoles, se ela quiser olhar, ela não tem a senha da conta, mas
eu pensei, carácoles, se ela quiser ela pode ir lá e olhar. E diz que
tenta falar com você e você não atende. Aí elas ficaram
brincando, a ALESSANDRA falou bem assim: "É, porque tem horas
que, ou ele atende, naquela semana ele tá pra atender SABRINA,
uma semana ele tá pra me atender. Ele faz um joguinho de cão e
gato. Uma hora ele atende uma, uma hora ele atende outra". As
duas amicíssimas. Se você vem com aquela historinha, elas fazem
simulação na sua frente, seu besta quadrada. Simulam muito bem
na sua frente e você acredita que elas inimigazinhas. São amigas,
imortais. Aí eu peguei e falei o mínimo que eu podia falar. Falei que
eu estou cheia de trabalho, tô cheia de serviço, tô cheia de coisa
pra fazer. Ah tá. O ZEDILSON contou pra elas que o ônibus tá
caindo pedaço, que aquele ônibus não vale nem cem mil reais.
CLÁUDIO: ZEDILSON falar isso, deixa ele comprar então.
JULIANA DE PAULA: Aí eu falei bem assim: "SABRINA, eu não sei. Eu
penso que se uma Hilux é cento e vinte mil, um ônibus é muito
maior, não pode custar cem mil. Mas o CLÁUDIO teve todo o
trabalho de trocar o estofado do ônibus todo.". Porque o ZEDILSON
falou pra elas que o ônibus é velho, caindo aos pedaços, é um
desse tipo Transcol.
CLÁUDIO: É tipo Transcol mesmo, 2008.
JULIANA DE PAULA: Então, ele falou.
CLÁUDIO: Entra aí depois, você puxa aí pra mim. Ônibus LD.
JULIANA DE PAULA: E o ZEDILSON conta tudo pra SABRINA. Não, pra
SABRINA não. Pra ALESSANDRA ele conta. São muito amigos.
CLÁUDIO: Vou ligar para ZEDILSON.
JULIANA DE PAULA: Ah, você vai ligar e vai falar o que CLÁUDIO?
CLÁUDIO: Faz o seguinte. Se não for, sabe o que eu vou fazer? Vou
botar no meu nome, a partir de hoje.
JULIANA DE PAULA: Olha só, faz o seguinte. Não, nem comenta
nada com ZEDILSON, nem fala nada. E elas falaram que você vai
falar comigo que é pra fazer o pagamento delas hoje.
CLÁUDIO: Sim, mas deixa eu te falar. O seu, do ZEDILSON...
JULIANA DE PAULA: Tá, mas aí tá. O pagamento delas você tinha
fala do comigo que ia ser igual o do ZEDILSON.
CLÁUDIO: Sim, e vai ser.
JULIANA DE PAULA: Elas não vão ganhar mais CLÁUDIO?
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CLÁUDIO: Sim, mas vão cair. Não quero nem saber. O máximo que
eu posso botar é duzentos reais a mais, alguma coisa assim, mas
nada mais. Cabô, se quiser vai embora.
É importante informa também que no quadro societário das empresas de
Cláudio Barros já passaram sua atual companheira Ahija Manso Correa, a
pessoa de Romadson Pinheiro Brasil, mais um de seus funcionários, e sua
própria funcionária, JULIANA DE PAULA que compôs o quadro societário da
MASTER PETRO até o ano passado (vide item 6.8.4 da Representação Final).
Segundo apurado na Operação “Lee Oswald”, Cláudio Ribeiro Barros
gerencia concomitantemente as duas empresas: MASTER PETRO e PULIZIE
ITÁLIA. Com isso, transfere recursos de uma empresa para outra, simula
concorrência entre elas, registra empregado de uma em outra, sem qualquer
pejar, ou mesmo controle fiscal e administrativo.
Cumpre esclarecer que toda essa movimentação tem cunho estratégico,
visto que tem como escopo ajustar seus compromissos e frustrar indesejosos
bloqueios judiciais impostos à MASTER PETRO, empresa da qual figura como
sócio, face às reclamações trabalhistas contra ela ajuizadas. O diálogo
abaixo transcrito refle bem essa assertiva:
(Transcrição - índice 5373599) :CLÁUDIO trata sobre depósito de
69mil na conta da empresa e dá orientação sobre questões
salariais para MNI.)
MNI: Oi
CLÁUDIO: (ininteligível)
MNI: Entrou 69 mil na conta.
CLÁUDIO: Qual conta?
MNI: Do BANESTE. Tanto que o EURICO tem... O EURICO tá mais
atendo que vocês, hein?
CLÁUDIO: Não, porque
MNI: (ininteligível) nunca entrou. Eu olhei de manhã e não tinha
nada.
CLÁUDIO: Vê se entrou?
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MNI: É realmente. Deve...
CLÁUDIO: 69
MNI: Crédito de outro banco.
CLÁUDIO: Crédito de outro banco?
MNI: 69, 621.
CLÁUDIO: O dinheiro é da Polícia Federal.
MNI: Da Polícia Federal?
CLÁUDIO: Eu acho que é. tem (ininteligível)?
MNI: Não. Não é (ininteligível), tá crédito de outro banco.
CLÁUDIO: Ah, é Polícia Federal. Olha só. Pagar o FGTS da Polícia
Federal...
MNI: Um hum.
CLÁUDIO: (ininteligível) de pessoal, pagar o salário de EURICO...
MNI: Um hum. Tem outros salários do HSBC CLÁUDIO, você vai
pagar?
CLÁUDIO: Quantos, dá quanto? A gente paga tudo e fica
coisando ainda?
MNI: Oi? Não, especial é que tá sem folha de ponto, que a PAULA
foi passando...
CLÁUDIO: É muito?
MNI: Deve ser um 6, mais ou menos.
CLÁUDIO: Tá, manda 50 mil pra PULIZIE, fica com 19.
MNI: Tá.
CLÁUDIO: Destes 19, o que sobrar depois de você pagar FGTS, se
sobrar as coisas você passa pra mim. Ou pro Banestes ou..
transfere pra mim ou pro Banestes ou pro HSBC da minha conta
pessoal.
MNI: Tá, mais vai pagar o salário do HSBC ou não?
(seguem falando sobre pagamento de funcionários e FGTS, depois
voltam a tratar das transferências)
CLÁUDIO: Que amanhã deve entrar dinheiro eu vou pagar a
alimentação da Polícia Federal e do SESP.
MNI: Tá bom. Qualquer coisa eu te ligo.
CLÁUDIO: E vê se entra mais dinheiro hoje, que é capaz de entrar
mais.
MNI: Tá bom.
CLÁUDIO: E manda também dinheiro pra lá.
MNI: Oi?
CLÁUDIO: E manda o dinheiro pra, pra PULIZIE.
MNI: Tá, então tá bom.
Não bastasse isso, Cláudio Ribeiro Barros é velhaco quando o quesito é
engendrar mecanismos para captar recursos financeiros, sobretudo os
advindos da administração pública. Para tanto, valendo-se da estrutura de
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suas empresas e funcionários, usa toda sua solércia para enquadrá-las nas
simulações de concorrência pública, como quando ocorreu no Pregão
Presencial nº 144/2011, promovido pela Prefeitura de Presidente Kennedy e
adjudicado em favor da empresa PULIZIE ITÁLIA.
A fim de melhor ilustrar esse quadro veja o diálogo abaixo, interceptado no
dia 23/01, em que Cláudio Barros orienta Alessandra Salomão a auxiliar o
amigo “MARCELO”, interessado em contar com a participação de suas
empresas no certame citado acima (Pregão Presencial nº 144/2011).
(índice 5379809 - Transcrição a partir de 1min10seg.)
ALESSANDRA: É... O tal do chato lá do MARCELO, do chato. Aquele
que veio aqui aquela vez, lá dá "CLARÉ".
CLÁUDIO: Ah sei.
ALESSANDRA: Que queria que você fizesse a planilha pra ele,
aquele negócio todo.
CLÁUDIO: Hum.
ALESSANDRA: Ele tá analisando o edital da SERRA, aí me ligou pra
encher o raio da minha paciência, enchendo o saco porque no
edital não tem quantitativo de material, tem quantitativo de
(ininteligível)
CLÁUDIO: Ué, tem que fazer a visita pra fazer ora. Ele quer que eu...
(seguem falando sobre questões relacionadas à licitação e a
impertinência de MARCELO, que quer que ALESSANDRA faça tudo
por ele, em seguida CLÁUDIO retoma o assunto)
CLÁUDIO: Eu vou acabar montando minha consultoria de vez
mesmo, metê a mão no bolso destes caras.
ALESSANDRA: Ah, já que eles quê que faz isso tudo.
CLÁUDIO: Fico quebrando ganho, fico quebrando galho, de
(ininteligível), fazer amizade, pra na hora que a gente precisa ter
as coisas...
ALESSANDRA: Te pagaram?
CLÁUDIO: Não. Eu quero que pague, porque o serviço é meu.
ALESSANDRA: Ah, eu fico tentando ajudar, mas toda hora o cara
liga e pergunta alguma coisa. Eu vou responder pra ele
(ininteligível), meu filho faz visita, quer saber faz visita. Porque a
gente aqui já sabe o tamanho dos locais. Só que a gente tem que
bolar, tem que ver aqui. Eu posso perguntar o ZEDILSON aqui:
"ZEDILSON , quantidade de material que cabe em cada, cada
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um?".
CLÁUDIO: tô entrando no site da LGV, olha só, que coisa fácil de
você fazer. Fala pra ele entrar no site do governo do estado do
Espírito Santo, pegar uma pessoa com material e uma pessoa sem
material. A diferença é o material cotado.
ALESSANDRA: É ué. Naquela folhinha que eu tenho aqui.
CLÁUDIO: Tá mais (ininteligível) que inteligente aquilo ali.
ALESSANDRA: Eu falei com ele, falei: "Meu filho, olha só, é pela
metragem, não é? Então você calcula a quantidade.". "Ah, mas e
a (ininteligível) das pessoas, e quantidade... quantas pessoas vão
(ininteligível)?" Gente, é questão de dedução! Nem todo edital dá
uma, dá a quantidade...
CLÁUDIO: Tava bem claro pra ele. Quando coloca uma coisa
assim cada um utiliza a sua... Se você tem um tipo de máquina
que vai utilizar a mão-de-obra, você vai ter que colocar. Agora,
ele quer que até isso eu faça?
ALESSANDRA: É.
CLÁUDIO: Já vou fazer a licitação pra ele e ainda fazer isso?
ALESSANDRA: Mas ai tá, que é que vai ganhar isso?
CLÁUDIO: Ué, eu que vou saber?
ALESSANDRA: Não....
CLÁUDIO: EU VOU PARTICIPAR
ALESSANDRA: Não, entendi...
CLÁUDIO: EU VOU PARTICIPAR ...
ALESSANDRA: A questão é da gente tentar e da gente tentar fazer
força pra alguém ganhar?
CLÁUDIO: Eu vou participar se a PULIZIE tiver atestado. Porque se
eles não pedirem atestado pelo menos eu estou ali. Entendeu?
ALESSANDRA: Entendi.
CLÁUDIO: A MASTER PETRO eu vou também. Eu cedi minha vez pra
ele.
ALESSANDRA: Um hum.
CLÁUDIO: Na MASTER PETRO. Ensinei todos os segredos pra ele. Faz
assim, assim, assim. Porque a probabilidade de é alta de você
ganhar. Isso que eu falei com ele.
ALESSANDRA: Ué, então ele vai vir pra cá na segunda-feira pra ver.
CLÁUDIO: Agora, querer preço alto ele não vai conseguir de jeito
nenhum. Ele tem que ter um preço justo, pra ficar em quarto,
quinto lugar, tentar desclassificar a micro empresas...
ALESSANDRA: É, ele tá com medo das empresas entrarem. As
empresas menores entrarem com quantitativo de material errado,
com preço menor. Mas isso vai acontecer...
CLÁUDIO: Pra isso tem o artigo 44 dizendo de preço inexeqüível,
desde que ele demonstre...
ALESSANDRA: Ele ficou bravo comigo, porque ele começou a
reclamar, mas eu falei: " Na página 41 e 42 tem a (ininteligível) de
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material.". "Mas não tem quantidade filha!" Eu falei: "Então você
impugna o edital!".
CLÁUDIO: Não pode mais ter quantidade. A IN 3 não permite mais
ter quantidade.
ALESSANDRA: Eu falei. É metragem quadrada.
CLÁUDIO: Muito folgado.
ALESSANDRA: Ele tá achando que... "Ah, mas você sabe do que
você tá falando?". Eu sei MARCELO, do que eu estou falando. O
que eu estou falando é questão de dedução no bom sentido!
Você sabe a quantidade de funcionário que tem, não sabe.
Porque ai também nã tem. É metragem quadrada, não pode
colocar mais. A empresa que tem que ver no qual, no que que ela
vai arcar. "Ah mais..." Eu falei: "Então tá, depois te ligo.".
CLÁUDIO: Nem, nem perde tempo. Quer fazer certo, a gente vai
fazer. Agora, quer cheio de picuinhazinha, aí não da pra fazer
não, porque depois vai ficar enchendo o saco ainda por causa de
2 mil reais, 3 mil reais, vai ficar enchendo o saco da gente. "Ah, não
sei o que. Vocês orientaram errado." Orientaram errado...
ALESSANDRA: Aqui, quem foi que... como que... O PC tá me
ligando. as vezes ele vai me pergunta alguma coisa sobre aquele
negócio. Falar que a gente não conseguiu inserir não?
CLÁUDIO: Não! Fala com ele que a coisa não é tão fácil assim não.
ALESSANDRA: Porque a gente tava pra fazer (ininteligível), era hoje
de manhã.
CLÁUDIO: Não. Não adianta. Fala que não conseguimos. Vai ficar
melhor.
ALESSANDRA: Um hum.
(Se despedem)
Antes de passarmos à análise do Pregão Presencial nº 144/2011, é importante
frisar que Cláudio Ribeiro Barros está ligado aos grandes contratos firmados
pela Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy. Evidentemente que isso não
ocorreu apenas no Certame em destaque.
Além disso, a ralação entre Cláudio Barros e o Prefeito Reginaldo Quinta, teve
início quando da participação das empresas MASTER PETRO e PULIZIE ITÁLIA
nos processos licitatórios promovidos pela Prefeitura de Presidente Kennedy.
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Segundo a investigação, Cláudio Barros foi introduzido em Presidente Kennedy
por Constâncio Borges Brandão e somente conheceu o Prefeito no dia 17/01,
portanto, no dia da assinatura do contrato vencido pela PULIZIE ITÁLIA, fato
que evidencia, ainda mais, que Reginaldo Quinta proporcionou à Cláudio
Barros a vitória no contrato de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais),
vencido por sua empresa.
Contudo, como moeda de troca, todo esse esquema teria a contrapartida: a
atuação de Cláudio Barros junto ao Tribunal de Contas, Ministério Público,
Poder Judiciário e/ou em qualquer lugar onde mais o Prefeito viesse a ter
problemas a resolver.
Por fim, apenas a título de informação, a equipe de inteligência da Polícia
Federal verificou no site do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB que Cláudio
Ribeiro Barros é membro de sua Comissão Provisória Estadual. Ocorre que o
PTB é, coincidentemente, o partido político ao qual está filiado o Prefeito
Reginaldo dos Santos Quinta.
7.1 – O PREGÃO PRESENCIAL Nº 144/2011
A Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy, em novembro de 2011, através
do processo nº 019929/2011, publicou Aviso de Pregão Presencial nº 144/2011,
no Diário Oficial do Estado - ES em 30/12/2011, para o fim de “contratação de
empresa especializada para execução dos serviços de apoio administrativo
às atividades rurais e operacionais e conservação e limpeza predial, para
atuação em campo e nas secretarias componentes da prefeitura municipal
de Presidente Kennedy-ES.”
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O valor do contrato, por 12 (doze) meses, foi anunciado no valor de R$
19.093.088,00,00 (dezenove milhões, noventa e três mil e oitenta e oito reais),
com data de abertura de propostas para o dia 13/01/2012.
Para tanto, o Executivo local promoveu cotações de preço com as empresas
Globo Prestação de Serviços de Limpeza Ltda, Pulizie Itália Serviços Gerais
Ltda e Master Petro Serviços Industriais Ltda.
Conforme ata de julgamento, do dia 13/01/2012, participaram do pregão
apenas as empresas Master Petro Serviços Industriais Ltda e Pulizie Italia
Serviços Gerais Ltda-ME, que sagrou-se vencedora com a proposta no valor
de R$ 18.239.999,76 (dezoito milhões, duzentos e trinta e nove mil, novecentos
e noventa e nove reais e setenta e seis centavos).
Mais uma vez trata-se de licitação devidamente preparada e direcionada
para que uma das empresas de Cláudio Barros lograsse êxito, como de fato
ocorreu. Analisada a documentação pela equipe técnica da CGU, foram
constatadas as seguintes irregularidades:
i) Restrição ao princípio da publicidade e à divulgação do aviso de
edital: o aviso do Edital foi publicado somente no Diário Oficial do
Estado (DIO/ES). Devido ao valor apresentado na licitação, a
publicação em outros veículos é necessária, nos termos do art. 4° da
Lei n° 10.520/02. O edital deveria ter sido publicado, no mínimo, em
jornal de circulação local;
ii) Cobrança indevida de taxa de fornecimento de edital: para a
retirada do Edital o Executivo local cobrava um taxa no valor de R$
55,29 (cinquenta e cinco reais e vinte e nove centavos) – Item 1.6. A
par de restringir a competitividade, tal cobrança se mostrou excessiva
levando-se em conta que: não há custo de utilização de tecnologia
da informação (mídia ou CD) e o número de páginas do Edital é de
cerca de 42. Considerando-se todos os anexos e o custo de uma
cópia reprográfica não ultrapassar R$ 0,20/pág, podemos notar que
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o custo total da reprodução gráfica, portanto, seria na ordem de 42
pág. x R$ 0,20/pág = R$ 8,40 (oito reais e quarenta centavos);
iii) Restrição à apresentação de recursos: ao arrepio da lei, o Edital
estabelece restrição para apresentação de recursos, além de não
empreender a devida publicidade na divulgação do aviso do edital;
iv) Sobrepreço de 81%: O Edital em exame estabelece no Anexo I -
Termo de Referência, as características dos serviços a serem
prestados, dividindo-os, de forma geral, em: serviço de limpeza,
serviço de apoio rural e serviço operacional, administrativo ou
operativo. Já o anexo II do Termo de Referência: Projeto Básico –
Quantitativo dos Postos, define a descrição do posto, o salário base,
as horas semanais e os postos. Veja que não há uma definição
precisa sobre qual posto fará cada tipo de serviço, assim como não
há referências para a definição do escalonamento de salários
denominado Apoio Operc./Adm/Rural Níveis I a IV. Da análise das
tabelas acostadas ao Edital, verificou-se que o salário-base,
registrado na convenção coletiva, de funções similares às contidas
no edital varia de R$ 585,00, no mínimo, a R$ 1.134,90, no máximo.
Considerando-se o quadro apresentado pela empresa vencedora,
observa-se claramente que houve sobrepreço na ordem de,
aproximadamente, R$ 8.157.424,64. Segundo a análise dos técnicos
da CGU, o valor real do contrato deveria R$ 10.082.575,12. O
sobrepreço é de 81%;
v) Fraude, apropriação indébita e pagamentos indevidos: examinando
as GFIP´S únicas da empresa vencedora, os técnicos da CGU
constataram que “em dezembro/2011, a empresa possuía 17
empregados regularmente registrados; em Janeiro/2012, 18; e em
Fevereiro/2012, 316. Portanto, pode-se supor que a empresa
contratou empregados em número suficiente para atender a
Prefeitura de Presidente Kennedy após a assinatura do contrato em
tela. Todavia, o número de contratados estipulado no edital é de
351.” Com isso, a PULIZIE ITÁLIA vem recebendo, de forma indevida,
por 35 (trinta e cinco) empregados que não constam em seu quadro.
Denota-se, por fim, que analisando a “GFIP Única de Fevereiro/2012,
observa-se que os salários-base pagos aos empregados variam de R$
536,67, no mínimo, a R$ 2.300,00, no máximo. Estes valores estão
aquém dos salários-base estipulados em edital, declarados em sua
proposta e firmados com a Prefeitura, que variam de R$ 700,00 a R$
3.000,00. Além de se constituírem em pagamentos indevidos por parte
da Prefeitura, geram também apropriação indébita por parte da
empresa, uma vez que os valores pagos contratualmente pela
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Prefeitura à empresa englobam todos os recolhimentos devidos de
encargos sociais, trabalhistas e previdenciários, calculados sobre os
salários-base que variam de R$ 700,00 a R$ 3.000,00.”;
vi) Vínculos entre empresas participantes do certame: como já visto
acima, as empresas MASTER PETRO e PULIZIE ITÁLIA caminham juntas
nas ilicitudes perpetradas a partir do seu sócio Cláudio Barros. Esse e
as pessoas de Alessandra Salomão, Sabrina Tesch e Juliana de Paula,
transitam ou já transitaram nos quadros sociais das referidas
empresas, conforme apontado pele equipe técnica da CGU. Todo
esse vínculo existente entre as empresas e as pessoas físicas,
contribuem, sobremaneira, para frustrar caráter competitivo de
certames. Porém, segundo constatado pela CGU, as “sócias” da
PULIZIE ITALIA, em 13/12/2011, alteraram o capital social para R$
1.250.000,00, integralizado em moeda corrente. Ocorre que o valor
mínimo de capital social integralizado para habilitação no Pregão em
tela, estipulado no edital, era de R$ 1.200.000,00. O curioso foi que a
sócia Alessandra Salomão integralizou, sozinha, em moeda corrente,
o capital de R$ 1.000.000,00, sendo certo que, sua condição
econômico-financeira não permite tal façanha;
vii) Ausência de exigência de comprovação de aptidão: conforme
estabelece o artigo 30, da Lei 8.666/93, para serviços como o
requisitado no Edital, é exigida a comprovação de aptidão para
desempenho de atividade pertinente e compatível, por meio de
atestados, o que não se vislumbra no Edital. Conforme apurado, a
empresa PULIZIE ITALIA apresentou atestado, fornecido pela empresa
Insepa – Indústria Serrana de Papel, sem data, assinado por Eduardo
Dias Martins, onde atesta que foi “prestado contrato em 10 Março de
2009, com duração de 12 meses”, oportunidade em que foram
disponibilizados 43 Trabalhadores Rurais, 01 Engenheiro Agrônomo e
02 Auxiliar de Serviços Gerais. Ocorre que em consulta às GFIP‟s
Únicas, os técnicos da CGU constataram que “não existe registro de
empregados formalmente contratados pela mesma, no período de
vigência do contrato citado. Este fato indica que, caso os serviços
tenham sido de fato prestados, não o foram por pessoas com vínculo
empregatício com a empresa Pulizie Italia”;
7.1.2 – A fraude no Pregão Nº 144/2011
A situação das licitações na Prefeitura de Presidente Kennedy é tão
achincalhada que chega a causar revolta, não apenas na sociedade, mas
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nas autoridades públicas. Permita-nos transcrever, na íntegra, toda a
indignação demonstrada pelo o ilustre Delegado Álvaro Fajardo na
Representação Final, sobre a fraude no Pregão nº 144/2011:
“Pois bem, o Pregão Presencial foi realizado no dia 13/01, com a
presença apenas das empresas MASTER PETRO e PULIZIE ITÁLIA,
representadas, respectivamente, por CLÁUDIO RIBEIRO BARROS e
JULIANA DE PAULA. No referido evento CLÁUDIO, JULIANA DE
PAULA e o Pregoeiro JOVANE CABRAL, simulam um leilão entre as
duas empresas e após 79 rodadas realizadas a empresa PULIZIE
ITÁLIA é declarada vencedora do certame com o lance de R$
18.239.999,76 (dezoito milhões, duzentos e trina e nove mil,
novecentos e noventa e nove reais e setenta e seis centavos).
Registre-se, a MASTER PETRO ficou em segundo lugar com a incrível
diferença de R$ 0,12 (doze centavos). ISTO É UM ESCÁRNIO!”
“Importa destacar o nome e a assinatura ALESSANDRA SALOMÃO
RODRIGUES, formalmente proprietária da empresa vencedora,
como testemunha no Contrato Social da “concorrente” MASTER
PETRO, sem que isso tenha causado qualquer questionamento por
parte dos integrantes do Poder Público local. (fl. 0169 do processo
019929/2011). Outro aspecto que merece ser destacado e que
sinaliza para a Comissão de Licitação a possibilidade de conluio
entre as empresas concorrentes e que deve ser objeto de
questionamentos pela comissão é a coincidência a presença de
um único contador para as duas empresas. No vertente caso,
conforme demonstram os documentos encartados no referido
processo licitatório, o responsável pela contabilidade de ambas as
empresas é o nacional EURICO CORRÊA DE MORAES, CRC 16027-
ES.”
Na oportunidade da assinatura do contrato com a empresa vencedora, as
investigações constataram que Cláudio Barros e Juliana de Paula vão juntos
para assinar o contrato da PULIZIE ITÁLIA, o que se vislumbra claramente a
condição de Cláudio Barros como proprietário das duas empresas. As
conversas abaixo descritas, compõem o quadro de ilicitudes que a todos era
plenamente conhecido.
No dia 16/01/2012, após o resultado do pregão e a homologação
pelo Prefeito, Cláudio liga para Juliana de Paula e combinam de
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seguirem juntos para Presidente Kennedy no dia seguinte com o
propósito de assinarem o contrato, situação que de fato ocorreu.
(Transcrição - índice 5350091)
CLÁUDIO: Oi JULIANA
JULIANA DE PAULA: Ei. Alô?
CLÁUDIO: Oi, pode falar
JULIANA DE PAULA: Deixa eu te fa... Tem algum problema, é... se eu
for de uniforme amanhã, fica muito feio?
CLÁUDIO: Não fica não.
JULIANA DE PAULA: Ou preferível ir de roupa para não chamar
muita atenção.
CLÁUDIO: Vai de uniforme mesmo.
JULIANA DE PAULA: Ué, você que sabe.
CLÁUDIO: Deixa eu te falar.. Foi você que... O nome que tá lá é
você mesmo né?
JULIANA DE PAULA: O nome que tá lá é. Porque, você não quer
que seja?
CLÁUDIO: Não. Já pensou chegar lá e não for?
JULIANA DE PAULA: Eu vou confirma na empresa que eu vou voltar
lá daqui a pouco. Eu vou confirmar... Eu vou confirmar e amanhã
cedo eu te falo, mas...
CLÁUDIO: Tem que ir um pouquinho mais cedo.
JULIANA DE PAULA: Tudo que eu fiz, e tudo que eu faço eu ponho
no meu nome. Todos os contratos eu coloco pra eu assinar, porque
a ALESSANDRA tem uma má vontade do cão! Ai...
CLÁUDIO: (ininteligível) que foi você que colocou. Por isso que eu
tô perguntando
JULIANA DE PAULA: Sim, porque tudo que eu posso tirar dela, de
não colocar o nome dela, porque ela tem uma má vontade do
caramba! Tudo que eu posso evitar de ter que pedir favor a ela eu
faço e coloco no meu nome.
CLÁUDIO: Entendi.
JULIANA DE PAULA: Todos os contratos sou eu que assino. Então por
isso que eu tô achando que eu coloquei os meus dados. Eu
coloquei lá os meus dados sendo autorizado a assinar. Tem quase
certeza que é eu.
CLÁUDIO: Então tá beleza.
JULIANA DE PAULA: Tem meu nome e meu cpf, (ininteligível) que
ela que autorizou, eu mesmo que me autorizei assinar... Sei lá!
CLÁUDIO: Acho que foi ela que autorizou primeiro, porque ela que
tem que autorizar.
JULIANA DE PAULA: É se não foi ela, foi eu que autorizei, porque eu
posso... eu autorizo pra até eu assinar. Ou não tinha autorização
não. Não tinha que autorizar. Você tinha que colocar o, incluir os
dados de quem ia assinar o contrato e acabou! Ai eu mesmo que
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assinava, não tinha que autorizar não. Só que a pessoa que iria
assinar tem que tem poderes pra isso. Entendeu? Mas eu confiro
direitinho e te falo.
CLÁUDIO: Ah, gozado. Pensei agora, ia te ligar pra perguntar isso.
Ai você me ligou.
JULIANA DE PAULA: Pois é, eu vou olhar. Eu vou voltar lá na
empresa, eu só vou olhar um negócio agora.
CLÁUDIO: Não pode ser amanhã, olha amanhã.
JULIANA DE PAULA: Pois é, ai eu falo então. Pensei que você não
tava querendo que eu fosse. Preferia viajar com a ALESSANDRA.
CLÁUDIO: Você tem cada uma hein?
JULIANA DE PAULA: Eu prometo ir calada daqui lá.
...
Um dia após, (17/01) Cláudio Barros combina de apanhar Juliana
de Paula e juntos seguirem para Presidente Kennedy, alertando
sobre o horário que deveriam chegar ao município para assinatura
do contrato.
(Transcrição - índice 5351216)
CLÁUDIO: Oi JULIANA.
JULIANA DE PAULA: Ei. Deixa eu te perguntar. Você pretende sair
daqui que horas?
CLÁUDIO: Agora!
JULIANA DE PAULA: É, agora não. Tô no ministério do trabalho
ainda.
CLÁUDIO: Ainda?
JULIANA DE PAULA: Tô.
CLÁUDIO: Eu vou ficar te esperando ai na porta então. Vou
abastecer o carro (ininteligível) porque eu tô com medo. Primeiro
que eu não viajo a noite. Segundo porque tem horário lá.
JULIANA DE PAULA: Que horas que tem que tá lá?
CLÁUDIO: Tem que tá antes das 4 lá!
JULIANA DE PAULA: Meu Deus do Céu.
CLÁUDIO: Por que? O pessoal não te atendeu ainda?
JULIANA DE PAULA: Tá atendendo, só que tá liberando a certidão.
CLÁUDIO: Ah é, tá liberando já?
JULIANA DE PAULA: (ininteligível) só que eu não sei quanto tempo
mais vai demorar. Ela pediu pra aguardar.
CLÁUDIO: Então vai aguardando ai. O carro de CADU tá ai ou tá
(ininteligível)
JULIANA DE PAULA: Tá aqui, só que eu queria deixar o carro em
casa e eu tenho que ir em casa também.
CLÁUDIO: Pra quê?
JULIANA DE PAULA: Ai, ai. Porque eu tenho que ir né CLÁUDIO.
CLÁUDIO: Que é rápido lá. A gente sai daqui num pé e chega no
outro.
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JULIANA DE PAULA: Gente do céu. O problema é viajar a noite? Eu
tomo alguma coisa, eu vim chorando de lá até aqui, que é muito
pior. Que horas tem que tá lá.
CLÁUDIO: Antes de 4, por causa da certificação.
JULIANA DE PAULA: Não mas (ininteligível), são 10 horas da manhã
agora. Vou fazer o seguinte, eu saindo daqui eu te ligo, eu já saio
daqui vou direto em casa e de casa você passa lá e me pega. Eu
pensei que você ia ficar na sua casa, ai ele ia passar lá na
empresa e ia me pegar, ai eu ia pedir pra invés de você passar na
empresa, me pegar em casa, porque o carro de CADU
(ininteligível) é ali do lado.
CLÁUDIO: Tá. ....
(Tratam sobre outros assuntos)
Conforme retratado não apenas nesse diálogo, mas no decorres das
investigações, Juliana de Paula é pessoa de extrema confiança de Cláudio
Barros. Braço direito do “patrão”, Juliana de Paula, Cláudio Barros deposita
plena confiança na condução, porém não na administração da empresa
PULIZIE ITÁLIA. Assim, é de Juliana de Paula a responsabilidade da
contratação de mão de obra humana para ocupar as vagas abertas a partir
do Contrato oriundo do Pregão nº 144/2011.
Evidenciou-se também que a contratação da PULIZIE ITÁLIA veio em boa hora
para burlar o TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – TAC, firmado entre a
Prefeitura Municipal de Presidente Kennedy e o Ministério Público do Estado
do Espírito Santo, que previa a exoneração dos ocupantes de cargos
comissionados da estrutura administrativa do Executivo local. Evidentemente
que o objetivo pricipal seria de o Prefeito, Reginaldo Quinta, manter o seu
curral eleitoral com distribuição de empregos ao seu eleitorado.
Como se daria isso então? Através da PULIZIE ITÁLIA.
Na verdade o Prefeito, Reginaldo Quinta, através de ajuste com empresários
e após exonerar os funcionários da Prefeitura de Presidente Kennedy,
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atendendo ao TAC firmado com o MPES, realocou os demissionados nas
empresas contratadas, e uma delas foi a PULIZIE ITÁLIA.
Não foi possível, até por questões estratégicas, obter a lista de todos os
funcionários exonerados, mas as interceptações telefônicas apontam
algumas delas que, uma vez exoneradas da Prefeitura, foram recontratadas
pela PULIZIE ITÁLIA, dentre elas: BRUNA MENGAL GALVAO, ADGARD JOSE DA
SILVA ARRUDA, GUSTAVO FERNANDES FELIX. ISABELA NOGUEIRA ARAGON, LUIZ
CLÁUDIO PIANES COELHO, CLEITON DE CASTRO RODRIGUES, SARA MARVILA
PEREIRA, DARCY RODRIGUES TEIXEIRA NETO e BRUNO CICILIOTI JORDÃO.
Mas a fraude não fica por aí. A Secretária de Administração daquela
municipalidade, Juliana Fontão, gestora do contrato em apreço, pessoa
indicada pelo Prefeito Reginaldo Quinta para coordenar as indicações dos
nomes à PULIZIE ITÁLIA, ficou responsável por “centralizar os pedidos e
preparar as listas com os nomes das pessoas para preenchimento de 339 das
351 vagas, sempre, sob o controle e avaliação de REGINALDO. As 22 vagas
restantes foram destinadas às indicações e CONSTÂNCIO, com 10 vagas, e
CLÁUDIO, com 12. A forma de ocupação dos postos estaria limitada ao valor
de 10 mil reais, como veremos nos diálogos a seguir.”39
Através de inteceptação de diálogo telefônico mantido entre Juliana de
Paula e Cláudio Barros (dia 19/01), ou seja, apenas dois dias após a
adjudicação do contrato, Juliana de Paula aguarda a lista a ser fornecida
pela Secretária Municipal de Administração Juliana Fontão para dar início às
contratações. Acompanhemos o diálogo abaixo transcrito.
(índice 535947 - Transcrição a partir de 2min28seg)
39 Dados retirados da Representação Final do Delegado Álvaro Fajardo.
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JULIANA DE PAULA: Pois é. E voltando ao assunto, como que eu vou
pegar essa listagem com a menina CLÁUDIO? Eu queria que ele
me passasse, por exemplo, eu queria entrar em contato com ela
hoje pra ela pegar isso até amanhã e me passar pra segunda-feira
já...
CLÁUDIO: Pode ligar pra ela e falar com ela: "JULIANA..."
JULIANA DE PAULA: É isso que eu não sei.
CLÁUDIO: Eu queria que você pegasse já as carteiras do pessoal
que já vão.. Terça-feira eu tô ai.
JULIANA DE PAULA: Na verdade eu não peço só da carteira né. Eu
preciso de toda a relação de documentos. Ai por isso, eu ir pegar
a relação de documentos, com o nome da firma (ininteligível)
falando aonde eles vão fazer exame admissional, mandar pro e-
mail dela, pra ela passar pra cada um. Só que aí ela vai ter que
imprimir vai ficar ruim, entendeu? Seria bom que ela me mandasse
a listagem com o nome do pessoal e marcasse com cada um na
Terça-feira lá. Terça-feira eu chegava, entrega pra eles, o que
tava faltando, por exemplo, pelos menos marcar com um pouco,
eu ia entregava na mão dela e eles iam indo lá de acordo com sei
lá o que e entregava esses documentos.
CLÁUDIO: Pode ser também
JULIANA DE PAULA: Pois é. Só que eu tenho medo que ela não
atende... É, ela não fala no telefone né? COMO QUE EU VOU FALAR
NO TELEFONE?
CLÁUDIO: NÃO ... ISSO AÍ PODE FALAR. ACHO QUE NÃO A TEM
NADA A VER NÃO ...
JULIANA DE PAULA: Hã. Pode falar o que? Que eu tenho até medo.
CLÁUDIO: Não, fala: "Ó JULIANA, é... Você tem a listagem das
pessoas que vão tá no contrato?". E eu tenho que passar ai ainda
pra fazer a adequação da planilha né?
JULIANA DE PAULA: Fala isso com ela?
CLÁUDIO: Não eu que vou fazer.
JULIANA DE PAULA: Ah tá, pensei que tava gozando
CLÁUDIO: Só que eu tô com reunião em cima de reunião.
JULIANA DE PAULA: Ah, tá. Eu tô
CLÁUDIO: Reunião.. Em algum momento eu faço. Eu passei ai
agora!
JULIANA DE PAULA: Pedir a listagem pra ela então, no caso é 351
menos 12 seu né?
CLÁUDIO: MENOS 12 MEU E 10 DE OUTRA PESSOA.
JULIANA DE PAULA: Que outra pessoa? Oi?
CLÁUDIO: Oi!
JULIANA DE PAULA: 10 de quem?
CLÁUDIO: Oi?
JULIANA DE PAULA: 10 de quem?
CLÁUDIO: Não entendi nada.
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JULIANA DE PAULA: 10 de... 10 de quem?
CLÁUDIO: EU TE FALO PESSOALMENTE ...
JULIANA DE PAULA: 12 CLÁUDIO...
CLÁUDIO: 10 de alguém.
JULIANA DE PAULA: Ah tá, mas é daqui, de lá...
CLÁUDIO: Eu falo com você pessoalmente curiosa!
JULIANA DE PAULA: Deus, então vou colocar aqui 10 de outra
pessoa. Mas isso elas... Eles estão sabendo?
CLÁUDIO: Não.
JULIANA DE PAULA: Depois você me fala o nome da outra pessoa.
E parece que a coisa não tem fim. Outros diálogos demonstram uma nova
cara da corrupção no cenário capixaba: o chamado rachid municipal. De
plano é possível observar nas interceptações que os interlocutores tratam os
cargos (postos de trabalho) negociados, não pelo serviço ou especificidade
profissional, mas pelo salário, numa clara demonstração do que realmente é
valorizado. Vide índice 5424073, abaixo colacionado:
(Transcrição)
JULIANA DE PAULA: JULIANA pediu pra te perguntar quantas vagas
que é pra separar pra CONSTÂNCIO?
CLÁUDIO: As de CONSTÂNCIO são as 10 deles.
JULIANA DE PAULA: 10. Mas 10...
CLÁUDIO: Só que foi trocado porque ele... É um do assessor dele,
um da THAIS... ELE PEDIU 3 MIL ... MAS O PREFEITO FALOU QUE VAI
DAR 2.500!
JULIANA DE PAULA: Tá, então vamos lá que eu vou anotar aqui no
papelzinho. Ele tem 10 vagas...
CLÁUDIO: É, só que (ininteligível) AS 10 POR 5 ... 5 DE 2 ... EU TENHO
QUE DÁ 10, É 10 MIL REAIS ...
JULIANA DE PAULA: Tá então ele trocou as 10 vagas dele lá por 5
vagas...
CLÁUDIO: Que dá num total de 2 mil que dá 10 mil reais.
JULIANA DE PAULA: Tá mas 5 vagas no valor de quanto? de 2 e
500?
CLÁUDIO: Não, aí você vai tirar... DO VALOR QUE ELE TEM VOCÊ
VVAI TIRAR 6 MIL REAIS ... QUE É A DO ASSESSOR DELE ...
JULIANA DE PAULA: O assessor dele vai ficar com 2 e 500.
CLÁUDIO: NÃO O PREFEITO FALOU, MAS ELE FALOU QUE É 3 ... ELE
VAI CONVERSAR COM O PREFEITO ...
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JULIANA DE PAULA: Ele queria 3 mil, mas o PREFEITO falou que vai
dar 2 e 500...
CLÁUDIO: É, mas aí ele falou que vai conversar com o PREFEITO.
JULIANA DE PAULA: Eu acho que é 2 mil o assessor dele.
CLÁUDIO: Então. Ai se for 2 mil, a soma dos valores dele tem que
dá 10 mil.
JULIANA DE PAULA: A soma do valor das vagas dele tem que dá
10mil.
CLÁUDIO: É.
JULIANA DE PAULA: Não importa o se a gente der 1 vaga de 10 mil
né? É um exemplo. A soma da vagas dele tem que dá 10 mil.
CLÁUDIO: É, mas aí você tem que debitar o valor da THAIS mais o
valor do... De alguém ai.
JULIANA DE PAULA: Tá o valor da THAIS mais o valor de mais
alguém. Só a THAIS comeu 3! Então ele tem direito a vagas até de
7...
CLÁUDIO: Do assessor dele.
JULIANA DE PAULA: O assessor dele acho que vai ganhar 2, de
acordo com o que a JULIANA colocou...
CLÁUDIO: 5.
JULIANA DE PAULA: Então 5 mil. Aí esse 5 mil pode dar por
exemplo...
CLÁUDIO: Falta mais 5 agora.
JULIANA DE PAULA: Falta mais 5, então divide esse 5 mil em 2 vagas
de... Põe 2 de... Ai vai ficar mais, 2 de 2 mil... A mais não. Pera aí
então, perá ai.
(... JULIANA e CLÁUDIO continuam conversando sobre maneiras
de preencher o restante das vagas de CONSTÂNCIO e demais
dúvidas levantadas pela Secretária de Administração. A partir de
2min43seg)
CLÁUDIO: Bota duas de 2 mil e pronto. Vou falar com ele
JULIANA DE PAULA: Duas de 2 mil e pronto!
CLÁUDIO: É, tá pegando o boi.
JULIANA DE PAULA: Então tá fechadíssimo. Duas de 2 mil falta pra
ele só.
CLÁUDIO: (ininteligível) CONSTÂNCIO.
JULIANA DE PAULA: CONSTÂNCIO...
CLÁUDIO: 2 de dois mil.
JULIANA DE PAULA: THAIS de 3...
CLÁUDIO: E o nome do assessor que eu não sei.
JULIANA DE PAULA: E assessor... O assessor dele eu esqueci o nome
agora. Mas eu escrevo "assessor de 2".
Para que não percamos a essência da investigação (dos investigadores e
investigados), permita-nos aportar mais um trecho, na íntegra, das conclusões
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oriundas da Representação Final do Delegado que preside o Inquérito Policial
nº 502/2011:
“No dia 03/02/2012 CLÁUDIO explica à JULIANA DE PAULA como se
dará a distribuição das vagas entre ele e CONSTÂNCIO. Curioso
notar que, como neste, a maioria dos diálogos os interlocutores
referenciam os postos de trabalho pelo valor do salário que ele
representam e não pela especificidade profissional, numa clara
demonstração do que realmente é valorizado. (...) O Chefe do
Executivo distribui os empregos decorrentes dos contratos firmados
pelo município aos seus parceiros. O Procurador-Geral
CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO recebe mensalmente sua parte
no contrato fraudado através do preenchimento de postos de
trabalho, sem que haja necessidade de efetivo exercício
profissional. É A MATERIALIZAÇÃO DA CORRUPCÃO.”
A farra na contratação de funcionários para trabalhar na PULIZIE ITÁLIA é
grande e parece que não tem fim. O apadrinhamento e alocação de posto
de trabalho é moeda de troca entre o Prefeito, funcionários públicos
municipais de alto escalão e os empresários envolvidos nas fraudes licitatórias,
como ocorreu com Erick Falcão Reis, que recebeu salário sem haver a
contraprestação laboral; Thais Silva Duarte, contratada para ser gerente da filial da
PULIZIE em Presidente Kennedy; dentre tantos outros apontados durante a
investigação.
Há, portanto, fortes indícios de práticas reiteradas de crimes decorrentes de
fraudes em licitações, bem como prática evidente de improbidade
administrativa por parte do Prefeito Reginaldo Quinta e demais investigados
em razão do flagrante interesse privado na condução do processo de
preenchimento das vagas de empregos, tudo para atender ao grupo
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criminoso que tem no Chefe do Executivo o principal articulador, que,
buscando o apadrinhamento político, loteia o Poder Público local.
7.2 – A Conivência e Omissão do Legislativo Municipal
Evidentemente que o ordenador de despesa do Município de Presidente
Kennedy não se beneficiaria do esquema sem o apoio de parlamentares
municipais. Essa grande organização criminosa ali instalada não teria êxito
sem a participação direta de alguns vereadores e a omissão e conivência de
outros. Sem a fiscalização do Poder Legislativo, o Executivo tem portas abertas
para adentrar nos cofres públicos do município e usurpá-lo.
No caso sub examine, observa-se que o próprio Poder Legislativo que deveria
fiscalizar as contas públicas municipais, ao contrário, não exerce sua função
constitucional precípua, na forma do artigo 31. Ao contrário, a Mesa Diretora
da Câmara Municipal de Presidente Kennedy, composta pelos Vereadores
DORLEI FONTÃO DA CRUZ (Presidente), MANOEL JOSÉ DE ABREU ALVES,
conhecido como Brejeiro (Vice-Presidente) e CLARINDO DE OLIVEIRA
FERNANDES (Secretário), exercem o papel fundamental de não apenas
promover a blindagem do Prefeito Reginaldo Quinta, mas também
participam ou se omitem nas fraudes licitatórias; na distribuição de cargos
públicos e privados, etc., conforme restou apurado nas investigações da
Operação “Lee Oswald”. Os diálogos abaixo transcritos refletem bem esse
quadro:
DORLEI FONTÃO DA CRUZ – PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL
(Diálogo entre DORLEI e JULIA no dia 28/12. índice 5379170)
JÚLIA: DORLEI?
DORLEI: Sim.
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JÚLIA: É JÚLIA.
DORLEI: Fala.
JÚLIA: Escuta, queria saber o negócio de DAYANA. Porque eu
conversei com JULIANA. Eu fui lá, mas fui lá mais DAYANA, tá o
nome de DAYAYNA todinho, mas..
DORLEI: Eu entreguei na mão dela, é, ela que vai saber o dia que
for chamar, alguma coisa assim é com ela.
JÚLIA: Mas, não, mas eu tô ligando porque? Disseram que dia
primeiro não chamam ninguém mais.
DORLEI: Não, não tem isso não. Vai licitar. Vai licitar a empresa
ainda. Vai licitar pra poder... Vai ser a partir depois do dia primeiro
ainda!
(continuam ... 1min05seg..)
JÚLIA: Amanhã ela tá ai?
DORLEI: Deve tá, mas você vem aqui conversar com ela
pessoalmente, porque por telefone ela não vai te informar nada
não.
(Transcrição: Na seqüência registramos o diálogo interceptado no
dia 30/01. Neste DORLEI pergunta como está situação de DAYANA
DA COSTA PAIXÃO ALVARENGA relativa a emprego. JULIANA
manda procurar pré-seleção no Serviços Públicos no dia seguinte.
índice 5398681)
DORLEI: Ô JU.
JULIANA: Oi querido.
DORLEI: JÚLIA tá aqui comigo e ela tá doida pra ver o emprego de
DAYANE. Vê como tá a situação de DAYANE ai.
JULIANA: Pera ai, deixa eu ver. Que DAYANE?
DORLEI: DAYANE de que?
MNI: DAYANA DA COSTA PAIXÃO ALVARENGA.
JÚLIA: DAYANE DA COSTA PAIXÃO ALVARENGA. É daqui de
Kennedy mesmo.
JULIANA: Pede pra procurar amanhã nos serviços públicos pra
fazer a pré-seleção. Levar cópia do RG.
DORLEI: Pra mandar ela ai?
JULIANA: É. Fazer a pré-seleção. Lá nos serviços públicos.
DORLEI: A pré-seleção... Mas esse... (ininteligível)
JULIANA: AÍ DEPOIS EM CONVERSO COM VOCÊ PESSOALMENTE...
MANOEL JOSÉ DE ABREU ALVES (Brejeiro) – VICE-PRESIDENTE
(Transcrição: No dia 05/01 GEOVANA conversa com o Secretário
de Obras EDINO RAINHA. Índice 5308236)
GEOVANA: Oi querido.
EDINO: Quem tá falando.
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GEOVANA: Oi querido.
EDINO: Bom dia.
GEOVANA: Bom dia.
EDINO: Tô com pessoal da (ininteligível) na creche de Jaqueira...
GEOVANA: Ahã.
EDINO: Só que as plantas que a M2 fez não define o local. Você já
definiu o local ali? Que aí eu preciso apresentar o local pra eles.
GEOVANA: Ei tinha definido com o ELIEZER.
EDINO: Ficou definido com ele?
GEOVANA: Ficou
EDINO: Ah, então tá, eu vou dar uma ligadinha pra ele então e vê.
GEOVANA: Tá bom.
EDINO: Deixa eu te falar uma coisa.
GEOVANA: Qualquer coisa se der um problema você me fala.
EDINO: Tá. Precisava que você visse lá quem é, se é BREJEIRO ou
DORLEI, os vereadores lá, porque esse rapaz que tá aqui que vai
contratar o pessoal. Ele tá falando comigo.
GEOVANA: Prefeito.
EDINO: (risadas) Prefeito?
GEOVANA: Prefeito... SÓ QUEM DECIDE VAGA É O PREFEITO ...
EDINO: Então deixa comigo.
GEOVANA: Tá bom?
EDINO: Eu vou ver com ele quantas pessoas e ai eu vou falar pra
você e você vê com REGINALDO quem é que ele vai mandar
procurar e a quem.
GEOVANA: Isso. Tá certo.
CLARINDO DE OLIVEIRA FERNANDES – SECRETÁRIO DA MESA
DIRETORA
(Transcrição. Diálogo registrado no dia 27/12 entre o Vereador
CLARINDO e interlocutor identificado pelo prenome LEANDRO.
LEANDRO questiona o vereador sobre a permanência do emprego
- índice 5275186. A partir de 33seg)
LEANDRO: Tão tá bom. Já que eu tô gente boa vou te pedir um
conselho.
CLARINDO: Na?
LEANDRO: Rapaz, eu tô querendo comprar um carro financiado,
mas eu tô meio com medo. Que, eu tô com medo dessa firma
nossa ir embora.
CLARINDO: É, que (ininteligível) mesmo?
LEANDRO: É LEANDRO esposo de MARCIELE. LEANDRO! Esposos de
MARCIELE.
CLARINDO: Não, eu sei rapaz!
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LEANDRO: Aí, eu tô te pedindo esse conselho. Eu tô com medo
dessa firma nossa ir embora e depois ficar devendo o banco, não
ter como pagar né? Ai que que você acha, que que você me dá
um conselho?
CLARINDO: Rapaz essa firma se Deus quiser... A gente mantendo
nós no poder...
LEANDRO: Ahã.
CLARINDO: ENTENDEU?
LEANDRO: Ahã.
CLARINDO: Mesmo que vá, a gente tenta trazer uma outra e que
permaneça as pessoas que estão trabalhando.
LEANDRO: Ah tá!
CLARINDO: É nesse sentido.
LEANDRO: Porque eu tô precisando de um carrinho, entendeu? Por
que moto...
CLARINDO: O que que você tem que fazer. Não com certeza, MAS
VOCÊ TEM QUE FAZER O QUE? ... FAZER O NOSSO TRABALHO ... A
NOSSA CAMPANHA PRA GENTE PERMANECER ...
LEANDRO: Não, com certeza ué. Com certeza, isso aí é o de
menos.
CLARINDO: ENTENDEU? ... É ISSO AÍ.É isso que nós vamos pesquisa.
por que, mesmo que for essa embora a outra que vier a tem que
(ininteligível) e coloca que tá trabalhando, neste sentido!
LEANDRO: Ah tá.
CLARINDO: Tá?
LEANDRO: Porque
CLARINDO: Tá?
LEANDRO: Não, porque você pode tá tranqüilo. O que a gente
puder fazer por você a gente vai fazer rapaz.
CLARINDO: AJUDA EU ... O PREFEITO NÉ! ...Porque se não é.. Porque
se não é o casal.
LEANDRO: Se não, não tem como mesmo não.
CLARINDO: É casado, é. É só isso. Não tem outra coisa.
VERA LÚCIA ALMEIDA TERRA – PRESIDENTE DA COMISSÃO DE
JUSTIÇA
(Transcrição: Diálogo registrado no dia 06/02. A Vereadora
VERINHA pergunta sobre inscrições para empregos. JULIANA
FONTÃO diz para conversarem pessoalmente. Índice 5429019)
JULIANA FONTÃO: Oi?
VERINHA: JULIANA querida, desculpa te ligando essa hora. Escuta,
tá pegando inscrição hoje?
JULIANA FONTÃO: Não sei VERINHA. Qualquer coisa você vem aqui
pessoalmente.
VERINHA: An! Tá bom meu amor. Tá bom mais tarde.
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JULIANA FONTÃO: Tá bom?
VERINHA: Tá bom legal. Muito obrigada minha filha.
(Despedem-se)
(Transcrição: No dia 14/02 a Vereadora Vera volta a ligar para o
celular utilizado pro JULIANA DE PAULA, mas quem atende é
EDUARDO. Índice 5461075)
VERINHA: Alô?
EDUARDO: Ei.
VERINHA: Oi, com que eu tô falando?
EDUARDO: EDUARDO.
VERINHA: EDUARDO eu acho que você me conheceu aquele dia.
Vereadora VERINHA, cê tá lembrado.
EDUARDO: Sei VERINHA. Eu tô lembrado.
VERINHA: Aqui querido, será que você podia.. EU SEI QUE É
ANTIÉTICO, mas é um sobrinho meu, que FOI O PRÓPRIO CHEFE
GERAL (REGINALDO). Você entendeu, que deu é JORGE
FRANCISCO RAMOS GONÇALVES. Ele tá preocupado, porque até
agora não ligaram pra ele...
EDUARDO: Deixa eu só olhar na minha lista aqui. Que eu tô com
uma lista aqui VERINHA.
VERINHA: Tá bom meu amor.
EDUARDO: Deixa eu olhar aqui. Pera ai, rapidinho.
VERINHA: Tá bom.
EDUARDO: Como ele chama? JORGE FRANCISCO...
VERINHA: JORGE FRANCISCO RAMOS GONÇALVES. Inclusive, na
hora do almoço o CHEFE GERAL TEVE NA MINHA CASA E EU FALEI
COM ELE. Ele falou assim: “Não, aguarde porque vai chamar.”
Porque esse, esse é um pedido específico dele, e ele é meu
sobrinho. ENTENDEU?
EDUARDO: Deixa eu só confirmar aqui,.
VERINHA: Tá bom.
EDUARDO: (ininteligível) a gente vai chamar amanhã. Nós iremos
pra Kennedy amanhã.
VERINHA: Ah, eu se. Tá bom querido.
EDUARDO: Então, deixa eu só olhar aqui.... Tem um JORGE aqui, as
ele é.. O JORGE que tá aqui é JORGE... Cadê, cadê... JORGE
ELIMÁRIO GONÇALVES.
VERINHA: JORGE ELIMÁRIO GONÇALVES é o pai dele. Já trabalha.
Ele trabalha já na.. Ele trabalha. Ele já trabalha. Esse é o pai, já
trabalha.
EDUARDO: Ahã.
VERINHA: Já trabalha.
EDUARDO: Mas era pra chamar ele. Será que é porque que ele...
VERINHA: Não, mas... Mas chama porque as vezes o salário é
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melhor.
EDUARDO: Não. Vou chamar ele.
VERINHA: Chama ele também, pelo amor de Deus!
EDUARDO: Agora o JORGE, o outro “JORGE FILHO”...
VERINHA: É o JORGE FRANCISO RAMOS GONÇALVES. QUE ESSE AÍ
FOI O PRÓPRIO PREFEITO QUE DEU ...
Veja, portanto, o uso desenfreado da Máquina Pública com vistas à
perpetuação do grupo político da situação em Presidente Kennedy. E não só
isso.
É nítido o comando da organização criminosa exercido pelo Prefeito
Reginaldo Quinta, pois, tem o controle das ações políticas no município. Por
outro viés, está comprovado também o envolvimento e submissão do Poder
Legislativo Municipal aos interesses do Chefe do Executivo.
Ademais, os membros da mesa diretora e da Comissão de Justiça se
beneficiam, particular e/ou politicamente, desse grande esquema de
corrupção.
De todo o apresentado nesse tópico, verifica-se práticas contumazes de fraude em
licitações no Município de Presidente Kennedy, para o fim de desviar recursos
públicos. Estão evidentes também, a responsabilidade criminal dos integrantes da
Comissão de Licitação JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA
e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA CHARLENE, do Chefe do Poder Executivo REGINALDO
DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e
do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA COSTALONGA, JULIANA BAHIENSE
FONTÃO CRUZ, FLÁVIO JORDÃO DA SILVA, MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, EDINO
RAINHA, ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS, dos empresários e colaboradores CLÁUDIO
RIBEIRO BARROS, JULIANA DE PAULA, ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES e SABRINA
TESCH, em verdadeira formação de quadrilha, pois atuam de forma articulada e em
comunhão de desígnios.
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8 - CONCLUSÃO
A teor do que restou claramente comprovado, denota-se que os
denunciados, qualificados no preâmbulo desta peça, na forma devidamente
relatada, ponto a ponto (tempo, lugar e maneira de execução), agindo em
comunhão de desígnios, de forma dolosa, tudo com o propósito de desviar
recursos públicos municipais, para o favorecimento pessoal e de grupos
econômicos, feriram normas legais, razão pela qual merece reprimenda por
parte do Estado-Juiz, além de outras medidas específicas para garantir a
instrução do inquérito policial ainda em trâmite, que busca identificar outros
integrantes da organização, protegendo, com isso a instrução persecução
penal.
Autoria e materialidade devidamente comprovadas através da farta
documentação acostadas aos autos do Inquérito Policial Federal nº 502/2011,
conhecido como Operação “Lee Oswald” e demais documentos
mencionados nessa peça, sobretudo o Relatório Incidental e o Relatório da
Controladoria Geral da União.
Assim agindo, estão os denunciados abaixo especificados, incursos nos crimes
previstos nos seguintes tipos penais:
a) Quanto ao evento MATRIX, os integrantes da CPL JOVANE CABRAL DA
COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA,
do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do
Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do(a)s
Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA COSTALONGA, do empresário
JURANDY NOGUEIRA JUNIOR incorreram nos crimes dos artigos 288, 299 e
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304, do Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e
III do Decreto nº 201/67, na forma do artigo 69 do Estatuto Repressivo;
b) Quanto ao evento EMEC, os integrantes da CPL, JOVANE CABRAL DA
COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA,
do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do
Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do(a)s
Secretário(a)s Municipais ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS e MÁRCIO
ROBERTO ALVES DA SILVA, e do empresário FÁBIO SAAD JUNGER, nos
artigos 288, do Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º,
incisos I e III do Decreto nº 201/67, na forma do artigo 69 do Estatuto
Repressivo;
c) Quanto ao evento M2, os integrantes da CPL JOVANE CABRAL DA COSTA,
MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE,
do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, do
Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e do Secretário
Municipal ALEXANDRE PINHEIRO BASTOS, e do empresário JOEL DE ALMEIDA
FILHO, como incursos nos artigos 288 do Código penal; artigos 90 e 97 da
Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e III do Decreto nº 201/67, na forma do
artigo 69 do Estatuto Repressivo;
d) Quanto ao evento EMPRESAS RELACIONADAS AOS IRMÃOS GOMES, os
integrantes da CPL, JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA
FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE ALMEIDA, do Chefe do Poder
Executivo REGINALDO DOS SANTOS QUINTA, da Secretária Municipal
GEOVANA QUINTA COSTALONGA, dos Policiais Militares FABRÍCIO DA SILVA
MARTINS e WALLAS BUENO DA SILVA, e dos empresários ELY ÂNGELO
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JORDÃO GOMES, JOSÉ CARLOS JORÃO GOMES e SAMUEL DA SILVA
MORAES, estão incursos nos delitos dos artigos 288, 317, 332 e 333 do
Código penal; artigos 90, 95 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e III do
Decreto nº 201/67, tudo na forma do artigo 69 do Estatuto Repressivo;
e) Quanto ao evento EXCELÊNCIA, os integrantes da CPL JOVANE CABRAL DA
COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA FRANÇA DE
ALMEIDACHARLENE, do Chefe do Poder Executivo REGINALDO DOS SANTOS
QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES BRANDÃO, e
do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA COSTALONGA e
MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, dos empresários JOSÉ ROBERTO DA
ROCHA MONTEIRO, CARLOS FERNANDO ZACHÉ, RODRIGO ZACHÉ e PAULO
CESÁR SANTANA DE OLIVEIRA estão incursos nos artigos 288, 299 e 304 do
Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93; e artigo 1º, incisos I e III do
Decreto nº 201/67, tudo na forma do artigo 69 do Estatuto Repressivo;
f) Quanto ao evento MASTER PETRO E PULIZIE ITÁLIA, os integrantes da CPL
JOVANE CABRAL DA COSTA, MARIA ANDRESSA FONSECA SILVA e SILVIA
FRANÇA DE ALMEIDACHARLENE, do Chefe do Poder Executivo REGINALDO
DOS SANTOS QUINTA, do Procurador Municipal CONSTÂNCIO BORGES
BRANDÃO, e do(a)s Secretário(a)s Municipais GEOVANA QUINTA
COSTALONGA, JULIANA BAHIENSE FONTÃO CRUZ, FLÁVIO JORDÃO DA
SILVA, MÁRCIO ROBERTO ALVES DA SILVA, EDINO RAINHA, ALEXANDRE
PINHEIRO BASTOS, dos empresários e colaboradores CLÁUDIO RIBEIRO
BARROS, JULIANA DE PAULA, ALESSANDRA SALOMÃO RODRIGUES e
SABRINA TESCH, estão devidamente incursos nas condutas descritas nos
artigos 288, 299, 304, e 332 do Código penal; artigos 90 e 97 da Lei 8666/93;
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e artigo 1º, incisos I e III do Decreto nº 201/67, na forma do artigo 69 do
Estatuto Repressivo.
Por todas as razões acima apresentadas, pugna o Parquet pelo recebimento
da presente, seguindo-se a regular instrução processual, na qual deverão ser
ouvidas as testemunhas constantes do rol abaixo, para, ao final, ser julgado
procedente o pedido com a condenação do denunciado nas sanções
previstas para as condutas ilícitas que praticaram os denunciados.
Para tanto, requer a Vossa Excelência:
a) Seja recebido o presente ADITAMENTO À DENÚNCIA na forma da lei;
b) Seja requisitada à Secretaria do Estado da Fazenda a Lista de benefícios
fiscais concedidos, nos últimos 10 (dez) anos, a empresas instaladas no
Estado do Espírito Santo;
c) Seja requisitado à Secretaria do Estado da Fazenda para que a mesma
informe o quantitativo de dívida do Estado em decorrência de possíveis
benefícios fiscais concedidos a empresas instaladas no Estado do Espírito
Santo;
d) Seja requisitado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras –
COAF, para o fim de enviar relatório das transações financeiras efetivadas
pelos denunciados e pelas pessoas jurídicas envolvidas nas fraudes
pontuadas no presente feito, a partir da posse da atual gestão
administrativa do Município de Presidente Kennedy, inclusive a da própria
Administração Pública Municipal;
e) Seja requisitada ao Egrégio Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo,
a disponibilização de equipe técnica, através de auditoria extraordinária,
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para auxiliar na análise da documentação acostada aos autos do
Inquérito Policial Federal nº 502/2011;
f) Seja procedido o sequestro e\ou bloqueio de bens automotores e/ou
imóveis que porventura estiver em nome dos denunciados e/ou envolvidos
(pessoas físicas e jurídicas) direta ou indiretamente com o caso em tela,
oficiando-se aos órgãos pertinentes (DETRAN, Cartórios de Registro Geral
de Imóveis e a Capitania dos Portos do Espírito Santo);
g) O sequestro e\ou bloqueio das contas bancárias e ativos financeiros dos
denunciados e/ou de todos (pessoas físicas e jurídicas)os envolvidos direta
ou indiretamente com o caso em tela, oficiando-se aos órgãos
pertinentes;
h) Seja oficiado por Vossa Excelência no sentido de certificar a existência ou
não de outras ações penais, procedimentos especiais criminais e inquéritos
policiais a que os denunciados respondam ou responderam;
i) Sejam os denunciados notificados para apresentarem resposta preliminar,
na forma do artigo 4º da Lei nº. 8.038/90 c/c artigo 1º da Lei nº. 8.658/93 e
do artigo 298, caput, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo, face á prerrogativa funcional;
j) Seja a presente denúncia recebida pelo Órgão Pleno deste Egrégio
Tribunal de Justiça, na forma do artigo 6º da Lei nº. 8.038/90 c/c artigo 1º
da Lei nº. 8.658/93;
k) Uma vez recebida a presente denúncia, sejam atendidas as
determinações estabelecidas no artigo 7º da Lei nº. 8.038/90 c/c artigo 1º
da Lei nº. 8.658/93;
l) Instruído o feito, seja o denunciado condenado nas sanções previstas nos
tipos penais mencionados alhures, observando-se o procedimento contido
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no artigo 303 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do
Espírito Santo;
m) Seja oficiado ao Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo para,
auditar os contratos mencionados na presente denúncia;
n) Seja encaminhada cópia da presente denúncia à Câmara Municipal de
Vereadores de Presidente Kennedy, para conhecimento e adoção das
medidas que entender cabíveis;
o) Seja requisitada a Folha de Antecedentes Criminais dos denunciados;
p) Que se proceda a oitiva das pessoas abaixo arroladas;
q) Por fim, em razão do tamanho da operação e as pessoas (físicas e
jurídicas) envolvidas, seja viabilizada equipe de policiais suficiente para
auxiliar na apuração das denúncias contidas nestes autos.
E. deferimento.
Vitória – ES, 17 de abril de 2012.
FERNANDO ZARDINI ANTONIO
Procurador Geral de Justiça
FÁBIO VELLO CORRÊA
2º Procurador de Justiça Especial
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ROL DE TESTEMUNHAS:
RAFAEL RODRIGO PACHECO SALAROLI, Agente da Polícia Federal, lotado junto
à Superintendência de Polícia Federal no Espírito Santo;
VERA LÚCIA DE ALMEIDA TERRA, vereadora do Município de Presidente
Kennedy, podendo ser encontrada na Câmara Municipal daquela cidade;
MIGUEL JORGE FREIRE NETO, empresário, podendo ser encontrado na Av.
Francisco Generoso da Fonseca, nº 991, Ed. Piatã, Aptº 201, Jardim da Penha,
Vitória/ES;
MARIA MADALENA SIQUEIRA DE SOUZA, Rua Sargento José Homero, 115,
Estrelinha, Vitória/ES;
ROLAND LEÃO CASTELLO RIBEIRO, assessor jurídico, lotado na Procuradoria de
Justiça do Ministério Público do Estado do Espírito Santo.
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