orkut, a identidade virtual: um estudo do fen”meno comunicacional
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ORKUT, A IDENTIDADE VIRTUAL: UM ESTUDO DO FENÔMENO
COMUNICACIONAL NO COTIDIANO
Meyrilane da Silva Gomes1 Resumo
Se considerarmos a cena comunicacional atual, um ambiente privilegiado de constituição da sociabilidade e da subjetividade pós-moderna, notaremos um interesse pelo cotidiano sem muito esforço. Na contemporaneidade é cada vez maior o interesse da mídia pelo comum e pela banalidade do cotidiano, o que se traduz pela exposição do indivíduo em diversos níveis e formatos da visibilidade, como é o caso do fenômeno Orkut., onde as íntimas relações entre o cotidiano, à aparência e a efemeridade encontram nesse ambiente comunicacional um exemplo extremo de busca e identidade de si. Palavras –chaves: Internet. Orkut. Cotidiano. Visibilidade. Pós-modernidade.
Internet: uma nova forma de sociabilidade
A Internet é, atualmente, um grande meio heterogêneo designado como ciberespaço. Cada
vez mais o número de pessoas com endereço eletrônico aumenta em todo mundo. Em vista dessa
realidade, que só tende a se desenvolver é urgente repensar, paralelamente a questão deste novo
espaço, a do sujeito que o freqüenta, seu papel na história, visto que ele é o autor da mesma.
As pessoas já não precisam sair de casa para procurar ou encontrar indivíduos com os quais
compartilha interesses e afinidades ou, ainda, conforme defende Pierre Lévy (1999) em seu livro
“Cibercultura”, buscar conflitos que desenvolvam conceitos e outras idéias. A partir do momento
em que qualquer pessoa, no meio virtual, pode ser um agente emissor, através da construção de uma 1 Meyrilane da Silva Gomes é graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba, habilitação Radialismo.
Home Page, por exemplo, e levando em consideração o imensurável número de sites que surge a
cada instante, deve-se aceitar que, para o receptor, existem infinitas opções de acesso diante dessa
ramificação interminável que a rede de computadores mundial possibilitou criar.
Desde seu lançamento, no início do ano de 2004, o Orkut é atualmente um desses “Centros”
da Internet. O site é mais um sistema de relacionamentos virtuais, criado sob uma programação que,
a partir de um extenso banco de dados, torna-se um ponto de encontro de todos aqueles que estão
conectados.
Com a evolução do conhecimento humano e, conseqüentemente, da tecnologia da
informação, o homem passou também a buscar uma forma de se adaptar ao novo mundo que surge
com os computadores. Desde o início dos tempos, ele vive em grupos – chamados de comunidades
– e identifica-se com estes de alguma maneira. Com o advento e evolução da Internet, esses grupos
passaram a existir também “dentro” dos computadores, em um mundo essencialmente virtual, onde
a organização se dá de forma semelhante.
O cotidiano na mídia
Antes de qualquer coisa para podermos melhor entender o processo de interação da mídia com o cotidiano na pós-modernidade devemos conceituar a comunicação, não mais como um simples processo de fluxo de informação entre o emissor e receptor,mas entender a comunicação como algo que vai além da técnica que enfatiza valores e investimentos emocionais ultrapassando amplamente a troca de signos ou de informações no sentido utilitário do termo.
A comunicação é mais do que um conjunto de mensagens disseminadas por meios diversos, massivos, a comunicação é o modo de vida partilhado socialmente que dá o tom e a atmosfera de nossa época. Comunicar implica ir ao encontro, sair de si, buscar a interface, atuar na zona de interação. (MAFFESOLI, 1978).
Por muito tempo o cotidiano ficou longe das discussões da mídia, mas com a explosão dos
reality shows na televisão mundial, a forte presença do documentário no cinema, o fenômeno dos
weblog, fotologs e do orkut na internet a temática voltou à tona nos ambientes comunicacionais,
nos revelando um cotidiano exposto, documentado e espiado.Um exemplo marcante dessa nova
realidade de exposição cotidiana é a página de relacionamento, o Orkut..
Este consiste em um sistema criado em 2004 pelo Google, oferecendo um serviço que
permite ao usuário fazer amigos, não necessariamente no sentido literal da palavra, mas sim no
aspecto de se relacionar com pessoas que tenham algumas afinidades com ele e participem de
comunidades comuns sobre os mais diversos assuntos. Uma espécie de identidade virtual.
Nessa nova relação social, da mídia com o cotidiano vem se constituindo uma tendência
irreversível Felinto (2002, p. 22) comenta que, no mundo virtual, a identidade passa a ser fruto de
um processo de construção intencional, e, desse modo, os sujeitos teriam total liberdade na
reelaboração de suas personas. Segundo o autor, “o sujeito passa a ser criador de si mesmo;
demiurgo que produz não apenas novos mundos e seres, mas que também pode recriar-se
indefinidamente". Rompe-se, assim, com o paradigma da identidade única e determinada, que busca
com a modernidade classificar cada um no seu lugar, colocar uma etiqueta e catalogar.
A identidade pós-moderna passa a metamorfosear-se, aparece em sua multiplicidade,
evidenciando o ser complexo dos novos tempos, fragmentado. O mundo virtual é um mundo que se
origina no pensamento e nas ações dos homens comuns , sendo afirmado como real para eles.
A vida cotidiana no Orkut
O Orkut é uma gigantesca comunidade virtual onde vale lembrar que os dados dispostos são
fornecidos, editados e aperfeiçoados pelo próprio usuário. È uma simulação em teia de relações
sociais em um espaço real, onde cada pessoa, em seu perfil, colocar informações que julguem
necessárias ou interessantes.
Na página que dá acesso ao Orkut, o usuário tem um painel com a relação de seus amigos e
um outro com a relação das comunidades. Cada usuário tem uma descrição e pode visualizar as
comunidades na qual ele deseja participar, sendo possível enviar mensagens ou se cadastrar como
“fã” de outro usuário. Além desse serviço o Orkut permite que a pessoa saiba quem visitou sua
página durante a semana, como também admitir que seus amigos comentem as fotos expostas no
seu álbum virtual.
Uma outra peculiaridade dessa página de relacionamento é que as mensagens enviar uns
para os outros ficam disponibilizadas para todo e qualquer usuário que visite o perfil de quem
recebeu a mensagem até que o dono do perfil perceba a chegada dessa e a julgue ou não
necessário apaga-las. Nunca antes as fronteiras do particular e o público ficaram tão difusas. Pela
primeira vez as teias das relações particulares se tornaram públicas.
As características dessa página de relacionamento são típicas da postura pós-moderna dos
indivíduos, este ambiente cotidiano é tido como um lugar de extrema visibilidade. Um lugar
comum, ordinário, que antes era deixado no anonimato e na escuridão e agora ganha ares de
notoriedade, tornando-se foco de muitos olhares.
Vejamos o que Maffesoli nos fala sobre essa nova realidade de sociabilidade midiática:
Por mais que isso horrorize os críticos politicamente corretos, as pessoas não querem só informação na mídia, mas também é fundamental ver-se, ouvir-se, participar, conta o próprio cotidiano para si mesma e para aqueles com quem convivem.(MAFFESOLI,2004,p.23).
Um aspecto a se considerar nessa nova postura do cotidiano midiático é que neste ambiente
comunicacional em questão, o Orkut, o cotidiano assume de certa forma uma atitude superficial e
visível ao olhar do outro.
Nas práticas contemporâneas de exposição do eu, a autenticidade encontra-se vinculadas
não mais o opaco ao obscuro do individuo, mas sim a dimensão visível e acessível do olhar do
outro.As pessoas crêem que suas vidas comuns e banais,sem graças, seus dramas pessoais e seu
cotidiano ganham alguma efetividade,consistente e verdadeira no ato mesmo de se mostrar ao
outro, é uma espécie de encenação de si mesmo e do seu cotidiano.
Nesse novo cenário o sujeito comum é chamado a ocupar uma nova postura de interação
com a mídia, ele deixa de ser um simples consumidor de imagem, textos, sons e outros para virar
ator de sua própria vida cotidiana, naquilo mesmo que ele tem de mais vulgar, corriqueiro e
ordinário. Nessa vida cotidiana midiatica o ser interage com a mídia. Se o eu se constitui na
imagem é com a imagem que ele toma para si seus atributos.
Nessa lógica, o Orkut cumpre satisfatoriamente essa nova necessidade do sujeito pós-
moderno, de se mostrar ao outro, para poder se sentir pertencente do mundo contemporâneo. Se a
mídia representa esse mundo então é nela que o eu, sujeito deve estar.
Orkut: visibilidade do individuo midiático
Hoje é imaginável pensar uma pessoa que não tenha a sua identidade virtual, seu perfil
exposto na página de relacionamento, Orkut. Nessa ambiente os usuários se comunicam com
todas as esferas sociais: amigos, festas, paqueras, estudos e emprego. E quem se negar a esse novo
hábito, fica fora desse circuito de sociabilidade de circulação de informações, muitas vez
tornando-se nesse local mais importante que outros ambientes sociais.
O sujeito que fica de fora desse processo sente-se discriminado e é visto como um ser
ultrapassado, retrógrado e excluído da era das novas tecnologias de comunicação.
Pode até parece exagero quando falamos do Orkut como um dos ambientes
comunicacionais de extremante importância no processo de sociabilidade atual, mas se pararmos e
prestarmos atenção numa simples conversa de dois e mais pessoas perceberemos quando elas
falarem em se comunicar, a palavra Orkut com certeza estará presente nesse processo.
Podemos até nos perguntar sobre o grau de verdade destas cotações do eu no olhar do outro,
no Orkut, onde fica claro que o “valor” de cada um está associado ao número de “outros” que
participam de sua “comunidade” e as notas que eles atribuem a dono do perfil. Mas para não
cairmos no velho discurso argumentativo que diz que as relações sociais dessa página de
relacionamento são efêmeras e vazias partiremos para as colocações de Maffesoli (1996) que nos
lembra que:
O jogo da aparência é também o jogo das máscaras, das formas,dos artifícios.A dinâmica da subjetividade e da sociabilidade contemporânea pode ser melhor compreendida se estes termos forem tomados na sua efetividade, isto é,no seu poder de efetivar, constituir, formar, realizar,e não no seu poder de falsear ou mentir.(MAFFESOLI, 1996, 1998b e 2000).
A vida cotidiana no processo comunicacional atual é uma ação de interação. É de fato uma
relação em que ambos são protagonistas de um mesmo processo. Não sabemos muito bem quem
tem mais destaque nessa relação, ou que é mais verdadeiro ou não, mas sabemos que os dois são
importantes na construção das pautas da mídia contemporânea. Seria impossível construir os
conteúdos midiáticos sem essa interação com o cotidiano.
A lógica da ação social no mundo virtual pauta-se na construção de identidade a partir da
troca de informação, não mais vinculadas as certezas possíveis de aferição. Existe um cenário novo,
tecnológico com interatividade. A construção desse “eu” é uma das principais mudanças de
cotidiano visto que todos são livres para reinventar-se e só é possível avaliar o quão é reinvenção,
na medida que se conhece o individuo.
O Orkut reflete no espaço da internet a estrutura e a dinâmica dos relacionamentos sociais
existente na realidade e permite a criação de uma realidade em comum com o grupo.O individuo
passa a ser uma texto, uma imagem carregada de sentidos.
E são nessas íntimas relações entre o cotidiano, a aparência, o artifício e a efemeridade
encontrada neste ambiente comunicacional que causa o fascínio e o interesse, por vezes mesclados
com repúdio, que despertam nos nossos milhões de espectadores, um reflexo de nossas manias e
misérias. E nesta medida nos desafiam a ainda uma vez a considerar um modo de olhar e de pensar
sobre o qual Maffesoli não cessa de insistir: resistir ao apelo da denúncia impelida pelo ‘dever-ser’
é refletir, no âmbito mesmo do que se apresenta sobre o que nos é comum.
Referências
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. SERRANO, Fabiano.Um novo gênero da mídia Internet,Estudo sobre o Orkut e a dinâmica das Comunidades virtuais,2007 FELINTO, Erick. Tecnognose: tecnologias do virtual, identidade e imaginação espiritual. In Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia. EDIPUCRS. Porto Alegre, n. 18, p.15 – 25, agosto de 2002. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Edições, 2004.
_______. Cibercultura. São Paulo: Edições 34, 1999.
_______. O que é o virtual. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Edições 34, 1996.
MAFFESOLI, Michel. No fundo das aparências. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. ______ O tempo das tribos. Rio de janeiro: Forense, 1998a.
______ Elogio da razão sensível. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998b. ______ “A comunicação sem fim” in Menezes-Martins, F. e da Silva, J. M. Genealogia do virtual. Porto Alegre: Sulina, 2004.
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