pastores evangélicos: sintomas vocais e laringofaríngeos
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU
PERLA DO NASCIMENTO MARTINS MUNIZ
Pastores evanglicos: sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal e perfil de participao em atividades vocais
BAURU
2013
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PERLA DO NASCIMENTO MARTINS MUNIZ
Pastores evanglicos: sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal e perfil de participao em atividades vocais
Dissertao apresentada Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias pelo programa de Fonoaudiologia. rea de concentrao: Fonoaudiologia Orientadora: Profa. Dra. Alcione Ghedini Brasolotto
VERSO CORRIGIDA
BAURU 2013
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Nota: A verso original desta dissertao encontra-se disponvel no Servio de Biblioteca e Documentao da Faculdade de Odontologia de Bauru FOB/USP.
Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta dissertao/tese, por processos fotocopiadores e outros meios eletrnicos. Assinatura: Data:
Comit de tica da FOB-USP Protocolo n: 060/2011 Data: 26/05/2011
Muniz, Perla do Nascimento Martins Pastores evanglicos: sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal e perfil de participao em atividades vocais/ Perla do Nascimento Martins Muniz. Bauru, 2013. 160p. : il. ; 31cm. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Odontologia de Bauru. Universidade de So Paulo Orientador: Profa. Dra. Alcione Ghedini Brasolotto
M925p
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ERRATA
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DEDICATRIA
A Deus... Sempre! Em primeiro lugar! Acima de todas as coisas!
Porque Dele e por Ele, e para Ele, so todas as coisas; Glria, pois, a Ele eternamente. Amm!"
(Romanos 11.36)
Aos pastores...
Por pregarem a Palavra de Deus, utilizando dois instrumentos maravilhosos: a Bblia e a voz!
Como pois invocaro aquele em quem no
creram? E como crero naquele de quem no ouviram falar? E como ouviro, se no h quem
pregue? E como pregaro, se no forem enviados? Assim como est escrito: Quo formosos so os ps dos que anunciam o
evangelho de paz, que trazem alegres novas de coisas boas! (Romanos 10.14-15)
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AGRADECIMENTOS
A minha famlia... Pelo amor incondicional! Vocs nunca mediram esforos para que eu pudesse alcanar os meus sonhos... E, neste momento, mais um est se realizando! Famlia Nascimento, Martins, Muniz e agregados... Eu amo vocs!
Aos meus amigos...
Por serem to presentes, mesmo que estejam distantes! Obrigada pelo incentivo, horas de alegria e de tristeza, conselhos, ajuda, amor e amizade! Sempre regados a caf...,muito caf! Todos vocs so um presente de Deus em minha vida!
A minha mestra...
Profa. Dra. Alcione Ghedini Brasolotto! Que honra! A admirao e respeito que eu tenho por voc, no so s pela sabedoria e conhecimento que possui, mas principalmente pela mulher que voc ! Um verdadeiro exemplo! Por tudo o que eu tenho aprendido e vivido ao se lado..., principalmente, nas madrugadas de trabalho... Muito obrigada!
As minhas mediadoras... Profa. Dra. Kelly Cristina Alves Silvrio! Pelas orientaes, confiana e sorriso cativante..., sempre cheio de expectativa! muito bom ter voc por perto! Profa. Dra. Leslie Piccolotto Ferreira! Por compartilhar seus conhecimentos em Voz Profissional, e por estar participando deste trabalho. Muito obrigada!
Aos professores do Curso de Fonoaudiologia...
Pelo incentivo... Sempre! Vocs tambm fazem parte da minha histria! Aos funcionrios do Departamento e da Clnica de Fonoaudiologia...
Pelo carinho, ateno e prontido! Por sempre estarem dispostos a me ajudar no que for preciso!
Aos funcionrios da Biblioteca e da Ps-Graduao... Pela ateno e disposio! Por todo esclarecimento dado para que eu pudesse desenvolver e concluir este trabalho!
Pela ajuda especial...
Do Prof. Dr. Jos Roberto Pereira Lauris, na realizao da anlise estatstica, e por esclarecer minhas dvidas. Da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), pela concesso da bolsa para a realizao desta pesquisa.
http://scholar.google.com.br/citations?user=Li979DAAAAAJ&hl=pt-BR
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E Jesus, vendo a multido, subiu a um monte, e,
assentando-se, aproximaram-se dele os seus
discpulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava,
dizendo: Bem-aventurados...
(Mateus 5.1-3)
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RESUMO
O presente estudo buscou: investigar sintomas vocais e laringofarngeos,
qualidade vocal, autorreferncia a desconforto em trato vocal, e perfil de participao
em atividades vocais de pastores evanglicos, comparando com os mesmos
aspectos de homens no profissionais da voz; verificar a correlao entre o perfil de
participao em atividades vocais e a qualidade vocal, autorreferncia a sintomas
vocais, sensaes laringofarngeas e desconforto em trato vocal, tanto para pastores
quanto para no profissionais da voz. Foram avaliados 60 indivduos, sexo
masculino, divididos em grupos: experimental e controle. Foram aplicados os
instrumentos: Condio de Produo Vocal (CPV) para caracterizao da amostra e
verificao dos sintomas vocais e sensaes laringofarngeas; Escala de
Desconforto em Trato Vocal (EDTV) e Perfil de Participao em Atividades Vocais
(PPAV), bem como a anlise perceptivo-auditiva da voz dos participantes. Os
resultados foram analisados estatisticamente, considerando o nvel de significncia
5%. Pastores evanglicos referiram, em maior frequncia que homens no
profissionais da voz: pigarro (p=0.019), tosse com catarro (p=0.015), ardor na
garganta (p=0.028), secreo/catarro na garganta (p
-
sesses autopercepo da severidade, efeitos no trabalho, comunicao diria e
comunicao social do PPAV; entre desconforto em trato vocal e as sesses
autopercepo da severidade, restrio da participao na comunicao diria e
emoes do PPAV; entre anlise perceptivo-auditiva da voz e a sesso
comunicao social do PPAV. Correlaes negativas ocorreram: entre o sintoma
falha na voz e a restrio de participao na comunicao social do PPAV; anlise
perceptivo-auditiva da voz e as sesses efeitos no trabalho e comunicao social do
PPAV. Pastores evanglicos apresentaram elevada ocorrncia de sensaes na
laringofarngeas e maior percepo do impacto de uma alterao vocal na qualidade
de vida, quando comparados a homens no profissionais da voz. No caso dos
pastores, quanto maior o desconforto em trato vocal e a presena de uma alterao
vocal, maior o impacto percebido nas atividades vocais.
Palavras-chave: Religiosos. Pastores evanglicos. Distrbios da voz. Qualidade da
voz.
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ABSTRACT
The present study sought to investigate the vocal and laryngopharyngeal
symptoms, vocal quality, self-perception to vocal tract discomfort, and voice activity
and participation profile of Evangelical pastors comparing the same aspects with
non-professional users of the voice; to verify the correlation measure, both for
pastors and for the control group, between participation profile between voice activity
and participation profile (VAPP) and vocal quality, self-perception of vocal symptoms,
sensations in the throat, and vocal discomfort. Sixty individuals were evaluated,
male, divided into experimental and control groups. The following instruments were
applied: Condition of Vocal Production (CVP) for sample characterization and
verification of vocal symptoms and sensations in the throat, Discomfort in the Vocal
Tract (VTD) and Voice Activity and Participation Profile (VAPP), as well as the
perceptual voice analysis of the participants. The results were statistically analyzed
with a significance level 5%. Evangelical pastors demonstrated a higher frequency
than non-professionals: throat clearing (p=0.019), coughing up phlegm (p=0.015),
burning in the throat (p=0.028), secretion/phlegm in throat (p< 0.001), dry throat (p<
0.001), tiredness when talking (p< 0.001), effort to talk (p
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communication of the PPAV; between discomfort in the vocal tract and sessions: the
self-perception of severity, restriction participation in daily communication and
emotions of the PPAV; between perceptual voice analysis and social communication
session of the PPAV. Negative correlations occurred: between the failure in voice
symptom and participation restriction and social communication of the PPAV;
perceptual voice analysis and the effects in job and social communication of the
PPAV. Evangelical pastors showed high occurrence of sensations in the throat and
greater awareness in the impact of a vocal change in the quality of life, when
compared to non-professionals. In the case of the pastors, the greater the discomfort
in the vocal tract and the presence of a vocal change, the greater impact observed
on vocals activities.
Keywords: Clergy. Evangelical pastors. Voice disorders. Voice quality.
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LISTA DE ILUSTRAES
QUADROS
Quadro 1 - Denominaes protestantes e respectivas datas de organizao no Brasil (OLIVEIRA, 2011) ....................................................................
40
Quadro 2 -
Classificao das profisses, baseada na qualidade e demanda vocais exigidas na funo desempenhada. (VILKMAN, 2000) .......
45
Quadro 3 -
Resumo das correlaes entre o perfil de participao em atividades vocais e a condio de produo vocal, desconforto em trato vocal e parmetros da avaliao perceptivo-auditiva, para o grupo experimental.............................................................................
99
Quadro 4 -
Resumo das correlaes entre o perfil de participao em atividades vocais e a condio de produo vocal, desconforto em trato vocal e parmetros da avaliao perceptivo-auditiva, para o grupo controle.....................................................................................
100
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Indivduos dos grupos experimental e controle, de acordo com
idade, estado civil e escolaridade..................................................... 75
Tabela 2 - Indivduos dos grupos experimental e controle, no que se refere
situao profissional......................................................................... 76
Tabela 3 - Indivduos dos grupos experimental e controle, no que se refere
demanda de trabalho........................................................................ 77
Tabela 4 - Indivduos dos grupos experimental, em relao s atividades
desenvolvidas como pastor evanglico............................................ 78
Tabela 5 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a
presena de alterao vocal............................................................. 79
Tabela 6 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a
percepo vocal, hbitos e outros aspectos vocais......................... 80
Tabela 7 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a
presena de sintomas vocais e sensaes laringofarngeas....... 81
Tabela 8 - Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3)
entre os grupos experimental e controle, com relao aos
sintomas vocais................................................................................ 82
Tabela 9 - Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3)
entre os grupos experimental e controle, com relao s
sensaes laringofarngeas....................................................... 83
Tabela 10 - Comparao da mdia de pontuao do EDTV (escala 0 e 6) entre os grupos experimental e controle, com relao a frequncia e intensidade do desconforto em trato vocal................................ 84
Tabela 11 - Comparao da mdia de pontuao da APA (escala de 0 a 100
mm) entre os grupos experimental e controle, com relao s
emisses vogal sustentada e contagem de nmeros.................. 85
Tabela 12 - Comparao da mdia de pontuao do PPAV (escala de 0 a 10
cm), entre os grupos experimental e controle, e pontuao
mxima esperada em cada sesso.................................................. 86
Tabela 13 - Comparao da pontuao do PPAV em porcentagem, entre os
grupos experimental e controle, e pontuao mxima esperada
em cada sesso................................................................................ 86
Tabela 14 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e
sintomas vocais, em pastores evanglicos...................................... 87
Tabela 15 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e
sintomas vocais, em homens no profissionais da voz.................... 88
Tabela 16 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e sensaes laringofarngeas, em pastores evanglicos............. 89
Tabela 17 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e sensaes laringofarngeas, em homens no profissionais da voz... 91
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LISTA DE TABELAS (continuao)
Tabela 18 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a
frequncia de desconforto em trato vocal, em pastores
evanglicos....................................................................................... 93
Tabela 19 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a
intensidade de desconforto em trato vocal, em pastores
evanglicos. .................................................................................... 94
Tabela 20 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a
frequncia de desconforto em trato vocal, em homens no
profissionais da voz......................................................................... 95
Tabela 21 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e a
intensidade de desconforto em trato vocal, em homens no
profissionais da voz.......................................................................... 96
Tabela 22 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e os parmetros da avaliao perceptivo-auditiva (vogal sustentada e contagem de nmeros) da voz de pastores evanglicos.................. 97
Tabela 23 - Correlao entre o perfil de participao em atividades vocais e os parmetros da avaliao perceptivo-auditiva (vogal sustentada e contagem de nmeros) da voz de homens no profissionais da voz..................................................................................................... 98
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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
ATM Articulao temporomandibular
CCI Coeficiente de Correlao Intraclasses
CIF Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade
CPV Condio de Produo Vocal
EDTV Escala de Desconforto do Trato Vocal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
OMS Organizao Mundial da Sade
PPAV Perfil de Participao em Atividades Vocais
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SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................. 35
2 CONSIDERAES INICIAIS ........................................................... 39
2.1 Evanglicos: origem e principais denominaes .............................. 39
3 REVISO DE LITERATURA ............................................................ 43
3.1 O profissional da voz ........................................................................ 43
3.1.1 A voz do lder religioso ..................................................................... 47
3.1.2 A voz do pastor evanglico .............................................................. 50
4 PROPOSIO ................................................................................. 61
5 MATERIAL E MTODOS ................................................................. 65
5.1 Casustica ........................................................................................ 65
5.2 Metodologia ...................................................................................... 66
5.2.1 Condio de Produo Vocal (CPV) ................................................ 66
5.2.2 Escala de Desconforto do Trato Vocal (EDTV) ................................ 67
5.2.3 Avaliao perceptivo-auditiva da voz ............................................... 67
5.2.4 Perfil de Participao em Atividades Vocais (PPAV) ....................... 69
5.2.5 Anlise estatstica e descrio dos resultados ................................. 70
6 RESULTADOS ................................................................................ 75
7 DISCUSSO ................................................................................... 103
8 CONCLUSES ................................................................................ 123
REFERNCIAS .............................................................................................. 127
ANEXOS ......................................................................................................... 139
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111 IIInnntttrrroooddduuuooo
-
1 Introduo 35
1 INTRODUO
Voz profissional uma forma de comunicao oral, utilizada por indivduos
que dela dependem para exercer sua atividade ocupacional. Behlau et al. (2010)
assim caracterizam esse uso profissional: quando o indivduo recebe seu sustento
por meio da voz.
Ferreira (1998) classifica os profissionais considerando os aspectos fsicos e
psicossociais relacionados categoria profissional, s condies de produo vocal
e ao ambiente profissional. Entre os profissionais que usam a voz como instrumento
de trabalho encontra-se o pastor evanglico.
Dados do IBGE (2010) apontam que atualmente so 42,3 milhes de
evanglicos no Brasil. Cada grupo autnomo, conhecido como denominao
protestante, orientado por um lder (OLIVEIRA, 2011).
O principal lder no meio evanglico o pastor, que tambm pode ser
chamado de bispo, reverendo, presbtero ou apstolo, isso de acordo com a
denominao e sua ortodoxia - conjunto de doutrinas e princpios que regem a
instituio e norteiam a prtica crist (SANCHES, 1986; LOTUFO NETO, 1997;
EBERT e SOBOL, 2009).
Dentro da prtica crist, a principal funo do pastor evanglico transmitir
a palavra de Deus, de maneira clara e objetiva, com embasamento na Bblia
Sagrada (STOTT, 2003). Para isso tem, como mecanismo principal de comunicao,
a sua voz.
Alm da pregao, a voz do pastor muito utilizada em outras atividades
desenvolvidas: aconselhamentos individuais, reunies, palestras, aulas, programas
de rdio e televiso, alm de us-la no canto, em diferentes situaes e de diversas
maneiras (TITZE, LEMKE e MONTEQUIN, 1997; VERDOLINI e RAMIG, 2001;
EBERT e SOBOLL, 2009; VIOLA, 2011).
Nesse universo de infinitas possibilidades vocais, o pastor evanglico
vivencia situaes de uso intensivo da voz e estresse que, associados, podem gerar
distrbios da voz (BUCKLAND, 2003; EBERT e SOBOL, 2009; MIDDLETON e
HINTON, 2009; CUTTS et al. 2012; GIANNINI, LATORRE e FERREIRA, 2012).
importante considerar que nos profissionais, como no caso dos pastores
evanglicos, um diagnstico tardio pode levar a um tratamento incorreto, resultando
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1 Introduo 36
em aparecimento ou agravamento de leses larngeas, aumentando o risco de
afastamento das atividades e possvel comprometimento da carreira profissional
(DUARTE, 1987; SATALOFF, 1997; INGRAM e LEHMAN, 2000; FERREIRA,
SANTOS e LIMA, 2009; VIOLA, 2011).
A disfonia, no uso da voz profissional, pode ocorrer como resultado de uma
interao entre fatores orgnicos, hereditrios, comportamentais e ocupacionais. No
entanto, importante ressaltar que diversos fatores ambientais podem estar
relacionados: climatizao de ambiente, poeira, exposio a produtos de limpeza e
rudos de fundo (FERREIRA, SANTOS e LIMA, 2009).
Na Fonoaudiologia, o nmero de estudos sobre a voz de pastores
evanglicos ainda modesto. Viola (2011) realizou levantamento sobre a voz dos
religiosos, e foi possvel observar que a maioria das referncias a pastores
evanglicos traz informaes a respeito de perfil vocal, estilo do discurso e hbitos
vocais.
relevante, na atuao do fonoaudilogo, contribuir e orientar a produo
efetiva da voz dessa populao. H necessidade de mais estudos, como forma de
contribuio para o delineamento do perfil desse profissional, com dados baseados
em evidncias, relacionados autopercepo e ao impacto do uso da voz, e ainda
mais os relacionados ao ambiente de trabalho e a outras situaes que possam
interferir na produo vocal. Assim, alm de colaborar para se conhecer melhor esse
profissional, a fonoaudiologia ser atuante no campo da promoo sade.
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222 CCCooonnnsssiiidddeeerrraaaeeesss IIInnniiiccciiiaaaiiisss
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2 Consideraes Iniciais 39
2 CONSIDERAES INICIAIS
2.1 Evanglicos: origem e principais denominaes
"Religio mais que um determinado estado emocional vivido em sua plenitude."
(Detlef Linke, neurofisiologista)
Desde o sculo XII, vrios foram os movimentos de oposio que ocorreram
na Europa como forma de contestar a Igreja Catlica, seus dogmas e as atitudes
tomadas pelo clero na poca.
Nichols (1979) relata que a reforma protestante aconteceu na Era da
Renascena, no sculo XVI, perodo marcado por uma srie de transformaes na
sociedade, como a ascenso burguesa e a exploso das ideias humanistas. O
marco inicial do movimento se deu em 31 de outubro de 1517, quando o monge
Martinho Lutero afixa, na porta da catedral de Wittenberg, 95 teses que abordavam
principalmente a questo das indulgncias estabelecidas pela Igreja Catlica.
Olson (2001) aponta que, alm da reforma Luterana, tambm aconteceram
as Reformas Calvinista, Anglicana e a Anabatista. Essas aconteceram com o objetivo
de dar a todos o acesso s escrituras sagradas; e seguiam trs princpios bsicos: "a
salvao pela graa mediante a f, a autoridade das Escrituras e o sacerdcio de
todos os crentes".
Oliven (2005) explica que, na Amrica, as instituies de ensino superior
para lderes protestantes so decorrentes do Perodo Colonial. Eram conhecidas
como College, e a primeira instituio nas colnias inglesas da Amrica foi Harvard,
fundada em 1636 por orientao calvinista. Tinham como objetivo principal a
formao de pastores e lderes religiosos para as novas comunidades.
Behlau et al. (2010) comentam que, apesar dos anos de estudo e
dedicao, so poucas as religies que oferecem orientao e preparao
adequada para o uso profissional da voz.
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2 Consideraes Iniciais 40
O protestantismo chegou ao Brasil em meados de 1550, porm se
estabeleceu somente em 10 de maro de 1557, com a celebrao do primeiro culto
protestante, realizado por calvinistas franceses no Rio de Janeiro (MATOS, 2011).
A partir de 1850, comeou a ser difundido no pas com os primeiros
missionrios, pessoas com conhecimento em Missiologia - ramo da teologia que
estuda as misses, aes utilizadas na propagao de uma religio -, e capacitadas
para viver em outras culturas.
Souza (2005) explica que o objetivo das misses divulgar o Evangelho
(ensinamentos cristos) e desenvolver atividades nas reas de educao, cultura,
sade, artes, esportes e cursos profissionalizantes.
Oliveira (2011) descreve a evoluo do protestantismo no Brasil, tendo como
referencial as principais denominaes histricas e pentecostais (QUADRO 1).
Quadro 1: Denominaes protestantes e respectivas datas de organizao no Brasil. (OLIVEIRA,
2011)
DENOMINAES HISTRICAS FUNDAO
Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil 1823
Igreja Presbiteriana do Brasil 1859
Igreja Metodista do Brasil 1867
Conveno Batista Brasileira 1882
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil 1903
DENOMINAES PENTECOSTAIS FUNDAO
Congregao Crist no Brasil 1910
Assembleia de Deus 1911
Igreja do Evangelho Quadrangular 1951
Igreja Evanglica Pentecostal O Brasil para Cristo 1955
Igreja Pentecostal Deus Amor 1962
Igreja Universal do Reino de Deus 1977
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333 RRReeevvviiisssooo dddeee LLLiiittteeerrraaatttuuurrraaa
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3 Reviso de Literatura 43
3 REVISO DE LITERATURA
Com o intuito de auxiliar a compreenso da atividade profissional exercida
pelo pastor evanglico e a sua demanda vocal, sero abordados os seguintes
temas: O profissional da voz, A voz do lder religioso e A voz do pastor
evanglico. Esse enfoque visa, principalmente, reforar a importncia do uso da voz
como instrumento primordial nas atividades dirias desse lder religioso.
3.1 O profissional da voz
"Pessoas que usam a voz profissionalmente sempre existiram" (SOUZA e
FERREIRA, 2000). Esta afirmao traz lembrana de que, desde a Grcia Antiga,
com a performance de seus renomados oradores Demstenes e Aristteles, e em
Roma, onde Marco Tlio Ccero e Quintiliano transmitiam seus conhecimentos por
meio de tcnicas de retrica (PEREIRA, 2001), observa-se o uso da voz como
ferramenta de auxlio em atividades profissionais.
A famosa obra de Marco Tlio Ccero, O Orador, publicada no ano 55 a.C.,
exemplifica a importncia da voz como instrumento de trabalho:
Para que falar mais da prpria ao, que deve ser guiada pelo movimento corporal, pela gesticulao, pela expresso facial, pela conformao e variao da voz; que qualidade tenha sozinha, por si mesma, mostram-no a insignificante arte dos atores e o palco, onde, apesar de todos esforarem-se por controlar a boca, a voz, os movimentos, quem ignora quo poucos h e houve que possamos assistir tranquilamente? (SCATOLIN, 2009, p.151).
Ccero tambm evidencia a sutileza da voz e a sua flexibilidade: De fato, os sons da voz visam a corresponder a cada toque: aguda, grave, rpida, lenta, grande, pequena. Contudo, entre cada uma delas h um meio-termo em seu gnero. E h ainda numerosos gneros que derivam destes: leve, spero, contrato, difuso, contendo a respirao, interrompendo-a, entrecortado, quebrado pelo som dobrado, extenuado, inflado. No h nenhum desses gneros que no seja tratado com arte e domnio. Essas cores esto disponveis para o orador, como para o pintor, para promover a variedade. (SCATOLIN, 2009, p.304).
O uso da voz de maneira diferenciada, na rea da comunicao, desde o
advento do telefone e dos meios de comunicao em massa, trouxe a necessidade
de uma nomenclatura - Voz Profissional - para diferenciar o uso da voz em
diferentes mbitos profissionais (SOUZA e FERREIRA, 2000).
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3 Reviso de Literatura 44
De acordo com Behlau et al. (2010), classificado como profissional da voz
todo aquele que depende de uma certa produo e/ou qualidade vocal especfica
para sua sobrevivncia profissional, para seu sustento. Esse considerado um
profissional diferenciado, pois utiliza a voz como ferramenta, de maneira contnua,
em suas atividades profissionais (SATALOFF, 1997).
Williams (2003) aponta que a voz o instrumento de trabalho de
aproximadamente 25% da populao economicamente ativa. Vilkman (2004) declara
que uma voz com qualidade ferramenta essencial para um tero da fora de
trabalho. Seu carter fundamental, pois diversos profissionais dependem de suas
vozes para alcanar o sucesso em suas ocupaes. O uso da voz e a comunicao
vm assumindo um papel cada vez mais importante na vida pessoal e profissional
dos indivduos (KYRILLOS, 2005).
A literatura descreve dois grupos principais de profissionais que utilizam a
voz como instrumento de trabalho: o grupo da voz falada e o grupo da voz cantada.
Dentro deste universo, encontram-se diversas profisses no mercado de trabalho,
cada uma com um estilo e particularidades especficas: professores, cantores,
atores, radialistas, reprteres, polticos, lderes religiosos, dubladores, advogados,
leiloeiros, fonoaudilogos, vendedores, telefonistas e operadores de telemarketing
(SATALOFF, 1997; FERREIRA, 1998; VILKMAN, 2000).
Pensando nessa distino, Benninger (2011) refora que a voz humana no
apenas a chave para a comunicao, mas tambm atua como o principal
instrumento musical. O autor destaca que vrias caractersticas vocais podem afetar
a forma como ela percebida pelo ouvinte; e afirma que a voz deve ter uma
qualidade agradvel, com sonoridade e equilbrio adequados entre os elementos
orais e nasais, de acordo com a idade, sexo, altura, dialetos ou sotaques culturais.
Vilkman (2000) reflete sobre a voz humana como portadora da comunicao
e o papel dela na evoluo sociocultural da humanidade. Ainda relata que a
modernidade e o uso de equipamentos com sistema de reconhecimento de fala
podem gerar uma sobrecarga no aparelho fonador, por causa das exigncias sobre
a qualidade de voz. Essas exigncias trazem, como consequncia, novos tipos de
problemas ocupacionais relacionados ao uso da voz.
Baseado nesse conceito, o autor prope uma classificao das profisses de
acordo com a exigncia de qualidade e demanda vocais exigidas na funo
desempenhada (QUADRO 2).
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3 Reviso de Literatura 45
Quadro 2: Classificao das profisses, baseada na qualidade e demanda vocais exigidas na
funo desempenhada. (VILKMAN, 2000)
QUALIDADE DEMANDA PROFISSO
Alta Alta Atores e cantores
Alta Moderada Jornalistas de rdio e TV
Moderada Alta Professores, operadores de telemarketing,
militares e clrigos
Moderada Moderada Pessoal de bancos, negcios e seguros,
mdicos advogados e enfermeiros
Baixa Alta Metalrgicos, soldadores, contramestres
Com nfase na caracterstica do uso vocal, Costa et al. (2000) propuseram
uma classificao funcional embasada em quatro fatores a serem observados:
demanda, requinte, dependncia e repercusso. Segundo os autores, na demanda,
so observados tempo e intensidade do uso da fala, local e condies de trabalho.
No requinte, grau de controle e competncia necessrios para o uso da fala, da voz
cantada e da voz interpretada. Quanto dependncia, observa-se a limitao de
uma atividade profissional resultante de uma dificuldade vocal. Na repercusso,
considera-se o impacto que a fala causa nos resultados da atividade profissional.
Considerando a demanda vocal e o impacto de uma alterao vocal, Behlau
et al. (2010) descrevem a classificao do uso da voz, apresentada por Koufman e
Isaacson, em quatro nveis:
Nvel I: profissionais da voz que apresentarem uma alterao vocal de grau discreto
podem ter srios prejuzos em sua carreira (elite vocal).
Nvel II: profissionais da voz que apresentarem uma alterao vocal de grau
moderado podem ter um impacto negativo em sua profisso (usurio profissional de
voz falada).
Nvel III: profissionais que apresentarem disfonia em grau severo, no tm
condies de exercer suas atividades profissionais (usurio no profissional da voz).
Nvel IV: profissionais que, mesmo com leses vocais extremas, no sofrem impacto
em sua profisso (usurio no profissional no vocal).
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3 Reviso de Literatura 46
Behlau et al. (2010) destacam a diferenciao entre os termos uso
profissional e uso ocupacional da voz. No uso profissional, h a necessidade de
ajustes especficos, de forma diferente da utilizada na emisso habitual, para se
atingir o melhor grau de performance vocal. Por esse motivo, o uso profissional
requer cuidados particulares devido sua especificidade, para se evitarem possveis
alteraes vocais. No uso ocupacional, geralmente no h preparo prvio e, por
vezes, ocorre uma certa negligncia por parte dos profissionais em relao ao uso
da voz.
Vilkman (2004) alerta que possveis distrbios vocais podem ocorrer como
consequncia tanto do uso profissional quanto do ocupacional, decorrentes
principalmente da demanda, associados ou no a fatores ambientais. Verdolini e
Ramig (2001) afirmam que, apesar de professores e cantores apresentarem mais
propenso para realizar exame otorrinolaringolgico devido presena de
problemas vocais, outras categorias ocupacionais tambm tm procurado exames
especializados com frequncia, com destaque para os consultores, assistentes
sociais, advogados e clero.
Algumas alteraes observadas na qualidade vocal dos profissionais da voz
so: qualidade vocal soprosa, rouca, spera, uso de tom e intensidade inadequados,
quebras de sonoridade, dificuldades na projeo vocal, fadiga, padro respiratrio
inadequado e alteraes musculoesquelticas de regio cervical (BEHLAU et al.,
2001).
Verdolini e Ramig (2001) tambm salientam que digitadores podem ter um
risco especial para desenvolver problemas vocais, devido aos movimentos
repetitivos dos membros superiores. A relevncia para a voz, segundo as autoras,
que, alm de apresentarem alteraes iniciais nos membros superiores, os sintomas
podem se espalhar para a laringe. Esse fator pode ser potencializado na associao
do movimento com o uso de softwares de reconhecimento de fala.
Em levantamento bibliogrfico realizado no perodo entre 1966 a 2000,
Williams (2003) identificou o grupo de profissionais da voz com o maior risco de
apresentar distrbios vocais. Nesse levantamento, ele observou que os professores
e cantores foram os profissionais mais citados na literatura, devido alta incidncia
de distrbios vocais; e comparando estudos realizados em diferentes pases,
levantou dados sobre o tipo de profisso e a frequncia em clnicas para tratamento
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3 Reviso de Literatura 47
da voz. Neste caso, o maior ndice foi o grupo de cantores, seguido pelo consultor,
assistente social, professor, advogado, clrigo, operador de telemarketing e outros.
Neste contexto, Williams (2003) alerta que a sade da voz ocupacional est
se tornando cada mais importante devido ao aumento na quantidade de indivduos
que usam a voz em seu trabalho.
3.1.1 A voz do lder religioso
Na poca do perodo colonial brasileiro, os sermes religiosos eram
considerados importante fonte de transmisso cultural, modelo de mentalidade
e comportamento, numa sociedade em que a oralidade era a principal forma de
difuso dos conhecimentos (MASSIMI, 2006). A voz era o principal meio de
transmisso da mensagem.
O Sermo da Sexagsima, ministrado pelo Pe. Antnio Vieira, na
Capela Real, em 1655, traz um relato interessante sobre o uso da voz pelo
pregador religioso:
No pregador podem-se considerar cinco circunstncias: a pessoa, a cincia, a matria o estilo e a voz. A pessoa que , a cincia que tem, a matria que trata, o estilo que segue, a voz com que fala (...) Ser finalmente a causa, que h tanto buscamos, a voz com que hoje falam os pregadores? Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando. Antigamente a primeira parte de um pregador era boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o Mundo se governa tanto pelos sentidos, podem s vezes mais os brados que a razo. (AMORA, 1995, p.31 e 41).
O lder religioso tem como principal responsabilidade veicular a
mensagem de Deus, ou transmitir os ensinamentos e normas que regem a sua
religio. Cada religio tem seu estilo prprio no que diz respeito forma de
cultuar e de transmitir a mensagem:
O povo brasileiro produto da miscigenao de trs culturas bsicas: indgena, a europeia portuguesa e a africana das quais se originou o ncleo da sua religiosidade, que forma uma espcie de matriz simblica, um denominador comum, sobre o qual foi sendo construda uma conscincia coletiva, uma identidade social, uma cultura religiosa nacional, uma teodiceia comum de natureza dualista. (OLIVEIRA, 2011, p.80)
Panico (2005) afirma que a comunicao s efetiva se for possvel a
um destinatrio entender a mensagem que est sendo transmitida.
Viola (2011) relata que o exerccio religioso requer mltiplas atividades
que envolvem a comunicao, a voz falada e a voz cantada. Neste contexto,
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3 Reviso de Literatura 48
observa-se uma produo de fala com caractersticas especiais, como exemplo
a voz salmodiada e emisso de mantras. Estas modificaes exigem diferentes
ajustes vocais e corporais, para que sejam realizadas de forma efetiva.
Behlau et al. (2010) comentam que o objetivo desse padro de
emisso unir os fiis ouvintes, alm do aconselhamento, esclarecimento,
ensinamento e apoio espiritual.
Os religiosos desempenham suas funes em diferentes locais e
situaes. comum a prtica de encontros religiosos em ambientes fechados
(igrejas e sales) ou ambientes abertos (praas pblicas). Viola (2011) afirma
que, nestas situaes, a voz e a fala podem ser utilizadas em uma conversa,
leitura, transmisso de informao, fala decorada e automatizada, canto e
oraes. O pblico nestas ocasies bastante variado, bem como as
condies de acstica e temperatura do local (VIOLA e LAURINDO, 2000;
BEHLAU et al., 2010; VIOLA, 2011). Titze, Lemke e Montequin (1997)
acrescentam que comum o lder religioso realizar aconselhamentos
individuais, sermes com regularidade, alm de reafirmar a importncia do uso
da voz no canto.
Em relao ao gnero, a predominncia de lderes e pregadores do
sexo masculino, mas tambm a mulher ocupa um importante papel como lder
espiritual no meio religioso (PENTEADO, HONORATO e NASCIMENTO, 2006;
MIDDLETON e HINTON, 2009).
Muitas religies solicitam que seus lderes tenham uma boa formao
escolar e acadmica para conduzir os fiis. Behlau et al. (2010) comentam que,
apesar dos anos de estudo e dedicao, so poucas as religies que oferecem
orientao e preparao adequada para o uso da voz profissional. Essas
orientaes so baseadas em tcnicas de oratria, retrica e homiltica
(FIGUEIREDO, 1879; SHEPARD, 1939; BROADUS, 1960; MARINHO, 2008;
MORAES, 2008).
A arte de pregar sermes religiosos conhecida como Homiltica,
derivada do grego homilo, relacionado ao verbo conversar. Esta deu origem
ao termo homilia, que significa "falar de Deus aos homens". Moraes (2008)
destaca o estudo do conjunto de regras que devem ser seguidas na elaborao
e na transmisso de um sermo. A homiltica tem como bases a eloquncia e
a retrica que, segundo Figueiredo (1879), so tcnicas que exprimem a
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3 Reviso de Literatura 49
mensagem com convico e persuaso. Entre os recursos utilizados na
transmisso de um sermo religioso, encontra-se, como o principal veculo da
comunicao verbal, a voz humana.
Viola e Laurindo (2000) analisaram 78 seminaristas da religio catlica,
com o intuito de caracterizar o contexto de formao vocal dos sacerdotes,
alm de analisar as caractersticas de fala e voz durante a emisso no
profissional. As autoras observaram que, em relao s atividades vocais
realizadas diariamente, foram consideradas situaes mais cansativas, pelos
seminaristas: 40% referiram-se ao canto, 16% ao uso da voz salmodiada e
12% referiram-se ao ato de falar baixo. Os fatores mais citados, considerados
como responsveis pela piora da voz, foram: excesso na fala (23%), gelados
(21%) e o canto (17%). A garganta foi a regio corporal mais sentida como
dolorida (60%) pelos seminaristas, aps atividade vocal.
Outro fator avaliado por Viola e Laurindo (2000) foi a condio das
arcadas dentrias, em que destacava a presena de alterao em 74% dos
sujeitos avaliados, sendo que 25% tambm apresentaram alteraes na
articulao temporomandibular (ATM). Em relao voz, 58% dos seminaristas
apresentaram qualidade de voz fluda com pitch normal (82%), ressonncia
equilibrada (64%) e adequada ao falante (60%). As alteraes vocais
encontradas foram consideradas discretas e moderadas (23% e 17%
respectivamente). Noventa e trs por cento dos seminaristas avaliados nunca
fizeram uma consulta com mdico otorrinolaringologista. As autoras reforam
que os seminaristas recebem orientaes insuficientes, durante sua formao
religiosa, quanto ao uso da voz falada e cantada.
Hocvar-Boltear (2009) realizou um estudo com 340 padres
eslovenos, em que pde constatar que 85,6% haviam sofrido algum problema
de voz durante o sacerdcio, e quase 16% relataram ainda ter problemas de
voz com frequncia. Infeces respiratrias foram declaradas como a causa
mais comum dos problemas vocais (48,8%). Em relao prtica de dar aulas,
94,1% dos participantes afirmaram ensinar lies religiosas com frequncia e
53% relataram problemas de voz aps excesso de uso vocal. A autora
tambm afirma que a falta de orientao adequada sobre o uso da voz
profissional e sobre princpios de bem-estar vocal foi um fator expressivo para
a ocorrncia de distrbios vocais com frequncia na populao estudada.
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3 Reviso de Literatura 50
3.1.2 A voz do pastor evanglico
O pastor evanglico, como um profissional da voz, depende de toda a
sua capacidade vocal para exercer o ministrio. Como emissor, usa sua voz
para transmitir os conceitos bblicos, por meio da expresso de pensamentos e
ideias, de modo que o ouvinte receba e compreenda a mensagem com clareza
(MORAES, 2008; KOESSLER, 2010).
Desde 1939, Shepard j destacava a importncia da voz e da sade do
pastor evanglico para a pregao da palavra:
A voz depende em parte da fora fsica. Aquele que tem corpo forte, geralmente tem voz que alcana a todos os ouvintes. Muitas vezes o pregador fraco fala coisas ao plpito que as pessoas sentadas nos ltimos bancos do salo da assembleia no podem ouvir. O resultado natural que aqueles ouvintes, especialmente, se no tem conexo ntima com aquela igreja, deixaro de assistir aos cultos subsequentes (...) O homem no bom por ser forte, mas o bom pregador ainda melhor por ter um corpo forte e resistente. (SHEPARD, 1939, p.82 e 83).
Essas caractersticas tambm so destacadas por Broadus (1960). Ele
afirma que nada to importante como a voz, pois o grande instrumento do
pregador. Tambm enfatiza a necessidade do conhecimento da anatomia e da
fisiologia dos rgos vocais, principalmente para evitar certas doenas, e que a
sade em geral tambm contribui para melhorar a voz.
Alm da pregao, comum o pastor evanglico desenvolver
atividades administrativas, de liderana, ensino e aconselhamento (AEZ,
1989; e participar de debates e reunies em grupo, atividades essas em que
possvel observar um acmulo de funes e um intenso uso da sua voz na
fala e no canto (BEHLAU et al., 2010).
Ebert e Sobol (2009) destacam que as funes desempenhadas so
mltiplas, alm destas j citadas: os pastores desenvolvem tambm as
funes de realizar cultos; preparar mensagens e estudos bblicos; realizar
funerais, casamentos e batismos; elaborar relatrios; atender, orientar e
acompanhar pessoas; treinar e formar outros lderes; visitar; pregar; ministrar
cursos; ministrar em eventos; realizar eventos e participar em projetos sociais.
Perry (1990) observa que, dependendo da situao, o pastor tem a
necessidade de utilizar toda a sua potncia vocal e disposio fsica para
pregar a mensagem bblica, em ambientes ao ar livre, para pequenas ou
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3 Reviso de Literatura 51
grandes multides, onde preciso uma maior projeo vocal, tanto para o
sermo quanto para conduzir as msicas e oraes com os fiis.
Marinho (2008) afirma que a habilidade de utilizar a voz de forma
equilibrada uma caracterstica necessria a um bom pastor, principalmente
quando este se encontra conduzindo um culto, orando, ou durante a pregao
da Palavra.
Soares et al. (2009), em estudo realizado com 40 pastores evanglicos
(31 sujeitos do sexo masculino e 9 do sexo feminino), analisaram os aspectos
relacionados ao estilo de vida e aos hbitos de lazer dos pastores evanglicos.
Observaram que somente 27,5% dos pastores desenvolvem alguma atividade
fsica em momentos de lazer, em grau leve a moderado, principalmente em
locais pblicos como praas, ciclovias e pistas de caminhada. Os autores
destacam a importncia de prticas esportivas na preveno de doenas e no
auxlio de um lazer ativo.
Em concordncia, Behlau e Pontes (2001) confirmam a importncia de
uma atividade fsica para a sade geral do corpo e para uma produo vocal
mais resistente e com mais potncia.
Viola (2011) aponta a intensa atuao do pastor evanglico em todas
as classes sociais. Por este motivo, tem ampla funo em relao ao uso da
voz, no plpito, e em visitas, reunies, aulas, casamentos, velrios e outros
eventos, nos quais necessita utilizar sua comunicao e emoo de diversas
maneiras (AEZ, 1989).
Campos (2004) aponta outras duas situaes importantes, nas quais o
pastor evanglico atua como profissional da voz: o rdio e a televiso. Segundo
o autor, desde 1906 os evanglicos utilizam o rdio para a transmisso de
mensagens religiosas. Comenta que, com o advento da televiso, as
mensagens tambm passaram a ser transmitidas por meio desse veculo de
comunicao, a partir da dcada de 50.
Na atualidade, encontram-se, nos meios de comunicao (televiso e
rdio) ou na internet, pregadores que so hbeis com as palavras. Behlau et al.
(2010) afirmam que estas so situaes que podem causar uma demanda e
estresse adicionais.
Mesmo com a utilizao de microfones, equipamentos de amplificao
e recursos eletrnicos, observa-se que o uso inadequado, esforo e demanda
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3 Reviso de Literatura 52
vocal continuam os mesmos; utiliza-se o mximo da potncia vocal, com
excesso de intensidade, durante a pregao e o canto (LIMA, 2011; STRANDT
e JENNINGS, 2010).
O ministro religioso, ao longo da histria da humanidade, exerce a
funo de conselheiro espiritual e administrador da Igreja (PERRY, 1990).
Dentro de sua atribuio profissional, tambm desenvolve o papel pregador,
educador e pastor (SHEPARD, 1939). Desempenha uma funo fundamental
no processo educativo e de desenvolvimento do ser humano, semelhante
desenvolvida pelos professores (PRICE, 1975).
O exemplo encontrado na Bblia, que foi deixado por Jesus Cristo,
apresenta o modelo para o exerccio e desempenho das funes na prtica do
ensino:
Conclumos que Jesus foi considerado mestre na arte de ensinar, quando vemos que ele praticamente empregou (...) os mtodos usados hoje em dia - perguntas, prelees, histrias, conversas, discusses, dramatizaes, lies objetivas, planejamentos e demonstraes. (...) Vemos ainda que Jesus conhecia perfeitamente a arte de ensinar pelos processos de que lanou mo, pois, quando analisamos suas partes componentes, descobrimos que suas lies tinham exrdio, desenvolvimento e concluso sempre muito apropriados. (...) Ele tratava diretamente dos assuntos, com ilustraes mui adequadas, aplicando muito bem seu ensino a situao e ao momento. (PRICE, 1975, p.23).
Verdolini e Ramig (2001) relatam que, nos Estados Unidos, o mercado
de trabalho apresenta trabalhadores com problemas de voz diariamente, e que
estes s percebem o problema quando h um impacto negativo sobre seu
trabalho e sua qualidade de vida. Destacam que as principais categorias
ocupacionais que apresentam alterao vocal so professores e cantores; mas
outras profisses tambm so importantes, como os assistentes sociais,
advogados e pastores, principalmente pela demanda vocal que apresentam.
Ferro et al. (1998) avaliaram o perfil vocal de 70 pastores evanglicos
de igrejas tradicionais e pentecostais; observaram que 70% dos pastores
apresentam alterao vocal de grau leve a intenso e 75% alterao no pitch
(grave ou agudo em excesso). Tambm relatam que 62,5% dos pastores
referem sensao de pigarro, 75% referem garganta seca com frequncia e
32,5% ardor na garganta. Somente 17,5% dos pastores referiram ter buscado
orientao sobre o uso profissional da voz. O estudo salientou que 87% dos
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Verdolini%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11432413http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Verdolini%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11432413
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3 Reviso de Literatura 53
pastores evanglicos no foram capazes de perceber a prpria alterao vocal
e consideraram sua voz satisfatria.
Quitanilha e Melo (2008) analisaram 12 pastores evanglicos atuantes
em igrejas pentecostais e renovadas, e observaram que 25% dos pastores
exercem outra profisso, 17% fazem uso da voz em atividades pastorais de 6 a
10 horas por semana; e considerando os pastores que exercem atividades
pastorais em tempo integral, 8,3% usam a voz mais de 30 horas por semana.
Os autores tambm atestaram que 75% dos pastores evanglicos analisados
apresentam queixa vocal, 58,3% referem rouquido por mais de dois dias e
66,6% relatam que apresentam a sensao de mudana na voz, desde que
comearam as atividades nos cultos. Considerando a intensidade vocal, 75%
dos sujeitos analisados referiram falar alto e 25% falar muito alto; 100% dos
entrevistados afirmaram utilizar microfone durante as pregaes. Quando
questionados sobre tratamento, 41,6% referiram no fazer nada, 50% fazem
uso da automedicao, e somente 8,3% procuram um especialista.
Pino et al. (2009), em estudo com 18 pastores que exercem a funo
de docncia, relatam que pastores docentes de seminrios pentecostais
afirmam ter o hbito de falar muito (90%) e pigarrear (30%), hbitos tambm
observados nos pastores docentes de linha tradicional (62,5% e 30%,
respectivamente). Quanto presena de sintomas vocais, 70% dos
pentecostais referiram presena de sintomas e 50% dos pastores tradicionais
referiram alguma queixa vocal. O estudo destaca que 90% dos pastores
pentecostais participaram de palestras e cursos sobre sade vocal, e somente
50% dos pastores tradicionais receberam orientaes sobre o assunto. De
modo geral, os pastores pentecostais relatam mais hbitos prejudiciais para a
sade vocal do que os pastores de linha tradicional.
Palheta Neto et al. (2009) analisaram a ocorrncia de distrbios vocais
em 56 pastores da Igreja Adventista do Stimo Dia. Detectaram que 86% dos
pastores analisados se dedicavam exclusivamente atividade religiosa e 14%
exerciam outra atividade profissional. Os sintomas mais referidos pelos
pastores desse estudo foram: pigarro (78,5%), rouquido (57,1%) e sensao
de dor ou irritao na garganta (51,8%). No estudo, 66% pastores relataram
ingerir menos de dois litros de gua diariamente e 34% relataram consumir
mais de dois litros. Na associao dos principais sintomas com a ingesto de
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3 Reviso de Literatura 54
gua, observou-se maior prevalncia de rouquido nos sujeitos que bebiam
menos de dois litros diariamente, quando comparados ao grupo que ingeria
maior quantidade diria. Um total de 8,9% dos pastores no apresentou
nenhuma sintomatologia, independente do volume de gua ingerido.
Em estudo realizado com 1.152 pessoas, (LIERDE et al., 2012) foram
avaliados 832 profissionais da voz e 320 no profissionais da voz. O objetivo
foi verificar a presena, frequncia e intensidade da dor durante a fonao, com
o intuito de determinar se a presena de dor estava relacionada com o uso e a
funo desempenhada pelo profissional da voz. Observa-se que vrios tipos de
dor foram mais presentes em profissionais da voz, quando comparados aos
no profissionais da voz (p=0,001); dores na garganta, cabea, pescoo,
costas, ombro e dor de ouvido foram os sintomas mais relatados pelos
profissionais da voz do que pelos no profissionais da voz. Os sintomas
tambm foram relatados como mais intensos pelos profissionais da voz. Em
relao intensidade, a dor de garganta foi considerada a mais intensa no
grupo dos profissionais da voz (p=0,002), quando comparados aos no
profissionais da voz.
Fritzell (1996) realizou um estudo com 1212 pessoas, ativas
profissionalmente, em que levantou dados sobre o perfil dos sujeitos,
comparando o problema de voz apresentado, com a idade e funo profissional
exercida por eles. De acordo com o autor, o conhecimento destas
caractersticas facilitaria o desenvolvimento de intervenes mais diretivas na
promoo da sade vocal dos profissionais da voz. Observou-se que o grupo
mais expressivo de profissionais foi o dos professores, sendo 76% do sexo
feminino. Ele comenta que, alm dos professores, os advogados, pastores e
assistentes sociais precisam de orientao e preparao vocal para o melhor
desempenho de suas funes profissionais. No estudo, foram avaliados
somente cinco pastores, sendo quatro do sexo feminino. O autor destaca que a
voz sofre perda em seu potencial quando uma mulher atua na carreira clerical.
Outro fator que o autor considera o fato de a mulher estar desenvolvendo
uma funo com perfil mais masculino, considerando-se o papel
desempenhado nessa funo.
Outro estudo realizado com voz de pastoras pentecostais da Igreja do
Evangelho Quadrangular abordou questes sobre a atuao profissional,
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3 Reviso de Literatura 55
situaes relacionadas ao trabalho, uso da voz e possveis mudanas ou
variaes vocais percebidas (PENTEADO, HONORATO e NASCIMENTO,
2006). Somente duas pastoras participaram dessa pesquisa em que relataram
demanda de atividades excessiva, pelo acmulo das funes na igreja e os
conflitos vivenciados na tentativa de administrar e conciliar esta atividade com
o papel de esposa, me e dona de casa. Tambm demonstraram
desconhecimento sobre aspectos de higiene e sade vocal, indicando que
possuem um conhecimento bsico, superficial e fragmentado a respeito dos
cuidados necessrios no uso da voz como instrumento de trabalho. As autoras
concluram que o preparo da mulher pastora, para o uso profissional da voz,
ainda se mostra insuficiente.
Middleton e Hilton (2009) tambm realizaram um estudo com mulheres
pastoras evanglicas, com o intuito de levantar dados sobre a sade, estilo de
vida e autopercepo das caractersticas vocais. A avaliao foi feita por meio
de questionrio autorreferido e uma gravao, realizada durante uso
profissional da voz em um culto evanglico. No total foram avaliadas seis
pastoras, que relataram algum tipo de comportamento vocal abusivo: grito, falar
alto, choro, cantar, rir muito, falar em ambientes ruidosos e uso excessivo de
telefone.
Em relao a autopercepo vocal, Middleton e Hilton (2009) salientam
que 50% das participantes classificaram suas vozes como excelentes
(pontuao 5). Em contrapartida, os avaliadores classificaram a qualidade
vocal de todas as participantes entre 2,5 (boa) e 4,3 (boa / muito boa), devido
presena de alguma caracterstica desviante na voz das participantes.
Rugosidade e soprosidade foram observadas em todas as vozes analisadas.
Spina et al. (2009) afirmam que caracterizar o impacto de alguma doena ou
desordem na qualidade de vida de um indivduo mais difcil que conceituar
qualidade de vida.
O ministrio pastoral envolve diversos aspectos psicossociais
relacionados comunicao humana. A comunicao utilizada em todas as
atividades de vida diria, sendo o mecanismo pelo qual as relaes
interpessoais existem e se desenvolvem (KASAMA e BRASOLOTTO, 2007).
Vrios fatores podem influenciar de maneira positiva e/ou negativa o seu uso e
desenvolvimento, como fatores fsicos, socioculturais e emocionais.
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3 Reviso de Literatura 56
Buckland (2003) destaca as principais atividades desenvolvidas no
ministrio do pastor evanglico, que envolvem comunicao, situaes
emocionais e contato com pessoas, e que podem se tornar fontes geradoras
de estresse:
dificuldade para separar horas de trabalho e lazer;
produzir mensagens inditas para conquistar o interesse do ouvinte;
relacionamento com pessoas que sempre apresentam problemas
repetitivos;
insegurana por no saber se os objetivos de seu trabalho foram
alcanados;
alternncia entre sentimentos de alegria, tristeza ou preocupao
decorrentes de situaes que envolvem as atividades desenvolvidas;
sentimento de solido por ter que desenvolver grande parte do trabalho
sozinho;
necessidade de guardar sigilo nos assuntos que envolvem as pessoas
que participam da igreja.
Estresse essencialmente o grau de desgaste total causado pela vida.
Lipp, Pereira e Sadir (2005) relatam que, durante situaes de estresse, o
organismo necessita de mecanismos de adaptao. Douglas e Fabichak (2002)
afirmam que a emoo um estado peculiar de comportamento reativo ao se
pensar em uma sensao. Deste modo, o indivduo assume uma postura de
agrado ou desagrado, de prazer ou desprazer, de aceitao ou rejeio.
O estresse pode influenciar a sade do indivduo, caso alguns limites
sejam ultrapassados; e, em conjunto, o processo psicofisiolgico do estresse
tem a durao prolongada. Buckland (2003) alerta que, diante de expectativas
irreais, a pessoa desenvolve uma jornada de trabalho desbalanceada, o que
inevitavelmente gera estresse e estafa.
Cutts et al. (2012) comentam que o tipo de atividade desenvolvida
pelos pastores e lderes pode influenciar de maneira negativa na sua sade ou
no bem-estar geral. Os autores destacam estudos que apontam os pastores
evanglicos como vtimas de alta incidncia de doenas crnicas, como
doenas cardacas, diabetes, obesidade, asma e artrite, e com taxas mais
elevadas que dos no evanglicos.
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3 Reviso de Literatura 57
Giannini, Latorre e Ferreira (2012), em um estudo caso-controle com
professores, tiveram como objetivo associar o distrbio de voz e estresse no
ambiente de trabalho. Foram observados: maior presena de rouquido (93,4%
casos e 51% controles, p=0,001); episdios de perda de voz (57,6% casos e
20,4% controles, p=0,001); cansao ao falar (86,7% casos e 50,0% controles,
p=0,001); e esforo ao falar (86,1% casos e 52,4% controles, p= 0,001). Os
participantes tambm apresentaram queixas em relao a ambientes com
acstica insatisfatria (p=0,010).
Giannini, Latorre e Ferreira (2012) salientam que o estudo confirmou a
associao entre distrbio de voz em professores e estresse no ambiente de
trabalho docente. Os professores do grupo de caso relataram mais condies
de alta exigncia em sua atuao profissional, quando comparados ao grupo
controle (OR = 2,1; IC 95%: 1,1-3,9). Isto representa a alta demanda de
atividades associadas ao baixo controle das situaes que envolvem o
ambiente de trabalho, situao considerada com maior risco de presena de
reaes adversas sade fsica e mental dos trabalhadores.
Behlau (2008) comenta que, quando as demandas vocais requeridas
pelo falante no so contempladas, desvios em determinados parmetros
vocais podem caracterizar um distrbio de voz, seja na comunicao diria, na
expresso das emoes, ou no uso profissional da voz.
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3 Reviso de Literatura 58
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444 PPPrrrooopppooosssiiiooo
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4 Proposio 61
4 PROPOSIO
Investigar sintomas vocais e laringofarngeos, qualidade vocal,
autorreferncia a desconforto em trato vocal e perfil de participao em atividades
vocais de pastores evanglicos, comparando com os mesmos aspectos de homens
no profissionais da voz.
Verificar se h correlao, tanto para pastores evanglicos quanto para
homens no profissionais da voz, entre o perfil de participao em atividades vocais
e:
autorreferncia a sintomas vocais e laringofarngeos,
a qualidade vocal,
a autorreferncia a desconforto em trato vocal.
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4 Proposio 62
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555 MMMaaattteeerrriiiaaalll eee MMMtttooodddooosss
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5 Material e Mtodos 65
5 MATERIAL E MTODOS
5.1 Casustica
O projeto de pesquisa foi submetido avaliao do Comit de tica em
Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru, e aprovado de acordo com o
protocolo n 060/2011 (ANEXOS 1 e 2).
Para a realizao da pesquisa foram selecionados participantes do sexo
masculino, com idade entre 20 a 59 anos, ativos profissionalmente, da regio de
uma cidade de mdio porte do interior do estado de So Paulo.
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para participar da pesquisa (ANEXO 3). Os sujeitos foram divididos em 2
grupos: pastores evanglicos (experimental) e no profissionais da voz (controle),
pareados em idade.
Foram considerados como critrio de incluso:
Grupo experimental
ser pastor pertencente a qualquer denominao evanglica,
ter tempo de ministrio pastoral igual ou superior a um ano.
Grupo controle
no exercer funo ministerial,
no utilizar a voz profissionalmente, de acordo com os nveis III
e IV da classificao de Koufman e Isaacson (1991 apud
BEHLAU et al., 2010).
Foram considerados como critrios de excluso para os dois grupos
pesquisados:
relato de problemas auditivos e/ou neurolgicos,
cirurgia larngea pregressa,
tabagismo atual ou pregresso h 5 anos.
Estes dados foram coletados por meio de pergunta dirigida feita aos
participantes, no momento da seleo dos sujeitos.
-
5 Material e Mtodos 66
5.2 Metodologia
Todas as avaliaes foram realizadas no Laboratrio de Voz da Clnica de
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, onde foram realizados os
procedimentos de preenchimento dos questionrios e a gravao da voz.
5.2.1 Condio de Produo Vocal (CPV)
O CPV um questionrio brasileiro desenvolvido para caracterizar a
condio vocal de professores. O questionrio levanta dados sociodemogrficos,
aspectos relacionados ao ambiente fsico, organizao de trabalho, sintomas e
hbitos vocais, aspectos gerais da sade e antecedentes familiares
(FERREIRA et al., 2007).
composto por 84 questes, divididas em seis domnios, a saber: I -
identificao da escola, II - identificao do entrevistado, III - situao funcional,
IV - aspectos gerais de sade, V - hbitos, e VI - aspectos vocais. A maioria
das respostas s questes deve ser assinalada de acordo com a frequncia de
sua ocorrncia, em escala Likert de quatro pontos: nunca (0), raramente (1),
quase sempre (2), sempre (3). A alternativa no sei tambm consta entre as
opes de resposta. O questionrio conta, ainda, com algumas questes de
mltipla escolha, outras para assinalar sim ou no, e algumas questes
abertas.
Para a aplicao do CPV em pastores e em homens no profissionais
da voz, no presente estudo, foram realizadas adaptaes nos domnios I e III
no que se refere aos termos "escola" (por igreja, empresa, locais ou
ambiente de trabalho) e professor (por pastor ou atividade profissional)
(ANEXOS 4 e 5).
O objetivo do questionrio e a forma de preenchimento foram
explicados a cada participante de maneira individual, sendo orientado a
assinalar a resposta mais adequada sua situao. Esse questionrio tem
como caracterstica ser autoaplicvel, no havendo a necessidade da presena
do avaliador.
Para a anlise dos resultados, algumas questes dos domnios II e III,
e todas as questes do domnio VI foram utilizadas na caracterizao dos
grupos experimental e controle. Para isso, as respostas em escala Likert foram
-
5 Material e Mtodos 67
consideradas em duas categorias: NO (nunca, raramente, no sei) e SIM (s
vezes, sempre). Foi considerada tambm, para as questes 76 (sintomas
vocais) e 77 (sensaes na garganta) do domnio VI, a mdia da pontuao
das respostas em escala Likert, nas anlises propostas no presente estudo.
5.2.2 Escala de Desconforto do Trato Vocal (EDTV)
Com base em estudos realizados por Mathieson et al. (2009), a EDTV
uma ferramenta que est sendo desenvolvida para quantificar, de maneira
qualitativa, a intensidade e a frequncia de um desconforto na regio
laringofarngea. No Brasil, vem sendo utilizada a EDTV, traduzida por Behlau e
colaboradores (ANEXO 7).
uma escala composta por 8 itens que abordam tanto a frequncia
quanto a intensidade do sintoma ou sensao percebida pelo indivduo. So
verificados os seguintes aspectos: queimao, aperto, secura, garganta
dolorida, coceira, garganta sensvel, garganta irritada e bola na garganta. As
questes so assinaladas de acordo com a frequncia ou intensidade de sua
ocorrncia, em escala Likert, composta de sete pontos. Em relao a
frequncia do sintoma/sensao, as respostas so: nunca (0-1), s vezes (2-3),
muitas vezes (4-5) e sempre (6). Em relao intensidade: nenhuma (0-1),
leve (2-3), moderada (4-5) e extrema (6).
Cada participante recebeu explicao sobre o preenchimento da
escala e orientao para observar separadamente cada item, considerando a
frequncia e a intensidade do sintoma/sensao, para assinalar a resposta
mais adequada sua situao.
Para a anlise dos resultados, foi considerada a mdia da pontuao
das respostas em escala nas anlises propostas no presente estudo.
5.2.3 Avaliao perceptivo-auditiva da voz
Procedimento para gravao
Foi realizada a gravao de duas tarefas: emisso de vogal
sustentada e contagem de nmeros em sequncia. Na primeira tarefa, foi
solicitado ao participante emitir a vogal /a/, em seu modo habitual de voz,
durante 5 segundos, aproximadamente. Para a segunda tarefa, o
-
5 Material e Mtodos 68
participante foi orientado a contar os nmeros de 1 a 20, em sequncia,
como se estivesse em uma situao de conversao normal.
Todas as emisses solicitadas aos sujeitos foram gravadas
diretamente no computador Intel Pentium (R) 4, CPU 2.040 GHz e 256
MB de RAM, monitor LG Flatron E7015 17, placa de som modelo Audigy
II, marca Creative, do Laboratrio de Voz da Clnica de Fonoaudiologia da
Faculdade de Odontologia de Bauru.
As emisses foram gravadas no computador por meio de um
software de edio de udio profissional - Sound Forge 10.0, em taxa de
amostragem de 44.100 Hz, canal Mono em 16 Bit; e microfone de cabea
marca AKG modelo C444PP com amplificador modelo 3710 (KayPentax).
Durante a coleta dos dados, o indivduo permaneceu sentado, em
uma sala acusticamente tratada. O microfone esteve localizado a 45
graus e a 4 cm de distncia lateralmente (lado direito) da boca do
indivduo.
Anlise das emisses e dos resultados
As anlises das emisses vogal sustentada e contagem de
nmeros foram realizadas por trs juzes, fonoaudilogos especialistas
em voz, com experincia em anlise perceptivo-auditiva da voz. Nas duas
emisses, foram analisados os parmetros grau geral do desvio vocal,
rugosidade, soprosidade e tenso, por meio de uma escala analgico-
visual, de 0 a 100 mm, sendo o extremo esquerda, ausncia da
caracterstica vocal avaliada; e o extremo direita, presena em grau
mximo.
Cada juiz recebeu um CD contendo as emisses dos 60
participantes, divididas em duas pastas especficas: vogal sustentada e
contagem de nmeros. Todas as amostras foram apresentadas de forma
cega e randmica, com o acrscimo de algumas repeties para a
avaliao da confiabilidade intra e interjuzes. No total, foram 144
amostras para serem analisadas.
Junto com o CD, foi entregue um material especfico para a
anotao dos resultados, dos parmetros referentes vogal sustentada e
contagem de nmeros de cada participante (ANEXOS 8 e 9).
-
5 Material e Mtodos 69
Na anlise, os juzes indicaram o grau de desvio percebido em
cada parmetro perceptivo marcando um trao verticalmente na escala.
Para a anlise dos resultados, a marcao foi transformada em
um valor correspondente em milmetros com o auxlio de uma rgua
milimtrica. Foi calculada a mdia dos trs juzes, considerando os
valores dos parmetros observados nos participantes.
5.2.4 Perfil de Participao em Atividades vocais (PPAV)
O PPAV um protocolo que tem por objetivo avaliar a percepo do
problema de voz, a limitao de atividades e restrio de participao,
utilizando a International Classification of Impairment, Disabilities and Handicap
(ICIDH) da Organizao Mundial da Sade (OMS), conhecida no Brasil como
CIF - Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade
(OMS, 2004).
No Brasil, esse instrumento foi validado por Behlau et al. (2009) a partir
do protocolo desenvolvido por Ma e Yiu (2001), denominado Voice Active and
Participation Profile - VAPP (ANEXO 6).
O protocolo apresenta-se com 28 questes divididas em cinco sesses:
autopercepo da severidade do problema de voz, efeitos no trabalho, efeitos
na comunicao diria, efeitos na comunicao social e efeito na sua emoo.
A resposta da questo deve ser assinalada de acordo com a frequncia de sua
ocorrncia, em escala analgica-visual de 0 a 10cm, variando de normal a
intenso (sesso autopercepo da severidade do problema de voz), e de nunca
a sempre (demais sesses).
A orientao sobre o preenchimento do protocolo foi realizada de
maneira individual, destacando-se a necessidade de uma marcao, em
qualquer ponto da linha, considerando a graduao da resposta de acordo com
a prpria percepo do participante. Este protocolo tambm autoaplicvel,
podendo ser preenchido sem a presena do avaliador.
Para a anlise dos resultados, a marcao transformada em um valor
correspondente, utilizando-se uma rgua milimtrica, sendo que cada 1cm
passa a ser considerado como 01 ponto, e a pontuao de cada questo varia
de 0 a 10. Sendo assim, a pontuao mxima obtida no protocolo e em cada
sesso : escore total, 280 (28 questes); autopercepo da severidade do
-
5 Material e Mtodos 70
problema de voz, 10 (1 questo); efeitos no trabalho, 40 (4 questes); efeitos
na comunicao diria, 120 (12 questes); efeitos na comunicao social, 40 (4
questes); e efeito na emoo, 70 (7 questes).
O clculo do resultado referente limitao de atividades e restrio
de participao feito por meio de somatrio simples de questes especficas
em algumas sesses do PPAV. Para calcular a pontuao de limitao de
atividades, somam-se as questes das seguintes sesses: efeitos no trabalho
(questes 2 e 4); efeitos na comunicao diria (questes 6,8,10,12,14 e 16); e
efeitos na comunicao social (questes 18 e 20). Para calcular a pontuao da
restrio de participao: efeitos no trabalho (questes 3 e 5); efeitos na
comunicao diria (questes 7,9,11,13,15 e 17); e efeitos na comunicao
social (questes 19 e 21).
Para a anlise dos resultados, foram consideradas a mdia da
pontuao mxima obtida no protocolo, a mdia da pontuao em cada sesso
e a mdia dos resultados referentes limitao de atividades e restrio de
participao.
5.2.4. Anlise estatstica
Os dados obtidos foram tabulados em planilha do programa Excel; e as
anlises realizadas, por estatstico da instituio, pelo programa Statistica for
Windows verso 10.0, StatSoft Inc.
Foi realizado o clculo da mdia e desvio padro dos valores, bem
como o clculo da porcentagem do nmero de sujeitos para caracterizao dos
grupos experimental e controle.
Para comparao entre os grupos, nas variveis ordinais, foi realizado
o Teste de Mann-Whitney.
Para comparao entre os grupos, nas variveis qualitativas, foi
realizado Teste t.
Para correlao dos dados, tanto para o grupo experimental quanto
para o grupo controle, nas variveis ordinais, foi realizado o Teste de
Spearman.
Para correlao dos dados, tanto para o grupo experimental quanto
para o grupo controle, nas variveis qualitativas, foi realizado o Teste de
Pearson.
-
5 Material e Mtodos 71
Para verificar a concordncia intrajuzes, foi realizado o teste CCI
(Coeficiente de Correlao Intraclasse).
Em todos os testes estatsticos foi adotado nvel de significncia de 5%
(p
-
5 Material e Mtodos 72
-
666 RRReeesssuuullltttaaadddooosss
-
6 Resultados 75
6 RESULTADOS
6.1 Caracterizao dos grupos analisados
No total, participaram do estudo 60 homens, dentro dos critrios
estabelecidos para incluso na pesquisa, sendo 30 pastores evanglicos
(experimental) e 30 homens no profissionais da voz (controle). Foram selecionados
sujeitos pareados em idade, com mdia de idade de 42,3 anos, sendo o mnimo de
24 anos e o mximo de 59 anos.
De acordo com a Tabela 1, 68% dos participantes possuem ensino superior
completo ou em andamento.
Tabela 1 - Indivduos dos grupos experimental e controle, de acordo com idade, estado civil e escolaridade.
VARIVEIS EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)
n (%) n (%)
IDADE
21-30 anos 3 (10) 3 (10)
31-40 anos 10 (33,3) 10 (33,3)
41-50 anos 9 (30) 9 (30)
51-59 anos 8 (26,7) 8 (26,7)
ESTADO CIVIL
Casado/outra unio 29 (96,7) 19 (63,3)
Solteiro --- 5 (16,7)
Separado/divorciado --- 5 (16,7)
Vivo 1 (3,3) 1 (3,3)
ESCOLARIDADE
Superior completo 19 (63,3) 18 (60)
Superior incompleto 5 (16,7) 2 (6,7)
Superior em andamento 2 (6,7) 2 (6,7)
Sem nvel superior 4 (13,3) 8 (26,7)
Em relao atuao profissional, 80% dos pastores e 7% dos no
profissionais da voz desenvolvem outra atividade profissional. A mdia de tempo da
carreira profissional (profisso atual) de 13,15 anos, com mnimo de 01 ano e
mximo de 42 anos (TABELA 2).
-
6 Resultados 76
Tabela 2 - Indivduos dos grupos experimental e controle no que se refere situao profissional
SITUAO PROFISSIONAL EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)
n (%) n (%)
PROFISSO (**)
Pastor evanglico ( titular ou auxiliar) 30 (100) ---
Professor 8 (26,7) ---
Funcionrio pblico 3 (10) 9 (30)
Diretor de instituio 3 (10) 1 (3,3)
Bancrio 2 (6,7) ---
Auxiliar em setor de logstica e controle de qualidade
2 (6,7) ---
Capelania escolar 1 (3,3) ---
Juiz trabalhista 1 (3,3) ---
Advogado 1 (3,3) 3 (10)
Consultor de negcios 1 (3,3) 2 (6,7)
Empresrio 1 (3,3) 5 (16,7)
Engenheiro civil 1 (3,3) ---
Tcnico informtica 1 (3,3) ---
Setor de construo e manuteno residencial
1 (3,3) 2 (6,7)
Mdico --- 1 (3,3)
Gestor --- 2 (6,7)
Arquiteto --- 1 (3,3)
Publicitrio --- 1 (3,3)
Designer --- 1 (3,3)
Comerciante --- 3 (10)
Policial --- 1 (3,3)
TEMPO DE CARREIRA (profisso atual)
at 5 anos 3 (10) 2 (6,7)
6-10 anos 6 (20) 6 (20)
11-15 anos 6 (20) 6 (20)
16-20 anos 8 (26,7) 4 (13,3)
mais de 20 anos 7 (23,3) 12 (40)
** Os grupos possuem sujeitos que desempenham mais de uma atividade profissional.
-
6 Resultados 77
Quanto demanda vocal, a populao foi composta por profissionais que
permanecem em atividade profissional com carga horria que varia de
aproximadamente 20 a 40 horas semanais.
Em relao ao acmulo de funes, 80% dos pastores evanglicos
desenvolvem 2 ou mais atividades profissionais simultaneamente (TABELA 3).
Tabela 3 - Indivduos dos grupos experimental e controle no que se refere demanda de trabalho.
DEMANDA DE TRABALHO EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)
n (%) n (%)
ACMULO FUNES
1 atividade profissional 6 (20) 28 (93,3)
2 atividades profissionais 21 (70) 2 (6,7)
mais de 2 atividades profissionais 3 (10) ---
CARGA HORRIA
menos de 20h/sem 1 (3,3) ---
20h-30h/sem 3 (10) ---
30-40h/sem 12 (40) 23 (76,7)
mais de 40h/sem 14 (46,7) 7 (23,3)
Em relao ao grupo experimental, a Tabela 4 mostra que 70% dos pastores
evanglicos so de linha tradicional; a maioria desses pastores tem o cargo de
pastor titular, geralmente atuando somente em uma igreja. Observa-se que 43,3%
dos pastores dedicam menos de 20 horas semanais para as atividades ministeriais; isso
ocorre devido necessidade de desenvolver outras atividades profissionais.
-
6 Resultados 78
Tabela 4 Indivduos do grupo experimental, em relao s atividades desenvolvidas como pastor evanglico.
GRUPO EXPERIMENTAL n=30 (%)
CARGO
pastor titular 18 (60)
pastor auxiliar 12 (40)
DENOMINAO
Batista 17 (56,7)
Presbiteriana 3 (10)
Luterana 1 (3,3)
Pentecostal 7 (23,3)
Neopentecostal 2 (6,7)
TEMPO DE CARREIRA
At 5 anos 13 (43,3)
6-10 anos 3 (10)
11-15 anos 3 (10)
16-20 anos 7 (23,3)
Mais de 20 anos 4 (13,3)
CARGA HORRIA
menos de 20h/sem 13 (43,3)
20h-30h/sem 7 (23,3)
30-40h/sem 5 (16,7)
mais de 40h/sem 5 (16,7)
IGREJAS QUE ATUA
1 igreja 24 (80)
2 igrejas 4 (13,3)
Mais de 2 igrejas 2 (6,7)
Considerando toda a populao analisada, 48% dos participantes referiu que
j apresentou algum episdio de alterao vocal (pregressa ou atual), sendo que
31,03% desses no souberam referir como foi o incio do problema. A causa de
alterao vocal mais citada foi o uso intensivo da voz, e nenhum sujeito com
alterao vocal atual afirmou realizar tratamento especializado para o seu problema
(TABELA 5).
-
6 Resultados 79
Tabela 5 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a presena de alterao vocal (numerao referente ao CPV).
ALTERAO VOCAL EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)
n (%) n (%)
67. Alterao vocal
Pregressa 14 (46,7) 11 (36,7)
Atual 4 ( 13,3) ---
68. Tempo de alterao vocal atual
0 a 5 meses 2 (6,7) ---
6 meses a 11 meses --- ---
1 a 2 anos 1 (3,3) ---
H mais de 2 anos 1 (3,3) ---
69. Causa da alterao vocal
Uso intensivo da voz 6 (20) 8 (26,7)
Infeco respiratria 1 (3,3) 1 (3,3)
Alergia 2 (6,7) 3(10)
Estresse 3 (10) 1 (3,3)
Gripe constante 3 (10) ---
Exposio ao frio 4 (13,3) 4 (13,3)
Exposio ao barulho --- 3 (10)
No houve causa aparente 1 (3,3) 2 (6,6)
No sei 4 (13,3) ---
Outros 1 (3,3) 1 (3,3)
70. Tratamento especializado para o problema
Sim, realizo --- ---
Sim, j realizei 4 (13,3) 6 (20)
No --- ---
Tipo de tratamento
Terapia fonoaudiolgica 3 (10) 6 (20)
Uso de medicamentos 1 (3,3) ---
Cirurgia --- ---
Outros --- ---
71. Incio do problema
Brusco 7 (23,3) 1 (3,3)
Progressivo 5 (16,7) 2 (6,7)
Vai e volta 4 (13,3) 1 (3,3)
72. Estabilidade da alterao vocal
Melhora 5 (16,7) 7 (23,3)
Piora 1 (3,3) --- Igual 9 (30) 2 (6,7)
73. Grau de alterao vocal
Discreta 11 (36,7) 6 (20) Moderada
6 (20) 4 (13,3)
Severa 3 (10) ---
-
6 Resultados 80
Tabela 6 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a percepo vocal, hbitos e outros aspectos vocais.
ASPECTOS VOCAIS EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)
n (%) n (%)
74. Voz ao longo do dia
rouca pela manh e vai melhorando 20 (66,7) 15 (50)
melhor de manh e vai piorando 2 (6,7) 1 (3,3)
de manh a voz no sai --- ---
rouca de manh, vai melhorando e noite piora
--- ---
a noite a voz no sai --- ---
75. Reao das pessoas em relao voz
referem alterao de voz constante 2 (6,7) ---
se espantam com sua voz 1 (3,3) 1 (3,3)
no entendem o que voc diz 4 (13,3) 1 (3,3)
confundem o sexo --- 1 (3,3)
confundem a idade --- 1 (3,3)
perguntam qual o problema --- ---
nenhuma reao 17 (56,7) 20 (66,7)
Outros --- 1 (3,3) 78. Faltar ao trabalho devido alterao na voz --- ---
79. Satisfao com a prpria voz 21 (70) 23 (76,7)
80. Orientaes sobre cuidados com a voz 23 (76,7) 16 (53,3)
82. Hbitos vocais no ambiente de trabalho
Poupar a voz quando no est trabalhando 18 (60) 6 (20%)
Gritar 4 (13,3) 5 (16,7)
Falar muito 23 (76,6) 17 (56,7)
Falar em lugar aberto 19 (63,3) 13 (43,3)
Falar realizando atividades fsicas 14 (46,7) 6 (20)
Falar carregando peso 5 (16,7) 8 (26,7)
Beber gua durante uso da voz 6 (20) 10 (33,3)
83. Hbitos vocais fora do ambiente de trabalho
Cantar em coral 9 (30) 3 (10)
Cantar profissionalmente --- ---
Cantar em igreja 25 (83,3) 14 (46,7)
Fazer leituras pblicas 25 (83,3) 9 (30)
Participar de debates 18 (60) 9 (30)
Cuidar de alunos 20 (66,7) 3 (10)
Trabalhar com vendas 7 (23,3) 7 (23,3)
Fazer gravaes 6 (20) 1 (3,3)
Dar aulas particulares 11 (36,7) ---
Falar ao telefone 29 (96,7) 25 (83,3)
Outros 1 (3,33) ---
84. Casos de alterao de voz na famlia 4 (13,3) 1 (3,3)
-
6 Resultados 81
De acordo com a TABELA 6, 73% dos sujeitos esto satisfeitos com a
prpria voz, e 65% j receberam algum tipo de orientao sobre cuidados com a
voz. Nenhum sujeito referiu faltar no trabalho por questes vocais.
Observando a Tabela 7, os sintomas vocais mais referidos pela populao
estudada foram rouquido e voz grossa. Em relao s sensaes laringofarngeas,
observam-se: pigarro (35%), tosse seca (28%) e garganta seca (25%), como os mais
citados pelos sujeitos analisados.
Tabela 7 - Indivduos dos grupos experimental e controle, considerando a presena de sintomas vocais e sensaes laringofarngeas.
Aspectos Vocais EXPERIMENTAL (n=30) CONTROLE (n=30)
n (%) n (%)
76. Sintomas vocais
Rouquido 8 (26,6) 3 (10)
Perda de voz 1 (3,3) ---
Falha na voz 3 (10) 3 (10)
Falta de ar 3 (10) 2 (6,7)
Voz fina 2 (6,7) 1 (3,3)
Voz grossa 7 (23,3) 7 (23,3)
Voz variando grossa/fina 2 (6,7) 1 (3,3)
Voz fraca 2 (6,7) 3 (10)
Outros 1 (3,3) ---
77. Sensaes na garganta
Picada na Garganta --- ---
Areia na Garganta 1 (3,3) 1 (3,3)
Bola na Garganta --- 1 (3,3)
Pigarro 17 (56,7) 4 (13,3)
Tosse Seca 12 (40) 5 (16,7)
Tosse com Catarro 8 (26,7) 1 (3,3)
Dor ao Falar --- 1 (3,3)
Dor ao Engolir 1 (3,3) ---
Dificuldade para Engolir 1 (3,3) ---
Ardor na Garganta 4 (13,3) 1 (3,3)
Secreo/ Catarro na Garganta 10 (33,3) 1 (3,3)
Garganta Seca 11 (36,7) 4 (13,3)
Cansao ao Falar 14 (46,7) ---
Esforo ao Falar 4 (13,3) 1 (3,3)
Outros 1 (3,3) ---
-
6 Resultados 82
6.2 Comparao entre os grupos experimental e controle
6.2.1 Sintomas vocais e sensaes laringofarngeas
Observando-se os valores referentes aos sintomas vocais, verificou-se
que no h diferena significante entre o grupo dos pastores evanglicos e os
homens no profissionais da voz, de acordo com os resultados apresentados
na Tabela 8.
Tabela 8 Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3) entre os grupos experimental e controle, com relao aos sintomas vocais.
SINTOMAS VOCAIS Mdia ( Dp)
p EXPERIMENTAL CONTROLE
Rouquido 0,90 ( 0,96) 0,53 ( 0,68) 0,151
Perda de voz 0,23 ( 0,50) 0,07 ( 0,25) 0,129
Falha na voz 0,63 ( 0,76) 0,40 ( 0,67) 0,163
Falta de ar 0,47 ( 0,68) 0,20 ( 0,55) 0,052
Voz fina 0,13 ( 0,51) 0,17 ( 0,46) 0,451
Voz grossa 0,87 ( 0,94) 1,07 ( 0,99) 0,266
Voz variando grossa/fina 0,37 ( 0,81) 0,30 ( 0,53) 0,860
Voz fraca 0,43 ( 0,73) 0,37 ( 0,81) 0,375
Outros 0,43 ( 0,43) 0,00 ( 0,00) 0,081
Obs: Comparao entre grupos (teste de Mann-Whitney)
Considerando s sensaes laringofarngeas, observam-se diferenas
significantes entre os grupos, sendo que os pastores evanglicos referiram, em
maior frequncia, pigarro, tosse com catarro, ardor na garganta,
secreo/catarro na garganta, garganta seca, cansao ao falar e esforo ao
falar, que homens no profissionais da voz (TABELA 9).
-
6 Resultados 83
Tabela 9 Comparao da mdia de pontuao do CPV (escala de 0 a 3) entre os grupos experimental e controle, com relao s sensaes laringofarngeas.
SENSAES LARINGOFARNGEAS Mdia ( Dp)
p EXPERIMENTAL CONTROLE
Picada na Garganta 0,07 ( 0,25) 0,07 ( 0,25) 0,986
Areia na Garganta 0,17 ( 0,46) 0,13 ( 0,43) 0,710
Bola na Garganta 0,13 ( 0,34) 0,10 ( 0,40) 0,434
Pigarro 1,37 ( 1,09) 0,73 ( 0,69) 0,019*
Tosse Seca 1,13 ( 0,97) 0,67 ( 0,76) 0,060
Tosse com Catarro 0,90 ( 0,80) 0,43 ( 0,68) 0,015*
Dor ao Falar 0,10 ( 0,30) 0,13 ( 0,43) 0,977
Dor ao Engolir 0,20 ( 0,48) 0,23 ( 0,43) 0,580
Dificuldade para Engolir 0,23 ( 0,50) 0,17 ( 0,38) 0,708
Ardor na Garganta 0,63 ( 0,72) 0,27 ( 0,52) 0,028*
Secreo/ Catarro na Garganta 1,04 ( 0,78) 0,30 ( 0,53) 0,000*
Garganta Seca 1,40 ( 0,93) 0,57 ( 0,73) 0,000*
Cansao ao Falar 1,23 ( 0,82) 0,13 ( 0,35) 0,000*
Esforo ao Falar 0,73 ( 0,74) 0,13 ( 0,43) 0,000*
Outros 0,07 ( 0,36) 0,00 ( 0,00) 0,334
* Resultado significante da comparao entre grupos (teste de Mann-Whitney)
6.2.2 Desconforto em trato vocal
Em relao frequncia e intensidade do desconforto no trato vocal,
observa-se diferena significante entre o grupo dos pastores evanglicos e
homens no profissionais da voz; os pastores evanglicos referiram mais o
sintoma secura, tanto na frequncia (p=0,009) quanto na intensidade (p=0,006)
do sintoma (TABELA 10).
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