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PENHORA ELETRÔNICA NO PROCESSO CIVIL
Anotações e observações. Palestra proferida na
Ordem dos Advogados do Brasil – Subsecção de São Bernardo
do Campo, em 12 de agosto de 2009.
Edson Luiz de Queiroz
Juiz de Direito
A palestra não abordará questões científicas ou
filosóficas, a não ser que seja absolutamente necessária. A
abordagem será estritamente prática, baseada na lei e nas regras
de experiência.
Essa troca de idéias levará em consideração os
processos de execução, seja por título executivo judicial, seja
por título executivo extrajudicial, indistintamente.
ARAKEN DE ASSIS:
Quando trabalhava como estagiário no escritório
de advocacia de seu tio, ARAKEN DE ASSIS, famoso e
respeitado jurista gaúcho, via no escritório de vários advogados,
em moldura pregada na parede, nota promissória preenchida em
montante elevado, assinada pelo emitente, singelamente
identificado como “Marimbondo”. Era um mendigo conhecido
na cidade e que devia seu apelido à cor dos cabelos. Ninguém
esclareceu a estranheza. Seu tio disse que “no devido tempo
perceberá o sentido da coisa”.
Posteriormente, ARAKEN DE ASSIS entendeu a
razão daquela nota promissória exposta: era uma advertência
aos clientes mais inconformados. Sem patrimônio, o crédito não
pode ser realizado e a nota promissória emitida nenhuma
vantagem concreta traria ao portador.
Ao propor a ação, o objetivo das partes não é só
obter a declaração ou o reconhecimento de seu direito. É
também o objetivo das partes o cumprimento da obrigação pela
parte vencida.
Muitos doutrinadores não reconhecem a existência
de mérito no processo de execução. No entanto, atualmente,
essa visão está atenuada. Apenas como exemplo, SÉRGIO
SHIMURA bem esclarece essa questão, afirmando:
“Conquanto possamos admitir que não haja
propriamente uma sentença de mérito na execução, como
sucede no processo de cognição, somos forçados a reconhecer
que existe um pedido no pleito executivo. Na ação de
conhecimento, o pedido é atendido mediante uma sentença. Na
execução, o pedido é satisfeito através de atos concretos, atos
executivos de ingresso no patrimônio do devedor, o mérito da
execução não é uma questão a ser decidida, mas, sim, atos a
serem praticados”.
Então, o objetivo de mérito da ação de execução é
de promover a satisfação da obrigação reconhecida como
devida, obter o bem da vida, mediante atividade estatal,
consistente no ingresso forçado no patrimônio do devedor,
arrecadação do montante devido e sua transferência ao
patrimônio do credor.
O grande jurista SYDNEY SANCHES afirma que:
“não haverá justiça forte enquanto houver demora
no julgamento, na execução e no cumprimento da decisão
judicial. Não adiantará facilitar o acesso, se a conclusão do
julgamento não for totalmente facilitada, por mais independente
que a justiça seja. A justiça forte é aquela no qual o povo
acredita. Agora, se o cidadão acredita que vai ganhar seu
dinheiro daqui há dez anos, ele, com certeza, não confiará na
justiça”.
Estão sendo utilizados instrumentos de informática
disponibilizados pelos diversos órgãos públicos e privados.
Mais do que isso, é necessária ação estratégica pelos advogados
e juízes.
ESTATÍSTICA.
Em março de 2009, no Brasil, havia 68 milhões de
processos e, só na Justiça Estadual Paulista, tramitavam 18
milhões de processos, ou mais precisamente, 18.206.108
processos em andamento. Segundo o Presidente da
APAMAGIS, NELSON CALANDRA, caso não seja distribuído
mais nenhum processo e os juízes se dedicarem a julgar
exclusivamente os processos existentes, serão necessários de
dois a três anos para encerrar o acervo.
Em Santo Amaro, foram distribuídos 33.183 novos
processos cíveis em 2008 e 14.971 até agora, em 2009. (4.147
por vara).
Família: 24.191 em 2008 e 9.602 em 2009.
JEC: 3716 em 2009.
Crime 7.916 em 2008 e 3.716 em 2009.
Em Santo Amaro, há oito varas cíveis e seis varas
de família, além do juizado especial cível, com inúmeros
processos em andamento. Nas varas cíveis, há um número
variável de processo, entre 8.000 e 14.000 processos por vara. A
tudo alia-se a falta de funcionários.
Em razão desse acúmulo invencível de processos
em andamento, é necessário que advogados e juízes ajam com
estratégia. O processo frequentemente se apresenta como um
jogo de xadrez, onde é necessário verificar o que pode ocorrer
em jogadas futuras. Não é prático apresentar vários
requerimentos sucessivos sem praticidade. Por exemplo: pedir
para fixação de honorários advocatícios na fase de execução; em
outro requerimento, apresentar planilha de cálculo (ou somente
apresentá-la mediante provocação judicial); posteriormente,
pleitear penhora “on line”; finalmente, pleitear ofício à Receita
Federal, buscando informações sobre bens do devedor.
Com esse acúmulo de serviço, há demora na
juntada da petição ao processo e para encaminhamento para
despacho, com posterior publicação para intimação das partes e
novo peticionamento. Quando receber o processo, ele deve estar
totalmente pronto para que todas as ações absolutamente
necessárias sejam realizadas.
O mais prático seria apresentar imediatamente o
cálculo atualizado do débito e, no mesmo requerimento, pleitear
fixação dos honorários para a fase de execução, com pedido de
penhora “on line” e, caso negativo, requisição de informações
de bens perante a Receita.
QUE TIPO DE AÇÃO ESTRATÉGICA PODE
ADOTAR O ADVOGADO?
A primeira questão a ser analisada é o endereço
atual do devedor. O ideal é que sejam promovidas diligências
administrativas pelo credor, antes da propositura da ação, já
visando localização do endereço e de bens do devedor.
Há muitos instrumentos colocados à disposição do
advogado, pela Internet. O “site” da Telefonica indica
endereços das pessoas. Há outros: telelistas, helplistas.
Muitos advogados tomam a cautela de mandar
notificação pelo correio (carta registrada ou telegrama), visando,
não só a possibilidade de composição amigável extrajudicial,
mas, também para aferição do endereço do executado.
Proposta a ação, caso o executado não seja
localizado, adotou-se uma prática em Santo Amaro, consistente
na emissão de alvará para localização do executado, com prazo
de validade de 90 dias. Esse alvará pode ser copiado e entregue
nos diversos órgãos estatais e particulares, visando localização
do executado. A resposta deve ser encaminhada para a vara.
Para evitar acúmulo de documentos, sugere-se que
não haja a juntada de comprovante da distribuição ou entrega
desses alvarás, para não juntar documentos inúteis no processo.
No entanto, muitas vezes, as providências adotadas pelos
advogados são insuficientes e, por esse motivo, é necessário
pedido de intervenção estatal, não só para a satisfação da
execução, mas, também, para a localização de endereço e bens
do executado.
QUAL A AÇÃO ESTRATÉGICA QUE O
ESTADO-JUIZ PODE ADOTAR?
PATRIMÔNIO DO DEVEDOR.
No sistema alemão, há um instrumento destinado a
dar eficácia à execução, chamada “juramento de manifestação”.
Consiste na convocação do devedor para uma audiência pessoal,
na qual fará uma declaração de todos os seus bens, entregando-o
ao juízo da causa. Se não comparecer ou negar-se a prestar o
juramento, será decretada sua prisão.
O mesmo ocorre no sistema processual norte-
americano, no qual “na hipótese do réu recusar-se a informar a
localização de seus bens, indicar propriedades não encontradas
ou mentir para o juiz, incidirá em ‘contempt of court’, podendo
sofrer severas penalidades” (desacato).
A quem incumbe a obrigação de indicar bens à
penhora? No sistema processual anterior e no atual, a
responsabilidade é do devedor. O artigo 591, 656, §1º e 600,
inciso IV, do Código de Processo Civil determina que:
“O devedor responde, para o cumprimento de suas
obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo
restrições estabelecidas na lei”.
Nesse mesmo sentido é o disposto nos artigos 656,
§1º e 600, inciso IV, do Código de Processo Civil:
“Art. 656. A parte poderá...
§1º É dever do executado (art. 600), no prazo
fixado pelo juiz, indicar onde se encontram os bens sujeitos à
execução, exibir a prova de sua propriedade e, se for o caso,
certidão negativa de ônus, bem como abster-se de qualquer
atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora (art.
14, parágrafo único).
“Art. 14. São deveres das partes e de todos
aqueles que de qualquer forma participam do processo:
V – cumprir com exatidão os provimentos
mandamentais e não criar embaraços à efetivação de
provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.
Parágrafo único. Ressalvados os advogados (...) a
violação do disposto no inciso V deste artigo, constitui ato
atentatório ao exercício da jurisdição (...) multa não superior a
20% do valor da causa.
“Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da
Justiça o ato do executado que:
IV – intimado, não indica ao juiz, em cinco dias,
quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus
respectivos valores”.
PORTANTO, NO SISTEMA BRASILEIRO, É
OBRIGAÇÃO DO DEVEDOR INDICAR OS BENS QUE POSSUI,
PARA QUE POSSAM RESPONDER PELA SATISFAÇÃO DA
DÍVIDA EXECUTADA.
6.DILIGÊNCIAS POR PARTE DO ADVOGADO
Nada impede que as diligências visando
localização de bens do devedor sejam feitas particularmente
pelo próprio advogado, até mesmo buscando bens do
patrimônio do executado. Vários órgãos públicos e privados
aceitam requerimentos administrativos, encaminhando as
respostas diretamente ao processo, como DETRAN. A ARISP
(Associação dos Registrados Imobiliários) fornece certidões “on
line” com extrema agilidade, facilidade e de forma barata.
Caso o devedor não indique bens ou no caso de
insuficiência dos bens indicados, deverão ser praticados atos
judiciais com a finalidade de satisfação do débito.
DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO.
Antes de mais nada, é necessário, neste ponto,
diferenciar as diversas espécies de execução, para uma
observação importante. Assim, na execução por título
extrajudicial, no sistema anterior à Lei 11.382/2006, o
executado era citado para pagamento ou oferecimento de bens à
penhora. Somente após a efetivação da penhora é que se abria a
possibilidade de interposição de embargos do devedor.
Interpostos os embargos, a execução era praticamente
esquecida, na medida em que os embargos eram recebidos com
efeito suspensivo.
Atualmente, na nova sistemática, o executado é
citado para oferecer defesa. Como regra, os embargos são
recebidos sem efeito suspensivo, o que significa dizer que a
execução deve prosseguir. Muitos se esquecem da execução,
após o oferecimento dos embargos, o que, evidentemente, é um
equívoco.
Então, opostos ou não os embargos (desde que
recebidos sem efeito suspensivo), a execução deve prosseguir,
com penhora, avaliação, intimação, etc.
Com relação à execução por título judicial, a
impugnação somente pode ser recebida após a efetivação da
penhora. Muitas pessoas se esquecem disso, também. Essa
exigência está sendo amainada, ante a possibilidade de
oferecimento de exceção de pré-executividade, embora eu não
concorde muito com essa interpretação. Obs.: já tive um caso
em que foi anulada a decisão que rejeitou impugnação, por
extemporaneidade, dada a inexistência de penhora. A
justificativa é que caberia também a exceção de pré-
executividade e aplicação do princípio da fungibilidade dos
recursos.
BACEN-JUD.
É a primeira e uma das mais importantes
ferramentas colocadas à disposição do Poder Judiciário.
Origem: Justiça do Trabalho. O procedimento que está sendo
adotado em muitas das Varas da Justiça do Trabalho consiste na
determinação de penhora “on line”, se o executado citado, não
oferece bens à penhora.
Como surgiu a penhora “on line”? Era adotado o
seguinte procedimento: expedição de ofício do Juízo para o
Banco Central do Brasil > cópia do ofício para cada central de
cada banco > cópia do ofício para todas as agências desses
bancos > verificação pela agência com resposta para a central >
consolidação das respostas pela central de cada banco e envio
para o Banco Central > consolidação das respostas e
encaminhamento ao Juízo.
Tudo isso demorava muito tempo e dava muitas
despesas para todos, principalmente para os bancos. Os bancos
sempre estão estudando meios para otimização de seus trabalhos
e aumento dos lucros. O que foi feito então, foi apenas a
informatização de todo o caminho trilhado, com a utilização da
Internet.
Então, houve apenas duas mudanças de natureza
prática: o ofício passou a ser padronizado (um modelo feito pelo
próprio Banco Central de forma a facilitar o cumprimento pelos
bancos, notadamente quanto aos dados necessários) e
encaminhado pela Internet (via eletrônica)
Essa informação é importante, na medida em que
se questiona a constitucionalidade do uso da penhora “on line”.
Não há inconstitucionalidade alguma no procedimento, vez que
o sistema informatizado apenas simplificou o que já era feito
por ofício. Atualmente, com a nova redação do artigo 655 do
Código de Processo Civil, a questão se tornou pacífica:
“Artigo 655. A penhora observará,
preferencialmente, a seguinte ordem:
I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou
aplicação em instituição financeira;
Artigo 655-A. Para possibilitar a penhora de
dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a
requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade
supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio
eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome
do executado, podendo no mesmo ato determinar a
indisponibilidade, até o valor indicado na execução.
§1º As informações limitar-se-ão à existência ou
não de depósito ou aplicação até o valor indicado na
execução”.
Quem tem acesso ao sistema: o Juiz e um
funcionário credenciado, com senhas e acessos diferenciados. O
funcionário não tem acesso às informações da conta do
executado, apenas à parte do sistema. O funcionário apenas
prepara a minuta. A ordem de bloqueio somente pode ser dada
pelo Juiz, mediante senha criptografada de uso pessoal,
privativa e intransferível. Além disso, para os demais casos de
solicitação de documentos ou informações, os juízes possuem
assinatura digital, possibilitando requisições eletrônicas, sem
uso de papel.
VANTAGENS DO SISTEMA BACEN-JUD.
As maiores vantagens são a RAPIDEZ e a
vantagem econômica para todos. Para o exeqüente, porque não
há as despesas decorrentes de outros tipos de penhora, como
avaliação, edital, eventuais honorários de leiloeiro, etc. Para o
executado, além das mesmas vantagens quanto à inexistência de
despesas, porque o valor fica depositado em conta judicial,
contando juros e rendimentos, de forma que o valor também vai
sendo corrigido pelo banco.
Além disso, é fato notório que as arrematações são
feitas por valores bastante inferiores aos de mercado,
prejudicando a todos, notadamente ao executado. Na penhora do
dinheiro, o patrimônio do devedor não perde valor durante a
transferência para o patrimônio do credor.
Além disso, para a Justiça é um meio muito célere
e rápido, simples de ser preenchido o ofício eletrônico, pode ser
encaminhado via internet a qualquer hora e em qualquer dia. E
sendo um ato simples e célere, facilita a sua prática e,
automaticamente, agiliza o processo.
Finalmente, com isso, o executado evita a presença
do Oficial de Justiça em sua residência ou empresa, presença
essa muitas vezes constrangedora.
BLOQUEIO DE VALORES.
Inicialmente, ao contrário do que muita gente
pensa, não é determinado o bloqueio da conta. É determinado o
bloqueio de valores existentes no momento exato da exato da
remessa do ofício eletrônico. Após o bloqueio, movimentos
bancários posteriores são permitidos, seja de débito, seja de
crédito.
Caso o saldo seja insuficiente para o bloqueio
total, é feito o bloqueio parcial do montante solicitado, até o
limite do saldo existente na conta, naquele momento. Caso haja
depósitos posteriores, o bloqueio não atinge esses saldos.
Para que haja novo bloqueio, há necessidade de
nova ordem. Observação: a resposta é encaminhada em 48
horas. Às vezes, o banco pode demorar um dia a mais para a
providência e, nesse caso, se houver depósito nesse ínterim,
também esse valor é bloqueado.
A ordem de bloqueio pode ser indiscriminada (a
todas as agências e instituições financeiras) ou direcionada para
certas e determinadas agências e contas. Havendo mais de um
executado, a ordem pode indicar qual o valor devido de cada um
deles.
Feita a ordem, ordinariamente, o processo
permanece no gabinete do juiz, visto que a resposta é
apresentada em 48 horas. Com a resposta, abre-se um leque de
opções ao juiz e às partes:
a) inexistência de saldo a ser bloqueado: outras
diligências;
Observação: até mesmo em razão da forma de
funcionamento do sistema, nada impede que novos pedidos de
penhora “on line” sejam formulados ao longo do processo. O
que se evita é sua eternização ou pedidos muito próximos um do
outro, porque a prática ensina que esses procedimentos não
trazem resultados práticos. Frustrada a penhora “on line”, o
exeqüente deve pleitear as medidas necessárias ao cumprimento
da obrigação, seja indicando outros bens, seja requerendo
quebra do sigilo fiscal do executado, com requisição de
informações perante a Receita Federal.
b) existência de saldo de pequeno valor (centavos
ou poucos reais): dada a insignificância e ausência de
praticidade, é determinada a liberação desses valores ao
depositante. O montante varia para cada juiz, mas, geralmente é
utilizado parâmetro entre R$ 10,00 e R$ 50,00.
c) valor expressivo, mas, inferior ao valor
determinado: transferência do valor para o banco oficial e
intimação do executado da penhora e do prazo para
embargos/impugnação.
Concomitantemente, é determinada a indicação de
outros bens à penhora ou é feita pesquisa perante a Receita
Federal, buscando localização de outros bens penhoráveis do
executado.
d) valor superior ao determinado: o sistema ainda
não foi aprimorado, em relação aos valores de bloqueio. O
sistema permite a limitação do valor de penhora, mas, apenas,
para cada instituição financeira. Assim, se o executado possui
contas e aplicações financeiras em diversos bancos e é
determinada a penhora de R$ 10.000,00, por exemplo, esse
valor pode ser penhorado nos vários bancos.
Observação incidental: Além disso, as contas
bloqueadas não são identificadas e o juiz não tem condições de
saber se se trata de conta poupança.
Havendo penhora em valor superior ao
determinado, a providência imediata a ser tomada é:
i) determinação de transferência do valor
correspondente ao montante da dívida e
ii) a liberação do excedente, mas, que é feita de
forma aleatória. Isso significa dizer que corre-se o risco de
promover a manutenção de bloqueio em conta poupança.
Observações quanto à penhora “on line”, pelo
sistema BACEN-JUD:
Constitucionalidade: muito se discutiu sobre a
inconstitucionalidade desse procedimento, notadamente ante a
disposição contida no artigo 5º, inciso LIV, da Constituição
Federal:
“Ninguém será privada da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal”.
No entanto, já se definiu a constitucionalidade da
penhora “on line”, na medida em que o devido processo legal é
respeitado, pois é preservado o procedimento para a defesa do
executado (embargos ou impugnação) e, além disso, a ordem se
origina de um processo judicial, no qual há título de crédito,
com a presunção de validade, eficácia, liquidez, certeza e
exigibilidade. Ademais, os bens não são liberados para o credor,
antes de decisão final, proferida após o prazo para defesa.
THEOTONIO NEGRÂO: STJ – 3ª T – Resp
1.043.759, Min. NANCY ANDRIGHI, 25.11.2008: Essa
modalidade de constrição é legítima, contribui para a
efetividade do processo e não viola o sigilo bancário.
Finalmente, não se pode esquecer que as
informações e bloqueios decorrem da própria incúria do
executado, que deixa de cumprir com o seu dever de quitar a
dívida no vencimento e, no processo de execução, deixa de
indicar bens à penhora, inclusive numerário depositado em
contas bancárias.
Excesso de bloqueio; conta única:
O CNJ editou a Resolução 61, de 07.10.2008, pelo
qual pessoas físicas ou jurídicas podem solicitar o
cadastramento de conta única para o recebimento de ordens
judiciais de bloqueio do sistema BACEN-Jud. O acesso se faz
pelo portal de atendimento do STJ.
Essas pessoas se comprometem a manter saldos
suficientes para a efetivação da penhora. Caso a conta não
possua fundos suficientes para o bloqueio, é autorizada a
expedição de bloqueio indiscriminado sobre as demais contas.
Na Justiça do Trabalho, esse sistema funciona é automático e a
ausência de saldo implica no cancelamento do acordo. Na
Justiça Estadual, esse sistema ainda não se encontra em
funcionamento.
Bloqueio da totalidade de valores exisntentes em
conta, em nome de pessoa jurídica.
A questão é extremamente controvertida. Já se
entendeu que o bloqueio da totalidade de valores existentes em
contas de pessoa jurídica inviabiliza o seu funcionamento,
impedindo o livre exercício da atividade econômica, nos termos
do artigo 170, da Constituição Federal. Muitos juristas
entendem que o correto é o estabelecimento de um percentual
do valor existente, nos moldes da penhora sobre faturamento. O
percentual aceito pela doutrina é de 30% sobre o faturamento
mensal. Esse é o entendimento majoritário.
Bloqueio de contas bancárias de instituições
financeiras:
Há uma distinção entre depósito compulsório e
depósito em conta corrente. O depósito compulsório fica à
disposição do Banco Central e não pode ser penhorado. O
depósito em conta corrente de instituição bancária pode ser
penhorado livremente.
Súmula 328, STJ: "Na execução contra instituição
financeira, é penhorável o numerário disponível, excluídas as
reservas bancárias mantidas no Banco Central".
Art. 68, da Lei 9.069/95: “os depósitos das
instituições financeiras bancárias mantidos no Banco Central
do Brasil e contabilizados na conta ‘Reservas Bancárias’ são
impenhoráveis e não responderão por qualquer tipo de dívida
civil, comercial, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, contraída por essas instituições ou quaisquer outras a
elas ligadas”.
Parecer no sentido positivo, da Corregedoria Geral
de Justiça do Estado de São Paulo, subscrita pela Juíza de Santo
Amaro, Dra. Viviane Maldonado.
Sigilo bancário.
O sigilo bancário é quebrado, ante a colidência
com outro direito constitucional, consistente no direito de
propriedade e só ocorre porque o devedor não cumpre seu dever
de indicar bem à penhora ou de observar a ordem do art. 655 do
CPC.
Bloqueio de valores impenhoráveis.
Nos termos do artigo 649, do Código de Processo
Civil, são impenhoráveis:
IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários,
remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e
montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de
trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no §3º, deste artigo (o §3º foi vetado);
X – até o limite de quarenta (40) salários mínimos,
a quantia depositada em caderneta de poupança;
XI – os recursos públicos do fundo partidário
recebidos, nos termos da lei, por partido político.
Como já foi dito, o sistema não identifica o tipo de
conta bancária na qual a penhora está sendo efetivada. É
possível a solicitação de extratos, quando do bloqueio. No
entanto, isso não é costumeiramente feito.
Assim, incumbe ao prejudicado pleitear, perante o
juízo da execução, a liberação desses valores, provando se tratar
de conta poupança, com saldo bloqueado nos limites fixados em
lei. Alguns juízes entendem que esse dispositivo é
inconstitucional, porque privilegia apenas aplicadores de
poupança e também o devedor que possui esse tipo de aplicação
financeira. A questão se agrava, quando se trata de dívida de
natureza alimentar.
Forma de argüição: já se pacificou o entendimento
de que a impenhorabilidade pode ser oposta por qualquer meio e
não necessariamente por meio de embargos/impugnação.
Necessária a apresentação de extratos dos três últimos meses,
para a análise da origem estritamente salarial dos proventos.
Bloqueio judicial de contas de pessoas jurídicas de
direito público.
Na Ação Civil Pública Originária (ACO) 1.332, na
qual o Estado do Mato Grosso do Sul tentava impedir o
bloqueio judicial, pelo sistema BACEN-Jud, o Ministro
JOAQUIM BARBOSA, do STF, indeferiu pedido liminar.
No entanto, deve ser observado o disposto no
artigo 730, CPC: precatório. Art. 731, CPC:
“Art. 731. Se o credor for preterido no seu direito
de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem,
poderá, depois de ouvido o chefe do Ministério Público,
ordenar o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o
débito”.
Caracterização da obrigação de pequeno valor: art.
1º, "caput", da Lei Estadual n. 11.377/2003 e artigo 100, §3º,
Constituição Federal:
“Art. 100. À exceção dos créditos de natureza
alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal,
Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-
se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação
dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias
e nos créditos adicionais abertos para este fim.
§3º O disposto no ‘caput’ deste artigo,
relativamente à expedição de precatórios, não se aplica aos
pagamentos de obrigações definidas em lei como de pequeno
valor que a Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal
deva fazer em virtude de sentença judicial transitada em
julgado.
§5º A lei poderá fixar valores distintos para o fim
previsto no §3º deste artigo, segundo as diferentes capacidades
das entidades de direito público”.
Realização de diligências prévias, visando
localização de outros bens penhoráveis, para posterior pedido de
penhora “on line”. O entendimento atual é no sentido de que
não há a necessidade desse exaurimento, haja vista que o
dinheiro é o primeiro item constante da relação de bens sujeitos
à execução/penhora. Há entendimentos em sentido contrário,
embasado na redação do artigo 185-A, do Código Tributário
Nacional:
“Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial”.
Vários juristas também defendem a aplicação do
art. 620, CPC “a execução (...) se faça de modo menos gravoso
para o devedor”. Assim, segundo eles, havendo outros meios
para a satisfação da execução, não há cabimento para a penhora
“on line”.
Em 22.10.2008 foi apresentado Projeto de Lei
4152/2008, pelo Deputado Laércio Oliveira, com o objetivo de
revogar a Lei 11.382/2006, que instituiu a modalidade de
penhora eletrônica. Em 13.11.2008 foi encerrado prazo para
apresentação de emendas a esse projeto.
Por outro lado, no Diário Oficial da União, de
28.05.2009, foi editada a Lei 11.941/2009, relativo ao Projeto
de Lei de Conversão nº 2, de 2009 (MP no 449/08), do qual
constava o seguinte dispositivo:
“Art. 70. Sendo executadas micro, pequenas ou
médias empresas, a realização de bloqueio on-line fica
condicionada ao exaurimento de todos os demais meios
executivos.”
No entanto, referido dispositivo foi vetado pelo
Presidente da República e constou da mensagem de veto, a
seguinte justificativa:
“A penhora de dinheiro em instituições
financeiras tem se revelado mecanismo célere e eficiente para a
recuperação de crédito, além de, em muitos casos, o único meio
viável de execução. Exigir que o credor exaura ‘todos demais
meios executivos’, os quais podem ser dezenas, poderia
implicar demora de vários anos para a obtenção de qualquer
resultado material ou, mesmo, a inviabilidade da execução,
afrontando-se, com isso, o art. 5º, LXXVIII, da Constituição
Federal.”
Por outro lado, vale lembrar o artigo de JOSÉ
LÚCIO MUNHOZ (Juiz do Trabalho, ex-Presidente da
AMATRA/SP e Doutor pela Universidade de Lisboa), no
seguinte sentido:
“Um dos graves problemas enfrentados nas lides
judiciais é a procrastinação, a utilização do processo como
meio de prorrogar a obrigação do pagamento, é a tentativa
descarada do calote. Se há uma sentença reconhecendo um
determinado direito, é sinal de que o devedor ali especificado
não cumpriu uma obrigação legal, agiu contra o sistema
jurídico, violou os princípios gerais da vida em sociedade, não
respeitou o próximo, não foi, enfim, justo.
O devedor que não paga (e tem recursos
financeiros para tanto), não pode ser contemplado com ação
menos vigorosa por parte do Judiciário. Seria um atentado à
cidadania permitir que ele continue utilizando o dinheiro alheio
em suas atividades pessoais ou comerciais...
A penhora on line, portanto, é uma vitória da
sociedade, do Judiciário, das pessoas de bem e cumpridoras de
seus deveres que querem ver, cada vez mais, triunfar, e sem
demora, o Direito e a Justiça”.
Necessidade de requerimento da parte para sua
efetivação. A questão também é controversa. Prevalecendo a
tese da obrigatoriedade de requerimento prévio da parte, poderia
haver um engessamento da atividade jurisdicional ou até mesmo
a possibilidade do executado promover o saque em contas, ante
a simples apresentação de requerimento nesse sentido.
Entretanto, entende-se que a norma deve ser
interpretada em consonância com os demais princípios de
Direito Processual, notadamente o princípio do impulso oficial,
o qual deve continuar dominando no processo. Nesse sentido foi
o objetivo primordial da reforma processual ocorrida em 2006.
Ou seja, “a iniciativa, especialmente no impulso
da fase inicial da execução, é por conta do credor, sem que
esteja o juiz, considerando circunstâncias fáticas e pontuais,
completamente desprovido do poder de penhora de dinheiro
pelo sistema on lin” (Des. ELAINE HARZHEIM MACEDO,
TJRS, “Execução Civil”, Estudos em homenagem ao Professor
Humberto Theodoro Júnior).
Localização de endereços:
O Bacen-Jud pode ser usado para pesquisar
endereço, o que também pode ajudar na execução. Não
encontrando bens, talvez encontre o devedor, pois hoje quase
todo mundo tem conta em banco. A pesquisa é feita apenas com
o uso do nome e CPF do pesquisado e o pedido é atendido em
48 horas, mediante simples acesso ao sistema, pelo Juiz.
Podem ser obtidos:
a) endereços da pessoa pesquisada;
b) saldos em contas bancárias;
c) relação de agências e contas;
d) apresentação de extratos consolidados ou não,
indicando valores;
e) dados sobre contas, investimentos e ativos
encerrados.
OUTROS MEIOS ELETRÔNICOS QUE PODEM
SER UTILIZADOS NA EXECUÇÃO
RECEITA FEDERAL.
Também há possibilidade de uso de sistema de
informática, visando verificação de endereço e patrimônio do
devedor, perante a Receita Federal.
O sistema desenvolvido pela Receita Federal
permite a obtenção do número do CPF de cada contribuinte,
fornecendo um dos seguintes dados obrigatórios:
- nome completo
- número do título de eleitor (caso ele tenha sido
informado pelo contribuinte).
Há a possibilidade de fornecimento de outros
dados, como: data de nascimento, nome da mãe, UF e
Município, visando eliminação de possíveis homônimos.
Com o número do CPF, é possível obter o
endereço atualizado do contribuinte.
Também é possível a obtenção de cópias das
declarações de renda dos contribuintes, desde 2002. As
declarações de renda apresentadas em 2008 já se encontram no
banco de dados da Receita Federal. As declarações de renda
apresentadas em 2009 ainda não foram processadas e não estão
disponibilizadas.
A maior vantagem apresentada por esse sistema, é
a rapidez. Feito o pedido, no mesmo minuto, os dados
solicitados são enviados à caixa postal do juiz solicitante,
permitindo extração de cópias.
É interessante observar que, nos termos do
convênio firmado com a Secretaria da Receita Federal, o
Tribunal de Justiça arca com todos e quaisquer custos referentes
ao acesso, por qualquer meio. Estão sendo realizados estudos,
no âmbito interno do Tribunal de Justiça de São Paulo, visando
repassar esses custos da parte exeqüente. Esses estudos
abrangem todas as demais solicitações e acessos eletrônicos, no
âmbito do processo, tais como BACEN-Jud, Receita,
RENAVAM, etc.
ARISP (ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES
IMOBILIÁRIOS DE SÃO PAULO)
Os cartórios de registro de imóveis da capital e
vários do interior estão totalmente informatizados, permitindo
acesso via internet. Na capital, estão integrados ao sistema: 1º
ao 18º CRI, com exclusão do 15º e 17º CRI. No interior:
Araçatuba, Ribeirão Preto, Diadema, São José dos Campos e
Assis. Nos cartórios não integrados ao sistema, a pesquisa
também deve ser feita pelo sistema informatizado, mas, não
permite averbação de penhora.
No âmbito do Tribunal de Justiça de São Paulo, o
PROVIMENTO 06/2009, da Corregedoria Geral de Justiça,
implantou o sistema eletrônico para averbações de penhora “on
line”, com data prevista de vigência a partir de 01 de junho de
2009. É preciso enfatizar que o sistema já funciona há tempos
na Justiça do Trabalho.
No dia 01 de junho de 2009, os Juízes da Capital
receberam manual de orientação para cadastramento e uso desse
sistema.
O registro da penhora ganhou extrema relevância
com a edição da Súmula 375, do STJ, a qual dispõe:
“O reconhecimento da fraude à execução depende
do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé
do terceiro adquirente”.
Confira-se o artigo 659, CPC:
“§4º A penhora de bens imóveis realizar-se-á
mediante auto ou termo de penhora, cabendo ao exeqüente, sem
prejuízo da imediata intimação do executado (artigo 652, §4º),
providenciar, para presunção absoluta de conhecimento por
terceiros, a respectiva averbação no ofício imobiliária,
mediante a apresentação de certidão de inteiro teor do ato,
independentemente de mandado judicial”.
“§6º Obedecidas as normas de segurança que
forem instituídas, sob critérios uniformes, pelos Tribunais, a
penhora de numerário e as averbações de penhoras de bens
imóveis e móveis podem ser realizadas por meios eletrônicos.”
Também deve ser observada a disposição do artigo
615-A, do CPC:
“Artigo 615-A. O exeqüente poderá, no ato da
distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da
execução, com identificação das partes e valor da causa, para
fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos
ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto.
“§1º O exeqüente deverá comunicar ao juízo as
averbações efetivadas, no prazo de dez dias de sua
concretização.
§2º Formalizada penhora sobre bens suficientes
para cobrir o valor da dívida, será determinado o cancelamento
das averbações de que trata este artigo relativas àqueles que
não tenham sido penhorados.
§3º Presume-se em fraude à execução a alienação
ou oneração de bens efetuada após a averbação (artigo 593).
§4º O exeqüente que promover averbação
manifestamente indevida indenizará a parte contrária, nos
termos do §2º, do art. 18 desta Lei, processando-se o incidente
em autos apartados.”
A respeito dessa nova controvérsia, é importante
observar o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça
acerca da matéria, reproduzida no V.Acórdão abaixo transcrito:
FRAUDE. EXECUÇÃO. PENHORA. REGISTRO.
A Turma, ao renovar o julgamento, reafirmou, por
maioria, o entendimento de que, para dar-se fraude à execução
(art. 593 do CPC) quando não registrada a penhora do imóvel,
cabe ao credor o ônus de provar que o terceiro adquirente
tinha ciência de que havia a constrição ou demanda contra o
vendedor capaz de levá-lo à insolvência. Firmou-se, também,
que, a despeito de a sentença produzir efeitos em relação a
terceiros, a imutabilidade proporcionada pela coisa julgada
limita-se às partes, pois é facultada ao terceiro a discussão
posterior acerca da sentença que eventualmente seja
prejudicial a seus interesses. Os votos vencidos, capitaneados
pela Min. Nancy Andrighi, entendiam, conforme precedente da
Turma, que, nessa situação, cabe sim ao terceiro adquirente a
prova mencionada, pois é a pessoa que a presunção
desfavorece quem suporta o ônus de provar o contrário,
anotado ser relativa essa presunção. Na linha desses votos
vencidos, o adquirente deve acautelar-se, efetuando, no
mínimo, pesquisa nos distribuidores das comarcas de
localização do imóvel e da residência do alienante, não apenas
em razão da exigência prevista no art. 1º da Lei n. 7.433/1985,
mas, também, de que só se considera de boa-fé o comprador
que adotou mínimas cautelas para a segurança jurídica de sua
aquisição. Precedentes citados: AgRg no EREsp 719.949-RS,
DJ 8/11/2007; AgRg no REsp 944.728-DF, DJ 18/10/2007, e
REsp 111.899-RJ, DJ 8/11/1999. REsp 804.044-GO, Rel.
originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
Massami Uyeda, julgado em 19/5/2009.
O novo convênio permite a averbação da penhora
e também pesquisa, visando a localização de bens imóveis em
nome de determinada pessoa e certidão respectiva. No entanto, a
pesquisa somente pode ser feita no caso da parte ser beneficiária
da gratuidade processual ou no caso da determinação ser feita
por iniciativa do juízo. É que fora dessas situações, a prestação
do serviço a particulares já é feito pelo sistema de ofício
eletrônico da ARISP.
A adesão a essa sistemática pelos juízos será
FACULTATIVA, a exclusivo critério do Magistrado
competente. A Corregedoria Geral de Justiça estipulou que os
atos serão praticados pelo Diretor do Ofício Judicial, o qual
poderá cadastrar escreventes, com a mesma finalidade. Caso
queira, o Juiz poderá fazê-lo pessoalmente.
A averbação da penhora somente será realizada
após a realização de depósito prévio, mediante recolhimento do
valor impresso em boleto próprio. Ou então, no caso da parte
ser beneficiária da gratuidade processual. O boleto será entregue
para a parte, para pagamento. O pagamento também poderá ser
feito diretamente ao registrador. Eventual nota de devolução
também será gerada pelo sistema.
O cancelamento da penhora somente poderá ser
feito por ofício.
Na Justiça do Trabalho, o convênio ARISP
somente permite pesquisa eletrônica da existência de bens
imóveis, com utilização do CPF da pessoa pesquisada.
LEILÃO ELETRÔNICO
Autorizada a implantação da nova sistemática pelo
Parecer 593/2008, da Corregedoria Geral de Justiça do Estado
de São Paulo e PROVIMENTO 1625/2009, do CONSELHO
SUPERIOR DA MAGISTRATURA, regulamentando o artigo
689-A, do CPC:
“Art. 689-A. O procedimento previsto nos arts.
686 a 689 poderá ser substituído, a requerimento do exeqüente,
por alienação realizada por meio da rede mundial de
computadores, com uso de páginas virtuais criadas pelos
Tribunais ou por entidades públicas ou privadas em convênio
com eles firmado.
Parágrafo único. O Conselho da Justiça Federal
(...) os Tribunais de Justiça regulamentarão esta modalidade de
alienação, atendendo aos requisitos de ampla publicidade,
autenticidade e segurança, com observância das regras
estabelecidas na legislação sobre certificação digital”.
A expressão “leilão eletrônico” é utilizada no
sentido amplo, abrangendo a alienação judicial eletrônica, tanto
de móveis, quanto de imóveis. Do edital deverá constar as
características dos bens penhorados e, se imóvel, a indicação da
situação (ocupado ou não), divisas, matrículas e registros.
Tratando-se de bem móvel, deverá constar o local de
localização.
O edital estipula a necessidade de criação de canal
de comunicação entre o leiloeiro e os interessados (“chat”),
visando eliminar dúvidas.
Também deverá constar do edital a possibilidade
do leilão terminar em dia diferente do seu início, dada a nova
sistemática implantada. Art. 12 do Provimento:
“Não havendo lanço superior à importância da
avaliação nos três dias subseqüentes ao da publicação do
edital, seguir-se-á, sem interrupção, o segundo pregão, que se
estenderá por no mínimo vinte dias e se encerrará em dia e
hora previamente definidos no edital.
Art. 13. Em segundo pregão, não serão admitidos
lanços inferiores a 60% do valor da avaliação, ressalvada
determinação judicial diversa.
Art. 14. Sobrevindo lanço nos três minutos
antecedentes ao termo final da alienação judicial eletrônica, o
horário de fechamento do pregão será prorrogado em três
minutos para que todos os usuários interessados tenham
oportunidade de ofertar novos lanços”.
Os lanços ofertados serão divulgados em tempo
real.
Vantagens: maior divulgação, porque é feito pela
Internet. São sabidas as desvantagens da alienação feita por
edital, onde invariavelmente as mesmas pessoas oferecem
lances em valores sempre próximos do que se considera como
“preço vil”.
Economia: nos locais onde o sistema está sendo
utilizado, nota-se que os lances são expressivamente maiores
que os lances das alienações judiciais feitas pelo sistema antigo.
É que a divulgação é maior e, conseqüentemente, o universo de
licitantes é mais amplo. Acrescente-se a isso o interesse do
leiloeiro, na medida em que sua comissão é calculada sobre o
valor do lance vencedor e será paga pelo arrematante:
“Art. 17. A comissão devida ao gestor será paga à
vista pelo arrematante e arbitrada pelo juiz até o percentual
máximo de 5% sobre o valor da arrematação, não se incluindo
no valor do lanço.”
Possibilidade de vistoria dos bens, também pelo
sistema informatizado. Os bens penhorados serão oferecidos
pelo “site” especialmente designado, com descrição detalhada e
ilustrada (sempre que possível), para melhor atenção de suas
características e estado de conservação. Os bens também estarão
em exposição em locais indicados.
A responsabilidade da identificação do usuário
lançador é do leiloeiro, o qual deverá promover um cadastro
específico.
“Art. 693. A arrematação constará de auto que
será lavrado de imediato, nele mencionadas as condições pelas
quais foi alienado o bem.
“Art. 694. Assinado o auto pelo juiz, pelo
arrematante e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro, a
arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável,
ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do
executado.
§2º No caso de procedência dos embargos, o
executado terá direito a haver do arrematante o valor por este
recebido como produto da arrematação; caso inferior ao valor
dos bens, haverá do exeqüente também a diferença”
Nessas condições, dadas as características do leilão
eletrônico, “é possível dispensar o arrematante de firmar o auto
sem necessidade de compeli-lo a outorgar procuração a quem
quer que seja (...) Tais elementos são suficientes para que seja o
auto firmado apenas pelo juiz, dispensadas as assinaturas do
arrematante e do serventuário ou do leiloeiro, pois nenhum
deles estará presente à alienação. Essencial, apenas, que o juiz
possa assinar o auto após informação do gestor de que o lanço
foi aceito, certo que este responderá por eventual equívoco”
(parecer da Corregedoria Geral de Justiça).
O auto de arrematação será assinado após a
comprovação do pagamento integral do valor da arrematação e
da comissão. O prazo para o pagamento desses valores é de 24
horas. Não efetuado o pagamento, serão submetidos à
apreciação do juiz, os lances imediatamente anteriores, sem
prejuízo da sanção imposta ao licitante.
Há necessidade das entidades interessadas se
credenciarem perante a Secretaria de Tecnologia da Informação
(STI) ou mediante convênio firmado com o TJ, em razão das
exigências tecnológicas impostas pelo Tribunal de Justiça, a fim
de dar segurança jurídica a todos os interessados. Há vários
pedidos sendo analisados pelo STI, atualmente. Entretanto,
nenhum deles ainda foi aprovado.
Em contato com a chefia do STI, constatou-se que
várias empresas se candidataram, mas, que, como as exigências
são complexas, apenas 4 ou 5 estão com a documentação
completa. A análise encontra-se em fase final, sendo prevista a
remessa das conclusões ao Juiz Assessor da Presidência do
Tribunal de Justiça, para eventual cadastramento.
RENAJUD – Restrições Judiciais de Veículos
Automotores.
O sistema RENAJUD é ferramenta eletrônica que
interliga o Judiciário ao DENATRAM – Depto. Nacional de
Trânsito, possibilitando a efetivação de ordens de restrição de
veículos cadastrados no RENAVAM, em tempo real. Foi
desenvolvido mediante acordo entre o CNJ e os Ministérios das
Cidades e da Justiça. Pelo sistema, é permitida a inserção e
retirada de restrições judiciais de veículos na Base Índice
Nacional (BIN) do sistema RENAVAM e essas informações são
repassadas aos DETRANS, para registro.
Também é permitida a pesquisa acerca da
existência de veículos em nome da pessoa pesquisada.
As restrições podem ser de:
1. transferência;
2. licenciamento;
3. circulação (restrição total);
4. registro de penhora.
Esse convênio encontra-se ainda em análise,
perante a Corregedoria Geral de Justiça, mas, já é utilizado há
tempos, pela Justiça do Trabalho. Nesta, a abrangência se limita
ao Estado de São Paulo, permitindo apenas, pesquisa da
existência de veículo, utilizando-se o nome do proprietário,
placa do veículo ou código do RENAVAM.
INFOSEG – Rede Nacional de Integração de
Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização.
Objetivo: integração dos dados de indivíduos
criminalmente identificados (antecedentes criminais), de armas
de fogo, de veículos, de condutores, de Certidões de Pessoas
Físicas (CPF) e de Certidões de Pessoas Jurídicas (CNPJ) entre
todas as Unidades da Federação.
A rede disponibiliza dados de Segurança Pública,
Justiça e Fiscalização, por meio da Internet, que possibilita
acessar dados básicos. O detalhamento desses dados é acessado
a partir de consulta inicial.
A Rede INFOSEG está disponibilizada ao
Tribunal de Justiça de São Paulo desde maio de 2001. No
entanto, permaneceu restringida aos juízes convocados junto à
Corregedoria Geral de Justiça, até que em 26 de fevereiro de
2007, por meio de decisão do então Corregedor, Dr.
GILBERTO PASSOS DE FREITAS, foi determinada a
disponibilização desse sistema a todos os juízes criminais do
Estado de São Paulo. Porém, não houve sua disponibilização
aos juízes cíveis e de família. (Processo 1.139/2001, DEGE
1.3). De qualquer modo, atualmente, o sistema encontra-se na
fase de registro do usuário MASTER.
Na Justiça do Trabalho, o INFOSEG é utilizado
para pesquisa de dados cadastrais de pessoas físicas ou
jurídicas, junto à Receita Federal. Além disso, também é
utilizado para pesquisa da existência de veículos em todo o
Brasil, com a utilização do CPF, placa ou código RENAVAM.
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL.
Foi firmado convênio (convênio 026/08) entre TJ e
Associação Comercial em 30 de dezembro de 2008, com a
finalidade de disponibilizar tão somente o acesso e consulta ao
banco de dados do SCPC (Serviço Central de Proteção ao
Crédito), sem ônus. O objetivo é obter endereços de partes de
processo, bem como anotação de negativação, para instrução de
processos cíveis.
Consta do convênio, que os dados oriundos do
SCPC são confidenciais e sigilosos, sendo sua utilização
exclusivamente para fins judiciais. O contrato é gratuito, sem
ônus para as partes e já se encontra em uso.
JUCESP.
Dados de pessoas jurídicas, arquivados perante a
Junta Comercial, são disponibilizados para os juízes, mediante
acesso ao “site” da JUCESP.
É permitida a consulta com base no CNPJ e NIRE
da pessoa jurídica envolvida e, nessa hipótese, são exibidas
todas as anotações relativas à empresa.
Também é permitida a consulta em nome de
pessoa física, sendo exibidos os nomes de todas as empresas das
quais essa pessoa é sócia.
No entanto, deve ser observado, que esse acesso é
permitido ao público em geral e que muitas vezes, os dados
estão completamente desatualizados.
OUTROS.
Há outros convênios em estudo, tais como CNIS
(Cadastro Nacional de Informações Sociais), SISBEN
(Informações de Benefícios Previdenciários) e SISOBI (Sistema
de Óbitos – INSS), os quais ainda encontram-se em fase de
estudos. No dia 02 de junho de 2009, foi divulgada a seguinte
notícia:
“O Judiciário de São Paulo vai poder usar as
bases de dados da Previdência Social. Um termo de cooperação
foi assinado nesta segunda-feira (1/6) pelo presidente do
Tribunal de Justiça, Vallim Bellocchi; o ministro da
Previdência social, José Pimentel; e o presidente do Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS), Valdir Moysés Simão. A
parceria vai permitir que juízes e desembargadores consultem
informações para o julgamento de ações previdenciárias e de
acidentes de trabalho. O INSS vai disponibilizar diariamente
informações por meio do CNIS-Cidadão, do Sistema de
Benefícios (Sisben) e do Sistema Nacional de Óbitos (Sisobi).
Em uma segunda fase, será implantado um sistema orientado,
que permita apoiar o tribunal paulista em ações
previdenciárias e de acidentes de trabalho.”
Finalmente, o próximo e mais esperado passo, será
a implantação do sistema de intimação dos advogados pela
internet.
Essas eram as ponderações que tinha a fazer sobre
tão importante tema.
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