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PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título:
A socialização de conhecimentos sobre a avaliação da aprendizagem em Educação Física escolar: Perspectiva Positivista e Materialista histórico-Dialético.
Autor:
Lindomar Luiz Medeiros Milkeviecz
Escola de Atuação:
Colégio Estadual Princesa Izabel
Município da escola:
Marilena
Núcleo Regional de Educação:
Loanda
Orientadora:
Maria Teresa Martins Fávero
Instituição de Ensino Superior:
Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí
Disciplina/Área (entrada no PDE):
Educação Física
Produção Didático-pedagógica:
A socialização de conhecimentos sobre a avaliação da aprendizagem em Educação Física escolar: Perspectiva Positivista e Materialista histórico-Dialético.
Relação Interdisciplinar:
História, Sociologia e Filosofia.
Público Alvo:
Alunos que freqüentam a 3º série do Ensino Médio.
Localização:
Colégio Estadual Princesa Izabel
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
1. APRESENTAÇÃO
A presente Unidade Didático Pedagógica foi gestada dentro do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE mantido pelo Governo do Estado do Paraná
em parceria com Instituições de Ensino Superior, no intuito de contribuir na solução
dos problemas enfrentados na educação paranaense.
Uma das dificuldades encontradas na educação paranaense contemporânea esta
relacionada com a maneira que a avaliação da aprendizagem vem sendo realizada
nas diferentes disciplinas que compõem o currículo escolar, inclusive na Educação
Física.
A avaliação que tem sido realizada pela Educação Física na maioria das escolas
revela uma enorme carência epistemológica e se aproxima do modelo Positivista
justamente por relativizar e manter as atuais estruturas sociais com suas
desigualdades colossais.
Esta Unidade Didática propõe a socialização dos conhecimentos sobre a avaliação
da aprendizagem nas perspectivas positivista e materialista histórico-dialética para
que os educandos, instrumentalizados por estes saberes históricos, possam
enfrentar este problema de forma crítica com o intuito de construir possíveis
alternativas para sua mudança.
Somente através do acesso a determinados conhecimentos essenciais é que os
alunos poderão compreender e agir sobre a realidade complexa que vive e atua na
perspectiva de transformações sociais que lhes possibilitem melhores condições de
existência. 1.1 TEMA
A socialização dos conhecimentos sobre a avaliação da aprendizagem em
Educação Física escolar: Perspectiva Positivista e Materialista histórico-Dialético. 1.2 JUSTIFICATIVA
A avaliação da aprendizagem em Educação Física da forma como nós a
conhecemos atualmente é expressão da opção dos burgueses pelo Positivismo
como forma de organizar a sociedade para manter os seus privilégios após os
eventos que conduziram a classe ao poder.
Esta forma de avaliar a aprendizagem idealizada e aplicada na maioria das escolas
brasileiras tem assumido um papel de seleção e segregação no intuito de contribuir
na sustentação das atuais estruturas sociais, fragilizando ainda mais a classe
trabalhadora, grande maioria das escolas públicas.
Historicamente a Educação Física sempre sofreu forte influencia da filosofia
Positivista.
Somente a partir da década de 1980 com movimentos contestadores que
conduziram a área, que tinha suas bases nas ciências naturais, para as ciências
sociais, é que possibilitou a construção de uma proposta de avaliação respaldada
por uma perspectiva mais crítica em relação às atuais estruturas sociais.
Dentre estas propostas de realizar a avaliação numa perspectiva de transformação
social, há necessidade de realizar a avaliação da aprendizagem em Educação Física
numa perspectiva diagnóstica que tem seus pressupostos fundamentados no
Materialismo Histórico-Dialético de Karl Marx.
Colocar os conhecimentos acumulados historicamente sobre a avaliação da
aprendizagem em Educação Física nas perspectivas Positivista e Materialista
Histórico-Dialético a disposição dos alunos para que a partir destes conhecimentos
possam realizar mudanças na escola e na sociedade são as premissas que
justificam a realização deste trabalho dentro do referido tema.
1.3 PÚBLICO ALVO
Alunos que freqüentam a terceira série do ensino médio no Colégio Estadual
Princesa Izabel no município de Marilena no Estado do Paraná.
1.4 OBJETIVOS 1.4.1 OBJETIVO GERAL
Socializar os conhecimentos sobre a avaliação da aprendizagem na Educação
Física escolar na perspectiva Positivista e Materialista Histórico-Dialético para os
alunos da 3º série do ensino médio no período noturno nas escolas públicas do
Estado do Paraná.
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
-Contribuir com o processo de socialização das práticas escolares. -Averiguar os conhecimentos dos educandos sobre a avaliação da aprendizagem
em Educação Física escolar.
-Investigar o posicionamento dos alunos ao acessar os conhecimentos sobre a
avaliação da aprendizagem em Educação Física na perspectiva positivista e
materialista histórico-dialético.
-Instrumentalizar os alunos com conhecimentos que contribuam na diminuição das
desigualdades sociais.
-Produzir dados e ações que contribuam para a solução dos problemas enfrentados
na Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná.
-Cumprir um dos requisitos básicos necessários para a conclusão do PDE.
2. PROCEDIMENTOS
Esta Unidade Didático Pedagógica será desenvolvida através de um conjunto de
cinco aulas expositivas de quarenta e cinco minutos sob o enfoque da metodologia
Histórico-Crítica de Dermeval Saviani.
A primeira aula iniciara com a apresentação do professor e do Programa de
Desenvolvimento Educacional ao qual o professor e a Unidade Didática estão
subordinados.
A seguir será realizada uma pesquisa inicial sobre os conhecimentos que os alunos
possuem sobre a avaliação da aprendizagem em Educação Física através de um
questionário escrito contendo dez questões objetivas (anexos).
No próximo momento a aula se desenvolvera contemplando os cinco passos que
segundo Saviani (2000) é considerado essencial para a construção do conhecimento
de forma crítica e reflexiva: Prática social inicial, problematização,
instrumentalização, catarse e prática social final.
Na prática social inicial será levantada a percepção que o educando possui sobre o
a avaliação da aprendizagem, para isso será realizada uma seqüência de
questionamentos sobre o assunto de forma verbal diretamente para todos os
presentes.
No momento seguinte a avaliação da aprendizagem em Educação Física será
problematizada historicamente considerando a realidade onde os educandos vivem
e atuam.
O próximo passo será a instrumentalização, realizada de forma verbal, tendo como
suporte a televisão PENDRIVE.
Após a instrumentalização, no período catártico, será realizada a avaliação da
apreensão dos conhecimentos socializados através da Unidade Didática através do
mesmo questionário aplicado no inicio da aula, os quais além de servirem para
avaliar a apropriação dos conhecimentos expostos subsidiarão a escrita de um
artigo científico sobre o referido tema.
A prática social final não será apreciada com um capitulo como os demais passos
neste trabalho, pois para Saviani (2000) o ponto de chegada de todo o processo
educativo é a realidade onde o educando vive e deve atuar de forma consciente
permeado pelos conhecimentos adquiridos.
2.1 ATIVIDADES
Apresentação do tema com auxilio de aparelhos de multimídia.
2.2 RECURSOS
As aulas serão enriquecidas com material multimídia, através da televisão
PENDRIVE na qual serão exibidos slides produzidos no PowerPoint (anexos).
2.3 TÉCNICAS
Aulas expositivas com interlocuções diretas com os alunos sobre o tema.
2.4 TEMPO
Os conhecimentos desta Unidade Didática sobre a avaliação da aprendizagem em
Educação Física serão socializados num período de cinco aulas de quarenta e cinco
minutos cada uma.
Sendo uma aula para apresentação e preenchimento do primeiro questionário, uma
aula e meia para a explanação da filosofia Positivista de Augusto Comte e uma aula
e meia para a explanação da perspectiva Materialismo Histórico-Dialético de Karl
Marx e a influência de ambas sobre a avaliação da aprendizagem.
Na ultima aula será realizada a avaliação desta Unidade Didática através do mesmo
questionário aplicado no inicio da aula que servira de subsidio para a construção do
artigo sobre o tema. Ainda na ultima aula será realizado os agradecimentos e
descrito de que forma os resultados do trabalho serão socializados com a
comunidade escolar, após as conclusões finais.
2.5 AVALIAÇÃO
A avaliação desta Unidade Didática será norteada por uma visão de transformações
sociais que possibilitem o acesso das classes menos privilegiadas a melhores
condições de existência:
“Hoje as forças econômicas, ao encontrarem-se, acentuam, sem distinção de fronteiras, a separação da sociedade em duas classes, obrigando uns que são a maioria, cada dia mais numerosa, a vender a sua faculdade de trabalho para viver, e permitindo aos outros, a minoria, cada vez mais reduzida, que a compre para enriquecer” (MARX, 2003, p. 32).
Para isso é fundamental superarmos as atuais formas que a avaliação da
aprendizagem em Educação Física assume no meio escolar, na visão do Coletivo de
Autores (1992) “A avaliação do processo ensino-aprendizagem é muito mais do que
simplesmente aplicar testes, levantar medidas, selecionar e classificar alunos” (p.
98).
Na expectativa de pavimentar um caminho para mudanças no meio escolar da
avaliação da aprendizagem se enfatiza sua realização na perspectiva diagnóstica
preocupada com transformações e não com manutenção das atuais estruturas
sociais “[...], o elemento essencial, para que se dê à avaliação educacional escolar
um rumo diverso ao que vem sendo exercitado, é o resgate da sua função
diagnóstica” (LUCKESI, 2002, p.43).
Nesta perspectiva a avaliação desta Unidade Didática será realizada através de um
questionário contendo dez questões abertas e objetivas que deverão ser
respondidas no inicio e no final das aulas os quais serão objeto de uma analise
avaliativa e da construção do artigo científico sobre o referido tema.
3. CONTEÚDOS DE ESTUDO
3.1. A socialização de conhecimentos sobre a avaliação da aprendizagem em Educação Física escolar: Perspectiva Positivista e Materialista histórico-Dialético.
3.1.1 PRÁTICA SOCIAL INICIAL
a) Vocês sabem o que significa avaliação?
b) Vocês sabem que a avaliação é realizada em vários outros espaços além da
escola, de que forma vocês acreditam que ela é realizada nestes outros locais?
c) Você concorda com a forma como a avaliação é realizada em Educação
Física?Por quê?
d) A quem esta servindo a avaliação da aprendizagem em Educação Física ao ser
realizada da atual forma no meio escolar?
e) Vocês sabem o que é filosofia positivista?
f) Vocês sabem o que é o materialismo histórico-dialético, e quem foi o idealizador
desta corrente?
g) É possível propormos mudanças nas formas avaliativas presentes no meio
educacional, de que forma?
h) Para você a forma como a avaliação é realizada em Educação Física tem alguma
relação com o aumento das desigualdades sociais?De que forma? 3.1.2 PROBLEMATIZAÇÃO
A forma como a avaliação é realizada na sociedade tem como referência o modo de
produção capitalista, que se manifesta na escola, o que tem gerado muitas
desigualdades no meio escolar e na sociedade como um todo.
As propostas hegemônicas de avaliação no meio escolar em Educação Física têm
como orientação o positivismo que possui as suas bases nas ciências naturais, o
que conduziu a construção de uma proposta avaliativa numa perspectiva
classificatória, a qual não propõe caminhar na direção da construção da igualdade
social, mas sim no sentido de manter as atuais estruturas sociais através da seleção
e exclusão dos educandos que não atendem as necessidades de ampliação do
acumulo de capital por parte da classe burguesa.
Para enfrentar este problema é necessário conhecer outras formas de avaliação em
Educação Física que possibilitem resistir e propor mudanças a atual forma que esta
prática é realizada no meio escolar.
A avaliação numa perspectiva das ciências sociais de cunho marxista traz em seu
bojo elementos que possibilitam contrapor e superar as atuais configurações da
avaliação de forma a pavimentar um caminho em direção a transformações sociais.
3.1.3 INSTRUMENTALIZAÇÃO
A avaliação da aprendizagem em Educação Física
Para Luckesi (1997) A palavra avaliação provém da composição dos termos a +
valere tem sua genealogia no latim, significando “dar valor a...”, ou seja, atribuir um
valor ou qualidade a alguma coisa.
Apesar de a avaliação ser realizada a todo o momento pelo homem nos mais
diversos espaços e tempos, dentro da escola ela somente assumiu a forma atual no
século XX, a partir de estudos do americano Ralph Tyler “A denominação avaliação
da aprendizagem é recente. Ela é atribuída a Ralph Tyler, que a cunhou em 1930” (LUCKESI, 1997, p. 170).
Segundo Carlan (1996) atualmente coexistem duas tendências em Educação Física
que trazem em sua essência duas propostas antagônicas socialmente, uma propõe
a manutenção das atuais estruturas sociais, a outra propõe transformações sociais
que conduzam a classe dos menos privilegiados, os proletariados e os excluídos, a
melhores condições de existência.
Para realizar seu intento estas diferentes propostas educativas buscam sua
sustentação em diferentes filosofias uma esta voltada para o pensamento positivista
de Augusto Comte e outra esta direcionada para o pensamento materialista
histórico-dialético de Karl Marx.
“Assim, ficou constatada a existência de duas tendências ou concepções de educação física no Brasil, uma voltada para o paradigma das ciências naturais, norteada pelo pensamento liberal e positivista de educação; e a segunda voltada para o paradigma crítico/social sustentada fundamentalmente pela concepção dialético-marxista” (CARLAN, 1996, 24).
O modelo filosófico positivista foi adotado pelos burgueses após o período de
revoluções que conduziram a classe ao poder, como a melhor forma de organizar e
estruturar a sociedade para manter os privilégios adquiridos.
O caminho escolhido para difundir o Positivismo na sociedade foi através da
educação, e a Educação Física ao adentrar o currículo escolar passou a incorporar e
disseminar todos os valores que esta filosofia traz em seu cerne de forma
hegemônica.
A filosofia positivista foi desenvolvida em uma de suas vertentes por Augusto Comte
(1798 a 1857), naquela época a sociedade vivia inúmeras convulsões sociais por
isso necessitava ser reestruturada. Nesta perspectiva Comte desenvolveu uma
proposta filosófica que propunha reorganizar todas as estruturas sociais de acordo
com as necessidades dos burgueses que estavam no poder “[...], assim também o
positivismo se caracterizou como a ideologia da burguesia conservadora. Por isso
ele exorcizou as contradições e a negatividade, fixando-se apenas no lado positivo
(daí seu nome) da sociedade burguesa, [...]” (SAVIANI, 2005, p. 61).
Comte era um idealista, ou seja, para ele são as idéias que determinam a
sociedade. Desta forma, para organizar a sociedade era necessário desenvolver o
intelecto do homem, pois, somente a partir dele era possível reestruturar a
sociedade; “[...] um fundamento do Sistema Filosófico criado por Auguste Comte
alicerçava-se na idéia de que a sociedade só pode ser reorganizada de forma
positiva, após uma completa reforma intelectual do homem” (ROCHA, 2006, p.58).
A produção de conhecimentos e sua transferência às gerações futuras são
essenciais para que o ser humano possa superar os desafios nos mais diversos
campos que compõem a vida, assim “Os conhecimentos surgiram de necessidades
e desafios específicos que o ser humano veio e vem enfrentando ao longo do tempo,
nos mais variados espaços geográficos, sociológicos e psicológicos” (LUCKESI,
1997, p. 127).
O conhecimento se da quando o ser humano toma posse da realidade, do mundo
que o rodeia:- “O conhecimento humano caracteriza-se pela relação estabelecida
entre o sujeito e o objeto, podendo-se dizer que esta é uma relação de apropriação”
(GERHARDT & SILVEIRA, 2009, p.11).
Para Lakatos (1991) existem quatro tipos de conhecimentos que se distinguem entre
si por sua natureza, o popular ou senso comum, o filosófico, o religioso ou teológico
e o científico.
O conhecimento popular ou senso comum também conhecido como empírico, surge
a partir de experiências vivenciadas no dia-a-dia ou recebidas de alguém, para
Cotrim citado por Francelin (2004) o “[...] vasto conjunto de concepções geralmente
aceitas como verdadeiras em determinado meio social recebe o nome de senso
comum” (FRANCELIN, 2004, p.30).
O conhecimento filosófico surge a partir de reflexões sobre determinados problemas
e duvida para os quais procura levantar subsídios muito sutis que tentam escapar
aos sentidos, de forma racional procura respostas partindo do todo para as partes ou
das partes para o todo: “Desta forma, o conhecimento filosófico é fruto do raciocínio
e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando
conceitos subjetivos” (GERHARDT & SILVEIRA, 2009, p. 20).
A palavra filosofia foi utilizada pela primeira vez por Pitágoras no século VI a. C, foi
cunhada a partir dos termos philos e sophia e significa amor a sabedoria “A filosofia
surge na Grécia Antiga, por volta do século VI a.C., quando o homem busca
explicar, dar um sentido às coisas a partir de sua própria capacidade
racional”.(BRASIL, 2002, p.11).
O conhecimento religioso surge a partir da fé e da crença em outro mundo que pode
ser revelado a partir de textos sagrados ou por meio de indivíduos que se acredita
intermediarem a relação com o outro mundo ou seu representante. “Conhecimento
religioso caracteriza-se por ser valorativo, sistemático, não verificável, inspiracional,
infalível, exato” (VIEIRA, 1999, p. 137).
O conhecimento científico é um aprimoramento do senso comum, é uma forma de
investigação que não se preocupa somente com os possíveis efeitos de um novo
conhecimento, mas também com as causas e leis que levaram determinados
conhecimentos a assumir novas formas. “O conhecimento científico se difere dos
demais, no que se refere a presença de uma metodologia e visão critica, e não em
relação propriamente ao seu conteúdo” (VIEIRA, 1999, p. 137).
A forma de produzir conhecimentos científicos da maneira como conhecemos
atualmente teve sua estruturação iniciada a partir de Galileu Galilei (1564-1642),
com a teoria do heliocentrismo, pela qual foi perseguido pela igreja e quase foi para
a fogueira; Para Nunes (2010) ele foi um dos grandes protagonistas do seu tempo,
pois seu método de pesquisa fundamentou a ciência na passagem da era medieval
para o mundo moderno.
Ao refletirmos diariamente sobre as nossas ações e pensamentos de forma
detalhada é possível identificar as várias maneiras que o conhecimento pode
assumir em nossas vidas.
“Assim, a apreensão simples da realidade cotidiana é um conhecimento popular ou empírico, enquanto o estudo aprofundado e metódico da realidade enquadra-se no conhecimento científico. O questionamento do mundo e do homem quanto à origem, liberdade ou destino, remete ao conhecimento filosófico” (TARTUCE apud GERHARDT & SILVEIRA, 2009, p. 12).
Durante toda a história do homem o conhecimento exerceu um papel fundamental
nas transformações da natureza, contribuindo para sua evolução, nas sociedades
primitivas formadas por bandos migratórios, que viviam da caça, da pesca, e da
coleta de alimentos, o conhecimento mais valorizado era o desenvolvido a partir das
experiências cotidianas, ou seja, o senso comum.
Nessas primeiras organizações sociais os instintos eram fundamentais para a
sobrevivência e os conhecimentos desenvolvidos a partir de suas experiências eram
essenciais para a perpetuação da espécie.
A evolução das sociedades levou á novas e diferentes visão sobre o conhecimento,
na sociedade grega iniciou-se a valorização do conhecimento filosófico, no intuito de
compreender a realidade para melhor atuar sobre ela. “Os pensadores originários ou
pré-socráticos são os primeiros filósofos a usar a especulação racional para tentar
compreender a realidade que se apresenta aos homens” (BRASIL, 2002, p. 12).
Para os gregos o homem é um animal racional, o que o diferencia, portanto de
outros seres que compõe o mundo, por isso “[...], o que nele deve ser aprimorado é
o discurso, a argumentação, a retórica, a arte de bem falar e pensar” (PARANÁ,
1986, p. 03).
Na sociedade grega o conhecimento científico e o filosófico não tinham distinção
entre si, ambos eram desenvolvidos paralelamente para Moles (1971) citado por
francelin (2004) “Nem Platão nem Bacon separavam o ‘amor à sabedoria’ da
posição do homem no Universo e do estudo estrutural deste” (FRANCELIN, 2004,
p.28).
Com a invasão da Grécia pelos romanos, a ascensão do Cristianismo e a posterior
desintegração do seu império na Europa o continente adentrou um período que
passou a ser conhecido posteriormente como feudalismo.
Na época do feudalismo devido à influência do cristianismo o conhecimento religioso
dissemina-se de rapidamente, tornando-se hegemônico, tudo que é relativo ao corpo
passa a ser considerado como fonte do pecado, é deixada de lado em prol da
salvação da alma.
O conhecimento religioso predomina sobre todos os outros para que o homem
possa atingir a salvação de sua alma:- “O conhecimento e reconhecimento das Leis
Divinas, através de estudos racionais, era considerado o suficiente para o homem
agir na terra em consonância com seu criador” (PARANÁ, 1986, p. 04).
Com o Renascimento o conhecimento científico vai tomando forma a partir do
momento em que os conhecimentos religiosos e filosóficos não conseguem atender
as demandas impostas à sociedade naquele momento histórico.
“[...] o homem daquela época, [...], encontra-se desorientado, pois as “verdades” de fé, nas quais até então se apoiara, já não possuem a solidez anterior, já não respondem às necessidades do momento. E as “verdades” filosóficas não conseguiam mais dar conta dos novos desafios colocados pela realidade.” (BRASIL, 2002, p. 18).
Um dos principais filósofos que contribui na construção deste novo corpo de
conhecimentos foi o francês René Descartes (1596-1650), considerado o fundador
da filosofia moderna.
Descartes foi o principal arquiteto do método científico moderno, através de sua obra
“Discurso do método” ele estruturou uma nova forma de produzir conhecimento a
partir da razão, com seu famoso enunciado “penso, logo existo” ele descortinou um
novo mundo. “Uma das grandes heranças deixadas por Descartes, para além dos seus trabalhos científicos propriamente ditos, é o seu “método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências”, que, em muitas das suas vertentes ainda é utilizado nos dias de hoje” (PINTO, 2009, p. 23).
Nos séculos seguintes influenciados pela cisão entre ciência e filosofia as ciências
se decompõem em ciências exatas (matemática, estatística, física e química)
ciências naturais (Astronomia, Ecologia, Biologia e Geografia) e ciências humanas
ou sociais (pedagogia, antropologia, sociologia, filosofia, psicologia, dentre outras).
As ciências exatas e as naturais se adaptam melhor ao modelo de cientificidade e
exatidão necessárias a aplicação do método científico que busca a construção de
leis universais a partir de fenômenos observados, possíveis de serem previstos e de
serem controlados experimentalmente.
“A saber, sob tal paradigma, as ciências sociais não eram consideradas ciências na mesma medida que os demais campos científicos, pois o campo das ciências foi sempre o campo do verificável, do comprovável, da objetividade, da positividade” (Rosso et al., 2002, p. 234).
Para serem reconhecidas como ciências as ciências humanas e sociais tiveram que
se alicerçarem nas ciências naturais e produzir um corpo de conhecimentos que a
legitimasse cientificamente;
“Por um lado, esse empréstimo originou o positivismo do século XIX e, especialmente, no século XX, [...]. Por outro, [...], tal empréstimo originou o pensamento crítico-dialético: tendência humanista que busca o método específico das ciências humanas” (BRASIL, 2002, p. 22).
Para Löwy citado por Chaves & Chaves Filho (2000) três premissas básicas
sustentam o positivismo, a primeira é a de que a sociedade é organizada por leis
naturais, ou seja, elas são independentes das aspirações e dos atos dos homens “A
sociedade é regida por leis naturais invariáveis, independentes da vontade e ação
humana e na vida social reina harmonia natural” (p. 73).
A segunda é a de que as ciências naturais são entidades neutras sem
determinismos, sociais, econômicos ou políticos “As ciências da sociedade, assim
como as da natureza devem limitar-se à observação e à explicação dos fenômenos,
de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias,[...]” (XAVIER,
2009, p. 04).
A terceira é a de que, a partir do pressuposto de que nas ciências naturais a
organização social é semelhante á presente na natureza justifica-se a utilização dos
mesmos métodos e processos em ambas. “A sociedade pode ser estudada pelos
mesmos métodos e processos empregados pelas ciências da natureza” (Chaves &
Chaves Filho, 2000, p. 73).
A pretensa neutralidade apregoada pelas ciências naturais passou a servir como
uma dos alicerces principais do positivismo e foi um dos critérios que levou esta
filosofia a ser escolhida como a mais adequada aos interesses dos capitalistas
durante o período da revolução industrial, pois “[...] refletia no âmbito filosófico, a
preferência do capitalismo pelo desenvolvimento da sociedade industrializada.”
(XAVIER, 2009, p. 02).
Para os positivistas as ciências orientariam o desenvolvimento do processo
industrial, contrapondo os filósofos socialistas, que pregavam a necessidade de uma
revolução por parte das instituições, eles pensavam uma sociedade organizada
independente dos problemas sociais, segundo BOCK (1995) citado por Chaves &
Chaves Filho (2000)
“No século XIX (...) O crescimento da nova ordem econômica - o capitalismo - traz consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência deveria dar resposta e soluções práticas no campo da técnica. A partir dessa época, a noção de verdade passa, necessariamente, a contar com o aval da ciência (...) a ciência avança tanto, que passa a ser um referencial para a visão de mundo” (p.72).
O Positivismo no Brasil passou a receber um grande impulso a partir de 1850, como
um conjunto de reformas necessárias a consolidação da burguesia no poder nos
grandes centros urbanos.
“O positivismo penetra no contexto histórico do Brasil da segunda metade do século XIX, marcado por ideais republicanos, pelo liberalismo político, pela luta para a abolição dos escravos, pelo ecletismo e pela ascensão de uma burguesia urbana, que vai ser decisivo na transição império-república” (PAIXÃO, 2000, p. 21).
No final deste mesmo século a filosofia positivista acaba adentrando de forma
definitiva na educação e no circulo dos intelectuais “A cultura positiva toma conta
dos estudantes e intelectuais do final do século XIX. A vontade de reformar a
sociedade política e socialmente, estava na ordem do dia”. (PAIXÃO, 2000, p. 23).
A sistematização e a institucionalização da Educação Física da forma escolarizada
como nós a conhecemos atualmente floresceu no final do século XVIII na Europa, e
adentrou o meio escolar no Brasil somente no século XX através da ginástica. “No
Brasil, sua primeira denominação era ginástica e, até o início do século XX, sua
prática ficou restrita às escolas do Rio de Janeiro – capital da República – e às
Escolas Militares” (NUNES & RÚBIO, 2008, p.58-59).
A constituição da Educação Física em seu inicio no Brasil foi fortemente marcada
pela influencia liberal de cunho positivista que pregava a aquisição de hábitos de
higiene e saúde indispensáveis para a estruturação da sociedade que estava sendo
erguida, “Sua constituição foi fortemente influenciada, [...], a partir da segunda
metade do século XIX, pela medicina, fundamentando-se nos princípios filosóficos
positivistas” (BRACHT apud NUNES & RÚBIO, 2008, p.58).
A influência positivista sobre a Educação Física levou a área a organizar todas as
suas práticas educativas, o ensino, a aprendizagem e a avaliação a partir dos
mesmos pressupostos teóricos propostos para a organização da sociedade.
A avaliação da aprendizagem em Educação Física na perspectiva positivista impõe
diversos ritos que a maioria dos professores segue com poucas exceções, segundo
Luckesi (1997) após um determinado período de aulas e atividades os professores
através de diversos instrumentos de medidas realizam a avaliação da aprendizagem
escolar.
Estes instrumentos de medida podem ser testes, provas, observação, através do
quais os professores observam se os educandos possuem os conhecimentos e
comportamentos necessários para ascender à série subseqüente ou ficam retidos
para realizar todo o processo novamente, ou seja:- “A avaliação tem servido como
um instrumento de controle social, pois produz seletividade e exclusão” (BARBOSA,
2004, p. 16).
Esta forma de avaliar tem contribuído mais para classificar os alunos do que para
avaliar a aprendizagem com base em Luckesi (1997) podemos ressaltar que ao
realizar a avaliação da aprendizagem nesta perspectiva os professores estão
realizando uma avaliação classificatória mais compromissada com a manutenção
das atuais estruturas sociais do que com as transformações necessárias para a
classe que freqüenta a escola.
Ao classificar os alunos a escola acaba por institucionalizar a divisão dos mais aptos
dos menos aptos, segregando-os ou excluindo-os, socialmente falando quanto maior
for o nível de instrução escolar de um educando maior são as possibilidades de
ascensão social, maior as possibilidades de acessar uma parte maior das riquezas
produzidas socialmente, de acordo com uma pesquisa do IPEA citado por Oliveira
Filho (2006).
“[...], o diploma de ensino médio garante o dobro do rendimento daqueles que não o têm. E o ensino superior, o triplo dos que têm somente o ensino médio. A probabilidade de uma pessoa ficar desempregada é de 17,6% se tiver nível médio incompleto, 10,9% se tiver ensino médio completo e 5,4% se tiver superior completo” (p. 302).
Nesta perspectiva Luckesi ressalta que (1997) à avaliação da aprendizagem esta
muito mais articulada com a reprovação do que com a aprovação contribuindo de
forma determinante para a seleção social, que já existe independente dela, mas que
acaba sendo reforçada pelas atuais estruturas avaliativas:- “A seletividade social já
está posta, a avaliação colabora com a correnteza, acrescentando mais um “fio de
água”” (LUCKESI, 1997, p. 26).
A proposta de um novo modelo de avaliação da aprendizagem em Educação Física
emergiu na década de 1980, devido à necessidade de a área atender as novas
demandas sociais que lhe foram impostas a partir do processo de redemocratização
social:- “A necessidade de mudanças era exigida por grande parte da sociedade,
seja política, intelectual, cultural ou educacional” (CARLAN, p. 23, 1996).
Naquela década muitas reflexões são direcionadas para a área e seu modelo
educativo em vigor nas escolas, constatou-se a necessidade de construir uma
proposta educativa para a área em consonância com os clamores da sociedade, sob
pena de perder a legitimidade social caso não conseguisse atender a determinados
requisitos.
A Educação Física passou a assumir uma postura mais crítica em relação aos
problemas sociais enfrentados pela classe trabalhadora realizando esta mediação a
partir de sua contextualização na sociedade capitalista. “[...] pela análise da função
social da educação, e da EF em particular, como elementos constituintes de uma
sociedade capitalista marcada pela dominação e pelas diferenças (injustas) de
classe” (BRACHT, 1999, p. 78).
Na perspectiva de Bracht (1999) para realizar determinadas críticas a sociedade é
fundamental compreender a realidade social para isso foi necessário conduzir os
pressupostos teóricos da área das ciências biológicas para as ciências humanas
mais especificamente para a teoria marxista. “[...] muito influenciadas pelas ciências
humanas, principalmente a sociologia e a filosofia da educação de orientação
marxista.” (BRACHT, 1999, p. 78).
Marx era materialista, ou seja, para ele a matéria era que determinava as idéias e
não o oposto como afirmavam os positivistas, a partir de reflexões muito profundas
sobre a sociedade ele construiu uma teoria unindo o idealismo e o materialismo que
denominou de materialismo histórico-dialético. “Para Marx, o mundo dos homens
nem é pura idéia nem é só matéria, mas sim uma síntese de idéia e matéria que
apenas poderia existir a partir da transformação da realidade.” (LESSA e TONET,
2008, p. 43).
Segundo MARX (2003) para o homem existir ele age sobre a natureza,
transformando-a, produzindo sua sobrevivência através do trabalho. Assim, para
compreendermos a realidade social é fundamental consideramos a história e todas
as mudanças que levaram a sociedade a se estruturar da forma como ela se
apresenta atualmente tendo como pano de fundo o modo de produção:- “São as
condições de vida material que dominam o homem; e estas condições, e por
conseqüência o modo de produção, são as que têm determinado e determinarão os
costumes e as instituições sociais, econômicas, políticas, jurídicas, etc.” (MARX,
2003, p. 11).
Para Lessa (2009) ao analisarmos a história da evolução do homem na perspectiva
do trabalho é possível identificar diferentes modos nos mais diferentes tempos e
lugares:- “Sendo o trabalho o fundante da sociabilidade, o trabalho primitivo é
fundante da sociabilidade primitiva; o trabalho escravo funda o escravismo e o
trabalho servil e o trabalho proletário funda, respectivamente, os modos de produção
feudal e o capitalista”. (LESSA, 2009, p. 69).
Nas primeiras formas de organização social formadas por bandos, o modo de
produção era primitivo, realizado através da caça, da pesca e da coleta de frutas e
raízes que eram compartilhados por todos como fruto do trabalho coletivo, não
existiam classes sociais, portanto não havia a exploração através do trabalho.
“-Em face da baixa produtividade (dependente das ofertas naturais) e da conseqüente ausência de produto excedente, economicamente inviável a exploração do homem pelo homem, de modo que inexistente a configuração daquilo que hoje se entende por classes sociais-” (FONSECA, 2011, p. 11).
A fixação do homem a terra criou condições para o surgimento da agricultura e da
pecuária possibilitando a produção de excedentes, pela primeira vez o homem
passou a produzir mais do que precisava.
A produção maior do que a necessidade possibilitou o emprego deste excedente na
exploração do homem pelo homem, surgindo duas classes antagônicas com
interesses diferenciados e impossíveis de serem conciliados:- “Com o surgimento da
exploração do homem pelo homem, pela primeira vez as contradições sociais se
tornam antagônicas, isto é impossíveis de serem conciliadas” (LESSA E TONET,
2008, p. 55).
Com o avanço dos processos culturais novas formas de organização social são
desenvolvidas com base em diferentes modos de produção, é o caso da cultura
grega que nos influenciou fortemente e que teve sua produção calcada no modo de
produção escravista:- “As antigas sociedades escravistas, representadas pelos
gregos e romanos, eram compostas por duas classes antagônicas: os
senhores e os escravos.” (FONSECA, 2011, p. 13).
Aos senhores cabiam o usufruto de toda a produção cultural grega, enquanto aos
escravos restava-lhes o trabalho, a sociedade era organizada para que a classe
privilegiada, o cidadão, pudesse se dedicar ao pensar, argumentar e discursar,
enquanto os escravos eram considerados somente na perspectiva produtiva.
Com a ascensão do Império Romano e a invasão da Grécia, ambas as culturas se
influenciam mutuamente, e a posterior desintegração do Império Romano na Europa
leva a organização de pequenas áreas de produção basicamente agrárias, que
muitas vezes serviam também para a proteção, chamados de feudos.
Nos feudos o modo de produção instituído foi o do trabalho servil, que segundo
Huberman (1986) era uma forma de escravidão mais branda, sendo o clero e a
nobreza a classe governante.
Com a ampliação da produção nos feudos surge um excedente que necessita ser
comercializado, este comércio passou a ser realizado nos burgos que eram locais
destinados ao comércio seus moradores denominavam-se burgueses:- “Com o
comércio e as cidades, surgiram duas novas classes sociais: os artesãos e os
comerciantes, também chamados de burgueses” (LESSA e TONET, 2008, p. 65).
Os burgueses não possuíam as terras, mas passaram a deter o poder econômico,
então orquestraram um golpe junto à classe trabalhadora e derrubou primeiramente
a igreja, depois a monarquia e assim assumiu também o poder político “A burguesia
desejava que seu poder político correspondesse ao poder econômico que já tinha”
(HUBERMAN, 1986, p.13).
Para consolidarem-se no poder político e econômico a burguesia lança mão de uma
série de reformas ditas “liberais” que lhes serviram de sustentação enquanto classe
revolucionaria, mas, que agora deveria ser adaptada aos seus interesses.
Dentro destas liberdades econômicas e políticas destacam-se a liberdade de
contrato, livre concorrência, economia sem a intervenção do estado, divisão do
trabalho, defesa da propriedade privada, liberdade de expressão, imprensa e
religião, organização dos poderes legislativo, judiciário e executivo.
Após a revolução francesa a classe burguesa se expande formidavelmente e
desenvolve novas estruturas produtivas que a levaram a uma nova revolução, a
industrial, que explicitou ainda mais o antagonismo entre a classe burguesa e a
proletária.
“O desmoronamento da ordem feudal não se assinalou pela supressão das classes, mas sim pela substituição de um novo jugo em lugar do antigo, pelo estabelecimento de condições que reduzem á luta os dois campos opostos que pouco a pouco absorvem toda a sociedade: a burguesia capitalista e o proletariado” (MARX, 2003, p. 19).
Nesta nova forma de reestruturação produtiva os capitalistas detêm os meios de
produção e adquire do trabalhador somente a sua força de trabalho pela qual ele
paga um salário sempre inferior ao ele realmente vale ficando com o restante para si
na forma de lucro.
O capitalismo aumentou muito a produção de riquezas, mas também concentrou a
mesma nas classes dominantes enquanto os trabalhadores dividem entre si uma
pequena parte das riquezas produzidas expandindo a miséria os burgueses se
fartam acumulando cada vez mais capital.
O sistema capitalista não é um sistema perfeito de tempos em tempos sofre
reestruturações para manter ou ampliar o processo de acumulo de capital, em outros
períodos sofre crise no processo de acumulo de capital que às vezes somente com
o apoio do Estado é possível superá-las.
A partir de 1989 o capitalismo passa a sofrer uma nova reorganização do capital
orientado pelo Consenso de Washington que propõe reformas “neoliberais” que
consistem na privatização do patrimônio público, abertura do mercado interno ao
capital internacional de forma ampla e irrestrita, desregulamentação financeira, do
mercado e da força de trabalho.
“-[...] 1. Equilíbrio orçamentário, sobretudo mediante a redução dos gastos públicos; 2. Abertura comercial, pela redução das tarifas de importação e eliminação das barreiras não-tarifárias; 3. Liberalização financeira, por meio da reformulação das normas que restringem o ingresso de capital estrangeiro; 4. Desregulamentação dos mercados domésticos, pela eliminação dos instrumentos de intervenção do Estado, como controle de preços, incentivos etc.; 5. Privatização das empresas e dos serviços públicos-” (SOARES, 1996, p. 23).
O neoliberalismo em voga atualmente na sociedade capitalista tornou-se um projeto
hegemônico que traz em seu bojo um discurso ideológico, através do qual proclama
a necessidade de determinados ajustes como uma forma de desenvolver a
economia e atender aos anseios sociais, mas a realidade contradiz este discurso
como constata Mészaros (2008) ao citar um relatório sobre o desenvolvimento
humano produzido pelas Nações Unidas.
“-[...], O 1% mais rico do mundo aufere tanta renda quanto os 57% mais pobres. A proporção, no que se refere aos rendimentos, entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres no mundo aumentou de 30 para 1 em 1960, para 60 para 1 em 1990 e para 74 para 1 em 1999, e estima-se que atinja os 100 para 1 em 2015. Em 1999-2000, 2,8 bilhões de pessoas viviam com menos de dois dólares por dia, 840 milhões estavam desnutridos, 2,4 bilhões não tinham acesso a nenhuma forma de aprimorada de serviços de saneamento, e uma em cada seis crianças em idade de freqüentar a escola primária não estava na escola. Estima-se que cerca de 50% da força de trabalho não agrícola esteja desempregada ou subempregada-”. (MÉSZAROS, 2008, p. 73-74).
O capitalismo é um sistema desumano, pois privilegia uma minoria enquanto
deteriora as condições de vida da maioria, por isso é essencial à construção de uma
proposta de um sistema econômico onde o bem estar social seja o centro do
processo e não o lucro, neste sentido isto só será possível com a socialização dos
meios de produção:- “Com efeito, socializar os meios de produção significa instaurar
uma sociedade socialista, com a conseqüente superação da divisão em classes”
(SAVIANI, 2005, p. 99).
A partir de reflexões de Lessa (2009) citando Mészáros não existe outro caminho
civilizado senão o socialismo, pois a situação da sociedade esta ficando tão
deteriorada que a violência e a miséria imperarão de forma absoluta:- “Podemos ir
ao socialismo ou à barbárie – ‘‘se tivemos sorte’’, [...], pois poderemos terminar com
a extinção da humanidade.” (LESSA, 2009, p. 81).
O horizonte negativo que o capitalismo apresenta urge a necessidade de mudanças
estruturais no sistema para atender as necessidades de sobrevivência da espécie,
com o fim da ditadura no Brasil e o inicio do processo de redemocratização adentrou
a educação e conseqüentemente a Educação Física na década de 1980 no intuito
de colocar todos os instrumentos educativos da aprendizagem, do ensino e da
avaliação a disposição destas transformações.
A necessidade de transformações conduziu a Educação Física a buscar inspiração
na teoria dialético-marxista, uma vertente que se encontra nas ciências humanas e
sociais e traz em seu bojo uma proposta de transformações a partir do resgate da
historicidade dos fatos considerando a luz da luta entre as classes burguesa e a do
proletariado.
Nesta perspectiva a avaliação da aprendizagem em Educação Física dentro da
escola para assumir um papel de transformação social deve estar em sintonia com
as mesmas premissas que regem a teoria marxista:- “Deve se ter em conta,
claramente, o projeto histórico, ou seja, a sociedade na qual estamos inseridos e a
que queremos construir e o projeto pedagógico daí decorrente que se efetiva na
dinâmica curricular, materializada nas aulas. [...]” (COLETIVO DE AUTORES, 1992,
p. 103-104).
Para que a avaliação da aprendizagem assuma o seu papel de transformação social
não poderá estar em consonância com a manutenção das atuais estruturas sociais
deve estar preocupada com mudanças, para isso deve exercer uma função
diagnóstica de aproximação ou afastamento do modelo de sociedade que
almejamos construir.
“-Para que a avaliação educacional assuma o seu verdadeiro papel de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento, terá de se situar e estar a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social e não com a sua conservação” (LUCKESI, 1997, p. 42).
Entretanto a presente forma classificatória que a avaliação da aprendizagem tem
assumido atualmente não contém em sua essência as premissas necessárias para
as transformações sociais que a classe menos privilegiada necessita “A avaliação
educacional escolar como instrumento de classificação, [...], não serve em nada para
a transformação; contudo, é extremamente eficiente para a conservação da
sociedade, pela domesticação dos educandos” (LUCKESI, 1997, p. 42).
Os conhecimentos produzidos historicamente sobre avaliação da aprendizagem
escolar em Educação Física devem ser colocados à disposição dos educandos para
que através de sua apropriação possam intervir de forma mais significativa na escola
e na sociedade em vivem e atuam; “[...] o conhecimento deve constitui-se numa
ferramenta essencial para intervir no mundo” (FREIRE apud GADOTTI, 1998, p.
118).
A escola é um local onde ao mesmo tempo em que é possível reproduzir o projeto
de construção do capitalismo, é possível construir o exercício da resistência e da
luta através da reflexão e da ação, para isso a socialização de determinados
conhecimentos é essencial:- “Portanto é fundamental a luta contra essa sonegação,
uma vez que é pela apropriação do saber escolar por parte dos trabalhadores que
serão retirados desse saber seus caracteres burgueses e se lhe imprimirão os
caracteres proletariado” (SAVIANI, 2005, p. 55).
3.1.4 CATARSE
A catarse, ou seja, o levantamento da forma como os conhecimentos sobre a
avaliação da aprendizagem em Educação Física foram assimilados pelos alunos
será realizada através de um questionário contendo 10 questões abertas. 4. RECOMENDAÇÕES
A presente unidade didática foi concebida sob a luz da concepção Materialista
histórico-Dialético a qual traz em seu bojo uma proposta de avaliação da
aprendizagem em Educação Física alinhada com uma visão de transformação das
estruturas sociais, que se materializa dentro da escola na forma da avaliação
diagnóstica.
No momento da catarse ao aplicarmos a avaliação desta unidade didática é
essencial termos como referencia a visão de sociedade, de educação e de ser
humano que pretendemos formar.
Nesta perspectiva é fundamental realizar nesta Unidade Didática uma avaliação
diagnóstica dos conhecimentos socializados aos educandos, retornando aos pontos
em que houver as maiores dificuldades quantas vezes for necessário até sua
completa apreensão.
Pois na escola assim como na vida não devemos avaliar somente para classificar,
devemos avaliar para transformar, criando novas formas de intervenção que
possibilitem aos educandos se apropriar dos conhecimentos sobre a avaliação da
aprendizagem, para que avaliação não continue sendo sinônimo de exclusão social.
5. PROPOSTA DE AVALIAÇÃO
Questionário sobre a socialização de conhecimentos sobre avaliação da
aprendizagem em Educação Física nas perspectivas positivista e materialista
histórico dialético.
1) Após vários anos realizando avaliações você sabe o significado da palavra
avaliação?Justifique?
2) Você tem ciência de que a avaliação é realizada em vários outros espaços além
da escola, de que forma você acredita que ela é realizada nestes outros locais?
3) O momento da avaliação no meio escolar é considerado um momento crucial
para alunos, país e professores. Por quê?
4) Na sua percepção existem relações entre as avaliações da aprendizagem nas
diferentes áreas que compõem o currículo escolar?
5) Você concorda com a forma como a avaliação é realizada em Educação Física na
sua escola?Por quê?
6) Ao ser realizada da atual forma no meio escolar a avaliação da aprendizagem
serve mais aos interesses dos educandos ou da sociedade capitalista?
7) A filosofia Positivista foi concebida por Augusto Comte, você sabe de que forma
esta corrente influência a educação até os dias atuais?
8) A filosofia materialista histórico-dialético foi concebida por Karl Marx, você já ouviu
ou leu sobre as propostas de transformações sociais que esta concepção propõe?
9) É possível propormos mudanças nas formas avaliativas presentes no meio
educacional, de que forma?
10) Do seu ponto de vista a forma como a avaliação é realizada em Educação Física
tem alguma relação com o aumento das desigualdades sociais?Explique? 6. BIBLIOGRAFIA BARBOSA, Carmen Silveira. O acompanhamento das aprendizagens e a avaliação. Revista Pátio. Ano II nº. 4 p. 16-19, abril/julho. Porto Alegre: Artemed,
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7. ANEXOS
PROFESSOR: LINDOMARMILKEVIECZ
Avaliação na Educação Física Escolar
TEMA
“A socialização de conhecimentos
sobre a avaliação da aprendizagem
em Educação Física escolar:
Perspectiva Positivista e Materialista
histórico-Dialético”
APRESENTAÇÃO
A presente Unidade Didático Pedagógica foi
gestada dentro do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE mantido pelo Governo do
Estado do Paraná em parceria com Instituições
de Ensino Superior, no intuito de contribuir na
solução dos problemas enfrentados na educação
paranaense.
Um dos grandes problemas enfrentados atualmente na
educação paranaense esta relacionada com o
modo como a avaliação da aprendizagem vem sendo
realizada nas diferentes disciplinas que compõem o
currículo escolar, inclusive na Educação Física.
“A avaliação tem servido como um instrumento de
controle social, pois produz seletividade e exclusão”
(BARBOSA, 2004, p. 16).
PRÁTICA SOCIAL INICIAL
a) Vocês sabem o que significa avaliação?
b) Vocês sabem que a avaliação é realizada em vários outros espaços além da escola, de que forma vocês acreditam que ela é realizada nestes outros locais?
c) Você concorda com a forma como a avaliação é realizada em Educação Física?Por quê?
d) A quem esta servindo a avaliação da aprendizagem em Educação Física ao ser realizada da atual forma no meio escolar?
e) Vocês sabem o que é filosofia positivista?
f) Vocês sabem o que é o materialismo histórico-dialético, e quem foi o idealizador desta corrente?
g) É possível propormos mudanças nas formas avaliativas presentes no meio educacional, de que forma?
h) Para você a forma como a avaliação é realizada em Educação Física tem alguma relação com o aumento das desigualdades sociais?De que forma?
PROBLEMATIZAÇÃO
As propostas hegemônicas de avaliação no meio
escolar em Educação Física têm como orientação o
positivismo, o que conduziu a construção de uma proposta
avaliativa numa perspectiva classificatória, a qual não
propõe caminhar na direção da construção da igualdade
social, mas sim no sentido de manter as atuais estruturas
sociais através da seleção e exclusão dos educandos que
não atendem as necessidades de ampliação do acumulo de
capital por parte da classe burguesa.
Para enfrentar este problema é necessário conhecer outras
formas de avaliação em Educação Física que possibilitem
resistir e propor mudanças a atual forma que esta prática é
realizada no meio escolar.
INSTRUMENTALIZAÇÃO
O QUE É AVALIAÇÃO?
AVALIAÇÃO
Para Luckesi (1997) A palavra
avaliação provém da composição dos
termos a + valere tem sua origem no
latim, significando “dar valor a...”, ou
seja, atribuir um valor ou qualidade a
alguma coisa.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Apesar de a avaliação ser realizada a todo o
momento pelo homem nos mais diversos
espaços e tempos, dentro da escola ela
somente assumiu a forma atual no século
XX, a partir de estudos do americano Ralph
Tyler “A denominação avaliação da
aprendizagem é recente. Ela é atribuída a
Ralph Tyler, que a cunhou em 1930”
(LUCKESI, 1997, p. 170).
Segundo Carlan (1996) atualmente coexistem dentro
da escola duas correntes em Educação Física que
trazem em sua essência duas propostas antagônicas
socialmente, uma propõe a manutenção das atuais
estruturas sociais, a outra propõe transformações
sociais que conduzam a classe dos menos privilegiados,
os proletariados e os excluídos, a melhores condições de
existência.
Cada uma das concepções de
Educação Física presente no meio
escolar traz em seu bojo uma
proposta de homem, de sociedade,
de mundo, de educação e de
avaliação.
CONCEPÇÃO POSITIVISTA DE AVALIAÇÃO
O modelo filosófico positivista foi
adotado pelos burgueses após o período
de revoluções que conduziram a classe
ao poder, e difundidos através da
educação como a melhor forma de
organizar e estruturar a sociedade para
manter os privilégios adquiridos.
O que é o Positivismo?
A filosofia positivista foi desenvolvida em uma de suas vertentes por Augusto Comte (1798 a 1857), naquela época a sociedade vivia inúmeras convulsões sociais por isso necessitava ser reestruturada. Nesta perspectiva Comte desenvolveu uma proposta filosófica que propunha reorganizar todas as estruturas sociais de acordo com as necessidades dos burgueses que estavam no poder “[...], assim também o positivismo se caracterizou como a ideologia da burguesia conservadora. Por isso ele exorcizou as contradições e a negatividade, fixando-se apenas no lado positivo (daí seu nome) da sociedade burguesa, [...]” (SAVIANI, 2005, p. 61).
Comte era um idealista, ou seja, para ele
são as idéias que determinam a sociedade.
Desta forma, para organizar a sociedade era
necessário desenvolver o intelecto do homem,
pois, somente a partir dele era possível
reestruturar a Sociedade.
Nesta perspectiva o conhecimento passa a ter
um papel fundamental na sociedade.
Para Lakatos (1991) existem quatro
tipos de conhecimentos que se
distinguem entre si por sua natureza:
- O popular ou senso comum, o
filosófico, o religioso ou teológico e
o científico.
“Assim, a apreensão simples da realidade cotidiana é
um conhecimento popular ou empírico, enquanto o
estudo aprofundado e metódico da realidade
enquadra-se no conhecimento científico.
O questionamento do mundo e do homem quanto à
origem, liberdade ou destino, remete ao conhecimento
filosófico” (TARTUCE apud GERHARDT & SILVEIRA,
2009, p. 12).
O conhecimento científico é um aprimoramento do
senso comum, é uma forma de investigação que não se
preocupa somente com os possíveis efeitos de um novo
conhecimento, mas também com as causas e leis que
levaram determinados conhecimentos a assumir novas
formas. “O conhecimento científico se difere dos
demais, no que se refere à presença de uma
metodologia e visão critica, e não em relação
propriamente ao seu conteúdo” (VIEIRA, 1999, p. 137).
Para os positivistas as ciências orientariam o desenvolvimento do processo industrial, contrapondo os filósofos socialistas, que pregavam a necessidade de uma revolução por parte das instituições, eles pensavam uma sociedade organizada independente dos problemas sociais, “No século XIX (...) O crescimento da nova ordem econômica- o capitalismo - traz consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência deveria dar resposta e soluções práticas no campo da técnica. A partir dessa época, a noção de verdade passa, necessariamente, a contar com o aval da ciência (...) a ciência avança tanto, que passa a ser um referencial para a visão de mundo” (Chaves & Chaves Filho, 2000, p.72).
Para Löwy citado por Chaves & Chaves Filho
(2000) três premissas básicas sustentam o
Positivismo:
- A primeira é a de que a sociedade é organizada
por leis naturais, ou seja, elas são independentes
das aspirações e dos atos dos homens “A sociedade
é regida por leis naturais invariáveis,
independentes da vontade e ação humana e na vida
social reina harmonia natural” (p. 73).
- A segunda é a de que as ciências naturais são entidades neutras sem determinismos, sociais, econômicos ou políticos “As ciências da sociedade, assim como as da natureza devem limitar-se à observação e à explicação dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou ideologias,[...]” (XAVIER, 2009, p. 04).- A terceira é a de que, a partir do pressuposto de que nas ciências naturais a organização social é semelhante á presente na natureza justifica-se a utilização dos mesmos métodos e processos em ambas. “A sociedade pode ser estudada pelos mesmos métodos e processos empregados pelas ciências da natureza” (Chaves & Chaves Filho, 2000, p. 73).
A pretensa neutralidade propagada pelas ciências
naturais passou a servir como uma dos alicerces
principais do positivismo e foi um dos critérios que
levou esta filosofia a ser escolhida como a mais
adequada aos interesses dos capitalistas durante o
período da revolução industrial, pois “[...] refletia no
âmbito filosófico, a preferência do capitalismo pelo
desenvolvimento da sociedade industrializada.”
(XAVIER, 2009, p. 02).
A constituição da Educação Física em seu inicio no
Brasil foi fortemente marcada pela influencia liberal de
cunho positivista que pregava a aquisição de hábitos
de higiene e saúde indispensáveis para a estruturação
da sociedade que estava sendo erguida, “Sua
constituição foi fortemente influenciada, [...], a partir
da segunda metade do século XIX, pela medicina,
fundamentando-se nos princípios filosóficos
positivistas” (BRACHT apud NUNES & RÚBIO, 2008,
p.58).
A influência positivista sobre a Educação
Física levou a área a organizar todas as
suas práticas educativas, o ensino, a
aprendizagem e a avaliação a partir dos
mesmos pressupostos teóricos propostos
para a organização da sociedade.
A avaliação da aprendizagem na educação e
conseqüentemente em Educação Física na
perspectiva positivista segundo Luckesi (1997) levou a
construção de uma avaliação de cunho classificatória.
Esta forma de avaliar tem contribuído mais para
classificar os alunos do que para avaliar a aprendizagem
A avaliação numa perspectiva classificatória mais
compromissada com a manutenção das atuais
estruturas sociais do que com as transformações
necessárias para a classe que freqüenta a escola.
Ao classificar os alunos a escola acaba por
institucionalizar a divisão dos mais aptos dos menos
aptos, segregando-os ou excluindo-os, socialmente
falando quanto maior for o nível de instrução escolar
de um educando maior são as possibilidades de
ascensão social, maior as possibilidades de acessar
uma parte maior das riquezas produzidas socialmente,
de acordo com uma pesquisa do IPEA:
“[...], o diploma de ensino médio garante odobro do rendimento daqueles que não o têm.E o ensino superior, o triplo dos que têmsomente o ensino médio.A probabilidade de uma pessoa ficardesempregada é de 17,6% se tiver nível médioincompleto, 10,9% se tiver ensino médiocompleto e 5,4% se tiver superior completo” (Oliveira Filho, 2006, p.302).
Nesta perspectiva Luckesi ressalta que (1997) à
avaliação da aprendizagem esta muito mais articulada
com a reprovação do que com a aprovação contribuindo
de forma determinante para a seleção social, que já
existe independente dela, mas que acaba sendo
reforçada pelas atuais estruturas avaliativas:- “A
seletividade social já está posta, a avaliação colabora
com a correnteza, acrescentando mais um “fio de água””
(LUCKESI, 1997, p. 26).
A proposta de um novo modelo de avaliação daaprendizagem em Educação Física emergiu nadécada de 1980, devido à necessidade de a áreaatender as novas demandas sociais que lheforam impostas a partir do processo deredemocratização social:- “A necessidade demudanças era exigida por grande parteda sociedade, seja política, intelectual, culturalou educacional” (CARLAN, 1996, p. 23,).
Na perspectiva de Bracht (1999) para realizar
determinadas críticas a sociedade é fundamental
compreender a realidade social para isso foi necessário
conduzir os pressupostos teóricos da área das ciências
biológicas para as ciências humanas mais
especificamente para a teoria marxista. “[...] muito
influenciadas pelas ciências humanas, principalmente
a sociologia e a filosofia da educação de orientação
marxista.” (BRACHT, 1999, p. 78).
Segundo MARX (2003) para o homem existir
ele age sobre a natureza, transformando-a,
produzindo sua sobrevivência através do
trabalho. Assim, para compreendermos a
realidade social é fundamental consideramos a
história e todas as mudanças que levaram a
sociedade a se estruturar da forma como ela se
apresenta atualmente tendo como pano de
fundo o modo de produção.
“Sendo o trabalho o fundante da
sociabilidade, o trabalho primitivo é
fundante da sociabilidade primitiva; o
trabalho escravo funda o escravismo e o
trabalho servil e o trabalho proletário funda,
respectivamente, os modos de produção
feudal e o capitalista” (LESSA, 2009, p. 69).
Nesta nova forma de reestruturação
produtiva os capitalistas detêm os meios
de produção e adquire do trabalhador
somente a sua força de trabalho pela
qual ele paga um salário sempre inferior
ao ele realmente vale ficando com o
restante para si na forma de lucro.
O capitalismo aumentou muito a
produção de riquezas, mas também
concentrou a mesma nas classes
dominantes enquanto os trabalhadores
dividem entre si uma pequena parte das
riquezas produzidas expandindo a
miséria os burgueses se fartam
acumulando cada vez mais capital.
A partir de 1989 o capitalismo passou a sofrer uma nova reorganização do capital a partir do Consenso de Washington que propôs reformas “neoliberais” que consistem na privatização do patrimônio público, abertura do mercado interno ao capital internacional de forma ampla e irrestrita, desregulamentação financeira, do mercado e da força de trabalho.
“-[...], O 1% mais rico do mundo aufere tanta renda quanto os 57% mais pobres. A proporção, no que se refere aos rendimentos, entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres no mundo aumentou de 30 para 1 em 1960, para 60 para 1 em 1990 e para 74 para 1 em 1999, e estima-se que atinja os 100 para 1 em 2015. Em 1999-2000, 2,8 bilhões de pessoas viviam com menos de dois dólares por dia, 840 milhões estavam desnutridos, 2,4 bilhões não tinham acesso a nenhuma forma de aprimorada de serviços de saneamento, e uma em cada seis crianças em idade de freqüentar a escola primária não estava na escola. Estima-se que cerca de 50% da força de trabalho não agrícola esteja desempregada ou subempregada-”. (MÉSZAROS, 2008, p. 73-74).
A partir de reflexões de Lessa (2009) citando
Mészáros não existe outro caminho civilizado
senão o socialismo, pois a situação da sociedade
esta ficando tão deteriorada que a violência e a
miséria imperarão de forma absoluta:-
“Podemos ir ao socialismo ou à barbárie – ‘‘se
tivemos sorte’’, [...], pois poderemos terminar
com a extinção da humanidade.” (LESSA, 2009,
p. 81).
CONCEPÇÃO MATERIALISTA HISTÓRICO DIALÉTICO DE AVALIAÇÃO
Nesta perspectiva a avaliação da aprendizagem em
Educação Física dentro da escola para assumir um
papel de transformação social deve estar em sintonia
com as mesmas premissas que regem a teoria
marxista:- “Deve se ter em conta, claramente, o projeto
histórico, ou seja, a sociedade na qual estamos
inseridos e a que queremos construir e o projeto
pedagógico daí decorrente que se efetiva na dinâmica
curricular, materializada nas aulas. [...]” (COLETIVO
DE AUTORES, 1992, p. 103-104).
“-Para que a avaliação educacional assuma
o seu verdadeiro papel de instrumento
dialético de diagnóstico para o crescimento,
terá de se situar e estar a serviço de uma
pedagogia que esteja preocupada com a
transformação social e não com a sua
conservação” (LUCKESI, 1997, p. 42).
“A avaliação educacional escolar como
instrumento de classificação, [...], não
serve em nada para a transformação;
contudo, é extremamente eficiente para a
conservação da sociedade, pela
domesticação dos educandos” (LUCKESI,
1997, p. 42).
Os conhecimentos produzidos historicamente
sobre avaliação da aprendizagem escolar em
Educação Física devem ser colocados à
disposição dos educandos para que através de
sua apropriação possam intervir de forma mais
significativa na escola e na sociedade em vivem e
atuam; “[...] o conhecimento deve constitui-se numa
ferramenta essencial para intervir no mundo”
(FREIRE apud GADOTTI, 1998, p. 118).
A escola é um local onde ao mesmo tempo em que é possível reproduzir o projeto de construção do capitalismo, é possível construir o exercício da resistência e da luta através da reflexão e da ação, para isso a socialização de determinados conhecimentos é essencial:- “Portanto é fundamental a luta contra essa sonegação, uma vez que é pela apropriação do saber escolar por parte dos trabalhadores que serão retirados desse saber seus caracteres burgueses e se lhe imprimirão os caracteres proletariado” (SAVIANI, 2005, p. 55).
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8. PARECER FAVORÁVEL ASSINADO PELO ORIENTADOR
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