produção e estruturação da metrópole paulistana · específicas, o planejamento urbano ainda...
Post on 09-Nov-2018
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
Produção e estruturação da metrópole
paulistana
AUP0276 – Planejamento Urbano: introdução
Prof. Dr. Eduardo A. C. Nobre
1
1. Considerações iniciais
• A natureza do espaço (tanto urbano quanto rural) é definida em função do estágio de desenvolvimento específico de cada sociedade.
• As próprias necessidades de desenvolvimento e reprodução desta sociedade são os principais definidores da produção do espaço, ou seja, a própria sociedade molda e regula o seu espaço.
• Porém, a sociedade não é homogênea, sendo constituída de diversos grupos sociais que tem interesses diversos, na maioria das vezes conflitantes – Exemplo dos transportes interesses dos empresários (lucro) x interesse dos usuários
(mobilidade) ↔ mediação do Estado (regulação e subsídios)
• Quanto mais desigual a sociedade, mas diferenciado é o espaço: – uso e ocupação do solo ;
– grau de estruturação
2
• No caso da produção do espaço (urbano) capitalista, para efeito analítico de facilitar a compreensão desse processo, a teoria social dividiu a sociedade em grupos chamados de “agentes da produção”. Simplificadamente:
– Estado • Provisão ou regulação de infraestrutura ;
• Provisão de equipamentos públicos e determinados bens de consumo para a população – escolas, hospitais públicos, habitação social, etc.
• Regulação do uso e ocupação do solo – legislação urbano-ambiental;
– Capital • Provisão de serviços urbanos e infraestrutura sobre concessão;
• Produção de bens de consumo do ramo imobiliário – mercadoria habitação, espaço comercial, etc.
• Produção de bens de produção ou de capital e outros bens de consumo – indústrias, escolas, etc.
– População • Usufrui do espaço urbano de maneira diferenciada de acordo com a classe social;
• Participa da produção através da produção sobre encomenda ou autoconstrução.
3
• Nos países “centrais”, o grande crescimento urbano dos séculos XVIII e XIX sem planejamento fez com que o Estado passasse a atuar fortemente na organização, produção e regulação do espaço urbano nascimento do planejamento urbano
• Nos países “periféricos”, em função de suas características históricas específicas, o planejamento urbano ainda não conseguiu resolver os problemas urbanos
4
1.1 Diferenciação espacial
Conceitos
• Divisão fundiária – parcelamento do território em lotes, quadras e ruas
• Uso do solo – distribuição das diversas atividades no território – residencial, comercial, industrial, serviços, institucional, etc.
• Ocupação do solo – projeção da planta e volume que uma edificação ocupa no terreno
5
6
7
8
9
Morumbi
10
Área livre: > 40% Menor lote: 564 m2
Menor largura da rua: 11,7 m Leito carroçável: 7,00 m Calçadas: 2,35 m Densidade: 41 hab/há Renda média: R$ 7.115,00 Fontes: MDC, SMDU e Metrô
Sapopemba
11
Área livre: < 20% Menor lote (não favela): 80 m2
Menor largura da rua: 5,8 m Leito carroçável: 4,80 m Calçadas: 0,50 m Densidade: 210 hab/há Renda média: R$ 1.250,00 Fontes: MDC, SMDU e Metrô
São Paulo
México
1.2 Nível de estruturação
14 2013
15
00
05
10
15
20
25
30
35
40
45
50
16
Gráfico 3: Número de km de metrô por milhão de habitantes nas aglomerações metropolitanas em 2010.
Elaboração: BIANCHI e NOBRE, 2012. Dados: World Metro Database, 2012; United Nations, 2012.
17
2. Características físicas da metrópole 2.1 A forma atual
Fonte: GOOGLE EARTH, 2009
Os rios na evolução urbana de
São Paulo - Prof. Dr. Eduardo
A C Nobre
18
A Metrópole paulistana está assentada sobre a Bacia de São Paulo no Planalto Paulistano, encaixada entre a Serra do Mar, a sul, e a Serra da Cantareira, a norte.
Nessa bacia sedimentar desenvolveu-se um sistema de drenagem representado principalmente pelos rios Tietê e Pinheiros, e seus afluentes, Tamanduateí, Aricanduva, Pirajussara e outros.
Isso resultou em um relevo de colinas com altitudes variando de 710 a 839 m.
Bacia Sedimentar de São Paulo
Fonte: SÃO PAULO, 2005.
2.2 A geomorfologia do sítio urbano de São Paulo
3. O processo de urbanização 3.1 Dos primórdios até o Século XVII – o vilarejo de barro
• Do século XV ao XVII estruturação das cidades no Brasil foram fruto da falta de política de urbanização Portuguesa Falta de interesse (Índias Orientais) e de $$ falta de política de urbanização:
– Entre 1532 e 1650 das 37 povoações no Brasil só 7 foram custeadas
pela Coroa (Cidades Reais – Salvador, Rio de Janeiro, Recife, São Luis e Belém)
• Forma irregular, linear, polinucleada, dispersa e sem contorno à tradição medievo-renascentista.
• América Espanhola lugar de residência da aristocracia burocrática seguiram às Leyes de Índias , ordenações e regras bem estabelecidas pelos monarcas Espanhóis para regular a vida social, política e econômica de suas colônias
• Forma regular, malha urbana em grelha, mononuclear e limites definidos Plaza Mayor ou de Armas principais edifícios administrativos e religiosos.
19 19
Plano de Mendoza em 1761. Fonte: Bárcena, 2004
• Fundada nas colinas do Tamanduateí em 1554, como parte da missão jesuítica de catequese dos índios
• Pouco interesse da Coroa: povoado rural disperso; sociedade militar; expedições escravistas e extrativistas; entreposto comercial e cruzamento de rotas
• Vila resumia-se ao Colégio dos Jesuítas, o triângulo histórico, rotas convergentes nos espigões
• A vida ocorria nas chácaras (cinturão caipira) sociedade rural
• Casa de fim de semana no centro para procissões religiosas e missas
20
Casa do Bandeirante. Fonte: www.museudacidade.sp.gov.br Casa de Câmara de São Paulo, Séc. XVIII. Autor: W. Rodrigues. Fonte: DPH.
3.2 Do final do século XIX até a década de 1930 – a cidade do café
• Crescimento econômico ciclo do café
• Infraestrutura construção da SPRC – São Paulo Railway Company
• Início da industrialização fábricas e bairros operários ao longo das ferrovias
• Imigração substituição da mão-de-obra escrava pelo imigrante europeu e oriental
• Urbanização Lei de Terras de 1850 terra passa a ser propriedade privada loteamentos das chácaras ao redor do centro
• Construção de infraestrutura por concessionárias estrangeiras (inglesas e canadenses): – 1867 – Ferrovia – São Paulo Railway Co.
– 1872 – Iluminação a gás – São Paulo Gas Co.
– 1899 – Bondes e energia elétrica – São Paulo Tramway, Light & Power Ltd.
21
22
• Início da segregação socioespacial elite se “apropria” dos melhores terrenos (mais altos); baixa renda nas várzeas e ao longo das ferrovias (subúrbios estação)
• Cortiços como forma de habitação popular
• Projetos de retificação dos rios e embelezamento da área central
• Construção da Represa do Guarauiranga
• Em 1933 São Paulo tem 253 km de bonde
3.3 De 1930 a 1950 – industrialização e início da metropolização
• Consolidação da região como maior centro industrial do país
• Aumento dos serviços sofisticados como engenharia, consultoria, marketing, etc.
• Início da verticalização da área central e especialização comercial
• Início do processo de metropolização migração interna (Norte e Nordeste)
23
Edifício Martinelli, 1929. Fonte: DPH.
• Plano de Avenidas de Prestes Maia em 1930 afirmação da matriz rodoviária
• Construção das avenidas e autoestradas (Anchieta, 1947; Anhanguera, 1940-53 e Dutra, 1951);
• Substituição dos bondes por ônibus expansão periférica
• Retificação do Pinheiros e construção da Billings
24 Conceito teórico do Plano de Avenidas. Fonte: Maia, 1930.
3.4 De 1950 a 1970 – o ápice da industrialização, metropolização e periferização
• Implantação da indústria pesada dos ramos automotivo, metalúrgico e químico ao longo das rodovias: – Anchieta (Região do ABC) – Dutra (Guarulhos)
• Maior centro industrial da
América Latina
• Construção da primeira linha do metrô em 1968-1974
• Finalização da Marginal do Tietê
26
• Verticalização da Av. Paulista e início do processo de degradação do Centro
• Ápice do crescimento migratório
• Expansão periférica da população de baixa renda
• Construção das COHABs na periferia metropolitana
27
3.5 De 1970 até os dias de hoje: metrópole em crise
• Transformação econômica: diminuição da participação da produção industrial na economia
• Diminuição do crescimento migratório
• Crescimento da diversificação do setor terciário (formal e informal)
• Crescimento do setor financeiro-administrativo elite transnacional
• Aumento da “decadência” do centro e dos bairros outrora industriais
• Surgimento dos condomínios fechados
28
• Grandes obras viárias no Centro Expandido: Túneis do Anhagabaú e do Pinheiros, Nova Faria Lima, Águas Espraiadas, Complexo Cebolinha, Nova Marginal do Tietê
• Entre 1975 e 2000 foram gastos R$ 20,8 bilhões de reais em obras viárias:
• 53% desse montante gastos em apenas duas gestões das oito estudadas (Jânio Quadros, 1986/1988, e Paulo Maluf, 1993/1996).
• Houve uma priorização para a região central (62% dos investimentos), em detrimento da periferia externa que concentra os estratos de menor renda (38%).
• As três gestões que menos investiram na periferia concentraram 72% dos investimentos nas áreas mais centrais.
29
• Crise econômica – décadas perdidas de 1980 e 1990
• Aumento do desemprego, da informalidade no trabalho
• Aumento da precarização da qualidade de vida da população de baixa renda
• População favelada passou de 1,6% da população em 1975 para 20% em 1993
• Maior precarização da habitação: – Aumento dos Cortiços, loteamentos clandestinos
e favelas
– Expansão dos assentamentos precários nas áreas ambientalmente sensíveis
30
31
32
34
4. Evolução da metrópole 4.1 Evolução demográfica
35
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
MSP 31.385 94.934 239.820 579.033 1.326.261 2.198.096 3.666.701 5.924.615 8.475.380 9.610.659 10.426.384 11.245.983
RMSP 1.568.045 2.622.786 4.739.406 8.139.730 12.588.725 15.369.305 17.852.637 19.667.558
4.2. Evolução territorial
36
1881
37
1905
38
1914
39
1930
40
1952
41
1962
42
1972
43
1983
44
1995
45
2001
46
2001
± 90 km
± 6
0 k
m
47
5. Aspectos socioeconômicos
50
51 Autor: Csaba Deák. Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/5bd/index.html
52 Autor: Csaba Deák. Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/5bd/index.html
53 Autor: Csaba Deák. Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/5bd/index.html
54 Autor: Csaba Deák. Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/5bd/index.html
55 Autor: Csaba Deák. Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/5bd/index.html
56 Autor: Csaba Deák. Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/5bd/index.html
6. Referências bibliográficas
• EMPRESA METROPOLITANA DE PLANEJAMENTO DA GRANDE SÃO PAULO. Plano Metropolitano da Grande São Paulo 1994/2010. São Paulo: Emplasa, 1994.
• LANGENBUCH, Juergen. A estruturação da Grande São Paulo. Rio de Janeiro: IBGE, 1971.
• MAIA, Francisco Prestes. Estudo de um Plano de Avenidas para a Cidade de São Paulo. São Paulo, Melhoramentos, 1929.
• MARX, Murillo. Cidade Brasileira. São Paulo: Melhoramentos/EDUSP, 1980.
• MORSE, Richard. Formação histórica de São Paulo. São Paulo: DIFEL, 1970.
• NOBRE, Eduardo A. C. Reestruturação econômica e território: expansão recente do terciário na marginal do Rio Pinheiros. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
• REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana no Brasil. 2a edição. São Paulo: Pini, 2000.
• VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: NOBEL/EDUSP, 1997.
59
top related