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Rabiscos de um Velho Professor
Rubens Alves Figueiredo
Rubens Alves Figueiredo
Rabiscos de um Velho Professor
Primeira Edição
Catanduva
2013
Apresentação
Sempre gostei de escrever.
Nunca me preocupei com forma ou com nor-
mas.
Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto.
De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-
sa se perdeu. O que foi preservado, aqui consta
e é reunido sob os títu1os: Contos, Dedicatórias
e Rabiscos.
Dedicatória
Para minha esposa
"Ineida dos meus amores
aquela em quem vejo flores
bailando nos olhos dela”.
Rabiscos de um Velho Professor
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Sumário
Contos _______________________________ 11
Série Justiça ____________________________________ 13
Culpado ou Inocente? _______________________________ 14
Culpado ou Inocente (2) ______________________________ 19
O “Espírito” Barulhento ______________________________ 31
Série Família ____________________________________ 38
A Cruz de Cristo ____________________________________ 39
Por Amor __________________________________________ 43
Amor ou Desespero? Um Sorriso de Vitória ______________ 48
Série Memórias _________________________________ 55
O Sal da Sopa ______________________________________ 56
Concurso de "Causos"- A Petição _______________________ 61
“A Casa dos Meus Sonhos” ___________________________ 64
Chico Marcha-Ré ___________________________________ 67
Série Por Trás da Notícia __________________________ 70
Frio e Fome ________________________________________ 71
A Noiva Esperta (Do jornal local: “A vida imita a novela.
Noiva foge do altar”) ______________________________ 74
Série Fé ________________________________________ 77
A Ira de Deus Pai ____________________________________ 78
Dedicatórias ___________________________ 85
Rabiscos ______________________________103
Carta à Ineida do Prado _____________________________ 105
Confissão de um Velho Esposo, Pai e Avô. ______________ 107
Oração ___________________________________________ 108
Rubens Alves Figueiredo
10
Presente de Namorado _____________________________ 109
Dedicatória _______________________________________ 110
Realidade e Esperança ______________________________ 112
Eternidade do Amor ________________________________ 113
Pensamento ______________________________________ 114
Acalanto _________________________________________ 115
Cristo Presença ____________________________________ 116
Reconhecimento ___________________________________ 117
Dedicatória _______________________________________ 118
Ipê Branco ________________________________________ 119
Mel _____________________________________________ 120
Jabuticabeiras _____________________________________ 121
Convite de Natal ___________________________________ 122
Sua Benção Senhora ________________________________ 123
Omissão _________________________________________ 125
Natal ____________________________________________ 127
Partilha __________________________________________ 129
Oração do Avô ____________________________________ 130
Crônica do Adeus – Meu Pai, um HOMEM ______________ 131
Estorinha de Natal _________________________________ 133
Vó Sinhá _________________________________________ 135
Retrato de Família _________________________________ 137
Ontem e Hoje _____________________________________ 139
Professor _________________________________________ 140
Brisa ____________________________________________ 140
Saiu o Semeador ___________________________________ 141
Zé Luiz ___________________________________________ 144
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Contos
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Série Justiça
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Culpado ou Inocente?
Cursava o 2° Ano Técnico de Agricultura quando, de um professor, ouviu a frase pela primei-ra vez. No dia seguinte, numa livraria, encontrou
um adesivo com a mesma frase: Os fins justificam os meios. Num impulso comprou o adesivo e o transformou num pequeno quadro.
Há três anos estava formado. Sentado na ca-deira de balanço, naquele fim de tarde de domingo, já não prestava atenção à discussão do pai, na ca-deira de rodas, com seu tio que, como sempre, che-gara bêbado da cidade. Conhecia todas as ofensas que trocavam e sabia como terminaria: o pai aos gritos, tentando sair da cadeira de rodas e o tio pu-xando o revolver descarregado (ele, José, o descar-regara) e ameaçando atirar. Às vezes chegava mes-mo a puxar o gatilho.
Estava cansado. Não conseguira, apesar de to-do o conhecimento de técnicas rurais que adquirira mudar uma só rotina do pequeno sítio.
O velho Tomás continuava a tirar leite das dez ou doze vacas leiteiras; o tio a fazer queijos que
vendia aos domingos na cidade; ele cuidando da roça de milho e mandioca; o pai a remoer o acidente de caminhão, em que (segundo ele, seu tio dirigia bêbado) sua mãe morrera e o pai fora para uma ca-deira de rodas. Tudo igual. Estava cansado.
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O tio continuava bebendo o dinheiro dos quei-jos, pouco sobrava para as despesas da semana e nenhum para aplicar no sítio.
O pai continuava a “jogar na cara” do irmão sua culpa pelo acidente. As discussões. Nada muda-ra.
Quando conseguira ser o titular da conta ban-
cária (poupança da mãe) imaginara ser o começo das mudanças. Nada, nada mudara.
Lá dentro a discussão aumentara e estavam chegando ao acidente do caminhão. Precisava fazer alguma coisa.
Lembrou-se: os fins justificam os meios.
Finalmente decidiu-se. Naquele domingo, de-pois que o tio saiu com o velho Tomás (e os queijos) não foi descarregar a arma. Foi andar pelo sítio. Vol-tou mais uma vez à cratera do formigueiro velho que a enchente formara e lhe povoava a cabeça de so-nhos.
Via nela uma pequena lagoa, com uma bomba instalada, canos para irrigação e verde, muito verde; desde que o gerente do Banco Popular lhe oferecera financiamento a juros baixos, estes sonhos eram mais frequentes. O pai e o tio, entretanto, se encar-regavam de sepulta-los. Amanhã, pensou seria ou-tro dia.
Voltou para casa a tempo de ver o velho Tomás entrar quase carregando o tio, bêbado como sempre. Algum tempo depois o tio acordaria e...
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Tudo aconteceu como previsto: a discussão dos dois irmãos, o crescimento de acusações e raiva, a arma. Ouviu o barulho dos tiros e correndo, junto com o Tomás, entrou na sala. O pai estava caído num lado da cadeira de rodas e o tio, numa poça de sangue, ainda com o revolver na boca.
Estavam mortos. Ouviu os soluços do preto Tomás, benzeu-se e saiu. Foi chamar a polícia.
VEREDITO: Assassinato seguido de suicídio. Estava livre para voar.
Depois do velório, aguardou ainda uns três di-as, demonstrando uma dor que não sentia, e come-çou a “revolução rural” que planejara.
Vendeu as vacas velhas, efetivou o Tomás co-mo caseiro e cozinheiro. Levantou o saldo da conta de poupança, comprou um trator usado, uma grade e, emprestando uma lâmina de frente, pôs-se a tra-balhar na cratera do formigueiro velho. No fim do dia tinha uma linda lagoa seca. Como último traba-lho escavou um canal, seguindo a trajetória da en-xurrada e ligou, mais acima, o canal ao riozinho. Ficou longo tempo vendo a água descer vagarosa e continuadamente em direção de sua lagoa.
Lagoa cheia, financiamento concedido, bomba instalada.
Iniciou a irrigação. Molhava e gradeava. Mo-lhava e plantava.
Trabalhava de sol a sol, almoçando na roça a comida preparada pelo Tomás, sempre silencioso
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(desde a morte dos patrões não dissera uma única palavra).
Plantou berinjelas, tomates, vagens, pimentões e jilós. Tornou-se o maior produtor e vendedor de hortigranjeiros da região, suprindo supermercados da cidade. Pagou o financiamento antes do prazo.
Sentado na velha cadeira de balanço, beberi-
cando um copo de vinho, pensava:
Agora meu futuro está garantido. Posso sonhar em casar e ter filhos, “voar” alto. Conseguira: sor-rindo, sonhando, adormeceu.
O velho Tomás não sabia ler e escrever, mal assinava o nome.
Nascera ali mesmo, no sitio dos Feitosa. Filho de escravos fugitivos de um Quilombo, quando da invasão do mesmo pela Captura.
Em suas lembranças, a figura do pai pegando--o no colo e contando histórias do Quilombo, da Senzala e da Mãe África, predominava e enchia suas noites insones. Os cantos, as danças, os estranhos rituais de purificação e justiça, deixando para os deuses o castigo (ou não) das transgressões das leis e costumes da tribo... Tudo povoava sua mente en-quanto caçava, como de costume, cobras que depois o “seu menino” remeteria para o Butantã.
Colocou a coral na caixa de madeira e voltou para casa.
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Não acreditava na justiça dos homens, acredi-tava na justiça de Deus.
Contemplou o “seu menino” dormindo, com o estranho quadro (só letras, sem desenho) no colo. Chorando mas decidido, silenciosamente aproxi-mou-se. Nas mãos trazia a pequena caixa de madei-ra.
Desde a morte dos irmãos pensava em justiça. Sabia, por instinto, que o "seu menino" tinha feito alguma coisa errada. O que? Não sabia.
Chegou, pé ante pé, abriu a pequena caixa e deixou que a coral deslizasse para cima do quadro, no colo do "seu menino".
Pensava, em meio ao choro: Ele não vai ser pi-cado porque é inocente, mas se for... Será a justiça de Deus.
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Culpado ou Inocente (2)
Peguei o ônibus das 6h para São Paulo.
Sentado, num ônibus quase vazio, busquei preparar-me para a difícil missão que me esperava.
Voltei o pensamento para meses atrás. Num exame de rotina a médica de minha esposa colhera material para exames do útero.
Dez dias depois o resultado: Terrível e inespe-rado, presença de mioma cancerígeno no colo do útero e logo abaixo: sugerimos novos exames, para confirmação, em Instituto Especializado.
A médica leu o resultado e nos perguntou:
- Vocês leram?
Respondemos que sim.
- E o que pretendem fazer?
- Queríamos um encaminhamento para o Hos-pital do Câncer de Barretos.
Assim tudo começara. Os novos exames, no Hospital de Barretos, confirmaram o Mioma e os médicos optaram por Radioterapia.
- Quantas sessões Dr.?
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