relatório de estágio no centro de arbitragem comercial da ... · procede-se à apresentação do...
Post on 05-Jul-2020
0 Views
Preview:
TRANSCRIPT
Ana Sofia Matias Ferreira Baptista
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem
Comercial da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa
Dissertação com vista à obtenção do grau de
Mestre em Direito
Orientadora:
Doutora Mariana França Gouveia, Professora da Faculdade de Direito da
Universidade Nova de Lisboa
Julho de 2014
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
II
Declaração de compromisso Anti-Plágio
“Declaro por minha honra que o trabalho que apresento é original e que todas as
minhas citações estão correctamente identificadas. Tenho consciência de que a
utilização de elementos alheios não identificados constitui grave falta ética e
disciplinar”1.
1 Conforme exigência de Declaração Anti-plágio em qualquer trabalho escrito consagrada no artigo 20-A do Regulamento do Segundo Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de Mestre em Direito.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
III
Agradecimentos
Ao meu pai, por tudo o que me ensinou,
À minha mãe, namorado e irmão,
À Professora Doutora Mariana França Gouveia,
Ao Centro de Arbitragem Comercial, especialmente,
Ao Dr. António Vieira da Silva, à Dra. Ana Maria Pais,
À Dra. Maria do Céu Ramos e ao Dr. Luís Galvão,
E a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a formidável experiência que foi o meu estágio.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
IV
O corpo do presente Relatório, incluindo espaços e notas, ocupa um total de
196.736 caracteres.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
V
Resumo
O presente relatório é fruto do estágio que decorreu no Centro de
Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, como forma
de obtenção do Grau de Mestre na Faculdade de Direito da Universidade Nova de
Lisboa.
O trabalho foi estruturado em duas grandes fases – primeiramente,
procede-se à apresentação do Centro de Arbitragem Comercial, focando a sua área
de actuação, estrutura orgânica, princípios e vantagens. Seguidamente, descrevem-
se as actividades desenvolvidas no âmago do Secretariado do CAC ao longo das
várias fases do processo arbitral – desde a recepção do requerimento de
arbitragem nos processos institucionais, da acta de instalação nos processos ad hoc,
passando pelo acompanhamento das sessões do tribunal arbitral (audiências
preliminares, audiências de produção de prova e audiências de alegações finais), e
terminando com a notificação da sentença arbitral.
Numa segunda fase, descrevem-se os poderes do Presidente do CAC.
Primeiramente são definidos os poderes que os Estatutos e Regulamentos do CAC
conferem ao seu Presidente, estabelecendo-se comparações com os Regulamentos
de alguns centros institucionais de arbitragens, alguns deles referências a nível
internacional. São descritas as competências do Presidente, tais como:
configuração e composição do tribunal arbitral (incluindo a decisão de escusas,
recusas e substituições de árbitros); prorrogação de prazos; definição de regras
processuais e decisão sobre incidentes suscitados até à constituição do tribunal
arbitral; fixar os encargos da arbitragem; admissão da intervenção de terceiros;
ordenação da apensação de processos; e nomeação de árbitro de emergência.
Por último, são analisadas algumas decisões que foram proferidas pelo
Presidente do CAC, nos respectivos processos institucionais que correm ou
correram os seus termos no Centro.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
VI
Summary
This report is the outcome of an internship that took place in Centro de
Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa and its
completion is an essential part of the path towards obtaining the Master’s Degree
in Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.
This report has been structured in two stages – firstly, the presentation of
the Centro de Arbitragem Comercial, focusing on its field of expertise, organic
structure, principles and advantages. Then, the description of the activities
developed within the Secretariat over the several stages of the arbitration
procedure – since the reception of the arbitration requirement in institutional
proceedings, terms of reference in ad hoc procedures, through the monitoring of
the arbitral tribunal sessions (preliminary hearings, submission of evidence and
final allegations) and the notification of the arbitration award.
The second stage of this report is related to the description of the functions
and powers of the President of Centro de Arbitragem Comercial. Firstly, it defines
those powers by analyzing the statutes and rules of proceedings of the Centro de
Arbitragem, drawing comparisons between the above mention and the rules of
proceedings of others arbitral institutional centres, some of them are international
references. The report assesses and describes the presidential powers, such as:
configuration and composition of the arbitral tribunal (including arbitrator’s
replacements, excuses and refusals); deadline extensions; determination of
procedural rules and decision-making on any procedural incidents which arise
before the constitution of the arbitral tribunal; definition of arbitration costs and
fees; joinder of parties and consolidation of proceedings admission; and
appointment of an emergency arbitrator.
Lastly, this report analyzes some decisions delivered by the President in the
respective institutional procedures which took place in the Centre.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
7
1 – Introdução
O presente relatório de estágio surge como Trabalho Final para obtenção do
grau de Mestre do curso de Direito, na vertente de Ciências Jurídicas Forenses, da
Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, tendo por base o estágio
curricular desenvolvido ao longo de aproximadamente cinco meses no Centro de
Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, que teve o
seu início em Fevereiro de 2014 e a sua conclusão em Junho de 2014.
Os principais objectivos do estágio curricular prendem-se com o
aprofundamento e aplicação dos conhecimentos teóricos e competências
adquiridas durante o percurso académico, bem como a especialização de
conhecimentos em áreas específicas do Direito, permitindo que os alunos tenham
um primeiro contacto com a vida profissional, aliado aos benefícios de uma
orientação.
As vantagens do meu estágio ser realizado junto do Secretariado do Centro
de Arbitragem Comercial afiguravam-se imensas: por um lado, permitia a
aprendizagem e compreensão do modo como é tramitado o processo arbitral –
quais as suas vantagens e desvantagens, nomeadamente no que respeita ao
processo judicial, em claro complemento dos conhecimentos encetados na
faculdade. Por outro lado, nele residia um potencial de aprendizagem muito grande,
não só ao nível do direito da arbitragem – com o acompanhamento de processos
institucionais e processos ad hoc, arbitragens domésticas e arbitragens
internacionais – mas também no que respeita ao direito comercial e até mesmo ao
direito processual civil. Por fim, era a oportunidade única de conhecer in loco um
centro de arbitragem institucional, especializada em Direito Comercial, área de
meu interesse sócio-profissional, principalmente desde a frequência na disciplina
leccionada pela Professora Doutora Mariana França Gouveia, intitulada “Resolução
Alternativa de Litígios”.
O relatório tem como objectivos, numa primeira fase, descrever as
actividades desenvolvidas enquanto estagiária do Secretariado do CAC e, num
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
8
segundo capítulo, apresentar e descrever os poderes conferidos ao Presidente do
Centro.
Assim, num primeiro momento, realizo um enquadramento daquilo que é o
Centro de Arbitragem Comercial, referindo, para o efeito, a sua estrutura e
composição, suas vantagens e princípios pelos quais se rege.
Seguidamente, mergulho na descrição das actividades desenvolvidas no
decurso do estágio, correspondentes às competências e tarefas do Secretariado do
CAC. As actividades descritas foram dividas pelas diferentes fases do processo,
desde o seu início e fase de alegações das partes, passando pela fase intermédia
(ou da audiência preliminar), as fases de produção de prova e respectivo
acompanhamento das sessões do tribunal arbitral, sessões para alegações finais e,
por último, a notificação da sentença arbitral.
A segunda fase do relatório versa sobre os poderes que são conferidos ao
Presidente do Centro, decompondo-se, numa primeira parte, na descrição teórica
desses poderes, antes da constituição do tribunal arbitral, na definição e
composição do tribunal arbitral e após a sua constituição, bem como a nível das
arbitragens complexas (como a intervenção de terceiros ou apensação de
processos), das arbitragens necessárias (instituídas pela Lei n.º 62/2011) e na
nomeação de árbitro de emergência. Nesta primeira parte procedo à descrição e
delimitação dos poderes do Presidente do CAC, sempre em termos comparativos
com os Regulamentos dos centros institucionais de arbitragem de referência a
nível internacional. Por fim, a segunda parte destina-se à caracterização e análise
das intervenções que, em concreto, foi o Presidente do CAC chamado a decidir, nos
processos institucionais constituídos sob a égide do Centro.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
9
2 - O Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
O Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e de Indústria Portuguesa
(CAC) surgiu em 1987, após a aprovação da primeira Lei da Arbitragem Voluntária
(Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto), pelos Despachos do Ministro da Justiça 9/87, de
29 de Janeiro, e 26/87, de 9 de Março, nos termos do Decreto-Lei n.º 425/86, de 27
de Dezembro. Sendo o mais antigo e experiente Centro de Arbitragem em Portugal,
tem como principais objectivos:
“Promover e difundir a resolução de litígios por via arbitral ou por meios
alternativos de resolução de litígio, designadamente a conciliação e a
mediação, através da organização e do patrocínio de acções de divulgação,
estudo e aprofundamento de quaisquer matérias relacionadas com o
fenómeno da litigiosidade económica;
Administrar arbitragens voluntárias institucionalizadas e processos
alternativos de resolução de litígios, em matérias não excluídas por lei, de
carácter económico, público ou privado, internos ou internacionais;
Prestar serviços conexos com a administração de arbitragens e meios
alternativos de resolução de litígios” (artigo 2.º dos Estatutos do CAC).
Em cumprimento dos seus Estatutos, o CAC para além de administrar as
arbitragens institucionais constituídas sob a sua égide, presta os necessários
serviços de secretariado e gestão processual em arbitragens ad hoc. Providencia,
ainda, pelo aluguer do espaço e serviços necessários à realização de sessões de
arbitragens que não são institucionais, nem nele se encontram sediadas.
Para o efeito, dispõe de um conjunto de instrumentos regulamentares
(como os seus Estatutos, Regulamento próprio, lista de árbitros) que
proporcionam aos agentes económicos a realização da arbitragem e dos meios
alternativos de resolução de litígios. Em complemento, possui infra-estruturas
físicas (fornecendo as instalações físicas onde decorrem as reuniões e audiências
do tribunal arbitral, guardando e gerindo os originais dos processos) e humanas
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
10
com competência para assegurar a gestão das arbitragens, garantindo o apoio
administrativo e técnico qualificado às partes, aos tribunais arbitrais e demais
intervenientes. Dentre as principais tarefas realizadas pelo CAC, encontramos,
designadamente, a nomeação dos árbitros, a gestão financeira dos encargos da
arbitragem, a citação dos demandados, as notificações das decisões arbitrais e,
principalmente, da sentença arbitral.
Quanto às arbitragens institucionais, as vantagens que o CAC apresenta são
muitas. Desde logo, os processos arbitrais decorrem de uma forma simples,
eficiente e célere, fruto da organização e administração daqueles por parte do CAC,
e mais concretamente do seu Secretariado. Além do mais, o apoio do CAC nas
diversas fases da arbitragem garante que problemas como o modo de constituição
do tribunal arbitral, designadamente quanto ao modo de escolha dos árbitros
(principalmente do terceiro árbitro) e da escolha do regulamento processual
aplicável estarão, à partida, resolvidos2.
Por outro lado, permite uma maior simplificação da redacção da convenção
de arbitragem, visto que opera a incorporação do Regulamento do Centro naquela,
sempre que as partes acordem em se submeter à arbitragem no CAC para
solucionar um litígio. Efectivamente, a aplicação de um regulamento estudado,
elaborado e testado pelos vários especialistas em arbitragem, que é sujeito a
revisões periódicas por forma a acompanhar o desenvolvimento da lei e da prática
arbitral, garante uma maior segurança e previsibilidade na condução do processo
arbitral.
Quando iniciei o meu estágio ainda se encontrava em vigor o Regulamento
de Arbitragem aprovado em 2008 (Regulamento de 2008). Com a entrada em vigor
da nova Lei de Arbitragem Voluntaria (LAV)3, em 2011, o Centro de Arbitragem
Comercial sentiu a necessidade de proceder a uma análise e revisão extensiva do
seu Regulamento, por forma a ir ao encontro das melhores práticas arbitrais já
2 Sofia Ribeiro Mendes, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela Perspectiva dos Árbitros), in VI Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa Coimbra, Almedina, 2012, p. 49. 3 Lei n.º 63/2011, de 14 de Dezembro. Com a publicação da nova Lei de Arbitragem Voluntária pretendeu-se aproximar a arbitragem em Portugal das soluções adoptadas pelas mais modernas legislações e regulamentos de institucionais arbitragens, designadamente, da Lei-Modelo na UNCITRAL. Para além dos mais, teve como objectivo tornar o país mais atractivo como potencial sede de arbitragens internacionais, principalmente no que toca a países lusófonos e facilitar o reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
11
praticadas nos pelos centros de arbitragem institucionais de referência. Dessa
revisão nasceu o novo Regulamento de Arbitragem (Regulamento de 2014), que
entrou em vigor em 1 de Março de 2014, e que introduziu significativas alterações
na tramitação das arbitragens institucionais, ampliando os poderes do CAC e
baixando custos.
Com o novo Regulamento é também criado o Código Deontológico do
Árbitro4, que dele faz parte integrante, e que concretiza o estatuto dos árbitros
designados para uma arbitragem submetida ao seu regulamento.
A intervenção do Presidente do CAC na tomada de decisões importantes,
especialmente até o tribunal arbitral se encontrar constituído (como na nomeação,
recusa e substituição de árbitros, intervenção de terceiros, apensação de processos,
definição de regras processuais), também é apontada como uma vantagem de
subsumir um litígio ao CAC. Nesta medida, revela-se fundamental a intervenção do
Centro na composição e constituição do tribunal arbitral e nas garantias acrescidas
que oferece quanto à imparcialidade e independência dos árbitros5.
O CAC promove, ainda, o controlo dos encargos da arbitragem, a adequação
a arbitragens complexas e a possibilidade de serem decretadas providências
cautelares antes da constituição do tribunal arbitral através da nomeação de
árbitro de emergência por parte do Presidente do CAC, faculdade essa que surgiu
com a entrada em vigor do Regulamento de 2014, e que foi ao encontro do que
diversos Regulamentos de instituições internacionais já previam.
Por último, uma outra função essencial do CAC consiste na difusão da
arbitragem, que desenvolve através da organização dos mais variados eventos e da
cooperação com outras instituições de arbitragem ou que se dediquem ao seu
estudo e aprofundamento (por exemplo, faculdades de direito), entre os quais: o
Curso Intensivo de Árbitros (que este ano teve a sua segunda edição); os
Roadshows realizados em várias cidades do país, como forma de publicitar a
arbitragem e as suas vantagens; o patrocínio de iniciativas e cursos que se
destinam a divulgar o instituto da arbitragem (por exemplo, o Curso de Arbitragem
Internacional, que teve lugar na FDUNL, durante o mês de Maio); o Congresso do
4 O Código Deontológico adopta disposições muito similares às previstas no Código de Deontologia da Associação Portuguesa de Arbitragem. 5 Com a aceitação do encargo para que é designado, o árbitro tem de assinar uma declaração de independência e imparcialidade, sendo esta uma maneira de controlo da regularidade da constituição do tribunal arbitral por parte do CAC.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
12
Centro de Arbitragem Comercial (que fez a sua oitava edição no mês de Julho), que
consiste num fórum de discussão de questões ligadas à arbitragem, com especial
ênfase na arbitragem de natureza económica e comercial.
A direcção do Centro de Arbitragem Comercial está a cargo de um Conselho,
composto por nove membros nomeados pela Direcção da Associação Comercial de
Lisboa – Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, sendo um Presidente, dois
Vice-Presidentes e seis vogais (artigos 3 e 4,n.º 1, dos Estatutos do CAC). Os
serviços técnicos e administrativos necessários ao bom funcionamento do Centro
são desempenhados pelo Secretariado, coordenado por um Secretário-Geral,
Secretários de Processos e assistentes técnicos e administrativos (artigos 3.º, 4.º,
n.º 1 e 8.º, n.º 1 dos Estatutos do Centro de Arbitragem Comercial).
De forma a garantir a credibilidade, estabilidade e confiança no Centro de
Arbitragem Comercial, os seus Estatutos impõem que tantos os membros do
Conselho, como o próprio Secretariado, actuem com isenção, independência,
imparcialidade e em respeito do dever de confidencialidade (artigos 5.º, n.º 1 a 3,
8.º n.º2 e 6 a 8 dos Estatutos do CAC). A observância dos deveres apontados revela-
se fulcral para que as partes, quando decidem submeter a resolução de um litígio à
via arbitral sob a égide do CAC, tenham a garantia de não estar a abdicar da
independência inerente aos tribunais judiciais (artigo 202.º, n.º1 e 203.º da
Constituição da República Portuguesa)6. Deste modo, sempre que se verifique uma
situação susceptível de criar dúvidas quanto à isenção dos membros do Conselho,
estes devem abster-se de praticar qualquer acto, receber qualquer informação ou
participar em discussão no órgão de que faz parte, de harmonia com o disposto no
n.º 3 do artigo 5.º dos Estatutos do CAC.
Por forma a se reforçar a credibilidade, segurança e confiança que a partes
depositam no CAC, se exige que, tanto o Presidente do Centro, como os restantes
membros do Conselho, e até mesmo quem integra o Secretariado, sejam pessoas de
reconhecido mérito, idoneidade e com qualificação técnica e pessoal, adequadas ao
exercício das funções para que foram nomeados ou designados.
6 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.4. Ver sobre a ética na arbitragem, Nuno Salazar Casanova, Reflexões Práticas sobre a Ética na Arbitragem. Uma Introdução ao Tema, in VI Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
13
Por fim, mas não menos importante, os Estatutos e Regulamento do CAC
adoptam regras com vista a assegurar a credibilidade, idoneidade e qualificação
dos árbitros nomeados para o tribunal arbitral sob a sua égide, uma vez que os
árbitros se encontram obrigados ao cumprimento dos deveres de independência,
imparcialidade e confidencialidade7.
7 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.4
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
14
3 – Funcionamento do Centro de Arbitragem Comercial em particular o Secretariado – as actividades práticas
desenvolvidas durante o estágio
3.1. Fase dos articulados: a tramitação dos processos institucionais e dos processos ad hoc
Antes de iniciar a minha abordagem quanto às competências do
Secretariado do Centro de Arbitragem Comercial, desenvolvidas ao longo do meu
estágio, penso ser importante apontar, muito sucintamente, as diferenças entre a
arbitragem institucional e a arbitragem ad hoc.
Quanto à primeira, as partes confiam a organização da arbitragem a uma
instituição arbitral (centro, câmara), com carácter de permanência, conduzida de
acordo com as regras por si estabelecidas (Regulamento), aceites por remissão das
partes, e que necessita da intervenção e acompanhamento dessas instituições. Por
sua vez, a arbitragem institucionalizada pode seguir dois modelos: um mais antigo
e típico onde o centro funciona unicamente como órgão administrativo,
constituindo-se verdadeiros tribunais ad hoc para cada processo; e, um segundo
modelo, onde um único árbitro julga todos os processos que entram no centro,
funcionando como um tribunal constituído, com a sua secretaria e juiz. O CAC
adopta o primeiro modelo (onde os árbitros são nomeados para cada litígio),
desempenhando funções importantes de secretaria e de decisão em caso de
suspeição de árbitros, mas sem interferência na decisão do caso concreto.
No âmbito da arbitragem comercial internacional existem diversos centros
de referência, entre eles, a Câmara do Comércio Internacional (CCI), com a sua
sede em Paris, a London Court of International Arbitration (LCIA), com sede em
Londres, a AAA (American Arbitration Association), a qual dispõe de um centro de
arbitragem em Dublin, denominado Centro Internacional de Resolução de Disputas
(CIDR).
Nas arbitragens ad hoc, as partes vinculam-se a organizar a arbitragem,
sendo o tribunal constituído, única e exclusivamente, para dirimir um determinado
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
15
litígio, e as regras são definidas pelas partes ou, na sua falta, estabelecidas pelo
tribunal arbitral.
A arbitragem institucionalizada apresenta como vantagens a incorporação
automática do Regulamento da instituição escolhida como sendo as regras a
observar durante o processo arbitral e o apoio administrativo e logístico que
presta às partes e ao tribunal arbitral, facilitando o desenvolvimento do processo
arbitral. Como desvantagens são apontados os custos do funcionamento da
instituição, que necessariamente se repercutem nos encargos administrativos da
arbitragem; a existência de regras fixas e inalteráveis, podendo, contudo,
argumentar-se que as instituições tendem a permitir, mesmo nas arbitragens
institucionais, modificações aos seus regulamentos e procedimentos; e os prazos
estabelecidos poderem ser, por vezes, muito curtos.
As arbitragens ad hoc permitem uma maior flexibilização das partes na
escolha dos árbitros e das regras processuais a seguir. Podem as partes estabelecer
as regras que aprouverem quanto ao procedimento a ser seguido, tendo como
limites o respeito pelo princípio da equidade e igualdade das partes, ou poderão
remeter para um conjunto de regras pré-estabelecidas. Na prática, é frequente
serem adoptadas regras pré-estabelecidas, uma vez que possibilita uma poupança
de tempo na elaboração de regras específicas. O facto de não necessitar para o seu
início e desenvolvimento da intervenção de instituições de arbitragem obriga as
partes e o tribunal a despender um maior esforço de administração do processo, e
a que haja uma maior necessidade de cooperação entre as partes na escolha das
regras processuais. No entanto, podem as partes adoptar um regulamento de uma
instituição arbitral como sendo as regras aplicáveis ao seu processo ou mesmo
recorrer a esses centros para administrar a sua arbitragem.
Filipe Alfaiate sugere que as partes e o tribunal arbitral realizem uma
reunião preparatória (presencial, por telefone, por vídeo-conferência, etc.), no
início da arbitragem, sendo importante para a resolução de assuntos processuais e
logísticos, nomeadamente, decisões sobre questões prévias e a organização dos
passos seguintes do processo arbitral8.
8 Filipe Alfaiate, A prova em arbitragem: perspectiva de direito comparado, in II Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2009, p. 157.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
16
3.1.1. Acta de Instalação e Requerimento de Arbitragem
Nos processos ad hoc, a prestação de serviços do Centro de Arbitragem
inicia-se com a recepção da Acta de Instalação do Tribunal Arbitral 9 .
Preferencialmente o documento deverá ser elaborado pelo tribunal arbitral em
conjunto com as partes. Tem como objectivos definir a missão do tribunal arbitral;
esclarecer a posição e pretensões das partes, cristalizando o objecto do processo; e
estabelecer as regras e prazos processuais. Deve conter os seguintes elementos: a
identificação das partes, seus mandatários e do tribunal arbitral; o objecto do
litigo; sede e secretariado do Tribunal Arbitral (nos casos que aqui nos interessam,
é o Centro de Arbitragem Comercial); o direito aplicável ao processo; as regras
processuais, específicas e subsidiárias; o prazo global para a conclusão da
arbitragem; e os encargos da arbitragem. Poderá, igualmente, ficar estipulado que
as partes após a assinatura não poderão formular novos pedidos a não ser que seja
autorizado pelo tribunal arbitral10; ou que o tribunal arbitral tomará em
consideração as condutas dilatórias das partes na determinação da repartição dos
custos da arbitragem entre aquelas. Após a assinatura deste documento pelo
tribunal arbitral (e partes), qualquer modificação a efectuar exige o acordo de
todos.
Após o recebimento da Acta de Instalação, o Secretariado procede à sua
notificação às partes. As notificações, citações e outras comunicações podem ser
efectuadas pelo Secretariado do CAC por qualquer meio que proporcione prova da
recepção, nomeadamente, por carta registada, entrega por protocolo, telecópia ou
correio electrónico ou qualquer outro meio electrónico equivalente (artigo 43º do
Regulamento de 2008 e artigo 45º do Regulamento de 2014). Do que pude
verificar, as notificações e citações são efectuadas por carta registada ou por
correio electrónico.
9 É uma importação dos “terms of reference”, a que alude o artigo 23.º do Regulamento da CCI (Acta de missão), mas não se encontra estipulado na LAV. Contudo, da minha experiência, é uma prática muito comum. Ver sobre o assunto Filipe Alfaiate, A prova em arbitragem: perspectiva de direito comparado, 2009, pp. 158-159. 10 Regra que consta no artigo 23º, n.º 4 do Regulamento da CCI.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
17
O artigo 42º do Regulamento de 2008 estabelece como regra que os
articulados e requerimentos sejam apresentados por via electrónica e, na sua
impossibilidade, em tantos exemplares quantas as contrapartes intervenientes no
processo arbitral, acrescidos de um exemplar para cada um dos árbitros e de um
exemplar para o Secretariado do CAC. Regra esta que é mantida no Regulamento
de 2014 (artigo 45.º, n.º 2), mas apenas até ao momento da constituição do
Tribunal Arbitral. A partir desse momento, deverão ser as partes (e não o
Secretariado) a notificar-se entre si e a transmitirem essas comunicações a todos
os membros do Tribunal e ao Secretariado do CAC (n.º 3).
De acordo com o estabelecido em algumas Actas de Instalação, após a
notificação da Defesa pelo Secretariado do CAC, as restantes peças processuais e
requerimentos a apresentar serão notificados directamente entre as partes, por
regra, electronicamente, e pela mesma via deverão ser remetidas ao tribunal
arbitral e ao Secretariado do CAC.
Juntamente com a notificação da Acta de Instalação, o Demandante é
notificado para apresentar o requerimento de arbitragem, no prazo de 30 dias
(regra geral que resulta das Actas de Instalação); e o Demandado é informado do
início desse prazo. Destas notificações é, ainda, dado conhecimento aos Árbitros.
O processo arbitral institucional inicia-se com a recepção, pelo
Secretariado do CAC, do requerimento de arbitragem apresentado pelo
Demandante, o qual é carimbado com a respectiva data de recebimento e dado um
número de processo, pelo qual será identificado.
O requerimento de arbitragem deverá conter (artigo 17.º, nº 1 e 2 do
Regulamento de Arbitragem de 2008): a convenção de arbitragem, ou o acordo
posterior das partes para submeter a resolução do litígio a tribunal arbitral no
Centro de Arbitragem (ou a proposta dirigida à outra parte para a sua celebração);
a identificação completa das partes (denominação, morada e endereço
electrónico); a descrição do pedido e dos fundamentos em que se baseia; a
quantificação do valor pedido; a indicação da constituição do tribunal arbitral;
outras circunstâncias que se revelem importantes para a apreciação do litígio.
O artigo 19.º do Regulamento de 2014 veio proceder a uma alteração
importante nas alíneas b) e c) do n.º 2 do artigo 17.º, admitindo que a arbitragem
se inicie apenas com uma descrição sumária do litígio, relegando-se a apresentação
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
18
das peças processuais substanciais para um momento posterior ao da constituição
do tribunal arbitral, aproximando-se do regime da LAV e da generalidade dos
regulamentos de arbitragem. Um dos processos que deu entrada no CAC ao abrigo
do Regulamento de 2014 apresentou o Requerimento em Arbitragem em
conformidade com o referido artigo.
O Demandante deverá entregar no CAC o original do requerimento de
arbitragem, uma vez que o Secretariado retém para si os originais de cada peça
processual e requerimentos que chegam ao Centro, de forma a manter e
administrar um original de todo o processo.
Com a entrega do requerimento de arbitragem, deverá o Demandante
proceder ao pagamento da provisão para encargos administrativos, de harmonia
com o disposto no n.º 2 do artigo 50.º do Regulamento de 2008 (artigo 52.º, n.º 4
do Regulamento de 2014), sob pena do Secretariado não proceder à citação do
Demandado (n.º 3 e n.º 5 referidos artigos, respectivamente).
Após a recepção e análise do requerimento e da convenção de arbitragem11,
e no prazo máximo de 5 dias, o Secretariado cita o Demandado para contestar,
dispondo, para tanto, do prazo de 30 (trinta) dias, nos termos do artigo 19.º do
Regulamento de 2008 (artigo 20.º do Regulamento de 2014).
Num processo ad hoc, administrado pelo CAC, foi apresentado o
requerimento de arbitragem, juntamente com documentos que o instruíam, tendo
sido protestado juntar 4 documentos. Não obstante, o Secretariado do CAC
procedeu à citação do Demandado, que requereu ao tribunal arbitral que a
contagem do prazo para apresentar a contestação apenas se iniciasse com a junção
dos documentos protestados juntar no Requerimento de Arbitragem. A posição do
Demandado mereceu o acolhimento do tribunal arbitral, pelo que, assim que o
Secretariado recepcionou os documentos juntados protestar, citou novamente o
Demandado para apresentar a sua defesa.
11 A convenção de arbitragem tem uma natureza contratual, sendo um negócio jurídico bilateral e poderá revestir uma de duas formas, o compromisso arbitral (para resolução de um litígio actual) e a cláusula compromissória (que consta no contrato objecto do litígio), uma vez que sem a mesma não pode a arbitragem prosseguir. Ver melhor em Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, pp. 125 e ss, e em Carlos Ferreira de Almeida, A convenção de arbitragem: conteúdos e efeitos, in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2008.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
19
3.1.2. Defesa e Resposta (s)
Antes do término do prazo para apresentar a defesa, pode o Demandado
requerer a prorrogação do mesmo, devidamente fundamentado. Nos processos
institucionais será o Presidente do Centro a deferir essa prorrogação, enquanto
que nos processos ad hoc, o requerimento de prorrogação do prazo é enviado, pelo
Secretariado ao tribunal arbitral, sempre que a parte não o tenha feito
directamente. A decisão, de deferimento ou indeferimento, proferida pelo
Presidente do Centro ou pelo Tribunal Arbitral é, posteriormente, notificada ao
Demandado (com conhecimento ao Demandante), pelo Secretariado do CAC.
Após a recepção da defesa, o Secretário do CAC procede à sua análise,
apurando, nomeadamente, se o Demandado apresentou defesa por excepção e/ou
se foi formulado pedido reconvencional. Caso se verifique alguma das situações
descritas, o Secretariado notifica o Demandante para responder às excepções
deduzidas na defesa e/ou ao pedido reconvencional, no prazo de 30 dias, conforme
dispõe o n.º 2 do artigo 20.º do Regulamento de 2008. Nos processos ad hoc é, por
vezes, estipulado na Acta de Instalação que, sendo apenas suscitadas excepções, o
Demandante dispõe do prazo de 10 ou 20 dias para apresentar a respectiva
resposta.
O Demandado, por seu turno, tem o mesmo prazo de 30 dias (ou 10 ou 20
em algumas arbitragens ad hoc) para responder às excepções que sejam deduzidas
na resposta à reconvenção, como estatui o n.º 2 do artigo supra-referido (parte
final).
O Regulamento de 2014 também nesta matéria introduziu uma alteração
muito importante, na medida em que deixou de prever a apresentação de resposta
do Demandante quando a defesa seja feita, unicamente, por excepção, a não ser no
que respeita à excepção de incompetência do tribunal arbitral. Assim, salvo
convenção das partes em contrário, apenas na situação de terem sido deduzidos
pedidos reconvencionais pelo Demandado, pode o Demandante responder no
prazo de 30 dias (artigo 21.º, n.º 4).
Na eventualidade de falta de defesa pelo Demandado, ou de resposta ao
pedido reconvencional pelo Demandante, a arbitragem prossegue, sem, no entanto,
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
20
se isentar a outra parte de ter de fazer prova quanto ao pedido e seus fundamentos
(artigo 22º, do Regulamento de 2008 e artigo 23.º do Regulamento de 2014).
3.1.3. Provisões
Os encargos da arbitragem são fixados em função do valor do processo, de
harmonia com as tabelas n.º 1 e 2, respectivamente, anexas ao Regulamento de
200812, e correspondem aos honorários e despesas dos árbitros, aos encargos
administrativos do processo e às despesas com a produção de prova13. É
importante apontar que o Regulamento de 2014 clarificou que a competência para
o cálculo dos encargos é do Secretariado do CAC, no entanto, cabe ao tribunal
arbitral a determinação do valor da arbitragem. O Regulamento de 2008 (artigo
47.º, n.º 1) estatui que “para efeito de cálculo dos encargos da arbitragem, o
Secretariado tomará em conta…”, por sua vez, o de 2014 dispõe que “compete ao
tribunal arbitral, ouvidas as partes, definir o valor da arbitragem” (artigo 49.º, n.º
1).
O valor da arbitragem corresponde ao pedido formulado pelo demandante e
eventuais pedidos de providências cautelares14, e, tendo sido deduzido pedido
reconvencional, será a soma de ambos os pedidos15. Assim, após a recepção de
todos os articulados, o Secretariado verifica se o valor do processo será só o do
pedido ou fará a soma com o valor da reconvenção. Após o que procede ao cálculo
dos encargos da arbitragem numa folha de cálculo (que consta do site do CAC),
guardando uma cópia desse documento, de modo a se efectuar futuramente as
contas para as provisões a solicitar.
Deste modo, após os articulados, são as Partes notificadas para proceder ao
pagamento de uma provisão inicial, geralmente no valor de 35% do montante
provável dos encargos da arbitragem, no prazo de 10 dias a contar da notificação
12 Cfr. artigos 48.º, n.º 1 e 50.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigos 49.º, n.º 1 e 52.º, n.º 1 do Regulamento de 2014. 13 Cfr. artigos 47.º, n.º 1 e artigo 46.º, n.º 2, do Regulamento de 2008 e artigos 48.º, n.º2 e 49.º, n.º 2 do Regulamento de 2014. 14 Cfr. n.º1 do artigo 47º do Regulamento de 2008 e artigo 49.º, n.º 1 do Regulamento de 2014. 15 Cfr. n.º 2 do referido artigo do Regulamento de 2008.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
21
(artigo 52º, n.º 2, do Regulamento de 2008 e artigo 54.º, n.º 2 do Regulamento de
2014).
Nos processos ad hoc administrados no CAC, geralmente é aplicável o
Regulamento de Arbitragem em termos de encargos, no entanto, podem estipular
regras diferentes, designadamente, o pagamento de 25% do montante provável
dos encargos da arbitragem com a entrega de cada um dos articulados. Nesta
situação, após receber o requerimento de arbitragem procede à citação do
Demandado e à notificação do Demandante para pagamento da provisão inicial,
calculada com base do valor do processo ser o do seu pedido. Se for deduzido
pedido reconvencional, o Secretariado efectua novamente o cálculo ao valor da
arbitragem, somando os dois pedidos, sendo o Demandante notificado para o
pagamento de um preparo adicional e o Demandado é notificado para pagar uma
provisão inicial que engloba já o valor dos dois pedidos.
No decurso do processo institucional, e nos ad hoc cujo Regulamento do
CAC se aplique, o Secretariado procede à cobrança de reforços de provisão até
perfazer, por cada uma das partes, o montante provável dos encargos da
arbitragem (artigo 52º, n.º 3, Regulamento de 2008).
O Regulamento de 2014, no seu artigo 54º, n.º 3, fez desaparecer a
referência a “por cada uma das partes”, operando uma mudança de regra quanto
ao valor total das provisões, o qual passa para 100% do montante total, em vez de
200% como nos anteriores Regulamentos.
A falta de pagamento das provisões para os encargos administrativos, tem
cominações diferentes (artigo 53º do Regulamento de 2008; artigo 55.º do
Regulamento de 2014): na falta do pagamento da provisão inicial, o não
prosseguimento da arbitragem, caso a falta seja imputável ao Demandante ou a
inatendibilidade da defesa se a omissão for do Demandado (n.º 1; n.º 3); na
eventualidade de ser deduzido pedido reconvencional e o Demandante não haja
procedido ao pagamento da provisão, a arbitragem prossegue apenas quanto ao
pedido reconvencional, e a resposta ao mesmo também não será atendida (n.º 2); a
não realização da produção de prova ou outra diligência, quando a provisão se
destina a esse fim (n.º 3; n.º 4); o não pagamento dos reforços das provisões,
determina a suspensão da instância arbitral, caso a falta seja do Demandante, ou a
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
22
impossibilidade do Demandado intervir na fase de produção de prova ou
apresentar alegações, caso a falta lhe seja imputável (n.º 6; n.º 5).
Num dos processos administrados pelo Secretariado do CAC verificou-se a
falta de pagamento da provisão por uma das partes no prazo fixado. Nos termos do
Regulamento de 2008 a outra parte foi notificada desse facto e de que dispunha do
prazo de 10 dias para realizar o pagamento da provisão em falta (artigo 53.º, n.º 2).
Ao abrigo do Regulamento de 2014 seria concedido um novo prazo para que o
pagamento fosse efectuado pela parte em falta e, caso a situação persistisse, era a
contraparte notificada para realizar o pagamento em falta, no prazo de 10 dias
(artigo 55.º, n.º2).
3.1.4. Constituição do Tribunal Arbitral
Findos os articulados, é necessário proceder à constituição do tribunal
arbitral. Este procedimento apenas tem lugar nos processos institucionais, uma
vez que, como já foi anteriormente referido, nos processos ad hoc o tribunal
encontra-se constituído ab initio.
Nos termos do artigo 7º do Regulamento de 2008 (e artigo 8.º, n.º 3 e 4, do
Regulamento de 2014), quando as partes acordaram, na convenção de arbitragem
ou em momento posterior, que o tribunal arbitral deverá ser composto por três
árbitros, cada uma dela designará um árbitro (com a apresentação das peças
processuais) e o terceiro, o árbitro que preside, será nomeado pelos árbitros
indicados pelas partes. Na falta de designação de um árbitro pelas partes ou pelos
árbitros por estas nomeados, essa competência cabe ao Presidente do CAC.
O Secretariado procede ao envio das peças processuais aos árbitros
designados pelas partes, bem como os documentos que as instruem e, ainda, uma
minuta de declaração de independência e imparcialidade, informando que dispõem
do prazo de 20 dias para proceder à escolha do terceiro árbitro.
Na falta de estipulação das partes quanto à composição do tribunal arbitral,
ou por acordo das mesmas nesse sentido, será composto por árbitro único. Deste
modo, podem as partes chegar a acordo quanto ao nome a designar, caso não o
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
23
façam ou não seja possível chegar a um consenso, a nomeação será da competência
do Presidente do Centro de Arbitragem.
O tribunal arbitral considera-se constituído com a aceitação do encargo por
todos os árbitros que o compõe (artigo 26.º, n.º 3 do Regulamento de 2008 e artigo
27.º, n.º 3 do Regulamento de 2014). Posto isto, o Presidente do Centro proferirá
despacho de constituição do tribunal arbitral, que cabe ao Secretariado notificar às
partes e enviar aos árbitros.
3.2. Fase intermédia (a audiência preliminar)
Findos os articulados, e constituído o tribunal arbitral nos processos
institucionais, é realizada a audiência preliminar, nos termos dos artigos 28.º e
29.º do Regulamento de 2008 (que corresponde ao artigo 30.º do Regulamento de
2014) e de harmonia com o que se encontra estipulado na Actas de Instalação das
arbitragens ad hoc.
É este o momento processual onde deverão ser exercidos os poderes
conciliatórios, quando conferidos pelas partes ao tribunal arbitral (artigo 28.º, n.º
2 do Regulamento de 2008). Nalguns processos ad hoc, também a audiência
preliminar se destina a promover a tentativa de conciliação das partes e, na sua
impossibilidade, então verificam-se os fins que se descrevem em seguida.
Caso seja lograda a tentativa de conciliação das partes, ou não havendo
lugar à mesma, na audiência preliminar, e após o exame da prova documental já
produzida nos autos (com as peças processuais), o tribunal arbitral pode proferir
decisão sobre a matéria quando entenda que do processo já constam elementos
probatórios suficientes para a prolação da decisão final (artigo 28.º, n.º 4 do
Regulamento de 2008). Havendo necessidade de produção de prova adicional,
devendo, por isso, a arbitragem prosseguir, é em sede de audiência preliminar ou
no prazo máximo de 30 dias, após ouvidas as partes, que se estabelecem as regras
processuais e a metodologia a ser seguida no processo arbitral (artigo 29.º do
Regulamento de 2008 e artigo 30.º do Regulamento de 2014).
Primeiramente são definidas as questões litigiosas a decidir (artigo 29.º, n.º
1, alínea a do Regulamento de 2008 e artigo 30.º, n.º 1, alínea a do Regulamento de
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
24
2014). O tribunal arbitral elabora, após audição das partes, uma lista dos factos
não controvertidos e das questões litigiosas a decidir (normalmente num
documento intitulado de “guião de prova” ou “temas de prova”), onde constem as
questões que o tribunal pretende ver esclarecidas com a produção de prova.
Do vários processos que acompanhei pude verificar que os tribunais, por
regra, adoptam este método de definição das questões litigiosas por grandes temas,
tornando mais célere e eficaz a produção de prova a efectuar pelas partes e
diminuindo o volume da prova a produzir, principalmente quando comparando
com o antigo método judicial da base instrutória (e da definição dos factos
provados e não provados por quesitos).
Quanto ao modo de definição desses temas ou guiões de prova, foram
seguidos diferentes métodos. Alguns tribunais solicitavam que as partes
elaborassem conjuntamente um guião de prova, caso não conseguissem o consenso
necessário, remeteriam aos árbitros a matéria de facto que considerassem assente
e a controvertida e os pontos onde não foi possível obter o acordo, sendo que,
nesses casos, caberia ao tribunal decidir. Noutros casos, era o tribunal arbitral que
elaborava um projecto de guião de prova, solicitando ao Secretariado do Centro
que o notificasse às partes. Após a pronúncia das partes, o tribunal arbitral
elaborava a versão final do guião de prova, que era posteriormente notificado às
partes pelo Secretariado.
Seguidamente definem-se os meios de prova e respectivas regras de
produção.
Quanto à prova documental pode definir-se até que momento é possível
juntar documentos, pode determinar-se um sistema coerente para a numeração
dos documentos produzidos pelas partes, pode o tribunal arbitral convidá-las a
elaborarem, conjuntamente, um dossier contendo os documentos principais do
processo, tentando evitar a duplicação daqueles16. Pode, ainda, estipular-se a
desnecessidade de se juntarem aos autos documentos públicos, como aconteceu
numa arbitragem, onde, por acordo, foi estipulado que, quanto os documentos
públicos que constam da Internet, não haveria necessidade de os juntar aos autos,
bastando que no requerimento de junção a parte que pretenda usar dessa
16 Sugestão feita por Filipe Alfaiate, A prova em arbitragem: perspectiva de direito comparado, 2009, p. 168.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
25
prerrogativa mencionasse detalhadamente o nome do documento e o endereço
electrónico onde o mesmo poderia ser consultado.
No que respeita à prova testemunhal, poderá ser estabelecido se as
testemunhas apresentarão depoimentos escritos, se haverá limitação do número
máximo de testemunhas a apresentar pelas partes (num processo uma das regras
estabelecidas foi o limite máximo de 12 testemunhas), qual o tempo máximo para a
produção de prova, entre outros.
Poderão também ser requeridos depoimentos de parte, quer pelo tribunal
arbitral, quer pelas partes, estipular-se a necessidade e metodologia da prova
pericial, a calendarização das sessões de produção de prova e a calendarização e
modo de apresentação das alegações finais.
Por fim, este é o momento ideal para que sejam acordadas outras regras.
Por exemplo, num processo colocou-se a questão da contagem dos prazos,
especialmente quando terminam no fim-de-semana. O Regulamento de 2008 é
omisso nesse aspecto, regulando apenas a questão da contagem do prazo que se
inicia no dia útil seguinte àquele em que se considere recebida a citação,
notificações e comunicações (artigo 44.º, n.º 2; idêntica regra encontramos no
artigo 46.º, n.º 2 do Regulamento de 2014). Por sua vez, o Regulamento de 2014
soluciona essa lacuna, estipulando que “o prazo que termine em sábado, domingo
ou feriado transfere-se para o primeiro dia útil seguinte” (artigo 46, n.º 3). Ora,
num processo onde seja aplicável o Regulamento de 2008, poderá ser este o
momento para se definir essa questão, tendo em conta que o Regulamento nada
refere.
O Regulamento de 2014 introduziu uma alteração ao artigo referente às
diligências de instrução do Regulamento de 2008, estipulando que é na audiência
preliminar que se poderá fixar o valor da arbitragem (artigo 30.º, n.º 1, alínea g).
O Secretariado do CAC desempenha um papel muito importante não só no
próprio acompanhamento da audiência, mas também na sua preparação17. Desde
logo, e para efeitos de marcação da audiência, deve promover-se a
compatibilização das agendas do tribunal arbitral, partes e do próprio Secretariado
do CAC. Assim, o Secretariado procede à notificação das partes da data definida
17 O que se dirá quanto à preparação e acompanhamento da audiência, se reproduz, mutatis mutandis, quanto às audiências de produção de prova e apresentação de alegações finais.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
26
para a realização daquela ou solicita que as partes informem das respectivas
disponibilidades para uma das datas propostas pelo tribunal arbitral. Após as
Partes informarem da sua disponibilidade para a data avançada, ou na sua
impossibilidade sugerirem datas alternativas, o tribunal arbitral profere despacho
relativo à data e hora da realização da audiência preliminar, que é notificado pelo
Secretariado do CAC.
Antes da sua realização da audiência, o Secretariado do CAC prepara com
antecedência a sala designada para a sessão e os documentos necessários para que
o tribunal arbitral possa conduzir a audiência preliminar18.
Durante a realização da audiência preliminar, um dos membros do CAC
acompanha presencialmente a sessão, de forma a garantir toda a assistência
necessária às partes e ao tribunal arbitral. No final, é função de quem secretariou a
audiência elaborar a respectiva acta, que é, posteriormente, assinada pelos
membros do tribunal arbitral (e nalguns processos pelos mandatários das partes).
A Acta deverá conter: o dia e hora da sessão; a identificação dos presentes
na sessão (Tribunal arbitral, Partes, Representante de parte e quem secretariou a
audiência); as questões prévias suscitadas pelas partes na própria sessão, ou em
momento anterior, através de requerimento; as decisões do Tribunal Arbitral; a
estipulação da metodologia a seguir no processo, com o estabelecimento do prazo
para elaboração do guião de prova (projecto de questões litigiosas a decidir),
estipulação das regras relativas à produção de prova (documental, testemunhal e
pericial) e a calendarização das sessões de produção de prova.
Após a elaboração do projecto de acta, esta é submetida à apreciação do
árbitro presidente (ou árbitro único). O árbitro remete, então, a acta com o seu aval
e/ou as alterações que considere necessárias. Para além de rever e alterar a acta,
pode determinar que a mesma seja enviada aos co-árbitros para a sua apreciação.
Após o que também poderá querer que a acta seja enviada para os mandatários
das partes, para obter o seu consenso. Uma vez obtida a validação por parte do
tribunal arbitral (e dos mandatários), a acta, agora revista, fica guardada junto com
o processo para ser, posteriormente, assinada pelo tribunal arbitral (e partes).
18 Normalmente é elaborado um dossier contendo o projecto para a audiência, como as questões prévias a decidir, os projectos de temas/guião de prova, ordem de trabalhos proposta, etc..
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
27
3.3. Fase de produção de prova e alegações finais e acompanhamento das sessões do Tribunal Arbitral
No que respeita ao Regulamento de 2008 do CAC é estipulado que “pode ser
produzida perante o tribunal arbitral qualquer prova admitida pela lei aplicável ou
convencionada pelas partes” (artigo 30.º, n.º 1). Assim, as partes têm uma grande
liberdade para estabelecer as regras processuais que considerem ser mais
adequadas para resolução do seu litígio, desde que “não contendam com as
disposições inderrogáveis do presente regulamento” (artigo 16.º, nº 1 do
Regulamento de 2008 e artigo 18.º, n.º 3 do Regulamento de 2014).
O Regulamento de 2014 introduziu alterações importantes aos dois artigos
supra-referidos do anterior Regulamento, na medida em que estatui
expressamente que cabe ao tribunal arbitral conduzir a arbitragem do modo que
considerar mais adequado, tendo em conta as circunstâncias do caso concreto,
promovendo a celeridade e a eficiência, dando às parte oportunidade de fazerem
valer os seus direitos, sempre com respeito pelo princípio da igualdade e do
contraditório (artigo 18.º, n.º 1 e 2). Assim, o tribunal arbitral pode fixar regras
processuais (que não sejam contrários aos princípios inderrogáveis do
Regulamento), competindo-lhe determinar a admissibilidade, pertinência e valor
de qualquer prova produzida ou a produzir (artigos 18.º, n.º 1 e 31.º, nº1).
Contudo, a liberdade das partes e do tribunal arbitral está limitada pelo
disposto no artigo 30º da LAV e pelos limites gerais à autonomia privada
estabelecida no artigo 281º do Código Civil (ilegalidade e contrariedade à ordem
pública e ofensa aos bons costumes). Quer isto dizer que, por acordo das parte ou,
na sua falta, pelo tribunal arbitral, são utilizáveis todos os meios de prova que
constem na lei processual civil e/ou outros que entendam ser adequados, desde
que respeitem os princípios fundamentais do processo justo, quer isto dizer que “o
que processo arbitral tem de respeitar é o normativo constitucional do processo
equitativo”19 (artigo 20.º, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa). Esses
princípios inderrogáveis a observar na produção de prova estão genericamente
descritos no artigo 30.º da LAV e pretendem assegurar os direitos de defesa das
19 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.258.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
28
partes e a imparcialidade de julgamento pelo tribunal arbitral20. São eles a
igualdade das partes21, a citação do demandado para se defender22, a observância
do princípio do contraditório23 e a exigência que ambas as partes sejam ouvidas,
oralmente ou por escrito, antes de ser proferida a decisão final. A violação destes
princípios implica a anulação da decisão arbitral, nos termos do artigo 46.º, n.º 3,
alínea a), ii) e v) da LAV, mas só tem eficácia anulatória da sentença arbitral se
tiver tido uma “influência decisiva na resolução do litígio” (artigo 46.º, n.º 3, alínea
a), ii) da LAV).
O árbitro poderá aceitar ou recusar prova, uma vez que lhe são conferidos
poderes de direcção e condução do processo e de conformação da tramitação
processual, permitindo uma maior flexibilidade e eficiência. Nestes termos, pode
recusar qualquer prova que seja considerada manifestamente dilatória e quando
não seja decisiva para a resolução do litígio (artigo 31.º, nº 2 do Regulamento de
2014). Do mesmo modo, pode ordenar a produção de prova não oferecida pela
parte, salvo acordo prévio em contrário das partes, e se a mesma se revelar
essencial para a descoberta da verdade. Por sua iniciativa ou a requerimento das
partes pode o tribunal arbitral ouvir e promover a entrega de documentos em
poder das partes ou de terceiros, nomear um ou mais peritos, definindo a sua
missão e recolhendo o seu depoimento ou os seus relatórios e proceder a exames
ou verificações directas (artigo 30.º, n.º 2 do Regulamento de 2008 e artigo 31.º,
n.º 3 do Regulamento de 2014).
De igual modo, pode o tribunal, por sua iniciativa ou a requerimento de uma
ou de ambas as partes, “recolher depoimento pessoal de parte”, nos termos do
artigo 30.º do Regulamento de 2008. Numa audiência de produção de prova o
Demandante prescindiu do depoimento da Parte contrária, que anteriormente
havia requerido. Na última sessão de produção de prova, e em virtude dos
administradores do Demandado terem pretendido prestar declarações no
20 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.259. 21 Impondo o equilíbrio entre as partes. Não é exigível a identidade absoluta entre os meios processuais, mas um equilíbrio global entre as partes (material e não formal). 22 Constituindo a respectiva falta não sanada motivo de anulação da sentença arbitral, nos termos do artigo 46.º, n.º 3, alínea a), ii), da LAV. A obrigatoriedade de citação do demandado constitui um princípio básico do processo equitativo, o direito de defesa. Não obedece a nenhuma formalidade específica, o que se pretende garantir é que o demandado tenha conhecimento do processo e, assim, se possa defender. 23 Que pretende garantir a efectiva participação das partes no desenvolvimento de todo o processo arbitral, garantindo, desse modo, que as partes podem influenciar a decisão.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
29
processo, o seu Mandatário requereu a junção aos autos de uma declaração escrita
daqueles. O Demandante opôs-se ao requerido por entender que o facto de ter
prescindido do depoimento de parte não prejudicava que o Demandado
requeresse esse meio de prova. O tribunal arbitral indeferiu o requerimento do
Demandado por considerar que se tratou de um incidente anómalo e inoportuno.
Quanto aos métodos de obtenção de prova que observei nas sessões que
secretariei, alguns tribunais arbitrais permitiam que as partes fizessem as suas
inquirições e instâncias e, posteriormente, colocavam as suas questões, sendo dada
a palavra primeiro aos co-árbitros e depois ao árbitro-presidente. Noutros casos, o
tribunal ia solicitando os seus esclarecimentos à medida que as partes detinham a
palavra.
A nível internacional, as IBA Rules of Evidence in Internacional Commercial
Arbitration, da Internacional Bar Association (IBA Rules), constituem, hoje, um dos
mais importantes conjuntos de regras de regulação de prova24, que podem ser
escolhidas pelas partes, quer se trate de arbitragem internacional, quer doméstica.
Tais regras destinam-se a ser adoptadas em arbitragens ad hoc, mas têm servido
de inspiração a certos regulamentos de instituições que organizam arbitragens.
3.3.1. Prova pericial
O árbitro pode nomear um ou mais peritos para o assistir, por sua iniciativa
ou a requerimento das partes (artigo 30.º, n.º 2, alínea d) do Regulamento de 2008
e artigo 31.º, n.º 3, alínea c) do Regulamento de 2014).
Havendo necessidade de prova pericial, o tribunal arbitral e as partes
deverão determinar a matéria objecto da perícia, estabelecendo a forma como esta
deve ser efectuada. Assim, deve ser definido qual o objecto da perícia, se incidirá
sobre matéria financeira, técnica, sobre infra-estruturas, etc. É, igualmente,
necessário estabelecer o modo como decorrerá a peritagem, se será efectuada por
24
Regulam a prova documental, a prova testemunhal, a perícia através de peritos nomeados pelas partes ou pelo tribunal arbitral, a inspecção de certos locais, as audiências destinadas à produção de prova, a admissibilidade e a apreciação da prova (artigos 3.º a 9.º).
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
30
perito único, por colégio pericial, por dois peritos nomeados um por cada parte,
podendo o tribunal nomear um assessor técnico que o auxilie nas questões em que
os peritos tenham divergido. Do que pude analisar no CAC, o sistema mais utilizado
era o da perícia determinada pelo tribunal, a solicitação de uma ou das duas partes,
com a composição de um colégio de peritos, sendo um nomeado por cada parte e o
terceiro escolhido por aqueles dois ou pelo tribunal, na falta de acordo.25
Tal como os árbitros, os peritos nomeados pelo tribunal devem ser
independentes, estando obrigados, por isso, a revelar quaisquer factos que possam
pôr em causa a sua independência e imparcialidade, podendo ser recusados com
fundamentos de impugnação análogos aos que se verificam quanto aos árbitros,
por remissão do artigo 37.º, n.º 4 da LAV, para o estatuto dos árbitros (artigos 13.º
e 14.º da LAV)26.
Dado o princípio do dispositivo, em todos os processos, o tribunal solicitou
a colaboração das partes na selecção partes dos factos a submeter aos peritos. No
entanto, o tribunal, após audição das partes, poderia não admitir certos factos
seleccionados pelas partes quando os julgava impertinentes ou incluir factos que
considerava pertinentes para a submissão dos peritos.
Quando a perícia era colegial, o tribunal incentiva a que os peritos se
reunissem antes de produzirem os seus relatórios, elaborando uma lista onde
identificassem os pontos em que estivessem de acordo e as questões
controvertidas sobre as quais os seus relatórios iriam recair.
Quanto ao relatório a apresentar, e havendo mais do que um perito, preferia
a maioria dos tribunais que fosse elaborado conjuntamente (com a menção das
divergências encontradas), podendo, ainda assim, cada perito elaborar o seu
relatório.
Por fim, é ainda preciso estabelecer os prazos para a conclusão do relatório
pericial e os honorários dos peritos (e do assessor técnico, se a ele houver lugar).
Após a apresentação dos relatórios periciais, o Secretariado do CAC procede
ao seu envio para o tribunal arbitral e para as partes, cabendo-lhe ainda efectuar a
25 Joaquim Shearman Macedo apresenta as novas tendências que tem surgido nas arbitragens internacionais em matéria de prova pericial, em Organização do Processo Arbitral, in VI Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013, pp.27-28. 26 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.254.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
31
notificação dos peritos para comparecerem em tribunal por forma a prestarem os
devidos esclarecimentos às partes e ao tribunal sobre os seus relatórios.
Numa arbitragem que acompanhei havia sido requerida prova pericial em
matéria financeira, que decorreria com dois peritos, cada um nomeado por uma
das partes. O Demandante e Demandado procederam, assim, à nomeação do “seu”
perito. No decurso da peritagem um dos peritos foi substituído, pelo que não foi
possível a elaboração de um relatório conjunto. Na audiência marcada para
esclarecimentos dos peritos ao tribunal arbitral e partes, verificou-se que aqueles
ao elaborarem os seus relatórios não tiveram acesso às mesmas fontes
informativas. Deste modo, foi a sessão de esclarecimentos suspensa e foi
determinado que os peritos, num prazo razoável, deveriam proceder às alterações
necessárias dos seus relatórios, de modo a garantir uma absoluta simetria de
informação de cada um. Foi, além do mais, determinado que os peritos incluíssem
nos seus relatórios uma lista de fontes informativas que haveria de ser
absolutamente igual num e noutro relatório.
Parece, em meu entender, ser esta uma solução a adoptar quando a prova
pericial seja feita por mais do que um perito, e não seja apresentado um relatório
conjunto (nessa situação dificilmente os peritos não terão em conta os mesmos
documentos), a de incluírem nos seus relatórios uma lista com as fontes de
informação consultadas, por forma a garantir uma simetria formal e material de
informação dos peritos, respeitando, assim, o princípio de igualdade das partes.
3.3.2. Prova testemunhal
Após os esclarecimentos dos peritos ou se não houver lugar a prova pericial,
o processo segue com a produção de prova testemunhal. Na maioria dos processos
que acompanhei no CAC, se utilizou um figurino semelhante ao do processo
judicial, com a inquirição a ser efectuada pelos Mandatários da Parte que
apresentou a testemunha e a instância pelo representante da contraparte, sendo
ouvidas em primeiro lugar as testemunhas indicadas pela Demandante e,
seguidamente, são ouvidas as testemunhas apresentadas pela Demandada. Como
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
32
os processos têm matéria de facto muito abundante, este método de produção de
prova leva ao prolongamento das sessões de julgamento, que frequentemente
duraram vários dias.
Nas arbitragens internacionais, a tendência verificada é para reduzir, na
medida do possível, a fase oral do processo de prova, podendo contribuir para a
redução do volume de prova a produzir na audiência arbitral. Assim, é muito
comum a apresentação de depoimentos escritos pelas partes (witness statements)
27. Os depoimentos escritos poderão ser um substituto do depoimento directo da
testemunha, devendo ser exaustivos nos factos relatados ou poderão servir de
preparação do depoimento oral, caso em que apenas deverá conter uma súmula
dos factos a relatar28. Encontramos a codificação destas práticas no artigo 4.º das
IBA Rules.
Sendo apresentados depoimentos escritos, cada parte deverá indicar ao
tribunal arbitral quais das testemunhas apresentadas pela parte contrária e que
produziram depoimentos escritos pretendem contra-interrogar presencialmente.
Igualmente, se assim o desejar, poderá o tribunal arbitral solicitar a presença de
algum dos depoentes (4.4 IBA Rules).
Os depoimentos escritos deverão conter a identificação da testemunha, bem
como a sua relação com as partes e, quando for relevante, uma breve descrição da
sua formação e experiência profissional. Mais, deve a testemunha descrever os
factos que teve conhecimento, e o modo de obtenção desse conhecimento. Por fim,
deve a testemunha concluir afirmando que a informação prestada é verdadeira,
assinando e datando o seu depoimento (4.5 IBA Rules).
Num processo institucional a correr termos no CAC, foi acordada a
apresentação de depoimentos escritos. Em relação às testemunhas que os
apresentassem, foi estabelecida a seguinte tramitação para a prestação de
esclarecimentos em audiência: primeiro, o depoente é interrogado pelo
apresentante, mas apenas para efeitos de confirmação da autoria e da linha geral
do depoimento; de seguida, a contraparte procederá ao interrogatório para
exercício do direito de contraditório; após o que o interrogatório é devolvido ao
apresentante para esclarecimentos sobre o depoimento prestado em audiência.
27 Ver sobre o assunto Joaquim Shearman de Macedo, Organização do Processo Arbitral, 2013, pp.25-26. 28 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios,, 2014, p.252.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
33
Regra geral, as testemunhas que apresentam depoimento escrito devem
estar disponíveis para comparecerem em audiência do tribunal, especialmente
havendo contestação a esse depoimento escrito. As partes podem estabelecer que
as testemunhas cujos depoimentos que não tenham contestados pela contraparte
não necessitarão de estar presentes em audiência. Salvo esta situação, se a
testemunha cuja audição presencial foi requerida pela contraparte ou pelo tribunal
arbitral (e havendo sido devidamente notificada para o efeito) não comparecer em
tribunal sem apresentar uma justificação válida, o tribunal arbitral deverá
desconsiderar o respectivo depoimento escrito (artigo 4.7 IBA Rules).
A contraparte não se encontra obrigada a requerer a presença de uma
testemunha que apresentou depoimento escrito, uma vez que tal situação não
implicará que o tribunal arbitral tenha de considerar que essa parte deu o seu
acordo ou que sancionou o teor do depoimento dessa testemunha (4.9 IBA Rules).
São apontadas como vantagens dos depoimentos escritos a poupança de
tempo e a visão mais completa do caso. Consiste, por isso, numa prática muito leal,
na medida em que a parte adianta o teor dos depoimentos que sustentaram a sua
argumentação do caso e possibilita que a contraparte se prepare melhor para as
audiências29.
Num dos processos no CAC onde foram apresentados depoimentos escritos,
foram requeridos esclarecimentos de todas as testemunhas que os apresentaram.
Na verdade, em audiência as testemunhas não apresentaram apenas
esclarecimentos quanto aos seus depoimentos (já de si bem extensos e completos),
mas verificaram-se verdadeiras inquirições e instâncias, que perduraram
bastantes sessões. Neste caso, os depoimentos acabaram por perder um pouco os
efeitos pretendidos, de celeridade e eficácia.
Nos processos que correm termos no CAC é frequente estipular-se a
limitação de tempo e/ou o número de audiências para a inquirição das
testemunhas. Por exemplo, a limitação pode ser de um ou mais dias destinados
para a audição de todas as testemunhas de uma parte e o mesmo número de dias
para as testemunhas da outra. Num processo, foi acordado o limite máximo de 15
para as inquirições e instâncias de cada parte, distribuídas ao longo de quatro dias.
29 Joaquim Shearman de Macedo, Organização do Processo Arbitral, 2013, pp.25-26.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
34
Outro método utilizado é estabelecer o número máximo de horas a utilizar
por cada parte. Neste caso, cabe ao Secretariado efectuar esse controlo de tempo,
cronometrando o tempo utilizado por cada parte nas inquirições e instâncias das
testemunhas. Ao tempo dispendido pelas partes, dever-se-á descontar o tempo
utilizado pelo tribunal arbitral para colocar as suas questões às testemunhas. No
final de cada sessão é contabilizado o tempo utilizado nesse dia, qual o tempo total
já despendido pelas partes, sendo que os valores apurados deverão ser incluídos
numa tabela de controlo de tempos (que é, posteriormente, entregue às partes no
início da sessão seguinte).
Quando as testemunhas se expressarem em língua diversa da do processo e
que, salvo acordo em contrário, careçam de tradução, nalguns processos foi
estipulado que as partes providenciariam pela respectiva tradução. Geralmente a
tradução pode seguir uma de duas vias, a interpretação consecutiva (a única via
que acabei por presenciar, em mais do que uma ocasião), onde o intérprete é um
apoio o importante pois ouve o orador traduzindo sucessivamente tudo o que é
dito ou a interpretação simultânea, onde os intérpretes traduzem
simultaneamente o discurso da testemunha para a língua do processo. Para tal é
necessário (um conjunto de) o apoio de equipamento áudio adequado,
designadamente, cabinas insonorizadas e adequadamente equipadas para os
intérpretes e auscultadores para a audiência.
Um outro exemplo, o Demandado num processo pretendia chamar a depor
duas testemunhas inglesas. Uma delas não compareceu na sessão, por um motivo
de força maior a si não imputável. Deste modo, requereu o Demandado que lhe
fosse dada uma nova oportunidade para ouvir a testemunha, por se revelar muito
importante para a sua defesa. Por acordo, foi estabelecido que o depoimento da
testemunha seria prestado naquela sessão, através de vídeo-conferência por Skype.
Contudo, notou o Demandante que a testemunha cuja audição foi requerida não
constava do rol de testemunhas apresentado pelo Demandado, pelo que se opôs ao
seu depoimento. O Demandado prescindiu, assim, do depoimento da testemunha
via Skype.
Também num processo cujas audiências de produção de prova acompanhei,
assisti à acareação entre duas testemunhas, a requerimento do Demandante, e
cujos depoimentos haviam sido contraditórios quanto as três questões específicas.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
35
3.3.3. Prova documental
No que respeita à prova documental, por regra, os documentos deverão
acompanhar as peças processuais iniciais, nomeadamente, o requerimento de
arbitragem, a defesa e a(s) reposta(s), nos termos do artigo 21.º, n.º 1 do
Regulamento de 2008. Contudo, se as partes não tiverem podido juntá-los com ou
articulados, se só supervenientemente a produção de prova por documentos se
vier a revelar necessária ou útil ou se as partes e o tribunal arbitral acordarem
noutra coisa, poderá o tribunal admitir a junção de novos documentos pelas partes
(artigo 21.º, n.º2 do Regulamento de 2008). O Regulamento de 2014 apenas
permite a apresentação de novos documentos, salvo outras regras definidas pelo
tribunal, em casos excepcionais e mediante a autorização do tribunal arbitral
(artigo 31.º, n.º 4 do Regulamento de 2014).
No que respeita aos documentos em posse da parte contrária, Mariana
França Gouveia aponta uma possível solução recorrendo à chamada Tabela de
Redfern, onde são colocadas em colunas as categorias de documentos pedidos, as
razões para esse pedido, as razões do requerido para a recusa do pedido e, numa
última coluna, a decisão do tribunal arbitral 30 . Também as IBA Rules
regulamentam esta situação, no seu artigo 3.º, onde permite que após a junção
voluntária de documentos pelas partes, estas possam requerer ao tribunal mais
prova documental, indicando quais os documentos que pretende ver revelados e as
respectivas razões (nºs 2 e 3). A parte contrária dispõe de um prazo para entregar
os documentos requeridos ou apresentar oposição (artigo 3.º, nºs 4 e 5 da IBA
Rules). Ao tribunal arbitral é autorizado, ainda, requerer a qualquer uma das
partes documentos que considere serem relevantes para a boa decisão da causa
(artigo 3.º, n.º 10, IBA Rules).
O CAC mantém um exemplar físico de todo o processo, que se encontra nas
audiências de forma a ser possível a sua consulta pelo tribunal arbitral, parte e o
exame de alguns documentos pelas testemunhas. Contudo, também se afigura útil
manter uma versão em formato electrónico de todo o processo e assegurar a
30
Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.251.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
36
possibilidade de projecção dessa versão em audiência. Em conformidade com o
que foi dito, o todas as salas do CAC onde decorrem as audiência estão equipadas
com um sistema de projecção de documentos que, quando utilizados em sede de
inquirição e/ou instância, permite uma melhor interacção entre as testemunhas e a
prova documental, em benefício do tribunal arbitral e das partes.
Mas, a presença do Secretariado na sessão é importante, também, para
prestar toda a assistência necessária ao tribunal arbitral e às partes – para tirar
cópias de documentos que sejam juntos aos autos na sessão, disponibilizar
qualquer documentação para exame das testemunhas, proceder à projecção dos
documentos do processo, etc.
Os documentos utilizados para prova no processo arbitral31 estão sujeitos a
confidencialidade, podendo ser recusada a sua junção a um processo arbitral ou,
como num processo que acompanhei, pode o documento ser apenas examinado
pelo tribunal mas não disponibilizado à contraparte.
Poderá ser estipulado que o tribunal arbitral presumirá que todos os
documentos produzidos pelas partes são autênticos até ao momento em que essa
autenticidade seja questionada por uma das partes.
Por último, podem as partes estabelecer que o tribunal arbitral deverá
presumir que os documentos que estão na posse de uma das partes, e esta falhe em
produzi-los sem apresentar uma justificação razoável, eram prejudiciais aos
interesses da parte que não os produziu32.
3.3.4. Gravação e transcrição das audiências
Por regra, todas as sessões de produção de prova testemunhal são gravadas.
Este é um outro motivo porque se revela essencial a presença de um dos membros
do Secretariado do CAC a acompanhar as sessões. Pode acontecer que ocorra um
erro com a gravação da sessão. Nesta situação é fundamental o acompanhamento
do Secretariado para detectar o mal funcionamento da gravação, caso em que se
31 Também no artigo 3.º, n.º 12 IBA Rules se dispõe que “todos os documentos apresentados por uma Parte de harmonia com as Regras IBA sobre Prova (ou por um terceiro, nos termos do art. 3.º, n.º 8) serão mantidos confidenciais pelo Tribunal Arbitral e pelas outras Partes e serão usados apenas em conexão com a arbitragem.”
32Conforme artigo 9.º, n.º 5 IBA Rules.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
37
deve informar o Tribunal arbitral da situação verificada com a maior brevidade
possível, por forma a que a sessão possa ser interrompida e o erro corrigido.
Por exemplo, numa arbitragem ocorreu uma falha no sistema de gravação,
tendo-se verificado que foram perdidos os primeiros 30 minutos do depoimento
de uma testemunha. Em virtude do tempo já despendido e das notas que as partes
e o tribunal arbitral foram tirando do depoimento, foi acordado que não seria
necessário reproduzir o que já se havia feito, retomando-os os trabalhos
imediatamente do mesmo onde foram interrompidos. Este acordo do tribunal
arbitral e das partes ficou registado em acta, para que, posteriormente, a parte
desagradada com a sentença arbitral, não viesse a usar o erro ocorrido na gravação
da sessão como fundamento de anulação da sentença, por violação do princípio da
igualdade de partes.
Também é frequente as partes requererem as transcrições das sessões de
produção de prova. Apresenta como vantagens facilitar a referência ou o acesso a
uma determinada secção do depoimento que poderá ser difícil localizar nas
gravações áudio e garante uma identidade de referência para o tribunal e partes33.
As transcrições podem ser solicitadas ao CAC, caso em que procederá ao envio dos
ficheiros áudio das sessões de audiência à empresa que presta esse serviço ao
Centro, sendo que, quando as transcrições se encontram terminadas, o
Secretariado promove o seu envio às partes e ao tribunal arbitral. Quando assim
não seja, são as partes que promovem as transcrições directamente, caso em que o
Secretariado do CAC apenas procede ao envio de um CD ou link contendo as
gravações áudio às partes (como o faz em todos os processos, com ou sem
transcrições previstas).
3.3.5. Alegações finais
Nos termos do artigo 30.º, n.º 1, alínea b) da LAV às partes “deve ser-lhes
dada a oportunidade razoável de fazerem valer os seus direitos, por escrito ou
oralmente, antes de ser proferida a sentença final”. A prática nos processos no CAC,
é da de apresentação de alegações finais escritas, em simultâneo, de facto e de
33 Cfr. Joaquim Shearman de Macedo, Organização do Processo Arbitral, 2013, pp.30.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
38
direito. Assim, após o fim das audiências de produção de prova, o tribunal arbitral
fixa um prazo para a apresentação das alegações, entre quinze e trinta dias (artigo
31.º, nº 2 e artigo 28.º, n.º 5 do Regulamento de 2008).
No entanto, podem as partes e o tribunal convencionarem uma data para as
partes comparecerem em audiência, a fim de apresentarem alegações orais (artigo
31.º, n.º 1 do Regulamento de 2008). Com as alegações orais podem as partes
entregar ao tribunal arbitral um memorando escrito e/ou podem juntar pareceres
(artigo 31.º, nºs 3 e 4 do Regulamento de 2008). Numa arbitragem foi estipulado,
por acordo, que as partes apresentariam alegações orais, dispondo cada parte para
o efeito de 1 hora e de 15 minutos de réplica.
Noutros processos foram acordadas alegações finais escritas, no entanto,
com direito a alguns minutos de apresentação oral das mesmas, acompanhadas na
entrega ao tribunal arbitral dos textos.
3.2. Sentença Arbitral
Encerrado o debate, deverá a decisão final ser proferida no prazo de dois
meses, salvo acordo em contrário das partes34. O prazo global para a conclusão da
arbitragem é de um ano, contado da data em que o tribunal se considere
constituído35. A ultrapassagem do prazo para conclusão da arbitragem opera a
extinção da competência para os árbitros julgarem o litígio que lhes foi submetido,
não implicando, contudo, a caducidade da convenção de arbitragem, que se
mantém eficaz, podendo as partes com base nela iniciarem a uma nova arbitragem
(artigo 43.º, n.º 3 da LAV).
O tribunal arbitral julga segundo o direito constituído, a menos que as
partes autorizem o julgamento segundo a equidade (artigo 35.º, n.º 1 dos
Regulamentos de 2008 e 2014 e artigo 39.º da LAV). A alteração do critério de
decisão, após a constituição do tribunal arbitral, carece da aceitação de todos os
árbitros (artigo 35.º, n.º 2 dos Regulamentos de 2008 e 2014). Nos termos do
34 Cfr. artigo 32.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigo 33.º, n.º 1 do Regulamento de 2014. 35 Cfr. artigo 43.º da LAV e artigo 32.º, nºs 4 e 4 do Regulamento de 2008 e artigo 33.º, n.ºs4 e 5 do Regulamento de 2014.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
39
artigo 39.º, n.º 2 da LAV, as partes também podem escolher como critério da
decisão a composição amigável do litígio.
Quando o tribunal arbitral é composto por mais do que um membro, todas
as decisões são tomadas por maioria de votos, em deliberações em que todos os
árbitros participam (artigo 34.º, n.º 1 dos Regulamentos de 2008 e 2014). Não
sendo possível formar a maioria necessária, a lei estipula que a decisão é tomada
pelo presidente do tribunal arbitral (artigo 34.º, n.º 2 dos Regulamentos de 2008 e
2014 e artigo 40.º, n.º 1 da LAV).
Quanto às formalidades da sentença arbitral36, dispõe o artigo 38.º, n.º 1 do
Regulamento de 2008 (a que corresponde o artigo 39.º do Regulamento de 2014),
que a sentença deverá ser reduzida a escrito e contendo elementos que constam no
referido artigo.
O Regulamento de 2014 prevê expressamente a possibilidade de sentenças
parciais, no artigo 39.º, n.º 2. As sentenças parciais contrapõem-se às decisões
finais (que põe fim ao processo), na medida em que constituem decisões proferidas
pelo tribunal arbitral a meio de um processo, sem lhe porem termo37.
A decisão arbitral é notificada às partes pelo Secretariado do CAC (artigo
39.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigo 40.º, n.º 1 do Regulamento de 2014).
Deverá, para o efeito, acompanhar uma cópia da sentença, assim que estiverem
integralmente pagos os encargos resultantes do processo (artigo 39.º, n.º 1 do
Regulamento de 2008 e artigo 40.º, n.º 1 do Regulamento de 2014). Com a
notificação da sentença é enviado também a conta de liquidação de encargos do
processo, sendo solicitado às partes que informem dos respectivos elementos
necessários para se proceder à transferência de algum saldo positivo da conta por
uma das partes.
“O original da decisão fica depositado no Secretariado do Centro, podendo
as partes dele obterem cópia certificada” (artigo 39.º, n.º 3 do Regulamento de
2008).
36 Também a Lei-Modelo da UNCITRAL regula as formalidades requeridas para a decisão arbitral, nos seus artigos 31.º e 32.º, designadamente, a redução a escrito, a obrigatoriedade da fundamentação da sentença arbitral. A LAV, igualmente, estipula a forma, o conteúdo e a eficácia da sentença, no seu artigo 42.º. 37 Ver a distinção em António Sampaio Caramelo, Decisões interlocutórias e parciais no processo arbitral: possível natureza e objecto, in II Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2009, p.180.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
40
O tribunal arbitral pode proceder à rectificação de erros materiais ou
esclarecer alguma obscuridade ou ambiguidade da sentença arbitral, quer seja por
sua iniciativa ou a requerimento de qualquer das partes (artigo 39.º, n.º 1 do
Regulamento de 2008). O Regulamento de 2014 mantém esta regra, impondo-lhe,
contudo, um limite temporal para essa rectificação ou esclarecimentos de 30 dias
contados a partir da notificação da sentença arbitral (artigo 40.º, n.º 2)38.
O Regulamento de 2014 prevê, ainda, na tentativa de se aproximar do
disposto no artigo 45.º, n.º 5 da LAV, que nos trinta dias seguintes aos da
notificação da sentença arbitral, a requerimento de qualquer das partes e após a
sua audição, pode o tribunal arbitral proferir sentença adicional sobre partes do
pedido ou dos pedidos apresentados no decurso do processo arbitral que não
tenham sido objecto de decisão (artigo 40.º, n.º 3).
Com o proferimento da sentença arbitral, que faz caso julgado, o processo
termina e esgotam-se os poderes jurisdicionais do tribunal arbitral (artigo 44.º, nºs
1 e 3 da LAV).
No entanto, e para que se possa equiparar a decisão arbitral à sentença
judicial, é necessário garantir meios de impugnação daquela, uma vez que “o
Estado só reconhece decisões vinculativas de privados se puder controlar a sua
validade, designadamente, se puder verificar que foram respeitadas as regras
mínimas do processo justo”39. Também por esta razão é irrenunciável o direito a
requerer a anulação da decisão arbitral (artigo46.º, n.º 5 da LAV).
A impugnação da decisão arbitral pode seguir uma de três vias: o recurso, a
acção de anulação40 e a oposição à execução.
Quanto à primeira, o recurso só é admissível quando as partes o
estipularem expressamente e a decisão não tenha sido determinada pela equidade
ou por composição amigável (artigo 39.º, n.º 4 da LAV). A submissão do litígio ao
CAC implica a renúncia ao recurso da sentença arbitral (artigo 40.º do
Regulamento de 2008 e artigo 42.º do Regulamento de 2014).
No que respeita à acção de anulação, a mesma acaba por ser de aplicação
subsidiária, ganhando efectiva autonomia quando não há lugar a recurso, que
38 A LAV prevê igual norma no artigo 45.º, n.º 4. 39 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios,, 2014, p.295. 40 Sobre este assunto ver Luís de Lima Pinheiro, Recurso e anulação de decisão arbitral: admissibilidade, fundamentos e consequências, in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2008.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
41
compreende as situações em que a decisão é irrecorrível e, sendo admissível, não
houve interposição de recurso41. Deve ser intentada no prazo de 60 dias contados
da data em que a parte que pretenda requerer a anulação recebeu a notificação
sentença ou, caso haja sido pedida rectificação ou esclarecimento da nova sentença
ou da decisão do tribunal arbitral sobre esse requerimento (artigo 46.º, n.º 6 da
LAV). A competência para a apreciação do pedido de anulação da sentença arbitral
é do Tribunal da Relação, nos termos do artigo 59.º, n.º 1 da LAV. O n.º 3 do artigo
46.º da LAV enumera os fundamentos de anulação, quer os que tenham de ser
alegados pelas partes, quer os de conhecimento oficioso. Tendo em conta que o
tribunal estadual que anule a sentença arbitral não pode conhecer do mérito das
questões por aquela decididas, as partes terão de iniciar outro processo arbitral
para serem por este decididas (artigo 46.º, n.º9 da LAV), uma vez que a anulação
da sentença não produz qualquer efeito na convenção de arbitragem (artigo 46.º,
n.º 10 da LAV).
Por fim, em sede de oposição não podem ser alegados fundamentos de
anulação quando já tiver decorrido o prazo previsto para a sua invocação, que
serão de 60 nos termos do artigo 46.º, n.º 2 da LAV. O mesmo se dirá quanto aos
fundamentos que já tenham sido rejeitados no âmbito de uma acção de anulação
da sentença arbitral. A excepção respeita aos fundamentos de conhecimento
oficioso, como a inarbitrabilidade e violação da ordem pública internacional, que
podem ser invocados mesmo que o prazo para requerer a anulação já tenha
decorrido (artigo 46.º, n.º 3, alínea b) da LAV).
41 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios,, 2014, p.298.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
42
4 – Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial
Nos termos do n.º 1 do artigo 7.º dos Estatutos do Centro de Arbitragem
Comercial, compete ao Presidente do seu Conselho:
“ a) Exercer todos os poderes que lhe conferem os Estatutos e
Regulamentos em vigor;
b) Representar o Centro de Arbitragem Comercial nas suas relações
externas;
c) Coordenar a actividade do Centro de Arbitragem Comercial;
d) Convocar e dirigir as reuniões do Conselho de Arbitragem.”
O Regulamento de Arbitragem de 2008 concede um conjunto amplo de
poderes ao Presidente do CAC, tais como a definição e constituição do tribunal
arbitral – e a apreciação de escusas, recusas e substituições de árbitros –, a
atribuição de eficácia à convenção das partes sobre regras processuais, a
prorrogação de prazos, a admissão de intervenção de terceiros, ordenar a
apensação de processos, a decisão dos incidentes que se suscitem até à
constituição do tribunal arbitral.
O Regulamento de 2014 não só manteve os poderes que já eram conferidos
pelo anterior Regulamento, como alargou a sua amplitude e criou novos poderes.
Como bem apontam Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, “o
reforço dos poderes concedidos ao Presidente tem subjacente a intenção de
sedimentar a credibilidade, estabilidade e segurança oferecida pelo CAC. “42
Quanto ao alargamento dos poderes anteriormente conferidos, tomemos
como exemplo a composição do tribunal arbitral onde, no Regulamento de 2008, a
regra é a escolha de árbitro único quando as partes sobre essa matéria nada
convencionam. Ora, o Regulamento de 2014, mantendo a regra de árbitro único,
confere ao Presidente do CAC a flexibilidade de, atendendo às características do
caso concreto, nomear um tribunal constituído por três árbitros.
42 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.3.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
43
Já no que toca às inovações introduzidas pelo Regulamento de 2014, o
Presidente do Centro tem a competência para, designadamente, nomear árbitro de
emergência, proceder à substituição oficiosa de árbitros e fixar os honorários e
encargos administrativos.
4.1. Antes da constituição do Tribunal Arbitral
4.1.1. Escusa, recusa e substituição de árbitro
Contrariamente ao que se passa nos processos judiciais estatais, onde o
legislador fixa um procedimento pré-determinado que vincula todos os seus
intervenientes, na arbitragem vigora o princípio da autonomia das partes,
querendo isto dizer que as partes não só têm a liberdade para estipularem as
regras processuais que considerem mais adequadas à resolução do seu litígio,
como também participam na selecção das pessoas que julgarão o seu diferendo43.
Daí que seja muito usual dizer-se que “a arbitragem é tão boa quanto o árbitro”, e
que, por isso, a escolha das partes quanto aos árbitros que integrarão o tribunal
arbitral é “potencialmente a decisão mais importante que uma parte poderá tomar
ao longo de uma arbitragem”44.
A doutrina divide-se quanto ao tipo de relação jurídica entre os árbitros e as
partes. Nesta matéria, a tese contratualista defende que entre as partes e árbitros
existe um contrato ou vários contratos entre si45, enquanto que para a tese
legalista os árbitros limitam-se a aderir à convenção de arbitragem celebrada pelas
43 Sofia Ribeiro Mendes, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela Perspectiva dos Árbitros), 2012, p. 41. 44 Sobre o estatuto do árbitro ver Nuno Ferreira Lousa, Reflexões Práticas sobre a Ética na Arbitragem. Uma Introdução ao Tema, 2011; Agostinho Pereira de Miranda, O estatuto deontológico do árbitro: passado, presente e futuro, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010; Bernardo Reis, Reflexões Práticas sobre a Ética na Arbitragem: Perspectiva do Árbitro, in VI Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2011; Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014; Agostinho Pereira de Miranda, Investir em virtude: o dever de revelação dos árbitros, in Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação (N.º 6), 2013, p.22. 45 Manuel Pereira Barrocas, Manual de Arbitragem, Coimbra, Almedina, 2010, pp. 231 e ss..
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
44
partes46. A Professora Mariana França Gouveia é da opinião que na arbitragem
encontramos elementos jurisdicionais e elementos contratuais47, uma vez que
alguns poderes dos árbitros se justificam por vínculos contratuais, enquanto que
outros poderes dos árbitros existem em consequência de previsões legais.
Os direitos e obrigações dos árbitros têm diversas fontes, podem derivar
directamente da lei, do que as partes acordaram (particularmente em sede de
convenção de arbitragem), do regulamento da instituição que administra a
arbitragem e do contrato do árbitro48.
Sendo a missão do árbitro decidir (julgar) o litígio surgido entre as partes,
daqui se impõe que os árbitros estejam obrigados aos deveres de independência,
imparcialidade, adequação diligente e confidencialidade. Estes deveres pretendem
garantir que os árbitros são independentes em relação às partes e também ao
objecto do litígio.
A doutrina distingue a independência da imparcialidade, sendo que a
primeira se resume à inexistência de relação ente os árbitros e as partes, e a
imparcialidade é definida como a inexistência de relação entre o árbitro e o objecto
do litígio49. A exigência de independência e imparcialidade dos árbitros durante
todo o processo é, em primeira análise, a garantia de um processo justo50. Acresce
que “um árbitro que se abstenha da sua obrigação de independência é incapaz de
ditar uma sentença arbitral válida”51.
Assim, devem revelar os factos ou circunstâncias que sejam do seu
conhecimento, os que deveriam conhecer em razão da actividade e vinculação
profissional desenvolvidas e a existência de relação com as partes que possam
46 Pedro Romano Martinez, Constituição do Tribunal Arbitral e Estatuto do Árbitro, in Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, 2012 (N.º 5), p.224. 47 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.200. 48 Agostinho Pereira de Miranda, O estatuto deontológico do árbitro: passado, presente e futuro, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2011, p.61. 49 José Miguel Júdice, A constituição do tribunal arbitral: características, perfis e poderes dos árbitros, in II Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2009, p. 118; Selma Ferreira Lemes, A independência e a imparcialidade do árbitro e o dever de revelação, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010, p.43; Agostinho Pereira de Miranda, Investir em virtude: o dever de revelação dos árbitros, in Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação (N.º 6), 2013, p.11; Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.204. 50 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.8. 51 Selma Ferreira Lemes, A independência e a imparcialidade do árbitro e o dever de revelação, 2010, p.56.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
45
gerar fundadas dúvidas quanto à sua independência e imparcialidade (dever de
revelação).
Selma Ferreira Lemes afirma que a “lei brasileira de arbitragem reforça o
conceito de confiança como critério definidor para poder actuar como árbitro”,
vinculando-o à honradez e honestidade52. É deste conceito que surge a necessidade
do árbitro revelar factos os circunstâncias que possam abalar a confiança das
partes, uma vez que é em nome dessa confiança que nomeiam um árbitro que
entendem ter independência para julgar com imparcialidade (sendo a primeira um
pré-requisito da segunda) 53.
Os Estatutos do CAC estabelecem, no seu artigo 9º, que os árbitros indicados
nas listas do Centro são “pessoas singulares, nacionais ou estrangeiras, plenamente
capazes, de comprovadas qualificações científicas, profissionais ou técnicas, que as
habilitem julgar (…), com independência e com idoneidade os diferendo
susceptíveis de ser submetidos a tribunal arbitral constituído sob a égide do
Centro de Arbitragem Comercial (…).
Também no Regulamento de Arbitragem de 2014 (artigos 10.º a 14.º) se
estatui que os árbitros devem ser independentes, imparciais e disponíveis,
comprometendo-se a desempenhar as suas funções de acordo com o Código
Deontológico dos Árbitros e, por isso, estão sujeitos ao dever de revelação de
quaisquer circunstâncias que possam suscitar dúvidas sobre a sua independência,
imparcialidade ou disponibilidade (artigo 11, nºs 2 e 3).
É, então, no Código Deontológico que encontramos a regulação das
garantias de imparcialidade, independência, disponibilidade, conhecimento e
confidencialidade.
Quanto às primeiras, “os árbitros obrigam-se a ser e permanecer
independentes e imparciais, respeitando e fazendo respeitar o prestígio e a
eficiência da arbitragem como meio justo de resolução de litígios” (artigo 1.º, n.º 2).
Quando o Tribunal Arbitral é constituído por árbitro único o grau de exigência de
independência e imparcialidade será sempre máximo. No entanto, na hipótese do
Tribunal Arbitral ser composto por um painel plural, o grau exigido é o mesmo
para os árbitros de parte que para o árbitro-presidente?
53 Selma Ferreira Lemes, A independência e a imparcialidade do árbitro e o dever de revelação, 2010, pp. 44-45.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
46
No Direito Português, tal como na ordem jurídica internacional, é entendido
que se exige que os árbitros, independentemente do modo como foram designados,
estão obrigados a agir com imparcialidade. Contudo, na prática, poder-se-à pensar
que a independência do árbitro de parte não está ao mesmo nível da do árbitro-
presidente, isto porque apesar de não ser mandatário da parte, é esta que o
designa, e fá-lo com a convicção de que a pessoa que escolhe tem as melhores
qualificações para decidir o seu litígio, motivo pelo qual se espera que garanta que
a posição da parte que o nomeou é devidamente conhecida e tomada em
consideração54.
Sofia Ribeiro Mendes afirma que “o grau de imparcialidade e independência
que se exige ao árbitro-presidente é marcadamente superior àquele que se exige
ao árbitro de parte”55. Por outro lado, Mariana França Gouveia entende que se deve
exigir que o árbitro de parte haja com imparcialidade em todos os aspectos e
momentos do processo arbitral. Sendo a sua obrigação a de julgar com
imparcialidade, isenção e integridade o caso que perante si está pendente e não a
de garantir que a posição da parte que o nomeia seja conhecida e ainda menos que
deva influenciar nesse sentido o árbitro-presidente56.
Do meu ponto de vista, deve exigir-se o mesmo grau de independência e
imparcialidade a todos os árbitros, sejam eles nomeados pelas partes ou não. Só
garantindo que o tribunal arbitral é independente e imparcial, se poderá respeitar
os princípios fundamentais do processo arbitral (contraditório, igualdade de
partes e processo justo), e pode a arbitragem ter credibilidade e segurança para
produzir, no final, sentenças executáveis, com idêntico valor ao das sentenças
proferidas pelos tribunais judiciais.
No que toca às garantias de disponibilidade e de conhecimento, estabelece o
Código Deontológico que o árbitro só deverá aceitar a nomeação que lhe é feita se
considerar que, por um lado, está em condições de permanecer independente e
imparcial face ao que se discute no litígio e, por outro, se possui a disponibilidade e
qualificações necessárias para poder apreciar adequadamente as questões objecto
de litígio (artigo 2.º).
54 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.203. 55 Sofia Ribeiro Mendes, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela Perspectiva dos Árbitros), 2012, pp. 44-45. 56 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.201.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
47
O árbitro deve, além do mais, “respeitar a confidencialidade do processo e
da decisão arbitral e não poderá utilizar a informação obtida no decurso da
instância arbitral com o objectivo de alcançar um ganho, para si ou para terceiro,
ou de lesar o interesse de outrem” (artigo 8.º)57.
Chegados a este ponto, é importante abordar com algum pormenor a
obrigação de revelação de factos por parte dos árbitros que possam suscitar
dúvidas quanto à sua independência e imparcialidade (disclosure) e,
posteriormente, caracterizar o regime de escusas, recusas e substituição dos
árbitros.
Quanto ao primeiro ponto, o artigo 13.º da LAV estabelece um dever de
revelação dos árbitros, sob a epígrafe “fundamentos de recusa”, onde o árbitro tem
o dever de revelar quaisquer factos ou circunstâncias que possam gerar dúvidas
quanto à sua independência ou imparcialidade. O dever existe, desde logo, no
momento em que é feito o convite para integrar o tribunal arbitral 58 ,
permanecendo durante o decurso do processo arbitral. Isto mesmo se estabelece
também no artigo 12.º n.º 1 da Lei-Modelo da UNCITRAL.
Durante o decurso do processo, caso surjam factos ou circunstâncias que
possam pôr em causa a independência ou imparcialidade do árbitro, este tem de as
revelar (artigo 13.º, n.º 2 da LAV). Perante essa revelação ou o conhecimento de
factos não revelados que suscitem essas dúvidas, a parte que não designou o
árbitro pode recusar a sua designação e a parte que o designou poderá recusá-la se
os factos objecto de revelação não eram do seu conhecimento.
Isto mesmo é exigido pelos regulamentos dos centros de arbitragens
institucionais internacionais, como por exemplo, no Regulamento do CIDR (artigo
7º, n.º1), onde se estatui que “antes de aceitar a nomeação, o árbitro indicado
deverá revelar ao administrador qualquer circunstância que possa dar lugar a
dúvidas justificáveis com relação a sua imparcialidade e independência. Se, em
qualquer estágio da arbitragem, surgirem novas circunstancias que possam dar
57
Sobre a confidencialidade na arbitragem, ver Luiz Olavo Batista, Confidencialidade na arbitragem, in V Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2012. 58 Uma das práticas muito enraizadas em arbitragens domésticas e internacionais consiste nas partes pedirem aos árbitros a emissão de uma declaração de independência aquando da constituição do tribunal arbitral. O Centro de Arbitragem, em arbitragens sob a sua égide, exige que os árbitros assinem uma declaração de independência e imparcialidade no momento em que aceitam o encargo e que antecede à constituição do tribunal arbitral.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
48
lugar a tais dúvidas, o árbitro deverá revelar de imediato tais circunstâncias às
partes e ao administrador. (…) Ao receber tal informação de um árbitro ou de uma
parte, o administrador deverá comunicá-las às outras partes e ao tribunal arbitral.”
Não serão quaisquer factos que poderão levar à recusa de um árbitro, mas é
necessário que esses factos suscitem fundadas dúvidas sobre a sua independência
e imparcialidade (artigo 13.º, n.º 3 da LAV).
O Código Deontológico da APA (artigo 4.º, n.º2) e também o Código
Deontológico do CAC (artigo 2.º) impõem que o árbitro revele qualquer relação
pessoal ou profissional com as partes e os seus representantes legais, qualquer
interesse económico, directo ou indirecto, ou qualquer conhecimento prévio que
possa ter tido na matéria e disputa.
Na ordem jurídica nacional e internacional, não existem muitos
instrumentos que regulamentam quais são esses factos geradores de fundadas
dúvidas sobre a independência e imparcialidade dos árbitros. A consequência da
inexistência de regras sobre conflitos de interesses de árbitros traduz-se no
aumento do risco da parte a quem a sentença não agradou vir, posteriormente, a
suscitar, em sede de recurso ou de anulação da sentença arbitral, questões de
suspeição ou impedimentos dos árbitros59.
O instrumento mais influente nesta matéria é as IBA Guidelines on Conflit of
Interest in Internacional Comercial Arbitration, da Internacional Bar Association
(IBA Guidelines)60. Trata-se de um documento dividido em duas partes, contendo a
primeira parte as regras gerais sobre independência e imparcialidade dos árbitros
e a sua segunda parte consistindo na aplicação prática das regras gerais. A
inovação introduzida pelo documento é precisamente esta segunda parte, onde
encontramos na prática a concretização de situações que podem ou não ser
consideradas conflitos de interesses, elencando uma enumeração taxativa de
situações que podem (ou não) suscitar dúvidas a respeito da imparcialidade e
independência do árbitro, através da criação de três listas, a verde, a laranja e a
vermelha61.
59 José Miguel Júdice, A constituição do tribunal arbitral: características, perfis e poderes dos árbitros, 2009, p.120. 60 O CAC adoptou expressamente estas Directrizes, remetendo para elas no seu artigo 1º, n.º 3 do Código Deontológico, que faz parte integrante do Regulamento de Arbitragem de 2004. 61 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, pp. 205-206; Agostinho Pereira de Miranda, Investir em virtude: o dever de revelação do árbitro,, 2013, p. 17.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
49
Da lista vermelha constam factos que claramente trazem dúvidas sobre a
independência do árbitro, estando dividida entre uma lista de fundamentos que
não podem ser afastados nem por acordo das partes (non-waivable red list ou
irrenunciável) e uma outra onde os factos podem levar à nomeação do árbitro, mas
apenas se ambas as partes estiverem de acordo (waivable red list ou renunciável).
Da lista vermelha irrenunciável constam situações como o árbitro ser
representante legal de uma parte ou ter um interesse financeiro directo no objecto
da acção. Quanto à lista vermelha renunciável, encontramos situações como o
árbitro ter prestado consultadoria jurídica ou apresentado parecer especializado
sobre o caso, ou o árbitro deter participações societárias numa das partes.
A lista laranja refere-se a situações que podem levantar dúvidas mas a sua
análise deverá ser feita segundo um critério subjectivo, em relação à perspectiva
das partes62. Deste modo, o árbitro deve divulgar às partes, aos co-árbitros, e à
instituição arbitral os factos que possam suscitar dúvidas justificáveis a respeito da
sua independência e imparcialidade. Compreende situações que, consoante o caso
concreto, podem ou não significar a existência de conflito de interesses. São
exemplos: o árbitro ter sido consultor de uma das partes nos últimos três anos; o
árbitro ter sido nomeado pela mesma parte duas ou mais vezes ou o escritório de
advocacia do árbitro actualmente defender interesses contrários aos de uma das
partes.
Por último, a lista verde elenca situações que não põe em causa a isenção
dos árbitros, pelo que não é imposta a sua revelação. Tomemos como exemplos: o
árbitro ter publicado um artigo académico relativo a uma matéria que é objecto da
arbitragem; ter sido parte de um tribunal arbitral anterior em conjunto com o
advogado de uma das partes; está também incluída a situação muito discutida de
contactos ente o árbitro e uma das partes63.
62 Quanto ao critério objectivo e subjectivo, ver Agostinho Pereira de Miranda, Investir em virtude: o dever de revelação dos árbitros, 2013, p.15. 63 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.11; Sofia Ribeiro Mendes, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela Perspectiva dos Árbitros), 2012, pp. 47-48. Esta autora entende que será admissível os árbitros reunirem com as partes que os querem nomear quando seja para apurar a experiência de actuação do potencial árbitro, designadamente no que toca a honorários e modo de organização do processo arbitral e do processo de nomeação do terceiro árbitro (quando necessário). No entanto, deverá ser vedado esse contacto quando seja para discutir com o potencial árbitro os contornos específicos do litígio,
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
50
Contudo, importa não esquecer que não poderá ser qualquer facto que
poderá levar à recusa ou substituição do árbitro com a aceitação da impugnação ou
ser motivo de anulação de sentença arbitral.
No que respeita ao regime de escusas, recusas e substituição de árbitros
previsto no Regulamento do CAC, a escusa é formulada pelo próprio árbitro, após
ter aceitado o encargo para que foi designado, com fundamento em causa
superveniente que o impossibilite de exercer essa função e sujeita ao
reconhecimento da (i)legitimidade desse fundamento invocado por parte do
Presidente do CAC (artigo 9.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigo 10, n.º 1 do
Regulamento de 2014).
O árbitro não pode revogar a sua aceitação sem que haja motivos
justificáveis para o fazer, caso em que responde pelos danos a que der causa
quando se verifique que o motivo invocado para a escusa não é legítimo, nos
termos do artigo 10.º, n.º 4 do Regulamento de 2014. Compreende-se a imposição
da apresentação de motivos justificáveis, uma vez que, após aceitar o encargo, a
escusa de um árbitro provoca danos para as partes e para o andamento do próprio
processo arbitral, na medida em que se traduz num grande atraso para a
arbitragem. Para além disso, como a relação entre os árbitros, as partes e o centro
é de origem contratual, a revogação do árbitro corresponde a uma resolução, que
tanto poderá ser fundada e legítima ou infundada e ilegítima, e apreciável nos
termos gerais do Direito dos Contratos64.
Já no que respeita à recusa de árbitro, a mesma também não é livre,
encontrando limitações quanto à legitimidade de quem a requer e quanto à
apreciação objectiva independente das circunstâncias invocadas.
Relativamente ao primeiro aspecto, tem legitimidade para requerer a
recusa de um árbitro a outra parte que não o designou, sendo apreciada pelo
Presidente do CAC após audição da parte contrária e do árbitro cuja recusa esteja
em causa e demais árbitros, ou oficiosamente determinada pelo Presidente (artigo
11, n.º 3 do Regulamento de 2008, artigo 12.º, n.º 3 do regulamento de 2014).
discutindo as posições e argumentações das partes, incluindo a sua estratégia processual e indagar junto do árbitro, ainda que preliminarmente, qual a sua opinião quanto ao mérito do litígio. 64 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.6.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
51
Quanto ao segundo, a recusa do árbitro só pode ocorrer quando se
verifiquem circunstâncias objectivas que levantem fundadas dúvidas sobre a sua
independência, imparcialidade ou disponibilidade. Após a revelação dessas
circunstâncias por parte do árbitro, a parte que não o designou tem a faculdade de
requerer a sua recusa, caso em que se não o fizer vê precludido esse direito (artigo
12.º, n.º 5 do Regulamento de 2014), “desde que seja uma opção informada e
consciente, não implica a invalidade da sentença proferida pelo tribunal arbitral.”65
O Regulamento de 2014 veio permitir que o Presidente do CAC possa
recusar oficiosamente a designação de um árbitro caso se verifique uma situação
de fundada suspeita de falta grave de independência e imparcialidade, ou seja se se
verificar alguma das circunstâncias a que alude a lista vermelha irrenunciável das
IBA Guidelines.
Outra alteração introduzida pelo Regulamento de 2014 foi a possibilidade
de substituição oficiosa de árbitro pelo Presidente do CAC, que constitui um poder
importante para a credibilidade das arbitragens sob a égide do Centro66.
Excepcionalmente, pode o Presidente do CAC substituir um árbitro quando este
não desempenhe as suas funções de acordo com as regras criadas pelo Centro
(artigo 13, n.º 2, Regulamento de 2014).
Não é fácil delinear com exactidão as situações em que o Presidente do CAC
deverá recusar ou substituir um árbitro com fundamento em falta de
independência e imparcialidade, em virtude da variedade e complexidade das
situações concretas.
Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira não têm dúvidas ao
afirmar que o Presidente do CAC deve recusar (oficiosamente ou a requerimento
da parte que não o nomeou) um árbitro que esteja numa das situações da lista
vermelha irrenunciável67. No que respeita às restantes listas, e pese embora a
65 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.6. 66 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.6. 67 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.11. Poder de substituir o árbitro quando actue contrariamente à convenção de arbitragem e ao regulamento do CAC ou não actue de modo justo e imparcial também se encontra estabelecido no Regulamento do LCIA (artigos 10.2 e 11).
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
52
necessidade de uma análise casuística, as autoras enunciam as seguintes regras,
que me parece ser a melhor solução a adoptar.
Face a qualquer situação abrangida pela lista vermelha não renunciável
deverá levar à recusa oficiosa do árbitro, independentemente do facto ter sido
revelado ou não, bastando que seja conhecido.
No que respeita a uma circunstância incluída na lista vermelha renunciável,
que tenha sido revelada pelo árbitro e nenhuma das partes tenha objectado à sua
nomeação, aquele deve ser confirmado pelo Presidente do CAC. O mesmo se dirá
quanto às situações reveladas e que façam parte da lista laranja.
Situação diversa é a das partes terem deduzido incidente de recusa após a
revelação de factos que se encontram abrangidos na lista vermelha renunciável e
na lista laranja, o presidente do CAC deverá deferir a recusa, uma vez que é a
solução que melhor protege os interesses da arbitragem e do próprio Centro.
As autoras teorizam, ainda, sobre a hipótese do facto potencialmente
gerador de dúvidas sobre a independência e imparcialidade não ser revelado pelo
árbitro, mas ser conhecida pelo Centro. Como por exemplo, o árbitro ser advogado
na mesma sociedade que o árbitro que representa uma das partes, que constitui
uma situação prevista na lista vermelha renunciável. Estamos perante uma clara
violação do dever de revelação que, como já se afirmou, é imposto pelo
Regulamento de 2014 (artigo 11.º, n.º 2), pelo Código Deontológico (artigo 4.º) e
pela LAV (artigo 13.º). Esta situação pode ser usada fundamento de anulação da
sentença arbitral (artigo 46.º, n.º 3, alínea iv, LAV). “De facto, uma sentença
proferida por um tribunal cuja independência não está garantida é uma sentença
inválida”68. Não posso deixar de concordar com as autoras que entendem que,
numa situação assim, deverá o Presidente do CAC revelar às partes essa situação e,
após audição das suas posições, recusar ou não a sua nomeação. Respeita-se, deste
modo, a autonomia das partes na constituição do tribunal arbitral e previnem-se
situações posteriores de invalidade da sentença arbitral.
Por último, e tendo em conta que as situações abrangidas pela lista verde
não comportam factos ou circunstâncias onde existam fundadas dúvidas quanto à
68 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.12; Agostinho Pereira de Miranda, Investir em virtude: o dever de revelação dos árbitros, 2013, p.22.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
53
independência e imparcialidade do árbitro, o direito da Parte de escolher o árbitro
deve prevalecer sobre o interesse da outra parte em querer “afastar” o árbitro69.
A substituição do árbitro impõe ao tribunal que, ouvidas as partes, decida se
mantém e em que medida os actos processuais já praticados. Quando o motivo da
substituição ocorra após o encerramento do debate, os restantes árbitros devem
proferir a sentença, excepto se entenderem não ser possível ou se alguma das
partes deduzir oposição (artigo 12.º, nºs 2 e 3 do Regulamento de 2008 e artigo 13,
nºs 3 e 4 do Regulamento de 2014).
4.1.2. Definição de regras processuais
Na LAV (artigo 30.º), as partes (ou os árbitros na falta de estipulação das
partes) podem escolher a tramitação processual, desde que o façam até à aceitação
do primeiro árbitro. O acordo das partes (ou dos árbitros) pode consistir na
criação de regras específicas; ou a simples remissão para regras pré-estabelecidas
(como os Regulamentos de arbitragem de centros de arbitragem
institucionalizados, legislações nacionais ou quaisquer outros instrumentos
normativos).
Também o Regulamento da CCI estabelece, no seu artigo 22.º, n.º 2, que os
árbitros têm a liberdade de adoptarem as regras processuais que considerem mais
adequadas, desde que as mesmas não contrariem qualquer acordo das partes e
tenham por objectivo assegurar uma condução mais eficiente do processo, em
termos de tempo e custos, mas tendo presente a complexidade do litigio e o valor
da causa70. Apesar da CCI estabelecer que os árbitros tenham um papel muito
activo na condução do processo arbitral e na regulação da conduta das partes no
mesmo, aqueles estão obrigados a seguir o disposto no seu Regulamento e a agir
em sintonia com a cultura arbitral da CCI. O Anexo IV ao Regulamento de Técnicas
para a Condução do procedimento contém várias sugestões acerca do modo como
os árbitros devem conduzir os processos arbitrais tramitados sob a sua égide.
69 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.13. 70 Sofia Ribeiro Mendes, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela Perspectiva dos Árbitros), 2012, p. 50.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
54
Igualmente no Regulamento do CAC se estabelece que os árbitros e as partes
deverão seguir a tramitação do processo que consta daquele (artigo 2.º, n.º1), salvo
a elaboração prévia de regras processuais pelas partes ou pelos árbitros (sempre
com respeito pelas regras inderrogáveis do Regulamento) ou, se previamente
elaboradas pelas partes, após obtenção do consentimento do Presidente do CAC ou
do tribunal arbitral se já se encontrar constituído.
A atribuição de poderes de gestão aos árbitros existe, também, no
Regulamento da LCIA (artigo 14.2).
A criação de regras não significa, obviamente, uma incerteza quanto ao
processo ou às regras essenciais. Pelo contrário, a fixação inicial de regras claras e
simples é a garantia de segurança e eficiência do processo arbitral, sem prejuízo,
evidentemente, de alterações posteriores que se mostrem necessárias.
É exactamente quanto a esta matéria que encontramos um dos dilemas do
processo civil: a rigidez das regras processuais pré-estabelecidas pelo legislador,
que se aplicam a todas as situações, independentemente das diferentes
características dos casos concretos. Contudo, a Reforma operada no processo civil
português, que culminou com a aprovação do novo Código de Processo Civil
(CPC)71, consagrou expressamente o dever de gestão processual (artigo 6.º). O
dever de gestão processual é um poder-dever que se traduz na obrigação do Juiz
fazer uma aplicação criteriosa das regras processuais, devendo, na prática, adaptar
o conteúdo e a forma dos actos processuais ao fim que visam atingir, garantir que
não são praticados actos inúteis e adoptar os mecanismos de agilização processual
previstos na lei.
Nos termos do n.º 3 do artigo 30.º da LAV, os árbitros devem indicar a lei
processual subsidiariamente aplicável, afastando a aplicação subsidiária
automática do CPC. Aliás, a escolha das regras do CPC é contraditória com o
espírito da arbitragem que é, precisamente, o de possibilitar a criação de regras
processuais flexíveis, quase casuísticas, que permitam um tratamento célere e
adequado ao caso72. Não obstante, os árbitros e partes têm a tendência para
escolher regras pré-definidas. É, por isso, comum a remissão para um regulamento
71 Aprovado pela Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho. 72 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, pp. 186-188; Sofia Ribeiro Mendes, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela Perspectiva dos Árbitros), 2012, p. 54; Filipe Alfaiate, A prova em arbitragem: perspectiva de direito comparado,, 2009, p. 133.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
55
institucional em arbitragem ad hoc. Há, no entanto, Regulamentos que não o
permitem, como a CCI, que estatui no seu artigo 1.º, n.º 2, que “ A Corte é o único
órgão autorizado a administrar arbitragens submetidas ao Regulamento”.
O CAC restringiu a aplicação do seu Regulamento em arbitragens ad hoc, ao
estabelecer que a remissão para o mesmo faz presumir a atribuição ao Centro da
competência para administrar a arbitragem (artigo 2º, n.º1 do Regulamento de
2014).
A lei não estabelece em que momento se devem criar as regras de
tramitação processual, sendo, contudo, aconselhável que o façam num momento
inicial do processo arbitral. Antes do litígio (e normalmente na altura da
celebração da cláusula compromissória), as partes ainda não sabem qual poderá
ser o futuro e eventual conflito em que se envolverão. Após o surgimento do
diferendo, as partes encontram-se de tal modo indispostas que dificilmente haverá
ambiente propício à criação de regras que possam satisfazer ambos os
contendentes73.
Como já foi referido, um dos princípios da arbitragem é o da autonomia das
partes. Desse princípio resulta que as partes podem estabelecer livremente as
regras processuais que se adeqúem à resolução do seu litígio, e os árbitros têm o
poder de tramitar o processo da forma como entenderem mais adequada, com a
limitação prevista e relativa às regras inderrogáveis do Regulamento (artigo 18.º).
Quando a estipulação de regras é posterior ao início do processo arbitral, mas
antes do tribunal arbitral se encontrar constituído, a sua eficácia está dependente
da concordância do Presidente do CAC (artigo 16.º, n.º2 do Regulamento de 2008 e
artigo 18.º, n.º 4 do Regulamento de 2014).
Nas arbitragens administradas pela CCI, se uma das partes se recusar a
participar na elaboração da Acta de missão ou a assiná-la, esse documento deverá
ser submetido à aprovação da Corte. Só assim, após a assinatura da Acta de missão
ou da sua aprovação pela Corte, poderá a arbitragem prosseguir (artigo 23, nºs 3 e
4).
Num processo que corre os seus termos no CAC, as demandadas vieram
suscitar a questão da língua do processo que, em seu entender, deveria ser a língua
73 Carlos Alberto Carmona, Flexibilização do procedimento arbitral, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
56
inglesa. Deste modo, requereram que as Demandantes apresentassem uma versão
em inglês do requerimento de arbitragem e, ainda, a prorrogação do prazo para a
apresentação da defesa.
Notificadas para responder ao requerimento, as demandantes sustentaram
que a língua do processo deveria ser a portuguesa e opuseram-se à prorrogação do
prazo requerida. De todo o modo, apresentaram espontaneamente uma versão
inglesa do requerimento de arbitragem.
Não se encontrava o tribunal arbitral constituído, sendo a ele que competia
fixar a língua do processo (artigo 16.º, n.º2). Uma vez que de afigurava necessário,
na fase inicial do processo, definir regras de apresentação das peças escritas até à
constituição do tribunal arbitral, o Presidente do CAC decidiu que as peças
processuais deveriam ser apresentadas em português e inglês, sem necessidade de
tradução dos documentos que as instruam.
No que respeita à questão do prazo para a apresentação da resposta ao
requerimento de arbitragem, decidiu o Presidente do CAC que o prazo de trinta
dias para a sua apresentação só se iniciasse com a notificação desse despacho, não
considerando, por isso, necessário prorrogar o prazo.
Um centro de arbitragem institucional, do qual o CAC não é excepção, tem
como objectivo garantir que os processos sob a sua égide decorrem de uma forma
justa, célere e eficaz, resultando, no final, uma decisão que possa ser executável.
Motivo pelo qual se exige a necessidade do regime processual especial que as
partes pretendem aplicar a uma arbitragem institucional passar pelo crivo da
instituição escolhida.
Se as Partes estabelecerem regras que se enquadrem nos princípios
fundamentais que as arbitragens submetidas ao CAC tem de respeitar, como o
princípio do contraditório e o princípio da igualdade de partes, o Presidente
poderá aceitar essas regras. Quando assim não seja, e as regras escolhidas pelas
Partes sejam contrárias aqueles princípios, não poderão ser aceites pelo CAC74.
Posto isto, importa afirmar que não será fácil identificar quais as regras do
Regulamento que serão imperativas ou inderrogáveis, mas algumas regras
relativas à competência do Presidente do CAC o serão, designadamente, as
74
Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, pp. 13-14.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
57
relativas à nomeação, recusa e substituição de árbitros, tendo em conta que são
essenciais à garantia da independência e imparcialidade do tribunal arbitral e do
processo equitativo75.
Foi apresentado um requerimento de arbitragem, ao abrigo do
Regulamento de 2014, cuja convenção de arbitragem tinha o seguinte teor:
“Todos os litígios resultantes ou que surjam no pretexto do presente
Contrato serão decididas definitivamente ao abrigo do Regulamento do
Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
também conhecido por Centro de Arbitragem Comercial, por três árbitros
segundo as referidas regras, excepto no que se refere à nomeação do
presidente do tribunal, o qual, em caso de desacordo entre as Partes,
será nomeado pelo Presidente do Tribunal da Relação de Lisboa.”
(sublinhado meu)
Da convenção de arbitragem se retira que as partes acordaram que na
composição de um tribunal arbitral plural para dirimir o seu litígio. A questão
importante neste exemplo será a de saber se o acordo entre elas quanto ao modo
como será escolhido o terceiro árbitro (em caso de desacordo) prevalecerá sobre o
disposto no artigo 8.º, n.º4 do Regulamento, que confere ao Presidente do Centro o
poder de proceder à designação dos árbitros em falta.
Como já foi avançado, nos termos do artigo 18.º, n.º 3, as partes podem, na
convenção de arbitragem ou em momento ulterior, estabelecer regras processuais
que não contendam com as disposições inderrogáveis do Regulamento do Centro.
Sendo a consequência da estipulação de regras que violem as disposições
imperativas do Regulamento, a recusa do Presidente do CAC em constituir o
tribunal arbitral (artigo 27.º, n.º2, alínea b).
Não obstante a regra da convenção de arbitragem só se aplicar em caso de
desacordo quanto à normação do árbitro, o CAC entendeu que se revelava
necessário efectuar uma avaliação da situação que perante si surgiu, por forma a
75
Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p. 14.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
58
que as partes não viessem a ser surpreendidas, numa fase mais avançada do
processo, com a decisão de recusa de constituição do tribunal arbitral.
De harmonia com o dispõe a LAV (artigo 10.º), as partes podem designar os
árbitros ou fixar o modo pelo qual eles serão escolhidos, nomeadamente
atribuindo a designação a um terceiro (como é o caso da convenção de arbitragem
em causa). Por outro lado, o acordo das partes abrange o que elas regulem
directamente, como também o regulamento para o qual tenham remetido (artigo
6º LAV), que no caso foi o Regulamento do Centro de Arbitragem Comercial.
A questão está, pois, em qualificar como imperativa ou não a disposição que
atribui ao Presidente do Centro o poder de nomear árbitros que as partes, directa
ou indirectamente, não tenham nomeado.
Caso se considere que a norma do Regulamento é imperativa, as partes
ficarão a saber que o Tribunal não será constituído se for um terceiro (que não o
Presidente do Centro) a fazer essa nomeação.
Nesta hipótese e estando as partes informadas quanto à irregularidade da
convenção, encontrar-se-ão, assim, na incomoda e indesejável situação de
continuarem com uma convenção válida para a resolução de um litigio que não
pode ser resolvido em arbitragem institucional no Centro que escolheram.
Uma solução a adoptar seria a alteração da convenção de arbitragem pelas
partes, de forma a torná-la conforme com o Regulamento do CAC. No entanto, e
porque as partes já se encontravam em litígio, dificilmente seria possível obter
consensos para proceder a essa alteração.
Outra solução possível poderá ser a de admitir a regra emanada da vontade
das partes, mas com uma limitação: a LAV quando refere que as partes podem fixar
o modo de nomeação dos árbitros, nomeadamente cometendo essa nomeação a um
terceiro e simultaneamente remetendo o litígio para o CAC, esse terceiro é,
obviamente, nos termos do Regulamento, o Presidente do CAC. Não parece ser
adequado, até do ponto de vista institucional, que o Presidente do CAC em caso de
desacordo solicite a nomeação de um árbitro ao Presidente do TRL para um
processo que corre sob a égide do Centro e cujo Presidente tem os poderes
descritos, conferidos pelos seus Estatutos e Regulamento. Nesta hipótese, as partes
deverão requerer directamente ao Presidente do TRL que proceda à nomeação do
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
59
árbitro em falta, e informar, ulteriormente, o Secretariado do CAC quando essa
nomeação ocorresse.
Por outro lado, também poderá ser de admitir o acordo das partes e ser o
Presidente do CAC a requerer a nomeação ao Presidente do TRL (sendo esta a
opção adoptada pelo Presidente do CAC). Pode argumentar-se que esta solução
permite uma maior flexibilização e possibilita, ao mesmo tempo, ensaiar as
melhores práticas arbitrais. Neste caso, o CAC aceitará a solução proposta pelas
Partes e, no caso destas não chegarem a acordo quanto à nomeação do árbitro, o
Presidente do CAC fará o requerimento ao Presidente do TRL para proceder à
nomeação. No entanto, será útil indagar junto das partes, antes de solicitar a
nomeação ao Presidente do TRL, se pretendem definir alguns critérios a enviar
juntamente com o pedido de nomeação, tais como:
a. Se preferem que o TRL indique mais do que um nome para as partes
poderem chegar a acordo num deles, cada uma preferir um deles ou
recusar um deles;
b. Se querem que os nomes respondam a um certo tipo de critérios
(experiencia prévia como arbitro ou advogado em arbitragens,
domínio de alguma língua estrangeira, experiencia profissional no
tipo de questões essenciais a tratar, trabalhos científicos nesse tipo
de questões, senioridade, etc.) adequadas ao caso concreto.
Por sua vez, Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira afirmam
que “não é pensável que possa haver uma arbitragem com o selo do Centro sem
que esteja vedada a este e ao seu Presidente a possibilidade, quando necessário, de
intervir na formação do tribunal para garantir a sua imparcialidade e
independência. Assim, não serão eficazes convenções que institucionalizem a
arbitragem no Centro, mas atribuem os poderes de nomeação e substituição dos
árbitros, caso necessário, a outras entidades, ainda que previstas na lei (v.g., o
presidente da Relação).76”
Após tudo o que já ficou dito, não posso deixar de concordar com as autoras
neste ponto. Efectivamente, o Centro de Arbitragem Comercial tem de garantir que
todas as arbitragens institucionais submetidas ao seu regulamento decorrem em
76
Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.14.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
60
cumprimento dos seus princípios fundamentais e, por isso, em respeito das suas
regras inderrogáveis. As regras relativas à regular constituição do tribunal arbitral
deverão ser tidas como regras inderrogáveis do Regulamento de 2008 e 2014, uma
vez que a questão da constituição do tribunal essencial é fulcral na arbitragem.
Deste modo, o CAC tem o direito e o dever de aferir e garantir que qualquer
tribunal arbitral constituído para os processos sobre a sua égide é independente e
imparcial. Caso assim não seja, poderá afectar a validade das sentenças arbitrais
proferidas. Posto isto, o CAC não pode abster-se de asseverar essa independência e
imparcialidade e, em caso de desacordo das partes, proceder à nomeação do
árbitro em falta pelo seu Presidente. Só assim o CAC garante a credibilidade e
segurança necessárias a um centro institucional de arbitragens, domésticas e
internacionais.
4.1.3. Prorrogação de prazos
A requerimento bem fundamentado do Demandado, pode o Presidente do
CAC prorrogar o prazo de 30 dias para apresentação da Resposta ao Requerimento
de Arbitragem (artigo 19, n.º2 do Regulamento de 2008 e artigo 20.º, n.º 3 do
Regulamento de 2014). Do mesmo modo, também o Presidente do CAC pode
prorrogar o prazo de 30 dias para o Demandante responder ao pedido
reconvencional e/ou às excepções deduzidas pelo Demandado (artigo 21.º, n.º 4 do
Regulamento de 2008 e artigo 21.º, n.º, por remissão para o artigo 20.º, n.º 3 do
Regulamento de 2014).
O Regulamento de 2008 limita a prorrogação dos prazos encontra-se
limitada quanto ao dobro do prazo para a apresentação da peça processual (artigo
19.º, n.º 2 e artigo 20.º, n.º 3). Esta disposição foi eliminada no Regulamento de
2014, onde não se encontra previsto qualquer limite para a prorrogação que pode
ser concedida pelo Presidente do CAC. Contudo, o deferimento do pedido de
prorrogação dos prazos está dependente da não objecção da contraparte e da
ponderação, por um lado, da celeridade e eficiência do procedimento arbitral e, por
outro, da autonomia das partes. Havendo objecção da outra parte, o pedido de
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
61
prorrogação só deve ser indeferido nos casos em que seja manifesto o intuito
dilatório da parte que a requereu77.
Em matéria de prorrogação de prazos, o Regulamento de 2014 confere, no
seu artigo 22.º, n.º2, a competência ao do Presidente para prorrogar o prazo de 30
dias para a resposta à arguição de competência do Tribunal Arbitral.
4.1.4. Regra geral da sua competência: decisão das questões suscitadas até à constituição do tribunal
De harmonia com o disposto no artigo 23.º do Regulamento de 2008 (artigo
28.º do Regulamento de 2014) “compete ao Presidente do Centro, sem prejuízo da
competência jurisdicional dos árbitros, decidir os incidentes que se suscitem até à
constituição do tribunal arbitral”.
Da leitura do artigo se retira que a competência jurisdicional é exclusiva do
Tribunal Arbitral que, uma vez constituído, tem competência para proferir
decisões definitivas sobre todas as matérias, inclusivamente sobre a sua própria
competência, podendo, além do mais, alterar qualquer decisão tomada pelo
Presidente do CAC78.
Deste modo se conclui que por razões de praticabilidade da arbitragem o
Presidente do CAC pode substituir-se provisoriamente ao Tribunal Arbitral,
decidindo qualquer incidente que se suscite até à sua constituição. O poder
conferido não é, assim, um poder jurisdicional, na medida em que as decisões do
Presidente do CAC são sempre provisórias e cautelares. Caso assim não fosse, as
suas decisões seriam anuláveis nos termos gerais, por serem proferidas sem que o
Presidente do CAC tenha competência79.
Correu os seus termos no CAC um processo institucional cuja sentença final
foi anulada pelo Tribunal Judicial de primeira instância. Posteriormente, essa
77
Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p. 15. 78 Ver Lino Diamvutu, Poderes do tribunal arbitral na apreciação da própria competência, in IV Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2011. 79 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p.16.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
62
decisão foi confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça, tendo, por isso, a
Demandante dado início a um novo processo arbitral. Sustentou, para o efeito, que
a anulação da sentença foi parcial, requerendo que fosse constituído tribunal
arbitral para julgar apenas a matéria que os meios judiciais comuns consideraram
que a decisão violou a Lei de Arbitragem. Os Demandados opuseram-se à
pretensão em causa, da Demandante pretender apenas uma constituição parcial do
processo, argumentando que não houve anulação parcial da sentença arbitral, mas
sim total.
O Presidente do Centro, entendeu que não deveria decidir sem que fosse
tentada uma solução consensual e sem que não fosse limitada à partida, a questão
da competência do tribunal arbitral. Assim, teve lugar, uma reunião entre o CAC e
os Mandatários das partes, tendo sido alcançado o seguinte consenso: a) as partes
considerariam que se manteria válida e em vigor a convenção de arbitragem que se
funda o processo; b) cada uma das partes nomearia um árbitro que, por seu lado,
nomeará o terceiro, para presidir ao Tribunal Arbitral; e c) constituído o Tribunal
Arbitral, será submetido para sua decisão, a título de questão prévia, o âmbito da
sua competência, ou seja, a apreciação de parte da sentença que a Demandante diz
ter sido anulada ou a apreciação do litígio na sua totalidade.
Devido ao que foi estabelecido na referida reunião, o Presidente do Centro
decidiu no sentido das partes designarem o árbitro que lhes competia,
prosseguindo-se conforme acordado.
4.2. Na constituição e composição do Tribunal Arbitral
4.2.1. O número de árbitros
O tribunal arbitral pode ser composto por árbitro único ou por três árbitros
(artigo 5.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigo 6.º, n.º 1 do Regulamento de
2014). Caso as partes nada estipulem, a regra no Regulamento de 2008 é a de que
tribunal será constituído por árbitro único (artigo 5.º, n.º 2). O Regulamento de
2014, no seu artigo 6.º, n.º 2, introduz uma alteração bastante relevante a esta
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
63
regra, na medida em que o Presidente do CAC tem a flexibilidade para, na falta de
estipulação das partes, poder adequar o número de árbitros em função das
características do litígio e da data de celebração da convenção de arbitragem, após
a audição daquelas. Neste caso, o tribunal arbitral poderá ser composto por três
árbitros, por determinação do Presidente do CAC (artigo 6.º, n.º 2 do Regulamento
de 2014).
A referência que é feita à data da convenção de arbitragem serve para
acautelar as expectativas das partes que, no tempo que medeia ente Setembro de
2008 e Março de 2014, não tenham acordado quanto ao número de árbitros por
contarem com a aplicação supletiva da regra que previa a constituição do tribunal
por árbitro único80.
Para a tomada de decisão de nomeação de um tribunal arbitral constituído
por três membros, o Presidente deverá ponderar os custos inerentes a essa
situação. Por um lado um tribunal plural confere mais confiança às partes; maior
facilidade dos árbitros tomarem decisões difíceis e/ou lidarem com partes muito
agressivas; e a decisões são, em regra, mais maduras. Por outro lado, temos a
maior celeridade de um único decisor e menores custos com a arbitragem.
A LAV, no silêncio das partes, dispõe que o tribunal será composto por três
árbitros (artigo 8.º, n.º 2). Apesar da alteração supra-referida, o novo Regulamento
de Arbitragem do CAC manteve, ainda assim, a regra de árbitro único, tal como é
maioritariamente consagrada nos centros arbitrais de referência, o Regulamento
da CCI (artigo 12.º, n.º 5), o Regulamento da LCIA (artigo 5.4). Por exemplo, no
Regulamento do CIDR (artigo 5.º), “se as partes não chegarem a acordo quanto ao
número de árbitros, um árbitro único será nomeado, salvo se o administrador, a
seu juízo, entender ser apropriado nomear três árbitros dada a magnitude,
complexidade ou outras circunstâncias do caso”.
80
Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, pp. 16-17.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
64
4.2.2. Composição do tribunal arbitral
No que respeita à composição do tribunal arbitral a regra é a de que os
árbitros são designados pelas partes ou pelos árbitros por estas nomeados.
Contudo, quando as partes ou os árbitros por estas nomeados não chegam a
acordo, a competência dessa designação é do Presidente do CAC.
Assim, se o tribunal arbitral for constituído por árbitro único e as partes não
o tiverem nomeado, a sua designação é da competência do Presidente do CAC
(artigo 7.º, n.º 2 do Regulamento de 2008 e artigo 8.º, n.º 2 do Regulamento de
2014).
Sendo o tribunal arbitral constituído por três árbitros, cada parte designará
um árbitro e o terceiro, que presidirá, será escolhido pelos árbitros indicados pelas
partes. Se alguma das partes não designe o árbitro que lhes caiba nomear ou os
árbitros indicados pelas partes não nomearem o terceiro árbitro, então a
competência para essa designação em falta será do Presidente do CAC (artigo 7.º,
n.º 4 e 5, artigo 8.º, n.º 2 do Regulamento de 2008 e artigo 8.º, n.º 4 e 5 do
Regulamento de 2014).
Havendo pluralidade das partes81, os poderes conferidos pelo Regulamento
do CAC são ainda mais amplos. Quando o tribunal arbitral seja composto por três
árbitros e o conjunto dos demandantes ou dos demandados não chegar a acordo
quanto à indicação do árbitro que lhes caiba nomear, a designação do árbitro em
falta será feita pelo Presidente do CAC (artigo 8.º, n.º 2 do Regulamento de 2008 e
artigo 9.º, n.º 2 do Regulamento de 2014).
O Regulamento de 2008 atribui competência ao Presidente do CAC para
nomear o árbitro cuja designação caberia à outra parte, quando o considere
necessário, caso em que deverá proceder também à imediata designação do
terceiro árbitro (artigo 8.º, n.º 2). Por sua vez, o Regulamento de 2014 vai mais
longe, permitindo que o Presidente do CAC possa – quando os demandantes ou
demandados além de não chegarem a acordo quanto à designação do árbitro,
tenham interesses conflituantes quanto ao mérito da causa, e se considerar
81 Sobre o tema ver Miguel Pinto Cardoso e Carla Gonçalves Borges, Constituição do tribunal arbitral em arbitragens multipartes, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
65
necessário para garantir a igualdade das partes – designar a totalidade dos árbitros,
ficando, assim, sem efeito a nomeação do árbitro que uma das partes já tiver
efectuado (artigo 9.º, n.º 3).
Esta regra, conhecida como regra Dutco, decorre de um caso da CCI com o
mesmo nome, onde correu uma acção arbitral contra dois membros do consórcio,
formulando pedidos distintos relativamente a cada um deles, vindo estes defender
a necessidade de instauração de processos diferentes, de modo a que cada um
pudesse escolher o “seu” árbitro. O acórdão da Cour de Cassation (de 7 de Janeiro
de 1992) anulou a sentença arbitral por não ter sido dado às partes igual
possibilidade de influir na constituição do tribunal arbitral. A igualdade é garantida
através da supressão a todos dessa potencialidade de influenciar a constituição do
tribunal arbitral, onde todos os árbitros serão nomeados pelo Presidente do
Centro82.
É essencial que em todo o procedimento seja respeitado o princípio da
igualdade das partes, que aqui se traduz na identidade da sua influência na
constituição do tribunal arbitral (artigo 30.º, n.º1, aliena b da LAV). A violação do
princípio da igualdade gera irregularidade na constituição do tribunal arbitral,
pelo que é fundamento de irregularidade nos termos do artigo 46.º, n.º 3, aliena a),
iv da LAV.
Nos Regulamentos dos centros de arbitragem internacionais, encontramos
regras idênticas, nomeadamente, no artigo 12.º do Regulamento da CCI e no artigo
6.º do Regulamento da CIDR.
Quanto ao Tribunal do LCIA, é este que nomeará o tribunal de arbitragem.
Prevê a regra de árbitro único, salvo acordo das partes e a menos que o Tribunal
do LCIA determine que, considerando todas as circunstâncias do caso, um tribunal
de três membros seja adequado (artigo 5.4).
Somente o Tribunal do LCIA tem poderes para nomear árbitros. Na
nomeação dos árbitros deve ter em conta a natureza da transacção, a natureza e as
circunstâncias da contenda; a nacionalidade; a localização; o idioma das partes; (se
houver mais de duas) o número de partes (artigo 5.5). Quando o tribunal de
82 Miguel Pinto Cardoso e Carla Gonçalves Borges, Constituição do tribunal arbitral em arbitragens multipartes, 2010, pp.141-143; Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa , 2014, pp. 17-18.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
66
arbitragem deva ser composto por três membros, o presidente que não será um
árbitro indicado pelas partes, será nomeado pelo Tribunal LCIA (artigo 5.6).
As partes podem acordar que qualquer árbitro seja nomeado por estas ou
por um terceiro, sendo esse acordo tratado como um acordo de indicação de um
árbitro. A pessoa assim indicada poderá ser nomeada como árbitro apenas pelo
Tribunal LCIA que, no entanto, pode recusar a nomeação caso não reúna as
qualificações exigidas ou não seja independente e imparcial (artigo 7.1). Se o
demandante, o demandado ou um terceiro deveria indicar um árbitro, e não o faça
dentro do prazo ou a qualquer tempo, o Tribunal LCIA poderá nomear um árbitro
não obstante a ausência de indicação e sem considerar qualquer indicação tardia
(artigo 7.2).
O Tribunal pode encurtar ou limitar qualquer prazo previsto no
Regulamento para a formação do tribunal de arbitragem. Mas já não terá
autoridade para encurtar ou limitar qualquer outro prazo (artigo 9.3).
4.2.3. Recusa da constituição do Tribunal arbitral
Findas as peças processuais e decididos os eventuais incidentes que hajam
sido suscitados, cabe ao Presidente do CAC definir a composição do Tribunal
Arbitral, através da designação do (s) árbitro (s) que lhe caiba nomear (artigo 26.º
do Regulamento de 2008 e artigo 27.º, n.º 1 do Regulamento de 2014). O tribunal
arbitral considera-se constituído com a aceitação do encargo por todos os árbitros
(artigo 26.º, n.º 3 do Regulamento de 2008 e artigo 27.º, n.º 3 do Regulamento de
2014).
No entanto, pode o Presidente do CAC recusar a constituição do Tribunal
arbitral em quatro situações, respeitando as três primeiras a situações de
inexistência de jurisdição de um tribunal arbitral por inexistência ou invalidade da
convenção de arbitragem, onde não fará qualquer sentido iniciar o processo
arbitral e uma última possibilidade que respeita à falta de pagamento dos encargos
com a arbitragem, caso em que o CAC também não iniciará o processo arbitral,
visto que o serviço prestado deve ser remunerado nas condições previstas pelo seu
Regulamento.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
67
Assim, será de se recusar a constituição do Tribunal Arbitral quando: exista
ou seja manifesta a nulidade da convenção de arbitragem83; a convenção de
arbitragem seja manifestamente incompatível com disposições inderrogáveis do
Regulamento84; não existindo convenção de arbitragem, o demandante tenha
apresentado proposta de celebração de convenção que remeta para o Regulamento
e a outra parte não aceite essa remissão85; e as partes não procedam ao pagamento
da provisão inicial para os encargos da arbitragem86.
4.3. Após a constituição do Tribunal Arbitral
4.3.1. Prorrogação de prazo
O Presidente do CAC pode, após requerimento fundamentado do tribunal
arbitral e não havendo oposição de ambas as partes, prorrogar o prazo de dois
meses para a prolação da sentença, a contar do encerramento do debate, e o prazo
de um ano para a conclusão da arbitragem, a contar da data de constituição do
Tribunal Arbitral (artigo 32.º, n.º5 do Regulamento de 2008 e artigo 33.º, n.º 5 do
Regulamento de 2013).
Mais, havendo alteração na composição do Tribunal Arbitral após a sua
constituição, pode o Presidente, a pedido dos árbitros, declarar que se inicia novo
prazo para a pronúncia da sentença final (artigo 32.º nº3 do Regulamento de 2008
e artigo 33.º, n.º 3 do Regulamento de 2013).
83 Cfr. artigo 26, n.º 2, alínea a) do Regulamento de 2008 e artigo 27.º, n.º 2, alínea a) do Regulamento de 2014. 84 Cfr. artigo 26, n.º 2, alínea b) do Regulamento de 2008 e artigo 27.º, n.º 2, alínea b) do Regulamento de 2014. 85 Cfr. artigo 26, n.º 2, alínea c) do Regulamento de 2008 e artigo 27.º, n.º 2, alínea c) do Regulamento de 2014. 86 Cfr. artigo 26, n.º 2, alínea d) do Regulamento de 2008 e artigo 27.º, n.º 2, alínea d) do Regulamento de 2014.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
68
4.3.2. Fixação dos encargos da arbitragem (honorários e encargos administrativos)
O Regulamento de 2014 introduz algumas alterações às regras
anteriormente aplicáveis. Desde logo, atribui ao Presidente do CAC a possibilidade
de minorar ou majorar os honorários dos árbitros, em função das características
de cada caso concreto. Ao passo que no Regulamento de 2008, os valores indicados
nas Tabelas só poderiam ser aumentados, e nunca diminuídos.
A fixação dos honorários87, após ouvidas as partes e o tribunal, deverá ter
em linha de conta não só o valor da arbitragem, mas também as circunstâncias do
caso concreto, a celeridade e eficiência do tribunal arbitral na condução do
processo, a sua complexidade e o tempo despendido pelos árbitros. Deste modo,
poderá diminuir até 60% ou elevar até 40% o valor resultante da aplicação da
Tabela n.º 1 anexa ao Regulamento de 2014 (artigo 50.º, n.º4). Como já se avançou,
no Regulamento de 2008, ao Presidente do CAC apenas é permitido elevar os
honorários dos árbitros aos valores resultantes da tabela n.º 1 de um coeficiente
máximo de 1,5, considerando a complexidade da arbitragem ou qualquer outra
circunstância relevante (artigo 48.º, n.º 4).
Quando a arbitragem termine antes da prolação da decisão final, o
Presidente pode, ainda, atender à fase em que o processo terminou ou a qualquer
outra circunstância que considere relevante (artigo 48.º, n.º 5 do Regulamento de
2008 e artigo 50.º, n.º 5 do Regulamento de 2014). Nos termos do Regulamento de
2014, terminando antes da audiência preliminar, pode diminuir os honorários até
30%, caso termine antes do início da audiência de julgamento, pode diminuir até
50% (artigo 50.º n.º 5).
Do mesmo modo, pode o Presidente do CAC fixar os encargos
administrativos, tendo em conta o valor da arbitragem (artigo 50.º, n.º 1 do
Regulamento de 2008 e artigo 52.º, n.º 1 do Regulamento de 2014). Neste caso, se
terminar antes da decisão final, os encargos podem ser reduzidos ponderando a
87 Ver sobre o tema Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, pp.19-21; José Miguel Júdice, Fixação dos Honorários dos Árbitros, in Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, (N.º 6), 2013, pp. 139-166.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
69
fase em que o processo arbitral foi encerrado ou qualquer outra circunstância que
considere relevante (artigo 50.º, n.º 4 do Regulamento de 2008). O Regulamento de
2014 é mais explícito, estabelecendo que se deve considerar, além do valor da
arbitragem, as circunstâncias de cada caso concreto e, em particular, os serviços
prestados pelo Centro, permitindo, assim, que o Presidente do CAC possa diminuir
até 80% ou elevar até 20% o valor resultante da aplicação da tabela n.º 2 (artigo
52.º, n.º 2).
Analisando o método aplicado nas arbitragens sob a égide da CCI,
verificamos que é estabelecida uma tabela de acordo com a qual os encargos são
calculados através de percentagens do valor da acção, sendo que a tabela fixa
intervalos com taxas percentuais que vão decrescendo à medida que o valor da
acção aumenta.
A Corte na CCI pode determinar os honorários dos árbitros em valores
superiores ou inferiores aos que poderiam resultar da aplicação da tabela em vigor,
se assim entender necessário, em virtude das circunstâncias excepcionais do caso.
(artigo 37.º). O Apêndice III ao Regulamento regulamenta as custas e honorários
da arbitragem, onde estipula, no artigo 2.º, que a Corte fixará os honorários de
acordo com a tabela de cálculo, devendo ter em consideração a diligência e a
eficiência do árbitro, o tempo gasto, a rapidez do processo, a complexidade do
litigio e a pontualidade com que a minuta da sentença arbitral tiver sido submetida
à Corte, de forma a chegar a uma importância dentro dos limites previstos ou, nos
casos excepcionais, do artigo 37 (2) do Regulamento, a um valor superior ou
inferior àqueles limites. Quando a composição do tribunal arbitral for plural, a
Corte poderá, discricionadamente, elevar o total dos honorários até um valor
máximo que, normalmente não deverá exceder o triplo dos honorários de um
árbitro. Em casos excepcionais, a Corte poderá fixar despesas administrativas da
CCI em valor inferior ou superior àquele que resultaria da aplicação da tal tabela,
mas sem que tal despesa exceda, normalmente, o valor máximo da tabela. Se a
arbitragem for concluída antes da prolação da decisão final, a Corte fixará
discricionariamente os honorários e despesas dos árbitros e as despesas
administrativas, tendo em conta o estágio atingido pelo procedimento arbitral e
quaisquer outras circunstâncias relevantes (n.8).
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
70
Pelo exposto, se conclui que as alterações introduzidas pelo Regulamento de
2014 aos artigos 48.º e 52.º do anterior Regulamento, vão de encontro às melhores
práticas internacionais, permitindo uma maior adequação dos valores às
circunstâncias do caso concreto, com a possibilidade de majoração ou redução da
fixação dos honorários dos árbitros e dos encargos administrativos por parte do
Presidente do CAC. A fixação dos valores com base, única e exclusivamente, no
valor do processo não é justa para as partes, nem para os próprios árbitros88.
4.3.3. Reclamação da conta
As partes podem reclamar da conta, no prazo de 10 dias contados da
notificação da liquidação dos encargos (artigo 56.º, n.º 3 do Regulamento de 2014).
A reclamação deverá ser endereçada ao Secretariado do CAC, que poderá entender
manter essa liquidação, elaborando para tanto informação que submete a à
entidade competente para a tomada de decisão, que será o Tribunal Arbitral e, na
impossibilidade de voltar a reuni-lo, do Presidente do CAC.
4.4. Arbitragens complexas
O conceito de arbitragens complexas têm origem na experiência arbitral
internacional, tendo sido, mais tarde, importado para Portugal.
As arbitragens complexas englobam as pluralidades de partes e de objectos.
Quanto às primeiras, surgem problemas de litisconsórcio, coligação, inicial ou
sucessiva, ou intervenção de terceiro. As segundas englobam a cumulação de
objectos processuais, pedidos e/ou causas de pedir, formulados por uma mesma
parte ou por partes contrárias (reconvenção e contra pedidos entre compartes).
Devido à fonte contratual da arbitragem, esta questão coloca problemas
quanto à vinculação da convenção de arbitragem por parte de terceiros não
signatários. Isto porque, como aponta Mariana França Gouveia, “esta extensão
88 Mariana França Gouveia e Joana Figueiredo Oliveira, Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014, p. 21.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
71
pode implicar a substituição da pessoa inicialmente vinculada (e então não há
pluralidade subjectiva) ou abrange outras pessoas, mantendo-se a relação
subjectiva inicial (e há, então, pluralidade)89.” Se no decurso do processo arbitral
ocorrer a substituição de alguma das pessoas inicialmente vinculadas, isso
implicará uma intervenção de terceiros ou uma habilitação. Esta situação poderá
pôr em causa a extensão da convenção de arbitragem a terceiros não signatários
da mesma90.
A LAV faz menção à adesão à convenção de arbitragem por quem
inicialmente não era parte, estabelecendo-se como requisito de admissibilidade da
intervenção de terceiros.
Também nesta matéria o Caso Dutco foi de uma importância fundamental.
Ora, como já foi dito, a Cour de Cassation sustentou que o princípio da igualdade na
constituição do tribunal arbitral era um direito irrenunciável das partes e, com
esse fundamento, anulou a sentença arbitral. Esta posição teve como consequência
a alteração de uma parte substancial da doutrina e de alguns Regulamentos de
instituições arbitrais91.
Em conformidade com aquela decisão, o Regulamento da CCI passou a
consagrar, no seu artigo 12.º, nºs 6 a 8, que as Partes plurais devem, em conjunto,
nomear um dos árbitros. Se não chegarem a acordo quanto a essa nomeação, a
Corte pode nomear todos os membros do tribunal arbitral, indicando quem é o
presidente.
O Regulamento do CAC de 2008, artigo 8.º, n.º 1 e o Regulamento do CAC de
2014, artigo 9.º, n.º 1, pretendem assegurar a igualdade das partes dispondo que
“considera-se como parte, para efeitos de designação de árbitros, o conjunto dos
demandantes ou dos demandados”. Igual disposição encontramos no Regulamento
da CCI (artigo 12.º, n.º 6).
A LAV (artigo 11.º) estabelece a regra da nomeação conjunta dos árbitros
pelas partes, activa e passiva em bloco, e na falta de acordo sobre a designação,
essa designação do árbitro em falta é feita pelo tribunal judicial. Contudo, o
89
Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios,, 2014, p.262. 90 Ver sobre o assunto, Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, pp. 152 e ss.; e Carla Gonçalves Borges e Ricardo Neto Galvão, A Extensão da Convenção de Arbitragem a Não Signatários, in VI Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013. 91 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios,, 2014, p.267.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
72
tribunal judicial só poderá nomear a totalidade dos árbitros quando no interior da
parte plural haja interesses conflituantes. São situações em que, embora existam
duas ou mais pessoas juridicamente autónomas, elas representam uma mesma
pessoa, entidade ou património. O essencial é garantir, de acordo com os princípios
do processo justo, a independência e imparcialidade do tribunal arbitral e não
tanto que as partes possam influir na sua constituição. Deverá sempre prevalecer a
igualdade das partes sobre o direito a cada uma delas individualmente
consideradas nomear o árbitro92.
4.4.1. Intervenção de terceiros
Segundo o princípio geral da arbitragem, as partes têm o direito de arbitrar
com quem quiserem, sendo aferida no momento da celebração do contrato essa
vontade de arbitrar conjuntamente.
A intervenção de terceiros93 verifica-se quando estejam reunidos dois
pressupostos alternativos, a vinculação de todas as partes na mesma convenção de
arbitragem, ou estando vinculadas por convenções diferentes compatíveis, a
circunstância do caso concreto revele que, no momento da sua celebração, as
partes aceitaram que o processo arbitral decorresse com a intervenção de todas
elas (artigo 25.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigo 26.º, n.º 1 do Regulamento
de 2014).
Há, assim, um alargamento das possibilidades de intervenção face ao regime
da LAV (artigo 36.º), que parece admitir apenas a intervenção de terceiros quando
vinculados pela mesma convenção de arbitragem que funda o requerimento de
arbitragem. Na génese deste artigo está o facto da arbitragem ser de fonte
contratual e, como tal, só há competência do tribunal arbitral se houver
convenção94. A intervenção só poderá ser admitida quando o terceiro aceitar a
constituição do tribunal arbitral.
92 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, pp. 270-271. 93 Sobre o assunto ver José Lebre de Freitas, Intervenção de terceiros em processo arbitral, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina 94 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios,, 2014, p
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
73
A LAV exige dois requisitos para a cumulação subjectiva: a não perturbação
do andamento do processo e a existência de razões de relevo que a justifique
(artigo 36.º, n.º 3) e só admite intervenções posteriores à constituição do tribunal
arbitral. Se a intervenção ocorrer antes da sua constituição, apenas são admitidas
em arbitragens institucionalizadas e desde que esse regulamento assegure a
observância do princípio da igualdade da participação de todas as partes na
escolha dos árbitros (artigo 36.º, n.º 6).
Assim, se a intervenção for requerida previamente à constituição do
tribunal arbitral, o Presidente do CAC tem poderes para decidir sobre a admissão
da intervenção de terceiros (artigo 25.º, n.º 1 do Regulamento de 2008 e artigo
25.º, n.º 2 do Regulamento de 2014). Esta decisão que não vincula o tribunal
arbitral, uma vez que, como já ficou dito, a competência do Presidente do CAC é
provisória, apenas se substituindo temporariamente àquele (artigo 25.º, n.º 4 do
Regulamento de 2014).
Quando aceite a intervenção de terceiros, a parte passará a ser plural e
como tal reger-se-à pelo disposto para a pluralidade de partes, devendo designar
conjuntamente com a contraparte o árbitro e, em caso de desacordo, essa
nomeação cabe ao Presidente do CAC (artigo 9º do Regulamento de 2014 e artigo
25.º, n.º 3 do Regulamento de 2014).
Após a recomposição do tribunal arbitral, este inicia funções, podendo,
inclusivamente, alterar a decisão do Presidente do Centro e declarar-se
incompetente para decidir o pedido que deu origem á intervenção. Se esta situação
se verificar, e de forma a evitar uma maior perda de tempo, a composição do
tribunal arbitral permanece inalterável (artigo 25.º, n.º 4 do Regulamento de
2014).
A intervenção de terceiros não deverá ser admitida quando, para além de
não estarem reunidos os requisitos exigidos por lei, o Presidente do CAC entenda
que o respectivo requerimento se destina a perturbar o normal andamento do
processo (artigo 25.º, n.º 2 do Regulamento de 2008).
Avanço como exemplo, um caso surgido no CAC, onde se aplicava o
Regulamento de 2008 e as demandadas requereram a intervenção provocada
principal de um terceiro, alegando, para o efeito que, tendo ele assumido a
responsabilidade solidária pelo cumprimento das obrigações do contrato, era
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
74
parte no contrato e por isso teria interesse em defender-se dos pedidos
reconvencionais deduzidos. A demandante não se pronunciou quanto à questão da
intervenção.
A intervenção de terceiros nos processos arbitrais vem prevista no artigo
25.º do Regulamento de Arbitragem de 2008, prevendo-se nessa disposição (n.º1)
que a intervenção possa ser requerida por iniciativa própria ou por iniciativa de
algumas das partes que já se encontra no processo.
Impõe esta disposição do Regulamento que os terceiros estejam vinculados
à convenção de arbitragem – e no caso concreto essa vinculação existe – e que,
quando chamados por quem já seja parte no processo, fiquem associados à parte
que requereu a intervenção.
Ora, a competência para apreciar o pedido de intervenção, como resultado
do mencionado artigo 25.º, n.º 1 do Regulamento de 2008, quando este é
formulado antes de constituído o tribunal arbitral, compete ao Presidente do
Centro.
No caso concreto, as demandadas requereram a intervenção do terceiro
para intervir, não como parte a si associada mas à demandante. Esta situação não
preencheu, assim, a previsão do artigo 25.º, n.º1 do regulamento do Centro, uma
vez que foi pretendido que o terceiro ficasse associado, não à parte que requereu a
intervenção, mas antes à contraparte.
Pelo exposto, o Presidente do Centro julgou-se incompetente para proceder
à apreciação do pedido de intervenção que lhe foi formulado, tendo sido indeferido.
4.4.2. Apensação de processos
“A apensação consiste na possibilidade de cumular num único processo
diversas pretensões que isoladamente poderiam dar lugar a vários processos95.”
Quer isto dizer que se opera a junção de dois ou mais processos em curso.
Quanto à apensação de processos, a LAV nada diz sobre o assunto96. Na
ausência de disposição na LAV, a doutrina divide-se entre quem entende que
95 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.276. 96 O mesmo se dizendo quanto à Lei-Modelo da UNCITRAL.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
75
dever-se-ão aplicar as regras relativas à intervenção de terceiros97 e quem defende
que “a apensação só será admissível se houver acordo das partes ou se o
regulamento da instituição arbitral escolhido o permitir. Não havendo acordo das
partes, tal apensação não é possível, porque violaria a convenção arbitral e logo
transcenderia a jurisdição do Tribunal Arbitral.98” Uma vez que a arbitragem
expressa a autonomia das partes, sempre que estas escolherem um regulamento
arbitral em que a apensação se encontre prevista, nenhuma questão se levanta e
não haverá qualquer dúvida que a apensação será admissível nesses termos.
Questão diversa é a de saber se poderá ser admissível a apensação sem esse
acordo das partes.
No Regulamento de 2008 exigia-se que a apensação seja requerida
previamente à constituição do Tribunal Arbitral (artigo 24.º, n.º 2), ao passo que o
novo Regulamento de 2014 flexibiliza a possibilidade de apensação, na medida em
que não estabelece qualquer limite temporal para a requerer.
Assim, a apensação de processos pode ser requerida ao Presidente do CAC
desde que se verifique, alternativamente, a identidade das partes ou os requisitos
relativos à intervenção de terceiros (artigo 26.º, n.º 1 do Regulamento de 2014).
O requerimento de apensação de processos poderá ser apresentado depois
da constituição do tribunal arbitral, constituindo esta uma das situações que o
poder do Presidente do CAC se estende para lá da constituição do tribunal.
Na medida em que o Regulamento de 2008 não permite a apensação dos
processos após a constituição do tribunal arbitral, sendo aquela determinada, o
tribunal que já se encontre constituído no primeiro processo, será o tribunal
constituído também para o segundo. Se o tribunal arbitral não se encontrar
constituído no primeiro processo, será constituído para ambos os processos
(artigo 24.º, n.º 4).
Dispõe o Regulamento de 2014 que, em caso de aceitação da apensação e
quando ocorra a identidade das partes, podem manter-se os árbitros já designados.
Deste modo, e se ambos os tribunais se encontrarem constituídos, prefere-se o
tribunal constituído em primeiro lugar (artigo 26, n.º 3, primeira parte). Na
97
Daniel Proença de Carvalho e António Abreu Gonçalves, A apensação de processos arbitrais, in V Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2012, p. 190. 98
Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, p.277.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
76
situação da apensação ser aceite mas não se verificar essa identidade das partes é,
então, necessário reconstituir o tribunal visto que uma das partes passará a ser
plural, aplicando-se a regra da indicação de árbitros de partes plurais (artigo 26.º,
n.º 3, segunda parte).
A apensação não deverá ser admitida quando a necessidade de reconstituir
o tribunal, o estado do processo ou outra qualquer razão especial a tornar
inconveniente (artigo 26.º, n.º 2 do Regulamento de 2014). Se alguma das
arbitragens já se encontrar num estado avançado, a reconstituição pode ser
bastante prejudicial à célere resolução do caso e às expectativas das partes.
A flexibilização introduzida nesta matéria pelo Regulamento de 2014, ao
deixar de exigir que a apensação seja requerida antes da constituição do tribunal
arbitral (como está previsto no artigo 24.º do Regulamento de 2008), não pode
servir para utilizações abusivas pelas partes. Daí que a cláusula geral prevista no
n.º 2 do artigo 26.º permita ao Presidente do CAC recusar a apensação, mesmo que
se encontrem verificados os seus requisitos substanciais.
O Regulamento da CCI confere à Corte o poder de ordenar a apensação de
duas arbitragens, se ambas estivessem pendentes na CCI e couberem em algumas
das situações previstas nas alíneas do artigo 10.º99. Deste modo a apensação será
admissível quando as partes tiverem dado o seu acordo ou se a convenção de
arbitragem for a mesma para todas as pretensões deduzidas. Já se as pretensões se
fundarem em convenções arbitrais diversas, mas compatíveis, exige o preceito que
as partes sejam as mesmas e que as acções estejam em conexão com a mesma
relação jurídica.
Os regulamentos citados permitem a apensação sem acordo das partes, não
há aqui violação da convenção arbitral, na medida em que a remissão para um
regulamento de instituição arbitral fez incluir nessa convenção (e logo, nesse
acordo) as regras da instituição escolhida100.
99 Quando: a) as partes tenham concordado com a consolidação; b) todas as demandas sejam formuladas com base na mesma convenção de arbitragem; c) caso as demandas sejam formuladas com base em mais de uma convenção de arbitragem, as arbitragens envolvam as mesmas partes, as disputas nas arbitragens sejam relacionadas à mesma relação jurídica, e a Corte entenda que as convenções de arbitragem são compatíveis. 100 Mariana França Gouveia, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 2014, pp. 277-278.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
77
4.5. A introdução da figura de árbitro de emergência no novo Regulamento de Arbitragem (2014)
Como forma de combater uma das limitações da arbitragem, da protecção
do titular do direito antes da constituição do tribunal arbitral, o Regulamento de
2014 introduziu uma nova figura, o árbitro de emergência, que em muitos centros
arbitrais internacionais já é reconhecido. Depois da constituição do tribunal
arbitral tal limitação não se coloca, na medida em que este é o órgão competente
para decretar medidas cautelares101.
Ora, o árbitro de emergência traduz-se na nomeação muito rápida de um
árbitro único, que tem como propósito a decretação de uma medida urgente
necessária à tutela de um direito que se quer proteger. As normas relativas ao
árbitro de emergência encontram-se previstas no artigo 5.º do Regulamento de
2014 e Anexo I – Regulamento sobre o Árbitro de Emergência); no artigo 37.º,
relativo a medidas urgentes de protecção no Regulamento da CIDR e no artigo 29.º
e Apêndice V – Regras sobre o árbitro de emergência do Regulamento da CCI.
Quer isto dizer que as Partes têm a faculdade de requerer a nomeação de
um árbitro de emergência, ainda antes da constituição do Tribunal Arbitral, para
que decrete uma providência cautelar102. Contudo, esta faculdade não é de
exercício livre, uma vez que é necessário que a convenção de arbitragem seja
celebrada em data posterior à da entrada em vigor do Regulamento, ou seja 1 de
Março de 2014, e as partes não tenham convencionado a sua exclusão (artigo 5.º,
n.º 1 e artigo 5 n.º 9 a contrario).
Em casos de flagrante falta de jurisdição ou competência do Centro, o
Presidente pode recusar liminarmente o requerimento de árbitro de emergência
(artigo 2.º do Anexo). São essas situações: quando não seja admissível o recurso ao
árbitro de emergência nos termos do Regulamento (n.º 1, alínea a); quando não
exista convenção de arbitragem que atribua ao Centro a competência para
101 Mariana Mendes Costa, Os poderes do tribunal arbitral para decretar medidas cautelar, in IV Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina e também Pedro Caetano Nunes, Arbitragem e Medidas Cautelares. Algumas Notas, in VI Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013. 102 Artigo 37.º, n.º1 do Regulamento do ICDR; Artigo 29.º, n.º 1 do Regulamento da CCI.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
78
administrar ou seja manifesta a nulidade de convenção de arbitragem ou
incompatibilidade desta com disposições inderrogáveis do Regulamento de
Arbitragem (n.º 1, alienas c e d); e quando não tenha sido efectuado o pagamento
para a provisão dos encargos (n.º 1, alínea b).
Após a apresentação do requerimento de árbitro de emergência, o
requerente dispõe do prazo de 15 dias para submeter o requerimento de
arbitragem. Esse prazo pode ser prorrogado pelo árbitro de emergência ou, até à
sua nomeação, pelo Presidente do CAC (artigo 3.º, n.º 1).
O Presidente do CAC pode nomear o árbitro de emergência, no prazo
máximo de dois dias após103 a recepção do respectivo requerimento, desde que o
tribunal arbitral não se encontre constituído (artigo 4.º, n.º 1). No Regulamento do
CIDR, o prazo máximo é ainda mais curto, uma vez que “o administrador, dentro de
um dia útil (….) designará árbitro único emergencial, extraído de um painel de
árbitros de emergência, existente para tal finalidade” (artigo 37, n.º 3).
O árbitro de emergência mantém sempre a sua competência para decidir o
pedido de decretamento da providência cautelar urgente, independentemente de
ocorrer a constituição do tribunal arbitral (artigo 5.º, n.º 5)104.
Aplica-se ao árbitro de emergência os deveres e recusa dos árbitros,
contudo os prazos para a apresentação do pedido de recusa e as eventuais
pronúncias da parte contrária e do árbitro de emergência são reduzidos para três
dias (remissão prevista no artigo 4.º, n.º 4)105.
Na falta de acordo entre as partes, é da competência do Presidente do CAC
fixar o lugar do procedimento de árbitro de emergência (artigo 5.º, n.º 1)106. Cabe,
igualmente, ao Presidente do CAC prorrogar o prazo previsto para o árbitro de
emergência proferir a decisão, a requerimento do próprio ou oficiosamente. O
prazo é de 15 dias a contar da data em que, após a nomeação, o procedimento lhe
tenha sido remetido ou da data da notificação do requerimento do árbitro de
emergência ao requerido, caso seja posterior (artigo 7.º, nºs 1 e 2).
103 Também no Apêndice V ao Regulamento da CCI, artigo 2.º, n.º 1, o prazo para a nomeação de árbitro de emergência é de 2 dias. 104 Artigo 37.º, n.º 4 do Regulamento do CIDR. 105 Também assim o é no Apêndice V ao Regulamento da CCI, artigo 2.º, nºs 4 e 5, onde o árbitro deverá permanecer independente e imparcial, devendo assinar uma declaração de aceitação, disponibilidade, imparcialidade e independência. 106 Apêndice V ao Regulamento da CCI, artigo 4.º, n.º1.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
79
Por último, os honorários do árbitro de emergência são fixados pelo
Presidente do CAC, podendo, depois de ouvir as partes, aumentar os honorários e
os encargos administrativos até ao dobro, consoante as circunstâncias concretas
do caso, em especial, a complexidade da questão e o tempo despendido pelo
árbitro de emergência (artigo 10.º, nºs 2 e 5).
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
80
4.6. Despacho relativo à arbitragem necessária nos termos da Lei n.º 62/2011, de 12 de Dezembro
A Lei n.º 62/2011 criou um regime de composição dos litígios emergentes
de direito de propriedade industrial quando estejam em causa medicamentos de
referência e medicamentos genéricos. De acordo com o artigo 2.º do referido
diploma, esses litígios ficam sujeitos à arbitragem necessária que, por sua vez,
poderá ser institucionalizada ou não institucionalizada. O artigo 3.º, n.º 1 estipula
que “no prazo de 30 dias a contar da data de publicação a que se refere o artigo
15.º-A do DL n.º 176/2006, de 30 de Agosto (…), o interessado que pretenda
invocar o seu direito de propriedade industrial nos termos do artigo anterior deve
fazê-lo junto do tribunal arbitral institucionalizado ou efectuar pedido de
submissão do litígio a arbitragem não institucionalizada”. Ao que não se encontrar
expressamente consagrado no artigo 3.º da Lei n.º 62/2011, será “aplicável o
regulamento do centro de arbitragem institucionalizado ou não institucionalizado,
escolhido pelas partes e, subsidiariamente, o regime geral da arbitragem
voluntária” (artigo 3.º, n.º 8).
Quando as partes convencionarem que a arbitragem, ao abrigo daquele
regime, decorrerá no CAC, não se levanta qualquer problema uma vez que não se
encontra em causa a competência do Centro, nos termos do Regulamento que foi
expressamente aprovado para este tipo de arbitragens.
A questão surgiu quando uma das partes desencadeou o início de um
processo arbitral no CAC e a contraparte, tendo recebido a respectiva notificação
se veio opor. Da leitura do supra-referido artigo 2.º parece resultar que, no que se
refere à arbitragem institucionalizada, se pressupõe a necessidade de acordo das
partes. No entanto, o artigo 3.º, n.º 1, parece contrariar essa posição, permitindo
que a institucionalização não dependa da vontade comum.
Nesta situação estamos perante uma lei que prevê um regime de arbitragem
necessária (ou seja, pode um processo arbitral ter início sem existir vontade
comum das partes para o efeito), mas, ainda assim, se deverá respeitar ao máximo
o núcleo essencial do sistema arbitral, que consiste na autonomia e vontade das
partes.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
81
O CAC, principalmente com a adopção do seu novo Regulamento (de 2014),
decidiu aceitar que as arbitragens necessárias a que se refere a Lei 62/2011
possam ser nele institucionalizadas. O artigo 1.º do Regulamento de 2008 previa
que qualquer litígio que por lei fosse susceptível de ser resolvido por meio de
arbitragem voluntária, pudesse ser submetidos pelas partes, mediante convenção
de arbitragem, ao CAC. Ora, o artigo 1.º do Regulamento de 2014 deixou de fazer a
referência à arbitragem voluntária e a menção à convenção de arbitragem, sendo a
sua redacção: “qualquer litígio (…) que por lei seja susceptível de ser resolvido por
meio de arbitragem pode ser submetido a tribunal arbitral no Centro de
Arbitragem Comercial”. Assim, se clarificou que o Regulamento é aplicável também
a arbitragem necessária. Apesar do CAC aceitar a competência abstracta que
resulta da Lei n.º 62/2011, não poderá aceitar uma competência concreta quando
isso não resultar da vontade das partes, mesmo que seja apenas a vontade de
apelar ao Centro por não se poder evitar a tramitação arbitral.
O CAC entendeu não possuir competência contra a vontade explícita de uma
das partes, na medida em que isso poderá prejudicar a independência,
imparcialidade de eficácia que tem sempre demonstrado no desempenho das suas
funções. Acresce que, a qualquer momento poderão as partes (com o acordo dos
membros do tribunal arbitral quando já tenham sido nomeados) decidir
institucionalizar a arbitragem, podendo até resultar da tácita aceitação pelo
silêncio de alguma das partes.
Posto isto, decidiu o Presidente do CAC que, quando uma entidade inicie um
processo arbitral ao abrigo da Lei n.º 62/2011, invocando optar pela solução de
arbitragem institucionalizada, o Secretariado notifique a outra parte para que a
mesma se pronuncie se aceita a competência do CAC. Se nenhuma das partes
rejeitar a competência do CAC, no prazo que houver sido determinado, este deve
considerar-se competente, nos termos da Lei n.º 62/2011. No entanto, se uma das
partes recusar a competência do CAC, e enquanto manter essa recusa, aquele
deverá considerar-se incompetente, devendo a arbitragem seguir como ad hoc,
sem prejuízo de (como se verifica com alguma regularidade) o Secretariado do CAC
encontra-se disponível para administrar essas arbitragens.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
82
Por fim, estabeleceu que o despacho deverá ser notificado às partes em
arbitragens que tenha sido recusada a competência do CAC por uma daquelas e
que o mesmo deverá ser publicado no website do CAC.
Parece-me que a submissão de um litígio a um Centro de Arbitragem
institucionalizado carece, evidentemente, da concordância das partes quanto à
escolha deste tipo de arbitragem, bem como quanto ao Centro de Arbitragem
concretamente escolhido. Essa exigência de acordo quanto ao recurso a arbitragem
institucionalizada é compreensível, na medida em que determina a sujeição das
partes a normas previamente definidas e que irão reger a sua arbitragem. Para
além do mais, a necessidade de as partes acordarem em submeter o seu litígio a
arbitragem institucionalizada parece resultar do referido artigo 3.º, n.º 8 da Lei n.º
62/2011, que determinou a obrigatoriedade de recurso a arbitragem necessária
mas que ressalva que é “aplicável o regulamento do centro de arbitragem
institucionalizado ou não institucionalizado escolhido pelas partes” (itálico meu).
Deste modo, não poderá uma das partes submeter o litigio a um centro de
arbitragem sem obter o prévio consentimento da (s) contraparte (s).
Na ausência de acordo entre as partes quanto à escolha da arbitragem
institucionalizada e, em particular, quanto à instituição que a deva administrar, a
modalidade de arbitragem a adoptar não poderá deixar de ser a arbitragem ad hoc,
desde logo, por permitir a ambas as partes, necessariamente por acordo e em
decorrência do princípio da igualdade, estabeleçam as regras do seu processo.
Deste modo, verifica-se uma situação de insusceptibilidade de recurso à
arbitragem institucionalizada sob a égide do CAC, devido à falta de um pressuposto
essencial, o que necessariamente torna o Centro incompetente para administrar a
arbitragem destinada a dirimir o litígio.
Conforme determina o artigo 8.º da Lei 62/2011, sendo aplicável o regime
da arbitragem voluntária, sempre estaríamos perante a falta de convenção arbitral
o que consubstancia uma situação de nulidade, nos termos do artigo 3.º da LAV
que remete para o n.º 1 do artigo 2.º do mesmo diploma. Ora, esta nulidade implica
a incompetência do tribunal arbitral para dirimir o litígio, constituindo
fundamento de anulação da sentença arbitral, cfr. artigo 46.º, n.º 2, alíneas a), ii) e
iv) da LAV. Assim, é de congratular a posição adoptada pelo Centro de Arbitragem
Comercial de se considerar incompetente quando alguma das partes recuse essa
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
83
competência. Ainda que assim não fosse, deveria o tribunal arbitral declarar-se
incompetente para julgar o litígio que lhe foi submetido, atenta a nulidade
resultante da falta de acordo em submeter o litígio ao CAC ou a inexistência de
convenção arbitral.
Caso o tribunal arbitral decidisse conhecer o litígio violaria manifestamente
o princípio da igualdade previsto na alínea a) do artigo 16.º da LAV, visto que uma
das partes teria, por um lado, decidido unilateralmente submeter o litígio a
arbitragem institucionalizada e, por outro lado, submetê-la ao CAC em concreto.
Dos processos que entraram no CAC ao abrigo do referido diploma legal,
várias foram as partes que recusaram a competência do Centro para administrar a
arbitragem institucionalizada. Tendo sida suscitada a questão da incompetência do
Centro, no sentido da impossibilidade da arbitragem decorrer sob a sua égide, e em
conformidade com o Despacho n.º 1/2014, o Secretariado do CAC procedeu à
notificação daquele à parte que se opôs, e também à parte que desencadeou o
pedido de arbitragem institucionalizada.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
84
5 – Descrição dos poderes, intervenções e decisões do Presidente do CAC observadas no decurso do estágio
desenvolvido
Para a elaboração desta parte específica do meu relatório, foram analisados
20 processos institucionais que correm ou correram os seus termos no Centro de
Arbitragem Comercial. De entre esses processos, foram examinadas 54 decisões
proferidas pelo Presidente do CAC. O gráfico n.º 1 aborda a distribuição dos 20
processos analisados pelos respectivos anos de entrada no CAC.
Os processos relativos aos anos de 2012, 2013 e 2014 corriam os seus
termos durante os meses do estágio efectuado, e por mim foram acompanhados.
Quanto ao processo de 2010 e aos dois processos de 2011, encontravam-se
concluídos, mas decidi incluir três decisões proferidas – que respeitaram aos
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
85
incidentes de intervenção de terceiros e de renúncia do árbitro – por considerá-las
relevantes para este projecto.
O gráfico n.º 2 mostra que tipo de situações que o Presidente foi chamado a
intervir e, por sua vez, o gráfico n.º 3 pretende demonstrar o sentido das decisões
proferidas.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
86
Pela análise dos gráficos, verificamos que as situações mais solicitadas ao
Presidente do CAC respeitam a prorrogações de prazos. Como se verá no gráfico
n.º 4, a grande maioria dos requerimentos de prorrogação de prazos
correspondem a pedidos efectuados pelo Demandado para apresentar a defesa.
Seguidamente, encontramos as situações referentes à definição e composição do
tribunal arbitral e questões referentes ao pagamento dos encargos da arbitragem.
No extremo oposto, encontramos apenas uma questão relativa à definição de
regras processuais, já descrita neste trabalho, onde foi pelo Demandante requerido
que o Presidente do CAC definisse a língua do processo, tendo o mesmo decidido as
peças processuais deveriam ser apresentadas em língua portuguesa e língua
inglesa.
No que respeita ao gráfico n.º 2, verificamos que a grande maioria das
intervenções solicitadas ao Presidente do CAC foram deferidas, nove foram
indeferidas e para as restantes nove foram adoptadas soluções diversas.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
87
5.1. Prorrogação de Prazos
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
88
Quanto às prorrogações de prazo, o gráfico n.º 4 indica-nos que tipo de
prazos foi requerida a sua prorrogação, sendo que o gráfico n.º 5 nos mostra que
apenas um dos pedidos foi indeferido e outro teve uma solução diferente, onde o
Presidente entendeu não ser necessário prorrogar o prazo, iniciando-se a
contagem do prazo para apresentar a defesa com a notificação do despacho que
definia a língua das peças processuais a apresentar, referido supra.
Num dos processos, foi requerido pelo Demandado que o prazo para
pagamento da provisão inicial fosse fixado em 60 dias, a contar da data de
notificação do valor final da provisão após decisão sobre o requerimento,
operando assim a prorrogação do prazo previsto no Regulamento de 2008. O prazo
que está previsto no artigo 53.º, n.º 1 do Regulamento e é fixado em 10 dias. O
mesmo artigo 53.º, nos seus nºs 2 e 3, prevê as consequências da inobservância da
prestação da provisão, as quais assumem particular gravidade. Entendeu o
Presidente do CAC não ter o poder de derrogar nem o prazo, nem as consequências
da sua inobservância, pelo que o pedido foi indeferido.
No que respeita às duas situações referentes à escolha de árbitro, foi pelos
árbitros designados pelas partes requerida a prorrogação de prazo para a escolha
do terceiro árbitro, que iria presidir ao tribunal arbitral, visto terem obtido
consensos quanto ao perfil da pessoa a designar, mas não terem chegado a
concretizar essa nomeação. Ambas as situações foram deferidas pelo Presidente do
CAC.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
89
5.2. Outras questões suscitadas até à constituição do TA
No que respeita a outras questões suscitadas até à constituição do tribunal
arbitral, encontramos um requerimento a invocar a extemporaneidade da
apresentação da defesa pelo Demandado, tendo o Presidente do CAC decidido
julgar-se incompetente para conhecer a questão, uma vez que essa decisão é da
competência do tribunal arbitral, após a sua constituição.
Numa outra arbitragem foi requerida pelas partes a suspensão do processo
arbitral, em virtude daquelas se encontrarem em negociações transaccionais com
vista a colocar termo ao litígio surgido, tendo o Presidente do CAC deferido o
pretendido.
Como outro exemplo temos uma acção arbitral de anulação de deliberações
sociais onde foi requerido pelo Demandante, como acto prévio incidental, a
nomeação pelo Presidente do CAC de um curador ad litem à Demandada.
Fundamentou, para o efeito, existir um conflito de interesses actuais entre os
administradores e a Demandada, dado terem interesse pessoal e directo no
resultado do litígio.
Considerou o Presidente do CAC que nem todas as normas e institutos de
processo civil são aplicáveis em bloco no processo arbitral. Acresce que, na falta de
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
90
disposição legal ou de Regulamento de Arbitragem que o consinta, uma decisão
que substitua o representante legal da Demandada, sem a sua intervenção, não
poderia ser eficaz. Concluindo que as decisões arbitrais têm efeitos exclusivamente
em relação às partes, estendendo-se a terceiros apenas quando a lei o estabeleça,
desde que seja possível a sua intervenção no processo.
Pelos argumentos expostos, foi indeferido por não caber na esfera de
competências do Presidente do CAC a nomeação de curador ad litem, que entendeu
só poder ser feita pelos tribunais estatais.
No âmbito de outro processo arbitral, o Demandante qualificou a
arbitragem como prévia e requereu a redução dos prazos previstos no
Regulamento de 2008 para metade.
Os Contratos de Fornecimento (cláusula 49.ª, n.º 2), de Contrapartidas
(cláusula 28.ª, n.º 9) e de Fornecimento de Sobresselentes (cláusula 40.ª, n.º 2),
outorgados pelas partes, estabeleciam que “qualquer dos sujeitos das relações
contratuais pode requerer arbitragem prévia, designadamente com vista à
obtenção de decisão meramente declarativa de questões de interpretação,
execução, incumprimento, invalidade, resolução ou redução do presente contrato,
sendo, nesse caso, reduzidos a metade os prazos resultantes da aplicação da alínea
a) do n.º 1, qualquer que seja o objecto.”.
A redacção dessas cláusulas contratuais parece pressupor que o mecanismo
de arbitragem prévia contratualmente previsto e invocado pela Demandante
apenas pode ser requerido pelas partes nos Contratos para efeitos de obtenção de
uma decisão meramente declarativa.
Por sua vez, o Demandado opôs-se à redução do prazo para apresentar a
sua defesa, com fundamento em que os pedidos formulados pelo Demandante
excediam a natureza declarativa da arbitragem prévia. Não se encontrava
constituído o Tribunal Arbitral, encontrando-se a decorrer o processo para a sua
constituição. Quanto à questão preliminar sobre a qualificação da natureza da
arbitragem – se prévia, se comum – suscitada naquela fase inicial do processo, o
Presidente do CAC entendeu que excedia a sua competência, devendo pronunciar-
se incidentalmente sobre a natureza do litígio com relação à duração da extensão
do prazo para a apresentação da defesa, nos termos do artigo 19.º, n.º 2 do
Regulamento e 2008.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
91
Pela análise do requerimento de arbitragem e do pedido do Demandado
sobre a alteração da natureza da arbitragem e da prorrogação do prazo, resultou
com suficientemente clareza que o litígio envolvia questões de facto e de direito de
elevada complexidade, pelo que entendeu estar justificada a prorrogação do prazo
para apresentar a defesa. A questão de qual o prazo (15 ou 30 dias) dependia da
natureza da qualificação da arbitragem como prévia ou como comum. Na fase do
processo onde se estava, e na ausência de discussão contraditória sobre a mesma e
de decisão do tribunal arbitral ainda não constituído, razões cautelares impuseram
o respeito pela conformação e qualificação do objecto do processo feita de acordo
com o entendimento do Demandante, sem prejuízo de eventualmente poder o
tribunal constituído considerar que o mesmo é diferente. Posto isto, o Presidente
do CAC concedeu a prorrogação do prazo para apresentar a defesa por 15 dias.
Também aqui foi incluída a situação abordada anteriormente, em que a
Demandante iniciou um novo processo arbitral, pretendendo uma continuação
parcial do processo, tendo as Demandantes entendido que não houve anulação
parcial da sentença arbitral, mas sim total. A solução adoptada foi realizar uma
reunião entre as partes, para se chegar a um consenso quanto a essa questão.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
92
5.3.Definição e composição do Tribunal Arbitral
Decidi autonomizar este ponto, uma vez que dentro de todo o espectro de
poderes que são conferidos ao Presidente do CAC, os que se referem à definição e
composição do Tribunal Arbitral são de crucial importância para a credibilização
dos processos arbitrais e do próprio Centro de Arbitragem Comercial.
Já foi dito que é da sua competência definir a composição do tribunal
arbitral, no fim dos articulados, designando, se for caso disso, árbitro ou árbitros
que lhe caiba nomear nos termos da convenção de arbitragem e do Regulamento.
Assim, verifiquei que, num processo, o Demandante e o Demandado
nomearam cada um o árbitro que lhes cabia designar. No entanto, os árbitros
nomeados pelas partes não chegaram a acordo quanto à nomeação do terceiro
árbitro, que presidiria ao Tribunal arbitral. Deste modo, essa nomeação competia
ao Presidente do CAC, cfr. artigo 7.º, nºs 3 e 5 do Regulamento de 2008, que a ela
procedeu.
Em dois processos arbitrais, as partes não chegaram a acordo quanto ao
número de árbitros que deveriam constituir o Tribunal Arbitral que, por isso,
deveria ser composto por árbitro único (artigo 5.º do Regulamento de 2008).
Assim sendo, salvo se as partes o tivessem feito – o que não fizeram – a nomeação
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
93
de árbitro único foi da competência do Presidente do CAC (artigo 7.º, n.º 2 do
Regulamento), que procedeu a essa designação.
Noutro caso, as partes acordaram expressamente que o tribunal arbitral
fosse constituído por árbitro único, a designar pelo Presidente do CAC, que assim
procedeu.
Uma situação que mereceu uma solução diferente foi a de um tribunal
arbitral deveria ser composto por árbitro único, a designar pelo Presidente do CAC,
de acordo com as posições assumidas pelas partes nas peças processuais
apresentadas. Atenta a natureza do litígio, a sua eventual complexidade, a natureza
internacional da arbitragem, bem como os montantes envolvidos, entendeu o
Presidente do CAC ser aconselhável procurar a participação das partes na escolha
do árbitro único. Para tanto, e à semelhança da prática de algumas importantes
instituições de arbitragem internacional, foi apresentado às partes um conjunto de
nomes para que se pronunciassem no sentido de saber se tinham alguma oposição
ou se se encontravam especialmente de acordo com algum dos nomes. Deste modo,
as partes foram notificadas de que dispunham de 10 dias para se pronunciarem,
findo o qual o Presidente do CAC procederia à nomeação do árbitro se houvesse
oposição a todos os nomes ou existindo algum acordo quanto a um dos nomes
avançados. Tendo em conta a posição assumida pelas partes, foi escolhido um dos
nomes propostos.
Esta solução adoptada, no meu entender, é a que melhor conjuga a garantia
de independência e imparcialidade dos tribunais arbitrais constituídos sob a égide
do CAC e a vontade das partes, princípio basilar em arbitragem. Com esta solução
inovadora, foi às partes possibilitado escolher o árbitro que iria dirimir o seu litígio,
sem se derrogar as normas do Regulamento que atribuem competência de
definição do tribunal arbitral ao Presidente do CAC, na medida em que foi pelo
mesmo exercido o seu direito e dever de aferir a garantir a independência e
imparcialidade do tribunal, indicando as pessoas de indiscutível saber e
experiência no domínio da arbitragem que considerou estarem melhor
qualificadas para julgar o litígio pendente.
Temos, ainda, a situação da convenção de arbitragem que atribuía a
competência de designação do terceiro árbitro, na falta de acordo entre os árbitros
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
94
nomeados pelas partes, ao Presidente do TRL. Posição que mereceu acolhimento
pelo Presidente do CAC, conforme se explicou supra.
Num outro processo, foi suscitada pelo Demandado uma questão que se
prendeu com a oportunidade de nomeação do árbitro por parte da Demandante.
No Requerimento de Arbitragem, o Demandante propunha que no prazo de 15 dias
a contar da data de apresentação daquele nomeasse o seu árbitro; o Demandado
nomeava o árbitro no prazo de 15 dias a partir da data em que fosse informado da
nomeação do terceiro árbitro; e, por sua vez, os dois árbitros nomeados pelas
partes procederiam, no prazo de 30 dias a contar da nomeação do segundo árbitro,
à nomeação do árbitro que presidiria ao Tribunal arbitral.
As partes acordaram que o tribunal arbitral deveria ser constituído por três
membros. O modo de escolha dos árbitros pode ser acordado na convenção de
arbitragem ou em momento posterior (artigo 7.º, n.º 1 do Regulamento de 2008), e
também nesta matéria as partes haviam previsto o modo de escolha: cada parte
designaria um árbitro e esses dois, designariam o terceiro que presidiria ao
tribunal arbitral. Onde as partes divergiram foi no momento em que deveria ser
designado o árbitro por parte da Demandante.
O momento em que os árbitros são indicados pelas partes não está
expressamente previsto no Regulamento de 2008, havendo, assim, a necessidade
de conjugar o artigo 7.º da composição do tribunal arbitral, com o artigo 17.º, n.º 2,
alínea d) e o artigo 26.º, n.º 1.
No que se refere ao artigo 17.º, o que a disposição prevê é que no
requerimento de arbitragem possam ser dadas indicações sobre o tribunal arbitral,
sendo que a expressão “se for caso disso” deve ser interpretada no sentido de que
todas as questões relativas à composição do tribunal arbitral que já estiverem
definidas, nomeadamente a designação dos seus elementos, então não se torna
necessária essa indicação.
O momento em que cabe ao Presidente do CAC nomear árbitros cuja
nomeação esteja em falta, ou que os que tem de nomear por esse ser o modo
previsto na convenção de arbitragem, verifica-se após estar concluída a fase em
que as partes apresentaram as suas posições quanto ao litígio (artigo 26.º, n.º 1 do
Regulamento de 2008). Durante a fase em que as partes apresentaram as suas
pretensões (Requerimento de Arbitragem, Petição Inicial, Contestação e demais
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
95
articulados) poderão as partes indicar o árbitro. Só quando não o fizerem terá o
Presidente do CAC de o fazer. Não resulta do Regulamento de 2008 que a
Demandante tenha de designar o árbitro no Requerimento de Arbitragem e o
Demandando tenha de o fazer com a defesa. Aliás, no processo em concreto
nenhuma das partes assim procedeu.
O Demandado entendeu que, face à posição assumida pelo Demandante no
seu requerimento de arbitragem, este estava obrigado a fazer essa nomeação e,
não o tendo feito, fez precludir esse direito. No entanto, entendeu o Presidente do
CAC que o Demandante fez uma proposta contratual que estava expressamente
qualificada como tal, à outra parte, de em 15 dias nomear o árbitro. Durante esse
período o Demandado não se pronunciou quanto ao assunto de nomeação dos
árbitros. À luz do direito português (direito que se aplica ao contrato e também à
arbitragem a decorrer no nosso território) a proposta contratual apresentada pelo
Demandante só se mantém durante o prazo fixado por esta. Findo esse prazo, a
proposta deixa de ser vinculante, é o que dispõe expressamente o artigo 228.º, n.º
1, alínea a) do Código Civil.
Nestes termos, o Presidente do CAC considerou válidas as designações que
as partes fizeram dos seus árbitros.
Quanto à situação de deferimento, foi apresentado pelo Demandante um
requerimento de recusa do árbitro designado pela Demandada ao Presidente do
CAC, atentas as relações económico-profissionais que mantinha com a Demandada
e respectiva Mandatária, descritas na declaração de independência e
imparcialidade. Fundamentou a Demandante que as circunstâncias reveladas nas
declarações proferidas pelo árbitro geraram uma fundada suspeição relativamente
à sua independência e imparcialidade face à Demandada e, por isso, revelavam-se
fundamento suficiente para sustentar a recusa do árbitro.
O árbitro tendo tomado conhecimento do requerido pronunciou-se
entendendo que o pedido de recusa não tinha fundamento, mas que como a função
de árbitro apenas deve ser exercida quando aceite livremente por todas as partes,
apresentou a sua renúncia. Que foi aceite pelo Presidente do CAC.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
96
5.4. Intervenção de Terceiros
Nos dois requerimentos suscitando um incidente de intervenção de
terceiros, podemos verificar que num caso foi deferido e no outro o Presidente
decidiu pelo indeferimento.
No que respeita ao primeiro caso, o Demandante requereu a intervenção
principal provocada, como seu associado, de uma pessoa que também foi
outorgante do contrato promessa de mútuo, que continha a convenção de
arbitragem. Nem o chamado, nem o Demandado se pronunciaram quanto ao
pedido de intervenção de terceiros. Nos termos do artigo 25.º do Regulamento, e
em virtude do terceiro estar vinculado à convenção de arbitragem, o Presidente do
CAC deferido o requerido, admitindo a intervenção principal provocada de terceiro.
O processo onde foi indeferida a intervenção de terceiro respeita à situação
já descrita anteriormente, a propósito da descrição dos poderes do Presidente do
CAC nessa matéria. Nesse processo, a intervenção foi indeferida uma vez que a
parte que a requereu fê-lo com o intuito do terceiro intervir como parte associado
à contraparte, o que não preenche a previsão do artigo 25.º, n.º 1 do Regulamento
de 2008.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
97
5.5. Pagamentos dos encargos da arbitragem
Quanto à matéria dos encargos da arbitragem, vários foram os pedidos
feitos ao Presidente do CAC, quer pelas partes, quer pelo tribunal arbitral.
A título de exemplo, foi requerido pelo tribunal arbitral o pagamento
intercalar aos árbitros, por conta do valor final dos honorários, tendo o Presidente
ficado de se pronunciar posteriormente, em virtude do CAC estar a estudar, em
abstracto, os critérios a aplicar a esse tipo de pedidos.
Num outro processo, alegou o tribunal arbitral que a arbitragem era de
assinalável complexidade, onde iria ser requerida uma peritagem muito extensa,
pelo que solicitou que os honorários dos árbitros fosse elevados, nos termos do
artigo 52.º, n.º 2 do Regulamento de 2008, mediante a aplicação de um coeficiente
de 1,5. Ouvidas as partes, estas manifestaram a sua concordância, tendo o
Presidente do CAC concedido a majoração solicitada. Face à posição assumida
pelas partes, ficou ainda acordado que se as partes pusessem termo ao processo
antes da sentença arbitral, seria ponderada pelo Presidente do CAC uma eventual
redução do valor dos honorários majorados, designadamente em função da fase
processual em que ocorresse e se tal viesse a ser requerido por alguma das partes.
Ficou ainda acordado que as partes renunciavam ao direito de impugnação,
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
98
previsto no artigo 17.º, n.º 3 da LAV, se viesse a ser considerado aplicável aquele
procedimento.
No âmbito de outro processo foram as partes notificadas pelo Secretariado
do CAC para proceder, cada uma delas, ao pagamento da provisão inicial, no
montante por aquele calculado. Tendo em conta os valores concretos no processo,
o Secretariado fixou o valor da provisão inicial, para cada uma das partes, que não
excedeu 35% do valor provável dos encargos da arbitragem (artigo 52.º, n.º 2). O
demandante procedeu ao pagamento desse valor, já o Demandado apresentou um
requerimento onde colocou diversas questões que foram apreciadas pelo
Presidente, a saber:
1. O prazo para pagamento da provisão inicial a efectuar pelo Demandado
fosse suspenso enquanto o requerimento não fosse apreciado. Esta questão
prende-se com a admissibilidade da reclamação sobre a fixação do
montante de provisão e sobre se, a mesma admitida, tem eficácia
suspensiva enquanto sobre ele não houver decisão. O Regulamento é
omisso no que respeita à faculdade de reclamação da fixação do montante
da provisão. O artigo 54.º, que havia sido citado pelo Demandado, prevê a
hipóteses de reclamação apenas quanto à liquidação final dos encargos da
arbitragem. No entanto, entendeu o Presidente do CAC que os actos
processuais por si praticados são susceptíveis de impugnação, de acordo
com os princípios gerais do processo, pelo que admitiu a reclamação com
efeitos suspensivos do despacho fixando a provisão.
2. A decisão de determinação do valor da acção e consequente liquidação de
encargos da arbitragem e fixação do valor de provisão inicial a pagar pelo
Demandado aguarde pela constituição do tribunal arbitral, que foi
indeferido.
3. O valor da acção arbitral fosse rectificado. Tendo sido indeferido por não
afigurar caber a decisão do mesmo na sua competência. Só o acordo das
partes o permitiria fazer na fase em que se encontrava o processo.
Considerou o Presidente do CAC que não deveria alterar o objecto do
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
99
processo, tal como foi conformado pelas partes, cabendo a estas ou a uma
eventual limitada correcção do tribunal arbitral.
4. O valor da provisão inicial a efectuar por ambas as partes, quando
conjuntamente consideradas, não excedesse 35% do montante provável dos
encargos da arbitragem. Foi indeferido, tendo em conta que a literalidade
do preceito invocado, artigo 52.º, n.º 2 do Regulamento de 2008 não deixa
grandes dúvidas e que o entendimento de que o limite aí fixado é para cada
uma das partes é, ainda, reforçado pelo número seguinte do mesmo artigo.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
100
6 – Conclusão
Seguindo os objectivos previstos para o estágio curricular, o estágio no CAC
transformou-se num complemento fundamental a toda a formação teórica
adquirida na Faculdade durante o 1º ciclo de estudos, tal como na fase lectiva do 2º
ciclo, e, ainda, contribuiu para a minha experiência prática no mundo do Direito,
especialmente do Direito da Arbitragem e Direito Comercial e do trabalho.
Considero, por isso, que foi extremamente positivo o estágio realizado, no
qual pude, por um lado, desempenhar todas as funções do Secretariado do CAC e,
por outro, acompanhar o desenvolvimento dos processos que no Centro corriam
termos, assim como acompanhar um sem número de sessões dos vários tribunais
arbitrais, como audiências preliminares, sessões de produção de prova pericial,
sessões de produção de prova testemunhal e sessões destinadas às alegações finais
das partes.
Durante estes meses em que pertenci à equipa do Secretariado do CAC, não
me cingi à condição de estagiária, tendo participado em todas as tarefas
desempenhadas por todos os que ali trabalham, desde o primeiro momento. Desse
modo, pude constatar que, fruto da sua organização, estatutos e Regulamentos, o
Centro de Arbitragem Comercial promove a administração e gestão de processos
arbitrais, institucionais e ad hoc, de uma forma simples, célere e eficaz,
demonstrando ser um grande apoio nas diversas fases processuais, não só ao
tribunal arbitral, como às partes e aos demais intervenientes no processo. A
aprovação de um novo Regulamento de Arbitragem, que entrou em vigor em 2014,
aliado ao facto dos Estatutos do CAC imporem que o seu Conselho de Direcção e o
Secretariado sejam constituídos por pessoas idóneas e com qualificações
comprovadas ao nível da arbitragem, devendo actuar com isenção, independência,
imparcialidade e em respeito do dever de confidencialidade, veio reforçar o papel
do Centro de Arbitragem Comercial como um dos centros de arbitragem de
referência em Portugal, que está na vanguarda das melhores práticas
internacionais arbitrais.
O aprofundamento do conhecimento dos poderes do Presidente do CAC
permitiu-me perceber a importância da sua intervenção nos processos que correm
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
101
os seus termos no Centro, sendo um garante da credibilidade, estabilidade e
confiança no Centro. A este nível é fundamental a intervenção do Centro, na pessoa
do seu Presidente, na composição e definição do Tribunal Arbitral e nas garantias
acrescidas que oferece quanto à imparcialidade e independência dos árbitros,
assegurando a credibilidade e idoneidade dos tribunais constituídos sob a sua
égide.
Em jeito de conclusão posso afirmar que todas as expectativas que tinha
foram superadas e excedidas, sendo de enaltecer a possibilidade conferida pela
Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa de aliar a fase lectiva do
mestrado com estas iniciativas plenas de uma componente muito prática, da qual o
meu estágio foi exemplo.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
102
7 – Bibliografia ALFAIATE, Filipe, A prova em arbitragem: perspectiva de direito comparado, in II Congresso
do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra,
Almedina, 2009.
ALMEIDA, Carlos Ferreira de, A convenção de arbitragem: conteúdos e efeitos, in I
Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,
Coimbra, Almedina, 2008.
BAPTISTA, Luiz Olavo, Confidencialidade na Arbitragem, in V Congresso do Centro de
Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina,
2012.
BARROCAS, Manuel Pereira, Manual de Arbitragem, Coimbra, Almedina, 2010.
BORGES, Carla Gonçalves e Galvão, Ricardo Neto, A Extensão da Convenção de Arbitragem a
Não Signatários, in VI Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de
Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013.
CARAMELO, António Sampaio, Decisões interlocutórias e parciais no processo arbitral:
possível natureza e objecto, in II Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de
Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2009.
CASANOVA, Nuno Salazar, Reflexões Práticas sobre a Ética na Arbitragem. Uma Introdução
ao Tema, in VI Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e
Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013
CARDOSO, Miguel Pinto e BORGES, Carla Gonçalves, Constituição do tribunal arbitral em
arbitragens multipartes, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio
e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010.
CARMONA, Carlos Alberto, Flexibilização do procedimento arbitral, in III Congresso do
Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina,
2010.
CARVALHO, Daniel Proença de e GONGALVES, António Abreu, A apensação de processos
arbitrais, in V Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e
Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2012.
COSTA, Mariana Mendes, Os poderes do tribunal arbitral para decretar medidas cautelar, in
IV Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2011.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
103
DIAMVUTU, Lino, Poderes do tribunal arbitral na apreciação da própria competência, in IV
Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2011.
FREITAS, José Lebre de, Intervenção de terceiros em processo arbitral, in III Congresso do
Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina,
2010.
GOUVEIA, Mariana França, Curso de Resolução Alternativa de Litígios, 3ª Edição, Coimbra,
Almedina, 2014.
GOUVEIA, Mariana França, e Oliveira, Joana Figueiredo, Os poderes do Presidente do Centro
de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, 2014.
JÚDICE, José Miguel, Fixação dos Honorários dos Árbitros, in Revista Internacional de
Arbitragem e Conciliação, (N.º 6), 2013, pp. 139-166.
JÚDICE, José Miguel, A constituição do tribunal arbitral: características, perfis e poderes dos
árbitros, in II Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2009.
LEMES, Selma Ferreira, A independência e a imparcialidade do árbitro e o dever de
revelação, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010.
LOUSA, Nuno Ferreira, A escolha de árbitros: a mais importante decisão das partes numa
arbitragem?, in V Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e
Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2012.
MACEDO, Joaquim Shearman de, Organização do Processo Arbitral, in VI Congresso do
Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra,
Almedina, 2013.
MARTINEZ, Pedro Romano, Constituição do Tribunal Arbitral e Estatuto do Árbitro, in
Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação, 2012 (N.º 5).
MENDES, Armindo Ribeiro, A uniformização do direito da arbitragem através da adopção
da Lei-Modelo da CNUDCI sobre a arbitragem comercial internacional, in V Congresso do
Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra,
Almedina, 2012.
MENDES, Sofia Ribeiro, Organização do Processo Arbitral e da Audiência (Visto pela
Perspectiva dos Árbitros), in VI Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara
de Comércio e Indústria Portuguesa Coimbra, Almedina, 2013.
MIRANDA, Agostinho Pereira de, Investir em virtude: o dever de revelação dos árbitros, in
Revista Internacional de Arbitragem e Conciliação (N.º 6), 2013.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
104
MIRANDA, Agostinho Pereira de, O estatuto deontológico do árbitro: passado, presente e
futuro, in III Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2010.
NUNES, Pedro Caetano, Arbitragem e Medidas Cautelares. Algumas Notas, in VI Congresso
do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,
Coimbra, Almedina, 2013.
PEREIRA, Frederico Gonçalves, O Estatuto do Árbitro: algumas notas, in V Congresso do
Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra,
Almedina, 2012.
PINHEIRO, Luís de Lima, Recurso e anulação de decisão arbitral: admissibilidade,
fundamentos e consequências, in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de
Comércio e Indústria Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2008.
REIS, Bernardo, Reflexões Práticas sobre a Ética na Arbitragem: Perspectiva do Árbitro, in VI
Congresso do Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria
Portuguesa, Coimbra, Almedina, 2013.
VICENTE, Dário Moura, Portugal e as convenções internacionais em matéria de arbitragem,
in I Congresso do Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa,
Coimbra, Almedina, 2008.
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
105
Índice
1 – Introdução .................................................................................................................. 7
2 - O Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa .................................................................................................... 9
3 – Funcionamento do Centro de Arbitragem Comercial em particular o Secretariado – as actividades práticas desenvolvidas durante o estágio ............................................................................................................................................. 14
3.1. Fase dos articulados: a tramitação dos processos institucionais e dos processos ad hoc ....................................................................................................... 14
3.1.1. Acta de Instalação e Requerimento de Arbitragem ................................. 16
3.1.2. Defesa e Resposta(s) ................................................................................... 19
3.1.3. Provisões ..................................................................................................... 20
3.1.4. Constituição do Tribunal Arbitral .............................................................. 22
3.2. Fase intermédia (a audiência preliminar) ....................................................... 23
3.3. Fase de produção de prova e alegações finais e acompanhamento das sessões do Tribunal Arbitral .................................................................................... 27
3.3.1. Prova pericial .............................................................................................. 29
3.3.2. Prova testemunhal ...................................................................................... 31
3.3.3. Prova documental ....................................................................................... 35
3.3.4. Gravação e transcrição das audiências ..................................................... 36
3.3.5. Alegações finais ........................................................................................... 37
3.2. Sentença Arbitral ............................................................................................... 38
4 – Os poderes do Presidente do Centro de Arbitragem Comercial ...... 42
4.1. Antes da constituição do Tribunal Arbitral ..................................................... 43
4.1.1. Escusa, recusa e substituição de árbitro ................................................... 43
4.1.2. Definição de regras processuais ................................................................ 53
4.1.3. Prorrogação de prazos ............................................................................... 60
4.1.4. Regra geral da sua competência: decisão das questões suscitadas até à constituição do tribunal ....................................................................................... 61
4.2. Na constituição e composição do Tribunal Arbitral ........................................ 62
4.2.1. O número de árbitros ................................................................................. 62
4.2.2. Composição do tribunal arbitral ................................................................ 64
4.2.3. Recusa da constituição do Tribunal arbitral ............................................. 66
4.3. Após a constituição do Tribunal Arbitral ......................................................... 67
4.3.1. Prorrogação de prazo ................................................................................. 67
4.3.2. Fixação dos encargos da arbitragem (honorários e encargos administrativos) .................................................................................................... 68
4.3.3. Reclamação da conta .................................................................................. 70
4.4. Arbitragens complexas ...................................................................................... 70
4.4.1. Intervenção de terceiros ............................................................................ 72
4.4.2. Apensação de processos ............................................................................. 74
4.5. A introdução da figura de árbitro de emergência no novo Regulamento de Arbitragem (2014) .................................................................................................... 77
Relatório de Estágio no Centro de Arbitragem Comercial da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
106
4.6. Despacho relativo à arbitragem necessária nos termos da Lei n.º 62/2011, de 12 de Dezembro ................................................................................................... 80
5 – Descrição dos poderes, intervenções e decisões do Presidente do CAC observadas no decurso do estágio desenvolvido ................................. 84
5.1. Prorrogação de Prazos ...................................................................................... 87
5.2. Outras questões suscitadas até à constituição do TA ..................................... 89
5.3.Definição e composição do Tribunal Arbitral ................................................... 92
5.4. Intervenção de Terceiros .................................................................................. 96
5.5. Pagamentos dos encargos da arbitragem ........................................................ 97
6 – Conclusão ............................................................................................................. 100
7 – Bibliografia .......................................................................................................... 102
top related