resenha - a poética de aristóteles

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPECENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

JOÃO LENON ALVES FERREIRA

Resenha

Trabalho solicitado pela professora Mariana Salerrno para a disciplina de Teoria da Literatura II.

COSTA, Lígia Militz da. A poética de Aristóteles: mimese e verossimilhança. São Paulo: Ática, 1992.

A MIMESE E A VEROSSIMILHANÇA NA POÉTICA

Aristóteles não propõe simplesmente a arte pela arte (a autonomização da estética): “(...) o poeta deve ser mais fabulador que versificador, porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações.”. Portanto, o conteúdo é muito relevante.

Ligia Militz aponta algumas conclusões que se pode chegar a partir da descrição de mimese e verossimilhança feita por Aristóteles. A mimese é imitação da realidade, mas não uma reprodução. Para tal atividade, devem-se seguir determinadas regras para se alcançar efeitos preestabelecidos. A principal regra é estruturação da representação em torno do mito, ou seja, da ação. Esta é o objeto da representação que deve seguir sempre os critérios da verossimilhança.

“A verossimilhança situa a mimese nas fronteiras ilimitadas do ‘possível”. O possível é o objeto das representações e se configura naquilo que é necessário, lógico, causal dentro da organização do mito. A verossimilhança possui um desdobramento externo e interno, pois as ações do mito devem possuir uma relação de lógica e necessidade com as referências exteriores de tempo e espaço e também na sua disposição estrutural do material verbal. Esta é a mais importante na criação literária. Enfim na atividade de mimese tudo pode ser verossímil desde que alcance com êxito os objetivos da criação poética.

FICHAMENTO

“[A mimeses, na civilização grega] nunca correspondeu, entretanto, a qualquer realismo grosseiro.” (p. 5) // “Distante das mais altas exigências pedagógicas e morais e limitada a representar, num terceiro nível, as formas originárias, a mimese foi depreciada por Platão.” (p. 6) // “[Aristóteles] refutou, contudo, o conceito platônico [de mimese], enaltecendo o valor da arte justamente pela autonomia do processo mimético face à verdade preestabelecida. [...] O critério do verossímil, que merecera a crítica de Platão por ser apenas ilusão da verdade, torna-se, com Aristóteles, o princípio que garante a autonomia da arte mimética.” (p. 6) // “[A Poética] circunscreve-se aos limites da tragédia e da epopéia, oferecendo apenas como promessa estudo posterior de outras espécies de ‘poesia’, como é o caso da comédia, citada no início do capítulo VI.” (p. 7) // “A Poética reconhece explicitamente como gêneros somente a tragédia, a epopéia e a comédia, ou seja, as espécies miméticas que implicam a transformação do caráter do modelo (homem comum) para melhor (tragédia e epopéia) ou para pior (comédia).” (p. 12) // “Homero será considerado por Aristóteles como o poeta supremo, no gênero austero ou sério, e o precursor tanto da tragédia quanto da comédia.” (p. 15) // “A teoria da tragédia é à base de toda a teoria da arte contida no texto aristotélico.” (p. 18) // “[A tragédia é definida por Aristóteles como] a representação de ações de homens de caráter elevado (objeto da imitação), expressa por uma linguagem ornamentada (meio), através do diálogo e do espetáculo cênico (modo), e visando à purificação das emoções (efeito catártico), à medida que suscita o temor e a piedade no espectador.” (p. 18) // CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MÍMESE A PARTIR DA POÉTICA: “a poesia (arte literária) é mimese: imitação, representação (cap. I).” (p.47) // “mimese corresponde a um processo construível através de meios, objetos e modos (cap. I, II e III).” (p. 47) // “a mimese pode ser produzida. “Através de dois modos: narrativo (próprio da epopéia) e dramático (próprio da tragédia).” (p. 48) // “a mimese se explica como uma tendência congênita no homem, ao qual apraz tanto produzi-la quanto contemplá-la; o prazer que a mimese determina envolve uma aprendizagem (conhecimento) e um reconhecimento (identificação com uma forma original) (cap. IV).” (p. 48) // “a tragédia se identifica com a mimese de qualidade superior, em contraponto com

a mimese efetuada pela comédia (...) (cap. VI).” (p. 48) // CONSIDERAÇÕES SOBRE MITO & MIMESE: “na Poética, praticamente toda a mimese pode ser compreendida pelo estudo do mito trágico, porque, sendo à base da mimese, o mito com ela se identifica (cap. VII a XIV).” (p. 49) // “o mito é a representação de uma ação que compõe um todo uno (...).” (p.49) // “a mimese, que o mito opera, supõe seleção e ordenação dos elementos segundo a probabilidade e a necessidade, daí não corresponder à representação de acontecimentos reais ou históricos, mas de acontecimentos possíveis.” (p. 49) // “o encadeamento causal que estrutura a ação, na mimese, segundo o verossímil (provável) e o necessário (lógico), torna a poesia mais geral ou universal que a história, circunscrita a relatos de acontecimentos particulares.” (p. 49) // “é a capacidade de compor um mito que define um homem como poeta (artista)”. (p. 49) // “todas as partes que compõem o mito – peripécia, reconhecimento e catástrofe – subordinam-se aos princípios do verossímil e do necessário.” (p. 50) // “o próprio desenlace do mito trágico deve decorrer do arranjo das ações e, não, do deus ex machina.” (p. 50) // [Em contraste a Platão] “a mimese [em Aristóteles] reúne, assim, duas exigências: a reprodução reconhecível do modelo original e a sua elevação ética.” (p. 51) // “um recurso da mimese trágica é o efeito de surpresa, o qual, mesmo inverossímil, pode parecer verossímil, porque é verossímil que aconteçam coisas inverossímeis.” (p. 50) // “a tragédia é mais verossímil do que a epopéia; esta admite com mais facilidade o uso do irracional.” (p. 52) // “o paralogismo é um recurso da mimese trágica que foi ensinado pelo supremo poeta épico: Homero; coube a ele ensinar como convencer, dizendo o que é falso a partir de uma estratégia verossímil; enquanto o silogismo é um recurso que leva à aceitação de uma conclusão verdadeira, o paralogismo leva à admissão de um raciocínio falso.” (p. 52) // “o verossímil é o critério que deve nortear a escolha dos argumentos para a composição mimética; um argumento impossível que convença é melhor do que um possível que não convença; o próprio irracional, utilizado com aparência razoável de racional, torna-se aceitável.” (p. 52).

CONCLUSÕES

“O conceito aristotélico de mimese não significa mera imitação ou reprodução da ‘realidade’.” (p. 53) // “a construção mimética é presidida por um critério fundamental: a verossimilhança [o possível, e não o verdadeiro]”.“O uso pragmático da linguagem atua diretamente sobre a realidade; a função estética só indiretamente estabelece uma relação como o real. Esta é a distinção entre a mimese e as outras formas de representação social.” (p. 61) // “Resgatada como um processo dinâmico de criação, a mimese opera uma transformação singular do já existente através de novas correlações. O princípio estruturador dessa nova ordem é o verossímil (interno), o qual permite que a engrenagem ficcional construa-se como um todo, com a unidade pensável de possibilidades referenciais.” (p. 70-71).

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