rota das antigas judiarias -...
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ROTA DAS ANTIGAS JUDIARIAS
PORTUGAl De SefARADEsta é a história única que pode visitar.
Esta é a história daqueles que são os últimos
judeus secretos sefarditas. Até ao século
XX, o mundo desconhecia a existência, no
interior de Portugal, da última comunidade
Cripto-Judaica da Península Ibérica e
porventura da Europa.
Junto à Serra da Estrela, montanha
mais alta de Portugal Continental (2.000m),
fica Belmonte, memória humana viva do
riquíssimo e antigo Portugal Judaico. Aí ficam
também as terras que como a Covilhã,
Guarda, Trancoso, Penamacor, Gouveia,
Pinhel, Celorico da beira, Linhares da
Beira, e outras são a referência das antigas
comunidades sefarditas portuguesas.
Saiba como há séculos, os judeus
portugueses desta região foram decisivos
nos movimentos dos descobrimentos lusos e
espanhóis que trouxeram novos mundos ao
mundo. Saiba como foram decisivos para
o desenvolvimento do comércio e para o
incremento da indústria têxtil de lanifícios na
Serra da Estrela. Fazer turismo cultural nesta
região é homenagear não só a história de
Portugal mas um povo que honrou essa
história e que hoje vive…na Europa, na
América, na Asia, enfim, em todo o mundo.
AS COmUNIDADeS JUDAICAS NA IDADe méDIAFesta de Pessah (séc. XIII). Desde o fim do
Império romano que uma minoria judaica
existia no território que depois veio a
ser Portugal. Aquando da fundação da
nacionalidade, em 1143, esta minoria já
se encontrava disseminada em algumas
localidades importantes como Santarém
que possuía a mais antiga sinagoga
nacional.
A população judaica aumentava
favorecida com a necessidade que os
primeiros reis (século XII) sentiam de povoar
o território que ia sendo conquistado aos
mouros. Em todos os locais em que o
número de judeus superava a dezena,
era criada uma comuna ou aljama cujo
centro organizacional era a sinagoga.
O seu sino chamava os fiéis não só à oração
como também para lhes fornecer qualquer
informação vinda do rei ou qualquer
decisão tomada pelo rabi-mor. A sinagoga
era a sede do governo da comuna. Já no
século XIII, D. Afonso II legisla (Ordenações
Afonsinas) as relações entre cristãos e judeus
pois estas começavam a criar dificuldades
à minoria.
“A sinagoga era um local tão importante
... como era a igreja para
os cristãos”
Quer isto portanto dizer que: os judeus não podiam ter criados cristãos sob
pena de perda de património; qualquer judeu converso ao cristianismo que
retornasse à religião original podia ser condenado à morte; não podiam os
judeus ocupar cargos oficiais de modo a que os cristãos não se sentissem
prejudicados.
No reinado
posterior, D. Sancho II
permite o esqueci-
mento destas leis e,
por exemplo, volta a
confiar aos hebreus cargos
públicos. Esta decisão pro-
voca a queixa dos cristãos ao
Papa que obriga dois bispos a
advertirem o rei português para
que não dê a judeus cargos com au-
toridade sobre cristãos.
Na época do rei D. Dinis a população
hebraica sefardita habitava comunas
espalhadas por todo o país. Estas
eram dirigidas por oficiais judeus
superintendidos por um rabi-mor,
valido do soberano. Existia portanto
protecção real. Cada comuna
tinha uma ou mais judiarias.
Neste tempo, o rabi-mor tinha
delegados seus, chamados
ouvidores, nos principais
centros judaicos do
país: Porto (Região
de Entre Douro e
Minho); Torre de Moncorvo (Trás-os-Montes);
Viseu (Beira); Covilhã (Beira/Serra da Estrela);
Santarém (Estremadura); Évora (Alentejo)
e Faro (Algarve). Estes ouvidores exerciam
verdadeira jurisdição sobre todas as
comunidades judaicas nacionais.
A sinagoga era um local tão importante
do ponto de vista religioso (como era a
igreja para os cristãos) quanto civil, era
lugar de assembleia e reunião dos membros
da comuna. As comunas obrigavam ao
desenvolvimento de escolas. Diz o Talmud:
“ Toda a cidade em que as crianças não
frequentem uma escola está destinada a
perecer, está destinada à ruína “. Para além
da escola, a comuna tinha o Beth Hamidrash,
casa de comentário das Escrituras Sagradas.
Junto da sinagoga existia o Genesim onde os
judeus se dedicavam ao estudo e analisavam
o Pentateuco (a Torah). Estas comunidades
viviam do comércio e artesanato mas
também da agricultura e criação de gado.
Nestes âmbitos funcionavam ligados aos
cristãos. Do ponto de vista administrativo e
religioso eram independentes mas estavam
directamente ligadas ao rei. Em geral,
as comunidades situavam-se dentro das
muralhas da cidade (ex.: Trancoso, Guarda
e Covilhã) mas também podiam criar outras
judiarias no exterior (caso da Covilhã).
Inclusivamente, a população podia
espalhar-se por zonas cristãs para além do
bairro judeu (caso da Guarda).
Riquezas de judeus no século XIII
“ ... Estevão Eanes recebeu do judeu da Covilhã “ huuma çafira en castõ de prata dourada
“; “ hua Calçadonia en castõ de prata “ e “ huuma Torquesa contrafeyta en castõ de prata “ ... “
Texto de 1279 in Inventários e contas da casa de D. Denis (1278-82)
OS JUDeUS NA éPOCA DOS DeSCObRImeNTOSQuatro anos depois do acontecido em
Espanha, o sucessor de D. João II, D.
Manuel, casado com uma filha dos reis
católicos e muito pressionado por estes,
promulga também o édito de expulsão.
Longe de ser consensual, esta política
não agradou a todos, principalmente nos
meios da ciência e da escrita. A D. Manuel
também não agradaria ver partir grande
parte da dinâmica do reino. Por isso,
congemina a estratégia da conversão e
baptismo forçado. Esta atitude foi criticada
por muitos, inclusive por parte da igreja
católica como foi o caso do Bispo de
Ceuta, D. Diogo Ortiz, colegado do judeu
Mestre José Vizinho da Covilhã na junta
científica (para os descobrimentos) do rei
D. João II. D. Manuel sabia que ia perder
aqueles que devia segurar. Assim tentou
decretar medidas que simultaneamente
favoreciam as conversas e eram um
convite à abjuração para os renitentes.
A VIDA eCONómICA ATé fINAIS DO SéC. XV
“ Judeu “. Óleo sobre madeira de
castanho, oficina de Vasco Fernandes,
primeira metade do século XVI. (Museu
Nacional de Arte Antiga) O crescimento
do comércio no Portugal da Idade Média
deve-se muito à actividade dos judeus. Já
as cartas de foral o registam, casos de Évora
(1166), Covilhã (1186), Pinhel (1200). Este
tipo de actividade económica promovia
financeiramente parte da população
hebraica, facto que permitia invejas e
queixas, como por exemplo aquando
da cobrança de juros no empréstimo de
dinheiro ou no preço de arrendamento.
Em Castelo Rodrigo, nos planaltos a
norte da Serra da Estrela, já em 1321 o
concelho se queixava ao rei D. Dinis dizendo
que “ os judeus emprestavam dinheiro a tais
juros que arruinavam os moradores da vila e
das aldeias vizinhas “.
Na agricultura, o cultivo da videira e
da oliveira e, por conseguinte, a produção
de vinho e azeite em adegas e lagares
era muito importante, por exemplo, nas
comunidades da Serra da Estrela.
A população judaica foi sempre
crescendo ao longo da Idade Média. Se
em 1400 existiriam em Portugal cerca de 30
comunidades e alguns milhares de famílias,
na data da chegada de Colombo à América
haveria mais de 100 judiarias e dezenas de
milhar de habitantes.
As razões do aumento da população são as seguintes:
• A quase ausência de levantamentos antijudaicos em Portugal;
• O crescimento dos movimentos contra os judeus em Espanha (Navarra, Castela e Aragão) desde meados do século XIV;
• O estabelecimento da Inquisição e a expulsão dos judeus da Andaluzia (Espanha) nos primeiros anos de reinado dos reis católicos;
• O início do processo dos Descobrimentos Portugueses com a abertura de novas rotas marítimas e comerciais.
Durante o século XV sobressaíam já
grandes comunas. No fim da centúria os
maiores núcleos de povoamento judaico
eram Lisboa com cerca de 2.000 membros,
Évora, Santarém e Covilhã com mais de
1.000, Lamego, Guarda e Trancoso (onde
uma feira franca era muito atractiva para
os hebreus) com entre 500 e 850. Depois,
Porto, Tomar (famosa pela sinagoga do
século XIV), Guimarães e Braga.
A comuna de Belmonte seria então
satélite das da Covilhã e Guarda, ambas
na Serra da Estrela, Região onde as mais
importantes judiarias existiam em Gouveia,
Pinhel e Penamacor.
No total, viveriam em Portugal cerca de
30.000 judeus - 3da população.
Em 1492, ano da descoberta da
América, os reis católicos promulgam o
édito de expulsão dos judeus de Espanha.
Precisamente, também no ano da
unificação final de todo o território desse
país (com a etapa final da reconquista
cristã - a tomada de Granada), se inicia
verdadeiramente a Diáspora de Sefarad.
D. João II acolhe muitos desses judeus,
cujo total superaria as 50.000 - 70.000
pessoas. Outros utilizaram Portugal como
local de passagem.
belmONTeDepois de séculos de organização judaica
em segredo, é, nos anos vinte do século XX
que Samuel Schwarz anuncia a existência
de uma comunidade no interior de Portugal,
junto à Serra da Estrela: Belmonte, a vila
natal do descobridor do Brasil em 1500,
Pedro Álvares Cabral.
Findas as perseguições da Inquisição
e terminados os processos de integração
católica que diluíram a totalidade das muitas
comunidades existentes, veio a descobrir-se
que nesta vila estavam vivas as tradições,
a organização e a estrutura religiosa dos
últimos judeus secretos de Portugal.
Belmonte é, no limiar do século XXI, a
última comunidade peninsular de origem
Cripto-Judaica a sobreviver enquanto tal.
São cerca de 200 pessoas, quase 10% dos
habitantes da vila.
A onomástica presente na vila é
clara: existem os Sousa, Dias, Henriques,
Fernandes, Mendes, Diogo, Rodrigues, etc.
A origem remota desta comunidade está
comprovada, pelo menos desde o século XIII
(1297) e subsiste ainda hoje com unidade,
possuindo sinagoga, rabino e cemitério
próprio. Igualmente, tem uma direcção
comunitária. A sua importância deve-se mais
à originalidade de uma resistência decorrida
ao longo dos séculos do que ao seu peso
demográfico ao longo da história.
A comunidade de Belmonte cumpre hoje
os principais ritos religiosos, alguns dos quais
haviam desaparecido da memória colectiva
belmontense. Outros foram secularmente
cumpridos, embora por vezes fortemente
deturpados. É necessário entender que
esta comunidade se tornou secreta durante
séculos e não manteve qualquer tipo de
contacto com o judaísmo exterior.
Actualmente, o ciclo litúrgico anual
dos judeus de Belmonte compreende o
Dia do Perdão (Yom Kippur), a Festa dos
Tabernáculos (Sukot), a Alegria da Lei
(Simhat Torah), a celebração da Rainha
Ester (Purim), a Santa Festa (Pessah) e a
Festa das Colheitas (Sabuot).
Para que se compreendam as
transfigurações tornadas evidentes
pelo isolamento secular veja-se o caso
da Hanukah. Esquecida há séculos,
havia sido substituída pela cerimónia
do Natalinho. Interrogados sobre o seu
significado, os judeus belmontenses
diziam que se celebrava o nascimento
do Santo Moisés. Nas últimas décadas a
festa acabava por coincidir com o Natal
dos cristãos. Todos estes curiosos relatos
podem ser analisados no livro de Maria
Antonieta Garcia “Os Judeus de Belmonte
- Os Caminhos da Memória”.
COVIlhãJanela manuelina existente na Rua das
Flores, uma das principais ruas judaicas
da Covilhã.
A comunidade judaica da cidade da
Covilhã localizada a 20 Kms de Belmonte, foi
desde o século XII e até à sua diluição, a maior
e mais importante da Região da Serra da Estrela
e uma das maiores e mais fortes de Portugal.
Na planta da cidade quinhentista, existiam,
no final do século XV, pelo menos três núcleos
hebraicos. Um (o mais antigo) intra-muralhas
junto às Portas do Sol; o segundo, na parte
exterior das mesmas confinando com elas, e o
terceiro corresponderia a bairros de localização
perto da cidade (Refúgio – Meia Légua).
Este último (Refúgio) deverá ter o seu nome
ligado a uma zona que terá sido refúgio de
judeus perseguidos.
• A quantidade e qualidade de portugueses judeus ou de origem judaica covilhanense
ligados à epopeia dos descobrimentos e expansão portuguesa (ver brochura “Rota dos
Descobridores”), caso único em Portugal: Mestre José Vizinho, cosmógrafo de D. João II;
Rui Faleiro, artífice da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães; Francisco
Faleiro, grande cosmógrafo colocado ao serviço de Espanha, autor do “ Tratado del
esphera y del arte del marear “; eventualmente mesmo Pêro da Covilhã, explorador e
preparador do caminho marítimo para a Índia, seria de origem cristã-nova; também o
famoso João Ramalho, primeiro bandeirante no Brasil, teria origem judaica covilhanense;
• O volume financeiro das rendas pagas pela comuna em fins do séc. XV (42.500 réis);
• As referências históricas nacionais feitas em relação ao judaísmo covilhanense durante
séculos e registadas desde o foral de 1186 que são constantes e diversificadas;
• A presença numerosa dos nomes mais clássicos (embora não exclusivos) de origem
cristã-nova em muitos dos actuais habitantes da cidade (ex. : Mendes, Cardoso, Costa,
Pereira, Henriques, Cruz, Dias, Baltazar, Vizinho, Gomes, Ramalho, Nunes, Flores, Franco,
Vaz, Pinho, Teles, Faleiro, Elias, Mesquita, Oliveira, Ranito, Benjamim etc.). Já no séc. XX, a
terceira comunidade do país foi re-estabelecida na Covilhã (Julho de 1929) onde existiriam
6.000 Cripto-Judeus. Edificou-se uma sinagoga chamada Sha’ari kabbalah (“As Portas
da Tradição”). Com a implantação da ditadura em 1932, a actividade missionária judaica
entre os Cripto-Judeus diminuiu na Covilhã, assim como em todo o território nacional. Até ao
século XX, em meados do qual foi demolido, existia o edifício da sinagoga que se situava nas
cercanias da actual igreja de Santiago. As inquirições das denúncias contra os judeus secretos
ou judaizantes eram feitas nas igrejas de Santa Maria e da Madalena. A primeira é hoje visitável.
UmA COmUNA ImPUlSIONADORA DO TRAbAlhO DA lãA importância dos membros das comunidades judaicas da Covilhã ou seus descendentes pode ver-se reflectida em seis factos principais:
• A percentagem da área e da população da cidade ocupada pelos bairros judeus
(cerca de 30 no séc. XV;
• O desenvolvimento posterior da indústria de lanifícios que teve a colaboração de
imensos elementos importantes oriundos desse ramo social e étnico;
As muralhas no séc. XV
A ligação entre a parte cristã da cidade e o bairro judeu era feita através de cinco das dez
extremidades da antiga muralha. Igreja de Santa Maria, principal centro da Inquisição na
cidade da Covilhã.
GUARDADesde sempre localizado no interior da
cidade muralhada, ainda hoje aí existe
o antigo bairro judeu. Encontra-se muito
perto da Porta d’El-Rei.
A comuna judaica da Guarda foi
durante longos períodos uma das mais
importantes do país e é considerada uma
das mais antigas. Está comprovado que remonta ao século XIII com o aforamento,
por parte de D. Dinis, de casas da freguesia
de S. Vicente a famílias judaicas, tendo
sido numa delas instalada a sinagoga.
Esta era a judiaria nova, prolongamento
de uma mais antiga, a velha, mencionada
no foral de 1199.
Em fins do século XIV aí residiam cerca
de 200 pessoas e, cerca de 50 anos depois,
o número de habitantes de credo judaico já
rondaria entre os 600 e os 850.
As famílias tinham nomes como Ergas,
Castro, Falilho, Baruc, Mocatel, Marcos,
Querido, Alva, Cáceres, Castelão, etc. As
audições perante o tribunal da Inquisição
decorriam nas igrejas de S. Vicente e S.
Pedro. A dinâmica comunidade judaica
da Guarda oferecia toda uma série de
serviços à população: alfaiates, sapateiros,
curtidores, ferreiros, tecelões, gibiteiros,
tosadores, físicos, cirurgiões, ourives,
carpinteiros e esmaltadores.No livro do
Museu Municipal da Guarda, História e
Cultura Judaica, está presente muito mais
informação. A judiaria tinha o seu início junto
à Porta d’El-Rei e estendia-se até ao adro da
igreja de S. Vicente, limitada pela muralha
e pela Rua Direita que dava acesso àquela
Porta. Em 1465 este acesso foi fechado
devido aos protestos dos cristãos. Desenho
de José Garcês.
- A glória desta Última casa será maior que a primeira; Diz o “Adonai” (Senhor) dos exércitos
a casa da nossa santificação, da nossa glória, e os resgatados pelo senhor voltarão e
regressarão a Sião com Alegria
- Tradução do texto hebraico da pedra da sinagoga de Gouveia (1496) exposta no Museu
de Arte Sacra da cidade
GOUVeIAGouveia iniciou-se com uma pequena
comuna tendo cerca de 50 judeus em
meados do século XV. No final da centúria,
seriam quase 200. Encontramos aqui os Adida,
Abenazo, Baruc, Faravam, Navarro e Sacuto.
A comuna de Gouveia esteve sempre
muito ligada ao trabalho da lã, actividade
clássica desde há muito nesta cidade.
Depois da data de expulsão dos judeus
de Espanha (1492), muitos dos refugiados
afluíram a Gouveia (tal como à Covilhã)
com o sentido de intensificarem o trabalho
dos lanifícios praticado então de forma
muito rudimentar. As duas vilas (na época),
com ribeiras caudalosas e íngremes,
ofereciam a energia hidráulica necessária
ao movimento das rodas dos engenhos.
Poucos anos mais tarde (1496) é
construída uma sinagoga cujo registo fica
patente na pedra encontrada em 1967
numa casa da Rua Nova em plena judiaria
de Gouveia. Nesta cidade da vertente
norte da Serra da Estrela a comunidade era
também bem organizada.
Fica para a história a força que,
no período entre 1525 e 1530, o ódio
fomentado por D. João III atingiu, tornando
conhecido este episódio relatado por
Meyer Kayserling: “Em Gouveia foi
encontrada em pedaços uma imagem de
Maria, muito adorada pelo judeus da
cidade, levou à prisão de três deles, que
foram soltos após alguns dias. A massa
enfurecida acusou os judeus de suborno.
[...] O inquérito contra os cripto-judeus
libertados foi reiniciado por insistência dos
moradores. Falsas testemunhas depuseram
contra os acusados e, como ficou provado
mais tarde, devido a acusações caluniosas,
morreram na fogueira como hereges e
profanadores de imagens sagradas.”
lINhAReS DA beIRAÉ uma das Aldeias Históricas portuguesas.
Possuía uma judiaria que pode ainda hoje
ser localizada. Num edifício perto do centro,
devidamente assinalado, existe uma casa
manuelina onde funcionou antigamente
uma sinagoga. Esta comunicava com as
casas anexas, das quais subsistem apenas os
locais das portas. Aqui é possível ver a mais
bonita janela de estilo manuelino da aldeia.
A judiaria era composta pela Rua Direita
(da Procissão) e Rua do Passadiço (da Judiaria).
Ainda hoje é possível notá-la através dos portais
chanfrados dispersos pela povoação e também
através das janelas manuelinas. As casas dos
cristãos novos têm, nas ombreiras das portas,
cruzes que os protegiam da Inquisição. Mesmo
assim, muitos processos foram instaurados a
famílias com nomes como Fernandes, Linhares,
Nunes, Rodrigues, Froes, Antunes.
CelORICO DA beIRAEsta vila da Beira-Serra teve o seu grande
incremento a partir da data de fuga de
Espanha de inúmeros judeus. Celorico da
Beira, vila antiga mas pacata, tornou-se
uma terra de um desenvolvimento comercial
extraordinário por onde se escoavam os
produtos agrícolas de toda a Região.
Os judeus de Celorico dedicavam-
se muito ao artesanato. A onomástica
refere os Barrocas, Serrano, Munhom, Levi,
Cohen, Leiria, Adida.
O número máximo de habitantes da
comuna deverá ter sido 150-200.
TRANCOSO Em meados do século XIV a comuna judaica
de Trancoso crescia e tornava-se rival da
da Guarda em importância e riqueza.
Localizava-se dentro das muralhas, junto à
igreja de S. João de Vila Nova, englobava
a Rua Direita e a Rua da Corredoura e
desembocava na praça onde hoje existe
a Câmara Municipal. A feira medieval foi
decisiva para o crescimento de Trancoso
e da sua comuna judaica provocando, no
século XV, o extravasar da judiaria.
Existiriam mais de 500 habitantes
judeus. Este facto provocou um litígio com a
comuna da Guarda, sede do almoxarifado.
Eram judeus de Trancoso os Levi, Franco,
Barzelai, JustoBarroca. Também os Cáceres,
Navarro, Souriano e Castelão. Os Tovi,
Faravam, Adida, Soleima, Pasilha eram
nomes comuns aos da Guarda. O edifício
mais emblemático da vila fortificada é a
Casa do Gato Negro, antiga residência
do rabino. Na sua fachada podem ver-
se representações figuradas do Leão
da Judeia e das Portas de Jerusalém.
Provavelmente terá sido esta a sinagoga.
PINhelA comuna judaica desta antiga cidade
fronteiriça portuguesa deve ter-se desenvolvido
apenas no inicio do século XV. No final deste
século, favorecida pela proximidade de
Espanha, vê o número de habitantes judeus
ascender a cerca de 200.As famílias mais
comuns correspondiam aos Barzelai, Amiel,
Abenazum, Ergas, Cid, Adida, Cohen e Castro.
O foral de Pinhel de 1200 já regista a actividade
comercial dos hebreus aí residentes.
PeNAmACORTerra de origem de um dos mais conhecidos
médicos da história portuguesa - Ribeiro
Sanches. Cristão-novo, acusado de
judaísmo, Ribeiro Sanches (1699-1783) foi
perseguido pela Inquisição em Portugal.
Alcançou grande prestígio na corte de
Catarina II na Rússia.
Penamacor possui vestígios da antiga
judiaria de quinhentos nas cercanias da
Rua de S. Pedro, uma das ruas históricas da
vila. O incremento do número de habitantes
judeus após a expulsão de Espanha
aconteceu devido à situação de grande
proximidade da fronteira.
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