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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
ARTIGO CIENTÍFICO – PDE 2010
LITERATURA E ESCOLA – CONCEPÇÕES E
PRÁTICAS: CONTANDO E ENCANTANDO
MARLENE PANARALI DE OLIVEIRA
MARINGÁ – PR
2010
LITERATURA E ESCOLA – CONCEPÇÕES E PRÁTICAS: contando e encantando
Autora: Marlene Panarali de Oliveira¹
Orientadora: Aparecida de Fátima Peres²
Resumo
Este artigo apresenta os resultados da aplicação de uma Unidade Didática, a qual teve como intuito promover estratégias que possibilitem aos educadores a formação de leitores por meio da Contação de Histórias, levando-os a contá-las para manter a história viva, encantar e sensibilizar o ouvinte, estimular o imaginário, tocar o coração e resgatar significados para sua existência, visto que no cotidiano da sala de aula, eles buscam formas de tornar o ensino mais eficaz e estimulante. Uma das alternativas para isso foi aliar o prazer à aprendizagem, e a Contação de Histórias ofereceu múltiplas possibilidades para este trabalho pedagógico. Nesta proposta, estabeleceu-se uma relação entre a literatura infanto-juvenil e a prática pedagógica de dois professores. Nos encontros, foram desenvolvidas reflexões por meio de textos de Cléo Busatto, Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, bem como atividades sobre a prática de leitura em sala de aula, promovendo o valor que a literatura pode ter na vida do adolescente para seu desenvolvimento intelectual e emocional, valorizando a atividade lúdica com Contação de Histórias como uma das maneiras de adquirir o conhecimento. Mediante o trabalho realizado, por meio de relatórios dos professores e educandos, pôde-se perceber o encantamento dos docentes pela prática de contar histórias e pelos resultados obtidos, bem como o interesse dos seus educandos pela leitura, os quais a consideraram mais aceitável e atraente. Logo, fica evidente que a Contação de Histórias, quando bem disseminada, desperta de forma significativa a formação de leitores.
Palavras-chave: contação; histórias; sensibilizar; encantar; resgatar.
_________________________
¹ Professora PDE 2010/2011/2012. Professora de Língua Portuguesa e Literatura no colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira
Schoffen. Especialista em Língua Portuguesa: Literatura Brasileira. E-mail: marlenepanarali@seed.pr.gov.br. ² Professora Orientadora – Professora da Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Letras desde 2002. Doutora em Estudos da Linguagem (2007). Mestre em Letras (2002). Graduada em Letras Português/Francês (1999).
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1 Introdução
No cotidiano da sala de aula, os professores buscam formas de tornar o
ensino mais eficaz e estimulante. Uma das alternativas para isso é aliar o prazer à
aprendizagem, e a contação de histórias oferece múltiplas possibilidades para um
trabalho pedagógico.
A arte de contar histórias é uma tradição antiga. Nossos avós, nossos pais,
contaram belíssimas histórias, fazendo-nos viajar pela imaginação. A família se
reunia e partilhava bons momentos. Hoje, infelizmente, este costume se perdeu
no tempo. Resgatando esta técnica, este projeto teve por objetivo valorizar a arte
de ouvir e contar histórias.
As histórias e os contadores estão presentes em nossa cultura há muito
tempo, e o hábito de contá-las e ouvi-las tem inúmeros significados. Está
relacionado ao cuidado afetivo, à construção da identidade, ao desenvolvimento
da imaginação, à capacidade de ouvir o outro e à de se expressar. Além disso, a
contação de histórias aproxima o educando do universo letrado e colabora para a
democratização de um de nossos mais valiosos patrimônios culturais: a escrita.
Logo, é importante favorecermos a familiaridade dos adolescentes com as
histórias e a ampliação de seu repertório. Mas isso só é possível por meio do
contato com os textos e de sua participação frequente em situações diversas
como ler, ouvir e contar.
Sabe-se que os professores são os principais agentes na promoção dessa
prática e que a escola é o principal espaço para isso. Por essa razão, esse
trabalho visa a fazer que o aluno tenha prazer em ouvir, ler, participar e que isso
se torne um hábito em sua vida. Assim, o livro deve ser mostrado e aberto com
dimensão do prazer e da alegria, para que o aluno perceba que ler é uma viagem
maravilhosa e não apenas mais uma das atividades de escola.
A Literatura desempenha papel significativo na vida do adolescente, por ser
rica em sugestões e possuir recursos que desenvolvam a comunicação e a
prática da leitura. Para um educador comprometido com uma educação
transformadora, a literatura é um vasto material que o favorece para alcançar
seus objetivos.
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“A leitura incide sobre “o que se tem a dizer”, porque lendo a palavra do outro, posso descobrir nela outras formas de pensar que, contrapostas às minhas, poderão me levar à construção de novas formas, e assim sucessivamente” (GERALDI, 1997, p.171). “O que se diz ou as formas de dizer podem levar à leitura de textos que, ampliando nossos horizontes de análise, ampliam o que temos a dizer; a forma como outros disseram, amplia a nossa possibilidade de dizer” (GERALDI, 1997, p.175).
Por essa razão, o adolescente deverá encontrar estímulos sociais,
enriquecedores que serão a tônica de sua mobilização e crescimento como ser
humano. Para que este crescimento aconteça da melhor forma possível, não há
nada melhor do que investir na inter-relação professor-aluno, através da lógica
histórica e imaginária da “boa história”. As atividades orais oferecem condições ao
aluno de falar com fluência em situações formais, adequar a linguagem às
circunstâncias, aproveitar os imensos recursos expressivos da língua e,
principalmente, praticar e aprender a convivência democrática que supõe o falar e
o ouvir. A escola, por meio dos educadores, proporciona aos seus alunos
condições para que estes tenham acesso ao conhecimento nesse ciclo de criação
e recriação, próprio da vida escolar. E a Literatura ocupa, sem dúvida alguma, um
lugar de grande destaque nesse contexto. “[...] costumo recontar a história no
sentido de mostrar a ternura que nunca deve deixar de existir nos embates
sociais.” (SILVA,1997, p.24)
Culturalmente, nossos educandos estão restritos ao acesso à leitura por
prazer, e muitos possuem a sala de aula como único local de utilização da leitura.
A escola, por sua vez, reflete as condições de vida e da cultura da comunidade
em que está inserida. Portanto se faz necessário repensar estes conceitos e as
práticas pedagógicas atuais. Por isso, com este trabalho buscou incentivar de
forma prazerosa o gosto pela leitura, por ouvir, ler e contar histórias,
proporcionando assim uma forma agradável, promovendo e atribuindo ao
educando novos valores acerca da leitura.
Este trabalho foi desenvolvido com dois professores da disciplina Língua
Portuguesa, durante o período em que se reuniam para planejarem suas práticas
pedagógicas, troca de informações, exposição das práticas trabalhadas, suas
angústias, seus anseios e suas realizações. Os educadores foram indagados
antes de iniciarem este trabalho com as seguintes questões: É possível formar
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leitores por meio da Contação de Histórias? A Contação de Histórias desperta nos
educandos sugestões, recursos que desenvolvam a comunicação, a prática e o
gosto pela leitura? As atividades orais são significativas na vida do educando? É
possível trabalhar a Contação de Histórias com o compromisso de conhecimento
que todo saber exige, sem abandonar o prazer? Os educadores julgaram possível
e aceitaram o desafio de realizar esta proposta. Nos encontros, foram trabalhadas
estratégias de Contação de Histórias e dado suporte para a realização dessa
prática em sala de aula.
2 Fundamentação teórica
A atual sociedade carrega o desafio de reencantar: é tempo de
ressensibilizar o mundo e o ser humano. Contar histórias pode ser fermento para
a imaginação, pois elas nascem no coração e, poeticamente circulando,
espalham-se por todos os sentidos, devaneando até chegar ao imaginário.
Contar histórias pressupõe deixar de lado algumas técnicas pedagógicas aprendidas e ir em busca de algo que foi esquecido, e que permanece em algum lugar do nosso ser, como um conteúdo arquetípico, recebido de herança dos nossos antecessores. Contar histórias nos remete àquela figura ancestral, que, ao redor do fogo, ou ao pé da cama, contava histórias para quem quisesse ouvir, narrava contos do seu povo, àquilo que havia sido gravado na sua memória através da oralidade, narrava façanhas de heróis e vilões, sem que para isso lançasse mão dos livros, mesmo porque a maioria era analfabeto. (BUSATTO, 2008, p.11).
O contador, com seu estilo, vai moldando a história ao contexto onde ela é narrada e vai se adaptando aos tons e cores de cada povo.
O contador de histórias cria imagens no ar materializando o verbo e transformando-se ele próprio nesta matéria fluida que é a palavra, ele empresta seu corpo, sua voz e seus afetos ao texto que ele narra, e o texto deixa de ser signo para se tornar significado. O Contador de
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Histórias nos faz sonhar porque consegue parar o tempo nos apresentando outro tempo. Como um mágico, faz aparecer o inexistente, e nos convence que aquilo existe. Contar histórias é uma arte, uma arte rara, pois sua matéria-prima é o imaterial, e o contador de histórias um artista que tece os fios invisíveis desta teia que é o contar. A arte de contar histórias traz o contorno, a forma. Reatualiza a memória e nos conecta com algo que se perdeu nas brumas do tempo, nos liga ao indizível e traz respostas às nossas inquietações. (BUSATTO, 2008, p. 09)
Não pretendemos com isso sugerir que o professor se torne uma biblioteca
ambulante, dadas as várias histórias que ele teria de memorizar para depois
contá-las, mas sim sensibilizá-lo para a importância de recuperar este traço de
oralidade (BUSATTO, 2008, p.10).
As histórias espalham na alma as sementes da sabedoria e da virtude, e os
ouvintes aprendem a se conhecer, viajando por caminhos inusitados.
O conto de tradição oral, seja ele conto de fada, mito, lenda, fábula, ou conto de ensinamento, encanta por alimentar o nosso imaginário e dar mais brilho ao nosso mundo interior. Ao narrar um conto se concede ao ouvinte a possibilidade de criar o seu cenário, a sua música e as suas cores, através dele cada pessoa constrói a sua história, de comum acordo com os seus referenciais, e o que eles possam significar para si. (BUSATTO, 2008, p.17)
É por meio da Contação de Histórias, da leitura, compreensão e
interpretação que os educandos interagem com o texto e com as outras pessoas,
ampliam seu vocabulário, seus horizontes, aprendem novos caminhos para expor
seus pensamentos, aquilo que desejam e esperam tornando-se, assim, cidadãos.
O segredo do poder da história é a compreensão essencial de que o
importante não é o que acontece na história. O que vale é o que acontece dentro
de nós que a ouvimos (BUSATTO, 2006). Aprender a contar, ouvir, ler, é perceber
que há um mundo diferente daquele que se vive é viajar por meio do mundo das
palavras.
Ler é, antes de tudo compreender e há três propósitos fundamentais da leitura: compreender a mensagem, compreender-se na mensagem e
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compreender-se pela mensagem. Ler é, em última instância, não só uma ponte para a tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo (SILVA, 1996, p.45).
O adolescente por meio das histórias é levado a sentir prazer ao ouvir, ler
ou contar uma história. Ao mesmo tempo, é convidado a refletir sobre a realidade
em que vive, visto que se vê inserido na trama e isto contribui no processo de
superação de suas carências. “Na experiência com o desconhecido, surge a
descoberta de modos alternativos de ser e de viver. A tensão entre esses dois
pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura”
(BORDINI/AGUIAR,1993, p. 26).
As histórias contêm elementos primordiais para a formação do leitor;
cativa-o, mostrando-lhe o mundo, fornecendo meios de como enfrentá-lo.
O leitor traz o mundo da leitura, das histórias para sua vida, bem como se transporta para ele. A leitura crítica sempre leva à produção ou construção de um outro texto: o texto do próprio leitor. Assim, este tipo de leitura é muito mais do que um simples processo de apropriação de significado (...) (SILVA, 1996, p.81).
“A Literatura pode suscitar prazer, porque tem seu fim em si mesma, isto é,
funciona como um jogo em torno da linguagem, das ideias e das formas, sem
estar subordinada a um objeto prático imediato” (BORDINI/AGUIAR,1993,p.26).
Por isso, é de fundamental importância o educador gostar, incentivar e
principalmente demonstrar o gosto pela literatura.
Uma sociedade que pretende ser democrática, deve começar com os
profissionais mais diretamente responsáveis pela iniciação na leitura, os quais
devem ser bons leitores. Um educador precisa gostar de ler, ler muito e envolver-
se com o que lê. E esse não é, infelizmente, o perfil comum dos educadores.
Pesquisa recente feita entre professores de primeiro grau e bibliotecários […] mostrou como o repertório de leitura desses profissionais é desolador. A precariedade da situação que a pobreza de repertório indica é grave. E a gravidade aumenta quando se sabe que, para muito além do conhecimento mecânico de metodologias e técnicas de
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desenvolvimento da leitura, a formação de um leitor exige familiaridade com grande número de textos. É preciso, pois, que haja espaço para leitura nos cursos destinados a profissionais de leitura. É importante frisar também que a prática de leitura patrocinada pela escola precisa ocorrer num espaço de maior liberdade possível. A leitura só se torna livre quando se respeita ao menos em momentos iniciais do aprendizado, o prazer ou a aversão de cada leitor em relação a cada livro. (LAJOLO, 1993, p.108).
Em se tratando da leitura na sociedade e na escola, SILVA (1996) observa:
“Frente à desordem gerada pelos atuais paradigmas de organização social e
sistemas produtivos, sou levado a crer que uma das principais funções da leitura
no Brasil é a de garantir ao cidadão a capacidade de pensar por conta própria”
(p.14). Mais adiante o autor continua: “Hoje estou mais do que convencido de que
o ler, por si só, não resolve e não muda nada. É preciso ler e fazer-ler a realidade
e fazer o acontecimento, mudar as circunstâncias: plantar ações que deixam
resíduos na história e na vida das pessoas” (p. 24).
Com o advento da internet, uma era digital, nesse tempo de produção
regido pela informação, poderíamos supor que não houvesse mais espaço, nem
disponibilidade e interesse para uma prática tão antiga como a de contar
histórias. No entanto é exatamente neste contexto que ressurge o contador de
histórias e a percepção do quão ele encanta e faz-se necessário. “É nesse caos
de começo de milênio que a imaginação criadora pode operar como a
possibilidade humana de conceber o desenho de um mundo melhor. Por isso,
talvez a arte de contar histórias esteja renascendo por toda parte”. (MACHADO,
2004).
[…] Atualmente, não apenas se abre a sala para o contador de histórias, como se busca por ele. O desenho de um mundo melhor. Talvez isso seja uma tentativa de recuperar o olhar subjetivo para a vida, ameaçado pelo pragmatismo da contemporaneidade, e a possibilidade de abrir espaço para o imaginário criador. A performance do contador de histórias propicia a ampliação do horizonte simbólico e traz aquela sensação de conforto e aconchego para o nosso mundo interior. (BUSATTO, 2006, p.37)
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As histórias existem para serem ouvidas e desfrutadas. Elas devem ser
apresentadas primeiramente para inspirar o espírito, afagar o coração, como
alento aos sentidos, pois o que se aprende desta forma não se perderá jamais.
Não existe povo sem história. Todos os povos necessitaram de uma
história para conhecer melhor o mundo e as pessoas, enfrentar os empecilhos da
vida e sonhar. As histórias aguçam a imaginação, povoam a mente de lugares,
pessoas, ideias e muitos sonhos. Foi pela voz de contadores de histórias que se
preservou grande parte da cultura e se transmitiu muito conhecimento.
Não podemos deixar que esta antiga arte de contar histórias se perca, pois
ela funciona como uma ponte entre as diferentes realidades. “As experiências se
repetem e estão por toda parte, reforçando a capacidade transformadora desse
grupo de histórias, pela voz hábil do narrador. Então que venham os contos, os
cantos e os encantos, para embalar nosso coração e restituir a esperança de que
viver bem, sob quaisquer circunstâncias, é possível e muito bom” (BUSATTO,
2006, p.82).
3 Desenvolvimento do projeto
Os resultados alcançados com o desenvolvimento do projeto Contando e
Encantado, no Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen, implementado
por dois professores de Língua Portuguesa, serão relatados a seguir, contendo as
impressões destes educadores e de seus alunos nas quatorze atividades
propostas.
1ª Atividade “Quem pergunta quer saber”
“Gostaria de propor um reencontro com a literatura oral, e, por que não,
divulgar narrando este acervo de sabedoria legado pelos nossos antepassados”.
(Busatto 2008, p.11).
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Essa primeira atividade tinha como intuito, apresentar aos dois professores
selecionados, o Material Didático elaborado, estando o mesmo disponível em
anexo.
Como afirma Cléo Busatto (2008, p.10-11): “Não pretendo com isso sugerir
que o professor se torne uma biblioteca ambulante, dadas as várias histórias que
ele teria de memorizar para depois contá-las, mas, sim sensibilizá-lo para a
importância de recuperar este traço de oralidade”.
Marquei um encontro com os dois professores do colégio em que eu atuo
interessados e dispostos a realizarem as atividades propostas no Material
Didático, em suas aulas. Recepcionei-os contando: “O menino que gostava de
ouvir histórias”. Para a realização desta estratégia, foi utilizada uma bolsa amarela
contendo livros de histórias infantis e lenços coloridos, os quais foram retirados da
bolsa durante a contação. Após, foi feita uma breve exposição do projeto. Em
seguida, foi entregue um questionário elaborado para os professores (Quadro 1),
com o intuito de averiguar se estes utilizavam ou não a prática de Contação de
Histórias em suas aulas, se isso ocorria constantemente ou aleatoriamente e o
que percebiam ao utilizá-la.
Quadro 1: Questionário utilizado para entrevistar os professores
a) Você costuma contar histórias em sala de aula?
b) Com que frequência costuma contar histórias e em que momento da aula?
c) Que tipo de histórias costuma contar?
d) Se já possui esta prática, o que percebe ao utilizá-la?
e) Os alunos ficam mais atentos? Gostam de ouvir?
f) Relate suas experiências.
Pôde-se observar que os professores não possuíam o hábito de contar
histórias, no entanto, demonstraram entusiasmo em incorporar esta prática em
seu cotidiano e relataram que percebiam um grande interesse por parte dos
alunos quando liam as histórias que geralmente iniciam uma unidade didática do
material utilizado pela rede pública de ensino.
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Foi entregue também aos professores um questionário elaborado para os
alunos (Quadro 2), a fim de constatar seus interesses, aptidões por ouvir, ler e
contar histórias.
Quadro 2: Questionário utilizado para entrevistar os alunos
a) Seus pais ou responsáveis costumavam contar histórias para você dormir? Em caso afirmativo,
que tipo de histórias eles contavam?
b) Você se lembra de alguma história que seus pais ou responsáveis contam/contavam? Qual?
c) Que outras pessoas você convive/conviveu que conta/contou histórias para você?
d) Você gosta de ouvir histórias? Por quê?
e) Já contou alguma história para alguém? Gostou da experiência? As pessoas mostraram-se
interessadas ao ouvi-lo (la)? Comente.
f) Seus professores das séries anteriores contavam ou liam histórias em sua turma? Com que
frequência?
g) Há alguma história que você leu ou ouviu que o marcou? Qual? Por quê?
h) Você gosta de ler? Por quê?
i) Quais livros você já leu?
Os professores receberam também um caderno para fazerem suas
contribuições acerca das atividades que realizassem deste projeto. Sugeri que ao
término de cada atividade fizessem anotações: o que deu certo, o que poderia ser
acrescentado, mudado, ampliado e que pedissem ainda para um aluno que
também escrevesse o que achou daquela atividade trabalhada, de forma que a
cada atividade tivesse o parecer de um aluno. Estas anotações foram relatadas
no decorrer das atividades descritas. Os nomes que aparecem nos excertos, tanto
dos professores quanto dos alunos, são fictícios.
O Material Didático (anexo deste artigo) foi enviado na íntegra para os
professores por e-mail.
Ao término deste primeiro encontro, perguntei aos dois educadores se
continuavam dispostos a executar o projeto. Os dois disseram que sim, mas que
estavam receosos de não corresponder às expectativas. Tranquilizei-os, dizendo
que tudo o que seria proposto era uma experiência, podendo ser positiva ou não,
que o que importava era o comprometimento, a seriedade e apaixonar-se pela
metodologia Contação de Histórias.
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2ª Atividade “Mas o que vale a pena contar?”
A intenção dessa atividade era que, por meio das citações de Cléo Busatto,
Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, os educadores refletissem
sobre a importância da Contação de Histórias, bem como sua eficácia nas
práticas pedagógicas e formação dos educandos.
O conto de tradição oral, seja ele conto de fada, mito, lenda, fábula, ou conto de ensinamento, encanta por alimentar o nosso imaginário e dar mais brilho ao nosso mundo interior. Ao narrar um conto se concede ao ouvinte a possibilidade de criar o seu cenário, a sua música e as suas cores, através dele cada pessoa constrói a sua história, de comum acordo com os seus referenciais, e o que eles possam significar para si. (BUSATTO, 2008, p.17) “Na experiência com o desconhecido, surge a descoberta de modos alternativos de ser e de viver. A tensão entre esses dois pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura” (BORDINI/AGUIAR,1993, p. 26). O contador de histórias cria imagens no ar materializando o verbo e transformando-se ele próprio nesta matéria fluida que é a palavra, ele empresta seu corpo, sua voz e seus afetos ao texto que ele narra, e o texto deixa de ser signo para se tornar significado. O Contador de Histórias nos faz sonhar porque consegue parar o tempo nos apresentando outro tempo. Como um mágico, faz aparecer o inexistente, e nos convence que aquilo existe. Contar histórias é uma arte, uma arte rara, pois sua matéria-prima é o imaterial, e o contador de histórias um artista que tece os fios invisíveis desta teia que é o contar. A arte de contar histórias traz o contorno, a forma. Reatualiza a memória e nos conecta com algo que se perdeu nas brumas do tempo, nos liga ao indizível e traz respostas às nossas inquietações. (BUSATTO, 2008, p.9). […] Atualmente, não apenas se abre a sala para o contador de histórias, como se busca por ele. O desenho de um mundo melhor. Talvez isso seja uma tentativa de recuperar o olhar subjetivo para a vida, ameaçado pelo pragmatismo da contemporaneidade, e a possibilidade de abrir espaço para o imaginário criador. A performance do contador de histórias propicia a ampliação do horizonte simbólico e traz aquela sensação de conforto e aconchego para o nosso mundo interior. (BUSATTO, 2006, p.37).
Mas o que vale a pena contar?
Para que contar uma história?
As histórias têm função?
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“As experiências se repetem e estão por toda parte, reforçando a capacidade transformadora desse grupo de histórias, pela voz hábil do narrador. Então que venham os contos, os cantos e os encantos, para embalar nosso coração e restituir a esperança de que viver bem, sob quaisquer circunstâncias, é possível e muito bom” (BUSATTO, 2006, p.82).
As citações acima contribuíram confirmando a importância da oralidade por
meio da Contação de Histórias.
Após reflexão desses excertos, foi feita uma análise das respostas dos
alunos a respeito do questionário entregue para eles. Constatou-se que todos
responderam afirmativamente à questão: “Você gosta de ouvir histórias”? No
entanto ficou claro que raramente ouvem histórias. Alguns mencionaram ter
ouvido alguma história contada pelos avós, geralmente histórias verídicas (sobre
suas vidas, imigração e alguns causos). Outros, por professores dos anos iniciais,
a maioria citou os clássicos da literatura infantil, sendo Chapeuzinho Vermelho o
mais mencionado. Todavia, deixaram evidente que isso não era hábito em sala de
aula, bem como no âmbito familiar.
Quanto à pergunta: “Quais livros você já leu”? Os alunos responderam que
só os que foram “obrigados” pelo professor de português, mas a maioria não se
lembrava do nome do livro.
Depois da análise das respostas dos questionários dos alunos, os
educadores perceberam a importância das histórias na vida das pessoas e
disseram que eles também não tiveram alguém que despertasse neles este
interesse, esta habilidade. A professora Alice, motivada por essa metodologia,
iniciou o hábito de também contar histórias para suas filhas.
3ª Atividade “Era uma vez”
A intenção desta atividade era promover o valor que a Literatura pode ter
na vida do adolescente e no seu desenvolvimento intelectual e emocional,
valorizando a atividade lúdica, como uma das maneiras de adquirir o
conhecimento.
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Iniciei este encontro com a história “Maria vai com as outras”, de Sylvia
Orthof, utilizando algodões coloridos para contá-la.
Sugeri a Contação de Histórias no primeiro momento da aula,
principalmente quando estas aulas forem as últimas do período, após o intervalo,
ou seja, em um horário em que os alunos apresentam-se mais agitados. Estas
histórias foram sugeridas com o intuito de acalmar, relaxar e, ao mesmo tempo,
instigar, provocar o interesse pela busca do conhecimento por meio da literatura.
Para esta atividade, foram sugeridas histórias breves e atrativas.
O relato a seguir se refere à história: “Maria vai com as outras”, de Sylvia
Orthof. Por ser uma história curta, o professor memorizaria com facilidade. Ao
terminar a história ele poderia tecer alguns comentários sobre personagens,
reação de Maria, desfecho, etc. A esta altura espera-se que a turma esteja mais
atenta para começar e/ou retomar o conteúdo da disciplina.
A professora Alice fez a seguinte anotação a respeito desta atividade: “Foi
a primeira vez que contei uma história em sala de aula. Fiquei encantada com o
resultado, os alunos da 6ª série D ficaram paralisados, eu não sabia se era com a
iniciativa da professora contar história ou com a própria história. Mas no final pude
perceber que eles amaram a experiência”.
Um dos alunos, admirado com a forma inusitada de a professora contar a
história, escreveu no caderno de anotações: “Para mim a história foi muito
interessante porque foi contada de um jeito diferente, a professora usou algodões,
chamou a atenção de todo mundo, todos ficaram curiosos para saber o que
aconteceria no final.” (Andersen).
Outra aluna observou a mensagem que a história lhe transmitiu: “Eu achei
a história muito legal, ela nos mostra que devemos ter nossa própria opinião,
seguir nossos pensamentos, nossas ideias, sem se importar com a opinião dos
outros, pois nem tudo que é bom para os outros é bom para nós também.” (Ariel).
Vale destacar também a importância que este aluno atribuiu à tomada de
atitude da personagem principal, ao final da história. “Eu gostei muito porque a
ovelha no final da história deixou de fazer o que as outras faziam e começou a
andar com seus próprios pés.” (John).
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Como observa Cléo Busatto, (2006): “Através do conto cada pessoa
constrói a sua história, de comum acordo com os seus referenciais, e o que eles
possam significar para si.”
4ª Atividade “É tempo de reencantar”
Neste encontro a proposta era que os professores, por meio de diversas
sugestões e formas de contar histórias, percebessem as que mais os agradavam
e as colocassem em prática.
Ao abordar este assunto, Busatto destaca: “Algumas pessoas preferem
contar histórias sentadas, outras em pé. A forma ideal é aquela em que você se
sentir mais confortável” (Busatto, 2008, p.69).
A professora Alice observou: “Continuo acalmando minhas turmas com as
histórias”. “Quando chego, os alunos já perguntam animados que história vou
contar.”
A consideração de Cléo Busatto (2006), de certa forma, ecoa no discurso
da professora Alice: “A performance do contador de histórias propicia a ampliação
do horizonte simbólico e traz aquela sensação de conforto e aconchego , para o
nosso mundo interior.”
Esta atividade teve início com a contação: “Seus quinze minutos de poder.”
Para esta história utilizei a seguinte técnica de contação (sentei-me em uma
cadeira e fiz uso de alguns objetos que ficaram sobre a carteira, utilizei-me de
carretéis e novelos de linha para representar as personagens (anjos, lavradores)
e bloquinhos do “pequeno construtor”, representando a casa e o porco que
aparece na história).
Ao término da história, teci alguns comentários e sugeri outros artefatos
como conchinhas do mar, ou outros objetos que o professor já possua para contar
a história, ou simplesmente contá-la com entonação, convicção e olhos nos olhos.
Uma aluna da 6ª série fez o seguinte comentário após a realização desta
atividade na sala: “Eu achei muito interessante esta história, ela nos mostra que
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somos aquilo que falamos e o que pensamos e que devemos pensar positivo”.
(Aurora)
Outro aluno observou: “A gente sempre aprende com as histórias que a
professora conta, com esta aprendi que devemos ter cuidado e estar sempre
pensando e falando coisas boas.” (Dunga).
Neste dia a professora Alice estava com uma cópia impressa do Material
Didático e disse que estava fazendo do material, seu manual.
Outras sugestões para o uso dessa metodologia:
A. Valer-se de desenhos que representam partes significativas da história,
os quais poderão estar em folhas de sulfite, assim, a cada parte, o professor
colará o desenho no quadro e não se perderá no decorrer da história.
B. Utilizar o avental do contador de histórias, o qual possui um grande
bolso de onde o contador retira os personagens (desenhos, objetos, lenços,...).
C. O uso de fantoches também é uma opção interessante.
D. Utilizar materiais diversos: sino (para iniciar e/ou como se estivesse
dividindo a história em cenas, capítulos); lenço (levantá-lo no ar indicando
passagem de tempo. Ex: No outro dia... Muitos anos depois...); uma bolsa antiga
(ir retirando alguns objetos inusitados); um bauzinho...
Sugestões de outras histórias para contar:
Do livro “Como Atirar Vacas no Precipício”, de Alzira Castilho, as histórias:
1) Como atirar vacas no precipício
2) A catadora de vidro
3) Lembre-se de guardar a caixa
4) Um amigo pode salvar vidas
5) Fraternidade
6) A caixa de beijos
7) Sempre há uma saída
8) O pote
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Do livro “Para que Minha Vida se Transforme”, de Maria Salette e Wilma Ruggeri,
as histórias:
1) A lição da borboleta
2) O defeito do outro pode ser o seu
3) Tudo é uma questão de escolha
4) Faça sempre a sua parte
5) Acredite: você pode mudar o mundo
6) Construa sabiamente a casa da sua vida
7) Seja surdo aos apelos negativos
8) Aprecie o lado positivo das pessoas
Do livro “Histórias que Evangelizam”, de Gilberto Gomes Barbosa, as histórias:
1) O alpinista
2) O barbeiro
3) O garoto e os pregos
4) A estrela do mar
5) Amigos de viagem
6) O incêndio
7) As três peneiras
8) Uma lição de vida
5ª Atividade “As histórias são sementes, quando espalhadas encontram o
terreno em que desejam germinar.”
A intenção deste encontro era que os educadores percebessem que há
inúmeras formas de contemplar as histórias em sala de aula, bem como encantar
seus educandos. No entanto, uma única é imprescindível: estar encantado por
ela.
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Para esta atividade, os professores foram aguardados com os livros: “Rita,
não Grita”!, de Flávia Muniz, “A Operação do Tio Onofre”, de Tatiana Belinky, e
“Um Garoto Chamado Rorbeto”, de Gabriel, o Pensador, espalhados sobre a
mesa.
Foi desenvolvida a atividade com o livro “Rita, Não Grita!”. Mostrei a capa
do livro, muito sugestiva, dando ênfase à ilustração, ao título, à autora. Perguntei
se por meio destes itens daria para imaginar o que acontece na história, como
imaginaram esta tal de Rita e o que acontece com ela. Comentei que após estas
considerações, no início de uma aula, os alunos, a esta altura, já deveriam estar
sentados e atentos para ouvir a história. Comecei a leitura da história e, ao final
de cada página, mostrava as ilustrações referentes a cada parte lida. Ao término
da leitura, fiz alguns comentários a respeito do enredo, expectativas, promovendo
compreensão e interpretação da história.
Os outros livros também foram vistos, discutidos, analisados e os
professores demonstraram entusiasmo pelas histórias. Levaram os livros e
combinaram as trocas para que pudessem trabalhar todas as histórias em todas
as turmas.
Depois disso, fomos à sala de informática e acessamos o site
http://www.divertudo.com.br/quadrinhos/quadrinhos-txt.html. Vimos juntos o
conteúdo do site, que mostra, ensina, sugere, como produzir uma História em
Quadrinhos, de forma dinâmica, criativa, com todos os detalhes, peculiaridades
acerca das HQs.
Ficou como sugestão aos professores, após contarem as histórias dos
livros mencionados anteriormente, levarem os alunos ao laboratório de
informática para conhecerem o site sobre HQ, trabalharem a produção de uma
HQ com uma das histórias contadas por eles aos alunos, podendo ser uma parte
ou sua totalidade, uma produção individual ou coletiva.
Como menciona (Busatto, 2008, p.38), “A partir de um conto narrado é
possível trabalhar os conteúdos de linguagem oral e linguagem escrita, desde a
sintaxe até a semântica. Poderemos fazer novas leituras deste mesmo conto e
traduzi-lo através de diversas linguagens, como a história em quadrinhos,
reportagem jornalística, texto teatral, poema”.
19
O professor Miguel, depois de realizar esta atividade com uma de suas
turmas, anotou: “No laboratório de informática, os alunos tiveram o privilégio de
verem todos os detalhes da produção, visitando o site Divertudo/quadrinhos.
Através de animações do site, viram e tiraram dúvidas na produção, tanto nos
quadrinhos quanto nos balões. De uma maneira divertida pôde-se aprender como
fazer os diagramas, as onomatopeias, presentes nas HQs.”
A satisfação pelo trabalho realizado também fica clara na fala da aluna: “A
aula foi muito interessante, porque aprendemos a fazer uma HQ de maneira bem
prática e fácil, o site explicou de maneira que entendemos rapidamente
juntamente com a ajuda do professor. Chegamos à sala entusiasmados para
fazer a nossa versão de uma HQ, e uma coisa que era tão complicada e ruim,
tornou-se prazerosa.” (Wendy).
Vale observar o comentário da professora Alice em relação aos resultados
da atividade proposta: “Hoje foi o dia estabelecido para recolher as produções de
HQs, me surpreendi com muitas histórias, algumas de forma engraçada, outras
deram ênfase a algo que faz parte de seu cotidiano, sua vida.”
A observação de SILVA (1996, p.81) está, de certo modo, presente no
comentário da professora Alice: “O leitor traz o mundo da leitura, das histórias
para sua vida, bem como se transporta para ele.”
6ª Atividade “Histórias: quanto mais, melhor!”
O objetivo deste encontro era, além de os professores conhecerem um livro
maravilhoso, que eles percebessem que podemos ensinar um conteúdo de forma
atrativa, agradável.
Apresentei o livro: “O Carteiro Chegou”, de Janet e Allan Ahlberg.
Mencionei que é todo contado em rimas, que vem cheio de cartas de verdade,
postais, livrinhos e convites, inclusive com envelope. Os professores gostaram
muito da história, a qual traz um precioso trabalho de intertextualidade entre
contos infantis.
20
Sugeri que, em dias anteriores à atividade, despretensiosamente,
contassem as histórias que remetem ao livro, como: “Cachinhos Dourados e os
Três ursos”, “Branca de Neve e os Sete Anões”, “João e o Pé de Feijão”,
“Cinderela” e “Chapeuzinho Vermelho”. Assim, ao ler “O Carteiro Chegou”, os
alunos recordariam estas histórias e já estabeleceriam um paralelo entre elas.
Comentei ainda que, se os professores julgassem conveniente, poderiam
explorar os diversos tipos de correspondência presentes no livro.
A professora Alice utilizou o data show do colégio e levou os alunos ao
salão de reuniões, onde realizou parte da atividade; disse que os alunos se
encantaram com a história e realizaram excelentes produções.
O professor Miguel observou: “Um excelente trabalho foi feito através desta
proposta, a retribuição foi muito valiosa por parte dos alunos, houve uma grande
interação entre eles.”
7ª Atividade “O que tem nessa bolsa?”
A intenção dessa atividade era que o professor lesse para seus alunos, a
cada final de aula, um capítulo de um livro previamente comentado, divulgado
pelo professor, instigando os educandos a conhecerem a história, criarem
expectativas e ansiedade pelo momento de ouvir outra parte da história,
imaginarem o que acontecerá nos próximos capítulos e como. Os trechos
poderiam ser lidos nos quinze últimos minutos de cada aula. Para essa prática, foi
sugerido o livro “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga Nunes.
Em relação à recuperação da literatura oral, Busatto (2008, p.85) ressalta:
“Todo povo tem suas histórias, muitas delas apenas esperando o momento de se
tornarem conhecidas”.
Foi o que aconteceu com esta história, “A Bolsa Amarela”, que muitos
alunos do colégio procuraram para ler. A bibliotecária, ao perceber o interesse,
recomendou outras obras da autora contidas no acervo da biblioteca do colégio,
como “A Casa da Madrinha” e “Corda Bamba”.
21
Os professores comentaram que muitos alunos foram à biblioteca para
emprestarem o livro. Quando chegava à sala, para iniciar a aula do dia, os
educandos vinham dizer baixinho ao professor: “Eu já sei o que vai acontecer na
história, hoje.”
8ª Atividade “Um gol de placa!”
Nesta atividade, meu objetivo era que os professores adquirissem o hábito
de ler histórias agradáveis para seus alunos. Se eles demonstrassem interesse
pelas histórias contadas, despertariam nos educadores o gosto por esta prática
tão preciosa.
Apresentei o livro “Uma História de Futebol”, de José Roberto Torero, um
livro maravilhoso para quem gosta de ler ou ouvir com emoção, como se
estivesse acompanhando um clássico da paixão nacional, o futebol.
Esta envolvente história está dividida em doze partes, ou seja, em doze
meses – propus aos professores que a lessem em doze dias. Antes de iniciar o
capítulo do dia, ficou como sugestão que o professor interagisse com os alunos,
relembrando fatos dos capítulos anteriores, perguntando aos educandos o que
eles imaginam que aconteceria neste capítulo, como a personagem resolveria o
conflito ou como se daria a cena seguinte, questionando sobre o desenrolar da
trama, o que mais lhes chamou a atenção, do que gostaram.
Recomendei que, ao término da história, o professor passasse o filme
“Uma história de futebol”, para que os alunos pudessem fazer uma comparação e
soubessem que as diferenças entre as obras é que o autor do filme revela sua
leitura do livro.
O professor Miguel, ao término dessa atividade, registrou: “Pude comprovar
o interesse dos alunos pela história. A cada capítulo lido nas aulas aumentava a
curiosidade deles. Os alunos realmente gostaram dessa proposta, houve uma
colaboração muito grande em prestar atenção na narração.”
A professora Alice comentou que os alunos, depois de terem, concluído a
proposta, pediam para que ela passasse novamente o filme. Comentou também
22
que, a princípio, achou que a ideia não agradaria às meninas, por causa de a
história estar relacionada ao futebol. No entanto, ela disse que se surpreendeu,
pois a história, por ser tão atraente, agradou a todos.
9ª Atividade “Uma vida por um fio.”
O objetivo principal dessa prática seria acalmar, relaxar e encantar os
educandos com as aventuras e desventuras contidas no livro “As Mil e Uma
Noites”, de Antoine Galland, narradas pelo educador. Sugeri que lessem trechos
desse livro a cada fim de aula, nos quinze últimos minutos, e que, na aula
seguinte, fizessem uma retrospectiva da aventura do dia anterior para relembrar
parte da história lida. Por meio deste trabalho, o objetivo era incentivar de forma
prazerosa o gosto por ouvir histórias, promovendo e atribuindo ao educando
novos valores acerca da leitura.
Como pontua Silva (1996, p.24), “É preciso ler e fazer-ler a realidade e fazer
o acontecimento, mudar as circunstâncias: plantar ações que deixam resíduos na
história e na vida das pessoas”.
Acredita-se que o hábito de contar e ouvir histórias tem inúmeros
significados para o ser humano. Está relacionado ao cuidado afetivo, à construção
da identidade, ao desenvolvimento da imaginação, à capacidade de ouvir o outro
e à de se expressar. Além disso, aproxima o educando do universo letrado.
Apresentei aos professores o livro “As Mil e Uma Noites”, de Antoine
Galland, o qual reúne contos exóticos e personagens para lá de misteriosos, entre
eles estão: “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”, “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”;
nele também há lendas empolgantes e também cheias de crueldade, contos de
aventuras e histórias de amor. Nesta fantástica aventura, Sherazade, tendo a vida
por um fio, nos faz vibrar, torcer e nos encantar com suas surpreendentes
narrativas, repletas de magia e mistérios.
Os professores relataram que sempre conseguiam muito silêncio ao fim das
aulas para a leitura do livro, observaram que os alunos acompanhavam,
gostavam e entendiam a história, pois ao serem questionados na aula seguinte,
23
eles comentavam sobre a aventura narrada na aula anterior, falavam sobre certas
peculiaridades da trama, com interesse.
Assim como Sherazade, os professores conquistaram os alunos,
perceberam que a Contação de Histórias é prazerosa, provocaram a expectativa
em ouvir, no dia seguinte, mais uma fascinante aventura.
10ª Atividade “Respirando novos ares, novas aventuras!”
Como menciona Cléo Busatto, “Contar histórias pressupõe deixar de lado
algumas técnicas pedagógicas aprendidas e ir em busca de algo que foi
esquecido, e que permanece em algum lugar do nosso ser”... (BUSATTO, 2008).
Por esta razão, esta atividade teve como intuito proporcionar aos
educadores o hábito de procurar ambientes alternativos para a Contação de
Histórias, visto que os educandos apreciam estar em lugares diferentes da
habitual sala de aula. A proposta oportunizaria, portanto, ao educador e aos
educandos, uma prática agradável e produtiva.
O encontro com os professores teve início à sombra de uma árvore. Iniciei
a proposta com a dinâmica “Pássaros no ar” (descrita no Material Didático), com o
intuito de promover concentração. Os educadores divertiram-se com seus erros e
acertos.
Comentei que ao realizarem a dinâmica com seus alunos, os professores
poderiam parabenizar a todos os educandos pela participação e empenho em
fazer tudo conforme combinado e, logo após, contarem a história sugerida.
Depois desta observação, contei a história: “Menina Bonita do Laço de
Fita”, de Ana Maria Machado. A história foi contada até esta parte:
(...) Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
-Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?(...)
Interrompi a contação nesse momento. A esta altura, os professores
estavam curiosos para saber o que mais a menina teria inventado, bem como
pelo desfecho da narrativa. Propus que eles imaginassem o que mais a menina
teria dito ao coelho e como terminaria a história. Eles escreveram aquilo que
24
imaginaram e deram um final. Foi interessante, pois eles não conheciam essa
narrativa. Divertiram-se muito depois que leram o que produziram e ouviram a
versão de Ana Maria Machado.
Foi salientado ainda que, ao realizarem uma atividade semelhante com os
alunos, é sempre muito importante, após leitura de cada produção dos alunos,
que o professor teça comentários a respeito, elogiando, incentivando aquilo que
ficou bom, por menor que seja. Sugeri que as correções do texto fossem feitas
depois, em particular.
Ficou ainda como sugestão aos professores contarem a história: “A
encantada chapeuzinho vermelho”, de Edilene Pincinato e Elisabete Sereno.
Para essa atividade, também sugeri um ambiente tranquilo, fora da sala de
aula, com os alunos todos sentados em círculo. O professor contaria toda a
história “A encantada chapeuzinho vermelho”; ao término, ele questionaria os
alunos perguntando:
- A história é igual a que vocês conhecem?
- Quem é a personagem principal?
- Por quais histórias essa personagem passa?
Os alunos relembrariam os outros contos infantis (Branca de neve,
Cinderela, João e Maria,...). Caso não se recordassem de algum mencionado na
história, o professor os ajudaria na recapitulação.
Depois destes comentários, o professor poderá direcionar uma atividade de
produção textual, orientando os alunos a produzirem um texto com estas mesmas
características, ou seja, escolherão uma personagem principal, a qual passará por
outros contos infantis; poderão também mencionar contos atuais. Em seguida,
pedirá que os alunos narrem suas histórias para a classe.
Outro texto sugerido foi: “Uma velhinha de óculos, chinelos e vestido azul
de bolinhas brancas”, de Ricardo de Azevedo. Para o desenvolvimento desta
prática, sugeri aulas geminadas. O professor escolherá um lugar calmo,
acolhedor, poderá, antes de iniciar a contação desta história, fazer à dinâmica:
“Mudando de ritmo”, com a intenção de formar grupos.
Descrição da dinâmica sugerida:
O professor levará para o local escolhido um aparelho de som e cinco
músicas selecionadas (devem ser de ritmos animados). Depois, explica aos
25
educandos que ligará o som e eles começarão a dançar do seu jeito, sozinhos.
Deixa, porém, pouco tempo a música e para. Em seguida, pede para que
escolham alguém que esteja próximo para dançar com ele a música seguinte
(passarão a dançar em duplas). O professor interrompe novamente e diz que
agora eles terão que dançar a três e começa outra música. Assim prossegue até
formar o grupo com o número de pessoas pretendido.
Após o professor contar a história, na qual seis pessoas distintas observam
a mesma cena, a mesma pessoa e a imaginam bem diferente, sugere-se então
que cada grupo, formado por meio da dinâmica da dança, faça o mesmo, imagine
quem é esta mulher.
O educador estipula um tempo para conversarem, trocar ideias e relatarem
o que imaginaram. Em seguida, cada grupo irá expor o que imaginou, escreveu.
Poderá pedir que cada grupo entregue uma cópia da atividade produzida.
Considerando a fala do professor Miguel, as atividades propostas tiveram
êxito, alcançaram seu objetivo:
“Utilizei esta estratégia de contação em várias turmas, todas
corresponderam às expectativas, inclusive, ao trabalhar com uma 8ª série muito
difícil, tanto no comportamento quanto na aprendizagem, fui surpreendido com a
participação, interesse e belas produções. O resultado foi gratificante”.
“Li a história: “A encantada chapeuzinho vermelho”, para uma 6ª série. Os
alunos se encantaram com a narrativa, na qual Chapeuzinho passa por vários
contos. A proposta era a produção de outras versões. O resultado final foi muito
bom, várias histórias engraçadas e divertidas foram produzidas, com ideias
surpreendentes dos alunos. Realmente houve grande estímulo no processo de
ensino aprendizagem”.
Na fala de Carol, aluna do professor Miguel, pôde-se observar a satisfação
pela atividade realizada: “Menina bonita do laço de fita foi uma atividade para
desenvolver nossa imaginação. Foi uma ótima ideia do professor, já que os
alunos se divertem estudando”.
Vale ressaltar as impressões da professora Alice: “Hoje, nas aulas de Língua
Portuguesa, levei os alunos para fora da sala de aula, embaixo de uma árvore e
contei uma história: “Tá vendo uma velhota de óculos, chinelo e vestido azul com
bolinhas brancas no portão daquela casa”? Depois da contação, dividi a sala em
26
grupos para produzirem o texto. Amei a experiência. Cada dia que passa eles
colaboram mais com a aula e passaram a ter muito mais interesse nas aulas de
Língua Portuguesa. Quando entro na sala, eles perguntam “Professora que
história vai ser hoje”?
11ª Atividade “Quem compra essa ideia?”
Segundo SILVA (1996, p.33), a leitura é uma “exigência” que está presente
nas disciplinas acadêmicas oferecidas pela escola e, por isso mesmo, os
respectivos professores são, implícita ou explicitamente, orientadores de leitura.
Buscando incentivar os alunos a trilharem o caminho da leitura, essa
proposta de atividade tinha como objetivo levar o aluno à biblioteca para que ele
conhecesse o acervo, a riqueza de exemplares de romances existentes nela,
mostrar a eles a importância da leitura, bem como os valores agregados a ela, o
que tal hábito proporciona a quem o pratica.
Essa prática teve início com a história: “Mulher que lê”, autor desconhecido,
depois de conversarmos sobre o conteúdo da história, que além de reflexiva,
valoriza o hábito de leitura das mulheres e é engraçada. A proposta aos
educadores foi de levar para a classe um título de romance, como: “Um sonho no
caroço do abacate”, de Moacyr Scliar, precedido de uma história para estimular o
interesse dos educandos. Sugeri que contassem fatos relevantes, curiosidades
sobre o autor, acompanhassem os alunos à biblioteca para emprestarem o
romance, lessem com a turma o primeiro capítulo de forma atrativa para que se
envolvessem com o enredo e, no decorrer das aulas, o professor comentasse
sempre uma peculiaridade a respeito dos próximos capítulos.
Este título foi sugerido para ser trabalhado nas séries finais do ensino
fundamental; para as séries iniciais sugeri o título: “Tom Sawyer”, de Mark Twain.
Apresentei como sugestão, ao término da leitura do romance, que o
professor, por meio da dinâmica do bauzinho (descrita no Material Didático),
formasse grupos, os quais produziriam um comercial do livro por meio de
desenhos, sinopses, poesias, paródias, HQs, com o intuito de motivarem os
27
leitores do comercial à leitura do livro. Ficou como proposta a exposição, no pátio
do colégio, dos trabalhos realizados sob orientação dos professores envolvidos no
projeto.
A exposição do comercial dos livros foi feita no pátio do colégio. A turma
que leu Tom Sawyer, 6ª série, fez atrativos desenhos de cada capítulo do livro e
um breve comentário, como nota de rodapé, embaixo no desenho. Cada dia era
colocado no mural um desenho, acompanhado do comentário referente ao
capítulo. Primeiro dia, primeiro capítulo, e assim por diante, de forma que foram
vários dias para expor o livro todo. Porém, logo no primeiro dia, a procura pelo
livro exposto foi grande na biblioteca, e antes mesmo de terminar a exposição
todos os exemplares haviam sido emprestados. Para o outro romance sugerido
“Um sonho no caroço do abacate”, foi feito o comercial também em grupos, mas
expostos todos de uma vez. Os cartazes ficaram muito atrativos, engraçados e
sugestivos. A procura pelo romance também causou impacto, tanto que, no início
deste ano letivo, o diretor resolveu ampliar a quantidade desses romances.
Por meio dessa prática, ficou evidente que o hábito de ler não só
transforma o sujeito que o pratica, mas os que o rodeiam.
12ª Atividade “Quem conta um conto...”
O propósito dessa atividade consistia em oportunizar ao aluno contar suas
histórias, aquelas que fazem parte de seu contexto familiar, origem, regionalismo,
bem como conhecer um pouco mais daqueles que fazem parte de sua história
escolar: seus colegas de classe.
Nesse encontro, propus aos professores oportunizar, incentivar os alunos a
também contarem histórias em uma roda de contos, podendo ser verídicas, que
costumam ouvir em suas famílias, na sua infância, ou que pesquisaram e
gostaram, pois estariam assim aprimorando leitura, entonação, dicção, expressão
facial, corporal, interpretação, oratória e fluência (exercício de socialização). Para
a realização dessa prática, sugeri aos professores uma dinâmica para descontrair
seus educandos antes de iniciar essa atividade. Propus ainda que acontecesse
28
em um local espaçoso, que se acomodassem em círculo, de forma que todos
pudessem se ver e ouvir.
Exemplo de dinâmica:
O professor prepara uma folha de sulfite para cada aluno com palavras
aleatórias recortadas de revistas, jornais e coladas na folha, em ordem como se
fosse um texto. Quando o grupo estiver em um lugar com espaço, sem carteiras,
cadeiras, o professor entregará uma folha para cada aluno e explicará que eles
farão a leitura conforme forem orientados por ele. Então proporá que todos
lessem como se:
- fossem locutores esportivos narrando um jogo de futebol;
- estivessem contando um segredo;
- fossem padres rezando uma missa;
Ao término da dinâmica, o professor recolherá as folhas e espera-se que os
alunos estejam descontraídos e motivados. Depois disso, começa-se a Contação
de Histórias.
Os professores aceitaram o desafio e realizaram a atividade e a dinâmica
propostas. Ao relatarem esta experiência, disseram ter se divertido muito com a
dinâmica e se surpreenderam com as histórias narradas pelos alunos, algumas
verídicas e emocionantes, outras da tradição oral e familiar. Disseram ainda que
os alunos começaram meio tímidos e que depois foi preciso organizar a
sequência, pois muitos queriam contar mais histórias.
O professor Miguel observou: “Foi importante também, porque fiquei
conhecendo um pouco mais sobre meus alunos. A partir desse dia parece que
nosso relacionamento mudou, tornaram-se mais amáveis e eu mais
compreensivo”.
As experiências dos professores mostram que assim é contar, contar e
contar – uma prática tão antiga quanto o próprio conto. Como afirma Busatto: “A
arte de contar histórias nos liga ao indizível e traz resposta às nossas
inquietações” (CLÉO BUSATTO, 2003).
13ª Atividade “Episódio de hoje”
29
“Para que o “hábito” da leitura se desenvolvesse seria necessário que as
escolas e as famílias brasileiras permitissem o acesso ao livro”. (SILVA, p.35).
Para favorecer este “hábito”, a proposta desta atividade era de propiciar a
participação da família nesta preciosa aventura: a leitura.
Iniciei o encontro contando a história “Aprecie o lado positivo das pessoas”,
de Maria Salette e Wilma Ruggeri. Conversamos sobre os diversos pontos
abordados pela história. Depois lancei a proposta aos educadores Alice e Miguel
que sugerissem aos alunos a leitura de um livro para seus pais. A obra indicada
foi “Sempre Haverá um Amanhã”, de Giselda Laporta Nicolelis. A proposta era
que eles lessem por partes, um capítulo por dia. Ao término da leitura, o
responsável para quem o educando lesse faria um relatório para o educador,
contando o que achou da experiência, suas considerações a respeito desta
atividade.
Depois que todos os alunos entregassem o relatório feito pelos pais, o
professor faria um debate para conversarem a respeito da atividade, assim todos
teriam a oportunidade de relatarem a experiência, expondo seu ponto de vista: o
que deu certo, quais as dificuldades, se acha que farão isso novamente (ler para
os pais), se perceberam que os pais gostaram, como reagiram no início da
proposta e depois que terminaram.
Os professores, demonstrando sempre muita disposição e força de
vontade, aderiram à proposta e a puseram em prática.
Eis alguns relatos por parte dos professores e pais:
“Hoje tive uma experiência maravilhosa, há exatamente três semanas
atrás, incentivei meus alunos a levarem o livro “Sempre Haverá um Amanhã” para
casa e que o lessem para seus pais, depois pedissem a eles que escrevessem
um relatório contando o que acharam dessa experiência de ouvir seus filhos lendo
para eles. Como já era de se esperar, alguns pais não aderiram à proposta. No
entanto, a maioria cumpriu a atividade que ficou maravilhosa. Pude constatar que
os pais não tinham o costume de ouvir os filhos lendo, nem o inverso, mas que
adoraram a ideia. Percebi também que alguns se identificaram com a história,
sendo assim, pude conhecê-los um pouco mais. Adorei a experiência e quero
compartilhar com meus amigos”. (Professora Alice).
30
“Foi significativa a experiência dessa atividade, tive que encontrar tempo
para ouvir minha filha. (...) Gosto de participar de todas as suas atividades e esta
foi uma ótima e diferente oportunidade para isso”. (Mãe de aluna da 7ª série).
“É com grande satisfação que participo desse trabalho com a minha filha.
(...) Fiquei muito contente quando ela chegou do colégio e mesmo antes de
almoçar me falou desse trabalho de leitura. (...) Foi ótimo esse compromisso de
ter minha filha lendo para mim todo dia e ainda um livro que foi uma escolha bem
real. Quero parabenizá-la pelo projeto de leitura em família, essa iniciativa de
envolver os pais foi muito bacana mesmo. Continue com esta dedicação e
disposição”. (Mãe de aluna da 7ª série).
14ª Atividade “Avaliação”
No último encontro os professores entregaram os cadernos contendo
relatórios deles e dos alunos. Trechos destes relatórios foram utilizados neste
artigo. Os professores agradeceram a oportunidade de participar do projeto
“Contando e Encantando”, o qual julgaram pertinente e proveitoso. Relataram que
as atividades trabalhadas acrescentaram muito ao conhecimento de cada um, e
que foi desenvolvida uma certa amizade e liberdade entre mim e eles para me
procurarem em busca de novas sugestões de atividades com histórias,
romances...
Seguem algumas observações registradas pelos professores Alice e
Miguel.
“Professora Marlene, muito obrigada por me ajudar e auxiliar nessas aulas,
cresci muito e quero continuar crescendo, quero poder contar sempre com a sua
ajuda” (Professora Alice).
“Foi muito gratificante participar desse projeto, uma experiência muito boa
como professor. Adquiri novos conhecimentos, novas estratégias que com
certeza me ajudarão muito, ainda mais que estou no início de carreira. Agradeço
muito a professora Marlene pela oportunidade, para mim foi um grande incentivo
e ajuda. Obrigado!” (Professor Miguel).
31
Por meio deste trabalho, ficou evidente que se o educador estiver
preparado, motivado, assumirá uma nova postura nas aulas de Língua
Portuguesa, promoverá esta motivação aos alunos, os quais desenvolverão de
forma prazerosa o gosto pela leitura, tornando o ensino mais eficaz, agradável e
atraente.
Pôde-se perceber ainda que quando a escola e a família atuam de forma
conjunta os resultados são extremamente positivos. Os alunos, após utilização
das estratégias comentadas, passaram a participar mais e melhor das aulas de
Língua Portuguesa, frequentar a biblioteca, pedir sugestões de livros de literatura
aos professores e bibliotecários. Os professores, enquanto mediadores tiveram
papel imprescindível.
O desenvolvimento e o resultado de cada uma destas práticas fizeram com
que eu adquirisse maior confiança em meu trabalho, a vontade de buscar novos
caminhos, experiências, bem como a certeza de que podemos proporcionar
novos rumos à educação, e que se formos persuasivos teremos como aliados os
próprios educandos, os pais e a sociedade. Como disse Madre Tereza de
Calcutá, “Sei que meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano
seria ainda menor”.
4 Conclusão
O Material Didático por mim elaborado tinha como objetivo promover
estratégias que possibilitassem aos educadores formar leitores por meio da
Contação de Histórias, levando-os a contá-las para manter a história viva,
encantar e sensibilizar o ouvinte, estimular o imaginário, tocar o coração e
resgatar significados para sua existência.
A pretensão deste trabalho era incentivar de forma prazerosa o gosto pela
leitura, por contar histórias, promovendo e atribuindo ao educando novos valores
acerca da leitura. Sabendo que os professores são os principais agentes na
promoção dessa prática e que a escola é o espaço propício para isso, esse
trabalho visou proporcionar ao aluno prazer em ouvir, ler, participar e que isso se
32
tornasse um hábito em sua vida. Assim, o livro deveria ser mostrado e aberto com
dimensão do prazer e da alegria, para que o aluno percebesse que ler é uma
viagem maravilhosa e não apenas mais uma das atividades de escola.
Com base na teoria de Cléo Busatto, de que urge a necessidade de
sensibilizar o educador para recuperar a importância da oralidade, por meio da
metodologia de Contação de Histórias, ficou comprovado que é possível essa
sensibilização, a recuperação do interesse, o estímulo, a aceitação e participação,
tanto dos educadores como de seus educandos.
A implementação aconteceu com dois professores de Língua Portuguesa,
iniciantes na Rede Estadual de Ensino. Desde o princípio, quando o projeto foi
exposto aos professores, eles se interessaram, procuraram-me e participaram
ativamente, realizando todas as atividades propostas nos encontros.
Demonstraram sempre muito interesse, vontade e disposição para a realização
das propostas, bem como empenho e motivação para que tudo acontecesse da
melhor forma possível.
As atividades mostraram resultados surpreendentes para mim e aos
professores que realizaram, uma vez que iniciaram o desenvolvimento das
atividades no segundo semestre, quando se percebe que os alunos caem no
rendimento e participação, demonstram-se mais apáticos, desinteressados. Ao
realizar as atividades propostas, os professores perceberam que o interesse, a
participação e, consequentemente, as notas dos alunos melhoraram. Observaram
ainda que eles aguardavam a chegada do professor com interesse, entusiasmo e
perguntavam se naquele dia haveria uma nova história, se iriam para um lugar
diferente, embora todos os lugares que foram levados para a realização das
atividades era dentro do próprio colégio, para eles tornou-se interessante e
proveitoso.
Foram realizadas quatorze atividades, incluindo até mesmo a leitura de
romances, uma prática que não estava acontecendo nas aulas de Língua
Portuguesa, principalmente nas séries finais, por falta de incentivo e por falta de
opções de romances na biblioteca do colégio. A partir da execução desse projeto
o número de romances de dois títulos trabalhados foi ampliado: “Um sonho no
caroço do abacate”, de Moacyr Scliar e “Sempre Haverá um Amanhã”, de Giselda
Laporta Nicolelis, abrindo espaço para novas aquisições.
33
Neste projeto, comprovei que quando o professor está motivado, ele
transmite essa motivação ao aluno, e este aceita o desafio lançado pelo
professor. Concluí ainda que a Contação de Histórias é um caminho profícuo para
tornar as aulas mais atrativas, agradáveis e produtivas. É uma prática a ser
considerada nas aulas de Língua Portuguesa, visto que há uma boa aceitação por
parte dos educandos.
Com esses resultados, o relatório escrito pelos professores e alunos fica
comprovado que essa prática de Contação de Histórias é viável. Concluo com a
certeza de que Contação de Histórias promove de forma prazerosa o gosto pela
leitura, o adolescente por meio das histórias é levado a sentir prazer ao ouvir, ler
ou contar uma história.
Esse fio discursivo também pode ser ouvido na fala de Maria da Glória
Bordini e Vera Teixeira de Aguiar: “Na experiência com o desconhecido, surge à
descoberta de modos alternativos de ser e de viver. A tensão entre esses dois
pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura”.
(BORDINI/AGUIAR,1993, p. 26)
Referências
BARBOSA, Gilberto Gomes. Histórias que Evangelizam. 1ª edição, Recife, PE: Gráfica Dom Bosco, 2003.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura. A Formação do Leitor. Alternativas Metodológicas. 2. ed. Porto Alegre, RS:Mercado Aberto, 1993.
BUSATTO, Cléo. A arte de Contar Histórias no Século XXI: Tradição e Ciberespaço, 2006 editora Vozes.
BUSATTO, Cléo. Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa. 5.ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2008.
CASTILHO, Alzira. Como Atirar Vacas no Precipício. 7ª impressão, São Paulo: Editora Panda, 2000.
34
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura Para a Leitura Do Mundo. 6.ed.Ática, 1993.
SALETTE, Maria; RUGGERI, Wilma. Para que Minha Vida se Transforme. 1ª impressão. Campinas, SP: Editora Verus, 2007.
VIANNA, Antônio Carlos. Esopo Fábulas. 2ª impressão. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.
WWW.divertudo.com.br/quadrinhos, disponível em: <http://www.divertudo.com.br/quadrinhos/quadrinhos-txt.html>acesso em 20 set 2010.
Anexos:
ATIVIDADES DA UNIDADE DIDÁTICA TRABALHADAS DURANTE A
IMPLEMENTAÇÃO:
Introdução
No cotidiano da sala de aula, os professores buscam formas de tornar o
ensino mais eficaz e estimulante. Uma das alternativas para isso é aliar o prazer à
aprendizagem, e a Contação de Histórias oferece múltiplas possibilidades para
um trabalho pedagógico.
As histórias espalham na alma as sementes da sabedoria e da virtude, e os
ouvintes aprendem a se conhecer, viajando por caminhos inusitados.
As histórias existem para serem ouvidas e desfrutadas. Elas devem ser
apresentadas primeiramente para inspirar o espírito, afagar o coração, como
alento aos sentidos, pois o que se aprende desta forma não se perderá jamais.
Não existe povo sem história. Todos os povos necessitaram de uma
história para conhecer melhor o mundo e as pessoas, enfrentar os empecilhos da
35
vida e sonhar. As histórias aguçam a imaginação, povoam a mente de lugares,
pessoas, ideias e muitos sonhos. Foi pela voz de contadores de histórias que se
preservou grande parte da cultura e transmitiu-se muito conhecimento.
Não podemos deixar que esta antiga arte de contar histórias se perca, pois
ela funciona como uma ponte entre as diferentes realidades.
As experiências se repetem e estão por toda parte, reforçando a capacidade transformadora desse grupo de histórias, pela voz hábil do narrador. Então que venham os contos, os cantos e os encantos, para embalar nosso coração e restituir a esperança de que viver bem, sob quaisquer circunstâncias, é possível e muito bom (BUSATTO, 2006, p.82).
Culturalmente, nossos educandos estão restritos ao acesso à leitura por
prazer, e muitos têm a sala de aula como único local de utilização da leitura. A
escola, por sua vez, reflete as condições de vida e da cultura da comunidade em
que está inserida. Portanto se faz necessário repensar estes conceitos e as
práticas pedagógicas atuais. Por isso, pretende-se com este trabalho incentivar
de forma prazerosa o gosto pela leitura, por ouvir, ler e contar histórias,
proporcionando assim uma forma agradável, promovendo e atribuindo ao
educando novos valores acerca da leitura.
Este trabalho será desenvolvido com professores da disciplina Língua
Portuguesa, durante o período em que se reúnem para planejarem suas práticas
pedagógicas, trocar informações, expor o que estão trabalhando, suas angústias,
seus anseios e suas realizações. Nestes encontros, serão trabalhadas estratégias
de Contação de Histórias e será dado suporte para a realização dessa prática em
sala de aula.
Unidade Didática
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Questionário elaborado para os professores, com o intuito de averiguar se estes
utilizam ou não a prática de Contação de Histórias em suas aulas, se isso ocorre
constantemente ou aleatoriamente e o que percebem ao utilizá-la.
a) Você costuma contar histórias em sala de aula?
b) Com que frequência costuma contar histórias e em que momento da aula?
c) Que tipo de histórias costuma contar?
d) Se já possui esta prática, o que percebe ao utilizá-la?
e) Os alunos ficam mais atentos? Gostam de ouvir?
f) Relate suas experiências.
Questionário elaborado para os alunos a fim de constatar seus interesses,
aptidões por ouvir, ler e contar histórias.
a) Seus pais ou responsáveis costumavam contar histórias para você dormir? Em
caso afirmativo, que tipo de histórias eles contavam?
b) Você se lembra de alguma história que seus pais ou responsáveis
contam/contavam? Qual?
c) Que outras pessoas você convive/conviveu que conta/contou histórias para
você?
d) Você gosta de ouvir histórias? Por quê?
Este Material é composto por quatorze atividades, as quais são propostas para os professores trabalharem com seus alunos,
objetivando incentivar de forma prazerosa o gosto por ouvir, ler e contar histórias.
1ª Atividade “Quem pergunta quer saber”
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e) Já contou alguma história para alguém? Gostou da experiência? As pessoas
mostraram-se interessadas ao ouvi-lo (la)? Comente.
f) Seus professores das séries anteriores contavam ou liam histórias em sua
turma? Com que frequência?
g) Há alguma história que você leu ou ouviu que o marcou? Qual? Por quê?
h) Você gosta de ler? Por quê?
i) Quais livros você já leu?
Por meio das citações de Cléo Busatto, espera-se que os educadores
reflitam sobre a importância da Contação de Histórias, bem como sua eficácia nas
práticas pedagógicas e formação dos educandos.
Como educadores devemos estar cientes da urgência em procurarmos
novas práticas, as quais levem nossos educandos a trilhar seus caminhos.
Acredita-se que as histórias além de propiciarem conhecimentos, trazem uma
sensação de conforto e aconchego para nosso mundo interior. Para BUSATTO
(2003, p50) “Para onde ir? Este questionamento não é novo. Já não há
instituições que se proponham à incômoda tarefa de oferecer ao espírito vivências
que venham nutri-lo. Correr para onde?”
2ª Atividade “Mas o que vale a pena contar”?
Mas o que vale a pena contar?
Para que contar uma história?
As histórias têm função?
38
É por meio da Contação de Histórias, da leitura, compreensão e
interpretação que os educandos interagem com o texto e com as outras pessoas,
ampliam seu vocabulário, seus horizontes, aprendem novos caminhos para expor
seus pensamentos, aquilo que desejam e esperam tornando-se, assim, cidadãos.
O conto de literatura oral serve a muitos propósitos, a começar pela formação psicológica, intelectual e espiritual do ser humano. Através do conto podemos valorizar as diferenças entre os grupos étnicos, culturais e religiosos, e introduzir conceitos éticos. O conto pode ser o estímulo que dará origem a estas e muitas outras reflexões. Serve também como elemento integrador de um trabalho em sala de aula, onde as diferentes áreas de conhecimento podem ser abordadas e pesquisadas (BUSATTO, 2003, p.37).
O adolescente por meio das histórias é levado a sentir prazer ao ouvir, ler
ou contar uma história. Ao mesmo tempo, é convidado a refletir sobre a realidade
em que vive, visto que se vê inserido na trama e isto contribui no processo de
superação de suas carências.
O segredo do poder da história é a compreensão essencial de que o importante não é o que acontece na história. O que vale é o que acontece dentro de nós que a ouvimos (BUSATTO, 2006, p.75). ...contar histórias não é um privilégio de poucos, e sim uma tarefa acessível a quem se dispor a desenvolvê-la. Afinal, a prática ainda é o caminho mais seguro (BUSATTO, 2003, p.90).
O importante é ter disposição, coragem, é identificar-se com a história,
descobrir os seus segredos, sua mensagem, interpretá-la. Depois é só contar com
o coração e convicção. “O que fica de tudo isso é o reconhecimento do saudável
hábito de contar histórias. Então que venham os contadores e suas histórias”
(BUSATTO,2003, p.128).
3ª Atividade “Era uma vez”...
39
Para promover o valor que a Literatura pode ter na vida do adolescente e
no seu desenvolvimento intelectual e emocional, valorizando a atividade lúdica,
como uma das maneiras de adquirir o conhecimento, sugere-se como
metodologia a Contação de Histórias no início das aulas, principalmente quando
estas aulas forem as últimas do período, após o intervalo, ou seja, em um horário
em que os alunos apresentam-se mais agitados – estas histórias serão contadas
com o intuito de acalmar, relaxar e, ao mesmo tempo, instigar, provocar o
interesse pela busca do conhecimento por meio da literatura.
Para esta atividade, sugerem-se histórias curtas e atrativas, como “Maria
vai com as outras”, de Sylvia Orthof. Por ser uma história curta, o professor terá
facilidade de aprendê-la para contá-la a seus alunos.
Para chamar a atenção dos alunos, o educador poderá utilizar-se de
algodões coloridos, uma carteira e uma cadeira. Ao colocar os algodões sobre a
carteira, seus educandos começarão a ficar intrigados por não saberem do que se
trata e prestarão atenção para ver o desfecho.
Os algodões poderão ser de duas cores, uma cor para Maria e outra para
as demais ovelhas. Para iniciar, fala-se o nome da história e o da autora.
Enquanto vai contando a história, sentado na cadeira, o contador vai mexendo
com os algodões, à medida que as personagens vão agindo.
Exemplo: Era uma vez uma ovelha chamada Maria... (a mão do contador
estará sobre um chumaço de algodão branco). Onde as outras ovelhas iam ...(a
mão estará agora sobre os chumaços de algodões coloridos). O olhar do contador
ficará voltado ora para os objetos sobre a carteira, ora para os educandos da
turma.
Ao terminar a história ele poderá tecer alguns comentários sobre
personagens, reação de Maria, desfecho, etc. A esta altura a turma estará mais
atenta para começar e/ou retomar o conteúdo da disciplina.
Professor, esta história que ensina a ter personalidade e estilo, está
disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=yIpwFvMQ1eQ>
acesso em 9 de jul, 2011.
40
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
A atual sociedade carrega o desafio de reencantar: é tempo de
ressensibilizar o mundo e o ser humano. Contar histórias pode ser fermento para
a imaginação, pois elas nascem no coração e, poeticamente circulando,
espalham-se por todos os sentidos, devaneando até chegar ao imaginário.
Utilizando esta mesma técnica de contação de histórias (sentado em uma
cadeira e fazendo uso de alguns objetos que ficam sobre a carteira), o professor
poderá memorizar esta outra história “Seus Quinze Minutos de Poder”, para
contá-la em outro dia. Poderá utilizar carretéis e novelos de linha para representar
as personagens (anjos, lavradores) e bloquinhos do “pequeno construtor”,
representando a casa e o porco que aparece na história, ou ainda conchinhas do
mar, ou outros objetos que o professor já possua. Caso julgue mais pertinente,
poderá apenas contá-la, com entonação, convicção e olhos nos olhos. Ao término
da história, podem ser feitos alguns comentários para a compreensão da mesma.
4ª Atividade “É tempo de reencantar”...
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Sugestões para Contação de Histórias:
A. Valer-se de desenhos que representam partes significativas da história,
que poderão estar em folhas de sulfite, assim a cada parte o professor colará o
desenho no quadro e não se perderá no decorrer da história.
B. Utilizar o avental do contador de histórias, o qual possui um grande
bolso de onde o contador retira os personagens (desenhos, objetos, lenços,...).
C. O uso de fantoches também é uma opção interessante.
D. Utilizar de materiais diversos: sino (para iniciar e/ou como se estivesse
dividindo a história em cenas, capítulos); lenço (levantá-lo no ar indicando
passagem de tempo. Ex: No outro dia... Muitos anos depois...); uma bolsa antiga
(ir retirando alguns objetos inusitados); um bauzinho...
Segue trechos da história...
Seus Quinze Minutos de Poder
Era uma vez, há muitos anos, uma escola de anjos. Conta-se que naquele
tempo, antes de se tornarem anjos de verdade, os aprendizes de anjos passavam
por um estágio
(...)
Tive uma idéia! Que tal darmos poder a esses dois lavradores por quinze
minutos para ver o que eles farão?
(...)
Será que os quinze próximos minutos não são os seus? Muito cuidado,
portanto, com tudo o que você diz, com seu modo de agir e de pensar! Lembre-
se: Sua mente está sempre trabalhando para que tudo aconteça, seja algo bom
ou algo ruim.
Extraído do livro: “Como Atirar Vacas no Precipício” (Alzira Castilho)
Professor você encontra essa história disponível em
<http://robefassbinder.tripod.com/067.htm> acesso em 9 de jul, 2011.
Você poderá contar ou ler outras histórias para seus alunos, segue abaixo
algumas sugestões:
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Do livro “Como Atirar Vacas no Precipício”
9) Como atirar vacas no precipício
10) A catadora de vidro
11) Lembre-se de guardar a caixa
12) Um amigo pode salvar vidas
13) Fraternidade
14) A caixa de beijos
15) Sempre há uma saída
16) O pote
Do livro “Para que Minha Vida se Transforme”
9) A lição da borboleta
10) O defeito do outro pode ser o seu
11) Tudo é uma questão de escolha
12) Faça sempre a sua parte
13) Acredite: você pode mudar o mundo
14) Construa sabiamente a casa da sua vida
15) Seja surdo aos apelos negativos
16) Aprecie o lado positivo das pessoas
Do livro “Histórias que Evangelizam”
9) O alpinista
10) O barbeiro
11) O garoto e os pregos
12) A estrela do mar
13) Amigos de viagem
14) O incêndio
15) As três peneiras
16) Uma lição de vida
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Aprender a contar, ouvir, ler é perceber que há um mundo diferente
daquele que se vive é viajar por meio do mundo das palavras.
O contador, com seu estilo, vai moldando a história ao contexto onde ela é
narrada e vai se adaptando aos tons e cores de cada povo.
Outra opção é a de ler pequenos livros, como “Rita, não Grita!” de Flávia
Muniz.
O professor poderá iniciar a aula mostrando o livro para seus alunos, lerá o
título, autora, perguntar se eles preferem ler livros ilustrados ou não, dizer quem
foi que ilustrou este livro, se por meio do desenho da capa e o título dá para
imaginar o que acontecerá nesta história, como eles imaginam esta tal de Rita e o
que acontecerá com ela.
Após estas considerações, os alunos já estarão sentados cada um em seu
lugar e atentos para ouvirem a história.
Começa a leitura e à medida que for lendo, mostrará as ilustrações para os
educandos. Se julgar pertinente, poderão ser feitos comentários a respeito da
história, ilustrações, autores, se o desfecho foi como imaginaram antes da
leitura... espera-se que ao término desta atividade os alunos estejam mais atentos
para o conteúdo a ser trabalhado posteriormente.
Sinopse: Rita magrela era gritadeira. Vivia fazendo birra. Tudo era
motivo para reclamações e berros. Os amigos cansaram e
desapareceram. Ninguém mais convidava Rita para brincar, ninguém
mais lhe dava atenção.
5ª Atividade “As histórias são sementes, quando
espalhadas encontram o terreno que desejam germinar”
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Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
Com o livro “A operação do tio Onofre”, de Tatiana Belinky, o professor
mostrará a capa do livro, muito sugestiva, a qual contém o título, autora,
ilustradora, o desenho de uma menina com as mãos para o alto, uma lâmpada
sobre sua cabeça sugerindo uma ideia e a indicação de que é uma história
policial. Perguntará aos educandos o que eles imaginam que acontecerá nesta
história, que personagens aparecerão, além da menina. Como imaginam esse tio
Onofre e que tipo de operação será feita. Após, sugere-se ler a contracapa, onde
encontra-se a sinopse do livro “Talita é uma menina que gosta de dar nomes de
pessoas aos objetos da casa: a poltrona é a Vó Gordona, a escada é a Dona
Ada... Mas quem é esse Tio Onofre do título?” Só lendo a história para
descobrir”... Há também um breve comentário sobre a autora, o qual será
importante ler para os educandos.
45
A essa altura eles estarão curiosos e atentos para conhecer a história.
Começa então a leitura e a cada página lida o professor mostrará para a sala os
belos e sugestivos desenhos que acompanham a história. Depois do término da
leitura, poderá ser feita a compreensão da história e comentários a respeito do
enredo, expectativas.
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
Outra sugestão:
Um Garoto Chamado Rorbeto, de Gabriel o Pensador. Sugere-se que o
professor inicie a atividade mostrando a capa do livro aos alunos enquanto a
Sinopse: A mania de Talita de dar nomes que rimassem com todos os
objetos da casa foi o que ajudou a família toda a sair de uma grande
encrenca.
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classe vai se organizando, sentando em seus lugares, leia o título e questione
o que eles percebem de diferente. Depois de eles comentarem, perguntar se
alguém conhece o autor, o professor tecerá alguns comentários a respeito, ou
lerá o que o escritor Ziraldo fala dele no livro, mencionará algumas músicas
dele e poderá trazê-las para a classe ouvir.
O professor lê a história dando ênfase às rimas e a cada parte lida,
mostra as ilustrações. Ao final da história, reserva-se um tempo para as
considerações dos alunos, intermediadas pelo educador. Poderá sugerir que
os alunos façam um desenho ilustrando a história, ou uma parte significativa
para ele. Outra sugestão é levá-los ao laboratório de informática, pedir que
acessem o site http://www.divertudo.com.br/quadrinhos/quadrinhos-txt.html , o
professor organizará para que todos estejam sempre juntos acompanhando as
explicações sobre como produzir uma História em Quadrinhos, este site traz
de forma bem dinâmica, criativa todos os detalhes sobre as peculiaridades
acerca das HQs. Após o professor sugere que os alunos produzam uma HQ
com a história do livro lido, poderá ser uma parte ou na sua totalidade,
individual ou coletivo.
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
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O adolescente por meio das histórias é levado a sentir prazer ao ouvir, ler
ou contar uma história. Ao mesmo tempo, é convidado a refletir sobre a realidade
em que vive, visto que se vê inserido na trama e isto contribui no processo de
superação de suas carências. “Na experiência com o desconhecido, surge a
descoberta de modos alternativos de ser e de viver. A tensão entre esses dois
pólos patrocina a forma mais agradável e efetiva de leitura”
(BORDINI/AGUIAR,1993, p. 26).
O trabalho com histórias é muito rico, no sentido da quantidade e
variedade, este gênero encanta tanto crianças, como adultos; professores, como
alunos.
O livro “O carteiro chegou”, traz um precioso trabalho de intertextualidade
entre contos infantis. Seria, portanto interessante que os educandos
conhecessem os contos que a história remete, são eles: Cachinhos dourados e os
três ursos; Branca de Neve e os sete anões; João e o pé de feijão; Cinderela e
Chapeuzinho Vermelho.
Seria aconselhável que, despretensiosamente o professor contasse
anteriormente a esta história, em dias anteriores, as histórias que aparecem no
livro, ou que perguntasse aos alunos se eles conhecem-nas e pedir que um deles
conte o que se lembra de tal história e o professor e os demais alunos
acrescentam, após o aluno terminar, o que foi deixado de ser mencionado, ou
seja, somente fatos relevantes.
Assim, quando o professor ler “O carteiro chegou”, eles lembrarão as
histórias contadas por eles mesmos ou pelo professor nos dias anteriores.
Mesmo que este trabalho não tenha por objetivo uma produção de texto, se
o educador julgar conveniente poderá explorar os diversos tipos de
correspondência: cartas, bilhetes, cartões,...
6ª Atividade “Histórias: quanto mais, melhor”!
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Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
As histórias contêm elementos primordiais para a formação do leitor;
cativa-o, mostrando-lhe o mundo, fornecendo meios de como enfrentá-lo.
O livro, O carteiro chegou, de Janet e Allan Ahlberg, que é todo contado
em rimas, vem cheio de cartas de verdade, postais, livrinhos e convites,
com envelope e tudo.
7ª Atividade “O que tem nessa bolsa”?
Professor, você encontrará esta fantástica aventura disponível em:
<http://www.slideshare.net/ROSMERIMARMITT/o-carteiro-chegou-janet-e-
allan-ahlberg> acesso em 3 de mai de 2011.
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Outra intenção será a de ler, a cada final de aula, um capítulo de um livro
previamente comentado pelo professor, instigando os educandos a conhecer a
história, criar expectativas e ansiedade pelo momento de ouvir outra parte da
história, imaginar como e o que acontecerá nos próximos capítulos.
Os trechos poderão ser lidos nos dez últimos minutos de cada aula. Para
essa prática sugere-se o livro “A bolsa amarela”, de Lygia Bojunga.
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
Uma história de futebol, de José Roberto Torero; esta história maravilhosa
está dividida em doze partes, ou seja, em doze meses, seria interessante que o
professor a lesse em doze dias.
Essa prática criará certa expectativa, anseio pelo momento de ouvir o
próximo capítulo. Antes de iniciá-la, o professor poderá a cada dia, perguntar aos
8ª Atividade “Um gol de placa”!
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educandos o que eles imaginam que irá acontecer neste capítulo, como a
personagem resolverá o conflito ou como se dará a cena seguinte, lembrará o
capítulo anterior e questionará o desenrolar da trama, o que mais lhes chamou a
atenção, gostaram.
Recomenda-se ao término da história, o professor passar o filme “Uma
história de futebol”, para que os alunos possam fazer uma comparação e saberem
que as diferenças entre as obras é que o autor do filme revela sua leitura do livro.
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
“Uma história de futebol” é um livro perfeito para quem gosta de ler com
emoção, assim como se acompanha um bom jogo de futebol. Zuza e Dico,
nossos heróis, são dois meninos fanáticos por futebol. O que a gente vai
descobrir é como uma amizade pode mudar nossas vidas e como um menino
do interior pode se tornar o maior jogador do mundo, nosso eterno Pelé!
9ª Atividade “Uma vida por um fio”...
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O livro “As Mil e Uma Noites” de Antoine Galland, reúne contos exóticos e
personagens para lá de misteriosos, entre eles estão “Aladim e a Lâmpada
Maravilhosa”, “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”, há lendas empolgantes e
também cheias de crueldade, contos de aventuras, histórias de amor...
Nesta fantástica aventura, Sherazade, com a vida por um fio, nos faz vibrar,
torcer e nos encantar com suas surpreendentes narrativas, cheias de mistérios e
magia.
Sugere-se ao educador ler trechos desse livro a cada fim de aula, nos
quinze últimos minutos e no dia seguinte fazer uma retrospectiva da aventura do
dia anterior para relembrar parte da história lida.
Outra metodologia será levar os alunos para um ambiente fora da sala de
aula – pode ser embaixo de uma árvore, um lugar tranquilo onde se possa ouvir
uma história, deleitar-se, comentar, opinar, dar continuidade, modificar o
desfecho. Como sugestões de histórias para este procedimento estão:
Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado.
Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e
bem negros.
A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com
laços de fita coloridas.
Ela ficava parecendo uma princesa das terras da áfrica, ou uma fada do
Reino do Luar.
(...)
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem
conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto
e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.
10ª Atividade “Respirando novos ares, novas aventuras”!
52
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
-Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
O professor interrompe a história neste momento, os alunos estão a esta
altura curiosos para saber o que mais a menina teria inventado, bem como o
desfecho desta narrativa. A proposta do professor é que os educandos imaginem
o que mais a menina teria dito ao coelho e como imaginam que termina a história.
Poderá pedir para que em duplas escrevam aquilo que imaginaram e que
deem um final para a história. Depois que terminarem esta etapa, as duplas lerão
suas versões para a classe, após o professor retomará a história ”Menina bonita
do laço de fita” e contará a versão final de Ana Maria Machado.
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de
feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se
meter e disse:
-Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina
devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com
os pais, os tios, os avós e até com os parentes tortos. E se ele queria ter uma filha
pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para
casar.
(...)
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava
alguém que perguntava:
-Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
E ela respondia:
-Conselhos da mãe da minha madrinha...
Professor, você encontra a apresentação desta história em:
<http://www.slideshare.net/lilian.moreira/menina-bonita-do-laco-de-fita-
presentation> acesso em 9 de jul, 2011 ou o texto em:
<http://www.historiasinfantis.eu/menina-bonita-do-laco-de-fita/> acesso em 11
de jul, 2011.
53
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
A encantada chapeuzinho vermelho, de Edilene Pincinato e Elisabete Sereno.
Também em um ambiente tranquilo, fora da sala de aula, os alunos todos
sentados em círculo, o professor contará a história “A encantada chapeuzinho
vermelho”, ao término da história o professor questionará os alunos perguntando
a eles o que houve, se a história é igual a que eles conhecem, quem é a
personagem principal, por quais histórias esta personagem passa.
Os alunos relembrarão os outros contos infantis (Branca de neve,
Cinderela, João e Maria,...). Caso não se recordem de algum mencionado na
história, o professor os ajudará na recapitulação.
Professor é sempre muito importante que após cada leitura, seja tecido um
comentário a respeito do texto, elogiando, incentivando aquilo que ficou
bom, por menor que seja. Sugere-se que as correções do texto sejam feitas
depois em particular, poderá pedir para cada equipe entregar uma cópia de
seu texto.
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Depois destes comentários o professor direcionará uma atividade de
produção textual, orientando-os que produzam um texto com estas mesmas
características, ou seja, escolherão uma personagem principal, a qual passará por
outros contos infantis, poderão mencionar contos atuais. Em seguida, pedirá que
as equipes narrem suas histórias para a classe.
A Encantada Chapeuzinho Vermelho
Era uma vez uma garotinha que morava numa floresta distante. Certa vez,
esta menininha ganhou de presente uma capa de capuz vermelho, gostou tanto
do presente que nunca deixava de usá-lo, por isso ficou conhecida como
Chapeuzinho Vermelho. Mas essa menina morava com sua madrasta, uma
senhora má e com suas duas filhas arrogantes. Elas faziam Chapeuzinho
Vermelho trabalhar sem parar:
(...)
De repente ouviu uma bela voz chamar por ajuda. Era uma bela garota
loura, com longas tranças que estava presa no alto de uma torre.
(...)
-Não chore menina, eu vou ajudá-la a ir para casa de sua avó – disse a
fada. E apontando com a varinha mágica, a fada transformou uma abóbora em
uma bela carruagem, puxada por quatro cavalos. Partiu assim em disparada para
a casa de sua avó, a menina da capinha vermelha.
(...)
Nesse instante, Chapeuzinho caiu em um sono profundo e sua avó
também. Ah! Que ironia do destino! Pobre Chapeuzinho Vermelho, dormirá por
uns anos, até que cresça, e um dia um bravo príncipe, montado em um lindo
Corcel branco, venha lhe despertar com um apaixonado beijo de amor.
Professor a história completa está disponível em
<http://parodiadoprofessor.wikispaces.com/> acesso em 9 de jul, 2011.
55
Ilustração feita por Letícia Barela Barbosa
“Uma velhinha de óculos, chinelos e vestido azul de bolinhas brancas”, de
Ricardo de Azevedo. Para o desenvolvimento desta prática, sugerem-se aulas
geminadas.
O professor escolherá um lugar calmo, tranquilo, fora da sala de aula para
levar seus alunos, poderá antes de iniciar a contação desta história, fazer uma
dinâmica “Pássaros no ar ou A troca de um segredo”, com o intuito de acalmar,
relaxar e ao mesmo tempo concentrar-se.
Dinâmica “Pássaros no Ar”
O grupo deverá estar em círculo, todos sentados. Cada vez que se
mencionar o nome de um pássaro, todos devem erguer a mão direita e fazê-la
flutuar, imitando um pássaro em voo. Se mencionar um bando de pássaros,
ambas as mãos deverão flutuar. Se mencionar um animal que não voe, deverão
ficar imóveis, com as mãos sobre os joelhos; quem errar sai do grupo e colabora
com o professor na fiscalização.
História para trabalhar com o grupo:
56
Nesta manhã levantei-me cedo. O dia estava magnífico. O sol animava
toda a natureza e os pássaros (duas mãos) cantavam sem cessar.
Ao abrir a janela do quarto, um pardal (mão direita), sem cerimônia, invadiu
a casa, pondo o gato (mãos no joelho) em polvorosa.
O papagaio (mão direita) que estava no jardim de inverno irritou-se com a
correria do gato (mãos nos joelhos) e pôs-se a berrar, assustando os canários
(duas mãos), que tranquilamente cantavam em suas gaiolas. O pardal (mão
direita) acabou saindo pela janela de onde entrou, deixando o gato (mãos nos
joelhos) mais tranquilo que foi brincar com o cachorro (mãos nos joelhos) já
resignado com a perda de seu pardal (mão direita) que planejava ter para o café
da manhã. Sucessivamente acalmaram-se o papagaio (mão direita) e os canários
(duas mãos).
Continuando a contemplar a natureza, observei que se aproximou de um
lindo vaso de flores um beija-flor (mão direita). Aí pensei comigo, vai começar
tudo de novo. O gato (mãos nos joelhos) felizmente, nessa altura se mantinha
concentrado brincando com o cachorro (mãos nos joelhos) e não percebeu a
aproximação do beija-flor (mão direita).
O papagaio (mão direita) se divertia com uma corrente pendurada em sua
gaiola e os canários (duas mãos) cantarolavam mais tranquilamente em suas
gaiolas, saudando o lindo dia que iniciava...
O professor parabeniza a todos pela participação e empenho em fazer tudo
conforme combinado e começa a contar a história sugerida.
Após o professor contar a história, na qual seis pessoas distintas observam
a mesma cena, a mesma pessoa e a imaginam bem diferente, sugere-se então
que cada grupo faça o mesmo, imagine quem é esta mulher.
O educador estipula um tempo para conversarem, trocar ideias e relatarem
o que imaginaram, após cada grupo irá expor o que imaginou, escreveu. Poderá
pedir que cada grupo entregue uma cópia da atividade produzida.
11ª Atividade “Quem compra essa ideia”?
57
Sabe-se que os professores são os principais agentes na promoção da
prática de leitura e que a escola é o principal espaço para isso. Por essa razão,
esse trabalho visa fazer que o aluno tenha prazer em ouvir, ler, participar e que
isso se torne um hábito em sua vida.
Assim, o livro deve ser mostrado e aberto com dimensão do prazer e da
alegria, para que o aluno perceba que ler é uma viagem maravilhosa e não
apenas mais uma das atividades de escola.
A Literatura desempenha papel significativo na vida do adolescente, por ser
rica em sugestões e possuir recursos que desenvolvam a comunicação e a
prática da leitura. Para um educador comprometido com uma educação
transformadora, a literatura é um vasto material que o favorece para alcançar
seus objetivos.
Uma outra opção é trazer para a classe um título de romance, como “Um
sonho no caroço do abacate”, de Moacyr Scliar, precedido de uma história como
“Mulher que lê” (autor desconhecido), para estimular o interesse dos educandos;
contar fatos relevantes, curiosidades sobre o autor, acompanhá-los à biblioteca
para emprestarem o romance, ler com a turma o primeiro capítulo de forma
atrativa para que se envolvam com o enredo e, no decorrer das aulas, o professor
comentará sempre uma peculiaridade a respeito dos próximos capítulos.
Este título poderá ser trabalhado nas séries finais do ensino fundamental,
para as séries iniciais poderá ser feito com o título “Tom Sawyer”, de Mark Twain.
Quando os alunos terminarem a leitura, o professor poderá por meio de
uma dinâmica formar grupos que farão um comercial do livro, com o intuito de
provocar os leitores do comercial a lerem o livro. Os trabalhos realizados sob
orientação do professor poderão ser expostos no pátio do colégio. Fica como
sugestão, desenhos, sinopses, poesias, paródias, HQ...
A dinâmica que segue fica como sugestão, o professor fica livre para
escolher outra forma de agrupar seus educandos.
Dinâmica do bauzinho
O professor escreve frases correspondentes ao número de alunos na
turma, coloca-as dentro de um bauzinho e antes da atividade proposta, pede para
cada aluno pegar um desses papéis e dizer que é um segredo, que não deverão
abrir por enquanto. Terminada esta etapa, pede-se para que seus pares se
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encontrem, ou seja, se o professor determinar que o grupo será composto por três
pessoas, deverá fazer três frases iguais, de modo que a turma fique dividida com
três pessoas em cada grupo.
O professor conduzirá a atividade dizendo a eles que a próxima etapa é
encenar o que está escrito, escolherão um dos três para ler com ênfase,
entonação enquanto os outros dois vão encenando de acordo com a frase.
Após a apresentação dos grupos, o professor faz um comentário a respeito
das apresentações, elogia os esforços, os talentos revelados e explica a atividade
de produção do comercial do livro.
Frases que poderão colocar no bauzinho:
O contador de histórias nos faz sonhar porque ele consegue parar o
tempo nos apresentando outro tempo.
Mas o gato não queria saber de brincadeiras, pulou-lhe na cara mordendo
e unhando.
O homem levou um susto horrível e quis escapar pelas portas dos fundos,
mas o cão estava lá, pulou e mordeu-lhe a perna.
As atividades orais oferecem condições ao aluno de falar com fluência em
situações formais, adequar a linguagem às circunstâncias, aproveitar os imensos
recursos expressivos da língua e, principalmente, praticar e aprender a
convivência democrática que supõe o falar e o ouvir. A escola, por meio dos
educadores, proporciona aos seus alunos condições para que estes tenham
acesso ao conhecimento nesse ciclo de criação e recriação, próprio da vida
escolar. E a Literatura ocupa, sem dúvida alguma, um lugar de grande destaque
nesse contexto. “[...] costumo recontar a história no sentido de mostrar a ternura
que nunca deve deixar de existir nos embates sociais” (SILVA, 1997, p.24).
12ª Atividade “Quem conta um conto”...
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Oportunizar, incentivar os alunos a também contarem histórias em uma
roda de contos, sejam elas verídicas, que costumam ouvir em suas famílias, na
sua infância, ou que pesquisaram e gostaram, pois estarão assim aprimorando
leitura, entonação, dicção, expressão facial, corporal, interpretação, oratória e
fluência (exercício de socialização). O professor poderá valer-se de dinâmicas
para descontraí-los.
Fica um exemplo de dinâmica:
O professor prepara uma folha de sulfite para cada aluno, com palavras
aleatórias recortadas de revistas, jornais e coladas na folha, em ordem como se
fosse um texto. Quando o grupo estiver em um lugar com espaço, sem carteiras,
o professor entregará uma folha para cada aluno e explicará que eles farão a
leitura conforme forem orientados por ele. Ele dirá:
_ Agora todos lerão como se fossem um locutor esportivo narrando um
jogo de futebol;
_ Como se estivessem contando um segredo;
_ Neste momento vocês são padres rezando uma missa;
_ Uma mãe dando uma bronca no filho...
Ao término da dinâmica o professor recolherá as folhas e espera-se que os
alunos estejam descontraídos e motivados, começa assim a Contação de
Histórias.
A arte de contar histórias é uma tradição antiga. Nossos avós, nossos pais,
contaram belíssimas histórias, fazendo-nos viajar pela imaginação. A família se
reunia e partilhava bons momentos. Hoje, infelizmente, este costume se perdeu
no tempo. Resgatando esta técnica, este projeto tem por objetivo valorizar a arte
de ouvir e contar histórias.
As histórias e os contadores estão presentes em nossa cultura há muito
tempo, e o hábito de contá-las e ouvi-las tem inúmeros significados. Está
13ª Atividade “Episódio de hoje”.../ “Cenas do
próximo capítulo.”
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relacionado ao cuidado afetivo, à construção da identidade, ao desenvolvimento
da imaginação, à capacidade de ouvir o outro e à de se expressar. Além disso, a
contação de histórias aproxima o educando do universo letrado e colabora para a
democratização de um de nossos mais valiosos patrimônios culturais: a escrita.
Logo, é importante favorecermos a familiaridade dos adolescentes com as
histórias e a ampliação de seu repertório. Mas isso só é possível por meio do
contato com os textos e de sua participação frequente em situações diversas
como ler, ouvir e contar.
Somos eternos aprendizes... à medida que os educadores e educandos se
soltam, sentem-se mais à vontade, perceberão que muitos são contadores natos.
Por que não deixar que os pais percebam esta habilidade de seus filhos? Para
incentivá-los, o educador começará a conversa (embasada nas respostas que
deram ao responder o questionário do início do projeto), dizendo que seus pais ou
responsáveis contaram-lhes muitas histórias, algumas eles jamais esquecerão e
que possivelmente as contará para seus descendentes. Questiona-os se eles
costumam contar histórias para seus pais. Se não, desafie-os a fazerem a
experiência; se já é hábito, ficará fácil.
A proposta é que eles leiam para os pais um livro. Fica como sugestão a
obra “Sempre Haverá um Amanhã”, de Giselda Laporta Nicolelis. A sugestão é
que leiam por partes, um capítulo por dia. Ao término da leitura, o responsável
para quem o educando leu, fará um relatório para o educador, contando o que
achou da experiência, suas considerações a respeito desta atividade.
Depois que todos terminarem e entregarem o relatório, o professor fará
uma mesa redonda para conversarem a respeito da atividade, assim todos terão a
oportunidade de relatarem a experiência, expondo seu ponto de vista: o que deu
certo, quais as dificuldades, se acha que fará isso novamente, se perceberam que
os pais gostaram, como reagiram no início da proposta e depois que terminaram.
14ª Atividade “Avaliação”
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Após o término de cada atividade proposta, o professor entregará o
caderno de relatório para um de seus alunos e pedirá para que este escreva suas
considerações a respeito da atividade realizada. O professor também fará seu
relatório, em seu caderno, de preferência no mesmo dia que realizou a atividade
para que não se percam detalhes, sugestões, peculiaridades acerca de cada
atividade. Mediante estes relatórios, por meio de leitura e discussão com os
professores que realizaram estas práticas, será analisado se as atividades
propostas atingiram ou não os objetivos.
Referências
BARBOSA, Gilberto Gomes. Histórias que Evangelizam. 1ª edição, Recife, PE: Gráfica Dom Bosco, 2003.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura. A Formação do Leitor. Alternativas Metodológicas. 2. ed. Porto Alegre, RS:Mercado Aberto, 1993.
BUSATTO, Cléo. A arte de Contar Histórias no Século XXI: Tradição e Ciberespaço, 2006 editora Vozes.
BUSATTO, Cléo. Contar e Encantar: Pequenos Segredos da Narrativa. 5.ed. Petrópolis,RJ: Vozes, 2008.
CASTILHO, Alzira. Como Atirar Vacas no Precipício. 7ª impressão, São Paulo: Editora Panda, 2000.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura Para a Leitura Do Mundo. 6.ed.Ática, 1993.
SALETTE, Maria; RUGGERI, Wilma. Para que Minha Vida se Transforme. 1ª impressão. Campinas, SP: Editora Verus, 2007.
WWW.divertudo.com.br/quadrinhos, disponível em: <http://www.divertudo.com.br/quadrinhos/quadrinhos-txt.html>acesso em 20 set 2010.
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