segurança pública alvaro lazzarini
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7/26/2019 Segurana Pblica Alvaro Lazzarini
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A SEGURANA PBLICA E O APERFEIOAMENTO
DA POUCIA NO BRASIL
LVARO
LAZZARINI
1 Relao entre segurana pblica e ordem pblica. 2. As razes da
insegurana pblica. 3. A ineficincia da polcia como causa de im-
punidade.
4 O
aperfeioamento da prova na fase policial.
5
Ciclo
da persecuo criminal e ciclo de polcia.
6. Funes de polcia judi-
ciria. 7. Polcia ostensiva e de preservao da ordem pblica. 8
Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
9.
rgos poli-
ciais federais. 10. Principais problemas da polcia: violncia corrup
o e desvio de finalidade.
11.
Atuao
das
Polcias Civis e Polcias
Militares.
1 Relao entre segurana pblica e ordem pblica
1 1
Conceituao equivocada da ordem pblica
A temtica da ordem pblica muito pouco conhecida no Brasil. Para
exemplificar, reproduzo inicialmente o conceito emitido no relatrio dos juris
tas em 1980 durante o Frum Criminalidade e Violncia: Esse conceitc tem
significao singular. No deve ser pluralizado sob pena de desvio de funes
especficas,
uma vez que a subverso
da
ordem pblica no ocorre por fora
de atuaes criminosas individuais mas sempre de atividades de cunho coletivo
ou de repercusses genricas (grifei). A obra no aponta quem foi o autor
do equvoco, mas o fato que juristas de renome acabaram firmando o rela
trio, por certo sem conhecer com a preciso necessria aquilo que estavam
Desembargador do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo.
Criminalidade e violncia. Brasilia, Ministrio da Justia, 1980, v. I, p. 64.
R Dir. Adm., Rio de Janeiro,
184:25-85,
abr./jun.
1991
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assinando. Basta uma simples consulta ao art. 312 do Cdigo de Processo Penal
para verificar-se a impropriedade do conceito acima.
1.2 Ordem pblica e segurana pblica
Falar sobre segurana pblica exige do doutrinador cauteloso a atitude dt
sempre reportar-se ordem pblica, em face da inter-relao existentt entre esses
conceitos. Igualmente a festejados administrativistas ptrios e europeus, entendo
que a segurana pblica um aspecto da ordem pblica, concordo at que seja
um dos seus elementos, formando a trade ao lado da tranqilidade pblica
c
salubridade pblica, como partes essenciais de algo composto. Saliento que no
uma ordem pblica reduzida como j se interpretou.
O eminente Diogo de Figueiredo Moreira
Netd
entende que a relao entre
ordem pblica no de todo para parte, mas de "efeito para causa", concluindo
que a "segurana pblica o
conjunto de processos
polticos e jurdicos desti
nados a garantir a ordem pblica na convivncia de homens em sociedade "
(grifei) .
A divergncia, mais bem analisada, no to profunda quanto parece, pois
o todo mesmo sempre efeito de suas partes, e a ausncia de uma delas j
o descaracteriza. Assim, no
h conflito ao afirmar-se que a ordem pblica
tem na segurana pblica um dos seus elementos e uma d s suas causas mas
no a nica.
Ao afirmar que a "segurana pblica o conjunto de processos ( ) ,
Diogo de Figueiredo Moreira Neto superdimensiona e aproxima o conceito dou
trinrio da sua materializao, pois processo, sob o prisma jurdico, a srie
ordenada de atos sucessivos, entremeando-o com o conceito de defesa pblica:
"Conjunto de atitudes, medidas e aes adotadas para garantir o cumprimente>
das leis de modo a evitar, impedir ou eliminar a prtica de atos que perturbem
a ordem pblica."4
A ordem, assim como a segurana so valores etreos, de difcil aferio
e no
por
acaso que publicistas de renome mundial. sucessivamente, atraves
saram sculos a estud-las, tal a complexidade que oferecem. P o ~ e s e afirmar
com certeza que a ordem pblica sempre efeito de llma realidade nacional
que brota da convivncia harmnica resultante do consenso entre a maioria
dos homens comuns, variando no tempo e no espao em funo da prpria his
tria. O arcabouo jurdico que o Estado proporciona sociedade simples
2
Cdigo de Processo Penal. Decreto-lei n
9
3.689. Rio de Janeiro, 1974, p. 102.
3 Moreira Neto, Diogo de Figueiredo. Reviso Doutrinria dos conceitos de ordem pl-
blica e segurana pblica.
Revista de Informao Legislativa;
Braslia; Senado Federal:
n. 107, p. 152, 1987.
4 Escola Superior de Guerra. Manual bsico. 1986. p. 194.
6
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tradutor dessa ordem. Evidentemente
s
elites intelectuais do pas cabe papel
importante, pois merc de sua bagagem cultural pode e deve mostrar
os
cami
nhos para a evoluo dos componentes, que intelectuais do porte de Paul
Ber-
nard, Louis Rolland, Santi Romano, Marcel Waline,
B1aise
Knapp, entre outros,
to bem delinearam ao conceituar a ordem pblica, conforme traduzi no
Direito
administrativo
d
ordem pblica
5
Mas
alerto que tais caminhos no podem ser impostos quer pelo Estado,
quer pelas elites, sob pena de resvalar para a ilegitimidade. insustentvel nestes
tempos de democracia. Com certeza a soluo do problema est na sensibilidade
dos polticos em aferir corretamente os anseios do povo e atend-los na formu
lao e implementao das polticas pblicas. Concordo com Diogo de Figuei
redo quando afirma:
A
cincia poltica tem observado que a deteriorao dos
sistemas polticos comeam pelo comprometimento crnico da ordem pblica,
um indcio preocupante para o Brasil. 6
Quero observar que o objetivo aqui
tratar apenas da ordem pblica no
seu aspecto da segurana, onde est inserida a criminalidade,
sem
aprofundar-se
nos aspectos da tranqilidade e da salubridade.
2 As razes d insegurana pblica
2.1 Os fatores sociais como geradores da criminalidade
Conforme explanei, a criminalidade insere-se no conceito de segurana p'
blica, aspecto da ordem pblica, por sua vez, contida na ordem social. Entender
esse encadeamento doutrinrio importante para o estudo aprofundado da
questo.
Na seqncia, creio ser relevante abordar
as
posies divulgadas em diver
sos
trabalhos sobre a criminalidade, onde buscou-se
as
origens dos atos que
ferem a segurana pblica, os quais chamo de geradores da insegurana.
O relatrio dos juristas reunidos no Frum Criminalidade e Violncia, em
1980,7
j apontava como fatores sociais geradores da insegurana
os
seguintes:
a) o crescimento populacional acelerado;
b) a m distribuio demogrfica;
c
a distribuio inadequada de renda;
5
Lazzarini. Alvaro
et alii Direito administrativo da ordem pblica
2. ed. Rio de Janeiro.
Forense, 1987.
6
Moreira Neto. Diogo de Figueiredo.
Exposio na Polcia Militar em So Paulo
a
6.8.91.
7
Criminalidade e violncia
Braslia, Ministrio da Justia, 1980, v.
1,
p. 1933.
7
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d) a falta de planejamento familiar;
e) as favelas e conglomerados;
f
o problema do menor.
Posteriormente, explanando o assunto em
Belo
Horizonte, o ProL
Jos Al-
fredo de Oliveira Baracho,s citando Heitor Luiz Gomes
de
Almeida. alinhou
como causadores da insegurana pblica, entre outros:
a) a facilidade do cidado em se armar;
b) o menor abandonado;
c) a proliferao dos entorpecentes;
d) a violncia urbana.
Por sua vez, Diogo de Figueired0
9
localizou
as
seguintes causas da insegu
rana pblica:
a) a misria e sua explorao poltica;
b) a provocao ao consumo pelos meios de comunicao;
c) a natalidade irresponsvel;
d) o abandono pela administrao pblica da infra-estrutura sanitria e edu
cacional.
Para a Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas da Universidade de
So Paulo Fipe/USP), que elaborou o lndice de segurana pessoal e da pro
priedade: indicadores de crime e violncia,l os determinantes da violncia so:
a) a falta de programas assistenciais;
b) o desemprego dos mais jovens;
c) a carncia de educao.
Pedro Franco de Campos, Secretrio da Segurana Pblica em So Paulo,
concorda que as causas da violncia urbana esto, entre outras, no desorde-
8
Baracho. Jos Alfredo de Oliveira.
Polcia Militar e Constituinte.
Belo Horizonte. Bar
valle, 1987, p. 73.
9 Moreira Neto, Diogo de Figueiredo. A segurana pblica
na
Constituio.
Revista de
Informao Legislativa,
n
9
109; Braslia, Senado Federal, n. 109, 1991, p. 137-8.
10 Pastore, Jos
et alii. Relatrio final - anlise e elaborao de alguns indicadores eco
nmicos e sociais para o Estado de So Paulo - ndice de segurana pessoal e d proprie
dade: indicadores de crime e violncia Fipe/USPI.
So Paulo. 1987, p.
18 9.
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namento das metrpoles e a conseqente falta de saneamento, habitao, esco
las e h05pitais , e mais: que o desemprego e a desagregao familiar ajudam
a engrossar o caldo da violncia .11
Em anlise precisa, o Deputado Federal Jos dos Santos Freire, constituin
te de 1988, abordou o tema da seguinte forma: No h como negar que, da
misria e da promiscuidade em que
se
vive nas favelas e nos mocambos, para
o crime, a distncia praticamente no existe. No h como ignorar que o pro
cesso de ocupao territorial no Brasil se inverteu de uns tempos para c, com
o enftico xodo rural para as zonas urbanas, precrias de infra-estrutura habi
tacional, de transportes, de sade e assistncias pblicas e sobretudo de mercado
de trabalho, mormente para a mo-de-obra desqualificada. Na fome o homem
perde, em geral, o senso tico, o sentimento de solidariedade. Ignora a lei. Na
fome, o instinto de sobrevivncia determina o padro de conduta: todo o cl
se
entrega ao crime - as filhas vo engrossar
as
fileiras da prostituio, e os
vares o mundo da delinqncia contra o patrimnio, no raras vezes com a
prtica do latrocnio. Enquanto isso, uma legio de cerca de
30
milhes de
menores carentes pulula pelas vias pblicas, notadamente nos grandes centros
urbanos, de forma a preparar a futura populao carcerria do Pas, marcados
pelos estigmas da fome, da insanidade e da violncia urbana, nada mais sabendo
fazer nem em que pensar seno no crime. 12
O notvel cientista poltico Hlio Jaguaribe 13 divulgando trabalho do Ins
tituto de Estudos Polticos e Sociais (IEPS), do qual presidente, mostrou de
forma preocupante o crescimento da pobreza no Pas, coincidente com o au
mento da criminalidade, apontando riscos de convulso social concluindo que
a misria e a falta de educao fundamentam os problemas brasileiros.
Galbraith sintetizou o problema ao afirmar: A misria terrvel. pior do
que qualquer doena, em termos de sofrimento. 14
O
Jornal do Brasil
conforme relato de 25
novo
1979, descreveu a realida
de brasileira com o seguinte texto: Numa formulao precisa e dramtica da
percepo generalizada de medo e insegurana, frente escalada da criminali
dade violenta, o poeta Affonso Romano de Sant' Ana no hesitou em evocar
magens de uma guerra civil, onde exrcitos de marginais avanam contra uma
sociedade e uma poltica excludentes:
H
uma guerra nas ruas e o Governo
no interfere ( ) Os pobres j so assaltados pelos miserveis. Quando eles
Campos. Pedro Franco de. Criminalidade urbana - violncia. olha de S. Paulo
28 ago. 1991.
12 Freire, Jos dos Santos. Manuteno da PM como responsvel pelo policiamento ostell
sivo. Polcia Militar e Constituinte, Belo Horizonte, Barvalle, 1987, p. 26.
\3
Jaguaribe, Hlio. Estudo indica cr scimento da pobreza no Pas.
Folha de
S.
Paulo.
23
abril 1991; p.
1-10.
14 Galbraith. John Kenneth.
A
era da
incerteza.
So Paulo, Televiso Cultura,
1982. Capo
tO: A misria e a distribuio da terra.
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se tornarem todos uma classe, ou quando tiverem 'conscincia de classe', viro
contra o outro lado ( )
um exrcito de 30 milhes escalando os muros
de Roma.
Como se v, h um consenso de que os geradores da insegurana esto
localizados nas iniqidades sociais. E evidente que tais problemas, de ordem
estrutural, so as causas da maior parte da criminalidade, cabendo a parte menor
a fatores endgenos dos indivduos, sobejamente tratados nos compndios de
criminologia.
2.2 As causas da criminalidade e a polcia
E importante esclarecer as causas da criminalidade para demonstrar que
a polcia no tem sobre elas, enquanto organismo, qualquer responsabilidade;
portanto u erro culpar-se a polcia pela expanso do crime quando sabe
mos que todo mal deve ser atacado sempre e principalmente nas suas origens,
c a, repito, est o papel do Estado em acertar ou no na formulao e imple
mentao de polticas pblicas, escoimando-as da demagogia, da fisiologia, do
clientelismo, do classismo, do cartorialismo, do nepotismo, do paternalismo, do
casusmo e outras formas de imoralidades que infestam a administrao pblica
brasileira. Creio ser preciso reavivar com urgncia os princpios ticos no exer
ccio do cargo pblico, to bem tratados por Immanuel
Kant 15.16
primeiro, ao
abordar os motivos da razo
pura
prtica e, depois, no apndice sobre o desa
cordo entre a moral e a poltica a propsito da paz perptua, pensamentos colo
cados em termos contemporneos pelo tambm filsofo alemo, Jrgen Haber
mas17
na excelente obra Mudana estrutural d esfera pblica.
A polcia cuida essencialmente das manifestaes criminosas. Atuando pre
ventiva ou repressivamente ela est lidando com o indivduo predisposto
ili-
citude pelos fatores sociais j abordados ou endgenos, sobre os quais ela no
tem e nem poderia efetivamente ter controle.
E mesmo assim a polcia apenas
parte de todo u conjunto de rgos que de forma sistmica atuam no ciclo
da persecuo criminal.
Isso no quer dizer que a nossa polcia seja perfeita, desmerecendo repa
ros. Muito ao contrrio, o tratamento da insegurana pblica deve ser feito nas
suas causas e manifestaes concomitantemente, e h muito a melhorar na po
lcia, como se ver mais adiante.
5 Kant, lmmanuel.
Crtica
d
razo prtica.
Lisboa, Edies 70, p. 87-105.
16
Kant, lmmanuel.
A paz perptua.
Porto Alegre; L PM, p. 59-80.
7 Habennas, Jrgen.
Mudana estrutural da esfera pblica.
Rio de Janeiro, Tempo Brl-
sileiro, 1984.
3
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3. O problema da impunidade
3.1
As
origens e a represso da criminalidade
Conforme abordei exaustivamente na seo anterior, as origens da inse
gurana esto nas iniqidades sociais
ou
nos fatores endgenos dos indivduos;
isso quer dizer que esto explicadas as causas da criminalidade, porm no
justificadas. Ocorrido o ilcito penal, dever do Estado coibi-lo atravs da apli
cao da pena. Como diz Hlio Tornaghi,18 a despeito de tudo, cabe polcia
evitar que o homem seja o lobo do homem homo homini lupus) , que o trfico
social
se
transforme
na
guerra de todos contra todos
bellum omnium contra
omnes) .
Cardoso de Melo Neto,t9 com maior alcance, abordou o assunto esclare
cendo que
o
servio de segurana
um
servio tpico do Estado: a insegu
rana no apenas uma causa de lentido no desenvolvimento social. .i uma
causa de retrogradao e de perecimento da coletividade . Assim, inequvoco
o dever do poder pblico em
atuar paralelamente, tanto nas origens, como nas
manifestaes da insegurana pblica.
Ainda sobre as injustias sociais, quero lembrar que o Brasil um pas em
crescimento e conta com recursos territoriais imensos por ocupar e explorar,
no se obrigando a repetir trgicas situaes sociais, como por exemplo, a rela
tada
por
Galbraith ao abordar a fome na Irlanda de 1848, causadora da imi
grao para a Amrica, em face da dramtica escassez de terras, pois no havia
para eles novas fronteiras a desbravar.
20
O Brasil, destarte, tem soluo.
3.2 A impunidade e seus reflexos sociais
A deficincia na punio da ilicitude gera a impunidade, que fator ace
lerador da desagregao social e, portanto, ingrediente de risco para a estabili
dade das instituies.
O Advogado Jos Carlos Dias sintetizou muito bem o problema ao afir
mar: Tratemos de enfrentar a questo da violncia com olhos sociais, de
preparar nossas polcias e nossa Justia para que a impunidade no pros
pere. 21
18 Tornaghi, Hlio.
Instituies de processo penal.
2. ed., Rio de Janeiro, Saraiva. 1977,
v.
2,
p.
199.
19 Melo Neto, Cardoso de.
A ao social do Estado.
1917, p. 7.
20
Galbraith. John Kenneth. op. cit.,
capo
1.
2 Dias, Jos Carlos. Plebiscito: vida ou morte? olha
de
S.
Paulo,
3 jul. 1991, p. 1-3.
i
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A questo da impunidade foi destacada tambm na matria publicada pelo
jornal Folha de
S.
Paulo onde o Ministro Jarbas Passarinho demonstrou toda
a sua preocupao com a questo ao
afirmar
que a impunidade o maior pro
blema do Pas e estimula os atos freqentes de violncia e barbrie ;22 ao que
eu acrescentaria: dramaticamente explorados pelos rgos de comunicao, que
parecem
no
ter
compromissos ticos com o ser humano. Longe de pensar-se
em censura estatal; mas
tambm
no
basta
mostrar a
barbrie
para
ganhar
di
nheiro dos anunciantes.
E
imprescindvel veicular, concomitantemente, a men
sagem de que aquilo
no
deve ser feito. Isso, em nome do esforo para recupe
rarmos a sanidade da nossa sociedade, visivelmente doente. Afinal, os rgos
de comunicao tm deveres sociais.
A manifestao do ministro
no
sem motivo, pois a falta de punio
para os ilcitos penais e irregularidades administrativas fato extremamente
preocupante no Brasil de hoje, at porque est levando ao descrdito os pode
res constitudos e
radicalizao.
De
um lado, surge como incentivo
prtica
delitiva e, de outro, leva exigncia de medidas extremas, como a atual cam
panha pela pena de morte, sintoma claro da desesperana da sociedade no papel
do Estado em punir e recuperar o criminoso. Acredito que penas severssimas.
como a capital,
no
representam a soluo do problema.
A
ao intimidatria
da pena
no
reside tanto na graduao e sim
na
certeza de sua aplicao.
o
a pena. E a certeza da pena.
Ou, no
dizer mais preciso de Cesare Bonesana, Marqus de Beccaria:
N ~
o rigor do suplcio que previne os crimes com mais segurana, mas a certeza
do castigo ( ). perspectiva de um castigo moderado, mas inevitvel,
causar sempre uma impresso mais forte do que o vago temor de
um
supl
cio terrvel, em relao ao
qual
se apresenta alguma esperana de impu
nidade. 23
Por sua vez, liga-se tambm idia de impunidade o retardamento da pena.
lentido da instruo criminal, quer na fase informativa, nos chamados ri
gorosos inquritos ,
quer
na fase processual, transmite a sensao de que o
infrator
permanecer impune.
A respeito, Beccaria explica: Eu disse que a presteza da pena til; e
certo que,
quanto
menos tempo decorrer entre o delito e a pena, tanto mais
os espritos ficaro compenetrados da idia de que no
h
crimes sem castigo;
tanto mais se habituaro a considerar o crime como a causa da qual o castigo
o efeito necessrio e inseparvel. 24
Passarinho, Jarbas. Passarinho diz que mal do pas
a impunidade;
Folha de
S.
Paulo.
8 fev. 1991, p. 1 5.
23
Bonesana, Cesare.
Dos delitos e das penas.
Rio de Janeiro. Tecnoprint, p.
113.
24
Id. ibid., p. 110.
32
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4. A ineficincia
d
polcia como causa de impunidade
4.1 O Juizado de Instruo Criminal
Vista a gravidade que representa a impunidade, cabe agora analis-la no
segmento que diz respeito a este trabalho, ou seja, aquele advindo de defeitos
no ciclo
da
persecuo criminal, mais especificamente, no ciclo de polcia.
Estou convencido de que o problema est principalmente na instruo cri
minal. Estudos srios, realizados pelo Instituto dos Advogados Brasileiros IAB)
e por juristas de porte, mostram que fundamentalmente a origem dos erros
est no verdadeiro afastamento do Poder Judicirio em relao
o
incio
d
ins-
truo criminal sendo o restante mero acessrio ou decorrente.
Para san-lo de vez defendo a adoo do Juizado de Instruo Criminal
no Brasil, cujo rito, adaptado s caractersticas brasileiras, detalhei no artigo
Juizados especiais
para
julgamento das infraes penais de menor potencial
ofensivo.
25
Muito antes, nos idos de 1935, o clebre Vicente Ro havia proposto mag
nfico projeto de Cdigo de Processo Penal,26 implantando em nosso Pas o Jui
zado de Instruo Criminal, no logrando xito em face dos interesses
do
Es
tado Novo, que preferiu, atravs de decreto-lei, impor o modelo at hoje vigen
te, o
qual
no deu certo. Mas, apesar dos defeitos insanveis, os quais, segundo
o experiente Valentim Alves da Silva 27 causam um atraso de 50 anos na nossa
Justia Criminal, mesmo assim mantido.
Posteriormente, em 1979, o Instituto dos Advogados Brasileiros IAB), em
comisso composta pelos eminentes advogados Larcio Pellegrino, Evandro Cor
ra de Menezes e Sebastio Rodrigues Lima, tambm props a adoo do Jui
zado de Instruo Criminal inspirado
em
notvel trabalho do jurista Thomas
Leonardos, importando lembrar
que
o IAB carrega esta bandeira desde 1908.
Juizado de Instruo Criminal ainda defendido por Canuto Mendes
de Almeida, ao tratar da contrariedade na formao da culpa.
28
E lembro que
na
Assemblia Nacional Constituinte o Juizado figurou nas diversas fases do
Projeto de Constituio at que o denominado centro o afastasse do texto,
sendo a seguir destacado para votao
em
plenrio, o que acabou no ocorren
do em razo das presses corporativas feitas sobre os constituintes que o de
fendiam. Assim, fugiu-se ao debate e votao da matria no plenrio da As
semblia Nacional Constituinte, pois se sabia que sua aprovao inexoravel-
25
Lazzarini. Alvaro. Tuizados especiais para julgamento das infraes penais de menor
potencial ofensivo.
Revista de Processo.
So Paulo.
Revista dos Tribunais.
n. 58, p. 99-109.
abr./jun. 1991.
6
Ro. Vicente. Projeto de Cdigo de Processo Penal.
Dirio Oficial do Brasil.
Rio de
Janeiro. Suplemento
n. 221,
25
set. 1935.
Silva. Valentim Alves da. Pela realizao d Justia; Relator Policial, out. 1986.
28
Almeida. Canuto Mendes de.
Princpios fundamentais do processo penal.
p. 144-59.
33
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mente ocorreria. Mas, se abortado foi do texto constitucional o instituto do
Juizado de Instruo Criminal, o mesmo no se pode dizer do seu esprito,
que continua presente no captulo dos Direitos e Deveres Individuais e Cole
tivos da Carta, conforme atesta o art.
59
e seus incisos
XI, XII, XLIX,
LVI,
LXI,
LXII
e LXV,
entre
outros.
Hlio Tornaghi, apesar
da
argumentao diversa da nossa e dos juristas
citados, tambm apregoa a racionalidade do Juizado,29 assim C01110 o prprio
Amndio Augusto Malheiros Lopes, ex-Delegado Geral da Polcia Civil de So
Paulo, em matria publicada pelo jornal
Dirio Pf pular,
em 1986.
30
Embora defendido
por
imensa gama de juristas, alm dos citados, o Jui
zado de Instruo Criminal apenas uma proposta e, neste trabalho. tenho
que me
ater
realidade
da
nossa instruo criminal, localizando nela, especi
ficamente, as falhas da polcia, as quais serviro de base para
os
ajustes
competncia que proponho ao final.
4.2
Deficincias
da
polcia
na
feitura das provas
Inicialmente quero afirmar que a velha mxima
a
polcia prende e a
Justia solta um argumento enganoso, pois no revela a verdade por inteiro,
cabendo perguntar:
por
que a Justia solta? A resposta simples:
solta porque
houve extino de punibilidade, prescrio, insuficincia de provas, ilegalidade
na feitura das provas e outros vcios originrios d fase policial,
ferindo os di
reitos
do
acusado que, irremediavelmente, ter de ser inocentado.
Eis a a im-
punidade como fruto do trabalho policial deficiente.
Noto com preocupao que
apesar de ser este, em nvel policial, o fulcro
do problema,
no
h
discusso suficiente sobre ele. No meu entender
ser
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