stock market investors' behaviors considering … · empecilho, como diz max gunther no livro...
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MISSÃO SALESIANA DE MATO GROSSO – MANTENEDORA
UNISALESIANO LINS – Rua Dom Bosco, 265 – Vila Alta – CEP 16400-505 – Fone (14) 3533-5000
Site: www.unisalesiano.edu.br - E-mail: encontrocientifico@unisalesiano.edu.br 1
COMPORTAMENTO DO INVESTIDOR DO MERCADO DE AÇÕES LEVANDO EM CONTA O FATOR EMOCIONAL
STOCK MARKET INVESTORS' BEHAVIORS CONSIDERING THE EMOCIONAL
ELEMENT
João Pedro Marciquevik Coneglian1
Carlos Alberto Ruffato
RESUMO
Usando a Psicologia Econômica e as finanças comportamentais, o artigo
esboça as distorções de percepção e o que elas causam, emocionalmente, na mente do investidor do mercado de ações. O desafio é explicar as mecânicas da emoção para que os investidores obtenham mais conhecimento e possam usar esse fator ao seu favor, aumentando assim seu desempenho. Palavras-chave: Psicologia Econômica. Finanças Econômicas. Distorções de Percepção. Emoções.
INTRODUÇÃO
A pessoa que procura qualquer tipo de investimento tem na maioria das vezes
a pretensão de enriquecer. Não existe, no entanto, fórmula ou roteiro que leve alguém
ao enriquecimento. Para Furnham e Argyle, no livro Psychology of Money (1998),
enriquecer é a peculiar combinação de acidente ou chance com a sagacidade de
saber como e, acima de tudo, quando explorar descobertas e insights que parecem,
mais frequentemente, levar à riqueza.
O mercado de ações, desde seu primórdio, sempre despertou a atenção de
pessoas que buscavam um alto lucro e não tinham receio dos riscos, que, nesse caso,
são muito elevados. Os resultados positivos e negativos das operações são dados
através de diversos fatores que afetam o mercado de maneira geral, assim como os
seres humanos. Empresários, investidores e funcionários têm um grande impacto nas
oscilações de mercado, e as suas atitudes não podem ser previstas.
1 Aluno do 2º ano do Curso de Ciências Econômicas. E-mail: joaopedroclp@hotmail.com. Trabalho orientado pelo
Prof. Carlos Alberto Rufatto e apresentado como requisito parcial para a formação no Curso de Gestão de Pequenas
e Médias Empresas, do Centro Universitário de Bauru no ano de 2013.
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Emoção é o principal empecilho que os investidores encontram no caminho do
sucesso e do conhecimento, pois muito está sendo colocado em risco e nada pode
ser garantido. O dinheiro tem um significado muito grande e age diretamente no
estado emocional da pessoa. Para Moreira e Tamayo (apud Ferreira, 2008, p. 30),
que em 1999 desenvolveram e validaram uma Escala do Significado do Dinheiro, este
possui os seguintes elementos: Poder, Conflito, Prazer, Progresso, Cultura,
Desapego, Sofrimento, Desigualdade, Estabilidade. É possível facilmente perceber
que, dentre eles, poder, conflito, prazer, desapego e sofrimento estão diretamente
ligadas ao fator emocional, o que reforça a idéia de que o mercado de ações atrai
investidores em busca de dinheiro. A emoção pode atrapalhar ou ajudar, se controlada
a seu favor.
Para Ferreira (2011,p.10-11) emoções são impulsos, algo próximo do instinto,
que impele a buscar satisfação e agir nesse sentido. É o lado mais primitivo do ser
humano, que imprime respostas quase automáticas, com o objetivo de garantir sua
sobrevivência.
Quando o desejo é acabar com situações ruins de qualquer forma possível,
tomamos decisões rudimentares que podem ser contraditórias ou tomamos atitudes
brilhantes e surpreendentes, e é ai que surgem os insights.
Para aqueles que, no entanto, decidam não correr os riscos, existe a forma
segura e menos rápida de ganhar dinheiro: as poupanças. Poupanças, devido a
estabilidade que o sistema financeiro possui atualmente, são de baixíssimo risco e,
portanto levam a um estado emocional de segurança. Para o economista John
Maynard Keynes e para o psicólogo econômico George Katona (apud Ferreira, p. 22),
a tendência a segurar ou poupar o dinheiro seria uma tentativa de reduzir sentimentos
de insegurança frente ao futuro, com o dinheiro visto como conforto.
É possível entrar no mercado de ações com pouco dinheiro, mas o que
determina o sucesso e o fracasso é o quão evoluído emocionalmente o investidor é
ou poderá ser. Para cada tipo de investidor existe um investimento ideal, mas aqui
será tratado exclusivamente o investimento no mercado de ações e quais emoções
influem na tomada de decisão.
O objetivo principal desse artigo é mostrar os erros que podem ser cometidos,
que tem como principal "culpado" as emoções, para que futuramente seja possível
dominar esse sentimento e usar mais a racionalidade nas tomadas de decisão.
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O estudo do comportamento econômico do indivíduo é a psicologia econômica,
que tem como objeto de estudo os pensamentos, sentimentos, crenças, atitudes e
expectativas do investidor e como tudo isso influencia na sua tomada de decisão.
Racionalidade e a Emoção
O termo homem econômico (homo economicus) surgiu pela primeira vez no
século XIX e diz respeito as ações econômicas do homem, deixando de lado os fatores
culturais ou comportamentais, concentrando na identificação do consumo e da
produção.
Dentre os princípios desse conceito, o mais relevante para o comportamento
do investidor é de que o homem vive o presente num tempo linear, portanto, não se
lembra nem tem a capacidade de prever. Não ter a capacidade de prever torna a
tomada de decisão arriscada e supõe-se que todo individuo tome essas decisões com
o intuito de aumentar o bem estar, baseando-se em uma avaliação ponderada dos
fatos.
Esse conceito possui algumas falhas, porém ele ainda é bem útil na análise dos
atos dos sujeitos.
Lea et al. (LEA et al., 1987 apud FERREIRA, 2008, p.44) descrevem os
pressupostos básicos da teoria da racionalidade a respeito das preferências das
pessoas e o que norteia o comportamento dos agentes econômicos. São alguns deles
e os mais relevantes para o entendimento do assunto:
Todo o indivíduo tem preferências transitórias e consistentes bem
definidas, e não as muda arbitrariamente;
Todo indivíduo prefere ter uma maior quantidade de um bem ( o que
pode ser descrito como a ganância);
Quanto menor a quantidade de um bem que a pessoa tem, menor será
a vontade dessa pessoa de trocar esse bem por um outro;
Os indivíduos procuram alcançar o máximo de retorno, seja satisfação,
lucro ou outro, pelo esforço ou investimento em suas ações para obtê-
lo.
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Costa (2009) classifica os tipos de investidores em 3 principais categorias, que
são:
Homo economicus: se utiliza da racionalidade;
Homo sapiens: se utiliza das finanças comportamentais, foco principal
dessa artigo;
Homo pragmaticus: que se utiliza da arte da especulação para tentar
prever os próximos movimentos do mercado.
Quando se trata de investimentos, arriscar é preciso e a ganância pode ser um
empecilho, como diz Max Gunther no livro Os Axiomas de Zurique (1992, p.11):
Não tenha medo de se machucar um pouco. Geralmente, a taxa de risco em que estará envolvido não chega a ser de arrepiar os cabelos. Ao se decidir a enfrentá-la, estará se dando a única chance realista de pôr-se acima da pobreza.
Também existe o risco de cair na ganância. Quando estamos ganhando, temos
a vontade incontrolável de ganhar mais, e isso pode significar deixar de ganhar ou até
mesmo perder. É importante que o investidor tenha em mente uma meta que será
dificilmente mudada com o tempo, e, quando os lucros atingirem essa meta, realizar
o lucro vendendo imediatamente as ações.
Max Gunther aconselha os leitores a vender cedo demais, para evitar que a
ganância tome proporções incontroláveis.
Essas são precauções expostas para evitar que as emoções não tomem conta
do investidor e ele possa agir sempre de maneira mais racional. São apenas
precauções, no entanto, nada impede que um investidor mude sua meta ou deixe de
vender cedo demais se isso for a decisão correta. Por viver num presente linear e ser
impossível prever os próximos acontecimentos, os investidores tendem a tomar o
máximo de dados possível para que a decisão seja firme e acertada e que a meta seja
bem definida e plausível para o momento. O momento, no entanto, passa, e quanto
mais se aproxima da meta, os tempos podem ter mudado e essas metas podem
parecer não mais convidativas. Nesse ponto, portanto, é necessário novas pesquisas
e análises do tempo atual e dessa forma deve ser traçada outra meta. Adaptar para
sobreviver.
Perdas são comuns nesse mundo e é necessário saber como lidar com elas.
Esperanças, portanto, podem ser um mal sinal quando não controladas. Claro que
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esperança não é ruim e deve ser considerada ao se tratar da análise da situação e da
tomada de decisão. Qualquer emoção pode atrapalhar no processo decisório. "Os
Axiomas tratam de especulação, não de auto-análise, de forma que nada têm a
oferecer sobre como você há de superar tais obstáculos [...] Saber perder é essencial
para o especulador." (GUNTHER, 1992, p.22).
É necessário separar o mundo do sobrenatural, que são crenças e
superstições, do mundo da especulação. Qualquer força sobrenatural não deve ter o
poder de controlar as emoções e o comportamento. Deixa-lo guiar seus passos e
aceitar os resultados como não sendo sua própria decisão (e sim decisão do oculto)
causam muitos problemas quando o objetivo é ganhar dinheiro. Ainda assim, pessoas
fazem isso porque as deixam isentas da responsabilidade da tomada de decisões,
aliviando o sentimento de culpa quando algo der errado.
Apoiar-se no sobrenatural tem o mesmo efeito que apoiar-se em previsões ou
ilusões de ordem. Tem a capacidade de atraí-lo para um estado perigosamente
despreocupado (GUNTHER, 1992, p.43).
Investidores bem sucedidos são facilmente confundidos pela massa que os
acompanham como grandes mestres do ocultismo, isso tudo devido ao grande índice
de acertos nas tomadas de decisões. Jesse Livermore, que foi um notável
especulador do início do século XX, era taxado pela sociedade como um "mago" das
especulações e, ele mesmo, em alguns períodos, duvidava de sua capacidade e
muitas vezes entrava em conflito, se perguntando se realmente haviam poderes
ocultos envolvidos.
Livermore, para provar a todos que não usava sistemas mágicos e sim
racionais, escreveu um livro chamado How to Trade in Stocks - The Livermore Formula
for Combining Time Element and Price ( "Como Operar com Ações - a Fórmula
Livermore de Combinar Elemento Tempo e Preço"). O livro até hoje tem muitos
seguidores e apresentas estratégias para se obter sucesso no mercado financeiro,
através de um padrão.
Muitos tem a falsa sensação que livros que ajudam a enriquecer, técnicas e
cursos sobre investimentos são ótimos meios de se aprender a negociar. Esse tipo de
aprendizado pode sim ser útil, mas o que serve ou serviu para um, pode não servir
para o outro, e os padrões que são demonstrados nesses livros são inexistentes. As
pessoas tem estilos únicos de investir e isso não significa que um
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esta mais certo que o outro. A criação de padrões sugere isso e, portanto, toma-las
como verdades absolutas acarretará numa piora de desempenho. Segundo Gunther
(1992), até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso. Quando o padrão
começa a fazer efeito na tomada de decisões, o investidor pode passar por uma
mudança de mercado que desbanque o padrão, tornando caótico o cenário que até
então era seguro e ordenado. Percebemos então que as pessoas sentem conforto ao
ler esses livros e sua parte emocional é aliviada. Como já visto, a emoção não pode
ser levada em conta na tomada de decisão e essa sensação de padrão pode se tornar
prejudicial e o caos pode se instalar.
Quanto ao planejamento, que se mostra uma boa solução para tomar atitudes
racionais, deve-se também tomar cuidado para não acabar caindo em outra
armadilha, citada no último axioma apresentado por Gunther (1992): o planejamento
para um futuro muito distante.
O mercado muda a todo momento e os planos devem se adaptar a essas
mudanças prontamente, valorizando a liberdade de movimento que o mercado te
proporciona, vendendo e comprando sempre que o risco seja apresentado.
Distorções de Percepção
Passamos por diversas distorções de percepção quando nos referimos a
tomada de decisões e muitas delas se baseiam em probabilidades. Um exemplo disso
é a diluição do preço.
Essa distorção se dá quando: quanto mais tempo passar, menos valioso o bem
será, pois esse valor se diluiu com o tempo, dai o nome diluição. Podemos ilustrar
esse caso imaginando uma pessoa que tenha feito um gasto extravagante e se sinta
mal por isso no primeiro momento, após algum tempo (varia de acordo com o produto
e a pessoa), esse sentimento de culpa é diluído e se torna inexistente. Produtos que
tem o tempo de consumo maior, como um vinho, que pode ser consumido anos após
sua compra, são mais sujeitos a essa distorção.
Inúmeros experimentos são feitos em torno das distorções de percepção e para
isso são utilizadas as heurísticas. Heurística é uma simplificação ou aproximação que
reduz ou limita a busca por soluções em domínios que são difíceis e pouco
compreendidos, para que, ao se deparar com um problema que não se conhece o
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melhor caminhos, defini-se uma heurística que levará a solução. Dentro dessa
categoria se encontra:
Insensibilidade à Probabilidade Anterior
Dentro dessa heurística foi possível perceber que o ser humano tende a ignorar
a probabilidade de algo acontecer para tomar decisões. Foi feito um estudo aonde as
pessoas deveriam, através da análise de um perfil de outra, descobrir qual seria sua
profissão, dentre as apresentadas. Analisando esse perfil, os estudados arriscaram
um resultado baseado no estereotipo apresentado e não nas probabilidades
anteriores. Nesses perfis, no entanto , os dados eram irrelevantes e mais voltados a
características físicas e de temperamento, ou seja, não ajudariam nada na escolha
correta. As probabilidades anteriores seriam as quantidades de profissionais em cada
área apresentada para a escolha, em porcentagem, que dariam um resultado mais
próximo ao correto. Ainda que escolher usando as probabilidades seria apenas um
tiro no escuro, é mais certo obter sucesso nesse caso do que analisando um perfil
sem fundamentos.
Investidores possuem um perfil próprio, que não tem fundamento, mas que
muitas vezes é tomada como única forma de análise para adquirir uma ação. Para os
que procuram lucro através da distribuição de dividendos, ações de certa empresa
são recomendadas como sendo as melhores, e nem sempre são, pois é necessário
estudar as probabilidades, cotações e diversos fatores anteriores antes de tomar a
decisão final de comprar esse papel.
Concepções Errôneas sobre o Acaso
O foco nesta heurística será maior, pois esta pode ser extremamente perigosa
para a mente do investidor e tem um impacto tão grande no sentimento do mesmo
que pode levar a uma grande perda. A explicação, no entanto, é simples e já esteve
presente na mente de todos.
Pessoas tem a tendência de supor que, após muitos acontecimentos repetidos,
ou, no caso da bolsa de valores, muitas altas ou baixas seguidas, logo após virá o
oposto. Estatisticamente, isso não é verdade. Tomaremos como exemplo o caso do
jogo cara ou coroa, feito com moedas. As chances de ambos os resultados são 50%.
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Supondo que tenha caído incontáveis números de vezes o resultado coroa, o individuo
erroneamente tende a acreditar que é mais fácil, na próxima rodada, que o resultado
seja cara, mesmo que as probabilidades continuem meio a meio.
De forma constante, é possível que nos gráficos de cotação, muitas baixas
consecutivas vem após altas consecutivas e o inverso também acontece. Isso
acontece pois ele tende a voltar a média e essa informação pode sim ajudar na tomada
de decisões. Como nada no mercado de ações é previsível, ainda é necessário
considerar mais fatores e evitar os equívocos na hora de fechar uma posição. O
retorno a média abre uma discussão para o próximo tópico.
Concepções Errôneas sobre Regressão
Vera Rita de Mello Ferreira, em seu livro Psicologia Econômica (2008) diz que
uma melhora é geralmente seguida por uma piora, e uma piora costuma vir depois de
um resultado excepcional. Esse conceito pode ser utilizado tanto para descrever a
performance de lucros do investidor quanto a performance das ações no mercado e
muitas vezes é ignorado.
Para Gunther (1992) o sistema de auto-recompensas consiste,
especificamente nesse caso, comprar algum produto ou serviço que se tenha desejo
quando alcança um objetivo para atrela-lo à sensação do dever cumprido. Quando
feito da forma correta, pode ajudar a melhorar a média. Essa sensação ajuda a
condicionar o emocional, ensinando a ele que o cumprimento de metas é prazeroso e
gera recompensas, tornando mais fácil aumentar a média de desempenho citada por
Ferreira.
Efeito Posse (Endowment Effect)
A apropriação de um objeto, na percepção do dono, o torna melhor, se
comparado quando estava nas prateleiras ou na mão de outra pessoa, pois agora
possui novos atributos (agora são de sua posse). Esse resumidamente, é o poder do
efeito posse nas vidas dos indivíduos.
Aplicando o efeito posse nos investimentos em ações, é possível perceber que,
ao vender algo, é comum ficar preocupado com o valor muito baixo do preço e
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consequentemente, na hora de vender, o pensamento é o seguinte: "se o preço esta
baixo, esperar subir é a melhor opção".
Com um preço baixo, uma situação pessimista e um pensamento conservador,
o investidor vê a cada dia que passa seu dinheiro indo embora, enquanto mantém um
papel desvalorizado, mas que carrega com ele o efeito posse.
Esse efeito também pode ser potencializado se aquele papel na qual o apego
é grande demais para vende-lo, já gerou muito lucro ou prazer.
Faz parte, também, da análise de diversos investidores, a geração de
estimativas para o auxílio nas tomadas de decisões, o problema é que muitas vezes,
as estimativas são feitas de forma rápida e errônea e consequentemente, de forma
ilusória.
Acontece que a mente muitas vezes faz ajustamentos errados dependendo de
como os dados são apresentados. Considerando o exemplo de FERREIRA
(2008,p.164) sobre os experimentos de Tversky e Kahneman, aonde o mesmo calculo
é apresentado para alunos do ensino médio divididos em dois grupos. Ao primeiro
grupo é fornecido o seguinte cálculo: 8x7x6x5x4x3x2x1 e ao segundo
1x2x3x4x5x6x7x8. Os resultados são os mesmos nos dois casos, a única mudança é
a ordem dos fatores, que não altera o produto. O cálculo deveria ser feito rápido e
seria apenas uma estimativa, e pode se observar que no primeiro grupo, aonde o
primeiro número é o maior, a estimativa também seria maior (2.250), enquanto a
segunda, o número média apresentado como resultado pelos alunos seria menor
(512). O resultado correto, no entanto, o resultado para ambos era igual (40.320)
Esse experimento mostra que o ajustamento é feito através de um resultado de
um cálculo incompleto, que leva em consideração apenas os primeiros fatores
apresentados e que, se apresentados de forma diferentes, podem gerar ilusões.
Em investimentos isso significa que o olhar global pode pregar peças nos
investidores mais atrapalhados, no sentido da organização mental. Para não haver
tais ilusões e ajustamentos incorretos que podem levar a um erro na tomada de
decisões, é necessário prestar atenção nos cálculos e evitar estimativas feitas
rapidamente.
Analisando esse e outros experimentos, Tversky e Kahneman concluíram que
a pessoa tenderá tornar suas estimativas de probabilidade próximas ao seu
conhecimento sobre o assunto, as leis de probabilidade e as próprias heurísticas e
vieses.
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Equívocos na Tomada de Decisões
Depois de colocar o seu capital em um investimento, ou seja, tomar a decisão,
mudar de estratégia pode ser difícil. Algumas recomendações apresentadas por
Ferreira (2008, p.193) para não cair nessa armadilha são as seguintes:
Tomar consciência de seu limite para perdas. Fazer uma auto-análise sobre a
propensão de entrar em pânico quando houver sinais de problema e acima de tudo
verificar a quantidade de apego que você tem com seus investimentos.
Considerar um contexto mais amplo de tudo, ou seja, não analisar os fatores
separados e portanto não tomar decisões enquanto esta sob efeito do pânico, susto
ou impulsos súbitos.
Prestar menos atenção a seus investimentos, pois esses tendem a oscilar o dia
inteiro e isso é comum, se houver análises muito constantes dessa oscilação, a
chance de que as emoções fiquem envolvidas e que uma decisão errada seja tomada,
é muito grande.
Diversificação das ações para que, se houver prejuízo em uma delas, as outras
não necessariamente terão prejuízos e o risco seja diluído entre elas.
Acerca dessa última recomendação, Gunther (1992, p.10) tem uma avaliação
diferente, aonde ele descarta a diversificação como uma boa estratégia na hora de se
investir. De acordo com ele, investir pouco em muitos papéis não só significa limitar
os prejuízos como também significa limitar os lucros e afirma que só se deve fazer
investimentos aonde os lucros valham a pena, independente do prejuízo que possa
trazer. Para ele, mais risco significa mais retorno.
Ter confiança excessiva pode ser um dos principais problemas que atrapalha
na hora de condicionar a mente a fazer a coisa certa. Acreditar que decisões
acertadas são méritos próprios, enquanto fiascos são atribuídos a terceiros pode ser
extremamente perigoso. Ter humildade suficiente para funcionar como antídoto contra
os risco da confiança excessiva (Belsky e Gilovich, apud FERREIRA, 2008, p.193), é
apontado como uma das medidas preventivas para evitar uma distorção em seus
investimentos.
O oposto para a confiança excessiva é o conservadorismo, que é identificada,
como uma hipótese, pela demora do investidor em reagir as informações do mercado
financeiro.
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Lamentamos mais os resultados gerados pela opção de agir do que resultados negativos, advindo de não agir . Isso porque é mais fácil imaginar, no caso de resultados ruins, que um desfecho melhor poderia ter ocorrido, do que imaginar uma ação que nunca chegou a acontecer (FERREIRA, 2011, p.110).
As duas condições, de conservadorismo e de confiança excessiva, portanto,
não podem estar presentes no mesmo indivíduo, sendo uma oposta a outra.
Ao analisar os equívocos na tomada de decisão, é importante saber a definição
e o impacto das bolhas econômicas e então associa-las ao efeito manada.
Bolha econômica pois a bolha prenuncia o estouro e quer dizer que após algo
ter seu preço elevado de forma descontrolada, por atingir um tamanho grande demais
para ser controlado, acaba por implodir.
Nesses momentos acontece o comportamento de manada ou efeito manada,
pois muitos seguem a onda dos preços subindo rapidamente e de forma constante
forçando que os preços continuem subindo e cada vez com mais força. Chega o
momento aonde não há mais investidor que aceite o preço em seu atual patamar e
todos os outros que ainda possuam seus investimentos não conseguem mais vender,
forçando dessa vez com que os preços desabem rumo a um valor novamente
aceitável por novos investidores.
Bion (apud Ferreira, 2011, p.43), um psicanalista inglês, trabalhou com grupos
de soldados que tinham retornado do front e conseguiu identificar três tipos de
operações psíquicas inconscientes em grupo que são facilmente ligadas ao grupo de
investidores. São elas:
LUTA E FUGA. O grupo se estrutura em torno da crença de um inimigo comum
e ameaçador, que pode atacar a qualquer momento.
ACASALAMENTO. Crença de que um messias ou redentor que seria
concebido a partir de um casal idealizado e viria pra liderar, salvar todos e
realizar seus desejos.
DEPENDÊNCIA. Figura da autoridade, que exerce liderança, protege e
representa o poder.
Na transposição de Ferreira (2011, p.44) para o mercado financeiro, ela diz que
o inimigo em comum são os mercados externos que sofrem turbulências e afetam o
mercado em questão.
As crenças messiânicas são correlacionadas com ações que estão sendo
anunciadas como as que darão muitos lucros além das crenças que quando o gráfico
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atingir tal padrão, algo de extraordinário irá acontecer.
O líder da qual existe dependência é aquele investidor renomado que todos
seguem, tanto em seus conselhos quanto em seus atos.
Juntando esses três tipos de operações, fica mais claro o porquê do efeito
manada ser tão devastador e pode gerar resultados não muito agradáveis para quem
não entende seu funcionamento.
Âncora, no sentido psicológico, é o parâmetro ou o ponto de referência.
Imagens, números e lembranças atuam na mente como esse pontos de referência e
tomamos decisões, avaliando e comparando, mas tudo não se passa de operações
tomando por base a âncora.
Isso acontece porque nosso sistema perceptivo não esta preparado para avaliar magnitudes absolutas, por isso recorre a aproximação a partir de algum ponto - a Âncora. E o processo resultante é chamado ancoragem (FERREIRA, 2011, p.58).
Existem diversos estudos a respeito, porém o mais relevante para o nosso tema
é o ajustamento de valores. Janiszewski e Dan (apud Ferreira, 2011, p.59) fizeram
leilões experimentais aonde perceberam que quando o número dado era um valor
arredondado (5 mil reais), as pessoas se afastavam mais da âncora ao dar seus
lances. Nas situações aonde o número era mais fracionado, os lances seriam mais
próximos do valor dado.
Ferreira (2011, p.60) conclui que nossa mente não esta preparada para avaliar
magnitudes absolutas, e, por esse motivo, precisa de parâmetros para então avaliar
as alternativas.
CONCLUSÃO
O ser humano foge e evita a situação desagradável da culpa, por isso, é
desenvolvido um condicionamento mental aonde as tomadas de decisões são feitas
de forma impessoal, atribuídas a terceiros, a fatos da natureza, ao sobrenatural e a
muitas outras coisas alheias ao controle do investidor.
Essa fuga da realidade é potencialmente perigosa, pois isola o pensamento
crítico e racional e passa a utilizar mecanismos emocionais para agir, criando uma
ilusão de que coisas boas são mérito próprio enquanto o ruim é culpa do "destino".
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Investir no mercado de ações não é tarefa fácil, e por mais racional que isso
possa parecer a princípio, sempre haverão armadilhas da emoção esperando para
iludir os menos atentos.
Apresentar os erros e situações controversas que a emoção pode causar na
hora de investir não vem sendo suficiente para que todos melhorem o processo da
tomada de decisão.
Conclui-se que as pessoas têm pouco autocontrole, autoconhecimento e a
capacidade de processar as informações que foram passadas para ela, dificultando
assim na hora de aprender com a experiência.
Ferreira (2011, p. 169) observa que o espaço para cometer erros de
planejamento é quase infinito e que ao lado do otimismo excessivo das pessoas, pode
trazer consequências desagradáveis no planejamento financeiro.
Muitos desses erros vem porque os investidores tendem a adotar a primeira
opção com que se deparam, para assim manter um conforto de que esta manipulando
seus investimentos enquanto realmente só estão instintivamente fazendo algo
desconhecido. Isso é uma manifestação do viés do status quo (FERREIRA, 2011,
p.110), que implica justamente na seguinte frase: o investidor lamenta mais os
resultados gerados quando ele age do que resultados negativos quando não age.
Gunther (1992, p. 49) também dá sua opinião sobre o otimismo, e reafirma que
pode ser uma atitude mental extremamente perigosa. Ele cita o exemplo de jogadores
profissionais, mais especificamente de jogadores de pôker, que sabem a hora exata
de abandonar a jogada para evitar perder mais, mesmo que as chances de ganhar
muito dinheiro ainda existam. O que o jogador tem no caso é confiança, que nasce do
uso construtivo do pessimismo.
"Nunca faça uma jogada por otimismo apenas" [...] Em vez disso, saia atrás de confiança. Confiança não vem de se esperar o melhor; vem de saber como se lidará com o pior (GUNTHER, 1992, p. 49).
O problema maior do otimismo é a sensação que ele causa e que costuma tirar
o pensamento racional do investidor do jogo e levá-lo a caminhos sem saída. Uma
vez planejado o que acontecerá com o investimento se o mesmo der errado, o
investidor poderá ter a certeza de sua decisão, se realmente vale a pena ou foi um
surto de otimismo.
É essencial achar um equilíbrio entre racionalidade e emoções e aprender a
usá-las na hora em que cada uma se mostrar necessária.
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REFERÊNCIAS
COSTA, Fernando Nogueira da. Comportamentos dos investidores: do homo economicus ao homo pragmaticus. Texto para Discussão. IE/UNICAMP n. 165, ago 2009. FERREIRA, Vera Rita de Mello. A cabeça do investidor: conheça suas emoções para investir melhor. São Paulo: Évora, 2011. FERREIRA, Vera Rita de Mello. Psicologia econômica: estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2008. GUNTHER, Max. Os axiomas de Zurique. Rio de Janeiro: Record, 1992
KISHTAINY, Niall et al. O livro da economia. São Paulo: Globo, 2013. REYNAUD, Pierre-louis. A Psicologia Econômica. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967.
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