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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO EIXO ESTRUTURANTE
PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Alberto Farias Gavine Filho – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
Maria das Graças Ferreira Lobino – Grupo e Estudos e Pesquisa/GEPEC
Resumo
Este texto tem como objetivo relatar a experiência didática que aconteceu no ano de
2013 na EMEF Trancredo de Almeida Neves onde se vivenciou o Projeto denominado
“Alfabetização Científica no contexto da cidadania socioambiental na cidade de
Vitória/ES”. O projeto se desenvolveu a partir de uma metodologia de pesquisa-ação
entendida como um estudo e uma intervenção em uma situação social buscando a
melhoria da ação nessa mesma situação. Isto tendo em vista a realidade social da escola
onde se deu a ação. O processo da experiência didática aconteceu em momentos
diferenciados como o diagnóstico, o planejamento da ação, a avaliação, a reflexão e o
replanejamento. Como resultado pode-se notar que a iniciativa foi válida e de certa
forma começa a dar seus frutos, pois se trata da vivência de uma experiência
diferenciada onde a aprendizagem a partir das hortas educativas não fica na horta pela
horta, pois a mesma é apenas um artefato pedagógico que contribui para o ensino de
ciências a crianças e adolescentes através de atividades práticas. Percebeu-se também
que o Projeto institucional Cidadania Sustentável eleito pela comunidade escolar como
ponto articulador entre as ações educativas da referida escola ajuda a sociedade repensar
as questões básicas do processo educativo de nossas escolas públicas. O projeto de
certa forma subverte a ação cotidiana da escola, na ânsia de iniciar a construção de uma
cultura científica em especial a partir de crianças e adolescentes, desenvolve a cidadania
socioambiental desde a visão crítica sobre a forma de produção e consumo
contemporâneas até a discussão sobre questões como as relações culturais decorrentes
do modus vivendi.
Palavras-chave: Alfabetização científica; sustentabilidade socioambiental; hortas
educativas.
Introdução
Sabe-se que a Educação Básica vem apresentando novas demandas por conta do
desenvolvimento acelerado da tecnologia e das questões socioambientais. De uma
maneira geral, o professor das disciplinas de Ciências da Natureza e das disciplinas
correlatas tem sido cada vez mais forçado a repensar suas práticas pedagógicas,
renovando as formas de contextualização para motivar o aluno a ter interesse pelo
estudo das ciências, trazendo-o para sala de aula (DELIZOICOV et al., 2002).
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 104462
Neste sentido os educadores da Escola Municipal de Educação Fundamental
Tancredo de Almeida Neves (EMEF TAN), situada na Cidade de Vitória/ES,
desenvolveram um processo de alfabetização científica com seus alunos a partir da
“Horta escolar” como ponto de partida para exemplificar a formação na ação de
“agentes do desenvolvimento socioambiental” mediados pela Educação Ambiental/EA
crítica e transformadora, que estabelece segundo o art. 2º da Lei Federal 9795/99, que
a EA é um componente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo,
em caráter formal e não formal. Nesses espaços aconteceu a educação em ciências e
matemática numa perspectiva Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA)
como aponta Lobino (2007).
Este texto tem como objetivo relatar a experiência didática que aconteceu no ano
de 2013 na EMEF TAN onde se vivenciou o Projeto denominado “Alfabetização
Científica no contexto da cidadania socioambiental na cidade de Vitória/ES”.
Para o desenvolvimento do Projeto firmou-se uma parceria com a finalidade
constituir uma cooperação técnica mútua entre o Estado do Espírito Santo, por
intermédio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação
Profissional e Trabalho (SECTTI), o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e o
Município de Vitória (PMV), visando a implementação do mesmo. O Projeto em
2013 teve como objeto formar agentes da sustentabilidade socioambiental a
partir das atividades da Horta Educativa (incluindo horta medicinal e cultivo de
plantas ornamentais) tendo como laboratório a EMEF TAN. O primeiro
momento da vivência do Projeto foi realizado em atividades sobretudo intra
muros (a experiência de 2013) e o segundo momento, em andamento, acontece a
partir da vivência do Projeto em diálogo com os espaço não formais da cidade,
de modo a implementar a experiência didática que é proposta no projeto .
Diante disso, a comunidade escolar centralizou sua participação na
democratização e popularização da Ciência & Tecnologia, potencial instrumentos para
uma cultura cidadã sustentável.
Os objetivos gerais do projeto foram assim definidos: implementar a
política de Educação Ambiental crítica e transformadora a partir do território vivido
em diálogo com o global; refletir e reorientar o processo educativo na EMEF TAN no
marco de uma Alfabetização Científica cuja centralidade fosse a vida na perspectiva de
um ambiente integral; desenvolver uma experiência, de Alfabetização Científica e
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 104463
formação de Agentes de desenvolvimento socioambiental, piloto a ser realizada na
EMEF TAN, localizada na Região de São Pedro (Vitória/ES) em diálogo com os
Espaços não Formais das cidades da região metropolitana de Vitória/ES.
Explicitando o local e os sujeitos da pesquisa
Tratou-se de um projeto de extensão que buscou se articular à Pesquisa através
dos pesquisadores/orientandos do Programa de Pós Graduação em Ciências e
Matemática do IFES (Educimat) num processo de reflexão teoria/prática que envolveu
estudantes e professores de Ensino Fundamental, licenciandos dos cursos de Química e
seus respectivos professores numa perspectiva de reflexão entre a formação inicial e as
necessidades e competências requeridas para este nível de Ensino.
Buscou-se envolver no projeto a comunidade escolar, pais de alunos e
representantes da Associação de Bairro e congêneres no território onde a escola se
insere, bem como conselhos comunitários da cidade de Vitória que possuem relação
direta com o trabalho. Os alunos do ensino fundamental, sujeitos específicos do Projeto
eram todos da região de São Pedro. Essa se localiza na parte interna da Ilha de Vitória,
possui mais de três milhões de metros quadrados, compreende dez bairros na região
mais carente de Vitória e de povoação mais recente. Os bairros surgiram a partir da
ocupação do lixão da cidade, estendendo esta ocupação às áreas de manguezal, no final
da década de 70. Nesta região, há uma grande parcela da população vivendo a margem
do risco social. É de suma importância que haja oportunidades para diminuir os riscos
sociais das populações carentes, de forma especial a população jovem.
Foram convidados representantes da comunidade escolar (docentes e técnicos
administrativos) dos pais e representes da Associação dos Moradores para fazerem parte
do Projeto.
Metodologia
O projeto se desenvolveu a partir de uma metodologia de pesquisa-ação
entendendo-se que a mesma é “uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da
perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado como uma ação que cientificiza
a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e
emancipação de todos os sujeitos da prática” (FRANCO, 2005, p. 483).
Para Barbier (apud. FRANCO, 2005, p. 489) “A pesquisa ação torna-se a ciência
da práxis exercida pelos técnicos no âmago de seu local de investimento. O objeto da
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 104464
pesquisa é a elaboração de dialética da ação num processo pessoal e único de
reconstrução racional pelo ator social”.
Foram desenvolvidas várias etapas dentro desse processo metodológico. O
primeiro passo foi o diagnóstico. Identificar onde se buscou definir os problemas
comunitários relacionados ao desenvolvimento socioambiental, estabelecendo as
possibilidades de diversas ações para solucioná-lo. Fez-se a reconstrução da história da
EMEF TAN e sua prática educativa no sentido da educação socioambiental, no contexto
da região de São Pedro e da cidade. Esse passo contribuiu para contextualizar a situação
e os problemas encontrados na realidade das comunidades do bairro local e escolar.
No planejamento da ação analisaram-se as diversas possibilidades de ações que
poderiam contribuir com a solução do problema. Decidiram-se as ações e os meios para
alcançá-la. Discutiu-se os pontos fortes, os aspectos positivos e as limitações da
educação para o desenvolvimento socioambiental.
Organizada as informações obtidas na etapa anterior, iniciou-se a ação. Nesse
processo, aproveitou-se toda ocasião para envolver a comunidade: dia da matemática,
para a abertura dos trabalhos; contatos informais com lideranças da escola; reuniões
periódicas de estudo, elaboração de subprojetos, participação em eventos etc.
Realizavam-se avaliações constantes antes dos novos planejamentos. Discutiam-
se as ações realizadas, os acertos e desacertos, as percepções e expectativas dos
participantes sobre as atividades, técnicas e resultados obtidos durante o processo.
Outro passo realizado foi a reflexão avaliando o aprendizado dos participantes e
os resultados teóricos e práticos da experiência. Nessa etapa, o grupo, como um todo,
fez uma análise crítica do processo. A análise começou com a discussão do
cumprimento ou não das metas e dos objetivos.
Buscou-se ir registrando todo este processo em pequemos textos que não deixou
de ser uma forma do grupo apresentar à comunidade escolar a sistematização do projeto,
destacando os principais resultados, análise e interpretação. Dessas discussões surgiram
novos planejamentos e novas ações comunitárias. Os pesquisadores sempre tiveram em
mente que era necessário buscar a melhor forma de validação dos resultados.
Dois elementos marcaram o desenvolvimento metodológico do projeto: a busca
da sistematização dos trabalhos mais relevantes e a atenção ao diário de pesquisa que
alguns investigadores fizeram para o registro do desenvolvimento do projeto. Nos
diários podiam-se ler as informações sobre o pesquisador, o que ele fez e o processo da
pesquisa.
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Escolheu-se esta metodologia porque a mesma tem como aspecto central a
participação das pessoas que vivem na situação pesquisada ou que podem ser afetadas
pelos resultados da ação. Foram estudados também os graus de participação das
pessoas.
Marcos conceituais
Os marcos conceituais e diretrizes do projeto foram estabelecidos à luz da:
Constituição Federal de 1988; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9394
de 1996; Diretrizes Curriculares Nacional- RES.02/1998 – CEB/CNE; Política
Nacional de Educação Ambiental/PNEA nº 9795 de 1999; Decreto Federal
Regulamentador da PNEA nº 4281/2007; Política Estadual de EA- nº 9265 e Diretrizes
Curriculares Nacional de EA- RES.02/2012
Alguns pressupostos que serviram de base para a proposta inovadora para o
ensino das Ciências foram assim definidos: a prática social como ponto de partida capaz
de potencializar a curiosidade e interesse dos educandos através de observação e
reflexão do senso comum para a reconstrução do conhecimento científico com o fito de
melhorar a qualidade de vida; perceber a relativização da ciência, bem como a
desconstrução do mito da neutralidade da ciência e da tecnologia; construção de uma
racionalidade socioambiental a da confluência entre os princípios da
interdisciplinaridade e da complexidade.
Lobino (2012) mostra a urgência do ensino das Ciências da Natureza na relação
dialética com a cultura local como ponto de partida, a partir do Ensino de Física &
Química que devem compor o conteúdo curricular desde o inicio da escolaridade.
Mostra ainda como as temáticas transversais ou temas geradores (FREIRE, 1976),
Snyders (1974), temas e conceitos unificadores Angotti & Delizoicov (1990) e
conceito-chaves (LOBINO, 2001), amplia-se como conceitos facilitadores
representados pelos fenômenos naturais e sócio-culturais que nos afetam
cotidianamente, conforme estabelece RES.CNE / CEB n º 02/98 de, IV-do art.3 º:
[...] Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade ao acesso para os
alunos a uma base nacional comum, uma maneira de legitimar uma unidade e a
qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional. A base nacional comum
e sua parte diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular,
que visa estabelecer uma relação entre a educação fundamental e: a) a vida
cidadã através da articulação entre vários dos seus aspectos como: 1. Uma
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saúde; 2. Uma sexualidade; 3. Vida familiar e social; 4. O Meio Ambiente, 5.
O trabalho; 6. A ciência e a tecnologia; 7. cultura; 8. Como linguagens.
Desse modo, tais práticas e pesquisas educativas podem ser reinventadas, onde a
Química e a Física poderão se constituir como base no processo de formação de eco-
educadores(1) no sentido de plantar e cultivar uma educação científica para a
sustentabilidade a partir de projetos interdisciplinares e interinstitucionais capazes de
acionar cumplicidades para além muro da escola com potenciais para transformar tais
projetos em políticas públicas articuladas na base do território vivido.
O tema escolhido pela escola para o ano letivo de 2013 foi “cidadania
socioambiental”, dai a Educação Socioambiental ser eleita como eixo estruturante do
currículo a partir do artefato pedagógico Horta Educativa, já desenvolvida através das
aulas de matemática, geografia e outras.
Atividades realizadas
Para consecução das ações de cooperação foi constituída uma Unidade
Gestora de Projeto (UGP,) composta por representantes das partes, à qual
competiu estabelecer a programação das ações, monitorar e avaliar seu
desenvolvimento e divulgar os resultados alcançados, sendo coordenado por
representante da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação
Profissional e Trabalho, e secretariado pelo Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo nos termos em que fora firmado o termo de cooperação.
Definido no Planejamento do ano o tema que serviria de eixo para todas as ações,
a cidadania socioambiental, cada professor buscou fazer seu planejamento tendo em
vista o mesmo buscando a interdisciplinaridade. Algumas ações que envolveram a
escola foram: o trabalho com a horta de olericultura, desenvolvido por uma professora
de matemática; o trabalho desenvolvido com a hora medicinal por uma professora de
ciências, e um o trabalho desenvolvido, também por uma professora de ciências, que
visava o reaproveitamento de óleo utilizado em frituras produzindo sabão. Ao mesmo
tempo desenvolveu-se e um curso de Formação Inicial e Continuada (FIC) para
formação de agentes do desenvolvimento sócio ambiental, lugar onde era refletida as
diversas ações do projeto. Essas ações envolveram alunos das séries finais do ensino
fundamental, professores e alunas da licenciatura em química e do Mestrado em
Ciências e Matemática. Nesse curso houve também a articulação escola/ comunidade
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através da atuação junto aos líderes comunitários e comunidade escolar realizada pela
equipe de formação.
Resultados alcançados
A etapa do projeto vivenciada em 2013 foi avaliada no final do ano. Entre as
constatações dos participantes do projeto em termos daquilo que foi significativo
podemos ler os seguintes depoimentos: “a importância de estudarmos os „fazeres‟ que já
realizamos e as possibilidades a partir das trocas que os saberes (diferentes) nos
proporcionam a desenvolvermos outras/novas ações em favor do coletivo”; “em minha
opinião foi bom, porque eu quase não sei nada. Eu acordei (sic) tendo bastante
conhecimento com as pessoas que tem experiência! Claro que nem tudo sai perfeito,
pode ser que houve alguma coisa que deveria ser com mais organização, etc., mas, com
isso, aprendemos para até mesmo estar melhorando nas próximas oportunidades”; “os
encontros mesclaram atividades de sensibilização com aprofundamentos das questões.
A formação foi uma oportunidade para debater o tema EA/Alfabetização científica”;
[que bom] “que pensaram e configuraram esse projeto com uma abordagem crítica e
coerente da EA, dando espaço para o pensar crítico sobre os vários fatores a que a
natureza, e nós, parte dela, está submetido [...]”; “tive mais conhecimento, até porque eu
não sabia de quase nada... Ex.: do dia que falou sobre o chá que tem que tomar com
cuidado, de como você faz ele, porque pode fazer mal em vez de bem!”; “ter aprendido
sobre a inserção da EA na vida dos estudantes e população num todo”. “Conhecer na
prática sobre algumas ervas medicinais e sua aplicação”. “A importância de ter EA na
atualidade para que possamos ter uma vida mais ecológica”. “Ter participado da 10ª.
Semana Estadual de Ciência e Tecnologia”; “tive acesso a conhecimentos que até então
eu não tinha, como: a conscientização ambiental e os princípios ativos e o aumento do
conhecimento sobre as plantas medicinais”; “a interação com os participantes de várias
áreas e representantes sociais, contribuindo para se entender que a EA envolve a
participação de todos, desde os alunos e jovens, bem como sujeitos articulados com os
movimentos e pais”. “Apreensão de conhecimento sobre a horta medicinal e a EA e
sustentabilidade”. “Foi muito gratificante ouvir de cada um como o projeto é importante
para a sociedade”; “o contato com a escola e com a comunidade; o envolvimento dos
alunos de todos os níveis”; “adorei a troca de conhecimentos. Conhecer pessoas novas
tão interessantes”; “foi um aprendizado muito eclético, onde pude contribuir com
experiências próprias e aprendi muito com todas as exposições. Aprendi mais que
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contribuí”.
Na avaliação do projeto apareceram questões que apontaram para as falhas que
aconteceram durante o processo. As falhas foram sentidas especialmente nas seguintes
falas dos participantes: “[que pena] de termos uma presença pequena dos inscritos [no
curso de FIC] e consequente empobrecimento dos encontros”; “a participação
descontinuada de algumas pessoas, muitos ruídos na participação; debates muito
abertos, escapando do foco”; “que não pude vivenciar algumas ações iniciais do projeto
e poder agir na proposição de atividades”; “claro que nem tudo sai perfeito, teve alguns
momentos e coisas que deveriam ser feito com mais organização”; “não ter tido mais
prática na medicina fitoterápica e a não inserção de visitas nos parques da Ilha de
Vitória e a utilização da Mata de restinga na praia de Camburi, pois o que acontece hoje
é o plantio de plantas invasoras e exóticas”; “o tempo que a gente teve para absorver
todos esses conhecimentos foi muito curto, não deu para absorver completamente tudo”;
“os atrasos recorrentes; pouco tempo e corrido para se discutir os assuntos; alguns
encontros não tiveram muita participação”; “que ainda tem gente que não entendeu o
processo. Muita falta e pouca participação nas oficinas” “não conseguirmos a
participação de um número grande de professores da escola. Não pude participar da
oficina de plantas medicinais. Não pudemos empreender tantas atividades práticas como
gostaria. Falta de tempo para as discussões”; que faltou mais participação popular, ou
seja, de entidades e ONG”.
A reflexão sobre os pontos acima destacados apontam para algumas ações que
deverão ser desenvolvidas a partir do planejamento para a continuidade do projeto.
Alguns desses pontos surgiram dos próprios participantes, sobretudo quando teceram
sugestões para que o processo seja melhor vivenciado. Segundo as falas dos
participantes: “melhorar a estrutura dos encontros, com atenção aos
materiais/equipamentos utilizados”; “garantir o foco das discussões; usar mais
produções/oficinas [...]”; “a realização de atividades que avancem no sentido de trazer
ou ir à comunidade externa. E inserir a questão do ensino por investigação nas
discussões”; “melhorar na hora de explicar algumas coisas e ano que vem voltar com o
projeto”; convidar ONG [que discutam questões] ambientais; aprender mais sobre a
utilização de ervas medicinais e levá-las para os apartamentos e residências; aprender
sobre a legislação ambiental; desdobrar (sic) mais sobre as áreas verdes da comunidade
[...]; levar as experiências da horta para todas as EMEF”; “acontecerem oficinas com
mais tempo ou com mais assuntos, para que haja tempo para se discutir melhor os
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assuntos”; “participar do Planejamento do próximo ano”; “aumentar o número de
atividades práticas integradas aos conceitos; ampliar a participação dos conselheiros”;
“divulgar mais externamente para atrair a sociedade”; “talvez introduzir, a princípio,
oficinas de saneamento básico, recursos sólidos, recursos hídricos, poluição
atmosférica, etc”.
Numa reflexão final pode-se dizer que a iniciativa foi válida e de certa forma
começa a dar seus frutos, pois se trata da vivência de uma experiência diferenciada onde
a aprendizagem a partir das hortas educativas não fica na horta pela horta, pois a mesma
é apenas um artefato pedagógico para contribuir com o ensino de ciências a crianças e
adolescentes através de atividades práticas. Houve na fala dos participantes ainda
“sensibilização” para a temática, “participação comunitária”, pois embora não sendo
muitos a presença da comunidade na escola não deixa de ser um diferencial; houve a
aprendizagem de “conhecimentos científicos” desta forma atingindo um dos objetivos
da ação que é a alfabetização científica. Segundo ainda os participantes foi uma
oportunidade de “falar sobre aspectos ambientais” concebendo o ambiente como um
todo e abrindo espaço para novas discussões. Houve ainda “iniciação da Educação
Ambiental (EA) na vida dos jovens” lembrando que a inovação buscada é a vivência de
uma nova realidade educacional onde a partir do eixo da EA se aprende ciência de
forma contextualizada, desenvolve-se a conscientização política e o senso crítico. Outra
constatação na própria reflexão dos participantes do projeto foi a riqueza gerada na
abertura da escola para o conhecimento popular, isto ficou claro quando os alunos
foram conhecer a “prática da medicina tradicional” no meio do povo. Outro ponto visto
como válido segundo a visão dos participantes na forma como foi desenvolvido o
projeto foi a “apresentação e exploração dos parques e espaços de áreas verdes”. Na
verdade foi um início já que a proposta é fazer a descoberta das potencialidades dos
espaços educativos da cidade e isso inclui também parques. Percebeu-se a introdução ao
conhecimento da “legislação ambiental” e que a “horta oferece oportunidade ótima para
o aprendizado”. Houve oportunidade de formação política uma vez que os participantes
do processo perceberam a “morosidade no processo da legitimação” e tomaram
consciência de que nos Municípios Capixabas não há uma legislação ambiental e que a
legislação que existe no Estado não é vivenciada. Destacou-se ainda a questão
democrática do processo, pois o “planejamento a partir das opiniões de cada um” ajudou
na vivência de processos democráticos. Percebeu-se ainda a dificuldade dos professores
em acompanhar essas ações quando se pede que se “amplie o envolvimento e
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participação dos professores”, sabe-se, porém das dificuldades que o professores da rede
pública encontram para acompanharem ações que são realizadas fora de seu horário e
mesmo durante o seu planejamento, já que não são poucas as suas atribuições.
Além desses aspectos na reflexão dos participantes do projeto apareceram outros
conceitos no processo como a “criticidade”, a experiência da participação em uma
“extensão universitária” bem como da vivência de uma “integração multidisciplinar:
matemática, geografia, história e ciências”. Percebeu-se ainda o empenho dos
participantes em dar continuidade ao projeto com atenção aos seguintes pontos:
“redesenhar os objetivos e finalidades dos sujeitos formados como agentes sócio-
ambientais”, organizar melhor o tempo, planejar a partir da práxis da primeira etapa, a
segunda etapa do projeto e aprofundar a reflexão sobre “quem são os agentes
ambientais?”.
Considerações conclusivas
O Projeto institucional Cidadania Sustentável eleito pela comunidade escolar
EMEF TAN como ponto articulador entre as ações educativas da referida escola ajuda
a sociedade repensar as questões básicas do processo educativo de nossas escolas
públicas. O projeto de certa forma subverte a ação cotidiana da escola, na ânsia de
iniciar a construção de uma cultura científica em especial a partir de crianças e
adolescentes, desenvolve a cidadania socioambiental desde a visão crítica sobre a forma
de produção e consumo contemporâneas até a discussão sobre questões como as
relações culturais decorrentes do modus vivendi.
Sabe-se que a escola não é o único, mas um dos espaços com potenciais de
contribuição de transformação ou perpetuação da cultura. Depende da opção inscrita em
seu PPP. A opção da EMEF TAN pela Cidadania Sustentável, a partir de ações como o
Curso de Formação de Educadores Socioambientais e os subprojetos propostos pela
comunidade escolar, ou não, busca a melhoria da qualidade de vida nas suas famílias,
em suas ruas, no bairro, na cidade, no Estado, no país e no planeta.
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(1) Ecoeducador é neologismo para designar o termo ecoprofessor utilizado por Lobino (2002), como
aquele que pensa planetariamente e age localmente, além de ser um intelectual orgânico, cujo objetivo
é promover a vida na concepção gramsciana.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 104473
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